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Núcleo de Estudo e Atendimento Psicológico - NEAP

CAMPUS LIBERDADE

Curso: Psicologia 2º sem. 2020


Estágio Supervisionado: Prática Supervisionada em Atendimento Coletivo
Estagiário (a): Emillin Caldeira Peverari
Estagiário (a): Luana Silva Siqueira
Supervisor(a): Profº M.e. Valter Ferreira Perea
Data do Atendimento: 24/09/2020 Sala: 318 Dia Semana: Quinta-
feira Hora: 19h30

SESSÃO 1
I – Relato da Sessão:

As estagiárias terapeutas se direcionaram até a recepção do NEAP para buscar o TCLE dos
pacientes. Foram informadas que alguns deles já estavam aguardando para atendimento, as
mesmas foram até eles para verificar quem havia chego, e apenas 02 integrantes estavam
presentes, então foi solicitado a eles que aguardassem mais 10 minutos até que os demais
também chegassem. Passando-se os 10 minutos, as estagiárias retornaram ao local para
dar, mesmo que o restante dos pacientes não houvesse comparecido. Com isso, se
deslocaram para sala de atendimento.
Já acomodados no local, as estagiárias terapeutas Luana e Emillin se apresentaram (ao
longo do relatório a identificaremos Luana como T1 e Emillin como T2). T1 iniciou o rapport
e prosseguiu para o enquadre, informando os pacientes sobre horários de atendimento,
frequência de atendimentos que serão realizados quinzenalmente, além das faltas, atrasos e
o sigilo. Também foi explicado que haveria um revezamento entre as estagiárias terapeutas
sobre condução dos atendimentos.
T1: Gostaria que vocês pensassem nesse local como um espaço de escuta e acolhimento
seguro para que vocês possam se abrir e colocar suas questões… pensando nisso, vou
pedir que vocês se apresentem, digam seus nomes, idade, profissão e como conheceram e
por quê buscaram o serviço do NEAP.
Paciente K.: Meu nome é K., tenho 43 anos, trabalho com cartografia e sou estudante do
nono semestre do curso de engenharia ambiental. Eu estava algum tempo buscando um

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serviço de atendimento psicológico, e vi que a Universidade oferecia estes atendimentos, e


