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Sumário
UNIDADE 01 ......................................................................................................................3
Conhecendo os conceitos de Medicina Preventiva, Medicina Social e Saúde Coletiva ...3
Ações de saúde pública e saúde coletiva presentes no Brasil na atualidade ...................4
Eixos da Saúde Coletiva .....................................................................................................4
Definição de epidemiologia .................................................................................................6
Epidemiologia e indicadores de saúde ...............................................................................7
Epidemiologia e sistemas de informação ...........................................................................9
Doenças de notificação obrigatória ..................................................................................10
Vigilância epidemiológica .................................................................................................12
UNIDADE 02 ....................................................................................................................14
Programa Nacional de Imunização...................................................................................14
Redes de Atenção a Saúde e a Atenção Básica .............................................................15
Saúde da família ...............................................................................................................16
Doenças Crônicas Não Transmissíveis ............................................................................18
Território na Atenção Básica ............................................................................................20
Vigilância na Atenção Básica ...........................................................................................20
Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Saúde do Idoso ............................................21
Redes de Atenção à Saúde ..............................................................................................23
Referências Bibliográficas ........................................................................................26

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UNIDADE 01

Conhecendo os conceitos de Medicina Preventiva, Medicina Social e Saúde Coletiva

Antes de adentrar no assunto diretamente, vale a pena contextualizar como


chegamos ao preventivismo e à medicina social no Brasil. No cenário da saúde no âmbito
nacional, especialmente no final do século XIX e início do século XX (período colonial), as
ações em saúde eram bastante restritas e. Mediante a exportação de matéria-prima, houve
a necessidade de controle sanitário dos portos para preservação do ambiente, e nota-se
que essa prática tinha por objetivo o controle de insetos e do ambiente no geral. A
assistência à população pobre tem um grande apoio da filantropia, enquanto a corte,
abastada, pagava por médicos e remédios. Dessa maneira, o processo saúde-doença era
visto apenas com a presença de alguma enfermidade, ou seja, quando se manifestava
algum sintoma clínico.

Pensamento social na saúde: ressonâncias do processo saúde-doença

Quando perguntamos a alguém sobre saúde, geralmente ouvimos como resposta


“está tudo bem, não precisei tomar medicamentos nos últimos tempos” ou ainda “está tudo
bem, não tenho ficado doente nos últimos meses, nem precisei ir ao médico”. Caso
contrário, sabemos que a resposta seria outra: a pessoa não estava gozando de boa saúde.

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Situações diversas podem nos trazer indisposição, alegria ou ansiedade. Por vezes
nosso corpo não apresenta sintoma fisiopatológico algum, mas os atravessamentos da vida
são tão complexos que desanimamos e desestabilizamos. Em outros momentos, estamos
alegres e dispostos a cuidar da saúde e da vida. E o que queremos dizer com isso? Que
algumas causas são identificáveis e outras não. Com isso, ainda podem ocorrer agravos à
saúde que não são identificados e sequer percebidos. Quando analisamos a expressão
“está tudo bem, não precisei tomar medicamentos nos últimos tempos”, observamos que a
compreensão de saúde se limita à presença ou não de processos fisiopatológicos. Não se
consideram outras causas, como preocupação com filhos, desemprego, fome, pobreza e
condições de moradia, por exemplo.

Ações de saúde pública e saúde coletiva presentes no Brasil na atualidade

O SUS, como o sistema de saúde vigente no país, passou e ainda passa por uma
série de mudanças (seja no financiamento ou nas propostas dos programas de assistência),
e não cabe discorrer detalhadamente a respeito de cada uma delas nesta Leitura Digital.
Entretanto, a organização do SUS em uma rede de serviços que vai desde as unidades
básicas de saúde, os ambulatórios de especialidades e os hospitais de pequeno, médio e
grande porte, além de uma série de serviços, como laboratórios de fabricação de vacinas,
medicamentos, laboratórios de tecnologias, serviços de transplantes, articulados com setor
privado, compondo, desta maneira um sistema amplo e complexo. O SUS também é
espaço de formação profissional articulado com universidades em nível de graduação e
pós-graduação na oferta de serviços de diversas ordens para as comunidades, com
projetos de pesquisa e extensão mediante as diretrizes curriculares dos cursos da área de
saúde.

Eixos da Saúde Coletiva

A saúde coletiva é um campo de saber que, no Brasil, apresenta uma


interdisciplinaridade com as ciências sociais, a epidemiologia, a filosofia e as ciências
biológicas, citando algumas. Pelo seu caráter abrangente, não seria possível explorar todo
o campo da saúde coletiva em um texto tão breve como este, mas podemos refletir um
pouco acerca dos principais eixos que sustentam esse campo de saber. Como pilares da
saúde coletiva podemos elencar (PAIM, 2006):

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• Ciências sociais em saúde, com os determinantes sociais da saúde.

• Política, planejamento e gestão em saúde, por meio da organização dos serviços de


saúde.

• Epidemiologia clássica e social. Isso significa que, enquanto profissionais de saúde, a


saúde coletiva nos auxilia a compreender o processo saúde-doença para além do
campo biomédico, incluindo instrumentos para a investigação desse processo nas
populações e na organização dos serviços de saúde (PAIM, 2006).

