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Universidade Federal Da Bahia

Instituto de Saúde Coletiva


Disciplina Epidemiologia

Vigilância
Epidemiológica

Profª: Yukari Mise


Novembro/ 2011
Salvador- BA
Abril de 2011
Epidemia:
Elevação brusca, temporária e significantemente acima do
esperado para a incidência de uma determinada doença.
– Uma epidemia não representa necessariamente a
ocorrência de um grande número de casos da doença em uma
determinada população, mas sim um claro excesso de casos
quando comparada à frequência esperada (ou habitual) de
uma doença em um determinado espaço geográfico e período
de tempo.
– Doenças erradicadas ou inexistentes  o coeficiente de
incidência que fixa o limiar epidêmico é igual a zero. Nesta
situação, apenas um caso poderá ser considerado uma
ocorrência epidêmica.
Como surgiu a epidemiologia?

• Desde os primórdios do pensamento ocidental na


Grécia Antiga;
• As duas filhas do deus Asclépios:
Panacéia e Higéia
Padroeira da medicina curativa, Apregoava a saúde como
realizada por meio de resultante da harmonia dos
manobras, encantamentos, homens e dos ambientes, por
preces e uso de pharmakon ações preventivas e coletivas
•Introdução

Epidemiologia
•“Estuda o processo saúde-doença em coletividades
humanas, analisando a distribuição dos fatores de risco e
determinantes das doenças, agravos e eventos em saúde
coletiva, propondo medidas de prevenção, controle ou
erradicação, e fornecendo informações que sirvam de
suporte ao planejamento, administração e avaliação das
ações de saúde”
(Rouquayrol, 1994)
•Introdução

Epidemiologia
•Enquanto a clínica aborda a doença em “nível individual”, a
epidemiologia aborda o processo saúde-doença em “grupos de
pessoas” que podem variar de pequenos grupos até populações
inteiras.

•Lilienfeld, 1980
•Distribuição

• Frequência
– Quantificação por meio de medidas

• Padrão
– Tempo Quando?
– Lugar Onde?
– Pessoa Quem?
OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA
1. Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de
saúde nas populações humanas.

• Onde ocorrem os problemas?

• Que pessoas são atingidas?

• Quando ocorrem os problemas?


2. Identificar fatores etiológicos na gênese das
enfermidades.

• O que causa esse problema?

• Existe medida de controle?


3- Proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução
e avaliação das ações de prevenção, controle e tratamento das
doenças, bem como estabelecer prioridades.

• Quais características existem nesse local que favorecem o


aparecimento desse problema?

• Essas características são passíveis de intervenção?

• Que tipo de intervenção?


•PRINCÍPIOS BÁSICOS DA
EPIDEMIOLOGIA:
•Os agravos à saúde não ocorrem ao acaso na população;

• A distribuição desigual dos agravos à saúde é produto da ação


de fatores que se distribuem desigualmente na população;
• O conhecimento dos fatores determinantes das doenças permite
a aplicação de medidas preventivas e curativas direcionados a
alvos específicos.
•Fatores Determinantes
•Aqueles que causam ou possibilitam a ocorrência de
doenças;
•Fatores associados às doenças e agravos
PRINCIPAIS USOS DA
EPIDEMIOLOGIA
- Análise da situação de
saúde

- Avaliação de
programas, serviços ou
tecnologias

- Planejamento e
Introdução
• Epidemias e impacto nas
sociedades: antigas – Praga de
Atenas 430-427 a. C

• VE até Idade Média: adoção de


medidas de isolamento de
enfermos (leprosos e peste)

1ª notificação
Impedir a peste
obrigatória e
na Europa
vigilância a doentes
Introdução

Epidemias na Europa:
final Idade Média

Governos

Normas sobre
Monitoramento cemitérios e
de doenças mercados: áreas
transmissíveis de alto risco
Introdução

