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UNIÃO DAS FACULDADES DOS GRANDES LAGOS – UNILAGO

CURSO DE PSICOLOGIA

MARIANA BUOSI DE MARCHI LIPKENS

RELATÓRIO: Estágio Supervisionado Básico IV

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO


2022
MARIANA BUOSI DE MARCHI LIPKENS

RELATÓRIO: Estágio Supervisionado Básico IV

Relatório de Estágio Supervisionado


Básico IV apresentado ao Curso de
Psicologia da União das Faculdades dos
Grandes Lagos – UNILAGO como
requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Psicologia.
Prof.º Matheus Colombari Caldeira.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2022
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INTRODUÇÃO
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O CAPS (centro de atenção psicossocial) é um núcleo terapêutico que tem como


finalidade atender as pessoas com transtornos mentais severos e persistentes e
também aos seus familiares. O CAPS possui uma equipe de profissionais que está
preparada para prestar todo o cuidado necessário na área de atenção psicossocial,
dando o devido valor à cidadania do indivíduo, o tratamento local e seus vínculos
familiares e sociais.
Durante a década de 1970 aqui no Brasil, se deu início a um intenso movimento
social regido pelos trabalhadores da área de saúde mental, na intenção de
descontruir a “cultura manicomial” que estava sendo denunciada pela fatídica
condição precária dos hospitais psiquiátricos juntamente com a desumanidade para
com seus pacientes também e até o final da década de oitenta foi se fortalecendo a
substituição dos serviços para novos modelos de atenção, de uma maneira mais
humanizada, dando vida aos CAPS. A partir de abril de 2001, foi aprovada e
sancionada a Lei da Saúde Mental (Lei Paulo Delgado) e assim se deu a
desinstitucionalização e consolidação dos Centros de Atenção Psicossocial
(Galvanese & Nascimento, 2009; Ministério da Saúde, 2004; Silva, 2004).
Assim dizendo, estes centros são instituições com o objetivo de acolher os
pacientes, estimular a sua reinserção cultural, social e familiar, apoiar a busca pela
autonomia e também possibilitar o acesso a atendimento médico e psicológico
funcionando como articuladores estratégicos da rede de atenção à saúde mental,
para assim, promover qualidade de vida, valorizando a vida comunitária (Ministério
da Saúde, n.d.).
Atualmente, existem cinco tipos de CAPS, o CAPS l, CAPS ll, CAPS lll, CAPS i e
CAPS ad sendo este último, o local onde o estágio supervisionado foi realizado.
O CAPS ad (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) foi criado em março
de 2002 e são especificamente para o atendimento de pacientes com transtornos
recorrentes do uso prejudicial do álcool e outras drogas, de maneira diária, semi-
intensiva, intensiva e não intensiva.
Os serviços oferecidos, conforme o Ministério da Saúde, conta com planejamento
terapêutico individualizado e de evolução contínua, possibilita também, intervenções
precoces, além do apoio para práticas de atenção comunitária e de leitos
psiquiátricos em hospitais gerais.
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Ressaltando que este é um serviço essencialmente multidisciplinar para assim


garantir a humanização no atendimento, preservando a autonomia e a liberdade de
cada ser humano (Alverga & Dimenstein, 2006; Ministério da Saúde, 2003, 2004,
2005).

A realização do trabalho atual, foi no CAPS ad de São José do Rio Preto que está
situado na Rua Joaquim Rosa dos Santos, 851, Vila Clementina e funciona, de
segunda-feira a sexta-feira das oito horas da manhã, até as seis horas da tarde,
onde oferece tratamento ambulatorial, em um local aberto e de acordo com as
necessidades dos usuários, utiliza-se a estratégia de redução de danos (não se é
exigida abstinência para inserção ao tratamento, oferecendo também atenção aos
familiares dos pacientes com orientação e apoios especializados. Os critérios de
inclusão são que o paciente deve ser do município de São José do Rio Preto e
aceitar voluntariamente o tratamento, os pacientes devem identificar e reconhecer
por si próprios os prejuízos em certas áreas de suas vidas, decorrentes do uso de
álcool ou de outras drogas, tornando-se assim, corresponsáveis pelo próprio
tratamento.