Organização dos serviços de saúde

Outro eixo pertinente à saúde coletiva diz respeito à política, planejamento e gestão
dos serviços de saúde. Como vimos pelos determinantes sociais da saúde, o processo
saúde-doença é complexo e se relaciona com diferentes instâncias da vida em sociedade.
As formas como os serviços de saúde se organizam também afetam a saúde das pessoas,
e são, por isso, um tema relevante da saúde coletiva. O Sistema Único de Saúde (SUS) faz
parte de uma grande política pública de saúde do país, enquanto papel do Estado, com
diretrizes que abrangem desde a promoção da saúde até a reabilitação de doenças, e é
apoiado nos princípios de universalidade, equidade e integralidade (BRASIL, 1990).

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Definição de epidemiologia

Nos últimos anos, o desenvolvimento da epidemiologia acelerou devido aos


inúmeros avanços, como os na área da informática. O método epidemiológico, com suas
diferentes nomenclaturas, consolidou-se amplamente em sua área de origem, ou seja, na
área da saúde coletiva, assim como na área clínica, ou seja, nas questões relacionadas à
natureza individual, segundo Goldbaum (1996). Você conseguiria identificar alguma
contribuição da epidemiologia em seu cotidiano? Veja alguns exemplos que também foram
contribuições possíveis devido a epidemiologia, segundo Goldbaum (1996): a identificação
do papel nocivo do tabaco, bem como a identificação dos fatores de risco relacionados a
ocorrência de doenças cardiovasculares e cânceres; a função do flúor na prevenção da
cárie dental, assim como a eficácia e efetividade das vacinas. Existem inúmeras definições
de epidemiologia, dentre as quais, destaca-se: Ciência que estuda o processo saúde-
doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes
das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo
medidas específicas de prevenção, controle, ou erradicação de doenças, e fornecendo
indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações
de saúde (ROUQUAYROL, 1993 apud GOLDBAUM, 1996, p.96). Tem-se também a
definição de epidemiologia, de acordo com a Associação Internacional de Epidemiologia
(IEA), como “o estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das
doenças nas coletividades humanas” (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018, p.10).

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Epidemiologia e indicadores de saúde

Os indicadores são instrumentos que possibilitam identificar, medir e descrever


aspectos relacionados a determinado evento ou objeto. Tem como objetivo, traduzir de
forma quantitativa (quando é possível medir) ou qualitativa (quando é possível descrever)
aspectos de determinada realidade ou ação; podem ser utilizados em diversos momentos
do processo de elaboração de políticas e programas públicos. Tais processos são
construídos tendo, por base, o ciclo de políticas públicas (BRASIL, 2018).

Exemplo de indicadores

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Considerando o ciclo de políticas públicas, os indicadores podem ser utilizados nas
diversas fases e com diferentes objetivos. Na fase de identificação do problema, tem como
objetivo elaborar diagnósticos iniciais ou realizar levantamento de situações para identificar
problemas futuros. Na fase de constituição da agenda (conjunto de problemas oriundos de
debates e discussões e que representam o interesse público), os indicadores visam
identificar os problemas e suas respectivas características, como a gravidade, urgência e
prioridade. Na fase de planejamento, os indicadores são definidos visando medir o
desempenho de determinada intervenção com o intuito de monitorar e avaliar (fases
subsequentes do ciclo). Os indicadores definidos na fase de implementação são, ou
deveriam ser, originários da fase de planejamento e deveriam ser utilizados na fase de
monitoramento, visando observar a evolução da intervenção e, caso necessário, propor
medidas corretivas. Na fase de avaliação, o indicador objetivo compara o desempenho da
política pública proposta para solucionar os problemas apontados (BRASIL, 2018). Como
identificar e escolher os indicadores? Os indicadores que devem ser selecionados são
aqueles capazes de avaliar o desempenho das políticas e também informar características
fundamentais do objeto em questão, ou seja, fenômenos como o social, o econômico, o
ambiental, o cultural.
é preciso levar em consideração suas propriedades (BRASIL, 2018):
• Utilidade: os indicadores devem ser baseados nas necessidades reais.
• Validade: ser capaz de representar, no decorrer do tempo, a realidade que almeja avaliar
e alterar.
• Confiabilidade: os indicadores devem ser originários de fontes seguras e honestas.
• Disponibilidade: os dados devem ser de fácil aquisição.
• Simplicidade: os indicadores devem ser de fácil compreensão, tanto para seus executores
como para o público em geral.
• Clareza: o indicador deve expressar de maneira clara a sua mensagem.
• Sensibilidade: o indicador deve ser capaz de avaliar as variações do fenômeno.
• Desagregabilidade: capacidade de representar a regionalização dos grupos sócio
demográficos.
• Economicidade: o indicador deve ser obtido a baixo custo, ou seja, a relação custo
benefício deve ser favorável.
• Estabilidade: ser oriundo de séries históricas estáveis, em que há possibilidade de
monitoramento e comparações entre as variáveis.
• Auditabilidade ou rastreabilidade: os indicadores devem ser passíveis de verificação
quanto a sua obtenção, tratamento, interpretação.

