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2? EDIÇÃO
FUNDAÇÃO
JOStAUGUSTO
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO
HISTÓRIA
DO
RIO GRANDE DO NORTE
BIBLIOTECA
UFRN/MCS
FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO
ACHIAMÉ
Natal
Rio de Janeiro
Edições Achiamé Ltda.
Rua da Lapa, 180, sobreloja
Tel.: 222-0222
20021 - Rio de Janeiro — RJ — Brasil
Editor
Rob soil Achiamé Fernandes
Coordenação Editonal____
Vicente de Percia
Gerente Comercial •
Jaques Jonis Netty'"
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO
HISTÓRIA
DO
RIO GRANDE DO NORTE
L. da C. C.
MENÉNDEZ Y PELAYO.
* ANTÔNIO FERREIRA
APRESENTAÇÃO
A “História do Rio Grande do Norte”, do grande mestre da cultura
brasileira Luís da Câmara Cascudo, foi inicialmente editada em 1955, com o
apoio do Governo Sylvio Pedroza. Somente agora é reeditada.
Esta é urna obra importante em duas dimensões: por seu valor intrín
seco, como obra histórica escrita com beleza literária; por ser a historia do
nosso Estado elaborada com amor e sensibilidade pelo mais notável homem
de Letras nascido no Rio Grande do Ñorte.
Bastaria o nome de Luís da Câmara Cascudo para tornar esta obra de
particular e relevante interesse não só para nós, norte-rio-grandenses, como
para todos os centros culturais do País. Acresce que se trata de uma pesquisa
sobre a história dest ? Estado com extraordinária base documental. Além dis
so, ainda mais a valoriza o estilo inventivo, inquieto, aliciante do mestre
Luís da Câmara Cascu o, um escritor com altitude científica e raro domínio
da criatividade literária.
Como é possível preservar não só a verdade como a objetividade das
informações, das análises, das abordagens científicas ou técnicas sem perder
o fascínio da expressão, da forma estilística? É um desafio que nem sequer
chega a configurar-se para mestre Cascudo. Ele consegue tratar de matérias
áridas com a mesma fluente e envolvente habilidade de um “contador de es
tórias”, dotado de dom encantatório da comunicação. Tudo se transforma
através de suas mãos em arte de dizer, em inteligência verbal, em imaginação
revitalizado.
A Fundação José Augusto sente-se muito feliz e honrada em realizar
esta reedição. Mais ainda por que esse fato ocorre no ano de comemoração
do centenário de nascimento do seu patrono - José Augusto Bezerra de Me
deiros.
A presente iniciativa é fruto de uma decisão pessoal do Governador
José Agripino, sempre receptivo às atividades culturais, de reeditar o livro
do mestre Câmara Cascudo, como contribuição, não só a nível intelectual
como também concreto e operativo, para o conhecimento do Estado e cons
trução do seu futuro.
Assinalo, por último, o apoio de Marcos Vilaça, Secretário de Cultura
do MEC, essencial à consecução deste projeto que representa, sem dúvida,
um importante resultado no esforço de preservação da memória cultural do
Rio Grande do Norte.
Natal, julho de 1984
L. da C. C.
PREFÁCIO-2? EDIÇÃO
Duas Histórias do Rio Grande do Norte foram publicadas nos começos
do século. Uma, de Tavares de Lyra, norte-riograndense dos mais ilustres,
ex-governador do Estado, mas cuja biiíhante carreira política se desenvolveu,
em maior parte, no plano federal, longe da tena natal. A obra, de 1921, re
vela o estudioso e o conhecedor dos nossos problemas de organização social,
econômicos e agrícolas, e sua evolução. Reedição recente (1982) deste tra
balho foi dada a público por iniciativa da Fundação José Augusto. A outra,
de Rocha Pombo, nome alto da historiografia nacional, na época, sobretudo
no campo didátibo, foi publicada em 1922, ano do centenário de nossa In
dependência.
A ninguém é lícito ignorar, porém, os amplos níveis de desenvolvimen
to dos estudos históricos e políticos no Brasil, a partir da década de 30-40.
As investigações de arquivos e documentos passaram a juntar-se às pesquisas
ditas de campo, abrindo novas perspectivas à redescoberta histórica do Bra
sil. Para citar um exemplo, lembre-se o livro “Casa Grande e Senzala” do
sociólogo Gilberto Freyre, definitivo na compreensão da história da forma
ção social do Nordeste, com refléxòsem todas as dimensões nacionais.
A terceira História do Rio Grande do Norte, neste século, é de autoria
de Luis da Câmara Cascudo (1955, Rio, Serviço de Documentação, Ministé
rio da Educação e Cultura), que tenho a honra de prefaciar, nesta 2? edição,
a convite da Fundação José Augusto (Natal). Já dera minha colaboração e
meu interesse, como Governador, pàra sua publicação, no ano citado acima,
quando terminava minha administração. Antes, aliás, como Prefeito de Na
tal, o estimulara a escrever e publicar a “História da Cidade do Natal”
( 1947) obra também agora em 2£ edição ( 1980).
Para a atual tarefa, com que fui distinguido, descarto os profundos
laços de carinho e admiração que me ligam ao Amigo e ao Mestre, para, mais
uma vez, fazer a justiça que a ele todos devemos. Sociólogo, etnólogo, fol-
clorista, antropólogo, ensaísta, historiador, professor, de renome nacional
e internacional — que podería eu dele dizer, num modesto prefácio, que já
não tenha sido proclamado? Autor de mais de uma centena de volumes, ver
sando temas daquelas áreas científicas, entre eles avultam como dos livros
mais expressivos da cultura nacional, o “Dicionário do Folclore Brasileiro”,
“Cultura e Civilização”, “Geografia dos Mitos Brasileiros”, “Literatura Oral
do Brasil”, “Folclore do Brasil”, “Canto de Muro”, “Meleagro”, indispensá
veis ao conhecimento das nossas raízes tradicionais. Por seu apego à terra
onde nunca deixou de viver, é que tanto o respeitamos e amamos, como
símbolo da memória viva de sua gente. Disso dá exemplo a série inumerável
de crônicas, sob o título “Acta Diurna”, publicadas na imprensa local, e que
o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte está reunindo no
“Livro das Velhas Figuras”, com cinco volumes já editados.
Américo de Oliveira Costa, que, em sua obra clássica “Viagem ao Uni
verso de Câmara Cascudo”, desvenda com detalhe a riqueza da personalida
de e a universalidade da obra do Mestre, afirma que na “História do Rio
Grande do Norte”, Cascudo “estabelece o processo de evolução social e po
lítica do território, afirmando-se, resistindo, avançando, desde os precários
organismos comunitários, desde as iniciais células de fixação, após as rudes
manhãs da conquista, da expulsão dos invasores, da colonização”. E Cascu
do inova ainda, quando divide o livro por assuntos, esgotados em cada capí
tulo, facilitando a pesquisa pela condensação dos aspectos relevantes de ca
da setor característico do Rio Grande do Norte.
Em relação às obras anteriores, existe uma diferença fundamental. En
quanto aquelas tem caráter principalmente expositivo, esta “História do
Rio Grande do Norte” não somente expõe, como analisa e interpreta fatos
e acontecimentos, transformando algumas de suas páginas em verdadeiros
contos, como os que relatam o episódio do Forte de Cunhaú, o Massacre de
Uruaçu e o Assassinato de André de Albuquerque Maranhão.
Ninguém conhecerá o Rio Grande do Norte sem percorrer estas pági
nas. Nelas palpitam os sonhos, as lutas e as realizações da gente potiguar.
/
' Na divisando Brasil em Capitanias coube o Rio Grande do
Norte no quinhão doado por D. João III a João de Barros, Feitor
da Casa de Mina e da India, com honras de Desembargador,
cronista, venerado pela severidade do caráter e gravidade austera
que era um elemento prestigioso de valimento j Recebeu cem léguas
começando da baía da Traição ( Acejutibiró, Acajutibiró, onde
há cajus azedos, segundo Teodoro Sampaio), limite norte da Dona-
taria de Itamaracá, pertencente a Pero Lopes de Sousa, até extrema,
indefinida, Angra dos Negros no rio Jaguáribe (Cruz Filho),
rio Jaguaribe (Cândido Mendes), rio Mandaú (Rocha Pombo),
cordilheira do Apodi (Matoso Maia). Para o centro a linde
seria a linha convencional do tratado de Tordesilhas, o que nunca
se cumpriu. Além dessas cem léguas teve João de Barros mais-
cinquenta, a contar do lote de 75 dadas a Fernão Alvares de
Andrade, tesoureiro mor do Reino, indo essa parte da Ponta dos
Mangues Verdes, cabo de Todos os Santos, até o rio Gurupi,
abra de Diogo Leite, no Maranhão. A doação associava-o a
Aires da Cunha, também beneficiado. As Capitanias eram caracte
rizadas pelas Cartas de Doação e o Forai. A carta de doação indi
cava limites, localizando a merçê real. O forai era a relação dos.
direitos e deveres do Capitão Mor. Perdeu-se a carta de doação
das cem léguas assim çomo o respectivo forai. Seria favor indi
vidualmente feito ao historiador das DÉCADAS, amigo do Rei
e de tanto vah'mento e fama na Corte que o conde de Castanheira
dizia ao soberano que ainda que furtar fora virtude, ele não o
fizera.
Conhecemos apenas o forai das cinqüientas léguas referentes*
ao Maranhão, assinado em Évora por D. João III a 11 de março
de 1535 em favor de João de Barros e outro, imediatamente a.
seguir, de igual teor dedicado a Aires da Cunha. O forai não
se refere às localizações e apenas regista obrigações e direitos
do donatário. Ignora-se, pois, ter João de Barros se associado a
Aires da Cunha para a exploração dos dois lotes ou simplesmente
para o do Maranhão, exclusivamente.
i
(II)
No mesmo ano do forai, 1535, João de Barros; Aires da
Cunha e Fernão Álvares de Andrade aliaram os recursos e inte
ressaram o Rei na conquista das 225 léguas brasileiras. Aires
da Cunha, soldado vitorioso na Índia, comandante de uma armada
que patrulhou as águas dos Açores, estava indicado para dirigir
a expedição. Os sócios, altos burocratas, eram incapazes dessas
andanças. João de Barros mandou os filhos, João e Jerónimo de
Barros. Fernão Álvares, um representante. Aires da Cunha supe
rintendería .
Partiram em novembro de 1535 com cinco naus e cinco cara
velas, novecentos homens e mais de cem cavalos. D. João III
emprestara artilharia, munições e armas retiradas do próprio Arse
nal Régio. Era a maior esquadra particular que zarpava do Tejo.
Impressionou o embaixador de Carlos V em Lisboa, Luís Sar
miento, que interrogou o Rei sobre os boatos correntes de ir à
armada tentar chegar ao Peru e não apenas à conquista de terras
no litoral norte do Brasil. D. João III negou mas Luís Sarmiento
continuou suspicaz, informando ao amo, desconfiadíssimo. Aires
da Cunha levava, como se deduz, desejos autorizados de encontrar
ouro e não se aplicava o aparato militar de uma simples expedição
de proprietários privados.
Em dezembro atingem a Pernambuco onde os recebe Duarte
Coelho, agasalhando-os, fornecendo-lhes intérpretes, guias para
o nordeste e mesmo uma frusta, embarcação chata e leve, movida
a remos, para aproximar-se da costa e verificar o recorte das praias.
Vamhagen arquitetou, somando e deduzindo sobre documen
tos da época, uma viagem que se tornou histórica mas está reduzida
a mera hipótese. De Pernambuco (não se sabe o ponto de
partida, Olinda ou Igaraçu), .Aires da Cunha, com 900 homens
em dez navios, veio bordejando pelo litoral, desprezando o Rio
Potengi (Rio Grande) e fundeando na foz do Rio Baquipe,
Rio Pequeno ou do Ceará-Mirim, menos de doze quilômetros
ao norte da futura cidade do Natal. Na embocadura do Ceará-
Mirim encontrou resistência tremenda por parte dos Potiguares,
ajudados pelos traficantes franceses. Inexplicavelmente, Aires da
Cunha recua e segue para o norte, deixando porção magnífica nas
terras de João de Barros. Tentam fortuna no quinhão de Fernão
Álvares de Andrade. Beirando as praias, recolheram uns náufra
gos de um galeão de dom Pedro de Mendoza, Fundador de
Buenos Aires, aventureiro espanhol que, enriquecido com o saque
de Roma, ousara conquistar o Rio da Prata a sua custa é risco.
Em que parte estavam os náufragos? Não há resposta. Os espa
nhóis contavam horrores dos Potiguares. A expedição continuou,
/
— 17 —
(III)
Empurrados do sul os franceses se fixaram no litoral norte-rio-
grandense, especialmente no estuário do rio Potengi, abrigador e
amplo. As relações com os Potiguares se tornaram amistosas
e fáceis, impossibilitando o comércio português regular. Estão
eles ao lado da indiada, auxiliando a repulsa armada às tentativas
dos filhos de João de Barros. Gabriel Soares de Sousa, no tratado
de 1587, indica a freqüiência dos navios franceses, carregando pau
brasil, logo depois do cabo de São Roque até a fronteira, então
na baía da Traição, Acejutibiró, Goaripari, Itapitanga, Ceará-Mi-
— 21
(IV)
D. Francisco de Souza, o sétimo Governador Geral do Brasil,
(1591-1602), decidiu a expulsão dos franceses e a construção
de um Forte, com a cidade que se erguería, marcando o avanço
português no norte. Cumpria as cartas régias de 9 de novembro
de 1596 e 15 de marçò de 1597.
Frei Vicente do Salvador natra o feito onde irmãos de
hábito participaram. Informa que .o Governador Geral era ape
lidado por Dom Francisco das Manhas, pela habilidade e ade
manes de cortezia, distantes da desonestidade que supunha,
erradamente, Varnhagen. Coube a Dom Francisco das Manhas
dispor a campanha colonizadora da Capitania, entregue aos tra
ficantes da França e à baixa cupidez depredadora dos contra
bandistas. Manuel de Mascarenhas Homem, capitão mor de Per
nambuco, e Feliciano Coelho, da Paraíba, receberam ordens,
estimulándo-os. Dom Francisco de Sousa aplicou o saldo dos
dízimos, os direitos da saída do açúcar e a siza dos escravos
vindos da África e mais doze mil cruzados, parte que tomara a uma
nau da carreira da índia, arribada à Bahia. Mascarenhas Homem
chegou a retirar 8.992$833 do cofre dos defuntos e ausentes,
depósito sagrado que teve depois que restituir judicialmente.
Feliciano Coelho arregimentava homens e comprava víveres. Os
colonos ricos ajudavam na esperança de mais uma região aberta
ao comércio. Houve um morador que doou dez mil cruzados.
Mobilizava-se um exército. Uma esquadra se reunia- para reinte
grar na posse jurídica de Portugal uma Capitania devastada
pelo corso infrene e pirataria contínua.
Sete navios e cinco caravelões velejaram para a Paraíba
tendo por capitão, mor Francisco de Barros Rego e Antônio da
Costa Valente por Almirante. Eram capitães dos navios João
Pais Barreto, Francisco Camelo, Pedro Lopes Camelo e Manuel
da Costa. Calheiros. Por terra, acompanhando Mascarenhas
Homem, iam três companhias de gente de pé, comandadas por
Jerónimo de Albuquerque, seu irmão Jorge e Antônio Leitão
Mirim. Manuel Leitão levava uma companhia de cavalaria. Os
jesuítas Gaspar de Samperes e Francisco Lemos, os franciscano?
— 23 z
(V)
O Forte era & conquista imóvel, padrão de posse como um
marco de pedra lioz numa praia deserta. Ao redor, escondidos
de trás dos morros, nas encostas das dunas, nos bosques de
cajueiros, ao longo das areias alvas, espreitavam os Potiguares,
esperando o conquistador descuidado ou afoito. O Forte, sem
irradiação, era um quisto. Legitimava apenas o desertão. Seria
sempre um presídio militar, quartel para soldados, gelado pela
¿ausência feminina, sem a grandeza de um povoamento. Estava
El-Rei mas faltava o Povo. Não havia uma mulher nem uma
criança. O Forte teria destino melhor e mais humano. Era uma
semente. Seu portão largo e severo anunciava a porta mural de
lima cidade futura.
Os três Reis do Oriente, acompanhadores da Estréia fulgu
rante, visitadores do Menino, faziam uma cidade consagrando-a
ao Dia do Natal. Havia o Forte. Faltava a Cidade.
Era indispensável a pacificação da massa indígena, insubmissa,
reatacando sempre, transformando a vida dos brancos num estado
permanente de inquietação bravia e áspera.
É a missão dos jesuítas, dos missionários. Gaspar de Sam
peres, Francisco Pinto, Francisco de Lemos fazem milagres de
persuasão, com as forças irresistíveis da paciência e da tenacidade
em serviço da Fé. Não sòmente a indiada que residia às margens
do Rio Potengi, chefiada pelo tuixaua Potiguaçu, o Camarão
Grande, mas as aldeias distantes na serra paraibana da Ca-
paoba (*) (Serra da Raiz), com os chefes Mar Grande (Parâ-
guaçu), possivelmente o mesmo Ipaunaçu, Ilha Grande, o valoroso
Pau Séco (Ibiratinin), o mais acatado mentor indígena, foram vi
sitadas e o padre* Francisco Pinto (segundo a «Carta» de Pero
Rodrigues, divulgada pelo Pe. Serafim Leite, S.J.) ou Gaspar
de Samperes (segundo Frei Vicente do Salvador) conseguiu a
perfeita* harmonização. Chefes indígenas rumaram à Paraíba
•onde, na presença de autoridades militares e administrativas,
Feliciano Coelho de Carvalho, Capitão Mor da Paraíba é seus
auxiliares, Manuel Mascarenhas Homem, de Pernambuco, e seu
sucessor, Alexandre de Moura, o capitão mor de Itamaracá, o
Ouvidor-Mor Geral Brás de Almçida, foram pactuadas as pazes
solenes, com pregões nas Capitanias vizinhas e permuta de
ofertas, no dia 11 de junho de 1599. Selava-se naquele ceri
monial o domínio regular de Portugal. A solidariedade indígena
possibilitaria a conquista e expansão incessante.
(*) Os resultados da catequese jesuítica em Serra do Copaoba foram
definitivos para a colonização. Copaoba vale Iperoig para o Rio Grande
do Norte.
— 27 —
(VI)
Construído o Forte. Pacificado o indígena. Funda-se a
Cidàde tal qual mandara dom Francisco de Souza .
Numa carta de 19 de Maio de 1599 ao padre Pero Rodrigues,
informava o padre Francisco Pinto, Pai Pinto que os Tocarijus
matariam no Ceará nove anos depois, que os Jesuítas iriam fazer
uma boa residência na nova cidade, que agora se háde fundar,
obra de meia légua do Forte do Rio Grande.
Frei Vicente do Salvador ensina : “Feitas as pazes com os
Potiguares, como fica dito, se começou logo a fazer uma povoação
no Rio Grande uma légua do Forte, a que chamam CIDADE DOS
REIS, a qual governa também o Capitão do Forte, que El-Rei cos
tuma mandar cada três anos.*’ Cidade dos Reis e não Natal.
Frei Vicente escreveu sua “História do Brasil” terminando-a em
1627, com tempo para retificar o engano. Deixou ficar. Como
Cidade dos Reis aparece no mapa do LIVRO QUE DA REZÃO
DE ESTADO DO BRASIL, inédito de 1612, embora denomine
Rio Puttigi e escreva Barra do Rio Grande na foz do mesmo.
