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lads dû Cântara Cascudo

2? EDIÇÃO

FUNDAÇÃO
JOStAUGUSTO
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

HISTÓRIA
DO
RIO GRANDE DO NORTE

BIBLIOTECA
UFRN/MCS
FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO
ACHIAMÉ
Natal
Rio de Janeiro
Edições Achiamé Ltda.
Rua da Lapa, 180, sobreloja
Tel.: 222-0222
20021 - Rio de Janeiro — RJ — Brasil
Editor
Rob soil Achiamé Fernandes

Coordenação Editonal____
Vicente de Percia

Gerente Comercial •
Jaques Jonis Netty'"
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

HISTÓRIA
DO
RIO GRANDE DO NORTE

FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO


ACHIAMÉ
Natal
Rio de Janeiro
HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
Copyright © by Luís da Câmara Cascudo

Este livro foi feito no regime de co-edição com a Funda­


ção José Augusto, na presidência do Dr. Valério Alfredo
Mesquita, com o apoio da Secretaria de Cultura do MEC,
sendo Secretário o Dr. Marcos Vinicius Vilaça.
. Ao Sylvio Piza Pedroza, a quem dediquei a "História da
Cidade do Natal" ofereço esta 'História do Pio Grande do Norte"
porque ambas ressurgiram sob a égide de sua vontade generosa.

L. da C. C.

Nada envejece tan pronto como un libro de historia. Es triste


verdad, pero hay que confesarla, El que sueñe con dar ilimitada
permanencia a sus obras y guste de las noticias y juicios estereoti­
pados para siempre, hará bien en dedicarse a cualquier otro género
de literatura, y no a éste tan penoso, en que cada dia trae una
rectificación o un nuevo documento. La materia histórica es flo­
tante y móvil de suyo, y el historiador debe resignarse a ser un
estudiante perpetuo y a perseguir la verdad dondequiera que

pueda encontrar resquicio de ella, sin que le detenga el temor


de pasar por inconsecuente.

MENÉNDEZ Y PELAYO.

Eu desta gloria só fico contente,


Que a minha terra amei, e a minha gente

* ANTÔNIO FERREIRA
APRESENTAÇÃO
A “História do Rio Grande do Norte”, do grande mestre da cultura
brasileira Luís da Câmara Cascudo, foi inicialmente editada em 1955, com o
apoio do Governo Sylvio Pedroza. Somente agora é reeditada.
Esta é urna obra importante em duas dimensões: por seu valor intrín­
seco, como obra histórica escrita com beleza literária; por ser a historia do
nosso Estado elaborada com amor e sensibilidade pelo mais notável homem
de Letras nascido no Rio Grande do Ñorte.
Bastaria o nome de Luís da Câmara Cascudo para tornar esta obra de
particular e relevante interesse não só para nós, norte-rio-grandenses, como
para todos os centros culturais do País. Acresce que se trata de uma pesquisa
sobre a história dest ? Estado com extraordinária base documental. Além dis­
so, ainda mais a valoriza o estilo inventivo, inquieto, aliciante do mestre
Luís da Câmara Cascu o, um escritor com altitude científica e raro domínio
da criatividade literária.
Como é possível preservar não só a verdade como a objetividade das
informações, das análises, das abordagens científicas ou técnicas sem perder
o fascínio da expressão, da forma estilística? É um desafio que nem sequer
chega a configurar-se para mestre Cascudo. Ele consegue tratar de matérias
áridas com a mesma fluente e envolvente habilidade de um “contador de es­
tórias”, dotado de dom encantatório da comunicação. Tudo se transforma
através de suas mãos em arte de dizer, em inteligência verbal, em imaginação
revitalizado.
A Fundação José Augusto sente-se muito feliz e honrada em realizar
esta reedição. Mais ainda por que esse fato ocorre no ano de comemoração
do centenário de nascimento do seu patrono - José Augusto Bezerra de Me­
deiros.
A presente iniciativa é fruto de uma decisão pessoal do Governador
José Agripino, sempre receptivo às atividades culturais, de reeditar o livro
do mestre Câmara Cascudo, como contribuição, não só a nível intelectual
como também concreto e operativo, para o conhecimento do Estado e cons­
trução do seu futuro.
Assinalo, por último, o apoio de Marcos Vilaça, Secretário de Cultura
do MEC, essencial à consecução deste projeto que representa, sem dúvida,
um importante resultado no esforço de preservação da memória cultural do
Rio Grande do Norte.
Natal, julho de 1984

VALÉRIO ALFREDO MESQUITA


Presidente da Fundação José Augusto
Esta HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE é um
.trabalho sistemático de informação menos das fontes impressas
do que dos arquivos. Pareceu-nos essencial divulgar o conheci­
mento do Passado tendo pouco interesse na fixação dos comen­
táriod pessoais, sempre discutíveis. Procura-se, na fórmula inter­
pretativa, explicar a razão de acontecimentos e desenhar a psico­
logia dos homens que estiveram à frente dos sucessos antigos.
Certamente não é possível essa explicação, que o bizantino Pro-
cópio dizia ser “es secretos motivos da ação”, porque o documento
é suscetível de substituição. E não sabemos se expressa real­
mente o ângulo verídico do fato. Outrora o historiador podia dar
sentenças condenatorias ou absolutorias, na plenitude de um
direito que lhe vinha da função quase sacerdotal. Hoje essas
sentenças valem como simples depoimentos individuais, situações
de homem de agora para homens de tempos velhos. Muita gente
ainda espera do historiador a sentença que capacite o leitor a
julgar anjos ou demônios os homens que viveram e participaram
de acontecimentos. Pensei evitar essa ambivalência de medo e
amor. De mais, o velho Strabão chamava a História «olho do
Tempo”. Nós sabemos quanto se pode enganar o olho do obser­
vador quanto mais o Tempo, renovável e veloz.
Esta HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE é uma
exposição, uma narrativa, com informações úteis e conclusões dis­
pensáveis. «Scribitur ad narrandum non ad probandum», escre­
ve-se para narrar e não para provar, ensinou Quintiliano cinco
séculos anted do «Je rienseigne point. Je reconte», de Montaigne.
Com esse critério tenta-se evocar como nasceu a Capitania do
Rio Grande, viveu a Província que é o Estado dos nossos dias.
E se essa narrativa não ultrapassar os horizontes Humanos e
jiaturais, eu desta glória só fico contente .. :

L. da C. C.
PREFÁCIO-2? EDIÇÃO
Duas Histórias do Rio Grande do Norte foram publicadas nos começos
do século. Uma, de Tavares de Lyra, norte-riograndense dos mais ilustres,
ex-governador do Estado, mas cuja biiíhante carreira política se desenvolveu,
em maior parte, no plano federal, longe da tena natal. A obra, de 1921, re­
vela o estudioso e o conhecedor dos nossos problemas de organização social,
econômicos e agrícolas, e sua evolução. Reedição recente (1982) deste tra­
balho foi dada a público por iniciativa da Fundação José Augusto. A outra,
de Rocha Pombo, nome alto da historiografia nacional, na época, sobretudo
no campo didátibo, foi publicada em 1922, ano do centenário de nossa In­
dependência.
A ninguém é lícito ignorar, porém, os amplos níveis de desenvolvimen­
to dos estudos históricos e políticos no Brasil, a partir da década de 30-40.
As investigações de arquivos e documentos passaram a juntar-se às pesquisas
ditas de campo, abrindo novas perspectivas à redescoberta histórica do Bra­
sil. Para citar um exemplo, lembre-se o livro “Casa Grande e Senzala” do
sociólogo Gilberto Freyre, definitivo na compreensão da história da forma­
ção social do Nordeste, com refléxòsem todas as dimensões nacionais.
A terceira História do Rio Grande do Norte, neste século, é de autoria
de Luis da Câmara Cascudo (1955, Rio, Serviço de Documentação, Ministé­
rio da Educação e Cultura), que tenho a honra de prefaciar, nesta 2? edição,
a convite da Fundação José Augusto (Natal). Já dera minha colaboração e
meu interesse, como Governador, pàra sua publicação, no ano citado acima,
quando terminava minha administração. Antes, aliás, como Prefeito de Na­
tal, o estimulara a escrever e publicar a “História da Cidade do Natal”
( 1947) obra também agora em 2£ edição ( 1980).
Para a atual tarefa, com que fui distinguido, descarto os profundos
laços de carinho e admiração que me ligam ao Amigo e ao Mestre, para, mais
uma vez, fazer a justiça que a ele todos devemos. Sociólogo, etnólogo, fol-
clorista, antropólogo, ensaísta, historiador, professor, de renome nacional
e internacional — que podería eu dele dizer, num modesto prefácio, que já
não tenha sido proclamado? Autor de mais de uma centena de volumes, ver­
sando temas daquelas áreas científicas, entre eles avultam como dos livros
mais expressivos da cultura nacional, o “Dicionário do Folclore Brasileiro”,
“Cultura e Civilização”, “Geografia dos Mitos Brasileiros”, “Literatura Oral
do Brasil”, “Folclore do Brasil”, “Canto de Muro”, “Meleagro”, indispensá­
veis ao conhecimento das nossas raízes tradicionais. Por seu apego à terra
onde nunca deixou de viver, é que tanto o respeitamos e amamos, como
símbolo da memória viva de sua gente. Disso dá exemplo a série inumerável
de crônicas, sob o título “Acta Diurna”, publicadas na imprensa local, e que
o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte está reunindo no
“Livro das Velhas Figuras”, com cinco volumes já editados.
Américo de Oliveira Costa, que, em sua obra clássica “Viagem ao Uni­
verso de Câmara Cascudo”, desvenda com detalhe a riqueza da personalida­
de e a universalidade da obra do Mestre, afirma que na “História do Rio
Grande do Norte”, Cascudo “estabelece o processo de evolução social e po­
lítica do território, afirmando-se, resistindo, avançando, desde os precários
organismos comunitários, desde as iniciais células de fixação, após as rudes
manhãs da conquista, da expulsão dos invasores, da colonização”. E Cascu­
do inova ainda, quando divide o livro por assuntos, esgotados em cada capí­
tulo, facilitando a pesquisa pela condensação dos aspectos relevantes de ca­
da setor característico do Rio Grande do Norte.
Em relação às obras anteriores, existe uma diferença fundamental. En­
quanto aquelas tem caráter principalmente expositivo, esta “História do
Rio Grande do Norte” não somente expõe, como analisa e interpreta fatos
e acontecimentos, transformando algumas de suas páginas em verdadeiros
contos, como os que relatam o episódio do Forte de Cunhaú, o Massacre de
Uruaçu e o Assassinato de André de Albuquerque Maranhão.
Ninguém conhecerá o Rio Grande do Norte sem percorrer estas pági­
nas. Nelas palpitam os sonhos, as lutas e as realizações da gente potiguar.

SILVIO PIZA PEDROZA


CAPÍTULO PRIMEIRO

(î) A Capitania de João de Barros. (II) Tenta­


tivas de colonização. Os filhos do Donatário. (Ill) Pre­
sença francesa. Traficantes e corsários. Rif fault. (IV)
A expedição colonizadora de Mascarenhas Homem.
Construção do Forte dos Reis Magos. (V) Pazes com
os indígenas. (IV) Fundação da Cidade, do Natal.

ADENDOS E NOTAS AO CAPITULO PRIMEIRO

— Hojeda esteve no delta do rio Açu em 1499?


— Vicente Pinzón esteve no Rio Grande do Norte?
— A extensão da Capitania de João de Barros.
— O Porto dos Búzios.
— O cabo de S. Roque e a expedição de 1501. O
mais antigo Marco colonial.
— Padre Gaspar de Samperes.
— O Fundador da Cidade do Natal.

/
' Na divisando Brasil em Capitanias coube o Rio Grande do
Norte no quinhão doado por D. João III a João de Barros, Feitor
da Casa de Mina e da India, com honras de Desembargador,
cronista, venerado pela severidade do caráter e gravidade austera
que era um elemento prestigioso de valimento j Recebeu cem léguas
começando da baía da Traição ( Acejutibiró, Acajutibiró, onde
há cajus azedos, segundo Teodoro Sampaio), limite norte da Dona-
taria de Itamaracá, pertencente a Pero Lopes de Sousa, até extrema,
indefinida, Angra dos Negros no rio Jaguáribe (Cruz Filho),
rio Jaguaribe (Cândido Mendes), rio Mandaú (Rocha Pombo),
cordilheira do Apodi (Matoso Maia). Para o centro a linde
seria a linha convencional do tratado de Tordesilhas, o que nunca
se cumpriu. Além dessas cem léguas teve João de Barros mais-
cinquenta, a contar do lote de 75 dadas a Fernão Alvares de
Andrade, tesoureiro mor do Reino, indo essa parte da Ponta dos
Mangues Verdes, cabo de Todos os Santos, até o rio Gurupi,
abra de Diogo Leite, no Maranhão. A doação associava-o a
Aires da Cunha, também beneficiado. As Capitanias eram caracte­
rizadas pelas Cartas de Doação e o Forai. A carta de doação indi­
cava limites, localizando a merçê real. O forai era a relação dos.
direitos e deveres do Capitão Mor. Perdeu-se a carta de doação
das cem léguas assim çomo o respectivo forai. Seria favor indi­
vidualmente feito ao historiador das DÉCADAS, amigo do Rei
e de tanto vah'mento e fama na Corte que o conde de Castanheira
dizia ao soberano que ainda que furtar fora virtude, ele não o
fizera.
Conhecemos apenas o forai das cinqüientas léguas referentes*
ao Maranhão, assinado em Évora por D. João III a 11 de março
de 1535 em favor de João de Barros e outro, imediatamente a.
seguir, de igual teor dedicado a Aires da Cunha. O forai não
se refere às localizações e apenas regista obrigações e direitos
do donatário. Ignora-se, pois, ter João de Barros se associado a
Aires da Cunha para a exploração dos dois lotes ou simplesmente
para o do Maranhão, exclusivamente.

i
(II)
No mesmo ano do forai, 1535, João de Barros; Aires da
Cunha e Fernão Álvares de Andrade aliaram os recursos e inte­
ressaram o Rei na conquista das 225 léguas brasileiras. Aires
da Cunha, soldado vitorioso na Índia, comandante de uma armada
que patrulhou as águas dos Açores, estava indicado para dirigir
a expedição. Os sócios, altos burocratas, eram incapazes dessas
andanças. João de Barros mandou os filhos, João e Jerónimo de
Barros. Fernão Álvares, um representante. Aires da Cunha supe­
rintendería .
Partiram em novembro de 1535 com cinco naus e cinco cara­
velas, novecentos homens e mais de cem cavalos. D. João III
emprestara artilharia, munições e armas retiradas do próprio Arse­
nal Régio. Era a maior esquadra particular que zarpava do Tejo.
Impressionou o embaixador de Carlos V em Lisboa, Luís Sar­
miento, que interrogou o Rei sobre os boatos correntes de ir à
armada tentar chegar ao Peru e não apenas à conquista de terras
no litoral norte do Brasil. D. João III negou mas Luís Sarmiento
continuou suspicaz, informando ao amo, desconfiadíssimo. Aires
da Cunha levava, como se deduz, desejos autorizados de encontrar
ouro e não se aplicava o aparato militar de uma simples expedição
de proprietários privados.
Em dezembro atingem a Pernambuco onde os recebe Duarte
Coelho, agasalhando-os, fornecendo-lhes intérpretes, guias para
o nordeste e mesmo uma frusta, embarcação chata e leve, movida
a remos, para aproximar-se da costa e verificar o recorte das praias.
Vamhagen arquitetou, somando e deduzindo sobre documen­
tos da época, uma viagem que se tornou histórica mas está reduzida
a mera hipótese. De Pernambuco (não se sabe o ponto de
partida, Olinda ou Igaraçu), .Aires da Cunha, com 900 homens
em dez navios, veio bordejando pelo litoral, desprezando o Rio
Potengi (Rio Grande) e fundeando na foz do Rio Baquipe,
Rio Pequeno ou do Ceará-Mirim, menos de doze quilômetros
ao norte da futura cidade do Natal. Na embocadura do Ceará-
Mirim encontrou resistência tremenda por parte dos Potiguares,
ajudados pelos traficantes franceses. Inexplicavelmente, Aires da
Cunha recua e segue para o norte, deixando porção magnífica nas
terras de João de Barros. Tentam fortuna no quinhão de Fernão
Álvares de Andrade. Beirando as praias, recolheram uns náufra­
gos de um galeão de dom Pedro de Mendoza, Fundador de
Buenos Aires, aventureiro espanhol que, enriquecido com o saque
de Roma, ousara conquistar o Rio da Prata a sua custa é risco.
Em que parte estavam os náufragos? Não há resposta. Os espa­
nhóis contavam horrores dos Potiguares. A expedição continuou,

/
— 17 —

rumo ao norte, rota do Maranhão que ainda se está discutindo


ser ou não ser sinônimo do rio das Amazonas naquele tempo.
A frusta de remos, emprestada por Duarte Coelho, desgarrou
e desapareceu da vista dos companheiros, privando-os de um
auxílio insubstituível.
Sem mantimentos e água, boiava perdida quando um navio
espanhol encontrou-a e levou-a para a ilha de São Domingos,
como eça hábito político e força da corrente.
Nas águas do Maranhão a nau-capitânea espatifou-se nuns
rochedos, sucumbindo Aires da Cunha, chefe sem suplencia pre­
vista. Em março de 1536 os que restavam da expedição garbosa,
nove navios, atingem a ilha do Maranhão, conhecido como “Trin­
dade", sendo acolhidos benevolamente e aí fundaram um povoado,
a que deram o nome de “Nazaré", transformando em Nazareu
pelo embaixador Luís Sarmiento em sua carta de espionagem diplo­
mática para o Imperador Carlos V. Ficam três anos. Desanima­
dos, sem a energia de Aires da Cunha, sem deparar ouro nem
preciosidade, cercados pela indiaria cotidianamente verificando a
fraqueza dos exploradores brancos, decidiram renunciar aos sonhos
de grandeza e saíram em caravelões. Tinham morrido cerca de
setecentos homens mas a expedição, diz Gandavo, navegara,
rio acima, 250 léguas, o que não me parece verdade limpa. Os
navios, deixando o Maranhão, andaram à matroca. Três cara­
velões, com os colonos e duzentos indígenas, foram parar nas
.Antilhas, agosto de 1538. Na ilha de Puerto Rico dois outros
apareceram com 45 colonos, alguns casados, e 140 indígenas,
entre livres e cativos. Outro caravelão aportou a São Domingos
onde as autoridades confiscaram os indígenas, livres e escravos,
assim como todos os colonos, mandados ficar por ordem real.
João de Barres, arrependido, gastou muita palavra e ouro
para reaver os dois filhos. Jerónimo esteve na ilha Margarida,
na Venezuela, não muito torturado e faminto porque se divertiu
jogando cartas com o vigário local que lhe ganhou duzentos
cruzados, sem que Jerónimo os pagasse. Deixou essa dívida num
rol testamentário, sujeito às decisões de um bom teólogo, capaz
de sentenciar sobre a validade moral do débito. Finalmente vol­
taram os dois, João e Jerónimo, a Lisboa.
Certo é que Aires da Cunha nunca esteve no Rio Grande
do Norte. A batalha em Baquipe ou Paquipe,,rio Ceará-Mirim,
é posterior ao naufrágio de Aires da Cunha no Maranhão. Há,
pois, uma viagem dos dois filhos de João de Barros, voltando de
Nazaré, tentando fixar-se na terra de seu pai, desiludidos do ouro
.maranhense.
— 18 —

Rocha Pombo e Tavares de Lira não aceitam a passagem de


Aires da Cunha pelo rio Ceará-Mirim. Gabriel Soares de Sousa,
no ‘‘Tratado Descritivo do Brasil em 1587*’ afirma semelhante­
mente. Descrevendo a seção de terra entre o Cabo de São Roque
e o Porto dos Búzios, pouco. além de Pirangi, ao sul de Natal,
informa : — “Andando os filhos de João de Barros correndo
esta costa, depois que se perderam, lhe mataram neste lugar os
Potiguares com favor dos franceses, induzidos déle muitos homens”^
É justamente no Rio Pequeno, Baquipe, Ceará-Mirim, onde
Gabriel Soares de Sousa fixa o morticínio. Frei Antônio de Santa
Maria Jaboatão no seu «Novo Orbe Seráfico» (1761), endossa
a informação anterior: — “Por estes Potiguares, forá dos en--
contros de guerra, e à falsa fé, foram mortos e comidos muitos
portugueses. Por éles o foram alguns da companhia dos filhos
de João de Barros, que, depois de perdidos nos baixos do Ma­
ranhão, e vindo correndo a costa, quando voltaram para o
reino, mandando alguns homens à terra, onde tinham pörto, na
rio chamado Baquipe, em 5 graus de altura, antes de chegar ao
da Paraíba, foram mortos e comidos por este gentio, induzida
para isto pelos franceses.*’
Foi a primeira tentativa de colonização no Rio Grande
do Norte.
Houve uma segunda, omissa nos nossos historiadores, e
dirigida pelos mesmos dois filhos de João de Barros e também
ineficaz quanto a inicial. Podemos indicar o ano de 1555 como o
mais plausível para o sucedido. Há documentação do próprio do­
natário e um seu filho, testemunha presencial. O Rei D. Sebastião
perdoara a João de Barros, grande amigo e valido do seu avô, o
alcance de 600$ pelas despesas com artilhariá e munições cedidas
em 1535. Agora o velho donatário, restaurado em esperança,
tenta a sorte, outra vez desastrosa e fugitiva. Requerera ao moço
Rei que proibisse a ida de qualquer pessoa, com qualquer intuito,,
às suas terras brasileiras, pòsto que a dita Capitania não esteja
povoada ou embora não tenha feito povoação alguma nas terras da
dita Capitania, como se expressa El Rei em seu alvará de 2 de
março de 1561.
O alvará documenta a segunda investida. “Eu El-Rei, faço
saber a quantos éste meu Alvará virem que João de Barros,
Feitor das Casas da India e Mina, me enviou dizer que El-Rei
meu senhor e avô, que santa glória haja, lhe féz mercê de uma
Capitania na costa do Brasil nas terras de Santa Cruz, onde se
chamam os Pitictiares, para onde fez uma armada haverá vinte
anos em que despendeu muito de sua fazenda, e haverá cinco que
mandou outra em que fpram dois filhos seus a povoar a dita terra,
o que não houve efeito por os gentios dela estarem escandalizado»
— 19

assim dos moradores das outras Capitanias como de pessoas deste


Reino que vão a dita Capitania fazer saltos e roubos cativando os
.gentios dá terra e fazendo-lhe outros insultos, de maneira que,
querendo seus filhos tomar um porto na dita sua Capitania para
se proverem do necessário, por os ditos gentios estarem escanda­
lizados e de pouco tempo atrás salteados de gente portuguesa,
lhe mataram um língua, com outro homem, e lhe feriram outros
e trabalharam para matarem a todos, para se vingarem dos males
e danos que tinhanr recebido de navios Com que no dito porto lhe
tinham feito saltos” ...
Esse documento denuncia a presença regular de navios nas
águas norte-rio-grandenses e os assaltos (saltos) que os' Potigua­
res sofriam em.súa liberdade.
Não sómente os traficantes iam em viagem comum, duma
para outra Capitania, como era banal o ataque* pela tripulação
das naús que desferravam de Lisboa para fazer o Brazil.
Outro documento, numa minuta sem data de Jerónimo de
Barros, assim diz num item : — “Meu irmão João de Barros e eu,
em tempos dei Rei D; João o 3.°, fomos por seu mandado ao Rio
Maranhão, com uma armada ao descobrir o dito rio e costa pelas
esperanças que havia de grande resgate d’ouro, e descobrimos
mais de quinhentas léguas de costa e entramos assim o rio
Maranhão, como outros muito grandes e notáveis, e resgatamos
alguns homens que nela andavam dos que se perderam com Luís
de Melo, no que passamos muitos trabalhos de guerra com os
franceses e com o gentio da terra e fomos e povoamos em três
partes no que gastamos perto de cinco anos, sustentando tudo
sempre a custa de meu Pai, até gastar quanto tinha e fizemos
muito serviço a El-Rei como darei conta se mc for perguntado”.
Os náufragos da expedição de Luís de Melo constituem ponto
de referência pára apurar o engano de Jerónimo de Barros, con­
fundindo as duas jornadas. Luís de Melo, saindo de Pernambuco
em 1539 foi parar no Maranhão, no melhor, ao Amazonas, onde
se deslumbrou. Não houve naufrágio e se o houvesse, Jerónimo
estava, desde o ano anterior, longe das águas maranhenses, pa-a
encontrá-lo. Em 1554, Luís de Melo (da Silva) partiu de Lisboa,
resolvido a conquistar o Maranhão mas tóda sua armada se
perdeu no mar, nos baixios maranhenses, exceto uma caravela
onde o aventureiro sê salvou. Foi o naufrágio único e 1555 será
o ano em que os filhos de João de Barros recolheram os derra­
deiros marujos de Luís de Meló. O padre Rafael Galanti escreve
que Luís dê Melo recebera a Capitania do Maranhão por haver
João de Barros renunciado. A verdade é que o velho donatário
continuava administrando-a, por seu procurador residente em
.Igaraçu, dez anos depois em 1564.
Ainda noutro documento Jerónimo de Barros pede ao Rei
cem moradores dos oitocentos que o contratador do Brasil é obri~
gado a por lá. Diz-se possuidor de uma Capitania no Brazil, de
cinquenta léguas da costa dos Potiguares e vinte e cinco os franceses
todos os anos vam/ a ela carregar de Brasil por ser o melhor pau
de toda a costa. E fazem já casas de pedra em que estãó em terra
fazeiído comércio com o gentio. E os anos passados estiveram nesta
Capitania dezessete naus de França a carga e são tantos os france^
ses quê vêm ao resgate que até as raízes do pau brasil levam
porque tinge mais as raizes do pau que nasce nesta Capitania.
Adianta que os franceses tinham furtado três mil quintais de
pau brasil cortados e prontos pelos portugueses. E que todos os
navios que iam às Antilhas passavam pela costa. Fizesse El-Rei
uma fortaleza, para defender seu direito, antes que os franceses
erguessem a deles, dando maior trabalho e custando sangue para
expulsá-los. Lembra ao Rei que a Capitania é a mais perto terra
que há no Brasil a este Reino.
Ainda a 3 de março de 1564 Antônio Pinheiro, procurador
de João de Barros, requeria em Igaraçu, certidões sobre os limites
da Capitania com a dé Itamaracá, com prova testemunhai. Arren­
dava trechos de terras para o corte do brasil e colheita dos búzios,
no Porto dos Búzios, vizinho a Pirangi. Os búzios valiam moeda
para troca comercial, especialmente na África.
Vê-se que a Capitania nunca esteve esquecida pelo seu pro­
prietário. Pequenina fonte econômica, quando João de Barros
faleceu, 1570, os filhos, alegando os justos serviços, requereram
pagas a Felipe II de Espanha, Rei de Portugal. Jerónimo recebeu
150$ de tença, por mercê real de 21 de junho de 1582, com
direito de testar até 30$, concedido na mesma data. Ter-se-ia
dado'nessa época a reversão de propriedade da Capitania à Coroa ?
Devia ter sido depois de 1580.

(III)
Empurrados do sul os franceses se fixaram no litoral norte-rio-
grandense, especialmente no estuário do rio Potengi, abrigador e
amplo. As relações com os Potiguares se tornaram amistosas
e fáceis, impossibilitando o comércio português regular. Estão
eles ao lado da indiada, auxiliando a repulsa armada às tentativas
dos filhos de João de Barros. Gabriel Soares de Sousa, no tratado
de 1587, indica a freqüiência dos navios franceses, carregando pau
brasil, logo depois do cabo de São Roque até a fronteira, então
na baía da Traição, Acejutibiró, Goaripari, Itapitanga, Ceará-Mi-
— 21

rim, Potengi, Búzios, Pipa, Tabatinga, Curimataú e Aratipicaba


(Baía Formosa)♦ Um língua (trugimão, intérprete) de Per­
nambuco, Domingos Pais, encontrou no Potengi um castelhano
inteiramente tornado Potiguar, beiço furado, tatuado, pintado de
genipapo e urucu, falando o nheengatu em serviço dos franceses
com os quais se foi embora.
Vivera anos e anos no meio dos indígenas.
Conquistada a Paraíba, o Rio Grande do Norte ficou sendo
o núcleo• irradiante das incursões francesas. As reclamações dos
interessados juntavam-se as denúncias do Governo Geral, sabe­
dor dos assaltos e razias dos intrusos.
A colonização definitiva da colônia vizinha ao sul determinou
o refluxo para o Potengi. Jacques Riffault, traficante, aventu­
reiro inquieto e tenaz, guardava sua nau numa curva do rio.
Um topónimo guardou essa predileção. Dizia-se Nau do Refoles
e hoje apenas Refoles ao local onde se ergue a Base Naval. As
malocas potiguares eram homísio inexpugnável. Apoiados na
floresta dos arcos selvagens os franceses atreveram-se aos ataques
militares a Cabedelo. De 15 a 18 de agosto de 1597 treze navios
franceses atacaram Cabedelo por mar e desembarcaram tropas.
Vinte outras naus reforçaram a investida, esperando ordens no
rio Potengi. Riffault estava no meio, animando, conspirando,
sonhando. Feliciano Coelho, capitão mor da Paraíba, falando
de um navio que dera à praia, cita o Rifóles que tanto mal tem
. feito por esta costa.
A presença francesa retardava a colonização sistemática. O
francês não tinha exigência moral para o indígena nem pretendia
fundar cidade, impor costumes, obrigar disciplina. Era um comer­
ciante, respeitando a vida selvagem, protegendo-a, tornando-se
familiar, amigo, indispensável, obtendo mais baixo preço nos rolos
de ibirapitanga, o pau brasil vendido em ducados de ouro na
Europa, ávida de cores vibrantes para os tecidos em voga. O
português vinha para ficar, criando ambiente à sua imagem e
semelhança, construindo fortes, plantando cidade, falando em leis,
dogmas, ordenações e alvarás. Os deuses vagos e sonoros de teo­
gonia tupi estariam ameaçados de morte pelo avanço dos missio­
nários, os “abaúnas”, vestidos de negro, ascéticos, frugais, arma­
dos de pequeninas cruzes, entrando pelas matas, cantando la­
dainhas.
Francisco de Valois, Rei de França, já perguntara pelo testa­
mento de Adão, doando o mundo aos portuguêses e castelhanos,
excluindo os franceses que também eram filhos de Deus. As
cartas-de-marca, autorizando corso, traficância patentada sob o
— 22 —

pavilhão legítimo, o perigo de uma alegação de posse em terra


notoriamente abandonada ou sem recursos para o povoamento,
pairava pressagiando tormenta. Urgia um domínio oficial, vi­
sível, demonstração militar e ordem * administrativa do Rei de
Espanha e Portugal, mandando erguer um forte e fazer nascer
uma cidade nó setentrião do Brasil, na linde do nordeste, o
obscuro e misterioso nordeste.

(IV)
D. Francisco de Souza, o sétimo Governador Geral do Brasil,
(1591-1602), decidiu a expulsão dos franceses e a construção
de um Forte, com a cidade que se erguería, marcando o avanço
português no norte. Cumpria as cartas régias de 9 de novembro
de 1596 e 15 de marçò de 1597.
Frei Vicente do Salvador natra o feito onde irmãos de
hábito participaram. Informa que .o Governador Geral era ape­
lidado por Dom Francisco das Manhas, pela habilidade e ade­
manes de cortezia, distantes da desonestidade que supunha,
erradamente, Varnhagen. Coube a Dom Francisco das Manhas
dispor a campanha colonizadora da Capitania, entregue aos tra­
ficantes da França e à baixa cupidez depredadora dos contra­
bandistas. Manuel de Mascarenhas Homem, capitão mor de Per­
nambuco, e Feliciano Coelho, da Paraíba, receberam ordens,
estimulándo-os. Dom Francisco de Sousa aplicou o saldo dos
dízimos, os direitos da saída do açúcar e a siza dos escravos
vindos da África e mais doze mil cruzados, parte que tomara a uma
nau da carreira da índia, arribada à Bahia. Mascarenhas Homem
chegou a retirar 8.992$833 do cofre dos defuntos e ausentes,
depósito sagrado que teve depois que restituir judicialmente.
Feliciano Coelho arregimentava homens e comprava víveres. Os
colonos ricos ajudavam na esperança de mais uma região aberta
ao comércio. Houve um morador que doou dez mil cruzados.
Mobilizava-se um exército. Uma esquadra se reunia- para reinte­
grar na posse jurídica de Portugal uma Capitania devastada
pelo corso infrene e pirataria contínua.
Sete navios e cinco caravelões velejaram para a Paraíba
tendo por capitão, mor Francisco de Barros Rego e Antônio da
Costa Valente por Almirante. Eram capitães dos navios João
Pais Barreto, Francisco Camelo, Pedro Lopes Camelo e Manuel
da Costa. Calheiros. Por terra, acompanhando Mascarenhas
Homem, iam três companhias de gente de pé, comandadas por
Jerónimo de Albuquerque, seu irmão Jorge e Antônio Leitão
Mirim. Manuel Leitão levava uma companhia de cavalaria. Os
jesuítas Gaspar de Samperes e Francisco Lemos, os franciscano?
— 23 z

Bernardino das Neves e João de São Miguel faziam parte da


comitiva. Frei Bernardino era intérprete, filho de João Tavares,
o cabo valoroso da conquista paraibana. . O padre Gaspar de
Samperes, çx-soldado êm Flandres, arquiteto, estava escolhido
para dar a traça do Forte. Feliciano Coelho partiu por terra,
com as quatro companhias pèrnambucanas e uma paraibana, capi­
taneada por Miguel Alvares Lobo, num total de 178 homens, e
mais 90 indígenas guerreiros de Pernambuco e 730 da Paraíba
com os seus tuixaqas prestigiosos e bravos Pedra Verde (Itaobi).
Mangue, Cardo-Grande, etc. A 17 de. dezembro de 1597 o exér­
cito marchoifc Mascarenhas viera com as naus.
A variôla, peste do Brasil, àpareceu dizimando a expedição
que já calcava as areias da baia., da Traição. Retrocederam
todos, exceto Jerónimo d’Albuquerque que viajou num caravelão.
Mascarenhas Homem encontrara no Porto dos Búzios sete
naus francesas carregando pau-brasil. Surpresas pela vista da
armada portuguesa picaram as amarras e se foram sem perseguição
porque Mascarenhas não. queria perder a viração favorável que
o empurrava para o norte.
Em fins de dezembro desSe 1597 chegaram à foz do Potengi
ou Rio Grande. Em que dia? Numa «Relação» — inédito que o
Pe. Serafim Leite, S. J. divulgou —■- vê-se que entraram os Portu~
gueses neste rio e terra para conquistar o ano de 97, a 25 de de~
zembro. Frei Jaboatão, no “Catálogo Genealógico**, informa que
Jerónimo d’Albuquerque entrara à barra do Rio Grande no dia 18
de dezembro de 1597. E já estava Mascarenhas Homem.
Ergueram um entrincheiramento de varas de . mangue traçadas
e barro socado. Era o primeiro reduto. Dois caravelões examina­
ram o rio verde. O acampamento se fez, tranqüilo. Logo, numa
tentativa de guerra relámpago, trovejaram cinqüenta mosquetes
franceses, vanguardeando a multidão indígena que atacava, urrando
de ódio. Foram repelidos/
Um tuixaua (chefe) de nome Surupiba foi preso. Era homem
orgulhoso do seti título. Vendo Mascarenhas Homem servir-se
a mesa com criados e toalhados brancos da Bretanha, declarou
ter o mesmo direito ao tratamento idêntico por ser também um
chefe entre os seus. Mascarenhas cobriu-o de presentes e o liber­
tou, para torná-lo um elemento de aproximação. Surupiba recebia
os presentes e açulava ainda mais os potiguares contra os por­
tugueses.
Os dias rolaram entre combates furiosos. Os Taba jaras pa*
xaibanos e os Potiguares norte-rio-grandenses, inimigos da mesma
raça, batiam-se como feras. Finalmente aportou Francisco Dias
de Paiva com uma urca cheia de artilharia, munições e. provi-
— 24 —

mentos para o Forte que se iniciava. Feliciano Coelho» largando


da Paraíba a 30 de. março de 1598, veio com o socorro que se
tornava tardio. Constava de 84 homens, comandados por Antônio
de Valadares e Miguel Alvares Löbo, e 250 indígenas flecheiros,
com seus tuixauas. Mascarenhas foi-lhes ao encontro numa ma­
loca despejada pelos Potiguares, onde havia feito o seu arraial.
Combinou-se a sistematização do trabalho. Feliciano Coelho e
os indígenas do chefe Piragiba trabalhariam um dia. Antônio de
Valadares, com a tropa do chefe Guiraquinguira (Assento de
Pássaro), outro. Miguel Alvares Löbo, com a indiada do chefe
Itaobi, faria a terceira jornada da tarefa. Era o trabalho cíclico,,
com repouso alternado, julgadamente novo e velho como o Tempo.
'Cada turma possuía um homem branco, sabedor do idioma, para
animar o ritmo do esforço comum. Eram intérpretes Francisco
Barbosa, Antônio do Passo e José Antônio Pamplona. Outras
corriam o campo ao redor, brigando, expulsando o indígena, di­
vulgando a força que se acantonava sobre os limites dó arrecife.
Outra nau de mantimentos surgiu, mandada por Peró Lopes
Lõbó, lugar-tenente de Feliciano Coelho. As naus francesas vol­
taram ao Põrtd} dos Búzios e Mascarenhas foi pessòalmente
afastá-las.
* / *
No arrecife, a setecentos e cinqüienta metros da barra do
Potengi, ilhado nas marés altas, iniciara-se a construção do Forte
na manhã do Dia dos Santos Reis Magos, 6 de janeiro de 1598.
Os cronistas coloniais dizem FORTALEZA DOS REIS, por
causa do onomástico. O nome ficou, popular e vivo, REIS
MAGOS ou SANTOS REIS. No dia de São João, 24 de junho,
Jerónimo d'Albuquerque recebeu solenemente o Forte, com o
cerimonial da época, jurando defender e só entregar a praça aos
delegados del-Rei. Mascarenhas Homem, todo exército e tropa
indígena, partiram, rumo ao sul, por terra, na rota que se tornaria
histórica e regular.
A planta é do padre Gaspar de Samperes que fora mestre
nas traças de engenharia na Espanha e Flandres antes de entrar
para a Companhia de Jesus. É a forma clássica do Forte marítimo,
afetando o modelo do polígono estrelado. O tenalhão abica para
o norte, mirando à boca da barra, avançando os dois salientes,,
raios da estrela. No final, a gola termina por dois baluartes.
O da destra, na curvatura, oculta o portão, entrada única, ainda
defendida por um cofre de franqueamento, para quatro atiradores
e, söbre postos à cortina ou gola, os caminhos de ronda e uma
banqueta de mosquetaria. Com sessenta e quatro metros dç com­
primento, perímetro de duzentos e quarenta, frente e gola de
sessenta metros, o Forte artilhava-se de maneira admirável para
— 25 —

a época. Atiraria por canhoneiras e a mosquetafia pela gola,.


era seteira no cofre ou de visada na banqueta. A artilharia prin­
cipal atirava a barbeta. (*)
Ao cair da noite acendiam-se as luzes fumarentas, vigiañdo.
O FORTE DO REIS, como o chama Frei Vicente do Salvador^
foi a marca, a barreira extrema dos portugueses no norte do
Brasil. A primeira pegada que imobilizou a semente de onde
saíria a futura Provincia foi o Forte dos Santos Reis. Primeira
morada cristã, primeiro lar onde o lume clareou sonhos de fixa­
ção pacífica, o Forte, orgulho lusitano durante duzentos anos, é a
porta do Natal, seu limiar, vigia silenciosa e cauta. Estava incom­
pleto mas constituía um signo de força consciente e de arrogância
militar. Ali começava Portugal com as ORDENAÇÕES e com
seus costumes, seu Rei, sua tradição e língua, cantigas e saudades.
Era também abrigo e alentadora inicial. Sua sombra agasalharia,
faminto, Pero Coelho de Sousa, voltando vencido do Ceará em
1606. Hospedou o padre Luís Figueira, em 1608, salvo da felonia.
dos Tocarijus que trucidaram Francisco Pinto, o jesuíta cate­
quizado^ o Pai Pinto, Amanaiara, senhor das chuvas querido.
De sua guarnição partiu Martim Soares Moreno, em 1611, para
a conquista do Ceará, o fundador da Fortaleza. Derredor de suas
muralhas passam, reunidos, os homens que vão dissipar a França
Équinocial, na jornada milagrosa. O criador da Cidade do Pre­
sépio de Belém do Pará, Francisco Caldeira Castel-Branco, é um
seu Capitão Mor. Como de uma colméia partem as abelhas-
rainhas, fundadoras de raças. É um núcleo irradiante e não um
mero ponto de referência no curso das derivas da expansão
portuguesa no setentrião.
A Semana Santa de 1598 foi realizada durante as tarefas do
Forte. Os potiguares assaltavam sempre. Não havia segurança.
Os jesuítas Francisco de Lemos e Gaspar de Samperes receiavam
uma batalha imprevista conspurcando tudo. Manuel Mascarenhas
Homem teimou em assistir aos santos atos naquela solidão.
Fizeram um sepulcro. Forneceram toda a cera necessária. Quando
o Santíssimo esteve encerrado montavam guarda duzentos arca-
buzeiros. Os capitães e oficiais, arrastando as bandeiras pelo
chão, rojando-as diante do sacrário, compareceram. Os padres
pregavam. Houve Ofício das Trevas e depois, ritualmente, pro­
cissão solene. A cada momento esperava-se ver a mancha ondu­
lante da massa inimiga, surgindo para o combate,
A Cidade do Natal nasceria um ano depois ...
( * ) : — Semperes fizera Forte de taipa e barro. A construção de pedra,
acima descrita, realizou-a Francisco de Frias da Mesquita, engenheiro-mor do.
Brasil, entre 1614 e 1619.
— 26 —

(V)
O Forte era & conquista imóvel, padrão de posse como um
marco de pedra lioz numa praia deserta. Ao redor, escondidos
de trás dos morros, nas encostas das dunas, nos bosques de
cajueiros, ao longo das areias alvas, espreitavam os Potiguares,
esperando o conquistador descuidado ou afoito. O Forte, sem
irradiação, era um quisto. Legitimava apenas o desertão. Seria
sempre um presídio militar, quartel para soldados, gelado pela
¿ausência feminina, sem a grandeza de um povoamento. Estava
El-Rei mas faltava o Povo. Não havia uma mulher nem uma
criança. O Forte teria destino melhor e mais humano. Era uma
semente. Seu portão largo e severo anunciava a porta mural de
lima cidade futura.
Os três Reis do Oriente, acompanhadores da Estréia fulgu­
rante, visitadores do Menino, faziam uma cidade consagrando-a
ao Dia do Natal. Havia o Forte. Faltava a Cidade.
Era indispensável a pacificação da massa indígena, insubmissa,
reatacando sempre, transformando a vida dos brancos num estado
permanente de inquietação bravia e áspera.
É a missão dos jesuítas, dos missionários. Gaspar de Sam­
peres, Francisco Pinto, Francisco de Lemos fazem milagres de
persuasão, com as forças irresistíveis da paciência e da tenacidade
em serviço da Fé. Não sòmente a indiada que residia às margens
do Rio Potengi, chefiada pelo tuixaua Potiguaçu, o Camarão
Grande, mas as aldeias distantes na serra paraibana da Ca-
paoba (*) (Serra da Raiz), com os chefes Mar Grande (Parâ-
guaçu), possivelmente o mesmo Ipaunaçu, Ilha Grande, o valoroso
Pau Séco (Ibiratinin), o mais acatado mentor indígena, foram vi­
sitadas e o padre* Francisco Pinto (segundo a «Carta» de Pero
Rodrigues, divulgada pelo Pe. Serafim Leite, S.J.) ou Gaspar
de Samperes (segundo Frei Vicente do Salvador) conseguiu a
perfeita* harmonização. Chefes indígenas rumaram à Paraíba
•onde, na presença de autoridades militares e administrativas,
Feliciano Coelho de Carvalho, Capitão Mor da Paraíba é seus
auxiliares, Manuel Mascarenhas Homem, de Pernambuco, e seu
sucessor, Alexandre de Moura, o capitão mor de Itamaracá, o
Ouvidor-Mor Geral Brás de Almçida, foram pactuadas as pazes
solenes, com pregões nas Capitanias vizinhas e permuta de
ofertas, no dia 11 de junho de 1599. Selava-se naquele ceri­
monial o domínio regular de Portugal. A solidariedade indígena
possibilitaria a conquista e expansão incessante.
(*) Os resultados da catequese jesuítica em Serra do Copaoba foram
definitivos para a colonização. Copaoba vale Iperoig para o Rio Grande
do Norte.
— 27 —

Agora o Forte dos Reis Magos não serã um quisto isolado


nas praias nordestinas. Dele sairão colonos, instrumentos de caça
e pesca, recursos, caravanas, soldados para diligências em terras
longes. Âo derredor viverá uma população pacífica e trabalhadora/
plantando e colhendo, tirando o sal nas salinas nativas, metendo
no barro negro do massapê as primeiras mudas de cana-de*
açúcar. Agora descerão, mugindo, as primeiras boiadas, funda­
doras das imensidades dos rebanhos futuros. . Também haveria o
aniquilamento implacável da raça guerreira e generosa que povoara
a terra antes do branco invasor. Seria a tropa de choque» a
vanguarda, os companheiros insubstituíveis. Depois, lenta e regu­
larmente, iriam desaparecendo, homem a homem, tribo a tribo,
saindo da vida, indo para a História, cumprida a missão que lhe
custaria o sacrifício total da raça admirável. Tudo isto se criou
maquele 11 de junho de 1599 na cidade da Paraíba.

(VI)
Construído o Forte. Pacificado o indígena. Funda-se a
Cidàde tal qual mandara dom Francisco de Souza .
Numa carta de 19 de Maio de 1599 ao padre Pero Rodrigues,
informava o padre Francisco Pinto, Pai Pinto que os Tocarijus
matariam no Ceará nove anos depois, que os Jesuítas iriam fazer
uma boa residência na nova cidade, que agora se háde fundar,
obra de meia légua do Forte do Rio Grande.
Frei Vicente do Salvador ensina : “Feitas as pazes com os
Potiguares, como fica dito, se começou logo a fazer uma povoação
no Rio Grande uma légua do Forte, a que chamam CIDADE DOS
REIS, a qual governa também o Capitão do Forte, que El-Rei cos­
tuma mandar cada três anos.*’ Cidade dos Reis e não Natal.
Frei Vicente escreveu sua “História do Brasil” terminando-a em
1627, com tempo para retificar o engano. Deixou ficar. Como
Cidade dos Reis aparece no mapa do LIVRO QUE DA REZÃO
DE ESTADO DO BRASIL, inédito de 1612, embora denomine
Rio Puttigi e escreva Barra do Rio Grande na foz do mesmo.
Essa Cidade dos Reis viveu séculos, registada nas cartas
geográficas. O mapa de Javier, 1782, n.° 49 da cõleção Rio
Branco, indica Natal los Reyes, que um outro, de Robert de
Vaugondy, corrige par Lamandre, an. III de la Republique Fran~
çaise, complicou para Natal los Reys ou Rio Grande. No mapa de
Marcgrave, que Barléu divulgou em 1647 (o mapa é de 1643) está
'fielmente NATAL mas o esboço incluído no^ ANAIS de Joanes
de Laet refere apenas het Dorp vands Portugefen, a aldeia dos
Portugueses. Derredor d- houve o primitivo aldea-
— 28 —

mento de Mascarenhas Homem, Laet indica as posições dos


holandeses, o quajtel de Matias van Keulen, etc. Nenhum nome.
Robert Southey sugere qúe a vila perto do Forte se föra
arruinando e transferiram a sede para lugar mais conveniente.
Talvez por falta d’água doce. Mas havia rio, que desapareceu
nas areias, bem perto do Forte, onde dizemos hoje a Limpa,,
além das Rocas. Certo é que a Cidade se fundou no chão elevado
e firme de que fala Varnhagen.
O ponto tradicional, tido e havido onde a cidade foi fun­
dada é a atual Praça André de Albuquerque, Largo da Matriz,
Rua Grande de outrora. Teriam celebrado Missa e erguido uma.
capelinha que, no mesme ponto e sob reformas incessantes através
do tempo, é a Catedral, na mesma praça.
Por que Cidade do Natal ? Varnhagen, Frei Jaboatão, Aires-
do Casal, Vicente de Lemos, Tavares de Lira, Rocha Pombo,
Milliet de Saint Adolphe, Luís Fernandes, numa sucessão mansa,
e pacífica afirmam que o sítio da Cidade föra demarcado num
Dia do Natal de 1599, 25 de Dezembro. A Cidade nascia numf
aniversário divino. O padre Serafim Leite discorda que o nome
dã Cidade provenha de um Dia do Natal, demarcador do sítio
da nova capital. Cita todos os historiadores favoráveis e conclui :
“Nenhum destes acertou. Chamou-se Natal, porque foi esse o*,
tempo em que a armada entrou a barra do Rio Grande do Norte.
Apesar da cidade se começar depois, perpetuou^-se, no seu nome,
a recordação daquele fato. “Fundamenta com dois documentos
inéditos, carta do Padre Pero Rodrigues e uma “Relação das
Cousas do Rio Grande, do sítio e disposição da terra, 1607”.
Ambos informam que a armada de Mascarenhas Homem chegara,
à barra do Potengi em 25 de Dezembro de 1597. Mas o fato
impede a Missa e demarcação do sítio da Cidade a 25 de Dezem­
bro de 1599? Não havia melhor data para soldados católicos e
dar-se-á apenas coincidência e homenagem, deliberada ou não, de
recordar a chegada à foz do Potengi.
O povoamento da Cidade foi lento. Numa carta para ELRei,
datada do Recife a 4 de Dezembro de 1608, dom Diogo de Mene­
ses informava, falando do Rio Grande : a povoação que está feita
não tem gente. Mas no AUTO DE REPARTIÇÃO DAS
TERRAS, lavrado em termo na presença do Capitão Mor de Per­
nambuco, Alexandre de Moura, do Ouvidor Geral, desembargador
Manuel Pinto da Rocha e mais autoridades, escreve-se, oficial e
sizudamente : — “Ano do Nascimento do Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil seiscentos e quatorze, aos vinte e um do mês
de Fevereiro, em esta CIDADE DO NATAL DO RIO GRANDE^
proclamação solene do predicamento e nominação definitiva.
— 29 —

- Nesse 1614 a Igreja Matriz não tinha portas mas Natal


era Cidade para todos os efeitos. E ficou sendo sen* jamais ter
sido Vila. Mas possuía doze casas ... ~
A localização do sítio da Cidade é confirmada pela tradição
oral ininterrupta. Denominamos CIDADE à parte alta de Natal
e RIBEIRA, pelo alagado das marés que inundavam a atual Praça
Augusto Severo, nos bairros baixos..
À margem direita do rio Potengi, o Rio Grande que batizou
a Capitania, Província e Estado, ergueu-se a Cidade do Natal ( * ),
depois da Bahia e da Paraíba, a mais antiga capital do norte do
Brasil. '

HOJEDA ESTEVE NO DELTA DO RIO AÇU EM 1499?


Nada mais discutível que a viagem de Alonso de Hojeda, acompanhado
por Américo Vespúcio, com a presença insigne do piloto Juan de la Cosa,
especialmente na parte em que afirma ter visto terra, ensopada por muitos
rios, a cinco graus ao sul da equinocial. A lição de Varnhagen foi seguida.
«... em fins de Junho de 1499, Alonso de Hojeda, navegando em com­
panhia dos célebres pilotos Juan de la Cosa e Américo Vespucci, se encon­
trara com terra, aproximadamente na latitude de cinco graus ao sul da
Equinocial; a qual terra era baixa, alagada e de vários esteiros é braços de
rios. Não pode ter sido senão a do delta do Assu, na atual província do
Rio Grande do Norte. Intentou Hojeda prosseguir pela costa, no rumo de
lessueste; mas não lhe foi possível vencer a fórça das correntes, e viu-se
obrigado a seguir com estas na direção de noroeste; e, navegando ao largo,
foi somente de novo aportar, segundo parece, em Cayena».
Melhor é 1er o próprio Vespúcio na sua segunda viagem ; — «Os
dias eram iguais às noites, porque arribamos em 27 de Junho, quando o sol
está perto do trópico de Câncer. Esta terra atravessada por rios grandíssimos
estava toda alagada, e de começo não vimos gente. Surgimos com nossos
navios e arriamos òs batéis, nps quais fomos a terra que, como dissemos,
era sulcada por^ grandíssimos rios que a inundavam. Tentamos em muitos
pontos desembarcar mas, apesar das muitas diligências, as copiosas águas
fluviais não nos permitiram chegar a lugar que não estivesse encharcado;
mas por esses rios adiante vimos muitos sinais de ser a região habitada.
Visto como não podemos entrar nela, acordamos de tornar aos navios e
abordá-la noutro ponto; levantamos as âncoras e velejamos entre o levante
e o sueste pela costa adiante,. que assim corria, e por espaço de 40 léguas >
tentamos muitas vezes desembarcan mas foi tempo perdido.» Duarte Leite
positiva a impossibilidade dé Hojeda-Vespúcio terem atravessado a equino­
cial em 1499, jamais passando do sul de Pária (Duarte Leite, «Os
Falsos Precursores de Cabral», HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO POR­
TUGUESA DO BRASIL, vol. l.°, «Alonso de Hojeda nunca esteve no

(*) CIDADE DO NATAL e não Cidade de Natal. CIDADE DO NATAL


é o seu nome três vezes secular, em centenas de documentos, desde o «Auto
de Repartição de Terras». Muito acertada e legítimamente a Constituição do
Estado do Rio Grande do Norte, promulgada em 25 de Novembro de 1947,
decidiu no seu art. 2.° : — A CIDADE DO NATAL é a capital do Estado
do Rio Grande do Norte.
— 30 —

Brasil», DESCOBRIDORES DO BRASIL, 49, etc). Para nós, do Rio


Grande do Norte, o depoimento de Vespúcio, companheiro de Hojeda,. dá
o tiro de misericórdia na lenda teimosa que se criara, explicando a exploração
do Apodi pela presença de Hojeda que nunca pisou terra nesta parte do
Brasil. Impossível seria a hipotética fundação da «Missão de São João
Batista do Apodi» por esses navegadores.

VICENTE PINZON ESTEVE NO RIO GRANDE DO NORTE?

Vicente Yanez Pinzón, companheiro de Cristovão Colombo na 4°raada.


do descobrimento da América, é indicado como tendo visto um cabo na
costa nordeste do Brasil, denominando-o Santa Maria de la Consolación, a
26 de Janeiro de 1500. O Barão do Rio Branco identifica êsse cabo como
sendo o do Calcanhar, no Rio Grande do Norte. Outros geógrafos apontam
as pontas de Mucuripe, Ponta Grossa ou Jabarana, ambas no Ceará ou
o Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco, etc. Para esclarecimento
desse problema do conhecimento do litoral no sec. XVI, ver José Moreira
Brandão Castelo Branco, O RIO GRANDE DO NORTE NA CARTO­
GRAFIA DO SÉCULO XVI (revista do Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Norte, RIHGRGN, vols. XLV-XLII, 1950, Natal, idem,
O RIO GRANDE DO NORTE NA CARTOGRAFIA DO SÉCULO XVII,
RIHGRGN, vols. XLVIII-XLIX, 1952). Resumem, esses dois ensaios, a
melhor e mais dara informação na espécie erudita. Duarte Leite afirma,
com fundamentos científicos de navegação e estudo minucioso da documen­
tação coeva, que Pinzón limitou sua viagem a conhecer o trecho com­
preendido entre as Guianas e a costa' do norte, que defronta a ilha Trinidad.

A EXTENSÃO DA CAPITANIA DE JOÃO DE BARROS

Varnhagen ensinou-nos sobre a extensão das Capitanias doadas por


D. João III aos seus fidalgos e amigos. «A extensão do litoral daí para
diante, o resto da atual Paraiba e Rio Grande do Norte, coube a João de
Barros e a Aires da Cunha, de parceria; contando-se-lhes cem léguas além
da bahia da Traição.» Todos os historiadores repetem a informação. A
Carta de Doação perdeu-se. Por um requerimento de Jerónimo de Barros,
filho do Donatário e seu herdeiro, sabemos que a doação era de cinqüenta
léguas no Rio Grande do Norte (compreendendo terra a partir da Bahia
da Traição que pertenceu a Paraíba na divisão de 1611) e vinte e cinco
no Maranhão. «Diz Jerónimo de Barros que ele tem uma capitania no
Brasil de cinqüenta léguas ao longo da costa dos Pitigares e vinte e cinco
na bóca - do rio Maranhão»; DOCUMENTOS INÉDITOS SOBRE JOÃO
DE BARROS, 154, Antônio Baião, Lisboa. 1917 (Exemplar que devo
à gentileza do Dr. Jordão dc Freitas de Lisboa ). Aires da Cunha teria
outras cinqüenta.

O PORTO DE BÚZIOS
O Porto dos Búzios, Ponta dos Búzios, praia abandonada, foi muito
citada nos documentos da primeira metade do séc. XVI pela abundância
de búzios que eram procurados, valendo dinheiro' para permutas comerciais
(Artur Nehl Neiva, PROVENIENCIA DAS PRIMEIRAS LEVAS DE
ESCRAVOS AFRICANOS, Anais do IV Congresso de História Nacional,
vol. IV, Rio de Janeiro, 1950). Na Índia, China, levados para Africa pelos
traficantes * árabes, o Cunraea moneta, Linneu (moneta, moeda) valia.
o correi do
mis
le gimbo aplicada ao dinheiro em moeda. Jimbó ou zimbo divulgou-se facil­
mente entre os comerciantes portugueses na Africa. No Brasil há outras
espécies, não sendo encontrada a Cypraea moneta e sim a exanthema, João
de Barros, o nosso Donatário, em março de 1564 obtinha do Rei autorização
para mandar buscar da índia trezentos quintais de búzios. Indígenas usavam
o búzio como ornamento precioso e para troca. Stradelli conta o ciúme dos
indígenas amazonenses pelos sens colares de conchas, recusando a permuta
com espingardas de dois canos e munição. Na Bahia cita-se uma Praia do
Zimbo ao norte de Itapoã. A nosseç praia e antes Porto dos Búzios era lugar
de colheita. João de Barros arrendava-o por quinhentos cruzados e dava
autorização difícil. Recebia mesmo, pela mão do seu procurador Antônio
Pinheiro, residente em Igaraçu, os búzios como pagamento das anuidades
do arrendamento jou da licença para ir apanhá-los. Já não os encontrei
quando visitei a deserta praia dos Búzios.

O CABO DE SAO ROQUE E A EXPEDIÇÃO DE 1501. O MAIS ANTIGO


MARCO COLONIAL DO BRASIL

No sábado, 2 de Maio de 1500, Pedro Alvares Cabral largou de Porto


Seguro para índias e a nau dos mantimentos seguiu, voltando para Portugal,
com o encargo de anunciar ao Rei o encontro da terca de Santa Cruz. O
comandante desta nau erã Gaspar de Lemos e assim, com os. registos de
Fernão Lopes de Castanheda, João de Barros, Simão Ferreira Paes no raro
«As Famosas Armadas Portuguesas» (1650), Duarte Leite, Carlos Malheiros
Dias, Gago Coutinho e mais pesquisadores modernos, não há mais que dis-,
cutir. Voltando para o norte, Gaspar de Lémos veio costeando o litoral.
Aires do Casal, «Corografía Brazilica», I, 36, deduziu o itinerário: — «Cómo
a costa corre ao mesmo rumo que o nosso correio necessariamente devia
navegar, e ele tinha interesse (c provavelmente recomendações de Pedralves
Cabral) em saber até que altura a terra se estendia. para o Norte, nada
é tão verossímil e natural, como avistá-la ele muitas vezes até Cabo de
S. Roque, se é que não a levou sempre à vista até esta paragem porque
as águas nesta mansão empurram; para terra.»
Que terras teria avistado realmente Gaspar de Lemos? O mais antigo
mapa do Brasil, o mapa de Alberto Gantino, emissário de Hércules d’Este,
Quque de Ferrara na corte portuguesa, feito em meados de 1502, menciona
apenas um Cabo de S. Jorge nas alturas do atual S. Roque. Com tal
denominação desapareceu na cartografia posterior, sempre registado pelo
nome que hoje tem. Afirmam historiadores que o mapa de Cantino haja
sido o aproveitador dos conhecimentos levados a Portugal pelo portador
de Pedro Alvares Cabral. Pertence a controvérsia mais à erudição. Essen­
cial é apontar quem iniciou as jornadas costeiras, como visivelmente o fez
Gaspar de Lemos seguindo a corrente equatorial até S. Roque, para a rota
africana, rumo ao Cabo Verde.
D. Manuel recebendo a notícia do encontro da terra do Brasil, assim
chamada pela abundância c excelência dessa madeira mandou uma expedição
à região que Cabral tomara posse para a Coroa. Comandou essa armada,
de três caravelas, Gaspar de Lemos e nela viajou o florentino Américo
Vespúcio, depois Piloto Mor de Castela. Vespúcio deixou cartas endereçadas
aos seus protetores italianos, narrando a jornada com maior ou menor
fantasia e fábuk espontânea.
Gaspar de Lemos largou de Lisboa em Maio e voltou em setembro de
1501. Esta é a armada que chega ao Cabo de S. Roque (segundo o maior
— 32 —

cómputo de probabilidades) e chantou o marco, ainda existente, na chamada


PRAIA DOS MARCOS (5’ 4’, latitude sul por 35’ 48’ 30” de longitude
W, meridiano de Greenwich).
Há uma carta de Vespúcio, datada de Lisboa em 4 de setembro de 1504,
dirigida á Pietro Soderini, gonfaloneiro de Florença, onde descreve as
peripécias das quatro viagens suas, 1497, 1499, 1501 e 1503. Apenas as
duas últimas se referem ao Brasil. Essa carta, comumente citada pelo seu
título de LEITERA, regista a chegada ao cabo de S. Roque e o mais
que sucedeu.
«Prouve a Deus mostrar-nos no dia 17 de Agosto uma terra» nova.
.Aí surgimos a meia légua da costa, e deitamos fora os nossos batéis para
ver se a terra era habitada e de que qualidade de gente; e achamos que
era habitada por gente pior que animais. Mas Vossa Magnificência entenderá
que a princípio não vimos ninguém, mas percebemos por muitos sinais que
era*povoada. Tomamos posse dela em nome do Sereníssimo Rei.
Achamos ser uma terra muito amena, viridente e de boa aparência, e
situada para além da equinocial 5 graus pára o Sul, e isto feito regressamos
para os navios. Porque tínhamos grande necessidade de água e de lenha,
resolvemos voltar a terra no dia seguinte para fazer nosso provimento.
Estando em terra, avistamos no cume de um monte gente que nos contemplava
sem ousar descer. Estava nua e era da mesma cor e porte que a outra
passada. Esforçamo-nos por que viesse à fala conosco, sem conseguirmos
inspirar-lhes confiança, recusando-se eles a fiar, em nós. Em vista da sua
obstinação e porque já era tarde, voltamos aos navios, deixando em terra
muitos cascavéis, espelhos e outros objetos. Logo que nos afastamos no
mar, desceu do monte em procura do que lhe tínhamos deixado, ficando de
tudo maravilhada. Neste dia só fizemos provisão de ágda. Na manhã seguinte,
do convés das naus vimos que a gente de terra fazia muitos fumos, e pensando
que nos chamava fomos a terra, onde vimos que se juntava muita gente,
mas que se conservavam a distância, acenando-nos para irmos ter com ela.
Dois dos nossos cristãos tentaram-se pedir ao nosso capitão que para isto lhe
concedesse licença porque queriam correr o risco de ir até ëles para verem que
que espécie de gente era e se possuia alguma riqueza em especiaria ou drogas
e tanto instaram que o capitão o houve pçrbem. Aprontaram-se com muitas
* fazendas de resgate e partiram com ordern* • de não demorarem mais de
cinco dias em regressar porque não esperaríamos por eles. Encaminharam-se
para terra e nós voltamos'para os navios, onde ficamos esperando. Quase
todos os dias aparecia gente na praia, mas sem nunca querer falar-nos. No
sétimo dia fomos à terra e achamos que tinham trazido as mulheres, e logo
que desenibarcamos mandaram muitas delas ao nosso encontro. Então, como
víamos que não conseguíamos inspirar-lhes confiança, resolvemos mandar-lhes
um dos nossos, que foi um mancebo, e para os tranqüilizar entramos nos
batéis. O mancebo dirigiu-se às mulheres, que logo o rodearam mal chegado
junto delas, apalpando-o e contemplando-o com espanto. Estando elas nisto
vimos descer do monte até à praia . uma mulher que trazia na mão um
grande pau, e chegando aonde estava o nosso cristão . acercou-se-lhe pelas
costas e, levantando o pau, lhe deu tamanha pancada que o estendeu morto
por terra. Imediatamente as outras mulheres o arrastaram -pelos pés para
o monte, ao mesmo tempo que os homens se precipitavam para a praia armados
de arcos, crivando-nos de setas, pondo em tal confusão a nossa gente que
estava nos batéis varados na areia, que ninguém acertava lançar mão das
armas, devido às flexas que choviam sobre os esquifes. Disparamos quatro
tiros de bombarda, que não acertaram, e ouvindo o estrondo fugiram todos
para o monte, onde já estavam as mulheres despedaçando o cristão e assando-o
numa grande fogueira que tinham acendido, mostrando-nos os seus membros
— 33 —

decepados e devorándoos, enquanto os homens nos faziam sinais, dando-nos


a entender que tinham também morto e devorado os outros dois cristãos,
o que muito nos afligiu, contemplando com nossos olhos a crueldade * que
cometiam com o morto e que para todos nós era injúria intolerável. Mais
de 40 dos nossos tinham a intenção de saltar em terra e Vingar a morte tão
cruel e aquele ato bestial e desumano, mas o capitão-mor não lhes o quis
consentir. Eles ficaram com a satisfação de tamanha ofensa, e nós partimos
de má vontade e envergonhados por culpa do nosso Capitão.»
Essa atitude extremamente tolerante por parte do chefe da armada expli-
car-se-á pelo rigor das instruções recebidas. Esse contato inicial com a
indiada norte-riograndense, tão diversa dos amáveis Tupiniquins de Porto
Seguro, deu impressão duradoura e, até fins do século XVI, falam os
relatos na ferocidade indomável dos silvícolas habitantes da terra.
Partindo, Gaspar de Lemos deixou um sinal de sua passagem como
testemunha da possa del-rei de Portugal. Chantou um marco de pedra lioz,
o mármore de Lisboa, tendo no primeiro terço a Cruz da Ordem de Cristo
em relevo, e abaixo as armas do Rei de Portugal, cinco escudetes em cruz
' com cinco besantes em santor sem a bordadura dos castelos. Já no mapa
de João Teixeira, anterior a 1612, indica-se o lugar com o nome de marco
antiguo. Nenhuma outra expedição oficial tocou nas costas do Rio Grande dó
Norte, Nicolau Coelho em 1503, Cristovão Jaques em 1516 e 1526, Martim
Afonso de Souza em 1530. Ê possível que Diogo . Leite, mandado por esse
último percorrer o costão nortista haja avistado o litoral potiguar com . ãs
suas duas naus. «Rosa» e «Princesa» em que viajou, 1531, até a foz do
Gurupi. Para pormenores, Comte. Eugênio de Castro, DIARIO DA NAVE-
GAÇAO DE PERO LOPES DE SOUSA, Rio de Janeiro, 1940.
O Marco foi estudado por mim com atenção e documentação possíveis.
Ver O MAIS ANTIGO MARCO COLONIÂL DO BRASIL, «Subsídios
para a História Marítima do Brasil», 265, IIP, Rio de Janeiro, 1939« «Informa­
ção de História e Etnografía», 61, Recife, 1940; «Congresso do Mundo Portu­
guês», «Publicações», vol. IX, 119-127, Lisboa, 1940. O dia de S. Roque é
16 e não 17 de agosto. No Rio Grande do Norte um decreto dè 37 de
Agosto de 1890 feriava 17 de Agosto como o primeiro-contato da civilização
cristã com as regiões norte-riograndenses.

PADRE GASPAR DE SAMPERES

Gaspar de Samperes, jesuíta» engenheiro é arquiteto, construtor do


Forte dos Reis Magos em Natal, grande catequista, pacificador dos Poti­
guares nos inícios da colonização, batizou Potiguaçu e seus filhos, com o
Padre Simão Dias. Voltou várias vêzes à cidade do Natal. Prestando
assistência religiosa foi preso no Arraial nos arredores do Recife, e deportado
pelos holandeses. Nascera em Valênda, Espanha, em 1556 e faleceu em
Cartagena de índias, Colômbia, em 1635, tendo 79 anos de idade (Pe. Serafim
Leite, HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NO BRASIL, vol. V.
384, Rio de Janeiro, 1945).

O FUNDADOR DA CIDÀDE DO NATAL

Menendez y Pelayo fixou como característico da História a forma Reno­


vadora, mutável em face da documentação incessante. Os processos de
revisão são lógicos. Temos um desses problemas-mirins. A tradição indicava
Jerónimo d’Albuquerque como tendo sido o Fundador da Cidade do Natal.
Recebera de'Mascarenhas Homem, em Junho de 1598, o comando do Forte e,
— 34 —

decorrentemente, as responsabilidades da administração. Vemo-lo animar o


trabalho de catejjuese. A ausência de informações nessa fase justificava a
permanência do critério. O Pe. Serafim Leite, S.J. • («História da Companhia
de Jesus no Brasil», vol. l.°, Lisboa, 1938) divulgou dois documentos que,
examinados lentamente, mudam curso às deduções velhas. No primeiro, conta
o Pe. Pero Rodrigues que Mascarenhas Homem solicitara ao Governador Geral
do Brasil instruções e auxílios para promover as pazes com os Potiguar.es e
pedira ao Padre um sacerdote perito no assunto catequístico, recebendo
o Padre Francisco Pinto que se fèz acompanhar do Pe. Gaspar de Samperes.
Há um entendimento com o chefe Potiguaçu, todo poderoso nos arredores
da futura Natal e a tudo isso se achava presente o Capitão-Mor e o Capitão
da Fortaleza, João Rpdrigues Colaço. Em Março ou Abril 1599 já não estava
Jerónimo d’Albuquerque como Capitão-Mor e sim Colaço. O outro documento
é uma «Relação das Cousas do Rio Grande, do sítio e disposição da terra»,
(1607), onde se lê: — «João Rodrigues Colaço, o primeiro capitão que
foi daquela Capitania.»
Jerónimo fora nomeado por Mascarenhas Homem e João Rodrigues Colaço
pelo Governador Geral do Brasil. Quando Colaço assumiu não se sabe. Antes
do documento divulgado pelo Pè. Serafim Leite, em 1910, Vicente de Lemos,
estudando a primeira sesmaria norte-riograndense, requerida por esse Colaço
a Mascarenhas Homem, dizia-o o primeiro, por conseguinte, que governou a
Capitania, Certo parece estar Colaço capitão-mor em meiados de 1599 e con­
sequentemente Jerónimo não seria testemunha da Fundação da Cidade em
Dezembro. O escritor potiguar José Moreira Brandão Castelo Branco, que
fixou o assunto («Quem fundou Natal», BANDO, n.9 XIII, Natal, Janeiro
de 1950), examinou a documentação e concluiu pela presença de Colaço como
o Fundador da Cidade em 1599. Melhor e mais concludente, para mim, que
os dois documentos citados, é a sesmaria que Mascarenhas Homem concede a
9 de Janeiro de 1600, datada do Forte dos Reis Magos a João Rodrigues
Colaço, já Capitão desta Fortaleza do Rio Grande pelo Governador Gera’ do
Brasil. Mas não se trata da concessão da sesmaria e sim do requerimento,
ainda não publicado, bem expressivo quanto ao tempo que Colapo estaria
em Natal. Colaço requeria 2.600 braças duma água que chamam de Papuna
cm diante e que mandara rosar aonde pusera escravos seus com o feitor para
começarem a plantar mantimentos ... visto ser a primeira pessoa que começou
a rosar e a fazer benfeitorias no Rio Grande ... e compràra escravos de Guiné
e ainda mais queria fazer umas casas no sítio que está escolhido para a cidade,
Mascarenhas concedeu apenas 800 braças. É claro que Colaço estava há bas­
tante tempo em Natal, mandando fazer todo esse serviço na terra cuja posse
pleiteou, e obteve. Da indecisão e névoas do tempo resta que a própria
Cidade, cujo cerimonial de fundação parece haver-se limitado à escolha do
sítio, com suas confrontações e limites provisórios, é indicada positivamente
como tendo sua localização escolhida, precisa e sabida, dando-se como ponto
exato de confrontação.
Jerónimo d’Albuquerque não mais governa em Março ou Abril de 1599
e a 9 de Janeiro de 1600, quinze dias depois da fundação da cidade, Colaço
é Capitão da Fortaleza e prova ter trabalho de campo que demonstra ante-
rioridade no local. Assim tudo parece invalidar a tfadição de ser Jerónimo
d’Albuquerque, o fundador da Cidade do Natal e caber essa glória, a título
provisório e até prova em contrário, a João Rodrigues Colaço.
CAPITULO SEGUNDO

(I) O Povo do Rio Grande do Norte. (II) Indígenas,


tribos, histórico, localização. (III) Negros, nú­
mero, influência, miscigenação, determinantes eco­
nômicas, pecuária, agricultura, atualidades. (IV) O
elemento branco, origens, projeção, valor étnico.
(V) A marcha demográfica. (VI) Movimentos de
fixação.
Saímos de brancos, indígenas e negros, com os tipos interme- '
diários de mamelucos, brancos-indígenas, caboclos ou curibocas, ,
negros-indígenas, e mulatos, negros e brancos. O elemento branco
foi sempre menor e prolifero. A maioria absoluta em branquidade
era portuguesa. Mas o francês esteve longos anos em contato
sexual com as cunhas potiguares. No domínio holandês houve des­
cendência também mas pouco sensível. O sangue Judeu, já meio
diluído na península, influiu igualmente. E, apenas perceptível,
ciganos.
O negro já trabalhava em Natal em janeiro de 1600, quinze
dias depois da Cidade ter sido fundada. O primeiro sesmeiro na
Capitania alude ao escravo da Guiné, comprado para plantar
roçarias. O indígena estava em toda a parte, litoral, agreste e
sertão.
Digamos que o conceito, a concepção, o critério com que
apreciamos a coloração da epiderme é elástico, complexo e difícil
de fixação. Depende da situação financeira, da posição social, da
influência do homem a julgar. E às vezes da conduta, do acomo-
damento regular. «Branco é quem bem procede.» «Preto na cor,
branco nas ações”. Desde que não seja estridentemente preto,
a menor nuança clarificadora dá direito aos pregões arianistas.
Mulatos, pardos, em suas infinitas gradações, colocam-se no qua­
dro amplo dos morenos. Quando, nos princípios do século XIX,
Henry Koster perguntou se um Capitão-Mor recém-nomeado era
! mulato, responderam : — Era, porém, já não é ... (I).
E se passava o fato no Recife, aristocrático e senhorial.
Ponho de parte franceses e holandeses como águas vivas no
rio racial norte-riograndense. Tivemos, verdadeiramente, correndo
na mesma vertente três fontes étnicas. Indígenas, portuguesas
e negras.

(II)
Os indígenas rodeavam o pequeno núcleo do Forte dos Reis
Magos. Corriam nas margens dos rios, afundando para o sertão,
oeste e norte, ao sul pelos vales, infletindo para as abas das serras,
especialmente a da Copaoba (Serra da Raiz), viveiro de acam-
pamentos tupis. Ardiam os fogos de 164 fogueiras quando do
momento da conquista. A «Relação das Cousas do Rio Grande»
(1607) calcula pessimistamente seis mil almas. Era a massa
conhecida pelo jesuíta, registador. Para o sertão bruto, insabido,
ainda, viviam milhares de indígenas ignorados. Eram doutra
raça, idioma e costumes, entrando para a História pela violência
e pelo sacrifício.
Em três séculos toda essa gente desapareceu. Nenhum centro,
resistiu, na paz, às tentações daguardente, às moléstias contagio­
sas, às brutalidades rapiñantes do conquistador. Reduzidos, foram
sumindo, misteriosamente, como sentindo que a hora passara ze
ëles eram estrangeiros na terra própria. Guardados pelos jesuítas,
terésios e carmelitas, ainda viveram, ritmados, trabalhando, ca­
sando, cantando suas cantigas e bailando seus bailos intermináveis.
A “liberdade” do Marquês de Pombal matou-os como um ve­
neno. Dispersou-os, esmagou-os, anulou-os. Quando algum fa­
zendeiro rico atinava com a excelência das terras possuídas pela
indiada, descobria um processo de .evidenciar a conveniência de
uma mudança para o grupo. O Ouvidor concordava e a multidão
dos casais era tocada, como um rebanho, para fora. Ia uma auto­
ridade guiando a manada. Escolhida outra paragem. Dava-se
nome. Chantava-se Pelourinho. Lavrava-se uma ata. Três vivas
a El-Rei Nosso Senhor. Os indígenas estavam vilados. Outro
fazendeiro começava a achar o terreno magnífico. E ia tomando,
devagar. Essa foi a história dos bárbaros. História que qualquer
catequista, religioso ou leigo, sabe quanto é viva e humaníssima.
Quem vê os registos paroquiais do século XVIII constata
a procissão ininterrupta dos óbitos de caboclos, de índios, quase
todos meio plantadores, meio mendigos, désajudados, desajustados
e caminhando para o aniquilamento final.
O Rio Grande do Norte lembra seus ancestrais aborígenes,
Paiacus, Paiins, Monxorós, Pegas, Caborés, Icozinhos, Panatis,
Arius ou Áreas e Janduís, de truculenta memória, além dos Poti­
guares clássicos, comedores de camarão, dominadores do Rio onde
a Capital se plantou.
Eram apenas duas raças. Potiguares eram Tupis. Todos
os demais eram Cariris, apelido dado pelo inimigo tupi, kiriri, o
calado, o silencioso, o taciturno. Éram Cariris com vários tipos,
cor e formação, homens mais altos que os Potiguares, fortes,
impulsivos, com pequena agricultura e cerâmica rudimentar, dor­
mindo em redes de algodão e fibras, com apreciável organização
social e militar. Marcgrav salvou, divulgando no seu cronicão
ao governo de Nassau, uma larga informação do judeu Jacó Rabi
e Roulox Baro publicou as impressões de sua estada junto aos
— 39 —

vassalos do centenário Janduí. Quase todos tomaram parte no


levante gerat de 1687, em diante, custando milhares de cruzados,
gadaria infinita e centenas de vidas humanas, cobrindo de fogo
e de sangue as regiões do oeste e Seridó.. Outras vieram poste­
riormente, como os Caicos, Panatis e Curemas, baldeados pelo
avanço das bandeiras dos Oliveira Ledo no rush no Piancó pa­
raibano .
Os Caicós e Curemas, possíveis ramos dos Icós, como pen­
sava Rodolfo Garcia, nenhum vestígio sangrento deixaram. Apenas
restos de tribos dizimadas fugiam da Paraíba, ficando na zona
seridoense, transpondo o boqueirão que guarda o nome dos últimos
e possivelmente fixados na cidade que tem a denominação dos
primeiros; boqueirão do Curema, cidade do Caicó. Os Panatis,
que resistiram tantos anos a Teodoro de Oliveira Ledo, abriga­
ram-se no atual Município de Pau dos Ferros, onde uma serra
recorda a residência desses guerreiros sem vitória.
Os Paiacus estendiam-se do baixo Jaguaribe, no Ceará, à
serra do Apodi e várzea do Açu. Foram indígenas de corsõ,
afoitos, valentes, teimosos nos ataques. A crônica cearense está
cheia desses Paiacus, mártires e algozes, espoliadores e espoliados.
Uma figura, destacada da multidão dos Paiacus, salientou-se na
pessoa de um chefe, o guerreiro Itaú, batizando a lagoa perto da
cidade do Apodi, combatendo os irmãos Nogueiras, sesmeiros, de­
fendendo sua taba. Foram aldeiados depois da chamada “Guerra
dos Índios” ou “Confederação dos Cariris", títulos convencionais
da nossa mania de classificação. Sofreram as ambições dos civili­
zados da época. O mestre de campo Manuel Álvares de Morais
Navarro, comandante do Terço dos Paulistas, convidou os Paiacus,
aldeiados no Açu, uns 700 homens, para ajudá-lo a combater os
Icós e Carateus. Paiacus e Janduís aceitaram. Acamparam junto,
iniciando as danças na noite de 4 de agosto de 1699. Morais
Navarro, que desejava justamente a continuação da campanha e
provar a ferocidade insubmissa da indiada, chefiou o massacre
dos Paiacus descuidados e confiantes na palavra do cristão branco.
Os Janduís, aliados, ajudaram a matar os companheiros Paiacus.
Verdade é que, ante protesto, processo e condenação, Navarro ,
restituiu a liberdade aos presos sobrantes da carnificina e ele
próprio conheceu prisão. Em 1712, num assalto furioso que os
indígenas tentaram contra o arraial do Açu, os Paiacus defenderam
valorosamente os brancos, salvando-lhes vidas e fazendas, e guiando
a repressão. Em 1720, com outros de tribos diversas, os Paiacus
passaram a agressores, investindo contra a cidade do Natal, che­
gando ao Ferreiro Torto, quase nos arredores da capital alarmada.
— 40 —

Foi-lhes o derradeiro estertor. No Ceará, vitados em Monte-Mor-o- j


-Velho (Guarani, hoje Pacajus) foram mandados para o Rio
Grande e, com seus irmãos do Apodi, conduzidos, em 1761, para
os altos da serra dos Dormentes onde se fundou a Vila (hoje
Cidade) de Portalegre.
Os Paiins, vindos igualmente da fronteira cearense, habitaram
a lagoa do Apanha Peixe, na parte oeste do município do Apodi
e margens de. um braço do rio Podi, depois Umari. Perturbaram
insistentemente o sesmeiro Gonçalo Pires de Gusmão, sócio de
Manuel Nogueira Ferreira, que desejava fixar-se no Apanha
Peixe e terminou vendendo a terra a Matías Nogueira e viajando
para o Jaguaribe. Apareceram os Paiins, a 9 de Agosto de 1688,
aliados aos Paiacus, dando combate aos Nogueiras, Baltazar e
João, dependentes e escravaria, vencendo-os.,
O Ouvidor Marinho, em meiados de 1688, vilou-os, com seus
agregados Caborés, e Icozinhos, na lagoa do Itaú, Apodi, fazen-
da-ós sair do Acanha Peixe, onde estavam qs Paiacus. Paiins,
Icòzinhos, Caborés e Paiacus foram, em 8 de dezembro de 1761,
reunidos pelo Juiz Carlos Caldeira de Pina Castelo Branco na
Vila de Portalegre, cidade atual, fundada naquele dia. Ainda
em 1825 os Paiacus rebelaram-se, dirigidos por João da Pega,
talvez remanescente dessa tribo, e foram fuzilados, sem processo
e exame, a 3 de Novembro do mesmo 1825. João da Pega, fugi­
tivo, escapou e foi perdoado.
Os Monxorós ou Mouxorós, cariris que parecem significar
tribo que tomou nome local do rio, vagavam pelo rio Mossoró e
Upanema ou Panema. Com os Pegas, mataram muito gado, o
que provocou correría dos curraleiros de Campo Grande, hoje
Augusto Severo, contra eles. Habitaram a serra dos Dormentes,
outrora de Manuel Nogueira Ferreira, hoje Portalegre. Carlos
Vidal Borromeu e seu irmão Clemente Gomes de Amorim, em 1740,
com os Paiacus, desalojaram os Pegas e Mouxorós dos aldeia-
mentos serranos. Passaram a viver na serra da Cipilhada, muni­
cípio de Augusto Severo, posteriormente denominada Serra do
João do Vale, por ter João do Vale Bezerra, senhor da fazenda
Campo Grande, inicial da vila, adquirido a serra por 420$. Pegas •
e Monxorós foram transferidos para a aldeia de Mipibçu, fundada
Vila de São José em Fevereiro de 1762. Aí se dissolveram étnica­
mente .
Caborés é Icozinhos deram que fazer aos fazendeiros e plan­
tadores durante meiados do século XVII e princípios do XVIII.
Eram errantes, turbulentos, arredios da comunicação cristã. A
zona era Mossoró e Apodi onde foram vilados pelo Ouvidor
Marinho em 1688, com os Paiins. Ainda em Setembro de 1728
— 41 —

o capitão Francisco Nogueira de Oliveira escrevia à sua irmã


D. Maria d’Oliveira Correia, viúva de Manuel Nogueira, infor­
mando-a : A seca acabou quase todos os gados destas ribeiras e o
resto que ficou os Caborés e Icozinhos são senhores dele.
Figuram entre os vilados de Portalegre em Dezembro de 1761.
Da fronteira paraibana, além dos Caicos, Çuremas e Panatis,
surgem os Arius ou Areais. Vindos pelos Espinhares,. Sabugi,
saídoa das encostas ocidentais da Borborema e também chamados
“Pegas”, derramaram-se nas ribeiras, devastando os currais de
gado. Foram lentamente reduzidos pelos fazendeiros na pro­
porção em que as fazendas se iam alastrando e os recursos, de
vizinho a vizinho, cresciam pela comunicação e auxílio mútuos.
Sua região de influência étnica é o Seridó.
Os Canindés aparecem nas guerrilhas cearenses, indomáveis
e teimosos, inseparáveis dos Genipapos, pervagando as cabeceiras
do Curu e margens do Quixeramobim e Banabuiu. Eram também
cariris, divisão dos Janduis, tomando nome do chefe Canindé,
derrotado por Afonso d’Albuquerque Maranhão que o aprisionou
assim como a mais nove lugares tenentes, obrigando-o a batizar-se
e tomar o nome de João Fernandes Vieira. O Rei de Portugal,
em 14 de Dezembro de 1701, mandou “descer o rancho de Canin­
dé dos matos em que andavam às comédias’* e situá-lo em lugar
aprovado pela Junta das Missões. O próprio Afonso d’Albuquer^
que Maranhão presenteou uma légua de terra à aldeia dos índios do
rancho Canindé dos Jandoins. O Rei mandou agredecer a oferta.
Era aldeia na ribeira do Jundiá-peroba, na tapera de Lucas Gon­
çalves. no município de Goianinha.
Os Janduis ou Janduins foram tropa de choque na Guerra
dos Bárbaros, cabendo-lhes a iniciativa das mortes, incêndios e
bestialidades. Pero Carrilho de Andrade, na “Memória söbre os
Índios no Brasil” (RIHGRGN, VII) responsabiliza-os por alta
porcentagem dos feitos sangrentos, desçrevendo-lhes hábitos. “De
paz estavam os yandois quando se levantaram nas ribeiras do Açu,
Mossoró e Apodi, em os anos de 1687 para 88, matando a toda
a cousa viva e ao depois queimando e abrazando tudo não dei­
xando pau nem pedra sobre pedra, de que ainda hoje aparecem as
ruínas»(2). Fazem sua entrada solene.com os Holandeses, de
quem foram soldados fiéis, espécie devotada de guarda pretoriana,
pronta para todo serviço. Eram cariris' legítimos. Sua raça se
dizia (informa Elias Herckman, que os conheceu de perto) Ta-
rairiou, certamente Tarairus, divididos em duas tribos, uma diri­
gida por Jandui, que tomou nome desse chefe, e a segunda coman­
dada, por Caracará. Jandui, que morreu mais do que centenário,
segundo Johan Nieuhof, ficou ao lado dos flamengos, guerreando
sempre. É o matador de Cunhaú e de Uruaçu. Na segunda me-
— 42 —

tade do século XVII foram aldeados em várias partes, ribeira do


Upanema e na missão jesuítica de São Miguel de Guagiru (Estre­
moz) . Nos inícios do século XVIII seu chefe se chamava Loio.
O processo de acalmá-los era dividi-los pelas missões onde, possi­
velmente, ficassem sob rótulo comum de tapuis e mesmo de Paiacus.
O brasão holandês do Rio Grande do Norte. Capitania, Província
Fluminis Grandis, dado pelo conde João Maurício de Nassau em
1639,’ é uma Ema (Rhea americana) com o moto velociter. É uma
homenagem aos Janduís dedicadíssimos. Janduí é corrutela de
nhandú~i, ema pequena e, por autonomásia, o corredor. Pero Car­
rilho de Andrade alude a essa agilidade dos Janduís, “levantando
grandes pesos aos ombros, correm três e quatro léguas sem des­
cansar”, “são mais ferozes do que as mesmas feras dos montes
agrestes, que a muitas levam vantagens nas forças, na ligeireza do
correr”.
Da grande gente Tupi tivemos apenas, na hora da conquista
e arrastando vida dolorosa subsequentemente, os Potiguares, vi­
vendo no litoral, ao longo das orlas marítimas, nas praias som­
breadas de cajuais cujo fruto lhes marcava o ano. Adversários
dos portugueses, fizeram as pazes em junho de 1599, e foram
fiéis a esse juramento no Rio Grande do Norte. De sua estirpe,
nascido às margens do Potengi, Dom Antônio Felipe Camarão,
enobrecido pelo Rei e pela valentia, com sua mulher, dona Clara
Camarão, guerreira famosa, foi-lhes elogio no sacrifício total da
raça.
Em 1749 tínhamos as seguintes aldeias indígenas: GUA­
GIRU, (Estremoz), Invocação de S. Miguel. Caboclos da língua
geral (Tupis) e Tapuios da nação Paiacix Direção dos Jesuítas.
APODI, invocação de S. João Batista, direção dos Religiosos
de Santa Teresa (Carmelitas), Paiacus. MIPIBU, invocação
de Santana, Caboclos da língua geral sob a direção dos Capuchi­
nhos. GU AR AIR AS (Arês) (*) invocação de S. João Batista,
caboclos da língua geral sob a direção dos Jesuítas. GRAMACIÓ
(Canguaretama), invocação dé Nossa Senhora do Carmo, sob a
direção dos Carmelitas Reformados, com os caboclos de língua
geral.
Essa classificação, inteiraménte arbitrária, compreendia tödas
as nações aborígenes e não apenas os tupis e os paiacus-cariris.
Nessas paragens o indígena se diluiu na população mestiça. O
predomínio é a estatura média, 1,65,5, mãos e pés pequenos, bra-
quicéfalos, olhos castanhos, cabelos grossos e longos, ralos bigodes,
de fios compridos. A pele, de còr indefinida, entre cinzento claro
e vermelho, lembra as velhas impressões coloniais. É visível a
( * ) : — Fóra a ALDEIA DE ANTONIA, marcada no mapa de João
Teixeira, no LIVRO QUE DA REZAO DO ESTADO DO BRASIL.
— 43 —

influência antropológica do negro, nos narizes chatos. Na zona de


S. José de Mipibu, Papari (Nisia Floresta), Arez e Goianinha
ainda encontramos o recorte da pálpebra no tipo mongol.
O resultado étnico desses residuos humanos só poderia ser
desfavorável. Vencidos, batidos, humilhados, expulsos das zonas
de conforto habituais, desorganizados, foram atirados nas aldeias
onde o padre os defendia mas não evitava o contato sexual com
negros e negras. Èstes eram de maior estatura. Os “caboclos"
foram em geral mais altos e fortes, entroncados, mais ágeis, vivos
e curiosos que os pais. O filho da cabocla com o branco deu um
tipo mais claro, de melhor estatura, andar elegante, corpo elástico,
robusto, seco de carnes, resistente e frugal. Inúmeras familias-
troncos do Seridó e oeste norte-riograndense tiveram avó-indígena,
caçada a casco de^ cavalo, preferida pelo fazendeiro, mãe do filho
favorito, vaqueiro eximio, multiplicador de fazendas.
Quando as aldeias se tornaram Vilas o indígena foi desapa­
recendo velozmente, bebendo aguardente que ninguém mais proibia,
expulso da terra, esmolando, prostituindo-se, morrendo como mos­
cas. Ficou com o recalque contra o trabalho que lhe recordava
o pulso ritmador do padre, obrigando-o às tarefas no campo e à
fiação e obras de bordado às mulheres. Livre, o trabalho seria
uma continuação da pena e deixou de considerá-lo indispensável.
Só trabalhava impelido pela fome absoluta e necessidade total.
Incapaz de esforço continuado, o indígena nas vilas pombalinas,
aceitava encargos para realizá-los em horas e dificilmente em
dias seguidos. “Caboclo é só para um dia", diziam eles a Henry
Koster na primeira década do século XIX.
O patrimônio territorial fòra dividido entre as autoridades
locais. Onde antes dois ou três sacerdotes satisfaziam completa­
mente a direção do serviço, agora viam Vigário, Coadjutor, Ca­
pitão-Mor, seis Capitães, um diretor, dois ajudantes, um mestre-
escola e noutras partes mais populosas, seis Alferes, seis Capi­
tães, etc. tudo jnandando, gritando, comendo como gafanhotos.
No século XIX o indígena entrou para morrer. No “Mapa
da População da Capitania", em 31 de Dezembro de 1805, man­
dado levantar pelo governador José Francisco de Paula Caval­
canti de Albuquerque, há 5040 indígenas em tóda a Capitania,
S. José (Mipibu), Arez (Guaraíras), Vila Flor, (Gramació). Es-
tremoz (Guagiru), Portalegre e Natal, 2.514 homens e 2.526
mulheres. Em Junho de 1835, na relação feita pela Secretaria do
Governo em Natal, tínhamos 3.403 homens e 3.487 mulheres
indígenas, num total de 6.890 pessoas. Em relatório presidencia!
(7-9-1839) dom Manuel d'Assis Mascarenhas apresenta um qua*
dro melancólico. Não fala dos indígenas do Apodi. Estremoz
— 44 —

tinha 700. S. José, uns 500. Vila Flor dava 140 fogos. Goianinha
não possuia mais dc 400, todos decadentes, exaustos, descuidados,
desenganados, apáticos. Mesmo assim, num arrolamento que o
Dr. João Paulo de Miranda, Chefe de Polícia, procedeu em 1844,
os indígenas comparecem com 6.795. Depois de 1850 rareiam as
informações e as referências são realmente aos mestiços.
O mestiço do branco e indígena deu a maior porcentagem de
vaqueiros. O do indígena e negro ficou pequeno plantador de
toçaria. Nenhum sobressaiu. Como a porcentagem mais sensível,
para o interior, era o cariri, o indígena de pouca fala, silencioso,
tenaz, cheio de pundonor, de orgulho rancoroso, herdou-lhe o
sertanejo algumas dessas virtudes, de mistura com o sangue por­
tuguês, na multidão dos traços psicológicos. Os do litoral tiveram
boa parte do tupi, alegre, dançador, cantador, pescador, preguiçoso,
arrebatado, imprevidente, comendo e bebendo numa festa o tra­
balho de dois meses.

(HI)
Na primeira sesmaria concedida no Rio Grande do Norte,
Natal, 9 de Janeiro de 1600, a João Rodrigues Colaço, alega o
peticionário que comprara escravos da Guiné, era a primeira pessoa
que começou a roçar e a fazer benfeitorias no Rio Grande, etc. A
conquista datava de dois anos. Como não tivemos a indústria
açucareira e as atividades se resumiam na criação de gado e
roçarias de mandioca, milho e feijão, era desnecessária grande
cópia de escravos.
O indígena não fora escravizado senão temporariamente.
Vivíamos perto da fiscalização real, imediata e efetiva, ordenando
a libertação dos casais quando aprisionados em guerra injusta.
O negro foi-nos uma constante ínas não uma determinante econô­
mica.
Não tivemos quilombos nem rebeliões negras. Nem há do­
cumento indicando adesão do escravo africano ao holandês, grande
importador, e vendedor de peças. Ainda vemos o amplo mercado
humano na Rua dos Judeus, rua dos Mercadores, no Recife, numa
gravura de Zacarias. Wagner.
Os escravos mandados para o sertão transformaram-se em
vaqueiros, cantadores aclamados, padrinhos de ioiôs e derrubador
de touros. Èstabelecia-se uma identidade social pela uniformidade
das tarefas, iguais para todos, escravos e amos. Nos canaviais,
terras de café,diamanteiras e garimpos, o negro virava animal
de carga. No sertão jamais foram numerosos pela própria sim­
plicidade do trabalho de pastoricia.
45 —

Era o conceito oficial como se vê num documento real de


julho de 1703: — «O Sertão com facilidade se povoava de gado
porque dava lucro com pouca despesa e as plantas haviam mister
mais operários e nem todos podiam ter os necessários para
elas.” (3)
A vida do vaqueiro predispunha à democratização. Ignora­
va-se no sertão o escravo faminto, surrado, coberto de cicatrizes,
ébrio de fúria, incapaz de dedicação aos amos ferozes. Via-se o
escravo com sua vestia de couro, montando cavalo de fábrica,
campeando livremente, prestando contas com o filho do senhor.
Centenas ficavam como feitores nas fazendas, sem fiscais, tendo
direito de alta e baixa justiça, com o respeito ao que dissessem.
Nas missões de «dar campo» aos bois fugitivos, indumentária e
alimentação eram as mesmas para amos e escravos. „ Os riscos e
perigos os mesmos. Desenvolviam-se as virtudes idênticas de
coragem, afoiteza, rapidez na decisão, força física, astúcia. Os
divertimentos eram os mesmos. Debalde procuraremos nos eitos
dos engenhos de açúcar o escravo cantador, vaidoso, atrevido,
desafiante, como Inácio da Catingueira. O ciclo do gado, com a
paixão pelo cavalo, armas individuais, sentimento pessoal de defesa
e desafronta, criou o negro solto pelo lado de dentro, violeiro,
sambador, ganhando dinheiro, alforriando^se com a viola, obtendo
terras para criar junto ao amo, seu futuro compadre, vínculo
sagrado de auxílio mútuo.
As notas sõbre a massa escrava dizem unicamente do século
XIX. Em Natal, 1808, havia 1.936 brancos, 2.836 mulatos e
1.127 pretos. Três anos antes, em 31 de dezembro de 1805,
para a população total de 49.250 habitantes, viviam 8.072 negros.
O quadro, pela primeira vez publicado, é o seguinte (4):
Natal ................................................ .. 1.252
Princesa (Açu) ................................ 1.221
S. José de Mipibu .......................... 1.151
Apodi .................................................. 1.073
Estremoz .................. 876
Principe (Caicó) .............................. 871
Pau dos Ferros................................... 496
Goianinha .......... 391
Vila Flor (Canguaretama) .............. 384
Coité (Serra do) .............................. 130
Arez .... ........................... 127
Portalegre .................................. 100

Naturalmente houve um rush açucareiro que atordoou os


senhores de engenho nos vales do Ceará-Mirim, S. José de
— 46

Mipibu, Goianinha, Canguaretama e S. Gonçalo. Em 1854 expor­


tavamos 80.749 arrobas. Em 1859, com 156 engenhos moendo,
iam a 350.000. Um salto de 200.000 em cinco anos. A escra­
varia sobe na razão direta. Mas veio a Guerra de Secessão ame­
ricana, 1860-65, Norte contra Sul. O açúcar cedeu o trono ao
algodão. O algodão é cultura distributiva, democrática, indi­
vidual, podendo toda gente plantar e colher. O açúcar exige
financiamento, dinheiro para as safras, casas, máquinas, homens,
escrita, cuidados.
Em 1835 tínhamos 10,240 escravos. Nem todos eram pretos.
Havia 6.247 negros livres para 6.016 escravos. Os pardos for­
ros contavam-se em 36.109 e os cativos em 4.224. Em 1844
os pretos, livres ou não, chegavam a 23.467 numa população de
149.072. Em 1855 tínhamos 20.244 e em 1870, 24.236. Em
1884 estávamos apenas com 7.623 escravos ... Passara o açúcar
e passara o algodão. Voltara o ciclo pecuário. S. José de Mipibu
que tivera 9.816 em 1855 estava com 822 em 1884. Era o único
município na casa dos 3.000 o mais próximo, Ceará-Mirim, com
777, ostentara em 1855 1.126. E diga-se também que Ceará-
Mirim trouxe até nossos dias atuais a indústria açucareira. Lá
estão, em maior número, as usinas e os velhos bangüês qué
fizeram, na Província, dois barões.
A explicação dessa deflexão foi a seca dos dois sete, 1877.
Em 1877-78 a verba da receita que mais subira föra o impósto
sobre a venda de escravos. Chegou a 60.000$. Em princípios
de 1879 ia a 27 contos apenas. A Província exportava seus
escravos. O derradeiro recenseamento dos cativos para efeitos
da matrícula, feito em março de 1887, acusaya apenas 2.161
em todo Rio Grande do Norte.
Não tivemos importação direta da Africa. O mercado ven­
dedor era Pernambucano. O último africano puro que chegou
a Natal, Paulo Africano, pescador, dançador de zambê e tocador
de puita, dizia ter desembarcado em Serinhaém. Faleceu em
Natal a 23 de abril de 1905. Os escravos eram comprados nos
engenhos pernambucanos. Escolhiam os mais novos. A reserva
nort‘e-rio-grandense era pequena. Terra de capitais minúsculos,
não havia ambiente para maiores aquisições. “Os negros são
poucos nesta província”, escrevia Aires do Casal.
A raça, nos stocks maiores, dissipou-se cóm facilidade nos
amores ávidos dos senhores brancos e predileção negra pelas cabro*
chas, alvarintas, mulatas e, sempre que possível, alguma branca.
A« criação dos mestiços foi ampla e contínua. "Quem é que não
tem uma negra na família ? perguntava meu avô materno, o
capitão Manuel Fernandes Pimenta, orgulhosíssimo do sangue
— 47 —

c da prosapia secular, chefe dos Pimentas, vermelhos, cabelo de


fogo e olho de xexéu.
É o faiodermo, na linguagem erudita, claro ou pardo, olhos
escuros, cabelos crespos, estatura mediana, mesocéfalos, face
estreita, mesorrino. A cór, é bem de ver que aclara sempre.
Quando, na escala de von Luschan, o negro tem pele mais clara
no n.° 30, o mulato que a possuir é demasiado escuro, puxando
pra negro.
Faiodermos (branco 6 preto) e xantodermos (branco 6
índio) vão dos ns. 20 a 30, quando o negro (melanodermo) vai,
no máximo, até 36. A rapidez da, excusez du peu, arianização
atinge gradações surpreendentes. Uma negra, 28 da Brocas color
standards (5) com um mulato escuro, 46 da mesma escala, tem
uma filha que corresponde ao 44. Uma negra do meu conhe­
cimento foi avó de criança alva e loura, dados positivos que
endossam perfeitamente as conclusões do Prof. Roquete Pinto.
Para evidenciar a intensidade da miscigenação basta lembrar
que nos vales açucareiros de S. José de Mipibu e Ceará-Mirim,
onde a população negra fora mais densa e compata, o elemento
melanodermo é apenas visível, havendo preponderância de crioulos,
mestiços “alvarin tos” (24 de Broca), cabelos finos e olhos claros.
Para o sertão, o negro não teve a honra de pesar na coloração
de maneira sensível. O processo crescente é notado no recen-
seamento do Império em 1872 comparando-se com o republicano
de 1890. Os negros dão a proporção de 12,84 e 8,98, respectiva­
mente. Numa região sem a menor corrente emigratoria que modi­
ficasse a influência étnica a proporcionalidade branca passa de
42,79, em 1872, para 44,12 em 1890, quando o negro cai de 12,84
em 1872 para 8,98- em 1890. Quantos tenham viajado pelo inte­
rior do Rio Grande do Norte terão verificado que o irmão negro
está desaparecendo com surpreendente rapidez.
O elemento negro não fora decisivo ou indispensável no tra­
balho da agricultura ou pecuária. Em discurso de l9 de setembro
de 1848, Casimiro José de Morais Sarmento, deputado pelo Rio
Grande do Norte e seu ex-Presidente, afirmava : — “Concorda
em que o trabalho do escravo não é necessário. No Rio Grande
do Norte há poucos escravos, e quase toda a agricultura é feita
por braços livres. Conhece muitos senhores de engenho que não
têm senão quatro ou cinco escravos, entretanto, que têm vinte,
vinte e cinco, e quarenta trabalhadores livres, e se os não têm em
maior número, é pelo pequeno salário que lhes pagam.
Disto se convenceu o orador quando ali foi presidente porque
em conseqüência de elevar o salário a quatrocentos réis por dia,
— 48 —

nunca lhe faltaram operários livres para trabalharem na estrada


que teve de fazer.”
Economicamente o escravo não foi indispensável no Rio
Grande do Norte (6) e, étnicamente, constituiu uma constante e
jamais uma determinante.

(IV)
O português fica em Natal no ano de 1597. Até 1609 há
duas mulheres brancas apenas. Uma era casada com João Rodri­
gues Colaço, Capitão Mor do Forte dos Reis Magos. A outra
casou com um degredado pelo Bispo de Leiria que lhe dissera,
profético : — «Vá degredado por três anos para o Brasil, donde
voltará rico e honrado». O homem enriqueceu e se casou com
uma mulher que também viera do Reino, por dote algum que lhe
dessem com ela, senão por não haver ali outra, informa Frei
Vicente do Salvador.
Em 1607 Natal possuía vinte e cinco moradores e terca de
oitenta nos arredores, caçando, pescando, plantando roças, ajuda­
dos pelos escravos negros e agregados indígenas. Em 1630 o
brabantino Adriano Verdonck visitou, espionando para os Holan­
deses, a Capitania e fala em 120 a 130 moradores, campônios
em sua maioria rústicos.
O domínio holandês teve influência étnica bem de escassa
importância. A explicação dos olhos azuis e cabelos louros como
persistência do tipo batavo no sertão (que eles ignoraram) é
apenas esquecimento do observador aos variadíssimos braquicé-
falos e dólicocéfalos louros, olhos azuis, comuns na região por­
tuguesa do Entre Douro e Minho e nas Beiras, fontes irradiantes
para o Brasil, especialmente para o Norte. Nessa zona ficaram
celtas e godos e déles decorre o elemento encontradiço no nosso
interior.
Para manter a Capitania fiel a Geoctroyerd Westindische
Companie os holandeses, não encontrando apoio na população
branca, lançaram mão ao indígena cariri e esse, o Janduí, espa­
lhou a morte com expressão disciplinar. As matanças de Ferreiro
Torto, Cunhaú, Uruaçu servem de índice. A Capitania, com a
guerra, ficou devastada. Sua população pereceu em mais de 60%.
Com a reconquista houve um movimento de repovoamento, vindo
moradores de Pernambuco tentar a vida, lenta, muito lenta­
mente. A guerra contra a rebelião indígena foi outra marcha
à ré. Sabemos que as margens do Açu e Upanema estavam
sendo conhecidas. Depois, de 1699 em diante, é que novo
sangue apareceu, reacendendo os fogos caseiros e replantando
— 49 —

□s mourões das porteiras dos currais, sementes das futuras fazen­


das que dariam cidades. .
O século XVIII foi o nosso século de povoamento no interior,
criação de Capelas, multiplicação de currais de gado e desapa-
riçâo do indígena em liberdade de ação depredadora, inconsciente
mas insustentável. Vieram pernambucanos e baianos requerendo
sesmarias de léguas. Mas poucos povoaram. Muitas caíam em
comisso. Os moradores do Jaguaribe foram expressões legítimas
de povoadores. Os sesmeiros baianos enviavam quase sempre
um procurador. E terminavam arredando as posses. Tínhamos
o português através de Pernambuco. Em 1684 o Capitão Mor
Manuel Muniz informava a El-Rei que tínhamos trezentos homens
brancos para as armas e cem solteiros. Era a população válida,
em pé de guerra emergente.
Em princípios do século XVIII já se pedia que as Compa­
nhias de guerra da guarnição fossem compostas de norte-rio-gran-
denses por haver número suficiente. Em março de 1732 o Ca­
pitão Mor João de Barros Braga sugeria a El-Rei que fossem
escusados de servir os mulatos e mamelucos por haver muitos
homens brancos cm situação de ocupar os postos militares. Em
1757 o Ouvidor Domingos Monteiro da Rocha vê a Capitania
relativamente povoada em suas cinco freguesias, Natal, Açu,
Pau dos Ferros, Caicó e Goianinha.
Durante o século XIX a população branca se multiplica e
é época de que resta notícia mais pormenorizada. Em 1805 tínha­
mos 16.900 brancos numa massa global de 49.250 habitantes.
Em 1835 iam os brancos a 27.445 para 87.931 moradores. Em
1844 chegavam a 48.157 num total de 149.072. A mestiçagem
fazia o processo coletivo de amalgamação. étnica. Natal, onde
maior população se fixara, tivera em 1808, 1.956 brancos, 1.127
negros mas o mestiço, o pardo, o mulato iam a 2.836, o duplo
dos pretos.
De onde nos viera o branco? O caminho geral era Pernam­
buco. De lá viajaram os comboeiros, tangendo gado e fincando
nos taboleiros os sinais de posse. A toponimia indicará saliência
alentejana embora, realmente, tivéssemos poucos portugueses dessa
província. As três primeiras vilas têm nomes do Alentejo, Estre-
moz, Arez e Pòrtalegre. As ilhas, Madeira, o arquipélago aço-
riano, deram muita gente. É comum, nos registos paroquiais, a
indicação natural das ilhas. Do Minho tivemos enxame povoador,
especialmente de Viana do Castelo, vem parte vultosa dos
nossos avoengos. O minhoto, que Oliveira Martins dizia ser
laborioso, acanhado, devoto, desconfiado, pescador nos litorais,
plantando e colhendo no interior, é responsável étnico, altíssimo
— 50 —

no Rio Grande do Norte. A maioria dos nossos patriarcas, fun­


dadores das familias-troncos, veio de Viana do Castelo. Fami­
liar é o encontro, nos assentamentos religiosos, natural de Viana,
arcebispado de Braga. Já em outubro de 1585 o padre Fernão
Cardim informava que os Vianeses são senhores de Pernambuco *
São Miguel eFaial não exportaram homens em número despiciendo.
Êsses ficaram, em sua maioria, pelo litoral e nas proximidades
de Natal, sitiando fazendas-de-criar e sendo os “homens-bons”
para as eleições de pelouro no Senado da Câmara e postos de
mando regional.
A excelência desse elemento étnico está indiscutida. Sua per­
severança e otimismo, resistência moral e fortaleza física explicam
a conquista do sertão, o acomodamento à natureza, o próprio
alargamento do ecúmeno. Mantiveram hábitos, de indumentária,
alimentação e crença, fiéis ao Passado. Isolados, na solidão ser­
taneja, bastaram-se, determinando numa sucessão de casas-de-fa-
zendas outros tantos centros de irradiação social e de hospita­
lidade, de coragem pessoal e de respeito supersticioso ao direito
divino da autoridade do Rei. Homens fortes, teimaram nos traba­
lhos da pecuária, transformando-o. num exercício perene de for­
mação atlética, escola de afoiteza e agilidade nas “apartações” dû
gado, de curiosidade artística pela atenção dedicada aos canta­
dores e às festas religiosas, expressões únicas da exibição perso­
nalíssima . Foram ós fundamentos legítimos da sociedade serta­
neja e citadina, o cerne duro, insusceptível de corrução, ates-,
tando vitalidade, como uma competição humana às oiticicas e
aroeiras seculares.
Graças a esse arcabouço a sociedade atravessou, no campo
e na cidade, três séculos, até, com a penetração das grandes
rodovias depois de 1915, processar-se a transformação que esta­
mos assistindo.