O CAPS ad oferece serviços como clínico geral, enfermagem, oficina terapêutica de


artes, artesanato, práticas expressivas, oficinas de geração de renda, psicologia,
psiquiatria e serviço social, dentre outros serviços também há o acolhimento,
avaliação clínica, grupos de orientação de familiares, grupos terapêuticos, oficinas
terapêuticas, orientação medicamentosa e visitas domiciliares.

OBJETIVO

O objetivo do estágio supervisionado IV na instituição CAPS ad, foi o de observar a


dinâmica do trabalho psicoterapêutico, a população atendida, a funcionalidade da
equipe, o desenvolvimento de habilidades para a comunicação e para a criação de
vínculo com a população atendida no serviço. Também para adquirir conhecimentos
sobre as atividades diárias do CAPS, bem como trabalhar o desenvolvimento de
técnicas e atividades dinâmicas singulares pautadas nas aulas de supervisão de
estágio. Foi um estágio prático para assim nos aproximar da realidade das pessoas
usuárias de drogas lícitas e ilícitas e assim obter uma demonstração vivencial sobre
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as práticas do cuidado e assistência psicossocial, o trabalho em uma equipe


multidisciplinar, para assim compreendermos a atuação do psicólogo em instituições
governamentais como o CAPS ad e na relação com a equipe disponível.

O objetivo do estágio foi também nos pôr em contato direto com os usuários durante
a execução das oficinas e procedimentos, para que assim nós pudéssemos tomar
conta e reconhecer as dificuldades que estão relacionadas a este campo, seja no
nível micro como o manejo de crises, relações entre profissionais, entre outros, até o
nível macro, como por exemplo, escassez de recursos, condições de trabalho
inadequadas, crises financeiras governamentais, número de funcionários
insuficientes.

Proporcionar atuação junto a sujeitos em sofrimentos psíquicos devido ao abuso de


álcool e outras drogas, adquirir percepção de conquistas e efetivação do novo
modelo antimanicomial, bem como os desafios e lacunas a serem vencidos e
implantados, pois a Reforma Psiquiátrica ainda está em construção e no cenário
atual apresentando riscos de retrocessos das conquistas que já foram alcançadas.

JUSTIFICATIVA

Compreender, aprender e executar intervenções a nível de saúde mental no sistema


público de saúde a partir de ferramentas psicológicas, como avaliações,
acolhimentos, grupos e visitas domiciliares, permitindo o cuidado do
desenvolvimento dos usuários do CAPS.

MATERIAIS E MÉTODOS
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O estágio supervisionado IV realizado no CAPS ad de São José do Rio Preto se deu


início no dia quatro de abril de dois mil e vinte e dois e ficou estipulado para ser
realizado todas as segundas e sextas-feiras até a data final de três de junho de dois
mil e vinte e dois. No dia onze de abril se deu o primeiro dia de execução do estágio,
estiveram presentes seis alunos de psicologia, foi feita uma apresentação de cada
área dentro do local e também de cada funcionário, assim como também nos foi
explicado cada função e cada dinâmica aplicada aos grupos, horários, dias de
funcionamento, sobre os tratamentos e as oficinas oferecidas pela instituição.

Nas atividades realizadas, buscamos observar aos integrantes de cada oficina em


que participamos, a expressão artística que está diretamente ligada à expressão do
inconsciente de cada um, suas reflexões sobre si, histórias e o contexto por meio de
cada produção que foi realizada, assim como incentivar aos usuários e ex-usuários a
participação nas relações interpessoais. Tivemos um plano de trabalho bastante
flexível e objetivo podendo assim ser modificado de acordo com as necessidades
dos usuários e também por possíveis eventos.

Inicialmente foram feitas duplas de estagiários, onde cada dupla permaneceria na


mesma oficina até o final do estágio, para facilitar a criação do vínculo entre os
pacientes e os estagiários, foi decidida a rotatividade das duplas para executar as
visitas domiciliares que acontecem às segundas-feiras e também a participação
durante os acolhimentos e entrevistas iniciais dos pacientes para serem atendidos
pelo CAPS.