Essa Cidade dos Reis viveu séculos, registada nas cartas
geográficas. O mapa de Javier, 1782, n.° 49 da cõleção Rio
Branco, indica Natal los Reyes, que um outro, de Robert de
Vaugondy, corrige par Lamandre, an. III de la Republique Fran~
çaise, complicou para Natal los Reys ou Rio Grande. No mapa de
Marcgrave, que Barléu divulgou em 1647 (o mapa é de 1643) está
'fielmente NATAL mas o esboço incluído no^ ANAIS de Joanes
de Laet refere apenas het Dorp vands Portugefen, a aldeia dos
Portugueses. Derredor d- houve o primitivo aldea-
— 28 —
O PORTO DE BÚZIOS
O Porto dos Búzios, Ponta dos Búzios, praia abandonada, foi muito
citada nos documentos da primeira metade do séc. XVI pela abundância
de búzios que eram procurados, valendo dinheiro' para permutas comerciais
(Artur Nehl Neiva, PROVENIENCIA DAS PRIMEIRAS LEVAS DE
ESCRAVOS AFRICANOS, Anais do IV Congresso de História Nacional,
vol. IV, Rio de Janeiro, 1950). Na Índia, China, levados para Africa pelos
traficantes * árabes, o Cunraea moneta, Linneu (moneta, moeda) valia.
o correi do
mis
le gimbo aplicada ao dinheiro em moeda. Jimbó ou zimbo divulgou-se facil
mente entre os comerciantes portugueses na Africa. No Brasil há outras
espécies, não sendo encontrada a Cypraea moneta e sim a exanthema, João
de Barros, o nosso Donatário, em março de 1564 obtinha do Rei autorização
para mandar buscar da índia trezentos quintais de búzios. Indígenas usavam
o búzio como ornamento precioso e para troca. Stradelli conta o ciúme dos
indígenas amazonenses pelos sens colares de conchas, recusando a permuta
com espingardas de dois canos e munição. Na Bahia cita-se uma Praia do
Zimbo ao norte de Itapoã. A nosseç praia e antes Porto dos Búzios era lugar
de colheita. João de Barros arrendava-o por quinhentos cruzados e dava
autorização difícil. Recebia mesmo, pela mão do seu procurador Antônio
Pinheiro, residente em Igaraçu, os búzios como pagamento das anuidades
do arrendamento jou da licença para ir apanhá-los. Já não os encontrei
quando visitei a deserta praia dos Búzios.
(II)
Os indígenas rodeavam o pequeno núcleo do Forte dos Reis
Magos. Corriam nas margens dos rios, afundando para o sertão,
oeste e norte, ao sul pelos vales, infletindo para as abas das serras,
especialmente a da Copaoba (Serra da Raiz), viveiro de acam-
pamentos tupis. Ardiam os fogos de 164 fogueiras quando do
momento da conquista. A «Relação das Cousas do Rio Grande»
(1607) calcula pessimistamente seis mil almas. Era a massa
conhecida pelo jesuíta, registador. Para o sertão bruto, insabido,
ainda, viviam milhares de indígenas ignorados. Eram doutra
raça, idioma e costumes, entrando para a História pela violência
e pelo sacrifício.
Em três séculos toda essa gente desapareceu. Nenhum centro,
resistiu, na paz, às tentações daguardente, às moléstias contagio
sas, às brutalidades rapiñantes do conquistador. Reduzidos, foram
sumindo, misteriosamente, como sentindo que a hora passara ze
ëles eram estrangeiros na terra própria. Guardados pelos jesuítas,
terésios e carmelitas, ainda viveram, ritmados, trabalhando, ca
sando, cantando suas cantigas e bailando seus bailos intermináveis.
A “liberdade” do Marquês de Pombal matou-os como um ve
neno. Dispersou-os, esmagou-os, anulou-os. Quando algum fa
zendeiro rico atinava com a excelência das terras possuídas pela
indiada, descobria um processo de .evidenciar a conveniência de
uma mudança para o grupo. O Ouvidor concordava e a multidão
dos casais era tocada, como um rebanho, para fora. Ia uma auto
ridade guiando a manada. Escolhida outra paragem. Dava-se
nome. Chantava-se Pelourinho. Lavrava-se uma ata. Três vivas
a El-Rei Nosso Senhor. Os indígenas estavam vilados. Outro
fazendeiro começava a achar o terreno magnífico. E ia tomando,
devagar. Essa foi a história dos bárbaros. História que qualquer
catequista, religioso ou leigo, sabe quanto é viva e humaníssima.
Quem vê os registos paroquiais do século XVIII constata
a procissão ininterrupta dos óbitos de caboclos, de índios, quase
todos meio plantadores, meio mendigos, désajudados, desajustados
e caminhando para o aniquilamento final.
O Rio Grande do Norte lembra seus ancestrais aborígenes,
Paiacus, Paiins, Monxorós, Pegas, Caborés, Icozinhos, Panatis,
Arius ou Áreas e Janduís, de truculenta memória, além dos Poti
guares clássicos, comedores de camarão, dominadores do Rio onde
a Capital se plantou.
Eram apenas duas raças. Potiguares eram Tupis. Todos
os demais eram Cariris, apelido dado pelo inimigo tupi, kiriri, o
calado, o silencioso, o taciturno. Éram Cariris com vários tipos,
cor e formação, homens mais altos que os Potiguares, fortes,
impulsivos, com pequena agricultura e cerâmica rudimentar, dor
mindo em redes de algodão e fibras, com apreciável organização
social e militar. Marcgrav salvou, divulgando no seu cronicão
ao governo de Nassau, uma larga informação do judeu Jacó Rabi
e Roulox Baro publicou as impressões de sua estada junto aos
— 39 —
tinha 700. S. José, uns 500. Vila Flor dava 140 fogos. Goianinha
não possuia mais dc 400, todos decadentes, exaustos, descuidados,
desenganados, apáticos. Mesmo assim, num arrolamento que o
Dr. João Paulo de Miranda, Chefe de Polícia, procedeu em 1844,
os indígenas comparecem com 6.795. Depois de 1850 rareiam as
informações e as referências são realmente aos mestiços.
O mestiço do branco e indígena deu a maior porcentagem de
vaqueiros. O do indígena e negro ficou pequeno plantador de
toçaria. Nenhum sobressaiu. Como a porcentagem mais sensível,
para o interior, era o cariri, o indígena de pouca fala, silencioso,
tenaz, cheio de pundonor, de orgulho rancoroso, herdou-lhe o
sertanejo algumas dessas virtudes, de mistura com o sangue por
tuguês, na multidão dos traços psicológicos. Os do litoral tiveram
boa parte do tupi, alegre, dançador, cantador, pescador, preguiçoso,
arrebatado, imprevidente, comendo e bebendo numa festa o tra
balho de dois meses.
(HI)
Na primeira sesmaria concedida no Rio Grande do Norte,
Natal, 9 de Janeiro de 1600, a João Rodrigues Colaço, alega o
peticionário que comprara escravos da Guiné, era a primeira pessoa
que começou a roçar e a fazer benfeitorias no Rio Grande, etc. A
conquista datava de dois anos. Como não tivemos a indústria
açucareira e as atividades se resumiam na criação de gado e
roçarias de mandioca, milho e feijão, era desnecessária grande
cópia de escravos.
O indígena não fora escravizado senão temporariamente.
Vivíamos perto da fiscalização real, imediata e efetiva, ordenando
a libertação dos casais quando aprisionados em guerra injusta.
O negro foi-nos uma constante ínas não uma determinante econô
mica.
Não tivemos quilombos nem rebeliões negras. Nem há do
cumento indicando adesão do escravo africano ao holandês, grande
importador, e vendedor de peças. Ainda vemos o amplo mercado
humano na Rua dos Judeus, rua dos Mercadores, no Recife, numa
gravura de Zacarias. Wagner.
Os escravos mandados para o sertão transformaram-se em
vaqueiros, cantadores aclamados, padrinhos de ioiôs e derrubador
de touros. Èstabelecia-se uma identidade social pela uniformidade
das tarefas, iguais para todos, escravos e amos. Nos canaviais,
terras de café,diamanteiras e garimpos, o negro virava animal
de carga. No sertão jamais foram numerosos pela própria sim
plicidade do trabalho de pastoricia.
45 —
(IV)
O português fica em Natal no ano de 1597. Até 1609 há
duas mulheres brancas apenas. Uma era casada com João Rodri
gues Colaço, Capitão Mor do Forte dos Reis Magos. A outra
casou com um degredado pelo Bispo de Leiria que lhe dissera,
profético : — «Vá degredado por três anos para o Brasil, donde
voltará rico e honrado». O homem enriqueceu e se casou com
uma mulher que também viera do Reino, por dote algum que lhe
dessem com ela, senão por não haver ali outra, informa Frei
Vicente do Salvador.
Em 1607 Natal possuía vinte e cinco moradores e terca de
oitenta nos arredores, caçando, pescando, plantando roças, ajuda
dos pelos escravos negros e agregados indígenas. Em 1630 o
brabantino Adriano Verdonck visitou, espionando para os Holan
deses, a Capitania e fala em 120 a 130 moradores, campônios
em sua maioria rústicos.
O domínio holandês teve influência étnica bem de escassa
importância. A explicação dos olhos azuis e cabelos louros como
persistência do tipo batavo no sertão (que eles ignoraram) é
apenas esquecimento do observador aos variadíssimos braquicé-
falos e dólicocéfalos louros, olhos azuis, comuns na região por
tuguesa do Entre Douro e Minho e nas Beiras, fontes irradiantes
para o Brasil, especialmente para o Norte. Nessa zona ficaram
celtas e godos e déles decorre o elemento encontradiço no nosso
interior.
Para manter a Capitania fiel a Geoctroyerd Westindische
Companie os holandeses, não encontrando apoio na população
branca, lançaram mão ao indígena cariri e esse, o Janduí, espa
lhou a morte com expressão disciplinar. As matanças de Ferreiro
Torto, Cunhaú, Uruaçu servem de índice. A Capitania, com a
guerra, ficou devastada. Sua população pereceu em mais de 60%.
Com a reconquista houve um movimento de repovoamento, vindo
moradores de Pernambuco tentar a vida, lenta, muito lenta
mente. A guerra contra a rebelião indígena foi outra marcha
à ré. Sabemos que as margens do Açu e Upanema estavam
sendo conhecidas. Depois, de 1699 em diante, é que novo
sangue apareceu, reacendendo os fogos caseiros e replantando
— 49 —
(V)
Os vários cómputos censitários mostrarão a marcha ascen
cional da massa demográfica.
1805:- 49.250. (Mapa da População, etc., em 31-12-1805. Ori
ginal na mapoteca do Ministério do Exterior).
1808:- 50.000. (Memória Estatística do Império, Rev. do Ins.
Hist. Bras, LUI).
1823:- 71.053. (Idem)
1835:- 87.931. (Secretaria da Província).
1844:-149.072. (Dr. João Paulo de Miranda, Chefe de Polí*
cia).
— 51 —
(VI)
Colonizado pelo litoral, do sul para o norte, em 1614, pelo
44Auto de Repartição das Terras” verificamos que a rareada po
pulação possuía extensões sem um único sinal de posse. Numa
faixa de seis a oito léguas de profundidade, paralela à costa,
seguíamos até a fronteira da Paraíba. Para ao sul quase nada,
embora as salinas de Macau já tivessem dono mas continuassem
inexploradas. Para o interior alcançávamos Taipu. A conquista
holandesa não modificou a expansão geográfica e antes a restringiu.
O mapa de Marcgrav, índice do conhecimento topográfico do
flamengo, chega a.Itinga. Utinga, uns trinta quilômetros de Natal
(7). O holandês ignorou completamente o sertão. Pelas marinhas,
arriscou-se ao longo das praias, carregando sah até cinco ou
poucas léguas mais na zona de Areia Branca, Mossoró, Macau.
Nada mais. Há a correspondência de Gedeon Morris de Jonge,
(7), elucidativa para desenganar imaginações simpáticas a um
holandês bandeirante.
Depois de 1654, com a administração de Antônio Vaz Gon-
dim, inicia-sc a lenta e medrosa penetração, com pequenas boiadas,
estirando-se o tênue listrão das roçarias. Atingem ao Açu e ri
beira do Upanema^ Outra corrente nos vinha do Jaguaribe, para
os plainos mossoroenses, espraiando para a chapada do Apodi e
vales cobertos de carnaúbais, terras frescas e ubérrimas. Os indí
genas, que também simpatizavam com essas maravilhas, reagiram,
— 52
NOTAS E ÁDENPAS
(II)
A capelinhainicial da vida cristã fora naturalmente subs
tituída pela Igreja, maior, mais cômoda, mas também de taipa.
Em 1614 os editais do processo para a repartição das terras não
foram pregados às portas da Matriz por esta não possui-las. Em
1619 terminaram as obras. Os holandeses destruiram a Matriz.
— 60 —
dH)
O Forte era um recinto murado, com ligeiras obras defen
sivas. Recõnsíruiram-no seguidamente. Em 1607 não tinha 18
palmos de altura nem parapeitos e seteiras. O armamento cons
tava de 9 peças de bronze, de 18, e 17 de ferro coado, fácilmente
deterioráveis pela umidade. Em 1630 Adriano Verdonck encon
tra-o pronto, o melhor que existe em toda a costa do Brasil, arma
do Cóm 11 canhões de bronze, meia coronada, muitas columbrinas,
de alcance superior aos canhões comuns da época, de 12 a 18
canhões de ferro, já inúteis pela ferrugem. Havia, na portada,
espreitando, duas boas peças. As muralhas iam de nove a dez
palmos de espessura e eram dobradas, tendo o interior tomado
a barro. Possuia uma guarnição de 50 a 60 homens. No mapa
que ilustra o LIVRO QtIE DA RAZÃO DE ESTADO DO
BRASIL nota-se a ausência da Capelinha, dedicada aos Santos
(
Reis, Belchior, Gaspar e Baltazar. Em 1633 já. existia e os holan
deses a aproveitaram assim como, o Forte, sedé de governo mi
litar vinte e um anos.
(IV)
Em 20 de junho de 1625 ancorava na baía da Traição a
grande esquadra de Edam Boudewinj Hendrikszoon que chegara
tarde para salvar o domínio holandês na Cidade do Salvador.
Velejara para o norte, com as suas naus fervendo de escorbuto,
tripulações exasperadas pelo malógro que lhes retirava a espe
rança do saque. Lançando ferro, o almirante flamengo mandou
desembarcar e construir alojamentos para os enfermos. Indígenas
de toda a parte surgiam, vendendo, comprando, assombrados com
tanta flámula, bandeira e gente armada. O almirante decidiu
mandar uma patrulha observar o país. Escolheu o capitão Uzeel
Johannes de Laet, HISTÓRIA OU ANAIS DOS FEITOS DA
COMPANHIA PRIVILEGIADA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS
(trad, de José Higino Duarte Pereira e Pedro Souto Maior, Rio
— 61 —
i
— 65 —
(V)
A GEOCTROYERD WESTINDISCHE COMPANIE,
Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais, não compreendeu
que uma vitória não é elemento exclusivo para* legitimar um
• domínio. Os algarismos nos livros-mestres de Amsterdam eram
mais dóceis que os homens nas terras do nordeste brasileiro. A
história da Companhia possui brilho, noutras paragens. O govêrno
Í
r
de Nassau foi um esplendor na região pernambucana. O Rio
Grande do Norte só conheceu violência, extorsão, vilipêndio, rapi-
nagem. Os nomes holandeses passam em nossa crônica como
manchas de sangue vivo. Para nós foram exclusivamente os inva
sores, os vitoriosos pela fôrça. Tudo quando Nassau deixoii no
Ir’ " Rio Grande foi um brasão d’armas, uma ema simbolizando a dedi-
cação dos Janduis, os matadores brutos de Cunhaú e Uruaçu.
Dois dias depois de tomado o Forte mandavam uma patrulha
66 —
ADENDOS
• \ .
NOTAS AO CAPITULO TERCEIRO
Pode ser que exista algüm relatório do chefe holandês de Natal infor
mando ao Supremo Conselho do Recife a marcha dos trabalhos em Estremoz.
Se existe, continua inédito.
É o que há sôbre a tradição do trabalho holandês na lagoa de Estremoz.
.. dizia ter encontrado no Forte dos Reis Magos a bôca do subterrâneo pos
sivelmente conduzindo a guarnição para longe. Ninguém sabe a história desses
alicerces que Joaquim Marttiel deparou em 1893 no Belo-Mo:^e, nas confron
tações do lugar onde Maregrav dissera existir o misterioso N. S. DO MONTE.
O jovem Emanuel Cavalcanti anunciou-me duas outras construções inexpli
cáveis e muito conhecidas pelos pescadores e habitantes aó redor de Pirangi
do Norte e Pirangi do Sul.
Entre Ponta dos Currais e Rio Doce há um trecho sem coqueiros e caracte
rizado pelas dunas de areia alva e frouxa. No cimo duma dessas elevações,
avistando-se a Ponta de Tabatinga e de Cum/urupim, três léquas distantes, há
um quadrilátero de terra socada e dura, bem aplainado, visivelmente destinado
a sustentar um edifício. Perto corre o Rio Doce, cristalino e transparente.
O lugar é de alcance estratégico e dizem que ali o flamengo ia levantar um
Fortim. Ali mesmo um morador de Pirangi, apelidado «Seu Pulga», sonhou
com uma mina de dinheiro.
Perto de Pirangi do Norte, uns dois quilômetros para o interior, há ruínas
misteriosas de uma construção sólida, atarracada, paredões de pedra, tendo
ainda visíveis os repartimentos, numa altura de dois metros do nível do
solo. Êsse edifício começado com tanta robustez está, há tempos, fornecendo
material de construção para muita gente dos arredores. Dentro em breve
nada mais restará facilitando um exame ou simples verificação do seu conjunto
arquitetônico. É obra do holandês, dizem todos. Foi outra descoberta do
Sr. Emanuel Cavalcanti.
Para aumentar o encanto há, na confrontação marítima, 111113' ponta deno
minada PONTA FLAMENGA, yizinha à povoação de Pirangi do Norte
na pancada do mar. Por que apareceu tal nome? Qual a história gae
o justifica ? Não se sabe...
Haverá nas vizinhanças da Cidade do Natal outra ruína que seja pelo
povo apontada como restos de um Fortim holandês ?
Não me consta...
O MASSACRE DE URUAÇU
O EPISÓDIO DE JAGUARARÍ
por isso ao capitão Gouveia que o mandasse deitar pela muralha para a
banda do mar. Fêz-se em um pau» para que pudesse sair para a banda
do sul, que era da Paraíba; e tirando-se-lhes os ferros, o deitaram mais para
afogar-se do que para chegar em terra. Porém pôde chegar até uma légua;
e encaminhando-se à primeira aldeia de índios, deu-se-lhe a conhecer, e
falou-lhes pouco mais ou menos desta forma:
— «Aqui me vedes nu, e com os sinais ainda frescos dos ferros que oito
anos suportei, por ter comunicado com os Holandeses na baía da Traição,
po intento de tirar minha mulher e filho que lá estavam. Havendo-me vencido
pmor não me valeu ter provado bem minha fidelidade, nos muitos anos
que servi ao rei, e particularmente na conquista, do Maranhão, com muita
gente mais» quando Jerónimo de Albuquerque o ganhou dos Franceses. Da
quela prisão me soltaram agora, por estarem os Holandeses sôbre o forte
do Rio Grande, que, a uão ser isto, bem receiava eu morrer nos ferros.
Porém nada há de ser bastante para manchar núnha antiga fidelidade com
a qual sempre servi e servirei ao meu rei. Portanto, rogo-vos que vos sirva
de exemplo e não de escândalo, o tratamento que sofri; porque se o forte
le perder, advirto-vos que tódos vos retireis com vossas famílias para onde
fros fôr ordenado pelos capitães del-rei, para que nunca venhais a cair no
/roder do inimigo. Escusareis assim a ver-vos em uma infame servidão. E
Be o nosso forte se defender, daqui o iremos socorrer com o que nos fôr
possível. Entenda finalmente cada um de vós que se qualquer faltar à obri
gação de bom e leal vassalo do nosso, eu lhe servirei de verdugo.
Assim falou e obraram tanto estas palavras, não só para com os índios
daquela aldeia, como para os das outras que ali havia, que todos as aban
donaram apenas souberam que o inimigo estava de posse do forte. Êste
índio Simão Sores, em tôdas as ocasiões que depois houve, acompanhou seu
sobrinho Antônio Felipe Camarão até que foi preciso retirar-se à Baía. Sua
Majestade lhe fêz mercê de 750 reais de soldo, com cláusula de que por sua
morte passariam à sua mulher e filho’» (133-134 da edição do Recife,
Pernambuco, 1944).
Roberto Southey, HISTÓRIA DO BRASIL, II.°, 253-254, elogiou a
fidelidade d'um cacique e outros historiadores tornaram o episódio popular,
pôsto em prosa e verso e útil nas perorações eloqüentes e patrióticas. No
DIÁRIO DA EXPEDIÇÃO, de origem holandesa, traduzido por Alfredo de
Carvalho (RIHGRGN, IV, n.° 2, 187-8) menciona-se o encontro, na ocasião
da posse do Reis Magos, de caído por terra um brasiliense todo coberto de
sangue, encontrado ao pé da muralha no lado do oeste. Estava morto. O au
tor adianta: — O brasiliense que encontramos morto ao pé da muralha sou
bemos ser o chefe duma aldeia dos mesmos, e que hau ia muito tempo estava
prêso por se suspeitar que era inclinado aos holandeses. Os portuguêses cer
tos de que, após a entrega do forte, êle se passaria para o nosso lado, o estran-
guiaram e lançaram por cima da muralha. Trata-se visivelmente de Jaguarari.
