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O LUTO-ANTECIPATÓRIO VIVENCIADO POR UM FAMILIAR DE UMA PESSOA

COM A DOENÇA DE ALZHEIMER.

O envelhecimento populacional é crescente no mundo, ocorrendo majoritariamente em


diversos países desenvolvidos, e em países em desenvolvimento, como o Brasil. Assim, este
processo ocorre, principalmente, devido a melhora na qualidade de vida, acessibilidade ao
sistema de saúde, as evoluções na medicina, científicas e tecnológicas, possibilitando a
ampliação do número de pessoas maiores de 60 anos de idade. Logo, no Brasil, estima-se que,
em 2050, a expectativa de vida para os homens será de 78,2 anos e para as mulheres será de
84,5 anos. Contudo, devido ao envelhecimento da população, sucede aumentos significativos
de demências, sendo que a Doença de Alzheimer (DA) é considerada o principal fator de
demência no mundo, atingindo 60% da população. (VIDOR; SAKAE; MAGAJEWSKI, 2019).
A Doença de Alzheimer é uma doença neurológica degenerativa, podendo ocorrer,
possivelmente, por causa de diversos fatores, como devido à grande quantidade de proteína
betamilóide no cérebro, cuja a qual tem seu efeito tóxico e danoso no sistema nervoso central,
formando as placas senis (cicatrizes microscópicas das células do cérebro que morreram) que,
juntamente com a morte neuronal, afetam e impossibilitam o funcionamento típico do cérebro.
(BOTELHO, 2008).
Assim, a DA pode ocorrer devido a fatores diversos, como fatores de interação
patogênica, comorbidades, fatores de risco como a qualidade de vida e hábitos alimentares,
prática de exercícios físicos, acidente vascular cerebral, diabetes, pressão arterial, idade, e etc.
Assim, os diversos fatores podem acarretar no comprometimento das funções neuronais.
(VIDOR; SAKAE; MAGAJEWSKI, 2019).
O decaimento por causa da DA é progressivo, iniciando-se com lapsos de memória de
fatos recentes, distorção da noção do tempo e lugar, confusões da realidade entre presente e
passado, mudanças frequentes de humor, irritabilidade, entre outros, pois a doença vai
progredindo e afetando os diversos sistemas, como a parte motora, impossibilitando a pessoa
de conseguir segurar objetos, se alimentar, andar, vestir e banhar-se sozinha, atingindo também
a parte da comunicação, dificultando a fala e expressões, podendo acarretar a um estado de
dependência total de um cuidador. (BOTELHO, 2008). O processo de evolução da DA,
geralmente, é lento e, infelizmente, ainda não existe cura. (VIZZACHI; DASPETT; CRUZ;
HORTA, 2015).
A DA causa para a pessoa diagnosticada inúmeras perdas cognitivas, emocionais e etc.
Além das diversas perdas relacionadas aos aspectos concretos e perceptíveis advindas da
doença (saúde, memória, etc.), ela pode trazer consigo também perdas relacionadas a fatores
subjetivos, como o detrimento da independência e aparecimento de ansiedade e angústia. Tudo
isso pode trazer uma sobrecarga e um obstáculo para a aceitação da DA, fazendo com que a
família possa experimentar sentimentos do processo de um luto antecipatório. O medo é a
resposta psicológica mais comum diante da morte, surgindo com questões como o sofrimento,
o sentimento de não poder fazer nada, e a dúvida do que vem após a morte. (VIZZACHI et. al.,
2015).
O processo de luto para Kübler-Ross (2008) possui cinco fases em que as pessoas podem
passar para encontrar um modo de lidar com a perda. Logo, as cinco fases do luto são: a negação
da situação e isolamento (não aceitação da situação em que se encontra e do diagnóstico,
buscando ficar isolado não falando sobre, e também podendo investigar e duvidar da situação,
procurando outros médicos e realizando outros exames), raiva (revolta devido a situação em
que se encontra, sentimento de injustiça e maior irritabilidade), barganha (tentativas de
negociação/ acordo com si próprio e com Deus, buscando a reversão do acontecimento),
depressão (sentimento de perda, impotência, tristeza e desesperança) e, por último, a aceitação
(compreensão da situação, notando a realidade e enfrentando-a).
Há dois lutos vivenciados pela família de uma pessoa com a DA: o primeiro é
experienciado quando a pessoa começa a perder a memória e deixa de reconhecer seus
familiares, sendo um tipo de “morte social”; e o segundo aparece com a sua morte biológica.
(CRUZ, HAMDAN, 2008).
Boss (1999) utiliza o conceito perda ambígua para conceituar o fenômeno de
enlutamento com uma pessoa doente mesmo que presente fisicamente. (ODERE NETO, 2017).
O conceito de luto antecipatório foi elaborado durante o período da Segunda Grande
Guerra. Pois, com a ida de soldados à guerra, muitas esposas passaram por um processo de luto
e aceitavam a morte de seus maridos antes mesmo de ela acontecer e, em decorrência disso, ao
retornarem vivos a suas casas, os soldados tinham dificuldades ao se adaptarem novamente a
sua família. Tal fenômeno se dá pelo motivo da separação que traz consigo uma ameaça e perigo
real, juntamente com um sentimento de finitude. (ONDERE NETO, 2017).
Diferentemente do luto normal, no luto-antecipatório há ainda mais um estágio, sendo
a esperança, ou seja, nesse estágio existe a consideração do surgimento de uma possibilidade
de cura, podendo ser com medicações e descobertas científicas ou algo inesperado, permitindo
a recuperação. (ODERE NETO, 2017).
Para o cuidador, testemunhar a debilidade é tido como um dos pontos mais traumáticos
de sua função. (CRUZ, HAMDAN, 2008).
Para Vizzachi et. al. (2015),
o diagnóstico de DA é uma ameaça à estabilidade e à homeostasia da família, pois traz
consigo perdas sucessivas de independência, gerando medos e, consequentemente,
sensações comuns ao processo de luto, como sentimentos de ansiedade, tristeza e
irritação. (VIZZACHI et al., 2015, p.936).
Uma característica do luto antecipatório é a entrada de uma pessoa em cuidados
paliativos (ODERE NETO, 2017), que
compreendem uma abordagem terapêutica que por meio da prevenção e do alívio do
sofrimento, com a identificação precoce, a avaliação correta e o tratamento da dor e
de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais visam melhorar a qualidade de
vida dos pacientes que enfrentam uma doença ameaçadora à vida, a qual afeta toda a
dinâmica familiar (DE QUEIROZ et al., 2014, p.686).
Contudo, para poder auxiliar, acolher e cuidar dos pacientes, cuidadores e dos familiares
das pessoas com a doença, durante o processo referente a DA, pode-se utilizar algumas
estratégias de intervenção, como com os grupos de apoio entre cuidadores, familiares e
profissionais; a terapia familiar; a terapia em grupo; a terapia individual e intervenções
psicoeducacionais. (CRUZ, HAMDAN, 2008).