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Por fim, os indicadores podem ser classificados quanto ao fluxo de implementação
(insumos-antes, processo-durante, produto-depois, resultado-depois, impacto-depois) e
quanto ao seu desempenho (economicidade, eficiência, eficácia, efetividade) (BRASIL,
2018).

Epidemiologia e sistemas de informação

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), Sistema de Informação em


Saúde (SIS) “é definido como um mecanismo de coleta, processamento, análise e
transmissão da informação necessária para o planejamento, a organização, a operação e
a avaliação dos serviços de saúde” (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018, p.617).
Qual seria a função dos SIS? Os SIS são considerados ferramentas fundamentais
para a interpretação da realidade socioeconômica, demográfica e epidemiológica e tomada
de decisão, o que auxiliará no planejamento, gestão, organização e avaliação nos
diferentes níveis que constituem o Sistema Único de Saúde (SUS), contribuindo para a
melhoria da qualidade dessas informações e também da assistência (ROUQUAYROL; DA
SILVA, 2018).

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Evidencia-se, portanto, que a epidemiologia é uma ciência que impacta diretamente
na vida de todos e o profissional que atua na área da saúde pública deve ter conhecimento
e se apropriar dessa ferramenta em sua prática. Dentre os inúmeros aspectos, tem-se a
avaliação da eficácia dos testes diagnósticos e dos tratamentos, além da importância dos
sistemas de informação e também da aplicabilidade dos indicadores de saúde na obtenção
de dados. Tais aspectos são imprescindíveis para o planejamento, a avaliação e o
monitoramento dos sistemas de saúde, ou seja, na gestão em saúde.

Doenças de notificação obrigatória

Na área da saúde pública, a vigilância é responsável por ações relacionadas à


vigilância, prevenção e controle de doenças transmissíveis, pela vigilância de fatores de
risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, saúde ambiental,
saúde do trabalhador e análise de saúde da população do Brasil. Nesse contexto, tem-se
as doenças de notificação compulsória e o Programa Nacional de Imunização (PNI), que
serão discutidos neste tópico (BRASIL, 2017). Conhecer aspectos relacionados a esses
componentes são fundamentais para os profissionais que atuam na saúde pública.

Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública


Periodicidade de
N DOENÇA OU AGRAVO (Ordem alfabética) notificação
º Imediata (até 24
horas) para* Sema
MS SE SM nal
S S
a. Acidente de trabalho com exposição a material biológico X
1 b. Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e adolescentes X
2 Acidente por animal peçonhento X
3 Acidente por animal potencialmente transmissor da raiva X
4 Botulismo X X X
5 Cólera X X X
6 Coqueluche X X
7 a. Dengue - Casos X
b. Dengue - Óbitos X X X
8 Difteria X X
9 a. Doença de Chagas Aguda X X

10
b. Doença de Chagas Crônica X
10 Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) X
11 a. Doença Invasiva por "Haemophilus Influenza" X X
b. Doença Meningocócica e outras meningites X X
12 Doenças com suspeita de disseminação intencional:a. Antraz X X X
pneumônicob. Tularemiac. Varíola
13 Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes:a. X X X
Arenavírusb. Ebolac. Marburgd. Lassae. Febre purpúrica
brasileira
a. Doença aguda pelo vírus Zika X
14 b. Doença aguda pelo vírus Zika em gestante X X
c. Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika X X X
15 Esquistossomose X
16 Evento de Saúde Pública (ESP) que se constitua ameaça à X X X
saúde pública (ver definição no art. 2º desta portaria)
17 Eventos adversos graves ou óbitos pós vacinação X X X
18 Febre Amarela X X X
a. Febre de Chikungunya X
19 b. Febre de Chikungunya em áreas sem transmissão X X X
c. Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya X X X
20 Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância em X X X
saúde pública
21 Febre Maculosa e outras Riquetisioses X X X
22 Febre Tifoide X X
23 Hanseníase X
24 Hantavirose X X X
25 Hepatites virais X
26 HIV/AIDS - Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência X
Humana ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
27 Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e X
Criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV
28 Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) X
29 Influenza humana produzida por novo subtipo viral X X X
30 Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo X
agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados)
31 Leishmaniose Tegumentar Americana X
32 Leishmaniose Visceral X
33 Leptospirose X
a. Malária na região amazônica X
34 b. Malária na região extra-Amazônica X X X
35 Óbito:a. Infantilb. Materno X
36 Poliomielite por poliovirus selvagem X X X
37 Peste X X X
38 Raiva humana X X X
39 Síndrome da Rubéola Congênita X X X
40 Doenças Exantemáticas:a. Sarampob. Rubéola X X X
41 Sífilis:a. Adquiridab. Congênitac. Em gestante X
42 Síndrome da Paralisia Flácida Aguda X X X
43 Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírusa. X X X
SARS-CoVb. MERS- CoV
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44 Tétano:a. Acidentalb. Neonatal X
45 Toxoplasmose gestacional e congênita X
46 Tuberculose X
47 Varicela - caso grave internado ou óbito X X
a. Violência doméstica e/ou outras violências X
48 b. Violência sexual e tentativa de suicídio X

Legenda: MS (Ministério da Saúde), SES (Secretaria Estadual de Saúde) ou SMS


(Secretaria Municipal de Saúde)

* Informação adicional: Notificação imediata ou semanal seguirá o fluxo de


compartilhamento entre as esferas de gestão do SUS estabelecido pela SVS/MS;

A notificação imediata no Distrito Federal é equivalente à SMS.