por ser perto da minha casa e no início do ano decidi fazer minha inscrição, pois percebi que
eu já não estava dando conta sozinha.
Paciente R.: Me chamo R., tenho 59 anos, sou professor de Educação Artística da
prefeitura. Conheci o serviço através da internet e decidi me inscrever… na verdade, eu me
enganei. A Universidade procurou a escola em que trabalho oferecendo os atendimentos e
dentre os 70 e tantos professores, eu fui o único que me inscrevi… Veja bem!
T1: Com relação ao trabalho, vocês gostam do que fazem? De forma, a questão da
pandemia afetou o trabalho e a rotina de vocês? E, como vocês têm se sentido?
Paciente K.: Eu gosto do que faço, mas a gestão da minha empresa não colabora e
pandemia não me afetou… Eu vejo as pessoas reclamando, mas eu dei graças a Deus pois
eu não aguentava mais pegar o transporte público, esbarrar com algumas pessoas do me
trabalho, e eu até achei melhor ficar em casa. Seria melhor se eu estivesse estabelecendo
uma rotina, porque se você olhar para minha casa está uma bagunça, não tenho vontade
fazer nada e o meu sono é totalmente desregulado, inclusive tenho pensado em procurar
um médico psiquiatra para me ajudar com essa questão… Porque ultimamente quando
deito, minha cabeça insiste em lembrar de coisas que aconteceram no passado, e quando
pego no sono já são 04 horas da manhã, e todo meu dia já fica bagunçado, demoro para
iniciar meu trabalho, me incomodo porque eu sei que poderia ser mais produtiva, daí fico
irritada.
T1: E para o senhor R.? Pois você enquanto professor imagino que as coisas não devem
estar sendo fáceis.
Paciente R.: Pelo contrário não mudou nada, bom na verdade mudou... porque agora está
tudo remotamente e eu gosto de estar perto dos alunos. O difícil é adesão deles, pois eu
preparo as atividades e de 30 alunos, somente 3 acompanham. Tenho que parabenizar a
prefeitura por ter se reinventado, e ter se adaptado tão rápido e buscado uma plataforma
eficaz.
T1: Me chama atenção K. que quando você relata sobre seu sono, sobre seu trabalho e
sobre sua rotina, você sempre fala “agora é assim”, como se antes fosse de outra forma,
parece que você virou uma chavinha. O que mudou para que isso acontecesse?
Paciente K.: Eu sempre gostei do meu trabalho e do que faço, antes a empresa era
pequena, e aumentou o número de pessoas, mas a demanda de trabalho também, então
continuamos sobrecarregados, e fazendo o trabalho de 02 pessoas. As pessoas me irritam
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pela falta de educação e pela falta de compromisso, por exemplo no meu trabalho tenho que
fazer o serviço dos outros, pois elas fazem um serviço de porco.
Há sete anos eu morava no Rio de Janeiro e vim para São Paulo, e entrei nesse meu atual
trabalho, e estou lá desde então. Eu sou caçula de 05 irmãos, todos eles já são casados e
têm a suas vidas, a minha mãe é viúva e eu morava com ela, mas ela sempre foi uma
pessoa difícil e já tentou morar com todos os filhos e nunca deu certo… - paciente faz uma
pausa e chora - Eu percebia que todos estavam dando continuidade em suas vidas, mas eu
continuava ali, então decidir mudar e criar uma distância geográfica para que eu pudesse
cuidar da minha vida, e com essa decisão eu sabia que viria para cá sozinha, mas isso não
me incomodava e dependeria única e exclusivamente de mim. - A paciente pede desculpas
por ter chorado e por ter tomado tempo do outro participante.
T1: Vocês têm algum relacionamento afetivo, tem filhos?
Paciente R.: Eu tenho 03 filhos, um deles tem 38 anos e mora na Suíça, junto com minha ex.
Os outros 02 são do meu relacionamento anterior, em que fui casado 26 anos, um tem 23
anos e inclusive ele faz Psicologia na FMU e a outra é uma mulher de 25 anos. Sempre
estive presente na vida deles e nunca faltei com nada, inclusive pago a faculdade do meu
filho. Sempre tive responsabilidade, inclusive enquanto estava casado meus amigos tiravam
sarro, mas eu dizia que era casado e era fiel, mesmo assim ela me expulsou da casa que eu
construí, e fui morar na praia, mas era desgastante pois eu fazia faculdade e trabalhava,
então tive que voltar para casa dos meus pais…, mas foi horrível! Nunca tive um bom
relacionamento com meu pai, mas não quero falar disso agora. E teve essa última aí, que
deu uns rolos, mas é isso aí e acabou. Complicado…
Paciente K. Eu tive um namorado quando morava no Rio, ficamos juntos por 12 anos, mas
era um relacionamento que não engatou, e agora tenho um atual namorado, que inclusive
também é professor, e eu sei o quanto a profissão é difícil, inclusive tenho que parabenizar
vocês. - Neste momento olhou em direção ao paciente R.
A estagiária terapeuta Emillin, pegou o cartaz que continha a seguinte frase: “Eu me dou
permissão para sentir”, com o objetivo de que os pacientes completassem a frase com seus
sentimentos. Ambos fizeram uma pausa e refletiram.
Paciente K.: Eu me permito não enlouquecer, não enlouquecer com meu chefe, com a
desorganização da minha casa, com a questão da insônia…vou ser sincera, quando eu
durmo eu tenho a sensação de que dormi numa cama de pedra e isso estraga todo o meu
dia.
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Paciente R.: Eu me dou permissão para ser atravessado por todas as sensações e sentimos
que a vida permitir sentir.
T2: Que sensações ou que sentimentos seriam esses?
Paciente R. enfático respondeu: Raiva, medo... alegria.
T1: Você nos dar um exemplo de uma situação?
Paciente R.: por exemplo, a raiva… a raiva, as vezes é por um motivo banal ou por um real
motivo.
T1: Você poderia contar uma situação em que sentiu raiva?
Paciente R.: - com uma longa pausa, responde - No trânsito.
Paciente K.: Ah verdade, a raiva! Às vezes no meu trabalho por exemplo, a mudança para o
remoto foi boa, porque em alguns momentos eu estava a ponto de explodir e socar a cara
de alguém, eu não sou uma pessoa agressiva, mas me irrita o trânsito, o metrô…
Até voltando um pouco nessa questão do se permitir, eu me permito falar não, porque em
alguns momentos até com minhas amigas eu me sinto irritada, pois me chamam para sair e
eu não tenho vontade e acabo indo, mesmo não curtindo. Eu me permito não chorar…
T2: E por que não se permitir chorar?
Paciente K: Ah minha filha… porque se eu for chorar, eu passo o dia inteiro chorando.
T1: O que vocês fazem para se divertir?
Paciente R.: Eu gosto de jogar sinuca com meus amigos… fora que que a minha vida é
prazerosa pois eu sou artista, eu tenho um trabalho paralelo, sou pintor e faço algumas
pinturas.
Paciente K.: Eu gosto de descansar, e às vezes esse meu namorado vai em casa e a gente
assisti um filme e saímos para comer.
T2: - Se direcionou para R. dizendo: Me chamou a atenção você falar de ter um trabalho
que, de certa forma te traz prazer, pois isto é um ponto muito importante na vida. Ter um
trabalho prazeroso, ou seja, fazer o que se gosta é algo motivador, nos recursos para
enfrentar aspectos da nossa vida, não se torna um fardo, ele nos gratifica.
Paciente R.: Veja bem Emillin, não é bem assim, pois eu trabalho com pintura e isso é muito
desgastante, pois me cobro o tempo todo, sou perfeccionista e quero entregar o melhor,
então não é bem dessa forma.
Paciente K.: Se direcionou para T2 e disse: É interessante o que falou, pois eu gosto do que
faço, mas eu me sinto sobrecarregada, por ter que trabalhar e estudar, e eu não quero
perder isso.
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A estagiária terapeuta Emillin apresenta o vídeo de reflexão em que ela e a Luana