Desta forma, eu e minha parceira de dupla ficamos responsáveis de estar na oficina


de artes às segundas-feiras e na oficina de música nas sextas-feiras.

Já em atuação na oficina de artes, realizei um primeiro contato informal com os


pacientes para assim nos conhecermos melhor, me apresentei, eles se
apresentaram e fomos tomando ciência de cada um dos três pacientes que ali se
encontravam e juntamente com o artesão/terapeuta responsável pela oficina fui
sendo esclarecida sobre as questões de cada indivíduo que participou naquele dia.
O paciente C nos recebeu de maneira bastante aberta e receptiva, o mesmo se
demonstrou contente com a nossa presença e grande parte da aceitação dos outros
pacientes foi devida a esta abertura inicial que nos deu este paciente, este é um
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paciente que foi usuário de crack e álcool, estava livre há dois anos, mas ainda não
estava de alta e é um paciente disciplinado em suas tarefas, bastante funcional e
ativo dentro do CAPS, falou abertamente a todos sobre sua vida particular,
confiando também em nos falar sobre a sua família e também nos fazer ver fotos de
seu antes e depois, onde se via claramente o orgulho que sentia de seus progressos
e conquistas a respeito do uso das substâncias ilícitas, o paciente nos deixou claro
que o CAPS foi e ainda é um órgão de suma importância em seu processo de
recuperação. Apesar disto, o paciente é uma pessoa agitada, inquieta, onde o
artesão/terapeuta nos disse que ele ainda precisava fazer uso de certos
medicamentos, mas que o mesmo se recusava a dar continuidade medicamentosa
ao tratamento, para ele as terapias e seu trabalho já eram o suficiente e sua vontade
é respeitada assim como a de todos os pacientes que ali frequentam
voluntariamente. O paciente também relatou ter estado em situação de rua até
conseguir procurar ajuda, relatou como eram seus dias estando nas ruas e o que o
crack fazia com seu estado mental, anímico, social e moral, ele foi casado e tem três
filhas com a mesma mulher, possui um neto, e relatou que “quase” os perdeu pois
estiveram sem contato por bastante tempo, mas que o apoiaram da maneira que
puderam em sua recuperação e o mesmo nos enfatizou que “jamais encostou a mão
em nenhuma mulher”, com suas palavras “eu roubei coisas dentro de casa, fiz
bastante gente da minha família sofrer, mas eu jamais bati em ninguém”. Relata
amor pelo seu trabalho de fotógrafo, vendeu todos os seus equipamentos para
poder fazer uso, mas hoje já está em atividade novamente e já os comprou
novamente. Paciente relata que a vontade nunca passa, o corpo lhe pede a droga,
mas diz que o que mudou mesmo foi a sua mente, segundo ele, ele sabe bem seus
objetivos e perspectivas de vida e com isso ele aprendeu a modificar sua condição
mental e “não dar ouvidos às vozes” que lhe pedem o uso, quando lhe perguntei
sobre que “vozes” eram estas, ele relatou que são vozes que lhe contam histórias de
como é legal e de como ele se sentia ao usar, as conversas com amigos, as
questões que naqueles momentos de uso lhes pareciam benéficas e interessantes,
mas que hoje ele tem claro que não é naquele estado que ele quer estar. Ele tem
claros dons artísticos, faz pinturas bem complexas e gosta do que faz ele só
participa das oficinas de artes e música. O paciente também relatou baixo o seu
ponto de vista, a realidade e a seriedade de cada um dos outros pacientes que
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estavam em tratamento. Este paciente é um dos poucos que vão a eventos,


representando os pacientes do CAPS.

O paciente V não se demonstrou receptivo, ficou calado praticamente todo o tempo


em que estivemos ali presentes, mas pude perceber uma disfluência no ritmo da fala
e após investigar os funcionários me relataram que foi causada pelo abuso do álcool
assim como a sua condição mental e neurológica.