Não é crível que dessem liberdade a um chefe indígena prêso há tantos anos
por suspeitas de simpatia ao holandês e no momento em que êste cercava ê
estava na eminência de tornar-se senhor do Forte. Lógicamente o indígena
seria um dos auxiliares preciosos do inimigo, com justas e naturais razões
humanas, dada a violência da injustiça sofrida. Feriram-no e atiraram-no para
fora do Forte na suposição de que estivesse morto ou agonizante. Jaguarari
sobreviveu, resistindo ainda a essa prova, e cumpriu, em grau heróico, seu
fidelismo. Pode ser «estória» criada para animar os indígenas mas há a
mercê do Rei, dos 750 reais, o que credencia a historicidade do feito.
CAPITULÓ IV
( I ) Reconstrução da Capitania e .sua expansão territorial.
(II) Guerra dos “Bárbaros”-. (Ill) Aldeamentos in
dígenas.
ADENDO AO CAPÍTULO QUARTO
(H)
Denominam essa rebelião GUERRAS DOS BÁRBAROS,
e outros románticamente, CONFEDERAÇÃO DOS CARIRIS,
lembrando a dos Tamoios, que sempre ignoraram essas compli
cações civilizadas para finalidades idênticas. Não houve plano
comum nem unidade de chefia. As tribos combateram aliadas ou
isoladas. Outras regiões estavam quietas, acordando para a morte
quando o fogo se apagava onde começara. Muita confusão.
Muita luta. Muito mistério. É urna campanha que dura de 1687
a 1697, com intensidade, e de menor fulgor predatório até 1700.
É a maior que o Brasil conheceu em todos os tempos. Mobilizou
gente de tôda a parte. Vieram homens de São Paulo e do São
Francisco, soldados veteranos e bandeirantes afoitos, amalgamados
pela coragem e pelo interêsse. Várias vêzes a sorte da Capitania
perigo.i. Pensou-se num êxodo. Os Cariris fizeram muito mais do
que o ornamental Cunhanbebe com seu colar de dentes humanos,
dando três voltas no pescoço. Verdade é que faltou José de
Anchieta. E havia, disfarçadamente, quem atiçasse a coivara não
a deixando de todo extinguir-se.
Os indígenas do interior estavam sendo empurrados pelos
criadores de gado no incessante avanço dos currais. Na falta
da escravaria negra todos sonhavam escrávos indígenas, obtidos
nas “gueiras justas”. O indígena salteava o gado, para êle simples
peça de boa caça. O rio Açu abrigava dezenas e dezenas de
barcos de pesca de Pernambuco, e doutras Capitanias, com comu
nicação írêqüente e comércio com a indiada, inclusive venda de
armas de fogo. A fôrça militar na Cidade do Natal era irrisória.
Quinze soldados vinham de Pernambuco mas comuwiente deser
tavam e ficava o Forte, às vêzes, sem um único militar, abando
nado, inútil. Canhões ferrugentós, pólvora velha, balas do tempo
; dos holandeses. O regime era da papelada intensa, correspon-
dência entré o Capitão-Mor do Rio Grande, Senado da Câmara,
Capitão General de Pernambuco, sempre a favor do contra em
tôdas as pretensões do Rio Grande, cartas do Rei, trocas de pe*
< didos, consultas, reclamações incessantes »abundantes e sem, na
maior parte das vêzes, solução alguma. Os canais competentes,
já naquele tempo, estavam obstruídos pela displicência, indife
rença, descaso, ignorância, os pecados do desinterêsse que a dis
tância multiplica.
97 —
(HI)
Quando voltou a paz ao interior do Rio Grande do Norte e
a massa indígena, reduzida ao mínimo, deixara de constituir uma
ameaça geral e apenas um perigo local e conjurável, verificou-se
que a Capitania ficara conhecida e trilhada, do sertão, ao litoral,
das fronteiras paraibanas ao Ceará, para cima e para baixo, nas
marchas e contramarchas da guerra sem quartel.
Em março de 1695 o Senado da Câmara de Natal informava
ao Capitão-Mor que as terras da Capitania estavam tôdas doadas.
A doação não era sinônimo de povoamento. Sesmeiros da Bahia,
do S. Francisco, de Pernambuco tinham terras de vinte e trinta
léguas, incultas e desaproveitadas. Era apenas a fome da terra.
O Rei ordenava (carta régia de 18 de agôsto de 1697) que os
donatários fossem convidados por editais para povoá-las, medi-las
e demarcá-las dentro do prazo de um ano e se assim não o cum
prissem, fôssem as terras repartidas pelos moradores das mesmas
Capitanias. A.carta régia de 7 de dezembro de 1698 autoriza a
concessão de sesmarias até três léguas de longo por uma de
largo. Quem as tivesse de maior extensão e as povoasse estaria
com seu direito garantido. Essas cartas régias e o cuidado do
Governador Geral em cumpri-las com uma colaboração solícita
dos Capitães-Mores, ansiosos pela redivisão de terrenos perten
centes a donos que nunca atendiam aos pedidos de benfeitorias,
determinou um movimento vivo de posse, de valorização, de pro
cura dos melhores pontos da Capitania, coincidindo com o final
da revolta dos indígenas.
Os jesuítas que estavam em Guaraíras e Guagiru, isto é,
Arez e Estremoz, com indígenas aldeados, inclusive Janduís,
fundam a aldeia de São João Batista do Apodi a 10 de Janeiro
de 1700 (Serafim Leite. S.J. HISTÓRIA DA COMPANHIA
DE JES CIS NO BRASIL, V. 539) com os Paiacus, ferozes e
atrevidos e velhos adversários dos Janduís. E ficam, numa tei
mosia apostólica, indo até o martírio do jesuíta Bonifácio Tei
xeira, até 1712.
Os aldeamentos significam trabalho organizado e defesa con
tra a avidez do lavrador. Guagiru (Jesuítas), Apodi (Jesuítas até
— 101 —
ADENDOS
elnstmção e Memorial que cm nome desta Câmara e Povo pedir requerer
o Capitão Gonçalo da Costa Faleiro, c^mo procurador desta Capitania aos
Reais pés de S. Majestade, que Deus gparde, e nos seus tribunais e donde
tocar o requerimento. Representará o levantamento de todo êste gentio o
¿-rsn.jp poder que uniram e as mortes que fizeram em mais de duzentos homens
e em perto de trinta mil cabeças de gado grosso e mais de mil cavalgaduras
» as ruínas dos mantimentos e lavouras úara que S. Majestade ordene ao
Governador Geral e os mais desta bapitaqia não faltem com os socorros a
esta, ordenando ao Mestre de Carneo dos paulistas e ao Governador dos
Índios de Pernambuco e ao Governador dos pretos de Henrique Dias assis
tam no dito sertão e dêle se não retirem até com efeito se destruir e arruinar
toco o gentio, ficando êstes sertões livres parà colonizadores, por ser esta casta
de gente mais conveniente para aquela assistência por ser mais ligeira, e
continuada, acelerar a aspereza dos montes e capaz de seguir o gentio pelo
centro dos sertões e fazem menos despesa à Real fazenda.
«Fará presente a miséria e pobreza em que ficaram êstes moradores
na falta de seus gados, e escravos mortos pelo gentio, pedindo a S. Majestade
seja servido mandar-lhes satisfazer todo o gado que se lhes tomou para sus
tento da infantaria, como ordenanças, índios e pretos, do pouco que lhes
escapou, ordenando se satisfaça da Real fazenda por ser gasto com a gente
que assiste fronteira ao sertão, e com as tropas que têm entrado nêle após
do gentio cuja despesa se fêz por ordem do Governador Geral, advertindo
por carta sua que se haverá de pagar da Real fazenda das mais Capitanias,
isentando esta de tôda contribrjção, pela miséria e pobreza, em* que a con
sideram e até agora se não fêz. esta satisfação cuja carta será presente a
S. Majestade com esta.
«Pedirá a S. Majestade mande para seu serviço presidiar esta fortaleza
ao menos com trinta soldados tirados dos Terços de Pernambuco, de onde
sejam pagos enquanto a sua Real fazenda nesta Capitania não chegar para
esta despesa, por que de presente está tão atenuada que se rematou o
contrato dos dízimos êste ano em trezentos e quarenta mil réis, sendo que
rbegavam a novecentos antes da ruína que causou o gentio com que não
¿eça mais que quando muito para a metade da despesa da folha anual que
v*rc da Provedoria-mor, e importa seiscentos e tantos mil réis.
<£stes soldados costumam mandar de Pernambuco até quinze e se mudam
raes ano, porém é certo que não sendo cá efetivos desobedecem a quem go-
e fogem logo e fica, a fortaleza com dois até três e às vêzes sem
nerñrcc como muitas vêzes tem acontecido, e isto se evitará com serem
-anos para êste presídio, e terem cá a sua matrícula, donde por castigo
« óê caixa no que fugir e se matricule outro em seu lugar e desta sorte
per não perderem o que tem servido não fugirão, .e servirão a S. Majestade
ir-er, e quando se não . tiverem dos Terços de Pernambuco, se poderão
levamzr de novo, contanto que de Pernambuco sejam socorridos enquanto cá
são r rever efeitos finalizada que seja a guerra do gentio com o castigo
qoe se Lee tem dado e, não dando, convém presidiar um pôsto naquela parte
— 102 —
que chamam o Açu fazendo-se umà fortificação no lugar qué parecer mais
conveniente em que estejam ao menos trinta homens com quatro peças de
campanha á Cuja sombra estejam seguros os moradores que naqueles campos
criam seus gados e se fêcòlhâm os que vivam distantes, e sendo esta forti
ficação na ribeira de um rio navegável quê é ó mesmo Açu e em pouca
distância da praia, pódem também dar calor ás grandes pescarias que nelas
em alguns mesès do anõ se vãò fazer dé Pernambuco, e de mais ,Capitanias,
e por conseguinte pode evitar que o gentio bárbaro não comercie com òs
piratas do norte que muitas vêzes postam naquelas enséadas e se còmuriicáin
com o gentio fomentándonos para os levantamentos. œ
«Nos limites desta Capitania se tem descoberto mais de trezentas léguas
de terra pela Costa do mar, e para o sèrtão tôdas estas mais capazes para
criar gados e fazer outras muitas lavouras, tôdas estão dadas a quem as
quiser pedir dás mais capitanias e desta; e há sujeito que possui vinte e
trinta léguas, sem ter cabedal para as povoar e alguns moradores desta
capitania estão sem ter nenhuma, e demais disto, na uöiä. grande confusão liai
demarcações e domínios, de que resultam dúvidas nesses sertões, donde por
estar distante o govêrno e justiça se averiguam as; £>elouradas; e tem por
esta causa procedida muitas mortes, que S. Majestade por serviço de DèíiS
dève evitar, mandando qúe o Ouvidor Geral destas capitanias è ministro cjuè
fôr servido tome conhecimento desta matéria, vendo as terras que há e re
partindo-as respectivamente pelas pessoas desta capitania que têm servido a
S. Majestade com tanto desvelo, a sua custa, em tôda esta guerra dó gentio
bárbáro e está átualmênte suprindo com suas fazendas, tirâhdo-se das pes
soas que das mais capitanias as têm pedido, pois parece razão que a .maior
parte desta à esteja defendendo, derramando sangue , e continuamente com as
armas na mão, havendo muitos que perderam a vida è o mais tudo quaüto
possuíam, com que estão todos em íniserável estado, e com estas terras os pode
S. Majestade premiar e não permitir que as logrem aqueles que vivem em
outras partes abastadas de bens, sem as defenderem, como os mais e dêste
modo não lograrão uns tudo e os outros nada, sendo todos vassalos.
Será presente a S. Majestade que em nenhuma maneira convém fazer-se
paz nenhuma com este gentio, pot ser gente que hão guarda fé, falsos e
traidores, e debaixo da paz e maior amizade é que nos fazem ó máior danÒ
como cá o tein fèjto nesta capitanía pòr três vêzes, pelo que obraram estão
os moradores tão timoratos e irritados contra êles que se não hão dè fiar
mais dêstes bárbaros, e será istò causa de nunca sé povoar õ sèrtão, e não
há de haver quem queira assistir nêle pélo risco que correm suás vidas
e fazendas, e não se povoando perde S. Majestade considerável fazenda nos
seus reais dízimos, e os moradores as conveniências da criação de seús
gados, o que só se conseguirá destrúindo-se êstè gentio, e guerreando-se com
êle até de todo se acabar, dando-se execução a ordem do Governador Geral
Matias dá Cunha que está registrada nos livros da fazenda desta capitania
sendo em tudo acertado pára o serviço de S. Majestade, aumento déstà
capitania e conservação dêste povo.
Representará mais a S. Majestade os limitados efeitos que tem esta
Câmara os quais são somente o imposto de quatro barris de aguardente e a
pouquidade do fôro das rêdes da costa, que uma e, outra coisa não é híhé
nada a respeito da guerra do gentio, e antes dela mal rendia para a satisfação
do salário que se fazia de quinze mil réis ao escrivão dá Câmara, e seis ao
Alcaide, e outras despesas que tem êste Senado e de presente acresceu a
vindá do Ouvidor a esta capitania todõs os anos à correição, e quer que
se lhe dê trinta e dois mil réis da aposentadoria, o que se lhe. não pode
satisfazer pelas razões sobretidas por cuja causa estêve por ordem do dito
Ouvidor prêso o procurador do Conselho, por- tanto pedimos a S. Ma*
—181 —
jestade livre a êste Senado desta contribuição no que se lhe faz uma esmola
por não ter com qué o satisfazer e que permita que, no enquanto durar estas
guerras do gentio, não venha dito Ouvidor a esta capitania por estar muito
atenuada e pobre e seus moradores, os quais àndam por êsse sertão continua
mente guerreando com o gentio bárbaro e qualquer condenação que se lhe
faça a não podem satisfazer pela miséria em que os 8 §éütio.
Fará presente a S. Majestade qüe na ocasião em que o gentio se le
vantou nos sertões desta capitania, onde fêz o lamentável estrago nas vidas
e fazèndas dos moradores, se mandou logo pedir ao Governador de Per
nambuco João da Cunha Souto Major á socorresse com gente e mantimentos
de farinha por não haver nesta parte, do que não fêz caso o dito Gover
nador, e êste peditório se lhe fêz por duas e três vêzes e . vendo êste
Senado qüe se perdia totalmente esta capitania, se resolveu mandar um
procurador, a fazer-lhe presente o mísero estado em que estava e os moradores
acometidos do gentio por várias partes, com que os obrigou a se recolherem
em estacadas que faziam para livrar as vidas mas ficando ao rigor do gentio
as lavouras e fazendas que tudo destruíam, e como se não deferiu ao procura
dor, se valeu de pedir prestados à Câmara de Pernambuco duzentos mil réis
para se comprarem farinhas, e se remeterem ao Açu para o sustento dos
moadores que assistiam naquela fronteira com alguns índios domésticos por
de todo se não largaT ao gentio e comprada que foi com êste dinheiro se embar
cou em um barco, a tempo que o ditò Governactór Mè resolveu no cabo dê
um ano a mandar um socorro de duzentos homens, mandando-os embarcar
sem lhes mandarprevènir farinhas para o sustento, cóm que chegados a estar
capitania gastaram o que 0 nosso procurador havia comprado com o dinheiro
do empréstimo, e como a ela chegou Antônio Lopes Leitão fiador que foi
desta quantia e nos representou, em cómo ä Câmara o molestara por aquela
satisfação tratando-se de cobrar déle ejecutivamente, e vermos qüe por esta
causa viera com todo o risco com setenta léguas de jornada a representar
nos e pedir-nos o desobrigássemos, pela moléstia que podia padecer, nos foi
necessário escrever ao Bispo Governador de Pernambuco nos fizesse mercê e
esmola, revelar esta quantia, por se não achar esta Câmara com efeitos para
estã'satisfação, aò que se não deferiu, com que nos foi forçado pedirmos esta
quantia prestada, para desobrigar-nos ao n&so fiador, assim que pedimos a
S. Majestade seja servido mandar que a dita Câmara de Pernambuco torne
dito dinheiro para se dar a quem o emprestou visto ser tão abastada de
efeitos, que lhe sobram muitos da despesa que fazem, havendo rçspéit? ä
irem desta capitania antes do levante do gentio muitas quantidades de gados,
com que se aumentava o seu contrato das carnes ou permita mandá-los dar
da Fáízendà Real daquelas capitanias para assim 'ficar êste povo livre da
finta que se lhe deve botar, nos limitados Êénã lhes escaparam do
gentio, para se poderem satisfaièr Á. oS .èinprêStou, vist8 le.fiayèlém
gasto com à mesma infantaria que veio de socorro por não vir prevenida de
farinhas para se sustentarem. Escrito em Câmara pelo tenente-coronel João de
Barros Coutinho, Escrivão dela que á escrevi e assinaram os oficiais que êste
aoo servem de juizes, veneadores e procurador, aos 2 de julho de 168?.
£ -.re da Silva, Francisco Lopes, Gaspar Freire de Carvalho, Jòsé de Araújo,
Pedro Miranda? Baião.
ADENDOS
— Inventários do século XVIII e princípios do XIX.
— Regimentos de ofícios em 1791,
(1)
(HI)
As freguesias criadas no século XVIII foram dez. A do
Açu ignoro a data. Em 1726 era vigário o Pe. Manuel de Mes
quita e Silva. A de Vila Flor é igualmente da primeira metade
— 114 —
(IV)
Fundava-se, sôbre base do tradicionalismo patriarcal, a so
ciedade norte-riograndense, no, trabalho da pecuária e agricul
tura. O plano de roças de mandioca garantia a farinha indis
pensável à alimentação histórica. A ribeira do Apodi, na última
década do século XVIII (1791-93, a grande sêca, Seca Grande
como ficou conhecida), produzia 56.640 alqueires de farinha nas
freguesias do Apodi, Portalegre e Pau dos Ferros. O rebanho
bovino é que se desenvolvia normalmente, criando-se, desde longos
anos, a indústria das carnes sêcas em Mossoró e Açu, tornando-se
tunoso os portos das Oficinas de Carnes, ou simplesmente Oficinas,
— 115 —
NOTAS
(1) «Quase um século de permanência» na aldeia oficial, São Miguel de
Giiagiru. O conhecimento da região era muitíssimo anterior e desde 7 de
janeiro de 1607 a Companhia de Jesus possuía terras na futura Estremoz. A
data 102, doada pelo Capitão-Mor Jerónimo de Albuquerque, começava do
rio de Jaguaribe, de fronte da Cidade do Natal e monte de Uruturapaum,
correndo até emparelhar com a lagoa, no lugar que chamam Tijuru (nome
indígena da lagoa de Estremoz, registado no mapa de Marcgrav que Barléu
divulgou), indo até o mar salguado, quatorze léguas. No «Auto de Repartição
das Terras», datado de 21 de fevereiro de 1614, menciona-se a existência
de dois currais de vacas, algumas éguas e quatro escravos da Guiné.
(2) John Luccock e R. Walsh escreveram que o brasileiro comia
raramente a carne do carneiro em virtude surpersticiosa. Carneiro era sím
bolo de Cristo, Cordeiro de Deus, etc. Roy Nash aceitou a fama. Gilberto
Freire e A. de Silva Melo também. M. Rodrigues de Melo, «Roy Nash e
o Brasil», TRADIÇÃO, Recife, abril de 1943 e Hélio Galvão, «Uso bra
sileiro da carne de carneiro», BANDO, Natal, março de 1950, desfazem,
documentadamente, essa falsa tradição.
(3) Manuel Dantas, «Homens de outrora», 19-20, ed. Pongetti, Rio de
Janeiro, 1941.
(4) Hélio Galvão, «Velhas Heranças», BANDO, aígôsto-setembro,
1951, 45, Natal. .
(5) Eloy de Souza, «A Habitação no Rio Grande do Norte», idem, 80-81.
(6) A. Gonçalves Dias, «Catálogo dos Capitães-Mores e Governado
res do Rio Grande do Norte», 42 RIHGB, XVII.
ADENDOS
sua véstia de Berne agalvada com seus galões de prata, com dois dedos de
largura, calções de Berne* e galões, . 30$000», e também «uma casaqua de
pano tino, usada, com cantões de veludo, 2$0Q0.» Há também toalhas de
Bretanha, colcha de Dainasco, forrada de flanela carmezim, com franjas e
borlas em cada canto, avaliada em 6$400.