preparam, baseado no livro “ A Coragem de Ser Imperfeito” que aborda questões sobre
aceitar a própria vulnerabilidade e se permitir a imperfeição, além das pressões social e
internas sobre o papel do homem e da mulher em corresponder os padrões.
Paciente R.: Este vídeo é muito interessante, traz muitas reflexões, é muito bonito o
discurso, mas minha pergunta é: Como fazer? Pois eu posso aceitar minha vulnerabilidade,
mas o que eu preciso fazer.
T2: O primeiro passo é decidir, e ter ciência das renúncias que terá que fazer, pois você
deixará coisas para trás, e terá que lidar com as consequências, mas esse é o primeiro
passo da mudança.
T1: É ter coragem de se permitir…
Paciente K.: É interessante o vídeo, e me pegou justamente nessa parte da imperfeição…
de me permitir ser flexível, não me cobrar tanto por resultados…
As estagiárias terapeutas agradecem pela disponibilidade, por terem participado e
reforçaram sobre o próximo atendimento, se despediram e encerram a sessão.

II – Impressões Pessoais:

Nós enquanto estagiárias nos sentimos mais confortáveis em dividir a


responsabilidade pela coordenação do grupo. Acreditamos que isto facilita a integração não
somente de todos os participantes, como também o trabalho de condução do manejo com
os pacientes. Visto que, houve um alinhamento de ideias e compreensão, de forma a
complementar o atendimento.
Em relação aos pacientes, percebeu-se que o sr. R. apresentou muita resistência,
dificultando a intervenção das terapeutas, no sentido de o conhecer, bem como uma melhor
compreensão de sua queixa inicial. Isso tornou-se evidente em toda sua postura ao longo do
atendimento, começando pelo fato de sentar-se distante tanto das terapeutas, como da
outra paciente, direcionado para porta de saída. Além disso, em diversos momentos
demonstrou uma certa hostilidade “implícita” a todos os participantes. Utilizou-se de
respostas muito amplas e generalistas, de forma, a evitar os questionamentos que lhe foram
feitos.
Já a sra. K. demonstrou-se muito fragilizada emocionalmente, aparentando desde a
sala de espera um humor deprimido. Sua fala carregava muita angústia e tristeza, expressa
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também através do choro e manchas vermelhas na pele - enquanto relatava questões de


ordem pessoal e familiar, seu pescoço e rosto foram tomados por uma vermelhidão -, além
dos diversos pedidos de desculpa. Nos trouxe a impressão de estar “transbordando”.
Somando essas questões pontuadas, ao fato de apresentar irritabilidade, insônia, desprazer,
o que nos remete a possíveis sintomas de distimia. Isto nos preocupa e nos faz questionar a
necessidade de direcioná-la a um atendimento individual.

__________________________
Emillin Caldeira Peverari
Estagiária-terapeuta

__________________________
Luana Silva Siqueira
Estagiária-terapeuta

__________________________
Profº M.e. Valter Ferreira Perea
Supervisor

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