Vigilância epidemiológica

A vigilância em saúde pública, segundo o Centro de Doenças Transmissíveis dos


Estados Unidos das Américas (EUA), é definida como a coleta sistemática e constante de
dados, a análise e a interpretação de desfechos específicos com o objetivo de utilizá-los no
planejamento, na implementação e na avaliação de ações em saúde pública. E vigilância
epidemiológica (VE)? O que significa? Segundo a Lei n. 8.080, de 1990 (Lei Orgânica da
Saúde), a VE é definida como um conjunto de práticas realizadas visando o conhecimento,
a identificação ou a prevenção de qualquer alteração nos fatores determinantes e
condicionantes da saúde, seja individual ou coletiva. Tem como objetivo o direcionamento
e a proposição de medidas preventivas e de controle de complicações ou doenças
(ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018).

Os objetivos da vigilância em saúde pública são:


• Compreender o comportamento epidemiológico das doenças sob vigilância,
objetivando detectar os surtos e as epidemias precocemente, assim como a
distribuição espacial das doenças; a caracterização dos grupos mais afetados e dos
quadros mais graves da doença.
• Indicar as medidas de prevenção e de controle das doenças sob vigilância e a
avaliação das medidas adotadas.

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• Interromper as cadeias de transmissão das doenças, nos casos daquelas
transmissíveis.
• Identificar novos problemas de saúde pública.

Doenças de notificação obrigatória

A primeira lista de doenças de notificação compulsória é de 1377, que embasou o


Regulamento Sanitário Internacional (RSI) (TEIXEIRA et al., 1998), que, a partir de 1951,
obrigou os governos nacionais a notificarem a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre
a ocorrência de varíola, cólera, peste e febre amarela. Com o advento da erradicação da
varíola, na década de 1970, três doenças permaneceram na lista.
No Brasil, as Normas Gerais Sobre Defesa e Proteção da Saúde, de 1961, incluíram
quarenta e cinco doenças como sendo de notificação compulsória. Contudo, apenas em
1969, devido aos resultados da CEV, se iniciou a notificação sistemática de algumas
doenças transmissíveis. A diversidade e extensão continental do Brasil fazem com que uma
lista geral de doenças seja pouco abrangente e tenha dificuldade em abordar as diferenças
regionais.

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UNIDADE 02

Programa Nacional de Imunização

O programa de erradicação da varíola, no Brasil, que chegou ao final em 1973, com


a certificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi fundamental para a criação do
Programa Nacional de Imunização. O PNI estrutura a política nacional de vacinação no
Brasil e tem como objetivo o controle, a erradicação e a eliminação de doenças que a
vacinação previne. É considerada uma das principais ações em saúde pública, no Brasil,
devido seu impacto significativo na diminuição de doenças nas últimas décadas. Tem como
importantes atores as secretarias estaduais e municipais de saúde (BRASIL, 2014).
A portaria n. 1.498, de 2012, no âmbito do PNI, em todo território nacional,
regulamenta os calendários de vacinação, atualizados por meio de informes e notas
técnicas. Eles, assim como os esquemas vacinais, devem estar disponíveis para a consulta
nas unidades básicas e afixados em um local de fácil visualização.
Evidencia-se, portanto que a vigilância em saúde pública é uma área de importância
considerável para o Sistema Único de Saúde e inclui as doenças de notificação compulsória
e o programa nacional de imunização.

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Redes de Atenção a Saúde e a Atenção Básica

A Rede de Atenção à Saúde (RAS) é definida como uma estratégia para um cuidado
integral e direcionado às necessidades de saúde da população, destacando a Atenção
Básica (AB) como primeiro ponto de atenção e como a porta de entrada preferencial para
o sistema de saúde. Uma das atividades a serem desempenhadas pelas RAS é a
ordenação do fluxo e contra fluxos de pessoas, produtos e informações em todos os pontos
de atenção à saúde (BRASIL, 2017).

Diretrizes

Regionalização e hierarquização. Regiões de saúde como um recorte espacial


estratégico para fins de planejamento, organização e gestão de redes de ações e serviços
de saúde em determinada localidade; hierarquização como forma de organização de pontos
de atenção da RAS entre si, com fluxos e referências estabelecidos.
Territorialização e adstrição - Um território específico, com impacto na situação, nos
condicionantes e determinantes da saúde das pessoas e coletividades que constituem
aquele espaço.
População adscrita - População que está presente no território da UBS.
Cuidado centrado na pessoa - Ações de cuidado de forma singularizada, que auxilie
as pessoas a desenvolverem os conhecimentos, aptidões, competências e a confiança
necessárias para gerir e tomar decisões embasadas sobre sua própria saúde e seu cuidado
de saúde de forma mais efetiva.
Resolutividade - Ser resolutiva, utilizando e articulando diferentes tecnologias de
cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos
positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas.
Longitudinalidade do cuidado - Continuidade da relação de cuidado, com construção
de vínculo e responsabilização entre profissionais e usuários ao longo do tempo e de modo
permanente e consistente.
Coordenação do cuidado - Elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos usuários
entre os pontos de atenção das RAS.
Ordenação da rede - Reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua
responsabilidade, organizando as necessidades desta população em relação aos outros
pontos de atenção à saúde
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Participação da comunidade - Estimular a participação das pessoas, a orientação
comunitária das ações de saúde na atenção básica.
Portanto, a adequada compreensão das diretrizes que caracterizam as RAS é
essencial para que ela seja efetiva em suas ações.