Brasil Mais antiga: século


XVII

Medidas para
controle da
epidemia Febre
Amarela

Porto de Recife
Introdução

Coroa Portuguesa em 1808:


instituição de uma política sanitária

Quarentena, isolamento

1889: promulgada 1ª Regulamentação


dos Serviços de Saúde dos Portos

Prevenir chegada de epidemias e manter


intercâmbio seguro de mercadorias
Introdução

1903:Oswaldo Cruz

Assumiu Direção Geral de Saúde Pública (DGSP) -


Ministério da Justiça e Negócios Interiores

- Mudanças profundas:
reorganização dos serviços de
higiene

- Coordenar as ações de prevenção e controle das


doenças transmissíveis;
- Cria o programa vertical: Serviço de Profilaxia
da Febre Amarela
- Institui a obrigatoriedade de vacina antivariólica
Introdução
Maior parte do século XX no Brasil:

Programas de prevenção e controle das


principais doenças: malária, febre amarela,
tuberculose e peste

-Até 1941: prevaleciam


as campanhas
Introdução
1968: criação do Centro de Investigações
Epidemiológicas (CIE)

- Aplica teorias e práticas da moderna Vigilância no


programa de erradicação da varíola;

- Instituiu 1º sistema nacional de notificação regular


para grupo de doenças;
Introdução
1975: V Conferência Nacional de Saúde (CNS)

- Propôs criação de um Sistema Nacional de


Vigilância Epidemiológica (SNVE)
- Entra em vigor com a Lei 6.259

- Baseado no MS e SES
(município não gestor)
- Perfil epidemiológico: atuava
sobre doenças transmissíveis

- Vigilância de
fatores de risco para
DCNT: só a partir de
1990 com o SUS
Conceito de Vigilância

Langmuir (1963)

Vigilância: detecção, análise e disseminação de


informação sobre doenças relevantes, que
deveriam ser objeto de monitoramento
contínuo.

Termo Vigilância:
Usado pela 1ª vez, em 1955, na
denominação do Programa Nacional
de Vigilância da Poliomielite, criado
para coletar, consolidar e disseminar
informação epidemiológica
Conceito de Vigilância

Langmuir (1963)

“Vigilância pode ser definida como observação


contínua da distribuição e tendências da incidência
de doenças mediante a coleta sistemática,
consolidação e avaliação de informes de morbidade
e mortalidade, assim como de outros dados
relevantes e a regular disseminação dessas
informações a todos que necessitam conhecê-la.”
Conceito de Vigilância

Vigilância: características essenciais:

“Observação contínua” e da “coleta


sistemática” de dados sobre doenças: presente
em todos os conceitos

Langmuir: não apropriado utilizar


“Epidemiológica” (confundir com Epidemiologia)
Conceito de Vigilância

1955: médico K Raska utilizou


“Vigilância Epidemiológica” pela primeira vez

Vigilância epidemiológica: “estudo epidemiológico de


uma enfermidade, considerada como um processo
dinâmico que abrange a ecologia dos agentes
infecciosos, o hospedeiro, os reservatórios e vetores,
assim como os complexos mecanismos que intervêm na
propagação da infecção e a extensão com que essa
disseminação ocorre”
Conceito de Vigilância

Langmuir vs Raska

O conceito de RASkA é menos preciso que o de


LANGMUIR, mas a denominação que ele
utilizou, vigilância epidemiológica, ganhou
legitimidade internacional ao ser empregada
pela OMS, em 1966.
Conceito de Vigilância

Características da atividade de vigilância

(1) caráter de atividade contínua, permanente e sistemática, o


que a diferencia de estudos e levantamentos ocasionais;

(2) Foco para resultados específicos, procurando estabelecer


objetivos e metas;

(3) utilização de dados diretamente relacionados com


práticas de saúde pública, particularmente morbidade e
mortalidade;

(4) sentido utilitário e pragmático, que visa estabelecer


controle de doenças e não apenas ampliar o
Conceito de Vigilância

FOCO da atividade de vigilância

- Doenças transmissíveis;

