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MESTRADO EM DIREITO
ESPECIALIDADE EM CIÊNCIAS JURÍDICAS
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
“LUÍS DE CAMÕES”
EUTANÁSIA
Novembro de 2023
Lisboa
Índice
Introdução..............................................................................................................................................3
1. Desenvolvimento...............................................................................................................................4
1.1. Termo e Conceito de Eutanásia...................................................................................................4
1.2. Eutanásia e suicídio assistido.......................................................................................................6
1.3. Eutanásia e as suas diferentes aceções.......................................................................................8
2. Referências Históricas.....................................................................................................................10
3. O regime jurídico da eutanásia em outros ordenamentos...............................................................12
3.1. A eutanásia na Alemanha..........................................................................................................12
3.2. A eutanásia na Holanda.............................................................................................................13
3.3 A eutanásia no Brasil..................................................................................................................17
3.4. A eutanásia em Portugal............................................................................................................18
4. O princípio da dignidade da pessoa humana....................................................................................22
Conclusão.............................................................................................................................................24
Bibliografia...........................................................................................................................................25
Introdução
1
BRITO, António José dos Santos Lopes de; RIJO, José Manuel Subtil Lopes – Estudo Jurídico da
Eutanásia em Portugal. Direito sobre a Vida ou Direito de Viver? Coimbra: Almedina, 2000, p.25
2
Idem, p.46
3
GODINHO, Inês Fernandes – Eutanásia, homicídio a pedido da vítima e os problemas de
comparticipação em Direito Penal, Coimbra: Coimbra Editora, 2015, p. 244 e s.
3
1. Desenvolvimento
1.1. Termo e Conceito de Eutanásia
A eutanásia não defende a morte, mas sim a escolha da morte por quem a
abriga como a melhor opção. Dito isto, conseguimos entender que não é uma
escolha que não pode ser tomada de ânimo leve.
Contra a eutanásia existem razões de ordem religiosa, ética, social e política. Do
ponto de vista religioso, a eutanásia é uma violação dos direitos humanos à vida,
que pertence apenas a Deus. Do ponto de vista da ética médica, alguns questionam
4
COUTO, Gilberto – A Eutanásia Descodificada. Um Guia para o debate/referendo. Lisboa:
Pártenon, 2016, p. 19 e 20.
4
o Juramento de Hipócrates 5, que exige que os profissionais de saúde respeitem a
vida do paciente.
5
JURAMENTO de Hipócrates – [Em linha]. [Consultado. 10 de novembro de 2023]. Disponível em:
http://ordemdosmedicos.pt/wp-content/uploads/2017/08/Juramento_de_Hipócrates.pdf
5
O suicídio assistido é um termo derivado do latim Sui + Cídio = Raiz de
6
Caedere = Matar , ou seja, o próprio conceito já demarca as presunções
necessárias para que o suicídio se possa concretizar.
6
CARDOSO, Álvaro Lopes – O Direito de Morrer Suicídio e Eutanásia, círculo de Leitores, 1993,
p.11. MANSO, Luís Duarte – Direito Penal, Casos Práticos Resolvidos, Volume I, 4.ª Ed., Lisboa:
Quid Juris, 2011, p. 171.
7
Januário, Rui; Figueira, André́ - O crime de Homicídio a Pedido. Eutanásia. Direito a Morrer ou
Dever de Viver. Lisboa: Quid Juris, 2009, p. 308
8
DIÁRIO DA REPÚBLICA – DL n.º 48/95, de 15 de março. [Em linha]. [Consultado. 10 de novembro
de 2023]. Disponível em: https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-
/lc/107981223/201708230100/73474034/diploma/índice
9
MANSO, Luís Duarte – DIREITO PENAL, Casos Práticos Resolvidos, Volume I, 4.ª Ed., Lisboa:
Quid Juris, 2011, p. 185
6
enquanto no suicídio assistido o doente é o responsável por administrar a
substância.10
10
SILVA, Fernando – Direito Penal Especial, Crimes Contra as Pessoas, Quid Juris, Lisboa, 2011,
p. 129
7
1.3. Eutanásia e as suas diferentes aceções
1. A eutanásia ativa, que provoca a morte a outro por ação11, esta implica
a utilização de processos que visam diretamente levar à morte da pessoa. Este
comportamento é punível em Portugal, pelos artigos 133º, 134º e 135º do Código
Penal Português (CP)12, dependendo ou não do consentimento do paciente para se
saber o seu enquadramento penal do crime.