SAÚDE DA FAMÍLIA

Política Nacional de Atenção Básica

Para uma melhor compreensão sobre a Política Nacional de Atenção Básica, você
deve lembrar-se dos seguintes pontos:

• A Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi proposta para efetivar um modelo de


atenção à saúde baseado na integralidade, universalidade e equidade, princípios básicos
do Sistema Único de Saúde (SUS).
• Iniciou em 1994, com a criação do Programa de Saúde da Família.
• A ESF está inserida em um contexto maior, que é a Política Nacional de Atenção

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Básica (PNAB).
• A PNAB está na sua terceira edição. Cada uma das edições apresenta suas
particularidades, principalmente em relação à composição e cadastramento das equipes e
o financiamento delas.
• As equipes de Atenção Básica (eAB) ou equipes de Saúde da Família (eSF) são
compostas por profissionais de várias categorias. Pela última edição da PNAB, a equipe
mínima deve contar com um médico, um enfermeiro, um auxiliar ou um técnico de
enfermagem e um agente comunitário. Nessa nova portaria não existe mais a necessidade
de ter pelo menos quatro agentes comunitários por equipe. Para ter êxito no cumprimento
dos objetivos da Atenção Básica, as equipes de saúde devem planejar o seu trabalho de
acordo com algumas estratégias importantes e necessárias, que se complementam e fazem
parte do processo de trabalho das equipes. Essas estratégias são:

• Territorialização: etapa constante das ações da equipe de saúde. Deve ser capaz
de traduzir as diferentes realidades do território, indo além de um simples recorte
geográfico. Faz parte da atribuição de todos os profissionais da equipe e é
importante que seja capaz de destacar as informações mais relevantes sobre a
população daquela área de abrangência, para que se priorizem as ações de saúde
a serem desenvolvidas.

• Cuidado integral: o trabalho das equipes na Atenção Básica busca


garantir a integralidade de cada indivíduo e cada família, conforme as necessidades
de saúde que forem identificadas. Esse olhar ampliado deve ocorrer inclusive
quando o usuário do sistema de saúde utiliza outros pontos de atenção da rede.
Busca-se garantir, também, o papel da Atenção Básica como coordenadora do
cuidado e ordenadora da Rede de Atenção à Saúde. Uma das ferramentas mais
emblemáticas do cuidado integral na Atenção Básica é a visita domiciliar, que pode
ser realizada por todas as categorias profissionais da equipe e pode acontecer com
objetivos diversos: ampliar o acesso ao serviço de saúde, conhecer melhor a
realidade onde o paciente mora e entender melhor a sua dinâmica familiar.
Organização da agenda de trabalho: a equipe deve planejar a oferta de serviços para
a população adscrita de forma a garantir um equilíbrio entre as ações programadas
e a demanda espontânea. Ações programadas são aquelas rotineiras, que ocorrem
de maneira planejada e antecipada, como uma consulta de pré-natal. Demanda
espontânea é aquele atendimento necessário, mas que não foi previamente

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agendado, como uma adolescente com atraso menstrual ou uma gestante com
queixa urinária.

• Trabalho em saúde: para complementar as demais estratégias, você


deve considerar que o trabalho em saúde traz muitas subjetividades, já que o
cuidado acontece no encontro entre duas pessoas. Esse encontro pode acontecer
entre o profissional e o usuário, o profissional e a família e também entre o
profissional e outro profissional, pois discussões de caso e reuniões de equipe para
planejamento das ações também é uma forma de ofertar cuidado para a população.

Doenças Crônicas Não Transmissíveis

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis englobam as doenças cardiovasculares,


as neoplasias, as doenças respiratórias crônicas e o diabetes mellitus. São um problema
de saúde pública relevante, pois juntas contribuem para a maior parte da mortalidade da
população brasileira. O aumento da incidência dessas doenças nas últimas décadas pode
ser explicado pela mudança do perfil demográfico da população brasileira (aumento da
expectativa de vida), e pelos hábitos pouco saudáveis da população, como consumo de
cigarro e álcool, sedentarismo e obesidade, uma vez que as DCNT atingem pessoas mais
velhas.
Fatores de Risco para DCNT:

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O controle das DCNT requer ações de promoção da saúde, de forma a se alcançar
hábitos de vida saudáveis. Já está bem comprovado que a maior parte dessas doenças é
evitável eliminando os fatores de risco como obesidade, sedentarismo e tabagismo. Além
de evitar que gerações futuras desenvolvam essas doenças, o sistema de saúde também
deve se organizar de maneira a proteger a população que já é portadora de DCNT, bem
como evitar as complicações que elas podem causar. O papel da Atenção Básica (AB) é
fundamental para se alcançar os resultados esperados para cada extremo desse cuidado.
São as equipes de Saúde da Família que estão mais próximas da vida cotidiana das
pessoas, tendo mais ferramentas para atuar nesse processo saúde-doença.
Nas últimas décadas, diversas políticas públicas de saúde foram implantadas com o
objetivo de reduzir as DCNT e o seu impacto sobre a qualidade da vida das pessoas e a
mortalidade. Além do aumento da cobertura de AB no país, destacam-se também:

• Política Nacional de Promoção da Saúde (2006).