- Só muito recentemente desenvolveram-se metodologias e


técnicas adequadas para novos objetos, como a vigilância das
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT);

- Nesse caso, o objetivo da vigilância não é monitorar o


comportamento de sua prevalência e de seus fatores de risco
para propiciar a adoção de medidas de PROMOÇÃO À
SAÚDE
SAÚDE PÚBLICA
As últimas décadas foram marcadas por intensas
transformações no sistema de saúde brasileiro,
intimamente relacionadas com as mudanças ocorridas
no âmbito político-institucional. No início da década
de 1980, procurou-se consolidar às proposições de
Alma-Ata, que preconizava: Saúde para todos no ano
2000
1 Implantação do SUS urgente
2. Saúde é um direito da
população e um dever do
Estado
3. Saúde e educação para a
população
4. Reforma sanitária
SAÚDE PÚBLICA

UNIFICAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES


DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

 Implementação do Sistema Unificado e

Descentralizado de Saúde (SUDS) com

posterior a descentralização total com o

desafio do Sistema Único de Saúde (SUS).


SAÚDE PÚBLICA
REFORMA SANITÁRIA
Ocorre com a VIII Conferência Nacional de Saúde
em Brasília em 1986, culminando com a
Constituição Brasileira em 1988.
Saúde no Brasil

Saúde: é um direito social e um dever do estado inscrito


na CF/88, Sistema Único de Saúde(SUS) como meio
de concretizar esse direito.

Lei nº 8080/90(LOS): Regulamenta a estrutura e


funcionamento do SUS;

Lei n° 8142/90: Participação da Comunidade na gestão


do SUS,
E transferência de Recursos Financeiros;
Representantes do (Governo, Prest. de Serviço,
Profissionais de Saúde e Usuários)
Diretrizes Gerais CF/88

Art.196 - “ A saúde é direito de todos e dever do


Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
Sistema Único de Saúde (SUS)

Único por quê?


 Porque segue a mesma doutrina e os mesmos
princípios organizativos em todo o território
nacional, sob a responsabilidade das 3 esferas
de governo: federal, estadual e municipal.

 Referem-se as atividades de promoção,


prevenção, tratamento e recuperação da
saúde.
Sistema Único de Saúde (SUS)

PRINCÍPIOS
DOUTRINÁRIOS(ideológicos)
 Universalidade –Acesso aos serviços de saúde em
todos os níveis de assistência.

 Equidade – Todo cidadão será atendido conforme suas


necessidades, respeitando as diferenças

 Igualdade -Assistência a Saúde sem preconceitos ou


privilégios de qualquer espécie, independente de cor,
raça, religião
Sistema Único de Saúde (SUS)
PRINCÍPIOS
DOUTRINÁRIOS(ideológicos)
 Integralidade – os serviços de saúde devem funcionar
como um conjunto articulado e contínuo das ações e
serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de
complexidade do sistema.
 Participação Social (Lei 8142/90)(participação nos CS 50%
usuários e 50% gestores, trabalhadores, prestadores)

 Resolutividade – o serviço correspondente deve estar


capacitado para enfrentar e resolver os problemas até o
nível de sua complexidade.
Sistema Único de Saúde (SUS)
PRINCÍPIOS ORGANIZACIONAIS
 Municipalização- a execução das ações e de
competência dos municípios.

 Descentralização – é entendida como uma


redistribuição das responsabilidades das ações e
serviços de saúde entre os vários níveis de governo,
a partir da ideia de quanto mais perto do fato a
decisão for tomada, mais chance haverá de acerto.
Poder de decisão em cada esfera do governo.
Sistema Único de Saúde (SUS)
PRINCÍPIOS ORGANIZACIONAIS
REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO
• Estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de
busca de maior equidade.
• Conhecimento maior dos problemas de saúde da
população de uma área delimitada, favorecendo ações de
vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores,
educação em saúde, além das ações de atenção
ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de
complexidade.