OBJETIVO
O trabalho tem como objetivo estudar referente a percepção do sentimento de luto-antecipatório
vivenciado por um familiar de uma pessoa com a Doença de Alzheimer.
REFERÊNCIAS

BOTELHO, L. Alzheimer: A Doença da Alma. 1ª edição. Campinas: Russell Editores. 2008.


176p.

CRUZ, M. da N.; HAMDAN, A. C. O impacto da doença de Alzheimer no


cuidador. Psicologia em estudo, Maringá, v. 13, n. 2, p. 223-229, 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a04v13n2>. Acesso em: 03 set. 2019

DE QUEIROZI, R. B. et al. Cuidados paliativos e Alzheimer: concepções de neurologistas.


Rev. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v. 22, n. 5, p. 686-692. 2014. Disponível em:
<http://www.facenf.uerj.br/v22n5/v22n5a17.pdf>. Acesso em: 06 set. 2019.

KÜBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. 9ª edição. São Paulo: WMF Martins Fontes.
2008. 195p.

ONDERE NETO, J.; LISBOA, C. S. de M. Doenças associadas ao luto antecipatório: uma


revisão da literatura. Psicologia, Saúde & Doenças, v. 18, n. 2, p. 308-321, 2017. Disponível
em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-
00862017000200003>. Acesso em: 06 set. 2019.

VIDOR, R. C; SAKAE, T. M.; MAGAJEWSKI, F. R. L. Mortalidade por doença de


alzheimer e desenvolvimento humano no século XXI: um estudo ecológico nas grandes
regiões brasileiras. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 48, n. 1, p. 94-107, 2019.
Disponível em: <http://www.acm.org.br/acm/seer/index.php/arquivos/article/view/394>.
Acesso em: 06 set. 2019.

VIZZACHI, B. A. et al. A dinâmica familiar diante da doença de Alzheimer em um de seus


membros. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 49, n. 6, p. 931-936, 2015.
Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/reeusp/article/view/108397/106692>. Acesso em
03 set. 2019.

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