• Criação das Redes de Assistência à Saúde (2010).
• Plano de Ações estratégicas para o enfrentamento das DCNT (2011).
• Elaboração das Linhas de Cuidado para as redes prioritárias (2011).

Além dessas políticas públicas, também foram ampliadas as discussões sobre as


mudanças de processo de trabalho dos serviços de saúde necessárias para o cuidado em
rede e integral. Na lógica das RAS, o papel da AB como coordenadora do cuidado e
ordenadora da rede fica mais evidente e mais fortalecido, assumindo o seu protagonismo
defendido nas Políticas Nacionais de Atenção Básica. As mudanças no processo de
trabalho, ou seja, nas formas de ofertar cuidado, são essenciais para efetivar a mudança
de modelo assistencial defendida na criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso,
a lógica de cuidado em RAS propõe migrar de um modelo de atenção à saúde fragmentado
e fortemente centrado na consulta médica para um modelo de atenção poliárquico e
multiprofissional, com uma integração efetiva dos diversos pontos de atenção à saúde e
com a AB coordenando esse cuidado (MENDES, 2011). Essas mudanças ainda estão em
consolidação, ou seja, essa transição de modelo não ocorreu de forma homogênea pelas
diferentes realidades que equipes e municípios brasileiros apresentam pelo Brasil.

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Território na Atenção Básica

Entende-se por território como o espaço, geográfico e social, onde acontece a vida
das pessoas e a forma como se organizam e se relacionam (GODIN;, MONKEN, 2017). As
diferentes formas de ocupação desse espaço, as suas características sociais, culturais e
políticas se relacionam com as condições de saúde dessas pessoas, tanto de forma positiva
como de forma negativa. Uma população que vive e convive com um território onde existem
políticas públicas saudáveis, como saneamento básico, coleta de lixo, acesso à água
potável, boas condições de moradia e de trabalho, tem mais condições de viver de maneira
saudável. Por outro lado, uma população que não tem acesso a qualquer uma dessas
políticas vai apresentar necessidades de saúde e necessidades de cuidado diferentes.
A principal forma de se organizar esses dados é realizando o mapeamento do
território – uma das etapas da territorialização. O mapeamento pode ser realizado de
diferentes maneiras dependendo, sobretudo, dos recursos materiais que cada equipe tiver
à sua disposição. Mas mais importante do que a forma de registrar graficamente esse
mapeamento é a capacidade de análise da situação de saúde que a equipe deve ter, com
base nesse mapeamento.

Vigilância na Atenção Básica

Se olharmos para a história da humanidade vamos encontrar a ocorrência de várias


doenças e várias epidemias que influenciaram no percurso das civilizações. A prática de
procurar combatê-las e diminuir o seu impacto na vida das pessoas também é antiga,
mudando conforme a humanidade avançava no conhecimento da transmissão e controle
das doenças.
A Vigilância em Saúde engloba várias ações estratégicas e específicas para cada
uma das vigilâncias que fazem parte dessa política. A Vigilância Epidemiológica consiste
no processo contínuo de coleta, análise, interpretação e divulgação de informações sobre
a ocorrência e distribuição de doenças e de agravos da população, atuando com base nas
notificações de doenças e agravos compulsórios da investigação epidemiológica e da Rede
de Frio de imunobiológicos. A Vigilância Sanitária é responsável por controlar e fiscalizar
procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde das pessoas, como
alimentos, medicamentos, imunobiológicos, hemoderivados e o cadastro e licenciamento
de estabelecimentos sanitários (como serviços de saúde, supermercados, restaurantes,
salões de beleza). A Vigilância em Saúde do Trabalhador atua na detecção e análise dos
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fatores determinantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos
e ambientes de trabalho, por meio de notificações de acidentes de trabalho, exposição de
trabalhadores a material biológico e a agrotóxicos, atenção à saúde do trabalhador pelos
Cerests (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) e a fiscalização de ambientes de
trabalho.
Alguns conceitos utilizados nas ações de Vigilância em Saúde podem parecer
sinônimos, mas possuem significados específicos, sendo comum causarem confusão. É
importante saber diferenciálos, para melhor compreensão e para sua correta utilização.
• Agravo: “qualquer dano à integridade física ou metal da pessoa, provocado por
circunstâncias nocivas (acidentes, intoxicações por substâncias químicas, abuso de
drogas) ou lesões decorrentes de violências interpessoais (agressões e maus-tratos e lesão
autoprovocada” (BRASIL, 2018, p. 10).

