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HISTÓRIA DA

REFORMA
PSIQUIÁTRICA NO
BRASIL

Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica


INÍCIO DO PROCESSO DE REFORMA PSIQUIÁTRICA

 Aumento dos leitos psiquiátricos


1941-1978

 Públicos - 21.079  22.603


 Privados - 3.034  55.670

 Início dos anos 80 chegam a quase 100 mil

 Recursos Financeiros:
 97% destinado a rede hospitalar
 3% destinado a rede ambulatorial
 Características do modelo assistencial na década de 1970:
 Pagamento de serviços que não são produzidos (pacientes
fantasmas, medicamentos não empregados)
 Serviços desnecessários (ex. dados do próprio MPAS
consideram que 200 mil internações seriam desnecessárias)
 percentual de internações desta especialidade foi elevado em
Indústria da Loucura 344% de 1973 para 1976.

Os tempos médios de permanência hospitalar em alguns casos,


chegavam a 25 anos: as pessoas entravam em num hospital
psiquiátrico sem a certeza de um dia poder sair
INÍCIO DO PROCESSO DE REFORMA PSIQUIÁTRICA
 O contexto da redemocratização
 O final da ditadura no final dos anos 80
 As lutas sociais

 1978  Denuncias de maus tratos, violência e torturas de pacientes


 Profissionais deflagram greve  demissão de 260 estagiários e
profissionais

 Início do Processo de Reforma Psiquiátrica  Movimento dos


Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM)

propostas de transformação da assistência psiquiátrica (ainda voltado para


uma mudança técnico-assistencial)
A IMAGEM DA VIOLÊNCIA NO CHÃO DE JURUJUBA
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES EM SAÚDE MENTAL
 1978 - Constituição do MTSM (1978)
- Foi aprovada na Itália a Lei 180 que propõe o fim do manicômio
enquanto aparato psiquiátrico, e sua substituição por outros meios de
cuidados e acolhimento.
Profunda transformação epistemológica e cultural quanto à questão
da loucura e da psiquiatria.

 Principais Propostas:

 1. Inversão da política nacional de saúde mental de privatizante para


estatizante

 2. Implantação de alternativas extra-hospitalares que significassem a


inversão do modelo assistencial:
 de hospitalar  ambulatorial
 de curativo  preventivo/ promocional
MOVIMENTO DE LUTA
ANTIMANICOMIAL
 1987  II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental

 Manifesto de Bauru – Por uma Sociedade sem manicômios (rupturas)

1. De Movimento dos trabalhadores  Mov. Social


2. De Transformações técnicas  superação do manicômio (saber
médico sobre a loucura)

 Contra a mercantilização da doença


 Contra uma reforma sanitária privatizante e autoritária
 Por uma reforma sanitária democrática e popular
 Pela reforma agrária e urbana
 Pela organização livre e independente dos trabalhadores
 Pelo direito a sindicalização dos servidores publicos
 Pelo dia nacional da luta antimanicomial
MUDANÇA DE PARADIGMA NA PSIQUIATRIA
PARADIGMA DOMINANTE PARADIGMA EMERGENTE
(Manicomial) (Atenção Psicossocial)

Noção de doença (patologia) Noção de Sujeito


Existência-sofrimento e a sua relação com o
Doença Mental corpo social
“doença entre parênteses”

Reducionismo do objeto Complexidade


“processo social complexo”

Segregação, isolamento Integração, acolhimento

Institucionalização Desinstitucionalização
Manicômio Serviço Substitutivo
PRIMEIROS SERVIÇOS EXTRA-HOSPITALAR
O PARADIGMA DA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
II ENCONTRO
NACIONAL DE SERVIÇOS
SUBSTITUTIVOS
EM SAÚDE MENTAL  1987 – CAPS
“Do Manicômio aos Serviços Substitutivos:  Alternativo (evitar internação ou pós
da realidade que temos para a realidade que queremos.”
internação)
“Li ber da d e, li b erd ad e a b re a s
a sa s so b re n ó s. ..
“  Serviço diário

 1989 – NAPS
 Desmonte do Anchieta
 Substitutivo
7 , 8 e 9 / 0 9 / 2 0 0 0 - Esco la Bo sque - Be lé m - Pa rá  Serviço 24 horas
CARACTERÍSTICA DOS SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS

Serviço territorial

Complexidade de Tomada de
ações CAPS responsabilidade
NAPS

Idéia de serviço
Atendimento à crise
móvel

Integração em rede
Rede Social
Dimensões daREFORMA
DIMENSÕES DA reformaPSIQUIÁTRICA
psiquiátrica
1. Campo teórico-conceitual:
Desconstrução, reconstrução de conceitos fundantes da psiquiatria (doença mental, alienação,
isolamento, terapêutica, cura, saúde mental, normalidade, anormalidade).

2. Campo teórico-assistencial:
Construção de um rede de novos serviço. Não apenas serviços, espaços de sociabilidade, de trocas
e produção de subjetividades, substitutivos e não apenas alternativos ao modelo da terapêutica
tradicional.