Há curiosidade como uma espingarda de «tacoari com fexos franceses de
meio uso» por 4$500. Êsse tipo de arma aparece nos inventários e arrola-
mentos dos Bandeirantes e Alcântara Machado perguntava que espécie de
arma seria.
Registam «pente de viúva», 3 oitavas menos 8 grãos, 4$440, no inventário
do capitão Baltazar de Carvalho Pinto, findo a 12 de Setembro de 17571
B também <2 pentinhos de fonte», 3$340, espadim de prata, liso, com punho
de fio de prata, pesando 14 oitavas e meia, 5$280, um «pente de rigor»,
l$800. Vêzes as armas de aspecto rico, «espada com punho de prata, çhapa,
punho e ponteira também de prata», 5$000, «uma faca com cabo de marfim
e corrente de prata», l$920. Aparecem a cama de jacarandá (1752), 6$000
e igualmente a rede com varandas, «uma rêde de fio branca com as varandas
já rôtas», 2$000. '
Além do aparelhamento para fazer farinha,, instrumentos de agricultúrà,
surge a lã de ovelha, guardada em casa e também (1752, no inventário de
Maria de Souza, mulher pobre, casada com o carpinteiro Antônio Fernandes)
um tear, por 3$200. Deparo uma escrivaninha de jacarandá, do capitão Domin
gos da Costa. Araújo, julgada valer dois cruzados. Livros apenas no inven
tário de Joana de Barros Coutinho, seis livros, avaliados em 3 $000. Eram
leituras piedosas.
O trabalho escravo compreendia o arrendamento da peça, aluguel, por
meses, tarefas ou anos. No inventário de Manuel Araújo Meneses, 1752, oa
serviços da preta Ana, excluídos domingos e dias santificados, eram de 8$000
. cada ano, durante seté anos, 56$000. A f escrava estava servindo a outro
senhor por essa quantia. z(.
As velhas denominações orientais, divulgadas pelo português batalhador
e andejo, surjem, como timão, quimão, que é o quimono, e catana, uma
catana de latão, de 3$000, no inventário de Araújo Menezes em 1752, do
japonês katana, valendo espada, alfange, terçado.
Não havia o fogão. Na cozinha o fogo ardia entre as três pedras clás
sicas, a trempe, arrolada no inventário de Isabel Soares, 1753, por $320.
Mesmo nas casas abastadas erguia-se uma sapata de tijolos e sôbre esta
alinhavam-se várias trempes. As placas de fogão, de ferro, com três e
mais aberturas para as panelas é de meados do século XIX. Minha avó
paterna, Bernardina Francisca Ferreira de Melo, f1830-1914) veio «conhecer»
a chapa do fogão depois de 1870 nos sertões paraibanos o norte-rio-gran
denses.
São usadas as cruzes de ouro, botões de peito, cruz de finagrama, fina-
grã, argolas. Para o serviço nos dias de recebimento, púcaro e salva de
prata, para lavar as mãos, 160 oitavas, 17$600, no inventário de Cipriano
Lopes Pimentel, findo em dezembro de 1721. O monte foi calculado em
2.802$465. Hélio Galvão avalia em Cr$ 800.000,00 e eu em um milhão de
. cruzeiros.
Dós fins do sec. XVIII para a primeira década do sec. XIX a primeira
& fortuna da Capitania era a Casa de Cunhaú, de André d'Albuquerque Ma
ranhão, Coronel do Regimento de Cavalaria Auxiliar dos Distritos de Arez,
Vila Flor e Tamatanduba. Casado com d. Antônia Josefa do Espirito
Santo Ribeiro, deixou um filho, o André d'Albuquerque, chefe da Revolução
de 1817, e três filhas, casadas com. primos como de rigor e praxe, Luiza
Antônia com o tenente coronel José1 Inácio d’Albuquerque Maranhão, Josefa
— 12.3 —
por 100 taxas com ferro do oficial, seis vinténs; por calçar um machado de
unha, uma pataca; por calçar uma enxó e chapear também, um cruzado; por
calçar uma foice grande, uma pataca; por calçar uma enxada, uma pataca;
por uma fóice de mão, com ferro e aço .do oficial, doze vinténs; por uma
enxada nova, com ferro do dono, uma pataca; por um machado de ôlho
redondo, com ferro do dono, doze vinténs; por uma foice com ferro do dono,
doze vinténs; por uma enxó, com ferro e aço do dono, doze vinténs; pelo
feitio de 100 pregos caixais, meia pataca; pelo feitio de 100 pregos de
assoalhar, quatorze vinténs; pelo feitio de 100 pregos caibrais, um sêlo; pelo
feitio de 100 pregos ripais, seis vinténs.
CAPÍTULO VI
ADENDOS
(II)
José Inácio Borges, tenente coronel de Artilheria, assumiu a
16 de Novembro de 1816. Fôra nomeado a 4 de Março. Recebeu
o govêrno das mãos de Melo e Povoas. Prêso a 23 de Novembro
de 1817, reassumiu a 17 de Junho do mesmo ano e deixou a Capi
tania, entregando-a à Junta Constitucional Provisória, a 3 de De
zembro de 1821. Rocha Pombo e Tavares de Lira fazem restrições
à conduta de José Inácio Borges. Nós, do Rio Grande do Norte,
devemos altíssimos serviços a êsse pernambucano eminente, vivo,
hábil, teimoso, inteligente e patriota. Num velho livro, “Histórias
que o Tempo Leva” (M. Lobato ed. São Paulo, 1924, Prefácio
de Rocha Pombo) teimei-lhe a defesa ante a unanimidade da
acusação. É o homem em cujas mãos estoura a bomba, e não é
responsável pelo seu fabrico e colocação. Basta comparar sua
atuação com os Governadores das Capitanias onde a revolução
teve sua hora vitoriosa, para sentir-se a maneira cauta e a piedade
com que agiu e evitou a violência da repressão e o martírio dos
enforcamentos e fuzilamentos, com exposição de cabeças para es-
carmentos e excitação ao amor monárquico. Nem um só norte-
rio-grandense participante da revolução na Capitania foi condenado
à morte. O chefe, ferido brutalmente e morto no Forte, já estava
sepultado quando José Inácio Borges regressou. Faleceram mais
dois implicados, o padre João Damasceno Xavier Carneiro, na
escuna que o conduzia prêso e o Provedor da Real Fazenda,
Manuel Inácio Pereira, do Lago, nos cárceres da Bahia, de morte
natural. Tudo quanto foi possível para atenuar o crime de lesa-
majestade tentou o Governador que fôra prêso e escoltado para
o Recife embora não creia eu terem-no enviado com as pernas
amarradas e debaixo de insultos. O papel de José Inácio Borges, a
criação de repartições essenciais à vida econômica da Capitania,
sua decidida atuação ao lado dos “independentes”, sua simpatia
nptêria pelos próprios ex-réus que regressavam das cadeias, sendo
um ex-membro do Govêrno Republicano de 1817, o coronel José
— 135 —
(UI)
“Reassumindo o govêrno após a contra-revoluçãode 1817, José
Inácio Borges não tomou pessoalmente a iniciativa de quaisquer
atos de perseguição e de vingança. Limitou-se a cumprir as ordens
que recebia e isto mesmo suavizando quanto possível a ação de
sua autoridade. Fêz-se, e não era lícita impedir, a prisão de
mu’tos e o confisco dos bens de alguns dos rebeldes; mas nenhum
sofreu a pena de morte em que diversos estavam Incursos pelo
crime de lesa-majestade, devendo-se êsse resultado, em grande
parte» à demora na remessa dos presos para o Recife e às informa-
ções oficiais que prestou, das quais se infere o esforço e o vivo
desejo de inocentar grande número dos implicados na rebelião,
fazendo recair sôbre André de Albuquerque, que já não existia,
a principal responsabilidade dela. E êsse procedimento concorreu,
de modo decisivo, para que a calma e a ordem voltassem, dentro
em pouco, à Capitania", (Tavares de Lira, “História do Rio
Grande do Norte", 487).
A violência irresponsável atenuava-se pela própria exaustão.
Sob o pretexto de prender os Albuquerques Maranhães as pro
priedades dêssçs foram depredadas, as alfaias roubadas e o gado
dizimado. Mas o Governador nãq seria responsável por essas
exibições eternas de. partidarismo interesseiro e desonesta. Do
seu interesse pela Capitania há entre outros um bom exemplo.
Ainda estava no Recife, prestes a voltar para o seu cargo e, em
31 de Maio de 1817» oficiava ao almirante Rodrigo José Ferreira
Lobo insistindo pelo seu apoio para a Alfândega de Natal e
lembrando que sõhre O assunto escrevera à Sua Majestade desde
?3 de Dezembro de 1816» pedindo o exato e fiel cumprimento da
Carta Régia de 28 de Janeiro de 1808 e Decreto de 18 de Junho
de 1814, abrindo os portos do Brasil ao comércio estrangeiro.
Dizia que o general Caetano Pinto de Miranda Montenegro havia
proibiao aos sfeus antecesores no govêrno do Rio Grande do
Norte a execução dessas leis, fundando a proibição em motivos
fútete, filhos do seu acanhado gênio. Finalmente o Rei dignou-se
oficializar a Alfândega pelo alvará de 3 de Fevereiro de 182Q,
Veto outra libertação embora multiplicando os problemas. O
alvará de 25 de Março de 1818 çriou a Ouvidoria do Rio Grande
do Norte, desligándola da Paraíba. Q primeiro Ouvidor» Dr. Ma
riano José de Brito Lima# foi nomeado a 8 de Julho e tomou posse
— 142 —
a 28 de Outubro de 1819 e ficou no cargo até 2 de Jumo ae
1822. Era filho de português mas nascera no Rio de Janeiro. .
Ainda durante o govêrno de José Inácio Borges, a seu pedido,
criaram um Corpo de Tropa de Linha, com uma companhia de
Artilheria e três de Infantaria (Dec. de 22 1*1820). Instalou-se
a Casa da Inspeção do Algodão, (Dec. 3 2*1820). Extinguiese
a Provedoria da Real Fazenda, criando*se a Junta da Fazenda
(Dec. 1*10*1821)... O almirante Rodrigo Lobo promoveu-o a
coronel de artilheria, posto confirmado por D. João VI a 9 de
Julho de 1818. Retirando*se do Rio Grande do Norte foi Coman*
dante das Armas no Pará, não assumindo. Viajou pela Europa.
Na Regência Provisoria foi Ministro da Fazenda (1831) e duas
vézes Ministro do Império em 1836. Na eleição senatorial no Rio
Grande do Norte em 1825 teve 30 votos, sendo o 2.° da lista
tríplice. O l.° fôra Agostinho Leitão de Almeida, com 49 votos.
O Imperador D. Pedro I.° nomeou o menos votado, Afonso
d’Albuquerque Maranhão, com 21 votos. Foi o primeiro Senador
pelo Rio Grande do Norte no Império, falecendo a 10 de Julho de
1836. Borges foi senador por Pernambuco em 1826 e reformou*se .
no pôsto de Marechal de Campo em 1831. Faleceu no Recife
a 6 de Dezembro de 1838.
(IV)
A presença da revolução de 1817 na vila de Portalegre é o
mais expressivo depoimento da intensidade borbulhante dos espí
ritos, ansiosos de ação e tateando no escuro as formas imprecisas
e materiaïizadoras de uma administração lógica. Creio antes quv
a reserva de energia, acumulada nos decênios tranquilos do século
XVIII estava exigindo atuação. Quando o govêrno republicano
de 1817 desapareceu em Natal, reapareceu em Portalegre, numa,
reincarnação que significaria protesto e seguimento.
As cartas e papéis públicos enviados pelo Govêrno às Câmaras
do interior foram cair nas mãos de David Leopoldo Targini,
emissário dos rebeldes da Paraíba. Targini, com boa escolta,
galopou para Portalegre onde havia ligação e clima de simpatia,
assim como em Apodi e Martins. Na vila de Portalegre, em
reunião verbosa como se fosse um elo de vitórias indiscutíveis,
instalou-se um Govêrno. Um emissário1 dos republicanos de Per
nambuco, Miguel Joaquim Cesar diziam estar marchando com
tropas auxiliares. Era um sonho mas sem sonho ninguém vive
conspirando. Anunciaram que um verdadeiro exército reunir-se*ia
ali para dissipar as resistências nas vilas que tivessem arvorado as
Reais Bandeiras. O Govêrno de Portalegre constava do vigário-
— 143
(V)
José Inácio Borges, partidário da Independência do Brasil
apoiaVa visivelmente. o grupo de tendências semelhantes, não
querendo pôr-se de maneira ostensiva, à sua frente. Os «crimi
nosos” de lesa-majestade que voltavam dos cárceres da Bahia eram
os mãis entusiastas e merecedores de maior popularidade pelos so
frimentos arrostados e a presença do halo prestigiante de ter par
ticipad© da revolução de 1817. Esqueciam-se das delações e con
fissões humilhantes, das bajulações supremas e desnecessárias,
para ver nos homens famosos o destemor e a coragem do ideal
digno do sacrifício.
O governador obteve licença para deixar a administração do
Rio Grande do Norte entregando-a à uma JUNTA CONSTI
TUCIONAL PROVISÓRIA, eleita na conformidade com o De
creto das Cortes de Lisboa de l.° de Setembro de 1821 e enviado
ao Governador de Pernambuco. Convocou o Governador, por
edital de 9 de Novembro de 1821 os eleitores para que escolhes
sem, sob a presidência da Câmara de Natal o Govêrno, o primeiro
govêrno eletivo para todo território. A Junta teria sete membros,
inclusive o presidente e secretário.
— 144 —
«Aos vinte e seis de Abril de mil oito centos e dezasete faleceo da vida
presente nesta freguesia, tendo recebido os Sacramentos da Penitencia e Unção,
o Coronel André d'Albuquerque Maranhão, branco, solteiro, * com a* edade de
quarenta anos, pouco mais ou menos. Foi sepultado nesta Matriz, envolto em
uma esteira, depois de ser encomendado pelo R. Coadjutor Simão Judas Tadeu,
de minha licença. E para constar fiz éste assento, que aSsino. (a) Feliciano
José Dómelas, Vigário Colado.»
(9) João Damasceno Xavier Carneiro era da Paraiba, filho natural do
Doutor Provedor Antônio. Carneiro de Albuquerque Gondim. Parece haver ,
sido «reconhecido» porque no registo batismal do seu filho Joaquim aparece
o nome da mãe, dona Inez Rita de Melo Monteiro, natural da freguesia e
de Goianinha. Casou-se na Capela do Forte dos Reis Magos a 9 de Novembro
de 1780 com Ana Maria da Conceição, filha do Sargento-Mor Manuel Antônio
Pimentel de Melo, (falecido a 18 de Junho de 1768) e de d. Ana Maria da
Conceição, também defunta. Casou-o o Pe. Francisco. Manuel Maciel e foi
padrinho o capitão Antônio da Rocha Bezerra. João Damasceno foi escrivão
em S. José de Mipibu, sendo proprietário de sítios. Tratava-se bem, generoso,
acolhedor. Teve dois filhos, Joaquim, nascido em Natal a 5 de Janeiro de 1785
e dona Ana Joana Xavier Carneiro, fonte de informação para D. Isabel Gondim
(«Sedição de 1817 na Capitania ora Estado do Rio Grande do Norte»).
Enviuvando, João Damasceno ordenou-se Padre. Vigariou a paróquia de Unp
em Pernambuco e posteriormente foi nomeado Visitador para o Rio Grande do
Norte e Ceará. Eia relacionado com todos os prôceres revolucionários de 1817
e sua missão ligava-se a ministrar instruções aos companheiros. Anos depois
de sua morte, seu filho Joaquim, também Padre, conseguiu ser Vigário de
Éstremoz e exumou os restos de João Damasceno de Pititinga, com a máxima
solenidade, sepultando dignamente na Matriz de Estremoz, hoje destruida.
(10) João Alvares do Quental faleceu Tesoureiro da Provincia, com
74 anos, em 13 de Setembro de 1850.. Era um dos indicados como tendo ferido
André de. Albuquerque e esporeado-lhe o cadáver. Francisco Felipe da Fon
seca Pinto, professor de Latim no Ateneu, falecido em Natal, com 72, em 3
-de Outubro de 1835 também foi apontado. Antônio Germano, o inquieto Co
mandante da Companhia idem. Promovido a sargento-mor em 1821 »for-
mou-se em 1823 desmoralizado e malquisto de todos. Creio, que se retirou
para Pernambuco e lá morreu. O marido de Ritinhá Coelho, o alféres Francisco
Sebastião Coelho, afirmava ter visto o alfaiate Manuel da Tosta Bandeira
ferir o Senhor de Cunhaú. Nenhum sofreu o castigo e sim Antônio José
Leite do Pinho, tenente coronel, relacionado e rico. Morava na Rua da
Conceição, casa desaparecida pela construção da Praça Sete de Setembro.
Era casado com d. Bernarda Antônia Joaquina. Uma sua filha, Ana Maria de
Jesus, casou com Joaquim Inácio Pereira, da freguesia de S. Miguel da Vila
-de Tôrres Vedras, patriarcado de Lisboa. Leite do Pinho era da freguesia de
S . José da Madeira, cidade do Pôrto. Um seu netinho, Vicente, brincava com
«êle, deitados num tapete na calçada da casa. Os assassinos esperaram que
a criança fôsse recolhida e atiraram-se ao tenente coronel que se defendeu,
mesmo * sem poder levantar-se, valentemente. Falçce&Lna manhã de 15'de
Março de 1834. Tinham deixado, encravadas, duas facas de prata. O netinho
Vicente foi o Dr. Vicente Inádo Pereira (1833-1888), primeiro natalense
formado em Medicina, Bahia, 1859, Presidente da Provincia em 1879. O
sobrinho de André de Albuquerque, André de Albuquerque Maranhão Arco
Verde, 1797-1857, o famoso Brigadeiro Dendê Arcoverde (Ver ACTA
DIURNA, A República, Natal, 6, 8, 10, 17, 20 e 24 de Maio de 1941 sôbre
Dendê Arcoverde. Sôbre Leite do Pinho, «O Matador de André de Albu
querque», Acta Diurna, Natal, 25 de Fevereiro e 4 de Março de 1934; sôbre
o assunto em geral? «Quem feri” A«¿ré Mhuquerque? «idem, 14, 16 ,e 18 3*
— 152 —
ADENDOS
O FORTIM DA ILHA DE MANUEL GONÇALVES
ADENDOS
II
Manuel do Nascimento Castro e Silva, (1788-1846), de 21
de março de 1825 a 8 de maio de 1826, fôra deputado às Cortes
de Lisboa, e seria várias vêzés deputado geral, Ministro dê
— 166
III
Joaquim Pinto Madeira surje então na história norte-rio-gran
dense e seu nome recorda, ainda antipatías extensas e inexplicá
veis. O caudilho não pôde evitar os excessos de partidários seus,
saques feitos por companheiros, de tôdas as procedências e sem
noção disciplinar. Sua figura está limpa de acusações maiores
e antigas e reabilitada. Se alguém pode sofrer pena de ferocidade
e felonía, injustiça e brutismo, é a massa de seus inimigos, men
tindo aos compromissos e sonegando a lei, forçando-o ao apêlo
às armas. Elemento ao lado da Presidência legal do Ceará, Pinto
— 168 —
IV
Joaquim Vieira da Silva e Souza, depois Ministro de Estado,.
Senador do Império, Ministro do Supremo Tribunal de Justiça,
nada conseguiu fazer e seu grande mérito consiste em não haver
permitido as explosões partidárias, tão temíveis quanto irrespon
sáveis. É de sua administração a criação do município de Goia
ninha a 7 de agôsto de 1832 e na mesma data a supressão do
município de Arez.
Até 31 de julho de 1833 quando assumiu o 6.° Presidente,
Basilio Quaresma Torreão, não há registo anterior digno de
relêvo. Foram apenas fumaça de fogo de monturo- entre as facções
locais, brigas dos liberais contra os amigos de Rocha Bezerra,
representados pelo Padre Pinto, Manuel de Castro, 1774-1850.
o mais votado na eleição de 17 de novembro de 1828, o quarto
na ordem, e os três de maior número de votos tinham falecido.