• Doença: “enfermidade ou estado clínico, independente de origem ou de fonte, que


representa – ou possa representar – um dano significativo para a pessoa” (BRASIL, 2018,
p. 10).
• Epidemia: situação na qual uma doença atinge um grande número de pessoas em
uma larga área geográfica.
• Endemia: presença contínua de uma doença (ou um agente infeccioso) em uma
determinada região.
• Surto: aumento acima do esperado na ocorrência de eventos ou doença, em uma
área ou entre um grupo específico de pessoas, em determinado período (BRASIL, 2018).

Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Saúde do Idoso

Doenças Crônicas Não Transmissíveis As últimas décadas foram de muitas


transformações no País, com aumento da expectativa de vida, melhora das condições de
vida, ampliação do acesso a serviços de saúde e mudanças no perfil epidemiológico da
população. Desde a sua implantação, o Sistema Único de Saúde (SUS) vem contribuindo
para essas mudanças e impactando nos indicadores de saúde. Com um sistema de saúde
público e universal, o País observou uma expansão da cobertura de Saúde da Família, da
distribuição de medicamentos gratuitos e das ações voltadas para um cuidado integral e
em rede. Algumas melhorias sociais e econômicas também contribuíram para melhorar a
qualidade de vida dos brasileiros, como a diminuição do analfabetismo, o aumento da
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escolaridade da população, o acesso ao saneamento básico e os programas de
transferência de renda, como o Bolsa Família, que impactam também na saúde das
pessoas. Embora ainda exista muita desigualdade no Brasil, e isso é percebido pelas
diferenças nos indicadores sociais e de saúde nas regiões brasileiras, a construção e
consolidação do SUS fez parte dessas mudanças.
A transição demográfica da população brasileira trouxe novos desafios. Se no início
do século XX a mortalidade infantil e as doenças infecciosas reduziam a expectativa de
vida das pessoas, o início do século XXI traz uma preocupação com as Doenças Crônicas
Não Transmissíveis (DCNT). Principal causa de morte em países desenvolvidos e
emergentes, entre eles o Brasil, essas doenças são responsáveis por mortes prematuras
(antes dos 69 anos de idade), trazendo impactos sociais e econômicos. São, na sua maior
parte, evitáveis com mudanças de hábito e estilo de vida, já que são fatores de risco para
as DCNT o tabagismo, a obesidade, o abuso no consumo de álcool e o sedentarismo. Os
gráficos a seguir mostram as mudanças na pirâmide etária da população brasileira para
2010, 2020 e 2030.

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Com o envelhecimento progressivo da população brasileira, é esperado um aumento
da incidência das DCNT, principalmente se medidas de prevenção e promoção da saúde
não forem aplicadas em tempo oportuno.

Entre as DCNT, as doenças cardiovasculares são a principal causa de


morbimortalidade no Brasil. A hipertensão arterial é o seu principal fator de risco, sendo
altamente prevalente na população brasileira e afetando 24,7% da população das capitais
em 2018 (BRASIL, 2011; 2019). As neoplasias são a segunda causa de mortalidade, e seu
diagnóstico e tratamento precoce são fundamentais para diminuir esse número. Entre os
tipos de câncer mais comuns estão os cânceres de mama, colorretal e de colo de útero,
entre as mulheres; e as neoplasias de próstata, colorretal e de sistema respiratório, entre
os homens (INCA, 2020). O diabetes mellitus e suas complicações podem se tornar
altamente incapacitantes, sendo importante o seu diagnóstico precoce e o rastreamento
das suas complicações, como as neuropatias. As mudanças de estilo de vida são
fundamentais para a melhora desse quadro. As doenças respiratórias crônicas incluem a
asma e as doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC).

No Brasil, foi aprovada em 2006 a Política Nacional de Promoção da Saúde, de


acordo com os princípios do SUS e em conformidade com o defendido na Carta de Ottawa.
Seu objetivo principal é “promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à
saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes”, integrando diversos atores
(sociais e políticos) para atingir esse fim (BRASIL, 2010a, p. 17). Em 2011, foi criado o
Plano de Ações Estratégicas para o enfrentamento das DCNT pelo Ministério da Saúde,
com o objetivo de: promover o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas
efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o controle
das DCNT e seus fatores de risco e fortalecer os serviços de saúde voltados para a atenção
aos portadores de doenças crônicas. (BRASIL, 2011, p. 14)