Ele também inicialmente se mostrou claramente incomodado com a nossa presença,


respeitei sua individualidade e realizei apenas a observação de suas condutas, ele é
um paciente que foi alcoolista, com suspeita de autismo, mas sem diagnóstico sobre
o seu quadro, ele é bastante metódico, não gosta de mudanças e novidades em
suas terapias, mas realiza todas elas, frequenta a instituição com seriedade e
constância e assim pude constatar grandes progressos no período em que o estágio
foi realizado, posso afirmar que foi o paciente que mais evoluiu em suas limitações
enquanto estivemos executando a função, sua família era bastante atenciosa para
com ele e todos, principalmente os irmãos estavam empenhados em seu tratamento,
pude estar convicta neste primeiro dia a grande importância e diferença entre os
pacientes que estavam sendo diretamente apoiados por suas famílias e os que
estavam sozinhos nesta caminhada rumo à libertação do uso de drogas.

O terceiro paciente P foi claro em dizer que o CAPS fazia a diferença em sua vida,
que diminuiu a fluência do uso do crack, mas que ainda fazia uso “de vez em
quando”, mas que estava frequentando mais pela alimentação e disponibilidade de
se higienizar, pois o mesmo e sua mulher estavam vivendo em uma casa
abandonada e não tinham acesso a água e energia elétrica.

Ressalto aqui que um dos critérios para poder ter acesso a banho, alimentação
dentre outras coisas oferecidas pela instituição, era participar corretamente das
oficinas, contribuir nas funções designadas pela psicoterapeuta e segundo a
psicóloga do CAPS, ele não tem a intenção de se livrar das drogas. O mesmo
realizou rapidamente um exercício de pintura livre, se alimentou, tomou banho e foi
embora logo em seguida, sem abrir muito sobre sua vida pessoal, nos relatou que
sua mulher estava na oficina ao lado, que a mesma estava gestando e que ainda
fazia uso do crack, após investigação sobre sua fala, compreendi que era apenas
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uma suspeita de gestação, mas que a mesma teria sofrido um aborto há meses
atrás.

Foi nos dada a abertura de realizar dinâmicas de grupo proporcionada por nós
estagiários, onde realizamos oficinas de desenho livre, leitura de poemas para que
os mesmos se expressassem condizentes com o que sentiram e compreenderam
sobre o que estavam ouvindo, também realizamos uma atividade de colagem, onde
cada um pode representar em figuras aquilo que condiziam com o que se
identificavam e também aquilo que não se identificavam. Dentro de uma destas
atividades, uma paciente se mostrou aflita e chorando, onde eu pessoalmente pude
executar um atendimento de plantão para que a mesma pudesse se recompor e
seguir novamente com suas atividades. A partir desta observação pude constatar a
importância de não permitir haver uma contratransferência estagiário e paciente para
assim continuar a função de maneira neutra e poder auxiliar o paciente de maneira
profissional e satisfatória, exercendo corretamente o meu papel terapêutico, pude
então aí perceber a importância de eu mesma como profissional, estar em contato
comigo mesma, perseverar no meu autoconhecimento juntamente com a minha
psicoterapeuta, perceber e estar consciente dos meus próprios traumas e questões,
contribuiu de maneira incalculável em meu progresso como futura psicóloga.

Realizei também duas visitas domiciliares e pude observar três dinâmicas bem
diferentes, o que ampliou consideravelmente minha visão sobre o uso de drogas.

A primeira visita foi realizada a uma paciente diagnosticada com um grau elevado de
transtorno bipolar, a mesma se automutilava, várias tentativas de suicídio, mãe de
quatro filhos, dos quais três estavam sob tutela de familiares e o menor de cinco
anos estava com ela, a criança não apresentava em nada a sua idade, pois a
mesma ainda não sabia falar, suas funções cognitivas eram bastante precárias, sem
uma interação social condizente com a sua idade, nos foi relatado que a mãe fazia
uso do crack, álcool e remédios em sua gestação.

A paciente J estava em tratamento psicoterapêutico e medicamentoso, não queria


se personificar no CAPS, pois a mesma ainda era bastante resistente, mas que com
um pouco de esforço vindo dos profissionais a mesma aceitava e prosseguia o
tratamento em seu domicílio, ela ainda tem esperança de estar junto aos seus
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quatro filhos, seu atual marido e sua mãe estão empenhados também em seu
tratamento, o que facilita bastante seu progresso.