O Padre Pinto assumiu o comando da Província com grande
gritaria adversária, em setembro de 1832, outubro de 1832 a
janeiro de 1833, entregando-o ao 5.° Presidente, Manuel Lobo
de- Miranda Henriques. Presidindo o Conselho do Govêrno, em
11 de abril de 1833, criou êste os municípios de Acari, Angicos,
— 170 —
Apodi, XSão Gonçalo c Touros. Faleceu no Recife em 1856.
Assumiu Basilio Quaresma Torreão, o 6.° Presidente.
Basilio Quaresma Torreão, pernambucano de Olinda, (1787-
1867), revolucionário de 1817 e de 1824, casara em Goianinha,
no Rio Grande do Norte, sendo um dos animadores para a fun
dação de uma sociedade anônima que possibilitou a publicação
do NATALENSE, em 1832, o primeiro jornal na província, e
que durou até 1837. A província elegeu-o deputado à quarta legis
latura, 1838-41. Seu filho, de igual nome, nascido em Goianinha,
foi o l.° Juiz de Direito no Açu e desembargador no Maranhão.
Basilio Quaresma Torreão reuniu as Aulas Maiores da capital,
fundando o Ateneu do Rio Grande do Norte a 3 de fevereiro de
1834 (é a data certa). Reorganizou a Alfândega em 5 de janeiro
de 1835, nomeando Inspetor a João Bernardino Nunes. Foi o
primeiro Presidente a 1er a sua FALA perante a Assembléia Legis
lativa Provincial, instalada a 2 de fevereiro de 1835 (1). Durante
sua administração desapareceram o Conselho do Govêrno (2) e
o Conselho Geral da Província (3). Sancionou o primeiro orça
mento provincial. Tínhamos duas comarcas, Natal e Açu, 13 muni
cípios, 52 distritos de Paz e. 7 de Jurados. Funcionavam 22 esco
las e 6 não estavam providas. A receita era orçadá em 15.009$ 162
e a despesa em 46.617$760, para o exercício financeiro de 1836-37,
de l.° de julho a l.° de julho. A maior verba era Instrução, com
11.380$ e a menor, Saúde Pública, com 400$000. Maneiroso,
simples, acolhedor, contribuiu poderosamente para a geral quieta-
ção dos espíritos.
Seu sucessor, o 7.° Presidente, Dr. João José Ferreira de
Aguiar, depois deputado geral, professor ña Faculdade de Di
reito do Recife, depois Barão de Catuama, assumiu a l.° de
maio de 1836 indo a 26 de agôsto de 1837. Criou a Tesouraria
Provincial, a 24-10-1836, nomeando a 6-4-1837 o l.° Inspetor, José
da Costa Pereira, ganhando 600$ por ano. Até 1851* o Presidente
da Província percebia 266$666 mensais. Organizou o Corpo Po
licial a 4-11-1836, contando o comandante e um segundo, 1.® e 2.®
sargentos, um furriel, três cabos, dois cornetas e 60 soldados.
O comandante fazia 40$ de sôldo e 10$ dç gratificação mensal.
O l.° Comandante foi o capitão Antônio José de Moura. Tínhamos
40 escolas.
Em maio de 1837 realizou-se a segunda eleição senatorial.
A lista tríplice constava de padre Francisco de Brito Guerra, (69
votos), André de Albuquerque Maranhão, (56 votos) e Tomás
Xavier Garcia de Almeida (37 votos).^ Foi escolhido o primeiro
a 10 de junho e empossado a 12 de julho de 1837. Foi o único
norte-rio-grandense Senador do Império(4).
— 171
(*) Marinho da Cunha assinou una lei única, a 612, de 15-12-1868, ele
vando a Vila de Príncipe (Caicó) à Cidade.
— 181 —
do Norte.
— 182 —
VI
Antônio dos Passos Miranda, 36.° presidente, administra de
20-6-1876 a 18-4-1877. Era conservador sincero, polido e plane
jador de melhorias destinadas a murchar no papel amarelo dos
decretos, esquecidos e sem possibilidade de execução. Em dezem
bro de 1876 realizou-se a última eleição senatorial na província.
Veio no topo da lista o Sr. Diogo Velho Cavalcanti de Albuquer
que, 479, seguido pelos Srs. Tarquinio Bráulio de Souza Ama
ranto, 390, e Francisco Gomes da Silva, 313 votos. Foi o pri
meiro escolhido e tomou posse em 6-3-1877.
A República encontrou o Visconde de Cavalcanti inútil e
senhorial, representando a Província pela qual sempre expressou
desprezo superior e sempre que lhe era possível, votava contra
os interêsses dela. O derradeiro senador pelo Rio Grande do Norte
imperial, Ministro de Estado, rico e feliz, foi o mesmo a quem o
barão de Cotegipe atirara o verso de Pérsio: pueri, sacer est locus»
extra me'jite, e Zacarias de Goes e Vasconcelos dizia ter êle entrado
para o Senado do Império porque encontrara a porta aberta.
Durante o governo de Passos Miranda a nova lei do recruta
mento militar determinou sedições locais em Canguaretama, S.
José de Mipibu, Mossoró, Goianinha, Papari. Homens e mulhe
res invadiam as Igrejas, onde se procedia ao trabalho de alista
mento, rasgando os livros e agredindo os funcionários. Em Mos
soró chamam a essa intentona o motim das mulheres por ter sido
dirigido por Ana Floriano, comandando trezentas mulheres deci
didas, arrancando os editais e despedaçando as listas. Em Goia-
184
VII
Por êsse meio há o movimento abolicionista. O escravo não
era para o Rio Grande do Norte uma determinante econômica,
indispensável ao equilíbrio provinciano. A idéia da aboliçãQ '.en
controu adeptos entusiastas e adversários com antipatia pessoal
i
— 188 —
Santa Cruz........................................................................................................................................................................................................................ 26
•S. Miguel.............................................................................................................................................................................................................................. 13
VIII
Depois de 1888 os cartórios de quase todo o Brasil fizeram
desaparecer os registos de compra, venda, hipoteca sôbre escravos.
Rui Barbosa, ministro da Fazenda, mandou queimar o arquivo,
impossibilitando as futuras pesquisas para estudos essenciais. Ra
ros são os livros com êsses assuntos deparados nos cartórios. Tive
em mãos um dêsses volumes, entre 1843 a 1850, do tabelião e
escrivão do Cível da Vila do Pôrto dos Touros, com muita infor
mação curiosa.
biblioteca
ÜFRN!MHR
192
IX
Sabemos vagamente de insurreições negras no Rio Grande do
Norte. Nestor dos Santos Limá registou uma em Goianinha e sei
de outra que se irradiara de Papari (Nisia Floresta atual) . As
datas são confusas. Eras de 1870... Aí por 1860 e tantos...
Os relatórios dos presidentes da Província são omissos.
Pelo menos os consultados. Idem, a correspondência dos dele*-
gados com o Chefe de Policiar silencia. Mas a tradição oral,
teimosa e firme, denunciará que deve ter havido algo determinador
do motivo oral.
Os escravos Bonifácio, Estevão, Leandro e Eduvirges, per
tencentes ao engenho “Bom Jardim”, em Goianinha, inspiraram um
movimento de insurreição, animando o levante da encravaria de
— 194 —
Arcanjo Galvão, 215. Eleição anulada pelo Senado a l.° de junho de 1869.
Nova eleição em novembro de 1869. Lista: Torres Homem, 271 votos, Dr. Je
rónimo Cabral Raposo da Câmara, 254, e Dr. Tarquínio ' Bráulio de Souza
Amaranto, 233. Torres Homem escolhido a 27-4-1870. Posse a 20-6-1870.
Faleceu em Paris a 3-6-1876.
Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque, visconde de Cavalcanti. Esco
lhido a 4-1-1877, posse a 6-3-1877. Era Senador quando se proclamou a Re
pública. Faleceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, a 14-6-1899. Eleição de
dezembro de 1876. Lista: Diogo Velho, 479 votos, Dr. Tarquínio Bráulio de
Souza Amaranto, 390, e Dr. Francisco Gomes da Silva, 313.
(5) Ver o meu «GOVÊRNO DO RIO GRANDE DO NORTE»,
Pp. 173-175. A «mensagem» de Silva Lisboa, foi publicada na «A República»,
em Natal, números de fevereiro de 1897. As certidões que denunciam a exis
tência de uma conspiração em 1838, foram publicadas por mim n«A Republica»,
números de 13, 15 e 20 de junho de 1940, «ACTA DIURNA», A Conspiração
de 1838. Ver HISTORIA DA CIDADE DO.NATAL, 239-242. José M.B.
Castelo Branco, «O assassínio do Presidente Ribeiro”, RIHGRGN, XLVIII
— XLIX, 147.
(6) Luís da Câmara Cascudo, O FOGO DE 40, idem, 194, com
documentação inédita.
(7) Adauto Miranda Raposo da Câmara, o RIO GRANDE DO NORTE
NA GUERRA DO PARAGUAI, 63, 108, Natal, 1951.
Não há depoimento mais sincero nem documento mais expressivo que êsse
auto de vereação de 8 de setembro de 1824 em que o Presidente Tomás de
Araújo Pereira historia o amargurado final de sua administração. Está regis
tado às páginas 28 e 29 verso do Livro de Registro de Provisões de 1820
a 1829 da Câmara da Cidade do Natal.
«Havendo-me S.M.I. nomeado Presidente desta Provincia, de cujo Go
verno por obediencia tumei posse no dia 5 de Maio deste anno axando-me em
efectivo serviço sem outro interesse mais do que desejos de acertar e de
reger os povos que me forão confiados debaxo das leis do mesmo Imperante,
a quem por motivos da minha segueira e outros axaques acarretados pela
avansada edade já requerí demição. Acontesendo pois que por providenciar em
groso de salteadores que em groso numero se aproximavão as fronteiras do
sul desta Provincia onde exercitavão asacinos e robos convocou-se o concelho
suplente do Governo por se não terem ainda apurado as listas de todos os
culegios eleitoraes, e com aprovação deste fizesse expedir para as ditas fron
teiras huna exped.*m. militar no dia 12 do passado Agôsto e depois de a
tef mandado regressar para esta Capital, me foi denunciado por parte do
Tenente Jozé Domingues Bezerra de Sá, enviado meu as fronteiras da Paraiba
a desvanecer desconfianças de xoques de Tropas, na noite do dia 2 deste mez,
que aquela exped.*m. regresava com reforços de povos de São Jozé, afim de
levantarem nesta Capital bandeira republicana, mandei a m.ma. hora tocar
rebate e pôr praça em defesa encarregando esta a direção dos comandantes da
1.* Linha Vicente Ferreira Nobre e da 2.a o Sargento Mór Joaquim Jozé da
Costa, e como se aproximase a esta Cidade a dita Tropa regresada no dia 5
e pelo oficio do Alferes Miguel Ferreira Cabral encarregado do comando da
dita exped.am. ouvessem indicios de que ella vinha neceiosa de entrar e por
isso aparelhada a resistir mandarão os ditos comandantes da 1.a e 2.a linha
repitir o rebate em cuja ocasião se me apresentou o Te. Gel. reformado
— 197 —
IMPERADOR P.
João Alfredo Corrêa de Oliveira.
Carta pela qual Vossa Majestade Imperial Há por bem Fazer Mercê
ao Coronel Manuel Varela do Nascimento do Título de Barão do Ceará-Mirim,
como acima declara.
Para Vossa Majestade Imperial Ver.
[No verso) . Por decreto de 22 de junho de 1874. Cumpra-se e registre-se.
Palácio da Presidência do Rio Grande do Norte 8 de Agôsto de 1874. Bandeira
de Melo Filho. Pagou cem mil réis de emolumentos. 100$000. Alfândega do
Rio Grande do Norte 8 de agôsto de 1874. Assinatura ilegível.
(à direita). Registrada no livro competente. 2.* Seção da Secretaria de
Estado dos Negócios do Império em 10 de julho de 1874. Assina fulano de tal
Souto. Registrada. Primeira seção da Secretaria da Presidência do Rio Grande
do Norte, 8 de Agôsto de 1874. O Chefe de Seção — Francisco Gomes da
Rocha Fagundes.
(/Vo [im da página, com a mesma letra do Decreto assina o calígrafo) :
Antonio de Sales Belfort Vieira a fêz.
Linda letra do Sr. Belfort...
CAPÍTULO VIII
ADENDOS
II
A 16 de Novembro de 1889 Umbelino Freire de Gouveia
Melo, liberal, estava no Recife e recebeu um telegrama de Amaro
Bezerra aconselhando-o aderir à república e que outros amigos o
imitassem. O comendador Umbelino retransmitiu o telegrama ao
coronel Antônio Basilio Ribeiro Dantas que administrava a pro
víncia como vice-presidente. Em Natal sugeriram um golpe exce
lente. A República seria proclamada por correligionários liberais,
afastando dos postos de comando a meia dúzia de republicanos.
Possivelmente seria outra a trajetória de Pedro Velho se Antônio
Basilio tivesse consentido no plano. Mas Antônio Basilio recusou,
nobremente, informando do que se tratava.
No Rio de Janeiro o padre João Manuel de Carvalho, crono
lógicamente o veterano da República, procurou o Ministro Aristi
des Lôbo, alegando seus direitos de primogenitura doutrinária.
José Leão Ferreira Souto, delegado do Partido na Corte, salvou
a situação, recordando Pedro Velho, sua atuação, inteligência e
direitos de organizador e conseguindo um telegrama oficial: —
Doutor Pedro Velho. Natal. Assuma Govêrno. Proclame Repú
blica . ( a ) Aristides Lôbo.
A fôrça militar era representada essencialmente por uma com
panhia do 27 Batalhão, comandada pelo capitão Felipe Bezerra
Cavalcanti. Êste tivera aviso de Benjamim Constant e convidara
— 209 —
III
Espalhou-se a notícia da nomeação do Dr. Adolfo Afonso da
Silva Gordo, nomeado pelo Govêrno Federal a 30 de Novembro
de 1889, para o cargo de Governador do Rio Grande do Norte.
— 211 —
IV
De 28 de fevereiro de 1892 a 25 de março de 1896, Pedro
Velho organizou o Estado na forma geral que possuímos, ampliada,
desdobrada, evoluída. Todos os departamentos administrativos
foram renovados, reformados, adaptados às exigências da época.
Instrução e Saúde Pública, Tesouro, Justiça, criação de Municipios,
estradas, escolas, tudo apareceu, com regulamentos, leis, decretos,
sugeridos por êle e muitos redigidos por sua mão. Suas "men-
— 216 —
V
Ferreira Chaves foi o primeiro governador eleito diretamente
pelo povo. Os dois anteriores, Miguel. Castro em. 189/T e Pedro
Velho em 1892, haviam sido pelos respectivos Congressos Legis
lativos. O$ eleitores norte-rio-grandenses tiveram a sensação nova
de escolher, pela primeira vez na Historia, o seu mais alto gover
nante, chefe do executivo, o primeiro, magistrado, a 14-6-1895.
Moreira Brandão, o velho chefe liberal, foi o adversário apresen
tado pela oposição coligada.
Não é possível resumir as reviravoltas e torneios políticos do
tempo até nossos dias amáveis. Há episódios merecedores de re
cordação. Na sucessão presidencial de Prudente de Moraes o
Estado, pelo seu Partido situacionista, prometeu, ao lado dos gran
des eleitores, sufragar Lauro Sodré para Presidente da República.
As negociações e acomodamentos posteriores levaram os grandes
e majestosos eleitores ao abandono !do compromisso e a jurar
bandeira nas mãos de Campos Sales. De todos os que haviam
prometido restaram apenas dois Estados, Paraná e Rio Grande
do Norte, que foram às urnas em 1-3-1898, votando em Lauro
Sodré, sabido e anteriormente derrotado pela massa aglomerada
contra êle. O grande paulista Campos Sales, com a sua «Política
dos Governadores», não exerceu as inevitáveis e esperadas vin
dictas comuris e "eternas, não obstante os pregões da liberdade de
mocrática ao voto. Êsse fidelismo norte-rio-grandense engrande-
.ccu-o. Estado pequeno de grande gente, proclamava Lauro Sodré
a vida inteira grato aosAque cumpriram a palavra até o final.
• Ferreira Chaves, 25-3-1895 a 25-3-1900, cuidou especialmente
das finanças alquebradas e perpètuamente iniciantes. Fêz quanto
pôde pélo interior. Na capital deu os passos iniciais de seu afor-
moseamento.
Alberto Maranhão substituiu-o a 25-3-1900, vindo a igual data
em 1904. As melhorias materiais da capital seguiam lentamente.
Finanças más absorviam atenções. O Estado subia devagar os
degraus, com esforço, desajudado, desconhecido/pequenino.
Augusto Tavares de Lira, 25-3-1904 a 5-11-1906, encontra a
tragédia da sêca de 1904-1905',' rareando quando podia ter reali
zado. Desdobrou-se infatigàvelmente, defendendo as vidas con
terrâneas, não podendo evitar o êxodo para o extremo norte, come
çou obtendo recursos limitados do Govêrno Federal para obras no
sertão. Em Natal construiu edifícios públicos ainda na primeira
— 218 —
VI
Comandava as forças revolucionárias o major Luiz Tavares
Guerreiro. Os oficiais, reunidos no Palácio do Govêrno, convida
ram o desembargador Silvino Bezerra para o cargo de Governa
dor revolucionário. Silvino Bezerra recusou. A ala revolucioná
ria local, apoiada por elementos populares, aclama João Café Filho.
No'mesmo dia 6 foi instalada Junta Governativa Militar, com o
major Luiz Tavares Guerreiro na presidência, o capitão. Abelardo
Tôrres da Silva Castro e o tenente Júlio Perouse Pontes.
A Junta Governativa Militar, 6 a 12 de outubro de 1930, nos
seis dias administrativos cuidou em manter tranquilo o ambiente,
refreiando o entusiasmo predatório dos irresponsáveis e aprovei
tadores atrevidos. Os primeiros decretos saíram, dissolvendo os
223 —
VII
Até o final do govêrno interventorial os órgãos funcionais do
Estado do Rio Grande do Norte eram os seguintes :
Inlerventoria Federal.
a) Secretaria Geral do Estado.
b) Gabinete da Interventoria (Decreto n.° 409, de 12-1
de 1955).
c) Departamento das Municipalidades (Decreto 16, de
6-12-1939).
À Secretaria Geral do Estado, Decreto 239, de 30-6-1924, são
dependentes :
1 — Departamento da Fazenda, Decreto 239, 30-6-1924.
2 — Departamento da Segurança Pública, Decreto 239, de
30-6-1924.
3 — Departamento de Educação, Decreto 239, 30-6-1924.
4 — Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda,
Decreto 98, 27-6-1941.
5 — Departamento Estadual de Estatística, Decreto 358, de
9-12-1937..
6 — Departamento de Agricultura, Viação e Obras Públi
cas, Decreto 404, 10-1-1933.
7 — Contadoria Geral do Estado, Decreto 15, de 6-12-1939.
8 — Fôrça Policial, Decreto 807, de 29-12-1939.
9 — Repartição do Saneamento de Natal, Decreto 338,
26-11-1937.
10 — Junta Comercial, Decreto 132, 13-9-1939.
11 — Serviço Estadual de Algodão e Classificação de Pro
dutos Exportáveis, Decreto 105, 18-8-1941.
12 — Serviço Estadual de Estradas e Pontes, Decreto 112,
12-9-1941.
São autônomos: O Egrégio Tribunal de Apelação, criado pela
lei n.° 12 e instalado a 1-7-1892, e o Departamento Administrativo,
criado pelo Decreto-lei federal 1.202, de 8-4-1939 e instalado a
25 de julho do mesmo 1939. A Constituição Estadual de 1947,
cap. V, deu nova organização, suprimindo a Secretaria Geral e
os Departamentos e substituindo-as por Secretarias de Estado.
VIII
O general Antônio Fernandes Dantas, Interventor Federal,
governou de 3-7-1943 a 15-8-1945, sendo substituído nas ausências
pelo secretário geral, desembargador João Dionisio Filgueira.
— 227 —
ADENDO
DA ATA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA EM NATAL
8 -- 22 de fevereiro de 1936.
10 — 25 de novembro de 1947.
Decreta :
II
Natal foi a única freguesia do Rio Grande do Norte até
meados do século XVIII. Êsse século XVIII criou dez freguesias.
Duas não existem mais, Vila Flor que se passou para Canguare-
tama, e Estremoz que se mudou para o Ceará-Mirim. As outras
são Açu, Goianinha, Caicó, Pau dos Ferros, Arez, Portalegre,
S. José e Apodi. São do século XIX, Santana do Matos, Papari,
Atari, Santa Cruz, Touros, S. Gonçalo, (extinta) Angicos, Campo
Grande, Martins, Mossoró, Patu, Jardim do Seridó, Nova Cruz,
Serra Negra, Caraúbas, Penha, Ceará-Mirim, S. Miguel de
Júcurutu, S. Miguel de Pau dos Ferros’, Macaíba e Currais Novos.
