Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURSO DE PSICOLOGIA
INTRODUÇÃO
2
A realização do trabalho atual, foi no CAPS ad de São José do Rio Preto que está
situado na Rua Joaquim Rosa dos Santos, 851, Vila Clementina e funciona, de
segunda-feira a sexta-feira das oito horas da manhã, até as seis horas da tarde,
onde oferece tratamento ambulatorial, em um local aberto e de acordo com as
necessidades dos usuários, utiliza-se a estratégia de redução de danos (não se é
exigida abstinência para inserção ao tratamento, oferecendo também atenção aos
familiares dos pacientes com orientação e apoios especializados. Os critérios de
inclusão são que o paciente deve ser do município de São José do Rio Preto e
aceitar voluntariamente o tratamento, os pacientes devem identificar e reconhecer
por si próprios os prejuízos em certas áreas de suas vidas, decorrentes do uso de
álcool ou de outras drogas, tornando-se assim, corresponsáveis pelo próprio
tratamento.
OBJETIVO
O objetivo do estágio foi também nos pôr em contato direto com os usuários durante
a execução das oficinas e procedimentos, para que assim nós pudéssemos tomar
conta e reconhecer as dificuldades que estão relacionadas a este campo, seja no
nível micro como o manejo de crises, relações entre profissionais, entre outros, até o
nível macro, como por exemplo, escassez de recursos, condições de trabalho
inadequadas, crises financeiras governamentais, número de funcionários
insuficientes.
JUSTIFICATIVA
MATERIAIS E MÉTODOS
5
paciente que foi usuário de crack e álcool, estava livre há dois anos, mas ainda não
estava de alta e é um paciente disciplinado em suas tarefas, bastante funcional e
ativo dentro do CAPS, falou abertamente a todos sobre sua vida particular,
confiando também em nos falar sobre a sua família e também nos fazer ver fotos de
seu antes e depois, onde se via claramente o orgulho que sentia de seus progressos
e conquistas a respeito do uso das substâncias ilícitas, o paciente nos deixou claro
que o CAPS foi e ainda é um órgão de suma importância em seu processo de
recuperação. Apesar disto, o paciente é uma pessoa agitada, inquieta, onde o
artesão/terapeuta nos disse que ele ainda precisava fazer uso de certos
medicamentos, mas que o mesmo se recusava a dar continuidade medicamentosa
ao tratamento, para ele as terapias e seu trabalho já eram o suficiente e sua vontade
é respeitada assim como a de todos os pacientes que ali frequentam
voluntariamente. O paciente também relatou ter estado em situação de rua até
conseguir procurar ajuda, relatou como eram seus dias estando nas ruas e o que o
crack fazia com seu estado mental, anímico, social e moral, ele foi casado e tem três
filhas com a mesma mulher, possui um neto, e relatou que “quase” os perdeu pois
estiveram sem contato por bastante tempo, mas que o apoiaram da maneira que
puderam em sua recuperação e o mesmo nos enfatizou que “jamais encostou a mão
em nenhuma mulher”, com suas palavras “eu roubei coisas dentro de casa, fiz
bastante gente da minha família sofrer, mas eu jamais bati em ninguém”. Relata
amor pelo seu trabalho de fotógrafo, vendeu todos os seus equipamentos para
poder fazer uso, mas hoje já está em atividade novamente e já os comprou
novamente. Paciente relata que a vontade nunca passa, o corpo lhe pede a droga,
mas diz que o que mudou mesmo foi a sua mente, segundo ele, ele sabe bem seus
objetivos e perspectivas de vida e com isso ele aprendeu a modificar sua condição
mental e “não dar ouvidos às vozes” que lhe pedem o uso, quando lhe perguntei
sobre que “vozes” eram estas, ele relatou que são vozes que lhe contam histórias de
como é legal e de como ele se sentia ao usar, as conversas com amigos, as
questões que naqueles momentos de uso lhes pareciam benéficas e interessantes,
mas que hoje ele tem claro que não é naquele estado que ele quer estar. Ele tem
claros dons artísticos, faz pinturas bem complexas e gosta do que faz ele só
participa das oficinas de artes e música. O paciente também relatou baixo o seu
ponto de vista, a realidade e a seriedade de cada um dos outros pacientes que
7
O terceiro paciente P foi claro em dizer que o CAPS fazia a diferença em sua vida,
que diminuiu a fluência do uso do crack, mas que ainda fazia uso “de vez em
quando”, mas que estava frequentando mais pela alimentação e disponibilidade de
se higienizar, pois o mesmo e sua mulher estavam vivendo em uma casa
abandonada e não tinham acesso a água e energia elétrica.