3. Campo jurídico-político:
Revisão da legislação sanitária, civil e penal no que diz respeito aos conceitos de saúde mental,
psicopatia e loucos e todo o gênero, e construção de novas possibilidades de cidadania, trabalho e
ingresso social.
4. Campo sociocultural:
Transformação do imaginário social relacionado com a loucura, a doença mental, a anormalidade e
assim por diante. Conjunto de práticas sociais que constroem a solidariedade, a inclusão dos
sujeitos em desvantagem social, dos diferentes.
DIMENSÕES DA REFORMA PSIQUIÁTRICA

Dimensão
Sócio-Cultural
Dimensão
Jurídico-Política
Dimensão
Técnico-Assistencial
Dimensão
Teórico-Conceitual

Amarante (1999, 2001)


REFORMA PSIQUIÁTRICA

 A reforma psiquiátrica não diz respeito, exclusivamente, à


medidas de caráter tecno-científico ou organizacional. É um
processo permanente de construção de reflexões e
transformações que ocorrem a um só tempo, nos campos
assistencial, cultural e conceitual

 Objetivo da RP  poder transformar as relações que a


sociedade, os sujeitos e as instituições estabeleceram com a
loucura, conduzindo essas relações a superação do estigma,
da segregação, da desqualificação dos sujeitos ou, ainda, no
sentido de estabelecer com a loucura uma relação de
coexistência, de troca, de solidariedade, de positividade e de
cuidados.
(AMARANTE, 1997, pag.165)
DIMENSÃO JURÍDICO-POLÍTICA

 Projeto de Lei da Reforma Psiquiátrica - PL 3.657 de 1989


 Dispõe sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros
recursos assistenciais e regulamenta a internação psiquiátrica compulsória
De forma inédita e muito peculiar, o tema da loucura, da doença
mental, da assistência psiquiátrica e dos manicômios, invadiu boa
parte do interesse nacional.

 Lei da Reforma Psiquiátrica no RN – Lei 6.758 de 1995


 Dispõe sobre a adequação dos hospitais psiquiátricos, leitos psiquiátricos em hospitais
gerais, construção de unidades psiquiátricas e dá outras providências
Paulo Delgado
PT-MG

 Lei da Reforma Psiquiátrica – Lei 10.216 de 2001


 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental
Hospitais Psiquiátricos

1981 – 430 (357 privados/filantrópicos e 73 públicos)


1991 – 313 (259 privados/filantrópicos e 54
públicos)
1996 – 269 (219 privados/filantrópicos e 50 públicos)

De1991 para 1996 foram fechados 17575 leitos psiquiátricos manicomiais


 Inscrições de frases, trechos de músicas, poesias ou ditados populares,
passaram a incitar o imaginário popular nas questões relativas ao tema
antimanicomial.

 “Loucos pela vida” (em que se procurava despertar a idéia de loucura como
possuidora de positividade também, e não apenas de negatividade)

 “de perto ninguém é normal”, “sou louco por ti cidadania” (ambas de músicas
de Caetano Veloso)

 “eu vou ficar, com certeza, maluco beleza” (Raul Seixas, “razão demais é
loucura”

 “de militonto a militante” (Cervantes)


Projeto Tam-Tam

 Trabalhando com usuários em atividades de produção de vídeo (TV Tam-


Tam), de programas de rádio (Rádio Tam-Tam), das próprias camisetas,
enfim, de um teclado de atividades culturais, conseguiu chamar a atenção
para uma outra forma - que não aquela tradicional da violência e da
estigmatização -, para a condição das pessoas portadoras de algum
sofrimento psíquico ou em desvantagem social.
Manicômio é sinônimo de um certo olhar, de um certo conceito, de
um certo gesto que classifica desclassificando, que inclui excluindo,
que nomeia desmerecendo, que vê sem olhar.

deste
s tó ria
, a hi
t a n te u i tas
d is d e m
u i t o v i d a ti no
ã o m d e , a mo de s
n r i a m io
t e mpo a histó a n icô ção co muitas
n um o m o o m i n a de
e , ta c n d c ri m i a s
e r o qu e s cri tã o te a dis h i s tór
“Esp sso seja não es tigma e muitas
r o ce u e já , o es c o m
p a s q ç ão escrit a
e s s o a l i z a j a id a s.”
p
tu c i on u e se u a s v
insti tável. Q para s
u s
irref s estória
nova
Um pássaro na gaiola na
primavera sabe muito
bem que existe algo em
que ele pode ser bom,
sente muito bem que há
algo a fazer, mas não
pode fazê-lo. O que será?
Ele não se lembra muito
bem. Tem então vagas
lembranças e diz para si
mesmo: “os outros fazem
seus ninhos, tem seus
filhotes e criam a ninhad
a”. E então bate com a
cabeça na grade da
gaiola. E a gaiola
continua ali e o pássaro
fica louco de dor.
Van Gogh, 1880
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 AMARANTE, P. Loucura, Cultura e Subjetividade: conceitos e estratégias,


percursos e atores da Reforma Psiquiátrica Brasileira. In: Sonia Fleury
(Org) Saúde e Democracia: a luta do CEBES. Lemos Editorial, São Paulo,
1997 –

 AMARANTE, P. Manicômio e Loucura no Final do Século e do Milênio. In:


Maria Inês Assunção Fernandes et al (Org) Fim de Século: ainda
manicômios? Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 1999 -

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