S. Bento, em 1868 transferiu-se para Nova Cruz. As restantes
são do século XX.
Natal — N. Sra. d’Apresentação. Em abril de 1601 era
freguesia sendo vigário o padre Gaspar Gonçalves da Rocha. A
tradição oral de que S. Quiteria teria sido padroeira é impro
vada (§) Sede de Bispado (1909) e de Arcebispado (1952);
Açu — em 1726 era seu vigário o padre Manuel de Mesquita
e Silva. O orago é S. João Batista (Mossoró).
Goianinha — já era freguesia em 1746 (relatório do 7.° Bispo
de Olinda. D. Fr. Luís de S. Tereza) . Mons. Francisco Seve
riano dá 1690 para sua criação o que deve ser engano. Em 1749
era vigário o Pe. Antônio de Andrade de Araújo. Padroeira
N. Sra. dos Prazeres (Natal).
Caicó — criada em 15-4-1748, sendo seu vigário o Pe. Fran
cisco Alves Maia. Padroeira, Santana (Bispado).
— 248
IV
Presbiterianos. O primeiro núcleo da Igreja Presbiteriana
constituiu-se no Rio Grande do Norte em Mossoró. Nas festas da
libertação do município na campanha abolicionista, em 30-9-1883,
entre os presentes, discursando e sendo citado está “o cidadão
norte americano Wardlaw”, com escrevia Almino Afonso. Era
o ministro protestante De Lacey Wardlaw que chegara ao Recife
em agôsto de 1880 é partira para o Ceará em setembro de 1882,
iniciando ali a pregação evangélica. Wardlaw foi auxiliado pelo
português José Damião de Souza Melo, o primeiro converso no
Ceará, e especialmente por Francisco Filadelfo de Souza Pontes,
ativo propagandista de incansável tenacidade. Em 1885 um centro
presbiteriano estava organizado em Mossoró. Foi o ponto de
partida.
Em Natal, entre 1879 e 1880, estiveram os missionários leigos
Francisco Filadelfo de Souza Pontes e João Mendes Pereira
Guerra, distribuindo Biblias e conversando com os simpatizantes.
Tinham sido enviados pelo rev. Dr. John Rockwell Smith, ver
dadeiro iniciador do Presbiterianismo em Pernajnbuco, onde se
fixara em janeiro de 1873. John Rockwell Smith casou coi>
D. Carolina Porter em 1881, irmã de ÃVilliam Calvin Porter,
depois aluno e ordenado pelo rev. J.R. Smith em 26-9-1889.
O*rev. Porter é a própria história do protestantismo em NataL
— 253 —
a nova freguesia; e Sul e Oeste para a atual. — Art. 3.9; — Que o Pároco
Bom Jesus dos Navegantes do Porto' dos Toiros, e a Igreja se conserve com
DE 1832, feita pelo Juiz de Paz Joaquim Xavier Veloso cujo original li no
população existente.
Carnaúbas .......................................................................................................... 9 36
Piracambu ................................................................................................................ 1 18
Barra de Punaú................................................................................... 8 44
Garças .................................................................................................................................. 16 56
........................
M Gameleira ...................................................... *...................................................... 2 13
Carnaúbas .......................................................................................................... 21 77
Cutia ........................................................................................................................................ 3 11
Guajaru ...................................................................................................................... 2 8
S. Âlberto ..........................................................................................................
6 18
Pedra ........................................................................................................................................ 11 54
— 258 —
Il
Como uma homenagem ao bom combate recordamos no Ceará-
Mirim o Colégio S. Francisco de Sales, desaparecido, fundado e
dirigido pelo Dr. Francisco de Sales Meira e Sá, 1884-1888, assim
como o Colégio Sete de Setembro em Mossoró, do prof. Antônio
Gomes de Arruda Barreto, de 1900 a 1905, ambos com profunda
impressão ambiental. A 2-3-1901 instalava-se em Mossoró o
Colégio Diocesano S. Luzia, o mais antigo do Estado e em plena
vitalidade educadora, sendo marcante a passada administração do
Pe. Jorge Ó Grady de Paiva.
Em Natal, fevereiro de 1902, inaugurava-se o Colégio da
Imaculada Conceição, das freiras do Instituto de S. Dorotéia, o
primeiro estabelecimento para educação feminina, sem desconti-
nuidade até o presente. A 2-3-1903 nascia o Colégio Diocesano
S. Antônio, de inexcedíveis serviços à instrução masculina.
Passou à Congregação dos Irmãos Maristas a 26-12-1929, rea
brindo seus cursos a 2-2-1930.
Dirigido pelas freiras da Ordem Terceira das Franciscanas
Hospitaleiras Portuguêsas inaugurava-se em Mossoró, a 2-8-1912,
o Colégio do Sagrado Coração de Maria.
A Escola Doméstica instalava-se em Natal a 1-9-1914, man
tida pela Liga do Ensino, inspiração e ânimo de Henrique Cas-
triciano de Souza. Era a primeira no Brasil em seu gênero, sob
rnodêlo técnico superior, assimilada inteligentemente em relação
ao espírito - nacional. Impar e poderosa, a Escola Doméstica de
Natal é um dos mais altos e legítimos títulos de alegria educacional
brasileira. Diplomou sua primeira turma a 25-10-1919 sendo pa
raninfo o ministro Oliveira Lima.
A Escola de Comércio é de 8-9-1919, de incalculável bene
fício, inflexível orientação e benemérita continuidade.
Em 11-10-1925 as freiras da Congregação de Filhas do Amor
Divino abriram o Colégio S. Teresinha do Menino Jesus no
Caicó, Dois outros, pertencentes à mesma colméia, incansável e
laboriosa, surgiram, o Colégio de N. Sra. das Vitórias no Açu
a 9-3-1927 eodeN., Sra. das Neves em Natal, a 2-8-1932.
— 271 —
ADENDO
Francisco dc Castro Morais, governador dc Pernambuco,
escrevera em dezembro de 1703 à senhora rainha da Inglaterra,
Infanta Regente de Portugal, sobre um assunto raro nos papéis
oficiais. Em carta régia de 18-7-1704, Sua Alteza respondia a
carta "em que representeis ser mais conveniente o remeter-se deste
Reino a Botica que se vos ordenou mandásseis para a cura dos
Soldados que assistem no Açu do Têrço dos Paulistas e da mesma
maneira outras para o Ceará, Jaguaribe e Rio Grande por custarem
muito nessa Capitania os medicamentos e não serem tão bons; e
na consideração destas vossas razões, e por se entender ser útil o
que apontais. Me pareceu mandar-vos remeter as quatro Boticas
que insinuais serem necessárias para os ditos Presídios.”
Entende-se da resposta de Sua Alteza que Açu e Rio Grande
(Natal) receberíam duas boticas e que os medicamentos eram tão
caros em Natal de princípios do século XVIII como estão sendo
na segunda metade deste XX. Essas boticas destinavam-se exclu
sivamente aos soldados feridos. Quais os remédios ^ Compreendia
12 arráteis de marcela e 12 pílulas de amília, podendo servir inde
finidamente. A carta régia é, para mim, o mais antigo documento
que se refere ao socorro médico na Capitania.
A guarnição militar do Forte dos Reis Magos possuiu seu
cirurgião muitos anos depois. Num documento de 1749, na “Des
pesas que se fazem pela dita Provedoria Real, em cada ano", está
o registo: — “O Cirurgião que assiste a curar a infantaria vence
uma praça de soldado e pão de munição, que com o ordenado de
cirurgião vence ... 63$ 180.”
Êsse Cirurgião do Forte inicia a história dos auxílios médicos
no Rio Grande do Norte. Empoleirado no alto do tenalhão,
namorando o mar, era a única criatura humana, em tôda Capitania,
capaz de falar alto e grosso sôbre os humores, os ares e as influên
cias misteriosas dos astros. É o respeitável antepassado dos nossos
doutores.
Vindo para o século XIX as informações esclarecem vaga
mente o assunto. Temia-se especialícente a peste das bexigas, va
riola, praga devastadora e tradicional, em caráter quase endêmico.
A variola devorou o indígena na mais ampla porcentagem dos males.
Na manhã da conquista, em dezembro de 1597, a expedição vinda
— 276 —
(H)
A partir de 1871 há o Inspetor de Saúde Pública além do
Médico do Partido, pouco a pouco substituído. Nas-calamidades
a Presidência nomeava vários clínicos para atender às populações
do interior. A função do Médico do Partido Público estava dema
siado ampla para que pudesse exercê-la sózinho como outrora.
— 281 —
ADENDO
Helio Galvão.
Diretor Geral do Departamento de Reedu
cação e Assistência Social.
raina como destino último dos bens dotados «huma órfã das mais pobres e
desemparadas e onradas desta Capitania» (Helio Galvão, Pesquisas e Notas, 2,
«Bando», dezembro, 1950). ■ . 1
Por sua vez dona Francisca Correia, cujo testamento se executou em
Goianinha em 1790 fêz consignar urna verba de 25$000 para «alguma orfã»
que seria entregue ao pároco.
Os primeiros rudimentos de assistência social vamos porém encontrar ñas
Comissões de Socorro às vítimas das sêcas, organizadas sempre que o flagelo
se declarava mais intenso. No Arquivo da Secretaria Geral do Estado há
um maço com relatórios de várias dessas comissões. O material ali reunido
oferece dados proveitosos para estudo dos problemas de assistência em seus
começos remotos, porque revela em muitos dêsses órgãos admirável espírito
de solidariedade humana e até mesmo surpreendentes antecipações de alguns
aspectos da moderna técnica assistencial, guardadas, é bem de ver, as neces
sárias proporções.
Os relatórios dos presidentes da Provincia que a governaram nos anos
de sêca dão notícias das providências tomadas, mas sempre o órgão encarre
gado de efetivá-la é a Comissão de Socorro. O presidente Passos refere as
medidas por êle determinadas: uma assistência ampla aos deslocados da
sêca dc 1877.
Ê um ângulo novo sob que estudar a sociologia das sêcas; determinante
dos esboços iniciais de assistência social, como por exemplo o abrigo fundado
pelo Padre Antônio Xavier de Paiva, que chegou reunir na povoação de
Vera Cruz (São José de Mipibu) mais de 600 retirantes da grande sêca
de 77.
Na sêca de 1932 coube essa missão de assistência à filial da Cruz Ver
melha Brasileira. Mas retirada esta foi criada a Diretoria Geral de Sêcas
(Decreto 307, de 13 de julho de 1932) cujo regulamento estabelecia uma
seção de assistência e beneficência. Essa diretoria pràticamente não viveu.
Dez anos depois outra grande sêca flagelava o Nordeste. Em Natal foi
criada pelo govêrno e entidades particulares a «Campanha de Assistência aos
Flagelados», que fundou abrigos para os deslocados. Quando a calamidade
passou foi criado um órgão destinado a centralizar os serviços assistenciais
no Estado,- o Serviço Estadual de Reeducação e Assistência Social (SERAS)
cujo primeiro diretor, Aluízio Alves, fôra o secretário da Campanha de Assis
tência (Decreto-lei n.° 191, de 12 de março de 1943). É curioso notar que os
sucessivos regulamentos que teve o SERAS não disseram nada sôbre assis
tência aos flagelados das sêcas. Mas que a.experiência da campanha foi apro
veitada confessa o respectivo diretor no primeiro relatório em que presta contas
ao govêrno do Estado.
A lei n.° 421, de 7 de novembro de 1951 transformou em Departamento
o antigo Serviço Estadual de Reeducação e Assistência Social, designando-o
abreviadamente pela sigla DERAS. Ficou êsse órgão, por essa lei, incorporado,
como departamento autônomo ao nosso sistema de administração.
De acôrdo com sua organização interna o DERAS assim está operando:
— casas de menores;
— abrigo de velhos;
— subvenção a entidades privadas.
Existem atualmente três casas de menores (Casa Juiz Melo Matos, Instituto
Padre João Maria e Casa Mário Negócio) um abrigo de velhos (Abrigo
Juvino Barreto) e setenta e oito entidades subvencionais na Capital e no
interior.
O Instituto Padre* João Maria foi criado pelo Estado e inaugurado a.
1.* de janeiro de 1912, dirigido pelas Irmãs de Santana, sob contrato. Deno
— 288 —
Foram diplomadas até 1952 as seguintes alunas: Hígia Miranda Neves, Cri-
naura Alves, Alix Pessoa Ramalho, Clélia Vale Xavier, Maria de Lourdes
Santos, ‘Eliene Monteiro e Aristéa Rodrigues e muitas outras que não defen
z
CAPÍTULO XII
(UI)
Nos séculos anteriores os reçursos jurídicos iam à Relação da
Bahia £or intermédio da .Ouvidoria da Paraíba, decorrentes do
despacho dêsse magistrado. A última esperança era a Casa de
— 300 —
COMARCA TÊRMO
Acari ...................... 1 Acari ................ 1
f Açu .................... 2
Açu ........................... A[ Ipanguaçu ........ 2
Alexandria .............. 3 Alexandria ........ 3
f Angicos ............ 4
Angicos ..................
I Pedro Avelino . . 4
302 —
do Ouvidor, etc.
Santa Cruz e Angicos (Pedro Velho) . Foram anuladas pelo Decreto número
Judiciária», lei n.° 12, de 9-6-1892, não as manteve. Não tinham sido providas
nem instaladas.
z
CAPÍTULO XIII
Totonha do Lagamá !
— 311 —
(II)
Até princípios do século XIX não havia serviço postal. Os
Capitães-Mores despachavam os próprios de confiança, levando
cartas, duma para outra parte. Pela via marítima a correspondência
era entregue ao comandante do barco. Ainda em 1810 os admi
nistradores confiavam aos indígenas o saco de seda carmezim, con
tendo papéis oficiais. O portador do saco de sêda carmezim tinha
direito a requisitar animais e abusava, humanamente, dessas prer-
— 313 —
(UI)
Eliseu de Souza Martins, 38.° presidente da província, inau
gurou em Natal, a 4 de agôsto de 1878, o serviço telegráfico. A
melhor reportagem fêz o vice-presidente Manuel Januário Bezerra
Montenegro, no seu relatório à Assembléia Legislativa Provincial
a 4-12-1878. Assim informou S. Excia aos deputados: — “No
— 315 —
IV
A primeira companhia que fêz o serviço regular de cabotagem
no Rio Grande do Norte foi a Companhia Pernambucana de Na
vegação Costeira a Vapor. O Govêrno Imperial, pelo Decreto
ÔIBLIOTPPa
— 316 —
V
A Estrada de Ferro Natal e Nova Cruz durou curtos sete
anos de decretos, prorrogações e aditivos. A lei provincial n.° 682,
de 8-8-1873, concedia os direitos e a 2-7-1874 assinou-se o con
trato com Cícero de Pontes, Luiz Pedro Drago, José de Sá Bezerra
e Francisco Manuel da Cunha Júnior. A Estrada teve garantia
de juros de 7 c/o sôbre o capital máximo de 6.000:000$ pela lei
317 —
Pimenta que os cantava. Eram muito mais extensos. Em agôsto de 1952 assisti
çao .
A elevação do Pelourinho denunciava a existência da auto
ridade civil, a organização municipal, expressa pelo Juiz Ordinário
e Senado da Câmara, até 1-10-1828 quando se criou a lei que
deu nascimento às Câmaras Municipais. O Pelourinho é o sím
bolo da autoridade local. Fazê-lo representar opressão e arbítrio,
violência e sanpue é apenas desconhecer a História real ( 1 ) .
Tôdas as Vilas possuiríam, anteriormente, os direitos de /uZ-
gado, a entidade inicial administrativa quanto à distribuição da
justiça. Religiosamente havia o Curato, ponto de partida para a
futura freguesia.
Existindo na Ribeira mais de cinquenta moradores, dispersos,
e relativamente vizinhos, nomeava o Capitão-Mor uma autoridade
local, sem' vencimentos, representando a justiça, encarregada de
mantê-los em boa ordem, harmonizar-lhes as desavenças. Era o
Sargento-Mor da Ribeira. Assim em 4-10-1755 o Capitão-Mor
nomeava José de Oliveira Leite para a Ribeira do Mossoró, por ser
“pessoa principal e de conhecida nobreza, afazendado morador na
mesma ribeira e de honrado procedimento”. Assim eram depois
nomeados, eleitos quando havia Câmara, os Juizes de Vintena ou
Pedáneos, começando os rudimentos da teia forense. A provisão
de 21-4-1739 criara o Têrço dos Auxiliares nas terras sefvídas
por portos e determinava nas Vilas e Cidades a organização das
Ordenanças, com um Capitão-Mor, Sargento-Mor e Ajudante,
distribuidas inicialmente em Legiões e depois em Regimentos.
Sômente em 1831, decret^ de 20-12-1831, a Regência do Brasil
— 326
lei n.° 929; JANUARIO CICCO í antigo distrito «Boa Saúde»), 996,
(*) O Município de S. Bento fora criado pela lei 245, die 15-3-1852.
— 336 —
(*) S. Gonçalo passou a.scr «Felipe Camarão» pelo Decretc-lei n.° 268,
de 30-12-1913, o mesmo que extinguiu o município.
— 341 —
(UI)
Seis municípios desapareceram na função administrativa norte-
riograndenses. Desapareceram seus nomes, perdidas as sedes.
Quatro foram transferidas. Uma extinta e outra nãozchegou a
instalar-se. Três no Império e três na República.
Estremoz foi município a 3-5-1760. A lei 321, de 18-8-1855
transferiu a sede do município para a Povoação da Bôca da Mata,
elevada à Vila do Ceará-Mirim (Antônio Bernardo de Passos).
Êste mesmo Presidente, pela lei n.° 345, de 4-9-1856, suspendeu a
execução da anterior, enquanto não se verificasse a construção da
Casa da Câmara e Cadeia na nova Vila. O Presidente Antônio
Marcelino Nunes Gonçalves, pela lei n.° 370, de 30-7-1858, rornou
sem efeito a suspensão e verificou-se a mudança. Ceará-Mirim
evoluiu e Estremoz decresceu até o melancolia atual, povoada de
recordações e lendas.
Vila Flor, município desde 1769, segundo Moreira Pinto mas,
logicamente, bem anterior, assistiu a transferência de sua sede
para o Saco do Uruá óu Povoação do Uruá, pela lei n.° 367, de
— 348 —
(IV)
Denominação dos Municípios e dos Distritos.
Acari — peixe d’água doce, cascudo, Plecostomuns, Hipos-
tomas, Loricáridas, abundantes nos poços do antigo sítio da
cidade.
Açu — Em nhêengatu o mesmo que “grande”. Local de uma
grande aldeia, Taba-açu.
Ipanguaçu — Ilha Grande, nome de um chefe potiguar, pagé
da tribo na época da colonização. Era de grande prestígio entre
os seus e auxiliou essencialmente a fixação portuguêsa na região.
Alexandria — homenagem da Câmara Municipal do Mar
tins à dona Alexandrina Barreto Ferreira Chaves, falecida no
Rio de Janeiro em 10-1-1921, nascida na região. O nome anterior
era Barriguda e Barriguda da Imperatriz. A Serra da Barriguda
lembra uma mulher grávida, especialmente vista por quem vier da
fronteira da Paraíba.
Angicos — O local onde se fundou a povoação, vila e cidade
tinha nome de sítio dos angicos pela abundância dessas árvores,
Leguminosas, divisão Mimoseas, família Piptadenia, acácia-angico,
angico branco, angico vermelho, angico verdadeiro, etc.
Pedro Avelino — ver biografia no Cap. XX. Antigo Gaspar
Lopes e Epitácio Pessoa.
Apodi — coisa firme, altura unida, fechada, uma chapada,
4- ppdi ou ç-potf.
Areia Branca — ou Areias Brancas.
350 —
Baixa Verde —
São Bento do Norte — nome da propriedade primitiva. A
Capela, 1915, é dedicada a S. Antão, Abade. O núcleo da popu
lação estava na praia atlântica, Caiçara, a velha, soterrada pelos
morros, e a nova que se confundiu com a Vila atual. Caiçara
era povoação conhecida antes de 1849. Zona de pescarias de
voador. Distrito pelo Decreto-lei de 31-10-1938.
Taipu — .
Caicó —
Jardim de Piranhas —
S. João do Sabugi —
Serra Negra do Norte —
Canguaretama —
Vila Flor — nome de vila em Trás-os-Montes, Portugal.