(V)
Os vários cómputos censitários mostrarão a marcha ascen­
cional da massa demográfica.
1805:- 49.250. (Mapa da População, etc., em 31-12-1805. Ori­
ginal na mapoteca do Ministério do Exterior).
1808:- 50.000. (Memória Estatística do Império, Rev. do Ins.
Hist. Bras, LUI).
1823:- 71.053. (Idem)
1835:- 87.931. (Secretaria da Província).
1844:-149.072. (Dr. João Paulo de Miranda, Chefe de Polí*
cia).
— 51 —

1855:-Í48.216. (Dr. Herculpno Antônio Pereira da Cunha.


Chefe de Polícia).
1856:-180.000. (Jacob de Niemeyer).
1858:-210.000. (Souza Brasil),
1860:-200.000. (Cálculo do Presidente J.J. Oliveira Junqueira).
1862:-197.750. (Cálculo do Presidente Pedro Leão Veloso).
I870:-262.307. (Dr. Aurélio Ferreira Espinheira, Chefe de
Polícia).
I872:-233.973. (Recenseamento do Império).
1888:-308.852. (Tavares de Lira, "O Rio Grande do Nor­
te”, 50).
1890:-268.273. (Recenseamento da República).
1900:-274.317. (Segundo Recensamento).
1905:-277.000. (Tavares de Lira, idem, 49).
1908:-279.000. (Tavares de Lira, idem, 49).
1920:-537.135. (Terceiro Recenseamento).
1940:-774.404. (Quarto recenseamento).
1950 :-983.572. (Quinto recenseamento).

(VI)
Colonizado pelo litoral, do sul para o norte, em 1614, pelo
44Auto de Repartição das Terras” verificamos que a rareada po­
pulação possuía extensões sem um único sinal de posse. Numa
faixa de seis a oito léguas de profundidade, paralela à costa,
seguíamos até a fronteira da Paraíba. Para ao sul quase nada,
embora as salinas de Macau já tivessem dono mas continuassem
inexploradas. Para o interior alcançávamos Taipu. A conquista
holandesa não modificou a expansão geográfica e antes a restringiu.
O mapa de Marcgrav, índice do conhecimento topográfico do
flamengo, chega a.Itinga. Utinga, uns trinta quilômetros de Natal
(7). O holandês ignorou completamente o sertão. Pelas marinhas,
arriscou-se ao longo das praias, carregando sah até cinco ou
poucas léguas mais na zona de Areia Branca, Mossoró, Macau.
Nada mais. Há a correspondência de Gedeon Morris de Jonge,
(7), elucidativa para desenganar imaginações simpáticas a um
holandês bandeirante.
Depois de 1654, com a administração de Antônio Vaz Gon-
dim, inicia-sc a lenta e medrosa penetração, com pequenas boiadas,
estirando-se o tênue listrão das roçarias. Atingem ao Açu e ri­
beira do Upanema^ Outra corrente nos vinha do Jaguaribe, para
os plainos mossoroenses, espraiando para a chapada do Apodi e
vales cobertos de carnaúbais, terras frescas e ubérrimas. Os indí­
genas, que também simpatizavam com essas maravilhas, reagiram,
— 52

matando a gadaria que julgavam uma caça simples, como as cotias


e os veados. A guerra dos ‘‘bárbaros”, com a fundação do arraial
do Açu e casas fortes, determinou um conhecimento maior e local,
pela incessante marcha das tropas, vendo o que era útil, descendo
e subindo o álveo dos rios tributários do Açu-Piranhas.
A pacificação indígena começa com Bernardo Vieira de Melo,
no seu segundo governo que findou em agosto de 1701. A decla­
ração real de que o indígena era vassalo como outra criatura
humana e a dádiva de uma légua quadrada de terra para suas
aldeias, melhorou os processos de adaptação. A fixação indígena,
pelo litoral com especialidade, tranquilizou o sertão, cortado, entre­
tanto, de revoltas bruscas, açuladas por quem desejava a guerra
sem fim, fonte de terras e de serviços indígenas gratuitos, a título
de indenização. O indígena não dera para vaqueiro. O mestiço,
mameluco, fòra campeador ótimo.
Se, ao chegar o holandês em 1633, o rebanho de gado norte-
rio-grandense era calculado em 20.000 cabeças, nas primeiras déca­
das do século XVIII voltamos a esse númçro. Descendo os rios
Sabugi, Espinharas e Piranhas, pisando as areias dos leitos resse­
quidos, os fazendeiros paraibanos traziam gado, escravos, sitiando
fazendas, abrindo picadas, ganhando as abas das serras, as rechãs
úmidas, farejando as águas represadas nos poços que eram expli­
cados como milagres. Era a invasão pacífica, irresistível e fecunda,
Seridó a dentro < Essa onda se detém nos contrafortes da Bor­
borema, não chegando a ver o mar. Seria situação permanente até
a primeira década do século XX. Escolhiam os boqueirões facili­
tadores de passagem. Onde o muralhão serrano se alteiava, con­
tornavam. Assim, ao redor de Patu, a fixação diminui, relati­
vamente intensa para a zona do Seridó, mais accessível pelos
portões naturais das cordilheiras. A chapada do Apodi, as várzeas
convidativas, justificavam o avanço cearense, com suas * fazendas
fecundas.
O gado foi o fixador e também, na própria execução do
serviço de campo, um alargador das áreas geográficas.. Procurando
rezes tresmalhadas, pesquisando águas ou pastos duradouros,
“caçando” pontos para as invernadas, os vaqueiros surpreendiam
paisagens novas, serras que pereciam pedir morada e alpendre de
casa grande fazendeira. De Pernambuco'os sesmeiros ou simples­
mente os homens desejosos de vida construtiva, vinham para o
Seridó e voltavam, anos depois, para trazer a família, obter 1’cença
episcopal para ereção da capela, conquistar um capelão. Era o
plantio da cidade com os seus elementos essenciais e primitivos.
Inúmeros pátios de fazenda, onde o vaqueiro aboiava nas tardes
de estio, cantando ou falando ao gado, são praças centrais de
— 53 —

cidades sertanejas. Quase todas as sedes municipais no interior do


Rio Grande do Norte foram antigas fazendas de gado. A topo­
nimia conserva os nomes recordadores da pastoricia absorvente.
Gado Brabo, Boi Morto, Malhada Vermelha, Curral Novo, Lagoa
do Gado, Campo Grande, Poço Cercado, Curral Velho, Vaca
Brava, Curralinho, etc, etc.
Fomos vaqueiros e pequeninos agricultores. Até fins do
século XVIII o Rio Grande do Norte fornecia gado de tração
e de corte para a Paraíba e Pernambuco. Quando, últimamente,
voltamos ao algodão, cumpríamos nosso destino, mantendo a força
centrípeta. Assim, nos recenseamentos de 1920 e de 1940 vemos
que as zonas rurais dos Estados fixam 78,48 da população. Em
1920 o sertão possuia 232.919 que passou para 351.136, vinte
anos depois. O agreste, 128.209 (1920) para 197.119 (1940)
e o litoral, 175.754 (1920) para 226.209 (1940) evidenciam a
característica do nosso povo, sua fixação no ambiente histórico,
denunciada pela dolorosa expatriação ante a tragédia das secas.
Logo que as chuvas anunciam as possibilidades de um retorno às
velhas condições, sempre precárias, sempre queridas, o sertanejo
regressa, e reinicia o labor de trezentos anos. Esse sentimento de
amor radicular, profundamente fiel ao solo, dizem ser um ates­
tado de primitividade psicológica. Homem sadio e forte escolhe
a terra melhor onde esta se encontre. Ubi bene ibi patria. Esse
critério realizaria nas zonas ricas do Mundo a única das pátrias
do interesse humano. Parece-nos que o sertanejo fica onde se
habituou a sofrer.
Da última década, 1940-1950, acentuou-se por todo o nordeste
um movimento exagerado de deslocamento de população, rumando
São Paulo e Minas Gerais e mesmo Rio de Janeiro, atraída
pela ilusão dos salários altos e promessas eternas de prosperidade
imediata. A evasão, de centenas de milhares, pôs o problema
no imediatismo das soluções administrativas. A geração atual terá
mentalidade utilitária e lógica pela facilidade da deslocaçãõ,
impossível outrora. A sedução da cidade-grande, o criminoso, inces­
sante e obstinado erro da centralização de serviços, parques indus­
triais, fontes de manufaturas, nos centros urbanos, é uma tentação
constante ao abandono da terra que não pode responder ao tra­
balho sem os elementos modernos de assistência, pessoal e técnica,
para a batalha da produção. No Rio Grande do Norte tivemos
municípios onde, de uma para outra eleição geral, foi indispensável
fazer novo registo eleitoral porque mais de oitenta por cento dos
antigos eleitores haviam emigrado, tentando o “El Dorado”, espe-
lhante de fortunas.
— 54 —

NOTAS AO SEGUNDO CAPITULO

(1) In conversing on one occasion with a man of colour who was in my


service, I asked him if a certain Capitam-mor was not a mulatto man; he anse-
red, «he was, but is not now». I begged him to explain, when he added, «Can
a Capitam-mor be a mullato man? HENRY KOSTER, «Travels in Brazil», II,
209-10, London, 1817. Há uma tradução minha, anotada, dêsse livro, VIAGENS
AO NORDESTE DO BRASIL, col. Brasiliana, São Paulo, 1942. A resposta
do criado; Um Capitão-Mor pode ser mulato? é deliciosa.
(2) MEMÓRIA SOBRE OS ÍNDIOS DO BRASIL POR PEDRO
CARRILHO DE ANDRADE, Revista do Ins. Hist. Geog. do R.G. do
Norte, vol. VII, Natal, 1912, data da publicação.
(3) Revista do Ins. Hist. Geog. do R.G. do Norte, vol. XVIII.
Consultas do Conselho Ultramarino.
(4) MAPA DA POPULAÇÃO DA CAPITANIA DO RIO GRANDE
DO NORTE, «com declaração de seus empregos, Militares e Civis, e Capi­
tães mores de Ordenanças das respectivas Vilas e Freguesias, tanto brancos
como indios, até 31 de Dezembro de 1805.» Tem a assinatura do Governador
da Capitania, José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque. O original
está na mapoteca do Ministério das Relações Exteriores e devo a cópia que
possuo ao Dr. Renato Almeida.
(5) DIRECTIONS FOR COLLECTING INFORMATION AND
SPECIMENS FOR PHYSICAL ANTHROPOLOGY, Ales Hrdlicka, separata
do Bulletin of the United States National Museum, n. 39, Smithosnian
institution, Washington, 1904. •
(6) A ESCRAVARIA NA EVOLUÇÃO ECONÓMICA DO RIO
GRANDE DO NORTE, Luis da Camara Cascudo, «Revista Nova», n. I,
São Paulo, 15-3-1931, p. 62.
(7) GEOGRAFIA DO BRASIL HOLANDÊS, Luís da Câmara Cas­
cudo, Liv. José Ofympio Editöra, Rio de Janeiro. Do mesmo autor,
OS HOLANDESES NO RIO GRANDE DO NORTE, Natal, 194Ä, «O Rio
Grande do Norte que o holandês conheceu», XXV.
CAPÍTULO III
(I) Organização da Capitania. Governo, Limites. In­
formação de Anthony Knivet. {II) A Igreja. (Ill)
O Forte. (IV) Tentativas holandesas. (V) O Do­
minio holandés.

NOTAS E ÁDENPAS

— Onde desembarcaram os holandeses?


— Por que o Forte se rendeu?
— O comandante holandés do Reis Magos.
— Trabalho holandês no Forte dos Reis Magos.
— O Fortim de Guaraíras.
— Trabalho holandês na lagoa de Estremoz.
— Açúcar, farinha e carne.
— Os misteriosos Fortins holandeses.
— Engenho e Fortim de Cunhaú.
— O massacre de Uruaçu.
— Jacó Rabí, inspirador da morte.
— Brazão holandês do Rio Grande do Norte.
— Governo holandês do Rio Grande do Norte.
— O Rio Grande do Norte que o holandês co­
nheceu .
— O episódio de Jaguararí
Os primeiros anos da Capitania do Rio Grande do Norte,
construído o Forte e fundada a Cidade do Natal são semides-
conhecidos. A informação maior é o “Auto de Repartição de
Térras” que nomeia os moradores e fixa mais ou menos a extensão
ocupada com os plantios.
A primeira sesmaria ao longúo do rio Putigi requerida pelo
Capitão Mor Joãó Rodrigues Colaço e concedida pelo Capitão-
Mor de Pernambuco, Manuel de Mascarenhas Homem, a 9 de
janeiro de 1600, abre uma interrogação. Que estava fazendo em
Natal Mascarenhas Homem ? Qual o assunto que o levara à
recém-criada Capitania ?
Há, unicamente em fonte difusa e confusa, um fio de expli­
cação . Anthony Knivet, marinheiro do corsário Thomas Cavendish,
deixado no Brasil em 1591, ditou um livro de. aventuras e sofri­
mentos, onde há infòrmação entre curiosa e fantástica. O fujão
Knivet escreve que, vindo do Rio de Janeiro para Olinda com
o governador Salvador Correia de Sá, chegara à capital pernam­
bucana um chamado urgente de Jèlisiano Cuello (Feliciano Coelho),
contando estar combatendo a indiada revoltada no Rio Grande,
e pedindo socorro a Mascarenhas Homem. Este, deixando Sal­
vador Correia de Sá, seu hóspede, voara para o Rio Grande,
com 400 portugueses e 3.000 indígenas, número superior às
possibilidades. Viajaram sete dias, sete dias de batalhas pelos
caminhos. O Rio Grande estava mergulhado numa multidão de
indígenas furiosos. Knivet calculou, modestamente, nuns 40.0001
Eram Potiguares e - ocupavam-se em devorar 200 prisioneiros.
Caíram os soldados de Mascarenhas em cima do acampamento
selvagem e os sitiados, aproveitando, largaram o reduto e meteram
o inimigo entre duas colunas impiedosas e valentes. Knivet com­
putou os mortos indígenas em 5.000 e 3.000 prisioneiros. Essa
horda assaltante era comandada por Piraiuwat, o mesmo fiel
Piragiba, o tuixaua dos Tabajaras paraibanos, que, amedrontado,
propôs a paz. com permuta de prisioneiros e o desejo de viver
livremente. Mascarenhas Homem aceitou e tudo se foi acalmando,
com batizados e promessas. Mascarenhas mandou erguer duas
casas mui fortes à margem do rio, junto à cidade, e mandou vir
quarenta peças de ferro de Pernambuco, vinte para cada uma delas.
— 58 —

Até aqui o exato Knivet, É a vaga e nevoenta explicação de


Mascarenhas estar em Natal em 1600.
Em que data ter-se-ia dado a intentona indígena ? Knivet
saiu do Rio de Janeiro em 14 de agôsto de 1601. Mascarenhas
estava em Natal em Janeiro do ano anterior. As façanhas narradas
seriam, possivelmente, em meados de setembro de 1601. Feli­
ciano Coelho deixara o governo da Paraíba desde agósto de 1600.
Seu sucessor, Francisco de Souza Pereira, fora nomeado em
março. Passaria Coelho à administração do Rio Grande? Não é
crível. Rodrigues Colaço estava na Capitania desde Março ou
abril de 1599 e governou até julho de 1603. Em agosto deste
1603 Jerónimo d’Albuquerque já está administrando, regressando
de Lisboa onde alcançara nomeação d’El-Rei. Se Mascarenhas,
que estava em Natal em janeiro de 1600, voltou em meados de
1601 para derrotar Piragiba, corre por conta de Knivet.
A 2 de maio de 1604 doou Jerónimo d'Albuquerque aos
seus filhos Antônio e Matias uma sesmaria de cinco mil braças
quadradas na várzea do Cunhaú, começando donde entre a ribeira
do Piqueri e duas léguas em Canguaretama. O Rei achou exces­
siva a doação e mandou, em 1612, repartir. Vieram o Capitão-Mor
de Pernambuco e o Ouvidor realizar a diligência, atestando que já
estava construído um engenho de açúcar, em maio de 1614, a
maior parte das terras cultivadas. Mesmo -assim retiraram a
metade 'da doação. Assim nasceu o engenho Cunhaú, o primeiro
centro industrial da Capitania, o núcleo açucareiro, sede de resis­
tências e martírios históricos. Até 1925 pertenceu aos Albuquer-
ques Maranhões.
O Governador Geral do Brasil, dom Diogo de Menezes e
Siqueira, em fins de 1608, arribou a Natal, trazido por uma
tempestade. Essa arribada é estória e não história, destituída de
fundamentos reais e de registos ^credíveis. É uma tradição sem
provas fiéis. Dizem que Sua Excelência encontrou a Cidade com
vinte e çinco moradores e uns oitenta nos arredores, pescando
e plantando. Fora o Capitão-Mor não havia governo local nem
os colpnos -conheciam autoridade civil. Ausência do Pelourinho.
O Rio Grande era um presídio militar apenas suportando a vida
de uma incipiente colonização. Dom Diogo, em 1611, depois de
ouvir o parecer da Relação da Bahia, por êle criada, deu os
rudimentos de uma organização municipal ao Rio Grande, criando
e fazendo prover os cargos de Juiz, um vereador, um escrivão
da Câmara e um procurador dos indígenas. Nesse 1611 houve
demarcação entre o Rio Grande e a Páraíba, ficando para esta
o engenho Camaratuba e para aquele o Cunhaú. Perdemos os
nossos limites históricos da Donataria, começados na Bahia da
— 59 —

Traição recuando para o rio Guaju. A pequena pastoricia' e os


roçados de farinha reuniam as atividades. Jerónimo d*Albuquerque»
em 1608, informara haver descoberto uma mina de ferro, distando
40 léguas do Forte.
O Capitão-Mor era a suprema lei. Concedia terras e coman­
dava o Forte, onde residia, vigiando a região. A Cidade desen­
volvia-se devagar, na Rua Grande, entre cercas de varas entre-
tecidas com melões de S. Caetano e legumes úteis. As doações
de chãos no Sitio da Cidade eram ieitas pelo Capitão-Mor, denun­
ciando a perfeita ausência de um governo civil.
A Capitania se espraiava em dezesseis aldeias indígenas,
sem direção ou assistência religiosa, centros possíveis de agitação
e ameaça constante.
/ Ainda em* 1618 todo rendimento era a produção do engenho
Cunhaú. A despesa da Fazenda Real orçava anualmente em 110$.
O pessoal de guerra absorvia 3.183$950 .. . Significava constituir
a Capitania mais umã posição bélica, de vigilância e guarda, que
a expressão regular e produtora de Capitania.
Nas vésperas do domínio holandês a Capitania quase se limi­
tava a um âmbito redondo de 15 a 18 léguas, sesmarias sem bene­
fícios em/sua maioria. A penetração subia aô margens dos rios
Potengi, Jundiaí, Trairi A pista do sul povoava-se vàgarosamente
na meia segurança das comunicações com a Paraíba ç Pernam­
buco. O vale do Ceará-Mirim, examinado desde 1614, continuava
virgem. Extraíam sal em Guamaré. O maior centro populoso
indígena era Mipibu. Os aldeamentos iam de Cinco a seis povoa­
dos. Natal constava de 35 a 40 casas de palha é barro. O èngenho
Cunhaú safrejava 6.000 e 7.000 arrobas de açúcar que embar­
cava para Pernambuco, em barcaças,- em caixas de madeira. O
outro engenho, Ferreiro Torto, estava de fogo morto pela ruindade
das terras e não existia em 1618. Não conheço documento de sua
produção. Num raio de seis a nove àiilhas não viviàm mais de 120
a 130 camponeses. A vida organizava-sefora da Cidade, acorren­
do-se apenas para as cerimônias religiosas ou reuniões adminis­
trativas. Para o norte Jerónimo d’Albuquerque dera aos filhos
terras de salinos na correspondência de Macau (20-8-1605), mas
não havia benfeitorias.

(II)
A capelinhainicial da vida cristã fora naturalmente subs­
tituída pela Igreja, maior, mais cômoda, mas também de taipa.
Em 1614 os editais do processo para a repartição das terras não
foram pregados às portas da Matriz por esta não possui-las. Em
1619 terminaram as obras. Os holandeses destruiram a Matriz.
— 60 —

O Padre Gaspar Gonçalves da Rocha já era vigário de Nossa


Senhora d’Apresentação em abril de 1601, quando recebeu uma
“data de terra”. Antes e na ausência dos párocos, serviam os
jesuítas. Gaspar de Samperes, construtor do Forte, diz-se resi­
dente em Natal em 1616. Em agosto de 1608 foi ao Ceará buscar
o padre Luís Figueira, num barco de Jerónimo d’Albuquerque.
O vigário mais próximo, cronológicamente, ao pe. Gaspar Gon­
çalves da Rocha, é Ambrosio Francisco Ferro, sacrificado no
massacre de Uruaçu em Outubro de 1645 (1).

dH)
O Forte era um recinto murado, com ligeiras obras defen­
sivas. Recõnsíruiram-no seguidamente. Em 1607 não tinha 18
palmos de altura nem parapeitos e seteiras. O armamento cons­
tava de 9 peças de bronze, de 18, e 17 de ferro coado, fácilmente
deterioráveis pela umidade. Em 1630 Adriano Verdonck encon­
tra-o pronto, o melhor que existe em toda a costa do Brasil, arma­
do Cóm 11 canhões de bronze, meia coronada, muitas columbrinas,
de alcance superior aos canhões comuns da época, de 12 a 18
canhões de ferro, já inúteis pela ferrugem. Havia, na portada,
espreitando, duas boas peças. As muralhas iam de nove a dez
palmos de espessura e eram dobradas, tendo o interior tomado
a barro. Possuia uma guarnição de 50 a 60 homens. No mapa
que ilustra o LIVRO QtIE DA RAZÃO DE ESTADO DO
BRASIL nota-se a ausência da Capelinha, dedicada aos Santos

(
Reis, Belchior, Gaspar e Baltazar. Em 1633 já. existia e os holan­
deses a aproveitaram assim como, o Forte, sedé de governo mi­
litar vinte e um anos.

(IV)
Em 20 de junho de 1625 ancorava na baía da Traição a
grande esquadra de Edam Boudewinj Hendrikszoon que chegara
tarde para salvar o domínio holandês na Cidade do Salvador.
Velejara para o norte, com as suas naus fervendo de escorbuto,
tripulações exasperadas pelo malógro que lhes retirava a espe­
rança do saque. Lançando ferro, o almirante flamengo mandou
desembarcar e construir alojamentos para os enfermos. Indígenas
de toda a parte surgiam, vendendo, comprando, assombrados com
tanta flámula, bandeira e gente armada. O almirante decidiu
mandar uma patrulha observar o país. Escolheu o capitão Uzeel
Johannes de Laet, HISTÓRIA OU ANAIS DOS FEITOS DA
COMPANHIA PRIVILEGIADA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS
(trad, de José Higino Duarte Pereira e Pedro Souto Maior, Rio
— 61 —

de Janeiro, 1916) narra o fato : — “A 19 o capitão Uzeel com


uma partida de soldados e indígenas fez uma entrada, caminho
do Rio Grande; encontrou um engenho com algumas trezentas
caixas de açúcar, e mui numeroso gado, mas não pôde trazer este
nem aquelas, por ter de fazer um longo caminho por matas bastas,
bem como durante duas ou três horas por água. Chegou ao
quartel a 23 sem trazer cousa alguma, salyo -os indígenas que
trouxeram limões para os doentes.’* Era a primeira tentativa holan­
desa. A l9 de agosto zarpa a esquadra, levando Hendrikszoon
vários potiguares para a Holanda. Voltariam falando holandês e
lendo a Bíblia da Religião Reformada. Seriam os chefes anima-
dores da adesão entre a indiaria.
Em princípios de 1630 outra palmilha batava pisou terra
. potiguar. É Adriano Verdonck, do Brabant, em missão especial
de ver, ouvir e contar. Viaja impunemente como se exercesse
função oficial. No Rio Grande entra por Cunhaú, atravessando
• Mipibu, a maior aldeia indígena. Nota que os terrenos povoados
não iam além de cinco milhas da costa. Mipibu teria 800 flexeiros.
Verdonck calca as areias dos taboleiros de Cajupiranga e chega
a Natal, olhando as quarenta casas de taipa, cobertas de palha.
Seu desejo é ver o Forte dos Reis Magos. Examina-o pormeno-
rizadamente como se viesse comissionado pelo Governador Geral.
Dá o número de canhpes imprestáveis, a guarnição, a pouquidade
dos víveres e escreve, serenamente: entre esses portugueses não
reina muita ordem, o que era verdade, tão proveitosa para o espião.
Percorrera desde o rio de S. Francisco, juntando notas. Ambrosio
Richshoffer (DIARIO DE UM SOLDADO, trad. Alfredo de
Carvalho, Recife, 1897) chama-o Verdunc e narra seu fim trá-
.gico. Tentara trair os holandeses por dez mil cruzados, sendo
.capturado, várias vezes torturado. Morreu em Fevereiro de 1601,
minutos antes de ser executado. Esquartejaram-lhe o cadáver. O
relatório de Verdonck foi apresentado ao Conselho Político Holan­
dês do Recife em maio de 1630. __
« A receita da Capitania montava, neste 1630, a|3.518$830\
Em 3 de outubro de 1631 apresentou-se ao Conselho Polí­
tico do Brasil Holandês um indígena chamado Marcial ou Mar-
ciliano, fugitivo dos acampamentos portugueses, informando que
seus companheiros estavam desejosos de uma aliança com os
invasores. Dizia-se enviado pelos soberanos cariris Janduí e
Oquenuçu.
O Conselho deliberou enviar um iate para colher informa­
ções nas terras do Rio Grande, onde a dupla governava. Marcial
trouxera vários indígenas que tinham ido à Holanda, em 1625,
na esqusdra de Hendrikszoon.
— 62 —

Essa expedição consta do iate “Niew Nederlandt”, do capitão


Elbert Smient, comandante das chalupas e um outro navio pequeno,
sob a direção de Joost Closter. Embarcaram Marcial e seu séquito
além do judeu Samuel Cochin, a quem o Conselho dera instruções
reservadas e linha acomodações especiais no iate.
Largaram do Recife a 13 de outubro de 1631. No dia se­
guinte tentaram abordar uma nau portuguesa que, para fugir abei*
rou-se da Baía da Traição, protegida por duas baterias ali existen­
tes. A 15 velejaram por fora do Rio Grande, evitando os canhões
do Reis Magos. Foram além, até fundear, 21 léguas ao norte
do Potengi, num lugar Ubranduba, Uberanduba para Laet. Des­
ceram aí Marcial, André Tacou, Araroba e Francisco Matauwè,
indígenas diplomatas, sequiosos pelo resultado da embaixada. A
10 de novembrp, Smient pôs gente em terra apesar do mar revolto
e da costa parcelada. Durante a noite, atraídos pelo clarão de umà
fogueira, caíram söbre um acampamento. Encontraram, o portu-
• gués João Pereira que conduzia, presos para o Rio Grande, des­
tinados a venda, André Tacou e mais oito companheiros, além
de 17 mulheres e crianças. Mataram Joãp Pereira, libertando os
indígenas. . O português levava pa’péis preciosos como informa­
ções para a conquista do Ceará. Elbert Smient, a 1& de no­
vembro, voltou ao Recife, e Joost Closter ficou para prosseguir a
jornada. E viajou, perjgosamente, entre rochas e cachopos submer­
sos, até o rio Jaguaribe. No litoral cearense, numa ponta chamada
Opese, soltou os cariris, plenipotenciários do povo janduí.
Acometidos por um troço de portugueses armadas de esco­
petas, os indígenas foram vencidos e Joost Colster amedrontado,
fêz-se de velas para as Antilhas, sendo posteriormente submetido
a conselho de guerra e expulso do serviço da Companhia.
Smient, chegando ao Recife a 25 de novembro, deu conta
do recado, apresentando indígenas que recolhera à bordo em
Ubranduba e Goana (Goiana, em Pernambuco) ou no litoral
norte-rio-grandense onde havia "outra Goana, hoje Goianinha.
Foi mandado regressar e ficar cruzando águas do Rio Grande
com o iate t’Wapen van tíoòtn, com 40 soldados dá companhia
do fugitivo Colster. Dessas informações saiu uma expedição espe­
cial para a conquista do Rio Grande do Norte.
A 21 de dezembro de 1631 partiram do Recife quatorze
navios, com dez companhias de soldados veteranos. Dois Conse­
lheiros da Companhia assumiram a direção suprema, Servaes
Carpenter e Van der Haghen. As tropas eram comandadas, pelo
tenente coronel Hartman Godefrid van Steyn-Callefels. Combina-
> ram desembarcar em Ponta Negra, três léguas ao sul de Natal,
marchando sobre a cidade. No dia 25 o diretor Servaes Carpenter
63 —

e mais oficiais viajaram numa chalupa, examinando o litoral sem


que deparassem lugar propício. Três chalupas aproximaram-se
tanto de Natal que divisaram perfeitamente o Forte e seus sol­
dados. Era Capitão-Mor Cipriano Pita Porto Carreiro que abriu
fogo de canhão contra as chalupas. Retrocederam estas para
Ponta Negra e abandonaram a idéia do assalto ao Rio Grande
porque as tropas (Laet escreve 10 e Richshoffer, que veio tam­
bém, informa o número de 19 companhias) ficariam exaustas atra­
vessando o areial até a capital norte-rio-grandense. Tropas vete­
ranas que se esgotam numa marcha de dezoito quilômetros. . .
A razão seria outra. Melhor pareceu demorar uns dias em Geni-
pabu. saqueando, arrebanhando 200 cabeças de gado, vendo, em
certas casas cerca de duas mil, pastando. Consumimos mais carne
fresca do que no decurso de todo o ano anterior, confessa, deliciado,
Richshoffer. Assim Natal escapou do assalto naquele 24 de
dezembro de 1631. A 9 de janeiro de 1632 ancoravam no Re­
cife.
O Conselho Político virou as baterias para as alianças sel­
vagens. Todo 1632 se passou sem avanços para o norte.
A 5 de dezembro de 1633 saiu do Recife a grande, a defi­
nitiva expedição de conquista. Onze navios, 808 soldados, víveres
para nove semanas, munições, tudo foi embarcado. O Delegado
Diretor Mathijs van Keulen, um dos Diretores da Companhia,
veio pessòalmente. O conselheiro Servaes Carpenter também. Os
chefes militares eram Jan Corlisz Lichthardt, comandante da costa
do Brasil, e o tenente coronel Baltazar Bijma, com oficialidade
ousada e brilhante.
Na manhã de 8 de dezembro desembarcaram em Ponta
Negra, chefiados pór Bijma, Keulen e Carpenter, marchando sob
o sol de verão pela areia branca e deserta. Saquearam uma casa
e. ao entardecer, desfilaram em Natal onde o pavor, despofvoara.
Ao pôr do sol acamparam junjto às dunas, à vista do Forte.
A passagem pelo Forte e entrada no rio Potengi foram mais
fáceis que julgavam. O canhoneio fazia mais barulho que mal.
Duas caravelas bâlançavam-se n’água- verde do rio. Eram restos
do auxílio de Francisco de Vasconcelos da Cunha, trazido de
Portugal, que fugindo aos invasores, refugiara-se no Potengi,
reduzido a duas naus. Abandonadas pela equipagem que, recru­
tada a fórça, não opusera resistência, as caravelas foram apre­
endidas e nelas havia farta munição e fazenda para roupa e
calçados.
Na noite de 8 o cerco ficou estabelecido derredor do Forte,
ilhado pelo mar. Construíram baterias reforçadas pelos galeões.
Desceram artilheria da esquadra e montaram-na, troando, horas
— 64 —

inteiras, ripostando o fogo do condenado Reis Magos. Uma bate­


ría, erguida a cavaleiro do Forte (sôbre duna que não existe
mais) fazia voar os canhões portugueses nos reparos, espatifando
os baluartes, desmontando as peças, espalhando em pedaços san­
grentos o corpo dos artilheiros. Pero Mendes de Gouveia, Capitão
Mor do Forte, recusou entrar em negociações, declarando só entre­
gar a praça a um delegado do seu Soberano.. Desde o primeiro
dia a guarnição perdeu o abastecimento d agua, num poço exte­
rior.
No dia 11 três baterias abriram fogo simultáneamente. Um
bombardeiro atirava granadas. Toda a noite passaram dando, tiros
de assustamento, gritando junto às muralhas, defendidas a tiros
de mosquetes. Ao amanhecer da segunda-feira, 12 de dezembro
de 1633, o vento batia numa bändeira branca, suspensa numa
ameia meio derrocada. Era a rendição. Uma carta foi trazida e
os reféns permutados. Permitiram a saída dos soldados com
bagagens e as embarcações seriam facilitadas. Artilheria, paiol
de munições, víveres, bandeiras, o Forte, ficariam na posse da
Companhia. O contrato foi assinado pelo capitão Sebastião Pi­
nheiro Coelho, que o Marquês de Basto, MEMÓRIAS DIARIAS,
73, diz ser um sargento fugitivo de um presídio da Bahia.
Êsse Pinheiro Coelho, informa o Marquês de Basto, desertor,
mancomunara-se com Simão Pita Ordigueira, prêso no Forte por
Pero Mendes de Gouveia. Êsses dois venderam o Santos Reis
Magos ao inimigo. Robert Southey ajunta que Domingos Fer­
nandes Calabar, companheiro da expedição, fizera barganha com
um desertor baiano e um prisioneiro que tinha o Forte por mena-
gem. Frei Gioseppe de Santa Tereza dá pormenores. Simão Pita
estava condenado , a morte por enormes delitos, diz o frade carme­
lita, e salvou a vida entregando a praça, uma das mais conside­
ráveis do-Reino, afirmava.
Laet inventariando o Forte diz que ò espólio constava de
nove canhões de bronze, 22 de ferro, 46 barriletes de pólvora fina,
cada um com 60 libras, 112 balas de vários tamanhos. Havia
paióis com farinha, víveres e artigos bélicos. O autor anônimo do
DIÁRIO DA EXPEDIÇÃO, fonte holandesa, declara ter encon­
trado apenas farinha, algumas pipas com água e pipa e meia de
vinho. Johannes de Laet conta 86 homens. Êsses oitenta e seis
homens se bateram contra oitocentos e oito, fora os marinheiros de
Lichthardt.
Gravemente ferido, Pero Mendes de Gouveia protestou contra
a rendição, acusando terem-lhe furtado as chaves da porta quando
dormia. Os chefes holandeses prestaram-lhe homenagem militar,
mandando "mister * Nicolaes, cirurgião da nau almiranta, pen-

i
— 65 —

sar-lhe as feridas. Pero Mendes de Gouveia recobrou saúde e


liberdade e faleceu entre 1646 e 1647, em Goiana ou Itamaracá,
onde residia.
No mesmo 12 de dezembro foram dadas graças ao Senhor
Deus na Capelinha do Forte ante o painel que representava os
três Reis do Oriente. Descargas de mosquetaria saudaram a ban­
deira do Principe de Orange e o pavilhão da Companhia, hastea­
dos vitoriosamente. A 13, Maulpas e Hendrick Frederick, capi­
tães. com 60 marinheiros, foram a Genipabu trazer gado. Fês-se
o inventário do material apreendido. Descarregaram as caravelas
a 14. Domingo, 18 de dezembro, o preponente Johannes fêz
prédica evangélica na igrejinha do povoado de Natal, assistida por
todos. A 21 partiram, pesados de despojos. Antes, proclamaram
indultos e promessas de tranqüilidade e trabalho pacífico, aos
que jurassem fidelidade.
Os auxílios* militares enviados da Paraíba, onde se encontrava
o conde de Bagnuolo, voltaram do caminho, sabendo que tudo
se perdera.
Deram ao Santos Reis o nome de CASTELO DE KEULEN,
Kastei Keulen. Seu novo comandante era o capitão Joris Garts­
man, segundo a grafia de Laet, m$is seguida. Netscher escrevia
Garstman. O JOURNAL DE ARNHEIM, Garsman e os portu­
guêses simplificaram para “Gusmão”. Gartsman recebeu munições,
víveres, oficiais, trabalhadores, 150 soldados e 70 fuzileiros para
as expedições em terra.
Começara um domínio de vinte anos* um mês e quatorze y
dias ...

(V)
A GEOCTROYERD WESTINDISCHE COMPANIE,
Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais, não compreendeu
que uma vitória não é elemento exclusivo para* legitimar um
• domínio. Os algarismos nos livros-mestres de Amsterdam eram
mais dóceis que os homens nas terras do nordeste brasileiro. A
história da Companhia possui brilho, noutras paragens. O govêrno
Í
r
de Nassau foi um esplendor na região pernambucana. O Rio
Grande do Norte só conheceu violência, extorsão, vilipêndio, rapi-
nagem. Os nomes holandeses passam em nossa crônica como
manchas de sangue vivo. Para nós foram exclusivamente os inva­
sores, os vitoriosos pela fôrça. Tudo quando Nassau deixoii no
Ir’ " Rio Grande foi um brasão d’armas, uma ema simbolizando a dedi-
cação dos Janduis, os matadores brutos de Cunhaú e Uruaçu.
Dois dias depois de tomado o Forte mandavam uma patrulha
66 —

explorar o interior, reconhecendo os arredores. O major Cloppen-


burch, os capitães Felior e Uxeel seguiram em tres grandes botes
a vela, subindo o Potengi. Desceram em certo ponto, fazendo
três léguas de marcha. Regressaram no dia seguinte. Haviam
caído sôbre um engenho, julgadamente o Ferreiro Torto. Fran­
cisco Coelho, seu proprietário, a mulher, cinco filhos e sessenta
moradores sucumbiram.
Em 1634 atacam o engenho Cunhaú onde, diz Laet, havia um
fortim. Esmagados pela surpresa os portuguêses perderam onze
homens e o chefe, Álvaro Fragoso, caiu prisioneiro. A população
derramou-se, espavorida, pelos campos, indo ter uma boa parte,
ao encontro dos Janduís que foram tropa auxiliar no sucesso.
Êsse Fortim de Cunhaú foi investido pelo próprio Artichofski, com
230 homens c o conselheiro Stachouwer levou navios, qtacando por
mar. Ainda apareceu o comandante Smient, de reforço. Laet infor­
ma que o Fortim fôra construído por marinheiros de Dunquerque,
ali abrigados enquanto durava a reconstrução de um navio para
substituir o próprio, estragado num encalhe. Era um reduto
quadrangular e duplo, com muralhas de três metros, na encosta
duma êjevação. Defendiam-no um fosso, circundado de para-
lissada, dez peças e dois arcabuzes de forquilha. Destruído, não
mais foi merecedor de reconstrução.
Desde março dêste 1634 Janduí, cuja tribo cariri usava seu
nome se realmente não fosse o do totem, a ema-pequena, nhanduA,
estava aliado dos holandeses e. com um delegado jupto à sua
córte, o judeu alemão Rabi, inteligente, sem escrúpulos e sem
caridade. Enriqueceu.com os saques, sacudindo, os Janduís como
uma matilha adestrada *e fiel para estraçalhar os colonos, reser-
vando-se melhor parte e escolhido quinhão no botim. Seu inven- .
tário, que Alfredo de Carvalho publicou, minucia essas misérias.
Os Janduís adorävam-no pela identidade dos processos de vida,
pensamento e ação. Netscher diz que os Janduís procuraram van
Keulen em Natal, logo depois da tomada do Forte. Mas vimos
que houve o enviado Marcial e mesmo a expedição de Smient,
aproximadora. Pedro Poti, potiguar, primo de Dom Antônio Fe­
lipe Camarão, mas aliado flamengo, escrevera em 1631 aos Cariris
animando-os a um contrato de auxílio mútuo com a Companhia.
Southey aponta o mulato Calabar como negociador do convênio.
Laet indica o conselheiro Jacó Stachouwer, o sócio de João Fer­
nandes Vieira, e o coronel Crestofle d'Artischau Arciszewksi, o
famoso Artichofski, como elementos de ligação. Antônio Papaope-
ba (pelo nome era tupi), que voltara da Holanda e depois gover­
nara os indígenas do Rio Grande, pelos holandeses, interessou-se
também. Sem êsses Janduís a História seria outra bem diversa.
— 67 —

Só existiu o engenho Cunhaú, comprado por Joris Garstman


e o conselheiro Baltazar Wyntges ,a 5 de junho de 1637, por
60.000 florins, pagos em seis prestações à Companhia. Êsse mes­
mo foi incendiado em julho de 1645 pelos Janduís guiados por
*Jacó Rabi. 1
As-aldeias indígenas eram seis: MOPEBI (Mipibu) e
PARA-WASSU (Paraguaçu que é Papari, reunidas), IGAPUA
(Igapó, diante de Natal), PIRARI (Pirangi), VEJAN A ou
GOACANA (Goiana, Goianinha) e ITAIPI (Taipu).
Os indígenas tiveram uma organização administrativa geral.
Divididos em Câmaras, com os respectivos chefes. Houve uma
assembléia, primeira e única que se fêz no Brasil, na aldeia de
Itapecirica (Paraíba, Mamanguape), março-abril de 1645. Essa
assembléia escolheu Antônio Paraupaba para chefiar tôdas as
aldeias no Rio Grande do Norte. Na relação ali apresentada apa­
rece mais uma aldeia indígena, AURANCIUM, que deve ser
Aranun, em Arez.
Em Natal houve uma Câmara dos Escabinos com um Escul-
teto, delegado do Supremo Conselho, êsse com todo poder exe­
cutivo. Nos papéis oficiais trata-se NATAL por POTENGI e
mais comumente RIO GRANDE. Tentou-se denominar a ci­
dade AMSTERDAM mas a iniciativa não logrou popularidade
entre os próprios flamengos. Religiosamente a catequese luterana
parece se ter interessado vivamente pela indiada. Paraopeba morreu
44cristão reformado**. Como a Companhia não podia manter um
Predicante, mandavam do Recife os chamados “consoladores de
enfermos”, Zieckentrooster, para recitar as orações da -agonia.
Em 1638 denunciavam o 44consolador’* do Rio Grande, Frederico
Alken, aos Predicantes do Recife. Em 1640-41 houve mesmo um
Predicante, de categoria superior, dom Cornelius Leoninus. De­
pois estêve. dom Cornelius van der Poel. Depois de 1644, saído
Nassau, a catequese dirigiu-se exclusivamente aos indígenas.
Raros Zieckentrooters visitavam os irmãos, lendo-lhes a Bíblia.
Não tínhamos governador local. O Diretor da Paraíba su-
Vperin tendia o Rio Grande, compreendido em sua jurisdição.
A Câmara dos Escabinos de Natal constava de três mem­
bros, como Serinhaém e Igaraçu. O Esculteto era sempre um
holandês. Quando Nassau reuniu o Congresso dos Escabinos, de
27 de agôsto a 4 de setembro de 1640 no Recife, assembléia
meramente palradora, discutidora e consultiva, o Rio Grande do
\ Norte não se representou.
Nassau visitou Natal em 1637 e o pintor Franz Post fixou o
Castello de Keulen várias vêzes. Janduí veio festejar o Gover­
nador do Brasil Holandês. Nassau chamava-o Jan du Wy. A re-
BIBLIOTECA
n v n kt / ká r* c
68 —

gião povoada atingia 25 a 30 léguas mas creio ter sido exagero


otimista de João Maurício de Nassau.
A 17 de novembro de 1639 ouvia-se o canhoneio furioso de
duas esquadras, batendo-se do Cunhaú até a Ponta da Pipa.
Era dom Fernando de Mascarenhas, conde da Tôrre, justando
perdidas contas com a armada flamenga de Jacó Huyghens.
Batiam-se desde o dia 12, subindo para o norte, com visível van­
tagem para o holandês. Nesse 17, a noite separou os combatentes
que não mais se avistaram. Luís Barbalho Bezerra querendo ser
útil pediu para ser desembarcado na praia de Touros, possivel­
mente próximo à atual Cidade. 1.500 homens -acompanharam-no,
A coluna iniciou a marcha, rumo à Bahia, na maior e mais longa
contra-marcha da História Militar conhecida, igual às mais glo­
riosas, da memória e no Mundo.
Garstman deixou o ex-Reis Magos, então Castelo de Keulen,
com 60 soldados e 200 cariris e tentou esbarrar a passagem da
torrente. Barbalho derrotou-o, levando-o prisioneiro para a Bahia
onde, anos depois, foi sôlto por alegar casamento com mulher
portuguêsa.
Até o regresso de Nassau para Holanda, março de 1644,
nenhum acontecimento de maior surge na solidão da Capitania
melancólica. -
A 3 de agosto de 1645 os holandeses são batidos no Monte
das Tabocas. Quatorze dias depois perdem na Casa Forte. Porto
Calvo, Porte Maurício no São Francisco caem. A‘3 de setembro
a Paraíba reage. Neste mês, Serrão de Paiva perde em Taman-
daré para o flamengo Lichthardt, numa mera escaramuça naval,
de conseqüências longas porque há correspondência do Rei D.
João IV reveladora do entendimento com os rebelados e o sobe­
rano está de boa paz com a Holanda. Faz-se o assédio do Recife.
Inicia-se a guerra volante, fatal para o batavo que já não mais
possui em seu serviço a astúcia de Calabar, justiçado em Pôrto
Calvo desde julho de 1635.
Paul de Linge assume a direção da Paraíba. Rio Grande em
1645. A notícia das vitórias determina uma vibração que é urgente
conter e abafar. O S. Francisco, rico em gadaria, está perdido.
Rio Grande é o curral sem fim, fornecedor gratuito. Jacó Rabi
traz os Janduis. Não há disciplina. Sopra um vento acre de
ameaças. Moradores recolhem-se ao Castelo de Keulen porque
os oficiais não podem conter os cariris famintos de saque.
A 15 de Julho de 1645 apareceu Jacó Rabi no engenho
Cunhaú, seguido pela malta indígena. Anunciou ter instruções
a comunicar aos colonos e pediu que aguardassem a leitura dessas
ordens depois da missa. No dia seguinte, 16, domingo, a Cape-
— 69 —

linha ficou repleta. Os colonos, apesar do compromisso de 1634,


não tinham o direito de usar armas defensivas. Compareceram
deixando à porta seus bastões e varapaus. O padre André de
Soveral, paulista de São Vicente, com 75 anos de idade, iniciou
a Missa. Estava desde 1610 na Capitania e fôra Jesuíta. Súbito,
a um sinal dado de Rabi, os Janduís entraram de roldão, tumul­
tuosamente guinchando de alegria. E matam setenta pessoas.
Soveral foi um dos primeiros a cair, apunhalado por Jererera, filho
do chefe Janduí. Durante séculos via-se a mancha da mão ensan- '
guentada do sacerdote que se apoiara, ferido de morte, num
umbral do altar-mor. Nieuhof informa, plácidamente, que os
mortos foram 36.
Saqueada a Capelinha, passam para o engenho, incendiándo-o
entre urros de alegria. Gonçalo de Oliveira, então proprietário
e dois servos escapam, fugindo pelo telhado. O sogro de Joris
Garstman contou-se entre os defuntos. Paul de Linge insiste que
o mêdô é o melhor guardião. A Companhia perdeu o Ceará desde
1644 e a Paraíba está pràticamente libertada. Resta apenas Ca­
bedelo. Os colonos dos arredores, sabedores da matança de
Cunhaú, refugiam-se na casa de João Lostau Navarro, no desa-
guadouro da Lagoa de Papari, barra do Camurupim. Rabi cercou ,
a casa, intimou os sitiados à rendição sob pena de metralha, pren-
deu-cs e levou-os para o Castelo de Keulen.
Havia três meses que umas setenta pessoas tinham subido
o rio Potengi e construído um arraial no lugar Tinguijada, a mar­
gem do Cunhã-Ari, no lugar que chamam PÔRTO DO FLA­
MENGO, município de Macaíba. Era apenas uma paliçada de
pau a pique, com umas choupanas para mulheres e crianças.
Possuíam quinze armas de fogo. Os demais tinham paus tosta­
dos, facas e flexas. Rabi, com uma companhia de soldados holan­
deses e sua inseparável escolta de Janduís, levou aos moradores
de Uruaçu em Tinguijada ordem de destruir o arraial e voltar ao
trabalho. Tudo estava calmo e a Companhia garantia vida e fa­
zendas. Derredor, os Janduís, esperavam, trepidantes. Os homens
encurralados recusaram. Dezesseis vêzes, uivando de raiva, Rabi
atacou e foi repelido. Indígenas e soldados recuavam, feridos.
Ameaçados do emprego de canhões, renderam-se sob garantias
formais, e foram para o Castelo de Keulen os principais. Dez
soldados ficaram no arraial, tendo Estêvão Machado de Miranda,
Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da
Silveira e João Correia seguido com reféns. Agora o Castelo de
Keusen regorgita. São as pessoas mais prestigiosas, os colonos
portuguêses de mais inteligência e fortuna, o vigário Ambrosio
Francisco Ferro, pároco de Natal, Antônio Vilela Júnior, Francisco
— 70 —

de Barros, José do Porto, Diogo Pereira, João Lustau Navarro,


Antonio Vilela Cid,* os “hospedes” do Forte.
A 2 de outubro de 1645 num navio rápido, chega a Natal
Jacó Bullestraten, do Supremo Conselho. Vem fiscalizar, instruir,
salvar a Capitania.
Na manhã seguinte, 3 de outubro de 1645, em botes, partem
\rio acima os prisioneiros e os refugiados da praça militar holan­
desa, cobertos pelas promessas oficiais. Vão, explicam, reunir-se
aos que ainda ficaram em Uruaçu. Chegam à gamboa Tinguijada,
vizinho à Uruaçu. Mandam que se dispam e se ajoelhem. Obede­
cem e recebem a morte, recusando as consolações de um predicante
luterano. Depois "dessa primeira etapa, sobem à Uruaçu e convi­
dam os restantes para o Castelo de Keulen. Todos compreendem
e fazem despedidas supremas aos filhos, esposas, mães, irmãos. O
segundo rebanho é sacrificado totalmente, com requintes de. sadis­
mo. Todos não. Uma moça escapou. Trocaram-na por um
cachorro de caça, entregando-a aos indígenas. As mulheres e
crianças que ficaram no arraial foram mandadas para a Paraíba por
Bullestraten.
A notícia dêsses massacres despertou uma onda de revolta
na tropa do “Independentes’*. João Barbosa Pinto, em-fins-dêsse
1645, vem a Cunhaú e vinga como pode o sangue derramado.
Em 27 de janeiro de 1646, Dom Antônio Felipe Camarão bate
Rhineberg, arrebanha gado e volta triunfante.
Na noite de 5 de abril de 1646 Jacó Rabi é morto a tiros
e golpes de espada em Natal. Acusam Garstman como man­
dante. A Companhia instaura inquérito minucioso que Alfredo
de Carvalho publicou. Janduí exasperado exige que Garstman
lhe seja entregue para que vingue, com suas mãos, a morte do
grande amigo trucidado. Não era possível. Netscher diz que daí
em diante os Janduís foram arrefecendo o fervor, perdendo o
entusiasmo aos holandeses e, em 1647, quase abandonaram de tudo.
Embarcaram Garstman para o Recife, e de lá para Holanda. Jan­
duí pra aquietar-se recebeu presentes de roupa, vinho e comida e,
durante algum tempo, acompanhou-o Roulov Baro, que deixou
narrativa de sua visita aos cariris.
Primeira batalha de Guarárapes em 19 de abril de 1648, 2.200
“IuJep en dentes” .dispersam os 5.500 (Netscher dá 4.500) solda­
dos do cofonel Sigemundt von Schkoppe, senhor de Krebsbergen,
• grand Cotzen.
No Rio Grande do Norte, em 5 e 6 de janeiro de 1648,
Henrique Dias, o glorioso negro Mestre de Campo, ataca os
holandeses na lagoa de Guaraíras, em Arez.
Expulsou-os da ilha, ainda chamada do Flamengo, assolando
a campina, levando mais de 2.000 cabeças de gado. Guaraíras
— 71 —

e Cunhaú são pontos visados pela desafronta. João Barbosa Pinto


reaparece em agosto de 1651, devastador como uma tempestade.
Antônio Dias Cardoso, sabendo que os holandeses estavam em
vésperas de fazer funcionar o engenho de Cunhaú, surge, espa­
tifando, incendiando, destruindo tudo.
Segunda batalha de Guararapes em 19 de fevereiro de 1649-
2.600 “libertadores” contra 3.510 holandeses do coronel Van der
Brincke que morreu lutando. Acabara-se o exército regular da
Companhia, derribado por Francisco Barreto de Menezes que
D. João IV mandara para comandar em chefe.
Em fevereiro de 1649 a esquadra da Companhia de Comér­
cio do Brasil está diante do Recife. O bloqueio se estende, real­
mente, por terra e mar. Não há mais porta aberta para o Atlântico,
fornecendo víveres e munições. Fechados no Recife, a Cidade
Maurícia que os incêndios vão roendo como cupim, passam fome.
Comem ratos, cães, cavalos. Há sede. Os fortes das cercanias
vão caindo, um a um, como frutos maduros. Os holandeses capi­
tulam, assinando, às 11 horas da noite de 26 de janeiro de 1654, a
capitulação na Campina do Taborda. Francisco Barreto de
Menezes, generalissimo, recebe as chaves da Cidade e entra, co*3»
seus generais e capitães, na região do Brasil que deixara de ser
holandesa.
Claez, ex-comandante da fortaleza das Cinco Pontas, disfar­
çado em pescador, fugiu numa jangada do Recife e veio dando
aviso às guarnições de que Schkoppe se rendera.
Quando, em fevereiro de 1654, com 850 soldados, o capitão
Francisco de Figueiroa veio receber o Castelo de Keulen da mão
do seu comandantè, não encontrou a quem intimar. O Forte estava
sem um soldado, um indígena, um colono, uma bandeira, solitário,
deserto, silencioso, vazio, assombroso de mudez e de mistério no
meio da água verde do mar. Era bem, com seus canhões encra­
vados, bastiões em ruínas, banquetas sem rondas e terraços sem
vigias,, a imagem da derrota, da deserção ç do abandono.
Na mesma tarde, com as salvas da ordenanza, subiu, lenta no
ar luminoso, a velha bandeira que descera, vinte anos antes, aos
olhos vencidos e heróicos de Pero Mendes de Gouveia.

ADENDOS
• \ .
NOTAS AO CAPITULO TERCEIRO

(I) Para o histórico da Matriz de Natal ver a monografia de Nestor dos


Santos Lima, a MATRIZ DE NATAL, separata da rev. do Ins. Hist.
Geog. R.G.N., vol. XI — XII, 1913-15, Natal, 1916.
— 72 —

Para os assuntos relativos ao dominio holandês no Rio Grande do Norte,


vsr OS HOLANDESES NO RIO GRANDE DO NORTE, Luís da Câmara
Cascudo, Natal, 1948, e GEOGRAFIA DO BRASIL HOLANDÊS do
mesmo autor, ed. da Livraria José Olímpio, Editôra, Rio de Janeiro.

ONDE DESEMBARCARAM OS * HOLANDESES EM 1633?


Todos os nossos historiadores ensinam que os holandeses desembarcaram
em Ponta Negra quando vieram atacar o Forte dos Reis Magos em 8 de
dezembro de 1633. Uma parte continuou na esquadra de Jan Cornesliszoon
Lichthardt para cercar por água e outra marchóla por terra, tomando pé
em Ponta Negra, que Joannes de Laet, no «ANAIS DOS FEITOS» chama
Ponto Negro.
Mas em que lugar de Ponta Negra? Na praia de Ponta Negra propria­
mente dita ? Não me parece. Até aqui ninguém teve vontade de tentar precisar
o ponto onde os soldados do tenente coronel Baltazar Bijma pisaram terra
! natalense. Eram seis companhias. Bijma e o capitão Maulpas na vanguarda.
• Mathijs van Ceulen, Servaes Carpentier, ilustres Delegados, e o capitão
Joris Garstman, no centro. O major Cloppenburg e o capitão Taillor fecha- :
vam a retaguarda. Seiscentos homens,' armados, municiados, não fazem
transbordo de naus para chalupas e vêm saltar em terra sem dificuldade
maior. O terreno fôra escolhido cuidadosamente e a operação de desembarque,
sempre difícil e perigosa, ocorreu sem preJjízo. Parecia um exercício.
Temos duas informações dêsse desembarque. Uma relação escrita por
um participante, oficial ou praça que veio na tropa, , ficou anônima na
papelada do «Brieven en Popieren uit Brazilie», traduzida por Alfredo de
Carvalho, e publicada na revista • do Instituto Histórico do Rio Grande-'do
Norte, vol. IV, ns. 1 e 2, janeiro e julho de 1906, com o título de «DIÁRIO
DA JORNADA. OU EXPEDIÇÃO FEITA AO RIO GRANDE PARA,
COM O AUXILIO DE DEUS, À FÔRÇA DE NOSSAS ARMAS, ATACAR
E CONQUISTAR O FORTE DOS SANTOS TRÊS REIS SITUADO NA
FOZ DO MESMO RIO; COMEÇANDO EM 5 DE DEZEMBRO DE 1633.»
O informador anônimo diz que a gente dos botes dirigiu-se para a
PEQUENA ANGRA AO NORTE DA PONTA NEGRA. Ainda há outro
pormenor: — EM VOLTA DE TÔDA A ANGRA ESTAVA LEVANTADA
UMA TRINCHEIRA ASSENTE NO TÔPO DUM RENQUE DE COLI­
NAS MUITO ÍNGREMES, DE DOIS PIQUES DE ALTURA QUE
A CIRCUNDAVAM. Esta praia ALÉM DE MUITO ESTREITA, NA
PREAMAR FICAVA ALAGADA, NOS DIRIGIMOS PARA O INTERIOR.
Não se trata evidentemente, da praia de Ponta Negra, ampla, fácil,
larga e não utilizada pelá linha de pedras submersa. '
Na HISTÓRIA OU ANAIS DOS FEITOS DA COMPANHIA PRI­
VILEGIADA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS, do diretor da mesma Companhia,
Johannes de Laet, publicada em Leiden no ano de 1644, (trad, de José Higino
Duarte Pereira e Pedro Souto Maior, Rio de Janeiro, 1916) há informação
preciosa também, atendendo-se ao conhecimento da documentação oficial que
Laet dispunha. Escreve êle que a tropa DESEMBARCADA PELAS 11
HORAS NA ENSEADA ATRÁS DO LADO NORTE DO PONTO
NEGRO marcha por UMA PRAIA CERCADA POR UMA TERRA ÉLE-
VADA DE CÊRCA DE DOIS PIQUES DE ALTURA, ÍNGREME PARA .
ESCALAR-SE E ASCENDENDO DALI PARA OS MONTES MAIS
ALTOS.
Ponta Negra tem o seu arrecife fronteiro, duas milhas de compridão, a
milha e meia da praia. Não será propriamente nesse lugar onde os seiscentos
soldados do tenente coronel Bijma calcaram areia, iniciando a marcha das
quatro horas para Natal ou Cidade dos Reis.
— 73 —

- O desembarque teve execução numa praia estreita, circundada de bar­


reiras altas, cortadas a pique, e com acesso íngreme. Por êsse adive subiram
os holandeses, suando e praguejando na manhã ardente de dezembro tropical.
Que praia seria essa que acolheu primeiro o pé flamengo? Ponta Negra
pròpriaçiente não é possível. A primeira enseada para ó norte é Aiviana, até
Barreira d’Agua. Comunicam-se por saliências quase imperceptíveis, no ondu­
lado do litoral. Desceram aí os flamengos, sempre à vista da Ponta denomi­
nadora da região praiana.
A versão oral e popular de que, desembarcaram na Praia Grande inva-
lida-se pela informação oficial dé Laet e do DIARIO DA JORNADA, escrito
por quem fêz a caminhada. Contra o documento nãò vale a simples tradição
local desacompanhada de provas e mesmo de elementos lógicos.

POR QUE O FORTE SE RENDEU?

O almirante Lichthardt chegou com a esquadra diante do Reis Magos


depois do meio dia de 8 de dezembro de 1633. Debalde a artilharia tentou
impedir-lhe a passagem na foz do Potengi. Alguns navios ficaran? fora
da barra e no rio o flamengo apresou duas caravelas, restos do aüxílio
que Francisco de Vasconcelos da Cunha trouxera. Uma companhia, comandada
pelo major Vries, e mais 150 marinheiros, com mosquetes e sabres, desem­
barcaram, estabelecendo o cêrco. Tardinha apareceu o tenente coronel Baltazar
Bijma com os 600 soldados vindos de Ponta Negra. Armaram as baterias,
reforçadas com cestões e o tiroteio começou.
Pero Mendes de Gouveia recusou entregar a praça que as baterias holan­
desas alvejavam horas seguidas. Os parapeitos e bastiões foram destroçados.
As peças desmontadas fácilmente. Na madrugada de 12 uma bandeira branca
balançou-se é logo depois a retiraram. Pediam parlamentares. O capitão
Maulpas serviu de refém. O Reis Magos entrégou-se sob condições nobres,
armas e bagagens dos soldados, embarcações para sübir o Potengi. O subscri­
tor da rendição é um capitão Sebastião Pinheiro Coelho. Há civis no Forte.
O Provedor da Fazenda Real, Çedro Vaz Pinto e um senhor Manuel Pita
Ordigueira, e seus criados. O capitão Pero Mendes de Gouveia protesta
contra a rendição assim que vê o diretor van Keulen, Bijma e o conselheiro
Servaes Carpentier. Afirmou que as chaves lhe tinham sido roubadas quando
estava desacordado pela febre dos ferimentos. Fôra alcançado por estilhaços.
Os holandeses fizeram-no tratar respeitosamente pelo cirurgião Nicolas e
levaram-no para a nau-Chefe, com tôdas as honras. Pero Mendes de Gouveia,
restabelecido dos ferimentos, viveu mais de dez anos, em liberdade.
Por que o Forte se rendeu? Oitenta homens contra 800.
É uma razão. O Forte não tinha água, faltava-lhe cisterna, já notada
anos antes nas descrições oficiais. Acima de tudo houve um fator determinante.
Existiam dunas que ficavam a cavaleiro do forte. A artilharia flamenga,
montada no dorso dessas dunas, varria o Forte à pontaria. Nem um soldado
podia aproximar-se dos canhões sem ser abatido a simples tiro de mosquete,
como numa caçada. Os flamengos, não podendo arredar as dunas, depois de
donos da praça, ergueram uma defesa diante, da espécie de hornaveque, evi­
tando que os baluartes ficassem devassados pelo exterior.
Essas dunas não existem mais. O Marquez de Basto escreve no MEMÓ­
RIAS DIÁRIAS: «O Forte dp Rio Grande estava fundado sôbre uma läge
que o mar cobria, junto à bárra, tendo o padrasto de um morro de areia,
' obra dos ventos ali quase permanentes, sem que nunca as muitas diligências
o pudessem impedir; porque a providência, que ^im ano parecia utilizar, daí
a oito dias mostrava-se improfícua, tornando o vento a reunir as areias.»
Num mapa holandês, VEROVERINGE VAN RIO GRANDE. IN
BRASIL, ANNO -1Ó33, são visíveis, as oito dunas sôbre as quais foram
‘ apostas três baterias de canhões.
De víveres havia apenas um paiol de farinha, pipas com ágüa e pipa e
meia de vinho. Muita munição. O ferimento do Capitão Mor inutilizou
a- resistência maior, apesar de todos os elementos contrários.
Na época, todos os cronistas acusaram a rendição como sendo fruto
de entendimento criminoso, barganha, venda da Praça. O Marquês de Basto
acreditava que o sargento Pinheiro (que assinara como Capitão) e Simão
Pita Ordigueira (ou Manuel), prêso no Forte e inimigo de Mendes de
Gouveia, tinham-no traído. Diogo Lopes de Santiago escreveu que Ddmingos
i Fernandes Calabar fôra o tecedor da intriga e autor da maranha e que
Matias^ d’Albuquerque prendera depois Pero Mendes de Gouveia com
grilhões e fizera confiscar sua fortuna. Quase semelhantemente escreveu
Frei Rafael de Jesus no CASTRIOTO LUSITANO, apontando ardileza
feliz do mulato Calabar. Southey acreditava também. Varnhagen recusava
a tradição. Frei Gio Gioseppe di S. Tereza no seu HISTORIA DELLE
GVERRE DEL REGNO DEL BRASILE etc. (Roma, 1698, 135) acusa
Simone Pitta como entabolador de negociações fraudulentas com Ceulio (van
' Keulen). Varnhagen declara, si&ido : — «A participação oficial do inimigo,
que hoje conhecemos, não nos autoriza a crer que houvesse o menor assomo de
traição», (HISTÓRIA DAS LUTAS COM OS HOLANDESES NO BRASIL,
107). Citou o relatório de van Keulen e Gysselingh, de 5 ,de janeiro de
1634. Podia aumentar a bibliografia com o registo de Laet, ANAIS DOS
FEITOS, e o DIARIO DA EXPEDIÇÃO, ambos omissos nesta parte e nome
de Calabar.
As orações congratulatorias, descargas festivas e aclamações, diziam da
importância da conquista que duraria vinte e um anos,

O COMANDANTE HOLANDÊS DO REIS MAGOS

Os flamengos dominaram o Forte rio dia 12 de dezembro de 1633. A 15


o tenente coronel Baltazar Bijma nomeou o primeiro comandante do Forte,
rebatizado em Castelo de Keulen, homenagem ao diretor e Alto Conselheiro
Mathijs van Keulen, superintendente da expedição, vindo, com o seu eminente
colega Johanx Gijsselingh, animar a Companhia no Recife, em janeiro do
. mesmo 11»33. Na Holanda era homem importante, Bewindhebber, diretor, da
Câmara Municipal de Amsterdam. Regressaria, em setembro de 1634, à pátria,
com o amigo Gijsselingh, voltando ao Brasil com o conde de Nassau.
Joris Garstman tentou recusar mas aceitou finalmente. Deram-lhe quatro
carpinteiros para concertar o Castelo e 150 homens, com mosquetes e escopetas
novas. A grafia certa é Garstman, segundo Barléu, Nieuhof, Laet, o Sommier
Discours contemporâneos, e posteriormente Varnhagen, Netscher, Watjen.
O Journal de Arnhem escreve Garsman. Lopes de Santiago e Frei Rafael
de Jesus aportuguesam para Gusmão.
Ficou morando no Forte. Em 15 de junho de 1637 comprava o engenho
Cunhaú tendo como sócio um conselheiro, Baltazar Wyntgens, por 60.000
florins. Em outubro desse 1637 Garstman, com Hendrik van Haus, dominava
o Forte São Sebastião no Ceará, onde os 33 soldados resistiram aos 120
flamengos. Garstman voltou ao Castelo de Keulen por terra, repetindo com
segurança e água, a caminhada de Pero Coelho de Sousa.
Devia ter mais de uma propriedade porque nos mapas de Vingboons,
ns. 45 e 46, há indicações gráficas nominais além do engenho Cunhaú.
Em 1640 estava casado com mulher portuguêsa. Tentou, com 60 holan­
deses e 200 indígenas, impedir a passagem de Luís Barbalho Bezerra, desem-
— 75

barcado na praia de Touros e abrindo caminho à espada até a cidade do


Salvador. Barbalho derrotou-o, conduzindo-o prisioneiro para a» Bahia.
Em 1641 foi permutado por um oficial português, atendendo-se ao fato de
ser casado com «mulher natural da terra.» Ficou no seu Castelo de Keulen.
Em julho de 1645 hoüve o massacre de Cunhaú, incêndio do engenho
e morte, entre outros, do seu sogro. Tornou-se inimigo radical do onipotente
Jacó Rabi, delegado da Companhia junto aos Janduis. Na noite de 4 de
abril de 1646 Rabi era assassinado e Garstman culpado como mandante
notório. Com minucioso processo e o inquérito feito ’ no Castelo de Keulen
existe em português, traduzido por AlfredQ_.de Carvalho, AVENTURAS
E AVENTUREIROS NO BRASIL, 177, Rio de Janeiro, 1930.
Joris Garstman era então tenente coronel. Pertencia o pôsto a Hendrik
van Haus que fôra aprisionado nq combate de Casa Forte. O sucessor, major
Kaspar van der Ley, passara-se para os insurretos. Coube a promoção a
Garstman a 12 de setembro de 1645. Foi para o Recife, comandando várias
operações militares. Seu substituto no Castelo de Keulen foi o capitão Johan
Blaenbeeck. ’ • .
Morto Jacó Rabi os Janduis ficaram indignados e apesar dos presentes
levados ao chefe por Roulov Baro foram abandonandos os flamengos durante
o ano seguinte (Nieuhof), perdendo êstes sua feroz brigada de choque.
Garstman seguiu prêso para o Recife onde chegou a 24 de abril, sendo
recolhido a bordo do navio «Holandia». Sucedeu-o no comando o major
Bayert. Varhagen e Watzen, com leitura apressada em Nieuhof e Journael
de Arnhem, entendem cjue Garstman seguira para Holanda, o que não se
verificou. Em maio os soldados holandeses protestaram contra a prisão
do seu tenente coronel, ameaçando insubordinação, segundo registrou o Journael
de Arnhem. Volta seu nome em 1648 a ser citado pèlo Supremo Conselho
do Recife que recebera das Altas Potências ordem de deixar Garstman. em
liberdade durante a revisão do processo. Os conselheiros informaram não
saber de Garstman, naturalmente absolvido. Foi rebaixado no pôsto, voltando
a major.
No JOURNAEL VAN MATHIAS BECK UYT SIARA, nota de 7 de
agosto de 1649, informa-se que o major Garstman chegara nesta data ao
Ceará, a bordo do iate «Wittepaert», encarregado de comandar a Milícia
local. Nesta situação encontrava-se a 20 de maio de 1654 quando entregou
a praça ao capitão Alvaro de Azevedo Barreto, enviado pelo Mestre de
Campo, General 'Barreto de Meneses.
Viajóu logo para Holanda mas, adoecendo a bordo, chegou a Martinica
onde faleceu no mesmo ano. O seu tenente, Robert Bifuyn, conduziu o espólio
e ordens de sucessão para a pátria.
Da esposa portuguêsa de Garstman não tenho notícias. Há a família
Gracismã que parece descender do nome. Essa é a história do primeiro coman­
dante holandês do Castelo de Keulen, o Forte dos Reis Magos.

TRABALHO HOLANDÊS NO FORTE DOS REIS MAGOS


Os holandeses ficaram dominando no Rio Grande do Norte durante vinte
e um anos. De dezembro de 1633 a íevereiro de 1654.
Construiram alguma coisa? Deixaram documentos materiais de sua pas­
sagem em nossa terra?
Não possuímos realmente nenhum trabalho holandês. Nem êles pensa­
ram em deixar lembranças vivas de sua administração.
Existe, é verdade, a lenda teimosa dos tesouros enterrados e sempre
<jue o povo encontra um edifício velho, (uma ruína impressionante, não sabendo
explicar a origem, diz que é trabalho do holandês.
Vamos reveT a tradição no que ela tiver de claro e de provável.
— 76

Documentadamente o holandês fêz apenas uns reparos no forte dos Reis


Magos, batizado em Castelo de Ceulen ou de Keulen. Keulen, segundo o-
Sr. José Honório Rodrigues, bom sabedor dêsses assuntos, é a verdadeira
grafia e não'Ceulen.
Uma das fontes autorizadas, de cunho holandês, é o chamado SOMMIER
DISCOURS uma relação descritiva das Capitanias sujeitas à Companhia
Privilegiada das índias Ocidentais, ou, em holandês, GEOCTROYEERDE
WESTINDISCHE COMPAGNIE. Em português êsse documento tem o-
título: — BREVE DISCURSO SÔBRE O ESTÄDO DAS QUATRO
CAPITANIAS CONQUISTADAS DE PERNAMBUCO, ITAMARACA,
PARAÍBA E RIO GRANDE SITUADAS NA PARTE MERIDIONAL DO
: BRASIL, e foi publicado na revista do Instituto Arqueológico e Geográfico
Pernambucano, num. 34, Recife, 1887.
. • c
Não conheço outra fonte holandesa que mencione trabalho no forte dos
Reis Magos. O SOMMIER DISCOURS assim informa :
«O Castelo de Ceuíen do Rio Grande, situado sôbre o arrecife de pedra
na entrada da barra. Construído de pedra de cantaria, é mui elevado, e tem
mui grossas e fortes muralhas. Na frente para o lado de terra, tem uma espécie
de hornaveque, isto é, uma cortina com dois meios bastiões providos, segundo-
o velho estilo, de orelhões e casamatas. Diante dos outros três lados há
tenalhas.
Êste Forte está sujeito às altas dunas que lhe ficam a tiro de arcabuz,
e são tão elevadas que delas se pode ver pelas canhoneiras o terrapleno,
e daí fuzilar os do castelo que se dirigem para as muralhas. Quando nós o
cercamos, assentamos a nossa artilharia sôbre as dunas, e fizemos um fogo
tal que ninguém podia permanecer na muralha. Mas êste defeito foi reme­
diado LEVANTANDO-SE SÔBRE A MURALHA DE FRENTE, CONTRA
O PARAPEITO DE PEDRA, UM OUTRO DE TERRA À PROVA DE
CANHÃO, e com isto todo o Forte, da parte de cima, está coberto e res­
guardado. E como de maré cheia êste Forte fica cercado d’água, e tem
de resistir ao embate do mar, está um pouco danificado na parte inferior,
O QUE SE REPARARA CONSTRUINDO DE PEDRA E CAL UM NOVO
SOPÉ.»
Nada mais. O documento SOMMIER DISCOURS é do tempo do conde
¿2 Nassau e posterior a 1640. Se fizeram, de pedra e cal, o reforço nas.
sapatas circulares, ignoro. Durante o século XVIII e no sédalo XIX o Forte
sofreu muitos e muitos reparos. O reforço atual pode ter sido holandês mas.
também pode pertencer às tarefas posteriores, por mão portuguêsa e brasileira.
• Todo o trabalho, como vêem, foi um parapeito de terra batida e talvez
com revestimento de pedra, à prova de canhão (canhão daquele tempo), na
parte da entrada do Forte, na parte superior da gola que prende os dois
bastiões.
. A própria artilharia foi a encontrada no Forte. Jòan Nieuhof, fazendo
uma informação geral dos Fortes sob o domínio holandês- -enr meados de
1646, escreve que o Forte Keulen, na desembocadura do Rio Grande, estava
artilhado com 28 canhões de bronze e um dê ferro. NO INVENTARIO
DAS ARMAS. E PETRECHOS^BÉLICOS, etc., de 1654 (reeditado no
Recife, 1940) regista-se a existência de trinta e duas peças, sendo dezenove de
ferro e treze de bronze.
Há quadros pintados por Franz Post fixando o Castelo de Keulen e por
êsses sabemos que não houve alteração visível nas linhas características do
Forte. *
E é tudo...
— 77 —

TRABALHO HOLANDÊS NA LAGOA DE ESTREMOZ

Os holandeses conheceram muito bem Estremoz quando o nome da loca­


lidade era bem outra. No mapa de Margrav está a lagoa ITIJURU. Os
nomes são legião, Guajaí, Guaiaí, Guoaraú, Goaruju, Guagiru, rio que desce
da lagoa e toma ainda a denominação de Gramoré atravessando ou formando
a lagoa da mesma denominção e. ainda tem os títulos de Rio Doce e Rio da
Redinha, caindo no Atlântico. Joan Nieuhof chama-o GUASIAVI e diz
que junto se ergue a vila ATAPE WAPPA. No mapa de Johannes Ving­
boons (Pl. 45, cópia fotostática do meu arquivo) a tal TAPEWAPPE
está no final do rio ZIARAMIRIM, O GUASIAVI de Nieuhof regista Ving­
boons .»como sendo o rio GUASJOU, visivelmente o GUAGIRU, desagua-
douro da lagoa no mar. Está marcada sem nome e um rio que nela cai é
o R. DAS CARACTACS e que é o rio Caraguata, Caratain, rio Mudo ou
Rio do Jorge. Em 7 de janeiro de 1607 o capitão-mor. Jerónimo de Albuquerque
dava uma grande sesmaria aos Padres Jesuítas, a n.’ 102 no AUTO DE
REPARTIÇÃO DAS TERRAS DO RIO GRANDE (1614), e cita-se o
LUGAR QUE CHAMAM TIJURU. * A denominação de Estremoz é de 3 de
maio de 1760.
A lagoa de Estremoz tem curiosamente duas estreitas e longas línguas,
de terra qfae quase a atravessam. Têm nomes de Ponta Francesa e Ponta
Grossa. Dizem os velhos moradores que é «obra de holandês» que tentou
dividir a lagoa para que a parte superior, com as águas do rio Caratan ou
Mudo, ficasse permanentemente doce e a parte inferior, salgada.
Há documentação sôbre essa história ? Em documento holandês não
conheço. Há, entretanto, registo em livro velho e venerável, afirmando o
mesmo que afirmam os velhos habitantes de Estremoz.
Monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, «MEMÓRIA
HISTÓRICA DO RIO DE JANEIRO, (Liv. VII, 156-157, Rio de Janeiro,
1822, escreve :
«Vila de Estremoz, distante três léguas ao noroeste da Capital, cujo
caminho plena é areiento, está situada sôbre as margens duma lagoa grande,,
célebre pela sua profundidade, e que originada acima dêsse • lugar légua e
meia, conflui com o Rio. Guajuru, o qual deságua no Mar, onde dizem Redinha.
No meio da lagoa, há uma península, fronteira à vila, para onde preten­
deram os Holandeses fazer passagem por um istmo que tentaram construir a
maneira de molhe de pedra, com o projeto de encontrar, e melhorar a estrada
pelo interior com a capital, e mais fácilmente surtir de víveres a vila, mas
obstando-lhes a notável altura da lagoa a construção dessa obra, desistiram
de prosseguí-la, deixando contudo vestígios de trabalho em grande extensão
de caminho, que permanentes ainda, parece haver aí hma rocha continuada.»
Milliet de Saint Adolphe, no DICIONÁRIO GEOGRÁFICO, HISTÓ­
RICO E DESCRITIVO DO IMPÉRIO DO BRASIL, (Trad, de Caetano
Lopes de Moura, Paris, 1845), no verbete EXTREMOZ, cita:
«Uma língua de terra se adianta pela lagoa na vizinhança desta aldeia
dela se serviram os Holandeses para fazerem uma estrada por cima dela, e
transportarem o que lhes era mister para a cidade do Natal de que estavam
senhores: porém, partido o. príncipe Maurício de Nassau, foi esta obra de
tanta utilidade posta em abandono: ainda existem as ruínas dela que ocupaip
grande extensão.»
Monsenhor Pizarro dizia que os «land bridge» que vemos na lagoa
foram trabalho do Holandês e Milliet de Saint Adolphe informa que os batavos
aproveitando o istmo já existente queriam ampliá-lo e prolongá-lo até‘ a
outra margem ficando quase no fim a tarefa.
— 78 —

Pode ser que exista algüm relatório do chefe holandês de Natal infor­
mando ao Supremo Conselho do Recife a marcha dos trabalhos em Estremoz.
Se existe, continua inédito.
É o que há sôbre a tradição do trabalho holandês na lagoa de Estremoz.

AÇÚCAR, FARINHA, CARNE


A indústria do açúcar no Rio Grande do Norte se iniciou com o Engenho
de Cunhaú, erguido numa sesmaria dada pelo Capitão Mor Jerónimo d’Albu­
querque aos seus filhos Antônio e Matias a 2 de maio de 1604. Já safrejava
em fevereiro de 1614. Johannes de Laet chamou-o «lindo» embora nunca o
tivesse visto. Em julho de 1625 o capitão flamengo Uzeel avista-o cercado
de vivendas, nas terras plantadas e povoadas de gado. Em 1630 o brabantino
Adriano Verdonck informa que o engenho de Cunhaú produzia de seis a
sete mil arrobas anuais e na zona residiam 60 a 70 colonos com abas
famílias, criando bastante gado, e exportando farinha e milho para Pernambuco
nos mesmos barcos em que seguiam as caixas de açúcar, nas remessas de
cem e cento e dez.
Confiscado Cunhaú a Antônio de Albuquerque, compraram-nó Joris Garst­
man e Baltazar Wyntzens por 60.000 florins. Parece que em 1645 estava
arrendado a Gonçalo de Oliveira, um dos sobreviventes do massacre. Foi
várias vêzes assaltado pelos flamengos e pernambucanos, arrebanhando-se
gado e interrompendo-se a faina batava para fazê-lo produzir açúcar.
Cunhaú era o único engenho corrente e moente. Era engenho d'água.
O outro engenho, Ferreiro Torto, teve existência curtíssima. Em 1614 não
existia e em 1630 estava de fogo morto pela ruindade das terras, escreve
Verdonek. Laet deu-lhe nome de Outinga (Utinga) e no Sommier Discours
aparece como Engenho Potengi, «decaído há longos anos, e diz-se que não
tem terras capazes». Depois dessa data não funcionou. Não há notícia de
sua produção no domínio holandês.
A farinha de mandioca foi produto inicial e sempre há citação holandesa
e portuguêsa. A Capitania era região de gado e de mandioca. As salinas,
apontadas desde logo, tiveram menor valor, embora os flamengos a explo­
rassem com o infeliz Gedeon Morris de Jonge. No Journael de Arnhem é
constante o registo das barcas que chegam do Rio Grande no Recife,
carregadas de farinha. É para o Rio Grande que nas fases agónicas do
bloqueio mandaram os indígenas mobilizados em Itamaracá porque podiam
comer e resistir.
O gado foi a característica. Com a zona do rio de São Francisco o Rio
Grande competia no domínio da pastoricia. Milhares e milhares de cabeças
" esperavam apenas quem as apanhasse e levasse. O soldado Ambrosio
Richshoffer, participante da expedição de dezembro de 1631 a Natal, acam­
pado em Genipabu, reunindo gado, escreveu : — «Foi então üm matar,
cozinhar e assar que, durante três dias, consumimos mais carne fresca do
que no decurso de todo o ano anterior.»
Basta lembrar Joan Nieuhof que estêve nove anos no Brasil holandês,
1640 a 1649. Diz Nieuhof relatando uma sessão do Grande Conselho em
janeiro de 1646: — «Considerou-se então que, se o inimigo dominasse o
interior e nos privasse do fornecimento de gado e farinha do Rio Grande,
justamente numa ocasião em que Itamaracá e Paraíba também estavam blo­
queadas, ser-nos-ia quase impossível manter a posse do Brasil Holandês,
enquanto não chegassem da Metrópole os socorros esperados. » E ainda : —
«O Rio Grande, era, portanto, a única região de onde se recebiam quantidades
ponderáveis de farinha e gado que minoravam em parte a escassez de gêneros
reinante no Recife.»
— 79

Um historiador contemporâneo, o autor da melhor história na espécie,


<O DOMÍNIO , COLONIAL HOLANDÊS NO BRASIL», informa seme­
lhantemente. Escreve Hermann Watjen : — «... o maior fornecimento de
reses para o consumo era feito pelos criadores de gado do Rio Grande.»
A frase é curiosa porque êsse fornecimento era feito à força de espada e
de violência e não há registo de compra pacífica.
O gado explicava Cuñháú, casa de Lostau Navarro, Uruaçu. Por isso os
indígenas eram mimados como príncipes de outrora. Serviam de . guarda
pretoriana. a vanguarda preadora para as execuções em massa, sem processo,
julgamento e desculpa. Era a gadaria indispensável às bocas do Recife o
imperativo determinante dêsse regime de terror e de morte.
Joan Nieuhof, narrando as mortes no Rio Grande, depois de noticiar
que «o Rio Grande ficou intçiramente expurgado de rebeldes», conclui,
com uma lógica feroz : — «Suas propriedades, inclusive gado, foram depois
vendidas, em benefício da Companhia e de seus credores e os armazéns
públicos foram supridos com boas reservas de carne em boa hora recebidas.»
Não há melhor depoimento nem prova testemunhai mais expressiva.
E a nota oficial no SOMMIERS DISCOURS fecha a ficha : — «Nesta
Capitania os moradores. se ocupam principalmente com a criação do gado
que ai existe em abundância... O Rio Grande já está dando muito gado
que é conduzido para a Paraíba, Itamaracá e Pernambuco, onde serve quer
para o corte, quer para trabalharem nos carros e nos engenhos.»
E basta.
O FORTIM DE GUARAÍRAS
Com o domínio holandês em Cunhaú, ouÄabro de 1634, ás terras da
futura Arez caíram sob a posse flamenga.
A lagoa de Guaraíras, Guararaíras em Marcgrav, Groairas em Nieuhof,
Greoyra em Vingboons, éra piscosa e presidia uma zona de mandiocais, fértil
nas farinhadas. Joan Nieuhof informava, descrevendo-a: — «No lago de
Groairas há uma quantidade incrível de peixes e a região produz farinha em
grande escala. Daí vieram os fartos abastecimentos de carne e peixe para
as nossas guarnições da Paraíba e outras partes, durante a rebelião dos
portugueses.»
; No meio dessa lagoa há uma ilha. Verdadeiramente é ilha depois de
1924. Neste ano a enchente arrombou üma faixa de terra que a ligava ao
continente, às margens vizinhas. Essa fatia de terra é tida como atêrro
feitò' pelòs holandeses como na lagoa de Estremoz. Mas não há documentação
afirmante ou negativo. Nesse ponto estabeleceu-se uma patrulha flamenga
para vigiar os trabalhadores, fiscalizando as tarefas, recolhendo os produtos
para enviá-los ao Recife com a proteção dos comboios armados.
Construiram uma casa-forte, de paredes resistentes, quartel e depósito.
Os massacres de Cunhaú, João Lostau Navarro e Uruaçu indignaram os
colonos e os homens em armas. Todos os mestres de campo mais ilustres
vieram pessoalmente ao Rio Grande bater o holandês, André Vidal de
Negreiros, Francisco de Figueiroa, Henrique Dias, D. Antonio Felipe
Camarão.
Henrique Dias, o grande chefe negro, saiu do Arraial, no Recife, a 23
de novembro de 1647 e veio qpeimando tudo como um turbilhão de* fogo.
No CASTRIOTO LUSITANO informa-se : — «Avistou um sítio, que
chamam as Guaraíras, onde o inimigo sustentava uma casa forte no centro
duma lagoa larga e funda, dentro da qual, como em ilha, se alojavam todos
os índios e escravos que o Holandês ocupava nas roças e lavouras daquele
terreno; e se recolhiam os frutos e os roubos de que se sustentavam, guardados
e defendidos de quarenta holandeses, que com outros soldados-indios guar-
— 80 —

neciam a fortificação; constava desta de casa forte cercada de duas trincheiras


bem obradas.»
Henrique Dias chegou ao escurecer, atravessando a lagoa com água
pela cintura e atacando imediatamente._ O chefe holandês e cinco companheiros
mais prudentes tomaram de uma canoa, fugindo sem bulha e matinada.
Henrique Dias passou a noite matando. Pela manhã não existia gente com
vida na fortificação. Soldados flamengos, negros escravos, mulheres, estavam
mortos. «Levaram tudo a ponta de espada não perdoando sexo nem idado.
escreve Frei Rafael de Jesus. Era o dia 6 de janeiro de 1648. Na manhã
.seguinte o Governador dos Pretos partiu para devastar Cunhaú. Os holan­
deses voltaram e reconstiUiram a casa forte. A vida continuou. Em agosto
de 1651 o capitão João Barbosa Pinto apareceu como um furacão. Creio que
a essa visita de morte refere-se a provisão de Pascoal Gonçalves de Car­
valho para o pôsto de Capitão Mor do Rio Grande do Norte, em 1634.
Considera-se sua proesa «no assalto e queima da aldeia das Groayras, reti­
rando mais de duas mil cabeças de gado e passante de düzentas almas,
entre mulheres e meninos que estavam em poder do holandês, deixando tôda
aquela campanha abrasada. »
Não falta história portuguêsa ou batava no emprêgo de artilharia no
Fortim de Guaraíras. Existiam lá dois» canhões de ferro. Retiraram da ilha
nas primeiras décadas do século XX. Um canhão ficou num sítio cm
Patané à margem da lagoa, e outro enterraram, até o meio, nüma esquina na
então vila, hoje cidade de Arez, ao lado de Papeba. Vi as duas peças
em 1932.
Os muros do Fortim esboroaram-se e o arvoredo tudo cobriu. Muitas
¡ pedras foram sendo retiradas para serviços na redondeza. Será difícil localizar
«o sítio exato onde a casa forte se ergueu e lutou nas manhãs guerreiras do
século XVII. A Ilha guardou sempre o nome recordador. Chama-se Ilha
«do Flamengo.

OS MISTERIOSOS FORTINS HOLANDESES*'

O professor Joaquim Lourival Soares da Câmara, o professor Panqueca,


tão sabedor das nossas tradições e Folclore, dizia-me que ' numa encosta
■da colina que está à direita da Praça Augusto Severo, em Natal, os holandeses
tinham construído um baluarte com canhões. Últimamente encontrei um
informe sôbre essa defesa artilhada naquele ponto. No INVENTARIO DAS
ARMAS E PETRECHOS BÉLICOS, etc., há o registo de quatro roqueiras
na ALAGOA DA CIDADE. Êsse inventário relaciona as armas e construções
militares deixadas pelos flamengos em 1654. ALAGOA DA CIDADE é
justamente a Praça Augusto Severo. Devia esta batería ter desaparecido no
decorrer das últimas décadas do século XVII. Seria apenas uma sapata de
barro batido onde as quatro roqueiras estavam montadas.
Nas praias há uma reminiscência teimosa de fortificações holandesas, espe­
cialmente ao sul de Ponta Negra até a barra do Camurupim, onde o enge­
nheiro Otávio Tavares identificou um possível Fortim iniciado por mão
batava, talvez em 1646, quando a guerra ia levantando chamas altas.
No mapa de Maregrav há uma N. S. DO MONTE nas alturas do
atual Petrópolis, onde está a Avenida Getúlio Vargas, ex-Beira Mar. Ali
houve nome de MONTE e BELO MONTE. Quando o coronel Joaquim
Manuel Teixeira de Moura construía sua ampla e acolhedora residência eni
1893 encontrou alicerces possantes, tijolos fortíssimos, tinindo à percussão
como se fôssem de metal. A tradição oral ali localiza um Fortim holandês,
tendo um subterrâneo que o ligava ao Castelo de Keulen, antigo Forte dos
Reis Magos. O historiador José Moreira Brandão Castelo Branco confir­
mou-me a existência dos alicerces e que o capitão do Exército Nestor de Brito
81 -

.. dizia ter encontrado no Forte dos Reis Magos a bôca do subterrâneo pos­
sivelmente conduzindo a guarnição para longe. Ninguém sabe a história desses
alicerces que Joaquim Marttiel deparou em 1893 no Belo-Mo:^e, nas confron­
tações do lugar onde Maregrav dissera existir o misterioso N. S. DO MONTE.
O jovem Emanuel Cavalcanti anunciou-me duas outras construções inexpli­
cáveis e muito conhecidas pelos pescadores e habitantes aó redor de Pirangi
do Norte e Pirangi do Sul.
Entre Ponta dos Currais e Rio Doce há um trecho sem coqueiros e caracte­
rizado pelas dunas de areia alva e frouxa. No cimo duma dessas elevações,
avistando-se a Ponta de Tabatinga e de Cum/urupim, três léquas distantes, há
um quadrilátero de terra socada e dura, bem aplainado, visivelmente destinado
a sustentar um edifício. Perto corre o Rio Doce, cristalino e transparente.
O lugar é de alcance estratégico e dizem que ali o flamengo ia levantar um
Fortim. Ali mesmo um morador de Pirangi, apelidado «Seu Pulga», sonhou
com uma mina de dinheiro.
Perto de Pirangi do Norte, uns dois quilômetros para o interior, há ruínas
misteriosas de uma construção sólida, atarracada, paredões de pedra, tendo
ainda visíveis os repartimentos, numa altura de dois metros do nível do
solo. Êsse edifício começado com tanta robustez está, há tempos, fornecendo
material de construção para muita gente dos arredores. Dentro em breve
nada mais restará facilitando um exame ou simples verificação do seu conjunto
arquitetônico. É obra do holandês, dizem todos. Foi outra descoberta do
Sr. Emanuel Cavalcanti.
Para aumentar o encanto há, na confrontação marítima, 111113' ponta deno­
minada PONTA FLAMENGA, yizinha à povoação de Pirangi do Norte
na pancada do mar. Por que apareceu tal nome? Qual a história gae
o justifica ? Não se sabe...
Haverá nas vizinhanças da Cidade do Natal outra ruína que seja pelo
povo apontada como restos de um Fortim holandês ?
Não me consta...

- > ENGENHO E FORTIM DE CUNHAÚ

O engenho Cunhaú foi construído na sesmaria dada por Jerónimo de


Albuquerque em 2 de maio de 1604 aos seus filhos Antônio e Matias. Constava
de 5.000 braças quadradas na várzea do Cunhaú e mais duas léguas em
Cariguaretama. Em fevereiro de 1614 o engenho safrejava e durante o
domínio holandês constituiu o único centro de produção industrial regular na
Capitania. Exportava entre 6.000 a 7.000 arrobas de açúcar para o Recife,
anualmente, via marítima.
Em outubro de 1634 o coronel Artichofski, com 228 homens, soldados e
indígenas, assaltou um Fortim que fôra erguido na Barra de Cunhaú e
comandado pelo capitão Alvaro Fragoso de Albuquerque. A traça e construção
foram trabalho de marinheiros de Dunkerque, arribados à Cunhaú. O Fortim
era um grande reduto quadrangular e duplo, as muralhas da altura de dois
homens, sem pontos ou flancos, na encosta de um monte. Era defendido por
dez canhões de ferro que lançavam balas de seis libras e dois arcabuzes de
forquilha, com vinte e sete soldados de guarnição. Não pôde resistir a
Artichofski que o tomou e arrazou, trazendo ós canhões e munição para Natal
e o capitão português prisioneiro. Frei Rafael de Jesus, no CASTRIOTO
LUSITANO diz que o dfepitão fôra morto mas, esquecendo o óbito, ressus­
citou-o em 1645 para receber da mão de André Vidal de Negreiros o comando
da fortaleza de Serinhaém, arrebatada aos flamengos.
Essa é a História do Fortim cujas ruínas o tempo apagou.
O engenho, confiscado a Antônio de Albuquerque Maranhão, foi vendido
pela Companhia ao Baltazar Wintgens e Joris Garstman van
— 82 —
Werve por 60.000 florins a 15 de junho de 1637, constando de terras, cana­
viais, pastagens, matas, casas e construções, trinta negros escravos e vinte
juntas de bois. O engenho moía com água. Depois de algum tempo Cunhaú
foi revendido aos flamengos Willem Becx ou Beck e Hugo Graswinckel.
Em agôsto de 1642 Graswinckel cedõki sua parte a Bathijs Becx ou
Beck, o Matias Bequel, coronel dos burgueses do Recife no VALEROSO
LUCIDENO ou Mathias Beque na GUERRA DE PERNAMBUCO, de
Diogo Lopes de Santiago. Ficou todos os anos funcionando calmamente, com
a vizinhança povoada de lavradores pacíficos.
No «apenso II» quê José Antônio Gonçalves de Mello Netto, reuniu à
sua tradução do relatório de Adriaen van der Dussen, RELATÓRIO SÔBRE
AS CAPITANIAS CONQUISTADAS NO BRASIL PELOS HOLANDESES
(1639) (Ed. do Inst, do Açúcar e do Álcool, Rio de Janeiro, 1947) consta
a relação dos fornecedores de canas ao Cunhaú, donos de tarefas. Garstman
tinha 30, Domingos Carvalho, um dos futuros supliciados, 40, Pero Gomes, 30
e Pero Exaro Rabasa, 10, num total de 110 tarefas.
Em 15 de jfalho de 1645 Jacob Rabi chegou com um bando de Janduís,
chefiados por Jererera, filho do rei Janduí. Convocou os moradores para uma
reunião tranqüila depois da missa dominical na manhã seguinte. Nesse
domingo 16 de julho de 1645, na hora da elevação da hóstia, Jacob Rabi
mandou a indiada invadir a capela e matar a todos os devotos ajoelhados e
contritos. Sucumbiram todos. E também os que estavam na casa-grande
do engenho sofreram morte, desarmados como estavam. Salvaram-se apenas
três pessoas.
Cunhaú hospedara o mestre de campo Luís Barbalho Bezerra em fevereiro
de 1640 quando abria caminho a ponta de espada para a cidade do Salvador
desde uma praia de Touros. De Cunhaú, Barbalho escrevera ao conde de
Nassau solicitando direito de passagem. Antes dêle, um mês, Carlos de
Tourlon, com 1.000 flamengos derrotara a dom Francisco de Soüza e Hen
rique Dias, desembarcados na Baía da Traição, da destroçada armada do
conde da Tôrre. Henrique Dias ficara ferido. Reunira-se diante a Luís
Barbalho Bezerra e seguiram na gloriosa contra-marcha.
Começa para Cunhaú depois de 1645 a fase teatral das lutas, vinganças,
saques e represálias ferozes.
O capitão João Barbosa Pinto aparece em outubro do mesmo 1645, quei­
mando tudo, matando holandês como quem mata formigas. Uma fracção de
tropa de. dom Antônio Felipe Camarão deve ter arrebanhado gado e lutado
aí em janeiro de 1646, depois da batalha de Guandu, quando o grande
Potiguar matoíj o capitão Reinbergh, o substituto, tenente Otto Ter Ville, c
deu uma carreira no conselheiro Pieter Jansen Bas. Nieuhof cita um
assalto de Felipe Camarão e o capitão Paulo da Cunha (Souto Maior) em
Cunhgú no mês de março com 800 homens, dos quais 300 mosqueteiros
juntando gado mas não combateram... a falta de inimigos.
Em agôsto de 1647 André Vidal de Negreiros estêve em Cunhaú, man­
dando João Barbosa Pinto buscar boiadas em Ceará-Mirim. A 7 de janeiro
de 1648 Henrique Dias, voltando de Guaraíras, apareceu em Cunhaú, tomando,
saqueando, carregando butim. Em agôsto de 1651 voltou João Barbosa Pinto,
lutando contra o batavo e conduzindo gado para a fome no Arraial no Recife.
E maio-julho de 1652 apareceu o mestre de campo Antônio Dias Cardoso.e
uma parte das tropas capitaneada por Cosme do Rego Barros incendiou
Cunhaú que se preparava para moer a safra dos canaviais.
Essas expedições são as histórias. Outras devem ter ocorrido e também
grupos depredadores, dizendo-se parciais dêste e doutra facção, confórme o
momento. Cunhaú é que é terra ensopada de guerra e guardando recordações
inapagáveis do domínio flamengo.
— 83 —

O MASSACRE DE URUAÇU

Depois do assalto em Cunhaú e na casa de João Lustau Navarro alguns


colonos portuguêses da região do agreste refugiaram-se nas margens do rio
Potengi, três légua.*» de Natal, erguendo uma defesa murada de madeira rústica,
paliçada rudimentar que apenas abrigava o primeiro embate. Uns sessenta
boméns foram para essa cêrca, com suas mulheres, filhos e escravos. Tinham
dezessete armas de fogo e o mais paus tostados, dardos, zagunchos..
Reuniram alguns víveres. Ficaram três; meses.
Nos últimos dias de setembro de 1645 Jacob Rabi apareceu à frente de
grande giupo de indígenas e intimou-os a deixar o local, entregando a? armas.
Responderam que as armas destinavam-se a conter os selvagens e não com­
bater os holandeses, de quem possjüain passaportes e papéis garantindo-lheâ
vida e fazendas. **Teimou Rabi na reúdição. Repeliram-no e a luta começou.
Três vêzes o sinistro Rabi atacoú^e¿foi afastado, com ferimentos nos seus
be^Hais auxiliares. * Finalmente vpl&Ju'ao Castelo de Keulen e veio com um
tenente da tropa regislar flamenga :e dois canhões. Dava sua palavra que
nada sofreriam e os indígenas setiam afastados. Invocava a égide do Príncipe
de Orange e dos EstadòsGerais. Ou espatifaria ¿ .todos com tiros de
canhão.* Os homens renderam-se.Não havia outra alternativa.
Rabi conduzia para o Castelo de Keulen cinco reféns, Estevão Machado
de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira,. João da
Silveira e Simão Correia. * ~
Em Keulen estavam presps Antônio Vilela Cid,, seu filho Antônio Vilela
o Moço e João Lustau Navarro. E refugiados, tèméndo a indiada feroz»
encontravam-se o Padre Ambrósio Francisco Ferro, vigário de Natal, Fran­
cisco de Bastos, José do Porto (tinha um pôrto de pesca no rio Ceará-Mirim}
e Diogo Pereira.
Era o l.9 de outubro.- No dia 2 chegou o conselheiro Adriaen Bullestraeten»
Na manhã de 3 de outubro de 1645 foram êsses doze homens levados
Potengi acima, até Uruaçu. Viram logo duzentos indígenas e Antônio, Pá-
raupaba escaramuçando cüm cavalo, alegremente.
Desceram todos e foram mortos, com refinamentos de tortura.
; Terminada a primeira leva de mártires, foram à cêrca, meia légua do local»
e trouxeram os homens, sob pretexto de assinar papéis. Sacrificaram Antônio*
Beracho, Francisco Dias, o Moço, Manuel Rodrigues *'de Moura e sua
mulher, Manuel Alvares Ilha, João Martins e mais sete moços que recusaram
aderir aos flamengos, Antônio Fernandes e Diogo Pinheiro (ou Pereira) que
morreram matando, e Matias Moreira (em Diogo Dias de Santiago) ou Mateus
Moreira (em CASTRIOTO LUSITANO e na Relação de Lopo Curado
Garro), a quem tiraram o coração pelas costas e o mártir ainda gritou : —
Louvado seja o Santíssimo Sacramento !
A fonte informadora dessa história terrível, de anatomia dolorosa e de
traição inominável, é a BREVE, VERDADEIRA E AUTÊNTICA RELA-
ÇAO DAS ÚLTIMAS TIRANIAS E CRUELDADE QUE OS PERFIDIOS
HOLANDESES USARAM COM OS MORADORES DO RIO GRANDE
e que Frei Manuel Calado inicialmente publicou no VALEROSO LUCIDENO.
Escreveu-a Lopo Curado Garro, um dos chefes da rebelião na Paraíba, sobrinho
cr André Vidal de Negreiros, datada de 23 de outubro de 1645, reunindo
&s narrativas dos sobreviventes.
. Para os próprios flamengos a repercussão foi tremendamente antipática.
Num dos panfletos mais conhecidos, o BRASILSCHE GELT-SACK, («A Bôlsa
do Brasil», 1647, trad, do Pe. Geraldo Pauwels, Revista da Sociedade
dè'Geografia do Rio de Janeiro, XXJjíVH, 1933), lê-se: — «No Río Grande
não foi bem feito que se matassem os portugueses pelos tapuias, coman­
dados por um vagabundo imprudente, Jacob Rabi, que antes téria merecido-
— 84 —

a fôrça do que um comando ? Que se tomassem ai alguns em refém» le­


vando-os para o castelo» depois tirá-los de novo e matá-los friamente ?
Tal fato foi causa de se revoltarem os da Paraíba» que sem isso bem o
teriam deixado de fazer. Devido a este acontecimento» quando começou» Bul­
lestraten estava no Rio Grande; não poderia a sua sabedoria» ao admitir
tal coisa» imaginar que nos haviam de trazer prejuízo ?»
Falta a localização .do massacre e da cerca. Uruaçu é nome da região»
com lagoa e casario esparso. Não fica no rio Potengi mas à margem direita
de um seu afluente» o Cunhã-Ari, nascido na lagoa Tapará.
A cerca onde os colonos viveram três meses e de onde saíram para vir
morrer às mãos dos selvagens, chama-se TINGUIJADA. Tinguijad^ é o .
processo de pescar entontecendo o peixe com o samo do tingui. «Paullinia
pinnata». É pescaria n’água doce. No manuscrito MEMÓRIA DA FAMÍLIA
DE UTINGA, escrita a 3 de agôsto de 1840 pelo Sr. Manuel Maurício
Correia de Souza, guardado no arquivo do Instituto Histórico do Rio Grande
do Norte, lê-se que Antônio Vilela Cid e seu filho sucumbiram na TINGUI­
JADA.
Não foi exatamente na Tinguijada. Dista o ponto histórico uma meia
légua, talqualmente -a distância registada na narrativa de Lopo ' Curado
Garro, na margem do rio onde, ainda hoje, ancoram pequenas embarcações de
carga. O topónimo denuncia tfado. Ê conhecido como PÔRTO DO FLA­
MENGO. • ê ' *
A tradição oral é viva. Ao Mons. José Adelino Dantas, Reitor do Semi­
nário de Natal, que visitou o local em peregrinação com os seus clérigos,
os velhos moradores apontavam onde o Padre Ferro tinha, sido, sepultado,
há mais de trezentos anos.
O massacre foi em Uruaçu, no . lugar PÔRTO DO . FLAMENGO,
margem direita do Cunhã-Ari, afluente do rio Potengi. A cérea situava-se
na TINGUIJADA. Tudo no município deMacaíba.