Redes de Atenção à Saúde

Os sistemas de saúde podem operar de forma fragmentada ou integrada, muitas


vezes de maneira concomitante. De maneira geral, um sistema fragmentado se organiza
por meio de vários serviços de saúde que trabalham de maneira isolada e sem se
comunicarem entre si, sem uma população adscrita definida, e voltados para atender
situações agudas ou condições crônicas agudizadas, como uma crise hipertensiva. Nesse
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tipo de sistema, não existe uma continuidade do cuidado, não havendo uma articulação
entre atenção primária (ou básica), atenção secundária e atenção terciária (MENDES,
2011).
A Atenção Básica e as DCNT Para abordar as DCNT, é necessária uma assistência
à saúde adequada para todas as características desses agravos. Quando se fala em RAS,
coloca-se a Atenção Básica no centro do sistema de saúde, para que ela possa ser
efetivamente a coordenadora do cuidado.
• Da atenção prescritiva para a atenção centrada na pessoa: singularizar o cuidado
para cada indivíduo, considerando os aspectos objetivos e subjetivos de cada um,
sendo o usuário ator no processo de cuidado, e não um ser passivo.
• Da atenção centrada no indivíduo para a atenção centrada na família: a família é
considerada uma unidade de cuidado, como parte dos recursos que o usuário pode
utilizar no seu cuidado e como um elo com ele, para melhor entender a sua situação
de saúde.
• No fortalecimento do autocuidado apoiado: permitir que os usuários sejam
produtores da sua saúde. O portador de uma doença crônica convive muito mais
tempo sozinho com a sua doença do que na companhia de um profissional da saúde.
O autocuidado é uma forma de empoderar o indivíduo para o seu cuidado,
promovendo a educação em saúde e a sua autonomia nesse processo.
• No equilíbrio entre a demanda espontânea e a atenção programada: considerando
as DCNT, a organização da agenda de serviços das equipes de Saúde da Família
deve garantir um equilíbrio entre atendimentos programados para os usuários e
atendimentos não programados, ou de demanda espontânea, para atender às
situações de agudização dessas condições, conforme a necessidade desse usuário.
• Da atenção uniprofissional para a atenção multiprofissional: ampliar o cuidado do
indivíduo para além do cuidado centrado na consulta médica, com o cuidado
prestado por uma equipe multiprofissional.
• Na introdução de novas formas de atenção profissional: como a atenção
compartilhada em grupo (diferente dos grupos educativos) e a atenção contínua,
passando o usuário por atendimentos individuais com vários profissionais. Essas
duas abordagens ainda não foram implantadas no Brasil.
• No estabelecimento de novas formas de relação entre as equipes da Atenção Básica
e a atenção ambulatorial especializada: exige que a Atenção Básica opere a RAS de
forma a coordenar essa rede, mantendo a sua responsabilidade no cuidado ao
usuário.
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• No equilíbrio entre o cuidado presencial e o cuidado não presencial: ao incrementar
as ações não presenciais, amplia-se o cuidado, podendo ser realizado por
monitoramento das condições de saúde por meio telefônico ou por correio eletrônico.
• No equilíbrio entre a atenção profissional e a atenção por leigos: essa assistência
promovida por leigos (ou por pares) consiste em incluir no cuidado ao doente crônico
cuidadores leigos, também portadores dessas condições.

Para contemplar essas dimensões, é necessária a reorganização do processo de


trabalho das equipes atuantes na Atenção Básica. Algumas estratégias vêm sendo
aplicadas por essas equipes, como o Projeto Terapêutico Singular (PTS) e o Apoio
Matricial, realizado pelas equipes do NASF e pelos serviços de atenção especializada
(BRASIL, 2013).

O cuidado às condições crônicas já traz seus desafios pela complexidade de


abordagem, pelo tratamento e pela atenção que exige. Mudanças de hábitos de uma vida
inteira não são alcançadas de uma forma simples nem pela vontade do profissional de
saúde em alcançar esse objetivo. Integrar a pessoa, a família e a comunidade nesse
cuidado é fundamental e requer novas práticas e novas estratégias para que se obtenha
sucesso nesse enfrentamento. A Atenção Básica está posta no centro da RAS, mas ainda
não ocupou esse espaço de maneira homogênea pelo Brasil. Cada região brasileira
apresenta a sua realidade em termos de recursos e de indicadores. Por isso o protagonismo
das equipes é fundamental para a mudança assistencial pensada nos primórdios do SUS:
são essas equipes e esses profissionais que convivem próximos às múltiplas realidades
das pessoas e dos territórios, dispondo das ferramentas para alcançar um cuidado integral
e com equidade.

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Referências Bibliográficas

As Cartas da Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível


em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes//cartas_promocao.pdf. Acesso em: 5 out.
2020. BRASIL.
Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção
à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
diretrizes%20_cuidado_pessoas%20_doencas_cronicas.pdf. Acesso em: 5 out.
2020.
BRASIL. Guia metodológico de avaliação e definição de indicadores: doenças
crônicas não transmissíveis e Rede CARMEN. Brasília: Ministério da Saúde, 2007.
Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=326-guia-metodologico-avaliacao-e-definicaoindicadores-
6&category_slug=doencas-cronicas-116&Itemid=965. Acesso em: 5 out. 2020.
BRASIL. Implantação das Redes de Atenção à Saúde e outras estratégias da SAS.
Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.
br/bvs/publicacoes/implantacao_redes_atencao_saude_sas.pdf. Acesso em: 5 out. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Hipertensão é diagnosticada em 24,7% da população,
segundo a pesquisa Vigitel [internet]. 2019. Disponível em https://
www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude. Acesso em 23 jul. 2020.
BRASIL. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
BRASIL. Política Nacional de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde,
2010a. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_
promocao_saude_3ed.pdf. Acesso em: 5 out. 2020. BRASIL. Portaria n. 4.279, de 30 de
dezembro de 2010. Estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Brasília: Ministério da Saúde, 2010b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.
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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. [internet]. 2020. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao//. Acesso em: 13 jul. 2020.

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