O paciente A, foi um homem jovem de vinte e quatro anos de idade, que esteve
internado por alguns meses em uma instituição, mas segundo os profissionais
responsáveis, o paciente pela sua rápida recuperação e desempenho correto de
suas funções ele foi dado de alta prematuramente e recaiu no uso uma semana
após sua saída da comunidade terapêutica. Em observação durante as visitas,
percebi uma simbiose profunda entre mãe e filho, pelo fato de que conviviam ainda
na mesma casa, uma casa confortável, o mesmo não tinha atividade laboral, não
estudava e segundo sua mãe ele estava em uso e já não dormia durante as noites.
Sua mãe havia acabado de lhe dar uma moto de presente, dentre todo o conforto
que o mesmo solicitava, também nos relatou sua agressividade, a qual também
pudemos constatar, pois ao chegarmos em sua casa os dois estavam em fortes
discussão. A assistente social Z a qual estávamos acompanhando, nos relatou que
era um caso onde a mãe estava tão necessitada de apoio quanto ao filho e que a
progenitora frequentava o grupo psicoterapêutico para familiares no CAPS de
maneira assídua e com seriedade, Z também nos disse da importância neste caso
dela estar frequentando estes grupos e estar empenhada em não somente tratar o
filho, mas também de se autoconhecer e adquirir ferramentas para poder lidar com
toda sua situação e assim apoiar o seu filho.

O outro paciente foi Y, alcoolista, diagnosticado com esquizofrenia e o qual não o


conhecemos fisicamente, pois ele se encontrava em um extremo estado
persecutório e não aceitava estranhos em suas visitas. No momento em que fomos
em seu domicílio, sua mãe, também diagnosticada com esquizofrenia, foi quem
simplesmente veio receber o almoço trazido pela assistente social e entrou
rapidamente, não houve qualquer tipo de conversa, mas a mesma nos deixou claro
que se eles não trazem comida, o paciente não come, não sai da casa para nada e
na ultima visita que fizemos a ele, esteve presente não só a assistente social, mas
também a psicóloga e a técnica de enfermagem que lhe ministrou um medicamento
injetável e pude constatar um grave estado de inanição do paciente, também pude
observar fortes delírios nas conversas de sua mãe, o que novamente me ampliou a
visão e conhecimento sobre estados de delírio e perseguição. Paciente foi criado
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pela sua mãe de maneira solo e observei então como a falta de possibilidades para
pessoas propensas em ”herdar” transtornos, principalmente do lado materno, ele
não teve saídas e ou opções e através da coleta de informações familiares deste
paciente, isto provavelmente isto vem sendo perpetuado durante gerações, o que
segundo as supervisões do estágio, estas perpetuações podem ser aliviadas e até
prevenidas, através do cuidado e atenção de órgãos como o CAPS e também dos
profissionais da ciência da psicologia, médicos e outras instituições.

Pude então constatar a responsabilidade de nós como futuros profissionais da


psicologia, em servir e auxiliar de inúmeras formas, aos intermináveis tipos de
apresentação dos quadros, neste caso, devido ao uso de substâncias lícitas e
ilícitas.

Participei no acolhimento e entrevistas de 3 pacientes, nos quais eram feitos de


forma breve, concisa, para poder saber mais sobre o que o possível paciente trazia,
tomar conhecimento de suas expectativas sobre o tratamento e poder assim, definir
o tratamento da forma em que o paciente assim desejava e de dispunha. Presenciei
o acolhimento de uma trabalhadora com um alto cargo de uma grande instituição,
que simplesmente queria medicamentos e psicoterapia, pois seus familiares,
incluindo o próprio cônjuge, não tinham conhecimento de seu uso, mas que não
queria se fazer presente nas oficinas.