JACÓ RABI, INSPIRADOR DA MORTE

A cidade do Natal guarda o sono tranqüilo de Jacó Rabi, delegado da


Companhia junto aos Janduis, inspirador e executor. dos. massacrés de Cunhaú,
' casa de Lostau Navarro e Uruaçu. «Prestigioso e temido entre os'tapuios, era
igualmente desadorado pelos portugueses e detestado pelos flamengos», escreveu
Alfredo de Carvalho. Reunia a unanimidade no ódio e a mais sombria recor­
dação de sua violência bestial.
Era um judeu alemão de Waldeck, vindo para o -Brasil com o conde
João Maurício de Nassau, em janeiro de 1637. Ficou quatro anos entre
os cariris chefiados pelo centenário e feroz Jandui que dava nome ao grupo.
Para êle e seus súditos Rabi, do alemão Rabe, o corvo, era a criatura mais
amável, serviçal, compreensiva e amiga do mundo inteiro. Amavam-no até
o delírio. Rabi não tentou elevar o espírito selvagem mas fêz êle próprio um
■curso prático de barbaridades proveitosas. Todos os assaltos, saques, tropelías,
morticínios dos Janduis rendiam gado, roupa, jóias, ao amigo Rabi. Ninguém
confiava naquele sórdido e desconfiado europeu inteligente e branco, que era
por dentro um cariri autêntico, desde o temperamento aos costumes diários.
A Companhia fê-lo seu Delegado junto ao chefe Jandui. Jacó Rabi tornoi’
essa tribo uma espécie de matilha fiel, sempre pronta ao aceno do caçado
para perseguir e despedaçar a. caça levantada. Quando não havia ordem d :
saquear Rabi saqueava, por sua conta e proveito, . E não dava contas a
ninguém.
No massatre e incêndio do engenho Cunhaú morreu o sogro de Garstma
e êste tomou-se de ódio mortal ao onipotente intérprete dos Janduis.
— 85 —

Depois de lenta conspiraç&o decidiu-se a mandá-lo matar por um oficial,


o alferes de Bollan, da guarnição militar do Castelo de Keulen. Cercado d«
inimigos, Rabi deixara o sertão e estava residindo perto do Forte, com sua
espôsa cariri, a janduí Domingas, ocultando os sacos cheios de anéis, colaren
brincos de orelha e até roupa de crianças, arrancados aos portuguêses mortos
nas expedições felizes que planejara calmamente.
Garstman, tenente coronel, estava em Natal, hóspede do Castelo de
Keulen, comandado pelo capitão Johan Blaenbeeck. Mandou convidar Rabí
para uma ceia na casa de Dirk Mulder van Mel que julgo ser nas proxi­
midades do Refoles. Outros oficiais foram convidados. Jacó Rabi compareceu,
a cavalo, seguido por um escravo negro. Trocaram saúdes, comendo e
bebendo até horas velhas da noite. Depois Garstman saiu e Rabi deixou a
casa, procurando sua montada para regressar. Neste momento ouviram dia»
detonações. £ logo a notícia de um assassinato.
Dirk Mulder van Mel descreveu no seu depoimento o aspecto do cadáver
de Jacó Rabi : — «deformado por vários golpes de espada no rosto, na cabeça
e no braço direito. Uma bala penetrara-lhe do lado esquerdo do corpo, fa­
zendo um ferimento tão profundo que o depoente tinha podido meter nêle dois
de seus dedos até ao fim. Uma outra bala varara-lhe o lado direito abaixo
das costelas falsas. As algibeiras da vitima tinham sido voltadas e faltava-lhe
um anel de ouro, que ainda trazia no dedo quando saíra de casa do depoente.»
Era a noite de 4 de abril de 1646. Sepultaram o corpo ali mesmo. Ofe­
receram as calças do morto, aos escravos coveiros. «Mas, como o pano das
calças já eta muito velho e estava müito sujo de sangue, os negros as lançaram
ao rio.»
O espólio foi dividido entre Garstman e seus amigos. O bailio do Rio
Grande, Johanes Hoeck, fêz um rápido inquérito, arrebanhando escravos, o
gado, bois, cabras, cavalos, animais que Rabi tomara aos colonos assassinados,
ou ausentes, e deixou tudo sob custódia porque queriam furtar. A viúva-
debalde pediu indenização à Companhia. Nem um florim recebeu.
O secretário de Garstman, Abrão de Rouff comunicou o crime ao tenente
coronel. Êste disse: «Antes êle do que eu...»
Depois que o truculento orientador desapareceu, molhado de sangue, os
Janduis recuaram e não houve mais grupo indígena que repetisse Cunhaú ou
Uruaçu.
Jacó Rabi era homem inteligente e observador. Suas notas registando
a vida íntima dos Janduís são depoimeúto precioso para a etnografía dessa tribo
e o grande Marcgrav aproveitou-as num trabalho. Sabia desculpar-se e defen­
der-se com eloqüência, culpando sempre os seus bravios pupilos cariris.
Essa torva figura de sicário só ressuscita para evocar os crimes prati­
cados com a naturalidade de uma profissão.
Por isso Frei Rafael de Jesus, no CASTRIOTO LUSITANO, escreveu,
ainda indignado em 1679 : — «Aleivoso Jacobo, fementido por nascimento, sel­
vagem por habitação, cruel por uso e bárbaro por trato !»
BEATI QUIA QUIESCUNT. Felizes os que dormem. Deixemo-lo
dormir...

O BRASÃO HOLANDÊS DO RIO GRANDE


Em 1639 o conde Maurício de Nassau distribuiu brazões d’armas às Capi-
I tañías sob seu domínio. Pernambuco, uma moça que se mirava num espelho
e segurava uma cana de açúcar. Itamaracá, cachos de uvas. Paraíba, pães de
açúcar. O Rio Grande, uma ema.,
Certas vilas, ou distritos pernambucanos, tiveram honra idêntica. Igaraçu,
três carangueijos, Serinhaém, um cavalo branco. Pôrtó Calvo, três morros.
Alagoas, três tainhas.
Ï-
«
— 86 —

Tudo se explica mais ou menos. Menos a ema no escudo do Rio Grande


do Norte holandês.
Basta citar Barléu» o historiador oficial de João Mauricio de Nassau.
Escreveu o conspicuo Barléu : — «A Provincia do Rio Grande tinha por armas
UM RIO, EM CUJAS MARGENS PISAVA UMA EMA» POR SER ALI
MAIOR A ABUNDÂNCIA DESSA AVE (trad, do prof. Cláudio Brandão»
Rio de Janeiro» 1940). Não é preciso fazer bibliografia porque uns citam
datros e Barléu é autoridade mansa e pacífica. ___
Esqueceu Barléu de anotar o moto que é VELOCITER.
A ema nunca foi em tempo algum caracetrística de fauna norte-rio-grandense
e especialmente no domínio holandês. Conhecemos muitos relatórios de viagens
e notícias de chefes militares minuciando as coisas vistas e não aparecem as
emas. Nem seriam aves tão estranhas aos olhos de Nassau que justificassem
a escolha* .
Sempre pensei que havia um sentido oculto e simbólico no elemento
vivo e eleito para sintetizar o Rio Grande, a PROVINCIA FLUMINIS
GRANDIS.
A. maior produção da Capitania não era ema, açúcar, sal, milho, ou
farinha. Era o gado, i carne, a boiada, os fundamentos da ocupação fla­
menga e por êsse motivo preferiram êles massacrar a' população branca a
perder os currais que forneciam comida aos quartéis e moradores do Recife.
Qualquer fonte holandesa dirá o mesmo? Nieuhof, o Journael de Arnhem,
o SOMMIER DISCOURS, cs relatórios de Dussen e de Artichofski, Netscher,
Watjen, Moreau, todos os informantes acertam pelo diapasão único. O Rio
Grande mandava o gado.
Se Nassau quisesse expressar no escudo da Capitania a produção mais
certa, abundante e comum, recorrería ao gado e jamais à ema, pouco apete­
cível ao paladar batavo como acepipe.
Creio que a Ema do escudo flamengo é uma homenagem de Nassau ao
chefe Nanduí, cariri que dera nome à sua tribo.
Não houve durante os oito anos da admissão de Nassau um indígena
de maior nem mais decisiva importância militar e política. A Companhia
mantinha junto ao chefe selvagem um delegado, o ilustre Jacó Rabi, encarregado
de intérprete e simplificador das vontades impulsivas do velho cariri.
Ê o JANDOVIUS de Barléu, o JEAN DOVI de Roulov Baro, o JOÃO
DUI do Marquês de Basto, o JAN’ DE WY do conde de Nassau.
Com mais de cem anos e tendo sessenta filhos, Jandui era imponente e
poderoso. Governava sua região como um soberano consciente de fôrça e de
autoridade. Sua aliança com os holandeses trouxera-lhe prestigio e nenhuma
áaodificação em sua conduta e maneiras. Jacó Rabi registou pacientemente a
vida dêsses cariris e Marcgrav aproveitou essas notas. Barléu dedica algumas
páginas consagradoras ao rei Jandui. Netscher confessa que muitas vitórias
>e sucesso deveram os flamengos ao seu auxílio. Quando êle, em 1646, aban­
dona os aliádbs, furioso com o assassinato do querido Rabi, Nieuhof queixa-se,
desolado, da defecção que anoitece a confiança de todos.
Jandui é o chefe das tropas fiéis, prontas, irresistíveis. É o homem da
natüreza, espécie de Cunhabebe às ordens de um conquistador que cursara as
universidades flamengas.
Quando vinha a Amsterdan (nome holandês de Natal) hospedavam-no no
Castelo de Keulen, com as honras, gabos e regalias de um oficial Superior.
Jandui é nome tupi, corrução de NHANDU-1, ema-pequena, e por auto-
nomásia, o corredor, o que corre muito. Daí o lema, VELOCITER.
E parece nada mais lógico que a Ema, NHANDU-I, estar no escudo da
terra cujo sertão se governava pelo devoto Jandui.
JANDUI é a Ema do brasão holandês no Rio Grande do Norte.
— 87 —

GOVÊRNO HOLANDÊS NO RIO GRANDE

Quando os holandeses se apoderaram da Capitania do Rio Grande o


govêrno era simples e já possuia as principais peças.
Havia o Capitão-Mor, primeira autoridade militar, comandante da guar­
nição e do Forte dos Reis Magos, ganhando cem mil réis por ano e tendo
jurisdição civil para doar datas de terras. D. Diogo de Meneses, Governador
Geral do Brasil, nomeara em 1607 Provedor e Tabelião em Natal. E em
1611 havia governança legal, uma administração municipalista, com Juiz, um
vereador e escrivão da Câmara, procurador do Conselho e Procurador dos
índios, eleitos pela Relação da Bahia e posteriormente eleitos pelos homens
bons da terra. O Provedor da Real Fazenda tinha-Escrivão e mais um almo-
xarife. O Vigário ganhava o duplo do Capitão Mor, 200$ anuais, o mais bem
pago dos servidores de Deus e de Sua Majestade. Em 1612 é que o Capitão
Mor começou a receber os duzentos mil réis cada doze meses. Com êsses ele­
mentos governava-se a gente do Rio Grande.
Não sabemos do nome do Vigário de Natal em 1633. Seria Ambrosio
Francisco Ferro ? Certo é que havia um, porque o prenderam três anos depois.
O Provedor era Pedro . Vaz Pinto çfae estava em Natal no ano de 1612 e
tinha um pôrto de pescaria na Redinha. O Capitão-Mor era Pero Mendes
de Gouveia que se bateu até cair ferido gravemente.
Os flamengos deixaram o comandante do Castelo de Keulen, Joris Garst­
man, como dono da praça e capitão de 150 soldados. Era a força executiva
e única. Governava sozinho.
Em janeiro de 1637 apareceu nova forma administrativa que durou todo
o domínio batavo. Criaram as Câmaras dos Escabinos presidida pelo Esculteto,
de SCHOUT, Bailio. Os Escabinos eram eleitos anualmente em processo
de três graus. O Conselho de Justiça no Recife nomeava os eleitores e êstes
organizavam as listas dos nomes dignos do cargo e o Supremo Conselho de­
signava, por escolha, os Escabinos e o Esculteto. O número variava de nove
a três. No Rio Grande eram apenas três. O Esculteto era sempre um holandês
importante e às vêzes não sabia uma só palavra de português.
O Esculteto era a autoridade executiva municipal, promotor público e
delegado do Conselho Político na localidade. Era o poderoso exator da
fazenda. Reunia civil, crime e comercial, como vêem. Correspondia a um
Prefeito Municipal, Chefe de Polícia e Inspetor Fiscal. Tinha direito de
requisitar soldados. Fácil é compreender a vastidão dêsses direitos que o
arbítrio tornava infinitos e incomprimíveis.
Havia também os WAISENMEISTERS, Curadores Municipais, dois por­
tuguêses e um flamerigo encarregados de defender as propriedades e direitos
dos órfãos. Esbarravam sempre nos mais fortes.
De qualquer decisão havia recurso para o Conselho Político do Recife
.que naturalmente abaixava orelha amável às vozes holandesas.
Freqüent^mente a circunscrição da Capitania era visitada por um Conse­
lheiro onipotente, para ouvir e providenciar os negócios locais.
Em abril de 1645, quando mataram Jacó Rabi, o Bailio do Rio Grande
ou Esculteto, era Johanes Hoeck e continuava neste pôsto em março de 1649
quando Matias Beck passou para o Ceará, sonhando desencavar fabulosas
minas de ouro e prata.
O capitão que substituiu Garstman erà Johan Blaenbeeck e em 1649 (
ocupava o comando do Castelo de Keulen o comandante J. Douninger, segando
o JOURNAEL VAN MATHIAS BECK UYT SIARA. Em 1639 era o
capitão Bijler, com 88 soldados.
. Depois de outubro de 1645, com a morte do padre Ambrósio Francisco
Ferro, ficou a Capitania sem assistência religiosa católica. Os calvinistas
— 88 —

faziam apenas vir um KRANKENTROSTEN, fazendo pregação e visitando os


enfermos, temporariamente
Não pude descobrir sinal de sinagoga em Natal. A atual Catedral, em
sua primitiva construção, era o templo da Religião Reformada. Quando os
holandeses deixaram a cidade incendiaram-na, destruindo-a completamente. Foi
uma luta bem longa sua reconstrução e reformas cuja história Nestor Lima
escreveu. MATRIZ DE NATAL (1915), e para onde remeto o leitor.
Depois de 1654, com a expulsão dos "flamengos, foi preciso refazer tudo.
A Capitania estava um deserto.
O primeiro Capitão-Mor, reposta a terra no poder legitimo, foi Antônio
Vaz Gondim (Vicente de Lemos, CAPITÃES-MORES E GOVERNADORES
DO RIO GRANDE DO NORTE, 21, RIO DE JANEIRO, 1912)

O RIO GRANDE DO NORTE QUE O HOLANDÊS CONHECEU

O holandês conheceu o litoral e a região do agreste norte-rio-grandense


Os municipios do seu dominio compreendiam parte essencial de Canguaretama.
Goianinha, Arês, São José de Mipibu, Natal, Macaíba, o antigo São Gonçalo
e o vale do baixo Ceará-Mirim Há um salto pelas praias pouco freqüentadas
mas era caminho sabido. Conheceu e utilizou as salinas de Areia Branca
Do rio Guaju para o norte começava a PRAEFECTURAE FLUMINIS
GRANDIS com sede na antiga Cidade do Natal, chamada pêlos flamengos
AMSTERDAM, com o quartel general no Castelo de Keulen, antigo Forte
dos Reis Magos.
O mapa de Maregrav, que é mais informativo dando até os itinerários
desde Sergipe, regista até a B. DE PABA que é a BAIA DE GENIPABU,
de DOMINGOS MARTINS ou MARTIM THYSSEN. No interior, em
breve risco, lê-se CIARAMIRIM, Ceará-Mirim, o rio denominador.
Pelo interior dos municipios possuídos pelo holandês ia-se até Piquiri»
Pedro Velho, tôda a redondeza das lagoas de Guaraíras, Papeba e Paraguaçu
(Papari) e São José, várzeas do Jacu, Baldum, Sapé, Capió, taboleiros para
Cajupiranga, Pitimbu e Natal, incluindo os vales úmidos do Maxaranguape.
Fazendo pião em Natal o batavo irradiou-se pelo Potengi, Jundiai, com
os respectivos afluentes, No rio Potengi a extremidade é ITIÑGA, UTINGA,
trinta quilômetros de Natal.
Os vales de São Gonçalo assim como Macaiba foram aproveitados mas
apenas em roçarias e criação de gado. O único engenho, corrente e históri­
camente moente, era o de Cunhaú.
O vale do Baixo Ceará Mirim, aconselhado para cana de açúcar desde
1614, era zona pecuária. Em princípios do século XVIII TAIPU era a
mais longínqua povoação da Capitania. É de crer não ter sido povoada na
primeira metade do século anterior.
A lagoa de Estremoz, ITIJURU, com seu rio escoadohro, teve uso
holandês e consta dos mapas como terra de grangearia, roças de mandiocas»
farinhadas indispensáveis à alimentação seiscentista.
.No mapa de Vingboons (n.9 45, edição do Dr. F. C. Wieder) o rio
Ceará-Mirim, óu SEARA MIRIM, é. o limite do conhecimento do holandés no
Rio Grande do Norte e nem mesmo a lagoa de Estremoz está marcada.
Em compensação prolonga-se o rio CAMARIGIUY (Camaragibe) até o infi­
nito, dando três propriedades além de OUTINGA onde há sinal de engenho
de açúcar. Nos percursos dos rios Vingboons é de invenção delirante.
Naturalmente os roteiros e mapas de navegação holandesa trazem deno­
minações referentes às nossas praias, PEQUIHNGA, que é PITITINGA
B. TORTUGO que Orville Derby julgava ser a BAIA DE AGUAMARE
ou GUAMORÊ, DOBBEL BAY que é a PONTA DO MEL, MOGGEROU
— 89 —

possivelmente o Rio MOSSORÓ, R. VPANEMA, o UPANEMA. etc. Mas a


zona das salinas, sabidamente identificada pelo portugués desde fins, do
século XVI, é que teve rápida ocupação industrial pela mão batava, ajudada
pela indiada que depois se revoltou e matou os brancos.
Os rios que delimitam a produção salineira de Gedeon Morris de Jonge
e seus continuadores, pseudos descobridores das salinas, são o YWIPANIM,
o MEIRITUPE e o WARAROCURY. O primeiro é o UPANEMA. com
octra barra, entulhada no correr do tempo. O UPANEMA atual, com o
APODL é o rio MOSSORÓ, caindo no Atlântico em Areia Branca. O MEI-
RTTUPE seria um desaparecido afluente do rio MOSSORÓ, morto pelo
das dunas de areia sôlta. *
O rio WARAROCURY parece-me o rio MORRO BRANCO, outrora
d^=^-jando no mar e presentemente no rio MOSSORÓ.
Essa era a zona das únicas salinas holandesas, terras litorâneas no muni­
cipal dç Areia Branca. As salinas de Macau não foram trabalhadas pelo
Eszreooo.
De um modo geral o holandês possuiu terras norte-rio-grandenses num
nc òe quarenta a cinqüenta quilômetros da pancada do mar. A ocupação
rejEar e normal não alcançava cinco a seis léguas, partindo do litoral.
A região mais povoada e trabalhada pelo flamengo foi o agreste, Natal até
^rama, perto dos rios torrenciais, população mais ou menos garantida
pés. proximidade das guarnições holandesas, comboiadoras dos produtos para
Rezfe embarcando-se em Natal e nos portos da embocadura dos rios (Pirangi,
— ~-m. Barra de Cunhaú) para a Cidade Maurícia. Todo o sertão cons-
mistério, rasgado durante a guerra dos Cariris, na década final do
sérr r XVII.
é realmente o Rio Grande do Norte qUe o holandês conheceu. •
As omras histórias são tradições orais desacompanhadas de provas dignas de
rrsy—. c merecedoras de citação.

O EPISÓDIO DE JAGUARARÍ

O primeiro registo fê-lo o Marquês de Basto, Duarte de Albuquerque


Cúcjic Conde e Senhor de Pernambuco, no seu MEMÓRIAS DIÁRIAS
DA GUERRA DO BRASIL, publicado em Madrid, 1654. «Ainda que pareça
n referir o que nesta ocasião sucedeu a um índio, resolvo não olvidá-lo,
Idbsi dependência do mesmo acontecimento, e pelo exemplo que não só
poce cpor-se, como vencer fidelidades; e não a vileza com que alguns fal-
ferzm ali à sua obrigação. Chamava-se entre nós Simão Soares, e entre os
«2 'zguarari. Era dos mais principais, e tio de Antônio Felipe Camarão. Quan­
do ao ano de 1625 estiveram os Holandeses na baía da Traição com seus
mavios. introduziram-se com êles ' alguns índios, por sua natural facilidade.
Emre êles a mulher e filho dêste Simão Soares, o qual, obrigado do amor :
ço* lhes votava (porque até nestes quer êle que se sinta seus efeitos),
e^ vscu-se também a êles para ver se podia conseguir a liberdade de quem o
«rrzstava à escravidão. Só a isto foi; e nunca se p.ovou contra êle outra
¿guma coisa. O inimigo afinal o deixou, e sua mulher e filho e outros,
levando somente uns vinte para . ensinar-lhes sua língua, e servir-se depois
déles, como já fica dito.
O capitão, que era naquele ano de 1625 da praça do Rio Grande, por
êste indício, prendeu o índio, que ainda agora em 1633 jazia em ferros.
Parecendo a todos que se acaso o forte se perdesse, não convinha que o
inimigo encontrasse ali êste índio tão escandalizado, pelo que lhe poderia
«ervir com os seus contra nós. em vingança do-'que sofrerá, persuadiram
— 90 —

por isso ao capitão Gouveia que o mandasse deitar pela muralha para a
banda do mar. Fêz-se em um pau» para que pudesse sair para a banda
do sul, que era da Paraíba; e tirando-se-lhes os ferros, o deitaram mais para
afogar-se do que para chegar em terra. Porém pôde chegar até uma légua;
e encaminhando-se à primeira aldeia de índios, deu-se-lhe a conhecer, e
falou-lhes pouco mais ou menos desta forma:
— «Aqui me vedes nu, e com os sinais ainda frescos dos ferros que oito
anos suportei, por ter comunicado com os Holandeses na baía da Traição,
po intento de tirar minha mulher e filho que lá estavam. Havendo-me vencido
pmor não me valeu ter provado bem minha fidelidade, nos muitos anos
que servi ao rei, e particularmente na conquista, do Maranhão, com muita
gente mais» quando Jerónimo de Albuquerque o ganhou dos Franceses. Da­
quela prisão me soltaram agora, por estarem os Holandeses sôbre o forte
do Rio Grande, que, a uão ser isto, bem receiava eu morrer nos ferros.
Porém nada há de ser bastante para manchar núnha antiga fidelidade com
a qual sempre servi e servirei ao meu rei. Portanto, rogo-vos que vos sirva
de exemplo e não de escândalo, o tratamento que sofri; porque se o forte
le perder, advirto-vos que tódos vos retireis com vossas famílias para onde
fros fôr ordenado pelos capitães del-rei, para que nunca venhais a cair no
/roder do inimigo. Escusareis assim a ver-vos em uma infame servidão. E
Be o nosso forte se defender, daqui o iremos socorrer com o que nos fôr
possível. Entenda finalmente cada um de vós que se qualquer faltar à obri­
gação de bom e leal vassalo do nosso, eu lhe servirei de verdugo.
Assim falou e obraram tanto estas palavras, não só para com os índios
daquela aldeia, como para os das outras que ali havia, que todos as aban­
donaram apenas souberam que o inimigo estava de posse do forte. Êste
índio Simão Sores, em tôdas as ocasiões que depois houve, acompanhou seu
sobrinho Antônio Felipe Camarão até que foi preciso retirar-se à Baía. Sua
Majestade lhe fêz mercê de 750 reais de soldo, com cláusula de que por sua
morte passariam à sua mulher e filho’» (133-134 da edição do Recife,
Pernambuco, 1944).
Roberto Southey, HISTÓRIA DO BRASIL, II.°, 253-254, elogiou a
fidelidade d'um cacique e outros historiadores tornaram o episódio popular,
pôsto em prosa e verso e útil nas perorações eloqüentes e patrióticas. No
DIÁRIO DA EXPEDIÇÃO, de origem holandesa, traduzido por Alfredo de
Carvalho (RIHGRGN, IV, n.° 2, 187-8) menciona-se o encontro, na ocasião
da posse do Reis Magos, de caído por terra um brasiliense todo coberto de
sangue, encontrado ao pé da muralha no lado do oeste. Estava morto. O au­
tor adianta: — O brasiliense que encontramos morto ao pé da muralha sou­
bemos ser o chefe duma aldeia dos mesmos, e que hau ia muito tempo estava
prêso por se suspeitar que era inclinado aos holandeses. Os portuguêses cer­
tos de que, após a entrega do forte, êle se passaria para o nosso lado, o estran-
guiaram e lançaram por cima da muralha. Trata-se visivelmente de Jaguarari.
Não é crível que dessem liberdade a um chefe indígena prêso há tantos anos
por suspeitas de simpatia ao holandês e no momento em que êste cercava ê
estava na eminência de tornar-se senhor do Forte. Lógicamente o indígena
seria um dos auxiliares preciosos do inimigo, com justas e naturais razões
humanas, dada a violência da injustiça sofrida. Feriram-no e atiraram-no para
fora do Forte na suposição de que estivesse morto ou agonizante. Jaguarari
sobreviveu, resistindo ainda a essa prova, e cumpriu, em grau heróico, seu
fidelismo. Pode ser «estória» criada para animar os indígenas mas há a
mercê do Rei, dos 750 reais, o que credencia a historicidade do feito.
CAPITULÓ IV
( I ) Reconstrução da Capitania e .sua expansão territorial.
(II) Guerra dos “Bárbaros”-. (Ill) Aldeamentos in­
dígenas.
ADENDO AO CAPÍTULO QUARTO

— Instrução e Memorial do Senado da Câmara a


El-Rei de Portugal em 2 de julho de 1689.
— O título de Conde do Rio Grande.
4
Expulsos os holandeses, terminada a guerra, a Capitania fi­
cara desvastada. A população quase desapareceu. Plantíos, gado,
destruídos. Os flamengos tinham incendiado as casas principais,
queimando os livros de registo. Ignoraremos sempre a extensão
das terras doadas pelo Conselho, porque, criado éste, o Capitão-
Mor concedia apenas fora da "légua do Conselho”, limite de
sua jurisdição.
Aires do Casal informa que parte da Capitania teria sido
dada a Manuel Jordão, de quem desconheço vida e feitos justi­
ficativos da mercê de D. João IV, autor de tão curiosa forma de
agradecimento aos seus vassalos norte-rio-grandenses. «No ano
de 1654 deu el-rei D. João IV parte desta província a Manuel
Jordão; que pereceu naufragado na ocasião do desembarque; e
por cuja morte tornou o terreno para a Coroa.”
A Capitania reorganiza-se sob a administração de Antônio
Vaz Gondim, o primeiro Capitão-Mor depois da derrota flamenga.
Com êle a Capitania recomeça sua existência. Vaz Gondim gover­
nou três trienios, de 1654 a 1663 e ainda de 1673 a 1677. Fôra
soldado de Guararapes, governando a fortaleza de Nazaré do
Pontal. Devemos aos seus cuidados a tranqüilidade indispensável a
um longo serviço de repovoamento e reinicio dos trabalhos nor­
mais. Concedeu terras no rumo do sul e oeste, Potengi, Mipibu,
Cunhaú, restaurando o Reis .Magos, dando ritmo à construção
de casas na Cidade, reconstruindo a Matriz, ou iniciando anima­
damente a tarefa, promovendo a vinda de 150 moradores, de
duas companhias de Infantaria, uma para o Forte e outra para a
Cidade, nomeando oficiais de justiça, escrivães de órfãos, de datas
e sesmarias, da Fazenda Real, do Senado da Câmara. Elege-se,
a 16 de abril de 1662, o Senado da Câmara sendo Juiz mais
velho Francisco Mendonça Eledesma, Juiz, Francisco Pires, verea­
dor mais velho Inácio Pestana, vereador mais moço, Francisco
Rodrigues, procurador. Foram essas as nossas primeiras autori­
dades conhecidas, pelo voto popular dos "homens-bons”, na escolha
legal.
O Padre Leonardo Tavares de Melo viera pastorear o rebanho
abandonado e construir, em palha e barro, a Capelinha arrazada.
Tínhamos quatro aldeias de indígenas católicos. Os recursos eram
— 94

mínimos, obrigando o envio de quase todo o necessário. O gado


estava disperso, tornado bravio na solidão. A indiada, inquieta
corría sôlta, alarmando os moradores espalhados no interior. De
1672 em diante, com auxílio de todos os colonos, a Capela de
N. Sra. da Apresentação foi sendo reconstruída, com material
mais duradouro. Terminou a obra em 1694, data gravada numa
pedra que está na soleira da porta principal da Catedral. Veio
reforço para o Forte. Em 1674 o Governador Geral, Lins de
Brito e Almeida, nomeou um Ouvidor da Capitania, Lázaro de
Freitas Bulhões por um ano. Era um leigo mas significava uma
autoridade judicial.
Com Geraldo de Suni (1679*1681) alarga-se a área con­
quistada ao sertão. Já no tempo de Vaz Gondim o Ceará-Mirim
se dividia em dois distritos. Ceará de Cima e Ceará de Baixo.
João Fernandes Vieira recebeu uma sesmaria compreendendo dez
léguas de outras tantas para o sertão, da barra do Ge^rá-Mirim,
pela costa até Touros (22 de junho de 1666)'.. A exploração das
salinas se tornava popular e regular no litoral de Tgutfos, vindo
barcos da Paraíba, Itamaracá, Pernambuco e Pôrtq Calvo, con­
sideradas praias realengas, a serviço público, insusçeptíveis de
utilização exclusivamente individual. Com Geraldo de Suni avan­
çam as sesmarias pelo Seridó, com Luís de Souza Furna, Antônio
Lopo e Pedro de Albuquerque Câmara, em 28 de novembro de
1679, nas serras do Trapiá e Acauã. Aos Nogueira Ferreira doou
terras na ribeira do Apodi. Seu sucessor, Antônio da Silva Bar­
bosa, (1681-82), concedeu sesmarias na ribeira do Açu, partindo
do riacho Paraíbu nas cabeceiras do Piató, atingindo o rio Xoró,
Xororó, Mossoró e raia do Jaguaribe, em data de 24 de dezembro
de 1681. Os beneficiados, Estevão Velho de Moura, José Pei­
xoto Viegas Manuel da Silva Vieira e Antônio de Albuquerque
Câmara, foram os iniciadores da fixação demográfica nessa zona.
Albuquerque Câmara, grande latifundiário, teve seus desencon­
tros com a indiaria, na necessidade inadiável de obter o braço
servil, gratuito e farto, para o arroteamento das roçarias e amanho
do gado. Estevão Velho de Moura, depois Sargento Mor de
Infantería de Ordenança no Ceara, (1688), alegava “ser dos
primeiros que tratou pazes com o gentio que habitava nos sertões
do Rio. Grande com dispêndio de sua Fazenda.»
A 22 de julho de 1684, o Capitão-Mor Manuel Muniz, que
administrava desde maio de 1682, num relatório a el-Rei dava
resumo melancólico da situação. Os moradores estavam espalha­
dos em vastas áreas, desabrigados de recursos de defesa, residindo
em casebres frágeis, nas regiões borbulhantes de indígenas inquietos
e ávidos. O Forte dos Reis Magos possuia entre quinze a vinte
— 95 —

soldados para defensão. Vêzes reduzia-se a guarnição a seis


homens. Constava a munição de dois barris de pólvora grossa e
muito velha, setenta balas ainda dó tempo dos holandeses, seis
cunhetes de balas para mosquetes, doze peças de bronze e nove
outras de ferro, imprestáveis pela ferrugem. Os quartéis e aloja-
mentos caíam de arruinados. O forte disporia, em certo momento,
de ofce iia homens das Ordenanças, número insuficiente se Natal
fosse atacada. Tôda a Capitania contava, com trezentos brancos
para as armas, incluindo çem solteiros, com coragem problemática
na ação guerreira. Os duzentos que ficassem oporiam resistência
eôcaz a uma avalanche indígena, despencada dos altos sertões e
rolando para o litoral, com fome e sêde de vingança?
Sem elementos para fazer valer sua autoridade, Manuel Mu­
ni:, que se batera valentemente nas. duas batalhas de Guararapes,
ir Formava ao Senado da Câmara de Natal : — “Vivo metido numa
casa como simples particular, sem força para prender e castigar
desaforados criminosos.»
Os sesmeiros, ou seus prepostos residentes nas terras do
interior, sem recursos para comprar negros da Guiné ou de
Angola, premidos pela obrigação de viver, recorriam freqíüente-
mente à captura dos indígenas, forçando-os às tarefas da agri­
cultura, serviço que, nas tabas, pertencia às mulheres como im­
próprio para guerreiro. Essa escravidão, à revelia do Govêrno
Geral, era mantida em estado latente. . A esperança do colono
consistia na decretação de uma guerra justa contra determinada
tribo. Os homens obtidos no curso dessa campanha ficavam legal­
mente pertencentes aos seus captores. Fomentar uma guerra,
que o Govêrno declarasse justa, isto é, de indispensável defesa e
destinada a repelir e reduzir a insolência do selvagem, era um
processo inseparado da própria manutenção colonial. Daí uma
sene de provocações, de negaças, de violações que o indígena
deveria sofrer ou rebelar-se. A rebeldia, armada, depredadora,
assassina, justificaria, juridicamente, uma guerra justa, sonho co­
letivo para ter braços para a lavoura e cuidado às boiadas, sob a
custódia dos mosquetes.
A paisagem social que Manuel Muniz desenhou é quadro
fiel e completo. Os colonos, simples, rudes, esperavam que uma
tribo saísse a campo para combater e ser vencida. Os derrotados aca­
bariam seus dias como escravos. Ninguém supôs que o fogo se
alastrasse por todo o campo, incendiando tudo. Um levante geral,
espécie de confederação bárbara, derruindo fazendas e casas, gados
e vidas, numa linha de centenas de quilômetros, pondo em pé de
guerra milhares de guerreiros, nunca passou pela cabeça de nin­
guém .
— 96 —
f

Foi justamente o imprevisível, o incalculado, o que ocorreu


na plenitude da força e da fúria destruidoras.

(H)
Denominam essa rebelião GUERRAS DOS BÁRBAROS,
e outros románticamente, CONFEDERAÇÃO DOS CARIRIS,
lembrando a dos Tamoios, que sempre ignoraram essas compli­
cações civilizadas para finalidades idênticas. Não houve plano
comum nem unidade de chefia. As tribos combateram aliadas ou
isoladas. Outras regiões estavam quietas, acordando para a morte
quando o fogo se apagava onde começara. Muita confusão.
Muita luta. Muito mistério. É urna campanha que dura de 1687
a 1697, com intensidade, e de menor fulgor predatório até 1700.
É a maior que o Brasil conheceu em todos os tempos. Mobilizou
gente de tôda a parte. Vieram homens de São Paulo e do São
Francisco, soldados veteranos e bandeirantes afoitos, amalgamados
pela coragem e pelo interêsse. Várias vêzes a sorte da Capitania
perigo.i. Pensou-se num êxodo. Os Cariris fizeram muito mais do
que o ornamental Cunhanbebe com seu colar de dentes humanos,
dando três voltas no pescoço. Verdade é que faltou José de
Anchieta. E havia, disfarçadamente, quem atiçasse a coivara não
a deixando de todo extinguir-se.
Os indígenas do interior estavam sendo empurrados pelos
criadores de gado no incessante avanço dos currais. Na falta
da escravaria negra todos sonhavam escrávos indígenas, obtidos
nas “gueiras justas”. O indígena salteava o gado, para êle simples
peça de boa caça. O rio Açu abrigava dezenas e dezenas de
barcos de pesca de Pernambuco, e doutras Capitanias, com comu­
nicação írêqüente e comércio com a indiada, inclusive venda de
armas de fogo. A fôrça militar na Cidade do Natal era irrisória.
Quinze soldados vinham de Pernambuco mas comuwiente deser­
tavam e ficava o Forte, às vêzes, sem um único militar, abando­
nado, inútil. Canhões ferrugentós, pólvora velha, balas do tempo
; dos holandeses. O regime era da papelada intensa, correspon-
dência entré o Capitão-Mor do Rio Grande, Senado da Câmara,
Capitão General de Pernambuco, sempre a favor do contra em
tôdas as pretensões do Rio Grande, cartas do Rei, trocas de pe*
< didos, consultas, reclamações incessantes »abundantes e sem, na
maior parte das vêzes, solução alguma. Os canais competentes,
já naquele tempo, estavam obstruídos pela displicência, indife­
rença, descaso, ignorância, os pecados do desinterêsse que a dis­
tância multiplica.
97 —

Chamamos GUERRA DOS INDIOS essa campanha que se


estira, em sangue e fogo, anos e anos, arrastada em ordens, ins­
truções, determinações e memórias em alta porcentagem absoluta­
mente anodinas, vagas, inoperantes, aparecendo quando ninguém
mais atinava'xçom a existência delas. Foi uma lição que ninguém
aprendeu, continuando a pensar na criação do Corpo de Bom­
beiros quando há incêndio.
Não é preciso minuciarxas peripécias da luta. Não há tempo,
curiosidade psicológica, para o assunto. Vicente de Lemos, CAPI­
TÃES-MORES E GOVERNADORES DO RIO GRANDE
DO NORTfí, 38-79, Rio de Janeiro, 1912, Tavares de Lira,
HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE, 233-278, Rio de
Janeiro, 1921, são os expositores indispensáveis.
Em agôsto de 1685 os indígenas da região do Açu, espe­
cialmente, Janduís, movimentam-se hostilmente. Em paz realmente
nunca tinham vivido. Vários Capitães-Mores anteriores foram
obrigados a ir aquietar o indígena, num e noutro ponto, com a
espada na mão. Em fevereiro de 1687 a situação estava declarada,
Os indígenas corriam incendiando, matando o gado e os vaqueiros
e plantadores do sertão. Pascoal Gonçalves de Carvalho, o Ca-
pitão-Mor, pediu socorro ao Governador de Pernambuco, João da
Cunha Souto Maior, ao seu colega da Paraíba, ao Senado da
Câmara de Olinda. Mais de cem homens mortos, gadaria dizi­
mada, incêndios, depredações. Apêlo estridente para o Governa­
dor Geral do Brasil, Matias da Cunha. O Capitão Manuel de
Abreu Soares foi para o Açu, combatendo. O coronel Antônio de
Albuquerque Câmara, um bravo batalhador durante tôda a cam­
panha, acode com o pessoal disponível das Ordenanças de Paraíba
e Pernambuco. O Senado da Câmara de Natal mandou um
emissário à Bahia porque o socorro tardava e o Janduí não perdia
tempo. Em dezembro os indígenas estão senhores e possuidores
das ribeiras do Açu e do Apodi e chegam ao Ceará-Mirim,, cinco
léguas de Natal.
Para resistir erguem casas-fortes, pequeninas paliçadas de
barro-e madeira, com cinco a seis homens armados, em Tamatan-
cxba. Cunhaú, Goianinha, Mipibu, Goaraíras, Potengi, Utinga e
S. Miguel de Guagiru, onde nascería Estremoz.
Parte de Pernambuco o Terço de Henrique Dias, cinco com­
panhias, com Jorge Luís Soares, Mestre de Campo, recebendo re­
forço na Paraíba e vai para o Açu onde o fogo se alastra. A
ôasa-fbrte do Cuó, no Açu fôra atacada e o sargento-mor Manuel
da Silveira repelira mas pedia recursos imediatos para manter-se.
O coronel Albuquerque Câmara, nas cabeceiras do Açu, en­
frentou uma multidão bárbara, perdendo 27 homens e retirou-se
para uma casa-forte na ribeira do Piranhas. Os índios mansos,
a mudança da vifgç^g, foram deserfa^gg. Õ Senaggra
Câmara de Natal informou ao Governador Geral que a Capitania
estava em perigo de se< abandonada e entregue aos indígenas,
(carta de 28 de J|pgço '1688). Matias da Cunha lançava
apelos e ordens para todos os quadrantes, aos paulistas, aos baia­
nos, aos
nos* sertanistas »e
jO’;- "ermíiis-
Pernambuco,asàs estrelas.
dei^rnamouco,. ■ as,
Qs indígenas continuavam matando. O Gapitão-Mor amea­
çou de cadeia e confisco quem abandonasse Natal. .Chegou seu
Substituto, Agostinho César de Andrade, cunhado de João Fer-
nandes Vieira, homem de guerra, sabido e provado. A reaçao
ficou mais forte. Os auxílios
i orte « V.-O oficiais eram
auxiiíOí; urous- mais de papci
kt<íth mais
pro-—
papel ee jjfq
messas..
O capitão Afonso de Albuquerque Maranhão, neto de Jeró­
nimo d’Albuquerque, com tropas à sua custa, derrotou o gentio
aprisionanoo o
Canindé, aprisionando
.CLaniiiCíe.. o chefe
cneie ee niai5.Qovc,<auxiudic&.
mais nove auxiliares.
Um grande auxílio sena o mestre dç campo Domingos Jorge
Velho, paulista famoso, ç|èspravador do sertão, preador de indí­
genas e futuro derribador dp Quilombo dos Palmares. Domingos
Jorge Velho viera mas pouco demorara. Ficou em seu lugar
Matias Cardoso de Almeida, outro valente sertanista. Domingos
Jorge Velho tivera um encontro estrondoso com a indiada do
Piranha, batendo-se vários dias mas recuara para seu arraial por­
que a munição acabara. O serviço de abastecimento era estratos­
férico. Seiscentos homens no sertão tinham levado uma quarta
de farinha como provisão !
O Capitão-Mor lança um bando (edital) perdoando aos cri­
minosos que tomassem armas contra os indígenas. E vai pessoal­
mente bater os selvagens nos arredores de Guagjru e, na serra
da Acauã derrota um exçrcito e faz mil prisioneiros. Em julho
de 1689 Gonçalo da Costa Faleiros é enviado pelo Senado da
Câmara à Lisboa para expor a El-Rei a situação real da Capitania.
Duzentos homens mortos, trinta mil cabeças de gado, mil cavalga-
duras e o prejuízo calculado em 900.000 cruzados!
Domingos Jorge Velho que pouco demorara no Açu, voltou
nesse 1689 com o Têrço dos Paulistas e foi para o cómbate. De
passagem, para assentar a mão, arrebatou os índios mansos e
cristãos que estavam aldeados em Guagiru. Qs jesuítas protes­
taram e El-Rei mandou estranhar o procedimento do chefe, em
carta régia de 23 de dezembro
V* <1 i.
.1 ÂI L/
de 1691.
X.* V- ¿ 1 .

Constroem dois quartéis no Açu, com 150 homens cada um


e mais 40 infantes. Todos desertam porque estão passando fome.
Os mantimentos prometidos de Pernambuco não chegam. O ca-
— 99 —
V
pitão Manuel de Abreu Soares acompanha seus homens que lar*
qam os quartéis e enterra um canhão de bronze. El-Rei manda
estranhar também mas esqueceu as providencias para a alimenta­
ção dos soldados. Novq^Capit§o-Mor, com Sebastião Pimentel,
em agosto de 1692. "Èhorpem velho e doente e faleceu em Natal
a 3 de Outubro de 1693. Ós indígenas voltam, gritando e. ma­
tando, até o Ceará-Mirim onde deixam doze cadáveres de brancos,
Matias Cardoso, mestre de caippo dos Paulistas, dos 800 homens
que tinha, conta apenas 200 porque não cumpriram, a promessa de
se lhes pagar.
Agostinho ¡Cesar de Andrade é nomeado interino para a
Capitania possivelmente em 1693. Os Paulistas já se tinham
ido. Domingos Jorge Velho para o Quilombo dos Palmares em
Alagoas e Matias Cardoso de Almeida para o São Francisco.
Nessa época há um documento sugestivo. O Capitão-Mor sonhava
fundar no Açu, Piranhas e Jaguaribe seis aldeias, duas em cada
uma dessas paragens, com cem casais de indígenas em cada unidade
e vinte soldados de guarnição, com um cabo, pagos pela Fazenda
Real, conformemente uma carta régia de 6 de março de 1694.
Em 1695 Agostinho Cesar de Andrade participou ao Senado da
Câmara de Natal a vontade do Rei. O Senado da Câmara ponderou
que estavam doadas tôdas as terras da Capitania. A solução foi
dar as terras, mesmo já com outros donos, que não tivessem feito
posse nem benfeitoria. Eram terras abandonadas.
Chega a vez de Bernardo Vieira de Melo, em junho dêsse
1695. Vai pessoalmente fundar o Arraial de Nossa Senhora dos
Prazeres do Açu a 24 de abril de 1696 e fica dois meses exami­
nando, providenciando, animando. Os encontros com a indiada
estão raros. Volta, lentamente, uma atmosfera de tranquilidade,
de trabalho
. ío.ee de
Qt esperança.
V'?.* srança. ivie^mo assim os moradores
Mesmo assim ■ " assumem

o compromisso espontaneo de sustentar com provisões, durante
seis meses, os trinta soldados que foram designados para o Arraial
do Açu enquanto providenciavam para um abastecimento normal.
Sustentaram a tropa mais de ano ...
O Governador Geral, em «bando» de 16 de novembro de
1696. perdoa aos criminosos que fôssem residir na ribeira do Açu.
Portugal fizera, séculos, êsse processo que os inglêses repetiram,
sucesso, na Austrália.
Terminado seu tempo de govêrno Bernardo Vieira de Melo
íoi reconduzido a 18 de novembro de 1697 a pedido do Senado
ia Câmara e do poyp, e administrou até 14 de agosto de 1701,
sua tarefa de pacificação, cumprindo o alvará em forma
de de 23 de setembro de 1700, em que El-Rei mandava
dar a cada missão dos indígenas aldeados, uma légua em quadro,

zzez.zz e demarcada.
CÃ Cid «
— 100 —

O trabalhe é a fixação dos pacificados silvícolas cm povoa-


ções que um sacerdote superintende. Ainda, uma e outra* vez,
insólitamente, ergue-se uma chama alta, queimando, um grupo dê
indígenas matando e morrendo. São os derradeiros estertores
que » se prolongam nas primeiras décadas do século XVIII. A
guerra dos indígenas, a tempestade ameríndia, passara...

(HI)
Quando voltou a paz ao interior do Rio Grande do Norte e
a massa indígena, reduzida ao mínimo, deixara de constituir uma
ameaça geral e apenas um perigo local e conjurável, verificou-se
que a Capitania ficara conhecida e trilhada, do sertão, ao litoral,
das fronteiras paraibanas ao Ceará, para cima e para baixo, nas
marchas e contramarchas da guerra sem quartel.
Em março de 1695 o Senado da Câmara de Natal informava
ao Capitão-Mor que as terras da Capitania estavam tôdas doadas.
A doação não era sinônimo de povoamento. Sesmeiros da Bahia,
do S. Francisco, de Pernambuco tinham terras de vinte e trinta
léguas, incultas e desaproveitadas. Era apenas a fome da terra.
O Rei ordenava (carta régia de 18 de agôsto de 1697) que os
donatários fossem convidados por editais para povoá-las, medi-las
e demarcá-las dentro do prazo de um ano e se assim não o cum­
prissem, fôssem as terras repartidas pelos moradores das mesmas
Capitanias. A.carta régia de 7 de dezembro de 1698 autoriza a
concessão de sesmarias até três léguas de longo por uma de
largo. Quem as tivesse de maior extensão e as povoasse estaria
com seu direito garantido. Essas cartas régias e o cuidado do
Governador Geral em cumpri-las com uma colaboração solícita
dos Capitães-Mores, ansiosos pela redivisão de terrenos perten­
centes a donos que nunca atendiam aos pedidos de benfeitorias,
determinou um movimento vivo de posse, de valorização, de pro­
cura dos melhores pontos da Capitania, coincidindo com o final
da revolta dos indígenas.
Os jesuítas que estavam em Guaraíras e Guagiru, isto é,
Arez e Estremoz, com indígenas aldeados, inclusive Janduís,
fundam a aldeia de São João Batista do Apodi a 10 de Janeiro
de 1700 (Serafim Leite. S.J. HISTÓRIA DA COMPANHIA
DE JES CIS NO BRASIL, V. 539) com os Paiacus, ferozes e
atrevidos e velhos adversários dos Janduís. E ficam, numa tei­
mosia apostólica, indo até o martírio do jesuíta Bonifácio Tei­
xeira, até 1712.
Os aldeamentos significam trabalho organizado e defesa con­
tra a avidez do lavrador. Guagiru (Jesuítas), Apodi (Jesuítas até
— 101 —

1712 c depois religiosos de Santa Teresa), Mipibu (Capuchi­


nhos), Guaraíras (Jesuítas), Gramació, (religiosos do Carmo da
Reforma), são as principais. Todos findaram em Vilas e três,
S. José de Mipibu, Arez (Guarañas) e Apodi, cidades sedes de
municípios.

ADENDOS
elnstmção e Memorial que cm nome desta Câmara e Povo pedir requerer
o Capitão Gonçalo da Costa Faleiro, c^mo procurador desta Capitania aos
Reais pés de S. Majestade, que Deus gparde, e nos seus tribunais e donde
tocar o requerimento. Representará o levantamento de todo êste gentio o
¿-rsn.jp poder que uniram e as mortes que fizeram em mais de duzentos homens
e em perto de trinta mil cabeças de gado grosso e mais de mil cavalgaduras
» as ruínas dos mantimentos e lavouras úara que S. Majestade ordene ao
Governador Geral e os mais desta bapitaqia não faltem com os socorros a
esta, ordenando ao Mestre de Carneo dos paulistas e ao Governador dos
Índios de Pernambuco e ao Governador dos pretos de Henrique Dias assis­
tam no dito sertão e dêle se não retirem até com efeito se destruir e arruinar
toco o gentio, ficando êstes sertões livres parà colonizadores, por ser esta casta
de gente mais conveniente para aquela assistência por ser mais ligeira, e
continuada, acelerar a aspereza dos montes e capaz de seguir o gentio pelo
centro dos sertões e fazem menos despesa à Real fazenda.
«Fará presente a miséria e pobreza em que ficaram êstes moradores
na falta de seus gados, e escravos mortos pelo gentio, pedindo a S. Majestade
seja servido mandar-lhes satisfazer todo o gado que se lhes tomou para sus­
tento da infantaria, como ordenanças, índios e pretos, do pouco que lhes
escapou, ordenando se satisfaça da Real fazenda por ser gasto com a gente
que assiste fronteira ao sertão, e com as tropas que têm entrado nêle após
do gentio cuja despesa se fêz por ordem do Governador Geral, advertindo
por carta sua que se haverá de pagar da Real fazenda das mais Capitanias,
isentando esta de tôda contribrjção, pela miséria e pobreza, em* que a con­
sideram e até agora se não fêz. esta satisfação cuja carta será presente a
S. Majestade com esta.
«Pedirá a S. Majestade mande para seu serviço presidiar esta fortaleza
ao menos com trinta soldados tirados dos Terços de Pernambuco, de onde
sejam pagos enquanto a sua Real fazenda nesta Capitania não chegar para
esta despesa, por que de presente está tão atenuada que se rematou o
contrato dos dízimos êste ano em trezentos e quarenta mil réis, sendo que
rbegavam a novecentos antes da ruína que causou o gentio com que não
¿eça mais que quando muito para a metade da despesa da folha anual que
v*rc da Provedoria-mor, e importa seiscentos e tantos mil réis.
<£stes soldados costumam mandar de Pernambuco até quinze e se mudam
raes ano, porém é certo que não sendo cá efetivos desobedecem a quem go-
e fogem logo e fica, a fortaleza com dois até três e às vêzes sem
nerñrcc como muitas vêzes tem acontecido, e isto se evitará com serem
-anos para êste presídio, e terem cá a sua matrícula, donde por castigo
« óê caixa no que fugir e se matricule outro em seu lugar e desta sorte
per não perderem o que tem servido não fugirão, .e servirão a S. Majestade
ir-er, e quando se não . tiverem dos Terços de Pernambuco, se poderão
levamzr de novo, contanto que de Pernambuco sejam socorridos enquanto cá
são r rever efeitos finalizada que seja a guerra do gentio com o castigo
qoe se Lee tem dado e, não dando, convém presidiar um pôsto naquela parte
— 102 —

que chamam o Açu fazendo-se umà fortificação no lugar qué parecer mais
conveniente em que estejam ao menos trinta homens com quatro peças de
campanha á Cuja sombra estejam seguros os moradores que naqueles campos
criam seus gados e se fêcòlhâm os que vivam distantes, e sendo esta forti­
ficação na ribeira de um rio navegável quê é ó mesmo Açu e em pouca
distância da praia, pódem também dar calor ás grandes pescarias que nelas
em alguns mesès do anõ se vãò fazer dé Pernambuco, e de mais ,Capitanias,
e por conseguinte pode evitar que o gentio bárbaro não comercie com òs
piratas do norte que muitas vêzes postam naquelas enséadas e se còmuriicáin
com o gentio fomentándonos para os levantamentos. œ
«Nos limites desta Capitania se tem descoberto mais de trezentas léguas
de terra pela Costa do mar, e para o sèrtão tôdas estas mais capazes para
criar gados e fazer outras muitas lavouras, tôdas estão dadas a quem as
quiser pedir dás mais capitanias e desta; e há sujeito que possui vinte e
trinta léguas, sem ter cabedal para as povoar e alguns moradores desta
capitania estão sem ter nenhuma, e demais disto, na uöiä. grande confusão liai
demarcações e domínios, de que resultam dúvidas nesses sertões, donde por
estar distante o govêrno e justiça se averiguam as; £>elouradas; e tem por
esta causa procedida muitas mortes, que S. Majestade por serviço de DèíiS
dève evitar, mandando qúe o Ouvidor Geral destas capitanias è ministro cjuè
fôr servido tome conhecimento desta matéria, vendo as terras que há e re­
partindo-as respectivamente pelas pessoas desta capitania que têm servido a
S. Majestade com tanto desvelo, a sua custa, em tôda esta guerra dó gentio
bárbáro e está átualmênte suprindo com suas fazendas, tirâhdo-se das pes­
soas que das mais capitanias as têm pedido, pois parece razão que a .maior
parte desta à esteja defendendo, derramando sangue , e continuamente com as
armas na mão, havendo muitos que perderam a vida è o mais tudo quaüto
possuíam, com que estão todos em íniserável estado, e com estas terras os pode
S. Majestade premiar e não permitir que as logrem aqueles que vivem em
outras partes abastadas de bens, sem as defenderem, como os mais e dêste
modo não lograrão uns tudo e os outros nada, sendo todos vassalos.
Será presente a S. Majestade que em nenhuma maneira convém fazer-se
paz nenhuma com este gentio, pot ser gente que hão guarda fé, falsos e
traidores, e debaixo da paz e maior amizade é que nos fazem ó máior danÒ
como cá o tein fèjto nesta capitanía pòr três vêzes, pelo que obraram estão
os moradores tão timoratos e irritados contra êles que se não hão dè fiar
mais dêstes bárbaros, e será istò causa de nunca sé povoar õ sèrtão, e não
há de haver quem queira assistir nêle pélo risco que correm suás vidas
e fazendas, e não se povoando perde S. Majestade considerável fazenda nos
seus reais dízimos, e os moradores as conveniências da criação de seús
gados, o que só se conseguirá destrúindo-se êstè gentio, e guerreando-se com
êle até de todo se acabar, dando-se execução a ordem do Governador Geral
Matias dá Cunha que está registrada nos livros da fazenda desta capitania
sendo em tudo acertado pára o serviço de S. Majestade, aumento déstà
capitania e conservação dêste povo.
Representará mais a S. Majestade os limitados efeitos que tem esta
Câmara os quais são somente o imposto de quatro barris de aguardente e a
pouquidade do fôro das rêdes da costa, que uma e, outra coisa não é híhé
nada a respeito da guerra do gentio, e antes dela mal rendia para a satisfação
do salário que se fazia de quinze mil réis ao escrivão dá Câmara, e seis ao
Alcaide, e outras despesas que tem êste Senado e de presente acresceu a
vindá do Ouvidor a esta capitania todõs os anos à correição, e quer que
se lhe dê trinta e dois mil réis da aposentadoria, o que se lhe. não pode
satisfazer pelas razões sobretidas por cuja causa estêve por ordem do dito
Ouvidor prêso o procurador do Conselho, por- tanto pedimos a S. Ma*
—181 —

jestade livre a êste Senado desta contribuição no que se lhe faz uma esmola
por não ter com qué o satisfazer e que permita que, no enquanto durar estas
guerras do gentio, não venha dito Ouvidor a esta capitania por estar muito
atenuada e pobre e seus moradores, os quais àndam por êsse sertão continua­
mente guerreando com o gentio bárbaro e qualquer condenação que se lhe
faça a não podem satisfazer pela miséria em que os 8 §éütio.
Fará presente a S. Majestade qüe na ocasião em que o gentio se le­
vantou nos sertões desta capitania, onde fêz o lamentável estrago nas vidas
e fazèndas dos moradores, se mandou logo pedir ao Governador de Per­
nambuco João da Cunha Souto Major á socorresse com gente e mantimentos
de farinha por não haver nesta parte, do que não fêz caso o dito Gover­
nador, e êste peditório se lhe fêz por duas e três vêzes e . vendo êste
Senado qüe se perdia totalmente esta capitania, se resolveu mandar um
procurador, a fazer-lhe presente o mísero estado em que estava e os moradores
acometidos do gentio por várias partes, com que os obrigou a se recolherem
em estacadas que faziam para livrar as vidas mas ficando ao rigor do gentio
as lavouras e fazendas que tudo destruíam, e como se não deferiu ao procura­
dor, se valeu de pedir prestados à Câmara de Pernambuco duzentos mil réis
para se comprarem farinhas, e se remeterem ao Açu para o sustento dos
moadores que assistiam naquela fronteira com alguns índios domésticos por
de todo se não largaT ao gentio e comprada que foi com êste dinheiro se embar­
cou em um barco, a tempo que o ditò Governactór Mè resolveu no cabo dê
um ano a mandar um socorro de duzentos homens, mandando-os embarcar
sem lhes mandarprevènir farinhas para o sustento, cóm que chegados a estar
capitania gastaram o que 0 nosso procurador havia comprado com o dinheiro
do empréstimo, e como a ela chegou Antônio Lopes Leitão fiador que foi
desta quantia e nos representou, em cómo ä Câmara o molestara por aquela
satisfação tratando-se de cobrar déle ejecutivamente, e vermos qüe por esta
causa viera com todo o risco com setenta léguas de jornada a representar­
nos e pedir-nos o desobrigássemos, pela moléstia que podia padecer, nos foi
necessário escrever ao Bispo Governador de Pernambuco nos fizesse mercê e
esmola, revelar esta quantia, por se não achar esta Câmara com efeitos para
estã'satisfação, aò que se não deferiu, com que nos foi forçado pedirmos esta
quantia prestada, para desobrigar-nos ao n&so fiador, assim que pedimos a
S. Majestade seja servido mandar que a dita Câmara de Pernambuco torne
dito dinheiro para se dar a quem o emprestou visto ser tão abastada de
efeitos, que lhe sobram muitos da despesa que fazem, havendo rçspéit? ä
irem desta capitania antes do levante do gentio muitas quantidades de gados,
com que se aumentava o seu contrato das carnes ou permita mandá-los dar
da Fáízendà Real daquelas capitanias para assim 'ficar êste povo livre da
finta que se lhe deve botar, nos limitados Êénã lhes escaparam do
gentio, para se poderem satisfaièr Á. oS .èinprêStou, vist8 le.fiayèlém
gasto com à mesma infantaria que veio de socorro por não vir prevenida de
farinhas para se sustentarem. Escrito em Câmara pelo tenente-coronel João de
Barros Coutinho, Escrivão dela que á escrevi e assinaram os oficiais que êste
aoo servem de juizes, veneadores e procurador, aos 2 de julho de 168?.
£ -.re da Silva, Francisco Lopes, Gaspar Freire de Carvalho, Jòsé de Araújo,
Pedro Miranda? Baião.

O TÍTULO DE CONDE DO RIO GRANDE


O Rei D. Pedro II de Portugal em carta régia de 5 de Março de 1689
z^rzeava Conde do Rio Grandeva Lopo Furtado de Mendonça, 1661-1730,
pzr se haver casado com dona Antõriià Maria Francisca Barreto de Sá, em
1654, e falecida em Lisboa, aos 94 idos, êm 20 dé Agôsto de 1759. O
— 104 —

ilho-herdeiro do título, José Antônio Barreto Furtado de Mendonça e


vlenezes, nasceu em 1688, ano da morte do seu avô materno, o General
Francisco Barreto de Menezes, vencedor de Guararapes, e veio a falecer, sem
lescendentes, iem Agôsto de 1707.
Desejava D. Pedro II homenagear a Barreto de Menezes, criando o título
» fazendo-o usar por sua filha. O primeiro Conde do Rio Grande foi general
e almirante vitorioso, cobrindo-se de glórias em 1716 na batalha naval do
cabo Matapã, além da participação nas campanhas militares da época. O
título desapareceu na segunda geração (Ver Luís da Câmara Cascudo,
CONDES DO RIO GRANDE, Ata Diurna, A República, Natal, 6 de
Abril de 1943).
CAPÍTULO V

(I) Conquista geográfica e povoaïnento. Os aconteci­


mentos principais. (II) As sete Vilas. (Ill) As dez
freguesias. (IV) A Sociedade; alimentação, indu­
mentária, mobiliário, usos e costumes.
NOTAS AO CAPÍTULO QUINTO

ADENDOS
— Inventários do século XVIII e princípios do XIX.
— Regimentos de ofícios em 1791,
(1)

Ö século XVIII é a época do povoamento do interior norte-


riograndense. A repressão contra os indígenas fizefla o conheci­
mento quase total. O arraial do Açu era ponto de concentração,
de refôrço e de abrigo. A ribeira era região disputada pela exce­
lência des pastos. Os jesuítas fundaram uma Missão no Apodi
em 10 de janeiro de Í700, último ano do século XVlí. O Têr|8
dös Paulistas ém guarnição no Açu constituía uma garantia de
tránqüilidade. Por todo correr da ceritjííiã .í £8feéssão de ses-
marias fixa a população no ciclo do gado. É a era das fazendas
de criar, o nascimento da gesta dos vaqueiros. Nos finais do
século já se cantavam versos louvando os bois valentes que escà-
param ao ferrão e ao curral.
O Rei, na carta régia de 11 de janeiro de 1701, desligara a
Capitania do Governo Geral na Bahia e a subordinara ao de
Pèriiambuco. Durante mais de cem anos o Senado da Câmara
dè Natal e as Capitães-Mores protestaram contra o desacerto
dessa medida, corrigida, em 1817, por um pernambucano, José
Inácio Borges, benemérito em nossa memória. Essa subalter-
nidade retardou o desenvolvimento do Rio Grande, Setenta por
¿entö das sugestões enviadas ao Rei e mandadas informar pelo
Governador de Pernambuco mereceram contrariedade formal. Es-
‘ ctílas, fòrtins, melhorias administrativas, medidas militares, dis­
ciplina dos indígenas, provimento de cargos, foram anulados pelos
pareceres dös Governadores de Pernambuco. O século XVIII
constou dessa luta, diária e surda, *de forte e fraco, defendendo
uma autoridade que existiu num plano injustificável de áirââo
para a Capitania.
A História pouco aproveitará de essencial nesses cem anos.
Correspondências, brigas de indígenas, violências de autoridades,
sugestões recusadas e planos dispensáveis, foram as característi­
cas. Mas o Rio Grande do Norte tomou sua fisionomia territorial
e sociedade formou-se realmente, com Õs elementos reais, sobre as
bases da pecuária que resistiría até o século XIX, vitoriosamente..
Criados pelas cartas régias de 20 de janeiro de 1699 e 22 de
dezembro de 1715 os Capitães-Mores das Vilas e das Ribeiras,
— 108 —

com Sargentos-Mores, surgiram pràticamente no século XVIIL A


nrópria milícia, a Ordenança, alistando os homens de 18 aos 40
anos, teve sua expansão nessa época. Os Capitães-Mores do
interior, dos distritos do sertão, eram as autoridades gratuitas
encarregadas da pacificação dos moradores, prisão de criminosos,
acomodações de rixas. Naturalmente ultrapassavam os limites do
poder que El-Rei lhes dera, avançando o sinal para a arrogância,
valentia demasiada e domínio pessoal na zona confiada à sua
energia. Foram também os esteios da tranqüilidade, patriarcas,
criadores e defensores da propriedade privada, fanáticos pelo
Rei, fiéis aos vínculos do compádrio, instituição que nos sertões
se tornou merecedora do respeito supersticioso de um dogma
religioso e social. Em auxílio do compadre-pobre o compadre-rico
arriscava vida e fazenda, mobilizando-se famílias inteiras para
desafrontar problemáticos insultos na pessoa humilde de um desses
titulares. Um estudioso nosso, o sociólogo Manuel Rodrigues de
Melo estudou e estuda carinhosamente a matéria, excelente como
documentação psicológica de uma sociedade que se tornava viva
e sólida.
Da fixação geográfica o testemunho é abundante. Logo a 14
de Dezembro de 1701 El-Rei aprova a proibição feita pelo Gover­
nador de Pernambuco que os 40 vaqueiros de Antônio da Rocha
Pita, um sesmeiro baiano, expulsassem da ribeira do Açu os mora­
dores nas terras onde pretendiam situar fazendas. O Rei ordenou
que a terra fôsse demarcada e medida para saber-se exatamente
o domínio do latifundiário fazendeiro. Por 1733 os Rocha Pita,
Antônio e o Coronel Domingos Gonçalves da Rocha Pita, estavam
na ribeira do Apodi, sítio dos Albuquerques, Pau dos Ferros,
Gonceição, São Miguel, Passarinho, , Campo Grande, Santiago,
sítio da Telha, Passagem, Aróeira, S. Antônio Cachoeira, S.
João, etc. Surgem os topónimos famosos. Luís Pereira de Sousa
recebe, em 20 de Abril de 1735, terras ao redor dos serrotes que
estão ao par. do Cabugi. Aleixo Teixeira, Capitão-Mor da aldeia
de S: João do Apodi dos Tapuias Paiacus, regista, a 21 de Julho de
1736, terras na Serra do Campo Grande. Ao Capitão Inácio Go­
mes da Câmara dá-se doação no sítio chamado Caicó no riacho
do Seridó, em 7 de setembro de 1736. Francisco da Silva, a 17
de dezembro de 1742, é dono de terras no sertão do Açu, onde
chamam Descanso das Bandeiras. Para o norte, a 5 de Julho de
1708, o Coronel Gonçalo da Costa Faleiro.-o mesmo que em
1689 fôra a Lisboa com o memcdJ do Senado da Câmara his­
toriando ao Rei as desgraça^ da guerre dos bárbaros”; é senhor
de tres léguas de comprimento e uma de largura, a começar no
Morro do Tibau, pela costa do mar para o lado sul, até onde aca-
— 109 —

basse» Em 15 de Janeiro de 1778 o sargento-mor Antônio de


Souza Machado e seu filho Félix Antonio de Souza tem uma
sesmaria onde se incluem os cabeços da serra do Mossoró. José
de Oliveira Leite, em 1754, era dono do «sítio Santa Luisa (Mos­
soró) . Eram os limites, alcançados pela posse, pela vida orga­
nizada. normal e trabalhada.
Os acontecimentos, esquecendo a burocracia dos papéis ofi­
ciais, idos e vindos sem eficácia, não são do talhe daqueles do
século XVII. -
Em 1712 os Paiacus, os ferozes e terríveis Paiacus, tomam
armas contra a indiada que assalta o arraial do Açu, ajudando
e decidindo a vitória sôbre os mesmos. O Terço dos Paulistas
estava comandado por Manuel Alves de Morais Navarro, fi­
sionomia interessantíssima. Morais Navarro pediu ao Rei que
recompensasse os Paiacus, alistando-os como auxiliares do Terço,
com o pagamento de soldo. Em 1720 os indígenas fazem sua
última aparição em massa belicosa, gritando e depredando. Uma
companhia do Terço Paulista está em Ferreira Torto, pràtica-
mente nos arredores da capital e repele os assaltantes. O castigo
é tremendo. São presos, exilados, divididos. Não mais reapare­
cem e os que estão aldeiados resignam-se à sorte.
Em 1722 o acontecimento de maior vulto é a morte do Capitão-
Mor Luís Ferreira Freire. Deram-lhe um tiro na noite de 22 de
fevereiro (os Capitães-Mores residiam na Cidade, na Rua Gran­
de, Praça André de Albuquerque, quase defronte da Catedral)
e o homem faleceu a 28. Era arrebatado, violento, sexual. Incom-
patibilizou-se com dois terços da população. Nunca descobriram
o matador. O sucessor, José Pereira da Fonseca, também brabo
de maneiras, recebeu outro tiro de espingarda. O Rei, carta de
l.9 de julho de 1726, mandou devassar.mas em cousa alguma serviu
a real ordem. Nesse tempo Natal possuía trinta casas, de ma- ,
deira e barro e seus arredores são matos.
Em 21 de julho .de 1731 criou-se a cadeira de gramática
latina, ministrada por um clérigo.
No tempo de Luís Ferreira Freire construíram a Cadeia cujo
andar superior era ocupado pelo Senado da Câmara, na Rua
Grande. Com pequeninas remodelações, serviu até 1911, demo­
lido logo depois.
Notável a festa pòr ocasião do casamento dos Sereníssimos
Príncipes do Brasil e das Astúrias, o futuro D. José I, com uma
filha de Felipe V de Espanha, Dona Maria Ana Vitória de Bour­
bon, em dezembro de 1727. O Capitão-Mor do Rio Grande
informou, em 10 de maio de 1729, que festejara condignamente
o principesco matrimônio, com nove dias sucessivos com Come-
dias e várias ¡estas de Cavalo e outras celebridades, iluminando-se
três noites tôdas as casas da dita Cidade, avantajando-se nas
ruas pois se acendiam nelas oitenta luzes cada ngifë, sendq~|gg|
esta despesa a sua custa. E pela via das dúvidas pedia propinas e
cera pelo gasto. O Senado da Câmara, para não perder a ocasião,
pediu humildemente a El-Rei. D. João V que os aliviasse do
donativo imposto pela razão do casamento dos Príncipes (carta
régia de 6 de outubro de 1732).
Já em 9 de janeiro de 1713 o .Ouvidor de Pernambuco
propunha ao Rei a extinção dos cargos de Capitães-Mores do
Ceará e do Rio Grande. Tinha havido alteração no Gearg c
supressão seria castigo. Nada acontecera no Rio Grande mqs
a óiedida era preventiva. Sugeria que os capitães de Infantaria que
viessem para o Forte do Reis Magos suprissem a falta, com
o4ítulo mas sem nenhuma vantagem de sôldQ?
Em 1749 a receita da Capitania era de 3:52Q$000. Os dízi-
mos, reais, arrematados de três em três anos, davam 2:042$000. A
despesa ia a 1:302$ 140. O Capitão-Mor ganhava 400$000 por
ano. Quem mais recebia, depois déle, era o Vigário da ígreja
Matriz, 244$000 de congrua.
Em junho de 1757 o Ouvidor Domingos Monteiro da Rocha
vj*wiAju.e, em iwiiiuCia
visitou j--ó Rio Grande, jornada vigilante.
*¿ ick • i «xçixoíi narrativa.
Deixou va.
brain cinco freguesias.
A Cidade do Natal tinha 118 casas, povoadas 400 braças de
comprido por 50 de largo. Chamou ao Potengi, Rio Grande.
Essa freguesia contava com três povoações, Ceará-Mirím, S.
Gonçalo e Papari. A segunda freguesia, Goianinha, com bás­
tanles moradores e tendo como limite ao sul “Os Marcos”, que é
o rio Guaju. A terceira era Açu, donde tem uma povoaçao de
muitos moradores. A quarta, erigida na ribeira do Apodi, no lu-
gar chamado fíau dos Ferros. A quinta, Caicó, na ribeira do Se-
ridó, tendo qma povoação de nome Acari. Nenhuma Vila e ape­
nas a Cidade do Natal.

A Companhia de Jesus fôra abolida em Portugal e seus domi­


nios pela carta régia de 3 de setembro de 1759. Antes El-Rei D.
José, atendendo aos pedidos do seu Ministro, Marquês de Pombal,
pelo alvará de 8 de maio de 1758 e as leis anteriores de 6 e 7
de junho de 1755, ordenara á liberdade de pessoas, bens e comér­
cio dos indígenas, organizando seu govêrno civil, elevando as
aldeias ao predicamento de Vilas, fazendo cessar a administração
dos Jesuítas. Instruções reservadas vieram aos Capitães-Mores
— in —

para o exato cumprimento das ordeñs. Espèrava-se reação dos


parte dos padres, reação em que os indígenas seriam a massa mo*
vente, sacrificada e fiel até a morte. As autoridades deviam
prestar todo auxílio a um enviado d*El-Rei ,um magistrado encar-
regado de fazer cumprir a lei. Assim viajou o desembargador
Bernardo Coelho da Gama Casco que, no Ceará e Rio Grande
do Norte, cumpriu a missão.
Os Jesuítas deixaram os aldeamentos de São Miguel de
Guagiru e Guaraíras. Em São Miguel de Guagiru tinham feito,
com tantos anos de permanência, trabalho fecundo e alto. Quilô­
metros de lavouras mantinham população farta e tranquila. Havia
j.^29 habitantes em 319 casais, 147 rapazes estudavam, 63 mo-
ÇM-aprendiam a"fia¿ fgçér e coser. Oito moços exercitavam-se è}g
vários ofícios. Disciplinados, os indígenas estavam distribuídos
em sete Companhias num total de 350 homens. Apenas 15 escravos
viviam. Gado, cavalos, eram pastoreados e serviam na tração. Aos
domingos e dias santificados, bailes indígenas, com tambores e
cantos, iluminados na praça por paus resinosos.
Em 1755 tinham concluído a Igreja, alta e nobre, o mais
liúdo templo barroco da Capitania. Media 16 metros de altura,
coma cimalha do frontão 3,50 e 30 metros de comprimento. Viera
de longe (Lisboa certamente) desmontada, as pedras numeradas
para a colocação regular. Algumas lajes, enormes, tinham sido
bgjídas como espelho. Â cruz que encimava a cimalha, quando
caiu de velho o Cruzeiro, foi posta no pátio e substituiu-o, íal
sua proporção. As três janelas do côro servem de portas atuais
à Capela que se ergueu, em março de 1939, como triste e peque-
pina neta do grande templo desaparecido. Aí eram sepultados
todos. Junto havia o “convento” que era realmente a residência,
anipla, convidativa, cheia de janelas. No meio da praça estava o
“hospício*' que recebia e agasalhava os viajantes pobres. Na
{pans formação, ficou sendo a Cadeia.
A Igreja estava cheia de Santos de madeira, com resplen-
dores de prata e ouró, terços, os objetos do culto reluzentes e
ornamentais. Na saída atiraram na lagoa alguns vultos, S, Úrsula,
S. Inácio, S. Francisco Xavier que foram encontrados em prin­
cípios do século XX e são denominados pelo povo Os Santos
Aparecidos.
O último a deixar São Miguel de Guagiru foi o Padre Ale­
xandre de Carvalho, acompanhado pelo escolástico José Ferreira,
em junho de 1759. O põvo seguiu, chorando e bradando, quilô­
metros,
-- num* derradeiro
’ testemunho de fidelidade.
; . •
A 3 de maio de 1760 a aldeia de S. Miguel de Guagiru
passa a ser a VILA NOVA DE ESTREMOZ DO NORTE,
— 112 —

com a presença do Desembargador Gama Casco, que deu os três


vivas rituais ao Rei, mandou chantar o Pelourinho e dirigiu o
cerimonial. Foi a primeira Vila do Rio Grande do Norte.
Guaraíras foi a segunda. Foi a VILA NOVA DE AREZ,
instalada em 15 de junho de 1760 pelo Juiz de Fora de Olinda,
Dr. Miguel Carlos Caldeira de Pina Castelo Branco. Era uma
das aldeias mais antigas. Fôra ponto de disputa e residência dos
holandeses. Calculo que existia, sob a direção dos jesuítas, desde
1680. Possuía 949 almas, 284 casais, 362 rapazes e moças, 87
estudando na escola e 89 aprendendo a fiar, a bordar e a coser na
Missão. Não havia escravos. A Igreja já existia em 1703 quando
o Ouvidor Geral Cristóvão Soares Reimão mediu as terras do
Munin, mencionando-a.
Os indígenas seriam (segundo João Pegado) os mesmos do
aldeamento. do Chefe Jacumaúma, com seu acampamento à mar­
gem do Jacu, uma légua acima da foz, no lugar Estivas. São
João Batista de Guaraíras (nome da lagoa) rendia 115$ de Dí­
zimos (Estremoz rendia 101$). O gado e cavalos foram dis­
tribuídos pela Igreja, vigário, coadjutor, capitão-mor (autoridade
para reger os indígenas), sargento-mor, seis capitães, seis alfe­
res, um ajudante, um diretor e um mestre escola. Tôda essa
gente, substituta dos dois a três Jesuítas, assenhoreou as 106
vacas, 95 bois, 24 éguas, 9 cavalos e 6 poldros da aldeia tornada
Vila, com Pelourinho e soberania civil.
A1 terceira Vila foi PORTALEGRE, instalada a 8 de de­
zembro de 1761 pelo Juiz Miguel Carlos Caldeira de Pina Cas­
telo Branco, reunindo os indígenas espalhados nas várzeas do
Apodi (onde havia aldeia* jesuítica desde 1700 e em meiados
Capuchinhos) e os levou para a Serra do Regente ou Reguengo,
corrução de Realengo, Real, comum, que podia ser dada em ses­
marias, e então chamada 4‘Serra de Santana**, e, nalgumas fontes,
“Serra dos Dormentes**.
São três nomes de vilas do Alentejo e naturalmente possuíram
explicações meramente locais para o topónimo.
O aldeiamento de Mipibu, antiquíssimo e citado como um
dos mais populosos, passou a VILA DE SAO JOSÉ DO RIO
GRANDE a 22 de fevereiro de 1762, presidida a cerimônia pelo
mesmo Doutor Miguel Carlos Càldeira de Pina Castelo Branco.
O nome era homenagem tríplice. A São José, ao Rei e ao seu
. neto, filho de D. Maria que sucedería ao real Pai. O Pelourinho
custou 5$440.
VILA FLOR seguiu-se, instalada em 1769 segundo uns e
para mim mais lógico qüe o fosse em 1762, conforme outra docu­
mentação. Era a antiga aldeia de Gramació, nome do rio local.
— 113 —

Outro nome do Alentejo. Dizem que Vila Flor fôra homenagem


ao Conde de Vila Flor, D. Antônio de Souza Manuel de Meneses
que fôra Governador de Pernambuco, 176^-1768. Parece-me
pouco provável essa seródia bajulação toponímica. Qualquer das
datas teria o homenageado fora das funções e, humanamente, dis­
tanciado das glórias no emprêgo do nome.
A carta régia de 22 de julho de 1766 facultava ao Capitão
General de Pernambuco o direito de criar Vilas quando úteis
ao real serviço e sossêgo público, distribuindo justiça e castigando
criminosos. O Ouvidor Geral da Comarca da Paraíba, desembar­
gador Antônio Felipe Soares de Andrade Brederodes, dirigiu em
28 de março de 1787 uma carta solicitando a elevação de três
povoações em Vilas, atendendo seu desenvolvimento em agri­
cultura b pastoricia. Dom Tomás José de Melo, Capitão Geribral
de Pernambuco, autorizou, a 28 de abril de 1788, a criação das
Vilas. Diz um trecho da resposta: — pe/a faculdade que sua
Majestade me permite na Real Ordem de 22 de julho de 1766 de
que remeto cópia, concedo a Vossa Mercê faculdade para erigir
em Vilas a povoação dos Cariris que se denominará Vila Nova
da Rainha, a povoação do Seridó, Vila Nova do Príncipe, e a
povoação de Açu, Vila Nova da Princesa ...
O desembargador Andrade Brederodes instalou a VILA
NOVA DO PRÍNCIPE, que então se denominava POVOAÇÃO
DO SERIDÓ, em 31 de julho de 1788. O Tenente-Coronel Antô­
nio Garcia de Sá Barroso, em carta de 15 de agôsto dêsse 1788,
para o Senado da Câmara de Natal, informava que o Sr. Desem­
bargador teve formado por Vila nesta ribeira a 31 de julho pas­
sado.
O PRÍNCIPE homenageado era D. João, depois D. João VZ,
primeiro e último Rei do.Brasil.
A VILA NOVA DA PRINCESA (homenagem à D. Car­
lota Joaquina) foi instalada em 11 de agôsto do mesmo 1788. A
primeira Câmara da Vila Nova da Princesa, o antigo Arraial
de Nossa Senhora dos Prazeres do Açu, era constituída pelos
repúblicos Francisco José Dantas Bacelar, Francisco Dantas Ca­
valcante, João Mendes Monteiro, Antônio Correia de Araújo
Furtado e Francisco da Silva Bastos. Foram estas as sete Vilas
da Capitania do Rio Grande do Norte no século XVIII.

(HI)
As freguesias criadas no século XVIII foram dez. A do
Açu ignoro a data. Em 1726 era vigário o Pe. Manuel de Mes­
quita e Silva. A de Vila Flor é igualmente da primeira metade
— 114 —

da centúria. Moreira Pinto indica 1743. Há uma citação da


construção da Igreja de N. Sra. do Destêrro pelo Pe. André
do Sacramento em 1742-45. Goianinha é citada no relatório do
sétimo Bispo de Olinda, D. Frei Luís de Santa Teresa, como
Freguesia já em 1746. Mons. F. Severiano regista 1690 mas
deve ser engano. Em 1749 era vigário o Pe. Antônio de Andrade
de Araújo. Caicó foi Freguesia separada da do Piancó em 15
• de abril de 1748. O Pe. Francisco Alves Maia foi o primeiro
Vigário. Pau dos Ferros é de 19 de dezembro de 1756. Arez teve
sua Freguesia criada pelo alvará de 8 de maio de 1758. Em 18
de julho de 1759 o Bispo de Olinda nomeava o Pe. João Ferreira
da Costa coadjutor da Freguesia de S. João. Batista da antiga
Missão da aldeia dos Guaraíras. Estremoz teve sua Freguesia
criada pelo alvará de 6 de julho de 1755 e instalada a 3 de maio de
1760. Portalegre é de 9 de dezembro de 1761. O primeiro vigá­
rio foi o Pe. Lourenço Xavier de Souza Carvalho. São José de
Mipibu seria de igual data da Vila, 22 de fevereiro de 1762. O
Bispo de Olinda, a 5 de julho de 1763, nomeava o Pe. Alexandre
Dantas Correia para Coadjutor da Freguesia de N. Sra. do ó
e Santana de Mipibu. Apodi, criada a 3 de fevereiro de 1766
teve o seu primeiro cura com o Pe. João da Cunha Paiva.
Duas dessas freguesias perderam categoria paroquial. A de
Vila Flor, transferida para a povoação do Saco do Uruá, Lei Pro­
vincial n? 468, de 27 de março de 1860 e instalada no ano se­
guinte. Estremoz, por provisão do governador do Bispado de
Pernambuco, Chantre José Joaquim Camelo de Andrade, em 23
de maio de 1874 (Mons. Francisco Severiano), perdeu a Fre­
guesia, mudada para a povoação de Bôca da Mata, então Vila
do Ceará-Mirim.
Cinqîüenta e cinco anos passariam antes de nascer a primeira
Freguesia do século XIX, a de Santana do Matos.

(IV)
Fundava-se, sôbre base do tradicionalismo patriarcal, a so­
ciedade norte-riograndense, no, trabalho da pecuária e agricul­
tura. O plano de roças de mandioca garantia a farinha indis­
pensável à alimentação histórica. A ribeira do Apodi, na última
década do século XVIII (1791-93, a grande sêca, Seca Grande
como ficou conhecida), produzia 56.640 alqueires de farinha nas
freguesias do Apodi, Portalegre e Pau dos Ferros. O rebanho
bovino é que se desenvolvia normalmente, criando-se, desde longos
anos, a indústria das carnes sêcas em Mossoró e Açu, tornando-se
tunoso os portos das Oficinas de Carnes, ou simplesmente Oficinas,
— 115 —

à margem do mesmo rio. Sômente em 1788 é que o Capitão Ge*


neral de Pernambuco, D. Tomás José de Melo, proibiu a promis*
sora indústria, permitindo*a apenas do Aracati para o norte.
Decorrentemente a Carne sêca ficou conhecida como carne do
Ceará em data posterior à tão dessassizada medida de administra*
ção às avessas. A abundância do gado, explicação poderosa da
obstinação holandesa em fixar*se no Rio Grande, era uma con*
seqüência dos pastos bons nas zonas de criação. Já em julho e
novembro de 1686 o Governador de Pernambuco avisava ao Rei
de ter recebido avisos do Capitão*Mor do Rio Grande infor*
mando*o da presença de um navio 44 de grande força” e um patacho
de piratas no litoral norte*riograndense, saqueando barcos e que
lançava gente em terra a fazer Carnes e aguadas.
O contrato do estanco do sal, alvará de 7 de dezembro de
1758, permitia aos proprietários de salinas o uso do produto mas
não a exportação. Multa e perda da embarcação carregadora.
Só ém 1808 recomeçaria a produção regular e venda para o sul.
A alimentação era a carne, assada ou cozida, com farinha,
farófia ou pirão. Verduras, hortaliças, quase desconhecidas. Usa*
vam os cheiros, cominho, coentro, alho, como no «Velho da Horta»
de Gil Vicente. O milho dava o cuscus, comum e mais raro
o cuscus de mandioca. O de milho nos viera do Oriente pela
mão do português e do negro africano que o tivera do árabe.
As vacas*de*leite garantiam o queijo e especialmente o prato se*
cular e milenar, a coalhada, de universal uso. O sertanejo não
bebia leite. Comia*o, com farinha, com gerimu (abóbora), com
batata, com milho cozido, o mungunzá. No ciclo de São João há
a comida*de*milho, cangica, pamonha, bolo, cangicão, com leite
de côco, êste em anos do século XIX. O açúcar branco não era
fácil. Comprava*se e guardava*se para adoçar remédios lambe*
dores (xaropes) e chás medicamentosos. Como o mel de abelha
para o indígena, a rapadura era o doce para o sertanejo. O pró*
prio nome de «açúcar» era pouco usado. Dizia*se: — quer mais
doce? Sirva-se do docel na acepção do adoçante que era rapadura
raspada para os pobres. Ainda em 1910 havia êsse clima no
sertão norte*riograndense.
Ovelhas, marrã ¡de ovelha, constituíam prato precioso, cozido,
assado, a buxada, tripas e mais vísceras, cozidas em fogo lento,
noite * inteira, com pirão de farinha ferventado na gordura do
próprio animal. Até meados do século XVIII não encontro alu*
são aos caprinos. O carneiro, nunca recusado, foi acepipe conhe*
cido e Henry Koster encontrava*o menos saborojso que o da
Inglaterra. M. Rodrigues de Melo e Hélio Galvão ípostraram
sua popularidade na alimentação normal (2).
— 116 —

Äs sobremessas apreciadas eram banana cozida,-batata assada,


doce de banana, rapadura com farinha, também o choriço, espécie
de morcela portuguêsa. Ainda alcancei o prestígio da farinha com
açúcar para os meninos do meu tempo. Finalizava-se a refeição
bebendo o caldo da carne.
Os ovos quentes eram impopulares. Ovo cozido, farinha de
ovos com carne assada era prato antiquíssimo. Beber ovo cru só
o faria timbu. Os peixes eram cozidos ou assados. Raramente
havia técnicas para outras maneiras. Os molhos eram desconhe­
cidos. O leite de côco tornou-se indispensável mas é vitória do
século XIX para o sertão.
Galinhas seriam comida clássica das parturientes, a canja
simples e a galinha cozida, com arroz de forno. Galinha assada
era prato de festa. O guiné, angola, pintado, tido por carregado
era parcimoniosamente consumido. Os perus apareceram no inte­
rior muito depois. Eram comuns no litoral. Gostava-se mais das
peruas, cevadas em casa, com milho cozido, empurrado a dedo na
cjuela..
Herdeiro do indígena o sertanejo amava tôdas as peças de
caça, veados, pacas, emas, nambus, asa-branca, tijuaçu, preá, mócó,
tatus, muitas repugnando aos moradores do litoral, especialmente
aos praeiros. Em compensação os carangueijos, lagostas, lagus-
tins davam náuseas aos sertanejos e eram saboreados pelos praia­
nos, gente que come aranha caranguejeira, como dizia, arrepiado
feito porco espinho, meu tio Francisco José Fernandes Pimenta,
olhando em Natal uma travessa de goiaqiuns rescendentes.
As comidas comuns correspondiam às comidas de campo,
levados pelos vaqueiros nos pequeninos alíorges de couro como
provisão para os longos dias de perseguição aos bois marruás ou
touros fugitivos. Era a passoca, carne pisada a pilão, com farinha,
comida com a rapadura ou banana. Delícia. Era o comboeiro
carne assada, cortada miúdinha e misturada com- farinha. Di-
ziam-na “comboeiro”, porque era o prato mais fácil de fazer
quando os longos “comboios”, carregados de algodão, descendo
para as cidades e vilas, arranchavam-se à sombra das oiticicas.
Agua, conduzia-se na borracha, saco de couro, que a tornava fria
e límpida. Era nome vindo de português. Os indígenas ama­
zônicos .faziam-na com a seringa e daí denominar-se “borracha”
ao látex da seringueira. As velhas e legítimas «borrachas» («Bo­
tas” em Espanha e França) eram de couro.
Fiéis a dez mil anos de sabor, os sertanejos eram amigos do
tutano, batendo os ossos> sorvendo-o devagar, puro ou misturado
«com farinha. Tutano, dá fôrça porque é a essência do animaL
— 117 —

Pensavam assim todos os povos primitivos do mundo. E o gôsto


continua.
Para beber, o raro vinho tinto, a meladinha ou Cachimbo,
aguardende com mel de abelha, aguardente, insubstituível para
fechar o corpo aos calores e friagens.
Os ricos tinham sempre vinho do Porto, vinho espanhol de
Malaga, servidos aos cálices. Fumava-se cachimbo, mascava-se
uma fôlha de tabaco, usava-se mecha no nariz ou sorvia-se o rapé,
torrado. O cigarro é depois da Guerra do Paraguai. O charuto
apareceu no see. XIX. E raro. Quando o Padre Francisco de
Brito Guerra, então deputado-geral em 1833, voltou ao Rio de
Janeiro para o Caicó, trouxe charutos e ofereceu-os a dois ami­
gos velhos, correligionários seguros. Acabaram de almoçar e o
Padre retirou-se um instante. Quando regressou viu os amigos
verdes e nauseados. Tinham comido os charutos, julgando-os
sobremessa habitual na Córte (3).
Fumava-se desesperadamente no sertão e a pelha (pele) de
fumo fazia os dentes alvos e resistentes. O cachimbo era uma
instituição geral e habitual.
Uma boa porcentagem possuía fazendas ou sítios, moradas
regulares, mesmo com casas na rua (Rua na acepção de Vila,
Cidade, povoação, talqualmente no norte de Portugal), ocupada
apenas nas “festas do ano”, Padroeiro, Semana Santa, Natal. A
fazenda era um mundo que se bastava, com seus artesões, famu-
lagem, teares para tecer, fabricação de pólvora, telhas, caieiras
para o cal. Na mesma Ribeira estendia-se quase sempre uma
família, espalhando os parentes, prontos para uma mobilização
imediata. Nas Vilas o regime era mais ou menos o mesmo. As
famílias, aglutinadas pelo casamento, constituíam uma clã, maciço
compacto, sensível aos apelos do chefe, filho do Capitão-Mor,
pai do chefe político no Império.
Os costumes eram naturais e lógicos. Roupa para o clima,
ampla, folgada, arejada, calça e camisa, o chambre, chambrão,
ornamental, para andar por casa, símbolo de autoridade social,
sinal exterior de fôrça econômica e política, como Henry Koster
verifica na primeira década do século XIX. Veio até os primeiros
anos do século XX. As senhoras e moças viviam «lá p’ra dentro»,
invisíveis como num harém. Herança moura. Mesmo depois, tra­
balhavam elas no estrado, fazenda renda de almofada, vigiando
a tarefa das negras, provando o ponto do doce, bordando e fa­
lando da vida alheia. “Da sala em diante manda a mulher”.
Homem não ia à cozinha nem entrava nas camarinhas. Falta de
respeito.
— 118 —

Nas cidades e vilas, mesma cousa. Não se fazia visita sem


aviso mesmo porque não havia visita. Havia passar o dia ou
semana no interior ou à tarde na «praça». À noite um escravo
precedia o cortejo, com archote, substituído pelo lampeão oitocen-
tista. O chefe de família ia no fim, de noite, ou na frente, de dia.
Uma reminiscência indígena. Ou da marcha feudal, comboiando
as damas, nas viagens, com liteiras, de cortinas arriadas, evitando
a tentação do olhar curioso.
Móveis ? Domínio da rêde. Cama para doença, parto. Adoe­
cendo o homem recorria-se ao chá, â ajuda, purgante poderosa,
infalível. José Mariano Filho contava-me de um seu velho cliente
pernambucano, vaqueiro, que pedia dois purgantes : — Um pr'a
abalar e outro pra arrastar ! Obrigatório amarrar-se um pano na
cabeça, como se usava em Roma no tempo do Imperador Nero.
O purgado calçava meias, evitava rumor e exéesso de luz. Ao
parto seguia-se o sagrado resguardo de quarenta dias, rigorosos,
obrigado à dieta de galinha.
O café não chegou logo ao sertão (*). O pão é posterior a
1870. Mais fácil de conservar, popularizou-se a bolacha. “É
como bolacha, em todo canto se acha.*'
O escravo não era bicho para tortura. Raro era o mau senhor
ou a senhora malvada para as negras bonitas. Nascia imediata-
mente uma lenda ao redor dessa exceção, castigos sobrenaturais,
fantasmas, perdição da alma.
Negros cantadores ganhavam sua liberdade com o pandeiro
ou a viola na mão. Nunca pasou pela cabeça do senhor arre­
batar-lhe o pequenino pecúlio. Havia respeito pela vontade do
escravo alforriar-se. Começando a dar dinheiro ao amo para sua
manumissão ficava com um direito indiscutido. Num inventário
de 1785, do Capitão Pedro da Cunha Calheiros (falecido a 7 de
agosto de 1783) vários escravos deixaram de ser incluídos na
relação por haverem iniciado o pagamento de sua alforria (4). O
escravo era cousa e não gente. Pois, em Natal, podia requerer
terra e possuí-la. Em 15 de agosto de 1763 o negro Luís Car­
doso, escravo do Sargento-Mor Francisco Machado ide Oliveira
Barros, recebia do Senado da Câmara de Natal cinco braças por
dez de fundo, na Rua que por de trás desta Cidade vai ter a Ri­
beira déla ... Era chão para construir. Certamente havería cruel­
dade e sadismo mas não seria o conhecido nem o comum.

(*) Apenas em 27-3-1828 houve ordens de servir-se café, às tripulações


dos vasos de guerra.
— 119 —

Os muarés aparecem depois de 1845 e nalguns pontos pos­


terior a 1880 (5). Obedecendo à cartà régia de 14 de junho
de 1761, o Capitão-Mor mandou, a 14 de novembro do mesmo
ano, proibir despacho de mulas ou machos, mandando que fôssem
mortos os que entrassem para a Capitania depois da divulgação da
lei e que ninguém os pudesse possuir doravante(6).
Costumes de séculos e séculos resistiram até os primeiros*
quinze anos do século XX. A mulher casada usava os cabelos
presos, tranças enroladas, coco ou totó (o tutulos romano). A
solteira podiá andar de cabelo sôlto. Era ò velho direito consuetu-
dinário ainda vivo e corrente no século XIII. A casada andaria
cum louca e a solteira, in capilo. (Viterbó, “Elucidário”, I. 152).
Todos os ritos de passagem eram sagrados. Permissão para
fazer a primeira barba, por exemplo. Noivados escolhidos pelos
pais. Mesmo assim, muitas fugas e raptos. Quando ó galo cantava
fora de hora era sinal de moça fugida*.
As residências eram simples. A sala maior, a primeira cupiá
no sertão no Rio Grande do Norte, privativa dos homens. Co­
mia-se, no século XVIII, à mão. Raras facas. Muitas colheres,
algumas de prata. Nunca deparei um garfo num inventário da era
setecentista. Raros livros. Toalhas de Bretanha, muito cordão de
ouro, imagens de madeiras, armas fidalgas, espadim, espadas,
bengalas com castão e ponteiro de prata, memórias de puro, ale­
grias de coral, brincos, enfim, os ouros, posses da senhora dona ou
da sinhá-moça.
Não sei das danças no século XVIII. As mais antigas são
de 1860 e além.. Em 1861 dançava-se muito no interior do Rio
Grande do Norte,. cantava-se ao violão e as moças sabiam modi­
nhas ternas. Protocolo rigoroso. Para ir ao baile era indispensá­
vel a casaca. Na serra do Martins, em 1861, Manuel Ferreira
Nobre, o primeiro historiador que tivemos, não foi à dança porque
não levara càsaca. Em Natal, de 1862, corriam vejqsinhos.
Quem casaca não tiver
Em bailes não vá dançar.
Deixe-se em casa ficar,
Um bobo não queira ser...
Êsse ambiente é o mesmo do século XIX, com pequeninas
alterações. Muitos elementos atravessaram até 191Ö. Fixá-los
naquele tempo é apenas evocar um passado mais ou menos .re­
cente.
Inventários, resumidos, dos princípios e fins do século XVIII
e XIX darão depoimento nítido do tempo e dos hábitos (Adendo).
120 —

NOTAS
(1) «Quase um século de permanência» na aldeia oficial, São Miguel de
Giiagiru. O conhecimento da região era muitíssimo anterior e desde 7 de
janeiro de 1607 a Companhia de Jesus possuía terras na futura Estremoz. A
data 102, doada pelo Capitão-Mor Jerónimo de Albuquerque, começava do
rio de Jaguaribe, de fronte da Cidade do Natal e monte de Uruturapaum,
correndo até emparelhar com a lagoa, no lugar que chamam Tijuru (nome
indígena da lagoa de Estremoz, registado no mapa de Marcgrav que Barléu
divulgou), indo até o mar salguado, quatorze léguas. No «Auto de Repartição
das Terras», datado de 21 de fevereiro de 1614, menciona-se a existência
de dois currais de vacas, algumas éguas e quatro escravos da Guiné.
(2) John Luccock e R. Walsh escreveram que o brasileiro comia
raramente a carne do carneiro em virtude surpersticiosa. Carneiro era sím­
bolo de Cristo, Cordeiro de Deus, etc. Roy Nash aceitou a fama. Gilberto
Freire e A. de Silva Melo também. M. Rodrigues de Melo, «Roy Nash e
o Brasil», TRADIÇÃO, Recife, abril de 1943 e Hélio Galvão, «Uso bra­
sileiro da carne de carneiro», BANDO, Natal, março de 1950, desfazem,
documentadamente, essa falsa tradição.
(3) Manuel Dantas, «Homens de outrora», 19-20, ed. Pongetti, Rio de
Janeiro, 1941.
(4) Hélio Galvão, «Velhas Heranças», BANDO, aígôsto-setembro,
1951, 45, Natal. .
(5) Eloy de Souza, «A Habitação no Rio Grande do Norte», idem, 80-81.
(6) A. Gonçalves Dias, «Catálogo dos Capitães-Mores e Governado­
res do Rio Grande do Norte», 42 RIHGB, XVII.

ADENDOS

INVENTÁRIOS DO SÉCULO XVIII E PRINCÍPIOS DO XIX

Hélio Galvão, «Velhas Heranças», BANDO, Natal, agôsto-setembro,


1951, resumiu textos de treze inventários havidos na região de Goianinha,
Arez, Pedro Velho; com referências que indicam a vida econômica da época
e registam elementos fixadores do ambiente familiar do tempo. Abrangem a
fase de 1705 a 1785. A zona é de agricultura, farinha, milho, feijão, batatas,
e alguma criação de gado. É uma região de chuvas em regime regular e,
decorregtemente, de relativa fartura, sem pauperismo e fome endêmicas. Re­
flete a mediania financeira, expressa nos recursos de confôrto, mobiliário,
imóveis e semoventes. No inventário do Alferes Gaspar Marques de Paiva,
julgada a partilha por sentença de 25 de abril de 1705, num espólio de
399$570; uns Cr$ 300.000,00 atuais, lê-se ;
1 vestido de seda usado «de molher».................................. . .............. 8$000
1 guarda-pé de madeira ........................ ........... ................................... l$500
1 manto de Carrião...................................................... . ......................... 5$000
1 colchão .............................................. ..................... ............................... 3$000
Coatro lansois com 22 varas de pano de linho já usados .......... 5$000
1 cobertor para cama ........................................................................ ... 3$200
Quatro almofadas, 2 grandes e duas pequenas — «des tostoins.»
Oito fronhas de pano de linho, 4 grande» e 4 pequenas.............. 2$400
2 toalhas de mesa de 3 varas cada uma ........................................ l$600
Três toalhas de mão de linho, usadas, ...................... l$280
Duzia e meia de guardanapos de pano de algodão ...................... • l$600
1 toalha de pano de Bretanha, com vara e meia, rendada.............. 2$400
— 121 —

Uma caixa de pau amarelo, usada .............. . ....... ........................... 3$600


1 adereço com seus punhos de prata ...................... ........................ 6$000
Seis colheres de prata, com 36 oitavas ................ ................. .. 3$960
Botões e fivelas de prata para calções, 13 oitavas.................... .. l$400
2.500 covas de mandioca, pequena e grande ...................... . 5$00Ô
Uma negra, Luisa, de 15 anos ............ . ......................................... 70$000
Um negro, Afonso, do gentio da Guiné, de 30 anos .................. 100$000
No inventário de Joana de Barros Coutinho, o inventariante, Manuel
Rodrigues Taborda, (testamento de 29 de março de 1718 e autuação de 1.*
de Agôsto do ano imediato) homem conhecido, fundador provável do sitió
Taboida, em 1706 membro do Senado da Câmara Natal, indica que uma
morada de casas dè taipa, cobertas de telha, com quintal para trás, 13 coquei«.
ros e outras árvores frutíferas, valia, na cidade do Natal, 60$000. Os escra­
vos estavam extremamente valorizados, atendendo-se para o poder aquisitivo
da moeda. Vicente, da Gúiné, com 20 anos, 140$, Damiana» crioula, de 25
anos, 150$, Luiza do Rosário, da Guiné, com 35 anos, 80$, Bruno, curiboca,
de 30 anos, 145$. Uma Ana Maria, com 13 anos, vài por 125$. Quase todos
os proprietários têm escravos mas não. em grande número, como os Albu­
querque Maranhão, que se ampliariam, em terra e posses, no correr do
século. Qs preços se mantiveram no mesmo nivel. E também avahava-se
o serviço, o negro de aluguel. Em 1719 o serviço de onze cabeças de
escravos, grandes e pequenos, ia a 83$050.
A terra não era de impossível compra. Valia quase quanto um escravo.
Duas léguas na ribeira de Jaguaribe, com sitio» estavam por 200$. Uma
légua em quadra na ribeira de Goianinha, 500$, preço altíssimo mas a região
era rica, próxima de recursos e históricamente populosa. Seiscentas bracas
por 320 de largura, na Lagoa da velha Ribeira de Goianinha valiam 75$,
preço de compra, citado no inventário de Margarida da Rocha, falecida a
12 de junho de 1752.
Armas comuns, espadas» espadins, facões. No inventário de Cipriano
Lopes Pimentel, Julgado por sentença final em 6 de Dezembro de 1721, há
menção de espingardas francesas, duas, compridas, a 5$000, outra de três palmos
com guarda mão de prata e duas embraçadeiras do mesmo metal, 8$000.
Há também de quatro e de.cinco palmos. No inventário do 'capitão Domingos
da Costa Araújo, julgado a 20 de Janeiro de 1718, encontramos espingarda
francesa aparelhada coin, prata, 12$000. Há também pistolas. Nenhuma
citação de punhais, adagas^ estoques.
Sôbre o gadò, lê-se? seis vacas parideiras a 2$560 (17Í9), garrote a
l$280. Em fins de 1721, 45 Vacas parideiras, a 2$560, 115$200, o preço
de dois anos antes. Um carneiro vaha um cruzado. Um cavalo ruço, de
estribarla, andador, 40$000. Cavalo para serviço de campo, 14$QOO. Havia
valorização pela raça, pelo pedegcee simplesmente oral. Quatro poldras a
6$000, mas há poldrinho de sete meses que vale 4$000.
As selas eram ginetas, de estribos curtos e também as bastardas, mais
caras. Uma sela gineta velha ia por 3$000 e duas bastardas, velhas, por 7$000,
mas tinham estribos de prata e estanho.
As malas e baús eram apenas caixas de amarelo, envernizadas, com
fechaduras.
Pouca menção aos frascos de vidro, cálices e copos. Jamais um só
garfo« Ouro bastante, memórias de ouro, terços, voltas, cordões. Poucos
com pedras. Também brincos e nenhuma pulseira. Poucas imagens. A
avalização é do feitio e não da imagem; «o feitio de uma imagem do Senhor
de latão, l$600> lê-se num inventário dè 1753.
Há peças de indumentaria com elegância. No inventário do Capitão-Mor
Angelo Ferreira da Rocha (1752) há «um vestido de pincoella, usado, com
— 122 —

sua véstia de Berne agalvada com seus galões de prata, com dois dedos de
largura, calções de Berne* e galões, . 30$000», e também «uma casaqua de
pano tino, usada, com cantões de veludo, 2$0Q0.» Há também toalhas de
Bretanha, colcha de Dainasco, forrada de flanela carmezim, com franjas e
borlas em cada canto, avaliada em 6$400.
Há curiosidade como uma espingarda de «tacoari com fexos franceses de
meio uso» por 4$500. Êsse tipo de arma aparece nos inventários e arrola-
mentos dos Bandeirantes e Alcântara Machado perguntava que espécie de
arma seria.
Registam «pente de viúva», 3 oitavas menos 8 grãos, 4$440, no inventário
do capitão Baltazar de Carvalho Pinto, findo a 12 de Setembro de 17571
B também <2 pentinhos de fonte», 3$340, espadim de prata, liso, com punho
de fio de prata, pesando 14 oitavas e meia, 5$280, um «pente de rigor»,
l$800. Vêzes as armas de aspecto rico, «espada com punho de prata, çhapa,
punho e ponteira também de prata», 5$000, «uma faca com cabo de marfim
e corrente de prata», l$920. Aparecem a cama de jacarandá (1752), 6$000
e igualmente a rede com varandas, «uma rêde de fio branca com as varandas
já rôtas», 2$000. '
Além do aparelhamento para fazer farinha,, instrumentos de agricultúrà,
surge a lã de ovelha, guardada em casa e também (1752, no inventário de
Maria de Souza, mulher pobre, casada com o carpinteiro Antônio Fernandes)
um tear, por 3$200. Deparo uma escrivaninha de jacarandá, do capitão Domin­
gos da Costa. Araújo, julgada valer dois cruzados. Livros apenas no inven­
tário de Joana de Barros Coutinho, seis livros, avaliados em 3 $000. Eram
leituras piedosas.
O trabalho escravo compreendia o arrendamento da peça, aluguel, por
meses, tarefas ou anos. No inventário de Manuel Araújo Meneses, 1752, oa
serviços da preta Ana, excluídos domingos e dias santificados, eram de 8$000
. cada ano, durante seté anos, 56$000. A f escrava estava servindo a outro
senhor por essa quantia. z(.
As velhas denominações orientais, divulgadas pelo português batalhador
e andejo, surjem, como timão, quimão, que é o quimono, e catana, uma
catana de latão, de 3$000, no inventário de Araújo Menezes em 1752, do
japonês katana, valendo espada, alfange, terçado.
Não havia o fogão. Na cozinha o fogo ardia entre as três pedras clás­
sicas, a trempe, arrolada no inventário de Isabel Soares, 1753, por $320.
Mesmo nas casas abastadas erguia-se uma sapata de tijolos e sôbre esta
alinhavam-se várias trempes. As placas de fogão, de ferro, com três e
mais aberturas para as panelas é de meados do século XIX. Minha avó
paterna, Bernardina Francisca Ferreira de Melo, f1830-1914) veio «conhecer»
a chapa do fogão depois de 1870 nos sertões paraibanos o norte-rio-gran­
denses.
São usadas as cruzes de ouro, botões de peito, cruz de finagrama, fina-
grã, argolas. Para o serviço nos dias de recebimento, púcaro e salva de
prata, para lavar as mãos, 160 oitavas, 17$600, no inventário de Cipriano
Lopes Pimentel, findo em dezembro de 1721. O monte foi calculado em
2.802$465. Hélio Galvão avalia em Cr$ 800.000,00 e eu em um milhão de
. cruzeiros.
Dós fins do sec. XVIII para a primeira década do sec. XIX a primeira
& fortuna da Capitania era a Casa de Cunhaú, de André d'Albuquerque Ma­
ranhão, Coronel do Regimento de Cavalaria Auxiliar dos Distritos de Arez,
Vila Flor e Tamatanduba. Casado com d. Antônia Josefa do Espirito
Santo Ribeiro, deixou um filho, o André d'Albuquerque, chefe da Revolução
de 1817, e três filhas, casadas com. primos como de rigor e praxe, Luiza
Antônia com o tenente coronel José1 Inácio d’Albuquerque Maranhão, Josefa
— 12.3 —

Antonia com o Capitão-Mor João ¿’Albuquerque Maranhão e Antônia Josefa


com André d’Albuquerque Maranhão, chamado André ¿'Estivas, Capitão-Mor
das Ordenanças de Vila Flor e Arez, todos com descendência e envolvidos
na revolução. O irmão morreu solteiro e sem bastardos conhecidos.
André d’Albqquerque, o velho, faleceu em outubro de 1806 e o inventário
pubíicou-o a RIHGRGN, vol. VIII, (Natal, 1913). Dona Antônia Josefa,
inventariante e meieira, teve 48:859$852, compreendendo sítios, fazendas, gado,
84 escravos e utensílios agrícolas. O ouro é abundante, par de fivelas por
35$240, duas varas de colar com um crucifixo, 61 $250, um broche de ouro
com quatro voltas de cordão, 37$780, oito pares de botões de ouro e jaleco,
56$780, dedal de ouro a 2$020, três varas de cordão fino de ouro, 11 $760,
quatro palmos de cordão e um S. Braz, tudo de ouro, 4$680, mais quatro
palmos de cordão, 4$080, mais três palmos, 2$620, brincos, $520, duas voltas
de continhas do Rio de Janeiro com um S. Braz, 2$800, coberta de pente de
ouro, 4$ 160, redoma grande de ouro com vidro, 14$000, relicário de ouro
com vidro, 12$600, uma bola de guardar ambre (ambar) de ouro, 2$ 100,
um rosariozinho com Padre Nosso e Cruz de ouro, 4$200, adereço de dia­
mante, 100$000, outro menor, 25$000, outro de prata, 11 $200, etc.
Aparecem facas, sete facas com cabo de prata, 12$700, um faqueiro de
dúzia grande de prata com caixa de lixa (laca?) aparelhado da mesma,
79$800, outro dito de viagem, mais pequeno, 31 $400, um raro talher de mesa
de prata moderno, 56$000. A indispensável bacia e jarro de Agoas-Mãos,
de prata, 60$000, um copo de prata, 14$400, mais dois copos de prata, 16$800,
um castiçal de mão, de prata, 8$800, doze colheres de prata, 29$600, uma
salva de prata lavrada, 19$800, uma salva ¿ lisa, 17$600, outra nlaior,
25$600, tuna taça de prata, 4$000, esporas grandes com fivela de prata,
17$200. E bacias de arame, espumadeiras, almofariz, caldeirões, cíõda a louça
de mesa lançada em sua avaliaç&o de 30$800>. Os móveis são bancas velhas,
três cadeiras de palhinha velhas, seis cadeiras de encôsto, cobertas de sola
(5$000), mesa velha a l$000, uma caixa de pau amarelo, 3$200, uma
cômoda de pau amarelo, 3$000, um ferro de engomar, 1$000, um candieiro
de latão, 8$000, um bulé dè estanho,'$420.'Nada mais, nem cama, catre,
rêde, nada. Muita enxada, foice, machados. Muito gado vacum e cavalar.
Quinze vacas paridas iam a 90$000. As solteiras valiam 75$000. Cinco
garrotas, 50$000. Sessenta bois de carro, 480$000 o mesmo valor da safra
de canas de açúcar plantada no engenho Cunhaú. Cem bois capados, 600$000.
Vinte cavalos de fábrica, 200$000. Cinqüenta éguas parideiras; 350$000.
Doze poltros, 48$000. Os escravos iam a 100$ e 120$ na média. Os escravos
carreiros eram mais caros, 140$. Alguns surgem com os apelidos, Mateus
Guaxinin, a 100$ t Vicente Velhaco, pelo mesmo preço.
O inventário é de 19-5-1809. É a mesma simplicidade doméstica dos
ambientes setecentistas. Toalhados, lençóis, fronhas, cobertores, capotes, não
são mencionados. Seria precioso saber a parte dos co-herdeiros.
Um outro revolucionário de 1817, b padre João Damasceno Xavier
Carneiro, homem rico, proprietário e fazendeiro, teve os bens sequestrados e
levados à leilão. Ainda pude consultar restos do processo. Curioso é o
registo da indumentária e pequenos objetos do uso do padre,' antigo escrivão
de S. José de Mipibu e quese ordenara viúvo e com dois filhos. Há
menção de uma sobrecasaca de fino pano azul em bom uso, sete óculos para
nariz, a Cruz da Ordem de Cristo, com . granadas e topázios, avaliada em
25$000, a casaca em 6$400, a sobrecasaca, calçãoe colete de gorgorão em
12$600, suma cinta de seda de apertar barriga em bom usos, chegou a Seis­
centos réis! Arrematação de 16 de agôsto de 1817. O Padre Manuel Pinto
de Castro arrematou duas estolas por 32$100. Os vasos dos Santos Oleos,
em prata, ficaram para o Vigário Feliciano José Dómelas por 5$670.
— 124 —

REGIMENTOS DE OFÍCIOS EM 1791


A RIHGRGN. XIV, publicou os regimentos dados em 12 de Março,.
9 de Abril e 29 de agôsto de 1791 aos Sapateiros, Alfaiates e Ferreiros em
Natal. É um documento que fixa o custo da vida em fins do século XVIII
em três setores da atividade popular.
SAPATEIROS. Obres de Homem: — por uns sapatos de cordovão*
forrados, dois cruzados e dois vinténs, sendo o feitio um sêlo; por uns
sapatos de veado, duas patacas e quatro vinténs, sendo o feitio um sêlo;
por uns sapatos de couro de cabra forrados, duas patacas, sendo o feitio
um sêlo; por uns chinelos de cordovão de talão, 840, feitio 440; por umas '
chinelas de veado de talão, 720; por umas chinelas de veado raças, dezoito
vinténs, feitio doze vinténs« por umas chinelas de cabra rasas, dezoito*
vinténs, feitio doze vinténs; por um par de borzeguins, um sêlo, feitio meia
pataca; por um par ‘de botinas de veado, sem sapato, um cruzado, feitio
duzentos reis; por um dito com sapato» dez tostões; por umas botas de
cordovão, 3$200, feitio quatro patacas; por umas botas de veado, seis
patacas, feitio quatro patacas; por umas botas de cabra, cinco patacas, feitio
quatro patacas. Obras de Mulher. Por uns sapatos de cordovão, saHos
cobertos, 840, feitio um sêlo; por uns de veado, 720, feitio 480 ou um
sêlo; por uns sapatos de cabra, duas patacas, feitio um sêlo; por uns chinelos
de cordovão, 840, feitio 440; pot umas chinelas de veado ou de cabra,
razas, uma pataca, feitio doze vinténs. Obras de menino aíê 10 anos: por
uns de veado, uma pataca». feitio nove vinténs; por uns de cabra, três tostões,
feitio nove vinténs; por umas chinelas razas, dois tostões, feitio seis vinténs;
por umas chinelas de talão, de veado» uma pataca, feitio nove vinténs; por
uma chinelas de cabra, três tostões, feitio nove vinténs.
(Sêlo valia 480 réis, pataca e meia. Houve moeda com êsse nome?'
Pereira da Costa divulgou documento afirmativo, no têrmo do lançamento
da pedra fundamental da Capela de Santo Cristo de Ipojuca, Pernambuco,
em 4 de Novembro de 1663: — «O capitão Francisco Dias Delgado ao
assentar da pedra botou no alicerce ao longo da pedra dez mil réis em moedas-
de selos.»)
ALFAIATES. Por um vestido de druquete, pano fino ou fazenda aberta
a ferro, 3$200; por uma véstia de sêda» aberta ou abotoada, 640; por um
vestido de chita ou ganga pronto, 2$400; por uma véstia de chita forrada
e pronta, 560; por uns. calções de chita ou ganga pronto, 400; por uma
casaca de pano ou baetão, 800; por um capote do mesmo, 640; por um
capote de camelão, 600; por um timão de baeta, 480; por um timão de chita*
forrada, 640; por um timão de chita sem fôrro, 480; por um timão de sêda,
800; por um chambre de chita, 64Ó; por um rodaque de chita ou pano, 1$000;
por uma fardá de oficial agaloada, 4$000; por uma farda de oficial com os
galões precisos, 2$000; por uma farda de sargento, l$440; por uma farda de
soldado, l$1440; por uns calções de Hamburgo abotoados, 160; por uma
nize ou rodaque, l$000; por uns calções de sêda prontos ou abotoados, 480.
Para Mulher9, por uma saia de sêda, 640; por uma saia de serafina, 400;
por uma saia de chita, 420; por um peitilho de sêda, 800; por um dito de*
chita ou branco, 640; por uma vestimenta entrada de sêda, 3$000; por uma
dita de chita ou branca, 2$560; por um manto de sarja, 480; por um capote
de druoruete bandado, 960; por um dito espiguilhado, 2$000.
FERREIROS: por uma enxada nova com ferro do oficial, l$000; por um
machado novo de ólho redondo, 480; por uma enxó de carapina, l$0Q0; por
uma foice nova com ferro e aço de oficial, dois cruzados; por uma enxó
de mão, um sêlo; por 100 pregos caibrais com ferro e aço de oficial, 1$000;
por 100 ditos de assolhar com ferro de oficial, seis tostões; por 100 ditos de
encaixar, um sêlo; por 100 ditos de ripar com ferro do oficial, seis vinténs;-
— 125 —

por 100 taxas com ferro do oficial, seis vinténs; por calçar um machado de
unha, uma pataca; por calçar uma enxó e chapear também, um cruzado; por
calçar uma foice grande, uma pataca; por calçar uma enxada, uma pataca;
por uma fóice de mão, com ferro e aço .do oficial, doze vinténs; por uma
enxada nova, com ferro do dono, uma pataca; por um machado de ôlho
redondo, com ferro do dono, doze vinténs; por uma foice com ferro do dono,
doze vinténs; por uma enxó, com ferro e aço do dono, doze vinténs; pelo
feitio de 100 pregos caixais, meia pataca; pelo feitio de 100 pregos de
assoalhar, quatorze vinténs; pelo feitio de 100 pregos caibrais, um sêlo; pelo
feitio de 100 pregos ripais, seis vinténs.
CAPÍTULO VI

( I ) Governadores da Capitania no século XIX. O Mapa


da População de 1805. Aspecto geral. (II) José
Inácio Borges. A Revolução de 1817. (III) Traba­
lho "^pacificação. (IV) A Revolução de 1817 em
Portalegre. (V) O« Govêrno das três Juntas.

