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[Escola Secundária Casquilhos]

FILOSOFIA

[Cuidados de saúde e prolongamento


da vida]
Ariadne Picado
11ºC, nº3

Profª Maria Emília Santos

[2021/22]
Resumo

O presente ensaio filosófico pretende evidenciar e questionar os valores éticos em causa de certos
cenários nos quais a avançada tecnologia utilizada na área da saúde para auxiliar e por vezes
consequentemente prolongar a vida do determinado indivíduo. Proceder-se-á à identificação das possíveis
circunstâncias em que tal se verifica e à análise das possíveis ações tomadas perante elas.
Com a inovação de técnicas e tratamentos na área da saúde, o esforço dos seus profissionais para
prolongar a vida têm vindo a ser cada vez mais prevalente. Com isto, tem-se verificado que a perspetiva
da população em relação à saúde está focada em curar, e não cuidar.
Com este ensaio pretende-se também demonstrar a importância da neutralidade por parte dos
profissionais de saúde, principalmente ao encara situações como as descritas em seguida. Estes devem
apenas disponibilizar os meios para que a boa vontade dos sujeitos em causa seja realizada,
independentemente do seu julgamento.

Introdução- A Morte

Abordada por muitos dos grandes filósofos, a morte tem sido e sempre será um conceito responsável por
grande reflexão e variedade de opiniões, em contextos filosóficos, casuais, etc.
Sócrates introduziu a visão por muitos partilhada da alma imortal, que viverá mesmo após a morte do
“aspeto” físico do indivíduo. Nesta visão do filósofo, este afirma que antes de ser atribuída a um corpo
físico, a alma vive num mundo de verdades certas, e que quando a este se associa, encontra-se perdida,
pois fica suscetível à influência de aspetos materiais do mundo físico. Quando volta ao mundo de onde
provêm, a alma apercebe-se das ideias e verdades que outrora conhecera e assim atinge a sabedoria. A
morte é, portanto, um processo importante para o alcance do conhecimento, segundo Sócrates. Esta
mesma ideia foi amplamente desenvolvida por Platão.
Outros dois pontos de vista acerca deste conceito a salientar são os de Schopenhauer e de Nietzsche.
Para Schopenhauer, o medo da morte trata-se a apenas do desgaste do organismo, causando assim uma
angústia perante o fim da vida.
Nietzsche defendia duas possíveis posturas perante o mesmo: covarde e voluntário. Uma morte covarde
seria encarada como um acaso, uma fatalidade “imprevisível” e improvável. Estes aspetos fazem com que
o Homem despreze a morte, por não poder modificar essa realidade. Já uma morte voluntária ocorre após
um tempo bem vivido, ou seja, após uma vida onde a morte foi conformada como natural e iminente,
provocando assim um sentido de longevidade.
Contexto

Para que seja conquistada a compreensão total do problema e das suas questões de ética aqui expostas,
apresentam-se casos onde a obrigação do prolongamento da vida e a de respeitar os indivíduos

“Marc e Eddy Verbessem

Marc e Eddy Verbessem eram unha e carne. Irmãos gémeos, surdos, viveram juntos toda a vida adulta.

Aos 45 anos, os sapateiros descobriram que tinham uma doença que iria conduzi-los à cegueira. Com
medo de virem a perder a sua independência, decidiram que não tinham razões para viver e optaram pela
eutanásia.

Depois de um ano a enviar uma carta por semana ao seu médico a pedir a eutanásia, este acabou por
ceder.

O caso dos irmãos Verbessem é tido como um exemplo por definição da chamada “rampa deslizante”. Na
Bélgica, a eutanásia apenas é legal para quem sofre de doença grave e incurável que leva a sofrimento
físico ou mental incomportável. À data da aprovação da lei, não se colocou a hipótese de alguém pedir
eutanásia por estar a ficar cego. O médico neste caso nunca foi julgado ou admoestado pelo que fez.

Jack Kevorkian – "O dr. Morte"

O médico patologista de Michigan, nos Estados Unidos, foi o mais proeminente defensor da legalização da
eutanásia e da morte assistida e, segundo o seu advogado, assistiu pelo menos 130 pessoas a morrer.