8
de fármacos letais, em satisfação de um pedido voluntário”. Esta prática é punível,
corresponde ao Homicídio a Pedido da Vítima, previsto no artigo 134º do Código
Penal Português.15
E pela eutanásia ativa indireta, esta forma de eutanásia não tem como fim
provocar a morte à pessoa, o que se pretende é sim atenuar o sofrimento do doente,
mitigação essa que possa conduzir à morte. 16 Os autores defendem o carácter não
criminoso deste ato porque não há culpa em quem administra algo para aliviar o
sofrimento de outro, e não há intenção de matar, mas sim de aliviar o sofrimento e a
dor. Portanto, não se enquadra na legislação penal acima referida.17
2. Referências Históricas
17
9
que se tem ocorrido em outros países na Europa e fora dela. Como já vimos, trata-
se do pedido feito por uma pessoa, por norma a um profissional de saúde, para que
este ponha fim à sua vida18. A origem da prática remonta aos tempos antigos, e a
discussão sobre a mesma tem acompanhado a humanidade desde esses
longínquos tempos.
No seculo XVII é proposto pela primeira vez por Francis Bacon na sua obra
“Historia vitae et mortis” o termo eutanásia, e segundo o mesmo:
Mais tarde, no século XVIII, a eutanásia passou a ser vista como uma ação ou
conduta no modo de conseguir ou provocar a morte sem dor, pacífica e
confortavelmente. Subsequentemente, no século XIX, foi estipulada como um ato de
compaixão pelos enfermos20; Isto é, um ato para acabar com a vida de uma pessoa
por misericórdia, “morte piedosa”21 .
18
OSSWALD, Walter - Sobre a Morte e o Morrer, Coleção Ensaios da Fundação, Editor: Fundação
Francisco Manuel dos Santos, p.51
19
BACON, Francis- Historia Vitae et Mortis, 1636
20
SANTOS, Sandra Cristina Patrício dos - Eutanásia e suicídio assistido: o direito e liberdade de
escolha. Coimbra: 2011, p. 23
21
BRITO, António José dos Santos Lopes de; RIJO, José Manuel Subtil Lopes – Estudo Jurídico da
Eutanásia em Portugal. Direito sobre a Vida ou Direito de Viver? Coimbra: Almedina, 2000, p. 26
10
Desde então, alguns Estados alteraram as suas leis penais e promulgaram
leis que regem esta prática e regulamentam os direitos dos pacientes terminais. O
panorama atual da eutanásia também se centra na ideia dos direitos individuais, no
princípio da autonomia e na liberdade de decidir sobre o próprio ato de morte.
11
3. O regime jurídico da eutanásia em outros ordenamentos
Por volta de 1973, uma pesquisa realizada, pelo Emnid Institut, descobriu que
53% dos alemães entrevistados não apoiavam a legalização da eutanásia 24
Em 1984, deparamos com o caso da prática de suicídio assistido por um médico,
após o Tribunal Superior de Munique ter pronunciado “o direito a autodeterminação
do paciente inclui a autodeterminação da morte”.25
Hoje em dia, no que diz respeito ao tema eutanásia e suicídio assistido, estão
22
COSTA, José de Faria – «O fim da vida e o Direito Penal». In Liber Discipulorum para Jorge de
Figueiredo Dias. Coimbra: Coimbra Ed., 2003. pp. 778 e ss.
23
NINI, Ana Catarina Sardinha – Eutanásia. Uma visão Jurídico - Penal. Lisboa: Universidade
Autónoma de Lisboa, 2012. 96 f. Tese de Mestrado em Ciências Jurídico - criminais.
24
BRITO, António José dos Santos Lopes de; RIJO, José Manuel Subtil Lopes – Estudo Jurídico da
Eutanásia em Portugal. Direito sobre a Vida ou Direito de Viver? Coimbra: Almedina, 2000, p. 89.