A fila de espera para o atendimento psicoterapêutico era de um mínimo de sessenta


dias, os mesmos então eram derivados a dinâmicas psicoterapêuticas de grupo o
que é de suma importância para o início de um tratamento onde a interação social é
um ponto crucial para o paciente. As atividades em grupo, segundo Boris (2014), o
grupo é como uma configuração social humana, de tal forma ele intermedia a
realidade do indivíduo com as dinâmicas macrossociais, pois é no grupo que se abre
um lugar de diferentes significados, perspectivas a depender também da forma que
o indivíduo se enxerga dentro deste lugar. Segundo Blay Neto (1959) a interação é a
ação reciproca que um sujeito, que faz parte do grupo, exerce sobre o outro, assim
podendo se expressar através das suas atitudes, afetividade ou pela própria
verbalização. Grupos terapêuticos possibilitam trocas de experiências e diálogos que
traz inúmeros benefícios, como melhorar o modo de vida do sujeito em questão e
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também a forma como ele socializa com o outro, assim, o sujeito pode adentrar na
compreensão de si mesmo e se permitir conhecer seu próprio sofrimento, facilitando
e contribuindo para uma nova perspectiva em seu tratamento (AZEVEDO,2011).

O facilitador do grupo, deve expor claramente que as mudanças que podem vir a
acontecer, devem partir inicialmente de si mesmos, seu livre-arbítrio é respeitado e o
indivíduo deve então estar presente naquele ambiente por livre e espontânea
escolha, mesmo que a família indique o tratamento é sempre necessário que o
sujeito tenha e demonstre seu propósito. Desta forma, há a convicção da
importância dos grupos terapêuticos na vida destes usuários e também de seus
familiares, pois é uma atividade que tem como objetivo principal a reintegração dos
mesmos na sociedade, pois a partir da socialização com a sociedade, o tratamento
se torna mais fácil e assim estes sujeitos podem ter uma vida digna além de seu
diagnóstico.

Assim, em cada uma das oficinas propostas, sempre foi exercida a escuta do que os
usuários traziam e a discussão sobre as atividades realizadas, caracterizando uma
metodologia participativa, que permitiu com que todos os que estavam presentes
vivenciassem as atividades, valorizando as experiências, emoções, sentimentos de
cada um, construindo ali, um novo saber coletivo e promovendo as mudanças
necessárias para a evolução de cada um. (Serrão & Baleeiro, 1999, p. 48).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As lutas pela reforma psiquiátrica brasileira ganharam força no RS a partir 1991,


quando foi fundado o "Fórum Gaúcho de Saúde Mental" (FGSM), com o intuito de
discutir a implantação da reforma psiquiátrica. Essa iniciativa teve grande influência
para que o RS se tornasse o primeiro estado brasileiro a aprovar a legislação da
reforma psiquiátrica, com a lei nº 9.716, de 1992, na qual ficou determinada a
diminuição progressiva dos leitos em hospitais psiquiátricos, com substituição por
uma rede de atenção integral à saúde mental. No âmbito desta rede integrada
surgem os CAPS como principais serviços, sendo o de São Lourenço do Sul o
primeiro do sul do Brasil e do RS (Ministério da Saúde, 2004a; Tomasi et al., 2008).
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No estado de São Paulo se apresenta diferenças regionais significativas quanto à


estruturação dos serviços. Constata-se que a metade sul do estado protagonizou
experiências inéditas em saúde mental, enquanto a metade norte apresenta
dificuldades e carências na estruturação e inserção de serviços em saúde mental.

Como possibilidade para explicar essas dificuldades, deve ser lembrado que a
graduação tem que abranger atuações prováveis dos psicólogos, devendo adequar
os conhecimentos adquiridos às particularidades dos serviços, utilizando de sua
capacidade criativa e reconhecendo as particularidades de fatores regionais e
culturais de cada espaço, uma vez que interferem para a proposta das atividades
nos CAPS ad. Santos e Duarte (2009) reforçam essa ideia ao pontuarem que o
psicólogo atua com as demandas que cada caso requer, dependendo da
necessidade percebida.