Ressalto aqui que um dos critérios para poder ter acesso a banho, alimentação
dentre outras coisas oferecidas pela instituição, era participar corretamente das
oficinas, contribuir nas funções designadas pela psicoterapeuta e segundo a
psicóloga do CAPS, ele não tem a intenção de se livrar das drogas. O mesmo
realizou rapidamente um exercício de pintura livre, se alimentou, tomou banho e foi
embora logo em seguida, sem abrir muito sobre sua vida pessoal, nos relatou que
sua mulher estava na oficina ao lado, que a mesma estava gestando e que ainda
fazia uso do crack, após investigação sobre sua fala, compreendi que era apenas
8
uma suspeita de gestação, mas que a mesma teria sofrido um aborto há meses
atrás.
Foi nos dada a abertura de realizar dinâmicas de grupo proporcionada por nós
estagiários, onde realizamos oficinas de desenho livre, leitura de poemas para que
os mesmos se expressassem condizentes com o que sentiram e compreenderam
sobre o que estavam ouvindo, também realizamos uma atividade de colagem, onde
cada um pode representar em figuras aquilo que condiziam com o que se
identificavam e também aquilo que não se identificavam. Dentro de uma destas
atividades, uma paciente se mostrou aflita e chorando, onde eu pessoalmente pude
executar um atendimento de plantão para que a mesma pudesse se recompor e
seguir novamente com suas atividades. A partir desta observação pude constatar a
importância de não permitir haver uma contratransferência estagiário e paciente para
assim continuar a função de maneira neutra e poder auxiliar o paciente de maneira
profissional e satisfatória, exercendo corretamente o meu papel terapêutico, pude
então aí perceber a importância de eu mesma como profissional, estar em contato
comigo mesma, perseverar no meu autoconhecimento juntamente com a minha
psicoterapeuta, perceber e estar consciente dos meus próprios traumas e questões,
contribuiu de maneira incalculável em meu progresso como futura psicóloga.
Realizei também duas visitas domiciliares e pude observar três dinâmicas bem
diferentes, o que ampliou consideravelmente minha visão sobre o uso de drogas.
A primeira visita foi realizada a uma paciente diagnosticada com um grau elevado de
transtorno bipolar, a mesma se automutilava, várias tentativas de suicídio, mãe de
quatro filhos, dos quais três estavam sob tutela de familiares e o menor de cinco
anos estava com ela, a criança não apresentava em nada a sua idade, pois a
mesma ainda não sabia falar, suas funções cognitivas eram bastante precárias, sem
uma interação social condizente com a sua idade, nos foi relatado que a mãe fazia
uso do crack, álcool e remédios em sua gestação.
quatro filhos, seu atual marido e sua mãe estão empenhados também em seu
tratamento, o que facilita bastante seu progresso.
O paciente A, foi um homem jovem de vinte e quatro anos de idade, que esteve
internado por alguns meses em uma instituição, mas segundo os profissionais
responsáveis, o paciente pela sua rápida recuperação e desempenho correto de
suas funções ele foi dado de alta prematuramente e recaiu no uso uma semana
após sua saída da comunidade terapêutica. Em observação durante as visitas,
percebi uma simbiose profunda entre mãe e filho, pelo fato de que conviviam ainda
na mesma casa, uma casa confortável, o mesmo não tinha atividade laboral, não
estudava e segundo sua mãe ele estava em uso e já não dormia durante as noites.
Sua mãe havia acabado de lhe dar uma moto de presente, dentre todo o conforto
que o mesmo solicitava, também nos relatou sua agressividade, a qual também
pudemos constatar, pois ao chegarmos em sua casa os dois estavam em fortes
discussão. A assistente social Z a qual estávamos acompanhando, nos relatou que
era um caso onde a mãe estava tão necessitada de apoio quanto ao filho e que a
progenitora frequentava o grupo psicoterapêutico para familiares no CAPS de
maneira assídua e com seriedade, Z também nos disse da importância neste caso
dela estar frequentando estes grupos e estar empenhada em não somente tratar o
filho, mas também de se autoconhecer e adquirir ferramentas para poder lidar com
toda sua situação e assim apoiar o seu filho.
pela sua mãe de maneira solo e observei então como a falta de possibilidades para
pessoas propensas em ”herdar” transtornos, principalmente do lado materno, ele
não teve saídas e ou opções e através da coleta de informações familiares deste
paciente, isto provavelmente isto vem sendo perpetuado durante gerações, o que
segundo as supervisões do estágio, estas perpetuações podem ser aliviadas e até
prevenidas, através do cuidado e atenção de órgãos como o CAPS e também dos
profissionais da ciência da psicologia, médicos e outras instituições.
também a forma como ele socializa com o outro, assim, o sujeito pode adentrar na
compreensão de si mesmo e se permitir conhecer seu próprio sofrimento, facilitando
e contribuindo para uma nova perspectiva em seu tratamento (AZEVEDO,2011).