Distrito pela lei municipal n.° 2, de 16-11-1892.
Pedro Velho —
Montanhas — antiga Lagoa de Montanhas. Distrito pelo
Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Caraúbas —
Janduís — tribo cariri que tomou nome do seu chefe, Janduí,
de nhandú-í, ema pequena, o corredor, o veloz. Os Janduís foram
aliados dos holandeses. O nome anterior do distrito era São Bento
do Bofete, e depois Getúlio Vargas. O terreno onde está a Vila
pertencia à propriedade de Canuto Gurgel do Amaral (1890-1951,,
fundador e animador da povoação. Nome atual pelo Decreto-lei
n.° 268, de 30-12-1943.
Ceará-Mirim — - .
Currais Novos — • . *> '
Cerro Corá — região nos pântanos do Paraguai onde sucum
biu Francisco Solano Lopez, 1-3-1870, findando a guerra com o
Brasil. Chamou-se “Caraúbas". Distrito pelo Decreto-lei número
603, de 31-10-1938.
Florânia —
S. Vicente — A região, cortada pelo riaçho da Luiza (uma
indígena ali residente) era conhecida desde 1756 por “Saco da
Luzia" e também “Luiza". A povoação é de 1890 e a capela de
S. Vicente, de 1898. O fundador da localidade foi Joaquim Ade
lino de Medeiros. Nome atual pela lei n.° 146, de 23-12-1948.
(“Luiza", de 1944 a 1948).
355 —
Goianinha —
Arez —
Itaretama —
Jardim de Angicos — foi município. Ver III dêste Capítulo.
Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Pedra Prêta — nome da propriedade rural. A população aden-
sou-se provocada pelos trabalhos da construção da Estrada de
Ferro Central do Rio Grande do Norte, hoje Sampaio Correia,
inaugurando-se a estação local de Pedra Prêta em 14-11-1913.
Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Jardim do Seridó —
Ouro Branco — Muito povoado em fins do séc. XIX. Vila
pelo Decreto 457, de 29-3-1938. Teve denominação oficial de
“Manairama”, 1944-1948. O nome primitivo era o atual • - lei
n.° 146, de 23-12-1948.
5. José do Seridó — antigo “Bonita”. Povoação fundada em
4-11-1917. Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Juçurutu —
Luís Gomes —
Macaíba —
Felipe Camarão — ver biografia no Cap. XX. Foi município
de S. Gonçalo, ver III neste Cap. Nome atual pelo Decreto-lei nú
mero 268, de 30-12-1943. ,
Serra Caiada — outrora “Caiada de Cima”. Vila pelo De
creto-lei n.° 306, de 31-10-1938.
Macau —
Pendências — a mais antiga menção encontra-se numa sesma
ria concedida em 9-10-1712 ao sargento mor do Têrço dos Pau
listas José de Morais Navarro, do sítio Curralinho da praia da
Ribeira do Açu, que pega da Lagoa chamada as Pendências para
baixo. Pendências são rixas, lutas, tumultos. O povo diz sempre
no plural, as Pendências. Teve nome de “Independência”. Vila
pelo Decreto-lei' n.° 603, de 31-10-1938. Nome atual, que é o
histórico, pelo Decreto-lei 268, de 30-12-1943.
Martins —
Demetrio Lemos — antiga Boa Esperança. Ver biografia no
Cap.• XX. Nome atual pelo Decreto-lei n.° 268, de’ 30-12-1943.
Umarizal — abundância de Umaris, Geoffroya spinosa, L,
de uba~mo~ri~i, a árvore que verte água. Os nomes anteriores foram
— 356 —
Santa Cruz —■
Jerico — outrora Melão. Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de
31-10-1938. “Melão”, 1944-48. Voltou à denominação anterior
e atual pela lei n.° 146, de 23-12-1948.
Campo Redondo — antes Serra do. Doutor. O topónimo pro
vém de ser, Já em 1762, proprietário na região o Doutor Antônio
Joseph Teixeira de Moraes. Campo Redondo, denominação e dis
trito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938. “Serra do Doutor”
pelo Decreto-lei 268, de 30-12-1943. Voltou ao nome primitivo
pela lei n.° 146, de 23-12-1948.
S. José de Campestre —
Santana do Matos —
S. Rafael —
S. Antônio —
S. José de Mipibu —
Boa Saúde — nome da lagoa que denominou a região. Dis
trito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Monte Alegre — outrera Bagaço. Teve nome oficial de Qui-
rambu. Distrito (Monte Alegre) pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10
de 1938. «Guirambu» pelo Decreto-lei n.9 268, de 30-12-1943.
“Monte Alegre” pela lei 146, de 23-12-1948.
Nisia Floresta —
S. Miguel —
S. Paulo do Potengi —
S. Tomé—
Barcelona —• Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Touros —
Maxaranguape — a grafia antiga é Boixununguape, de m&of-
xinun~gua~pé, no vale ou na baixada da cascável. O rio Maxaran
guape nasce na povoação de Pau Ferro que, em 1832, possuia 44
casas e 223 habitantes. O Juiz de Direito do Ceará-Mirim, Doutor
José Inácio Fernandes Barros (1844-1907) mudou o nome de Pau
Ferro para “Pureza”. É a atual Vila de Maxaranguape. Fôra
distrito de Paz pelo Decreto 110, de 23-5-1891, na então “Povoa
ção da Pureza”. Distrito criado-pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10
de 1938, com o nome de Pureza. Mudado para o atual pelo De
creto-lei n.° 268, de 30-12-1943.
— 358 —
(V)
No ano da proclamação da República, 1889, o municipio de
Natal teve a receita de 9.425$290 e a despesa de 9.077$082. Em
1910, 88:521$000 e despesa de 88:521$000 no justo. Em 1941,
2.590.002,00 e 2.308.010,40. Em 1951, 12.640.712,20 e ....
12.297.077,00. Com 62 anos uma ascensão de nove contos para
doze milhões e seiscentos mil cruzeiros, sem indústrias reais.
O primeiro orçamento republicano de Mossoró previa a re
ceita ein 3.392$ e a despesa em 3.339$, no ano de 1890. O-cál
culo para 1891 é inferior, sempre na casa dos três contos anuais.
Em 1941 previu 957.440,40 para uma despesa de 861.105,20.
Ceará-Mirim vencia, calculando 3.955$970 e Caicó vinha com
2.686$430.
Com êsse divertimento de cifras, e examinando-se os orça
mentos municipais de 1910 e 1939 sente-se que o crescimento
global da receita atingiu 1.887 %. A renda total dos municípios em
1910 alcançava 330:707$867 nas trinta e sete unidades comunais
que dividiam o Estado. Em 1939, um só município, Mossoró,
arrecada 559:050$, superior a todo o computo receitual dos muni
cípios em 1910.
A arrecadação dos municípios em 1940 é de 7.202:757$600.
Em 1951 arrecadaram Cr$ 59.200.999,94.
Os Adendos e os quadros fixam os elementos que darão uma
perspectiva mais real da evolução municipal. Receita e despesas
orçadas para 1894, 1897, 1905 e 1910. Arrecadação total no qua
triênio de 1938-1941. Receita arrecadada e despesa efetuada em
1941 e 1951. Quadro dêsses valores nos municípios criados
em 1949.
359
Canguaretama ................................................... 8:897$000 •• — 9:600$000 10:000$000
Touros.....................................................
8:170$000
Taipu .........................;....
Macau .....................................................
15:011$979
Angicos ...............................................
2:178$000
Mossoró .........................................
14:787$000
Areia Branca ...
6:550$000
Assu............................................................
4:500$000
Santana do Matos
4:152$000
Augusto Severo ,
l:952$000
Martins ..........................................
4:600$000
Patu............................................................
2:849$474
Portalegre..............................
2:856$496
Pau dos Ferres .
2:397$000
S. Miguel..............................
2:902$000
360
— ’• 6:260$000 10:0005000
— 2:1885000 2:1055000
'i. . ’ • X.
Papari ................................................................ 2:8Q0$000
362
1:5405000 5:1655000 4:2725000
14:6905000 14:830$000 10:4205000
2:9925250 3:627$350 3:7105000
3:7505000 4:4155000 5:6805000
2:0935100 3:7055330 2:9405000
12:1605000 14:522$410 10:2805000
Assu..................................................................... 3:716$000
Santana do Matos............................................. 2:545$000
Augusto Severo ................................................ 1:816$000
S. Miguel............................................................ l:982$000
Caraúbas ............................................................ —
/
Acari .................................................................... 2:576$000
1897 1905 1910
— 6:2605000 9:9465000
Ui
O\
ARRECADAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO ,RIO GRANDE DO NORTE, NO QUADRIÊNIO DE 1938 — 1941
366
120:130$400 103:2275100 145:059$200
493:2425600 460:4325500 476:8415100 J
367
S. Gonçalo ................ ;..................................... 44:163$000 66:339$200 60:909$600 58:421$700
S. José de Mipibu ......................................... 77:729$4OO 73:487$400 91:531$600 98:734$300
S. Miguel ... ;................................................... 37:573$500 58:146$000 66:102$600 74:597$000
S. Tomé............................................................. 81:079$300 70:427$800 . 64:508$900 94:239$200
Serra Negra ..................................................... 66:095$900 64:209$700 76:055$400 67:379$200
Taipu ................................................................. 33:352$600 28:938$100 27:672$200 40:438$700
Contadoria, 13-4-1942 — Gasparina de A. Moura, Ajixiíiar 11. — Visto. — Solon Aranha, Contador.
— 368 —
Cr$ Cr$
J • 1
N.° | MUNICÍPIOS RECEITA 1 DESPESA
; • 1
1 1 1
Cr$ 1 Cr$
Cr$ Ct$
1 J^cari ........................................... 948.732,00 945.940,8C
2 Acu •................... ......................... 1.398.188,80 1.335.847.70
3 Alexandria .................................. 538.818,30 324.084,60
4 Angicos ....................................... 1 840.621,05 567.512,70
s Apodi ........................................... 644.709,60 486.801,60
6 Areia Branca .............................. 2.221.045,26 1.531.629,10
.7 Arês .............................................. 368.784,50 148.195,70
8 Augusto Severo ............................ . 403.464,70 390.504,20
9 Baixa Verde ................................ 949.359.40 923.862,50
10 Caicó ........................................... 3.738.843,20 3.160.603,50
11 Canguaretama ............................ 942.928,50 699.922,20
12 Caraúbas ..................................... 498.559,20 435.385,00
13 Ceará-Mirim ................................ 1.112.578,00 1.097.533,70
14 Currais Novos.............................. 1.693.774,80 1.067.497,50
*
15 Florânia ...................................... | 644.324,30 667.928,50
16 Goianinha .................................... 579.754,20 213.097,10
a
17 Ipanguassu ................................. 402.648,00 316.541,40
18 Itaretama (Não remeteu um só
balancete em Î951)
Cr$ Cr$
25 Martins....................... .......... . .. 1.266.971,13 1.262.937.43
1 1
N.° MUNICÍPIOS ¡ RECEITA ! DESPESA
11" 1
■ Cr$ Cr$
ADENDO
1.648:628$371 148:721$102
exportação gado
por não ser «imposto real» e sim uma obrigação de preceito divino.
No ano de 1814 rendia 112$670 réis.
Na Provincia o comercio do sal animava-se. Em 1844-45,
setenta e oito barcos carregaram em Macau 59.895 alqueires. O
Presidente Benvenuto Augusto de Magalhães Taques, na sua
“Fala”, de 3 de maio de 1849, estuda o que depois se chamaria,
solene e dispensadamente, problema do sal. Era a concorrência
estrangeira, os processos primitivos, o produto superior pela sua
qualidade intrínseca tornado inferior pela rudeza % das formas de
obtenção. O sal europeu era mais barato e melhor preparado.
Consistia essa a excelência única. Foi o período da derrocada,
visível nessas cifras melancólicas :
alqueires
1845-46 .............................................................. 59.895
1846-47 .............................. .............................. 54.0,1/2
1847- 48 .............................................................. 18.346,1/2
1849 ................................ .................................. 11.534
365, de 28-11-1914).
— 391 —
(II)
De 1943 a* 1952 afirma-se um movimento ascensional na eco
nomia. Os minérios fixam populações e salvam a previsão pessi
mista da arrecadação. A cheelita, com a exportação no valor
comercial de Cr$ 19.475.726,00 em 1943, desce para a casa dos
3 e 4 até mesmo Cr$ 665.135,00 em 1940, subindo, em 1950 e 1951
a Cr$ 13.958.254,00 e 17.988.513,00 respectivamente.
O gêsso mantém-se no nível dos 12, 18, 13, 19, 20 e 10 mi
lhões de cruzeiros, nesses anos. Os demais minérios corresponde
ram à estimativa (Ver quadros no ADENDO).
O algodão oscilou entre 17 e 23 milhões de quilos, descendo
em 1951 para 10. Em 1948, num pleno de 32.846.271, valia
comercialmente Cr$ 423.847.833,00, justamente quando se cobrou
o orçamento dos Cr$ 56.907.000,00.
Idénticamente o açúcar, com o valor mercantil de Cr$..........
460.897,00 para a safra mínima de 1943 e de Cr$ 486.089,00 para
os 710.570 quilos de 1944, ficou em 1, 2, 3, 5, 14 e 10 milhões até
1951 quando caiu para 199.673 quilos ño valor de Cr$ 714.375,00
(Ver quadro, açúcar e algodão, no ADENDO).
Os estabelecimentos industriais em. 1950 iam a 3.421.
Especialmente a partir de 1940 o agave (Agave americana, L)
intensificou seu cultivo no Estado, imitando-se modestamente o
exemplo da Paraíba que fôra pioneira nessa cultura. Era previsto
em 1951 uma safra entre oito a dez milhões de quilos de fibras.
Certamente o problema econômico no Rio Grande do Norte
tem uma base permanente no escoamento das pequeninas finanças
para aquisição de utilidades imediatas. A alimentação ainda está
subordinada à importação. O povo compra fora do Estado 92 %
do arroz, 58 % do feijão, 78 % da farinha indispensáveis. Feliz
— 392 —
4-1-1877, que o transferiu ao seu genro, Juvino César Paes Barreto. Posta
e foi vendida a aparelhagem para o Pará. Durante sua gestão deu ganhos
notáveis, sendo uma organização modelar, com escola, médico, assistência eco
w
1808
REGISTRO DE UM OFICIO QUE A CAMARA DIRIGE A S. ALTEZA
REAL
vê com prazer que na feliz vinda de V.A.R. a este novo Mundo vieram as
artes, as ciencias, e tudo quanto faltava ao grande Brazil para poder vir a
fazer mais opulenta figura no Oniverso. Para adiantar esta Epoca, conside
rando que a Capitania do Rio Grande do Norte é uma parte integrante do
Rio Brazil, se lhe deve perparar os caminhos mais breves de xegar a grandeza
pocivel, da qual resulte beneficio ao Povo, grandeza, riqueza e fortaleza ao
Império de V.A.R.; este é o nosso fim, pelo que, fiados na Paternal bondade
de V.A.R. Levamos com o mais profundo respeito as nossas vozes até o
Real Trono dizendo — Que esta cidade tem um porto capaz de recolher um
grande numero de armadas, bondade conhecida no século décimo cexto, quando
na barra se fez uma Fortaleza, que, suposto ainda exista, não sendo bastante
para a sua defeza, se lhe fez outra este anno de 1808 — Que todas as embar
cações, navegando pela costa do Brazil do rio dos Amazonas a Baia de todos
os Santos, lhes é fácil a navegação do dito rio para o sul até a este porto, onde
diariamente entram e se demoram té terem menção de continuarem a navegação
para baria vento, servindo egualmente este porto de azilo comum a todas as
embarcações que navegam na mesma costa do Sul ao Norte, sendo acuçadas
de máo tempo; o qúe se prova pellos muitos factos acontecidos nos nossos dias
e outros que nos tem sido transmitidos — Que, lançando a vista sobre a posição
Geographica do porto desta cidade, vemos que lhe ficam ao Norte as duas
capitanias g.eraes, Maranhão e Pará, e outras pariculares, e ao Sul Pernam
buco e Baia e. outras subalternas, e em nenhua délias se vê um porto capaz de
recolher uma Não de linha, o que pello contrario se admira neste, que, alem
de ser para mentos Néos, tem de mais a singolaridade de um abrigo tão pacifico
que qualquer Vaso por maior que seja se segura pela mais debil amarração.
A bondade deste porto com as mais circumstancias expendidas provam eviden
temente que a segurança mais solida das capitanias mensionadas dependem
muito de sua concervação; o meuio porem de concervar é dar-lhes forças taes,
que as Nações as respeitem: Mas se podem conceguir bem que sejam onerozas
a V.A.R., fazendo cultivar as muito boas terras desta Capitania, e fazendo
armar grandes pescarias para aproveitar o innumeravel peixe que á por toda
a costa da Capitania, Senhor, a agricultura e pescaria tem sido e são as bases
alimentares da grandeza das Nações, pelo que também podemos esperar o
sejam da grandeza desta Capitania: para conceguirmos também é perciso
dar-lhe outra direcção ao Governo, Justiça a recadação das rendas Reaes, ao
Çommercio, e em fim destruir todas as cauzas que té agora tem feito o atraza-
mento da mesma Capitania, quaes são as seguintes — O ser esta Capitania
sujeita a de Pernambuco pello que estes Povos padecem muito nas delongas
das suas .dependencias Civis, politicas Militares, e comerciaes, pois todas ellas
necesitão de passar pelo obliquo caminho de Pernambuco para xegarem ao
Trono Real Tribunaes Regios, e Praça do Comercio da Corte, de sorte que
todos os generös de comercio vindo ou indo desta Capitania para a Metropo7e
Nacional pagam dois riscos, dois fretes, e duas comições, emquanto os de
Pernambuco pagam só um risco, um frete e uma comição — O ser o Erario
desta Capitania sujeito ao de Pernambuco, por cuja cauza se arrematam em
Pernambuco os Dizimos desta Capitania em grande ramos aos moradores da
quela, o que cauza grave prejuizo. aos moradores desta, pois os lucros que
aqueles tiram são filhos dos suores e trabalho destes, pello que lhes ficam
desanimados e innabilitados de poderem- continuar com mais vantagens os seus
trabalhos, de que se segue o prejuizo geral, de sorte que a massa da riqueza
da Capitania vai diminuindo da mesma razão que podia augmentar; a isto
acresce o grave prejuizo da Fazenda Real, o gue se faz incrível só pela conci-
deração dè ser pequeno o numero de omens abelitados para rematarem os
Dizios em grandes ramos, sendo ao mesmo tempo maior o numero daqueles
que os podem rematar em pequenos ramos. O Ouvidor da Capitania da Paraiba
é quem administra a Justiça aos moradores desta, e por isso e’les quando tem
— 394 —
virem viver neste dilicioso clima Braziliense os omens que a fatalidade tem
feito nascer em ásperos climas e ainda também aqueles que em amenos climas,
vivem debaixo de pesado jugo. Nós só por por ora nos lembramos dos pretos
que podem vir em grande numero adiantar a agricultura deste Paiz, por isso
Pedimos a V.A.R. perdoi todos os Direitos daque’es que vierem vender nesta
Capitania da mesma sorte que V.A.R. faz mercê a Capitania do Pará.
Augusto Senhor Nosso, nós em outubro de 1807 rogamos ao nosso
Governador José ' Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque puzece na
Augusta presença de V.A.R. muitas das suplicas aqui expendidas» e porque
as evoluções do mundo politico, e o fedelicimo respeitoso amor que consagramos
a V.A.R. nos impele a fazer tudo quanto acabamos de expor; de mais
conhecendo nós com poca ou nenhua sabedoria, por isso proseados deanfe do
Trono Real com joelhos em terra, e vista baixa pedimos a V.A.R. perdão dos
nossos involuntarios erros e que defira as nossas suplicas, fazendo-nos todas
as mercês que pedimos só assim conceçuiremos o fim a que nos propuzemos;
pelo que nós e todos os abitantes desta Capitania agradecidos rogamos issen-
çantemente a Divindade Suprema aum,ente os dias da preciosa vida de —
V.A.R. enxendo-os tod*» maxima prosperidade.espiritual e temporal Cidade
do Natal em Veriação de 30 de abril de 1808. De V.A.R. Vaçalos obedientes
e leaes Antonio da Rocha Bezerra. Lourenço de Araujo Correia, Luis José
Teixeira, Manoel Soares Raposo da Camara. Manoel Jose Teixeira. E não
se continha mais em dita carta, que aqui registrei da propria. Cidade do Natal
— 28 de Junho de 1809.