NOTAS AO CAPÍTULO QUINTO

ADENDOS

— O Fortim da ilha de Manuel Gonçalves.


— Os réus na Revolução de 1817.
A Capitania do Rio Grande do Norte, ao iniciar-se o século
XIX, estava administrada na forma da Ordem Régia de 12 de
Dezembro de 1770. Na ausência do Càpitão-Mor o govêrno seria
exercido pelo Ouvidor da Paraíba, sempre longe de Natal, o
Comandante das Tropas e o Vereador mais velho do Senado da
Câmara,
Êste era substituído anualmente. Em 1801 eram os gover­
nadores, o Comandante Antônio de Barros Passos e o Vereador
Gonçalo Soares Raposo da Câmara« Em 18Q2, Barros Passos e o
vereador José Lucas Alvares, até 30 dé Agôsto quando assumiu
Lopo Joaquim de Almeida Henriques.
Q último do século XVIJI, Caetano da Silva Sanches, por*
luguês de Cascais, tivera pela primeira vez o título de Gover­
nador e não Capitão-Mor, por provisão do Governador de Per*
nambyco, D. Tomás José de Melo, em caráter interino, a 10 de
Novembro de 1790, depois efetivo por patente real de 27 de
Março de 1797, e veio até M de Março dé 1800 quando faleceu.
Era pessoa simples e que se tornou familiar e querida, deixando
muitos compadres e afilhados. Além dos atos cbnmns de admi­
nistração, há um traço popular: — doou o galo de bronze pura
a tôrre da Igreja de Santo Antônio, qinda empoleirado na cúpula
de azulejos, lembrando qs minaretes das mesquitas orientals.
tppo Joáquim de Almeida Henriques, sargento-mor de Infan­
taria, foi um desastrado, arbitrário, violento e falho. Para apro­
veitar os terrenos incultos da cidade mandou plantar mandioca
pelos soldados, roçados de melancias, tirando a parte de leão,
fazendo surrar homens brancos e conceituados como ladrões
deesas melancias e dessas mandiocas. O clamor público obrigou
o Governador de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Mon­
tenegro, a intimar Lopo, em nome do Rei, a retirar-se para Per­
nambuco Mno praro de oito dias, se tantos fôssem precisos." Man­
dou fazer em beneficio à cidade. Construiu um muro barragem a.o
Rio de Beber. Fizeram um Balde, anteparo, tapado de arrimo,
O técnico foi o capitão de artilharia do Regimento de Olinda
José Xavier de Mendonça, comandante da Companhia de Linha
sediada em Natal e os operários, praças da Companhia. Ficou
o topónimo, BALDO, no fim da Cidade, po lado do sul, hoje
praça, no comêço do Alecrim. BIBLIOTECA
UFRN/MCS
130 —

Em 1802 iniciava-se a obrigatoriedade dos selos nos papéis


públicos rendendo 224$698. Em 1808 as salinas trabalhavam sem
a opressão legal do monopólio real. Dizem que Lopo Joaquim
pagou aos funcionários públicos com as espécies colhidas nos ro­
çados. Nãp era invulgar o processo. No Pará colonial satisfi­
zera-se o compromisso do funcionalismo com pacotes dé ovas de
tainha (Raimundo Moraes). Virá daí o cognome de PAPA
GERIMUN para os norte-rio-grandenses ?
Depois de dias de govêrno do Senado da Câmara, Fevereiio-
Março de 1806, assumiu José Francisco de Paula Cavalcanti de
Albuquerque, 23 de Março de 1806 a Maio de 1811 (Ver
44Cronologia do Govêrno do Rio Grande do Norte”).
Foi um dos melhores Governadores, simples, enérgico, deci­
dido, empreendedor, original. Era da família Suaçuna, em Per­
nambuco, parte da conspiração dos Suaçunas, que o levou à
cadeia, 1801-1802, sonhando a liberdade de Pernambuco ... pon-
do-o sob o patrocínio de Napoleão Bonaparte.
No Rio Grande do Norte planejou Fortins, sugerindo ao
Govêrno Geral um plano inteiro da defesa racional da Capita­
nia. Chegou a construir um dêsses Fortins, o de São José de
Genipabu, inaugurado a 9 de Abril de 1808. Reformou os costu­
mes da cidade, introduzindo tecidos inglêses, promovendo as
reuniões sociais, tomando fácil a aquisição de objetos de usa
doméstico modernos e confortáveis. Fundou um Asilo para
viúvas dos soldados. Interessava-se por tudo, desde a abertura
de estradas até a alimentação dos presos, melhorada graças às
coletas feitas pessoalmente pelo Governador. No seu govêrno
Henry Koster visitou Natal e elogia-o calorosamente. A Com­
panhia de Guerra apresentava melhor ordem que suas congêneres
da Paraíba e Pernambuco. Which were in much better order than
those of Pernambuco or Paraiba. Foi também o primeiro a intro­
duzir a vacina jeneriana em Natal, pedindo-a ao Ministro Conde,
de Aguiar que a enviou a 25 de Outubro de 1809 (4).
O melhor documento para uma visão de conjunto é o 44Mapa
da População da Capitania do Rio Grande do Norte, com decla­
ração dos seus empregos, Militares e Civis e Capitães-Mores
ordenanças das respectivas Vilas, e Freguesias, tanto Brancos
como índios de 31 de Dezembro de 1805”, visado por José Fran­
cisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque (2). O resumo total
indica :
Brancos, homens, 8.593; mulheres, 8.307.
Pretos, homens, 4.186; mulheres, 4.006.
Pardos (mulatos), 9.550; mulheres, 9.508.
Indígenas, 2.514; mulheres, 2.526.
131 —

Os indígenas possuíam os seus Capitães-Mores. Em S» José,


Juvenal Batista Pereira; Arez, Miguel de Oliveira Camelo; Vila
Flor, José Soares dos Santos; Estremoz, Hipólito da Cunha de
Assunção; Portalegre, Nicacio Dias da Silva. Os indígenas
estavam em maior número na vila de Estremoz, 1886. Seguiam-se
S. José, corn 913; Portalegre, 400, e Vila Flor, com 378. Os
indígenas livres, não aldeados, vivendo independentemente, iam
a 708.
Cinco Capitães-Mores de Ordenanças. Diogo Felix de Vas­
concelos, Natal, vilas de S.. José e Estremoz; André de Albu­
querque Maranhão, pai do chefe da revolução de 1817, para as
vilas de Arez-e Vila Flor e a Freguesia de Goianinha; Cipriano
Lopes Galvão, para a Vila do Príncipe (Caicó) e a Freguesia da
Serra do Coité; Geraldo Saraiva de Moura, para a vila de Porta­
legre e as Freguesias das várzeas do Apodi e do Pau dos Ferros,
e Antônio Correia de Araújo Furtado, para a Vila da Princesa
(Açu).
Pelas profissões é possível organizar êste quadro :
Còrpo Militar :
Natal, S. José, Estremoz.................. 2.175
Príncipe ’......... ............... .. 450
Arez é Vila Flor................................. 335
Portalegre, várzeas do Apodi, Pau
dos Ferros ........................ ¿.... 325
Princesa ............................ .................. 1.086
Magistratura e empregos civis :
Natal, S. José, Estremoz .............. 43
Arez e Vila Flor .............................. 3
Príncipe ................ 12
Princesa 15
Portalegre, etc.................................... 18
Clero secular :
Natal, S. José, Estremoz ........ 12
Arez e Vila Flor........ ........... 6
Príncipe .................... 4
Portalegre, etc...................................... 16
Princesa .......................................... 7
Agricultores (na ordem acima); 361; 208; 150; í.147; 200.
Negociantes (idem) — 78; 11; 4; 42; 42.
Pessoas que vivem de suas rendas. Apenas há em Natal em
número de 7.
— 132 —

Artistas — 12; 18; 1; Em Portalegre, Apodi, Pau dos Ferros


não citam os artistas, mas Ofieiais de Ofícios mecânicos, 46.
Princesa, idem, 153.
Homens do mar — 58; 16; Não; Não; Não.
Jornaleiros — 128; 47; 13; 182; 37.
Escravos— 1.033 homens, 1.081 mulheres; 172-28; 236-216;.
932-888. Não informa.
Vaqueiros — 85; 42; 110; 134; 150.
Vadios e mendigos — 57; 6; 8; 36. Em Princesa não inclui­
ram essa profissão.
O Governador da Capitania, na sua “Memória relativa à
defesa da Capitania do Rio Grande do Norte”, (RIHGRGN,
VIII) informa que a Capitania “tem minas de preciosos metais
e pedras preciosas; mas acertadamente SS.MM. Fidelíssimas proi­
biram o uso delas, atendendo que só a continuada agricultura é
que faz a grandeza sólida dos Estados. As suas terras criam muito
bem todo o gênero de gados, produzem algodão e café, o melhor
do mundo, canas de açúcar, trigo, e todos os mais gêneros, que
fazem a sua abundância e o seu comércio de exportação. “Lem­
bra a “ambição das nações" e “no importante porto da cidade
do Natal o princípio fácil e seguro para entrar no Brasil". A
“Memória" é datada de 30 de Maio de 1808. Era çlima ideal
para o Senado da Câmara repetir suas queixas ao Trono de
D. Maria Primeira, já dónente P substituída pçlo Príncipe D.
João, Regente desde 1792. Em Outubro dè 1799 havia endere­
çado um memorial expositivo de sua economia e repetiu-o, mais
veemente ao Príncipe Regente, em 30 de Abril de 1808 (Ver
ADENDOS do capítulo ECONOMIA).
É fácil sentir-se a perfeita sintonizaçâo entre o Governador
e o Senado da Câmara ambos desejosos de fazer cessar o retar­
damento do progresso da Capitania entravado pelo burocratismo
e miopia dos Governadores de Pernambuco.
José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque não pas­
sou o govêrno ao seu substituto. Sebastião Francisco de Melo
e Povoas, como, sem solução de eontinuidade afirmam os histo­
riadores. No meu GOVÊRNO DO RIO GRANDE DO NORTE
(14-15, Natal, 1939) provei essa impossibilidade e dei os nomes
dos governadores, na letra da Real Ordem de 12 de Dezembro
de 1770. Vicente de Lemos (3) escreve que “já antes de 20 de
Agôsto de 1811, ¡tinha deixado o govêrno por ter sido nomeado
em 2 de Janeiro do mesmo ano, governador da ilha de S. Miguel.
Tavares de Lira informa que Melo e Povoas substituiu José Fran­
cisco a 22 de Janeiro de 1812. Rocha Pombo (História do Rio
Grande do Norte) pisa no mesmo rasto. Gonçalves Dias regista
— 133 —

a nomeação de José Francisco para S. Miguel e menciona a posse


de Mélo e Povoas sem alusão à interferência do Senado da
Câmara. José Francisco assumiu o govêrno de S. Miguel dos
Açores a 3 de Julho de 1811 e já lá se encontrava desde 3 de
Junho do mesmo ano («Arquivos dos Açores», vol. II, 424,
vol. VI, p. 395). O Senado da Câmara, pelo seu vereador mais
velho, e o Comandante das Armas, governaram a Capitania desde
Maio, ou fins de Abril de 1811 a 22 de Janeiro de 1812 quando
Melo e Povoas assumiu. Ê preciso pensar no tempo que durava
uma travessia para os Açores e o fato de José Francisco encon­
trar-se em S. Miguel desde 3 de Junho. Mais. Encontrei um
registo de data de sesmaria, concedida a 4 de Outubro de 1811, a
Fidelis de Paiva Ferreira na ribeira do Ceará-Mirim. Identifiquei
os nomes dos dois membros do Govêrno nesta data, Manuel José
da Costa Monteiro, comandante do Forte dos Santos Reis Magos
(comumente denominado Fortaleza) e que fazia as vêzes de
Comandante das Armas, e Antônio Martins Praça, vereador mais
velho.
O vereador pode ter sido substituído na eleição de pelouros,
quase sempre no dia da Padroeira da Cidade, 21 de Novembro,
mas o Comandante das Armas seria 0 mesmo, dé cujas mãos Melo
e Povoas recebeu o Govêrno (4).
Sebastião José de Melo Povoas, parente próximo do primeiro
Marquês de Pombal e casado com uma filha do segundo titular
(5), governou até 16 de Novembro de 1816, quando assumiu
o tenente coronel José Inácio Borges em cuja administração reben­
tou a revolução de 1817.
O novo Governador tinha 22 anos de idade. O pai governara
Amazonas e Maranhão tendo o Piaui como subalterno, primo-
segundo dó marquês de Pombal. Era, quando assumiu o govêrno,
Sebastião Francisco, Sargento-Mor dé Infantaria. Sua adminis­
tração passou in albis para os nossos pesquisadores. Deixou ane­
dotas qüé ainda oüvi contar pelos velhos natalenses como o pro­
fessor* Panqueca (Joaquim Lourival Soares da Câmara, 1849-
1926). Foi, entretanto, enérgico e trabalhador. Encontrara em
Natal uma dívida de 30.000 de soidos atrasados, devidos a
soldados inválidos e suas desgraçadas famílias, como êlé escrevia,
pèháliÊàdo* SaldoU-a. Fêz construir e inaugurou o Quartel des­
tinado à Tropa de Linha, a 24 de Junho de 1813 (6). A Tropa
era üitia simples Companhia dé qué era capitão comandante o
depois inquieto politico Antônio Germano de Albuquerque Caval­
canti. IntefêssoU-se Vivamente pela arrecadação dos impostos, dí­
zimos, etc, vigiando diretamente a marcha dos serviços públicos.
Não trepidou eth inimizar-$e com o coronel de Cunhaú, Andr*
134 —
d’Albuquerque Maranhão, onipotente senhor de latifúndios,
arrendatário dos. dízimos dos. sete distritos da Capitania. O Re­
gente D. João elevara os vencimentos de Governador para 800$
anuais (Dec. 6-5-1811).
Em 1812 estabeleceu-se a arrecadação do dízimo do sal das
salinas, que não era cobrado. Em 1814 rendeu 112$670. Para o
trienio de 1814-1816, de Janeiro a 31 de Dezembro, o contrato dos
dízimos reais do pescado, açúcar, gado e lavouras, excetuando
o algodão, foi arrematado por 41.151 $500.

(II)
José Inácio Borges, tenente coronel de Artilheria, assumiu a
16 de Novembro de 1816. Fôra nomeado a 4 de Março. Recebeu
o govêrno das mãos de Melo e Povoas. Prêso a 23 de Novembro
de 1817, reassumiu a 17 de Junho do mesmo ano e deixou a Capi­
tania, entregando-a à Junta Constitucional Provisória, a 3 de De­
zembro de 1821. Rocha Pombo e Tavares de Lira fazem restrições
à conduta de José Inácio Borges. Nós, do Rio Grande do Norte,
devemos altíssimos serviços a êsse pernambucano eminente, vivo,
hábil, teimoso, inteligente e patriota. Num velho livro, “Histórias
que o Tempo Leva” (M. Lobato ed. São Paulo, 1924, Prefácio
de Rocha Pombo) teimei-lhe a defesa ante a unanimidade da
acusação. É o homem em cujas mãos estoura a bomba, e não é
responsável pelo seu fabrico e colocação. Basta comparar sua
atuação com os Governadores das Capitanias onde a revolução
teve sua hora vitoriosa, para sentir-se a maneira cauta e a piedade
com que agiu e evitou a violência da repressão e o martírio dos
enforcamentos e fuzilamentos, com exposição de cabeças para es-
carmentos e excitação ao amor monárquico. Nem um só norte-
rio-grandense participante da revolução na Capitania foi condenado
à morte. O chefe, ferido brutalmente e morto no Forte, já estava
sepultado quando José Inácio Borges regressou. Faleceram mais
dois implicados, o padre João Damasceno Xavier Carneiro, na
escuna que o conduzia prêso e o Provedor da Real Fazenda,
Manuel Inácio Pereira, do Lago, nos cárceres da Bahia, de morte
natural. Tudo quanto foi possível para atenuar o crime de lesa-
majestade tentou o Governador que fôra prêso e escoltado para
o Recife embora não creia eu terem-no enviado com as pernas
amarradas e debaixo de insultos. O papel de José Inácio Borges, a
criação de repartições essenciais à vida econômica da Capitania,
sua decidida atuação ao lado dos “independentes”, sua simpatia
nptêria pelos próprios ex-réus que regressavam das cadeias, sendo
um ex-membro do Govêrno Republicano de 1817, o coronel José
— 135 —

Joaquim do Rego Barros, o presidente da Junta que o substitui,


dizem claramente de sua intenção e sentimento.
A revolução de 1817 empolga o momento e quase não per­
mite lembrar atos administrativos do Governador, cuidadoso nos
dinheiros públicos e ativo na atenção aos interêsses gerais.
1817 foi a mais linda, inesquecível, arrebatadora e inútil
das revoluções brasileiras. Nenhuma nos emociona tanto nem há
figuras maiores em tranquila coragem, serenidade e compostura
suprema, decisão de saber morrer, convencidos da missão histó­
rica assumida le desempenhada. Morrem fazendo frases, dignos,
certos de uma participação pessoal no futuro que só se evocaria
com a lembrança apaixonàda dessas fisionomias graves, fervo­
rosas e enamoradas do idealismo político.
Nações e frutas têm sua hora natural da maturação. O en­
canto das revoluções é a tentativa de apressá-las e promover a
velocidade do quadrante do tempo imperturbável. Tôdas as nossas
revoluções têm um apaixonante ângulo para o nosso instintivo
solidarismò democrático. Mas não coincidiram com o Tempo c
foram marcando apenas, com sangue, o caminho para a hora trans-
figuradora. Tivessem vencido, qualquer uma dessas arrancadas
entusiásticas, estaríamos divididos e minguados, com outra exprès*
são geográfica e outro destino político, com vizinhos diversos e
outra História, fatalmente mais inquieta e menor que a nossa.
A nossa hora era 7 de Setembro de 1822. O Tempo fêz
voltai os ponteiros adiantados pela revolução e repôs a marcha
no ritmo implacável. Êsse realismo não atinge aos que morreram
antes da hora nacional. Serão sempre evocados como testemunhas
eternas daqueles que esperavam sem ver a madrugada tão desejada
e longínqua.
1817 é uma revolução de letrados, juizes, advogados, gente
rica, cinqüenta padres seculares e cinco frades. É revolução so­
nora» começando com TE DEUM, com oração congratulatória,
com discursos bonitos, com apelos que ninguém ouviu. Não há
outra tão valente, tão espontânea, tão simpática. Os “conspira-
doces” enfrentam os juíze^/ discutem ou silenciam, como o nosso
conterráneo padre Miguel Joaquim de Almeida Castro, reconhe­
cendo sua letra autógrafa que o Conde dos Arcos sugeria falsa
para salvá-lo, falam „ do patíbulo como na Revolução Francesa
Não há massacresxde Setembro, fuzilamentos de reféns, trucida*
men tos, as repugúâncias do saque e o bestialismo sexual nos mo*
mentos irresponsáveis e coletivos do delírio.
As origens da Revolução de’1817 no Rio Grande do Nort<
devem ser as mesmas das outras Capitanias. Aqui o povo nãc
participou. Não aderiu. Não ajudou. Não defendeu. Numa hors
— 136 —

e öW äofc mesfflòs membtòs do Govêrno Republicano viraram


devotos angustiosos' do amantíssimo Soberano. Ò historiador da
revolução, Munit Jarres e seU dèvotàtfo participante, informa
que André de Albuquerque Maranhão dera um V/ra EMRei no
momento de ser prête. Não depato vestígio dessa “estória" noutra
fonte nem mesnrò nas Versões orais ainda correntes, guardando
até os versos cantados por ocasião da Xnorte do Senhor de Çunhaú,
quatto neto de Jerónimo d’Albuquerque.
Devenios'narrar simples e humanamente os episódios ocor­
ridos há 135 anos passados sem tentar explica-lo através de men­
talidade pessoal. Também não ouso exprobar falta de heroísmo ou
ausência de espírito sacrificial àqueles que viveram acontecimentos
cujo ambiente o tempo afastou de nós para sempre. Muito fácíí
é accnselhar-se valentia e reprochar-se o pavor aos que temeram
e aderiram ante os sucessos terriyeis do momento. Prescott assom-
brava-se com o direito do historiador julgar; È julgar o passado,
mesmo com os depoimentos de fanáticos e céticos, amigos e inimi­
gos, deverá ser feito dentro dã condicionalidade humana e natural.
Não exijamos * virtudes altas ou fixemos defeitos formigantes.
Todos êsses personagens foram homens. . Não lhes devo lançar
minha pedra porque sou homem também e não posso deduzir de
como me comportaria èm situação análoga:
O governador Borges teve a 9 de Março de 1817 vaga no­
tícia dos acontecimentos ocorridos no Recife no dia 6. Apenas
a 12 confirmara-se a revolução em Pernambuco e o Governador,
a 13, proclama aos povos, em forlna de edital às Vilas e Distritos
de sua jurisdição: — vos declaro que estão acabadas ad nossas
relações, c correspondências com todo e qualquer govêrno ou
Autoridade levantada atualmente em Pertiàmbaco, enquanto não
nos constar que um General, ou outro legitimo Delegado de S.
Màfestàdê rèstabelècè ali a sua Soberanía, reclamando de vós o
solene juramento de fideïtdade, que téñdes prestado, e que tetñ
sido sancionado pela nossa santa Religião. Oficiou, nò mèsftiô dia,
aos chèfes dòs difèrerites Corpos é aò Governador do Ceará.
Proibiu, dia 16, ã saída êâs èòibàfcâçõês e nèste dia éstàbeteceú éftl
Natal. uma Alfàndèga para nèla se receber, e seteftl despachadas as
fazèndas, è peñeros dà Èuròpa, cõftdúzidos em Navios Nacionais,
ou Eslrangêiròs, düe vierem aos Portos desta Capitania, e quiserem
comerciar, pagando òs Reais Direitos. Os dois velhos sonhos reaíi-
zaVàm-se ha independência dà Capitania para com Pernambuco
e á criação dà Àlfândégâ. Èssè ato é comunicado a tôdas as
Câmaras da Capitanià. Nãò é possível sêr-se mais explícito cm
àtitude.
Sua còrrespòndêntía cóm André de Albuquerque Maranhãò,
zotfônel còmahdànte da Divisão do Sul e demais membros dêssà
— 137 —

familia, nos altòs postos da Òriâènançâ, é intensa, trocándo ifasttú^


$õès> pedindo noticias, recomendando vigilância. As respostas de
André sâo entusiásticas, afirmando qúe os oficios dò Governador
tinham sido coôiunicàdos àos seus oficiais e soldados fatendo-ot
eòntfèndè? dás Otlêhções de V.5.> e dós meus, e seus deveres, è a
Misericórdia dò Atttesimo hade socôrver-nós, para que nesta òcâ-
siSõ em comunhão com os habitantes dô meu Distrito hajamos
de proclamât cóm perseverança, e constância, e eitàisiâsmo ViuA,
Vivâ, Viva El-Rei Nosso Senhor l (ofício de 14 de'Março
de 181?).
O Governador contínua oficiando aos'comandantes do Seridó,
capitães-mores dos indígenas de Estremoz, Vila Flor e Arez,
mandàndo-ós armar e ajudar, arranjando ferro para chuços, ani­
mando à tòdos. André Oficia, a 18, informando ter feito sair dois
indíoá-correíos dã Capitania do Ceará, e Joãó Dãmasceno que
vem dé Pérúàmbuco para essa Capitania. Simples citação do
notaè comò se fôsse a màis inofensiva ê banal das criaturas. O
Padre João Dãmasceno Xavier Carneiro éra, realmente, a alma
da revolução (Vicente de Lemos), o agente de ligação determí-
nàdor das atitudes subséquentes, com o irresistível prestígio que
possuia sôbre André de Cunhaú. A 22 o Comandante da Divisão
do Sul informa ao Govetnadór divisar alguma moleza ou cansaço»
Não é indisciplina mas procederá de que estando éste País na
maior penúria ê extrema necessidade de farinhas por causa dâ
sêca, e caindo âs chuvas, todos anseiam aproveitar a ocasião, para
refazer os plantios. Borges não trepida ém procurar An'dré para
animá-lo e ver o estado real das tropas confiadas ao seu comando,
auxiliado pelos primos, Luís e André de Albuquerque Maranhão,
de Arez e Vila Flor.
Estavam aquarteladas 207 praçàs do regimento e no dia 17
tinham comparecido màis de seiscentos indivíduos. As notícias
qué chegavam a Natal, falavam em dois mil.
Viaja o Governador na tarde de 23, a cavalo, com o intuito
de revigorar o espírito bélico dos soldados e oficiais. Pernoita no
engenho Belém, pertencente a um primo de André, Luís dè Albu­
querque Maranhão, próximo à atual cidade de Nisia Floresta,
antiga Papari, dez léguas dè Natal, escreve êle. Prossegue a
jornada na manhã seguinte. 24, avistándose com André ein
Goianinha, conversando durante duas horas, das três às cinco
da tarde, sôbre os assuntos militares. Volta e vem dormir no
mesmo engenho Belém. Pela madrugada de 25 a casa-grande do
engenho está ctrcada por André e seus parentes e cêrca de 400
lomens do seu Regimento. Chega outro primo, da Paraíba, João
te Albuquerque Maranhão, cóm um filho e mais tropa. O Pè
— 138 —

João Damasceno está presente. Borges protesta, diz que a revo­


lução é árvore sem raízes. André manda chamar autoridade em
Natal, o Comandante da Companhia de Linha, Antônio Germano
Cavalcanti de Albuquerque, a quem o Governador havia confiado
a guarda da Cidade, o Provedor da Fazenda Real, o coronel da
Infantaria miliciana e o seu major. Todos cumpriram a ordem e
apareceram na manhã de 26. Em nenhum ponto houve a mais
leve reação. O Provedor, Manuel Inácio Pereira do Lago e o
sargento-mor João Rabelo de Siqueira é Aragão pernoitaram no
sítio. Taborda ;( ainda existente no município de São José, à mar­
gem da rodovia que segue de Natal) porque os cavalos can­
saram .
Na manhã de 28 de Março André, com sua tropa,, parentes,
oficiais, faz a entrada solene na Capital, apoiado pela Companhia
de Linha. No dia imediato, 29, convoca as pessoas mais conhe­
cidas, autoridades civis, militares e religiosas e constitui o Go­
vêrno. Todos dizem, depois, ter recusado a indicação. No dia
anterior mandou saldar seu débito no Real Erário e disse oferecer
50.000 cruzados para a Pátria. O Real Erário é o atual prédio
da Delegacia Fiscal (Junho de 1952), na praça André de Albu­
querque, ao lado da Catedral.
O Govêrno Republicano de 1817 é composto pelo coronel
André de Albuquerque Maranhão, capitão de Infantaria Antônio
Germano Cavalcanti de Albuquerque, coronel de Milicias José
Joàquim do Rego Barros, capitão de Milícias Antônio ida Rocha
Bezerra e o padre Feliciano José Dómelas, vigário da freguesia.
Vem de 29 de Março a 25 de Abril.
Náda é feito. André promete aumento de soldo aos soldados.
Não toma uma só providência útil e lógica. Manda apenas Rego
Sarros arrancar a coroa real da Casa da Câmara de Estremoz
ë erguer a bandeira da revolução que é branca_e_simples. Rego
Barros cumpriu as ordens da forma mais amorfa e melancólica
que lhe foi possível.
No dia 30 chega o refõrçò militar da Paraíba, cinqüenta sol­
dados comandados por José Peregrino Xavier de Carvalho, figura
moça, airosa, entusiástica, de sugestiva vibratibilidade. É o ante­
paro e a sustentação do Govêrno de André de Albuquerque Ma­
ranhão. Quando êlê se retira, o Govêrno sucumbe, imediatamente,
no mesmo dia, horas depois de José Peregrino marchar para a
Paraíba, chamado pelos seus correligionários.
Uma fase triste e cinzenta. No palácio da Rua Grande,
que teria seu nome, André trabalha ou vive junto do Pe. João
Damasceno. N enhuma irradiação. N enhuma popularidade.
Nenhuma conquisté. Nenhuma vibração. Os membros do Go-
139 —

:rno estão traindo, procurando fugir. Rego Barros anda sem


barretina porque não se podia apartar das insígnias reais. Rocha
•ezerra está conspirando com Antônio Germano (que depois não
saria o 4‘Albuquerque” do nome, negando qualquer parentesco
om o “monstro” de Cunhaú). O Padre Dómelas delatava* aos
onspiradores o que se passava na sessão do, Govêrno. Muitas
lêzes em minha casa conferenciamos juntos e lhes dava a saber os
irojetos do govêrno anárquico para melhor se saberem dirigir em
táo melindrosa coalizão, escreveu Feliciano José Dómelas. Rego
Barros substituía a palavra Liberdade por Paz, valendo^me do têr*
mo “Paz” pela repugnância que tinha em nomear liberdade, con­
fessava, cândidamente.
Os monarquistas, reunem-se na residência do alfaiate Ma­
nuel da Costa Bandeira. Entre outros, lá estão o capitão Antônio
José Leite do Pinho, português, o capitão-mor José Alexandre
Gomes de Melo, já então construindo o primeiro sobrado par­
ticular em Natal (ainda existente na rua da Conceição), o capitão
de segunda Linha Francisco Felipe da Fonseca Pinto, que fale­
cería em 1845, com 72 anos, professor de latim no Ateneu, Ale­
xandre Felicio Bandeira, João Alvares do Quental (e não Alves
do Quintal), etc.
Na madrugada de 25 de Abril de 1817 José Peregrino regressa
à Paraíba com sua tropa. Tudo está preparado para a restauração
das Reais Bandeiras. André de Albuquerque está só. Nenhum
dos seus seiscentos homens da Ordenanças. Nem um das centenas
de escravos fiéis. Nenhum dos incontáveis parentes. Resta-lhe
apenas o último, fiel, impassível, o Padre João Damasceno, ao seu
lado. O sino da Matriz bate lentamente nove badaladas. É o sinal
de mulher em parto, aviso combinado. Da casa do alfaiate Manuel
da Costa Bandeira partem os homens, agitando armas, vivando
El-Rei e dando morras à Liberdade, convencidos da incompatibi­
lidade entre os dois símbolos. Antônio Germano voa do Quartel
com a Companhia já agora monárquica. Sobem de roldão a escada
deserta do Palácio, perto da Cadeia, na Rua Grande, sem um
guarda. Invadem a sala. André de Albuquerque ergue-se da
mesa, surpreendido. Há um rápido e confuso tumulto. Alguém
atravessa-lhe a verilha com a espada. André segura a lâmina e
fere dois dedos. Prendem o Pe. Damasceno. André ferido, sem
um penso, um auxílio, é empurrado para o Forte. Atiram-no no
quarto escuro, salinha irrespirável e com trevas quase palpáveis.
Sangrando, sedento, jogado nas pedras geladas, agoniza o dia e a
noite inteira, abandonado. O mais rico homem da Capitania, novo,
forte, solteiro, coronel de Õrdenanças, fidalgo, pediu água. Ne­
garam. Pede um travesseiro. Mandam uma pedra que é o traves-
— 140 —

seiro dos pedreiras livres e dòs herejes. A Revolução começara


Coni uma fèàtà religiosa? O soldado Inácio Manuel de Oliveira,
consegue levar-lhe àgua è umà trauxiftha de rôUpa para que apôié
à cabeçà. Nenhum remédio. Nenhuma assistência. André morte
pela madrugada de 26 deitado nà esteira que o soldado arranjara.
Ao amanhecer o soldado Bernardo José de Aráújo vem óbsèrvàr o
estado' dò prisioneiro que não responde aos seus chamados.
O soldado, prende o pé do defunto com ò gancho de um croque,
arrastando o cadáver para fora. Amarram-no a um pau, com
cordas, e Oito soldados carregam o còrpo pára a cidáde. Muita
gente vem acompanhando, curiosidade, tristeza, raiva, inveja. Há
quem cante versinhos que vieram até as primeiras décadas do
século XX (7).
Está instalado, na forma da Ordem de 12 de Dezembro de
1770, um Govêrno Interino. É o Comandante das Armas, o mes­
mo Antônio Germano, o vereador mais Velho, Antônio Freire de
Amorim, e o Provedor da Real Fazenda, Manuel Inácio Pereira
do Lago. Governa de 26 de Abril a 17 de Junho quando o
Governador José Inácio Borges reassume.
Autorizam que André de Albuquerque seja sepultado no
sagrado. O cadáver vem pelo bairro da Ribeira. Onde depois nas­
ceria a Rua das Virgens (Rua Coronel Bonifácio) RitaCoejhp,
dona Ritinha, casada com o alferes Francisco Sebastião Coelho,
dona de escravos, de sítios e de casas, tem um gesto heróico.
Manda deter a escolta e cobre o corpo de André com uma esteira
nova de piripiri. Foi a mortalha do senhor de Cunhaú. O padre
coadjutor, Simão Judas Tadeu, faz a encômendação. João Alvares
do Quental deliberou dar uma manifestação pública do seu fidé-
lismo. Calçou esporas, trepou-se no cadáver e esporeou-o. Se­
pultaram-no no corredor à direita do templo, o único que então
existia (VIÎI).
O Pe. Damasceno foi embarcado para o Recife na escuna
“Foguete** a 14 de julho. A escuna arrastada pelo vento contrá­
rio foi parar em Pititinga, doze léguas ao norte de Natal. O
Padre faleceu no dia 25 dêsse Junho e foi enterrado na praia (9).
Quem feriu André de Albuquerque ? Apareceram vários can­
didatos, fazendo pròva em cartório exibindo espada tinta de san­
gue. Aplacada a tempestade, reposta a família Albuquerque
Maranhão nos seus domínios^ lentamente readquiridos e restaurado
com uma economia obstinada de formiga, surgiu a vingança. Um
sobrinho da vítima, André de Albuquerque Maranhão Arco Verde,
voltando da Eutòpa, dizem ter estudado pacientemente a idehtífi*
cação do criminosa Escolheu õ tenente coronel Antônio Jò3é
Leite do Pinho. Mandou matá-lo. Três vêzes Leite do Pinho
í-
\ — 141 —

escapou. Numa tarde de J4 de Março de 1834 dois cabras de


Cunhaú crivaram da punhaladas o eleito para a vingança. Leite
do Pinho faleceu na manhã seguinte (10 ).

(UI)
“Reassumindo o govêrno após a contra-revoluçãode 1817, José
Inácio Borges não tomou pessoalmente a iniciativa de quaisquer
atos de perseguição e de vingança. Limitou-se a cumprir as ordens
que recebia e isto mesmo suavizando quanto possível a ação de
sua autoridade. Fêz-se, e não era lícita impedir, a prisão de
mu’tos e o confisco dos bens de alguns dos rebeldes; mas nenhum
sofreu a pena de morte em que diversos estavam Incursos pelo
crime de lesa-majestade, devendo-se êsse resultado, em grande
parte» à demora na remessa dos presos para o Recife e às informa-
ções oficiais que prestou, das quais se infere o esforço e o vivo
desejo de inocentar grande número dos implicados na rebelião,
fazendo recair sôbre André de Albuquerque, que já não existia,
a principal responsabilidade dela. E êsse procedimento concorreu,
de modo decisivo, para que a calma e a ordem voltassem, dentro
em pouco, à Capitania", (Tavares de Lira, “História do Rio
Grande do Norte", 487).
A violência irresponsável atenuava-se pela própria exaustão.
Sob o pretexto de prender os Albuquerques Maranhães as pro­
priedades dêssçs foram depredadas, as alfaias roubadas e o gado
dizimado. Mas o Governador nãq seria responsável por essas
exibições eternas de. partidarismo interesseiro e desonesta. Do
seu interesse pela Capitania há entre outros um bom exemplo.
Ainda estava no Recife, prestes a voltar para o seu cargo e, em
31 de Maio de 1817» oficiava ao almirante Rodrigo José Ferreira
Lobo insistindo pelo seu apoio para a Alfândega de Natal e
lembrando que sõhre O assunto escrevera à Sua Majestade desde
?3 de Dezembro de 1816» pedindo o exato e fiel cumprimento da
Carta Régia de 28 de Janeiro de 1808 e Decreto de 18 de Junho
de 1814, abrindo os portos do Brasil ao comércio estrangeiro.
Dizia que o general Caetano Pinto de Miranda Montenegro havia
proibiao aos sfeus antecesores no govêrno do Rio Grande do
Norte a execução dessas leis, fundando a proibição em motivos
fútete, filhos do seu acanhado gênio. Finalmente o Rei dignou-se
oficializar a Alfândega pelo alvará de 3 de Fevereiro de 182Q,
Veto outra libertação embora multiplicando os problemas. O
alvará de 25 de Março de 1818 çriou a Ouvidoria do Rio Grande
do Norte, desligándola da Paraíba. Q primeiro Ouvidor» Dr. Ma­
riano José de Brito Lima# foi nomeado a 8 de Julho e tomou posse
— 142 —
a 28 de Outubro de 1819 e ficou no cargo até 2 de Jumo ae
1822. Era filho de português mas nascera no Rio de Janeiro. .
Ainda durante o govêrno de José Inácio Borges, a seu pedido,
criaram um Corpo de Tropa de Linha, com uma companhia de
Artilheria e três de Infantaria (Dec. de 22 1*1820). Instalou-se
a Casa da Inspeção do Algodão, (Dec. 3 2*1820). Extinguiese
a Provedoria da Real Fazenda, criando*se a Junta da Fazenda
(Dec. 1*10*1821)... O almirante Rodrigo Lobo promoveu-o a
coronel de artilheria, posto confirmado por D. João VI a 9 de
Julho de 1818. Retirando*se do Rio Grande do Norte foi Coman*
dante das Armas no Pará, não assumindo. Viajou pela Europa.
Na Regência Provisoria foi Ministro da Fazenda (1831) e duas
vézes Ministro do Império em 1836. Na eleição senatorial no Rio
Grande do Norte em 1825 teve 30 votos, sendo o 2.° da lista
tríplice. O l.° fôra Agostinho Leitão de Almeida, com 49 votos.
O Imperador D. Pedro I.° nomeou o menos votado, Afonso
d’Albuquerque Maranhão, com 21 votos. Foi o primeiro Senador
pelo Rio Grande do Norte no Império, falecendo a 10 de Julho de
1836. Borges foi senador por Pernambuco em 1826 e reformou*se .
no pôsto de Marechal de Campo em 1831. Faleceu no Recife
a 6 de Dezembro de 1838.

(IV)
A presença da revolução de 1817 na vila de Portalegre é o
mais expressivo depoimento da intensidade borbulhante dos espí­
ritos, ansiosos de ação e tateando no escuro as formas imprecisas
e materiaïizadoras de uma administração lógica. Creio antes quv
a reserva de energia, acumulada nos decênios tranquilos do século
XVIII estava exigindo atuação. Quando o govêrno republicano
de 1817 desapareceu em Natal, reapareceu em Portalegre, numa,
reincarnação que significaria protesto e seguimento.
As cartas e papéis públicos enviados pelo Govêrno às Câmaras
do interior foram cair nas mãos de David Leopoldo Targini,
emissário dos rebeldes da Paraíba. Targini, com boa escolta,
galopou para Portalegre onde havia ligação e clima de simpatia,
assim como em Apodi e Martins. Na vila de Portalegre, em
reunião verbosa como se fosse um elo de vitórias indiscutíveis,
instalou-se um Govêrno. Um emissário1 dos republicanos de Per­
nambuco, Miguel Joaquim Cesar diziam estar marchando com
tropas auxiliares. Era um sonho mas sem sonho ninguém vive
conspirando. Anunciaram que um verdadeiro exército reunir-se*ia
ali para dissipar as resistências nas vilas que tivessem arvorado as
Reais Bandeiras. O Govêrno de Portalegre constava do vigário-
— 143

João Barbosa Cordeiro, tenente coronel Leandro Francisco de


Beça/ sargento-mor José Francisco Vieira de Barros, capitão Ma­
nuel Joaquim Palácio, tenente Felipe Bandeira de Moura, todos
oficiais da Ordenança Montada. O Govêrno instalou-se a 10 de
Maio dè 1817 e faleceu à 19 do mesmo mês. Os mesmos oficiais
membros dêle resolveram acabar com a República local e prender
os colegas republicanos, excluindo os próprios cúmplices e co-réus
tornados agentes legais. Targini e o Vigário fugiram. O Govêrno
de Naíal fêz marchar tropas da Vila de Princesa e prendeu Beça,
Palácio, Bandeira de Moura e já encontrou detido Vieira de Barros.
Um dos elementos mais ativos havia escapado, o Pe. Gonçalo
Borges de Andrade, vigário do Apodi. Fugira para Souza, na
Paraíba, onde o prenderam a 13 de Junho e o enviaram para a
Bahia. Foi sôlto apenas a 17 de Novembro de 1820. Gonçalo
Borges de Andrade foi eleito deputado às Cortes de Lisboa em
Dezembro de 1821 mas se dispensou de viajar e ficou pelo sertão.
Faleceu na serra do Martins muitos anos depois. Essa foi a
República de Portalegre. A 15 de Agôsto estavam todos recolhidos ,
à Cadeia da Cidade do Natal, começando a sofrer até novembro
de 1820. É o que consta, em resumo, da comunicação oficial do
governador ao todo-poderoso Luís do Rego Barreto, Governador
de Pernambuco.

(V)
José Inácio Borges, partidário da Independência do Brasil
apoiaVa visivelmente. o grupo de tendências semelhantes, não
querendo pôr-se de maneira ostensiva, à sua frente. Os «crimi­
nosos” de lesa-majestade que voltavam dos cárceres da Bahia eram
os mãis entusiastas e merecedores de maior popularidade pelos so­
frimentos arrostados e a presença do halo prestigiante de ter par­
ticipad© da revolução de 1817. Esqueciam-se das delações e con­
fissões humilhantes, das bajulações supremas e desnecessárias,
para ver nos homens famosos o destemor e a coragem do ideal
digno do sacrifício.
O governador obteve licença para deixar a administração do
Rio Grande do Norte entregando-a à uma JUNTA CONSTI­
TUCIONAL PROVISÓRIA, eleita na conformidade com o De­
creto das Cortes de Lisboa de l.° de Setembro de 1821 e enviado
ao Governador de Pernambuco. Convocou o Governador, por
edital de 9 de Novembro de 1821 os eleitores para que escolhes­
sem, sob a presidência da Câmara de Natal o Govêrno, o primeiro
govêrno eletivo para todo território. A Junta teria sete membros,
inclusive o presidente e secretário.
— 144 —

A eleição realizou-se a 3 de Dezembro de IW b comparecendo


quarepta e três eleitores de paróquia; 8 de Estremoz; um do Pria-’
cipe (Çaiçó): 4 de Princesa, (Açu): 2 de Are?; 4 de Goianinha;
7 de Natal; 5 de S. José; 2 de Portalegre; 4 de Pau dos Ferros;
3 do Apodi e 3 d^Vila Flor.
O coronel Joaquim José do Rego Barros, ex membro do Go*
vêrpo de André dé Albuquerque, teve 31 votos para o cargo de
presidente. O secretário, 18, o Pe. Francisco Antônio Lumachi
Melo, 25; Luis de Albuquerque Maranhão, 24, o capitão Antônio
da Rocha Bezerra, 19, o sargento-mor Manuel Antônio Moreira,
16, e o Çapitão+Mor Manuel de Medeiros Rocha, 15. Quase todos
tinham figurado no processo revolucionário de 1817 e três eram
conhecidos como antigos chefes republicanos. A Junta Constitu­
cional empossou-se no mesmo dia. O governador José Inácio Bor­
ges cumprira sua missão. Entregou o govêrno# Era composta de
simpáticos da Independência e amigos do Governador Borge*.
Luis de Albuquerque Maranhão era o dono do engenho “Belém”
onde Borges fôra prêso. Rego Barros e Rocha Bezerra eram ex-mi­
nistros de André de Cúphaú, Q grande adversário local era o
Qpvidor da Comarca, Dr- Mariano José de Brito Lima, mai*
adversário dos elementos da cidade do que d* idéia de autonomia
nacional. A Junta nada pôde fazer. Apenas espalhou conselhos
anõdinos e paternais. No edifício da sede da Junta faltava tudo;
desde cadeiras até papel e tinta. Apareceu o pretexto legal para ata­
cá-la. O verdadeiro decreto constitutivo da Junta devia ser o de 29
de Setembro, de 1821 e pão « de Is de Setembro que fôra dirigido
apenas paru Pernambuco. Nas Capitanias subalternas, como a do
Rio Grande do. Norte, o número de membros era de cinço e não
de sete, Quando a Junta Constitucional solicitou pagamento de
seus honorário«/ de 3. de Dezembro a 31 de Mafço, a Junta da
Fazenda impugnou a ordem por serem sete e não cinco os membroa
do Çovêrno. Atarantada, a Junta resolveu sacrificar os dois menos
votados. Manuel Antônio Moreira e Mánuel de Medeiros Rocha,
éste último sem ter ainda assumido, Q remédio foi contrapro­
ducente. Apareceu um “abaixo-assinado”, com çipqüenta assina­
turas, encabeçado por. capitão Joaquim Torquato Soares da Câ­
ntara, requerendo ao Presidente da Câmara de Natal a reunião
des eleitores para a criação de neva Junta, uma vez que q existente
era nula, insustentável, ilegal. A Junta Constitucional agiu me­
diatamente. Prendeu o Ouvidor! Prendeu e capitão Joaquim
Torquato e mandou-os para o Forte dos Reis Magos, incomuni­
cáveis. Dois dias depois, 6 de Fevereiro, de 1822, outro “abaixo
assinado”, desta vez dirigido ao Comandante de Batalhão de Linha,
insistindo-nos mesmos propósitos do anterior.. O Comandante, o
nosso amigo Antônio Germano Cávaleanti de Albuquerque (estava
— 145 —

usando o Albuquerque novamente), ex-revolucionário de 1817,


atendeu prontamente e trouxe o batalhão para a praça. Ante
ameaça de motim popular e militar, o Presidente da Câmara cedeu.
Fêz-se a eleição de 7 de Fevereiro de 1822, sendo escolhido o
GOVÊRNO TEMPORÁRIO, na forma do Decreto de 29 de
Setembro de 1821. «
O GOVÊRNO TEMPORÁRIO, eleito e empossado a 7 de
Fevereiro, governou, se é que fêz, até 18 de Março do mesmo-ano.
O Presidente era o Professpr de Gramática Latina, Francisco
Xavier Garcia, casado com uma irmã do Padre Miguelinho. Se­
cretário, Matias Barbosa de Sá, membros, Francisco Xavier de
Souza Júnior, Inácio Nunes Correia Tomás e Pedro Paulo Vieira.
Eleito sob a égide das armas e da exaltação partidária, estava o
Govêrno Temporário indicado apenas para cumprir o programa
tácito do movimento político de cujo seio nascera. Viera para
dar um recado. Nada mais. O Presidente, português nato, Pro­
fessor Régio de Gramática Latina, era homem simples, pacato e
geralmente querido. Nenhum outro estava dotado, felizmente, de
temperamento enérgico para resistir aos imperativos dos “amigos**
ou satisfazê-los inteiramente, assumindo a responsabilidade dos
desmandos sugeridos. Durante os quarenta e um dias que medem
da posse à transmissão de um govêrno ao outro, o TEMPO­
RÁRIO cingiu suas atividades em acelerar o processo contra o
Ouvidor Brito Lima e o capitão Joaquim Torquato, e libertá-los
da prisão e julgamento o mais depressa possível.
O ambiente era turvo e áspero. Quando o Senado da Câmara,
ou seja a Câmara Municipal de Natal, no dia imediato à eleição
comunicou a posse do GOVÊRNO TEMPORÁRIO às Câmaras
do interior, recebeu ofícios valentes de protesto e veemente repro­
vação. A Câmara da Vila de Princesa (Açu) estava indignada,
declarando: — não queremos êsse Govêrno Temporário porque
é ilegítimo, criminoso e rebelde, e são êstes os nossos sentimentos
e últimas palavras. As Câmaras de Portalegre e do Príncipe
(Caicó) solidarizaram-se com sua altiva companheira. O Senado
da Câmara de Natal, roncando de raiva, representou ao Govêrno
Temporário e ao próprio D. João VI em pura perda e nenhum
resultado.
Para os dois mentores presos no Forte dos Reis Magos o
Govêrno foi mais feliz em sua dedicação. No mesmo dia em que
se empossaram (7 de Fevereiro) mandaram os governadores dar
o Forte por homenagem ao Ouvidor e ao Capitão, com instruções
que lhes permita falar as pessoas que os visitem. Ao Ouvidor
pela lei (Substituto), Joaquim José Gomes, oficiou-se mandando
continuar para que apareça o crime ou a inocência de ambos (ofí-
— 146 —

cio de 8 de Fevereiro de 1822), A Câmara de Natal, em mãos


amigas, insiste pela liberdade do magistrado e sua reintegração,
acusando Joaquim José do Rego Barros e mais ex-governadores^
de cúmplices e mais nomes feios. O Govêrno Temporário, em
ofício de 12 de Fevereiro de 1822, dirigido ao sargento-mor Ma­
nuel Freire de Freitas, comandante do Forte, manda pôr em
liberdade o Ouvidor e o Capitão e, dois dias depois entregar-lhes
todos os papéis e documentos confiscados, fingindo pedi-los para
exame. O Ouvidor voltou à plenitude da fôrça.
O Govêrno Temporário, segundo o têrmo da vereação extra­
ordinária de 7 de Fevereiro, seria eleito para reger segundo as
leis, enquanto se conseguia a reunião de eleitores. Os convites fo­
ram expedidos e os avisos espalhados. A 18 de Março reuniram-se
em Natal apenas vinte e quatro eleitores de paróquia. Mesmo assim
procedeu-se a eleição. Assim surgiu a JUNTA DO GOVÊRNO
PROVISÓRIO, eleita e empossada no mesmo 18 de Março de
1822. Só faltou um membro, Tomás de Araújo Pereira que mora
no sertão do Seridó desta Provincia, o qual [oi oficiado, informa o
têrmo da eleição.
A JUNTA DE GOVÊRNO PROVISÓRIO, eleita a em­
possada em 18 de Março de 1822, governa até 24 de Janeiro de
1824. Presidente, Padre Manuel Pinto de Castro, irmão do Padre
Miguelinho, Manuel Antônio Moreira, secretário, um dos des­
prendidos da Junta Constitucional, Provisória, substituto do gover­
nador José Inácio Borges, sargento-mor João Marques de Car­
valho, Agostinho Leitão de Almeida e Tomás de Araújo Pereira,
que assumiu somente a 16 de Setembro de 1822. João Marques
de Carvalho e Agostinho Leitão de Almeida foram excluídos a
11 dê Novembro do mesmo ano e no mesmo dia eleitos e empossa­
dos seus substitutos, José Correia de Araújo Furtado e o Padre
João Francisco Fernandes Pimenta.
A JUNTA DE GOVÊRNO PROVISÓRIO atravessou uma
época inquieta e cheia de dificuldades. O Presidente, pessoalmente
bom, acolhedor e bonachão, era extremamente influenciável pelos
correligionários e a fase, confusa e tumultuosa, mais agravava a
natural inexperiência de homens simples, chamados a governar
em plena tempestade. Os grupos formados na Província não per­
diam oportunidade para turbar a tranquilidade ambiente, explo­
rando os chefes de serviço ou a vaidade, do Comandante da Tropa
de Linha, transformada em poder executivo, de imediata ação
irrecorrível.
A JUNTA DE GOVÊRNO começou espalhando boletins
pacificadores para que todos se amem mútuamente. A facção dos
fiéis ao Govêrno Português, vitoriosa no momento, reagiu na
— 147 —

sombra. Os alferes do Batalhão de Linha recusavam prestar con*


tinéncia militar aos membros da Junta. Esta oficiou ao Co­
mando e obrigou*o a mandar para Pernambuco treze alferes, com
dia marcado, sob pena de perder o emprêgo. O Ouvidor deduziu
que sua influência decaía e recebeu Provisão Régia de 6 de Junho
de 1821, concedendo-lhe seis meses de licença. Escolheu justa*
mente essa hora para descansar e retirou-se para não mais voltar
ao Rio Grande do Norte. A JUNTA enviou João Marques de
Carvalho às Câmaras de Princesa, Príncipe, Portalegre e outras,
sossegando a paisagem e assegurando os superiores intuitos de
calma e amor sem fim. Ao mesmo tempo oficiava mandando não
dar X posse a varios oficiais, antigos revolucionários de 1817, par*
ticipes ou aliados da Junta Constitucional Provisória de 1821. Com
essa manobra, duplamente suspeita, acendendo velas aos demônios
e aos anjos, desagradou a todos.
A 13 de Julho de 1822 houve juramento de fidelidade ao
Soberano Congresso Nacional, a El*Rei Constitucional D. João VI
e ao Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara, com o poder exe*
cutivo assim e da mesma forma que em Portugal o exerce El*Rei
o Senhor Dom João VI, em tudo que não Jôr contrário aos nossos
direitos. Daí em diante a JUNTA se aproxima do Príncipe D.
Pedro dando execução aos decretos, recomendando obediência.
Assim faz entrega ao sargento*mor Antônio Germano de um barril
de pólvora, mil balas de mosquetería e üma arroba de imbira,
com a ordem de não permitir desembarque de tropas portuguêsas
nos portos do Brasil.
O escrivão da Ouvidoria, José Ferreira Dias, é o mentor de
Antônio Germano, de Joaquim Torquato Soares da Câmara e de
todos os espíritos buliçosos e serelepes. Uma representação, apesar
de certas medidas de defesa, põe fora da JUNTA a dois membros,
João Marques de Carvalho e Agostinho Leitão de Almeida.
Uma brevíssima eleição escolhe os sucessores, a 11 de Novembro
de 1822. Antônio Germano tinha sido eleito pelo Batalhão e alguns
eleitores e Povos desta Cidade Governador das Armas da Pro*
víncia. O decreto 42, de 14 de Agôsto de 1821, mandava que a
JUNTA escolhesse o oficial e propusesse à Sua Alteza Real.
Antônio Germano compareceu ao Senado da Câmara mas recusou
a nomeação por haver na eleição atributos contrários à boa ordem.
As festas da Aclamação Imperial realizaram-se a 22 de Ja*
neiro de 1823. A notícia chegara a 2 de Dezembro. Convidaram
tôda a gente, nobre e humilde, militar e paisana, rica e pobre, para
se axarem nesta Cidade para assistirem a Missa solene e Thedéo
que se ade selebrar nesta Matriz em ação de grassas a acclamação
de El~Rey Imperial o Senhor Dom Pedro d'Alcantara. Houve Te*
Deum vivas e luminárias nas noites de 20, 21 e 22. As luminárias
— 148 —

eram quengas de coco ou bandas de laranjas» com um trapo ardendo


em azeite de carrapato. Era muito bonito» diziam todos os do*
cumentos. .
Antônio Germano influía» prendendo sargentos e furriéis jul­
gados desafetos. A Câmara protestou e pela primeira vez indicou»
com tôdas as letras» o onipotente oficial como responsável pela
intranquilidade ambiental. Inteligentemente» Antônio Germano saiu
do palco. Pediu reforma» que o Imperador concedeu a 21 de
Julho de 1823 no posto de tenente coronel. Assumiu o comando
da Tropa de Linha o capitão de primeira Companhia» Vicente
Ferreira Nobre. Ia tudo serenando .
O Ouvidor pela Lei» José dœ Rego Bezerra» deu o golpe de
morte» em ofício à Câmara de Natal» em 24 de Janeiro de 1824.
Admira como tendo a Asembléa Luzo Brasileira Legislativa, com
a sanção de S.M.I. decretado a nova forma de governo das
Provincial por sua carta de lei de-20 de Outubro de 1823 em que
se á por abolidas as Juntas do Governo Provisorio, estejão V.S.S.
e o Povo sofrendo a legitima obediencia da Junta Provisoria desta
Província, que pelo Artigo 19 da sobredita Ley deve ser substituida
pelo Presidente dessa Camara, a quem ordeno mande já e já dis-
solver a dita Junta e substituila pelo Vice Presidente que a Ley no
sobredito artigo XIX manda para legitimidade dessa Authoridade e
sossego desta Provincia, etc.
O artigo l.° da Carta de Lei de 20 de Outubro de 1821
rezava: Ficam-abolidas as Juntas Provisórias do Govêrno, esta­
belecidas as Provinciais do Imperio do Brasil por Decreto de vinte
e nove de Setembro de mil oitocentos e vinte e hum. No artigo 19
lese : — Em falta do Presidente, Vice Presidente, Conselheiros, e
Suplentes, o Presidente da Camara da Capital servirá de Presi­
dente da Provincia para expedir aqueles negocios, que são de mera
competencia do Presidente,
A Câmara, em oficio do mesmo dia, comunicou à JUNTA
e esta respondeu, também a 24 de Janeiro de 1824, pela voz do seu
Presidente: — Estou pronto a entregar o dito governo logo que
se apresente o eleito por V.V.S.S. porque não devo abandonal-o,
sim dêle fazer entrega.
Para que o 24 de Janeiro de 1824 se tornasse histórico, nas
lembranças natalenses, o presidente da Câmara, Manuel Teixeira
Barbosa, assumiu no mesmo dia a administração provincial.
Desaparecera a Capitania é nascia a Província.
Manuel Teixeira Barbosa, Presidente da Câmara de Natal,
governou até 5 de Maio de 1824. Neste dia assumiu a admi­
nistração o primeiro Presidente da Província do Rio Grande do
Norte, Tomás de Araújo Pereira, o primeiro e último norte-rio­
grandense que, com êsse título, governaria sua terra natal.
— 149 —

NOTAS AO CAPITULO SEXTO

( 1 ) Luis da Câmara Cascudo, GOVÊRNO DO RIO GRANDE DO


NORTE, 145, Natal, 1939.
(2) Original existente na mapoteca do Ministério do Exterior. Foto­
cópia devida ao Dr. Renato Almeida.
(3) Vicente de Lemos, notas à «Memória relativa à defesa da Capitania
do Rio Grande do Norte, etc.», Revista do Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Norte, VIII, 150.
(4) A título de curiosidade divulgo o ofício do Senado da Câmara ao
novo Governador, marcando local e hora para a posse. Copiei-o do original
existente no arquivo do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte. «Exmo.
Sr. Gor. Sebastião Francisco de Melo e Povoas.
Acabamos de receber a Carta Régia de Sua Alteza Real o Príncipe Re­
gente Nosso Senhor, de vinte e três d’Agosto do ano próximo passado pela
qual nos avisa o mesmo Augusto Senhor que foi serviço nomear a V. Exa*.
Governador desta Capitania, em consequência do que fazemos certo a
V. Exa. que amanhã, vinte e dous do corrente nos avernos axar na Igreja
Matriz desta Cidade as oito horas damanha para dar a V. Exa a devida
posse. A pessoa de V. Exa guarde Deus muito anos.
Cidade do Natal, a vinte hum de Janeiro de Mil oito centos" e doze —
Luiz Antônio Ferreira, Antônio José Seabra de Vasconcelos, João Bernardino
Nunes, Joaquim Torquato Soares da Camara.»
(5) Luís da Câmara Cascudo, GOVÊRNO DO RIO GRANDE DO
NORTE, 199-202, para maiores informações. Casando com sua prima, Maria
Leonor de Carvalho e Melo, filha legitimada de Henrique José de Carvalho e
Melo, segundo Marquês de Pombal, falecido a 26 de Maio de 1812 no Rio
de Janeiro, sem geração e deixando o título ao seu irmão, José Francisco de
Melo e Daun, conde da Redinha* terceiro marquês de Pombal. A mulher de
Sebastião Francisco nascera em Lisboa em 1782 e faleceu em Natal, a 3 de
Outubro de 1814, em consequência do parto do seu filho Sebastião Pedro,
ocorrido a 25 de Setembro e batizado a 10 de Outubro do mesmo 1814, sendo
padrinho o sargento mor Antônio Bernardino Mascarenhas. Enviuvando antes
do filho batizar-se, Sebastião Francisco ficou inconsolável. Era amigo de fes­
tas, missas cantadas, serenatas, passeios a cavalo. Ajudava a missa e cantava
salmos e litanias, como boin fidalgo. Reunia músicos para ouvi-los tocar. Data
do seu tempo a primeira representação em Natal do tradicional FANDANGO,
a Manijada, com o romance da Nau Catarineta, que o Governador entoava a
plenos pulmões. Deixando o Rio Grande do Norte foi governar a Capitania
das Alagoas, posse a 22 de Janeiro de 1819, até 1821 e presidente da Junta
Governativa até 31 de Janeiro de 1822. Em Agôsto estava em Lisboa* apre-
sentando-se às Cortes. Perdi-lhe o rasto. O Prof. Panqueca dizia que Sebas­
tião Francisco morrera na Africa combatendo um leão. Jaime d’Altavila e
Craveiro Costa elogiam a administração de Melo e Povoas nas Alagoas;
«História da Civilização das Alagoas», 39, 49, «História das Alagoas», 98.
Sôbre o problema genealógico dêsse Melo e Povoas e um Pombal nascido na
cidade do Natal, minhas notas provocaram um minucioso estudo do saudoso
genealogista português, Dr. João José Maria Francisco Rodrigues d’Oliveira,
«Descendentes e colaterais ignorados do I.° Marquês de Pombal», Diário de
Noticias, 16 a 19 de Setembro de 1936, Funchal, úha da Madeira, e aparecem
as informações noutros genealogistas.
(6) Nestor dos Santos Lima, «O Quartel Militar de Natal» RIHGRGN,
XIV. O 24 de Junho era o nomástico do Principe Regente, D. João, depois
D. João VI. O Quartel foi construído com as dádivas dos moradores da
Capitania e a Real Fazenda não foi incomodada.
— t5Q

(7) Os yersinhos primitivos, dizia-me o prof. Joaquim Lourival, er.


apenas êstes :
Ali no géréré
Morreu Pai André I
Morreu &ai André !
Ali no géréré!
Mas depois aparecem outros, descritivos. Foram popularíssimos duran
todo o $éculo XIX. A REPÚBLICA publicou-os a 18 de Maio de 1898 e .
GAZETA DO COMÉRCIO, a 19 de Março de 1902. Tinham solfa que nã
conheço. T .
Março, 25, — Um Padre nefário
Que bem se contava De mim tão benquisto,
André de Albuquerque Foi quem me perdeu,
Quem me meteu nisto.
Nesta praça entrava.
Infeliz do filho
Em fino cavalo Que obra o contrário
Vinha bem montado Do pensar da Mãe
Por ser temerário.
E os seus parentes
Trazia a seu lado. Eu miro-me agora
Em fatal espelho
Tão rico, tão nobre Porque não tomei
E tão soberano, . Da minha o conselho.
Depois se viu feito Depois já cadáver,
Um simples paisano. Num pau inquerido.
Por oito soldados
Já prêso e ferido Voltou conduzido.
Pela realeza
E assim neste estado.
Marcha escoltado Passando a Ribeira,
Para a Portalesa. Ritinha Coelho
Sacode uma esteira.
Seu ventre ferido,
Ferida uma mão, E nela envolvido
Foi obra da espada Seguiu pra Matriz;
De um capitão. E quem isto viu
Ê quem conta e diz.
A sua coragem B no corredor
Eu admirei; Da mesma Matriz
Nem mesmo ferido Está sepultado
Quis dar viva ao Rei ! O triste infeliz.
Transido de dores O Povo gritava
Já quase morrendo Com grande alegrão :
Em sua agonia — Morreu Pai André !
Bradava dizendo: — Viva Dom João!

Ainda se vê a tradição popular que dava 25 de Março e*não 29 como


a data da entrada de? André de Albuquerque em Natal. O Padre acusado é João
Damasceno.
(8) Ritinha Coelho sepultou-se a 21 de Janeiro de 1857 na Igreja do Bom
Jesus das Dores da Ribeira. Seus descendentes são numerosos A certidão
de Ahito de André de Albuquerque é esta :
— 151 —

«Aos vinte e seis de Abril de mil oito centos e dezasete faleceo da vida
presente nesta freguesia, tendo recebido os Sacramentos da Penitencia e Unção,
o Coronel André d'Albuquerque Maranhão, branco, solteiro, * com a* edade de
quarenta anos, pouco mais ou menos. Foi sepultado nesta Matriz, envolto em
uma esteira, depois de ser encomendado pelo R. Coadjutor Simão Judas Tadeu,
de minha licença. E para constar fiz éste assento, que aSsino. (a) Feliciano
José Dómelas, Vigário Colado.»
(9) João Damasceno Xavier Carneiro era da Paraiba, filho natural do
Doutor Provedor Antônio. Carneiro de Albuquerque Gondim. Parece haver ,
sido «reconhecido» porque no registo batismal do seu filho Joaquim aparece
o nome da mãe, dona Inez Rita de Melo Monteiro, natural da freguesia e
de Goianinha. Casou-se na Capela do Forte dos Reis Magos a 9 de Novembro
de 1780 com Ana Maria da Conceição, filha do Sargento-Mor Manuel Antônio
Pimentel de Melo, (falecido a 18 de Junho de 1768) e de d. Ana Maria da
Conceição, também defunta. Casou-o o Pe. Francisco. Manuel Maciel e foi
padrinho o capitão Antônio da Rocha Bezerra. João Damasceno foi escrivão
em S. José de Mipibu, sendo proprietário de sítios. Tratava-se bem, generoso,
acolhedor. Teve dois filhos, Joaquim, nascido em Natal a 5 de Janeiro de 1785
e dona Ana Joana Xavier Carneiro, fonte de informação para D. Isabel Gondim
(«Sedição de 1817 na Capitania ora Estado do Rio Grande do Norte»).
Enviuvando, João Damasceno ordenou-se Padre. Vigariou a paróquia de Unp
em Pernambuco e posteriormente foi nomeado Visitador para o Rio Grande do
Norte e Ceará. Eia relacionado com todos os prôceres revolucionários de 1817
e sua missão ligava-se a ministrar instruções aos companheiros. Anos depois
de sua morte, seu filho Joaquim, também Padre, conseguiu ser Vigário de
Éstremoz e exumou os restos de João Damasceno de Pititinga, com a máxima
solenidade, sepultando dignamente na Matriz de Estremoz, hoje destruida.
(10) João Alvares do Quental faleceu Tesoureiro da Provincia, com
74 anos, em 13 de Setembro de 1850.. Era um dos indicados como tendo ferido
André de. Albuquerque e esporeado-lhe o cadáver. Francisco Felipe da Fon­
seca Pinto, professor de Latim no Ateneu, falecido em Natal, com 72, em 3
-de Outubro de 1835 também foi apontado. Antônio Germano, o inquieto Co­
mandante da Companhia idem. Promovido a sargento-mor em 1821 »for-
mou-se em 1823 desmoralizado e malquisto de todos. Creio, que se retirou
para Pernambuco e lá morreu. O marido de Ritinhá Coelho, o alféres Francisco
Sebastião Coelho, afirmava ter visto o alfaiate Manuel da Tosta Bandeira
ferir o Senhor de Cunhaú. Nenhum sofreu o castigo e sim Antônio José
Leite do Pinho, tenente coronel, relacionado e rico. Morava na Rua da
Conceição, casa desaparecida pela construção da Praça Sete de Setembro.
Era casado com d. Bernarda Antônia Joaquina. Uma sua filha, Ana Maria de
Jesus, casou com Joaquim Inácio Pereira, da freguesia de S. Miguel da Vila
-de Tôrres Vedras, patriarcado de Lisboa. Leite do Pinho era da freguesia de
S . José da Madeira, cidade do Pôrto. Um seu netinho, Vicente, brincava com
«êle, deitados num tapete na calçada da casa. Os assassinos esperaram que
a criança fôsse recolhida e atiraram-se ao tenente coronel que se defendeu,
mesmo * sem poder levantar-se, valentemente. Falçce&Lna manhã de 15'de
Março de 1834. Tinham deixado, encravadas, duas facas de prata. O netinho
Vicente foi o Dr. Vicente Inádo Pereira (1833-1888), primeiro natalense
formado em Medicina, Bahia, 1859, Presidente da Provincia em 1879. O
sobrinho de André de Albuquerque, André de Albuquerque Maranhão Arco
Verde, 1797-1857, o famoso Brigadeiro Dendê Arcoverde (Ver ACTA
DIURNA, A República, Natal, 6, 8, 10, 17, 20 e 24 de Maio de 1941 sôbre
Dendê Arcoverde. Sôbre Leite do Pinho, «O Matador de André de Albu­
querque», Acta Diurna, Natal, 25 de Fevereiro e 4 de Março de 1934; sôbre
o assunto em geral? «Quem feri” A«¿ré Mhuquerque? «idem, 14, 16 ,e 18 3*
— 152 —

Fevereiro de 1940 e RIHGRGN, vols. XLVIILXLIX, Natal, 1952). Dendê


Arcoverde prometera aos dois escravos que matassem Leite do Pinho: —
«Vocês não precisarão de mais nada neste mundo !» Quando teve certeza
de que suas ordens tinham sido cumpridas fielmente, enterrou vivo um dos
escravos e plantou em cima um coqueiro que ainda existia em 1932 diante da
antiga Casa Grande de Cunhaú. O outro foi empalado na Mata das Almas,,
em Tamatanduba. Nunca mais precisariam de cousa alguma nesse mundo! ...

ADENDOS
O FORTIM DA ILHA DE MANUEL GONÇALVES

Quando o comte. Carlos Garrido estava escrevendo o seu «FORTIFICA­


ÇÕES DO BRASIL» (Rio de Janeiro, Imprensa Naval, 1940) consultou-me
sôbre os fortins no Rio Grande do Norte.
Fausto de Souza, repetido por Aníbal Amorim, citava o «FORTE DE
MANUEL GONÇALVES». Impugnei o Fortim porque jamais encontrara a
menor referência nos arquivos e livros. Carlos Garrido publicou seu trabalho-
ilustre e citou minha opinião completa.
Modifico a contestação. O Fortim existiu. Foi mandado construir e cons-
truiram-no, artilhado e solene. "Nunca disparou um tiro. Mas não há dúvida
de sua existencia material. —--
Em História o fundamento absoluto é a documentária. Nenhum ser racio­
nal tem o direito de obstinar-se diante de um documento de autenticidade
irrecusável.
A Secretaria do Govêrno de Pernambuco está publicando «DOCUMEN­
TOS DO ARQUIVO», agora no II volume (Recife, 1943). Nas páginas 62
a 73 estão as provas da origem do Fortim, ofícios do governador do Rio
Grande do Norte, tenente coronel José Inácio Borges, para o general Luís do
Rego Barreto, Governador e Capitão General de Pernambuco, historiando um
ataque de um navio corsário à ilha de Manuel Gonçalves, roubando, ferindo»
matando^ saqueando, impunemente pela falta de uma fôrça defensiva orga­
nizada.
Com o que descobri na Secretaria Geral do Estado, seção do Arquivo,,
é possível acompanhar a micro-história do Fortim da ilha de Manuel Gonçalves.
A 12 de dezembro de 1818 a ilha de Manuel Gonçalves era muita habitada
e constituía núcleo de exportação de peixe para o sul do país. Várias embar­
cações faziam essa cabotagem, carregando peixe, couros e sal.
Era Comandante do degredo da ilha de Manuel Gonçalves o Sr.. Alexan­
dre José Pereira, muito doente, substituido, nos acontecimentos, pelo Sr. João
Martins Ferreira.
Âs 11 horas de 12 de dezembro de 1818 apareceu uma Escuna, estrangeira^
armada com doze canhões, em bandadas de seis, arvorando bandeira não iden­
tificada, a três léguas da ilha, avançando e fundeando defronte da barra do­
rio Amargoso.
Até 18, a Escuna, que se dizia inglêsa, fêz o que quis. Saqueou as suma­
cas SANTA RITA GALATEA, de Pernambuco, PENHA, VITÓRIA, de Per­
nambuco, CONCEIÇÃO DAS ALMAS, de Paraiba. FLOR DO MAR, de
Goiana, carregando os escaleres com massame, escravos, dinheiro, roupa etc.
Dispararam as armas para a praia, ferindo quatro moradores a bala. De
12 a 18 ocupou-se a guarnição da Escuna a tirar das sumacas o que lhe parecia
útil, diante dos olhos assombrados da população que não podia reagir. Depois
partiu a Escuna, tranquilamente, ancorando em Caissara e dai largou, mar*
alto c
153 —

José Inácio Borges mandou o Comandante da Vila da Princesa, Manuel


Varela Barca, prestar auxílio imediato ... em 20 de dezembro. Num oficio
de 31 do mesmo mês, especie de relatório, Borges historia ao Governador de
Pernambuco o assalto, contando .haver enviado duas peças de artilheria,
cinqüenta e dois tiros de metralha, seis artilheiros, algumas espingardas e
suficiente cartuchame de mosquetaria e clavinaria, em três jangadas, tudo entre­
gue a um Cabo de Esquadra da Companhia de Linha por [alta de um Oficial
que me merecesse confiança,
Uma das jangadas, conduzindo o canhão, foi apresada pelo corsário em
Caissara, a 22, ferindo um soldado que resistiu, sozinho, contra tôda tripulação
inimiga.
.Imediatamente José Inácio Borges começou a construção do Fortim na ilha
de Manuel Gonçalves, comunicando ao ministro Tomás Antônio de Vilanova
Portugal, em 17 de dezembro dêste 1818, em plena confusão de notícias e
terrores. A 12 de novembro de 1819 ainda o Fortim não estava concluído,
autorizando o ministro Vilanova .Portugal os auxílios dos moradores da Barra
do Amargoso para maior rapidez da obra, conforme hav..un solicitado a
D. João VI.
Não conheço outros pormenores.
A ilha de Manuel Gonçalves, em janeiro de 1845, estava quase deserta,
invadida pelas águas, possuindo apenas um Inspetor de Quarteirão, autoridade
única na terra que o Mar devorava.
Doze anos • depois, em 1857, os roteiros de navegação anunciavam que a
Ilha de Manuel Gonçalves deixara de existir ...

OS RÉUS NA REVOLUÇÃO DE 1817


1 — André de Albuquerque Maranhão. Chefe do Govêrno Republicano de
1817. Faleceu a 26 de Abril de 1817 em conseqüências de ferimentos
do dia anterior.
2 — André de Albuquerque Maranhão, primo e cunhado do primeiro. Ca-
pitão-Mor de Vila Flor e Arez. Prêso a 15 de Maio de 1817. Fêz parte do
Conselho do Govêrno. Faleceu depois de 1841.
3 — Padre Antônio de Albuquerque Montenegro, Vigário de Goianinha,
grande animador da revolução. Cavaleiro da Ordem de Cristo. Pro­
nunciado a 13 de Setembro de 1818 nunca foi prêso. Deputado pela
Província às Cortes de Lisboa em 1821. Viajou a Portugal não
assumindo seu pôsto (Sessão de 16 de Agôsto de 1922). Vigariou
Goianinha desde 1802. Faleceu a 8 de Dezembro de 1840.
4 — Antônio Ferreira Cavalcanti, Capitão-Mor de Portalegre, prêso a 6 de
Janeiro de 1818. Pôsto .em liberdade a 17 de Novembro de 1820.
5 — Agostinho Pinto de Queiroz, agricultor na serra do Martins, Capitão
de Milicias. Aderiu ao govêrno republicano de Portalegre. Prêso por
tropas do Ceará. Lutou contra Pinto Madeiro, retirando daí em diante
o «Pinto» do nome, substituindo-o por Fernandes. Faleceu em 1869.
6 — Antônio Germano Cavalcanti de Albuquerque, Comandante da Com­
panhia de. Linha. Aderiu a André de Albuquerque e foi um dos chefes
da contra revolução. Prêso em Setembro de 1818 foi sôlto a 15 de
Julho de 1820. Teve papel saliente nas lutas políticas de 1821-23\
Sargento-Mor em 1821, reformado em Tenente Coronel em 1823.
7 — Antônio da Rocha Bezerra, capitão de Ordenanças, Membro do Govêrno
dê 1817. Prêso em 1817, pronunciado em 1818. Fêz parte de uma
Junta Governativa. Membro do Conselho do Govêrno em 1830. O sar­
gento-mor Rocha Bezerra faleceu em Rego Moleiro a 11 de setembro de
1832, com 73 anos. Governou várias vêzes a' Província.
— 154 —

8 — Padre Feliciano José Dómelas, Vigário de Natal desde dezembro de


1796. Membro do Govêrno de 1817. Prêso a 23 de dezembro de 1817
e pronunciado a 13 de setembro de 1818. Faleceu a 5 de abril de 1839.
9 — Felipe Bandeira de Moura, participou do Govêrno de Portalegre. Oficial
miliciano. Prêso a 19 de julho de 1817 e pronunciado a 13 de setembro
de 1818.
10 — Francisco Marçal da Costa e Melo, secretário do Govêrno de Portalegre.
Pronunciado a 13 de setembro de 1818.
11 — Padre João Barbosa Cordeiro, vigário de Portalegre, o grande entusiasta.
Prêso em 20 de junho de 1817 e pronunciado a 13 de setembro de 1818.
12 — João da Costa Bezerra, prêso em Ponta Negra a 27 de Abril de 1817.
Faleceu no Hospital do Recife.
13 — Padre João Damasceno Xavier Carneiro, inspirador de André de Albu­
querque, ex-escrivão em S. José de Mipibu, ordenado padre ao enviuvar.
Vigário de Una, Pernambuco, Visitador para o Ceará. Prêso a 25 de
abril de 1817 em companhia do chefe da revolução em Natal. Enviado
para o Recife a 14 de julho de 1817, na escuna Foguete, faleceu em
Pititinga, a 25 do mesmo- mês.
14 — João Rabelo de Siqueira e Aragão, sargento-mor de Milicias. Coman­
dou o Forte dos Reis Magos durante a revolução. Prêso a 23 de dezem­
bro de 1817 e pronunciado a 13 de setembro de 181^ Português.
15 — João Saraiva de Moura, residente na serra do Martins. Aderiu ao Go­
vêrno de Portalegre onde sua família Vivia. Prêso a 7 de janeiro de
1818 no Ceará. Pronunciado a 13 de setembro do mesmo ano. Solto a
17 de Novembro de 1820.
16 — Joaquim José do Rego Barros, coronel de Infantaria Miliciana em 1793,
Comandante das Armas ém 1806. Membro do Govêrno de 1817 em
Natal. Prêso a 23 de dezembro de 1817 e pronunciado a 13 de setembro
de 1818. Em liberdade, apresentou-se ao Govêrno a 18 de junho de
1821. Presidente da Junta Constitucional Provisória, dezembro de 1821
a fevereiro de 1822. Eleito para o Conselho Geral da Província, 1830,
não assumiu. Fazia parte do Conselho do Govêrno, 1824 a 1832. Cava­
leiro da Ordem de Cristo. Faleceu no seu engenho Ferreiro Torto a
4 de setembro de 1832.
17 — José Francisco Vieira de Barros, sargento-mor do Regimento de Milícia
Montada de Portalegre. Fêz parte do Govêrno republicano local. Prêso
a 17 de Junho de 1817, pronunciado a 13 de setembro. Voltou à Porta­
legre* em 1820. Suicidoü-sé em- 1825.
18 — José Inácio de Albuquerque Maranhão, tenente coronel de cavalaria
miliciana. Proprietário do engenho Belém. Prêso em Natal a 20 de
junho de 1817 e pronunciado a 13 de setembro de 1818. Cunhado de
André d'Albuquerque.
19 — José Inácio Marinho, capitão de Milicias em Goianinha. Pronunciado
de setembro de 1818. Ocultou-se com o Padre Albuquerque Montenegro,
não sendo prêso. Cunhado do Pe. João Damasceno. Dono do engenho
«Monin».
20 — José Manuel da Paixão, tenente de cavalaria miliciana, sob o comando
de André de Albuquerque. Prêso a 29 de junho de 1817, pronunciado
a 13 de setembro de 1818.
21 — Leandro Francisco de Beça, tenente coronel do regimento miliciano de
Portalegre. Membro do Govêrno local. Prêso em 19 de julho de 1817*.
Faleceu no hospital militar do Recife.
22 — Luis de Albuquerque Maranhão, proprietário do engenho Belém, coronel
do regimento de cavalaria miliciana em Natal e S. José. Cavaleiro da
Ordem de Cristo. Prêso a 21 de maio de 1817 no Brejo das Bananeiras,
iSS —

Paraiba, pronunciado a 13 de setembro de 1818. Participou da Junta


Constitucional Provisória. Fêz parte do Conselho do Govêrno e do
Conselho Geral da Província, onde parece não ter assumido. Creio ter
falecido em 1831.
23 — Luís Manuel de Albuquerque Maranhão, alferes do regimento coman­
dado por seu Pai, Luís de Albuquerque Maranhão. Prêso a 22 de maio
no Curimataú e pronunciado a 13 de setembro de 1818.
24 — Luís Pinheiro de Oliveira, ajudante do regimento de cavalaria miliciana
de'Nat^l. Pronunciado em 13 de setembro de 1818. Luís Pinheiro
Teixeirh era o seu nome. Fôra prêso a 5 de agôsto de 1818 e enviado
para o ’Recife’, a 9 de novembro do mesmo ano. Sôlto na Bahia a 21
de fevereiro, .cie 1821. ...
25 — Manúel Antônio Moreira, sargento-mor do regimento de cavalaria. mi­
liciana de Natal. Comandou o regimento na entrada de AndfrT^de
Albuquerque na capital. Pronunciado a 13 de setembro. Fêz parte dá Junta
Constitucional Provisória e da Junta do Govêrno Provisório. Enviado par¿,
o Recife a 9 de novembro de 1818 o Tribunal da Alçada propusera dez-
anos de degrêdo em Moçambique. Sôlto pela sentença do Juízo .da
Alçada em 14 de abril de 1821. Reformou-se como tenente coronel.
Faleceu em Natal a 20 de setembro de 1827.
26 — Manoel Inácio Pereira do Lago, Provedor da Real Fazenda em 1806,
tenente coronel do regimento de Infantaria Miliciana. Como Provedor
presidiu ao confisco dos bens dos republicanos. Atendeu ao chamado
de André de Albuquerque indo encontrá-lo no engenho Belém. Prêso
e pronunciado em 1818. Faleceu no hospital militar da Bahia a 23 de
setembro de 1820.
27 — Manuel Joaquim Palácio, membro do govêrno de Portalegre, prêso
a 19 de julho de 1817 e pronunciado a 13 de setembro de 1818. Era
português.
28 — Manuel da Natividade Vítor, escrivão da Vila Flor. Prêso a 10 de maio
dé 1817, pronunciado ar 13 de setembro de 1818, sôlto a 17 de Novembro
de 1820.
29 — Pedro Leite da Silva, capitão de milícias de Portalegre. Prêso a 8 de
janeiro de 1818 e pronunciado a 13 de setembro do mesmo ano.
Pronunciados pelo Tribunal da Alçada de Pernambuco como partici­
pantes da sedição de 1817 noutras Capitanias mas tendo tido parte nos movi­
mentos no Rio Grande do Norte:
A — David Leopoldo Targini, com participação viva em Portalegre.- Faleceu
em 1820 na Fortaleza da Barra na Bahia. Almino Afonso dizia
que o seu apelido era Garrocho.
B — Padre Gonçalo Borges de Andrade, ordenou-se em 1815, natural da
serra do Martins onde residia. Vigário do Apodi e do Martins.
Envolvido na revolução fugiu sendo prêso na vila de Souza, Pa­
raíba, a 13 de junho de 1817 e enviado para a Bahia em março,
pronunciado a 13 de setembro de 1818. Sôlto a 17 de novembro
de 1320. Na eleição de 2 de dezembro de 1821, em Natal, foi
eleito deputado pela Província às Côrtes de Lisboa, como suplente.
Não compareceu. Faleceu no Martins.
C — Lourenço Mendes dé Ändrade, amigo e partidário de André de Albu­
querque.
D *— Padre Francisco Manuel dé Barros, companheiro do Pe. João Damas­
ceno até Natal, viajou para o Aracati, em missão republicana, onde
foi prêso a 3 de abril de 1817. Sôlto a 18 de dezembro de 1820.
— 156 —

E — José Peregrino Xavier de Carvallo, comandante da fôrça auxiliar enviada


pelo Govêrno republicano da Paraíba a André de Albuquerque.
Chegou a Natal a 30 de março e retirou-se a 25 de abril. Preso
na Paraíba a 18 de Maio, condenado à morte a 19, executado
a 21 de agôsto de 1817.
F — José de Sá Cavalcanti, alferes de cavalaria miliciana do regimento de
Portalegre, prêso a 6 de julho de 1817. Sôlto a 31 de outubro
de 1820.
G — Luís José da Expectação, lavrador em Goianinha, Pronunciado a 13' de
setembro de 1818. Ignora-se se foi prêso. Ocultou-se com o Pe.
Montenegro.
H — Manuel Luís Ferreira, morador em Goianinha. Pronunciado a 13 de
setembro de 1818. Ocultou-se com o Pe. Montenegro não.sendo
encontrado.
I — Padre Manuel Gonçalves da Fonte, vigário de Pau dos Ferros, prêso
a 8 de dezembro de 1817. Sôlto a 26 de setembro de 1820.
J — José de Holanda de Albuquerque Maranhão, capitão do regimento de
Cunhaú. Prêso a l.° de junho de . 1817 na Paraiba, pronunciado
a 13 de junho de 1818.
L — José Antônio Saraiva, pronunciado a 13 de setembro de 1818. Parece não
ter sido encontrado. Almino Afonso informa que era irmão de
David’.Targini.
M — José Vidal da Silva, de S. José de Mipibu, pronunciado a 13 de
setembro de 1818. Não foi encontrado para a prisão.
N — João de Albuquerque Maranhão, Capitão-Mor da Paraíba, Cavaleiro da
Ordem de Cristo., Acoinpanhou André de Albuquerque até Natal
e levou o governador José Inácio Borges prêso para o Recife.
Prêso a 12 de setembro de 1817, pronunciado a 13 de setembro de
1818. Cunhado de André de Albuquerque.
Foram incluídos no Perdão a que se refere o Decreto real de 6 de Fe­
vereiro de 1818 os norte-rio-grandenses :
I — Bento Freire do Revoredo, de Goianinha, proprietário;
II — Francisco Gomes:
III — Francisco Guedes;
IV — Francisco de Souza e Oliveira;
V — Guilherme dos Santos Sazes, Secretário do Govêrno de 1817 em
Natal;
VI — José Caetano da Costa;
VII — Manuel de Melo Montenegro, da Vila Nova de Princesa.
Foram presos, remetidos para o Recife e soltos pela Comissão Militar que-
não lhes encontrou culpa ;
— Antônio Joaquim;
— Ricardo Wiltshire.
CAPÍTULO vii

( I ) Ensaio de govêmo local. Tomás de Araújo e a Con­


federação do Equador. Procura de rumo. ( II ) Am­
biente de governação. (III) A luta de Pinto Ma­
deira. (IV) Do 4.° ao 35.° Presidentes da Província.
(V) Quebra-Quilo. (VI) As últimas administrações
no Império. (VII ). Abolição dos Escravos.

NOTAS AO CAPITULO SÉTIMO

ADENDOS

— Final do Govêrno de Tomás de Araujo Pereira.


— Carta-Diploma do Barão do Ceará-Mirim.
A Província do Rio Grande do Norte repetia, no microcosmo,
a intensidade dos acontecimentos que sacudiam o Brasil, de 1822,
Independência, a 7 de abril, abdicação. Não eram os motivos de
guerrear holandeses ou derrubar Cariris os assuntos apaixonantes
mas de amar ou odiar os homens que representavam sentimentos
entusiásticamente possuidos pelas facções.
Em 11 de novembro de 1822 houve eleição para a Consti­
tuinte Brasileira. Não despertou a menor atenção. Apenas dezoito
eleitores compareceram, bocejando, à Matriz, para votar. Foi elei­
to o Dr. Francisco de Arruda Câmara, paraibano, e um suplente,
o Dr. Tomás Xavier Garcia de Almeida, filho do professor de
latim Francisco Garcia de Almeida, presidente da Junta Tempo­
rária que governara quarenta e um dias. Nunca encontrei as razões
da escolha de Francisco de Arruda Câmara e sua ligação com o
Rio Grande do Norte. O nosso deputado à Constituinte não se
dignou assumir nem deu notícias. O suplente, Tomás Xavier,
sobrinho do Padre Pinto e do Padre Miguelinho e adversário notó­
rio das idéias desse último, Juiz de Fora no Recife, depois Ministro
do Supremo Tribunal de Jus.tiça do Império, deputado por Per­
nambuco e pela Bahia, presidente de Pernambuco, São Paulo e
Bahia (1792*1870), assumiu a 25 de outubro apenas para assistir,
a 12 de novembro de 1823, a dissolução da Constituinte. Foi
o primeiro norte*rio*grandense desembargador e membro da mais
alta córte judiciária. Na Constituinte votou sempre ao lado do
Govêrno.
Manuel Teixeira Barbosa, Presidente da Câmara, assumiu o
govêrno da Província em hora espetacular. Em março de 1824,
25, nova Constituição, outorgada pelo Imperador. Os manos Andra-
das exilados. Inqüietação. Conspiração. Protestos públicos arden­
do por toda a parte. A Bahia protestara. José Pereira Filgueiras.
com várias Câmaras do Ceará, começando pelo brado de revolta
de Campo Maior, fôra aclamado Comandante das Armas e sc
batera com as forças imperiais enviadas de Fortaleza. Tinham
declarado a Casa de Bragança excluída do Trono do Brasil. Paré
e Maranhão continuavam queimando protestos. Pernambuco
desde 13 de dezembro de 1823, está pràticamente insurgido, com
Manuel de Carvalho Pais de Andrade à frente, juntando ele*
— 160 —

mentos para uma campanha de envergadura sensacional. Expul­


sara a Junta o presidente Pais Barreto e Pais de Ancírade era o
chefe aclamado mesmo sem conhecimento imperial, governando
de palácio, sem dar satisfações ao ministério no Rio de Janeiro. O
Imperador mandou o comandante John Taylor, com duas fragatas,
apoiar Pais Barreto. Recife mantém Pais de Andrade. Taylor
declara bloqueado o pôrto do Recife.
Pais de Andrade apoiava-se na tradição de 1817 e esta pola­
rizava simpatias por todo o nordeste. No Rio Grande do Norte
“os homens de 17” eram queridos e admirados. Mas estavam
divididos, uns para o lado do Imperador e outros para a aceitação
de um govêrno popular, isto é, baseado no livre sufrágio coletivo.
«Nesse tempo, e que muito durou, a eleição era em dois turnos.
Votavam primeiro para os eleitoreá de paróquias e êsses votavam
então para deputados, senadores.
Manuel Teixeira Barbosa, proprietário, homem simples, com
sua inteligência limitada à solução de casos concretos e imediatos,
ficou com a bomba na mão, vendo chamas diante dos olhos. Pais
de Andrade procurava reunir os amigos e admiradores que sabia
espalhados pelo nordeste. Mandou numa escuna, “Maria Zefe-
rina”, em março de 1824, o seu emissário Januário Alexandrino,
tentar contato com essas forças, articulando-as para resistir ao
“Império do despotismo absolutista.” Teixeira Barbosa mandou
intimar a escuna para deixar o pôrto de Natal imediatamente, sob
pena de ser tratado como inimigo.
A proclamação de John Taylor aos pernambucanos foi fixada
em Natal a 14 de abril e distribuída pelas Câmaras. O ambiente
foi ficando de môrno a quente. Teixeira Barbosa transferiu a
sede do govêrno para o Quartel da Tropa de Linha. O Senado
da Câmara, a Câmara de Natal, mostrou-se favorável ao projeto
da Constituição organizado pelo Conselho de Estado mas havia
grande número de adversários, admiradores de Pais de Andrade
que encarnava o sentido de 1817.
José Pereira Filgueiras márchava sôbre Fortaleza, depusera
o presidente Costa Barros, prendendo os amigos dêste e a 30 de
abril Tristão Gonçalves de Alencar assumia a presidência do
Ceará. No Recife Pais de Andrade preparavã-se para proclamar
a Confederação do Equador (manifesto de 2 de julho de 1824).
Os simpatizantes paraibanos movimentavam-se. Teixeira Barbosa,
atarantado, sem atinar com o caminho, repetia as cartas ao dis­
tante Tomás de Aráújo Pereira, nomeado Presidente da Província
desde 25 de novembro de 1823, para que viesse assumir e enfren­
tar a ventania.
— 161 —
Havia apenas para o atrapalhado Teixena Barbosa um auxilio
precioso. Era o Secretário» Agostinho Leitão de Almeida» per­
nambucano radicado a Natal» já nomeado secretário do presi­
dente Tomás de Araújo e que chegara â capital norte-rio-gran-
dense desde fevereiro do mesmo 1824. Agostinho era partidário
da ordem» adversário de revoluções e pendia para o Imperador»
não fanático aos imperiais arrebatamentos» mas convencido que
o govêrno central prestigiado manteria a tranqüilidade indispen­
sável ao trabalho produtor e as inevitáveis melhorias no terreno
administrativo adviriam cçmo naturais conseqüências da experiên­
cia dos homens de Estado. Agostinho era o inspirador e Frei
Caneca indignado por não encontrar a unanimidade de apoio à
Confederação do Equador» sabendo-lhe do prestigio» chamava-o
o mariola Agostinho Leitão de Almeida. Outro fator era a fôrça
militar» mais admiradora dó Imperador do que enamorada dos
«liberais» e dos ideais de Pais de Andrade.
Tomás de Araújo limitava-se a responder dizendo esperar o
inverno para viajar com cavalos gordos. Era homem simples,
bom, com os hábitos do trabalho do campo e a mentalidade pa­
triarcal e sereña. Coûtavano momento 59 anos (nascera em 1765
e faleceu no Acari a 20 de maio de 1847), quase cego e valetibv
dinário. Sua atuação ña Junta de Govêrno Provisório não fôra
sensivel. Gostaria de saber em que pensaria o Imperador quando*
nomeou Tomás de Araújo para governar o Rio Grande do Norte
numã das épocas mais tumultuosas de sua existência coletiva.
As virtudes pessoais do sertanejo, trabalho, probidade, dedicação
(a honestidade era geral e não virtude excepcional e heróica como
atualmente), o fundo sentimento de compostura, a religiosidade,
o amor â família e ao cumprimento do dever, esperam, no homem
público, as demais e essenciais virtudes de energia, ’destemor, pre­
visão, o espírito apto às dêcisões imediatas diante dos fatos im­
previstos. Tomás de Araújo estava fadado a ser, como realmente
o foi, um mártir, na inutilidade do seu martírio. Apenas sofreu
como Presidente sem qualquer compensação nas horas angustiadas
e supremas onde seu caráter foi a constante defesa de uma atitude
honesta e firmemente digna. Mas havia, desta vez contra o novo
presidente, um elemento negativo. Tomás de Araújo era intima­
mente simpático aos liberais, ao povo da “Confederação do Equa­
dor'* e seus amigos eram rezadores da mesma cartilha. É a expli­
cação clara e lógica para o seu desprestígio junto às forças mili­
tares sediadas em Natal sempre em estado de choque com o
presidente, apesar da prudência e natural habilidade astuciosa
dêste.
Tomás de Araújo Pereira assume a presidência a 5 de* maio
de 1824. Agostinho Leitão de Almeida é o secretário mas sem
— 162 —

aquela unidade psicológica que caracterizou sua ação junto a Tel*


xeira Barbosa. Êle é pelos “imperiais” e o Presidente, quanto
possa, “pelós liberais”.
O Presidente da Paraíba, Felipe Neri Ferreira, nomeado pelo
Imperador, tomara posse a 9 de abril mas várias Câmaras do inte­
rior repeliam sua administração e a 5 de maio aclamaram um pre­
sidente temporáriô, prestigiado pelos democratas, Felix Antônio
Ferreira de Albuquerque, em Brejo de Areia. E tropas pernam­
bucanas estavam na fronteira paraibana, ajudando os correligio­
nários. De tudo oficiaram a Tomás de Araújo que começou a
receber correspondência do próprio Pais de Andrade. Uns*e outros
mandam correligionários armados para os limites do Rio Grande
do Norte e solicitam auxílios ao presidente. Tomás de Araújo
reçusa-os à Felipe Neri . Mandou uma pequena fôrça para o sul,
com o alferes Miguel Ferreira Cabral.
Em 31 de julho Tomás de Araújo visita o quartel e fala aos
soldados sôbre o pagamento (entrega) dó pão quando a tropa
prorrompe em gritos e declara .deposto do comando João Marques
de Carvalho, nomeado em fevereiro. A Confederação do Equador
estava no meio dia e Pais de Andrade convidava as províncias
vizinhas que se unissem numa república independente, expulsando
D. Pedro I e todos os portuguêses. Tristão Gonçalves de Alencar
era o Presidente aclamado no Ceará, destituído .Costa Barros, e
todo-poderoso José Pereira Filgueiras, comandante das armas,
chefe militar contra os imperiais.
Uma delegação norte-rio-grandense foi à Paraíba falar com
o substituto de Felipe Neri, o vice presidente Alexandre Francisco
de Seixas Machado, intimar-lhe a eleição de novos conselheiros
de govêrno, posse ao mais votado, anistia e volta aos seus empre­
gos de todos os comprometidos, além das garantias naturais de
segurança pessoal e propriedade. E$sa delegação constava de
padre Francisco da Costa Seixas, José Joaquim Geminiano de
Morais Navarro e José Joaquim Bezerra Carnaúba e se desem­
penhou da missão em fins de julho. Êsses mesmos, exceto José
Joaquim Bezerra Carnaúba, substituído por José Joaquim Fer­
nandes Barros, assinavam no Recife, a 3 de agôsto de 1824, uma
concordata com o Govêrno de "Pais de Andrade, uniñdo-se em
liga fraternal e juntando suas forças contra qualquer agressão
do Govêrno Português ou do Govêrno do Rio de Janeiro. Repre­
sentou o govêrno pernambucano Basilio Quaresma Torreão, futuro
Presidente e deputado geral pelo Rio Grande do Norte.
A fôrça do alferes Miguel Ferreira Cabral teve ordem de
regressar porque o presidente soube da marcha de tropa legalista
enviada contça ela. Fica o fato confuso pela compreensão muito
— 163 —

clara do problema. Era fôrça regular do Rio Grande do Norte


.enviada aó sul e contra esta vinha outra, também regular e igual­
mente mandada por um presidente nomeado pelo Imperador . De-
duz-se, sem maior desejo de. complicação, que o Govêrno Imperial
na Paraíba teve essa fôrça como entidade hostil e preparou-se
para repeli-la. E mais. Quando a fôrça chegou a Natal os chefes
militares não a queriam deixar acampar dentro da cidade.
Um tenente José Domingues Bezerra de Sá, enviado por
Tomás de Araújo para sondar a situação na fronteira do sul,
voltava, a 2 de setembro, informando que a tropa estava engros­
sada com os reforços de voluntários de São José de Mipibu. Era
um centro entusiasta da Confederação, muito elogiada por Frei
Caneoa a sua Câmara Municipal. E o tenente Bezerra de Sá
anunciava que se pretendia “levantar a bandeira republicana em
Natal”, sinônimo do estandarte da Confederação. Assim era de­
mais. Houve rebate, alarma, consultas, confiando a defesa da
cidade (informa Rocha Pombo, HISTÓRIA DO RIO GRANDE
DO NORTE) a dois chefes militares que não pensavam poli­
ticamente com o presidente, capitão Vicente Ferreira Nobre e o
sargento-mor Joaquim José da Costa. O alferes Cabral chega às
portas da cidade. O nosso esquecido Antônio Germano reaparece
oferecendo-se para servir de pacificador. Não houve um oficial,
um soldado, uma pessoa que o obedecesse. Desapareceu o homem
da história norte-rio-grandense dêsse dia em diante.
Ferreira Nobre e Costa ocupam os arredores da cidade e não
permitem que o emissário do presidente leve carta sua ao alferes
Cabral na tarde de 5 de setembro. O presidente foi em pessoa
suplicar aos dois que permitissem a entrada da força de Cabral.
Permitiram, depois de muito rogados, com a condição dos volun­
tários acamparem fora da cidade.
Os soldados de. Cabral entraram mas recomeçou o tumulto
• com a tropa que ficara. Uns e outros estavam com razão. Os im­
periais com esperança de vitória porque o almirante Cochrane
bloqueava o Recife e o brigadeiro Francisco de Lima e Silva
marchava para desbaratar a Confederação. Os liberais, em deses-
pêro mas não desanimados, sonhariam estabelecer um ponto de
reforço aos companheiros que sabiam resistir e apelar para todos
os elementos da defesa. Os voluntários, abarracados fora da
cidade, abandonaram as armas e fugiram na noite de 5 para 6,
procurando a vila de S. José. Na manhã de 6 verificaram que
êles tinham conduzido as armas. Ferreira Nobre e Costa delibe­
raram mandar uma fôrça aprisioná-los e desarmá-los. Prenderam
o alferes Cabral e os oficiais que tinham voltado do sul e assim
os suspeitos, inclusive funcionários públicos. Tomás de Araújo
— 164 —

manda chamar os dois oficiais. Recusam. Manda dispensar a


tropa para que não siga. Desobedecem. Manda pôr em liberdade
os presos. Não lhe atendem as ordens. Não havia, evidentemente,
autoridade na presidência provincial.
O substituto de Tomás de Araújo devia ser o conselheiro
mais votado do Conselho do Govêrno, criado pela carta de lei
de 20 de outubro de 1821, a mesma que estabelece, artigo II: —
Será o Govêrno das Províncias confiado provisoriamente a um
Presidente e Conselho.
O Conselho de Govêrno no Rio Grande do Norte fôra eleito
a 25 de março de 1824 e o conselheiro mais votado era Luís de
Albuquerque Maranhão. Desautorado pelos chefes militares, com
raros fiéis, Tomás de Araújo tentou passar o Govêrno ao Con-
selheiro-mais-votado. O Batalhão, insubmisso,. com o pagamento
dos soidos atrasados em . mais de dois anos, declarou o Conselho
de Govêrno dissolvido e os dois comandantes, Vicente Ferreira
Nobre e Joaquim José da Costa, disseram ao velho presidente que
se quisesse deixar o cargo entregasse ó govêrno à Câmara da Ca­
pital de quem tinha tomado posse é esta providenciaria. Tomás
de Araújo, sem elementos de resistência, abandonado, longe dos
amigos sertanejos, entregou a administração à Câmara, a 8 de se­
tembro, com um protesto que é a história dos últimos e atribulados
dias do seu govêrno. (ver ADENDO).
Mas a figura do velho Tomás de Araújo não se desvaneceu
na lembrança dos natalenses e sua tradição permaneceu na memó­
ria oral do povo. Surpreendido de encontrar meretrizes e sem
esperar justificação dessa existência e função, entendia corregir-
Ihes a vida dando tarefa diária de fiar capulhos de algodão, entrei
gando os rolos à tarde aos guardas por êle encarregados de reco­
lher os frutos do ensino. Se não terminassem a fiação diária teriam
dúzias de bolos como castigos, bolos de palmatória, iguais aos que
êle usava para os seus, parentes e escravos. No Acari possuia *
prisão privada, uma cafúa em que metia netos e os negros culpa­
dos. Mandou reparar o parque de artilheria. Julgou de bom alvitre
fazer os indígenas de Estremoz cumprir trabalhos outros e também
fiação para os indígenas. Homens e mulheres ficaram indignados e
ameaçaram marchar sôbre Natal para desabafo de tão insólita ma­
neira de governar os velhos indígenas. Também Tomás de Araújo
malquistou-se com Francisco Ribeiro de Paiva, o famoso Mata
Quiri e ficou temeroso de uma agressão
Suas simpatias pela Confederação do Equador são muitas e
nítidas. Na retirada do exército “regenerador” para o Ceará,
atravessou parte da região do Seridó sendo aprovisionados de ali­
mentos. Frei Caneca, cronista dessa anábase matuta, regista com
— T65

elogios o ambiente. Era a zona da influência de Tomás de Araújo*


A retirada não encontrou o velho sertanejo na presidência. Dei*
xara-a pouco mais de um mês antes.
A situação de Tomás de Araújo, ao retirar-se para suas terras
no Seridó, era tão vexatória como insustentável. Não lhe deram
a menor garantia, atendendo a posição que ocupara em nome do
Imperador. Para que não sofresse afrontas e humilhações Tomás
de Araújo atravessou a zona, em que süspeitava haver perigo para
sua integridade física, escondido dentro de um barril, carregado à
cabeça por um negro escravo, o Pai Benguela.
Lourenço José de Moraes Navarro, presidente da Câmara,
assumiu nesse 8 de setembro de 1824 e governou até 20 de janeiro
de1 1825 quando, terminando sua presidência, transmitiu a admi­
nistração ao seu substituto, Manuel Teixeira Barbosa.
Moraes Navarro era neto de um sargento-mor do Têrço dos
Paulistas, José de Moraes Navarro que viera bater-se com os
Cariris no Açu e casara na Paraíba. Nascera em São Gonçalo
do Potengi em 1786 e veio a falecer entre 1828 e 1830. Era
tão letrado como seus contemporâneos na Câmara e no Govêrno .
Mas possuía a mesma desenvoltura, a inteligência pronta e álacre
e o gôjsto pelas guerrilhas políticas no quintal provinciano. Seu
govêrno careceu dé importância.
Mandou meter na cadeia os amigos de Tomás de Araújo,
padre Francisco dd Costa Seixas, José Joaquim Geminiano de
Moraes Navarro (foi o primeiro norte-rio-grandense bacharel em
Olinda, 1832, sobrinho de Joaquim José do Rego Barros), o alieb­
res Miguel Cabral, o procurador da Fazenda Joaquim José de
Melo, o guarda-mor Braz Ferreira Maciel e muitos outros, uns
treze embarcados para o Rio de Janeiro, com a etiqueta de influídos
violentos. Pediu um navio de guerra a Cochrane que lamentou não
poder servi-lo. E não esqueceu de mandar muitos ofícios para a
Córte, acusando Tomás de Araújo e mostrando quanto fizera pela
restauração pacifica do domínio imperial. O sucessor, Teixeira
Barbosa, ocupou-se em tranqüilizar os.exaltados e não permitir,
ou permitir pouco, que o ambiente voltasse a ser uma coívara in­
cessante pelo entusiasmo da vitória. Manuel do Nascimento Cas­
tro e Silva foi nomeado Presidente da Província do Rio Grande
do Norte; carta imperial de l9 de dezembro de 1824. Tomou
possé a 21 de março, de 1825.