• OBJETIVO – Garantir o acesso a todas as ações e serviços


de saúde com otimização dos recursos disponíveis
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Sistema Único de Saúde (SUS)
Ações

Educativas Normativas Fiscalizadoras

Quando o poder
Informação, A razão do “Poder
público cria uma
Educação e de Polícia” é
norma sanitária e
Comunicação em exercido sobre
fiscaliza a sua
saúde: implicam todas as atividades
aplicação, está
em mudanças e e bens que afetem
fazendo Vigilância, a
incorporação de ou possam afetar a
fim de promover e
novos hábitos de saúde da
proteger a saúde da
vida. comunidade.
população.
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Em última instância, são realizadas ações de caráter punitivo.
Conceito de Vigilância

No Brasil:

Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, a partir de


meados dos anos 1990, passaram a utilizar a denominação
vigilância à saúde ou vigilância da saúde: para designar a
unificação administrativa entre a área de vigilância
epidemiológica e as atividades a ela relacionadas, com a área
de vigilância sanitária e de saúde do trabalhador.
Conceito de Vigilância

Em 2003: MS

- Reorganizou a área de epidemiologia e controle de


doenças, com a extinção do Centro Nacional de
Epidemiologia (CENEPI);

- Criação da Secretaria de Vigilância em Saúde:


passou a reunir todas as atribuições do CENEPI e
dos programas que integraram a extinta Secretaria
de Políticas de Saúde.
Conceito de Vigilância

Alteração da denominação:

- Importante mudança institucional: reunir todas as


ações de vigilância, prevenção e controle de doenças
numa mesma estrutura, e consolidar o processo de
ampliação do objeto da vigilância;

- Objetivo : buscar responder melhor aos desafios


colocados pelo perfil epidemiológico complexo que se
apresenta na atualidade.
Conceito de Vigilância
Alteração da denominação:

- A adoção do conceito de vigilância em saúde procurou


simbolizar uma abordagem mais ampla ,incluindo:

a)vigilância das doenças transmissíveis;


b)vigilância das doenças e agravos não transmissíveis e seus
fatores de risco;
c)vigilância ambiental em saúde;
d)vigilância da situação de saúde ou análise de situação de
saúde.
Vigilância Epidemiológica: Propósitos e
Funções

-Vigilância epidemiológica :

Deve fornecer ORIENTAÇÃO TÉCNICA para os


profissionais de saúde que têm a responsabilidade
de decidir sobre a EXECUÇÃO DE AÇÕES DE
CONTROLE DE DOENÇAS E AGRAVOS,
tornando disponíveis, informações atualizadas
sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem
como dos fatores que a condicionam, numa área
geográfica ou população definida.
Vigilância Epidemiológica: Propósitos e
Funções

-Vigilância epidemiológica :

Constitui-se importante instrumento para o


planejamento, organização e
operacionalização
dos serviços de saúde.
Vigilância Epidemiológica: Propósitos e
Funções
A operacionalização da vigilância epidemiológica
compreende:

Ciclo de funções específicas e intercomplementares,


desenvolvidas de modo contínuo, permitindo conhecer o
comportamento da doença ou agravo alvo das ações, para
que as medidas de intervenção possam ser desencadeadas
com eficácia.
Vigilância Epidemiológica: Propósitos e
Funções
São funções da vigilância epidemiológica:

• Coleta de dados;
• Processamento dos dados coletados;
• Análise e interpretação dos dados processados;
• Recomendação das medidas de controle;
• Promoção das ações de controle indicadas;
• Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;
• Divulgação de informações pertinentes.
Referências
Brasil. Conselho Nacional de Secretários de
Saúde. Vigilância em Saúde / Conselho
Nacional de Secretários de Saúde. – Brasília:
CONASS, 2007. 278 p.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de


Vigilância em Saúde. Guia de vigilância
epidemiológica / Ministério da Saúde,
Secretaria de Vigilância em Saúde. – 6. ed. –
Brasília :Ministério da Saúde, 2005. 816 p.
O impossível apenas
demora um pouco mais.

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