25
BRITO, António José dos Santos Lopes de; RIJO, José Manuel Subtil Lopes – Estudo Jurídico da
Eutanásia em Portugal. Direito sobre a Vida ou Direito de Viver? Coimbra: Almedina, 2000, p. 89
12
modelados, na própria Constituição as disposições por que nos podemos nortear.
No que diz respeito aos princípios fundamentais para a perceção da eutanásia e do
suicídio assistido, estes encontram-se tipificados nos artigos 1.º n. º1, relacionado à
inviolabilidade da dignidade da pessoa humana, que o Estado tem o dever de a
salvaguardar e respeitar e, consequentemente, respeitar o direito da personalidade,
consagrado no art.º 2.º n. º 2 da Constituição alemã26
26
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA – Eutanásia e suicídio assistido. Legislação Comparada. [Em
linha]. Lisboa: Divisão de Informação Legislativa e Parlamentar – DILP, abr. 2016. [Coleção Temas,
60]. [consultado 12 novembro de 2023]. Disponível em:
https://www.parlamento.pt/ArquivoDocumentacao/Documents/Eutanasia_Suicidio_Assistido_1.pdf
27
Versão em inglês retirada de http://germanlawarchive.iuscomp.org/?p=752. No original, sob a
epígrafe “homicide upon request,” diz-se, no nº 1 do artigo 216º, o seguinte: “If someone is induced to
homicide by the express and earnest request of the person killed, then imprisonment from six months
to five years shall be imposed”. O nº 2 estabelece: “An attempt shall be punishable”
13
eutanásia nos Países Baixos. Tudo começou na década de 1970 e terminou
após o evento Postma.28
No n.º 1 do art.º 294 do Código Penal Holandês diz-se que, quem incitar
outrem, intencionalmente, a cometer o suicídio, será punido com pena de prisão até
3 anos ou com pena de multa. O n.º 2 acresce que quem, intencionalmente, assistir
o suicídio de outrem e lhe prestar auxílio material para a realização do ato, é punido
com pena de prisão até 3 anos, caso o ato venha a concretizar-se. 34
28
Caso em que uma médica, Geertruida Postma, acedeu aos pedidos da mãe de setenta e oito anos
de idade que sofria de forma insuportável devido a uma hemorragia cerebral, o seu estado de saúde
tinha deteriorado muito. O caso foi levado ao Tribunal Penal de Leeuwarden e a médica foi
condenada a uma pena de prisão de uma semana, suspensa por um ano. Após o caso o Tribunal
decretou três cláusulas que conjugados, levariam à não punição do médico: a) o paciente tem de ser
um doente incurável e terá de ser comprovado pela ciência médica; b) o paciente terá de dar o seu
consentimento, oral ou escrita relativamente a interrupção da vida, de forma a libertar do sofrimento ;
c)o paciente tem de sofrer, física ou psicologicamente de forma grave.
29
GODINHO, Inês Fernandes – Eutanásia, Homicídio a Pedido da Vítima e os Problemas de
Comparticipação em Direito Penal, Coimbra Editora, 2015, p. 270
30
“Caso em que o médico (Schoonheim) administrou uma injeção letal a uma senhora de noventa e
cinco anos que sofria de uma anca fraturada e tendo esta recusado a operação a sua situação era
cada vez pior, o que a levou a pedir ao médico o término à vida, tendo este consentido. O caso
seguiu para o Supremo Tribunal Holandês e o médico foi absolvido.”
31
GODINHO, Inês Fernandes – Eutanásia, Homicídio a pedido da Vítima e os problemas de
Comparticipação em Direito Penal, 1.ª Ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2015, p. 270 – 271
32
Idem, p. 271
33
BRITO, António José́́ dos Santos Lopes de; RIJO, José Manuel Subtil Lopes – Estudo Jurídico da
Eutanásia em Portugal. Direito sobre a Vida ou Direito de Viver? Coimbra: Almedina, 2000, p. 86.