II
Manuel do Nascimento Castro e Silva, (1788-1846), de 21
de março de 1825 a 8 de maio de 1826, fôra deputado às Cortes
de Lisboa, e seria várias vêzés deputado geral, Ministro dê
— 166

Estado e Senador do Império pelo Ceará onde nascera. Honesto,


saturado pelo espírito da época, constituiu-se sentinela meio apa­
vorada, esperando assomos de rebelião. Pelo interior apenas Porta­
legre e Apodi fumegavam vez por outra. Os anistiados políticos
de 1824 regressavam e as Câmaras davam posse aos funcionários
readmitidos. Castro e Silva julgava-os focos de contágio em pe­
rigo irradiante. Sua correspondência com o Ministro do Império
é apenas psicologicamente interessante, com seu mêdo aos libe­
rais que êle dizia anárquicos, liberais e anarquistas, que são sinô~
nimos. O juiz ordinário de São José de Mipibu, capitão Joaquim
Torquato Soares Raposo da Câmara, nos arroubos retóricos de
um brinde, brinde de jantar, fizera uma saúde a Bolivar, tão con­
fusamente que o dissera Restaurador de Montevidéu. Castro e
Silva só sossegou quando, através do Conselho do Govêrno, sus­
pendeu Joaquim Torquato como sedicioso.
O ambiente era parado e triste. Pagamento em atraso. Esco­
las silenciosas.. A ausência de fôrça legal autorizava a liberdade,
insolência e a impunidade criminosa. E dêste 1825 o levante dos
indígenas de Portalegre. Atacam a vila que se defende valente­
mente. O delegadó de polícia, Bento Inácio de Beça, morreu lutan­
do. O velho coronel de Milicias José Francisco Vieira de Barros,
ex-membro do govêrno republicano de 1817 na vila, suicidou-se.
Repelidos e presos, os indígenas foram algemados e conduzidos
para Natal, diziam os da escolta . No pé da serra, levantaram uma
grande cruz e mandaram a indiada rezar um têrço. Terminada a
oração foram todos fuzilados. Eram uns setenta. Não foi possível
punição. O juiz ordinário local oficiava ao próprio Presidente
dizendo não instaurar inquérito nem promover processo com mêdo
de que cresça o número de bandidos. Havia, gritava Castro e Silva
para o Rio, regiões “infestadas de bandos de ladrões e facinoro-
sos”. Sem elementos de repressão, espalhava ordens e prometia
castigos. Numa ordem de 11 de abril, entre outras coisas defesas,
está o assobiar à noite. Podia ser um sinal de entendimento com
os conspiradores.
Não houve novidade de vulto até 1830. Castro e Silva entre- ?
gou a Provincia a Antônio da Rocha Bezerra, ex-republicano de
1817, conselheiro mais votado na eleição de 20 de agôsto para
o Conselho do Govêrno. Dêste, a 21 de fevereiro, recebeu o
3.° Presidente, José Paulino de Almeida e Albuquerque, o mando,
indo até 10 de março de 1830. Voltou então Rocha Bezerra ao
poder, prolongando-se a 22 de fevereiro de 1832 quando o 4.° Pre­
sidente, Joaquim Vieira da Silva e Souza, assumiu.
Rocha Bezerra estava no govêrno quando da Abdicação de
D. Pedro I a 7 de abril de 1831. Respondeu o ofício afirmando
ter sido recebida a notícia com grande satisfação e mandando que
— 167 —

as Câmaras Municipais do interior pusessem luminárias por três


dias (of. de 17-5-1831 ao Ministro Visconde de Goiana). Logo
a 20 do mesmo maio o Batalhão de Caçadores da Primeira Linha,
número 21, agitou-se, tocando rebate. Rocha Bezerra reuniu o
Conselho de Govêrno e o Juiz de Paz, Bartolomeu da Rocha Fa­
gundes,’ dirigiu-se ao Batalhão, por ofício, perguntando * a razão
do alarido. Responderam exigindo a demissão do Comandante
das Armas, coronel Pedro José da Costa Pacheco, e que deixasse
a província em três dias, substituído por um oficial, brasileiro nato,
demissão do Comandante do Batalhão de Linha, tenente coronel
João Marques de Carvalho, e suspensão dos capitães Estevão de
Oliveira Pinto e José dos Santos Caria, e do secretário do Govêrno,
Antônio Pedro d’Alencastro, compadre do ex-Imperador D. Pedro I.
E ainda, proibição do tenente coronel Antônio José Leite do Pinho,
que era português, assumir o comando do Batalhão de Segunda
Linha. Tudo se fêz como era exigido pela tropa. Os antigos liberais,
presos, demitidos, suspeitos, perseguidos, estavam influentes, dis-
cursadores e vitoriosos embora Rocha Bezerra continuasse dirigindo
a província. Em vários municípios estalavam protestos. A situa­
ção era instável e o velho Rocha Bezerra, maior de 70 anos, reve­
lou-se equilibrista apreciável. O novo Comandante das Armas, José
Carlos Teixeira Júnior (posse a 15 de junho de 1 S31. Foi o último),
não pacificou os ânimos e sim ficou solidário com os liberais, deso­
lando o Presidente que chorava suas mágoas ao Ministro do
Império.
Em setembro de 1831 um destacamento militar que viera da
Paraíba insubordinou-se, querendo saquear a Cidade. No Recife
rebentara a Setembrada, rebelião de soldadesca infrene, assaltando,
depredando, matando. Natal armou seus cidadãos, recolheu as
munições. e dominou, sem luta, os assomos dos soldados, expul­
sando 88 das fileiras e sacudindo-os fora da Província. Final­
mente Joaquim Vieira da Silva e Souza (1800-1564) chegou e se
empossou.

III
Joaquim Pinto Madeira surje então na história norte-rio-gran­
dense e seu nome recorda, ainda antipatías extensas e inexplicá­
veis. O caudilho não pôde evitar os excessos de partidários seus,
saques feitos por companheiros, de tôdas as procedências e sem
noção disciplinar. Sua figura está limpa de acusações maiores
e antigas e reabilitada. Se alguém pode sofrer pena de ferocidade
e felonía, injustiça e brutismo, é a massa de seus inimigos, men­
tindo aos compromissos e sonegando a lei, forçando-o ao apêlo
às armas. Elemento ao lado da Presidência legal do Ceará, Pinto
— 168 —

Madeira bateu-se contra os republicanos de 1824 e ficou com


grande prestígio no Cariri, especialmente na vila do Jardim.
Crato, a vila rival, era a sede dos adversarios e êsses, ciumentos
da fôrça simpática do caudilho, coronel de Milícias, iniciaram
a teia das acusações. “Um trabalho surdo começou, desde então,
a ser feito no sentido de aluir-lhe o predomínio, consistindo a
tática adotada em acusá-lo de absolutista e sedicioso. Prêso por
duas vêzes, em 1825 e 1826, conseguiu Madeira escapar às mano­
bras dos seus novos inimigos, por não terem sido encontradas pro­
vas da sua pretendida criminalidade”, (Cruz Filho, “História do-
Ceará”). Quando D. Pedro I abdicou, o pretexto foi decisivo
para fazer passar a vila do Jardim como centro de reação abso­
lutista e conspiradora. A Câmara do Crato, em julho de 183b
deliberou mandar prender Madeira, dizendo-o maquinar o assalto
contra ela. Cercado dessas mentiras, olhado como inimigo, resol­
veu deixar o Cariri. Imediatamente Miguel Antônio da Rpcha
Lima, vice-presidente da Província, nomeou dois adversários de
Madeira para a verificação da procedência das acusações.
O vigário Antônio Manuel de Souza, amigo do caudilho,
procurou-o em sua propriedade “Coité” e convenceu-o de lutar
a mão armada contra o cêrco que o estrangularia fatalmente. A
Câmara de Jardim, solidária, deu-lhe o comando das armas porque
se esperava o ataque dos moradores do Crato. Antes que êsses
iniciassem a marcha, Pinto Madeira rompeu a campanha a 23 de
dezembro de 1831. Sua vanguarda, comandada por Francisco
Xavier de Matos, vulgo “Veneno”, prendeu e fuzilou no Brejão^
um inimigo de Madeira, Joaquim Pinto Cidade. Derrotando os
cratenses em Buriti, Pinto Madeira entrou na vila adversária a 27
de dezembro, fundando a “República do Cariri”. Depois do saque
que êle e o padre Antônio Manuel de Souza não puderam evitar,
marcharam contra Fortaleza, sendo • batidos em Várzea Alegre,
perto do Icó, a 6 de fevereiro de 1832. Madeira vence ainda no
Coité e tomou Barbalha assim como Icó, retomada pelas forças
legais sob o comando de Francisco Xavier Torres. Foi ainda
vencido em Missão Velha e noutros encontros, espalhando-se o
desânimo.. Os dois chefes retiraram-se e seus milicianos continua­
ram sem comando, matando, saqueando, incendiando. O general
Pedro-Labatut, comandante das forças imperiais, acampou em Cor-
rentino, prometendo garantia de vida aos revoltosos que se entre­
gassem. Pinto Madeira e o padre Souza, a 18 de outubro de
1832, depuseram as armas, com 1.690. Foram mandados presos
para o Recife, daí para Fortaleza, depois para o Maranhão, priva­
dos do mais elementar conforto. Requisitado Pinto Madeira *em
outubro de 1834 (o Pe. Souza ficara doente no Maranhão), foi
169 —

enviado para o Crato e aí julgado pelos seus velhos inimigos,


acusado, não de sedição mas de crime de homicídio na pessoa de
Joaquim Pinto Cidade. Os depoimentos foram exclusivamente de
adversários, não sendo admitida a defesa legal. Condenado a
morte por enforcamento, Pinto Madeira, cuja compostura, sere-
nidade heróica era geralmente admirada, protestou, dizendo que
lhe cabia morrer fuzilado como soldado. E foi fuzilado na manhã
de 28 de novembro de 1834. O padre Souza veio para o Ceará em
1836 e o júri do Crato absolveu-o.
No Rio Grande do Norte vários municípios enviaram seus
homens para repelir Pinto Madeira quando se aproximava de nos­
sas fronteiras. Acari, Açu, Apodi, salientaram-se. A coluna co­
mandada pelo capitão Manuel Teixeira, do Acari, chegou a com­
bater no “Tourão”, Patu. .A fama de Pinto Madeira é de vio­
lência, rapinagem, brutalidade, dissolvida no espírito do povo que
o viu como invasor. Agostinho Pinto de Queiroz, velho repu­
blicano de 1817^ tinha tanta raiva do caudilho cearense que chegou
a tirar o Pinto do nome, substituiõdo-o por Fernandes, para não
ter contato nem mesmo verbal. E fêz divulgação dêsse fato.
Cipriano Bezerra Galvão, falecido no Acari a 16 de junho de 1899,
com 90 anos, foi o último sobrevivente dos norte-rio-grandenses
que lutaram contra Pinto Madeira no território da Província.

IV
Joaquim Vieira da Silva e Souza, depois Ministro de Estado,.
Senador do Império, Ministro do Supremo Tribunal de Justiça,
nada conseguiu fazer e seu grande mérito consiste em não haver
permitido as explosões partidárias, tão temíveis quanto irrespon­
sáveis. É de sua administração a criação do município de Goia­
ninha a 7 de agôsto de 1832 e na mesma data a supressão do
município de Arez.
Até 31 de julho de 1833 quando assumiu o 6.° Presidente,
Basilio Quaresma Torreão, não há registo anterior digno de
relêvo. Foram apenas fumaça de fogo de monturo- entre as facções
locais, brigas dos liberais contra os amigos de Rocha Bezerra,
representados pelo Padre Pinto, Manuel de Castro, 1774-1850.
o mais votado na eleição de 17 de novembro de 1828, o quarto
na ordem, e os três de maior número de votos tinham falecido.
O Padre Pinto assumiu o comando da Província com grande
gritaria adversária, em setembro de 1832, outubro de 1832 a
janeiro de 1833, entregando-o ao 5.° Presidente, Manuel Lobo
de- Miranda Henriques. Presidindo o Conselho do Govêrno, em
11 de abril de 1833, criou êste os municípios de Acari, Angicos,
— 170 —
Apodi, XSão Gonçalo c Touros. Faleceu no Recife em 1856.
Assumiu Basilio Quaresma Torreão, o 6.° Presidente.
Basilio Quaresma Torreão, pernambucano de Olinda, (1787-
1867), revolucionário de 1817 e de 1824, casara em Goianinha,
no Rio Grande do Norte, sendo um dos animadores para a fun­
dação de uma sociedade anônima que possibilitou a publicação
do NATALENSE, em 1832, o primeiro jornal na província, e
que durou até 1837. A província elegeu-o deputado à quarta legis­
latura, 1838-41. Seu filho, de igual nome, nascido em Goianinha,
foi o l.° Juiz de Direito no Açu e desembargador no Maranhão.
Basilio Quaresma Torreão reuniu as Aulas Maiores da capital,
fundando o Ateneu do Rio Grande do Norte a 3 de fevereiro de
1834 (é a data certa). Reorganizou a Alfândega em 5 de janeiro
de 1835, nomeando Inspetor a João Bernardino Nunes. Foi o
primeiro Presidente a 1er a sua FALA perante a Assembléia Legis­
lativa Provincial, instalada a 2 de fevereiro de 1835 (1). Durante
sua administração desapareceram o Conselho do Govêrno (2) e
o Conselho Geral da Província (3). Sancionou o primeiro orça­
mento provincial. Tínhamos duas comarcas, Natal e Açu, 13 muni­
cípios, 52 distritos de Paz e. 7 de Jurados. Funcionavam 22 esco­
las e 6 não estavam providas. A receita era orçadá em 15.009$ 162
e a despesa em 46.617$760, para o exercício financeiro de 1836-37,
de l.° de julho a l.° de julho. A maior verba era Instrução, com
11.380$ e a menor, Saúde Pública, com 400$000. Maneiroso,
simples, acolhedor, contribuiu poderosamente para a geral quieta-
ção dos espíritos.
Seu sucessor, o 7.° Presidente, Dr. João José Ferreira de
Aguiar, depois deputado geral, professor ña Faculdade de Di­
reito do Recife, depois Barão de Catuama, assumiu a l.° de
maio de 1836 indo a 26 de agôsto de 1837. Criou a Tesouraria
Provincial, a 24-10-1836, nomeando a 6-4-1837 o l.° Inspetor, José
da Costa Pereira, ganhando 600$ por ano. Até 1851* o Presidente
da Província percebia 266$666 mensais. Organizou o Corpo Po­
licial a 4-11-1836, contando o comandante e um segundo, 1.® e 2.®
sargentos, um furriel, três cabos, dois cornetas e 60 soldados.
O comandante fazia 40$ de sôldo e 10$ dç gratificação mensal.
O l.° Comandante foi o capitão Antônio José de Moura. Tínhamos
40 escolas.
Em maio de 1837 realizou-se a segunda eleição senatorial.
A lista tríplice constava de padre Francisco de Brito Guerra, (69
votos), André de Albuquerque Maranhão, (56 votos) e Tomás
Xavier Garcia de Almeida (37 votos).^ Foi escolhido o primeiro
a 10 de junho e empossado a 12 de julho de 1837. Foi o único
norte-rio-grandense Senador do Império(4).
— 171

Dos processos persuasivos do futuro barão de Catuama • um


episódio dará exemplo. O município de Angicos fôra criado em
1833 e uma lei da Assembléia em 28 de março de 1835, sancio­
nada por Quaresma Torreão, extinguiu-o, incorporando seu ter­
ritório à Vila Nova da Princesa (Açu) . Os angiquenses estavam
indignados e ameàçavam defender a autonomia da Vila pelas
armas. Ferreira de Aguiar recebeu ordens ministeriais para empre­
gar a fôrça militar. O Presidente entendeu-se com os furiosos
espoliados e pediu-lhes que o deixassem cumprir a lei. Angicos
não era município. Êle pessoalmente prometia fazê-lo ressurgir.
Os angiquenses aceitaram. A 13 de outubro de 1836 uma lei
criou o município de Santana do Matos e restaurou o de Angicos.
Manuel Ribeiro da Silva Lisboa, (1807-1838), bacharel em
direito, assumiu a 28 de agôsto de 1837 e foi assassinado a 11 de
abril de 1838 no sítio da Passagem em Natal. É uiñ dos injusti­
çados da história local, haloado pela fama de luxúria e de violên­
cia, improvadas e vivas na memória oral, e esquecido na documen­
tação impressa e manuscrita que deixou, abundante, atestando
seu superior descortínio administrativo, energia disciplinadora e
Visão realística dos problemas provinciais. Era baixo e forte,
apelidado Parrudo, jogando as armas muito bem e presidira Ser­
gipe onde dera conta excelente da missão confiada aos seus 27
anos. Sua MENSAGEM (números de fevereiro de 1897 da
‘‘República’*) é original e afoita pelas sugestões apresentadas.
Criticava o abandono dos párocos às freguesias pobres, esque­
cendo o pastoreio das almas, a falta de iluminação da cidade,
propondo uma Casa de Govêrno reunindo as secretarias, a ne­
cessidade de estradas pelo interior, falando da inutilidade da
Guarda Nacional, olvidados das • finalidades da instituição e
servindo apenas para a” vaidade dos postos agaloados, a desor­
ganização municipal, a necessidade de um Recolhimento para
Órfãos e um «Hospital para ambos os sexos, destinado aos po­
bres, etc. Sugeria a criação de cadeiras do ensino de Geometria
e Mecânica aplicadas às Artes e Ofícios e outra de Agricultura
Prática e Veterinária, suprimindo-se algumas de Latim e Lógica
no interior, cujos mestres percebem muitas vêzes avultados orde­
nados para ensinarem a um único discípulo, etc. Concedeu qua­
tro loterias, no valor de 10.000$ cada, em benefício das estradas
públicas. Criou as Companhias de Jornalemos nos municípios,
lei n.° 12, de 24-10-1837, que seriam empregados nas futuras
rodovias. Criou em Natal um Juiz de Direito do Civil com ju­
risdição privativa nos feitos do Fisco Provincial. Destinou um
crédito para abertura de estrada que fôsse da Princesa ao Prín­
cipe (do Açu ao Caicó) . Obteve autorização para construir
172 —■

uma casa para a Assembléia, aproveitando os emolumentos das


patentes da Guarda Nacional. Escreveu às pessoas influentes do>
interior inquerindo pelos produtos de cada município, distância
para Natal, preços, estradas, pedindo sugestões. A resposta de
Tomás de Aráújo Pereira está guardada no arquivo da Secre­
taria do Govêrno. Reformou a Força Pública. Fazia o funcio­
nalismo andar numa roda viva, obrigando-o à assiduidade, cha­
mando às aulas os professores faltosos, etc. Não agradava e
mesmo enfrentou, com sua natureza arrebatada e nada diplo­
mática, os chefes poderosos da facção Sulista, o futuro Partido
Liberal. Denunciou mesmo uma conspiração. Meteu-se a fazer
trabalhar a Câmara Municipal. Demitiu gente a torto e a direito.
Queria renovar. O processo para essa renovação era drástico e
perfeitamente substituível por meios mais- serenos e compatíveis
com o patriarcalismo do ambiente. Seus defeitos humanos não
têm o direito de prejudicar o administrador que não chegou a
ser útil. Sua morte ficou sempre em mistério, impune (5) .
No mesmo 1838 três vices, Joaquim Aires de Almeida Frei­
tas, Manuel Teixeira Barbosa e João Valentino Dantas Pinagé
assumem sem maiores rastos até que chegasse o Presidente dom
Manuel de Assis Mascarenhas, assumindo a 3 de novembro. O
trabalho maior de Teixeira Barbosa, pai de Estevão José Barbosa
de Moura, apontado como mandante da morte de Parrudo, foi
desmanchar os atos do Presidente assassinado, demitir e transfe­
rir os amigos do defunto e fazer desaparecer o processo da cons­
piração de que só existe um resto e fora do Rio Grande do Norte,
no arquivo do Instituto Arqueológico Pernambucano (6) .
Durante o período regencial distinguem-se os dois partidos
políticos que atravessariam o Império. Do NORTISTA saiu o
Conservador ou Saquarema. Do SULISTA nasceu o Liberal ou
luzia. Eram ciosos e ensopados de preconceitos. Na Matriz os
Conservadores ficavam na parte do norte e os Liberais na do
sul. ,
Com programas semelhantes e processos idênticos, nenhuma
característica essencial possuiam. Nas últimas décadas do re­
gime estavam reduzidos a máquinas rotativas de eleições, empur­
rando unanimidades para a Câmara dos Deputados. O visconde
de Albuquerque, senador do Império e muitas vêzes Ministro,
dizia, por experiência própria e verificável : — Não há nada
parecido com um Luzia como um Saquarema no poder . ..
Nesses anos iniciais da Regência os norte-rio-grandenses de­
cidem as simpatias pelos dois Partidos engatinhantes e exigentes-
de fidelidade sectária. , . .
173

O padre Florencio Gomes de Oliveira, - três vêzes deputado


provincial, lamentava a ausência da imprensa correligionária nuns
versos onde êste salienta a divisão partidária :
Faltando o clarim d’imprensa
No Rio Grande do Norte,
Poucos sabem q'o NORTISTA
Ê partido grande e forte,
Que o SULISTA no govêrno
Lhe move guerra de morte.
Por isso em 1849-50 há um jornal natalense O NORTISTA
ao mesmo tempo que o inevitável O SULISTA. E daí em diante
sempre os dois galos de briga, variando denominações e entu­
siasmo, trocaram bicadas e comeram milho.
Quando dom Manuel d’Assis Mascarenhas governava ocor­
reu um fato inesquecível na tradição popular do Açu ,o Fogo
de 40, Como era de esperar êsse incêndio foi uma fuzilaria entre
44sulistas” e “nortistas”, disputando os lugares de vereadores e
juizes de paz em dezembro de 1840. Os Nortistas ganharam
a eleição em setembro e a tiveram anulada pela Assembléia Pro­
vincial que mandou renovar o pleito. O. juiz de paz Francisco
Xavier da Cunha e o suplente Luís da Fonseca e Silva denun­
ciaram-se, processaram-se, condenaram-se reciprocamente, arras­
tando amigos no feito. O Nortista estava de baixo e deliberado
vencer novamente o pleito. Dom Manuel enviara uma fôrça
militar, para garantir a luta ou evitá-la, não se sabe bem, co­
mandada pelo tenente José Antônio de Souza Caldas. Na manhã
de 13 de dezembro de 1840 à chegada do eleitorado no adro da
Igreja Matriz, o juiz de direito em substituição, Manuel Ribeiro
Leonez de Melo, mandou postar os 22 soldados e o tenente a
uma esquina. Os Nortistas não pareciam dispostos a permitir o
ingresso dos Sulistas. Discussão, gritos e os tiros partem, da
calçada da Igreja para a esquina ou vice versa. As descargas
se sucedem. Os dois chefes nortistas mais evidentes, José e seu
irmão Francisco Varela Barca, Juiz de Órfãos, caíram feridos.
Francisco morreu imediatamente. José faleceu dias depois. Der-
ramou-se o pânico e os grupos procuraram armas, cada lado espe­
rando o ataque do adversário. Dom Manuel voou de Natal com
todo o Corpo Policial, Milicianos e voluntários, amigos e baju­
ladores/ num total de 200 homens. Sua presença sossegou os
ânimos. Mas o Corpo Policial, com o seu comandante Matias
Carlos de Vasconcelos Monteiro, permaneceu seis meses no
Açu (6).
Em julho caiu o Partido Nortista e dom Manuel foi remo­
vido, por nomeação regular mas alfinetadora, para a presidência
•de Sergipe. Assumiu o vice-presidente Estêvão José Barbosa
— 174 —

de Moura, em cujo govêrno, de* julho a dezembro, saíram con­


tratos para a construção de estradas e foi instalada a comarca
da Maioridade (Martins), Dom Manuel arranjou sua demissão
de Sergipe e voltou Presidente do Rio Grande do Norte. Eleito
deputado geral pelos seus governados não chegou a empossar-se
porque a Câmara foi dissolvida, l.° de maio de 1842. Èstevão
Moura ficara, como da vez anterior, tomando conta do lugar
que dom Manuel recuperou, sentando-se na cadeira presidencial
da província a 31 de maio do mesmo 1842. Novamente eleito/
assumiu seu pôsto no Rio de Janeiro em novembro. Estevão,
que ficou até julho de 1843, passou a governança ao h°vice
André de Albuquerque Maranhão, filho do capitão-mor das
Ordenanças de Vila Flor e Arez e republicano de 1817. Assumiu
o 11.° Presidente, Dr. Francisco de Queirós Coutinho Matoso
da Câmara, irmão do Papa Saquarema, Eusebio de Queiroz,
égide conservadora. Desde 1841 os saquaremas dominavam.
Francisco de Queiroz tomou posse em janeiro e deixou em julho
de 1844. Não podia fazer grande coisa e não fêz coisa nenhuma.
Fizeram para êle a suplência de deputado geral, 1845-47, com
André de Albuquerque Maranhão que lhe entregara o govêrno
provincial. Queiroz substituiu-o na Câmara dos Deputados em
fevereiro-março de 1845 e nas sessões de 1846. Fôra, pelo
exposto, uma suplência efetiva.
Para fazer a eleição acima tivemos um militar, o Brigadeiro
Venceslau de Oliveira Belo, tio materno do futuro Duque de
Caxias. Venceslau fôra Governador das Armas no Rio Grande
do Norte de 1824 a 1827, angariara donativos para a estátua
equestre de D. Pedro I e, com auxílios de amigos, construiu um
prédio para escola em Natal, doando-o ao govêrno. A missão
atual era mandar “o senhor de Itapecirica”, André de Albuquer­
que Maranhão, para a sexta legislatura, com Francisco de Quei­
roz na suplência. Feita a eleição, dado o recado, Oliveira Belo
abraçou os amigos e se foi embora, depois de saudar seu suces­
sor, o Dr. Casimiro José de Moraes Sarmento que se empossou
a 28 de abril de 1845.
1845 é o ano de sêca hedionda. O Rio Grande do Norte
possuia as comarcas de Natal, Açu e Maioridade (Martins) e
quinze municípios, 149.072 habitantes, 43 engenhos e 73 enge­
nhocas para rapaduras e aguardente. Exportara-se 1.068 fardos
de algodão e, por Macau em 78 navios, 59.895 alqueires de sal.
O gado era avahado em 17.000 cabeças.
De sucessos famosos tínhamos contado apenas dois. Em 25
de novembro de 1839 entrara na barra de Natal o primeiro vapor
e em 1842 conhecíamos o Dr. José Bento Peréira da Mota, o
175

primeiro médico do Partido Público. Quinze anos depois dou-


torar-se-ia Luís Carlos Lins Wanderley, o primeiro norte-rio­
grandense médico.
Casimiro José de Moraes Sarmento administrou dois anos
e meio, até 9 de outubro de 1847. Foi um grande presidente.
Bom, amável, conversador, animando tudo, lazia gôsto vê-lo.
Fizemos muito bem elegendo-o duas vezes deputado geral, sé­
tima, 1848, e oitava legislaturas, 1850-52. Em Natal construiu
escolas e abriu ruas. A rua João Pessoa dizia-se Rua do Sar­
mento. A rua Princesa Isabel, outrora Rua dos Tocos, também
foi feita por êle. Era Liberal e governava com os amigos. Em
agôsto de 1845 saía senador pelo Rio Grande do Norte o ilustre
Veador da Imperatriz, Paulo José de Melo Azevedo e Brito,
posse em maio e veio a falecer em setembro de 1848. Tivera
270 votos, na cabeça da lista. Sempre ignorou para que lado do
mundo ficava a província que o mandara para o Senado a título
vitalício.
O presidente Sarmento pacificou os barulhos em Maioridade,
Seridó, Acari, Estremoz e S. Gonçalo. O algodão continuava
atacado pela peste do môfo, prejudicando a venda. O presidente,
em relatórios vivos e atilados, fixava tôdas as necessidades, desde
a estrada até a urbanização de Natal. Os recursos é que inexis-
íiam. Em 1847 a sêca, cansada de matar, morreu. Sarmento
até falecer em 1-11-1860, ficou norte-rio-grandense honorário.
Deixou “estórias” saborosas. Numa tarde, esquecido que era 2
de dezembro, aniversário do Imperador, conversava com os ami­
gos quando ouviu as palmas e os gritos diante do palácio do
Govêrno (Av. Junqueira Aires, antiga Rua da Cruz, onde está
a Capitania dos Portos) . Ergueu-se, de chambre, vestiu a ca­
saca verde bordada a oiro, calçou as luvas, pôs o chapéu armado
na cabeça e apareceu à janela, debaixo de aclamações. E assim,
de casaca da cintura para cima e de chambre da cintura para
baixo, deu os três vivas protocolares e satisfez o. ritual.
Quando governava o presidente Sarmento foram justiçados
em Natal os três últimos condenados a morte : Inácio José
Baracho, enforcado a 30 de julho de 1845, Alexandre José Bar­
bosa a 30 de outubro de 1846, e Valentim Ferreira Barbosa a 7
de agôsto de 1847, fuzilado na campina da Ribeira. O primeiro
enforcado na Província fôra José Pretinho, a 23 de maio de
1843, na vice presidência de Estevão José Barbosa de Moura.
O vice presidente (I.°) João Carlos Wanderley, chefe libe­
ral, jornalista, advogado sem diploma mas habilíssimo, enérgico,
espirituoso, desabusado, subiu quatro vêzes ao govêrno provin­
cial. Não há muito que contar, desprezando as guerras de for-
— 176 -

niigueiro saúva que desgastaram as melhores forças intelectuais


da província. João Carlos empossou Frederico Augusto Pam­
plona, 14.° presidente, a 5 de dezembro de 1847 e êste não teve
tempo de fazer coisa alguma nos três meses em que nos honrou
com sua presença. Voltou João Carlos, de 31 de março a 29 de
abril quando assumiu o 15.° presidente, Antônio Joaquim de
Siqueira, que saiu a 25 de novembro, tudo em 1848. Naturalmente
havia apenas o despacho do expediente rotineiro.
Novamente João Carlos que tentou fundar a Imprensa Ofi­
cial e iluminar a Cidade, sonhos incríveis muito depois realiza­
dos. O 16.” presidente, Benvenuto Augusto de Magalhães Ta­
ques, de 24 de fevereiro a 2 de dezembro de 1849, passou mais
ou menos em branca nuvem mas sua mensagem (3-5-1849) é
digna de leitura. Atraíra-o o sal, sugerindo medidas úteis e ainda
atuais. Macau exportara, desde 1845 a 48, 122.262 alqueires
de sal mas o produto decaía, vencido pelo competidor estran­
geiro. Taques assombrou-se porque não se ensinava Gramática
Portuguêsa nem Catecismo e notou que o boi ainda faz parto do
serviço do cavalo na condução dos gêneros. Nesse tempo houve
variola e a “diária” de um prêso pobre de justiça era de um
tostão.
A Taques sucedeu José Pereira de Araújo Neves, a 2 de
dezembro de 1849. Veio a vaga de Azevedo e Brito no Senado
e em janeiro de 1850 houve eleição. Dom Manuel de Assis Mas­
carenhas ficou na ponta da lista tríplice, com 257 votos. Tomás
Xavier Garcia de Almeida e João Valentino Dantas Pinagé,
com 197 e 191, completavam o quadro. Dom Manuel foi esco­
lhido e tomou posse a 17 de junho de 1850. Faleceu a 30 de
janeiro de 1867, sempre amigo, dentro do possível, dos seus dis­
tantes e deslumbrados eleitores.
Araújo Neves faleceu em Natal a 15 de março de 1850
e houve boato de envenamento. Passou-se então um caso curioso.
João Carlos fôra nomeado l.ü vice presidente em 10 de agôsto
de 1847, com os Liberais de cima. Em setembro de 184& subiu o
Partido Conservador, inaugurado na Província por Magalhães
Taques. Morrendo, quase súbitamente, Araújo Neves, verifica­
ram que João Carlos, liberal até debaixo d’água, ia governar o
Rio Grande do Norte numa situação conservadora. Não havia
tempo para obter outra nomeação para correligionário. O Telé­
grafo é muitíssimo posterior (1878). Os conservadores andaram
rodando assanhados para que João Carlos não assumisse. Mas
o homem era duro e assumiu. Houve um episódio interessante.
João Valentino Dantas Pingé e Amaro Carneiro Bezerra Caval­
canti, juizes de direito e municipal na comarca da Maioridade
(Martins), conservadores puros, não quiseram reconhecer as au-
177 —

toridades nomeadas pelo liberal João Carlos. Puseram-se em


armas e os correligionários do Apodi ficaram também prontos
para qualquer emergência. João Carlos, que fazia promessas por
uma complicação política, mandou o tenente Joaquim Francisco
de Paula Moreira com 50 soldados fazer respeitar suas ordens.
Em cima da serra os dois magistrados preparam-se para resistir.
À 6 de maio de 1850, milagrosamente, apareceu o 18.° Presidente,
José Joaquim da Cunha, e assume no mesmo dia. Joãc Carlos
saiu da cena. Os conservadores estavam senhores da província
mas Paula Moreira ia viajando com seus soldados para derrotar
Pinagé e Amaro. Não se sabe como os dois tiveram conhecimento
da posse do presidente Cunha. Chamaram Bernardino Vapor, o
mais célebre andarilho das redondezas, e o fizeram portador de
cartas para os amigos de Natal. Bernardino Vapor veio do Mar­
tins a Natal e 'voltou com a contra-ordem para o tenente Paula
Moreira. Fizera 150 léguas em três dias. Os soldados caminha­
vam apenas 15. Quando Moreira, com corneta e tambor, chegou
ao topo da serra deram-lhe o ofício para 1er e acabou-se a his­
tória .
O presidente Cunha fêz-se eleger deputado geral e levou
Amaro Bezerra, o juiz municipal da Maioridade, como suplente,
na nova legislatura, 1853-56. -No seu tempo o cangaceiro José
Brilhante de Alencar andou revirando a serra do Martins mas
foi preso.
Ao presidente Cunha sucedeu, a 10-7-1852, Antônio Fran­
cisco Pereira de Carvalho, Carvalho Amarelo, cuja gestão é
incolor. Nenhuma novidade. Substituiu-o em 24-10-1853 o pre­
sidente Antônio Bernardo de Passos, um dos maiores e melhores
administradores da província. Também durou maior tempo o
seu governo, estendendo-se até l.° de abril de 1857.
Passos foi de incrível energia e inexcedível dedicação e ope­
rosidade. A Cólera Morbo assaltou a província , em 1856, sur­
preendendo-a com um médico e uma botica. Matou 2.500 pes­
soas mas Passos defendeu-se maravilhosamente, aparando os
golpes, fundando o Hospital de Caridade, construindo o Cemitério,
abrindo ruas, reunindos feiras populares, afastando a exploração
da fome pelos negociantes desalmados, comprando víveres (a
saca de farinha de 7$ passou a 15$) mobilizando todos os
recursos, pedindo, mandando sem cessar. Os socorros que enviou
a todos os municípios, sua afabilidade, a fama perigosa de nunca
ter recusado uma esmola, trouxeram seu nome até nossos dias.
A província tinha 170.000 habitantes. Apenas 3.000 escravos,
1.508 trabalhando nos engenhos. O dízimo do gado trazia 50 %
da receita. A pesca ocupava 1.419 pessoas, rendendo quase
7.000$. Construia-se a torre da Matriz e Passos fez adquirir.
178 —

por subscrição, um relógio que funcionou até nosso tempo. De-


fendia a construção de açudes. 1856 ficou sendo chamado o ano
do Cólera.
Sucedeu-o, a l.° de abril de 1857, Bernardo Machado da
Costa Dória, sergipano, juiz de Direito, austero, decisivo, impe­
rioso. Passou o govêrno ao l.° vice presidente, Otaviano Cabral
Raposo da Câmara, em 19-5-1858. Fizera polícia repressiva,
prendendo criminosos de situação social elevada, conhecidamen-
te impunes. Foram presos Miguel Eduardo Freire, ex-presidente
da Câmara Municipal de Touros e delegado de polícia, o vigário
de- Estremoz, padre Cândido José Freire, Antônio Ribeiro de
Paiva, chefe da malta dos “Mata-Quiri”, José dos Santos Caria
Júnior, rapaz de sociedade, turbulento, os escrivães Manuel An­
tônio Chaves e João José de Melo. O major João da Silveira
Borges, o tenente coronel Manuel André Torres Galvão, o ban­
doleiro José Brilhante de Alencar foragiram-se. André de Albu­
querque Maranhão Arcoverde, o temível Brigadeiro Dendê Arco­
verde, suicidou-se a 26 de julho de 1857, em Cunhaú, para esca­
par à humilhação.
Otaviano Cabral, um dos chefes conservadores, dono do
grupo saquarema denominado os Cabrais, composto por seus
irmãos, Jerónimo e Leocádio, entregou a província ao 22.° Presi­
dente, Antônio Marcelino Nunes Gonçalves, a 18-6-1858. Nunes
Gonçalves, depois ministro de Estado, senador do Império, vis­
conde de S. Luís do Maranhão, com pouco menos de 16 meses
evidenciou-se capacíssimo. Preocupou-o a educação, instalando o
Ateneu em prédio próprio, 1-3-1859, inaugurando o Colégio de
Educandos Artífices, a primeira escola de ensino ' profissional, a
2-12-1859 (foi extinto em 1862), mandando os norte-rio-granden­
ses Francisco Gomes da Silva Júnior e Hermógenes Joaquim Bar­
bosa Tinoco estudar em Paris, formando-se ambos em Direito na
Universidade da Sorbonne. Quis melhorar a condução para o
interior. .
João José de Oliveira Junqueira, 23.° presidente, assumiu a
4-10-1859 e deixou a 28-4-1860, quando se empossou o 24.° pre­
sidente, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior.
Oliveira Junqueira, Ministro de Estado, Senador do Império,
governou seis meses e dias. Iluminou Natal com 60 lampeões e
mudou o farolete do forte dos Reis Magos. No mais, atendeu ao
expediente e planejou reformas que sabia não ter espaço para
positivá-las, seguindo como seguia, política geral.
Tínhamos 200.000 habitantes. O gado era avaliado em
60.000 cabeças. O açúcar ia a 372.480 arrobas.
— 179 —

Criou, lei n.° 482, de 14-4*1860, um Banco Rural Hipote­


cário que não viveu fora do papel não obstante a necessidade ma-,
nifesta.
José Bento manda prender sentenciados soltos. Visita Mos­
soró. Inicia a construção do Mercado Público de Natal, a 7-6
de 1860, e que foi inaugurado, por muito favor da sorte, em 7-2
de 1892, trinta e dois anos depois. Em fins de 1859 Fabricio
Gomes Pedrosa fundou a Casa de Guarapes, núcleo comercial
poderoso, Potengi acima, determinando navegação direta com a
Europa pela exportação de açúcar e algodão. A Casa de Guara­
pes durou pouco mais de doze anos, vitoriosamente.
Ia assim vogando a barca quando José Bento suspeitou da
solidez da situação conservadora, gabinete do marquês de Caxias,
e passou o leme provincial ao 3.° vice, Antônio Galdino da Cunha,
cuja nomeação datava de 1852. Caxias aguentou-se bem e Gal­
dino entregou a administração, a 17-5-1861, a Pedro Gomes Leão
Veloso, outro futuro ministro de Estado e senador do Império.
Êsse encontrou a província em ^desespero financeiro e desenvolveu
atividade múltipla. Viajou pelo interior, julho e agosto de 1861,
visitando Caicó e Mossoró, examinando, perguntando tudo. Com­
primiu as despesas ao máximo da contenção, escrevendo um dos
melhores e sob alguns pontos o melhor relatório, em 16-2-1862,
expondo com rara pefcuciência e argúcia todos os problemas lo­
cais. Foi um disciplinador, dizendo verdades tão desagradáveis
quanto indispensáveis. Mostrou a inutilidade da criação de muni­
cípios sem vitalidade econômica. Citou a abundância do funcio­
nalismo. Em 185L tínhamos 87, inclusive professores. Em 1859
eram 150.
De 1850 a 1859 o funcionalismo absorvera 641.517$ 148 e
as despesas com Obras Públicas apenas 75.355$351. Apesar de
sua heróica pressão financeira ficou um deficit de 56.498$792.
Sugeriu um empréstimo para canalizar o rio Ceará-Mirim. Propôs
inspeção escolar rigorosa. Desejava que os candidatos a empregos
públicos tivessem o curso do Ateneu, o que também será um útil
embaraço às pretensões.
Dois vice-presidentes passam, Trajano Leocádio de Medei­
ros Murta, 14 a 26-5-1863, e Antônio Galdino da Cunha, 26 de
maio a 27-6-1863, ambos conservadores solícitos, ambos coronéis
da Guarda Nacional, honestos e crédulos nos sublimados destinos
do partido Saquarema. Um terceiro vice, bacharel, filho de sena­
dor e ele próprio futuro senador, foi Vicente Alves de Paula
Pessoa, tomando as rédeas clássicas da mão do coronel Galdino,
mas só as empunhou três dias. Chegou e assumiu Olinto José
Meira, o 26.° presidente, nomeado pelo marquês de Olinda,
gabinete dos Velhos, em plena era progressista.
— 180

Olinto José Meira ficou de 30-7-1863 a 21-8-1866. É o tempo


da guerra do Paraguai. O presidente é um animador do volunta­
riado, real e fictício, fazendo discursos calorosos e bonitos. A
província correspondeu perfeitamente. Foram, em todo curso da
guerra, 2.197 homens e francamente: 500 perderam a vida na de­
fesa da Pátria (7) . Animou trabalhos públicos, escolas, estradas,
pontes, extremamente simples, atendendo tôda a gente. Era escri­
tor, poeta, latinista.
Seu sucessor, Luís Barbosa da Silva, também nomeado pelo
marquês de Olinda, mas no gabinete das Águias, preparação libe­
ral, manteve o ritmo da aceleração militar mas desfez muitas das
iniciativas do seu antecessor, como era habitual. O vigário de
S. José de Mipibu, padre Joaquim Severiano Ribeiro Dantas, gran­
de latinista sôbre o qual dizia o velho Felipe Ferreira, de Man-
gabeira, que roncava em latim, apresentara-se a Olinto Meira
com uma “brilhante companhia de voluntários”. O deputado
Amaro Bezerra repetiu o gesto, espalhando proclamação ante o
entusiasmo de Luís Barbosa da Silva. Como era natural, não
passou do discurso e do boletim. Ficou no Rio de Janeiro, na
Câmara dos Deputados. Barbosa mandou abrir o canal Dodt no
vale do Ceará-Mirim para regular o excesso das enchentes.
Custou 7.774$200.
A guerra absorve as atenções e cuidados até 1870. Suce­
dem-se presidentes e vices, monótonamente. Gustavo Adolfo de
Sá, o 28.°, 13-5-1867 a 29-7-1868, fundou a Biblioteca Pública
Provincial a 8-3-1868 e que veio morrendo até 25-11-1909 quando
expirou. Conseguiu autorização (orçamento de 1868) de gastar
6.000$ com espécime vacum e cavalar para melhorar o rebanho.
Manuel José Marinho da Cunha, (*) 1-9-1868 a 10-3-1869, é
o primeiro presidente conservador nomeado pelo visconde de Ita-
boraí. De notável, que se conheça, recebeu um baile oficial, a 2
de dezembro, onde Natal provou gelo e ficou gostando, O 309
presidente, Pedro de Barros Cavalcanti de Albuquerque, fêz obras
na capital e, em novembro de 1869, elegeu-se o conselheiro Fran­
cisco de Sales Tôrres Homem, nosso 5.° Senador, antes Timandro
e depois Visconde de Inhomirim, financista, tribuno, cardeal sa-
quarema. Conheceu o Rio Grande do Norte quando olhava a
carta geral do Império. Obteve 271 votos. Seus companheiros
de lista foram Jerónimo Cabral Raposo da Câmara, com 254, e
Tarquinio Bráulio de Souza Amaranto, com 233 votos. Tôrres
Homem foi escolhido a 20 de abril e tomou posse no Senado a
20-6-1870.

(*) Marinho da Cunha assinou una lei única, a 612, de 15-12-1868, ele­
vando a Vila de Príncipe (Caicó) à Cidade.
— 181 —

Com o 31.° Presidente, Silvino Elvídio Carneiro da Cunha,


depois Barão de Abiaí, terminou a guerra do Paraguai, no poderio
conservador que seguiu até 1878, quando subiu Cansansão de
Sinimbu.
Carneiro da Cunha, 22-3-1870 a 11-1-1871, recebeu festiva­
mente os primeiros Voluntários da Pátria que regressavam do
Paraguai. Eram 14 oficiais e 192 soldados vindos no vapor “Mar-
cilio Dias”, desembarcando na manhã de 2-8-1870, entre aclama­
ções, versos e flores. A recepção custou 3.152$080, da parte dos
cofres públicos, além do auxílio financeiro particular. Na disso­
lução do Corpo de Voluntários, dois dias depois, três escravas
menores foram libertadas, a mais linda de todas as comemora­
ções . ( * )
O vice-presidente Jeronimo Cabral Raposo da Câmara, Dou­
tor Loló, empossou o 32.° presidente, Delfino Augusto Cavalcanti
de Albuquerque, que governou de 17-8-1871 a 11-6-1872. Del­
fino visitou o sertão, mandou abrir o Canal Delfino no vale do
Ceará-Mirim e contraiu o primeiro empréstimo provincial,
100.000$000, com o Banco do Brasil, a 28-12-1871.
Dois vices-presidentes ocupam rapidamente a presidência.
O Doutor Loló assume em 11 de junho. Era o 4.° vice mas seus
adversários, do mesmo partido conservador, temerosos de sua
inquieta vivacidade, correram até João Gomes Freire, pacato agri­
cultor em Utinga, no município de S. Gonçalo, lembrados que
êsse era o l.° vice. E João Gomes Freire, resmungando, sem
entender daquelas trapalhadas, tomou uma roupa preta empres­
tada, assumiu e recusou, quando empossou o 33.° presidente, Hen­
rique Pereira de Lucena, receber os vencimentos dos quinze dias
de governo sob pretexto de não ter feito coisa alguma.
Henrique.Pereira de Lucena, depois barão de Lucena, Minis­
tró onipotente do generalissimo Deodoro da Fonseca, governou
de 1 de julho a 17 de novembro de 1872. Achou Natal uma vila
insignificante e atrasadíssima do interior, sugerindo à Assembléia
Provincial a mudança da capital para a Carnaúbinha, várzea fron­
teira à Guarapes, nessa época paraíso dos mosquitos e impalu­
dismo, sob explicação técnica de facilitar as comunicações com o
interior» Assinou um contrato, a 8-6-1872, para a construção de
uma estrada de ferro para o vale do Ceará-Mirim, atravessando
o Potengi com uma ponte metálica. Tudo se fez nas primeiras
décadas do século imediato. Inaugurou o farol dõ Forte, a 27-9
(*) Em Augusto Severo faleceu a 1-4-1941 Francisco Justiniano de

Melo, vulgo Chico Vicente, o último Vo’.untário da Pátria no Rio Grande

do Norte.
— 182 —

de 1872, e consertou a tradicional cacimba de S. Tomé, em Natal,


cuja placa de mármore está no Instituto Histórico local.
O coronel Bonifácio Pipheiro da Câmara, (1813-1884), filho
daquele capitão Joaquim Torquato Soares Raposo da Câmara,
amigo do Ouvidor Brito Lima e que fêz a saudação a Bolivar,
restaurador de Montevidéu, chefe conservador de prestígio inaba­
lável. assumiu, inaugurando, antes de empossar o 34.° presidente,
João Capistrano Bandeira de Melo Filho, a 17-6-1873, o Palácio
da Assembléia, começado em 1866, hoje Palácio do Governo, a
15-3-1873.
O Doutor Bandeirinha governou até 10-5-1875, e governou
bem. Instalou a Companhia de Aprendizes Marinheiros em 12-8
de 1873, sendo comandante o l.° tenente Teotônio Coelho de Cer-
queira, nosso conterrâneo que faleceu almirante. Inaugurou a 1-3
de 1874 a Escola Normal, extinta a 19-11-1878. Abriu um cré-
dico de dez contos para a libertação de escravas, de 16 a 30 anos
e de escravos de ambos os sexos. Pagou 301 $452 a Joaquim
Inácio Pereira pelo sino para a Matriz. Concedeu a João Crisos-
tomo de Oliveira um privilégio de 20 anos para edificar um
teatro. Esse ato de 6-8-1873 justificou o aparecimiento do “Teatro
Santa Cruz”, que fez época e desabou na manhã de 17 de abril
de 1894. Mandou desobstruir os rios Trairi e Ararai no vale do
Capió, gastando 9.000$. Por sua ordem foi feito o canal Bandeira
no vale do Ceará-Mirim, por 34.000$. Fez o segundo e último
empréstimo na Monarquia, no valor de 60.000$, a 28-12-1873,
com o Banco do Brasil. Financiou estudantes na Escola de Belas-
Arte.: do Rio de Janeiro. Animava conjuntos misicais. Um grande
presidente ...
José Bernardo Galvão Alcoforado Júnior, 35.° presidente, de
10-5-1875 a 20-6-1876, deixou fama de ríspido, escrupuloso,, fisca-
lizador, obrigando as Câmaras Municipais a contratar todos os
serviços superiores a vinte mil réis, multando-as em 50$ e 100$,
quando não enviassem contas regulares à Assembléia Provincial.
Mandou construir estradas e aumentou o cemitério de Natal, insu­
ficiente pelo aumento da população. Inaugurou, a 6-6-1875, uma
Exposição Provincial.

De fins de 1874 a £eadòs de 1875 houve na província motins


de protestos contra a adoção do sistema métrico decimal. A lei
n9 1.157, de 26-6-1862, foi mandada pôr realmente em execução
a partir de 1 de julho de 1873. Por todo o nordeste surgiu um
movimento de oposição, gritos, demonstrações hostis, indo os mais
— 183 — •

exaltados apoderar-se das novas medidas e destrui-las, opondo-se


ao pagamento de impostos e nalguns pontos, não no Rio Grande
do Norte, houve incêndio nos arquivos das Câmaras Municipais;
cartórios e Coletorias de Rendas. Esse movimento ficou sendo
denominado QUEBRA QUILO. Os lugares onde a tranquilidade
pública sofreu mais longamente foram a povoação de Santo Antô­
nio, em Goianinha (hoje cidade, sede do município do mesmo
nome), cidade do Jardim do Seridó, distritos de Vitória e Luís
Gomes (este também município), povoação de Poço Limpo no
município de S. Gonçalo, cidade do Príncipe, vila do Acari, Mos­
soró, pováações do Patu (hoje município) e Barriguda (Alexan­
dria, também município). Os amotinados aproveitavam as feiras
semanais para distúrbios e alarido, arrebatando os pesos e medidas
e jogando-as no fundo dos poços, quebrando-os. Foram enviadas
forças militares que conseguiram, sem esforço maior, a pacificação
pública.

VI
Antônio dos Passos Miranda, 36.° presidente, administra de
20-6-1876 a 18-4-1877. Era conservador sincero, polido e plane­
jador de melhorias destinadas a murchar no papel amarelo dos
decretos, esquecidos e sem possibilidade de execução. Em dezem­
bro de 1876 realizou-se a última eleição senatorial na província.
Veio no topo da lista o Sr. Diogo Velho Cavalcanti de Albuquer­
que, 479, seguido pelos Srs. Tarquinio Bráulio de Souza Ama­
ranto, 390, e Francisco Gomes da Silva, 313 votos. Foi o pri­
meiro escolhido e tomou posse em 6-3-1877.
A República encontrou o Visconde de Cavalcanti inútil e
senhorial, representando a Província pela qual sempre expressou
desprezo superior e sempre que lhe era possível, votava contra
os interêsses dela. O derradeiro senador pelo Rio Grande do Norte
imperial, Ministro de Estado, rico e feliz, foi o mesmo a quem o
barão de Cotegipe atirara o verso de Pérsio: pueri, sacer est locus»
extra me'jite, e Zacarias de Goes e Vasconcelos dizia ter êle entrado
para o Senado do Império porque encontrara a porta aberta.
Durante o governo de Passos Miranda a nova lei do recruta­
mento militar determinou sedições locais em Canguaretama, S.
José de Mipibu, Mossoró, Goianinha, Papari. Homens e mulhe­
res invadiam as Igrejas, onde se procedia ao trabalho de alista­
mento, rasgando os livros e agredindo os funcionários. Em Mos­
soró chamam a essa intentona o motim das mulheres por ter sido
dirigido por Ana Floriano, comandando trezentas mulheres deci­
didas, arrancando os editais e despedaçando as listas. Em Goia-
184

ninha houve três mortes. No tempo a povoação de Santa Cruz


passou à Vila do Trairi, 11-12-1876. Restaurou o município de
Arez na mesma data. A povoação de S. Miguel de Pau dos
Ferros teve o predicamento de vila, 11-12-1876. Fundou a Socie­
dade Protetora da Agricultura, 8-9-1876, com um programa magní­
fico e que desapareceu logo que Passos Miranda saiu do govêrno.
José Nicolau Tolentino de Carvalho, 37.° presidente, de 18-4
de 1877 a 6-3-1878, governou na calamidade que a seca dos dois
sete causava. O presidente, na melhor intenção, desorganizou a
província fazendo afluir a população flagelada para o litoral que
depressa se tornou carecedor de tudo, além de constituir focos
de peste. Elevou a povoação de Macaíba à vila, 27-10-1877.
A 10-8-1877 sucedeu a tragédia da Baía Formosa, causando
j impressão em tôda a província. João de Albuquerque Maranhão
Cunhaú, dono da terra, foi desalojar os moradores, destruindo-lhes
as casas, com uma guarda de 30 homens armados. Os moradores
reagiram, chefiados pelo pescador Francisco Magalhães, travan-
do-se luta desesperada, com feridos e mortos, inclusive um filho
de João Cunhaú. Este, processado, foi absolvido.
O vice-presidente Manuel Januário Bezerra Montenegro
assumiu, até 13-3-1878, quando foi empossado o 38.° presidente,
Elizeu de Souza Martins, em cuja administração inaugurou-se,
4-8-1878, o Telégrafo Elétrico, transmitindo-se 187 telegramas e
recebendo-se 95. A 1-10-1878 iniciava-se o trabalho da Estrada
de Ferro de Natal à Nova Cruz, remoção de terra, dirigido sole­
nemente pelo engenheiro Jason Rigby no lugar “Nau do Refoles”,
onde se ergue atualmente a Base Naval. A 4-10-1878 Bezerra
Montenegro reassumiu e a 31-1-1879, passava a outro vice, Matias
Antônio da Fonseca Morato, que a entregou, a 7 de fevereiro, a
mais outro, Euclides Diocleciano de- Albuquerque o qual levou
o anel dêsse jôgo de prendas a mais outro vice, Vicente Inácio
Pereira, médico no meio de todos êsses bacharéis, a 14 de fevereiro.
O 39.° presidente, Rodrigo Lobato Marcondes Machado, assumiu
a 13.de março, achando o lugar pegando fogo, de tantos ocupantes
em poucos meses do mesmo ano de 1879. Governou até 1-5-1880.
Estávamos em plena sêca e crudelíssima. O presidente visi­
tou Mossoró onde se concentravam 45.000 “retirantes”. Atingi- >
ram a 70.000. De janeiro de 1878 a outubro de 1879. tinham
morrido em Mossoró 35.000 pessoas. Lobato não repetiu os erros
do passado e enviou recursos para os pontos assolados pela estia­
gem, evitando maior deslocação humana para Mossoró e litoral,
Areia Branca e Macau. A despesa chegou a 6.217.264$227.
Lembro que a receita arrecadada em 1879-80 era de..................
328.491 $388 ... Entre as medidas de emergência fundou, nas ter-
— 185 —

ras frescas de Pitimbu e Cajupiranga a colonia “Bom Jesus dos


Navegantes”, com 3.600 pessoas, divididas em núcleos. A colonia
plantou meio milhão de covas de mandiocas e legumes. Em Vera
Cruz o padre Antonio Xavier de Paiva fundou outra colonia, com
600 “retirantes”. Aproveitando a facilidade e abundância do braço
humano, o presidente fêz abrir estradas, cavar barreiros, cons­
truir açudes e desobstruir álveos dos rios em Pitimbu e Cajupi-
ranga. Lima verba no orçamento da receita cresceu extraordinà-
riamente, a do imposto sôbre venda de escravos. Em 1877-78
dera 60.000$ e em 1878-79 estava em 27.000$. A província expor­
tava sua escravaria. Jesuíno Brilhante, o cangaceiro gentilhomem,
espécie sertaneja de Robin Hood, morrera em 1879. Voltava,
com as chuvas, a prosperidade e com ela o esquecimento dos dias
cruéis. ‘
É a vez do 40.° presidente, Alarico José Furtado, 1-5-1880
a 20-4-1881. O vice Morato retoma o pôsto para cedê-lo ao
41.c presidente, Sátiro de Oliveira Dias, médico, administrando
de 1-6-1881 a 16-3-1882. Coube a Sátiro Dias dar execução à
lei Saraiva, da eleição direta, sonho do Partido Liberal, justa­
mente na vigência do gabinete. A aplicação da lei n.° 3.029, de
9-1-1881, valeu ao presidente a comenda da Imperial Ordem da
Rosa pela sua imparcialidade, energia e decisão. A 31 de outubro
e a 11 de novembro de 1881 houve as eleições para deputadòs-
gerais e provinciais, sem um protesto, uma urna quebrada, um
tiro ou uma prisão. A 28-9-1881 inaugurou-se o primeiro trecho
da ” Imperial Brazilian Natal and Nova Cruz Railway Company
Limited”, entre Natal e S. José de Mipibu. Apesar dessas bene-
merências Sátiro Dias não agradou aos conservadores. Não lhe
deram número para que a Assembléia Provincial funcionasse. Em
maio não houve um só deputado em Natal. Adiada para agôsto,
mesma manobra. E só se reuniram suas excelências em fevereiro
de 1883, cônscios do grande serviço que prestavam ao interêsse
público.
Sátiro Dias passou o govêrno ao vice Francisco Morato e
êste, 13-4-1882, ao 42.° presidente, Francisco de Gouveia da
Cunha Barreto, que veio até 21-7-1883. Cunha Barreto melhorou
a iluminação de Natal, pôs a primeira pedra na Lazareto da Pie­
dade em 7-9-1882 (hoje Hospício de Alienados no Alecrim),
aprovou o fornecimento d’água encanada da Capital e viajou, de
trem, até Nova Cruz. Fêz varias reformas materiais nas sedes dos
municipios.
Veio Antonio Basilio Ribeiro Dantas, vice-presidente, filho
de outro de igual nome que governou, como vice, duas vêzes a
província, em 1867 e em 1868. Guardou o lugar para o 43.° pre-
— 186 —
sidente, Francisco de Paula Sáles, de 22-8-1883 a 19-7-1884, sem
bulha e sem matinada. Voltou Antônio Basilio que entregou as
responsabilidade do cargo ao 44.° presidente, Francisco Alrino
Correia de Araújo, de 30-9-1884 a 11-7-1885. Era inteligente,
vivo, de trato agradável. Elevou a vila de Canguaretama ao título
de cidade em 16-4-1885. Reassumiu Antônio Basilio e a 22 de se­
tembro empossa-se outro vice, Antônio Álvaro da Costa, que entre­
gou a administração ao 45.° presidente, José Moreira Alves da
Silva, governando de 22-10-1885 a 30-10-1886. Moreira Alves
reformou secretarias e a instrução pública, disposto a um govêrno
em vastas proporções construtoras. Altino fôra o último presidente
liberal. Ascendiam os conservadores com o gabinete Cotegipe, a
20 de agôsto, mandando Moreira Alves que pouco durou, pas­
sando ao vice, Luís Carlos Wanderley, durante ouze dias a
governança provincial. O 46.° presidente fòi Antônio Francisco
Pereira de Carvalho, posse a 11-11-1886, filho do 19.° presidente.
O Pai, Carvalho amarelo, era gritador, impulsivo e arrebatado.
O filho calmo, equilibrado, prudente. Fêz outra reforma na Ins­
trução Pública, irreconhecível depois de tantas operações plásticas.
Interessou-o às finanças provinciais, pagando muita conta atrasada.
De -sua energia e perseverança inalteráveis um exemplo bastará.
O edifício do quartel da Tropa de Linha, construído de 1813 e
reconstruído em eternas tarefas provisórias, estava ruindo. A
guarnição alojara-se em casas alugadas. O arquiteto Frederico
Skinner orçou a reconstrução em 29.800$. O presidente deliberou
dirigir pessoalmente a obra. Inaugurou-a a 24-3-1887, remodelado
e prónto. Custara 7.059$800. Transferiram-no para a presidência
do Piauí, esquecendo-se de comunicar-lhe o ato. Conheceu pela
leitura do Diário Oficial. O Pai também fora mudado para o Piauí
e lá falecera. O filho recusou tudo, pedindo ¿emissão pelo telé­
grafo e indo residir no Recife. Em Natal presidiu a inauguração
da Fábrica de Fiação e Tecidos Natal, de Jovino César Pais
Barreto, a 21-6-1888. Executou na província a lei n.° 3.353, de
13-5-1888, liberatndo os escravos. Substituiu-o o vice Francisco
Amintas da Costa Barros 10 de agôsto a 14 de outubro de 1888,
data ém que assumiu o 47.° presidente, José Marcelino da Rosa
e Silva, vindo a 15-6-1889. Amintas Barros era juiz de Direito
de Natal, o último da monarquia e o primeiro da República.
Com Rosa e Silva liberais e conservadores representaram a
velha pantomina dos adiamentos da Assembléia. Domínio con­
servador mas vitória liberal na província. Duas Assembléias que­
rendo funcionar ao mesmo tempo, com dois presidentes, duas cam­
painhas e dois orçamentos. Os conservadores, em minoria, termi-
— 187 —

naram preferindo a abstenção. Adiou-se a abertura. Cai o ga­


binete João Alfrecjo e sobem os Liberais com o visconde de Ouro
Prêto, (7-6-1889). O ambiente serenou. Dois vices tinham atra­
vessado o palco, Francisco Amintas da Costa Barros, conserva­
dor, 15 a 18 de junho, e Antônio Basilio, liberal, de 18 de junho
a 12 de julho quando apareceu o 48.° presidente, Fausto Carlos
Barreto, inaugurando o domínio liberal.
Fausto Barreto, tão conhecido como jornalista e estudioso do
idioma, assumiu a 18 de julho e deixou a 23 de outubro de 1889.
A missão era inteiramente política. 1889 foi ano de sêca horrorosa.
Fausto Barreto era candidato a deputado no Ceará e viera ^cumprir
as promessas do Partido, levando maioria decisiva e eloqüente
à Câmara dos Deputados, dissolvida a 15 de junho, com um
viva a República bradado pelo deputado conservador norte-rio­
grandense Pe. João Manuel de Carvalho ao gabinete que se
apresentava com Ouro Prêto à frente. Para a convocação de
novembro mobilizara-se o Partido Liberal inteiro, entusiásticamente.
Ouro -Prêto teria uma maioria absoluta e ainda mais, ardente,
faladora, vibrante, disposta a realizar todo o programa partidário
na ordem administrativa e mesmo política.
Amaro Barreto, nume liberal, prometera fazer os dois deputa­
dos que a província daria, ambos para ajudar a salvar o Brasil.
Um seu lugar-tenente sertanejo, José Bernardo de Medeiros, depois
senador da República, tendo carta-branca, indicara outro candi­
dato à revelia do chefe. O seu escolhido fôra Miguel Joaquim de
Almeida Castro. O doutor Amaro não conseguiu a desistência de
José Bernardo. Era dono êste do segundo distrito e Amaro senhor
do primeiro. Planejou então apresentar-se candidato pelos dois
distritos. Eleito por ambos, optaria pelo segundo e elegería quem
quisesse pelo primeiro. Essa batalha e seus preparativos foram
assunto único durante êsses meses e nada mais se fêz nem se pen­
sou senão na luta. A eleição foi a 31 de agôsto e o doutor Amaro,
como se esperava, ganhou no primeiro distrito e perdeu no segundo.
A 23 de outubro Fausto Barreto entregou o govêrno a Antônio
Basilio e viajou. Antes, a 11 de agôsto, o conde d’Eu visitara
Natal. Na mão honrada de Antônio Basilio Ribeiro Dantas, coro­
nel da Guarda Nacional, senhor do engenho Sapé, espoucou o
15 de novembro de 1889.

VII
Por êsse meio há o movimento abolicionista. O escravo não
era para o Rio Grande do Norte uma determinante econômica,
indispensável ao equilíbrio provinciano. A idéia da aboliçãQ '.en­
controu adeptos entusiastas e adversários com antipatia pessoal
i
— 188 —

aos propagandistas c não ao pensamento de restituir ao negro o


estado humano de liberdade. Era um saldo pela dívida secular
ao trabalho infinito do escravo. Pagamento nacional, porque
n’Âfrica o negro não tivera liberdade e apenas passava de senhor
a senhor, num elo ininterrupto de servidão asfixiante.
Nunca possuímos escravaria em número elevado nem mesmo
compatível com as necessidades da indústria açucareira. Gente
pobre, relativamente ao padrão de outras províncias, comprávamos
poucos escravos.
Casimiro José de Moraes Sarmento, que presidira a província
e era seu deputado gerat discursava na Câmara dos Deputados
em l.° de setembro de 1848 afirmando sem contestação: — “No
Rio Grande do Norte há poucos escravos, e quase tôda a agricul-
tura é feita por braços livres. Conheço muitos senhores de enge­
nhos que não têm senão quatro ou cinco escravos, entretanto que
têm 20, 25 e 40 trabalhadores livres”. E disse que o trabalho es­
cravo não é necessário.
Era justamente na época em que a pecuaria, ferida pela sêca
de 1845, recuara, e a cana de açúcar polarizava as esperanças.
Antônio Bernardo de Passos, presidente, na FALA de 4-7-1854,
explica melhor o aspecto. Tínhamos 144 engenhos de tôdas as
classes com 1.508 escravos. No mesmo 1854 a Bahia possuia
1.200 engenhos com 70.000 escravos. O presidente Passos argu­
mentava ter a Bahia oito vêzes mais engenhos e quarenta e seis
vêzes mais escravos. A população era de 170.000 almas e os
escravos chegavam a uns 3.000. Na sêca de 1877-78 a província
exportou seus escravos, vendendo-os para o norte, via Mossoró,
que se tornou mercado dessa repugnante traficância. Data daí a
repulsa da população por êsse comércio repelente. Havia também
a surda e constante propaganda que vinha desde a chegada dos
Voluntários da Pátria.
Quando êsses regressaram da guerra do Paraguai, em 3-8
de 1870, recebendo em Natal aclamações, um dos momentos mais
emocionantes foi a entrega de cartas de liberdade, no dia imediato,
a três escravinhas, pelo próprio presidente da província. Carneiro
da Cunha, futuro barão de Abiaí.
A sêca de 1877 fizera a remoção da massa escrava, rendendo
o imposto sôbre a venda dos cativos sessenta contos.
Em qualquer solenidade lembrava-se o negro. Nos testa­
mentos, alegrias domésticas, muitos escravos ganharam a liber­
dade incondicional. Na hora do batizado era comum a criancinha
levar na mão a carta de alforria da madrinha de apresentar, quase
sempre uma velha negra criadeira dos ioiôs brancos, mãe preta,
legítima e generosa. Vêzes outra o padrinho libertava, na pia. o
189 —

afilhado escravo, para que entrasse na Igreja livre como devera


ser.
Em 1873 os escravos eram 10.282 sendo 4.140 entre 21 e 60
anos. Em 1881 iam a 9.367. Em 1883, 9.807, sendo 4.722
homens. Em junho de 1884, 7.623, com 3.618 do sexo masculino.
Quanto à localização, 3.223 trabalhavam na zona rural e 2.788 na
urbana e mais 1.612 sem profissão declarada. Na última matrícula,
31-3-1887, acusava apenas 2.161. O n.° 8 do "Boletim da Socie­
dade Libertadora Norte-Rio-grandense», de 15-4-1888, regista ape­
nas 482 escravos em tôda a província :
Natal, município •...................................................................................................................................................................................... 5

Macaíba, município ............................................. 10

Goianinha, município .................................................................................................................................................................... 37

Ceará-Mirim ............................................................................................................................................................................................................. 201

Jardim do Seridó ............................................................................................... \............................................................................... 71

Imperatriz (Martins) ............................................................................. \................................................................................ 83

Santa Cruz........................................................................................................................................................................................................................ 26

Pau dos Ferros ................................................................................................................................................................................................. 36

•S. Miguel.............................................................................................................................................................................................................................. 13

Êsses 482 escravos dirão de sua inferioridade quando com­


parados corn as cifras anteriores. Menos de quatro anos antes,
em 30-6-1884, o quadro era diverso.
Natal ..................................................................................................................................................................................................................................................... 246

Macaíba .................................................................................................................................................................................................................................... 239 *

Goianinha ............................................................................................................................................................................................... 527

Ceará-Mirim ................................................................ ...... ..... ;..................................................................................................................... 777

Jardim ................................................................................................................................................................................................................ 432

Imperatriz ........................................................................................................................................................................................................................ 569

Pau dos Ferros ........................................................................................................................................................................................... 520

Príncipe possuia 453 escravos, Serra Negra 354, S. José de


Mipibu 822, desaparecidos em abril de 1888. Em 1882, Príncipe
orgulhava-se do maior rebanho negro da província, 1.298 escra­
vos. Seis anos depois o último negro era livre.
Ê inútil procurar o primeiro abolicionista. • Sempre os tive­
mos. Em 1869, na povoação de Macaíba houve uma sociedade
emancipadora.
Uma acusação dos abolicionistas dirigiu-se ao clero católico
como tocado de entusiasmo menor pela campanha. No Rio Grande
do Norte os padres, mesmo os vigários-colados, foram elementos
de vanguarda, presidindo e animando todos os movimentos da
abolição. Assim foi o Pe. Pedro Soares de Freitas em Carnaúbas,
libertando o município. Em Natal o presidente da Libertadora era
o Pe. João Maria Cavalcanti de Brito, vigário da Matriz e única
freguesia da capital. Em Mossoró foi o vigário Antônio Joaquim
Rodrigues, ccnfessadamente abolicionista. No Caicó o padre
1 90

Amaro Theot Castor Brasil; veterano do Paraguai, era desabusado


na pregação contra os escravocratas. No Açu a sociedade tinha
como presidente o pároco, Antonio Germano Barbalho Bezerra.
Em Macaíba a “Libertadora” intitulava-se “Padre Dantas” (Este­
vão José Dantas) . Em S. José de Mipibu era o cônego Gregorio
Ferreira Lustosa. No Ceará-Mirim o vigário Frederico Augusto
Raposo da Câmara. Essa foi a atitude do clero norte-rio-grandense
em sua maioria.
A campanha sistemática inicia-a Mossoró. O intercambio
cearense contaminou-a do virus anti-escravagista. Fôra mercado
negro nos anos terríveis de 1877-78, quando o barão de Ibiapaba
dirigia a casa Mossoró Ö Cia. Joaquim Bezerra da Costa Mendes,
Romualdo Lopes Galvão, cearense um, norte-rio-grandense outro,
abrem a luta que possuiu todos os elementos de inteligência, tra­
balho, dedicação e coragem mossoroense. Impossível citar nomes
e há mesmo boa bibliografia, farta e fácil, no assunto. É uma
relação que abrange quase tôda a população. A 6-1-1883 fundam
a “Libertadora Mossoroense” e a 30 de setembro dêsse 1883 o
município estava limpo de escravos. É a velocidade inicial da
província. As festas para a declaração solene dessa emancipação
foram ruidosas e coletivas. Almino Alvares Afonso, indo do Ceará
assisti-las, fêz1 seis discursos debaixo de aplausos tempestuosos.
Ciosos dessa prioridade os mossoroenses ergueram, em 30-9-1904,
uma “Estátua da Liberdade” na praça que se chama “da Reden­
ção” e que faço votos pela sua imutabilidade toponímica. Para
essa vitória os processos mais diversos foram empregados, desde o
furto de escravos até a tomadia violenta dos presos, desde a compra
até a fôrça armada. A cidade inteira era cúmplice e todos os
homens solidários. De Natal, mandados por João Avelino Pereira
de Vasconcelos, ou do Recife, enviados por João Ramos iam escra­
vos fugidos nos iates “Apodi” ou “Jiquiriti”, reenviados para o
Ceará, consignados a João Cordeiro, com troca de telegramas onde
o negro era indicado como sendo carga de abacaxis. Mesmo de­
pois de 30-9-1883, fundou-se o «Clube dos Spartacus», título que
denuncia Almino Afonso em dez léguas de distância. O presidente
dos Spartacus era o ex-escravo Rafael, que Almino completou o
nome, crismando-o de “Rafael Mossoroense da Glória”. O secre­
tário do Clube era o ex-senhor do presidente, o comerciante Ale­
xandre Soares do Couto. Destinavam-se os Spartacus a auxiliar
a fuga dos escravos de outros municípios e procedências desde
que chegassem a Mossoró, terra de liberdade. Os exemplos se
sucedem velozmente. Açu funda a sua Libertadora a 13-5-1885,
adivinhando a data simbólica, e a 24 de junho do mesmo ano
liberta o derradeiro escravo da cidade. Carnaúbas é “livre” em
30-3-1887 e Triunfo (Augusto Severo) em 25-5-1887.
— 191

Em Natal instalarse a Libertadora Norte-Rio-grandense a 1-1


de 1888, com liberais, conservadores e republicanos. Criam comis­
sões em todos os municípios e as manumissões se multiplicam.
Miguel Ribeiro Dantas, senhor do “Diamante”, em Ceará-Mirim,
alforriou 60 escravos. A baronesa do Ceará-Mirim não mais os
possuia. Em 1885, ao redor do Açu, quem tinha escravo estava
desmoralizado. A Cidade do Natal não contava um só cativo em
fevereiro de 1888 e em todo o município viviam apenas cinco.
Antes de 13 de maio de 1888 a «Sociedade Libertadora Norte-
Rio-grandense” inscrevia no seu quadro de honra as seguintes uni­
dades livres, nas quais a lei não encontrou a quem libertar.
Municípios — Natal (capital), Mossoró, Carnaúbas, Triunfo,
S. José de Mipibu, Canguaretama, Papari, Nova Cruz,
Angicos, Touros, Portalegre e Principe.
Cidades livres — Açu, Jardim e Apodi.
Vilas livres — Macaíba, Arez, Goianinha, Santa Cruz, Pau dos
Ferros, Santana dos Matos, S. Miguel, Acari e Serra
Negra.
Povoações livres — Utinga, Poço Limpo, Igreja Nova, Ponta Ne­
gra, Pirangi, S. Gonçalo, Ganduba, Piau, Mangabeira,
Canabrava. Estremoz, Patu, Brejinho, Tibaú, Ginipabu,
S. Antônio de Goianinha, Carapebas, Currais Novos,
Boa-Cica, Pipa, S. João do Príncipe (Sabugi) e Taba-
tinga .
O último boletim da “Sociedade Libertadora”, datado de 20-5
de 1888, e assinado pelo Padre João Maria, Zacarias do Rego
Monteiro e João Lindolfo Câmara, termina com êsse período : —
De modo que o Rio Grande do Norte pode dizer com orgulho
em meu território muito pouco encontrou a fazer a grande lei, que
aboliu a escravidão no Império.
A lei libertara 482 escravos.

VIII
Depois de 1888 os cartórios de quase todo o Brasil fizeram
desaparecer os registos de compra, venda, hipoteca sôbre escravos.
Rui Barbosa, ministro da Fazenda, mandou queimar o arquivo,
impossibilitando as futuras pesquisas para estudos essenciais. Ra­
ros são os livros com êsses assuntos deparados nos cartórios. Tive
em mãos um dêsses volumes, entre 1843 a 1850, do tabelião e
escrivão do Cível da Vila do Pôrto dos Touros, com muita infor­
mação curiosa.
biblioteca
ÜFRN!MHR
192

As alforrias não eram difíceis naquele tempo. O comum era


a Carta de Liberdade dada “sem constrangimento algum” e “em
lembrança dos serviços” do negro, pagando êle uma certa quantia
e ainda sujeito à condição de acompanhar o ex-senhor enquanto
êsse vivesse. O tenente coronel Francisco de Paula Tavares dá
Carta de Liberdade à escrava Ana, de 65 anos, por 100$ em 14-9
de 1846. Dona Ana das Dôres Vieira, em 10-1-1845, é mais
caridosa. Liberta o molequinho Manuel Vieira do Nascimento,
de três anos de idade, filho da escrava Domingas «pelo amor que
a êle tenho, e bons serviços de sua mãe.” Impõe a condição de
“acompanhar-me enquanto Deus me conceder a vida.”
Trabalho duro devia ter sofrido a escrava Maria, forte de 30
anos, para livrar-se dos seus amos João Felix Pereira Campos e
iMaria da Conceição, em 14-12-1848 gastando 300$. Trezentos mil
réis há cento e quatro anos ! O negro Francisco Peixoto, em 16-4
de 1849, pagou apenas 60$ ao seu ex-amo Manuel Francisco de
Melo. Dizia-se “do gentio de Angola”.
Bonita é a história do prêto Manuel, crioulo, de 35 anos. O
amo, José Pedro Ferreira, deixou-o de presente ao Senhor Bom
Jesus dos Navegantes, padroeiro da Freguesia. O valor era de
100$. O negro dobrou os trabalhos e propôs à Irmandade do
Senhor Bom Jesus dos Navegantes sua liberdade por 12G$. A
Irmandade aceitou e mandou passar-lhe Carta de Liberdade, datada
de 30-7-1849. Só Deus saberá como mestre Manuel arranjou, de
vintém em vintém, aquêles 120$000.
Henry Koster fala muito nas alforrias na Pia Batismal, feita
pelos padrinhos. As negras viviam sonhando • com êsse ato de
benemerencia e convidavam para padrinho dos filhos as pessoas
com fama de caridosas. Encontrei muitas dessas alforrias.
Feita a declaração no ato do batismo, o vigário passava a
certidão, assinada pelos padrinhos. Com êsse documento a negra
mãe do ex-escravinho corria ao cartório e mandava “lançar no
assento” a certidão paroquial. O negrinho estava «livre e fôrro»
como se fôrro e livre tivesse nascido do ventre materno, como se lê
nas cartas de alforria. Assim há registo de 4-12-1842 de ter sido
«libertado na Pia Batismal» o jovem João, filho da escrava Inácia.
Outro filho da mesma Inácia, Raimundo de nome, foi “batizado
por liberto” pela voz da sua senhora, a viúva dona Maria da Con-*
ceição em 2-6-1844.
Há alforrias que dão engulhos., O Sr. Francisco Xavier da
Cruz, em 24-11-1844, dá liberdade à sua escrava Antônia e jus­
tifica : ... não só alego seus serviços para sua alforria, como o por
me ter dado dez crias. A fecundidade escrava é que o emocionava,
dando-lhe um rebanho de dez negros pela liberdade da velha negra
— 193

exausta. E ainda com a condição de me servir até a hora da minha


morte .. .
Espantosa é essa escritura, cujo frontão registo :
«Saibam quantos êste Público Instrumento de Escritura de
venda da quarta parte de uma Escrava virem que sendo no Ano
do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e
quarenta e três aos oito dias do mês de Agôsto do dito ano, na
Vila do Pôrto do Touro da Comarca de Natal, Província do Rio
Grande do Norte, a onde eu Tabelião Civil estava, perante mim
apareceram partes mercantes e contraentes o outorgante e outor­
gado a saber de uma como vendedores Manuel da Trindade do
Nascimento e sua mulher Damiana Maria dos Anjos, e da outra
como comprador Francisco Inácio de Miranda, moradores nesta
Vila, pessoas por mim Tabelião reconhecidas pelas próprias de
que se trata e dou fé e pelos vendedores me foi dito perante as
testemunhas abaixo nomeadas e assinadas, que êles eram senhores
e possuidores da quarta parte de uma escrava crioula de nome
Benedita, cuja parte houve ela vendedora por legítima paterna como
consta do seu formal de partilha cuja parte de escrava assim e da
mesma forma que possuiam vendiam como de fato vendido tem
de hoje para sempre ao sobredito comprador Francisco Inácio de
Miranda pela quantia de cem mil réis, cuja quantia confessaram
êles vendedores terem já recebido da mão do seu comprador a
quem dão plena e geral quitação de paga para mais não lhe ser
pedido em tempo algum e o seu dito comprador desde já pode tomar
posse da dita parte da escrava por si ou por autoridade de justiça,
estando por empossado com posse real e atual, civil natural pela
cláusula institutiva, pois que tôda a posse a que digo possessão
pertencem útil domínio e usufruto ... ”

IX
Sabemos vagamente de insurreições negras no Rio Grande do
Norte. Nestor dos Santos Limá registou uma em Goianinha e sei
de outra que se irradiara de Papari (Nisia Floresta atual) . As
datas são confusas. Eras de 1870... Aí por 1860 e tantos...
Os relatórios dos presidentes da Província são omissos.
Pelo menos os consultados. Idem, a correspondência dos dele*-
gados com o Chefe de Policiar silencia. Mas a tradição oral,
teimosa e firme, denunciará que deve ter havido algo determinador
do motivo oral.
Os escravos Bonifácio, Estevão, Leandro e Eduvirges, per­
tencentes ao engenho “Bom Jardim”, em Goianinha, inspiraram um
movimento de insurreição, animando o levante da encravaria de
— 194 —

outras propriedades, “Bosque”, “Ilha Grande”, etc. e reunidos


constituirán^ govêrno, sendo Bonifácio, presidente da Câmara Mu­
nicipal. Agiomejßdos, deliberaram marchar sôbre a capital da Pro­
víncia, reclamando* seus direitos. Atravessavam a mata de Baldum
quando foram surpreendidos pela Fôrça Pública que os desba­
ratou violentamente. Bonifácio conseguiu escapar e diziam-no fo­
ragido em Goiana Grande, em Pernambuco.
Miguel Rei, escravo do coronel Antônio Basilio Ribeiro Dan­
tas, do “Sap锑, levantou mais de cem escravos de S. José de
Mipibu, Arez, Papari e Goianinha. Os negros tinham seu quartel
general e ponto de mobilização na mata de Mangabeira em Arez.,
Um dos conspiradores, Felix, escravo de Manuel Laurentinô Freire
de Alustau Navarro, delatou o segrêdo ao amo que transmitiu a
história ao delegado de Polícia, Tomás José de Moura. Êste ime­
diatamente prendeu Miguel Rei. Os escravos, reunidos na mata
de Mangabeira, sem chefe, desarmados, dispersaram-se rápida­
mente .
Miguel Rei era <Rei» nas festas de N. Sra. do Rosário em
Papari, realizadas no Dia de Reis, 6 de janeiro. Era negro airoso,
falador e dançarino. A rainha era a preta Amelia, Amélia-Rainha,
escrava do delegado Tomás José de Moura. Descobrí-lhe o registo
de óbito. Faleceu em Papari a 14-2-1915, com 96 anos de idade.
O substituto de Miguel Rei no “reinado” foi o negro Luís, escravo
do Dr. Francisco de Souza Ribeiro Dantas. Foi o último “Rei” ...

NOTAS AO CAPITULO VII


( 1 ) A Assembléia Legislativa Provincial teve sua eleição em Natal a 10 de
novembro de 1834, na Igreja Matriz. A mesa se compunha: José Alexandre
Gomes de Melo, presidente Miguel Alvares Teixeira de Mendonça, 1? secre­
tário, Jpaquim Xavier Garcia de Almeida, 2.® secretário, José Teodoro de Souza
e José Fernandes Carvalho, l.° e 2.® escrutadores. A instalação solene se deu
a 2 de fevereiro de 1835 e os primeiros deputados foram : — Padre Francisco
de Brito Guerra, Presidente, Joaquim Xavier Garcia de Almeida, l.° secretário,
José Nicácio da Silva, 2.® secretário, padre Antônio Xavier Garcia de Almeida,
Antônio Alvares Mariz, Elias Antônio Cavalcanti de Albuquerque, Dr. Joa­
quim Aires de Almeida Freitas (juiz de Direito da Capital), João Marques de
Carvalho, José Teodoro de Spuza, padre João Teotônio de Souza e Silva, João
de Oliveira Mendes, padre Joaquim Alvares da Costa, Luís da Fonseca e
Silva, padre Manuel Cassiano da Costa Pereira, padre Manuel José Fernandes,
padre Manuel Pinto de Castro, Manuel Lins Vanderlei, Manuel Joaquim Grilo,
padre Pedro José de Queiroz e Sá e padre Tomás Pereira de Araújo.
(2) O Conselho do Govêrno, criado pela lei de 20 de outubro de 1823
loi extinto pela lei de 3 de outubro de 1834. A primeira eleição se deu a 25 de
ÿnarço de 1824. O conselheiro mais votado, eram seis ao todo, substituiría o
Presidente da Província. O Conselho funcionava como corpo consultivo, sem
Iniciativas ou pronunciamento de feição legislativa. Os seis primeiros conse-
Bieiros foram: — Luiz de Abuquerque Maranhão, José Alexandre Gomes de
Melo, Francisco Pedro Bandeira de Melo, Joaquim José do Rego Barros, Manuel
— 195

Joaquim Grilo e Matias Barbosa de Sá. Êsse Conselho foi dissolvido em 8


de setembro de 1824 pelo Batalhão de Linha.
Segunda eleição em 30 de agôsto de 1825, apuração a 15 de novembro.
Eleitos Antônio da Rocha Bezerra, João Marques de Carvalho Joaquim José do
Rego Barros, Antônio Marques do Vale e José do Rego Bezerra. Terceira
eleição, 17 de novembro de 1828, apuração a l.° de fevereiro de 1829. Eleitos
Antônio da Rocha Bezerra, Joaquim José do Rego Barros, Luiz de Albuquerque
Maranhão, padre Manuel Pinto de Castro, .Matias Barbosa de Sá, Bartolomeu
da Rocha Fagundes. Houve a última eleição em 1833, sendo conselheiros o
padre Manuel Pinto de Castro, Manuel M. da Rocha, João Marques de Car­
valho, Joaquim José de Melo, Francisco Felipe da Fonseca Pinto e Francisco
Xavier Garcia. O mandato durava um quatriênio, e foram 1824, 1826-29,
1830-33 e 1833.
(3) O Conselho Geral da Província foi criado pelo art. 72 da Consti­
tuição do Império (25-3-1824) e extinto pelo art. l.° da lei de 12 de agôsto
de 1834 (Ato Adicional) que estabeleceu as Assembléias Provinciais. O Con­
selho Geral propunha, discutia, deliberava sôbre os negócios provinciais, formu­
lando projetos, transformados em resoluções e que eram enviadas ao Poder
Executivo por intermédio do Presidente da Província. No Rio Grande do
Norte o Conselho Geral se compunha de treze membros eleitos para um qua­
triênio. O Conselho fôra regulamentado pela lei de 27 de agôsto de 1828. Em
Natal a eleição se realizou a 18 de novembro de 1828, na Igreja de S. Antônio,
havendo apuração a 2 de fevereiro de 1829. Os conselheiros teriam suplentes.
Foram eleitos: — Padre Manuel Pinto de Castro, Joaquim José do Rego
Barros, Antônio da Rocha Bezerra, Matias Barbosa de Sá, Bartolomeu da
Rocha Fagundes, Luiz de Albuquerque Maranhão, Manuel Joaquim Grilo,
Antônio Felix de Mendonça, Joaquim José de Melo, José Alexandre Gomes de
Me o, padre João Teotônio de Souza e Silva, João Bernardino Nunes e padre
Francisco de Brito Guerra. Quatro não assumiram: Rego Barros, Rocha Bezerra,.
Barbosa de Sá e Luiz de Albuquerque Maranhão. Foram, várias vêzes, convo­
cados suplentes. A instalação solene foi a l.° de dezembro de 1830 e as
sessões se prolongaram até 10 de fevereiro de 1831, sendo presidente o Padre
Pinto. Na segunda temporada, 30-11-1831 a 22-3-1832 o presidente foi Joaquim
José de Melo. Na terceira, 30-11-1832 a 13-1-1833, coube a presidência ao
mesmo. Na 4*, 30-11-1833 a 31-1-1834, foi escolhido por seus pares João
Bernardino Nunes. Perante o Conselho Geral da Província o Presidente da.
Província lia a <FALA>, historiando sua administração.
(4) Os senadores pelo Rio Grande do Norte durante o Império foram;,
seis. Afonso de Albuquerque Maranhão, escolhido a 22-1-1826, empossado a
22-8-1826 e falecido a 10 de julho de 1836. A lista era: — Agostinho Leitão
de Almeida, 49 votos, José Inácio, 30, Afonso Maranhão, 21.
Padre Francisco de Brito Guerra, escolhido a 10-6-1837, posse a 12-7-1837,
fa’eceu a 26-2-1845. A eleição fôra em maio de 1837. Lista: — Brito Guerra,
69 votos, André de Albuquerque Maranhão, 56, Djr. Tomás Xavier Garcia
de Almeida, 37.
Paulo José de Melo Azevedo e Brito, escolhido a 15-9-1845, posse a 5-5
de 1846 e faleceu a 25-9-1848. Eleição em agôsto de 1845. Lista: — Brito
270 votos, padre Manuel José Fernandes ,237, e João de Oliveira Mendes, 214.
Dom Manuel de Assis Masearenhas, escolhido a 12-6-1850, posse a 17-6 -
de 1850 e faleceu a 30 de janeiro de 1867. Eleição em janeiro de 1850. Lista:
Dom Manuel, 257 votos, Dr. Tomás Xavier Garcia de Almeida, 197, e
Dr. João Valentino Dantas Pinagé, 191.
Francisco de Sales Tôrres Homem (Visconde de Inhomerim). Escolhido a
22-7-1868. Eleição em outubro de 1867. Lista: — Dr. Amaro Carneiro Bezerra.
Cavalcanti, 241 votos, Dr. Francisco de Sales Tôrres Homem, 222, e Rafael
196 —

Arcanjo Galvão, 215. Eleição anulada pelo Senado a l.° de junho de 1869.
Nova eleição em novembro de 1869. Lista: Torres Homem, 271 votos, Dr. Je­
rónimo Cabral Raposo da Câmara, 254, e Dr. Tarquínio ' Bráulio de Souza
Amaranto, 233. Torres Homem escolhido a 27-4-1870. Posse a 20-6-1870.
Faleceu em Paris a 3-6-1876.
Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque, visconde de Cavalcanti. Esco­
lhido a 4-1-1877, posse a 6-3-1877. Era Senador quando se proclamou a Re­
pública. Faleceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, a 14-6-1899. Eleição de
dezembro de 1876. Lista: Diogo Velho, 479 votos, Dr. Tarquínio Bráulio de
Souza Amaranto, 390, e Dr. Francisco Gomes da Silva, 313.
(5) Ver o meu «GOVÊRNO DO RIO GRANDE DO NORTE»,
Pp. 173-175. A «mensagem» de Silva Lisboa, foi publicada na «A República»,
em Natal, números de fevereiro de 1897. As certidões que denunciam a exis­
tência de uma conspiração em 1838, foram publicadas por mim n«A Republica»,
números de 13, 15 e 20 de junho de 1940, «ACTA DIURNA», A Conspiração
de 1838. Ver HISTORIA DA CIDADE DO.NATAL, 239-242. José M.B.
Castelo Branco, «O assassínio do Presidente Ribeiro”, RIHGRGN, XLVIII
— XLIX, 147.
(6) Luís da Câmara Cascudo, O FOGO DE 40, idem, 194, com
documentação inédita.
(7) Adauto Miranda Raposo da Câmara, o RIO GRANDE DO NORTE
NA GUERRA DO PARAGUAI, 63, 108, Natal, 1951.

O FIM DO GOVÊRNO DE TOMAS DE ARAÚJO PEREIRA

Não há depoimento mais sincero nem documento mais expressivo que êsse
auto de vereação de 8 de setembro de 1824 em que o Presidente Tomás de
Araújo Pereira historia o amargurado final de sua administração. Está regis­
tado às páginas 28 e 29 verso do Livro de Registro de Provisões de 1820
a 1829 da Câmara da Cidade do Natal.
«Havendo-me S.M.I. nomeado Presidente desta Provincia, de cujo Go­
verno por obediencia tumei posse no dia 5 de Maio deste anno axando-me em
efectivo serviço sem outro interesse mais do que desejos de acertar e de
reger os povos que me forão confiados debaxo das leis do mesmo Imperante,
a quem por motivos da minha segueira e outros axaques acarretados pela
avansada edade já requerí demição. Acontesendo pois que por providenciar em
groso de salteadores que em groso numero se aproximavão as fronteiras do
sul desta Provincia onde exercitavão asacinos e robos convocou-se o concelho
suplente do Governo por se não terem ainda apurado as listas de todos os
culegios eleitoraes, e com aprovação deste fizesse expedir para as ditas fron­
teiras huna exped.*m. militar no dia 12 do passado Agôsto e depois de a
tef mandado regressar para esta Capital, me foi denunciado por parte do
Tenente Jozé Domingues Bezerra de Sá, enviado meu as fronteiras da Paraiba
a desvanecer desconfianças de xoques de Tropas, na noite do dia 2 deste mez,
que aquela exped.*m. regresava com reforços de povos de São Jozé, afim de
levantarem nesta Capital bandeira republicana, mandei a m.ma. hora tocar
rebate e pôr praça em defesa encarregando esta a direção dos comandantes da
1.* Linha Vicente Ferreira Nobre e da 2.a o Sargento Mór Joaquim Jozé da
Costa, e como se aproximase a esta Cidade a dita Tropa regresada no dia 5
e pelo oficio do Alferes Miguel Ferreira Cabral encarregado do comando da
dita exped.am. ouvessem indicios de que ella vinha neceiosa de entrar e por
isso aparelhada a resistir mandarão os ditos comandantes da 1.a e 2.a linha
repitir o rebate em cuja ocasião se me apresentou o Te. Gel. reformado
— 197 —

Antonio Germano Cavalcante oferecendo-se- para o que foce a bem do serviço


Nacional, e consultando eu entam com os ditos dous comandantes asentamos
em cometer a inspeção das forças aqui reunidas a direção do dito Te. Cel.
reformado como mais versado em planos militares, a quem oficiei sobre este
objeto, incumbindo-o de promover a pacificação de ambas as forças; porem
este oficial dirigindo-se aos quartéis logo as primeiras ordens que deo em
desempenho desta comição forão obstadas pelo Comandante da 1.a Linha dito
Cap.m. Vicente "Ferreira Nobre, o que motivou vir o dito Te. Cel. protes-
tar-me não ser responçavel por mais nada; imediatamente mandei ao Alferes
Luiz Gomes da Sa. levar hum of°. meu ao dito alferes Cabral e algumas
cartas particulares de pesoas desta Cidade para as daquela expedição, afim
de conciliar a entrada em paz; e ahi a poco voltou o mencionado Alferes Gomes
com os oficiais e cartas, dizendo-me que embarasando-lhe os presidios a passa­
gem sem licença dos ditos dous Comandantes e pedindo elle aos menos a
negarão: nelas trez horas da tarde do mesmo dia 5 se me apresentou o sargento
Jozé Nicacio da Silva, enviado pelo alferes comandante da expedição dizen-
do-me da parte do mesmo que se axava com a gente e alguns, voluntarios
que acompanhavão a exped. am as fronteiras, os quais em obzequio vinhão
em sua companhia conduzindo o armamento da reserva, todos postados a
vista do primeiro presidio, como eu lhes avia ordenado, e que querião as
minhas ordens para as cumprir porque temia foce - invadido pelo furor das
Tropas da Capitai, visto que lhes constava que o meo Governo estava coato:
isto dirigí-me com squelle sargento ao dito presidio propuz aos comandantes
delles que mandava entrara a dita exped. am. visto que me constava que ella
tinha sido constante no cumprimento das m.as. ordens e que por prevenção
de boatos ater,-adcres tinha pedido a Cam*, da Va. de S. Jozé o Estandarte
Imperial e o arvorarão na sua frente com muitas aclamações de vivas a S.M.I.,
porem aqueles comandantes do presidio opuzerão-se fortemente a entrada dos
voluntários paisanos c só consentião que entrace a Tropa de l.a Linha e que
essa avia primeiro depôr as armas; e vendo eu que esta desfeita hera intolerá­
vel e huma exped.“m. tão corajosa e que jamais consentiriSo em tal, temendo
que se alçace a guerra civil e caise nesta Provincia a indelevel nodua de
sangue brasileiro de que até hoje está exenta, propuz e afiancei em nome de
S.M.I. lansar hum véo de esquecimento e perdão geral de todos os feitos
praticados de parte a paite, tornando réo de culpa ao que traise esta propusição,
e sendo por todos aceita c aplaudida em alta voz, mandei que entrase só 3
Tropa de l.a Linha, abarracando-se a outra força ao que ôbedecerão. No dia
6 mandando receber o armamento da Tropa que ficara fora já se não axou
esta porç se ter posto em fuga com o m.m°. armamento, talvez receiosa de
ataque da gente insobordinada, como com efeito se tem verificado, porque
mandando eu dito o dito Sargento Jozé Nicacio com ordem de receber do
J.-iiz Ordr.°. Francisco Xavier de Paiva, cabeça da dita excolta, aquele
armamento e entregaio ao Capm. Mór dos índios João Francisco Pessoa,
apresentando-me recibo deste no dia 7 de manhã por onde consta estar de
posse das mm’s, armas, e como tardace aquelle sargento despuserão os
mm°s. comandantes desta Cidade huma exped.am. a marxar para aquella Va.
e antes que ella saise mandarão prender a minha ordem, sem que eu tal
ordem d.éc?, por me não julgar autorizado delia, os Alfes-. Miguel Ferr*.
Cabral, o Ajudante Jozé de Moura e o Furriel Francisco Xavier, regresados
da exp.am. do sul, Sargentos João Ignacio Leite e David Manoel, os empre­
gados públicos seguintes: o Proc°r. da Corôa e Faz.da. Joaquim Jozé de
Mello, o goarda mór Braz Ferreira Maciel e não sei se mais algum; e como
focem já dez para onze horas do dia e nada me tivessem os ditos Comandantes
Nobre e Costa participado mandei-lhes intimar pelo Ajudante da Sala Luiz
— 198 —

Soares Raposo da Camara que a ordem de S.M.J. me falacem já na Sala


do G°., ao que obedeeeo comparecendo o Sargento Mór Costa, porem não
o Cap.m.Vicente cue me respondeo não vinha por estar em arranjo da
expedam. que saia e que ao depois me falaria; neste interim xegou-se o of°. do
Sargento Jozé Nicacio, participando-me ter concluido dita commissão, e reme­
tendo-me recibo do Cap.m. Mór daquella Villa, dito Pessoa, em como ficava
de posse do armamento para o fazer conduzir por indios a esta Cidade, e
mandando eu apresentar este recibo aos ditos comandantes pelo Ajudante de
Sala, ordenando-lhes relaxavem a marxa da expedam. para dita Va. respon­
derão-me pelo mesmo Ajudante de Sala que a expedam. sempre marxava,
huma vez que eu denegara a minha autoridade, o que deo logar a eu oficiar-lhes
que me dedarasem por escrito com que ordem ella marxava, huma vez que
eu denegava a minha autoridade para semelhante fim; a nada obedecerão
e só me mandarão dizer que a tarde com o Concelho Militar me responderião.
Reunido o dito Concelho pelas quatro horas da tarde do dito dia sete per­
guntei-lhes a elles dous Comandantes a ordem de quem se fizerão as prisões
indicadas, responderão-me que a minha; dici-lhes que eu nem tinha dado tal
ordem, e segundo as leis do Imperante que nos regem me hera proibido sob
restrita responsabilidade dar semelhante ordem e que se mandasem ' soltar os
presos e se cumprise a palavra que em nome do mesmo Imperante avia dado
do reciproco perdão ao que me responderão os dous comandantes e Concelho
que os presos se não soltavão; intimei mais os ditos comandantes me respon-
desem por escrito com que ordem marxava a expedam. para S. Jozé, respon-
derão-me que os inquerise por artigos; pedi que da apuração das listas dos
dous colegios Eleitoraes desta Cidade e do Assú se escolhece huma peso3
que me sucedese na Provincia do Governo, conforme a carta de lei de 20
de 8br°. de 1823, responderão-me que aquelas listas estavão nulas e que se
me quizesse demitir que entregase o G*, a Camara da Capital de quem tinha
tomado posse e que ella providenciaria. Considerando eu pois os horrores da
anarquia de que esta Provincia está amiasada, vendo invadida a minha authori-
dade, e exbulhado dos meos direitos por aqueles mesmos que os devião sus­
tentar e fazer-me respeitar, convindo egoalmente que a força física deve ser
intimamente unida a força moral para a conservação da ordem social, e que
as minhas ordens se tornão de nenhum efeito por falta de quem as faça
cumprir e finalmente talvez da minha demição proviría a paz tão recomen­
dada por S. M. I. ; por todos estes fundamentos, pela minha segueira e exaques
que progridem a cumularse á minha avançada edade me demito do lugar de
Prezidente desta Provincia e entrego nas mãos deste Senado a posse que
delle recebi em nome do S.M.I. e protesto perante Deus, perante o Impe­
rador Constitucional do Brazil e seo Perpetuo Defençor contra todas as
desobediencias e violencias e responsabilise a todos as pesoas que para ellas
concorrerão por todas as desgraças que desta falta de subordinação e traição
a palavra de perdão que, em nome do mesmo Augusto Imperante, afiancei,
e pelo mais que de semelhante passo se possa originar a esta Provincia, e
deixando-a na maior consternação de ma. alma, rogo finalmente a Providencia
para vigiar sobre ella e permitir que desta minha demição resulte os bens que
sinceramente lhe desejo como filho e mais amante e agradecido, e requeiro
que sendo esta exarada nos livros deste Conselho se me dê huma copia da
acta que com ella se fizer. Falla em Camara da Cidade do Natal aos 8 de
7br°. de 1824. Illmos. Senhores do Nobre Senado da Cidade do Natal.
Prezidente Thomaz de Araújo Pereira. E não se continha mais em dita demain.
que aqui registrei da própria. Eu, Manoel José de Moraes, Escrivão da
Comarca o escrevi.»
- — 199 —

CARTA-DIPLOMA DO BARÃO DO CEARÁ-MIRIM

Manuel Varela do Nascimento, 1803-1881, agricultor no município do


Ceará-Mirim senhor de engenho, elemento característico e expressivo do
patriarcalismo rural da região, foi o primeiro norte-rio-grandense agraciado
por um título nobiliárquico no Império? Ver seu resumo biográfico no Cap. XX.
Alferes da Segunda Linha em 24-4-1824 teve sua patente assinada pelo
Imperador D. Pedro I.°, o Conde de Sousel e o Ministro José de Oliveira
Barbosa. Comandante Superior das Guardas Nacionais dos Municípios da
Capital, S. Gonçalo, Estremoz e Touros por Decreto de 16-7-1852 (Imperador
e José Ildefonso de Souza Ramos) foi reformado neste pôsto a 7-11-1862 (Impe­
rador e João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu) . Terceiro Vice presidente da
Província por Decreto de 1-7-1868 (Imperador e José Joaquim Fernandes
Torres) e exonerado a 15-1-1869 (Imperador e Paulino José Soares de Souza).
Deputado provincial no biênio de 1868-69 Nascera no Veríssimo a 24-12-1803
e faleceu no seu engenho S. Francisco a 1-3-1881. Era filho de Felipe Varela
do Nascimento e de d. Tereza Duarte. Casara com d. Bernarda Varela
Dantas filha de Francisco Teixeira de Araújo e D. Ana Teixeira da Silva
nascida a 17-6-1821 e falecida a 16-7-1890. Estão ambos sepultados na
capela do engenho S. Francisco, arredores da cidade do Ceará-Mirim. O
Barão do Ceará-Mirim, já titulado, ofereceu em 5-11-1878, um edifício para
Escola Pública.
Dom Pedro, por Graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Impe­
rador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, Faço saber aos que esta
Minha Carta virem que, Atendendo aos relevantes serviços prestados à instrução
pública na província do Rio Grande do Norte pelo Coronel Manuel Varela
do Nascimento, e Querendo Distingui-lo e Honrá-lo; Rei por bem Fazer-lhe
Mercê do Título de Barão deu Ceará-Mirim, e que com o referido Título goze
de tôdas as honras, privilégios, isenções, liberdades e franquezas, que hão têm
e de que usam e sempre usaram os Barões e que de direito lhe pertencerem.
E por firmeza de tudo o que dito é lhe Mandei Dar esta Carta por Mim
assinada, a qual será selada com o Sêlo Grande das Armas Imperiais.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em oito de julho de mil oitocentos e
setenta e quatro, quinquagésimo terceiro da Independência e do Império.