Segundo Menegon e Coêlho (2006), uma maneira de enfrentar o desafio da


formação é fortalecendo "redes interdisciplinares e intradisciplinares na saúde e nas
ciências sociais" (p.162), produzindo e desenvolvendo conhecimentos para a
atuação do psicólogo na rede de saúde pública. Ressaltam a necessidade da
compreensão dos processos coletivos implicados na saúde-doença, ampliando e
fortalecendo os saberes e fazeres da psicologia: social e da saúde.

Entende-se, também, que a busca por formação complementar se torna fundamental


para que os profissionais psicólogos desenvolvam suas atividades de forma mais
eficaz, ampla e de acordo com a preconização da reforma psiquiátrica. No entanto,
Figueiredo e Rodrigues (2004) salientam que na formação complementar os
profissionais optam por áreas caracterizadas pelo modelo clínico. Essa circunstância
foi apontada por um psicólogo entrevistado em tal estudo, o que acarreta pouca
expressividade de práticas voltadas para a promoção da reinserção social dos
usuários.

Além disso, Dimenstein (2001) enfatiza que a prática dos profissionais psicólogos
deve ser mais questionada dentro da própria categoria profissional para a sua
adequação e efetividade social. A mesma autora aponta também para a
necessidade de os psicólogos incorporarem uma nova concepção de sua prática
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profissional, "associada ao processo de cidadanização, de construção de sujeitos


com capacidade de ação e de proposição" (p.62), rompendo com o "corporativismo,
as práticas isoladas e a identidade profissional hegemônica vinculada à do
psicoterapeuta" (p. 62).

A abordagem psicossocial compreende a articulação entre o que está no social e o


que faz parte do psíquico, concebendo o sujeito em suas múltiplas dimensões.
Dessa forma, o campo das intervenções psicossociais deve direcionar-se para a
potencialização das capacidades existentes no sujeito, visando a sua autonomia, a
superação das dificuldades vividas e a reinvenção e fortalecimento de caminhos
possíveis (Alves & Francisco, 2009). Para Campos, citado por Alves e Francisco,
(2009) as ações psicológicas em que a realidade socioeconômica e as condições de
vida dos sujeitos não estão articuladas, não são ações que reconhecem a condição
de autonomia dos usuários como protagonistas de sua história.

Refletir sobre essas ideias é fundamental para a formação acadêmica e profissional


para atuação dos profissionais psicólogos na rede pública de saúde mental,
juntamente com as demais equipes que compõem esses serviços substitutivos, uma
vez que todas as atividades desenvolvidas são ações de uma clínica ampliada e
dependem do engajamento de todos os profissionais atuantes. Além disso, o
permanente diálogo entre os diversos campos do saber e entre os profissionais que
compõem as redes de saúde é que os serviços podem se desenvolver plenamente
no âmbito da desinstitucionalização, compreendida como ações voltadas para a
superação da condição de exclusão que, historicamente estigmatiza essas pessoas,
e como ações que considerem os usuários em suas experiências cotidianas (Alves &
Francisco, 2009; Dimenstein, 2001; Figueiredo & Rodrigues, 2004).

No CAPS ad de São José do Rio Preto, pude observar a problemática da falta de


profissionais suficientes para abarcar com toda demanda de usuários, pois
atualmente há somente uma unidade desta modalidade da instituição para uma
população de cerca de quase quinhentos mil habitantes atualmente, onde presenciei
o período de férias de vários funcionários como psicólogos, enfermeira, assistente
social ou seja, cargos de suma importância, assim, os usuários ficaram boa parte do
tempo sem atividades e a atenção dos mesmos ficou precária e superficial.
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A equipe também esteve disfuncional em alguns momentos, pela falta de


possibilidades na comunicação interdisciplinar, são pequenas lacunas que pude
observar, mas que são as bases estruturais para a organização funcional da
instituição.