34
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA – Eutanásia e suicídio assistido. Legislação Comparada. [Em
linha]. Lisboa: Divisão de Informação Legislativa e Parlamentar – DILP, abr. 2016. [Coleção Temas,
60]. [consultado 12 de novembro de 2023]. Disponível em:
https://www.parlamento.pt/ArquivoDocumentacao/Documents/Eutanasia_Suicidio_Assistido_1.pdf
Section 294 1 – “Any person who intentionally incites another person to commit suicide shall, if suicide
follows, be liable to a term of imprisonment not exceeding three years or a fine of the fourth category”.
2 – “Any person who intentionally assists in the suicide of person or provides him with the means
14
O suicídio assistido tem de cumprir os requisitos presentes no artigo nº 2 da lei da
eutanásia e para a conduta ser justificada o médico tem de cumprir as seguintes
regras:
thereto shall, if suicide follows, be liable to a term of imprisonment not exceeding three years or a fine
of the fourth category. Section 293(2) shall apply mutatis mutandis.”
15
esperança para estes. Eduard Verhagen, neonatalogista e diretor clínico da área
pediátrica do Centro Médico da Universidade de Groningen, é um grande pioneiro no
uso da eutanásia em recém-nascidos com anomalias graves35 .
O médico pode recusar a prática da eutanásia mesmo que o paciente solicite por
escrito, se entender que não deve praticar o ato. Isto porque, segundo a Lei
Holandesa, os médicos não são obrigados a praticar a eutanásia, visto que, a
cessação da vida não é considerada um procedimento médico recorrente.
16
homicídio simples, que é de 6 a 20 anos, de acordo com o artigo 121º do Código
Penal Brasileiro.
17
data no ordenamento jurídico português, ações e práticas, como o caso da
eutanásia e do suicídio assistido, são tratadas e regulamentadas particularmente a
partir de normas que salientam a importância, o respeito e a salvaguarda da vida em
todas as situações.
Temos quem defenda, como por exemplo o advogado criminal Manuel Lopes
Maia Gonçalves, que a eutanásia está incluída nas disposições do artigo 133º do
Código Penal, sendo de assinalar a posição de autor do projeto inicial do Código
Penal manifestada a este respeito, na seguinte transcrição das atas da respetiva
comissão revisora: “Em relação a esta (a eutanásia ativa) segue-se, portanto, uma
38
Ministério da Justiça, «Decreto-Lei n.º 47344, Aprova o Código Civil e regula a sua aplicação -
Revoga, a partir da data da entrada em vigor do novo Código Civil, toda a legislação civil relativa às
matérias que o mesmo abrange», Diário do Governo n.º 274/1966, Série I de 1966-11-25,
https://dre.pt/application/conteudo/477358.
18
solução intermédia: nem se pune como homicídio nem se deixa de punir. Aliás, este
crime privilegiado tem também por função impedir que os tribunais deixem de punir a
eutanásia ativa por meio de recurso ao princípio da não exigibilidade. Pretende-se a
sua punição, mas só dentro dos limites do artigo.”
Por fim, encorajar outra pessoa a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para esse
fim, estabelece crime de incitamento ou ajuda ao suicídio, previsto no artigo 135º do
Código Penal, “se o suicídio vier efetivamente a ser tentado ou a consumar- se”.
Estes crimes são puníveis com penas de até 3 anos, ou pena de prisão até 5 anos,
“se a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver, por
qualquer motivo, a sua capacidade de valoração ou de determinação sensivelmente
diminuída”.
19
receber, ou não deseja receber, no caso de, por qualquer razão, se encontrar
incapaz de expressar a sua vontade pessoal e autonomamente”.