IMPERADOR P.
João Alfredo Corrêa de Oliveira.

Carta pela qual Vossa Majestade Imperial Há por bem Fazer Mercê
ao Coronel Manuel Varela do Nascimento do Título de Barão do Ceará-Mirim,
como acima declara.
Para Vossa Majestade Imperial Ver.
[No verso) . Por decreto de 22 de junho de 1874. Cumpra-se e registre-se.
Palácio da Presidência do Rio Grande do Norte 8 de Agôsto de 1874. Bandeira
de Melo Filho. Pagou cem mil réis de emolumentos. 100$000. Alfândega do
Rio Grande do Norte 8 de agôsto de 1874. Assinatura ilegível.
(à direita). Registrada no livro competente. 2.* Seção da Secretaria de
Estado dos Negócios do Império em 10 de julho de 1874. Assina fulano de tal
Souto. Registrada. Primeira seção da Secretaria da Presidência do Rio Grande
do Norte, 8 de Agôsto de 1874. O Chefe de Seção — Francisco Gomes da
Rocha Fagundes.
(/Vo [im da página, com a mesma letra do Decreto assina o calígrafo) :
Antonio de Sales Belfort Vieira a fêz.
Linda letra do Sr. Belfort...
CAPÍTULO VIII

(I) Idéia republicana no Rio Grande do Norte. (II)


Proclamação da República em Natal. (III) Gover­
nadores nomeados. Política local. Os dois Congres­
sos Constituintes. (IV) Pedro Velho e a organi­
zação do Estado Republicano.* (V) Da primeira
eleição direta à Revolução de 1930. (VI) A década
1930-1940. (VII) Órgãos funcionais do Estado.
(VIII) Dos últimos Interventores Federais ao Go­
vêrno constitucional.

NOTA AO CAPÍTULO OITAVO

ADENDOS

— Ata da Proclamação da República em Natal.


— Constituição do Rio Grande do Norte.
— Brasão d’armas do Estado. Escudo d’Armas da
Cidade do Natal.
— Hino e Bandeira.
— A participação norte-rio-grandense na guerra de
1942-45.
A tradição republicana popular orientasse para a participação
do povo na plana administrativa. Era, através de todos os tempos,
o sonho da presença defensora dos interêsses humildes no ambiente
fechado a êsses reclamos. Foi, realmente, o ideal da coisa pública,
república, com a igualdade de representação quando se tratasse do
imposto ou da percepção de vantagens. É o mesmo espírito da
Magna Carta e na luta em Roma pela criação do Tribuno do
Povo e da dignidade senatorial e consular para o plebeu.
Não vou certamente acreditar no republicanismo dos compa­
nheiros de André de Albuquerque em 1817, padre Feliciano José
Dómeles, José Joaquim do Rego Barros, Antônio da Rocha Be­
zerra, Antônio Germano Cavalcanti de Albuquerque que deixaram
documentos positivos de delação, perjúrio e abandono. Afirma-
ram-se coactos e que foram republicanos para melhor instruir aos
inimigos da República. Depois de meio séculò é que a imagem
serviu maravilhosamente para a catequese e quando se fala em 1817
sente-se o arrepio de heroísmo.
A geração que está vivendo, lendo e falando em 1850, conta
com muitos republicanos e simpatizantes. O Partido Liberal sem­
pre possuiu uma ala mais alerta e avançada que, sem deixar os
arraiais partidários, fazia incursões nos domínios do barrete frigio.
Muitos jornais luzias tiveram colunas dedicadas, disfarçada ou
ostensivamente, à discreta propaganda republicana. O senador Lim­
po de Abreu, num discurso no Senado do Império, a 19-5-1851,
refer^-se ao jornal «Jaguarari», de Natal, como divulgando idéias e
princípios contrários às instituições do país. (1). O ‘Jaguarari”
era de Moreira Brandão, liberal puríssimo.
A mais antiga manifestação, de grupo, declarada, clara, niti­
damente de adesão republicana, é uma “saudação” enviada do
Rio Grande do Norte, datada de 30 de novembro de 1871, procla­
mando a mais plena adesão às idéias republicanas ao Clube Repu­
blicano do Rio de Janeiro. Deve-se o movimento ao pernambucano
Joaquim Teodoro Cisneiros de Albuquerque, bacharel de 1857,
— 204 —

que até 1875 viveu em nossa província. (*) Os republicanos de


novembro de 1871 eram homens conhecidos, fazendeiros, comer*
ciantes, senhores de engenho e três vice-presidentes da Província
e que a governaram em nome de Sua Majestade o Imperador, como
Antônio Basilio Ribeiro Dantas (Pai), Manuel Januário Bezerra
Montenegro e Estevão José Barbosa de Moura. Os demais foram
o advogado Joaquim Teodoro Cisneiros de Albuquerque, Manuel
José de Siqueira Pitanga, agricultor, José Ribeiro Dantas, professor
jubilado, Manuel Joaquim Barbosa Bidot, negociante, Francisco
Basilio Ribeiro Dantas, proprietário, Tiburtino de Azevedo Man­
gabeira. alferes da Guarda Nacional, Antônio Felipe Cabral de
Melo, negociante, Antônio Manuel Xavier Bitencourt, capitão,
advogado provisionado, Manuel Francisco Ferreira da Costa, ne­
gociante, Felinto Rolindo Bráulio de Vasconcelos, agricultor, Antô­
nio Rafael Seabra de Melo, negociante,. Cândido Martins de Cas­
tro, negociante, coronel Joaquim Carneiro Machado Rios, fazen­
deiro, Joaquim Manuel de Meiroz Grilo, negociante, Manuel Joa­
quim de Carvalho e Silva, proprietário, João Duarte da Silva,
proprietário, Manuel Duarte da Silva, proprietário, José Lucas
Alvares, proprietário, Manuel Timóteo Ferreira Lustoza, agri­
cultor, José Bonifácio Cabral de Melo, Joaquim Ribeiro Dantas,
proprietário, João de Albuquerque Moreira Cunhaú, proprietário,
José Francisco de Sá Bezerra, proprietário, Julião Carlos Wan­
derley, agricultor, Joaquim Manuel da Fonseca e Silva, Manuel
Inácio Pereira Leite, agricultor, Carlos Manuel de Jesus Nogueira
Costa, proprietário, coronel reformado Estevão José Barbosa de
Moura, proprietário, capitão Vicente de Andrade Lima, cria­
dor . ( 1 ).
As adesões pessoais, e que, verdade seja, não tiveram reper­
cussão alguma, surgiram. O médico Francisco Pinheiro de Almeida
Castro, (1858-1922) numa sessão de 1882 na Assembléia Pro­
vincial afirmou-se republicano. Li um discurso manuscrito do
Dr. Augusto Leopoldo .Raposo da Câmara, (1856^1941), elo­
giando a tolerância do regime em que era possível a mesa presi­
dencial acolher um liberal (Moreira Brandão), um conservador
(o orador) e um republicano, Almeida Castro. É a mais antiga
atitude que conheço no ambiente legislativo provincial. Não há
registo nas atas.
Cisneiros de Albuquerque tentou realizar meetings republi­
canos em S. José de Mipibu possivelmente em dezembro de 1874,
obstados pelo próprio chefe de Polícia, Luis Inácio de Melo Bár-

(*) Foi Secretário da Província nas presidências ' de Luís Barbosa da


Silva e Gustwo Adolfo de Sá, agôsto de 1866 a julho de 1868.
— 205 —

reto, na administração do presidente Bandeira de Melo Filho. O


Dr. Afonso Augusto de Loiola Barata ( 1862-1934), político sabe­
dor, disse-me que o Dr. José Paulo Antunes (1844-1916) tinha
sido um dos mais antigos propagandistas em Natal. Formara-se
em Medicina na Bahia em 1869, vindo logo para Natal onde fôra
amigo pessoal de Joaquim Teodoro Cisneiros de Albuquerque e
com êle fundara o jornal «A Voz do Povo», francamente anti-mo­
nárquico, em 1875. O manifesto republicano de 3 de dezembro de
1870 subscrito pelos «históricos» fôrq transcrito em Natal pela
fôlha «O Liberal do Norte».
Houve a revista “O Echo Miguelino”, de 11 de julho a
30 de novembro de 1874, escrita quase exclusivamente pelos jovens
Joaquim Fagundes, 1856-1877) e José Teófilo, (1852-1879), em
campanha viva contra D. Frei Vital, Bispo de Olinda, anticató­
lica e anti-monárquica. Joaquim Fagundes, a 30-9-74 em artigo
assinado, «Ao Povo», onde se lê : — O trono e o altar subjugão
o povo brasileiro... E o trono é sustentado sôbre milhares de
cabeças empedrecidas pela ignorância. . . O trono e a igreja atam
grilhões aos pulsos do incauto povo... A Igreja Romana e o
trono são teus inimigos, etc.
Em Caicó, no ano de 1886, Janúncio da Nóbrega fundava um
núcleo republicano, dando a presidência nominal ao octogenário
Manuel Sabino da Costa, que tomara parte na revolução pernam­
bucana de 1824 (Confederação do Equador).
João Avelino Pereira de Vasconcelos, primo de Pedro Velho
de Albuquerque Maranhão, aderira em 1882. Foi um dos mentores
mais eficientes do movimento da Abolição e da República. Em
1-12-1888 espalhou um boletim republicano em Natal, assinando-o
com 17 amigos. Intimo de Pedro Velho, que não se afastara do
Partido Liberal mas não estava entusiasta, fêz a catequese do
primo para fazê-lo chefe e fundador do Partido Republicano na
província.
Tobias Monteiro, residente no Rio de Janeiro, republicano
fervoroso, endereçou a Pedro Velho uma carta, a 19-8-1888, con­
vidando-o à chefiar o movimento na província, fazendo uma resenha
das forças eleitorais, historiando a campanha, dando interessantes
sugestões sôbre a propaganda (Publicada n*A República? de 1-7
de 1939, 50.° aniversário de sua circulação).
No Rio de Janeiro outro norte-rio-grandense, José Leão Fer­
reira Souto, (1850-1904), fundara, a 21-4-1888, um “Centro Poti-
guarense”, abertamente republicano, com a maioria de sócios do
Rio Grande do Norte. A José Leão escreveu João Avelino, a
31-12-1888, uma carta anunciando que Pedro Velho aceitara a
chefia : — O meu primo Dr. Pedro Velho decidiu-se por-se a
— 206 —

frente do partido, e muito fará, porque tem inteligência, energia e


fôrça de vontade.
Antes, em 1886, o professor João Tibúrcio da Cunha Pinheiro,
(1845-1927) convidara José Ricardo Lustoza da Câmara para fun­
dar um jornal republicano. É informação que tive; do próprio
Professor João Tibúrcio.
Pedro Velho aceitou a investidura e divulgou um convite para
uma reunião, a fim de fundar-se o Partido Republicano do Rio
Grande do Norte. João Avelino emprestou sua residência, ampla
e nobre, à praça Bom Jesus, na Ribeira. Era o São Pedro do
apostolado iniciante. A sessão realizou-se ao meio dia de 27 de
janeiro de 1889. Presidiu-a, por idéia de Pedro Velho que queria
ligar a tradição histórica do nome, o Dr. João de Albuquerque
Maranhão, sobrinho-neto de André de Albuquerque Maranhão, o
chefe da revolução de 1817. Secretariaram o padre José Paulino
de Andrade, vigário de Macaíba, e Juvêncio Tassino Xavier de
Meneses. Pedro Velho discursou explicando. Elegeram a direto­
ria do Centro Republicano da Capital, presidente Hermógenes
Joaquim Barbosa Tinoco, vice, Manuel Ferreira da Silva Veiga,
tesoureiro, Manuel Alves de Souza, secretários Benedito Ferreira
da Silva e José Joaquim das Chagas Júnior. Elegeram a Comissão
Executiva Provisória, Pedro Velho, João Avelino, Hermógenes
Tinoco, João de Albuquerque Maranhão, padre José Paulino de
Andrade, Fabricio Gomes de Albuquerque Maranhão, irmão de
Pedro Velho e deputado provincial pelo Partido Liberal, José de
Borja Caminha Raposo da Câmara, João Ferreira Nobre, Carlos
Manuel de Jesus Nogueira e Costa, Antônio Minervino de Moura
Soares e Manuel Onofre Pinheiro. A ata tem 114 assinaturas. (*)
A Comissão Executiva escolheu sua diretoria : — Pedro Velho,
presidente, Hermógenes Tinoco, vice, João Avelino, l.° secretário,
João Ferreira Nobre, 2.° e Manuel Onofre Pinheiro, tesoureiro.
Na ata a sexta assinatura era do coronel Estevão José Barbosa
de Moura que três vêzes. governara a província, quase meio século
antes, filho de Manuel Teixeira Barbosa que a administrara tantas
ocasiões. Chegara ao pensamento republicano pela evaporação de
todos os ideais passados. Na diretoria figurava outra da adesão
de 30-11-1871, Nogueira e Costa e assinava a ata mais um velho
companheiro, Antônio Felipe Cabral de Melo.
Pelas colunas d’«O Povo», do Príncipe (Caicó), n9 5, de
6-4-1889, divulgara-se um “Manifesto Republicano ao Povo Seri-
doense”. Assinavam-no Janúncio da Nóbrega Filho, Manuel Se-

(*) Alberto Maranhão disse-me que a assistência seria de umas quarenta a


cinqüenta pessoas. As assinaturas foram recolhidas posteriormente.
— 207

veriano da Nóbrega, Misael Leão de Barros, Gorgônio Ambrósio


da Nóbrega, Felipe Bandeira Dutra, Basilio Gomes de Medeiros
Dantas. Germano Pereira de Brito, Manuel C. de Lucena e Fran­
cisco H. da Nóbrega. Êsses elementos fundavam, a 4 do mesmo
abril, o Centro Republicano Seridoense, cuja diretoria foi a se­
guinte: — Basilio‘Gomes da Silva Dantas, presidente, Gorgônio
Ambrósio da Nóbrega, vice, Misael Leão de Barros, l.° secretário,
Basilio Gomes de Medeiros Dantas, 2.°, Germano Pereira de Brito
e Benjamim da Silveira Galvão, conselheiros. Janúncio ficara encar­
regado da seção republicana no “Povo", cujo l.° número saíra
em 9 de março, ostensivamente filiado ao Partido Liberal. A ata
constata a oresença de 27 pessoas, sendo destas sete eleitores.
O Diretório Republicano do Seridó apresentou Basilio Gomes
da Silva Dantas como seu candidato a uma vaga na Câmara
Municipal de Príncipe, disputada na eleição de 19 de maio. Era,
pela primeira vez, o batismo eleitoral da campanha republicana
na província.
A 1 de Julho, Pedro Velho publica “A República", Orgão
do Partido Republicano, impresso no prelo do “Correio do Natal"
do velho João Carlos Wanderley. Reuniram-se os republicanos
a 14 de julho para a escolha dos candidatos à deputação geral nas
eleições de 31 de acjôsto. Foram indicados Pedro Velho e José
Leão Ferreira Souto, pelo l.° e 2.° distritos. Obtiveram sessenta
e nove votos. Os 141 eleitores de Príncipe (Caicó) estavam dema­
siados absorvidos na luta entre Amaro Bezerra e José Bernardo
para que distraíssem vptação. Concederam aos republicanos qua­
tro votos. Mas devamos lembrar que Amaro Bezerra chegara
apenas a nove. Miguel Castro tivera cem ! O essencial era provar
que o Partido Republicano existia, independente, disposto a viver e
afirmar-se. O nome sufragado e o número de votos são questões
subalternas, escrevera Pedro Velho antes do pleito.
Em setembro aderiu Olinto José Meira, presidente da pro­
víncia quando rompera a guerra do Paraguai, o animador do volun­
tariado . Aderiu fazendo conferências, fixando críticas, fazendo
propaganda.
Dessa fase de propaganda, dois nomes são inesquecíveis,
Pedro Velho, médico, orador, arrebatado, empolgante, orientador
nato, e Janúncio Nóbrega, (1869-1899), com vinte anos, estudante
de Direito, impulsivo, eloquente, vibrante, que morreria antes dos
trinta.
«A República» publicou vinte números até 15 de novembro.
Convocara os correligionários para uma sessão a l.° de dezembro,
escolha da chapa de deputados provinciais, na eleição de 31 do
mesmo mês.
— 208 —

No Seridó, “O Povo’*, depois de cumprir sua missão ao lado


de José Bernardo na campanha eleitoral de agôsto, retomou a
propaganda republicana. Os números seriam feitos lenta e ante-
cipadamente porque os jornalistas não eram muitos e o material
tipográfico exíguo. Em 23 de novembro “O Povo” ainda não fala
na proclamação da República, oito dias antes.
Os agentes e correspondentes d“A República” eram propa­
gandistas nos municípios. A relação desses nomes é uma lem­
brança. Ceará-Mirim, Felismino Dantas; Touros, Juvêncio Tas-
sino; Macaíba, Francisco Muniz; S. José de Mipibu, Manuel Feli­
ciano de Sousa; Arez, João Pegado Filho; Goianinha, Luis Cân­
dido; Canguaretama, Olimpio Tavares; Nova Cruz, Francisco
A. Correia; Pelo segundo Distrito, Angicos, José Rufino da Costa
Pinheiro; Açu, Artur Soares de Macedo; Príncipe (Caicó), Pre­
sidente do Clube Republicano; Imperatriz (Martins), Manuel de
Souza Pereira; Mossoró, Manuel Virgolino Cesar; Apodi, Jòão
Nogueira de Lucena.
Até 15 de Novembro de 1889 os republicanos norte-rio-gran­
denses não alcançariam três centenas.

II
A 16 de Novembro de 1889 Umbelino Freire de Gouveia
Melo, liberal, estava no Recife e recebeu um telegrama de Amaro
Bezerra aconselhando-o aderir à república e que outros amigos o
imitassem. O comendador Umbelino retransmitiu o telegrama ao
coronel Antônio Basilio Ribeiro Dantas que administrava a pro­
víncia como vice-presidente. Em Natal sugeriram um golpe exce­
lente. A República seria proclamada por correligionários liberais,
afastando dos postos de comando a meia dúzia de republicanos.
Possivelmente seria outra a trajetória de Pedro Velho se Antônio
Basilio tivesse consentido no plano. Mas Antônio Basilio recusou,
nobremente, informando do que se tratava.
No Rio de Janeiro o padre João Manuel de Carvalho, crono­
lógicamente o veterano da República, procurou o Ministro Aristi­
des Lôbo, alegando seus direitos de primogenitura doutrinária.
José Leão Ferreira Souto, delegado do Partido na Corte, salvou
a situação, recordando Pedro Velho, sua atuação, inteligência e
direitos de organizador e conseguindo um telegrama oficial: —
Doutor Pedro Velho. Natal. Assuma Govêrno. Proclame Repú­
blica . ( a ) Aristides Lôbo.
A fôrça militar era representada essencialmente por uma com­
panhia do 27 Batalhão, comandada pelo capitão Felipe Bezerra
Cavalcanti. Êste tivera aviso de Benjamim Constant e convidara
— 209 —

i in form a-me o Dr. Afonso Barata) o médico José Paulo Antunes,


alto, prêto, culto, sizudo, para presidir a futura Junta Governativa.
Antunes recusou.
Antônio Basilio esperou Pedro Velho todo o dia 16. Na
manhã de 17 mandou o Dr. Heráclio de Araújo Vilar convidá-lo
para assumir o govêrno. O convidado declarou precisar consultar
uns amigos. Não consultou os poucos republicanos que viviam
na capital, nada significando numéricamente como elementos de
resistência a uma possível reação. Procurou os conservadores
apeiados do govêrno, o grupo da Botica, amigos do conselheiro
Tarquinio Bráulio de Souza Amaranto, descidos pelo gabinete Ouro
Preto. Ouviu-os e também aos liberais dissidentes de Amaro Be­
zerra, o grupo de José Bernardo, que os ortodoxos denominavam
o Bispo do Seridó. Eram os capazes de formar uma coligação po­
derosa e vivos para as tentativas atrevidas e felizes. E contavam
com eleitorado nos dois distritos e eram contra Amaro Bezerra,
o chefe liberal que a República arredara do fastigio dominador.
Mais tarde outra comissão procurou Pedro Velho. Com-
punha-a o diretor da Instrução Pública, Lourenço Justiniano Ta­
vares de Holanda, o Chefe de Polícia, Manuel Felix Gitirana, e o
Promotor Público da Capital, Luís Antônio Ferreira Souto. Pedro
Velho informou a hora que ia a Palácio (na rua Tarquinio de
Souza, hoje Rua Chile) e foram avisados e convidados todos os
interessados ou simples curiosos. As autoridades militares com­
pareceram a Palácio e ouviram de Antônio Basilio a exposição de
tudo. Eram o capitão Felipe Bezerra Cavalcanti, o capitão dos
Portos, comandante Leoncio Rosa, e o comandante do Corpo Poli­
cial, capitão Joaquim José do Rêgo Barros.
Às três horas da tarde de 17 de novembro, Pedro Velho assu­
miu o pôsto de Presidente aclamado, pelo capitão tenente Leoncio
Rosa, resa a ata que Joaquim Soares Raposo da Câmara lavrou e
que possuo presentemente. Assinam 243 pessoas. Não estão,
curiosamente, os membros do Partido Republicano. Não- houve
teatralidade, gritos, intimações, protestos, retórica. Tudo quieto,
combinado, tranquilo, sereníssimo, apenas um exaltado rasgou
a ponta de espada o retrato do Imperador, numa exibição de fide­
lidade perfeitamente dispensável.
Ao cair da noite Antônio Basilio viajou para o seu engenho
«Sapé». Ainda serviría ao Estado como servira à Província.
Pedro Velho fêz as primeiras nomeações no regime republi­
cano,, uma Comissão Executiva que parece Ministério, .hoje muito
engraçada mas naquele tempo importantíssima.
Há o secretariado, ou melhor, comissariado. Jerónimo Amé­
rico Rapóse da Câmara, Comissário de Polícia, Manuel do Nas-
— 210 —

cimento Castro e Silva, comissário da Instrução Pública, Manuel


de Carvalho e Sousa, secretário do Govêrno, tenente do Exército
Francisco de Paula Moreira, delegado de Polícia da capital.
A Comissão Executiva parecia gabinete de Ministros. Os
membros eram as criaturas mais sérias, circunspectas e cultas da
época. Mostravam a habilidade de Pedro Velho, congraçancjo os
conservadores, republicanos mais íntimos e liberais não-amaristas.
Amaro Bezerra era o único inimigo interno capaz de enfrentas,
pela astúcia, o jóvem Presidente aclamado que se tornou a seguir
Governador.
Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco, Exterior.
José Bernardo de Medeiros, Interior.
Dr. Francisco Amintas da Costa Barros, Justiça.
João Avelino Pereira de Vasconcelos, Agricultura, Comércio
Obras Públicas.
Luís Emídio Pinheiro da Câmara, Fazenda.
Capitão Felipe Bezerra Cavalcanti, Guerra.
Capitão-tenente Leoncio Rosa, Marinha.
Moreira Brandão, liberal típico, fôra alheio às eleições de
agôsto. Era a melhor e mais alta estirpe do político essencial,
puro de ideal, desinteressado e devoto dos dons do espírito. José
Bernardo derrotara Amaro Bezerra no 29 Distrito. Amintas, juiz
de Direito da Capital, era o delegado do Conselheiro Tarquínio de
Souza, conservador de velha lei, um dos chefes do grupo da Botica
(a Botica era do comentador José Gervásio de Amorim Garcia,
cunhado de Amintas) adversário do Cantão da Gameleira, na
Cidade Alta, ponto de reunião dos fiéis ao Pe. João Manuel de
Carvalho, conservador e agora rival republicano de Pedro Velho.
João Avelino era a energia, a dedicação, a operosidade, pronto a
renunciar e sacrificar-se. Luís Emídio, filho do coronel Bonifácio,
era elemento simpático, com relações. Os dois militares não eram
políticos locais e representavam o Exército e a Marinha, custódios
do regime recém-nascido.
Não aparecem outros nomes do Diretório Republicano nem
do Cantão da Gameleira, o Dr. Manuel Porfirio de Oliveira San­
tos, cunhado d.o Pe. João Manuel, e o comendador Joaquim Gui­
lherme de Souza Caldas, espirituoso verrinista, cristão velho con­
servador que Pedro Velho conservaria como Inspetor do Tesouro.

III
Espalhou-se a notícia da nomeação do Dr. Adolfo Afonso da
Silva Gordo, nomeado pelo Govêrno Federal a 30 de Novembro
de 1889, para o cargo de Governador do Rio Grande do Norte.
— 211 —

Ninguém esperava uma solução de continuidade na gestão de


Pedro Velho cujo govêrno a todos parecia um direito lógico. Pas­
seatas de protestos, chuva de telegramas para o Rio de Janeiro,
boatos de conspirações/ discursos inflamadíssimos contra aquela
deturpação republicana. Mas Adolfo Gordo veio. Chegou na
manhã do dia 6 de dezembro, teve recepção, almoço, discurso de
Pedro e assumiu a uma hora da tarde na Câmara Municipal. No
outro dia começou a legislar e o descontentamento espalhou-se.
Acabou com a Comissão Executiva. O Decreto número 1 (como
se Pedro Velho não os tivesse feito antes) anunciava a adesão
do Estado à Federação, sinal que não tomava em consideração
nada que sc tivesse feito anteriormente. A 8 de fevereiro de
1890 deixou o govêrno. Substituiu-o o Chefe dé Polícia (os nomes
de Comissários haviam desaparecido), Jerónimo Américo Raposo
da Câmara, em virtude de autorização do Ministro da Justiça,
Era a fórmula da substituição governamental.
Adolfo Gordo organizou a Câmara Municipal de Natal, dis­
solvendo a primitiva e nomeando os cidadãos Joaquim Inácio Pe­
reira, Fabricio Gomes Pedroza, Dr. Manuel Porfirio de Oliveira
Santos, Dr. José Paulo Antunes, Odilon de Amorim Garcia, a
16-T1890, Dec. n.® 8. A 11 de fevereiro o comendador Joaquim
Inácio Pereira, que fôra eleito presidente, pediu e obteve exone­
ração, sendo nomeado o Dr. Braz de Andrade Melo. Na presi­
dência substituiu-o Fabricio Gomes Pedroza. Pedro Velho, que
viajara para o Rio de Janeiro em janeiro, regressou em março
(1890) com o 2.° Governador nomeado, Dr. Joaquim Xavier d3
Silveira Júnior.
Estava também nomeado l9 Vice-Governador, Amaro Caval­
canti, que começava a fazer-se notado pela sua cultura, vivacidade
e argúcia, e Alcebiades Dracon de Albuquerque, juiz de Direito de
Mossoró, tiveram 29 e 39 suplências. Amaro Cavalcanti recusou.
Foi nomeado o Dr. José Inácio Fernandes Barros, juiz de Direito
do Ceará-Mirim, antigo conservador, espírito requintado, elegante,
viajado, superior. Xavier da Silveira assumiu a 10 de março
de 1890.
A política fervia e encachoeirava como uma catarata. Amaro
Bezerra provava materialmente que continuava vivo e ágil, arti-
culando-se no Rio de Janeiro e empurrando insistentemente as
pedras do seu jôgo de xadrez. Todos os republicanos esquecidos,
os liberais derrubados, os conservadores preteridos, faziam reuniões,
discursos, planos, riscando a marcha para as eleições de setembro
que dariam quatro deputados e três senadores à República. O
Clube Republicano 15 de Novembro mobilizara os "ressentidos”
e ardia em impaciência para enfrentar Pedro Velho. Presidia o
— 212 —

Clube Hermógenes Tinoco. Olinto Meira tinha direitos a ser


deputado. Os candidatos surgiam e espontáneamente. Conterrâ­
neos residentes no Rio de Janeiro, sempre arredados do Estado,
aparecidos, tomados de súbito amor irresistível pela terra natal.
Grupos, sociedades, manifestos, multiplicavam-se. Contra Pedro
Velho caiu uma chuva de exposições, declarações, explicações,
vinda dos companheiros de janeiro de 1889. Com 34 anos Pedro
Velho era invencível, faiscante de espírito, jogando tôdas as armas
de uma inteligência aguda e pronta. Escrevia, falava, seduzia. Era
patético, irônico, sarcástico, humorista, humilde, com tôdas as
gamas, todos os recursos, todos os efeitos da eloquência.
A tránqüilidade se deveu a Xavier da Silveira. Era moço
de 26 anos, poeta, recém-casado, amando as modinhas, escrevendo
bem, em lua de mel com a vida. Mas sua energia sorridente fun-
damentava-se em decisões firmes e seguras. Depressa todos se
convenceram que o jovem Governador ensinaria aos velhos polí­
ticos o segrêdo de conservar o juízo. Presidiu a primeira eleição
republicana, 15-9-1890, eleição livre, garantida pela imparcia­
lidade, pela inteligência, pelo desinterêsse de Xavier da Silveira.
Recusara fazer parte da chapa de Pedro Velho. Todos os partidos
o desejavam ter nas fileiras ou no andor.
A chapa de Pedro Velho é outra suprema habilidade. Reúne
todos os trunfos, estaduais e federais, antigos e modernos. Pano­
plia com tôdas as armas, respondería a qualquer ataque.
Senadores, José Bernardo de Medeiros, a maior fôrça eleitoral
organizada; tenente coronel José Pedro de Oliveira Galvão, repu­
blicano histórico, amigo pessoal de Deodoro, capitão a 15 de
Novembro, major em janeiro e tenente coronel em fevereiro de
1890, por merecimento; Amaro Cavalcanti, jurista, habilíssimo,
já influente e consultado na política nacional. Deputados, Almino
Alvares Afonso, abolicionista tradicional, tribuno popular, adorado
pela bondade, valentia, honradez e bonhomia. Figurava como can­
didato conservador no 2.° distrito em 1889 e nesse 1890 estava
nas duas “chapas”, de Pedro Velho e do Clube Republicano, sendo,
como o foi, o mais votado. Os outros três deputados seriam Pedro
Velho, indiscutido chefe, Miguel Joaquim de Almeida Castro, o
deputado eleito em agôsto de 1889, vencendo, por obra e graça
de José Bernardo, o grupo de Amaro Bezerra, e finalmente Antônio
de Amorim Garcia, um dos chefes da facção de Tarquinio de
Souza, cunhado de Amintas Barros, homem de boa educação e de
vontade sem desfalecimento.
A “chapa republicana” do “15 de Novembro” trazia Amaro
Bezerra, tenente coronel Antônio da Rocha Bezerra e o capitão
de fragata Teotônio Coelho de Cerqueira Carvalho para senado-
— 213 —

res, e Manuel Porfirio de Oliveira Santos, Hermógenes Joaquim


Barbosa Tinoco, Daniel Pedro Ferro Cardoso e Almino Alvares
Afonso para deputados.
Um Partido Católico foi às urnas também com chapa income
pleta e confiança integral. Para senadores, Tarquínio de Souza
e Olinto José Meira. Para deputados José Calistrato Carrilho de
Vasconcelos, Horácio Cândido de Sales e Silva e Antônio Soares
de Macedo, o cristão-velho do “Brado Conservador” do Açu.
Foi eleita a chapa de Pedro Velho que iniciava seu domínio
insuperado e contínuo até a morte em 1907.
Xavier da Silveira, morna a coivara eleitoral, entregou a admi­
nistração a Pedro Velho (19-9-1890) e viajou. A 8 de novembro
assumiu o 3.° Governador nomeado, Dr. João Gomes Ribeiro,
abolicionista glorioso, orador, jornalista. Simpatizou com a Oposi­
ção e para ela levou sua prestigiosa presença. Os “pedrovelhistas”
ficaram acuados com João Gomes Ribeiro. Demorou menos de
um mês. A 7 de dezembro entregava o govêrno ao chefe de Polí­
cia, Manuel do Nascimento Castro e Silva que, por ordem do
Ministro da Justiça e Interior, aceitou e foi nomeado Governador,
o 4.°, continuando a administração até 2-3-1891. Decreta a nossa
primeira Constituição, Decreto 91, de 20-1-1891.
Houve eleição para Presidente da República a 25-2-1891.
Eleição no Congresso Federal. Pedro Velho e José Bernardo
votaram em Prudente de Moraes. Todos os demais sufragaram o
nome do marechal Deodoro. A reação iniciou-se, imediata. Nas­
cimento Castro foi exonerado e Amintas Barros nomeado Gover­
nador do Rio Grande do Norte, o 5.° e último, tomando posse a
3 de março de 1891.
1891 é um ano histórico para as recordações dos velhos polí­
ticos do Estado. Contavam os episódios pelos meses. De março a
novembro, dias intensos e apaixonantes, com foguetões estalando
no ar, anunciando as “novidades” telegráficas, boletins espalhados,
sôfregameúte lidos, boatos, cochichos, um encanto.
Amintas Barros mandou proceder as eleições para o Con­
gresso Constituinte Estadual em 10 de maio. Os pedrovelhistas’
batizaram-no de Congresso de Amintas.
Foram eleitos os nomes adversários de Pedro Velho.
José Inácio Fernandes Barros.
Manuel de Carvalho e Souza.
Lourenço Justiniano Tavares de Holanda.
Augusto Leopoldo Raposo da Câmara.
João Alves de Melo.
Felipe Neri de Brito Guerra.
Manuel Barata de Oliveira Melo.
— 214 —

Francisco de Sales Meira e Sá.


Vicente de Paula Veras.
Francisco Carlos Pinheiro da Câmara.
Bianor Bernardes C. de Oliveira (Todos bacharéis em direito).
Jose Calistrato Carrilho de Vasconcelos.
Artur de Albuquerque Bezerra Cavalcanti.
Francisco Pinheiro de Almeida Castro.
Antonio Antunes de Oliveira, (médicos)
Ovidio de Melo Montenegro Pessoa.
Genuino Fernandes de Queiroz.
Manuel Joaquim de C. e Silva.
Antônio Bento de Araújo Lima.
Ivo Abdias Furtado de Mendonça e Menezes (Coronéis da
Guarda Nacional).
Joaquim Guilherme de Souza Caldas.
José Gervasio de Amorim Garcia (Farmacêutico, o dono da
"Botica”).
Pedro Soares de Araújo.
Umbelino Freire de Gouveia Melo.
Êsse Congresso instalou-se a 10 de junho sendo presidente
José Gervasio. Elegeu a 12 o Presidente do Estado (e não Gover­
nador), Miguel Joaquim de Almeida Castro, então deputado fe­
deral, e o vice-presidente, José Inácio Fernandes Barros. Na
sessão de 20 houve eleição para 2.° vice, recaindo a escolha em
Francisco Gurgel de Oliveira. Foi o Congresso que promulgou a
primeira Constituição Estadual, a 21-7-1891.
Ao l.° vice,- Fernandes Barros, Amintas Barros passou a
administração em 13 de junho. Fernandes Barros não demorou
-no póder'. Entregou o govêrno ao 2.° vice, coronel da Guarda
Nacional Francisco. Gurgel de Oliveira, a 6 de agôsto. Miguel
Joaquim de Almeida Castro, o primeiro Presidente eleito pelo
Congresso Estadual, assumiu a 9 de setembro.
A 3 de Novembro o. generalissimo Deodoro dissolveu o Con­
gresso Nacional. Pedro Velho, José Bernardo e Amaro Cavalcanti
ficaram solidários com a oposição. Miguel Castro e o Congresso
Estadual enviaram telegramas congratulatorios, assim como a Guar­
nição federal, comandada pelo coronel Francisco de Lima e Silva.
A 23 houve a contra-revolução e o marechal Deodoro cedeu, ven­
cido pela dispnéia e pelo desânimo, desencantado e desiludido.
Começou a derrubada dos “deodoristas” que administravam os
Estados.
Pedro Velho estava no Recife. Voou para Natal a 26 de
novembro e preparou a deposição de Miguel Castro. Floriano
— 215 —

Peixoto não admitia deposição pelos militares. Devia ir o povo.


O povo guiado, convenientemente, depôs Miguel Castro na tarde de
28 de novembro e o entregou ,prêso, no Quartel Federal. Miguel
Castro portou-se com inalterável e serèna energia, protestando,
inócua mas teimosamente. Aclamaram uma Junta Governativa,
com o coronel Francisco de Lima e Silva, completamente esque­
cido que tinha telegrafado a Deodoro solídarizando-se pela disso­
lução do Congresso, Manuel do Nascimento Castro e Silva, e Joa­
quim Ferreira Chaves, que assumiu no mesmo 28 de novembro.
A Junta Governativa dissolveu o Congresso de Amintas em De­
creto de 17 de dezembro. A 31-1-1892 elegia-se outro Congresso
Legislativo que seria Constituinte.
Foram deputados os bacharéis Luís Manuel Fernandes So­
brinho, José Climaco do Espírito Santo, Jerónimo Américo Raposo
da Câmara, Antônio José de Melo e Souza, José Peregrino de
Araúio, Felipe Neri de Brito Guerra, Hermógenes Joaquim Bar­
bosa Tinoco, João Gurgel de Oliveira, Joaquim Cavalcanti Fer­
reira de Melo, Manuel Moreira Dias, Janúncio da Nóbrega Filho,
Luís Antônio Ferreira Souto; o médico Manuel Augusto de Me­
deiros, Francisco de Paula Sales, Artur de Albuquerque Bezerra
Cavalcanti, Manuel Ronaldas de Castilho Brandão, Francisco
Xavier Soares Montenegro, capitao tenente Artur José dos Reis
Lisboa, capitão Francisco de Paula Moreira, tenente Francisco de
Paula Fernandes Barros, Augusto Severo de Albuquerque Ma­
ranhão, Manuel Augusto Bezerra de Araújo e Ovidio de Melo
Montenegro Pessoa.
A 20 de fevereiro de 1892 o Congresso fazia sua solene ins­
talação. Elegeu seu presidente o Dr. Jerónimo Américo Raposo
da Câmara que, nessa qualidade, recebeu a administração do Esta­
do da Junta Governativa no dia 22, dia em que Pedro Velho foi
eleito Governador pelo Congresso e Silvino Bezerra de Araújo
Galvão, vice-governador.
Pedro Velho assumiu o govêrno do Estado a 28 de fevereiro
de 1892.

IV
De 28 de fevereiro de 1892 a 25 de março de 1896, Pedro
Velho organizou o Estado na forma geral que possuímos, ampliada,
desdobrada, evoluída. Todos os departamentos administrativos
foram renovados, reformados, adaptados às exigências da época.
Instrução e Saúde Pública, Tesouro, Justiça, criação de Municipios,
estradas, escolas, tudo apareceu, com regulamentos, leis, decretos,
sugeridos por êle e muitos redigidos por sua mão. Suas "men-
— 216 —

sagens” ao Congresso Legislativo dizem da emoção que o empol­


gava no serviço público. Têm uma vibração declamatória, discursa-
tiva, parecendo antes um apêlo entusiástico que a fria narração
dos leitos normativos do govêrno. Honesto, letrado, psicólogo,
Pedro Velho era diferente e jamais substituído em sua feição
pessoal, nos processos inimitáveis de administrar e vencer. Nenhum
outro o avantajou no prestígio nacional. Invulgar sua verve, espi­
rituoso, espontâneo, natural nas frases. Não era, entretanto, supe­
rior ao seu tempo. Inútil tentar desfigurar-lhe a fisionomia polí­
tica. Era intolerante, ciumento, absorvedor, centralizante, descon­
fiado .
Êsses deméritos vivem em todos os mentores políticos do •
mundo. Em Pedro Velho dosava-os a graça peculiar à sua inteli­
gência. Ninguém o imitou nem o substituiu.
Deixando o govêrno ficou mais poderoso, ampliando ano a
ano as áreas de sua influência moral invencida. Guardava as
manhãs dos domingos para 1er historiadores, amando reler poetas,
dizendo-lhes os versos em voz alta. Como todo Albuquerque Ma­
ranhão era melómano confessado. Seria um dos raros políticos
capaz de falar sôbre música sem que a sombra de Beethoven
estremecesse de pavor. Também o Folclore o seduzia em seus
aspectos mais naturais e legítimos. Autos populares, danças tradi­
cionais, festas típicas, contavam com sua presença entre os infa­
líveis. Sabia provocar e ouvir o interlocutor. Guardava as ane­
dotas do povo, os remoques e respostas dos humildes. Foi um
conversador admirável. O encanto de uma evocação que fizesse
ficava inesquecível para o auditório. Viveu, administrativamente,
dentro dos recursos econômicos de sua terra. Não podia realizar
obras de vulto. Sua mentalidade privava-o de lançar-se aos tra­
balhos maiores, sacrificando as receitas futuras orçamentais. Tinha
o pavor das dívidas. /
Criou os municípios do Patu, S. Gonçalo, Currais Novos,
Flores ê outros que foram posteriormente modificados, como o do
Jardim (Decreto 55, de 7-1Ö-1890) desmembrado de Angicos, e o
da Vitória, saído do município de Pau dos Ferros, (Decreto 60,
16-10-1890). Deu divisão e regulamentou o govêrno municipal.
Consolidou as leis judiciárias- (Decreto 55, de 18-10-1895), a
Justiça, (lei n.° 12, de 9-6-1892), instalando o Superior Tribunal
de Justiça a 1-7-1892. Saldou débitos. Criou o Monte Pio, 21-11
de 1894. Interessava-se apaixonadamente pelas boas finanças, fis­
calizando, idealizando, sonhando uma política de saldos normais.
Defendeu o sertanejo proclamando-o trabalhador que nenhum go­
vêrno ajudara eficientemente. Não pertencia à fácil obediência
— 217 —

política. Protestava e divergia com serenidade e firmeza. A lápide


do seu túmulo, no cemitério do Alecrim, diz o título que lhe deram
ainda em vida : — Organizador do Estado Republicano.

V
Ferreira Chaves foi o primeiro governador eleito diretamente
pelo povo. Os dois anteriores, Miguel. Castro em. 189/T e Pedro
Velho em 1892, haviam sido pelos respectivos Congressos Legis­
lativos. O$ eleitores norte-rio-grandenses tiveram a sensação nova
de escolher, pela primeira vez na Historia, o seu mais alto gover­
nante, chefe do executivo, o primeiro, magistrado, a 14-6-1895.
Moreira Brandão, o velho chefe liberal, foi o adversário apresen­
tado pela oposição coligada.
Não é possível resumir as reviravoltas e torneios políticos do
tempo até nossos dias amáveis. Há episódios merecedores de re­
cordação. Na sucessão presidencial de Prudente de Moraes o
Estado, pelo seu Partido situacionista, prometeu, ao lado dos gran­
des eleitores, sufragar Lauro Sodré para Presidente da República.
As negociações e acomodamentos posteriores levaram os grandes
e majestosos eleitores ao abandono !do compromisso e a jurar
bandeira nas mãos de Campos Sales. De todos os que haviam
prometido restaram apenas dois Estados, Paraná e Rio Grande
do Norte, que foram às urnas em 1-3-1898, votando em Lauro
Sodré, sabido e anteriormente derrotado pela massa aglomerada
contra êle. O grande paulista Campos Sales, com a sua «Política
dos Governadores», não exerceu as inevitáveis e esperadas vin­
dictas comuris e "eternas, não obstante os pregões da liberdade de­
mocrática ao voto. Êsse fidelismo norte-rio-grandense engrande-
.ccu-o. Estado pequeno de grande gente, proclamava Lauro Sodré
a vida inteira grato aosAque cumpriram a palavra até o final.
• Ferreira Chaves, 25-3-1895 a 25-3-1900, cuidou especialmente
das finanças alquebradas e perpètuamente iniciantes. Fêz quanto
pôde pélo interior. Na capital deu os passos iniciais de seu afor-
moseamento.
Alberto Maranhão substituiu-o a 25-3-1900, vindo a igual data
em 1904. As melhorias materiais da capital seguiam lentamente.
Finanças más absorviam atenções. O Estado subia devagar os
degraus, com esforço, desajudado, desconhecido/pequenino.
Augusto Tavares de Lira, 25-3-1904 a 5-11-1906, encontra a
tragédia da sêca de 1904-1905',' rareando quando podia ter reali­
zado. Desdobrou-se infatigàvelmente, defendendo as vidas con­
terrâneas, não podendo evitar o êxodo para o extremo norte, come­
çou obtendo recursos limitados do Govêrno Federal para obras no
sertão. Em Natal construiu edifícios públicos ainda na primeira
— 218 —

linha, como o Tribunal de Justiça (hoje Instituto Histórico), Con­


gresso Estadual (hoje Tribunal de Justiça), parque Augusto Se­
vero, vencido o pantanal da Ribeira. Estudou em “mensagem”
especial, o problema do sal, janeiro de 1905. Fundou o Banco de
Natal (hoje Banco do Rio Grande do Norte) em 25-3-1906. Em
junho e novembro de 1905 inaugurou a iluminação a gás acetileno
nos bairros alto e baixo da cidade. Deixou o govêrno para ser
Ministro da Justiça e Interior na presidência Afonso Augusto
Moreira Pena, que visitara Natal, 11-15-1906, inaugurando o
trecho Natal a Ceará Mirim da Estrada de Ferro Central no
dia 13 .
Assumiu o vice-governador Manuel Moreira Dias que empos­
sou Antônio José de Melo e Souza, eleito para completar o qua­
triênio, governando de 23-2-1907 a 25-3-1908 quando assumiu
Alberto Maranhão. Criou o l.° Grupo Escolar do Estado, Decreto
174, de 5-3-1908, “Augusto Severo”, inaugurada à 12-6-1908.
A segunda administração Alberto Maranhão foi impar em
sua expansão progressista. Conservatório de Música, Hospital
juvino Barreto, teatro Carlos Gomes, Derby Clube, Casa de
Detenção, Asilo de Mendicidade, substituiu a iluminação pública
do acetileno pela luz elétrica, os bondes de tração, animal, inaugu-
' rados a 7-9-1908, passaram a ser elétricos em 1911, criou a Cidade
Nova aberta em avenidas esplêndidas, numa visão sistemática
de urbanista, levando a Cidade a estender-se por três novos Bair­
ros, Petrópolis, Tirol e Alecrim. Intelectualmente foi o maior
animador de poetas e literatos locais, com a famosa, e única no
Brasil, lei n.° 145, de 6-8-1900, que mandava editar os livros jul­
gados úteis à cultura do Estado. Assim tivemos volumes de direito,
história, geografia, poética, etc. Reformou inteiramente a Instru­
ção Pública, inaugurando a Escola Normal em 13-5-1908, diplo­
mando a primeira turma, de 27 professores primários, em 4-12
de 1910. Desenvolveu um plano que viera de Antônio de Souza
no tocante a atualização do ensino público, erguendo escolas.
Orador, jornalista, tomando parte nas tertúlias literárias, deter­
minou uma época de esplendor que não mais se repetiu. A pequena
orquestra de salão, financiada pelo Govêrno, era composta de
professores ilustres, uma das melhores do Brasil pelo equilíbrio
dos valores componentes, execução maravilhosa e programação
superior. As festas em Palácios, os bailes de alta elegância social,
os concertos, deixaram fama e saudades. Rara será a iniciativa
que não haja partido de Alberto Maranhão a quem os oposicio­
nistas cognominaram, fazendo sem querer justiça, Príncipe Me-
cenas. Máis de trinta anos depois, pobre, arredado da política,
visitando Natal, Alberto Maranhão recebia de todos os lados o
mesmo título, como uma homenagem e uma reparação.
— 219 —

Apesar do empréstimo externo e das emissões de apólices as


finanças decresceram. A campanha da substituição governamental
foi a mais famosa em todos os tempos. Chefiou-a o capitão José
da Penha Alves de Souza, (1875-1914), percorrendo muitos muni­
cípios, falando diretamente ao povo, numa eloqüência arrebatadora
e belicosa que empolgou a mocidade. Ferreira Chaves, 1852-1837,
apresentado, venceu com msioria absoluta, vindo do Senado da
República, onde era prestigioso elemento. Deveu-se a José da
Penha a renovação do ambiente político estadual. Daí em diante
não foi fácil a substituição sem colaboração dê forças políticas
diretamente consultadas. E o povo começou a interessar-se pela
eleição do seu governador.
Eleito, assumiu Joaquim Ferreira Chaves a 1-1-1914, gover­
nando até 1-1-1920, um sextênio como preceituava a Constituição
Estadual em vigor. Exerceu, essencialmente, uma ditadura finan­
ceira, comprimindo despesas, fiscalizando serviços, exigindo utili­
dades reais para autorizar pagamentos. Atravessou as sêcas de
1915 e de 1919 e o inverno de 1917, três calamidades. A sêca de
1915 feriu a indústria pecuária em 70 %. A Guerra de 1914-1918
dificultou os transportes para exportação. Os produtos de venda
externa nunca coincidiam abundância de safra com preços compen­
sadores. Ferreira Chaves foi obrigado a emitir 2.223:650$000 de
apólices, resgatando 1.375:500$000, deixando um volume de
848.150$000 em circulação. Construiu açudes, rodovias, escolas,
reformando dezenas de edifícios públicos, inaugurando em Natal
as praças 7 de Setembro e Leão XII (hoje José da Penha).
Criou o Gabinete de Identificação e Estatística (Decreto 81, de
22-4-1918), ajudando a Estrada de Automóveis do Seridó com
1.114.476$455. Durante sua administração a Estrada de Ferro
do Mossoró inaugurou o seu primeiro trecho Pôrto Franco a
Mossoró, a 19-3-1915. Antônio Parreiras pintou o ‘ Julgamento de
Frei Miguelinho” para o salão nobre de Palácio, e Rocha Pombo
escreveu, sob encomenda do Govêrno, uma ‘‘História do Rio
Grande do Norte”. Ferreira Chaves iniciou as estradas de pene­
tração, tendo-as como relevantes para o serviço público. Visitou
todo o Estado, de automóvel e cavalo, ouvindo queixas, solucicn
nando questões, espalhando esperanças. Guerreou, corajosamente,
o político coiteiro, ocultador e protetor de assassinos profissionais,
amigo de cangaceiros.
Abriu uma campanha sem tréguas, prendendo-os, onde quer
que estivessem, numa ação de profilaxia social meritória. De
janeiro de 1905 a dezembro de 1914 tinham sido presos 308 crimi­
nosos. De janeiro de 1914 a outubro de 1915, menos de dois anos,
foram capturados 318 sentenciados. Êsse record positivou as inten-
— 220 —

ções saneadoras que foram, sem solução de continuidade, prosse­


guidas até o final. Ferreira Chaves acabou com o banditismo
endêmico e estabeleceu contato permanente com o sertão norte-
rio-grandense .
Antônio José de Melo e Souza voltou ao govêrno a 1-1-1920,
para um quatriênio porque nova reforma constitucional reduzira
o sextênio. Souza economizou quanto pôde, temendo os desequi­
librios^ climatéricos que inutilizavam as previsões técnicas. Come­
morou o Centenário da Independência do Brasil, com solenidades
de caráter oficial e popular. Criou a cadeira de Pedología na
Escola Normal em 3-6-1920. Pelo Decreto 115, de 10-5-1920,
iniciava a Profilaxia das Moléstias Venéreas, distribuindo medica­
mentos e sua aplicação gratuita aos funcionários que vencessem
menos de 400$ e aos soldados. Contratou os serviços de Profi­
laxia Rural, começados em junho de 1921, transformados em
dezembro de 1922 na Profilaxia e Saneamento Rural. Criou a
Escola Normal de Mossoró, Decreto 165, de 19-1-1922, instalada
a 2-3-1922. Criou a Escola Profissional do Alecrim a 24-4-1922,
a Escola de Farmácia, Decreto 498, de 2-12-1920, a Diretoria
Geral de Agricultura e Obras Públicas, lei 568, de 1-12-1923, o
Pôsto Anti-Ofídico.
Homenageando o Centenário da Independência do Brasil doze
pescadores profissionais, chefiados por Filadelfo Tomás Marinho,
“Mestre Filó’*, nos botes de pesca “República”, “Pinta” e “íris”,
realizaram a jornada marítima de Natal ao Rio de Janeiro, de 28
de agôsto a 18 de setembro de 1922. Um grupo da sociedade
“Escoteiros Andantes”, composto de rapazes entre 16 e 20 anos,
venceu galhardamente a travessia de Natal a S. Paulo, a pé.
Foram José Alves Pessoa, Humberto Lustoza da Câmara, Agui­
naldo Mendes de Vasconcelos, Henrique Damasceno Borges e
Antônio Gonzaga da Silva, os andarilhos das 1.013 léguas, ven­
cidas de 14 de janeiro a 2 de setembro de 1923.
O Sr. José Augusto Bezerra de Medeiros governou de 1-1
de 1924 a 1-1-1828. Trouxe um plano de reformas gerais para o
Estado, remodelando e atualizando as repartições públicas. Infe­
lizmente 1924 foi o ano das enchentes, determinando a destruição
e o aniquilamento de todos os recantos do território do nosso Es~
tado, desfalcando a nossa economia privada de muitos milhares de
contos de réis e o erário público de rendas que lhes estão fazendo
falta sensibilíssima, informava na “Mensagem” de 1924.
O Govêrno Federal não pôde ou não quis atender aos recla­
mos estaduais .Rebentara em S. Paulo a revolução de 5 de julho
de 1924 e, mesmo debelada, os revolucionários derramaram-se
pelo Brasil em colunas militares, combatendo. O socorro às popu­
— 221 —

lações que as enchentes empobreceram, reconstruções e reajusta*


mento, partiu e foi suportado exclusivamente pelo Tesouro do
Estado e pequenas iniciativas particulares.
A reforma José Augusto, Decreto 239, de 30-6*1924, deu
nova distribuição aos serviços administrativos, Secretaria Geral e
cinco Departamentos, Saúde Pública, Educação, Segurança Pública,
Agricultura e Obras Públicas e Fazenda e Tesouro. Criou o Ser­
viço do Algodão, o Conselho de Educação, consultivo e delibera­
tivo, o Conselho Penitenciário, o município de Parelhas, desmem­
brado do de Jardim do Seridó, a Recebedoria de Rendas Estaduais,
a 24-12-1926. Contratou com o Govêrno Federal, em dezembro
de 1926, a execução do serviço do algodão, incluindo as fazendas
de sementes. Concedeu vantagens à firma Pereira Carneiro, agôsto
de 1927, para a montagem de uma usina de beneficiamento do
sal em Macau. Estabeleceu a Diretoria Geral de Estatística. Para
harmonizar as relações comunais, reuniu em Natal, junho de 1926,
um Congresso de Municipalidades. Decretou o Código do Pro­
cesso Penal. Animou o desenvolvimento da agricultura mecaniza­
da e aparelhamento moderno para defesa e conservação das
safras. Em Nova Cruz, 1925, o Sr. Aristides Carneiro de Morais,
construiu o primeiro silo para cereais. Decretou, a 8-11-1926, o
Imposto Territorial. Pela lei n.° 637, de 11-11-1926, o Monte Pio
deixou de constituir caixa especial, tornando-se elemento comum
da receita e despesa, fixando, na letra constitucional a responsa­
bilidade do Estado em relação aos contribuintes. Construiu e re­
construiu edifícios públicos na capital e no interior, estradas, tra­
balhos de engenharia sanitária, ampliando o número de escolas.
O Rio Grande do Norte era o Estado que mais .despendia com
Higiene e Saúde Pública, relativamente às suas possibilidades, em
todo o Brasil. Gastava 7,7. Bahia figurava com 6,6, e Pernam­
buco com 6,4, em 2.° e 3.° lugares. S. Paulo, 4,4, era o 5.°, Minas
Gerais, 2,6 o 11.°, e Rio de Janeiro, 1,1 o 17.°. A Coluna de
Luís Carlos Prestes invadiu o Rio Grande do Norte, vinda do
Ceará, assaltando as vilas de S. Miguel de -Pau dos Ferros e
Luís Gomes, em 4 e 5 de fevereiro de 1926, abandonando-as no
mesmo dia, internando-se no Estado da Paraíba.
A 1-1-1928 assumia Juvenal Lamartine de Faria, com o título
de “Presidente”, dado pela Constituição Estadual de 24-8-1926.
Estava enamorado da industrialização, rodovias, comunicações
aéreas, voto feminino, então um tabu no Brasil. Criou a Imprensa
Oficial em 28-1-1928, os municípios de Baixa e de S. Tomé,
restabeleceu o Departamento de Agricultura, Indústria, Comércio
e Obras Públicas em novembro de 1929, que havia sido extinto em
1926; reo tanizou a Polícia Militar, transformando-a no Regimento
— 222 —

Policial Militar. A área dos cristalizadores ñas salinas aumentou


38,39 %, passando casas de 50, que eram em 1925, para 68 em
1929. Presidiu o 1.® Congresso Econômico do Estado em janeiro
de 1930. Inaugurou o prédio da Saúde, em 1*10*1929, o Leprosa­
rio S. Francisco de Assis, em 14*1*1929, a Recebedoria de Rendas
Estaduais em 31*5*1930. Incrementou o movimento aviatorio com
a fundação do Aéro Clube a 29*12*1929, conseguindo 28 campos
de pouso no interior, prestigiando a Escola de Pilotagem, dirigida
pelo’comte. - D jalma Petit, que diplomou a primeira turma de
pilotos de turismo. Os dois animadores desse movimento foram
igualmente Fernando Gomes Pedroza e o comte. Manuel Augusto
Pereira de Vasconcelos.
As companhias de navegação aérea receberam tôdas as faci­
lidades e começaram as viagens normais desde a capital. Pioneiro
do voto feminino no Brasil, o presidente Lamartine assistiu a vitória
de sua campanha, vendo d. Júlia Barbosa Cavalcanti eleita para
o Conselho Municipal de Natal e d. Alzira Teixeira Soriano, Pre­
feita do município de Lajes, primeiras no Brasil. No cais das
Docas de Natal, pràticamente construído, atracou a 6*8*1930 o
cruzador inglês “Dehli”, sob o comando do comte. H.S. Tait. O
“Dehli” foi o primeiro vaso de guerra estrangeiro e o maior vapor
que transpôs a barra de Natal, informava Lamartine na sua “Men­
sagem” de 1*10*1930. Cedeu por venda os serviços de fôrça e
luz de Natal às Empresas Elétricas Brasileiras S.A. em outubro
dc 1829, possibilitando seu desenvolvimento, como ocorreu.
A Revolução de Outubro de 1930 interrompeu o govêrno de
Juvenal Lamartine que deixou a cidade a 5*10*1930. Na manhã
seguinte entravam as forças militares revolucionárias, vindas dá
Paraíba, ocupando a cidade.

VI
Comandava as forças revolucionárias o major Luiz Tavares
Guerreiro. Os oficiais, reunidos no Palácio do Govêrno, convida­
ram o desembargador Silvino Bezerra para o cargo de Governa­
dor revolucionário. Silvino Bezerra recusou. A ala revolucioná­
ria local, apoiada por elementos populares, aclama João Café Filho.
No'mesmo dia 6 foi instalada Junta Governativa Militar, com o
major Luiz Tavares Guerreiro na presidência, o capitão. Abelardo
Tôrres da Silva Castro e o tenente Júlio Perouse Pontes.
A Junta Governativa Militar, 6 a 12 de outubro de 1930, nos
seis dias administrativos cuidou em manter tranquilo o ambiente,
refreiando o entusiasmo predatório dos irresponsáveis e aprovei­
tadores atrevidos. Os primeiros decretos saíram, dissolvendo os
223 —

governos municipais e a Assembléia, então no sexto dia de funcio­


namento esperançoso.
Assumiu o Dr. Irineu Jofili, 12-10-1930 a 28-1-1931, criou o
município de João Pessoa, Decreto 10, de 7-11-1930, antiga Bar­
riguda da Imperatriz ou Alexandria, retirando-o dos territórios de
Pau dos Ferros e Martins. Sua atenção estêve mais voltada para
’ as finanças estaduais.
O tenente Aluizio de Andrade Moura, 28 de janeiro a 31 de
julho, decretou, (n.° 100, de 5-6-1931) as regras iniciais da admi­
nistração municipal na vigência revolucionária.
O funcionalismo, desde outubro de 1930, recomeçou a ter os
vencimentos pagos mensalmente.
O comte. Hercolino Cascardo, 11-7-1931 a 5-2-1932, isentou
de imposto de exportação, estadual e municipal, o sal destinado aos
portos estrangeiros, (Dec. 138, 31-8-1931 ), criou a Caixa Espe­
cial da Malária, (Decreto 152, de 19-10-1931), reorganizou a
Justiça, (Decreto 154, de 24-1—1931), abriu um crédito de..........
300.000$ para fundar-se uma série de colônias agrícolas, Decreto
156, de 11-11-1931. O Decreto 180, de 21-12-1931, criava o
“Fundo Especial das Contribuições Municipais”, 15 % sôbre a
arrecadação anual prevista nos orçamentos para as despesas de
educação, segurança e saúde pública a cargo dos recursos comunais.
Um Decreto 159, de 17-11-1931, evidenciara os extremos sensíveis
do Interventor no tocante aos dinheiros públicos. O funcionário
que residisse em imóvel estadual pagaria 10 % dos seus vencimen­
tos como aluguel e 5 % se houvesse repartição instalada no mesmo
edifício. Para dar exemplo, Cascardo indenizava o Tesouro pelo
aluguel da “Vila Cincinato” (Vila Potiguar), residência oficial dos
Governadores.
O comte. Bertino Dutra, 11-6-1932 a 8-6-1933, enfrentou a
sêca de 1932, amparando a situação trágica com os elementos dis­
poníveis. Criou o Instituto de Música, a 31-1-1933, hoje institui­
ção privada, a Feira de “Amostra”, Decreto 361, de 24-10-1932.
Decretou o Código de Organização Municipal, Decreto 318, de
13-8-1932, proibiu a criação de qualquer espécie de gado em campos
abertos, Decreto 371, de 25-11-1932, suprimiu a comarca do Acari
e instaurou a de Santana do Matos, Decreto 484, de 15-7-1932 e
proibiu dar-se nome de pessoa viva a localidade, escola, rua ou
qualquer estabelecimento, assim como aposição de retratos em re­
partições públicas, exceto para a continuação de galeria, Decreto
310, de 26-7-1932. Em 24-10-1932 inaugurou-se as Docas do
Pôrto de Natal, atracando o «Campos Sales», do Lóide Brasileiro.
O Interventor Mário Leopoldo Pereira da Câmara, 2-8-1933
a 27-10-1935, criou o município de S. Miguel de Jucurutu, Decreto
— 224 —

932, de 11*10-1935, retirando-o do território do Caicó. construiu


45 prédios escolas, mandou fazer e inaugurou o edifício da Se­
gurança Pública, 3-5-1935, visitando todó o Estado e auxiliando
eficazmente os serviços de utilidade pública, rodovias, poços tubu­
lares, interessando-se pela mais> perfeita melhoria do algodão, na
seleção dos seus três tipos, mata, verdão e mocó, dividindo, para
essas culturas, o Estado em cinco zonas (Decreto 618, de 5-7
de 1954) c fundando a Caixa Agrícola, Decreto 608, de 18-4-1934.
Criou a comarca de Baixa Verde, Decreto 860, 19-6-1935, elevando
a sede ao predicamento de Cidade, Decreto 852, de 11-6-1935,
danc.o as providências iniciais para o serviço de abastecimento
d agua e esgoto, com o escritório Saturnino de Brito, e a construção
do “Grande Hotel”, adquirindo o terreno e abrindo o crédito.
Resgatou mais de 37 % das apólices em circulação (767:312$000).
Rafael Fernandes Gurjão, governador eleito para Assembléia
Estadual em 29-10-1935, e assumindo na mesma data, foi nomeado
Interventor Federal a 24-11-1937, governando até 3-7-1943. Como
governador constitucional foi substituído, quatro vêzes, pelo pre­
sidente da Assembléia Legislativa, monsenhor João da Mata
Paiva. Depois de novembro de 1937 assumia interinamente a Inter-
ventoria o secretário geral do Estado, Dr. Aldo Fernandes Raposo
de Melo.
De 23 a 27 de novembro de 1935 Natal estêve sob o domínio
de ura “Comité Popular Revolucionário”, estabelecido a 24, govêrno
do movimento comunista que espalhou pavor naqueles dias trági­
cos. Dispersou-se o Comité quando da marcha das forças legalistas
que chegaram na manhã de 27.
Rafael Fernandes criou a Repartição do Saneamento, elevou
à categoria de cidades- as vilas de Pedro Velho, Alexandria e
Angicos, dando a muitas povoações o título de vilas, restaurando
a comarca do Acari, fazendo voltar à Alexandria seu primitivo
nome. Decretou o Código de Contabilidade dos Municípios, De­
creto 7^, de 29-11-1940 e sôbre a administração municipal no
Estado, Decreto 23, de 27-12-1939, doou ao Instituto Histórico a
sua sede atual, Decreto 503, de 7-6-1938. Inaugurou o “Grande
Hotel”, 13-5-1939, instalando o Banco do Rio Grande do Norte
em seu edifício próprio, 14-1-1939. Inaugurou o Serviço de abaste­
cimento d’àguâ e rêde dé esgoto da cidade em 13-5-1939, tendo
despendido 12.000$. As vilas sedes de municípios que ainda não
eram cidades tiveram êsse predicamento pelo Decreto 457, de 29-3
de 1938, compreendendo Arez, Luis Gomes, Papari, Portalegre,
Sant’Antônio, S. Gonçalo, S. Miguel de Jucurutu (hoje Jucurutu),
S. Tomé, Serra Negra, Taipu e Touros. Fixou a divisão territorial
do Estado até 31-12-1943 pelo Decreto 603, de 31-10-1938. Criou
— 225 —

as vilas de Jardim de Piranhas, Almino Afonso, Epitácio Pessoa,


(hoje Pedro Avelino), Afonso Bezerra, Cerro Corá, S. Paulo do
Potengi, S. Rafael, Vitória. Criou o serviço de rádio na Fôrça
Pública Militar, com estações em Natal, Mossoró, Caicó e Pau dos
Ferros. Reformou os serviços sanitários da capital, construindo
novos pavilhões no Leprosário S. Francisco, reconstruindo o Cen­
tro de Saúde de Natal, com especializações técnicas e desdobra­
mento de atividades médicas, edifícios no interior do Estado; poços
tubulares, etc. Pelo Decreto 668, de 11-1-1939 aprovou e ratificou
o convênio entre os delegados do Rio Grande do Norte e Ceará
para definitiva delimitação da fronteira comum. As povoações de
Itaú (Apodi) e Ouro Branco, (Jardim do Seridó) passaram a
vilas. Criou o Serviço Estadual de Reeducação e Assistência So­
cial, Decreto-lei 191, de 12-3-1943 (passou a Departamento, lei
n* 421, de 7-11-1951»).
O Rio Grande do Norte possuia nessa época 21 comarcas
(quatro juizes na capital), 43 têrmos, 42 municípios, 42 vilas.
84 distritos, como categoria de circunscrições primárias do território
estadual para todos os fins da administração pública e da organi­
zação judiciária.
Mons. João da Matha Paiva teve ocasião de ligar o seu nome
às leis que elevaram à cidade as vilas de Flores, Patu, Augusto
Severo e S. Miguel. Autorizou um túmulo para Pedro Velho, lei
83, de 10-12-1936 e também a execução permanente da vacina
B.C.G. contra a tuberculose, lei 161, de 3-7-1936. Instituiu o
Congresso das Municipalidades, com reuniões anuais, infelizmente
desatendido.
O secretário Aldo Fernandes, como Interventor substituto,
regulou os processos administrativos pelo Decreto 394, de 21-12 de
1937, reformou as Escolas Normais, Decreto 411, de 17-1-1939,
criou a Comissão de Assistência ao Cooperativismo, Decreto 400,
de 5-1-1939, a Contadoria Geral do Estado, Decreto 15 e o Depar­
tamento das Municipalidades, Decreto 16, ambos de 16-12-1939, o
Hospital “Evandro Chagas”, Decreto 193, de 14-4-1943, destinado
ao isolamento de portadores de doença de notificação compul­
sória .
De 1939 em diante os cuidados maiores e essenciais do Go­
vêrno fixaram no estado de guerra, vigiando a tranquilidade pública
e procurando e escoamento dos produtos, no problema angustioso
de transportes e na balbúrdia do momento universal. Foi um auxi­
liar eficiente do Govêrno Federal nessa fase delicada e um cola­
borador sincero e patriótico das forças norte-americanas sediadas
em Pernamirim, afastando as dificuldades ao seu alcance e man­
tendo um ambiente inalterável de cordialidade.
— 226

VII
Até o final do govêrno interventorial os órgãos funcionais do
Estado do Rio Grande do Norte eram os seguintes :
Inlerventoria Federal.
a) Secretaria Geral do Estado.
b) Gabinete da Interventoria (Decreto n.° 409, de 12-1
de 1955).
c) Departamento das Municipalidades (Decreto 16, de
6-12-1939).
À Secretaria Geral do Estado, Decreto 239, de 30-6-1924, são
dependentes :
1 — Departamento da Fazenda, Decreto 239, 30-6-1924.
2 — Departamento da Segurança Pública, Decreto 239, de
30-6-1924.
3 — Departamento de Educação, Decreto 239, 30-6-1924.
4 — Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda,
Decreto 98, 27-6-1941.
5 — Departamento Estadual de Estatística, Decreto 358, de
9-12-1937..
6 — Departamento de Agricultura, Viação e Obras Públi­
cas, Decreto 404, 10-1-1933.
7 — Contadoria Geral do Estado, Decreto 15, de 6-12-1939.
8 — Fôrça Policial, Decreto 807, de 29-12-1939.
9 — Repartição do Saneamento de Natal, Decreto 338,
26-11-1937.
10 — Junta Comercial, Decreto 132, 13-9-1939.
11 — Serviço Estadual de Algodão e Classificação de Pro­
dutos Exportáveis, Decreto 105, 18-8-1941.
12 — Serviço Estadual de Estradas e Pontes, Decreto 112,
12-9-1941.
São autônomos: O Egrégio Tribunal de Apelação, criado pela
lei n.° 12 e instalado a 1-7-1892, e o Departamento Administrativo,
criado pelo Decreto-lei federal 1.202, de 8-4-1939 e instalado a
25 de julho do mesmo 1939. A Constituição Estadual de 1947,
cap. V, deu nova organização, suprimindo a Secretaria Geral e
os Departamentos e substituindo-as por Secretarias de Estado.

VIII
O general Antônio Fernandes Dantas, Interventor Federal,
governou de 3-7-1943 a 15-8-1945, sendo substituído nas ausências
pelo secretário geral, desembargador João Dionisio Filgueira.
— 227 —

A sêca não desaparecera e a raridade de transportes marí­


timos provocada pela guerra mundial (1939-1945), imobilizando
os produtos, fêz descer a arrecadação das rendas públicas, deter­
minando um deficit previsto em Cr$ 1.624.198,80. A indústria de
guerra salvou o Rio Grande do Norte. A riqueza incalculável dos
minérios teve sua ocasião de presença financeira e econômica, em
formidável incremento, trazendo milhões e milhões de cruzeiros
para a fortuna privada e reforçando, consideràvelmente, as finan­
ças estaduais. Por outra parte a guarnição militar, com milhares de
homens, a presença dos norte-americanos no aeroporto de Par-
namirim, elevaram em alto nível o desenvolvimento das vendas
mercantis pelas despesas naturais das unidades sediadas em Natal
e compras pessoais. Se, por um lado, êsse escoamento prodigioso
agravava o problema do abastecimento, por outra garantia a per­
feita estabilidade financeira do Estado e mesmo o aparecimento
de várias fortunas privadas.
Fernandes Dantas criou o Departamento do Serviço Público,
Decreto-lei n.° 320, de 6-9-1944 (extinto pelas disposições transi­
tórias da Constituição Estadual de 25-11-1947, art. 10), o Serviço
de Pronto Socorro, entregue à Sociedade de Assistência Hospitalar,
Decreto-lei n.° 263, de 8-2-1945, o Grupo Escolar Presidente
Roosevelt na povoação de Parnamirim, Decreto-lei nç 388, de 11-6
de 1945, percorrendo todo o Estado com atenção carinhosa pelos
interêsses coletivos. Os dois orçamentos do seu govêrno, 1943 (De­
creto-lei n.° 183, de 26-12-1942) e 1944, (Decreto-lei n.° 263, de
27-12-1943) comprovam essa ascensão: Receitas, Cr$ 24.188.00
para 28.167.00, despesas de 24.340,945 para 27.935,90.
O Dr. Georgino Avelino governou de 15 de agôsto a 7 de
novembro de 1945 quando o secretário geral, Dioclécio Dantas
Duarte, passou a administração ao novo Interventor.
Em tão curto período não era possível trabalhos maiores além
da rotina do despacho. Mas várias medidas foram tomadas e o
plano geral era excelente se tivesse sido objetivado.
A administração do des. Miguel Seabra Fagundes, 7-|1-1945
a 13-2-1946, menos de três meses, não permitiu realizações de
vulto. Criou o Serviço de Assistência a Psicópatas, Decreto-le;
n.° 526, de 1-3-1946 e o Departamento Estadual de Informações,
Decreto-lei n.° 476, de 13-12-1945 que tinha sido extinto, como
Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, pelo Decreto-
lei federal n.° 7.582, de 25-5-1945. Parnamirim, povoação nascida
ao redor do campo de aviação, possuia um Grupo Escolar criado
pelo Interventor Fernandes Dantas. Surje agora sua vida eco­
nômica, determinando a criação de uma Agência Fiscal, Decreto-
— 228 —

lei 528, de 2*4-1946. Organizou o orçamento para 1944, De­


creto-lei n9 479, de 14-12-1945, com a receita prevista em Cr$
37.817.400,00 e despesa de Cr$ 37.523.676,60.
Assumiu o novo Interventor, Ubaldo Bezerra de Melo, gover­
nando de 13-2-1946 a 15-1-1947. Em sua administração as finanças
estaduais expressam o mais alto cálculo de receita em tôda sua
história. De 37 para Cr$ 54.702.400,00, com a despesa prevista
de Cr$ 54.687.681,00; Decreto-lei n.° 670, de 30-12-1946, para
o exercício de 1947. Um saldo de Cr$ 16.885,00. Era apenas
uma dedução realística feita por um industrial, sabedor claro do
assunto, dando, corajosa e lealmente, um orçamento positivo, denun­
ciando a evolução financeira do Estado correspondendo ao seu
crescimento econômico. Arrecadou-se Cr$ 51.330.073,10. O ge­
neral Orestes da Rocha Lima, Interventor, administrou de 15-1
de 1947 a 31 de julho do mesmo ano. Criou a Faculdade de Far­
mácia e Odontologia, Decreto-lei n.° 682, de 3-2-1947. No seu
govêrno ocorreu a campanha eleitoral para o cargo de Governador
constitucional do Estado a 19 de janeiro de 1947. Os candidatos,
José Augusto Varela, médico, e o desembargador Floriano Caval­
canti de Albuquerque, tiveram partidários devotados e sonoros e
a luta sacudiu todo o Estado. O Interventor, pelo Decreto n.° 1 .t>28,
de 30 de julho declarou Festa Cívica o dia imediato, posse do
Governador, o. primeiro eleito pelo povo desde 31 de julho de
1927 (eleição de Juvenal Lamartine), vinte anos passados. O
Dr. Rafael Fernandes Gurjão o fôra pela Assembléia em 29-10
de 1935.
O Dr. José Augusto Varela assumiu a 31-7-1947 e governou
até 31-1-1951 quando, pela manhã, transmitiu o govêrno ao de­
sembargador Carlos Augusto Caldas da Silva, Presidente do Tri­
bunal de Justiça, (Constituição Estadual, 37 §• l.°). No mesmo
dia, à tarde, assumiu o Governador Jerónimo Dix-Sept Rosado
Maia, eleito a 3-10-1950.
O governador Varela teve como atos de maior expressão, a
Orgânica dos Municípios, lei 109, de 12-12-1948, Organização
Judiciária, lei 144, 23-12-1948, Divisão Territorial e Judiciária do
Estado, válida até 31-12-1953, lei n.° 146, 23-12-1948, Estatuto
do Ministério Público, lei 147, de 24-12-1948. Criou o Departa­
mento de Assistência aos Municípios, lei 115, de 15-12-1948, a
Faculdade de Direito, lei n.° 149, de 11-8-1949, com o Regula­
mento aprovado pelo Decreto 1917, de 31-12-1949, o Curso Nor­
mal Regional junto às Escolas Normais de Natal e Mossoró,
destinado ao preparo de regentes de ensino primário, lei n.° 204,
«de 7-12-1949, o Museu e Arquivo Público^ lei n.° 201, de 7-12-1949.
— 229 —

Elevou a Grupo Escolar as Escolas Reunidas de Pendência, Fer­


nando Pedroza, S. João do Sabugi, Jardim de Piranhas, S. Rafael,
Ipanguaçu, S. José de Campestre, Pedro Avelino, Portalegre,
Barcelona, Almino Afonso, Umarizal e Afonso Bezerra. O seu
último orçamento, lei n.° 178, de* 18-11-1949, para o exercício de
1950, teve como Receita prevista Cr$ 79.908.080,00 e a despesa
de Cr$ 79.647.984,50. Êsse orçamento foi prorrogado para 1951,
Decreto 2.049, 30-12-1950, por não ter sido enviado à sanção
até 15 de novembro o projeto remetido à Assembléia Legislativa
e nem promulgado até o encerramento da mesma.
A 31 de janeiro de 1951, perante a Assembléia Legislativa,
assumia o Sr. Jerónimo Dix-Sept Rosado Maia. Faleceu num
desastre de avião nos arredores de Aracaju, em Sergipe, a 12-7
de 1951. O vice governador, Dr. Silvio Piza Pedroza, que já o
havia substituído, tomou posse do cargo de Governador na Assem­
bléia Legislativa a 16-7-1951 para completar o qüinqüênio (Cons­
tituição Estadual de 1947, art. 40).
Os pontos essenciais no master plan administrativo do gover­
nador Sylvio Piza Pedrosa são : a) ampliação do sistema rodo­
viário c início da pavimentação das estradas, b) motomecanização
da agricultura, c) intervenção decisiva do poder público, fazendo
chegar ao agricultor ajuda sob tôdas as formas, d) criação de dez
Cursos Normais Regionais no interior do Estado (Nova Cruz,
Ceará-Mirim, Pau dos Ferros, Martins, Apodi, Florânia, Alexan­
dria, Angicos, Açu e Macau), e) o palácio do Instituto de Edu­
cação, Quartel da Polícia Militar e renovação material no apare-
lhamento dessa tradicional Fôrça, f) completa reforma no edifício
do Palácio do Govêrno, restituindo-lhe a feição nobre e simples do
seu estilo clássico e sua condigna reinstalação, g) interêsse ime­
diato pelo desenvolvimento cultural do Estado, prestigiando as
associações inteletuais. e dando apoio ao movimento literário e
científico provincial, h) reaparelhamento e atualização do meca­
nismo fiscal.
Criou as indispensáveis cadeiras de Ensino Rural, História e
Geografia do Rio Grande do Norte nas Escolas Normais de Natal
c Mossoró (Lei n.° 538, de 4-12-1951). De repercussão simpática
pelo seu sugestivo simbolismo foi o Decreto 2.273, de 6-9-1952,
instituindo o 15 de julho como o “Dia do Lavrador”.

NOTA ' ; ,'

(1) José M.B. Castelo Branco, «A República no Rio Grande do Norte»,


RIHGRGN, XLVIII-XLXIX. Luís da Câmara Cascudo, <A República no
Rio Grande do Norte, Diário de Notícias, 12-6-1937, Rio de Janeiro.
— 230 —

ADENDO
DA ATA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA EM NATAL

«ACTA DA PROCLAMAÇÃO DA REPUBLICA BRAZILEIRA NA PRO­


VINCIA HOJE ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.

Aos desesete dias do mez de Novembro de mil oito centos e nove no


Palacio da Presidencia desta Provincia onde achavão reunidos os cidadãos
abaixo assignados de accôrdo com o movimento republicano do Paiz repre­
sentado pelo Governo Provisorio estabellecido no Rio de Janeiro resolveram
prclamar a Republica dos Estados Unidos do Brazil nesta Provincia hoje Estado
do. Rio Grande do Norte o que sendo appoivado por todos com o maior
enthusiasmo e vivas demonstrações de regosijo publico, pelo Capitão Tenente
Leoncio Rosa foi acclamado Presidente o Doutor Pedro Velho de Albu­
querque Maranhão gue sendo unánimemente aceito no meio de acclamações
gerais assumiu administração e tomou posse dó Governo do novo Estado Norte
Rio Grandense que assim ficou installado do que para constar lavrou-se a
presente acta, que vai por todos os cidadãos presentes assignada. Eu cidadão
Joaquim Soares Raposo da Camara designado para escrever, a escrevi.
Dr. Pedro Velho d’Albuquerque Maranhão. — Leoncio Rosa. — Felippe
Bezerra Cavalcanti. — Augusto Severo d’Albuquerque Maranhão. — Alferes
do Exto. Joaquim d’Aboim Potengy. — Lourenço Glaydeerth da Costa. —
Emygdio Getulio de Oliveira. — J .......... Pinheiro da Camara. — J. Leitão
d’Almeida. — José Lucas da Costa. — ininteligível. — João Pedroza d’An­
drade. — Paulo Paes Barretto. — José Ignacio Pereira do Lago Filho. —
Joaquim C. Leitão d’Almeida. — José Francisco Ribeiro de Goes. — Luiz
E. de Miranda. — Francisco Salgado d’Albuquerque Maranhão. — Manuel
Augusto Carneiro Monteiro. — Clodomiro Nunes Belfors Ribeiro. — julião
Bento d? Costa. — Raymundo Xavier de Canto (?). — Galdino Sampaio.
— Paulino Ferreira da Silva. — Lupicino Antunes da Costa Barros. — João
Alves de Mello. — Manuel Salustiano Fernandes de Carvalho. — Antonio
Basilio Ribeiro Dantas. — Lourenço Justiniano Tavares de Hollanda. —•
André de Freitas Dornelas Camara. — Luiz Antonio Ferreira Souto. —
João Agostinho Carneiro Bezerra Cavalcanti. — Antonio.......... intraduzível.
— Thomaz José de Souza. — Thomaz Landim. — Manuel Felix Gitirana. —
Francisco Xavier de Lima Borges. — Joaquim José do Rego Barros. —>
Luiz Antonio Ferreira Souto Filho. — Luiz Antonio Ferreira Souto Netto.
— Alberto F. d’Albuquerque Maranhão. — Alferes Francisco de Paula
Fernandes Barros. — João André de Bakker. — Alberto Cavalcanti d’Albu­
querque Wanderley. — Heraclio de Araújo Villar. — Vicente Francisco
Coelho. — Bras F. Carneiro Vianna. .— José Rabello Alvares da Silva. —
Elpidio Genesio d’Oliveira Salles. — Theodulo Adolpho Raposo da Camara.
— A ........................ P ...................... Cavalcanti. — Jeronimo da Costa Lima
Junior. Joaquim .................... .. F da Costa. — Pedro Teixeira de Araujo. —
Francisco de Paula Moraes Barros. — Pedro Barreto de Meneses. — Feliciano
H .............. P.............. — Antonio Joaquim de ................. A .............. Costa.
— Dr. Antonio Antunes de Oliveira. — Tertuliano da Costa Pinheiro Filho.
•— Juvino Casar Paes Barreto. — Antonio F. de Oliveira. — Pedro do
Rsgo Barros Cavalcanti. — Candido José de Mello. — José Dias Pimenta. —
José Pereira da Rocha. — ilegível. — João Damasceno Freire. — Manuel
Antonio Chaves. — Francisco Amyntas da Costa Barros. — José Gervasio
de Amorim Garcia. — Antonio Elias de A. França. — Antonio de Paula
Oliveira Villas-Boas. — Alfredo Estanislau Cordeiro. — Benedito Ferreira
da Silva. — Antonio Pereira Peixoto. — Diocleciano José Romeiro. —
— 231

Possidonio Ximenes de Oliveira Melo. — Emidio Pereira Barbosa. — José


Bezerra da Silva Grilo. — João Augusto Carneiro Monteiro. — Joaquim
José Gomes. — Francisco Gomes da Silva. — Joaquim Torquato Barbosa.
— Manuel Carneiro Nunes. — Tertuliano Pinheiro. — Luiz .............. Leite.
— Joaquim Nogueira de Araújo Tinoco.- — José Hipólito da Silva. —
Américo Vespucio Simoneti. — José Sabino Ferreira da Silva. — Luiz Emidio
Pinheiro da Camara. — José Moreira Brandão Castelo Branco. — Luis
Vossio Brigido. — Nicolau Bigois. — Urbano Joaquim de Loiola Barata. —
Dr. João C. Ribeiro Dantas. — José Mendes da Costa Jor. — André Gomes
da Silva Filho. — Adelino Maranhão. — ilegível. — Eneas L (eocracio de
M (oura) Soares. — João Lindolfo Camara. — Alexandre James Ó^Grady.
— Mel Claudiano Lucas da Silva. — ilegível. — José Candido Alvares de

M .................. — J .................. Castro. — Silvino Domingos da Silva. —


José Bernardo de Medeiros. — João Francisco .......... Sales. — Placido
Pinheiro da Camara. — Joaquim Apolinar Fernandes de Medeiros. — Manuel
Onofre Pinheiro. — Antonio Fernandes Junior. — Raimundo Bezerra da
Costa. — João Batista de Barros e Silva. — Aprigio Carlos de Amorim
Garcia. — Manuel Gonçalves Ferreira. — Evaristo Leitão de Almeida. —
José Rodrigues Leite. — Pedro Fernandes da Camara. — Augusto Cezar
Leite. — Alberto Amorim Garcia. — Emidio Bezerra Cavalcanti. — Antonio
Xavier do S .............. — Teodosio Soares de Oliveira. — Luiz Ferreira de
França. — João Nepomuceno Seabra de Melo. — Dr. José Calistrato Car-
ri’ho de Vasconcelos. — Fernando Cerqueira Carvalho. — José Joaquim das
Chagas Junior. — José Xavier de Souza. — João Estevão Barbosa. — João
Berra de Vasconcelos. — Joaquim Campos Café. — Antonio Bezerra de
Oliveira Cordeiro. — Joaquim José de Sant’Ana Macaco. — Pedro Bandeira
Cavalcanti. — Manuel do Nascimento Castro e Silva. — José Alexandre
Bezerra — Teodosio Mateus da Rocha Bezerra. — Amorim Guimarães. —
Manuel Gabriel de Carvalho.............. — Francisco Tomás de Oliveira Melo.
— Eutiquiano de Amorim Garcia. — Marcelino Soares de Paiva. — Lourenço
Leão de Oliveira Correia. — Teofilo Cristiano Moreira Brandão. — José da
Costa Pereira. — Fabricio Gomes Pedrosa. — Tenente Francisco de Paula
Moreira. — Pedro Paulo A de Melo. — Manoel Lins Caldas Sobrinho. —
Germano Antonio M.............. Augusto de M.L.Eraistre. — Joaquim Diogo de
Novaes Newton. — Manuel Joaquim de Amorim Garcia. — José T...........................................

Freire. — Felipe Leinhard. — Pe. José Paulino de Andrade. — Miguel


P. Cavalcanti Lobo. — José Joaquim de Carvalho Araujo. *— Luiz Fernandes
Torres Marinho. — Manuel Joaquim da Costa Pinheiro. — Lyle Nelson. —
Enéas ^Américo de Medeiros. — José Marques Avila. — José Francisco E.
Lima. — M. de Carvalho e Souza. — José Dubeux. — José Francisco
d’Albuquerque. — João Duarte da Silva. — J. Vitoriano de Vasconcelos
Pereira. — Francisco Heroncio de Melo. — Dr. Luiz Car1 os Lins Wanderley.
— Candido Antonio do Sacramento. — Joaquim Inacio Rodrigues P ..............
— João Carlos Wanderley. — José Domingues de Oliveira. — Francisco
Gomes da Rocha Fagundes. — Paulino José Ribeiro. — João Augusto
Rib .......................................... B ............................... — José Rufino da Costa Pinheiro. — Luiz Dantas

C. Neto. — Antonio Luiz de Siqueira M .............. Antonio José I ..............


— Dr. Manuel Segundo Wanderley. — Celestino Carlos Wanderley. —
Joaquim Manuel T de Moura. — Antonio Vitor M. Brandão. — Ibralino
Augusto de M. Vilarim. — João Guilherme de Souza Caldas. — José Fran­
cisco d’Albuquerque Filho. — Francisco Xavier de Freitas. — Pedro Eudoxio
de Miranda. — Joaquim Lóurival S da Camara. — Leonardo Maracajá. —
Pedro d’Alcantara Deão. — Abel Amador A. Soares. — Bel. Antonio
Jeronimo de Carvalho. — Miguel Augusto Seabra de Melo. — João Climaco
da Costa Monteiro. — Manuel Augusto de Carvalho. —.......... Marinho de
Carvalho. — Emidio Augusto de Oliveira Sucupira. — Raimundo Antunes de
— 232 —
Oliveira. — Amaro Barreto d’Albuquerque Maranháo. — Antonio Joaquim

Teixeira de Carvalho. — Francisco de Moura Cabral. — Miguel Pessoa

d’Araujo Tavares. — João Manuel de Araujo Costa Júnior. — ilegível. —

Valviano R.......................................... D.................................................. (?) . — Aleixo Barbosa da Fonseca Tinoco.

— Tomas Mendes da Costa. — José Amintas da Costa Barres. — Luiz

Afonso d’A'buquerque Maranhão. — ilegível. — J. Flavio.......................................... França. —•

Joaquim P. da Rocha Fagundes. — Francisco João de Souza. — Kelmr.no

Pegado Cortez. — Elias Cardozo de Souza. — Cassiano José de Meio Pinío.

— Pedro José d’Oliveira Pernambuco. — Urbano Hermilo de Melo. —

Joaquim M ........................................... Leite (?) . — João Carlos S. da Camara. — Heme-

negiîdo Fer .......................................... Braulio de M ........................................... — José Alexandre Seabra de

Melo. — Arsenio Celestino Pimentel de . ......................................... (ilegível). — Manuel

Joaquim de Carvalho e Silva. — Americo Xavier Pereira de Brito. — José

Joaquim Nobre Camara. — Manuel Alves de M. Castro. — João da

Fonseca Silva Sobrinho. — Basilio Soares da Camara Pinto. — João de

Arruda Camara. — Manuel Nobre. — Antonio A ........................................... da Rocha. —

Diogenes Celso da Nobrega. — José Augusto de Souza. -

Cópia fiel e teimosa tentativa de leitura às assinaturas autografas, algumas

hierografadas para delícia da paleografía desocupada e provinciana.

P.e!a primeira vez a Ata da Proclamação da República em Natal é

publicada com tôdas as assinaturas. Original do meu arquivo.

CONSTITUIÇÕES DO RIO GRANDE DO NORTE

1 — 20 de janeiro de 1891. (Decreto 91 do gov. Nascimento Castro).

2 — 21 de julho de 1891. (Chamada «Constituição de Miguel Castro»).

3 — 7 de abril de 1892. («Constituição de Pedro Ve’ho»).

4 — 11 de julho de 1898. (reforma Ferreira Chaves).

5 — 25 de março de 1907. (Antônio José de Melo e Souza).

6 — 25 de março de 1915. (Ferreira Chaves) .

7 — 23 de agôsto de 1926. (José Augusto Bezerra de Medeiros).

8 -- 22 de fevereiro de 1936.

9 — 26 de outubro de 1945. (A Polaquinha) .

10 — 25 de novembro de 1947.

BRASÃO D'ÄRMAS DO ESTADO. ESCUDO D'ARMAS DA CIDADE

DO NATAL. HINO E BANDEIRA

Decreto n.° 201, de l.° de Julho de 1909

Cria o Brasão d'Armas do Estado do Rio Grands do Norte


O Governador do Estado do Rio Grande do Norte, tendo ouvido a

respeito o Instituto Histórico e Geográfico

Decreta :

Art. I»9 O brasão d’armas do Estado do Rio Grande do Norte é um

escudo^ em campo aberto, dividido a dois terços de altura, tendo no plano

inferior o mar, onde navega uma jangada de pescadores, que representam

as indústrias do sal e da pesca. No têrço superior, em campo de prata, duas

flores aos lados e ao centro dois capulhos de algodoeiro. Ladeiam o escudo

em tôda a sua altura, um coqueiro à direito e uma carnaúba à esquerda, tendo

os troncos ligados;por duas canas de açúcar, presas por um laço com as

cores nacionais. Tanto os móveis do escudo, como os .emblemas em cores


— 233 —

naturais, representam a Flora principal do Estado. Cobre o escudo uma


estrela branca, simbolizando o Rio Grande do Norte na União Brasileira.
Art. 2.® O desenho original dêste brasão d’armas, executado pelo
Sr. Corbiniano Vilaça, será arquivado na Secretaria do Govêrno e dêle se
tirará uma cópia autêntica para o Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico
do Estado.
Art. 3.® Revogam-se as disposições em contrário.
Palácio do Govêrno do Estado do Rio Grande do Norte, 1.® de julho de
1909, 21.® da República.
Alberto Maranhão.
Henrique Castriciano de Souza,

* •»

ESCUDO D’ARMAS DA CIDADE DO NATAL

A Intendencia do Município de Natal, tomando em consideração o parecer


do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, com respeito
à necessidade de adotar-se um escudo de armas da cidade à semelhança do
que se tem praticado em outras capitais dos Estados da Uiüão,
Resolve :
Art. 1.® O escudo de armas da Cidade do Natal será o seguinte: Em
campo azul, uma estréia caudada de ouro; por timbre, a coroa simbólica da
cidade marítima; por moto, num listrão azul, em baixo do escudo, a pa'avra
NATAL, cm letras de ouro; tudo de acordo com o plano aprovado pelo
Instituto Histórico do Rio Grande do Norte e modêlo arquivado nesta Secre­
taria.
Art. 2.® Revogam-se as disposições em contrário.
Sala das Sessões da Intendência do Município de Natal, em 23 de agôsto
de 1909. — Joaquim Manuel Teixeira de Moura, Presidente. — Teodosio
Paiva. — Dr. Pedro Soares de Amorim. —* Padre José de Qalazans Pinheiro.
— Miguel Augusto Seabra de Melo.
*
* *
HINO E BANDEIRA DO RIO GRANDE DO NORTE

O Hino do Rio Grande do Norte não mereceu decreto oficializador.


Existiu, historicamente. Foi composto em 1911 pelo maestro Nicolino Milano,
brasileiro nato, para as solenidades comemorativas do terceiro aniversário do
govêrno de A berto Maranhão e teve letra do poeta Gotardo Neto (1881-1911).
Há outra letra, de Nestor dos Santos.Lima. Em 1922 o maestro Luigi Maria
Smido orquestrou-o e foi mandado imprimir pelo Diretor Geral da Instrução
Pública e regularmente cantado nas escolas. Depois, o hino caiu no esque­
cimento ...
Não há notícia de Bandeira do Rio Grande do Norte na legislação estadual
ou noticiário de jornais.
Existe o Estandarte distintivo da Polícia Militar do Estado, criado pelo
Decreto n.® 2.161, de 4-9-1951 e a Insígnia do Comando Geral da mesma
corporação, Decreto n.° 2.162, de 4-9-1951.
*
♦ ★
— 234 —

A PARTICIPAÇÃO NORTE-RIO-GRANDENSE NA GUERRA DE 1942-45.

Entre os 23.702 pracinhas de todos os Estados do Brasil constituindo a


Fôrça Expedicionária Brasileira estavam trezentos e quarenta e um norte-
rio-grandense. O l.9 sargento Rodoval Cabral da Trindade, do 6.9 Regimento
de Infantaria, faleceu em consequência de um acidente de jeep a 6-6-1945.
Tinha as hieda^as de Campanha e Cruz de Combate de segunda classe.
Teve papel de realce na batalha de S. Quiricio, a 31-10-1944. O 3.® sargento
Wilson Viana Barbosa, do 1.® Regimento de Infantaria, foi dado por desapa­
recido desde 12-12-1944 nas operações de Itália. Medalha de Campanha
e Cruz de Combate de segunda classe, «por uma ação de feito excepcional na
campanha da Itália». Expedicionário José Varela, do b® Batalhão de Saúde.
Morreu no combate de Móntese, Itália, a 14-4-1945. Medalha de Campanha,
Sangue do Brasil e Cruz de Combate de segunda classe, «por uma ação de
feito excepcional na campanha da Itália». Há uma rua com o seu nome no
bairro das Rocas em Natal. Expedicionário Manuel Lino Paiva, morto na
batailla de Móntese a 14-4-1945. Medalha de Campanha e Cruz de Combate de
segunda classe, «por uma ação de feito excepcional na campanha da Itália».
O l.\ 3.° e 4.® foram sepultados no Cemitério Militar Brasileiro-de Pistoia.
CAPÍTULO IX

{I) Início histórico. As três Dioceses. (II) Aldeias e


Missionários. (Ill) As Paróquias vivas. (IV) Re­
ligiões acatólicas.

NOTAS AO CAPÍTULO NONO


I

Na conquista do Rio Grande do Norte os serviços da assistên­


cia religiosa estavam confiados aos jesuítas Gaspar de Samperes
e Francisco de Lemos e aos franciscanos freires Bernardino das
Neves e João de S. Miguel. Em junho de 1598, terminado o
Forte, voltaram chefes e soldados e ficaram os jesuítas Samperes e
Lemos na luta da catequese, reunindo-se-lhes o Pe. Francisco Pinto,
jesuita que se popularizou entre a indiada que o chamava Pai
Pinto e o apelidaram “Amanaiara”, senhor da chuva, porque q
supunham dispor dos elementos naturais. Seria supliciado pelos
Tocarijus na serra da Ibiapaba. Batizou o potiguar Antônio
Felipe Camarão no aldeamento de Igapó, ou melhormente, Aldeia
Velha, na margem esquerda do Potengi, olhando a cidade do
Natal ( 1 ).
O “Auto de repartição das terras’’, lavrado na cidade do
Natal do Rio Grande em 21-2-1614, regista uma “data” de duas
mil braças de terra pertencente ao Padre Vigário Gaspar Gon^
çalves da Rocha em 24 de abril de 1601. É a mais antiga menção
do primeiro viguairo, dois anos após a fundação da Cidade.
Serafim Leite S.J. mostrou que os Jesuítas pastoreavam o
rebanho antes e depois da criação da freguesia, em data ignorada
até hoje. Padre Gaspar de Samperes esteve quase sempre em
Natal e temos sua presença nos anos de 1606 e 1616. É o autor
da planta do Forte dos Reis Magos. Faleceu em 1635, exilado
pelos holandeses, em Cartagena de índias, Colômbia. Êle e o
padre Diogo Nunes tinham batizado o velho Potiguaçu, o Camarão-
Grande, chefe dos potiguares na época da colonização. Depois
do Vigário Gaspar Gonçalves da Rocha só aparece nome de
pároco em *1645, com o padre Ambrosio Francisco Ferro, trucidado
pelos Cariris Janduís, a mando dos holandeses, no massacre de
Tinguijada, em Uruaçu, a 3-10-1645. De 1614 a 1645 nada
sabemos. Outros nomes de sacerdotes surgem no mesmo “Auto
de repartição”, como André de Soveral, paulista, mártir em
Cunhaú, quando celebrava a missa no domingo 16 de julho
de 1645.
— 238 —

O superior eclesiástico seria o administrador da Prelazia de


Pernambuco, criada em 15-7-1614 pelo Papa Paulo V, separada
do Bispado da Bahia, sede do nosso Ordinário até essa data. O
Prelado, padre Antonio Teixeira Cabral, residia na Paraíba,
superintendendo de Itamaracá ao Rio Grande do Norte. Em 1618
ainda o Brandônio, dos “Diálogos das Grandezas do Brasil”,
informava : — “no espiritual é esta capitania da Paraíba cabeça
das demais, da parte do Norte, de Pernambuco adiante. ” D. Mar­
cos Teixeira, quando assumiu o Bispado da Bahia estava autori­
zado a jurisdicionar religiosamente Pernambuco, endossado depois
pela carta régia de 8-2-1623. Voltamos assim a pertencer ao
Antístite baiano.
Pela bula Ad sacram Beati Petri, de 16-11-1676, o Papa
Inocencio IX criou a Diocese de Olinda. O primeiro Bispo, dom
Estevão Brioso de Figueiredo, o Rio Grande visitou entre 1678,
quando assumira em abril, e 1679 mais provàvelmente. Até o
século XIX fomos, pelo religioso, ovelha mimosa do redil pernam­
bucano .
O Papa Leão XIII pela bula Ad Universas Orbis Ecclesias,
de 27-4-1892, deu nova organização à hierarquia católica, criando
quatro novas dioceses, entre estas a da Paraíba, desmembrada do
Bispado de Pernambuco, dividindo o Brasil em duas provincias
eclesiásticas; a meridional, com sede metropolitana no Rio de Ja­
neiro, e a setentrional, sendo metropolita o prelado da Bahia. O
Rio Grande do Norte se encontrou incluído na Diocese, da Paraíba,
Ad efformandam autem aliam novam Parahyben Diocesim, terri'
toriam status cognominis et Fluminis Magni nordici, quae Pernam*
bucensis Diócesis partem in praesens constituunt, item perpetuo
distrahimus, illique attribuimus, explicava a Bula. O Bispado da
Paraíba passou a Arcebispado a 6-2-1914 por ato do Papa Pio X.
Foi nossa metrópole eclesiástica até a Bula de 1-3-1952 do Papa
Pio XII, elevando a Diocese de Natal a Arquidiocese.
O Papa Pio X pelas letras apostólicas Apostolicam in singulis,
de 29-12-1909, cumpridas pelo decreto executivo de 19-10-1910,
do núncio apostólico Alexandre Bavona, criou a Diocese de Natal,
nomeando-se o Bispo da Paraíba administrador apostólico.
Dom Joaquim Antônio de Almeida, norte-rio-grandense de
Goianinha, então Bispo do Piauí, foi transferido para a nova
Diocese, tomando posse a 15-6-1911. Resignou a 15-6-1915.
D. Antônio dos Santos Cabral, sergipano de Propriá, foi o
2.° Bispo, posse a 30-5-1918, sendo transferido a 21-11-1921 para
a recém criada Diocese de Belo Horizonte. Tomou posse em 17-6
de 1923 o 3.° Bispo, dom José Pereira Alves, pernambucano de
— 239 —

Palmares, transferido para a Diocese de Niterói a 27-1-1928. Dom


Barcolino Esmeraldo de Souza Dantas, 4.° Bispo e l.° Arcebispo,
tomou posse a 29-6-1929. Êsse ilustre prelado, baiano de Inham-
bupe, deve ser credor da gratidão católica do Estado pela exce­
lência de suas virtudes.
O Papa Pio XI pela bula Pro Ecclesiarum omnium, de 28-6
de 1934, criou o Bispado de Mossoró, sendo seu l.° Bispo dom
Jaime de Barros Câmara, assumindo a 26-4-1936. Transferido
para a Arquidiocese de Belém do Pará em 1941 e desta para o
do Rio de Janeiro, é o 3.° Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro.
O 2.° Bispo de Mossoró. D. João Batista Porto Carreiro
Costa, tomou posse a 8-12-1943. Renunciou em 1953.
O 3? Bispo, D. Eliseu Simões Mendes, tomou posse a
20-2-1954.
A bula E Diocesibus, de 25-11-1939, criou o Bispado do
Caicó.
O l.° Bispo foi dom José de Medeiros Delgado, posse a 26-7
de 1941 até 1951 quando foi eleito Arcebispo do Maranhão.
Substituiu-o dom José Adelino Dantas, norte-riograndense, eleito
em junho de 1952, então Reitor do Seminário de Natal, poeta
latino eminentíssimo e de alta dignidade sacerdotal, jornalista e
acadêmico. Sagrado em Natal, a 14-9-1912, na praça onde se
fundara a Cidade, tomou posse em Caicó a 20-9-1952.
II
Numa “Informação geral da Capitania de Pernambuco**,
resumo que abrange até 1749, sabemos que o Rio Grande do
Norte possuia cinco aldeias indígenas sob a difeção dos sacerdo­
tes. Os jesuítas tinham S. Miguel de Guagiru (a futura Estremoz)
e S. João Batista de Goaraíras que depois seria a Vila de Arez.
Os Capuchinhos estavam na aldeia de Mipibu (S. José). A
aldeia do Apodi estava confiada a um missionário de Santa
Tèreza, Carmelita descalço. A Aldeia de Gramació a um missio­
nário do Carmo da Reforma, isto é, dos Carmelitas da reforma
Turônica ou Turonense, cuja sede em Pernambuco era o con­
vento de Goiana. Os missionários empregados eram dedicados e
tenazes. Não tivemos, como os paraibanos, o labor dos Benedi­
tinos. Não me consta serem os presbíteros de S. Pedro, padres
seculares, empregados no serviço dos aldeiamentos. Eram em
geral os vigários. Ou melhor, ajudavam o único vigário em todo
o século XVII e meados do XVIII.
Jesuítas — Quando foram expulsos de suas aldeias-em Estre­
moz e Arez, ou sejam S. Miguel de Guagiru e S. João Batista de
Goaraíras, os jesuítas deixaram um verdadeiro recenseamento,
— 240 —

referindo-se ao estado de ambos. Ê uma visão da atividade total


dêsses incomparáveis trabalhadores.
Estremoz Arez
Rendimentos dos dízimos .............. .. 101 $040 115$000
Rapazes na escola ................................... 147 87
Moças aprendendo a cozer, tecer e fiar
na Missão.................................... 63 89
Rapazes aprendendo ofícios ................... 8 9
Número de casais .............................. 319 284
Número de almas .................... -........... 1.429 949
Pobres de ambos os sexos ................ 7 69
Rapazes e moças solteiras .................. 765 362
Companhias ............................................... 7 6
Número de praças nas Companhias .. 350 300
Escravos de ambos os sexos................... 15 Não
S. Miguel de Guagiru e Arez surjem durante a guerra dos
“Bárbaros”. Em 1689 S. Miguel estava sob a direção do padre
Gaspar da Silva. Em 1755 terminaram a grande igreja, barroca,
ampla e severa, a mais linda da Capitania. Havia a residência e
ao meio da praça o Hospício, hospedaria para viajantes e pobres,
transformada em Cadeia quando a aldeia passou a Vila del-rei.
A Igreja, severa e nobre, veio desmontada, com as pedras com
números e foi armada, soberba, com alto frontão cuja cimalha
guardava os ornamentos conchiformes. Lembrava as construções
fraternas do território das Missões no Rio Grande do Sul.
Já em princípios de 1691 havia o aldeamento de S. João
Batista de Goaraíras, onde nasceu a Vila de Arez. A Igreja,
maior que a de S. Miguel, não era tão majestosa. Resiste ainda
com suas parêdes de fortaleza, sua residência lateral, suas celas
humildes e a fama infalível de tesouros enterrados. Ambas tiveram
os cuidados humanos pela fuga oportuna. Foram construídas com
subterrâneos, ambas num alto dominador, olhando a prata imóvel
das lagoas. Em S. Miguel o caminho subterrâneo liga a residência
a uma saída à margem da lagoa e esta ao mar pelo canal do rio
Doce ou Redinha. A de Arez, o subterrâneo finda na lagoa de
Goaraíras e esta ao mar pelo Tibau. O mais antigo nome de
superior em Guaraíras é o padre Sebastião de Figueiredo. Parese
que a Igreja de Arez é bem anterior a de Estremoz. Esta, nos
tijolos que descobri, numerosos, será de 1755 ou pouco antes.
A de Arez já era citada em 1703 pelo Ouvidor Geral Cristóvão
Soares Reimão quando mediu as terras do Munin.
De 10*1*1700 a 1712 os jesuítas estiveram no Apodi e na*
quela data fundaram o arraial de S. João Batista do Apodi, com
— 241

os Paiacus. Lá morreu, exausto e ferido, o jesuíta Bonifácio Tei­


xeira que podia afirmar o moto evangélico do in finem dilexit.
Onde estavam as outras missões e aldeamentos jusuíticos?
De uma carta enviada a D. João V, em 27-1-1714. o sargento-mor
do Têrço dos Paulistas no Açu, José de Moraes Navarro, solici­
tando soldo ininterrupto para os Paiacus, pelo muito serviço que
prestavam, informava ao Rei que êsses indígenas, Paiacuaçus lhes
chama o sargento-mor, refugiaram-se numa, aldeia de índios admi­
nistrada por Padres da Companhia que do Arraial dista dez léguas.
O Arraial era o Açu, entregue no tocante aos serviços religiosos,
ao jesuíta Miguel de Carvalho, tão prestigioso junto ao Govêrno
que para com mais autoridade lhes fêz mercê de nomear a seu
irmão Antônio de Carvalho e Almeida por Capitão-Mor do Rio
Grande. Há no município de Angicos um topónimo que possivel­
mente identifique o local. Dizem Curral dos Padres. Curral é
sinônimo do que dizemos hoje fazenda, criação de gado. Padres é
quase o mesmo que jesuíta porque os demais missionários eram
frades
Carmelitas — O Pe. Frei André Pratz, O. Carm, em nora
amável, informa-me que os Carmelitas Terezios ou Descalços,
chegados a Pernambuco em 1680, tiveram grandes missões, no
rio de S. Francisco umas onze, administradas até 1711 quando,
oor ordem real, entregaram-nas aos Capuchinhos. Em lb77 os
Carmelitas pediram e alcançaram do Padre Provincial Francisco
Vidal de Negreiros, licença para adotar e seguir no convento de
Goiana a Reforma Carmelita, não a de Santa Teresa d’Avila mas
a que, consentida pelo Santo Padre, se iniciara em França no ano
de 1636, entre os Carmelitas da Província Turônica ou Turo­
nense . Essa Reforma, abraçada pelo Convento de Goiana em
1677, loi aceita por outros conventos da Paraíba e Recife e alguns
Hospícios de Pernambuco somente. Êsses Carmelitas de Reforma
Turonense possuiam em 1740 três missões indígenas: duas na
Paraíba (baía da Traição e Preguiça e Montemor, perto de Ma-
manguape) e uma no Rio Grande do Norte, em Gramació, con­
forme o Livro do Tombo do Convento do Carmo do Recife,
fis. 20. O. Na fachada da Igreja de Vila Flor, que é o antigo
aldeamento à margem direita do rio Gramació, há uma inscrição
assim : — “2Vo anno de 1743 Governor. do Sup. Pe. notor. P ,F.
André do Sacramento principiou esta egreja e acabou cm janeiro
de 3 745. Reedificada na adm de Francisco Xavier de Mattos, no
anno de 1843. (*) As letras P.F. são abreviaturas de “Padre
(*) A l.° linha poderá ser lida assim: — no ano de 1743 governando

a superiõi ordem Padre Frei André do Sacramento ...”