Outra importante observação, foi que para as visitas nos era disponibilizado um
carro da prefeitura com horário rígido de inicio e término, o que baixo meu ponto de
vista condicionava as visitas a serem superficiais e sem um direcionamento
apropriado, pois tudo era bastante cronometrado

CONCLUSÃO

Os benefícios do estágio IV foram incomensuráveis, dentre eles o de iniciar uma


nova etapa na maneira de olhar cada indivíduo como um ser único e individual, mas
que ao mesmo tempo fazem parte de um coletivo ao qual nós também estamos
inseridos e, além de estarmos inseridos como uma alma humana simplesmente
reconhecendo outra alma humana, pudemos por em prática grande parte das teorias
e dinâmicas aprendidas em sala de aula, dando ênfase no novo olhar do ser
humano como futuros profissionais em formação, que tem a responsabilidade de
alinhar o outro em uma sociedade onde suas feridas morais, sociais,
governamentais, humanas, para que assim, todos possam exercer seu direito inato
de levar uma vida digna, saudável e útil para a autorrealização pessoal como
indivíduos parte de uma nação planetária.
A implantação dos CAPS em nossa sociedade, vem representndo todo um avanço
nos tratamentos destinados às pessoas portadoras de transtornos mentais e,
também nos demonstra que a regulamentação dos serviços destinados aos usuários
de álcool e drogas representa para o povo brasileiro, um início de quebra de
paradigmas relacionados à figura dos dependentes químicos, na maioria das vezes
associada à criminalidade e justiça, já que pude observar pacientes de todas as
faixas etárias, diversos níveis sociais, diferentes situações laborais, diferentes
cargos em seus trabalhos desmistificando assim, a ideia de que usuários de drogas
são somente pessoas marginalizadas e ou que estão no “mundo do crime”.
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No entanto compreendo também que a rede substituída dos CAPS possui ainda,
grandes limitações, não estando ainda totalmente firmada, até mesmo pela recente
consolidação do novo modelo.
É fundamental, portanto, a realização de estudos avaliativos destes serviços, com o
uso de pesquisas de campo, que poderão contribuir com o levantamento das
necessidades para proceder com a implantação de mudanças importantes de
acordo com as necessidades de cada município, também ressaltando a
precariedade na existência de materiais disponíveis para o funcionamento
adequado, não só no âmbito terapêutico, mas também no âmbito ambulatorial,
clínico e profissional, assim, se demonstra uma problemática de literatura que deve
ser incansavelmente mais exploradas por nós estudantes e profissionais da área da
Psicologia. Desta mesma forma que acontece com a literatura referente aos CAPS
ad, eu não pude encontrar muito material publicado a respeito da atuação dos
psicólogos nestes serviços, não significando jamais que os psicólogos não estejam
realizando atividades importantes, mas representa de maneira ativa a necessidade
de estudos na área, viabilizando assim um maior conhecimentos sobre as
intervenções já realizadas, já que podemos pensar que muitos profissionais
preferem realizar suas atividades, sem registrá-las e publicá-las.
Estar em um contato direto com profissionais psicólogos atuantes nesses serviços
seria uma abordagem bastante viável para investigações complementares. Já
olhando por um viés histórico é recomendável que o estimulo aos registros
sistemáticos que se referem às experiencias e práticas dos profissionais em saúde
mental, independente dos CAPS, para que assim não se percam valiosas
informações ao longo dos anos, assim se percebe um aspecto simultâneo como
uma lacuna e uma possibilidade para o desenvolvimento de futuros estudos, pois
onde há uma lacuna, sempre haverá uma possibilidade.
É de extrema importância ressaltar que o ser humano necessita e deve se expressar
de maneira livre e integrar-se socialmente, pois a expressão dos sentimentos e
problemas cotidianos como possibilitam os CAPS, são uma forma direta de
promover a reabilitação psicossocial dos sujeitos em sofrimento.
A intervenção foi satisfatória, alcançou o objetivo proposto e todo o processo do
estágio proporcionou aos estagiários uma vivência teórico-prática do trabalho do
profissional psicólogo(a) no campo da saúde mental.
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A experiencia foi significante, há um grande marco no antes e depois da minha


caminhada como graduanda em psicologia e com certeza contribuiu de forma
consistente com a minha formação e concretização profissional e também na de
todos os estagiários que participaram.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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terapêuticas como instrumento de reabilitação psicossocial: percepção de
familiares. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 339-345, June
2011. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
81452011000200017&lng=en&nr...

BRASIL. Saúde Mental no SUS: os centros de atenção psicossocial / Ministério da


Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

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