Em 1998 foi preso e passou oito anos atrás das grades, sendo libertado sob condição de pôr fim às suas
atividades. Durante a sua carreira viu ser-lhe retirada a licença para praticar medicina no estado do
Michigan e foi também conhecido por várias propostas pouco ortodoxas, como por exemplo o uso de
sangue de cadáveres para transfusão e o transplante de órgãos de pessoas condenadas à pena de morte.

Segundo uma investigação do jornal “Detroit Free Press”, 60% dos doentes que Kevorkian ajudou a morrer
não tinham doenças terminais e pelo menos 12 deles nunca se tinham queixado de dor. A investigação
demonstrou ainda que pelo menos 19 das vítimas tinham conhecido o médico menos de 24 horas antes de
morrerem.

A esmagadora maioria dos casos em que Kevorkian interveio foram de suicídio assistido, numa altura em
que não existia enquadramento jurídico para condenar tal prática. Em 1998, o programa “60 Minutos” da
CBS, mostrou um vídeo gravado pelo próprio Kevorkian em que ele acionava a máquina que administrou
uma dose letal a um homem que sofria de doença degenerativa, com o seu consentimento.

Com base nessas imagens, Kevorkian foi condenado a uma pena efetiva. O "dr. Morte", como ficou
conhecido informalmente, morreu em 2011 de causas naturais.
Eutanásia em caso de demência

Um outro caso abalou recentemente a Holanda, mas nem a vítima nem a médica que lhe administrou a
eutanásia foram identificadas.

O caso envolve uma mulher de 74 anos que tinha deixado um testamento vital pedindo para ser
eutanasiada se algum dia tivesse de ser admitida a um lar e se achasse que tinha chegado a altura certa.

Contudo, quando foi de facto internada num lar, a mulher já sofria de demência e não só não foi capaz de
confirmar a sua vontade como terá até dado indícios de que já não queria morrer.

Apesar disso, a médica do lar decidiu avançar com o procedimento depois de consultar a família. Apesar
de ter dado sedativos à vítima, foi preciso os seus parentes segurarem-na para que a médica pudesse
administrar a injeção letal.”

-Rádio Renascença, Eutanásia. Os casos mais marcantes e polémicos desde que a primeira lei foi
aprovada

Análise: O porquê da polémica associada

Se a eutanásia, em teoria, depende somente do indivíduo que a elege como solução, qual será a razão
desta oposição?
Como já referido, os profissionais de saúde têm uma obrigação moral de não intervir e prejudicar os seus
utentes. Enquanto tal acontece, este desrespeito a esta liberdade vem maioritariamente por parte de
autoridades legais. Muitos dos utentes que procurem este cuidado, não o podem fazer no seu país de
residência legalmente, e a justificação dada é frequentemente baseada na religião católica. É factual que
esta religião outrora possuiu uma grande influência sobre todos os aspectos da vida quotidiana da
população a nível mundial, principalmente no mundo ocidental. Apesar de esta ter vindo a ser cada vez
mais fraca, muitos procuram ainda preservar valores abandonados à quase um século.
Bibliografia

Autonomia, cuidado e respeito: o debate sobre o prolongamento assistido da vida


Léo Peruzzo-Júnior1  , Doutor em Ética e Filosofia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor colaborador do
Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Filosofia. Professor da Escola de Educação e Humanidades e da Escola
de Direito da PUCPR
https://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1886-58872017000100008

A morte na visão de seis filósofos


Por:NOVA ESCOLA, Tendo como base o artigo "O ciclo da vida", escrito por Lya Luft para a revista VEJA 2388, de 27 de agosto
de 2014, no plano de aula "Discussão acerca da morte a partir de Platão, Sócrates e Epicuro"
https://novaescola.org.br/conteudo/263/a-morte-na-visao-de-seis-filosofos

?
Como entender a morte segundo os filósofos
Cemitério sem Mistério
https://www.cemiteriosemmisterio.com.br/entender-a-morte-segundo-os-filosofos/

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