— 242 —

Frei” e André do Sacramento seria frade carmelita já erguendo


a Igreja nas terras entregues à sua Ordem três anos antes. Será
êsse o primeiro iniciando a série dos futuros vigários.
Nas notas,enviadas pelo rev. Pe. Frei André*Pratz encontro:
— “Santa Luzia. Neste lugar existe uma Capela, distante do mar
mais de sete léguas, fundada pelos Carmelitas. Êste lugar deno­
minarse hoje, Carmo.”
A tradição aponta vários pontos do domínio carmelita na
ribeira do Mossoró.
É a serra do Carmo, o rio do Carmo, sinônimo do mesmo
Rio Upanema tio trecho paralelo à serra do Carmo, os lugares
“Frei Antônio” e “Amaro”, com as infalíveis lendas de ouro
escondido e sonhos reveladores, teimosos e ineficazes. No lugar
“Amaro” dizem ter havido Capela e mesmo Convento, possivel­
mente mera residência. Ainda em . 18-4-1702 uma carta . régia
mandava agradecer a Lopo de Albuquerque, que estava na ribeira
do Upanema, os auxílios prestados aos missionários e a boa von­
tade * com que se esforçava para o desenvolvimento das missões
pelas partes da vizinhança.
Que missões seriam essas do Upanema ?
Sob a direção dos Jesuítas pela proximidade do maior
núcleo povoado que era o arraial do Açu ou na jurisdição dos
Carmelitas que andavam calcando as areias mossoroenses com
as sandálias incansáveis ? Não tenho elementos para responder.
Os Carmelitas foram proprietários nessa região. A 26-9-1701
o Capitão General de Pernambuco concedia três léguas de terras
ao Convento do Carmo do Recife no rio Upaneminha. Vimos
que êles missionavam em 1749 duas aldeias, Gramació e Apodi.
Possuiram a fazenda “Carmo” e oficiavam na Capela dessa pro­
priedade, como em tôda a ribeira do Mossoró, com permissão dos
vigários do Apodi. Entre os frades mencionam a Frei Antônio
da Conceição, administrador do “Carmo”, falecendo velhinho e
sendo sepultado dentro da Capela de S. Luzia, a futura catedral
do Mossoró. Citam ainda a Frei José dos Santos Elias, Frei
Francisco de Santa Teresa, Frei Vicente de Santa Eufrázia todos
entre 1772 e 1845. Frei Antônio da Conceição fizera o primeiro
casamento na Capela de Santa Luzia do Mossoró a 6-10-1778,
sendo os nubentes Gregorio da Rocha Marques e Francisca Nunes
de Jesus, com a licença do vigário do Apodi, padre João de Paiva.
Foram testemunhas, o tenente coronel Regente Francisco Ferreira
Souto, português, residente no Mossoró, e Antônio Afonso da
Silva, morador no Panema, segundo notas do pesquisador Francisco
Fausto que me foram comunicadas por Vingt Un Rosado. Os
casamentos anteriores realizavam-se nos sítios e fazendas dos arre­
dores. Na próprja cidade de Mossoró, no bairro «Paredões», há
— 243 —

lembrança de uma “Casa de Orações”, de tijolo, coberta de palha,


feita pelos Carmelitas.
Possivelmente os Carmelitas que estavam em Gramació reti­
raram-se depois da fundação dá Vila Flor em 1769. Os Carme­
litas do Apodi foram os sesmeiros do rio Upaneminha, constru­
tores de capelas, donos de fazendas de repouso. Já em fevereiro
de 1703 o Padre Frei João da Purificação pedia ao Capitão-Mor
Sebastião Nunes Colares mais umas beiradas de três léguas,
começando da sesmaria que já tinham e onde se erguiam os
currais de gado do Convento. Os Carmelitas do Carmo da Re­
forma (Turonense) eram os de Goiana e ficaram em Gramació,
depois Vila-Flor. Os Carmelitas do Apodi eram do Convento de
N. Sra.» do Carmo do Recife.
Capuchinhos — Localizaram-se em S. José de Mipibu,
antiga aldeia indígena de Mipibu ou Mopubu, invocação de San­
tana e povoada pelos caboclos de língua geral, o que vale dizer
tupis. Sabemos que não havia homogeneidade nessa população
ameríndia. Vários «saldos» cariris foram enviados para essa po­
voação .
A recjião foi povoada, numa área vasta, desde o século XVII*
Em carta de 22-1-1689 o Senado da Câmara de Natal pedia aó
Bispo de Pernambuco um padre, informando que nesta Capitania
há uma paragem em o meio dela a que chamavam Mopebu donde
há uma Capela em que se administravam os sacramentos aos mo­
radores desta Ribeira, denunciando vida social em via de organi­
zação, tendo local fixo para devoção. O des. Luís Fernandes
noticiava : — “Já no ano de 1703 existia a aldeia de Mopebu,
fundada por cima das nascenças do pequeno rio de igual nome
e precisamente no mesmo sítio que ocupa hoje a Cidade. “O
aldeamento tinha meia légua e 168 braças de largura por uma
légua de longo, com 57 casais indígenas. A «demarcação prin­
cipiou à margem leste da lagoa do Puxi onde se fincou um
marco da pedra lavrada em quina viva com as seguintes letras,
escritas em quatro regras: INDIOS DE N.S. DO O DE MO-
PEBII A M DCC III, que querem dizer: índios de Nossa Senhora
do O de Mopebu, ano de 1703. Esta demarcação foi feita pelo
Juiz Sesmeiro, Dr. Cristovão Soares Reimão, em presença do
Governador da aldeia, Francisco da Silva” (2) . Em setembro
de 1736 o capuchinho frei Próspero de Milão, missionário local,
solicitava 860 braças de terra que faltavam para a légua quadrada
prometida pelo Rei aos aldeamentos indígenas (Carta Régia de
23-1-1700), o que lhe foi deferido e o terreno demarcado. Cons­
tituída em Vila de S. José do Rio Grande em 22-2-1762 termina
nesta data a assistência dos Capuchinhos, entregues os indígenas
— 244

aos seus próprios cuidados e à ganância insaciável dos adminis­


tradores civis que devoraram o patrimônio dado pelo Rei sob jurí­
dicos e sonoros propósitos de melhor defesa e resguardo aos espo­
liados aborígenes.
A tradição oral diz ter o missionário Capuchinho muaado
o nome de lagoa Puxi, como registara o mapa de Marcgrav em
1643, para Bonfim, mantido até o presente.
Há outra tradição da pegada capuchinha no agreste norte-
rio-grandense. Ferreira Nóbre, narrando a história de Canguare­
tama, escreve: — “O terreno desta vila foi descoberto em 1658
por um bando de Paiaguás (índios canoeiros). Seu primeiro
estabelecimento foi em um cerrado bosque, que os descobridores
denominaram — Aldeia Flor. No ano de 1661, um Missionário
Capuchinho visitou essa Aldeia, e aí plantou a Luz do Evangelho
e as sementes da civilização” (3). Adianta o autor que essa
parte houve da “História'* de Basilio Quaresma Torreão.
Tôda a região, diga-se de passagem, estava trilhada e retri-
Ihada antes, durante e depois do domínio holandês, 1633-1654.
O ano de 1658 é puramente arbítrio injustificado. Havia popula­
ção branca, espalhadíssima nos arredores, com currais de gado,
indicados nos mapas, de Marcgrav quinze anos antes desses Paia-
guais descobrirem o que tôda a gente sabia, e o de Vingboons, de
1665. Não tenho notícia documental da passagem do missionário.
Capuchinho em 1661. É mais lógico que o capuchinho frei Teo­
doro de Lucé, o mais antigo da Ordem, missionando no norte da
Paraíba em 1670 haja vindo pessoalmente ou enviado um irmão
seráfico para visitar região sabidamente povoada e desprotegida
de socorro, espiritual.
Para o oeste o Capuchinho tem um testemunho antiquíssimo
e nebuloso. Surjem já missionando antes de Mascarenhas Homem
aportar à Natal em 1597. Em 1530 atingira a ribeira do Apodi o
religioso capuchinho frei Fidelis, convertendo indígenas, fixan­
do-se onde se diz Córrego das Missões, construindo uma ermida,
de barro e madeira, dedicada a S. João Batista, ao pé da colina
onde está a cidade do Apodi. Em 1680 outro capuchinho, frei
Angelo de Lucca, edificou uma Igreja abobadada, com cariíeiros
e campas no interior, edifício que resistiu até 2-2-1772 quando
desabou, recorda Manuel Antônio de Oliveira Coriolano, ò Cro­
nista do Sertão, fiel aqui às versões orais desajudadas de provas.
Tive em mãos, por empréstimo do Des. Felipe Guerra, êsses
registos inéditos, encontrando a data de 1530 e adiante de 1538.
Ferreira Nobre, também amigo íntimo dêsse processo de história
pela oralidade popular conta diversamente: — «Em 1740 ö
capuchinho, frei Fidelis, verdadeiro apóstolo, que depois de cate-
245 ~

quizar os índios, levantou os marcos da civilização intelectual e


material”, (opus cit. 113).
Essas terras da ribeira do Apodi não têm história anterior
a segunda metade do século XVII. O primeiro documento, legi­
timando a penetração dos brancos, é o requerimento de 19-4-1680
encabeçado pelo ajudante Manuel Nogueira Ferreira, desistindo
de uma data de terra no rio das Piranhas e no “Assum”, por inúteis
para os gados, e pedindo três léguas em quadro, para cada úm
dos requerentes (eram vinte e três), “na testada dos últimos pro­
vidos do rio Panema e rio Jaguaribe e uma lagoa chamada Itaú,
onde assiste o tapuio Paiacus e outras nações bárbaras, havendo
dado para a parte do mar, que estejam povoadas, sejam estas nas
suas cabeceiras ou mais adiante, etc”.
Êsses Nogueiras, irmão, filhos, foram os conquistadores, os
sesmeiros iniciais.
Arrostaram a indiada, lutando e morrendo. Antes, não há
ura só elemento positivo para fundamentar a lenda dos Capuchinhos
catequistas em 1530, 1538, 1620 e 1680. O topónimo Córrego das
Missões dado como prova da visita de Frei Fidelis em 1530 ou
1538, é explicado por um outro estudioso da história sertaneja de
modo mais plausível. Os Paiacus agrediram, ou se defenderam,
assaltando os colonos chefiados pelos bravos Nogueiras que foram
derrotados. Reclamaram, do Jaguaribe onde se refugiaram, para
a Bahia. “A 17-11-1688, o Ouvidor Marinho, encarregado pelo
Govêrno para êsse fim, vilou os tapuios na margem esquerda da
Lagoa do Itaú, em um córrego da mesma Lagoa, córrego êste que
mais tarde tomou nome de “Córrego das Missões de S. João
Batista”, escreve Nonat© Mota. Em 1700 vem a primeira povoa­
ção, no lugar Outeiro, margem direita da Itaú, conhecida simples­
mente por Apodi, fundada por Manuel Nogueira Ferreira. O ano
de 1740, indicado por Ferreira Nobre, para a vinda do capuchinho
Frei Fidelis, é mais aceitável e lógico.
A primitiva aldeia com a missão de “5. João Batista do Lago
Podi” foi fundada a 10-1-1700 pelo jesuíta Felipe Bourel (1659-
1709). Seis dias depois os Janduís assaltaram o arraial porque
ali estavam os velhos inimigos Paiacus. Nessa Missão faleceu o
Padre Bourel. Durou até 1712, quando foi morto pelos Paiacus
outro missionário dedicado até o sacrifício, o jesuíta Bonifácio
Teixeira, occisus a Tapuiis in Pago Podino Pernambucano, nes~
citur dies. É uma informação definitiva do Pe. Serafim Leite. S.J.
(“História da Companhia de Jesus no Brasil”, V, 539-549, Rio
de Janeiro, 1945). O resto é lenda . . .
Acresce ainda um argumento. Os Capuchinhos vieram para o
Brasil com Daniel de la Touche, sieur de Ravardière, desembar-
246 —

cando na ilha do Maranhão em 1612. A catequese dos capuchi­


nhos franceses no norte do Brasil é da segunda metade do século
XVII. Chamariam “capuchinhos” aos “franciscanos” ? Êsses não
tiveram missões fixas antes de 1584. Como explicá-los no sertão
do Apodi, em 1530 e 1538 ?
Ponhamos o século XVIII como o da ação capuchinha na
ribeira do Apodi. Pastoreavam uma aldeia no litoral,. Mopebu,
hoje Cidade de S. José de Mipibu, e fama e nome ilustres se der­
ramam pelo vasto Apodi, em tanta fé e memória dos feitos antigos
que sua presença se torna, no esfumado • da lembrança popular,
anterior aos anos* da colonização norte-rio-grandense.
São inesquecíveis os nomes dos Capuchinhos no serviço apos­
tólico do Apodi. Constituem os mais velhos missionários, qs refe­
rências mais caras à reminiscência da população cristã . Frei Ansel­
mo, Frei Angelo, frei Domingos de Santana, frei Fidelis de Peda-
voli, em 1740, no registo de Oliveira Coriolano,/talvez o mesmo
citado por Ferreira Nobre, frei Felix, frei João Batistâ, frei Vital
de Frescardo em 1798, são os mais lembrados, de envolto com
fisionomias da Ordem Seráfica na manhã do século XIX, frei
Lourenço de Messina em 1814, frei Venancio Maria de Ferrara,
o grande frei Serafim de Catania, em meados da centúria.
Aos Capuchinhos devemos a divulgação das santas missões.
Impossível delimitar-lhes as áreas de uma ação ardente e fervo­
rosa. Todo o século XIX ressoa sob suas pisadas, enchendo com
os sinais da sandália humilde os caminhos do sertão bravio.
Em “Anta Esfolada”, animal que assombrava os moradores, o
Capuchinho planta um cruzeiro, molha o chão com água benta,
prega, exorciza, e denomina o local “Nova Cruz”, respeitado pelo
tempo e criado com a honra de cidade. Em Inharé ergue outro
cruzeiro e abençoa o nome de “Santa Cruz”, que também seria
cidade. Frei Caetano constrói a Matriz de Canguaretama em
1876. Frei Serafim de Catania põe a primeira pedra dá matriz do
Ceará-Mirim em 12-2-1858, um dos imponentes templos. Em Arez
ftei Herculano, em 1882, faz o Cemitério e desenha o muro, com
qs ornamentos deliciosos do barroco, a peça mais sugestiva de
todo Estado como decoração mural. Em Mossoró frei Fidelis
Maria de Fognano, ém 1873, ergue o cemitério. O missionário
capuchinho, barbado, violento, gritador, é o prestígio vivo para
as populações pobres. Frei Serafim de Catania ( chegara ao Recife
em 11-9-1841 e faleceu em Catania, Sicilia, a 14-5-1887) deixou
rasto tão forte n’alma coletiva do sertão e agreste que rara será
a intervenção divina que não haja sido provocada por êle. Dendê
Arcoverde, arrebarado, valente, rico, poderoso, rodeado de guarda­
costas, ouve sua palavra, despede seu harém, desarma seus homens,
serena como um justo. Frei Serafim muda o nome de Uruá para
247 —

Penha. No processo crime pela morte de Ana Marcelina Clara,


a Hamburguesa, assassinada em Natal em 1845, Josefa .Maria da
Con ceição aconselha ao amásio, Alexandre José Barbosa que lhe
confidenciava a premeditação, que não perpetre o crime porque
o santo padre Serafim estava para chegar e podia adivinhar (4) .
Há ainda a fama voante e sonora de Frei Vital (Frei Vidal
de Transcarolo) espécie de Nostradamus pregador, deixando as
profecias que milhares de sertanejos sabiam de cor (5) .
A passagem da Missão do Apodi des Carmelitas para os Capu­
chinhos dar-se-ia depois de 1749. Como as referências locais
conservam os nomes dos Capuchinhos e não dos Carmelitas, é
lógico que os primeiros tiveram uma ação mais duradoura e mais
próxima. Deve haver no documentário que dorme nos arquivos
da Junta das Missões muito esclarecimento definitivo, superior
às deduções tateantes.

II
Natal foi a única freguesia do Rio Grande do Norte até
meados do século XVIII. Êsse século XVIII criou dez freguesias.
Duas não existem mais, Vila Flor que se passou para Canguare-
tama, e Estremoz que se mudou para o Ceará-Mirim. As outras
são Açu, Goianinha, Caicó, Pau dos Ferros, Arez, Portalegre,
S. José e Apodi. São do século XIX, Santana do Matos, Papari,
Atari, Santa Cruz, Touros, S. Gonçalo, (extinta) Angicos, Campo
Grande, Martins, Mossoró, Patu, Jardim do Seridó, Nova Cruz,
Serra Negra, Caraúbas, Penha, Ceará-Mirim, S. Miguel de
Júcurutu, S. Miguel de Pau dos Ferros’, Macaíba e Currais Novos.
S. Bento, em 1868 transferiu-se para Nova Cruz. As restantes
são do século XX.
Natal — N. Sra. d’Apresentação. Em abril de 1601 era
freguesia sendo vigário o padre Gaspar Gonçalves da Rocha. A
tradição oral de que S. Quiteria teria sido padroeira é impro­
vada (§) Sede de Bispado (1909) e de Arcebispado (1952);
Açu — em 1726 era seu vigário o padre Manuel de Mesquita
e Silva. O orago é S. João Batista (Mossoró).
Goianinha — já era freguesia em 1746 (relatório do 7.° Bispo
de Olinda. D. Fr. Luís de S. Tereza) . Mons. Francisco Seve­
riano dá 1690 para sua criação o que deve ser engano. Em 1749
era vigário o Pe. Antônio de Andrade de Araújo. Padroeira
N. Sra. dos Prazeres (Natal).
Caicó — criada em 15-4-1748, sendo seu vigário o Pe. Fran­
cisco Alves Maia. Padroeira, Santana (Bispado).
— 248

Pau dos Ferros — criada em 19-12-1756. Padroeira, N. Sra


da Conceição. (Mossoró)
Arez — criada pelo alvará de 8-5-1758. Em 18-7-1759 o
Bispo de Olinda nomeava o Pe. João Ferreira da Costa coadjutor
da freguesia de S. João Batista da antiga Missão da aldeia dos
Guaraíras. Decaindo, foi suprimida, e restaurada pelo alvará de
13-8-1821. A lei provincial n.9 559, de 16-12-1864, incorporou-a
à freguesia de Papari. Restabelecida pela lei provincial n.° 642
de 14-12-1871. Oragos, N. Sra. da Conceição e S. João Batista.
(Natal)
Portalegre — criada a 9-12-1761. O primeiro vigário foi
o Pe. Lourenço Xavier de Souza Carvalho. Orago, S. João
Batista (Mossoró) .
S. José — criada a 22-2-1762. O l9 Vigário, Pe. Teodósio
da Rocha Vieira, serviu de 1764 a 1770. O Bispo de Olinda, a
5-7-1765 nomeava o Pe. Alexandre Dantas Correia para coadjutor
da freguesia de N. Sra do Ó e Santana de Mipibu. A aldeia
possuia N. Sra. do ó como padroeira. Oragos, Santana e S. Joa­
quim (Natal) .
Apodi — criada a 3-2-1766. Seu primeiro vigário foi o Pe.
João da Cunha Paiva. Oragos, N. Sra. da Conceição e S. João
Batista ( Mossoró ).
Santana do Matos — criada pela provisão de 13-8-1821
ÍD. Pedro, Principe Regente) segundo registo no l.° Livro do
Tombo Paroquial 13-8-1821, segundo Moreira Pinto (7). Seu
primeiro vigário foi o Pe. João Teotônio He Souza e Silva. Oragor
Santana (Natal).
Touros — criado pela lei geral de 5-9-1832 em que a Regên­
cia Trina sancionou a resolução da Assembléia Geral Legislativa
tamadá sôbre uma outra do Conselho Geral da Província do Rio
Grande do Norte, desmemb.rando-a da freguesia de Estremoz (8)
sdb a denominação de “Freguesia do Senhor Bom Jesus dos Nave-
gántes do Pôrto dos Toiros”. A lei provincial n.° 10, de 6-3-1835,
mpdificou os limites expressos na lei criadora da freguesia. O
1.* vigário foi o Pe. Felix Alves da Cruz, posse a 5-10-1834.
(Natal)
Papari — criada a 30-8-1833. Mons. Francisco Severiano
indica o dia 29 do mesmo mês e ano. O primeiro vigário, Pe. Antô-
niò Leiros, morreu assassinado a 21-11-1835. Padroeira, N. Sra
do Ó (Natal) .
Acari — criada pela lei provincial n.° 15, de 13-3-1835.
Mpns. Severiano engana-se registando 15 de abril. Primeiro
— 249 —

vigário, Pc. Tomás dc Araújo Pereira. Padroeira, N. Sra da


Guia (Caicó).
Santa Cruz — criada pela lei provincial n.° 24, de 27*3 de
1835. Seu primeiro vigário foi o Pe. João Jerónimo cia Cunha.
Suprimida pela lei n.° 199, de 27*6*1849 que a transferiu para
S. Bento. Restaurada pela lei n.° 393, de 24*8*1858. Orago,
S. Rita de Cássia (Natal).
Angicos — criada pela lei provincial n.° 9, de 13*10*1836 (7).
Seu primeiro vigário, Pe. Manuel Antônio dos Santos Morais
Pereira Leitão, tomou posse a 22*5*1837. Transferida a sede para
a povoação de Macau pela resolução* n.° 158, de 2*10*1847.'
Restaurada pela res. n.° 219, de 27*6*1850. Orago, S. José.
(Natal)
Campo Grande — criada pela lei provincial n.° 17, de 31*10
de 1837 (7). Seu l.° Vigário, interino, foi o Pe. Vitor Antôniô
de Freitas. O Vigário efetivo, Pe. Manuel Bezerra Cavalcanti,
tomou posse a 4*12*1840. Sede do município de Augusto Severo}.
Orago, Santana (Mossoró).
Martins — criada pela lei provincial n.° 52, de 2-11*1840.
Seu primeiro vigário foi o Pe. Pedro José de Queiroz e Sá,
1840*1842. O Pe. Antônio de Souza Martins, dado como o pri­
meiro por Mons. Severiano, é o calado, 1842*1883. Padroeira,
N. Sra. da Conceição (Mossoró).
Mossoró — criada pela lei n9 87 de 27*10*1842.
Primeiro vigário, Pe. Antônio Joaquim Rodrigues. Orago, St.
Luzia (Bispado).
Patu — criada pela lei provincial nç 260, de 3*4*1852. pri­
meiro vigário, Pe. Estolano Xavier Bezerra. Padroeira, N. Sra
das Dôres (Mossoró).
Macau — criada pela lei provincial n.° 294, de 19*8*1854.
Primeiro vigário, Pe. João Inácio de Loiola Barros (Natal).
Jardim do Seridó — criada pela lei provincial n.° 337, de 4*9
de 1856. Padroeira, N. Sra. da Conceição (Caicó).
Nova Cruz — criada pela lei provincial n.° 609, de 12*3*1868,
que transferiu para a povoação de Nova Cruz, elevada à Vila,
as sedes municipal e paroquial de S. Bento. A lei n? 313, de
24*8*1858, dada noutras fontes, não existe na legislação provincial
norte-rio-grandense. Padroeira, N. Sra. da Conceição (Natal).
Serra Negra — criada pela lei provincial n.° 406, de 1*9 de
1858. Padroeira, N. Sra. do Ó (Caicó).
— 250 —

Caraúbas — criada pela lei provincial n.° 408, de 1-9-1858.


Primeiro vigário, Pe. Florêncio Gomes de Oliveira. Orago, S. Se­
bastião (Mossoró) .
Penha — criada pela lei provincial n.° 468, de 27-3-1860, na
sede municipal de Canguaretama. A freguesia de Ñ. Sra do Des­
térro da Vila Flor remontava a 1742 e fôra extinta pela mesma lei.
O primeiro vigário de Penha, Pe. José de Matos Silva, foi o
último de Vila Flor. Padroeira, N. Sra. da Conceição (Natal).
Ceará-Mirim — O aldeamento de Guagiru, tendo como
padroeiro S. Miguel, e entregue aos padres jesuítas, teve sua auto­
rização para criar-se freguesia pelo alvará de 6-7-1755 e a paróquia
instalada a 3-5-1760, no mesmo dia em que a aldeia passava à Vila
de Estremoz. Os oragos eram N. Sra dos Prazeres e S. Miguel.
Pela provisão de 23-5-1874, do governador do Bispado de Olinda,
chantre José Joaquim Camelo de Andrade, a sede transferiu-se da
Vila de Estremoz para a recém criada Vila do Ceará-Mirim, antiga
“Bôca da Mata*; nova sede municipal. Retirada para o Taipu por
ato do Bispo Diocesano em 16-7-1896, foi restabelecida por ato
de 19-8-1897. Padroeira, N. Sra, da Conceição (Natal) .
S. Miguel de Jucurutu — criada pela lei provincial núme­
ro 707, de 1-8-1874. Orago, S. Sebastião (Caicó).
S. Miguel de pau dos ferros — criada pela lei provincial
n.° 760, de 9-9-1875. Provida em 2-9-1883 pelo seu primeiro
vigário, Pe. Cosme Leite da Silva, Orago, S. Miguel (Mossoró) .
Macaíba — criada pela lei provincial n.° 876, de 17-3-1883
que suprimira a freguesia de S. Gonçalo. Padroeira, N. Sra
da Conceição (Natal) .
Currais Novos — criada pela lei provincial n.° 893, de 20-2
de 1884. Por determinação de D. José Pereira da Silva Barros,
Bispo de Olinda, em 9-1-1886, o vigário de Picuí, Pe. Joel Esdras
Lins Fjalho, assumiu a nova páróquia em 21-2-1886, comulativa-
meñte. O Pe. Manuel Joaquim da Silva Chacon tomou posse como
Pró-Pároco a 15-3-1887 e como primeiro vigário a 12-2-1888.
Orago, Santana (Caicó).
Florânia — criada por decreto diocesano de 5-4-1904 e ins­
talada pelo seu primeiro vigário, Pe. Inácio Cavalcanti de Albu­
querque, em 15-5-1904. .Orago, S. Sebastião (Caicó).
Taipu — criada por decreto diocesano de 18-4-1913. Pa­
droeira N. Sra. do Livramento (Natal).
S. Antonio — criada por decreto diocesano de 16-8-1915.
Instalou-a o Pe. José Alves Cavalcanti de Albuquerque em 12-9
de 1915. Padroeira, N. Sra. da Conceição (Natal).
— 251 —

S. Pedro do Alecrim — criada por decreto diocesano de 15-8


de 1919. Fica na sede da Arquidiocese. Orago, S. Pedro (Natal).
Areia Branca — criada por ato diocesano de 8-9-1919 posse
a 29-9-1919. l.° Vigário Pe. Afonso Lopes Ribeiro. Padroeira,
N. Sra. da Conceição (Mossoró).
Luís Gomes — criada por lei provincial n9 976, de 1-6-1886
mas supressa por não ter sido provida. Restaurada por decreto dio­
cesano de 8-12-1920. Padroeira, Santana (Mossoró).
Parelhas — criada por ato diocesano de 8-12-1920. Orago,
S. Sebastião. ( Caicó )
S. Rafael — criada por ato diocesano de 8-12-1920. Pa­
droeira, N. Sra. da Conceição (Natal).
Lajes — antiga Itaretama, criada por ato diocesano de
8-12-1921. I.9 Vigário, Pe. Ulisses Maranhão. Padroeira,
N. Sra. da Conceição (Natal) .
Vila Nova — atualmente PEDRO VELHO, criada por ato
diocesano de 11-2-1922. Orago, S. Francisco de Assis (Natal).
S. Tomé — criado por ato diocesano de 2-2-1922. Insta­
lou-a o cônego Celso Cicco, Vigário encarregado. Padroeira,
N. Sra. da Conceição (Natal).
Sagrado Coração de Jesus — criada por ato diocesano de
23-7-1926, na sede no Bispado do Mossoró, l.° Vigário Pe. Aníbal
Coelho, posse a 1-8-1926. Padroeiro, Sagrado Coração de Jesus.
Baixa Verde — criada por ato diocesano de 13-11-1929.
Instalou-a o l.9 Vigário,. Mons. Celso Cicco, a 24-11-1929.
Padroeira, N. Sra. Mãe dos Homens (Natal).
Bom Jesus das Dores — criada por ato diocesano de 9-1
de 1932 na sede do Arcebispado de Natal. I.9 Vigário, Pe. Fre­
derico Pastors, M. S. F.
Alexandria — criada por decreto diocesano de 25-10-1926.
l.° Vigário Pe. João Wagner, M.S.F. posse a 22-12-1936.
Padroeira, N. Sra. da Conceição (Mossoró).
S. Paulo do Potengi — criada pelo decreto diocesano de
30 de novembro de 1943, tomando posse o seu primeiro vigário,
Pe. Expedido Sobral de Medeiros, a 5-12-1943. Orago, S. Patjilo
(Natal).
Nossa Seniora da Conceição — decreto diocesano de 12-8
de 1941. É no Alto da Conceição, na sede episcopal de Mossoró.
S. Sebastião — decreto diocesano de 13-8-1941. Distrito de
Governador Dix-Sept Rosado, antigo Sebastianópolis (Mossoró) .
252

Cruzeta — decreto diocesano de 13-11-1944. Padroeira N.


Sra. dos Remédios. O cônego Ambrosio Silva foi o primeiro Vi­
gário (Caicó) .
S. Sebastião — decreto diocesano n.° 23, de 20-1-1949. Ê
na Baixa da Beleza, arrabalde na sede da Arquidiocese de Natal.
Pe. Luis Klur, M.S.F. primeiro vigário.
N. Sra. das Graças e S. Teresinha — decreto diocesano
n.9 25, de 1-8-1950. Tirol. Natal. Mons. José Alves Ferreira
Landim foi o primeiro vigário.
S. José de Campestre — decreto diocesano n9 26, de 1-1
de 1952. Sede do município do mesmo nome. Instalou-a o Pe.
Pedro Rebouças de Moura. Primeiro vigário, Pe. Geraldo Ri­
beiro de Almeida (Natal) .
S. Paulo Apóstolo — decreto diocesano n.° 27, de 1-4-1952.
Instalada a 27-4-1952. Pe. Antônio Antas, primeiro vigário. É na
sede municipal de Pedro Avelino (Natal) .
N. Sra. de Fátima — decreto diocesano n.9 28, de 1-4-1952.
Instalada pelo então Bispo de Natal. Vigário, Pe. João Correia
de Aquino. Distrito de Parnamirim (Natal) .

IV
Presbiterianos. O primeiro núcleo da Igreja Presbiteriana
constituiu-se no Rio Grande do Norte em Mossoró. Nas festas da
libertação do município na campanha abolicionista, em 30-9-1883,
entre os presentes, discursando e sendo citado está “o cidadão
norte americano Wardlaw”, com escrevia Almino Afonso. Era
o ministro protestante De Lacey Wardlaw que chegara ao Recife
em agôsto de 1880 é partira para o Ceará em setembro de 1882,
iniciando ali a pregação evangélica. Wardlaw foi auxiliado pelo
português José Damião de Souza Melo, o primeiro converso no
Ceará, e especialmente por Francisco Filadelfo de Souza Pontes,
ativo propagandista de incansável tenacidade. Em 1885 um centro
presbiteriano estava organizado em Mossoró. Foi o ponto de
partida.
Em Natal, entre 1879 e 1880, estiveram os missionários leigos
Francisco Filadelfo de Souza Pontes e João Mendes Pereira
Guerra, distribuindo Biblias e conversando com os simpatizantes.
Tinham sido enviados pelo rev. Dr. John Rockwell Smith, ver­
dadeiro iniciador do Presbiterianismo em Pernajnbuco, onde se
fixara em janeiro de 1873. John Rockwell Smith casou coi>
D. Carolina Porter em 1881, irmã de ÃVilliam Calvin Porter,
depois aluno e ordenado pelo rev. J.R. Smith em 26-9-1889.
O*rev. Porter é a própria história do protestantismo em NataL
— 253 —

Em 1887 Natal recebeu a visita de dois ministros, pregando


a doutrina. Eram Belmino de Araújo César e De Lacey Wardlaw
que realizaram três conferências no teatro Santa Cruz e uma na
residência do Dr. Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco. Essa
missão deixou os primeiros catecúmenos, entre êles Joaquim Lou­
rival Soares da Câmara, o Professor Panqueca, que se tornou fer­
voroso divulgador, indo domiciliarmente animar os irmãos, numa
catequese intensa.
Em 1893 o rev. Willian Calvin Porter e o rev. Juventino
Marinho da Silva, em excursão de propaganda, estiveram em Natal,
fazendo conferências, presidindo cerimônias religiosas durante
oito dias. Joaquim Lourival e Genésio Xavier da Silva Brito fi­
zeram as honras da cidade, cedendo suas residências para o culto
e convidando os amigos a assisti-lo. Depois que òs dois ministros
se foram, .Lourival continuou mantendo as reuniões dominicais.
Surgiu o primeiro jornalzinho protestante, “O Pastor”, de
l.° de maio a 31 de outubro de 1893, dezoito números apenas,
redatorado pelo prof. Joaquim Lourival, Joaquim Soares Raposo
da Câmara, José Alexandre Seabra de Melo e Godofredo Xavier
da Silva Brito, filho de Genésio Brito.
Em 24-1-1895 chegou o rev. Porter com sua espôsa, dona
Catarina Hull, casados em 1891. O trabalho começou sistemáti­
camente. Porter, nascido em Tuskegee, Alabama, U.S.A. a 6-6
de 1855, veio com 13 anos para o Brasil. Até 12-5-1913 ficou em
Natal. Faleceu em João Pessoa, Paraíba, a 1-2-1939, jubilada
pela Missão que o mantivera.
O rev. Porter presidiu o primeiro casamento no rito presbi­
teriano em Natal, a 5-4-1895. Na residência de Joaquim Soares
Raposo da Câmara batizou a 8 do mesmo mês um grupo de con­
versos, 33 adultos e 18 crianças. Constituiu-se a Congregação, com
caráter de associação religiosa regular, por contrato civil regis­
tado no cartório do escrivão Joaquim José de Santana Macaco.
Alexandre James Ó Grady, canadense de origem irlandesa,
fixado em Natal, ofereceu um terreno para a edificação do templo,
em 11-5-1895.
Publicou-se outro jornal protestante, “O Século”, l.° número
a 11-5-1895, tendo depois oficinas, próprias. Em principes de
1909 o periódico foi transferido para Garanhuns, em Pernambuco»
onde continuou a publicar-se com o título de “Norte Evangélico”.
Em 1896 foi dirigida ao Presbitério uma petição com 153
assinaturas, solicitando a designação do rev. Porter para Pastor
fixo em Natal. O Presbitério deferiu e Porter, que viajara, regres­
sou em agôsto em caráter definitivo. A 3-2-1896 dera-se a solene
instalação oficial da Igreja Presbiteriana em Natal, assistida pelo
BIBLIOTECA
— 254 —

rev. George Edward Henderlite e o tenente Minervino Ribeiro


Pessoa Lins, pastor e presbítero da Paraíba, comissionados pelo
Presbiterio pernambucano. Procedeu-se a eleição, sendo escolhidos
presbíteros-regentes os Srs. João Ferreira Nobre, Estevão José
Marinho e Manuel Gabriel de Carvalho Pinto. No dia seguinte
foram ordenados no grau sacerdotal a que tinham direito pela
eleição anterior.
O prédio da Igreja Presbiteriana, na av. Junqueira Aires,
foi inaugurado a 3-9-1898.
Há em Natal uma Igreja Presbiteriana independente .cujo
templo está na rua João Pessoa, inaugurado a 29-3-1926. É um
reflexo da cisão chefiada pelo Dr. Carlos Eduardo Pereira em
31-7-1903, não permitindo * aos membros da Maçonaria ingresso
entre os fiéis. Um grupo de presbiterianos aceitou a razão e, entre
outros motivos de ordem privada da Igreja, a 8-1-1911, solicitava
a vinda de um pastor da Presbiteriana Independente, vindo o
Sr. Manuel Francisco do Nascimento Machado que presidiu a
primeira sessão para organização em 20-4-1911, com 54 Irmãos
arrolados. No mesmo dia elegeram três presbíteros, José Satur­
nino da Silva, Lupicino Ramos, João Fernandes Campos Café, e
três diáconos, José Militão dos Santos, José -Bezerra Cavalcanti e
Antônio. Borges de Paiva. A Igreja instalou-se a 23-4-1911. Conta
com varias congregações no interior do Estado.
Há outro núcleo histórico no Caicó, trabalho do rev. Porter
em março de 1899, completado pelo ministro Manuel Machado e
o presbítero José Acelino. Os primeiros conversos, as famílias
Delmiro Saldanha, Epaminondas Lopes, Francisco Vale, Henrique
Pereira, José Pequeno, dona Maria Gurgel de Araújo e filhos,
conservaram, mesmo sem assistência sacerdotal, a doutrina. Fm
31-8-1912 elegiam o l.° diretório da Igreja Presbiteriana do Caicó,
cm título associativo.
Batistas. Ao redor de 1895 o professor Joaquim Lourival
Soares da Câmara afastou-se da Igreja Presbiteriana, preferindo
a interpretação e modêlo da comunidade Batista. Em 1896 foi
ordenado . Pastor pela Igreja Batista do Recife, iniciando propa­
ganda e pregação em Natal no mesmo ano. A sede era no início
da atual rua João Pessoa. Joaquim Lourival presidiu o cerimonial
do culto e realizou batismos por imersão nas águas dã Baldo. Os
anos de 1898 e 1899 foram os mais intensos. Depois apareceu o
desânimo e os Batistas se foram dispersando, sem orientação e
sem reuniões.
Em 1915 o tenente Henrique do Nascimento Gonçalves rei­
niciou a divulgação batista, congregando os irmãos e tentando
reorganizar a Igreja. Finalmente, a 13-5-1919, ressurgiu a Igreia
Batista estando presente o pastor Missionário L.L. Johnson, sendo
— 255 —

eleitos Pastor-Moderador o rev. Augusto F. Santiago e o tenente


Henrique Gonçalves vice-moderador e diretor dos crentes. O
templo é na praça Amaro Cavalcanti.
Em setembro de 1931 um grupo divergente, reparado da
comunhão inicial, fundou a segunda Igreja Batista, organizada a
18*6-1933, sendo seu primeiro pastor o rev. Augusto F. Santiago/.
A segunda Igreja Batista inaugurou seu templo /na rua Mossoró
a 1Ó-7-1938. Há congregações pelo interior, inclusive uma na
cidade de S. José de Mipibu que teve impressionante intensidade.
Dirrgiu-a o rev. Charles F. Mateus, da “Gosper Furtherance
Bond Inc”, de Appleton, New York. Começando a cvangelização
a 30*9*1938, instalaram o templo a 30*9*1939, com irradiação para
os municípios vizinhos.
Adventistas. Os Adventistas do Sétimo Dia ou “sabatistas”
por guardarem o sábado e não o domingo, datam em Natal de
1921, quando o Dr. José Mendes, enviado da Missão do Nordeste
(Alagoas à Paraíba) visitou Natal, pregando no Alecrim, o bairro
mais populoso e por txcelência receptivo à aceitação das novas.
Em 1925 chegou o primeiro missionário, Manuel Pereira da Silva.
A 20*6*1942 organizava*se a Igreja Adventista de Natal na rua
Voluntários da Pátria, mantendo uma escola primária.
Pentecostistas . Em 1914, pessoas vindas do Pará onde se
encontravam os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg desde
1910, trouxeram para o Rio Grande do Norte as idéias e ritos
da “Assembléia de Deus”, da qual os dois enviados eram os primei­
ros emissários no Brasil. Celebraram as reuniões em casas par*
ticulares, tomando certo vulto em 1915*1917. A 24*5*1918 rea*
lizava*se um culto público na Rua do Arame. A 24*1*1937 irtau*
gurava*se o templo, na rua Manuel Miranda, no Alecrim, sendo
pastor Francisco Gonzaga da Silva. Possuem templos e pastores
pelo interior.
Uma cisão determinou a criação da “Assembléia de Cristo”,
fundada em Mossoró a 13*9*1932, embora a propaganda, batis­
mos, etc., viessem desde dezembro de 1927. O primeiro pastor
dessa igreja em Mossoró foi Manuel Higino de Souza. Há uma
Assembléia de Cristo no Alecrim, em Natal e propaga*se especial*
mente na zona oeste do Estado.
Israelitas. Os primeiros judeus vindos para Natal e que
matniveram o culto foram os quatro irmãos Palatnik: Tobias, Jacó
Adolfo e José, a 14*11*1912. A Comunidade Israelita Natalense
foi fundada a 12*1*1919. Em 1925 instalou-se o Centro Israelita
que funciona como Sinagoga. O Centro foi registado cm 18*8
de 1928. Havendo, até 1942, 24 famílias judias em Natal, a Sina*
goga celebra apenas o Ano Novo, Dia da Expiação, Festa do
Outono, Páscoa e Pentecostés.
— 256 —

NOTAS AO CAPITULO NONO

(1) Luís da Câmara Cascudo, «A -Tradição popular norte-rio-grandense


sôbre Dom Antônio Felipe Camarão», RIHGRGN, XXIX-XXXI, 37, Natal,
1938. A naturalidade do grande indígena Potiguar, guardando no nome a
recordação do seu rio natal, Potengi, é reivindicada pelo povo, na fôrça
irrespondível da tradição oral, elemento que não existe na lógica convencional
de outros requerentes. A «naturalidade» pernambucana de Felipe Camarão é
um edifício de eruditos, fundado n’areia. No Rio Grande do Norte há uma
secular e teimosa demonstração oral, indicando seu berço e fixando sua fa­
mília, existindo até poucos anos (1930) ainda colaterias.
(2) Luís Fernandes, «Notícia da Cidade de S. José de Mipibu», Almana­
que do Rio Grande do Norte, 484, Natal, 1897.
(3) Manuel Ferreira Nobre, «Breve Notícia sôbre a Provincia do Rio
Grande do Norte, baseada nas leis, informações e fátos consignados na Histó­
ria antiga e moderna», Victoria, Tipografia do Espírito Santense, 148, 1877.
(4) H. Castriciano, «O Último Enfoicado», RIHGRGN, V, n9 2.381,
Natal, 1907.
(5) Luís da Câmara Cascudo. «A Profecia de Frei Vital», ACTA
DIURNA, «A República, 13-1-1943. Frei Vidal de Frascarolo viveu até
primeiras décadas do sec. XIX. Vidal .e não Vital.
(6) Luís da Câmara Cascudo, «Santa Quiteria foi Padroeira de Natal?
ACTA DIURNA, A República, 13-9-1840, Natal.
(7) Aluísio Alves, ANGICOS, 65-66, narra que o Pe. João Teotônio
de Souza e Silva^ conseguira uma Provisão de 13-8-1821 criando a paróquia
de Angicos e Santana do Upanema (Campo Grande, Augusto Severo) e no-
meando-o Vigário Colado. Essas duas freguesias não foram insta adas nem
o Vigário aparece na documentaria da época. Angicos é de outubro de 1836
e Campo Grande em outubro de 1837, ambas por leis provinciais .e não gerais.
Esclarece Aluísio Alves que o Pe. Teotônio verificando que a Provisão de
13-8-1821 deixava ao arbítrio do Vigário a escolha da residência, Angicos ou
Santana, (subentendendo-se «do Upanema»), fixou em Santana ... do Matos
onde foi, cronologicamente o primeiro Vigário. Moreira Pinto e Tavares de
Lira registam a data de 13-8-1821 para a criação da freguesia de Santana do
Matos e o Mons. Francisco Severiano 13-12-1821 e, segundo minhas notas,
é a data que está fixada no primeiro Livro do Tombo Paroquial, atualmente
desaparecido. Santana do Matos foi Distrito pelo Decreto do Príncipe Regente
em 13-8-1821, a mesma data da criação paroquial segundo alguns historia­
dores.
(8) A data da criação da freguesia de Touros é 5-9-1832 cuja lei abaixo
transcrevo para fixar definitivamente a^verdade. Mons. F. Severiano indica
uma lei provincial de 28-3-1835. Nesse dia o Presidente Basilio Quaresma
Torreão sancionou quatro leis sem a menor ligação com a freguesia de Touros.
Tavares de Lira registou a lei n.° 21, de 27-3-1835 mas essa aprova a criação
da Vila dos Touros e não há referência à freguesia. Não era possível o
encontro porque a freguesia foi criada por uma lei geral e não provincial.
E não datava de 1835 e sim de 1832. «Decreto de 5 de setembro de 1832.
Divide .em duas a freguesia de Estremoz na Província do Rio Grande do
Norte. A Regência em nome do Imperador o Senhor D. Pedro II, há por
bem sancionar, e mandar que se execute a seguinte Resolução da Assembléia
Geral Legislativa, tomada sôbre outra do Conselho Geral da Província do
Rio Grande do Norte: — Art. l.° — Que a Freguesia da Vila de Estremo»
seja dividida em duas, uma, a mesma atual, e. outra na povoação do Pôrto
-dos Toiros. — Art. 2.°: — Que seja a divisão delas do Rio Maxaranguape,
principiando da pancada do Mar, e seguindo pelo mesmo acima, até Gamaú-
fcinha, que é a sua nascença; e dai procurando em linha reta o Riacho Fundo,
— 257 —
continui por êle até a fazenda Lajeé, ficando a parte do Leste e Norte para

a nova freguesia; e Sul e Oeste para a atual. — Art. 3.9; — Que o Pároco

da nova freguesia perceberá as mesmas conhecenças, e mais Direitos Paro­

quiais, que percebem os da Freguesia Mãe. — Art. 4.°: — Que a freguesia

que se passa a criar, seja criada com a denominação de Freguesia do Senhor

Bom Jesus dos Navegantes do Porto' dos Toiros, e a Igreja se conserve com

o antigo título de Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres e S. Miguel

— e a Matriz a -que já existe. Antonio Francisco de Paula e Holanda Caval­

canti de Albuquerque, do Conselho do mesmo Imperador, Ministro e Secre­

tário d.e Estado dos Negócios da Fazenda e encarregado interinamente dos do

Imperio, assim o tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro

em cinco de Setembro de mil oitocentos e trinta e dois, undécimo da Inde­

pendência e do Império. — Francisco de Lima e Silva. — José da Costa

Carvalho. — João Bráulio Muniz. — Antônio de Paula e Holanda Cavalcanti


de Albuquerque». Era a décima segunda freguesia da Província e a segunda

criada no séc. XIX. Um documento precioso é a RELAÇÃO DAS POVOA-

ÇÕES, FOGOS E ALMAS QUE CONTÉM A DIVISÃO CONCER­

NENTE A CAPELA DO PÔRTO DOS TOUROS EM 15 DE JANEIRO

DE 1832, feita pelo Juiz de Paz Joaquim Xavier Veloso cujo original li no

arquivo da Assembléia Legislativa Estadual. A futura freguesia contava com

45 povcações, 870 casas (fogos) e 3.593 almas. O Juiz de Paz queixav3-se


da exorbitância dos direitos paroquiais de Estremoz. Um casamento custava

4$000 um batizamento, 960 réis, desobriga de um casal, 640, de um solteiro, 320


reis, e por êste modo tudo mais que se segue por preços excessivos; e vcxam
os Povos enconçoláveis esperando da Divina Providência o recurso na Divi­
são desta Capela em Matriz, que para isso tem suficiente Capacidade o Templo
que se acha edificado.
Merece transcrever êsse primeiro recenseamento em Touros, fixando a

população existente.

POVOAÇÕES FOGOS ALMAS


Maxaranguape......................................................................................... 16 35

Ponta Gorda ............................................................................................... 2 9

Carnaúbas .......................................................................................................... 9 36

Piracambu ................................................................................................................ 1 18

Maracajaú .......................................................................................................... 41 144

Pititinga ...................................................................................................................... 33 139

Barra de Punaú................................................................................... 8 44

Volta ........................................................................................................................................ 12 41 '

Zumbi............................... ■....................................................................................................... 31 148.

Rio do Fogo ............................................................................................... 43 187

Garças .................................................................................................................................. 16 56
........................
M Gameleira ...................................................... *...................................................... 2 13

^POVOAÇÃO DE TOUROS ... 202 692

Cajueiro ............................................................................................................................ 24 102

S. José ............................................................................................................................. 42 176

Santo Cristo ............................................................................................... 18 91

Carnaúbas .......................................................................................................... 21 77

Reduto ......................... ;. ;................................................................................ ..... 14 49

Ilha de Cima ................................................................................... 5 22

Cutia ........................................................................................................................................ 3 11

Guajaru ...................................................................................................................... 2 8
S. Âlberto ..........................................................................................................
6 18

Caiçara . .......................................................................................................................... 46 166

Pedra ........................................................................................................................................ 11 54
— 258 —

Galos Grandes ............................................. 1 4


Maxaranguape de Cima .......................... 1 8
Ponta da Mata .......................................... 1 24
Ponta da Mata ............................................ 1 , 24
Riacho .......................................... *............... 10 26
Carnaúbinha ............................ ..................... 4 24
Tabúa ........................................................... 3 15
Pau Ferro (atual Distrito Maxaranguape) 44 223
Catolé.......... . ................................. ............ 4 31
Go’andim. .............. ...................................... 27 86
Saco .......................................... .................... 9 44
Lagoa do Gravatá........................................ 13 43
Lagoa do Coelho ........................................ 32 122
Lagoa do Maio ............................................ 7 44
Casa de Farinha ........................................ 4 16
Geral .............................................................. 22 173
Boqueirão .................................................... 27 118
Canto Grande . ............................................ 2 20
Araticum ...................................................... 5 31
Emboacica (Boacica atual) .................... 30 136
Cana Braba .................. í............................. 9 45
Riacho Seco ............................ . ................... 8 22
CAPÍTULO X

(I) Ä Instrução , Pública na Capitania, Província e Es


tado. (II) Estabelecimentos privados.
NOTAS AO CAPÍTULO DÉCIMO
A primeira cadeira de Gramática Latina no Rio Grande
do Norte é de 21-7-1731 a sua criação. Era o pôsto inicial de eúsino 1
público. Que tínhamos nós antes de 1731 ? Apenas pedidos a
El Rei Nosso Senhor. O Senado da Câmara, em 26-1-1728, diri­
gira-se ao Rei de Portugal pedindo que se erigisse em Natal um
Hospício “em que residissem alguns religiosos da Companhia de
Jesus ou de S. Francisco para ensinarem Gramática aos filhos
daaueles moradores e se poderem ordenar de sacerdotes, de que
padecem grande falta em prejuízo das almas”. Não se pensava
senão no ensino do latim para o ingresso nos seminários.
Êsse mestre de gramática era sempre um clérigo. O primeiro
veio ganhando 50$000 anuais. Demorou-se alguns anos apenas.
O segundo professor, o minorista Mateus Duarte, trouxe carta
de apresentação de dom frei Luís de Santa Tereza, Bispo de
Pernambuco, datada de 9-2-1740. Em 17-5-1740 o Senado da
Câmara respondia agradecendo ao Prelado o envio do mestre e
aceitando o “partido” (vencimentos) de 60$000 por ano que devia
ser pago ao Mateus Duarte, “por serem ainda poucos os moços
que aprendem a gramática por não estarem os mais dela instruídos
no 1er e escrever que também se aplica o dito mestre” (1) .
Em 1749 continuava vencendo os 60$000 anuais, o duplo
do sôldo que recebia o Ajudante das Ordens do Capitão-Mor.
O Sr. Tavares de Lira resume a situação da época: — “O
ensino primário era ministrado pelos missionários nas aldeias de
índios e pelos vigários e capelães aos filhos dos moradores ricos.
Nas camadas mais baixas, a ignorância era a regra. Extintas
as missões, o mestre escola veio como uma necessidade para
suceder aos padres no seu papel de educadores”; «História do
Rio Grande do Norte», 371.
Os. padres foram substituídos nas aldeias e de modo pre-
caríssimo. O Governador de Pernambuco nomeou mestres para
as antigas missões e êsses mestres eram cabos de esquadra ou
furriéis. Assim a 6-12-1781, dom José Cesar de Menezes nomeava
o cabo de equadra Francisco Pinto de Araújo para “Mestre da
Escola de Arez” e a 12-8-1786 era a vez do furriel André Mateus
da Costa ir ser “Mestre da Escola de Estremoz”.
Uma ordem de 13-9-1766 fixava os vencimentos anuais dos
professores em um alqueire de farinha ou noutros gêneros alimen-
— 262

tícios, por cada estudante, não podendo exceder o pagamento a


dois alqueires, fôsse qual fôsse o número de alunos enviados à
Escola, decretava o Capitão General de Pernambuco.
A Carta de Lei de 10-11-1772 destinou uma verba especial­
mente para o assunto. Era um imposto sôbre gado abatido para
consumo, 400 réis por um boi e 320 por uma vaca.
Mestre Escola e Professor Régio atravessaram a segunda
metade do século XVIII e enfiaram pelo XIX, entocados nos
sertões, prestando serviços relevantes, desasnando,. com beliscão,
palmatória e vara de marmeleiro os futuros chefes políticos, padres
ilustres, soldados valorosos e fazendeiros onipotentes, saudosos do
tempo de escola, da oração inicial e do pedido de bênção ao
mestre cujos* direitos morais jamais prescreviam.
Em 1731 tínhamos uma cadeira de gramática latina. Em 1798
eram quatro, custando 580$000 anuais. Nossos vizinhos estavam
mais bem aquinhoados. Ceará contava nove, gastando a Real
Fazenda l:800$000 e a Paraíba cinco, com 71 $000 por ano.
Nessa lentidão de lesma mantinha-se certa relatividade. Na
capital do Vice Reinado do Brasil, no govêrno do cerimoniático
dom José Luís de Castro, conde de Resende, havia ainda menos,
no mesmo 1798.
Um dos nossos professores régios deixou nome. Foi o Mestre
de Régia Latínidade Francisco Xavier Garcia. Já estava em Natal
em 1786, casando, no ano seguinte com uma filha de Manuel Pinto
de Castro. Chegou a governar a Província presidindo o Govêrno
Temporário, fevereiro-março de 1822 e veio a falecer em 31-8
de 1828, com 60 anos.
No século XIX houve verdadeiro início do ensino regular.
Para o interior os vigários foram mestres natos, fundadores das
escolas paroquiais imemoráveis, fazendo decorar as declinações
latinas e regras essenciais do bem dizer, com paciência, cocorotes
e berros.
Um decreto das Cortes de Lisboa, em 30-6-1821, permitia
a qualquer cidadão o ensino e abertura de escola de primeiras
letras, independente de exame e licença. Essa liberdade anunciava
que o interêsse madrugava nos graves legisferantes. Não podia
dar resultados nas Províncias despovoadas e paupérrimas, sem
o fermento das leituras, longe de possuir uma dúzia de letrados.
O Império começaria a campanha sob outra fórmula, a lei,
a ordem legal, partindo do trono, sacudindo, balançando a sonolên­
cia provincial.
Ém 1823 os Ministros se apaixonaram por Joseph Lencaster
e seu ensino-mútuo. Era um processo simples, fácil, lógico e sem
complicações técnicas que sempre seduziram os nossos simplifica-
— 263 —

dores pedagogistas. Consistia no professor fazer os alunos mais


instruídos e capazes transformarem-se em explicadores, íepetindo
as lições aos mais atrasados ou menos curiosos das luzes do saber
como se dizia naquele tempo. As classes dividiam-se en decúrias
e êsses dez meninos eram dirigidos por um decurião, nome pres­
tigioso pela ressonância romana. O castigo físico seria substituido
pela punição moral, detalhe jamais obedecido e furiosamente com­
batido pelos pais dos estudantes, partidários do princípio de que
a letra entra com sangue. O método Lencasteriano empolgou o
Govêrno Imperial e determinou um movimento vivo :m prol da
educação popular.
Em 1-3-1823 Sua Magestade o Imperador criava a primeira
Escola das Primeiras Letras, pelo Ensino Mútuo, método Lencas­
teriano, no Rio de Janeiro. Faltava, naturalmente, o professor em
número capaz de atender aos reclamos do momento. A solução
apareceu numa portaria de 29-4-1823, do Ministro da Guerra,
João Vieira de Carvalho, mandando que, nas Províncias, retiras­
sem da Tropa de Linha dois indivíduos, oficiais inferiores ou
mesmo soldados, tendo a necessária e. conveniente aptidão para
aprender, e enviassem para a Córte os dois homens. Aprende­
ríam o método Lencasteriano a fim de “poderem, voltando à sua
Província, dar lições não só aos seus irmãos d’Armas, mas ainda
às outras classes de Cidadãos”, esclarecia o futuro Marquês de
Lajes.
Parece não ter produzido colheita satisfatória. Mas não
arrefeceu o entusiasmo Lencasteriano. Outra portaria, le 22-8
de 1825, do Ministro do Império, Estevão Ribeiro de Resende, dis­
tribuída a tôdas as Províncias, avisava que Sua Magestade o
Imperador “reconhecendo a grande utilidade, que resulta aos Seus
Súditos, do estabelecimento de Escolas Públicas de Primeiras
Letras pelo método Lencasteriano” mandava promover «quanto fôr
possível a introdução e estabelecimento das referidas Escolas, de
cujos benefícios hajam de aproveitar-se os habitantes da Pro­
víncia.”
Os norte-riograndenses estavam, nesse tempo, ocupadíssimos
com um divertimento inteiramente novo para êles, a Política. A
Imperial Ordem passou despercebida no meio da fumaça^ odienta
das brigas locais.
A lei de 15-10-1827, mandando criar escolas de primeiras
letras em tôdas as cidades, vilas e lugares mais populosos do
Império, despertou a província. Nenhuma outra lei seria mais
sábia em seu sentido ambiental, compreensão psicológica e pre­
visão técnica. Numa distância de século unificava o ensino, res­
ponsabilizava a cultura, estabelecia o exame, pagava o professor,
— 264

44com atenção às circunstâncias da população e carestia dos lu­


gares.’*
Os artigos 4 e 15 denunciavam a predileção: — “As escolas
serão de ensino mútuo”, 44Os castigos serão os praticados pelo
método de Lencaster.”
■ Que ensinavam os professores ? Dizia o artigo 6 : — 44Os
professores ensinarão a 1er, escrever, as quatro operações de arimé-
tica, prática de quebrados, decimais e proporções, ás noções de
geometria prática, a gramática da língua nacional e da doutrina
da Religião Católica, Apostólica, Romana, proporcionados à com-*
preensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição
do Império e a História do Brasil.”
Para as meninas, art. 12: — “As mestras, além do declarado
no art. 8, com exclusão das noções de geometria e limitando a
instrução de aritmética só às quatro operações, ensinarão também
as prendas que servem à economia doméstica.”
No Rio Grande do Norte a lei de 15-10-1827 (2) marca a
inicial da velocidade na instrução. O presidente da província,
com o Conselho do Govêrno, multiplicou as escolas. O Conselho
Geral da Província aprovava vencimentos, numa solidariedade
crescente.
A primeira escola nascida por fôrça da lei foi uma aula
feminina na “Cidade Alta”, em Natal, a 1-8-1829. A professora
era dona Francisca Josefa Soares da Câmara. O “mestre” da
Ribeira era Francisco Pinheiro Teixeira.
Pouco mais de três anos depois, a 23-10-1832, a Regência
aprovava os ordenados das cadeiras de ensino de Primeiras Letras,
criadas pelo Presidente em Conselho e pelo Conselho Geral da
Província do Rio Grande do Norte: — 300$ anuais para a de
meninos na Cidade e na Ribeira, e 250$ para o de meninas da
mesma Cidade e das Vilas de S. José, Princesa; e de 250$ para
a de meninos nas Vilas de Goianinha, Arez, Vila Flor, Estremoz,
Princesa, Principe, Portalegre e S. José de Mipibu e das povoa­
ções de S. Gonçalo, Papari, Touros, Guamaré, Oficinas do Açu,
Campo Grande do Panema, Santana do Matos, S. José dos Angi­
cos, Acari, Jardim de Piranhas, Serra do Martins, Várzeas do
Apodi e Santa Luzia do Mossoró. Ganhariam êsses últimos i
150$000 por ano. .
x Com oscilações causadas pelas longas estiagens que anulavam
quase a vida organizada na Província, bruscas rajadas. de epide­
mias, ausência de professorado competente em relação às necessi­
dades a instrução pública não mais se deteve. Irregular, pobre,
vagarosa, discutida,, foi subindo, descendo, sem cessar o movimento
ganhando as fronteiras da Província.
— 265 —

A lei de 12-8-1834, o Ato Adicional que Bernardo Pereira


de Vasconcelos chamou o código da anarquia, entregou às Assem­
bléias Legislativas Provinciais (criadas por êle) o direito de criar
e suprimir, dirigir e dispor na espécie educativa, no § 2.° do
art. 10. A lei de 15-10-1827 morrera mas suas idéias, princípios,
formas, influiram muitíssimos anos seguidamente. Ainda em 1865
o "‘Regulamento para a Instrução Primária da Província do Rio
Grande do Norte”, assinado pelo presidente Olinto José Meira,
estava impregnado da lei desaparecida.
Naturalmente as meninas eram mais esquecidas. As aulas
destinadas à sua frequência são raras, fortuitamente equilibradas
com o número das masculinas. Havia a mentalidade ciúmenta do
pai de família no tocante a exibição da menina, guardada em casa
como jóia de estimação, dormindo nas camarinhas sem janelas,
aprendendo a cozer, bordar, tecer, fiar, fazer rendas e doces, escre­
vendo, bem mal, as letras do nome. Dizia-se que ensinar moça a
escrever era facilitar correspondência amorosa. A conquista femi­
nina, nesse ambiente de forças negativas e retardadoras, é mais
notável pela ausência dos elementos fáceis ao concorrente do outro
sexo.
O ensino secundário era o Latim e o Francês. Ao Latim
entregava-se a coroa da sabedoria integral. Não saber uma
palavra latina era índice indesculpável de ignorância. Os velhos
fazendeiros, iletrados e poderosos, sabiam empregar uma frase de
Vergílio ou de Horácio, um provérbio, uma sentença bíblica, reci­
tando orações no idioma clássico que tomava acentos imprevistos
de ineditismo naqueles lábios habituados a comandar.
As mais antigas cadeiras de Latim foram em Natal, 1731,
Açu, 1827, Caicó, 1832, seguindo-se S. José de Mipibu, Goianinha,
Imperatriz (Martins), riscadas e ressurgidas nos orçamentos pro­
vinciais .
Em Natal havia as Aulas Maiores, Latim, Filosofia, Francês.
Geometria e Retórica. O presidente Basilio Quaresma Torreão
reuniu-as, fundando o Ateneu do Rio Grande do. Norte, instalado
a 3-2-1834 (3) com vida agitada, várias reformas, tendo o direito
de dizer-se ninho de tôdas as águias e sabiás que se emplumaram
para vôos em nossos céus. O Decreto 1.166, de 10-3-1943, retirou
o secular nome de Ateneu pelo, inexpressivo e banal Colégio Esta­
dual do Rio Grande do Norte que devia ser apenas subtítulo nos
papéis timbrados.
A população escolar não era relativa aos interêsses notórios
do govêrno provincial.
Em 1820 os estudantes vão.apenas a 405. Em 1835, 601 no
primeiro semestre, 334 no segundo, com 75 e 77 meninas, respecti-
— 266 —

vamente. Em 1839 o total c de 788. Em 1844, 674. Em 1849, 528


meninos e 48 meninas para 17 escolas masculinas três femininas.
Em 1850, 647 meninos e 67 meninas. Em 1852, 847 meninos e 135
meninas. Em 1854 tínhamos 29 escolas numa massa demográfica
calculada em 170.000. Estudavam 1319 crianças, sendo 185 do
sexo feminino. Em 1856, Ano do Cólera as escolas iam a 30,
com 1.002 meninos, e 7 para 173 meninas. Funcionavam oito
cursos particulares, com 129 alunos. Em 1859 ò presidente Nunes
Gonçalves inaugurou o edifício do Ateneu a l.° de março e o
Colégio de Educandos Artifices a 2 de dezembro, aniversário
do Imperador D. Pedro II. Êsse Colégio foi o primeiro estabele­
cimento que possuímos com instrução profissional. Teve 20 ma­
trículas. número fixo, com ensino primário, cursos de música
instrumental, alfaiataria, sapataria, carpintaria e estava vago o
lugar de mestre de pedreiro. Foi extinto em 1862. Em 1867 havia
1.041 meninos e 290 meninas. O Dr. Gomes da Silva, diretor da
Instrução Pública, no seu relatório de 1873, informa: .•— “Até o
ano passado 75 escolas eram frequentadas por 2.366 alunos de
ambos os sexos, ou 31 alunos por escola, hoje 78 escolas são
frequentadas por 2.693 ou 34 alunos por escola.0
Em 1-3-1874 foi inaugurada a Escola Normal do Ateneu.
Matricularam-se 20 alunos. No ano seguinte, oito. Em 1876, dez.
Em três anos diplomou três alunos e custara oito contos de réis,
chorados pelo Presidente Tolentino de Carvalho no seu relatório
de 1877. Suprimiu-a a 19-11-1878.
Em 1874 havia Biblioteca Pública em Natal, S. José de Mu-
pilu, Mossoró e Açu.
Em 1875 apenas duas escolas em Natal, e uma da povoação
de Parelhas, funcionavam em prédios próprios. Tôdas as demais
eram nas residências dos professores, informava o presidente Gue­
des Alcoforado. Contávamos, no ano da seca dos dois sete, com
1761 alunos e 852 alunas e mais 53 estudantes nos cursos par­
ticulares. As escolas eram 62 para meninos e 32 para meninas.
Em 1878 a população escolar é de 3.542 meninos e meninas,
frequentando 2.613. A 5 de novembro o Barão do Ceará-Mirim
entregara sua oferta, um prédio destinado a escola na então vila.
O vice-presidente em exercício, Bezerra Montenegro, elogia o Co­
légio S. Miguel, instalado no Ceará-Mirim pelo francês Luís
Carloman Capdeville. O maestro Joaquim Cipião de Albuquerque
Maranhão (1867-1947) que fôra aluno, escreveu numas notas que
possuo tratar-se de um francês muito charlatão. Bezerra Monte­
negro exalta um externato particular, dirigido por d. Emilia
Augusta Alber, misto, com primeiras letras, arimética, gramática
portuguêsa, francesa e alemã que fala perfeitamente, informa Mon-
267 —

tenegro, além de geografia, música, desenho, piano, história sa­


grada, doutrina cristã e trabalhos de agulha. Pela primeira vez
aludia-se ao ensino de piano (1878). *
Em 1881 contavamos 1.887 estudantes, 362 do sexo feminino.
Em 1885, 4.033, não incluindo 302 meninos e 138 meninas das
aulas particulares. Nesse 1885 destaca-se na cidade do Ceará-
Mirim o Popular Instituto Literário que mantém uma escola no­
turna sob a direção do Dr. Francisco de Sales Meira e Sá. Em
1886 nossa população total era de 260.000 almas. Havia 152
escolas, uma para cada 2.337 habitantes. Os estudantes chega­
vam a 3.382? Em 1888, 2.227 meninos e 1.532 meninas. No
último ano monárquico, 1.889, matricularam-se nas 152 escolas,
3.275 meninos é 1.905 meninas. .
O Rio Grande do Norte imperial demonstrou o mais alto
interêsse pela instrução pública. As adversidades e falhas nas suces­
sivas reformas não diminuem o valor de uma solidariedade pres­
tante e contínua através dos tempos. Uma acusação fácil, espécie
de moléstia espiritual, é apontar-se o descaso dos velhos adminis­
tradores de outrora pela educação. Uma viagem nos orçamentos
provinciais evidenciará o contrário. Como raríssimas províncias do
Brasil, o Rio Grande do Norte dedicou quase sempre, normalmente,
sua maior dotação orçamentária à Instrução Pública. O carinho
dos governos republicanos por êsse problema é uma repercussão
do hábito oficial desde as primeiras leis de meios. Aqui estão
algumas cifras, a primeira verba do primeiro orçamento e noutras
que atestarão o exposto.
1836-1837 (l.° orçamento) ............... ... ll:380$000
É a maior verba. A Saúde Pública ficara com 400$ e Obras Públicas com
2:600$.
1937 (100 anos depois) .......................... 2.489:531$500
1947 .................................................................. 10.977.480,00
1950 .................................................................. 14.051.570,00
1952 ............................................. 23.894.600,00

Em 1840-41, num orçamento de 78.910$216, a instrução


estava contemplada com 15.498$666, a segunda em valor. A pri­
meira, nesse ano, foi Obras Públicas, com 15.500$000. Para
1846-47 vemos que, da despesa total prevista em 60.286$677, a
instrução consumiría 11.828$042. O presidente Nunes Gonçalves,
em 1859, salientava, na despesa decretada com a Instrução era
de 41.760$000, «e sendo a receita orçada em 110:000$000, vê-se
que só êsse ramo do serviço consome já muito mais de um têrço
da renda.” Para 1886-87, 492:408$151 dariam 152:956$000 para
o ensino, ainda a maior verba. A mais próxima, Fôrça Pública, não
atingia a metade. No derradeiro orçamento do período imperial,
. — 268

em 1889, a despesa calculada em 499:670$297 comportava uma


destinação de 135:460$000 para a Instrução Pública.
O Inspetor do Tesouro Provincial, Joaquim Guilherme de
Souza Caldas, publicou em 1887 um quadro das despesas orça­
mentárias de 1860 a 1886 com a Instrução Pública, mostrando
sua farta e alta porcentagem, superior a qualquer outra verba.
De 1860 a 1886 a Província arrecadara 6.964:539$397 réis e
despendera com a Instrução 1.879:974$666 réis, equivalente a
pouco menos de um têrço e a mais de um quarto de tôda a receita.
Na República, o Rio Grande do Norte manteve seus gover­
nantes na vanguarda das dotações orçamentárias quanto à educa­
ção popular. Não alcançando a predominância regular, dada a
necessidade urgente de atender serviços indispensáveis e poucos
desenvolvidos, os orçamentos dedicam verbas notoriamente vulto­
sas para a educação infantil e profissional. Em 1895 davamos 1/7-
S. Paulo 1/8 e Pernambuco 1/10.
O volume da massa estudantil continuou galgando, devagar
e continuamente, algarismos maiores. Em 1895, 1.008 meninos-
e 1.034 meninas. Em 1897, 1.187 meninos e 1.051 meninas. Em
1890, um total de 2.588 estudantes. Em 1904, para 54 cadeiras,
2.804. Em 1914, 3.932 e mais 4.596 nas escolas particulares, num
total de 8.528. Em 1922 a freqüência era de 12.053. Em 1927,.
9.387 matriculados com uma freqüência de 80%. Em 1930 a
freqencia alcançava 82% nos 31.987 matriculados. Em 1935 a
freqüência ia a 24.755 alunos. Em 1941 frequentavam as escolas.
32.120 estudantes, sendo 13.479 meninos e 18.641 meninas. Em
1950, 56.698. Em 1951, 61.451.
Em 1952, compreendendo os primários oficial e subvencio­
nado, secundário, supletivo, abrangendo adultos e adolescentes e
escolas municipais, os estudantes no Rio Grande do Norte iam:
a 73.914.(*)
No período imperial a maior elevação no disseminamento de
escolas foi 1829-1832. Na República é o ciclo que começa em 1908.
Data o movimento intenso, o interêsse máximo, a difusão real, prá­
tica, consecutiva.
Em 1895 a “mensagem” governamental confessava a inferió*
ridade vergonhosa na instrução primária. A Escola Modêlo, criada^
no Ateneu, pouco resistira ao desânimo. Uma Escola Normal,
nascida em Decreto de 8-2-1890, não viveu fora do papel oficial.
A lei 131, de 13-9-1899, entregando a criação das escolas aos
municípios, com o auxílio de 600$ e depois 900$ anuais, retardou
(*): — O governador Sylvio Pedroza inaugurou a 11-3-1954 o monu­
mental Instituto de Educação e em 27-7 do mesmo ano o Ginásio que tem o,
seu nome. São edifícios definitivos para • o tempo e nível educacionais.
— 269 —

lamentàvelmente a velocidade educacional. Com sabida falta de


prática, absorvidos pelos interêsses imediatos e materiais do pró­
prio município, os vereadores foram adiando a fundação de escolas,
alegando falência de verba ou falta de professorado idôneo que a
mesma carência de meio justificava. As “mensagens” dos Gover­
nadores aludem a falta de informações, mapas, dados sôbre a
população escolar do Estado. Em 1907 o Governador Antônio de
Souza falava nos deploráveis resultados que a lei 131, sem sonhar,
positivara.
Em 1908 houve o renascimento, com espírito pronto e uma
compreensão realística do trabalho pedagógico e da alma infantil.
Criação do Grupo Escolar Modêlo Augusto Severo pelo Decreto
n.° 174, de 5-3-1908. Em 29 de abril um Decreto recriava a Escola
Normal, instalada a 13 de maio. O l.° Grupo Escolar instala-se a
12 de junho. É a vez do Dr. Francisco Pinto de Abreu, o Diretor
da Escola Normal e do prof. Ezequiel Benigno de Vasconcelos
Júnior no Grupo Escolar Modêlo.
Um mês antes, 29-4-1908, fizera a reforma da Instrução Pú­
blica, atualizando-a. Pensa-se sèriamente em combater a praga
dos prédios adaptados para escolas e construi-los dentro da exi­
gência normal da finalidade, claros, arejados, confortáveis, atraen­
tes.
A Escola Normal funcionou no Ateneu, 13-5-1908 a 13-12
de 1910. Em janeiro de 1911 mudou-se para os salões do Grupo
Escolar Modêlo cujo prédio, ornamental para a época, fôra
inaugurado a 2 dêsse mês e ano. A 4-12-1910 diplomara sua
primeira turma de vinte e sete professores primários, quase todos
dedicados ao magistério. •
A 15-11-1908 criava-se o primeiro Grupo Escolar no interior,
o “30 de Setembro” em Mossoró. Hoje tôdas as sedes muni­
cipais possuem êsses tipos racionais de escolas-maiores.
Um patrimônio legítimo é a Escola Prática de Agricultura em
Jundiai (Macaiba).
O Decreto n.° 163, de 19-1-1922 criou a Escola Norma'
Primária em Mossçró, instalada a 2 de março e equiparada a
de Natal pelo Decreto n.° 698, de 16-7-1934. A lei 204, de 7-12
de 1949 cria o Curso Normal Regional junto às Escolas Normaií
de Natal e Mossoró, destinado ao preparo de regentes de ensine
primário.
Em 24-4-1922 criava-se a Escola Profissional do Alecrim
serralheria, marcenaria, sapataria, funelaria. Houve, lei n.° 498
de 2-12-1920, a Escola de Farmácia que chegou a diplomar uma
turma em 1925. O Decreto-lei n.° 682, de 3-2-1947, criou a
Faculdade de Farmácia e Odontologia, equiparada às demais do
país.
— 270

O Decreto n.° 1.498, de 6-9-1946, criou em Natal urna Escola


de Corte, Costura, Prendas Domésticas e Dactilografía.
Em 1952 o Estado possui 71 Grupos Escolares, 35 Escolas
Reunidas, 610 Escolas Isoladas, 300 Escolas subvencionadas, 580
Cursos de Alfabetização de Adultos, duas Escolas Profissionais e
21 classes de trabalhos manuais distribuidos pelos Grupos Escola*
res e Escolas Reunidas da Capital e do interior trabalham K357
professoras para 56.556 alunos.

Il
Como uma homenagem ao bom combate recordamos no Ceará-
Mirim o Colégio S. Francisco de Sales, desaparecido, fundado e
dirigido pelo Dr. Francisco de Sales Meira e Sá, 1884-1888, assim
como o Colégio Sete de Setembro em Mossoró, do prof. Antônio
Gomes de Arruda Barreto, de 1900 a 1905, ambos com profunda
impressão ambiental. A 2-3-1901 instalava-se em Mossoró o
Colégio Diocesano S. Luzia, o mais antigo do Estado e em plena
vitalidade educadora, sendo marcante a passada administração do
Pe. Jorge Ó Grady de Paiva.
Em Natal, fevereiro de 1902, inaugurava-se o Colégio da
Imaculada Conceição, das freiras do Instituto de S. Dorotéia, o
primeiro estabelecimento para educação feminina, sem desconti-
nuidade até o presente. A 2-3-1903 nascia o Colégio Diocesano
S. Antônio, de inexcedíveis serviços à instrução masculina.
Passou à Congregação dos Irmãos Maristas a 26-12-1929, rea­
brindo seus cursos a 2-2-1930.
Dirigido pelas freiras da Ordem Terceira das Franciscanas
Hospitaleiras Portuguêsas inaugurava-se em Mossoró, a 2-8-1912,
o Colégio do Sagrado Coração de Maria.
A Escola Doméstica instalava-se em Natal a 1-9-1914, man­
tida pela Liga do Ensino, inspiração e ânimo de Henrique Cas-
triciano de Souza. Era a primeira no Brasil em seu gênero, sob
rnodêlo técnico superior, assimilada inteligentemente em relação
ao espírito - nacional. Impar e poderosa, a Escola Doméstica de
Natal é um dos mais altos e legítimos títulos de alegria educacional
brasileira. Diplomou sua primeira turma a 25-10-1919 sendo pa­
raninfo o ministro Oliveira Lima.
A Escola de Comércio é de 8-9-1919, de incalculável bene­
fício, inflexível orientação e benemérita continuidade.
Em 11-10-1925 as freiras da Congregação de Filhas do Amor
Divino abriram o Colégio S. Teresinha do Menino Jesus no
Caicó, Dois outros, pertencentes à mesma colméia, incansável e
laboriosa, surgiram, o Colégio de N. Sra. das Vitórias no Açu
a 9-3-1927 eodeN., Sra. das Neves em Natal, a 2-8-1932.
— 271 —

Pelo Decreto n.° 425, de 31*1*1933, criava a Interventoria


Federal o Instituto de Música do Rio Grande do Norte, hoje
instituição particular e subvencionada, sob a direção de Waldemar
de Almeida durante muitos anos. No Instituto radicam*se as me*
Ihores tradições do ensino musical, felizmente em justa e nobre
ascensão.
As freiras da Congregação Franciscana de N. Sra. do Bom
Conselho fundaram em Ceará*Mirim, 14*4*1937, o Colégio S.
Agueda e o Colégio N. Sra. do Carmo, a 19*4*1941, em Nova
Cruz. Também essas freiras superintendem o Orfanato Abigail
Afonso na cidade do Martins, inaugurado a 1*11*1940. Em Angi*
cos, a 1*3*1942, instalava*se o Colégio Padre Felix.
D. José de Medeiros Delgado, l.° Bispo do Caicó, fundou
a 26*7*1942 o Ginásio Seridoense na sua cidade episcopal.
O Dispensário Sinfrônio Barreto, fundado a 19*7*1925, pas­
sou para a direção das Irmãs.de Caridade a 21*4*1936. Fundaram
essas religiosas o Patronato da Medalha Milagrosa em 27*11*1937
e inauguraram o Jardim de Infância N. Sra. de Lourdes em 11*2
de 1939.
Os Salesianos instalaram o Oratório Festivo em Natal a 27*9
de 1936, criando um Curso Diurno em 1939, e Externato, estabe­
lecendo o Curso Filosófico em dezembro de 1940. As Irmãs Sale*
sianas fundaram o Instituto de Maria Auxiliadora a 2*3*1951.
Muitas outras instituições vivem em pleno trabalho de ensino pelo
Estado, como o Ginásio Sete de Setembro (15*8*1940), a Socie*
dade Escolas e Ambulário S. José, das freiras Irmãs de Caridade
nas Rocas e o Instituto Batista, etc. O Departamento de Educa*
ção dispõe (1952) de uma verba de Cr$ 1.060.200,00 para
subvenções, contribuições e auxílio às entidades que se distribuem
por todo Estado na mesma intensidade de esforço educacional.
Em 1917 Henrique Castriciano fundou a Associação Brasi*
leira de Escoteiros do Rio Grande do Norte, a pedido de Olavo
Bilac, com o auxílio de Meira e Sá, Eloy de Souza, Moisés Soares,
Francisco Cascudo, Pedro Soares de Araujo, comte. Monteiro
Chaves e o prof. Luiz Soares Correia de Araújo, havendo o jura­
mento à bandeira em 24*6*1917. Essa Associação, transformada
em Associação de Escoteiros do Alecrim em 14*7*1919, sediada
e dirigida pelo prof. Luiz Soares, mantém o mesmo espírito dos
primeiros dias com notória simpatia pública.
A Associação de Escoteiros Andantes foi fundada em Natal
a 1*5*1922 e durou até 1930. Seu animador era Joaquim Lustoza
Raposo da Câmara e o presidente Manuel Lustoza da Câmara.
Os Escoteiros Andantes deixaram uma tradição notável. Uma
patrulha de cinco escoteiros Aguinaldo Mendes de Vasconcelos,
— 272 —

José Alves Pessoa, Humberto Lustoza da Câmara. Henriaue Da­


masceno Borges e Antônio Gonzaga da Silva realizou o raid Natal
a S. Paulo, num percurso de 1.013 léguas, vencidas a pé. Parti­
ram de Natal às 15 horas de 14 de janeiro e chegaram à cidade de
S. Paulo a 2 de setembro de 1823. A travessia da Guanabara foi
feita a nado por José Pessoa e Aguinaldo Vasconcelos. Os outros
três escoteiros fizeram uma jangada e nela venceram o trecho,
dentro das regras da corporação. Essa viagem teve repercussão
nacional sendo comentadíssima. Antes, nenhuma associação, mes­
mo estrangeira, contava no seu acervo façanhas dêsse porte; Pos­
teriormente os escoteiros ingleses fizeram marchas ainda maiores.
As primeiras 1.013 léguas, calcadas pelo pé juvenil de escoteiro,
pertencem a êsses cinco brasileiros.
A Comissão Regional de Escoteiros do Mar, organizada pelo
prof Luiz Soares na Colônia de Pescadores das Rocas em Natal,
1933, com o auxílio do comte. Joaquim Terra da Costa, passou
para a direção do prof. Acrisio Freire, a 23-4-1935, quando êsse
assumiu o cargo de diretor do G.E. Izabel Gondim, nas Rocas,
ampliando seus quadros e organização.
A Escola de Aprendizes, Artífices, , hoje Liceu Industrial,
instalada em Natal a 1-1-1910, sem solução de continuidade acresce
seu crédito na gratidão norte-riograndense pelos benefícios deter­
minados por seus cursos, mantidos pelo Govêrno Federal. O seu
l.° diretor foi o Dr. Sebastião Fernandes de Oliveira e o atual
(1952) Jeremias Pinheiro da Câmara Filho.
Um estabelecimento desaparecido e inesquecível foi a Escola
de Aprendizes Marinheiros, instalada em Natal a 12-8-1873 e
suprimida em 1898, no govêrno do presidente Prudente de Morais.
Em 1908 o almirante Alexandrino de Alencar restaurou-a. Fixou-
se em 1912 no sítio Refoles onde várias acomodações foram sendo
construídas. Alguns centos de marinheiros norte-riograndenses fi­
zeram seu aprendizado nessa Escola. Em fevereiro de 1941 foi
transferida para o Recife. Seu lugar, alargadas as áreas, ocupa-o
a Base Naval de Natal.

NOTAS AO CAPITULO DÉCIMO


(1) Luís da Câmara Cascudo, cHistória da Cidade do Natal», cap. 18,
onde há outras informações sôbre o histórico do ensino. Transcrevo n3 íntegra
a carta do Bispo e a resposta do Senado da Câmara, copiadás do arquivo do
Instituto Histórico.
(2) Nestor Lima, «Um século de Ensino Primário», Natal, 1927.
Í3) Luís da Câmara Cascudo, cNotas para a História do Ateneu».
RIHGRGN, XXVII-XXVIII, Natal, 1937. Divulgarse a data exata da insta­
lação do Ateneu.
CAPITULO XI

( I ) Assistência médica na Capitania e Província. Epide­


mias. (II) Organização, reformas e transformações.
Saúde Pública na República e sua evolução.
NOTAS AO CAPÍTULO DÉCIMO PRIMEIRO

ADENDO
Francisco dc Castro Morais, governador dc Pernambuco,
escrevera em dezembro de 1703 à senhora rainha da Inglaterra,
Infanta Regente de Portugal, sobre um assunto raro nos papéis
oficiais. Em carta régia de 18-7-1704, Sua Alteza respondia a
carta "em que representeis ser mais conveniente o remeter-se deste
Reino a Botica que se vos ordenou mandásseis para a cura dos
Soldados que assistem no Açu do Têrço dos Paulistas e da mesma
maneira outras para o Ceará, Jaguaribe e Rio Grande por custarem
muito nessa Capitania os medicamentos e não serem tão bons; e
na consideração destas vossas razões, e por se entender ser útil o
que apontais. Me pareceu mandar-vos remeter as quatro Boticas
que insinuais serem necessárias para os ditos Presídios.”
Entende-se da resposta de Sua Alteza que Açu e Rio Grande
(Natal) receberíam duas boticas e que os medicamentos eram tão
caros em Natal de princípios do século XVIII como estão sendo
na segunda metade deste XX. Essas boticas destinavam-se exclu­
sivamente aos soldados feridos. Quais os remédios ^ Compreendia
12 arráteis de marcela e 12 pílulas de amília, podendo servir inde­
finidamente. A carta régia é, para mim, o mais antigo documento
que se refere ao socorro médico na Capitania.
A guarnição militar do Forte dos Reis Magos possuiu seu
cirurgião muitos anos depois. Num documento de 1749, na “Des­
pesas que se fazem pela dita Provedoria Real, em cada ano", está
o registo: — “O Cirurgião que assiste a curar a infantaria vence
uma praça de soldado e pão de munição, que com o ordenado de
cirurgião vence ... 63$ 180.”
Êsse Cirurgião do Forte inicia a história dos auxílios médicos
no Rio Grande do Norte. Empoleirado no alto do tenalhão,
namorando o mar, era a única criatura humana, em tôda Capitania,
capaz de falar alto e grosso sôbre os humores, os ares e as influên­
cias misteriosas dos astros. É o respeitável antepassado dos nossos
doutores.
Vindo para o século XIX as informações esclarecem vaga­
mente o assunto. Temia-se especialícente a peste das bexigas, va­
riola, praga devastadora e tradicional, em caráter quase endêmico.
A variola devorou o indígena na mais ampla porcentagem dos males.
Na manhã da conquista, em dezembro de 1597, a expedição vinda
— 276 —

da Paraíba voltou da Baia da Traição, dizimada pelas bexigas.


A preocupação dos administradores, da Capitania, Provincia e
Estado foi debelar essa enfermidade horrenda, recebida pela po­
pulação como um castigo de Deus, combatida pelos meios mais em­
píricos possíveis, mais pertencentes ao dominio anedótico que ao
terapêutico.
Em ofício de 11-9-1809 Josè Francisco de Paula Cavalcanti
de Albuquerque, governador da Capitania, solicitava ao Ministro
Conde de Aguiar um sortimento de vacinas. Aguiar respondia a
25 de outubro informando que uma porção daquela humor seria
enviada da Bahia. A » Bahia fôra o primeiro ponto no território
brasileiro a conhecer a vacina jeneriana, em 1804, graças ao futuro
Marquês de Barbacena, Felisberto Brant Pontes Oliveira e
Horta ( 1 ).
As alusões às vacinas são frequentes nos documentos da
época. O resultado era mínimo pelo horror que ao paciente cau­
sava a simples idéia de ser inoculado com pus. Reunia-se ainda
essa reação popular à falta de elementos capazes do serviço, de
maneira proveitosa.
Em 15-4-1818 o governador José Inácio Borges escrevia ao
general Luís do Rego Barreto informando o estrago que a bexiga
causa por estas alturas e sabendo que o governador de Pernambuco
tinha a verdadeira vacina pediu a S. Excia. o favor de m’a mandar,
e com el aalgum moço Ajudante de Cirurgia dos que assistem as
operações diárias e esteja destro em a propagar, visto que não a
quero arriscar nas mãos do Cirurgião Mor da Companhia de Linha,
não só por falta de vista que já padece, como por que é de
escola anterior a esta importante descoberta. A 5 de maio o gover­
nador Luís do Rego enviou a vacina e em vez de um Ajudante
chegou o próprio Cirurgião Mor d*Artilharia, Francisco de Sousa
Soares, para aplicá-la. Em junho, Borges, escrevia, triste, que o
preventivo falhou em tôdas as pessoas que vacinou; acontecimento,
que dada a perícia do Professor, só pode explicar-se pelo defeito
dar matéria conduzida. O Cirurgião escrevia ao Cirurgião-Mor da
Divisão pedindo novas lâminas de pus extraído dos vacinados do
país. Luís do Rego voltou a enviar a vacina a 8.-8-1818.
Os cuidados maiores foram, decorrentemente, a luta contra
a varíola. Além do médico do Partido Público, aproveitando o
outro que viera servir na Enfermaria Militar, já existente em 1850,
por conta do Govêrno Impérial, a Província pagava 300$000
anuais a um Comissário Vacinador que o doutor da tropa.
Ainda a 1-12-1833, falando ao Conselho Geral da Província,
o presidente Basilio -Quaresma Torreão lamúria o desastre que lhe
parecia ser à vacinação entre o povo norte-riograndense: — "A
— 277 —

Vacina, esta descoberta tão salutar, e tão útil à Humanidade, êsse


antemural do flagelo da peste, não tem tido aqui aquela propa­
gação proporcionada aos esforços do Govêrno. Não sei ainda a
que deva atribuir o mau resultado desta operação; se por não ser
o verdadeiro pus; se à falta de Professores que o apliquem; ou se
ao mau sistema guardado no transporte, já da Capital do Império
para as das Províncias; já destas para as Câmaras do Interior, e
daqui em fim para os lugares parciais/*
Com modificações, foram essas as críticas de quase todos
os Presidentes da Província quando se referiam às tarefas da
vacinação.
A 3-12-1852*0 presidente José Joaquim da Cunha informava,
visivelmente enganado quanto à parte cronológica: — «Ã vacina,
que só teve princípio nesta Província em setembro de 1847, quase
nunca se praticou fora da Capital por deficiência de pessoas, que
a isto se quisessem prestar. Foram vacinadas desde aquela época
até o fim do ano antecedente 1.617 indivíduos, isto é, apenas uma
centésima parte da população da Província/*
Foi a organização de mais lenta sistemática ' no quadro dos
serviços públicos. No primeiro Orçamento, para 1836-1837, inau-
gura-se com o título de Saúde Pública” uma verba de 400$000:
— com saúde Pública e vacina. Para 1837-1838 não há denomina­
ção especial, espalhando-se as verbas em várias especificações:
«Com a condução, sustento, vestuário e curativo dos presos po­
bres... 900$000; com um Médico de Partido para receitar, e
curar nesta Cidade as pessoas miseráveis da Província ... 600$000;
com a vacina ... 200$000; com remédios às pessoas pobres e mi­
seráveis ... 200$000.
Era um avanço. Diga-se também que não havia Médico de
Partido Público. Nenhum se resignara a ganhar os 600$ anuais
julgados próprios para fixar um facultativo na pequenina Natal.
No orçamento de 1846-47 há 2.000$ para uma Casa de
Caridade inexistente, 1.000$ com o Médico existente, informan-
do-se que o Govêrno poderia engajar um Cirurgião hábil, des­
pendendo até 300$ e igual soma com remédio às pessoas miserá­
veis, enquanto não aparecesse a Casa de Caridade.
Para 1851, numa despesa de 61:124$780 há 2:000$ para a
Caridade Pública, título qué se manteve durante o período imperial.
Êsses dois contos destinavam-se ao sustento dos presos pobres
l$000, e 400$ para os remédios aos mesmos e pessoas miseráveis
da província. Em 1861, para 199:091 $965, a Caridade Pública
teria 15:000$. Os presos pobres receberíam 320 réis diários.
Essa verba veio até 1866. Para 1867-68 a despesa calculada ein
287:402$548 destinou 12:320$ à Caridade Pública. Em 1875-76,
— 278

para a despesa de 318:682$026 a Caridade fora contemplada corn


16:015$. Em 1879-80 de 280:434$382 há 25:500$, sendo que os
remedios consumiríam apenas 2:000$. Em 1886-87 em 467:872$846
não mais se fala em caridade pública nein privada. Vê-se a soma
de 394$240 para “diárias aos presos pobres”. Somente. Em 1888
há 27:100$ para a Caridade numa massa de despesa orçamentária
de 383:653$908. Em 1889, no último orçamento do período
monárquiço, 30:740$710.
Êsses dados atestarão o estado da Saúde Pública no cuidado
dos orçamentos no Rio Grande do Norte imperial.
E as epidemias ? Além da tradicional Varíola que atravessava
séculos, tivemos algumas que deixaram sulcos inapagáveis na
retentiva popular.
A mais antiga é a Febre Amarela em 1850. Durou dez
meses, desde setembro de 1850 a junho de 1851. No Açu e Macau
a crise foi benigna. Todo o oeste escapou. Natal e S. José de
Mipibu pagaram o tributo do maior obituário, mais de duzentas
vidas.
Em 1856 visitou-nos a Cólera Morbo. Natal possuia um
médico e uma Botica. O presidente Antônio Bernardo de Passos
criou dívidas perpétuas para a gratidão da província. Foi incom­
parável de atividade, iniciativa, energia. Morreram 2.563 pessoas.
Campo Grande ............................. 1
Papari ..................................... 36
Açu ...................................................................................... 49
Acari .................................................................................... 53
Arez .................. 68
Mossoró .............................................................................. 75
Príncipe .............................................................................. 109
S. Gonçalo .......... 121
S. José de Mipibu .......................................................... 153
Natal .................................................................................... 215
S. 'Bento (Vila) ............................................. 321
Macau ................................................................................ 538
Ceará-Mirim ................ ’..................................... .............. 824

A cifra não está completa, informava o presidente Passos.


1856 ficou sendo conhecido como o ANO DO CÓLERA. Em
1857, Nova Cruz, Estremoz, Acari, Touros, Natal, Papari e Vila
Flor sofrem seus cruéis estragos mas não há registo numérico.
O presidente Bernardo Machado da Costa Dória encontrara, em
abril dêsse 1857, a Cólera Morbo grassando nalguns pontos. Em
maio de 1858 tudo cessara.
Em junho de 1858 o Médico do Partido Público comunica
que vai se desenvolvendo nesta Cidade uma epidemia cujos sinto-
— 279 —

mas o levam a crer que é a gripe, da qual foram últimamente invar


didas as Províncias do Pará, Maranhão e Ceará.
É o primeiro registo.
Ainda nesse 1858 há um inquérito curioso. O presidente
Nunes Gonçalves assombrou-se com a mortalidade infantil. Dos
160 óbitos verificados em Natal, 89 pertenciam a crianças. O
Médico do Partido Público explicou tratar-se de uma epidemia
de vermes lombricais, auxiliada pela alimentação quase exclusiva­
mente de vegetais. O presidente sossegou. As crianças continua­
ram morrendo ...
Em 1862 reapareceu a Cólera Morbo na segunda metade
do ano. Em outubro de 1863 o presidente Olinto José Meira
escrevia, contristado: — «O Cólera Morbo, a Varíola e a Febre
Amarela encarregaram-se de fazer estragos em diferentes locali­
dades, n’algumas das quais o último daqueles flagelos tem-se
demorado até esta data, e parece haver-se tornado endêmico.”
Ao rodar de 1870 o presidente Pedro.de Barros acusava: —
“No comêço do inverno passado reinaram na capital e em alguns
outros pontos, as câmaras-de-sangue com caráter epidêmico, que,
por via de regra, reaparecem ora naquele caráter ora esporádica­
mente na transição das estações, cedendo apenas estas se firmam”.
Essas desinterias hemorrágicas viveram décadas, tranquilamente.
Em 1872, no relatório do Dr. Henrique Câmara, Inspetor da
Saúde, dizia-se que a Varíola assaltara novamente a província.
Em Natal adoeceram mais de quinhentas pessoas.
A Varíola se foi arrastando, mata aqui, mata acolá, mais dê
dez anos, passeando pelos municípios, tratada pelas “carteiras
homeopáticas” distribuidas pelos juizes de direito e vigários, üs
agentes vacinadores realizavam milagres de persuasão para riscar
o braço dum sertanejo, horrorizado com aquela manobra de tratá-lo
com pus. Vá botar sua porcaria no inferno!... Em 1882 as
Bexigas • apavoraram. Foi unja época de construção de Isola­
mentos, Lazaretos, Recolhimentos. Eram barracões de palha,
erguidos às pressas nos lugares onde a varíola se instalara. Os
variolosos ficavam nas esteiras de palha de piripiri. Para acolhê-los
convenientemente o presidente Francisco de Gouveia Cunha Bar­
reto começou o “Lazareto da Piedade” na estrada velha de Gua­
rapes. Em Natal fizeram três barracões. Um dêsses foi finan­
ciado pelo inglês Francis Artur Bowen, em dezembro de 1882.
O Lazareto da Piedade, de remodelação em remodelação, chegou
aos nossos dias. É o Hospital de Alienados, no Alecrim.
1882 trouxe também uma epidemia de febres miasmáticas. O
Inspetor da Saúde Pública, Dr. José Paulo Antunes, deitou fala­
ção técnica, muito circunspecto, ensinando que o germe produtor
— 280 —

ra de natureza vegetal. A vantagem naquele tempo era saber de


,ue se morria. O miasma era tabu indiscutido e ninjjuém podia
•rever hematozoários e mosquitos transmissores.
1883-93 é o domínio da bexiga mansa, cataporas, um surto de
leribéri apareceu e mandavam os doentes às praias. Banho de
nar só podia ser remédio. Os doentes, com muitas caretas, chu-
»avant limão.
A Tuberculose mantinha em Natal uma sinistra cabeça de
jonte para a Morte. De 1894-1900 não há guerra aberta. Falam
:m febre palustre, febre catarral. Qualquer uma tinha o sinônimo
copular de^ febre braba ou catarro amálinado.
1904 a 1905 reavivaram em Natal as cenas dolorosas da epi­
demia variolosa. Ruas e ruas despovoadas, doentes em abandono,
fome, o Govêrno em pleno combate desvairado contra dois inimi­
gos clássicos, varíola e sêca. É a época em que o Padre João
Maria carregava água pela madrugada, fazia alimentos, espalhava
consolo e dormia no chão porque tinha dado a rêde.
O triênio 10-11-1909 pertence a gripe que se fixa nas "men­
sagens” governamentais com alta porcentagem mortífera. 1918 é
a glória da Gripe, influenza espanhola, abrindo claros na popula­
ção espavorida.
Em 1930 o impaludismo se torna agressivo e de forma nova
pela violência. Identificaram um mosquitinho rajado e bonitinho
como anofelina gambiae, vindo da África nos aviões e avisos navais
da Air France. O gambiae, também conhecido pelo seu pseudô-
nio de anofelis costalis, estabeleceu acampamento pelo litoral e se
foi insinuando, escorrendo pelos vales, rumo ao Jaguaribe, no ro­
teiro do Amazonas onde se tornaria invencível e eterno. Batido
por todos os lados, a campanha passou para o Departamento Na­
cional de Saúde com a Fundação Rockfeller. 1937-38 foram ter­
ríveis pela mortalidade incessante. Nenhum município ficou incó­
lume. Em junho de 1939 coube ao Dr. Eleyson Cardoso, então
dirigindo a Comissão Rockfeller local, declarar que o gambiae não
mais regressara às suas bases. Por êsse meio, 1935, tivemos uma
epidemia de alastrim. A década 1940-50 deu sustos com casos
suspeitos de febre amarela e um arrepio geral pela multiplicidade
tifóide, reprimida, com decisão. O resto é a rotina (2).

(H)
A partir de 1871 há o Inspetor de Saúde Pública além do
Médico do Partido, pouco a pouco substituído. Nas-calamidades
a Presidência nomeava vários clínicos para atender às populações
do interior. A função do Médico do Partido Público estava dema­
siado ampla para que pudesse exercê-la sózinho como outrora.
— 281 —

Nas “mensagens” presidenciais lidas ante a Assembléia Le­


gislativa Provincial não aparecia o relatório do Médico do Partido
e sim ligeiras sínteses de suas informações. O primeiro relatório
na espécie é o do Dr. José Paulo Antunes, Inspetor de Saúde
Pública, datado de 14-1-1883, anexo 2.° ao relatório-geral do
presidente da província, Francisco de Gouveia Cunha Barreto, e
um segundo, do Dr. Pedro Velho d’Albuquerque Maranhão, a
22-2-1886, junto ao relatório do presidente José Moreira Alves
da Silva.
A maior conquista foi o Hospital de Caridade, sugerido em
relatórios velhos. Em 1856 a cólera-morbo caiu sôbre a província
e encontrou Natal desarmada. O presidente Antônio Bernardo de
Passos contava aos deputados no seu relatório dé 1-7*1856 que a
cidade “não possuia um só asilo de caridade, salvo a enfermaria
militar, e apenas havia uma botica”. Construiu então o Hospital
de Caridade na rua que se chamou, espontaneamente, da Miseri­
córdia. Era uma casa de oitões, para 40 doentes homens e outras
tantas mulheres. Media 176 por 56 palmos de largura e ocupou
todos os pedreiros e quase todos os carpinteiros de Natal . Daí
ein diante figura em todos os orçamentos, com maior ou menor
Verba, discutido nas horas de vazante financeira. Em 1871 o nú­
mero dos doentes pobres que podia ser recebido baixou para oito.
Em 1877 subiu para dez. O hospital abrigava os presos rte justiça
e soldados enfermos. O Médico do Partido Público, aos últimos
tempos, era seu diretor. Depois passou á ter um administrador.
Era casarão de fama lúgubre. Estava sempre com o décuplo dos
doentes além dos limites da matrícula.
A pobreza das verbas explicava a miséria do ambiente mas
não justificava a imundície registada, indignadamente, n’alguns
documentos administrativos. O vice-presidente Vicente Inácio Pe­
reira, que era médico (o primeiro natalense diplomado em Me­
dicina, Bahia, 1859), escrevia no seu relatório de 13-3-1879: —
“A mais imunda enxóvia, em” completo abandono de tôdas as leis
da mais grosseira higiene, não pode levar a palma a êsse sorvedouro
de existências ... Nada pude fazer em prol dêsses infelizes, pelo
estado de penúria em que se acham os cofres da província”. Sete
anos depois, fevereiro de 1886, Pedro Velho, então Inspetor de
Saúde, bradava: — “Nas condições em que se acha atualmente
o Hospital admira até como ali se fazem, com sucesso, trabalhos
cirúrgicos, tal é o risco que corre um operado em achar-se naquele
meio infecto.”
Antpnio Bernardo de Passos mandara construir o Cemitério
do Alecrim em abril de 1856. Até 1858 cessaram os sepultamentos
no interior das Igrejas.
282 —

Com a República a Higiene merece os cuidados maiores da


administração. O Decreto n.° 24, de 22*5*1893, dá o l.° regula­
mento à Inspetoria de Higiene, seu novo nome. A lei n.° 14, de
11*6*1892, dispusera na espécie, criando um médico, ajudante e
ampliando o campo da ação social. No orçamento de 1899 a
Saúde Pública conta com 58:838$ 182 quando, dez anos antes,
tivera 30:740$710.
O Decreto n.° 118, de 29*8*1900, separa a diretoria daw Hi­
giene Pública da diretoria do Hospital de Caridade. Quase uma
década escorre sem relevância. Os recursos do Estado são absor­
vidos pelas sêcas, a descida dos retirantes para o litoral, ameaça
sempre premente dos surtos epidêmicos pela aglomeração humana
sem asseio e cuidados mínimo de higiene corporal, indiferente pela
tranédia que a sacudira do sertão para o agreste. O época pior é
1904*05, com a prolongada estiagem que expulsou centenas e
centenas de conterrâneos para os seringais do Pará, Amazonas e
Acre.
A Saúde Pública teve seu renascimento em 1909. O Hospital
de Caridade deixou o casarão comprido, feio e baixo, cheirando
a morte. Alberto Maranhão fechou*o. E, nas alturas dos morros,
lavados pelos ventos do mar, no Monte, Belmonte ou Belo Monte,
que a Intendência chamaria “Petrópolis”, nome da residência do
governador Alberto Maranhão, nasceu o Hospital Juvino Barreto,
inaugurado a 12*9*1909, sob a direção do Dr. Januário Cicco, con
o auxílio das freiras da Congregação das Filhas de Santana. C
programa é de desdobramento e o seu grande diretor, depois d<
exercer tôdas as especialidades, pôde entregá-las aos .médicos.
Por contrato de 30-6-1927 o Hospital foi entregue à Sociedade d<
Assistência Hospital, subvencionada pelo Estado e é a fase d<
Hospital Miguel Couto, na plenitude de uma organização que honr;
à cidade e à classe que se dedicou ao seu serviço. Da casa de taip<
de 1909 para o bloco de edifícios de agora há uma distância expli
cada pela obstinação generosa de Januário Cicco e seu grupo d
auxiliares.
Decorrentemente, sonho de tantos anos de batalha e teimosi
espiritual, nasceu a Maternidade Januário Cicco, inaugurada
12-3-1950, a primeira do Brasil e ímpar entre as melhores do mund<
O Lazareto da Piedade, de 7-9*1882, Isolamento de Alienado
antigamente enviados à “Tamarineira” no Recife, pagando a diári
de 2$000, passou a ser, em 1923, o Hospício de Alienados. Ne
instalou-se provisoriamente o Isolamento dos Tuberculosos a
que fôsse inaugurado o Hospital S. João em 1-8*1912, modern
zado em 1916, completamente novo em 1933 e que recebeu o non
de Sanatório Getúlio Vargas (Decreto 1.196, de 14*5*1943).
283 —

O Decreto-lei 193, de 14-4-1943, criou o Hospital Evandro


Chagas, “destinado ao isolamento de portadores de doença de
notificação compulsória.’*
A vacina propagou-se intensamente. De 1847 a 1852 os
vacinados eram 1.617. De outubro de 1919 a setembro de 1920 o
número ia a 12.008. Em 1935 atingia a 55.744. Até Basilic
Quaresma Torreão o pessimista de 1833, entusiasmar-se-ia. De
1912 em diante funciona o Isolamento S. Roque para variolosos.
Já náo existe.
De 1921 em diante é fase dos trabalhos da Profilaxia Rural.
Criado o Departamento de Saúde Pública, com desdobramento
e ampliações de seus quadros, diretorias e seções, novos impulsos
levaram a campanha da higiene às finalidades sucessivas e lógicas.
A Colônia S. Francisco de Assis, a 6 km da cidade, foi outra
conquista de vontade e tempo. O aparecimento de doentes de
lepra em 1926, em número não avultado mas de presença notória,
determinou a reação. A 28-3-1926 organizava-se a Comissão Pro
Leprosário, sob a direção do Dr. Manuel Varela Santiago So­
brinho. Com economia incessante de formigas, a Comissão tra­
balhou. A 20 de julho do mesmo 1926 os dois primeiros doentes
eram internados nas duas casinhas adaptadas. Iniciava-se assim a
assistência leprocomial régulai . A 28-8-1930 a Comissão transfor­
mava-se na Sociedade de Assistência aos Lázaros e defesa contra
a Lepra. A Colônia, instalada e superiormente dirigida pela abne­
gação de um apaixonado pela missão, é um exemplo que a todos
nós orgulha e desvanece. O levantamento dos doentes e comuni­
cantes, a alta porcentagem dos curados, o ambiente sereno de
esforço diário, são outros aspectos dignos de registo. Graças ao
Dr. Varela Santiago o Rio Grande do Norte é o Estado que
possui a mais alta porcentagem de doentes isolados relativamente
à sua população hansenianà.
No Departamento de Saúde os serviços de assistência foram
centralizados pelo Centro de Saúde, inaugurado a 2-1-1932 e
incessantemente desenvolvido em ação e recursos, dada a comple­
xidade da tarefa a que se destina.
Junto ao Centro de Saúde inaugurou-se o Instituto Anti-Rábico
em 2-5-1936 e a 20-12-1936 iniciava-se o emprêgo da vacina
B.C.G. contra a tuberculose. O bacilo Calmette-Guérin foi inje­
tado nas crianças recém-nascidas a partir de 1-6-1937. Essa clí­
nica é no Instituto de Assistência à Infância em cooperação com
o Departamento de Saúde.
O serviço de Tuberculose do Centro de Saúde de Natal, que
o Pecreto 377, de 22-12-1937, imprimira feição moderna e total no
plano renovador e atualizante de técnica, funcionou deseje 1936.
— 284 —

O seu diretor de então, Milton Ribeiro Dantas, fêz o primeiro


pneumotórax a 27-12*1936.
Em Caicó, desde 4-2-1934, funciona o Hospital do Seridó e
a 2-2-1938 instalava-se o de Mossoró, mantidos por associações
locais, subvencionadas. Respondem pela necessidade das duas
grandes cidades, centros de zonas demográficas. Há vários Cen­
tros de Saúde pelo interior do Estado, Nova Cruz, Ceará-Mirim,
Macau„ Mossoró, Pau dos Térros e Caicó.
O da capital atendeu em 1938, 22.130 pessoas; 129, 9J1 em
1940, 42.242 em 1951.
O Instituto de Proteção e Assistência à Infância, fundado a
12-10-1917 pelo Dr. Varela Santiago, inaugurou a 12-10-1936 o
Hospital respectivo, com 40 leitos e capacidade para 60. Instalado
em edifício próprio, tem em funcionamento tôdas as seções neces­
sárias ao seu programa. Foi o Instituto a primeira instituição assis-
tencial que instalou no Rio Grande do Norte, em novembro de
1936, o serviço de Radiologia,, conhecido e usado apenas no Ser­
viço Federal de Profilaxia Rural.
Foi criado o Serviço de Assistência a Psicópatas (Decreto-lei
n.° 526, de 1-3 1946), com um grande Hospital.
O Educandário Osvaldo Cruz, para recolher e educar os
filhos sadios dos leprosos, isolados na Colônia S. Francisco de
Assis, foi outra iniciativa vitoriosa do Dr. Varela Santiago, inau­
gurado em l.° de Maio de 1942 e tendo oitenta crianças recolhidas.
A Policlínica do Alecrim, inaugurada a 14-7-1939 e a Casa
de Saúde S. Lucas, inaugurada em 6 de janeiro de 1952, são outros
depoimentos da realização particular, merecedoras de admirativo
registo.
A Liga Norte-Riograndense contra o Câncer foi fundada cm
Natal a 17-7-1949 sendo seu presidente o Dr. Luís Antônio Fer­
reira Souto dos Santos Lima. A Liga instalou a 3-4-1950 o seu
“Recolhimento", em prédio próprio, abrigando os quatro primeiros
indigentes incuráveis. Sua missão está sendo cumprida com devo­
tamente modelar.
No tempo, as cifras das dotações orçamentárias à Saúde Pú­
blica marcam o diagrama do seu percurso ascensional.
1837 400$000
1937 1.127:876$700
1947 1.192:200$000
1950 7.794:860$000
1952 10.784.600,00

A 1-10-1929 inaugurava-se o edifício do Departamento da


Saúde Pública. Ninguém mais, passando por êle, vizinho ao prédio
— 285 —

moderno do Centro de Saúde, recordará que, há meio século apenas,


a Inspetoria de Saúde dava o seu expediente e curava da sanidade
coletiva num quarto escuro e triste do Hospital de Caridade onde
a maior caridade era justamente considerá-lo hospital.