Eu, Manoel Jose Moraes, Escrivão da Camara, o escrevi.
um pouco de historia
de deixar a Diocese por ter sido nomeado Bispo de Niterói, por Decreto n.° 8,
Crédito.
Landim e para seu órgão técnico a Caixa Rural e Operária de Natal, cujo
tivismo no Estado.
Barreto, porém a liderança do movimento dessa data até hoje, passou às mãos
cultura, inteligência de seus filhos, como o Dr. José Ferreira de Souza, tiveram
atuação brilhante.
sendo :
17 caixas rurais
4 bancos rurais
24
Nesse balancete colhi os dados que mais interessam a êste trabalho, fal
DEZEMBRO DE 1931
Cooperativas Associados Capital Depósitos Mov. Geral
Caixas Rurais ....................... 11 1.314:537$120 1.399:205$650
Caixas Operárias ................. 2 — — 134:379$020 135:967$310
Bancos Rurais .......................____ 4 — 182:950$000 40:757$820 259:494$750
13
Total das cooperativas existentes em 1-1-38.
403
1943 .. 555.000 628.259,00
— — — —
1945 ..
— — —
— — —
1943 .. — •— — — —
1944 .. —- .— — — — •
1949 : • — — — . . —
4
1950 .. — — ■— —-
406
1945 .. — — — — 22.257.738 12.282.217,00
1
1946 .. 3.644 229.800,00 20.450 46.120,00 32.109.256 16.576.329,00
AÇÚCAR ALGODÃO
11 -
1943 . — 460.897,00 73.538.405,00
ADENDO
Receita arrecadada e Despesa realizada, 1836-1950.
No ano de 1615 a despesa da Fazenda Real com a Capitania
do Rio Grande era de 3.293$950. Ao funcionalismo cabia 110$ e
ao pessoal de guerra, 3.183$950. Natal era uma fortaleza e o
interêsse consistia em sua guarnição militar. Não se fala em ren
dimentos. Já moía, na várzea do Cunhaú, um engenho de açúcar.
Seria a única fonte de renda.
Quinze anos depois, em 1630, a receita total atinge a quantia
de 3.518.581. É um resultado positivo do adiantamento finan
ceiro da Capitania. Iniciava-se a produção açucareira e o ciclo
do gado progredia. É a época em que Adriano Verdonck espiona
por conta do Conselho Político Holandês e constata a situação
humilde mas próspera pela continuidade do trabalho humano.
Regista a safra de 7.000 ou 8.000 arrobas de açúcar produzido
pelo engenho Cunhaú e elogia os rebanhos de gado. Paraíba
olhava seus dezessete engenhos moentes e correntes.
Não tinha, porém, pecuária. Marcávamos desta forma, na
manhã colonial, nossas linhas de produção financeira. Não havía
mos de ser, por séculos, industriais.
Em 1615 só se sabe da despesa e em 1630 só se conhece a
receita. Possivelmente daria cobertura para o gasto local. Cin-
qöenta anos depois a despesa da Provedoria Real ia a pouco
mais de 600$. É natural que, meio século antes, fôsse menor. Os
3.518$581 representam disponibilidade alviçareiras.
O gado era tudo e seu dízimo o fundamento das finanças que
se iniciavam.
O Papa Júlio III, por uma Bula de 4 de janeiro de 1551, dera
a El-Rei D. João III, in perpetuum, como grão mestre das Ordens
de Cristo, Aviz e Santiago, a jurisdição espiritual sôbre as terras
conquistadas. Dessa jurisdição decorria a adição dos dízimos à
Coroa. Como os dízimos, noutros países católicos, pertenciam ao
sacerdócio, o Rei, em compensação, daria congruas aos vigários,
mantendo o esplendor do culto e a propagação da fé.
Êsses dízimos eram comumente arrematados, dando o arre
matante caução ou fiador idôneo. O tempo duraria um ano ou um
triênio. As cobranças administrativas resultavam desastrosas.
Passado o domínio holandês, 1633-54, a gadaria se multiplica
nos taboleiros e várzeas. São milhares e milhares de cabeças. Em
412 —
(II)
A Lei Geral n9 99, de 31 de outubro de 1835, havia transfe
rido o dízimo *de gado para as rendas provinciais, retirando-o das
rendas gerais do Império. O primeiro orçamento norte riograndense
CRes. n9 32, de 4 de abril de 1835) não pormenoriza as verbas
dà receita provincial, calculando-a apenas na quantia de ......
15:009$162. No segundo orçamento (Lei n9 28, de 5-11-1836),
pela primeira vez, a Receita Provincial é determinada em suas
parcelas,- dividindo o total de 56:420$.
(UI)
Com o advento da República o Rio Grande do Norte perdeu
as subvenções que recebia normalmente para manter vários
serviços administrativos. A presidência, a magistratura, a polícia
civil, a higiene e, até dois anos antes de novembro de 1889, a polí
cia militar, eram financiadas pelo Govêrno Imperial, sendo a polícia
militar auxiliada com cêrca de 25:000$ anuais.
Nenhuma desonestidade se contara no período imperial. Os
recursos desequilibravam-se na oscilação do mercado exterior ou
pela influência de fenômenos climatéricos. Como a produção era
pequena, um deficit qualquer alarmava como uma bancarrota. A
prudência dos administradores imperiais, delegados de partidos e
sujeitos às injunções dos correligionários, é uma constante. O
recurso às emissões de apólices fôra empregado apenas duas vêzes,
a 9-9-1875 e a 5-4-1887. A massa dessa dívida chegara à Repú
blica em 42:800$.
— 418 -
(IV)
De 1931 a 1941 o Tesouro do Rio Grande do Norte arrecadou
184.440:983$200 e gastou 190.240:005$ 100, com um deficit de
5.799:022$900, maior que todo o orçamento da receita arrecadado
em 1922.
428 —
(V)
A Revolução não livrou o Rio Grande do Norte da velha
moléstia brasileira tão viva e virulenta no Império, a descontinui-
dade administrativa. De 6 de outubro de 1930 a 31 de julho de
1947, posse de José Augusto Varela, 11 Interventores Eederais 1
(treze contando com os três oficiais da Junta Militar) e os secre
tários gerais e diretores de Departamentos assumiram 30 vêzes.
Uma administração inesquecível no domínio financeiro foi a
de Mário Leopoldo Pereira da Câmara. Hercolino Cascardo seria
uma das mais brilhantes mas se interrompeu logo depois do
esquema anunciador de sua eficácia.
Não houve milagre nas finanças do Rio Grande do Norte.
Um exame nos orçamentos, desde 1936-37, evidenciará que o
movimento se processou incessantemente. 1933 retoma a receita
— 429 —
NOTAS
(1) anexo. Quadro da receita arrecadada e despesa realizada.
(2) Em 1929 importévamos 90.000 sacos de farinha de mandioca. Em
1932 a importação era de 52.689 sacos, de 75 quilos. O Rio Grande do
Norte fôra um bom exportador da farinha de mandioca, base secular da ali
mentação popular. Podemos calcular em 200.000 sacos a importação .até 1940,
ou sejam, quinze milhões de quilos. Nessas cuias de farinha o pequeno colhedor
de algodão esgota seu pobre saldo. E não pode melhorar a choupana, ali
mentar-se e menos ainda ajudar a saúde pessoal, bem merecedora de auxílios.
(3) Quadro.das Apólices da Dívida Pública do Estado do Rio Grande
do Norte em circulação a 31 de dezembro de 1936.
Leis:
763, de 9- 9-1875 ]
958, de 17- 1-1886 }• .................................... l:450$000
998. de 5- 4-1887 J
Decretos :
33, de 28- 8-1884 ]
48, de 18- 8-1896 I
5:200$000
73, de 2- 1-1896 |
-87, de 16- 1-1877 J
57, de 20- 1-1896 1
68, de 25-11-1896 |
73, de 16- 1-1897 f- .................................... 10:450$000
105, de 30- 1-1899 |
125, de 2- 1-1901 J
76, de 31- 3-1897 ......................................... l:368$000
130, de 12- 8-1902 ......................................... 93:000$000
57. de 17- 1-1916 ......................................... 5:150$000
67, de 13-10-1916 ....................................... . 5:250$000
9. de 19- 2-1914 ......................................... 42:250$000
150. de • 8- 9-1921 ...... . ................................. 155:650$000
525, de 18-11-1922 ..................................... ll:000$000
261, de 11- 2-1925 .... ;................................ 31:400$000
277, de 23- 7-1925 ............................... :.... 8:500$000
294, de 26- 2-1926 ............................... ......... 226:700$000
317, de 21- 1-1927 ......................................... 7:550$000
360, de 9-12-1927 ....................................... .. 100:000$000
396, de 14- 9-1928 ......................................... *2:800$000
398, de 28- 9-1928 •......................................... 136:000$000
417, de 25- 1-1928 ......................................... 105:900$000
429, de 30- 4-1929 ......................................... 86:500$000
475, de 12- 2-1930 ................................. 69:900$000
462, de 23- 1-1930 .............. ............... ........... 200:000$000
477, de 14- 2-1930 ......................................... 280:350$000
453, de 2- 1-1930 ......................................... 43:200$000
511, de 8- 9-1930 ......................................... 90:000$000
Total 1.719:568$000
NA REPÚBLICA
Ô Ô
falecimento do titular em desastre de aviação, a 12 dé julho,
vice-governador, assume o cargo de Governador do Estado pe
rante a Assembléia Legislativa em 16 de julho de 1951 (Ter
minará seu mandato a 31-1-1956).
(*) A Constituição Estadual de 1947 fixa (art. 40) cinco anos para»
> período gbvernamental.
%
CAPÍTULO XVIII
( 1 ) Origem do Corpo Policial. Histórico de sua organi
zação. (II) Denominações. (Ill) Chefia de Polícia.
A polícia na cidade do Natal era exercida pelos oficiais do
Senado da Câmara, encarregados de garantir aos cidadãos ou
homens-bons, o sossêgo da noite e distância dos ladrões noturnos.
Êstes, apanhados durante a função, iam para o Pelourinho e ali
ficavam em exposição algumas horas para que todos ficassem
conhecendo as' feições do amigo das cousas alheias.
Para o interior a autoridade, sargento-mor ou capitão-mor da
Ribeira, mantinha a tránqüilidade à sua custa e fôrça moral .res
ponsável aos olhos do Rei pela calma da região confiada à sua
personalidade.
O Capitão-Mor possuia soldados más êsses não exerciam
policiamento como o conhecemos. Nem repressão havia. Estavam
para certos e determinados casos como a fôrça militar do Exército.
No século XIX é que tiveram um Quartel digno e amplo, inaugu
rado em 1813, para a Companhia de Linha. Muito remodelado
ainda resiste na Praça Tomás de Araújo.
No século XIX é que nasceu a idéia de uma fôrça policial
da terra, encarregada de agir diretamente, ampliadas as áreas
de uma fiscalização repressora.
Em 1833 o presidente Basilio Quaresma Torreão, falando ao
Conselho Geral da Província, expôs a questão: — “Em Pernam
buco o sangue dos nossos concidadãos ainda ensopa o solo bra.-
sileiro; e se tôdas essas oscilações não têm até hoje cruzado as
raias da nossa. Província, nem por isso devemos tomar o sono da
indiferença, defronte mesmo da borrasca que nos ameaça. O
Destacamento destinado ao serviço da Província ainda está auxi
liando os nossos irmãos de Pernambuco na luta contra os homicidas
de Panelas; a Capital acha-se guarnecida por um Corpo exótico,
composto de soldados de Primeira Linha, e paisanos assalariados,
em total de sessenta homens, número insignificantíssimo à guardar
as Estações que convém; e o resto da Província entregue ao
tacanho auxilio dos guardas Nacionais, cuja má vontade se mani
festa ainda no mais doce serviço policial. Foi debaixo destas vistas
que organizei um plano de um Corpo de Cavaleiros, que de pronto
acuda a todos os pontos da Província, ou que sirva de base à
qualquer fôrça maior de que houvermos mister. Neste plano, que
vos vai ser mostrado, vós notareis a forma simples da organização
464 —
(III)
O cargo de Chefe de Polícia foi criado pela lei de 29-11-1832,
o Código de Processo Criminal. Seria função exercida por Juiz
de Direito de Capital. O primeiro Juiz de Direito efetivo da
Comarca de Natal foi o Dr. Joaquim Aires de Almeida Freitas,
posse a 12-8-1834.
Em maio de 1837 Almeida Freitas funcionava como Chefe
de Polícia. A designação, expressa e clara da lei, dirimia dificul
dades maiores. A JPõIícia era antes de tudo repressiva e punidora.
Ninguém admitia a possibilidade de uma autoridade preventiva.
Almeida Freitas, baiano, vice-presidente da Província, foi o
primeiro Chefe de Polícia que tivemos.
(*) Inaugurado a 30-5-1954, o Ouartel moderno.
- 469
DEPUTADOS GERAIS
PRIMEIRA LEGISLATURA. (1826-29)
Aaostinho Leitão de Almeida.
— 475 —
DEPUTADOS FEDERAIS
Os deputados pelo Rio Grande do Norte ao Congresso
Republicano Constituinte foram, na forma predita na Lei Magna,
os primeiros deputados federais. Independeram de outra eleição.
Promulgada a Constituição.passaram a legislar, então divididas as
casas do Segundo-Poder.
SENADORES IMPERIAIS
( Vitalícios, Constituição do Império, art, 40)
Afonso de Albuquerque Maranhão. Proprietário. Escolhido
por oferta imperial de 22 de janeiro de 1826. Posse a 22 de agôsto.
Faleceu em 10 de julho de 1836.
Francisco de Brito Guerra. Padre. Escolhido a 10 de junho
de 1837. Posse a 12 de julho. Morreu em 26 de fevereiro de 1845.
Paulo José de Melo Azevedo e Brito. Veador da Casa Im
perial. Escolhido a 15 de setembro de 1845 . Posse a 5 de maio
de 1846. Faleceu a 25 de setembro de 1848.
— 483
SENADORES FEDERAIS
A representação eleita a 15 de setembro, reuniu-se a 15 de
novembro de 1890 para o Congresso Constituinte Republicano.
Depois de promulgada a Constituição de 24 de fevereiro de 189Ir
eleito presidente e vice-presidente da República, o Congresso sepa-
rou-se e formou as duas casas legislativas, independente de eleição
distinta.
Senado e Câmara dos Deputados funcionaram a partir de
15 de junho de 1891 em obediência com o § 4.° do art. l.° das
disposições transitórias da Constituição da República.
Rezava o parágrafo 6.° do art. l.° das Disposições Transi
tórias :
§ 5.° “No primeiro ano ’da primeira legislatura, logo nos
trabalhos preparatórios, discriminará o Senado o primeiro e se-
gundo‘têrços de seus membros, cujo mandato há de cessar no têrmo
do primeiro e do segundo triênios.
§ 6.® “Essa discriminação efetuar-se-á em três listas, corres
pondentes aos três têrços, graduando-se os Senadores de cada
Estado e os do Distrito Federal pela ordem de sua votação res
pectiva, de modo que se distribua ao terço do último triênio o
primeiro votado no Distrito Federal e em cada um dos Estados,
e aos dois têrços seguintes os outros dois nomes na escala dos
sufrágios obtidos.”
Por êsse critério o mais votado ficaria Senador por nove
anos e os seus companheiros de eleição seguir-se-iam em seis e
três anos respectivamente.
Para o Congresso Constituinte o Rio Grande do Norte elegeu:
José Bernardo de Medeiros.
Tenente-coronel José Pedro de Oliveira Galvão.
Dr. Amaro Cavalcanti.
Na discriminação do Senado o primeiro ficou com os nove
anos, o segundo com seis e o terceiro com três.
— 484
Capítulo Primeiro
(I) A Capitania de João Barros. (II) Tentativas de colonização. Os
filhos do Donatário. (Ill) Presença francesa Traficantes e corsários.
Riffault. (IV) A expedição colonizadora de Mascarenhas Homem. Cons
trução do Forte dos Reis Magos. (V) Pazes com os indígenas. (VI)
Fundação da Cidade do Natal.
NOTAS ao Capítulo Primeiro. ADENDOS: Hojeda esteve no delta
do rio Apu em 1499? Vicente Pinzón esteve no Rio Grande do
Norte? A extensão da Capitania de João de Barros. O Porto dos
Búzios. O cabo de S Roque e a expedição de 1501. O mais antigo marco
colonial. O Padre Gaspar de Samperes. O Fundador da Cidade
do Natal.
Capítulo Segundo
(I) O Povo do Rio Grande do Norte. (II) Indígenas. Tribos, histó
rico, localização. (III) Negros, número, influência, miscigenação,
determinantes econômicas, pecuária, agricultura, atualidades. (IV)
O elemento branco, origens, projeção, valor étnico. (V) A marcha
demográfica. (VI) Movimentos de fixação.
NOTAS ào Capítulo Segundo.
Capítulo Terceiro
(I) Organização da Capitania. Governo. Limites. Informação de Anthony
Knivet. (II) A Igreja. (III) O Forte. (IV) Tentativas holandesas.
3, (V) O Domínio holandês.
NOTAS ao Capítulo Terceiro. ADENDOS: Onde desembarcaram os
holandeses? Por que o Forte se rendeu? O comandante holandês
dos Reis Magos. Trabalho holandês no Forte dos Reis Magos. O
Fortim de Guaraíras. Trabalho holandês na lagoa de Estremoz.
Açúcar, farinha e carne. Os misteriosos Fortins holandeses. Engenho
e Fortim de Cunhaú. O massacre de Uruaçu. Jacó Rabi, inspirador
da morte. Brazão holandês do Rio Grande do Norte. Governo
holandês dc Rio Grande do Norte. O Rio Grande do Norte que o
holandês conheceu. O episódio de Jaguarari.
Capítulo Quarto
(I) Reconstrução da Capitania e sua expansão territorial. (II) Guerra
dos «Bárbaros». (III) Aldeamentos indígenas.
ADENDOS: Instrução e Memorial do Senado, da Câmara a El-Rei de
Portugal. O título de Conde do Rio Grande.
Capítulo Quinto
(I) Conquista geográfica e povoamento. Os acontecimentos principais.
(II) As sete Vilas. (Ill) As dez fréguesias. (IV) A Sociedade;
alimentação, indumentária, mobiliário, usos e costumes.
NOTAS ao Capitulo Quinto. ADENDOS ; Inventários do século XVIII
e princípios do XIX. Regimentos de ofícios em Î791.
Capítulo Sexto
«Capítulo Sétimo
(I) Ensaio de govêrno local. Tomás de Araújo e a Confederação do
Equador. Procura de rumo. (II) Ambiente de governação. (Ill) A
luta de Pinto Madeira. (IV) Do 4.® ao 35.° Presidente da Província.
(V) Quebra-Quilo. (VI) As últimas administrações no Império.
(VII) Abolição dos Escravos. (VIII) Notas pretas. (IX) Insurreições
negras.
NOTAS ao Capitulo Sétimo. ADENDO : Final do Governo de Tomás
de Araújo Pereira Carta-diploma do Barão do Ceará-Mirim.
Capítulo Oitavo
(I) Idéia republicana no Rio Grande do Norte. (II) Proclamação da
República em Natal. (III) Governadores nomeados. Política local.
Os dois Congressos Constituintes. (IV) Pedro Velho e a organi
zação do Estado Republicano. (V) Da primeira eleição direta à
Revolução de 1930. (VI) A década 193O-194Q. (VII) órgãos
funcionais do Estado. (VIII) Dos últimos interventores ao Governo
Constitucional.
NOTAS ao Capítulo Oitavo. ADENDOS : Ata da Proclamação da
República em Natal. Constituições do Rio Grande do Norte. Brazão
d’armas do Estado, da Cidáde do Natal. Hino e Bandeira. A
participação norte-rio-grandense na guerra de 1942-45.
Capitulo Décimo
(I)A Instrução Pública na Capitania, Província e Estado. (II) Estabe
lecimentos privados.
NOTAS ao Capitulo Décimo.
Capítulo Décimo Primeiro
(I) Assistência médica na Capitania e Província. Epidemias. (II) Orga
nização, reformas e transformações. Saúde Pública na República
e sua evolução.
NOTAS ao Capítulo Décimo Primeiro. ADENDO: O Médico do Par
tido Público. Assistência Social no Rio Grande do Norte — Hélio
Galvão.
Capítulo Vigéssimo
(I) Notas à Biografia Norte-Rio-Grandense.
NOTA DO FIM.