20
4. O princípio da dignidade da pessoa humana
21
Como direito fundamental prioritário, o direito à vida está na essência de
todos os outros direitos; isto é, aqueles existem por causa dela e para lhe conceder
proteção.39 Em todo o caso, a própria disposição 40, que assegura e estatui esse
direito à vida, define que não se trata do direito de a dispor a bel-prazer 41. Da mesma
maneira, diz-se que o direito à vida é intransferível e indisponível, abrangendo isso,
o direito de não ser morto e o direito a uma vida com dignidade.42
39
Na Constituição da República Portuguesa, o direito fundamental à vida está claramente entroncado
noutros direitos e princípios, de entre eles a dignidade da pessoa humana (artº 1º), a identidade
pessoal e o desenvolvimento da personalidade (artº 26º n.º 1), a universalidade (artº 12º n.º 1), e a
igualdade (artº 13º). MOREIRA, J.J. Gomes Canotilho Vital , Constituição da República Portuguesa
Anotada (Coimbra: Coimbra Editora, 2014), p. 448
40
JANUÁRIO, Rui; FIGUEIRA, André, O crime de homicídio a pedido - Eutanásia: direito a morrer
ou direito de viver (Lisboa: Ed. Quid Juris Sociedade Editora, 2009), p. 217
41
RAPOSO, Mário, «Eutanásia. Alguns Problemas Envolvidos», Brotéria: cristianismo e cultura
182, n. 3 (2000): p. 297.
42
SERRÃO, Daniel, «Ética das atitudes médicas em relação com o processo de morrer», em
Ética em Cuidados de Saúde, ed. Daniel Serrão e R. Nunes (Porto: Porto Editora, 1998), p. 15.
43
JANUÁRIO, Rui; FIGUEIRA, André – O crime de Homicídio a Pedido. Eutanásia. Direito a
Morrer ou Dever de Viver. Lisboa: Quid Juris, 2009, p. 233 e seguintes.
44
ANDRADE, André Gustavo Corrêa de – O Princípio Fundamental da Dignidade Humana e sua
Concretização Judicial. Revista da EMERJ, v.6, n.23, 2003, p. 317.
45
. JANUÁRIO, Rui; FIGUEIRA, André – O crime de Homicídio a Pedido. Eutanásia. Direito a
Morrer ou Dever de Viver. Lisboa: Quid Juris, 2009, p. 237
46
Constituição da República Portuguesa, 4ª Ed., Coimbra: Almedina, 2017, p. 16. 77
22
vida humana é inviolável” e o n.º 2 declara que “em momento algum pode ser
permitido a pena de morte”. A nossa Constituição declara o direito à vida, portanto,
direito a viver e não o direito de escolher viver ou não viver, tendo o legislador como
propósito a proteção da vida. O art.º 24, harmonizado com o art.º 1 da CRP 47,
determina que “Portugal é uma República Soberana, baseada na dignidade da
pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma
sociedade livre, justa e solidária”, pretendendo reafirmar e estabelecer que o
conceito de vida, não podendo o mesmo comprometer os princípios da dignidade
humana.
De acordo com Inês Godinho, a dignidade da pessoa humana não pode ser
comtemplada como um fundamento decisivo, visto não se tratar de uma norma
concreta, mas sim vaga, não estando a mesma definida e concretizada, representa
vários princípios e direitos. Contrariamente censo seria no caso de estarmos diante
de uma norma juridicamente concretizável, ou seja, um conceito concreto e definido,
nestes termos já seria válida uma discussão fundamentada na dignidade da pessoa
humana. Sendo este princípio compreendida de forma abstrata, não é possível a
prática de atos eutanásicos, devendo “valorar a pessoa como ser humano e não
como objeto,” evitando que o mesmo possa ser instrumentalizado pela medicina
intensiva.48
Conclusão
47
Idem, p. 9
48
GODINHO, Inês Fernandes – Eutanásia, Homicídio a Pedido da Vítima e os Problemas de
Comparticipação em Direito Penal, Coimbra Editora, 2015, p. 101 a 102
23
sendo acolhidas pacificamente pelos cidadãos. Conseguimos verificar que,
quando abordamos os direitos fundamentais, o tema da eutanásia não é visto
com bons olhos, pois ela interfere com os mesmos. As nossas convicções éticas
e religiosas são postas em causa, e isso gera descontentamento.
Cabe a cada um deliberar se quer viver com dor ou acabar com o mesmo.
Porém, é impossível viver uma vida inteira sem qualquer dor ou sofrimento. “A
grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o
sofrimento e com quem sofre” (Bento XVI).
Bibliografia
24
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Webgrafia
25
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Outras Referências
26