O facilitador do grupo, deve expor claramente que as mudanças que podem vir a
acontecer, devem partir inicialmente de si mesmos, seu livre-arbítrio é respeitado e o
indivíduo deve então estar presente naquele ambiente por livre e espontânea
escolha, mesmo que a família indique o tratamento é sempre necessário que o
sujeito tenha e demonstre seu propósito. Desta forma, há a convicção da
importância dos grupos terapêuticos na vida destes usuários e também de seus
familiares, pois é uma atividade que tem como objetivo principal a reintegração dos
mesmos na sociedade, pois a partir da socialização com a sociedade, o tratamento
se torna mais fácil e assim estes sujeitos podem ter uma vida digna além de seu
diagnóstico.
Assim, em cada uma das oficinas propostas, sempre foi exercida a escuta do que os
usuários traziam e a discussão sobre as atividades realizadas, caracterizando uma
metodologia participativa, que permitiu com que todos os que estavam presentes
vivenciassem as atividades, valorizando as experiências, emoções, sentimentos de
cada um, construindo ali, um novo saber coletivo e promovendo as mudanças
necessárias para a evolução de cada um. (Serrão & Baleeiro, 1999, p. 48).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como possibilidade para explicar essas dificuldades, deve ser lembrado que a
graduação tem que abranger atuações prováveis dos psicólogos, devendo adequar
os conhecimentos adquiridos às particularidades dos serviços, utilizando de sua
capacidade criativa e reconhecendo as particularidades de fatores regionais e
culturais de cada espaço, uma vez que interferem para a proposta das atividades
nos CAPS ad. Santos e Duarte (2009) reforçam essa ideia ao pontuarem que o
psicólogo atua com as demandas que cada caso requer, dependendo da
necessidade percebida.
Além disso, Dimenstein (2001) enfatiza que a prática dos profissionais psicólogos
deve ser mais questionada dentro da própria categoria profissional para a sua
adequação e efetividade social. A mesma autora aponta também para a
necessidade de os psicólogos incorporarem uma nova concepção de sua prática
13
Outra importante observação, foi que para as visitas nos era disponibilizado um
carro da prefeitura com horário rígido de inicio e término, o que baixo meu ponto de
vista condicionava as visitas a serem superficiais e sem um direcionamento
apropriado, pois tudo era bastante cronometrado
CONCLUSÃO
No entanto compreendo também que a rede substituída dos CAPS possui ainda,
grandes limitações, não estando ainda totalmente firmada, até mesmo pela recente
consolidação do novo modelo.
É fundamental, portanto, a realização de estudos avaliativos destes serviços, com o
uso de pesquisas de campo, que poderão contribuir com o levantamento das
necessidades para proceder com a implantação de mudanças importantes de
acordo com as necessidades de cada município, também ressaltando a
precariedade na existência de materiais disponíveis para o funcionamento
adequado, não só no âmbito terapêutico, mas também no âmbito ambulatorial,
clínico e profissional, assim, se demonstra uma problemática de literatura que deve
ser incansavelmente mais exploradas por nós estudantes e profissionais da área da
Psicologia. Desta mesma forma que acontece com a literatura referente aos CAPS
ad, eu não pude encontrar muito material publicado a respeito da atuação dos
psicólogos nestes serviços, não significando jamais que os psicólogos não estejam
realizando atividades importantes, mas representa de maneira ativa a necessidade
de estudos na área, viabilizando assim um maior conhecimentos sobre as
intervenções já realizadas, já que podemos pensar que muitos profissionais
preferem realizar suas atividades, sem registrá-las e publicá-las.
Estar em um contato direto com profissionais psicólogos atuantes nesses serviços
seria uma abordagem bastante viável para investigações complementares. Já
olhando por um viés histórico é recomendável que o estimulo aos registros
sistemáticos que se referem às experiencias e práticas dos profissionais em saúde
mental, independente dos CAPS, para que assim não se percam valiosas
informações ao longo dos anos, assim se percebe um aspecto simultâneo como
uma lacuna e uma possibilidade para o desenvolvimento de futuros estudos, pois
onde há uma lacuna, sempre haverá uma possibilidade.
É de extrema importância ressaltar que o ser humano necessita e deve se expressar
de maneira livre e integrar-se socialmente, pois a expressão dos sentimentos e
problemas cotidianos como possibilitam os CAPS, são uma forma direta de
promover a reabilitação psicossocial dos sujeitos em sofrimento.
A intervenção foi satisfatória, alcançou o objetivo proposto e todo o processo do
estágio proporcionou aos estagiários uma vivência teórico-prática do trabalho do
profissional psicólogo(a) no campo da saúde mental.
16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS