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1ª Edição
ISBN: 978-65-00-47160-1
1. Biografia
I. Título II. Vieira, João Bosco Costa
3
Dedicatória
Agradecimentos
Agradeço a Deus, que me concedeu saúde e me
permitiu investir tempo na idealização deste livro, além de
ter me presenteado com muito conteúdo que jamais
imaginei que existisse.
Agradeço à minha família que ficou sem o meu
tempo, que estava muitas vezes voltado para “ver as coisas
do Major”.
Dentre as diversas fontes de tradição oral às quais
deixo minha gratidão, aquela que trouxe inspiração inicial
me veio por meio de minha tia Maria Regina Chagas Costa
Oliveira, cujos depoimentos gravados em fita cassete pelo
meu irmão Paulo (in memoriam) e pelo meu irmão
Adalberto Filho, nos permitiram construir o alicerce desta
história. No texto Regina, assim como os demais citados,
serão mencionados apenas pelo primeiro nome.
As fotografias do casal foram preservadas por ela e
hoje estão aos cuidados de familiares que gentilmente nos
cederam, meu irmão Adalberto Filho e minha prima Flávia
Araújo Costa. As demais fotos, gentilmente fornecidas por
amáveis e atenciosos familiares, receberão os devidos
créditos ao final da obra.
A tia Francisca Costa Camarão, tia Franci, em sua
maravilhosa lucidez, resgatou do passado passagens
interessantes de nossos amados ancestrais. O primo
Fernando Chagas, filho de tia Maria Chagas, irmã de minha
avó Flávia, despendeu horas ao telefone resgatando de sua
memória fatos importantes que sua mãe, com muita
sabedoria, as fez questão de repassar para a posteridade.
Além da tradição oral, este livro obteve respaldo
documental a partir de valorosas colaborações.
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Sumário
Introdução ......................................................................... 11
Prólogo ................................................................................. 13
O Início ................................................................................ 19
Maria Joanna ................................................................... 25
Nasce Uma Família ....................................................... 29
Os Negócios Prosperam .............................................. 33
Ampliando Horizontes................................................. 37
Amenidades Quotidianas ........................................... 43
O Óbito de Francisco ................................................... 51
Os Filhos ............................................................................. 55
Testamentos e Inventário ........................................... 73
Epílogo ................................................................................. 83
Referências ........................................................................ 87
Créditos das Fotografias ............................................ 89
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Introdução
A
narrativa apresentada a seguir não se trata de obra
acadêmica que obedeça a regras ou metodologias,
antes está mais próxima de uma conversa informal
em família, aberta a todos que desejem dela participar. Não
se trata ainda de uma biografia e de fato poderia ser melhor
descrita como uma breve apresentação ilustrada,
apresentada por um dos seus descendentes, admirador desse
querido casal.
Da tradição oral é natural que, após cem anos ou
mais de alguns acontecimentos, existam algumas dúvidas
quanto à fidedignidade das informações narradas. Sabemos,
entretanto, que a essência dos fatos ocorreu, conhecemos os
narradores originais e tais relatos não dizem respeito a lenda
urbana ou a algum “causo” criado por alguém.
Este relato histórico não tem o intento de enaltecer
alguém como superior a seus contemporâneos. A função
precípua da preservação dos fatos aqui descritos é honrar a
memória daqueles que deixaram um belo legado a seus
familiares.
Apesar de realizada de forma leiga, esta pesquisa
preenche uma lacuna sobre o passado de Acarape e
Redenção. Até o presente, os nomes de Francisco das
Chagas e sua esposa Maria Joanna do Bomfim não foram
encontrados em nenhum texto acadêmico reportando aquela
época.
O conteúdo apresentado, com exceção de uma
narrativa específica, não aborda os caminhos trilhados pelos
filhos do casal, tal missão deixamos para outros
descendentes.
Todas as informações neste livro foram prestadas
por depoimentos, documentos e publicações. O autor não
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Prólogo
1
Narrativa composta com informações extraídas do artigo “A
Revolução de 1912 No Ceará” de autoria de Hermenegildo Firmeza, do
livro “A Libertação do Ceará” de Rodolfo Teófilo, ambas as obras
descritas nas referências finais, e ainda de narrativa de Fernando
Chagas, neto do Major Chagas. Fotos gentilmente cedidas pelo Arquivo
Nirez.
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Agora, só
restava descansar
junto a todos os que
foram aliados nesta
inesquecível vitória
pela liberdade!
O prédio do
Palácio da Luz,
então sede do
governo estadual,
abriga atualmente a
Academia Cearense
de Letras.
Quem era o
Major Francisco
das Chagas, de onde surgiu este valente personagem?
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19
O Início
Capitão Lúcio do Bomfim
S
egundo Regina, o destemido Francisco das Chagas
(*13/11/1863 +27/12/1930) que conhecemos em
combate, era filho de D. Sabina Maria da Conceição,
nascido nas proximidades do Rio Pirangi. Na época não foi
reconhecido como filho por aquele que ele afirmava ser seu
pai biológico, Domingos Carneiro de Souza, então dono da
Fazenda Cavalaria em Pacajus.
Logo em seu início de vida, Francisco nos deixou
uma controvérsia que merece atenciosa reflexão.
Em sua certidão de nascimento, lavrada quando
“recebeu os santos óleos” em seu batismo, consta que ele é
filho legítimo de João Ferreira da Silva. A mesma
informação consta na posterior certidão de casamento.
Como conciliar os dados dos documentos com a
narrativa oral da família de que Francisco era filho de
Domingos e não de João? Esta narrativa foi repassada pelo
próprio Francisco à Flávia, sua filha mais velha, e ao marido
dela, seu genro José Costa Ribeiro.
Por meio deste casal e, posteriormente, pela filha
Regina, esta narrativa oral chegou aos nossos dias, ou seja,
a narrativa está geograficamente e cronologicamente
próxima de quem vivenciou os fatos, o que agrega grande
credibilidade aos fatos apresentados.
Ajudando à compreensão da história, convém
atentar que existe entre os acadêmicos um consenso de que
os documentos nem sempre são confiáveis, podendo
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Maria Joanna
O
jovem Francisco se enamorou com Maria Joanna,
a filha de seu patrão. Tal romance agradou ao
Capitão Lúcio que abençoou o casamento que se
deu com as bençãos do Pe. Antônio de Souza Barros em 30
de junho do ano de 1888.
Inicialmente moraram na casa cedida pelo sogro, ao
Os Negócios Prosperam
C
om sua empresa solidificada, Francisco passou não
apenas a abastecer de suprimentos diversas
propriedades da região pois, como um próspero
empresário, já atuava como um “capitalista”.
Capitalistas eram empresários abastados que eram
estimulados pelo governo a nutrir a sociedade com
financiamento mediante empréstimos, como forma de
prover desenvolvimento nas comunidades onde ainda não
havia o sistema bancário.
Quando os proprietários não conseguiam pagar a
dívida dos empréstimos, Francisco recebia suas terras que
haviam sido dadas em garantia.
Para a geração atual, pode alguém confundir esta
atividade legalizada com o crime de agiotagem. Mas é
preciso compreender que são realidades distintas. O
capitalista atuava, naquele contexto, como atuam hoje as
financeiras. Sua existência era crucial para o
desenvolvimento econômico das comunidades mais
distantes dos grandes centros urbanos e dos bancos
tradicionais.
Todas negociações do capitalista eram registradas
em cartório. Desta forma, como diz Fernando, “acumulou
propriedades do Outeiro ao Jenipapo”, bem como em outros
municípios.
Com o aumento de seu patrimônio, Francisco
adquiriu ainda propriedades no sertão, em outros
municípios distantes de Redenção.
Podemos observas, a seguir, alguns documentos
relativos ao trabalho de Francisco das Chagas.
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35
Ampliando Horizontes
A
fabricação de aguardente de cana veio
naturalmente com a expansão dos negócios.
Engenhos movidos a vapor em diversas
propriedades garantiam expressiva produção.
Nesta foto, abaixo, vemos as ruínas do engenho
onde era produzida aguardente no Sítio Poço Escuro. O
local foi ampliado com o passar das décadas, mas esta
estrutura, incluindo a chaminé, é remanescente da época do
Major Chagas. Este complexo industrial era tão valioso na
época que, no inventário, foi avaliado à parte do restante da
propriedade.
Na área do
comércio e no campo da
política, Francisco das
Chagas possuía um
adversário poderoso:
Coronel Juvenal de
Carvalho!
No entanto, nem a
força ou a influência
social e política de seu
opositor impediu o
crescimento dos negócios
e de seu patrimônio. Esta
rara foto do Coronel pode ser apreciada na recepção do
Colégio que leva seu nome, em Fortaleza.
Quando já estava muito próspero Domingos
Carneiro lhe ofereceu a Fazenda Cavalaria, mas a mágoa do
passado impediu o negócio e uma reaproximação. Este
encontro foi presenciado por seu genro José Costa Ribeiro.
Francisco das Chagas teve participação relevante na
Revolução de 1912 que depôs o Presidente do Estado do
Ceará, o Comendador Antônio Pinto Nogueira Acioly.
A batalha que ocorreu naquele janeiro de 1912 foi
descrita no prólogo desta obra.
Em 1914 outro episódio social e político contou com
o protagonismo do Major Chagas. Na “Sedição de
Juazeiro”, jagunços vieram por vários caminhos do sertão à
capital, agora para depor o aliado de Francisco, Franco
Rabelo. Passaram por Acarape trazendo grande terror, e a
“cabeça do Major posta a prêmio”, como consta no Jornal
A Época, de 04/03/1914:
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Amenidades Quotidianas
O óbito de Francisco
Os Filhos
Testamentos e Inventário
Semoventes:
20 burros avaliados em cinco contos de réis.
150 vacas avaliadas em quinze contos de réis.
100 novilhotes avaliados em seis contos de réis.
100 garrotes avaliados em quatro contos de réis.
Bem móvel:
Um trator Fordson, com arados e grades, já usados no
valor de quatro contos seiscentos setenta e nove mil réis.
(O automóvel Chevrolet 1928 deveria estar registrado no
nome de Maria Joanna pois não consta no inventário.
Inclusive o veículo era usado prioritariamente para levar a
família à missa aos domingos. Existe relato de que a
mudança da residência do Sítio Santa Fé para o Sítio Pau
Branco, foi algo que desagradou a Maria Joanna pela
grande distância até a Matriz. Pensa o autor que o veículo
foi um presente para compensar a tristeza a este incômodo.)
Aguardente:
25.000 canadas avaliadas em trinta contos de réis. (66.550
litros pela medida usada na época).
Epílogo
C
ompartilhados os fatos da vida de Francisco, sua
esposa e seus filhos, alguém poderia perguntar “e
não vais contar os erros, enganos e pecados destes
protagonistas?”
A pesquisa realizada para este breve relato não foi
profunda a ponto de exaurir todas as fontes documentais
sobre as vidas aqui relatadas. Antes esta obra busca
despertar em outros o desejo de ir além numa procura mais
abrangente sobre as vidas de Francisco e Maria Joanna.
Não foi encontrado nada publicado, nem se recebeu
relato de fatos contrários aos personagens. Existe a
possibilidade real de que notícias criticando Francisco das
Chagas sejam encontradas, principalmente propagadas por
seus opositores políticos.
Há muitos anos o autor ouviu uma crítica isolada
que acusava Major Chagas de ter construído seu patrimônio
de forma desonesta.
Hoje, à luz de tudo que foi coletado, o autor conclui
que aquela narrativa, de alguém que sequer era adulto
quando da morte de Francisco, não passava de uma falácia,
algo fruto de uma enfermidade moral que circunda a quem
prospera, a inveja dos demais!
O primeiro motivo para este pensamento é de cunho
familiar. Os reiterados testemunhos de José Costa Ribeiro à
Regina, sua filha, ao admirar a honestidade do sogro,
mesmo anos após sua morte são, aos olhos do autor, algo de
sólida credibilidade. José trabalhou ao lado do sogro na
gestão dos negócios durante vários anos.
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Referências
BARROSO, Francisco de Andrade. Os ANDRADES,
de Goiana-PE a Maranguape-CE. Disponível em
https://drive.google.com/file/d/15JcP8ZmCr6EpVmyXttS
4WNr_FRgz-Nin/view?usp=drivesdk
Fotos do acervo de
Maria Regina Chagas Costa Oliveira, gentilmente cedidas
por Adalberto Vieira Costa Filho, irmão do autor.
Fotos
gentilmente cedidas por Rita Maria Gonçalves,
descendente do casal.