NOTAS AO CAPITULO DÉCIMO PRIMEIRO

( 1 ) Antônio Augusto de Aguiar, <Vida do Marquês de Barbacena», 9, Rio


de Janeiro, 1896. Pandiá Ca log eras escreveu uma linda biografia de Barbacena.
Engana-se quando dá o próprio marquês como o primeiro inoculado da vacina
jeneriana, «O Marquês de Barbacena», 17, S. Paulo, 1932.
(2) Para outros aspectos e pormenores da história da Saúde Pública,
ver, o meu «História da Cidade do Natal», Médicos e Saúde Pública, 161-171,
cap. XX. Natal, 1947 e especialmente o cap. «Assistência Pública.»

ADENDO

O MÉDICO DO PARTIDO PÚBLICO

Tudo quanto possuímos em matéria de Saúde Pública e assistência médica


vem desta semente humilde e pequenina, o Médico de Partido Público. Era
o doutor mantido pela Provincia para atender aos pobres, divulgando os
processos terapêuticos mais modernos, com recursos um pouco acima do empi­
rismo galénico que a todos dominava.
Desde 1831 tendo notícia de um facultativo em Natal, simples Cirurgião,
de nome João José de Oliveira, ganhando 300$000 por ano. Ao seu lado
trabalhava o boticário José Felipe. Até agôsto de 1834 ainda estava a dupla
entre nós. O presidente Basilio Quaresma Torreão, na «Fala» de 1-12-1833
ao Conselho Geral da Província, gritava com veemência por um médico:
«Mas sôbre tudo, Srs. Conselheiros, pedi já ao Govêrno Supremo um
Facultativo. Já em 28 de setembro do ano findo o Conselho Presidencial requi­
sitou esta tão necessária providência; em 25 de setembro do que corre, o
mesmo Conselho o repetiu; só vós, Senhores, podereis obter tamanho bem;
assinai já um subsidio capaz de convidar um Professor hábil, que cure os
nossos males: um Médico, Senhores, um Médico I . ¿. Vêde os vossos Con­
cidadãos morrendo à falta de socorro d’arte. Vêde os que reclamam o vosso
auxilio: em vós, Senhores Conselheiros, se fitam tôdas as visitas; se endereçam
todos cs votos; não os ma'ogreis.»
Curiosamente, no primeiro orçamento da Província, sancionado pelo próprio
Basilio Quaresma Torreão em abril de 1835, não há verba para um Médico.
A Saúde Pública e vacina estão contempladas com 400$. No orçamento para
1837-38 aparecem 600$ anuais com um Médico de Partido para receitar e curar
nesta Cidade as pessoas miseráveis da Provincia.
Em 1838-39 ainda o Médico não está presente. Continuam os 600$, fa­
cultando-se a metade dos vencimentos a algum Cirurgião que se encarregue
do «curativo dos pobres.»
A lei n.° 25, de 14-10-1839, autoriza ao Presidente a engajar no Partido
Público um Médico. O contrato duraria, no máximo, nove anos, podendo
o facultativo ser estrangeiro. Competir-lhe-ião a privatívidade do tratamento
e assistência aos pobres da Capital, sua residência. Receitaria os pobres
de tóda a Província à vista dos atestados dos Juizes de Paz e Párocos, afir­
mando a miserabilic le dos consulentes. Ganharia 800$.
— 286 —

Na «Fala», de 7-11-1840, o presidente Dom Manuel d’Assis Mascarenhas


solicitou a elevação dos 800$ para 1:600$, pelo menos, porque não encontrara
um Médico hábil que quisesse estabelecer-se nesta capital. A Assembléia votou
1:200$.
É apontado como tendo sido o primeiro Médico do Partido Público o
Dr. José Bento Pereira da Mota que, em -1842, era autorizado a receber 142$860
que despendera com o fornecimento de remédios aos doentes. Parece ter sido
substituído pelo Dr. Tomás Cardoso de Almeida que aqui se casou em 1841.
No orçamento para 1843-44 mandava-se pagar ao Dr. Cardoso de Almeida
a gratificação de 200$ «pelo exercício do curativo das Praças do Corpo de
Polícia desta Província de que se acha encarregado». Sua nomeação veri-
ficar-se-ia em 1843.
O presidente Morais Sarmento demitiu-o pela portaria de 23-7-1845,
alegando [alta de zêló e de paciência com os miseráveis doentes. No momento
não havia outro médico em Natal. Morais Sarmento escrevia. — «Não há aqui
outro Médico a quem me dirigisse pedindo as necessárias, informações.»
Mesmo exonerado, Cardoso de Almeida ficou em Natal. No biênio de
1852-53 era deputado provincial, tendo assistido as sessões do primeiro turno.
Foi substituído pelo Dr. Joaquim Antão de Sena, Médico do Partido
Público em setembro.de 1846. No orçamento de 1845-46 o Médico ficava
obrigado «a curar as praças de Prêt do Corpo de Polícia desde já.»
Uma resolução 265, de 10-4-1852, mandava o Médico «assistir quatro
meses nas comarcas do centro». Outra Resolução, 384, de 17-8-1858, auto­
rizava a Presidência a contratar dois Médicos para as comarcas do Açu e
Maioridade (Martins) com 1:200$ e remédios por conta dos cofres públicos.
O orçamento de 1855 já criara o Médico de Partido Público para Açu e
Maioridade, com 500$ .e uma gratificação de 200$. O cargo continuava vago.
O primeiro Médico do Partido .Público no Açu foi o Dr. Joaquim Antão
de Sena, nomeado a 25-11-1859.

ASSISTÊNCIA SOCIAL NO RIO GRANDE DO NORTE

Helio Galvão.
Diretor Geral do Departamento de Reedu­
cação e Assistência Social.

A primeira manifestação da caridade pelos órgãos do Estado, durante o


período colonial é a assistência farmacêutica. Eram outros os remédios:
infusões, emplastros, lambedores, excretos e até ferro em braza. Também eram
outras as doenças. Livros de registos de óbitos nos arquivos paroquiais
dão-nos conta de algumas delas: humores gálicos, hidropisia, doença interior,
vício, estupor, além de outras causa mortis decorrentes das condições de tempo
e meio, como quedas .e coices de cavalo e picadas de cobra.
A assistência médica era prestada pelos curiosos, homens habilidosos e
desprendidos, encañando braços e peraas, sarjando abcessos, fazendc estranhas
operações. Historicamente está documentada a presença de um cirurgião que
assistia a guarnição militar, percebendo 63$ 180 em 1749 (História da Cidade
do Natal, p. 320).
Era mais vivo e acentuado o sentimento de caridade, a compreensão do
sofrimento alheio. Inventários e testamentos revelam quanto estavam presentes
às preocupações dos abastados os órfãos, os afilhados, os expostos e os
escravos. Ao dotar, em 1626 uma das filhas João Lustau Navarro deter-
— 287 —

raina como destino último dos bens dotados «huma órfã das mais pobres e
desemparadas e onradas desta Capitania» (Helio Galvão, Pesquisas e Notas, 2,
«Bando», dezembro, 1950). ■ . 1
Por sua vez dona Francisca Correia, cujo testamento se executou em
Goianinha em 1790 fêz consignar urna verba de 25$000 para «alguma orfã»
que seria entregue ao pároco.
Os primeiros rudimentos de assistência social vamos porém encontrar ñas
Comissões de Socorro às vítimas das sêcas, organizadas sempre que o flagelo
se declarava mais intenso. No Arquivo da Secretaria Geral do Estado há
um maço com relatórios de várias dessas comissões. O material ali reunido
oferece dados proveitosos para estudo dos problemas de assistência em seus
começos remotos, porque revela em muitos dêsses órgãos admirável espírito
de solidariedade humana e até mesmo surpreendentes antecipações de alguns
aspectos da moderna técnica assistencial, guardadas, é bem de ver, as neces­
sárias proporções.
Os relatórios dos presidentes da Provincia que a governaram nos anos
de sêca dão notícias das providências tomadas, mas sempre o órgão encarre­
gado de efetivá-la é a Comissão de Socorro. O presidente Passos refere as
medidas por êle determinadas: uma assistência ampla aos deslocados da
sêca dc 1877.
Ê um ângulo novo sob que estudar a sociologia das sêcas; determinante
dos esboços iniciais de assistência social, como por exemplo o abrigo fundado
pelo Padre Antônio Xavier de Paiva, que chegou reunir na povoação de
Vera Cruz (São José de Mipibu) mais de 600 retirantes da grande sêca
de 77.
Na sêca de 1932 coube essa missão de assistência à filial da Cruz Ver­
melha Brasileira. Mas retirada esta foi criada a Diretoria Geral de Sêcas
(Decreto 307, de 13 de julho de 1932) cujo regulamento estabelecia uma
seção de assistência e beneficência. Essa diretoria pràticamente não viveu.
Dez anos depois outra grande sêca flagelava o Nordeste. Em Natal foi
criada pelo govêrno e entidades particulares a «Campanha de Assistência aos
Flagelados», que fundou abrigos para os deslocados. Quando a calamidade
passou foi criado um órgão destinado a centralizar os serviços assistenciais
no Estado,- o Serviço Estadual de Reeducação e Assistência Social (SERAS)
cujo primeiro diretor, Aluízio Alves, fôra o secretário da Campanha de Assis­
tência (Decreto-lei n.° 191, de 12 de março de 1943). É curioso notar que os
sucessivos regulamentos que teve o SERAS não disseram nada sôbre assis­
tência aos flagelados das sêcas. Mas que a.experiência da campanha foi apro­
veitada confessa o respectivo diretor no primeiro relatório em que presta contas
ao govêrno do Estado.
A lei n.° 421, de 7 de novembro de 1951 transformou em Departamento
o antigo Serviço Estadual de Reeducação e Assistência Social, designando-o
abreviadamente pela sigla DERAS. Ficou êsse órgão, por essa lei, incorporado,
como departamento autônomo ao nosso sistema de administração.
De acôrdo com sua organização interna o DERAS assim está operando:
— casas de menores;
— abrigo de velhos;
— subvenção a entidades privadas.
Existem atualmente três casas de menores (Casa Juiz Melo Matos, Instituto
Padre João Maria e Casa Mário Negócio) um abrigo de velhos (Abrigo
Juvino Barreto) e setenta e oito entidades subvencionais na Capital e no
interior.
O Instituto Padre* João Maria foi criado pelo Estado e inaugurado a.
1.* de janeiro de 1912, dirigido pelas Irmãs de Santana, sob contrato. Deno­
— 288 —

minava-se primitivamente Asilo de Mendicidade João Maria. Posteriormente


o Dêcreto n.9 118, de 29 de maio de 1920, aprovado pela lei n.° 477, de 26
de novembro do mesmo ano, reorganizou-lhe os serviços, dando-lhe a deno­
minação de Orfanato João Maria e determinou o funcionamento anexo de um
abrigo para velhos desvalidos. O. regulamento de 1920 fixava entre 7 e 18
anos a idade de internamento, mas o Decreto n.° 203 de 29 de Janeiro de
1932 reduziu para 16 anos a idade para desligamento. Até êsse ano o
Orfanato era subordinado ao Departamento da Saúde Pública, passando para
o Departamento de Educação pelo Decreto n.° 305, de 11 de julho daquele
ano. Criado o SERAS passou para o âmbito de atividades do novo órgão
e recebeu a atual denominação, Decreto n.9 1.193, de 12 de maio de 1943.
Destinado a menores órfãs e abandonadas do sexo feminino, funciona em
regime de internato, em prédio próprio, no bairro da Lagoa Sêca. Antes
funcionava em Petrópolis e durante a guerra de 1939-1942 estêve localizado
em Extremoz. O Estado contribui com Cr$ 707.400,00 para manutenção do
Instituto Padre João Maria, exclusive o médico, o dentista e a assistente social.
A Legião Brasileira de Assistência auxilia com Cr$ 24.000,00 anuais. Em 31
de maio de 1952 existiam internadas 210 crianças.
O Abrigo Juiz Melo Matos foi criado pelo Decreto n.* 1.184, de 3 de
maio de 1943, funcionando em instalações alugadas à av. Hermes da Fonseca,
721, no bairro do Tirol. Destina-se a menores abandonados do sexo masculino.
Em maio de 1952 tinha 117 menores. Mantém o Abrigo aulas para os interna­
dos, uma seção industrial com oficinas de mercenaria, sapataria, tipografia
e encadernação. Orçamento do Estado para 1953 lhe consigna a importância
de Cr$ 566.200,00.
O Abrigo Melo Matos foi o primeiro estabelecimento de assistência a
menores abandonados do sexo masculino a funcionar no Rio Grande do Norte.
Sua primeira sede foi o prédio n.° 455 da rua Seridó, de onde se transferiu
para a avenida Hermes da Fonseca.
* Inaugurada a -17 de outubro de 1943 com o nome de Juvino Barreto,
funciona na cidade de Mossoró, em prédio alugado à Praça da Redenção, 163.
ß o único estabelecimento que o DERAS possui no interior. A 3 de setembro
de 1951 foi-lhe dada a atual denominação, homenagem ao Dr. Mário Negócio
de A’meida e Silva, vitimado no desastre de automóvel ocorrido em Tacima
a 30 de março de 1951, exercendo então o cargo de Secretário Geral do Estado.
Mantém um internato para menores do sexo masculino e um semi-internato misto
com 152 menores. O Estado dispende com a manutenção dêsse estabelecimento
Cr$ 168.000,00. «
Quando foi criado o DERAS havia em Natal o «Abrigo São José>,
mantido pela municipalidade e destinado à velhice desamparada. Era uma
instituição sem possibilidades, sem dormitórios, sem refeitórios, sem o menor
conforto- para os abrigados. Da cooperação entre o Estado, que doou o
terreno, da Prefeitura e da Legião Brasileira de Assistência resultou a insti­
tuição do Abrigo Juvino Barreto, que funciona em prédio próprio e possui
excelentes instalações. É obra do patrimônio municipal, administrado pelos
DERAÇ sob contrato com as Damas de Caridade. Em maio de 1952 o Abrigo
Juvino Barreto mantinha 38 homens e 62 mulheres. O Estado dispende em
sua manutenção Cr$ 282.000,00 e a Prefeitura Cr$ 120.000,00.
Ao lado das instituições oficiais existem setenta e cinco obras de iniciativa
particular, que o Estado subvenciona com cêrca de Çr$ 1.300.000,00. A
maior parte dessas instituições pertence às organizações da Ação Católica, às
paróquias do interior- e outras associações religiosas.
A Escola de Serviço Social de Natal tem relevante papel no movimento
assistencial que se processa no Estado. Compete-lhe a formação de assistentes
sociais, técnicos na aplicação dos recursos para reajustamento dos dependentes.
— 289

A Escola foi fundada a 2 de junho de 1945 com recursos fornecidos pela

Legião Brasileira de Assistência (Cr$ 30.000,00) mensais. Foi inicialmente

dirigida pela assistente social Ligia Loureiro da Cruz, do Instituto Social do

Rio de Janeiro. Além da contribuição mensal para manutenção, a LBA custeava

os vencimentos da diretora e da monitora e o material mecessário à instalação.

Foram diplomadas até 1952 as seguintes alunas: Hígia Miranda Neves, Cri-

naura Alves, Alix Pessoa Ramalho, Clélia Vale Xavier, Maria de Lourdes

Santos, ‘Eliene Monteiro e Aristéa Rodrigues e muitas outras que não defen­

deram tese, formalidade indispensável à obtenção do título de assistente social.

A Escola pertence à Juventude Feminina Católica.

z
CAPÍTULO XII

(I) Historia do Judiciário na Capitania, Província e Es­


tado. (II) As Comarcas. (III) O Tribunal de Jus­
tiça. (IV) Relação das Comarcas e Têrmos em 1852.

NOTAS DO CAPÍTULO DÉCIMO SEGUNP


A primeira autoridade judiciária no Rio Grande do Norte foi
um Juiz Ordinário em 1611. Depois vieram as outras figuras.
O Juiz Ordinário presidia o Senado da Câmara, tendo ins­
tância semelhante aos nossos Juizes Municipais do têrmo. Abaixo
vinha o Juiz de Vintena ou Juiz Pedáneo porque julgava de pé.
O Juiz de Vintena, ou Vintaneiro julgava até um cruzado, isto é,
contendas cujo valor não excedesse a quatrocentos réis, exceto
bens de raiz ou criminais. Decidia verbalmente sem apelação e sem
agravo. Conhecia as posturas do Senado da Câmara (a Câmara
Municipal daquele tempo), multas, que eram chamadas coimas, e
ações que envolvessem fato, até os limites dos quatro tostões.
Vinha então o Almotacé que possuia jurisdição até seiscentos
réis, indo mesmo aos seis mil réis com assistência dos vereadores
em Câmara. Não havia complicação para o Almotacé. Julgava em
audiência, sem processo nem escritura, havendo recurso de agravo
e apelação para o Juiz Ordinário. Quando a pena ultrapassava os
seis mil réis podia-se recorrer para a Relação. O Almotacé deli­
berava sôbre açougues, padarias, pescarias, mecânicos, multas,
pesos e medidas, limpeza das ruas e da fachada dos edifícios, ser­
vidões urbanas, fazendo respeitar o que se contratara nos regi­
mentos particulares quando as partes litigavam. Era também fiscal
que podia receber queixas e decidir na espécie.
Todos êsses cargos estavam nas mãos de leigos e não tinham
vencimentos. Recebiam custas.
A maior autoridade era o Juiz de Fora, correspondente ao
Juiz de Direito e Corregedor. Era conhecido como sendo o Juiz
da Vara branca. Não o tivemos.
O Juiz Ordinário era o Juiz da Vara Vermelha. Eram obri­
gados a usar um bastão com essa côr, símbolo visível de sua auto­
ridade. Pagavam multas, até quinhentos réis, quando encontrados
sem a vara. Ainda hoje denominamos aos juizes de direito respei­
tando a divisão colonial, Vara civil, Vara criminal e mesmo as
numeramos, primeira, segunda vara, etc., embora suas excelências
não mais usem êsses utensílios probantes de austera dignidade
forense.
— 294

Eram todos eleitos pelo Povo, incluindo o Juiz de Órfãos,


que em 1691 -ganhava doze mil réis por ano, e o Ouvidor Anual,
também leigo e também poderoso. Todo o século XVIII não tive­
mos em Natal Juiz letrado, com título em Coimbra, sabendo falar
difícil e citar latim. Pertencíamos à Comarca da Paraíba, criada
a 12-12-1687, instalada pelo Dr. Diogc "angel Castelo Branco.
A Comarca compreendia a ilha de Itamaracá. O Doutor Ouvidor
visitava, às vêzes, a Capitania em correição mas temida que peste.
Era nomeado pelo Rei e onipotente, respeitado pela tradição do
magistrado togado e titulado, imponente e influente eni tudo
quanto sonhasse. Vinha presidir a eleição dos outros Juizes, Ordi­
nário, Vintaneiro, Almotacé, etc. Recebia as custas e desaparecia.
Pela Ordem Régia de 12-12-1770 fazia parte e mesmo presidia o
triunvirato que governava a Capitania na ausência do Capitão-Mor.
Do Juiz Ordinário recorria-se ao Ouvidor da Paraíba e
dêste para o Ouvidor Geral de Pernambuco (de 1701 em diante)
e era a vez do Tribunal da Bahia.. Nos casos regulados cm lei
processual, batia-se às portas da Casa de Suplicação ou Desem­
bargo de Lisboa. Em 1808 o Regente D. João instalou o Tribunal
no Rio de Janeiro. É o Supremo Tribunal de Justiça atual, com as
modificações no tempo e costumes.
Fechava a fila o Alcaide que se encarregava de diligências
e mandados judiciais, com seis mil réis anuais.
O alvará de 16-3-1818 desmembrou o Rio Grande do Norte
da Paraiba_ criando Comarca autônoma. Foi nomeado» o nosso
primeiro Ouvidor o carioca Dr. Mariano José de Brito Lima, cm
6-7-1819, tomando posse a 28 de outubro do mesmo ano. Estêve
até 2-7-1822, metendo-se em tudo. Faleceu desembargador na
Bahia.
O segundo Ouvidor foi o Dr. Cipriano José Veloso, nomeado
a 19-10-1824 e ainda em 1829 estava em Natal, criando papagaios
e muito querido. Morreu no Rio de Janeiro a 16-8-1861, Ministro
do Supremo Tribunal de Justiça do Império. Veio o terceiro e
último, Dr. Antônio Cerqueira Carvalho da Cunha Pinto Júnior,
nomeado a 25-6-1832.
O Código do Processo Criminal do Império, lei de 29-11-1832,
suprimiu essa organização no art. 8: — “Ficam extintas as Ouvi­
dorias de Comarca, Juizes de Fora, Ordinários, etc.”
Em sessão de 26-4-1833 o Conselho do Govêrno ^escolhia
êsse Ouvidor para as funções de Juiz de Direito interino de Natal.
Em maio de 1833 deixava a Província ( 1 ).
O primeiro Juiz de Direito efetivo foi o Dr. Joaquim Aires
de Almeida Freitas, empossado a 12-8-1834 e que, na forma dc
— 295 —

Código do Processo Criminal, art. 6, era cumulativamente Chefe


de Polícia. Foi também o primeiro.
A lei provincial n.° 15, de 26 de outubro de 1837, criou um
Juizado de Direito em Natal, cível, com jurisdição privativa nos
feitos do fisco provincial. O Dr. João Valentino Dantas Pinagé
foi o único ocupante porque o cargo se extinguiu pelo Decreto 127,
de 12-12-1842. Pinagé foi transferido para a Comarca da Maiori­
dade (Martins) criada pela lei n.° 71, de 10-11-1841.
Durante todo o século XIX houve apenas um Juiz de Direito
em Natal. O último Juiz do período imperial e o primeiro da fase
republicana foi o Dr. Francisco Amintas da Costa Barros, (1841-
1899), cearense do Aracati, aposentado em 1891. Fôra Jui2
desde 1887.
A lei 272, de 23-11-1909, estabeleceu uma segunda vara de
justiça na capital sendo para ela removido o Juiz de Direito do
Martins, Dr. Antônio Soares de Araújo, ato de 2-12-1909, posse
no mesmo dia. A terceira vara, Decreto n.° 126, de 21-7-1831,
loi preenchida pela transferência do Dr. Manuel Sin vai Moreira
Dias, ato n9 273 da mesma data, da segunda para a vara recém-
criada, empossando-se a 24 do mesmo mês e ano. O Decreto-lei
n.° 39, de 12-3-1940, desdobrou os serviços da distribuição da
justiça com a criação da quarta vara, removendo da Comarca de
Mossoró o Dr. Adalberto Soares de Araújo Amorim, que tomou
posse a 17 do mesmo mês e ano. O Decreto-lei n.° 532, de 20-4
de 1946, criou a quinta vara, sendo promovido para e!a o Juiz de
Direito da Comarca de Baixa Verde, Dr. João Maria Furtado,
(Decreto da mesma data) e tomando posse no dia 24. A quinta
vara foi extinta em 25-11-1947 (Ato das Disposições Constitucio­
nais Transitórias, art. 20). Restaurada pela lei 1.050, de
12-12-1953.
(H)
Divide-se o Rio Grande do Norte em trinta e seis Comarcas
com quarenta e oito têrmos (Lei n9 146, de 23-12-948).
Sua relação cronológica é a seguinte :
Natal — Única em tôda Capitania e Província até 1833.
Açu — Em sessão de 11-4-1833 o Conselho do Govêrno
criou-a, aprovada pela lei provincial n.° 13, de 11-3-1835. O Juiz
Municipal, Manuel Jerónimo Leonez de Melo instalou-a em data
não apurada no ano de 1833. Seu primeiro Juiz de Direito foi
o Dr. Basilio Quaresma Torreão Júnior, empossado a 10-7-1835.
Martins — Criou-a a lei provincial n.° 71, de 10-11-1841,
com a denominação de 44Comarca da Maioridade” em homenagem
à maioridade do Imperador D. Pedro II. O Decreto n.° 35, de
— 296

7- 7-1890, mudou-lhe o nome para “Comarca do Martins”. Seu


l.° Juiz foi o Dr. João Valentino Dantas Pinagé em 27-2-1842.
S. José de Mipibu — Criada pela lei provincial nç 307, de
26-7-1855, sendo seu l.° Juiz o Dr. Luiz José de Medeiros, nomeado
a 9-10-1856, assumindo a l.° de novembro do mesmo ano.
Caicó — criada pela lei provincial n.° 365, de 19-7-1858,
com a denominação de “Comarca do Seridó”. Instalada em dia e
mês não sabidos no ano de 1859 pelo l.° suplente de Juiz Muni­
cipal. Seu l.° Juiz o Dr. João Valentino Dantas Pinagé.
Mossoró — criada pela lei provincial 499, de 23-5-1861. Seu
P Juiz de Direito Dr. João Querino Rodrigues da Silva, já fun­
cionava em 5-2-1862. A lei n.° 144, de 23-12-1948, art. 12 criou
a 2.a Vara, sendo l.° Juiz, o Dr. Zacarias Gurgel Cunha, posse
a 26-1-1949.
Macau — criada pela lei provincial n.° 644, de 14-12-1871.
Instalada a 22-9-1875. O seu l.° Juiz de Direito foi o Dr. Matias
Antônio da Fonseca Morato, empossado a 15-12-1875.
Canguaretama — criada pela lei provincial n.° 641, de 14-12
de 1871. Seu l.° Juiz de Direito foi o Dr. Joaquim Tavares da
Costa Miranda, instalando-a a 11-4-1872.
Suprimida pela lei 538, de 29-11-1922. Restaurada pelo De­
creto n.° 226, de 13-2-1924 (decreto em virtude, da autorização
concedida pelo § 15, do art. 9 da lei 580, de 15-12-1923). Reinsta­
lada a 15-2-1924 pelo seu Juiz de Direito, Dr. Joaquim Inácio de
Carvalho Filho, removido da Comarca do Caicó.
Pau dos Ferros — criada pela lei provincial n.° 683, de 8-8
de 1873. O l.° Juiz de Direito foi o Dr. José Alexandre de Amorim
Garcia, posse a 15-12-1873.
Jardim do Seridó — criada pela lei provincial n.° 681, de
8- 8-1873, instalada pelo Juiz de Direito José Rufino Pessoa de
Melo em 14-11-1873. Suprimida pela lei n.° 12, de 12-6-1892
(“Organização Pedro Velho”). Restaurada pela lei n.° 43, de 10
de setembro de 1894 e Decreto n.° 55, de 18-10-1895, (fôra
têrmo do Acari e agora o Acari passava a ser seu têrmo) . Reins­
talou-a. o Dr. Manuel Fernandes. A lei n.° 114, de 8-8-1898
restaurou a Comarca do Acari e Jardim do Seridó voltou a simples
têrmo da Comarca do Caicó. A lei ri.° 453, de 27-11-1919, restaurou
a Comarca de Jardim do Seridó, sendo reinstalada pelo seu Juiz de
Direito, Dr. Manuel Benício de Melo Filho, em 8-1-1920.
Cearâ-mirim — criada pela lei provincial n.° 733, de 12-8
de 1875. Instalada a 5-5-1877 pelo seu Juiz de Direito Dr. José
Inácio Fernandes Barros.
— 297 —

Apodi — criada pela lei provincial n.° 765, de 15-9-1875 e


instalada a 11-9-1876 pelo seu Juiz de Direito Dr. Lodolfo Hef-
culano Marinho Falcão. Supressa pelo Decreto 154, de 24-10-1931.
Foi restaurada pelo Decreto-lei n.° 442, de 31-10-1945 e o artigo
5 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias de 25-11
de 1947.
Instalada a 17-2-1948 pelo seu Juiz de Direito Dr. João Epi-
tácio Fernandes Pimenta, removido da Comarca do Açu.
Nova Cruz — criada pela lei provincial n.° 796, de 15-12
de 1876, instalada pelo seu Juiz de Direito, Dr. Jerónimo Américo
Raposo da Câmara em 11-12-1877.
Denominava-se «Comarca do Trairi». Na Organização Pedro
Velho teve o nome de «Comarca do Curimataú». Extinta pela
lei n.° 14, de 8-8-1898, foi restabelecida pela lei n.° 436, de 27-11
de 1918, sendo seu juiz de Direito o Dr. Silvino Bezerra Neto
em 20-12-1918 instalando-a.
Goianinha — criada pela lei provincial n.° 844, de 26-6
de 1882, foi instalada a 30-1-1890 pelo Juiz de Direito Dr. José
Climaco do Espírito Santo. Suprimida pela lei n.° 12, de 9-1-1892.
Restaurada pelo Decreto n.° 268, de 30-12-1943, tomando posse,
a 1-1-1944, o seu reinstalador, Juiz Dr. Lauro Pinto.
Acari — criada pela lei provincial 365, de 19-7-1858. Ignoro
sua extinção. Criada pela lei provincial n? 844, de 26-6-1882 e
somente instalada a 17-2-1890 pelo seu Juiz de Direito Dr. Pedro
José de Oliveira Pernambuco. A lei n.° 43, de 10-9-1894 e De­
creto n.° 55, de 18-10-1895, transferiram a sede da Comarca para
Jardim do Seridó. A lei n.° 114, de 8-8-1898, restaurou-a, tomando
posse o seu Juiz de Direito, Dr. Juvenal Lamartine de Faria, em
1-9-1898. Supressa pelo Decreto 484, de 15-7-1933, foi resta­
belecida pela léi n.° 1, de 30-3-1936 e reinstalada pelo Juiz de
Direito Dr. Joaquim Manuel de Meiroz Grilo em 21-4-1936.
Macaíba — criada pela lei provincial n9 845, de 26-6-1882,
provida em janeiro de 1890, sendo Juiz Municipal o Dr. Luiz
Manuel Fernandes Sobrinho seu instalador a 6-3-1890. O l.° Juiz
de Direito foi o Dr. José Augusto de Souza Amaranto, assumindo
a 27-5-1890. A “Reorganização Ferreira Chaves*’, (Jei n.° 114,
de 8-8-1898) suprimiu-a. Tivera nome de «Comarca do Potengi».
“Restaurada pela lei n.° 248, de 26-2-1907, com a denominação
de “Comarca de Macaíba”, foi seu Juiz de Direito reinstalador
o Dr. Heliodoro Fernandes Barros, a 23-3-1907. Novamente
extinta pela lei n.° 381, de 5-12-1914, restabeleceu-a o Decreto
79, de 8-4-1918, reinstalando-a o seu Juiz de Direito Dr. Vergilio
Otávio Pacjieco Dantas em 18-4-1918.
— 298 —

Santana do Matos — criada pela lei provincial n.° 845, dc


26-6-1882. Foi instalada a 15-3-1890 pelo Juiz Municipal Doutor
Manuel José Pinto. O l.° Juiz de Direito, Dr. Manuel do Nasci­
mento Castro e Silva, assumiu a 24 do mesmo mês e ano. Supri­
mida em 1892, pela Organização Pedro Velho, mereceu recriação
pelo Decreto 484, de 15-7-1933, sendo reinstalada pelo Juiz de
Direito da Comarca de Currais Novos, Dr. Tomás Salustino
Gomes de Meló em 1-8-1933.
Augusto Severo — criada pela lei provincial n.° 992, de
16- 3-1887, com a denominação de “Comarca de Triunfo”, então
nome da Vila sede. Instalada a 26-3-1890 pelo seu Juiz de Direito
Dr. Manuel de Carvalho e Souza. Suprimida pela lei n.° 12, de
9-1-1892, Organização Pedro Velho. Restaurada pela lei 146, de
23-12 1948, instalando-a o Sr. Juiz de Direito, Dr. João de Brito
Dantas, a 25-1-1951.
São Miguel — criada pelo Decreto 30, de 5-7-1890 e insta­
lada em fins de setembro do mesmo 1890 pelo seu Juiz de Direito,
Cândido Gonçalves de Albuquerque. Não foi mantida na Orga­
nização Pedro Velho. Restaurada pela lei n.° 453, de 27-11-1919,
assumindo em 31-1-1920, seu Juiz de Direito Dr. João Soares de
Araújo.
Santa Cruz — O Decreto 63, de 20-10-1890, declarou sede
da Comarca o termo de Santa Cruz, criado pela lei provincial nú­
mero 796, de 15-12-1876. Suprimida antes da provisão pelo Decreto
81, de 24-11-1890, passou a têrmo da Comarca do Potengi (Ma­
caíba). A lei n.° 272, de 23-11-1909, restabeleceu-a, empossan-
do-se seu Juiz de Direito, Dr. Vergilio Bandeira de Melo, a 2-2
de 1910. A lei n.° 381, de 5-12-1912, suprimiu-a. A lei n.° 452,
de 27-11-1919, restaurou-a, reinstalando-a o seu Juiz de Direito,
Dr. Régulo da Fonseca Tinoco, em 8-1-1920 (2).
Gurrais Novos — criada pela lei estadual n.° 453, de 27-11
de 1919, sendo seu l.° Juiz de Direito, instalador da Comarca, o
Dr. Tomás Salustino Gomes de Melo em 8-1-1920.
Lajes — Itaretama antiga; criada pela lei n9 462, de
17- 10-1927, foi instalada pelo seu P Juiz de Direito, Dr. Alfredo
Celso de Oliveira Fernandes, a 14-11-1927.
Caraúbas — O Decreto n.° 154, de 24-10-1931, transferiu a
sede da Comarca do Apodi para o têrmo de Caraúbas. Posse do
Juiz de Direito instalador Dr. Alfredo Celso de Oliveira Fernan­
des em 14-11-1931.
Baixa Verde — criada pelo Decreto 860,. de 19-6-1933, foi
instalada pelo seu l.° Juiz de Direito, Dr. João Maria Furtado, a
29 do mesmo mês e ano.
299 —

Parelhas — criada pela lei n.° 268, de 20-12-1943. Instalada


a 1-1-1944 pelo Prefeito Municipal, Sinésio Pereira. O seu l.° Juiz
de Direito, Dr. Inácio Soares Barbosa, tomou posse a 21-1-1944.
Angicos — criada pelo Decreto 268, de 30-12-1943 e insta­
lada pelo seu l.° Juiz de Direito Dr. Renato Celso Dantas a 7-1
de 1944. Fôra anteriormente criada mas não provida e supri­
mida (2).
Areia Branca — criada pelo Decreto 268, de 30-12-1943 e
instalada pelo seu l.° Juiz de Direito em 18-3-1944, Dr. Dario
Jordão de Andrade.
Sant'Antônio — criada pela lei n.° 146, de 23-12-1948, ins­
talada a 10-1-1949. Seu l.° Juiz de Direito, Dr. José Humberto
de Azevedo Barbalho, tomou posse a 2-1-1950.
Patu — criada pelo art. 27 das Disposições Constitucionais
Transitórias, 25-11-1947, e instalada pelo seu l.° Juiz de Direito,
Dr. Caio Pereira de Souza, em 19-1-1949.
Florânia — criada pela lei n.° 146, de 23-12-1948 e insta­
lada pelo seu l.° Juiz de Direito, Dr. Francisco Pereira da Nó­
brega Sobrinho, em 1-4-1949.
Alexandria — criada pelo lei n9 146, de 23-12-1948 e ins­
talada pelo seu l.° Juiz de Direito, Dr. Pedro Viana Neto, a 29
de janeiro de 1949.
Touros — criada pela lei n.° 146, de 23-12-1948 e instalada
pelo seu l.° Juiz de Direito, Dr. Francisco Leite de Carvalho, a
28-1-1950 (2).
Luiz Gomes — criada pela lei n.° 146, de 23-12-1948. Seu
l.° Juiz de Direito, Dr. Manuel Luiz Gomes Neto, tomou posse
a 15-5-1950,
S. Tomé — criada pela lei n.9 146, de 23-12-1948 e instalada
pelo seu l.° Juiz- de Direito, Dr. Manuel Luiz Gomes Neto, a
27-1-1951.
Juçurutu — criada pela lei n.° 146, de 23-12-1948. Jnstalada
em 25-1-1951 pelo seu Juiz de Direito, Dr. João Augusto de
Araújo.
S. Paulo do Potengi — criada pela lei n.° 460, de 27-11 de
1951 e instalada pelo seu l.Q Juiz de Direito, Dr. Júlio Vitor
Pimenta Teófilo Regis em 2-12-1951.

(UI)
Nos séculos anteriores os reçursos jurídicos iam à Relação da
Bahia £or intermédio da .Ouvidoria da Paraíba, decorrentes do
despacho dêsse magistrado. A última esperança era a Casa de
— 300 —

Suplicação cm Lisboa, o Supremo Tribunal. As demoras dos pa­


péis, nas viagens repetidas, e lentidão clássica do ofício, consumiam
anos e anos. As vêzes, decidido o feito, devolvido o processo
para a execução no Brasil, intimaya-se da sentença ao neto de
quem iniciara a ação.
A presença da Real Família no Brasil modificou a situação.
O Príncipe Regente, pelo Alvará de 10-5-1808, criou no Rio de
Janeiro a Casa da Suplicação para nela se findarem todos os plei­
tos em última instância, por maior que seja o seu valor, afirmava
o alvará. Por um Alvará com fôrça de Lei, em 6-2-1821,
D. João VI criou a Relação de Pernambuco, compreendendo além
das três Comarcas do Recife, Olinda e Sertão, as Províncias da
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará-Grande, desmembrada esta
da Relação do Maranhão.
Em 3-2-1874 instalava-se ém Fortaleza a Relação do Ceará,
separada de Pernambuco pelo Decreto n.° 2.342, de 6-8-1873.
O Rio Grande do Norte ficou enviando seus agravos, recursos
e apelações para o Ceará a partir desta data. Uma praga, muito
injusta certamente, ficou dêsse tempo: — justiça do Ceará te per­
siga ...
O Rio Grande do Norte possuiu o seu Tribunal no regime
republicano.
Houve um ensaio inicial. Em 7-8-1891 o segundo vice-presi­
dente em exercício, Francisco Gurgel de Oliveira, criou o Tribunal
Superior da Relação do Rio Grande do Norte, sem que houvesse
Congresso Constituinte e Legislativo que tratasse da lei da orga­
nização judiciária indispensável. Foram nomeados cinco desembar­
gadores, retirados do quadro dos Juizes de Direito; Doutores Angelo
Caetano de Souza Cousseiro (Açu), Joaquim Cavalcanti Ferreira
de Melo (Canguaretama), Luiz Antônio Ferreira Souto (Comarca
do Trairi, Nova Cruz), Lourenço Justiniano Tavares de Holanda
(Santana do Matos) è João Gurgel de Oliveira (Comarca de
Triunfo, Augusto Severo). Ö Superior Tribunal da Relação, ape­
lidado “Tribunal de Gurgel”, foi instalado solenemente a 17 de
agôsto de 1891, tendo sido eleito presidente o Dr. Cousseiro.
No dia 11 de setembro do mesmo 1891 chegou a Natal o Doutor
Miguel Joaquim de Almeida Castro, presidente do Estado eleito.
No mesmo dia assumiu e um Decreto da mesma data tornou sem
efeito o Decreto criador do Tribunal. Os ex-desembargadores re­
gressaram às suas comarcas. O Dr. Cousseiro, reassumindo o seu
juizado no Açu, comentou, consolado: — Antes Juiz de Direito do
que Desembargador de fato.
O Superior Tribunal de Justiça nasceu um ano depois.
301

A Constituição Estadual de 7-4*1892 e a lei n.° 12, de 9*6


de 1892, criaram o Superior Tribunal de Justiça, composto de cinco
desembargadores: — Jerónimo Américo Raposo da Câmara, pre­
sidente, Joaquim Ferreira Chaves Filho, Olímpio Manuel dos San­
tos Vital, José Climaco do Espírito Santo e Joaquim Cavalcanti
Ferreira de Melo, Procurador Geral, todos antigos Juizes de
Direito. Sua instalação realizou-se a 1*7*1892. O único norte-
riograndense era o Presidente.
A Constituição Estadual de 11*7*1898, art. 41, passou os
cinco desembargadores para meia duzia. A Constituição de 25*3
de 1907, art. 38, fê-los voltar aos cinco, iniciais. A Constituição
de 25*3*1915, art. 39, elevou*os para seis. A Constituição de
24*8*1926, art. 49, subiu*os a sete membros, podendo ser elevados
até nove por lei ordinária, se assim exigissem as conveniências da
Justiça. O Decreto 366, de 29*12*1927 elevou para nove os desem­
bargadores. O Decreto 532, de 4*11*1933, revogou o anterior,
suprimindo um cargo vago de desembargador e bem assim mais um
que viesse a vagar. O Decreto n.° 656,. de 4*7*1934 tornou o
plenário de nove membros.
O Decreto 701, de .1*9*1934, de acordo com a Constituição
Federal de 16*7*1934, divulgou que o velho Superior Tribunal de
Justiça passava a ser Córte de Apelação. O Decreto 856, de
17*6*1935, criou mais dois cargos de desembargadores, ficando o
quorum de onze magistrados superiores. A Constituição Federal
de 10*11*1937, mudou a Córte de Apelação para Tribunal de Ape­
lação. O Decreto 353, de 6*12*1937, reduziu o número dos desem­
bargadores para nove. A lei 456, de 26*11*1951, art. 14, levou
o número para dez.
É o Egrégio Tribunal de Justiça atualmente (Constituição
Estadual de 1947). __
Através do Tempo tem sido essa a história do Poder Judi­
ciário, iniciando naquele ano do século XVII com a nomeação
do Juiz Ordinário, com sua vara vermelha na mão, olhando a
Cidade do Natal que amanhecia ...

COMARCA TÊRMO
Acari ...................... 1 Acari ................ 1
f Açu .................... 2
Açu ........................... A[ Ipanguaçu ........ 2
Alexandria .............. 3 Alexandria ........ 3
f Angicos ............ 4
Angicos ..................
I Pedro Avelino . . 4
302 —

Apodi ........ 5 Apodi .......................... 5


Areia Branca .................. 6 Areia Branca .............. 6
Augusto Severo ............ 7 Augusto Severo ........ 7
Baixa Verde .............. 8
Baixa Verde .................. 8
Taipu ...................... .. 8
Caicó .......................... 9
Jardim de Piranhas .... 9
Caicó .............................. ' 9
S. João do Sabugi .... 9
Serra Negra do Norte . 9
Canguaretama ................ 10 Canguaretama ............ 10
Caraúbas ........................ 11 Carnaúbas .................. 11
Ceará-Mirim .................. 12 Ceará-Mirim' .............. 12
Currais Novos................ 13 Currais Novos .......... 13
Florania........................... 14 Florânia ...................... 14
Goianinha .................. 15
Goianinha ...................... 15-
Arez ......................... . 15
liaretama ........................ 16 ltaretama .................... 16
ardim do Seridó............ 17 ardim do Seridó .... 17
Juçurutu .......................... 18 ' ucurutu ...................... 18
Luís Gomes .................... 19 L,uís Gomes ................ 19
Macaíba .......................... 20 Macaíba ...................... 20
Macau .............................. 21 Macau ......................... 21
Martins ........................ 22
Martins .......................... 22
Portalegre . .. ............. 22
Mossoró .............. 23 Mossoró ...................... 23
Natal .............................. 24 Natal .......................... 24
Nova Cruz...................... 25 Nova Cruz ................ 25
Parelhas .......................... 26 Parelhas ...................... 26
Patu ................................ 27 Patu.............................. 27
Pau dos Ferros .............. 28 Pau dos Ferros.......... 28
Santa Cruz ................. 29 Santa Cruz.................. 29
f Santana do Matos ... 30
Santana do Matos .... 30
[ São Rafael .......... 30
Santo Antônio .............. 31 Santo Antônio ............ 31
•S. José de Mipibu.......... 32 São José de Mipibu . . 32
São Paulo do Potengi .. 33 São Paulo do Potengi 33
São Tomé ...................... 34 São Tomé .................. 34
Touros............................. 35 Touros ........................ 35
(Lei 146, de 23-12-Í948).
— 303 —
NOTAS DO CAPÍTULO DÉCIMO SEGUNDO

(1) Ver HISTORIA DA CIDADE DO NATAL, «Em nome da Lei!».

Há maiores pormenores sôbre a organização da justiça colonial, substituições

do Ouvidor, etc.

(2) O Decreto n.° 63, de 20-10-1890, criou as Comarcas de Touros,

Santa Cruz e Angicos (Pedro Velho) . Foram anuladas pelo Decreto número

81, de 24-11-1890 (João Gomes Ribeiro) e restabelecidas pe’o Decreto número

84. de 27-11-1890 (Manuel do Nascimento Castro e Silva). A «Organização

Judiciária», lei n.° 12, de 9-6-1892, não as manteve. Não tinham sido providas

nem instaladas.

z
CAPÍTULO XIII

I) Os velhos caminhos do Rio Grande do Norte. (II)


Correios. (Ill) Telégrafo. (IV) Navegação a va­
por. (V) Estradas de Ferro.'
(I)

A primeira estrada conhecida no Rio Grande do Norte e,


durante séculos, a mais trilhada, foi pelo litoral, beirando quase o
Mar, rumo da Paraíba. Os colonizadores vieram pelo Atlántico
mas a parte da tropa que devia vir por via terrestre recuou na
baía da Traição ante da peste de bexigas. Mascarenhas Homem,
fundado o Forte dos Reis Magos, regressou por terra. Êsse pri­
meiro caminho teve, no correr da guerra contra os indígenas no
final do século XVII, uma série de casa-fortes, protegendo o
trânsito que seria relativamente vultoso. Vinha-se pela baía da
Traição ou Mamanguape, Tamatanduba, Cunhaú, Goianinha,
Goaraíras (Arez), Mipibu, Potengi, Utinga, ou seguindo o vale
do Cajupiranga, diretamente a Natal. A jornada para o interior
ia até o vale do Ceará-Mirim, limite do conhecimento geográfico,
útil até mesmo depois da expulsão do holandês em 1654.
Quando o mestre de campo Luís Barbalho Bezerra realizou
a famosa contra marcha de fevereiro-maio de 1640 calcou a estrada
já histórica. O genealogista Pedro Taques diz ter sido o desem­
barque a 7 de fevereiro no pôrto de Aguaçu, topónimo desapa­
recido, junto ou nos arredores da atual cidade de Touros. Em
nomeações reais encontro baixios de São Roque. O caso é que
Barbalho Bezerra veio até o Potengi, quase vendo Natal ou
vendo, onde se bateu, derrotou e aprisionou Joris Gartsman, capi­
tão flamengo do Reis Magos, e o conduziu para a cidade do
Salvador. De Cunhaú é que o Mestre de Campo escreveu ao
Conde de Nassau pedindo passagem. Encontramos sua espada
vencendo Alexandre Picard em Goiana. Era a trilha secular para
o sul, Natal, vale do Cajupiranga, vale do Capió, Cunhaú, rio
Guaju para a Paraíba e daí para Pernambuco, por Mamanguape
e Goiana como ainda nos nossos dias é a maior rodovia interes­
tadual .
A repressão oficial à revolta da indiaria provocou o alarga­
mento das fronteiras corográficas. Antônio de Albúquerque Câ­
mara bate-se em 1688 nas cabeceiras do rio Açu e entre as serras
do João do Vale e Santana‘do Matos. A revolta abrangia as
ribeiras do Açu e Jaguaribe. A zona teve de ser batida e trespas-
— 308

sada pelas colunas militares. Nesse 1688 os paulistas vieram ajudar


a corrigir a indiada e se encontraram, vindos da Paraíba, com
Albuquerque Câmara que se batia no baixo-Açu. Domingos Jorge
Velho viera de seus currais do S. Francisco, por terra e mergu­
lhara pelo boqueirão de Parelhas, no chamado «Sertão de Acauã»,
que enrolava serras e capoeirões desde os atuais Jardim do Seridó
até Currais Novos. Tôda essa região, Pocinho dos Picos, Picuí,
Caiçara e Bico da Arara, até roçar o rio Acauã, era terra do
gentio da nação Canindé e Janduí (Cariris) que se alargava por
Quacari, Quimbico, Quintururé, Umvibico, Amoré, Onaxi, Acinum,
Quinde, Arari, Juçurutu até a misteriosa Serra do Araridu ou
Papuiré até Ticoigi e Tipuí, julgadamente a serra do Coité no
território paraibano. São topónimos cariris que orlam a peregri­
nação dos aldeiamentos e ficaram como testemunhando a passagem
dos Janduís e Canindés antes do desaparecimento. Êsse povo
dos Canindés foi derrotado em 1690 por Afonso d*Albuquerque
Maranhão, da Casa de Cunhaú, neto de Jerónimo, l.° Capitão-
Mor do Rio Grande. O tuixáua Canindé, soberano do sertão da
Acauã, foi batizado e tomou o nome de João Fernandes Vieira.
Dois anos depois o Senado da Câmara de Natal pedia a criação
de arraiais, povoados com defensão militar nos quatro pontos
extremos da região pacificada: Jaguaribe, Açu, Acauã e Curi-
mataú. As estradas ligavam entre si êsses lugares e se articulavam
nas duas vias troncos para o sul, o caminho do litoral, já mencio­
nado, e a estrada por onde nascería a estrada das boiadas. Em
1697 os indígenas Paiacus e Caratéus, da nação cearense dos Icós
que viviam desde o Catolé do Rocha até as margens do rio Pira­
nhas, na Paraíba, fixaram-se entre as ribeiras do Apodi e Jagua­
ribe, formando um liame de ativa comunicação pela chapada.
Por onde, durante as guerras contra o cariri, entraram os
Terços Paulistas, as tropas de auxílio, vindas para conter os
Janduís, Icós, Paiacus, Pegas e Panatis insubmissos ? Desceram
da Paraíba, vindos por Soledade-Picui ou Piranhas, depois Pom­
bal, Brejo do Cruz e Catolé do Rocha, varando a fronteira depois
da reintrância paraibana, ou vinham pela mesopotâmia do Panema-
Açu ? As tropas que voaram em socorro de Albuquerque Câmara
tomaram o primeiro caminho e as do sertanista Domingos Jorge
Velho creio que' escolheram o segundo, ainda hoje piso batido
e tradicional.
- Passada a guerra ficou a lembrança da terra pisada para
baixo e para cima. Do Açu sobe-se pelo rio Paraú até o fim
e apanha-se a estrada paraibana depois de Belém. Lembremo-nos
que a Paraíba não tinha gado e sim açúcar. O Rio Grande do
Norte possuia tanto gado que podia suprir a Paraíba, Itamaracá
e Recife. Os currais paraibanos são posteriores ao domínio holán-
— 309 —

dês na vigência do qual o Rio Grande exportava, de graça e a


fôrça, milhares de cabeças. Irineu Jofeli (“Notas sôbre a Pa­
raíba”, 124) diz que as fazendas apareceram normalmente quando
os exploradores galgaram o planalto da Borborema e os paulistas
penetraram no Piancó. Depois de 1690 é que temos indícios das
atividades bandeirantes dos Oliveira Ledo no Piancó e Piranhas.
Os núcleos iniciais foram o Boqueirão à leste e Piranhas à oeste
até que Oliveira Ledo reuniu e sistematizou o esquema do povoa­
mento pela fixação das tribus disseminadas.
Durante muitos anos os pontos povoados do sertão paraibano
não tiveram *inter-comunicação. Piancó conhecia a ligação com a
Bahia, e Boqueirão, nos Cariris Velhos, com Pernambuco. Entre
nós, já no século XIX, sucedia o mesmo. Mossoró ia para o
Aracati e Caicó para Campina Grande. O sertão escapou secular­
mente à capital que vegetava, humilde e minúscula, junto ao
Potengi. As ligações orientavam-se para Pernambuco e Paraíba,
para as grandes feiras de gado, Igaraçu, Goiana, També (Pedra
de Fogo), Itabaiana e depois Campina Grande, Daí a rêde de
estradas e variantes que sempre aglutinaram êsses lugares e os
articulavam às regiões do Seridó e sertão de Piranhas, ribeira
da Panema, enquanto a zona do Mossoró escoava-se para o
Ceará pelo chapadão do Apodi. Com o desenvolvimento do Ara­
cati passou êste a dirigir Mossoró e Mossoró ao seu sertão na
linde do oeste.
Do Mossoró, a velha estrada ia a S. Sebastião (Governador
Dix-Sept Rosado), como presentemente a Estrada de Ferro, Juru-
menha, perto de Caraúbas, Atoleiros, Piranhas, Mombaça, Boa
Esperança (Demétrio Lemos) nos batentes da serra do Martins.,
Carnaúba, Barriguda (Alexandre), Taboleiro Formoso onde se
bipartia. Um ramal ia para o Catolé do Rocha e outro à cidade de
Souza, tocando em Santa Rosa. Em Souza entroncava-se com a
estrada-das-boiadas que era uma reminiscência das estradas de
penetração povoadora. Daí a importância de Souza, Cajazeiras e
Pombal na formação comercial de uma zona do Rio Grande do
Norte. Para lá, como depois para o Caicó, enviava-se o menino
aos estudos do latim e o passador-de-gado, afoito e lendário.
Souza centralizava muito e uma sua estrada vinha morrer na
antiga rota dos conquistadores de Natal. Partia de Souza e atra­
vessava sucessivamente Catolé, Belém, Amazonas, S. Miguel (já
em nossa província), Serra de Santana por Flores (hoje Florânia).
Santa Cruz, centro de irradiação do Seridó depois de passar a
Serra do Doutor nas vizinhanças de Currais Novos, daí para
Nova Cruz por Campestre (S. José de Campestre) onde se via
o caminho que levava à Paraíba ou Pernambuco por Mamanguape.
— 310

Quando se criou o Correio, Mamanguape era o ponto de inter*


secção entre Paraíba e Rio Grande do Norte. Aí o estafeta recebia
a correspondência para Pernambuco e distribuia a carga entre as
duas coterminas. A posição de Mamanguape explica a predileção
. dos grandes latifundiários por suas terras. Os Albuquerques Ma­
ranhões; da Casa de Cunhaú, possuíam vários sítios e engenhos >
em Mamanguape.
A estrada-das-boiadas na Paraíba era muito mais seguida
pelos vaqueiros norte-riograndenses que qualquer outra nossa. Ia-se
por ela para o Piauí e o Piauí, de fins do século XVIII em diante
muito valia à nossa vida de pastoricia. Irineu Jofeli reconstruiu-a e
posso completá-la.
Do oeste do Espinharas, ribeira de Santa Rosa, Milagres,
tocando depois na lagoa do Batalhão (Taperoá), seguia-se o
rio, descendo a Borborema até Pinharas e daí a Patos, Piranhas
(Pombal), Souza, S. João do Rio do Peixe (um ramal recebia a
contribuição de Cajazeiras) ia-se ao Ceará pelos Cariris Novos,
Icó, Tauá, atingindo-se Crateús, inesquecível pelo encontro de
centenas de vaqueiros que demandavam o Piauí. Outros preferiam
acompanhar a vaqueirama divertida e pousar ali mesmo mas eram
em parte menor. A maioria furava, do Tauá, diretamente para o
Piauí. De Crateús comprava-se a gadaria em S. Antônio do
Surubim de Campo Maior, núcleo influenciador de cantigas sôbre
o ciclo do gado, Valença, Oeiras, que fôra capital até 1852, Jatobá
(S. João do Piauí) e Picus, fornecedor dos primeiros cavalos
pampas, ornamentais e vistosos, orgulho do patriarcado rural no
Rio Grande do Norte. Uns vaqueiros arrastavam a jornada até
S. Gonçalo de Amarante e outros à Jerumenha. As maiores feiras
eram nas localidades citadas.
Os norte-riograndenses do oeste iam via Ceará. De Tauá para
Cratéus e daí seguiam galgando a Ibiapaba para Campo Maior,
banhado pelo rio Surubim ou, dos cearenses Arneirós e Cococi,
alcançavam Valença nó Piauí ou em diagonal para Picos.
Essa toponimia ficou registada na cantiga velha. Desapare­
cida quase a estrada das boiadas, rara a viagem do vaqueiro, a
poesia tradicional guardou os nomes dos lugares de outrora. Essa
toada, verdadeira canção de marcha dos vaqueiros, recorda o per-.
curso (I) de Campo Grande (Augusto Severo) no Rio Grande
do Norte até o Piauí, envolvendo dois perfis femininos, cuidados
amorosos do vaqueiro cantador.
Como Xiquinha não tem,
Como Totonha não há;
O
t

Xiquinha de Campo Grande,


fcU
ï

Totonha do Lagamá !
— 311 —

Xiquinha vale dez [io (filhos)


Totonha vale dez vó .. . (avós)
Xiquinha do Cococi,
Totonha do Arneiró . . .
Xiquinha prá querer bem,
Totonha prá carinhá;
Xiquinha é de Crateús
Totonha é lá do Tauá
Xiquinha vale uma vila,
Totonha vale ela só;
Xiquinha nasceu nos Pico (Picos)
Totonha em Campo Maió . . .
Um ramal da estrada das boiadas ficou popularíssimo na
“cantoria”. É o do Piancó, Misericórdia, Milagres (Ceará), Mis­
são Velha, Crato, nos Cariris Novos. Do Mossoró viajava-se
outrora, como atualmente, pelo araxá do Apodi. Outras estradas
partindo de Mossoró, iam rio acima até as cabeceiras do Apodi,
Portalegre, Pau dos Ferros, S. Miguel e Luís Gomes. Uma
variante de Pau dos Ferros, velhíssimo rancho de camboeiros e
tangedores de gado, chega a Alexandria, antiga Barriguda e seguia
para Taboleiro Formoso, pegando o caminho paraibano. De Pau
dos Ferros a vizinhança cearense animava as visitas por Pereiro.
Do Patu ia-se para Catolé do Rocha.. Do Açu caminhava-se para
Campo Grande (Triunfo, Augusto Severo), Martins, no pé da
serra, onde se continuava em um dos ramos para a estrada das
boiadas pela Ribeira do Rio do Peixe.
O inverno era mais . cedo. Dizia tão certo como chuva em
janeiro. No Piauí as águas vinham em novembro. Iam vaqueiros
de tôda a parte comprar bois de carro e de corte e novilhos para
reprodução e engorda. Voltava-se em fins de dezembro ou corne­
rs de janeiro, tocando, para aproveitar as babugens verdes e ralas
que as chuvas faziam nascer.
As datas quase infalíveis criavam pontos de reunião para
que a jornada fôsse menos enfadonha e monótona. Especialmente
ficavam juntos no regresso para o auxílio mútuo nas travessias
sem água ou passagem difíceis nos rios e riachos, estouro de boiada
e moléstias súbitas na gadaria. Essas estradas tôdas, como vimos,
em pleno sertão, determinaram a necessidade das vendas, feiras
rápidas de suprimento ligeiro e descanso ao longo da rota. Fize­
ram casas. As fazendas se aproximaram. Ergueram a Capela.
Foi Vila e muitas são sedes municipais.
Para o sul do Rio Grande do Norte a viagem continuava
margeando as praias, caminho feito por Nosso Senhor. Assim
312 —

voltou, agonizante, Pero Coelho de Souza, em 1605, passando


Amargosa e Guamaré na costa de Macau..
Em 1810 Henry Koster fêz sua excursão ao Ceará partindo
do Recife, por Goiana, Espírito Santo, Mamanguape (Paraíba),
Cunhaú (Rio Grande do Norte), Papari (Nisia Floresta), S. José
de Mipibu, Natal, Açu, Santa Luzia (Mossoró), praia do Tibau,
Aracati (Ceará) e Fortaleza.
Quando o Bispo de Pernambuco, D. João da Purificação
Marques Perdigão, visitou o Rio Grande do Norte em 1839, vinha
do Ceará. Penetrou pelo Apodi, descansando em “Sabe Muito",
nos arredores da cidade de Caraúbas, dormindo no então po­
voado; almoçou em Coroas, perto da vila de Campo Grande (Au­
gusto Severo), alcançando o Açu. Atravessou S. Quiteria, depois
Patachoca, vila dos Angicos e pelo seu “Itinerário" sabemos que o
prelado veio por S. Romão (Fernando Pedrosa), Santa Cruz,
ambas estações da Estrada de Ferro Sampaio Correia, Riacho
Fechado, Várzea dos Bois, Umari, Boa Agua, Ladeira Grande,
Taipu do Meio (sede municipal), Capela, no vale do Ceará-Mirim
e Estremoz. É a travessia do poente ao nascente, oeste-leste. De
Natal, D. João partiu para a Paraíba repetindo quase o trajeto de
Mascarenhas Homem no percurso de regresso em 1598. Natal,
S. Gonçalo, S. José de Mipibu, Papari, Arez, Goianinha, Vila
Flor, Tamanduba, Camatanduba (Paraíba), Mamanguape. É a
descida norte-sul.
No interior as primitivas e grandes vias de povoamento e
penetração foram as margens dos álveos dos rios Piranhas c
Apodi-Mossoró. A oeste a chapada do Apodi com o rush cearense.
A linha Natal-Macau estirão solitário de areias inúteis, com água
rara, esteve despovoado, afora os breves oásis de coqueirais plan­
tados na segunda metade do sec. XVIII em diante e que abrigaram
povoações de pescadores, Genipabu (extrema do mapa de Marc­
grav), Pitangui, Jacumã, Muriú, Maxaranguape, Caraúbas, Ma-
racajaú, Touros, Olhos d’água, Santo Cristo, Reduto, Òaiçara,
Galinhos Diogo Lopes, etc.

(II)
Até princípios do século XIX não havia serviço postal. Os
Capitães-Mores despachavam os próprios de confiança, levando
cartas, duma para outra parte. Pela via marítima a correspondência
era entregue ao comandante do barco. Ainda em 1810 os admi­
nistradores confiavam aos indígenas o saco de seda carmezim, con­
tendo papéis oficiais. O portador do saco de sêda carmezim tinha
direito a requisitar animais e abusava, humanamente, dessas prer-
— 313 —

rogativas. Henry Koster, voltando do Ceará à Pernambuco por


terra, foi portador do saco de sêda carmezim e registou o resoeito
que o cercava.
Manuel Inácio de Sampaio, governador do Ceará Capitania,
1812-1820, pôs em prática o tráfego regular do correio, privativo da
administração mas carregando cartas de particulares, por especial
mercê.
A Repartição dos Correios funcionou em Fortaleza a 1-5
de 1812, administrada pelo escrivão da Junta da Fazenda.
No Rio Grande do Norte o governador José Inácio Borges
louvou a iniciativa do colega cearense e pensou adicionar uma
mala partindo de sua jurisdição. Dependia a autorização do Ca­
pitão General de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Monte­
negro, e como êsse fôsse desconfiado e lento para qualquer inicia­
tiva, Borges resolveu renunciar ao desejo. Em 1817 o general Luiz
do Rego Barreto consultou José Inácio sôbre a participação do
Rio Grande do Norte num plano de correios abrangendo iodo o
nordeste. Borges escreveu, a 22-11-1817, entusiasmado, enviando
sugestões para o itinerário, agências locais, etc. Nada porém foi
feito pràticamente.
A administração dos Correios no Rio Grande do Norte data
de 5 de março de 1829. É dessa data o decreto que manda executar
o Regulamento da Administração Geral dos Correios, assinado
pelo ministro José Clemente Pereira. O capítulo 3.° do seu artigo
31 diz: — “Nas capitais das Províncias haverá um administrador
de todos os correios das mesmas. “O art. 89 : — “ . . . e levarão
no chapéu, ou pendente do pescoço, uma chapa de figura oval,
branca ou amarela, com a legenda : — Correio de ... Poderão usar
viagens armas defensivas e ofensivas, e serão isentos de todos os
cargos públicos.”
Em 1817 José Inácio Borges propunha uma gratificação anual
de 50$000. Em 1852 o administrador João Damasceno de Albu­
querque ganhava 400$ por ano. Os correios terrestres foram dimi­
nuindo na proporção em que os transportes marítimos desenvol­
viam-se. Em junho de 1858 o vice-presidente da província em
exercício, Otaviano Cabral Raposo da Câmara, informava que a
linha para Pernambuco estava quase extinta, donde por intermédio
das duas Companhias de' vapores recebem-se notícias frequentes e
prontas.
A rêde postal em 1865 era a seguinte.
Natal a S. José de Mipibu, uma vez por semana, 16$000
por viagem.
S. José a Goianinha, idem, 16$000.
Goianinha a Canguaretama, idem, 16$000.
314

Canguaretama e Mamangtíape, idem, 16$000.


Mamanguape a Pernambuco, idem, 16$000.
De Natal a Touros, duas vêzes por mês, 5$000.
Natal a S. Gonçalo e Ceará-Mirim, idem, 28$000.
Ceará-Mirim a Angicos, idem, 28$000.
Angicos ao Açu, idem, 28$000.
Açu ao Acari, idem, 28$000.
Acari ao Jardim do Seridó, idem, 28$000.
Macau ao Açu, idem, 20$000.
Jardim ao Príncipe (Caicó), idem, 23$000.
Açu a Caraúbas, idem, 20$000.
Caraúbas ao Apodi, idem, 20$000.
Apodi a Portalegre, idem, 20$000.
Portalegre a Pau dos Ferros, idem, 20$000.
Pau dos Ferros a Imperatriz (Martins), idem, 20$000.
Açu a Campo Grande (Augusto Severo) 5$000.
Campo Grande a Mossoró, idem, 5$000.
1865 foi o ano em que a rêde postal atingiu ao seu máximo.
Daí em diante nascem variantes, complementos e ampliações.- As
vias troncos foram essas.
Ern fevereiro de 1886 existiam agências postais espalhadas
por quase tôda a província. Nos dias, 7, 12, 20, 25 e 30 de cada
mês, partiam os dezessete estafetas para Nova Cruz, S. Antônio.
S. Bento, Acari, Jardim, Príncipe, Serra Negra, Touros, Ceará-
Mirim, Angicos, Açu, Mossoró, Caraúbas, Apodi, Portalegre,
imperatriz, Pau dos Ferros, 5. Miguel, S. Gonçalo, Macaíba,
Santana do Matos, Triunfo (Augusto Severo), e diàriamente, pela
linha férrea, para S. José, Papari, Arez, Goianinha, Penha e Nova
Cruz. Havia um ramal entre Macau e Açu e outros entre Mossoró
e o Pôrto da Barra (Areia Branca), duas vêzes por mês, nas che­
gadas dos navios da Companhia Pernambucana de Navegação a
Vapor. A correspondência para as outras províncias e estrangeiro
era remetida pelos vapores da Pernambucana e Nacional.
Em agôsto de 1888 existiam ainda outras agências em Luís
Gomes, Jardim de Angicos, Vera Cruz, Currais Novos e Flores.
Essa disposição foi encontrada pela República em 1889.
Êsse foi o comêço do que existe . ..

(UI)
Eliseu de Souza Martins, 38.° presidente da província, inau­
gurou em Natal, a 4 de agôsto de 1878, o serviço telegráfico. A
melhor reportagem fêz o vice-presidente Manuel Januário Bezerra
Montenegro, no seu relatório à Assembléia Legislativa Provincial
a 4-12-1878. Assim informou S. Excia aos deputados: — “No
— 315 —

dia 4 de dezembro do corrente ano inaugurou-se aqui êsse grande


melhoramento, verdadeira maravilha do século XIX. Comparece­
ram ao ato as principais autoridades e pessoas distintas desta capi­
tal, que, repletas de júbilo, dirigiram ao Govêrno Imperial e ami­
gos de outras províncias festivas congratulações pelo importante
progresso, que acabava de realizar-se nesta província, transmitin-
do-se nesse dia 187 telegramas, e receberam-se 95. Do dia 1 de
setembro às 5 horas e 40 minutos da tarde até o dia 7 às 2 horas
e 30 minutos também da tarde, houve uma interrupção devida ao
mau estado dos aparelhos, segundo informou o hábil estacionário
Tirso Alexandrino da Silva. Outra interrupção sofreu o serviço
do dia 20 de outubro às 6 horas e 50 minutos da tarde até 24 do
mesmo mês às 3 horas e 20 minutos também da tarde, devida essa
interrupção à queda de um poste e como conseqüência de 3 qui­
lômetros de linha sôbre o chão, formando chapa. Resumindo o
quadro do movimento dessa Repartição, que me foi fornecido em
30 de novembro último, vê-se que foram até hoje transmitidos 844
telegramas com 21.416 palavras na importância de 8.029$300.
Recebidos 595 telegramas com 12.291 palavras na importância
de 2.236$200. Vefifica-se, pois, que o rendimento faz colocar a
estação telegráfica desta cidade em uma classe superior à outras
muitas do Império, cuja espectativa era mais prometedora.”
As primeiras e últimas estações do século XIX foram :
Natal, 4-8-1878.
Mossoró, 21-8-1879.
Macaíba, 17-7-1880.
Angicos, 15-9-1881.
Açu, 12-12-1890.
Macau, 22-7-1895.
Areia Branca, 28-9-1895.
As três primeiras do século XX foram :
Apodi, 4-4-1907.
Pau dos Ferros, 8-1-1908.
Santa Cruz, 1-1-1911.
Foram êsses os pontos da velocidade inicial.
A Western Telegraph C° inaugurou em Natal os serviços
telegráficos do cabo submarino em 25-2-1939. É a 14.a estação do
gênero no Brasil e filiada à Cable & Wurelesse Limited.

IV
A primeira companhia que fêz o serviço regular de cabotagem
no Rio Grande do Norte foi a Companhia Pernambucana de Na­
vegação Costeira a Vapor. O Govêrno Imperial, pelo Decreto

ÔIBLIOTPPa
— 316 —

n.° 1.113, de 31-1-1853, dera-lhe privilégio exclusivo para nave­


gação costeira a valer entre os portos de Maceió à Fortaleza. A
província não tinha deveres financeiros porquanto o contrato obri­
gava a beneficiada a fazer tocar seus vapores nos portos de Natal
e do Açu (Macau). A 27-11-1857 a Província começou a subven­
cionar a Companhia com 4:000$ anuais, para que o pôrto de Mos­
soró fôsse incluído nas escalas do norte. Começaram aparecendo
o ’Jaguaribe”, “Iguaraçu”, “Pirapama” “Paraíba”, de rodas, le­
vando cargas, correspondência e passageiros.
Inicialmente no rio Mossoró foi feito um armazém no pôrto
da Jurema mas uma tentativa em janeiro de 1866, com o vapor
Mamanguape”, resultou falha. O presidente da província, Luís
Barbosa da Silvá, transferiu o armazém para o sítio das Areias
Brancas, onde em abril de 1867, chegou a barca inglêsa “Calder-
bank”, consignada à casa J. Ulrich Graf, de Mossoró, e o “Pira-
pama”, vapor da Pernambucana, iniciou a rota. É a origem do
desenvolvimento comercial da cidade de Areia Branca, dona de
salinas, sétimo pôrto do Brasil em volume de exportação.
Surgindo depois a Companhia Brasileira de. Navegação a
Vapor (origem do Lloyd Brasileiro), em julho de 1875 chegou a
Natal o vapor “S. Jacinto”, inaugurando a escala.
Com as dificuldades de acesso na barra de Natal os navios
foram rareando a entrada, ficando fora do rio Potengi, ao redor
do forte dos Reis Magos. Várias vêzes, com trabalho de políticos
influentes e ação da classe comercial, o Lloyd Brasileiro fazia seus
barcos transpor a barra e cessar, meses depois, o movimento, anco­
rando lá fora. Os serviços continuados na barra, conseguidos
depois da República, simplificaram a entrada, que já em 1647
Barléu informava ser dificilíssima. A inauguração do cais das
Docas, em 24-10-1932, atracando o “Campos .Sales” do Lloyd
Brasileiro, tendo antes, em 1930, atracado o cruzador inglês “Dehli”,
dotou a cidade de pôrto de desembarque marítimo. O des. Antô­
nio Soares informa que o primeiro vapor a entrar no pôrto de
Natal foi a 25-11-1829.

V
A Estrada de Ferro Natal e Nova Cruz durou curtos sete
anos de decretos, prorrogações e aditivos. A lei provincial n.° 682,
de 8-8-1873, concedia os direitos e a 2-7-1874 assinou-se o con­
trato com Cícero de Pontes, Luiz Pedro Drago, José de Sá Bezerra
e Francisco Manuel da Cunha Júnior. A Estrada teve garantia
de juros de 7 c/o sôbre o capital máximo de 6.000:000$ pela lei
317 —

imperial n.° 2.450, de 24-9-1873, e Decreto 5.877, de 20-2-1875,


referendado pelo Ministro da Agricultura, Comercio e Obras Pú­
blicas, conselheiro José Fernandes da Costa Pereira Júnior. A
20 de outubro e 6 de novembro de 1877 o presidente José Nicolau
Tolentino de Carvalho concedeu prorrogação e modificações con­
tratuais. Os contratantes eram os mesmos, exceto José de Sá
Bezerra e Luiz Pedro Drago que tinham vendido sua parte ao
padre João Manuel de Carvalho e a Manuel Pedro Drago. Outros
decretos alteravam disposições e fixavam em 5.496:052$544 o
capital garantido e davam prazo de cinco anos para a conclusão
das obras. Finalmente outro decreto imperial (n.° 7.084, de 16
de novembro de 1878) autorizava a transferência do primitivo pri­
vilégio à “Imperial Brazilian Natal and Nova Cruz Railway Com­
pany Limited.”
Com a presença do engenheiro Jason Rigby, a 1-10-1878,
fêz-se o serviço inicial no lugar denominado Nau do Refoles, re­
gista o vice-presidente Bezerra Montenegro. A 27-2-1888 o pre­
sidente Rodrigo Lobato Marcondes Machado, com autoridades e
povo, presenciava a cerimônia da inauguração dos trabalhos e aos
primeiros passos da locomotiva sôbre os trilhos, como perorou
S. Excia. o presidente.
As inaugurações não demoraram muito.
Natal a S. José de Mipibu, 48.800 metros, inaugurou-se a
28-9-1881, passando o trem pelas estações de Pitimbu (12 quilô­
metros), Cajupiranga (12.140), S. José (37.850) e Papari, cha­
mado então “S. José Alto”, 48.800 metros de Natal. O segundo
trecho entregou-se ao público a 31-10-1882, compreendendo S.
José Alto à Lagoa de Montanhas, com as estações de Sapé (Trairi,
45 quilômetros, 150 metros de Natal), Baldum (52.920), Estivas
(60 quilômetros), Goianinha (63.500), Penha (80.300), Piquiri
(86.700), Curimataú (Pedro Velho, 92 quilômetros) e Lagoa de
Montanhas/com 101 quilômetros de 800 metros. O terceiro trecho,
Lagoa de Montanhas e Nova Cruz, inaugurou-se a 10-4-1883,
numa extensão de 18 quilômetros e 800 metros. De Natal a Nova
Cruz contavam 120 quilômetros e 600 metros.
“The Great Western of Brazil Railway Company” arrendou,
a 6-8-1901, contrato revisto a 28-7-1907, várias ferrovias, entre
elas «Natal and Nova Cruz», sendo obrigada a construir o trecho
entre Nova Cruz, no Estado do Rio Grande do Norte, e Inde­
pendência (Conde d’Eu antigo, Guarabira) no Estado da Pa­
raíba, ponto terminal. Era um espaço de 50 quilômetros, pago
em títulos de 4 % ouro, valor nominal da £ 170.000. A Great
We ern construiu o trecho inaugurando-o a 1-1-1904.
— 318 —

O Decreto-lei n? 1.475, de 3-8-1939, ordenou a encampação


de Great Western no trecho norte-riograndense, sendo entregue à
Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte em 5-11-1939.
O preço do quilômetro em 1881-83, foi avaliado em ..........
43:421$920.
A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte tem
história longa como a esperança de gente pobre. Em novembro
de 1870 uma lei provincial, n.° 630, 26-11-1870, autorizava o
contrato de uma ferrovia que, partindo de Natal alcançasse o \ale
açucareiro do Ceará-Mirim. O presidente Delfino Augusto Caval­
canti de Albuquerque chegou a assinar contrato, em 8-6-1872,
com João Carlos Greenhalgh e o major Afonso de Albuquerque
Maranhão que nada puderam fazer, além das assinaturas.
A estrada começou em 1904, estudada pelo engenheiro Sam­
paio Correia. O traçado era claro e lógico. De Natal ia ao Ceará-
Mirim, acompanhando o curso dêsse rio, procurando suas cabe­
ceiras na linha divisória das águas pertencentes à bácia do Pira­
nhas (Açu). Atravessando essa divisa, cortava-a o rio Patachoca
(Pataxó), afluente do Açu, indo pela margem esquerda dêsse úl­
timo, descendo pelo vale do Caraú ou Santana do Matos até perto
da povoação de S. Rafael onde infletia para sudoeste, subindo o
curso do Piranhas. De S. Rafael em diante acompanharia a mar­
gem direita do Açu (ou Piranhas) até Caicó, indo para a Paraíba,
atravessando o Piranhas nas divisas dos municípios de Souza e
Pombal, alcançando o vale do rio Peixe, afluente esquerdo do
Piranhas, pelo qual subiría até transpor o divisor das águas dêste
rio e do Jaguaribe, no Ceará, onde a linha de penetração encon­
traria a estrada de ferro do Baturité.
Começados os trabalhos, administrativa e custosamente, foram
postos em arrematação e contratados e depois transferidos à fir­
ma Gouveia Proença. Aparecem rescisões, modificações do tra­
çado Sampaio Correia, reparos técnicos (para pior) e mais con­
fusões interesseiras e burocráticas. A Estrada chegou a Lajes em
1914 e esbarrou. Até o Presidente da República reclamou, na
“mensagem” de 3-5-1918. Em 11-4-1920 foi o contrato rescindido
e a Estrada dirigida por um engenheiro nomeado pelo Govêrno
Federal. Já se gastara muito. Até Lajes, com 151.438 de percurso
(pelá mensagem. São 148.567) despendera a União ..............
30.607:294$769 _e o ramal a Macau consumiría mais de dez mil
contos £ fôra abandonado.
A Estação de Natal foi inaugurada a 2-6-1917. Antes atra­
vessava-se o rio Potengi, tomando o trem do outro lado, na Estação
de Aldeia Velha, inaugurada pelo próprio Presidente eleito da
República, Afonso Augusto Moreira Pena a 13-6-1906.
— 319

O trecho inicial, Natal a Ceará-Mirim, fôra inaugurado por


Afonso Pena nesse 13-6-1906. Eram os primeiros 33.811, hoje
38.638, com as estações intermediárias de Igapó e Estremoz.
A Estrada atualmente alcança 381 quilômetros.
Há o ramal de Lajes, a Pedro Avelino (ex-Epitácio Pessoa
e antigo Gaspar Lopes seu primeiro sesmeiro no século XVIII) e
Afonso Bezerra. As inaugurações foram :
Natal, 2-6-1917.
Igapó, 13-6-1906.
Estremoz, 13-6-1906.
Ceará-Mirim, 13-6-1906.
(Entre Estremoz e Ceará-Mirim, Massangana, 15-2-1939) .
Itapaçaroca, 15-11-1907.
Pitombeiras, 15*11*1907.
Taipu, 15-11-1907.
Melancias, 8*9*1909.
Baixa Verde, 12*10*1910.
Jardim, 14-11-1913.
Pedra Preta, 14-11-1913.
Lajes, 4-7-1914.
Cabugi, 10-11-1939.
Santa Cruz, 26-9-1932.
Fernando Pedroza (então S. Romão), 26-9-1932.
Angicos, 26-9-1932.
Oscar Nelson, 17-6-1949. (km. 218).
Afonso Bezerra, no ramal de Lajes — Pedro Avelino, 29-11
de 1950 (Km. 43 do ramal).
Pela lei n.° 1.155, de 12-6-1950, a Estrada de Ferro Central
do Rio Grande do Norte passou a denominar-se “ Estrada de Ferro
Sampaio Correia”.

★ ★
A Companhia Rádio Internacional do Brasil (Radional) com
o Serviço de radiogramas para o Exterior e telefônico para todos
os Estados do Brasil, instalou em Natal o círculo telefônico a 4-12
de 1942, funcionando em período experimental até 15-3-1944.
*
★ ★
A Companhia Estrada de Ferro de Mossoró S.A. iniciada
pela firma Sabóia de Albuquerque õ Cia. em 31-8-1912, corces-
sionária, mantém em tráfego 241 quilômetros, desde Pôrto Franco,
— 320 —

no município de Areia Branca, a • Alexandria, no município do


mesmo nome. As datas de inaguração foram :
Pôrto Franco a Mossoró, 19-3-1915.
S. Sebastião, 1-11-1926.
Caraúbas, 30-9-1936.
Jordão, 30-9-1936.
Patu, 30-9-1936.
Almino Afonso, 30-9-1937.
Mombaça, 31-12-1941.
Demetrio Lemos, 29-10-1948.
Baixa Verde, mesma data.
Alexandria, idem.
Essa Estrada, soma de vários sonhos e de vários planos, dir-
se-á história de uma vontade. Alcança Souza, Paraíba.
Johan Ulrich Graf, suíço, assinou a 28-8-1875 um contrato
com o Govêrno Provincial propondo-se construir uma estrada de
ferro de Mossoró aos limites do território, atravessando os muni­
cípios jdo Apodi e Pau dos Ferros. Conseguiu mesmo, do Govêrno
Imperial, favores excetuando o que justamente constituía objeto
indispensável, a garantia de juros.. Naturalmente não pôde le­
vantar capitais e a concessão caducou, Decreto 8.598, de 17-6
de 1882. Outros substitutos apareceram falhando. Altas vozes
ressoaram na República, na Câmara dos Deputados e no Senado,
indicando a necessidade imediata de uma ferrovia que ligasse o
litoral norte-riograndense às margens do rio de S. Francisco, es­
trada de incalculável valor econômico e. estratégico. Junqueira
Aires e Meira e Sá gastaram eloqüência e receberam aplausos.
Apenas. Meira e Sá ainda conseguiu vencer a oassagem do pro­
jeto na Comissão de Obras Públicas, obtendo parecer favorável
(n.° 337, 1909) mas o projeto encalhou nos escaninhos dos canais
competentes e por lá se dissolveu.
O Govêrno Estadual fêz a concessão da linha férrea até Ale­
xandria. A firma Albuquerque & Cia contratou, 25-8-1910, o
serviço de construção. Posteriormente o Governador do Estado
renunciou a todos os direitos da concessão para facilitar os auxí­
lios federais.
Os atuais 241 quilômetros constituem vitória contra todos os
elementos negativos e as dificuldades imprevistas que retardaram
anos e anos a iniciativa indeclinável. Durante anos e anos o juiz
de Direüo de Mossoró, Felipe Neri de Brito Guerra, o farma­
cêutico Jejônimo Rosado, estudaram e escreveram defendendo a
idéia que os apaixonara, com uma obstinação, uma tenacidade,
uma alegria que a todos contagiou. Não possuiam interêsse que
não fôsse a razão coletiva. Desajudados e sozinhos encarnavam
— 321 —

i idéia de Johan Ulrich Graf. Foram êles os 241 quilômetros


nieláis, as credenciais humanas que sacudiríam a Estrada na hori­
zontal produtora ...
NOTA ÄO CAPITULO DÉCIMO-TERCEIRO

( 1 ) Êsses. versos me foram dados pelo meu primo Políbio Fernandes

Pimenta que os cantava. Eram muito mais extensos. Em agôsto de 1952 assisti

ao Piauí as festas do centenário de Teresina. Numa conferência no teatro

$4 de Setembro» sôbre a «Presença do Piauí na cultura popular do Nordeste»

disse êsses versos e inúmeras pessoas informavam depois da existência dos

mesmos no Piauí e numerosas variantes.


CAPÍTULO XIV

(I) O Município colonial. (II) Cronologia dos muni­


cípios. (Ill) Municípios supressos e transferidos.
(IV) Denominação dos municípios e distritos. (V^
Informação financeira dos municípios.

NOTA DO CAPÍTULO DÉCIMO QUARTO

adendos: — Quadros do movimento financeiro.


Durante quase cento e cinquenta anos Natal constituiu o
município único da Capitania. Teve suas primeiras autoridades
civis em 1611 e o segundo município, Estremoz, é de 3 de maio
de 1760.
Motivou êsse retardamento na vida municipalista a dispersão
das atividades pastoris. O aldeiamento dos indígenas pelos mis­
sionários fixou os núcleos organizados. Na expulsão dos jesuítas
a Coroa fêz substituir a assistência religiosa e administrativa pelas
entidades civis e militares. As aldeias foram solenemente elevadas
ao predicamento de Vilas, com a presença de magistrados, cerimo-ç
nial da chantação dos pelourinhos, os três vivas a El-Rei Nosso
Senhor, demarcação e cordeamento da área urbana e têrmo escrito
pelo escrivão, no respeito minucioso pelos requisitos da “Ordena-
-*» 9 9

çao .
A elevação do Pelourinho denunciava a existência da auto­
ridade civil, a organização municipal, expressa pelo Juiz Ordinário
e Senado da Câmara, até 1-10-1828 quando se criou a lei que
deu nascimento às Câmaras Municipais. O Pelourinho é o sím­
bolo da autoridade local. Fazê-lo representar opressão e arbítrio,
violência e sanpue é apenas desconhecer a História real ( 1 ) .
Tôdas as Vilas possuiríam, anteriormente, os direitos de /uZ-
gado, a entidade inicial administrativa quanto à distribuição da
justiça. Religiosamente havia o Curato, ponto de partida para a
futura freguesia.
Existindo na Ribeira mais de cinquenta moradores, dispersos,
e relativamente vizinhos, nomeava o Capitão-Mor uma autoridade
local, sem' vencimentos, representando a justiça, encarregada de
mantê-los em boa ordem, harmonizar-lhes as desavenças. Era o
Sargento-Mor da Ribeira. Assim em 4-10-1755 o Capitão-Mor
nomeava José de Oliveira Leite para a Ribeira do Mossoró, por ser
“pessoa principal e de conhecida nobreza, afazendado morador na
mesma ribeira e de honrado procedimento”. Assim eram depois
nomeados, eleitos quando havia Câmara, os Juizes de Vintena ou
Pedáneos, começando os rudimentos da teia forense. A provisão
de 21-4-1739 criara o Têrço dos Auxiliares nas terras sefvídas
por portos e determinava nas Vilas e Cidades a organização das
Ordenanças, com um Capitão-Mor, Sargento-Mor e Ajudante,
distribuidas inicialmente em Legiões e depois em Regimentos.
Sômente em 1831, decret^ de 20-12-1831, a Regência do Brasil
— 326

extinguía os Corpos de Milícias, Ordenanças, na medida em que


se fôssem organizando os Guardas Nacionais ncs municipios.
A Câmara Municipal nasceu com a lei de 1-10-1828 (2).
A “fazenda”, outrora “curral” nome ainda vivo na toponimia
(Currais Novos, Curral Velho, Curral dos Padres, Curralinho, etc)
indicava a partida do povoamento. Era a fazenda de gado, com
seus agregados ao derredor. Erguia-se a Capela e o Capelão
batizava, casava, encomendava. Era a semente fixadora. As ruas
faziam pião dêsse templo, em forma retangular. Era o pátio, a
praça da Matriz, a Rua Grande, comum na quase totalidade das
cidades brasileiras nascidas ao redor das Capelas.
Vinham vindo lentamente os elementos da aparelhagem. Pri­
meiro a» feira, típica, indispensável, possibilitando a permuta dos
produtos locais, determinando o afluxo semanal ou quinzenal para
um ponto, obrigando o aparecimento de vend.as com objetos de
uso, fazendas, armas, utensílios de lavoura, caça, pesca. Surgiam
a escola de primeiras letras, o pôsto fiscal, a estrada articuladora
ao caminho-tronco, a estrada das boiadas e depois, da era do
Telégrafo, a estrada do fio, ambas rota batida da vaqueirama,
rumando as feiras de gado centralizadoras. No Rio Grnde do
Norte 99 % dos municípios nascem das fazendas de gado. Algu­
mas cidades conservam as casas-grandes e mostram aos vi atantes
os lugares dos cercados, os primitivos currais, as cacimba0-de-beber.
Indicam o canto da rua velha onde se ergueu a latada para abrigar
a feira iniciante. Aglutinava esta o interêsse de léguas de roda.
O morador mais rico, posseiro inicial ou neto de sesmeiro, chegava
a eleitor-de-paróquia. Entrava para um Partido Político, do Norte,
se conservador, do Sul, se liberal. Era a povoação. A Vila. A
Cidade.
Dos quarenta e oito municípios do Estado, Natal é do século
XVI, 1599. Sete municípios são do século XVIII: Estremoz, Arez,
( * ) A Assembléia Estadual na sessão legislativa de 1953 elevou para

sessenta e seis o número dos municípios do Estado, criando mais dezoito.

Foram : UPANEMA, lei 874, 16 de setembro; AFONSO BEZERRA, 20, de

27 de outubro; OURO BRANCO, 907, de 23 de novembro; SERRA CAIADA,

908, ALMINO AFONSO, 912, CRUZÉTA, 915, todos de 24 de novembro;

SÃO BENTO, 923, de 25 de novembro e na mesma data MONTE ALEGRE,

lei n.° 929; JANUARIO CICCO í antigo distrito «Boa Saúde»), 996,

GROSSOS, 1.025, ITAÚ, 1.926, FELIPE GUERRA (ex-«Pedra de Abelha»),

1.027, CARNAÚBA DOS DANTAS, 1.028, CORONEL EZEQUIEL (antigo

distrito «Melão»), 1.029, SÃO VICENTE, 1.030, CERRO CORÁ, 1.031

todos de 11 de dezembro; PENDÊNCIA, 1.039, de 12 de dezembro e MAR­

CELINO VIEIRA (antigo distrito «Panatis») n.° 909, de 24 de dezembro,

todos sancionados pelo governador Sylvio Piza Pedroza em 1953. O Supremo

Tribunal Federal (outubro, 1954) anulou a criação do município de Felipe

Guerra e outros pendem de recursos.


— 327 —

Portalegre, S. José, Vila Flor, Açu e Caicó. Do século XIX são


vinte e nove. Os demais ' pertencem ao-século XX.
II
Natal — fundada a 25-12-1599. Teve ao nascer o predica­
mento de Cidade e assim foi sempre tratada nos papéis oficiais
da colônia^ Exceto a Cidade do Salvador e João Pessoa, é a mais
antiga capital de Estado em todo o norte do Brasil. Durante o
período holandês recebeu nome de Amsterdam, registado em Joan
Nieuhof. Seu desenvolvimento foi lentíssimo. Fundou-se na atual
Praça André d.* Albuquerque, outrora Rua Grande. A parte alta
ficou sendo conhecida por “Cidade’* ou “Cidade Alta” e o bairro
baixo, Ribeira. Na primeira década do séc. XX apareceram os
outros bairros. Deixou de ter um aspecto colonial entre 1908 e
1914, seguido pelas administrações posteriores. Multiplicou-se ae-
pois de 1930. Iniciou sua transformação real, sob plano urbanís­
tico, o seu primeiro Prefeito, Ornar Ó Grady.
Foi o primeiro e único ponto povoado pelo elemento branco
em todo território do Estado durante um século. A fundação,
determinada por uma Carta Régia, dava-lhe autoridade de <abeça
do povoamento, residência principal. Essa expansão foi vagarosa.
A guerra contra os indígenas, na segunda metade do século XVII,
explicou o conhecimento das áreas geográficas do interior e a
fixação do colono pela criação do gado. Os saldos indígenas,
egressos da luta, foram colocados em cinco aldeamentos. Êsses
aldeamentos tornaram-se Vilas, sedes de municípios, os cinco
primeiros da Capitania, Estremoz, Arez, Portalegre, S. José e
Vila Flor.
Natal tem dois distritos, um na sede e outro na Vila de Parna­
mirim.
Desde quando é cidade ?
No Auto da Repartição das Terras da Capitania do Rio
Grande, cumprindo o alvará del-rei datado de Lisboa em 28-9
de 1612, presentes o desembargador Manuel Pinto da Rocha,
Ouvidor Geral dêste Estado, e Alexandre de Moura, Capitão-Mor
de Pernambuco, lavrado pelo escrivão Tomé Domingues, lê-se :
— Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesu Xpo de mil e seis
centos e quatorze anos aos vinte e hum dias do mes de Feuereiro
do dito ano EN ESTA CIDADE DO NATAL DO RYO
GRANDE ...
É documento oficial, de alta valia e o tratamento de Cidade
traduz expressa e lógica verdade. É a menção mais antiga e que
positiva o predicamento já anterior.
Aires de Casal, “Corografía Brasílica”, (2.°, 161, S. Paulo,
1943) escrevendo em 1817 sôbre Natal informa : “...não passa
— 328

ainda de uma vila considerável no país, com boa casaria, abastada,


ornada com vários templos, e ILUSTRADA COM O TITULO
DE CIDADE por ser fundação dos Filipes.
Não conheço documento oficial em que Natal tenha o trata­
mento de Vila. Em certas fontes oficiais contemporâneas aparece
Natal sendo Cidade por mercê do decreto do Imperador D. Pe­
dro I, datado de 24-2-1823, elevando a êsse predicamento tôdas
as Vilas que fôssem capitais de Província. Natal nunca foi Vila
e nada deveu ao decreto imperial. Há um argumento irrespondível,
além dos expostos. Três anos antes, El-Rei D. João VI, no
decreto régio de 3-2-1820, declarava: — Hei por bem criar na
CIDADE DO NATAL, CAPITAL DESTA MESMA PROVÍN­
CIA, uma Alfândega .. .
O Imperador D. Pedro I em fevereiro de 1823 não podia
criar Cidade quem era por Cidade tratada pelo Rei D. João Ví
em fevereiro de 1820.
Até prova expressa em contrário Natal é Cidade desde 25-12
de 1599 ... ___
(Ceará-M_irim V— O desembargador Bernardo Coelho da Gama
Casco veio cumprir pessoalmente a Real Ordem expulsando o
jesuíta e erguendo em Vilas os velhos aldeamentos confiados aos
missionários. A aldeia de S. Miguel do Guagiru foi elevada às
honras de VILA NOVA DE ESTREMOZ DO NORTE em
3-5-1760, com seu pelourinho e cerimonial devido. Datava dos
últimos cinco lustros do século XVII, reunindo a indiada não so­
mente tupi mas cariri. Funcionou regularmente até 1855 quando,
a 9 de agôsto dêsse ano, a Câmara Municipal, em ofício assinado
pelo seu presidente, Francisco Antônio Lopes de Vasconcelos,
quatro vereadores, com um documento de noventa e três assina­
turas, dirigiu-se à Assembléia Legislativa Provincial aplaudindo c
apoiando um projeto do deputado José Alexandre Seabra de Mel
apresentado em 16-7-1855 transferindo a sede do Município de
Estremoz para o lugar Boca da Mata, a qual ficará com a denomi
nação de BRIOSA VILA DO CEARÁ-MIRIM. Veio, 2-8-1855
outro “abaixo assinado” de 486 assinaturas, orientado pelo Senhor
Jerónimo Cesar de Andrade, protestando. A transferência ficou
vitoriosa. A lei provincial n.° 321, de 18-8-1855, sancionada pelo
presidente Antônio Bernardo de Passos, promoveu a mudança
elevando a povoação de Bôca da Mata à categoria de Vila do
Ceará-Mirim. Os adversários do plano conseguiram obstar a lei
com a resolução n.° 345, de 4-9-1856, suspendendo a execução da
lei anterior enquanto não se verificasse a construção da Casa da
Câmara e Cadeia, ainda governando Antônio Bernardo de Passos.
A Câmara Municipal de Estremoz realizou sua última sessão a
22-1-1857. O presidente Nunes Gonçalves, a 30-7-1858, assinou
— 329 —

a lei n.° 370, tornando sem efeito a suspensão da transferência e


esta se efetuou normalmente. Na Vila do Ceará-Mirim a primeira
reunião municipal foi a 14-10-1858. O vale cobriu-se de canaviais
e, sede de rico patriarcado agrícola e industrial, com eiegância e
poderio econômico, Ceará-Mirim tornou-se um dos primeiros muni­
cípios da Província e Estado. Os deputados provinciais Augusto
Leopoldo Raposo da Câmara, Pedro Soares de Araújo, Amonio
Carlos Fernandes Pimenta e Galdino Procópio do Rêgo, ajresen-
taram a 23-5-1882 um projeto elevando a Vila ao predicamento c!e
Cidade do Ceará-Mirim É a origem da lei n.c 837, de 9-6-1882,
dando à Vila o título de Cidade. Distrito sede.
Arez — era o aldeiamento de S. João Batista de Guaraíras,
confiado aos jesuítas. Zona agrícola já intensamente povoada e
plantada desde os primeiros anos da colonização. VILA NOVA
DE AREZ em 15-6-1760 pelo Juiz de Fora de Olinda, Doutor
Miguel Carlos Caldeira de Pina Castelo Branco. Suprimido pela
Assembléia Geral Legislativa em 7-8-1832, resolução que criou o
município de Goianinha, transferindo para êste a sede de Arez. A
lei n.° 318, de 8-8-1855, (Antônio Bernardo de Passos) restau­
rou o município. O presidente Pedro Leão Veloso suprimiu-o
pela lei n.° 519, de 21-4-1862, reincorporando-o à Goianinha.
A lei n.° 559, de 16-12-1864, (Olinto José Meira) mandou per­
tencer ao município da Vila Imperial de Papari o território da
freguesia de S. João Batista de Arez. A lei n.° 778, de 11-12
de 1876, (Antônio dos Passos Miranda) restaurou Arez em sua
categoria de Vila e sede de município. O Decreto n.° 457, de
29-3-1938, (em virtude do Decreto-lei federal n.° 311, de 2-3 de
1938) elevou a Vila de Arez ao predicamento de Cidade. Dis­
trito sede.
Portalegre — pertence ao ciclo do gado no séc. XVIII, ¿on-
seqüências do avanço dos currais pelas várzeas do Apodi e posse
dos sesmeiros do Jaguaribe e da Bahia, situando fazendas e guer-
reiando os indígenas. Em 9-12-1761 o Dr. Miguel Carlos Cal­
deira de Pina Castelo Branco vilou os indígenas das várzeas do
Apodi na serra do Regente, corrução de Reguengo, realengo, real,
também denominada Serra dos Dormentes, da Margarida (de Frei­
tas, uma sesmeira) ou de Santana. Aparece n’algumas fentes como
VILA DO REGENTE embora sem comprovação histórica. O pre­
sidente Manuel Lôbo de Miranda Henriques em Conselho de 11-4
de 1833 confirmou: PORTALEGRE. O Decreto estadual número
457, de 29-3-1938 (Interventor Rafael Fernandes Gurjão), con­
cedeu-lhe o título de Cidade. Era a terceira Vila com nome de
cidade do Alentejo. Distrito único.
330 —

S. José de Mipibu — era um dos aldeamentos mais antigos


e mais populosos da Capitania, citado abundantemente no séc» XVII
por todo correr da centúria» Do final idêsse século foi aldea­
mento entregue aos frades capuchinhos. O Dr. Miguel Carlos
de Pina Castelo Branco instalou no aldeiamento de Mopebu ou
Mipibu, nome provindo do pequenino rio que atravessava a aldeia,
a VILA DE SÄO JOSÉ DO RIO GRANDE, em 22-2-1762,
cipe Nosso Senhor, novamente nascido, e Majestade Fidelissima de
não só em obséquio de tão grande Santo, mas em atenção ao Prin~
Seu Augusto Avô, que Deus nos guarde, rezava o têrmo da insta­
lação. O Pelourinho custou 5$440. A homenagem, além de São
José, dirigia-se ao príncipe D. José Francisco Xavier, filho da
futura rainha dona Maria Primeira, nascido a 21-8-1761 e a el-rei
D. José. O deputado provincial Joaquim Francisco de Vascon­
celos é o autor do projeto, em 1-10-1845, que se tornou a lei nú­
mero 125, de 16-10-1845, (Casimiro José de Morais Sarmento)
dando a S. José o título de Cidade. De sua importância dirá um
projeto do deputado José Alexandre Seabra de Melo, em 17-7-1855,
mudando a capital da Provincia para a cidade de S. José que se
denominaria “Cidade de Mipibu/* Três distritos, a sede, e Boa
Saúde e Monte Alegre.
Canguaretama — dizia-se Saco do Uruá ou Uruá corres­
pondendo à sede. O município de Vila Flor fôra aldeamento
indígena, elevado à VILA FLOR. Antes tinha de Aldeia de Gra­
mació por estar situada à margem direita dêsse rio. Teve sua
instalação em 1769 pelo Dr. Miguel Carlos Caldeira de Pina Cas­
telo Branco, em obediência a Carta Régia de 3-5-1755 que man­
dava elevar em Vilas os antigos aldeamentos indígenas. É pos­
sível que a data mais certa seja 1762. Vinte anos antes já possuia
igreja. Parece-me melhor dizê-lo provindo de recordação toponí­
mica de Trás-os-Montes (como Estremoz, Arez e Portalegre vie­
ram do Alentejo) que explicá-lo como homenagem ao conde de
Vila Flor, D. Antônio de Souza de Meneses, 31.° Governador de
Pernambuco, 1763-1768. A transferência motivou a luta política.
O original da lei 20-4-1857, enviado à sanção do presidente Antô­
nio‘Machado da da Costa Dória, foi devolvido nove dias depois,
recusando a assinatura por julgar a lei inconveniente e de alguma
sorte odiosa, A Comissão de Constituição e Poderes reenviou o
original a 8-6-1858 e o presidente não sancionou.. Seu sucessor,
Nunes Gonçalves, deu sua assinatura à lei n.° 367, de 19-7-1858,
elevando a “Povoação do Uruá** à “Vila de Canguaretama**, trans­
ferindo para aí a sede municipale também a freguesia de N. Sra.
Crnceicão desde que a nova Vila tivesse Capela decente.
— 331 —

A derradeira sessão na Câmara Municipal de Vila Flor é


de 20-8*1858 e na Vila de Canguaretama, 18-9-1858. O deputado
provincial Francisco Gomes da Rocha Fagundes, de 18-3-1885,
apresentou o projeto que se tornou a lei n.° 955, 16-4-1885, ele­
vando Canguaretama aò predicamento de Cidade, assinada pelo
presidente Francisco Altino Correia de Araújo. Dois distritos, a
sede„e.Vila Flor.
Caicó 1 — tornada Vila do Príncipe (homenagem ao futuro
D. Joao~VI) em 31-7-1787 pelo Ouvidor da Paraíba, .Dr. Antônio
Felipe Soares de Andrade Brederodes. Terra de gado, zona de
fazendas. Chamava-se então “Povoação do Seridó” (Carta de
Antônio Garcia de Sá Barroso, em 15-8-1788, em nome do Coman­
dante da Ribeira do Seridó, Cipriano Lopes Galvão, ao Senado
da Câmara de Nàtal) . Os topónimo Caicó está anteriormente
documentado pela data de terra que o capitão Inácio Gomes da
Câmara recebe em 7-9-1731 no sítio chamado Caicó no riacho do
Seridó. É terra povoada desde a segunda década do séc. XVIII,
provàvclmente. O nome proveria dos indígenas cariris “Caicós”.
Os deputados provinciais Bartolomeu Leopoldino Dantas e o Doutor
Jeronimo Cabral Raposo da Câmara apresentaram um projeto,
12-11-1868, criando a «Cidade do Príncipe», origem da lei nú­
mero 612, de 15-12-1868, assinada pelo presidente Marinho da
Cunha. “Cidade do Seridó” pelo Decreto n.° 12, 1-2-1890 (Jeró­
nimo Américo Raposo da Câmara, Chefe de Polícia no executivo
do Govêrno do Estado). “Cidade do Caicó” pelo Decreto número
33, de 7-7-1890 (governador Joaquim Xavier da Silveira Júnior).
Distrito único.
Açu — instalada como VILA NOVA DA PRINCESA a
11-8-1788 pelo Ouvidor da Paraíba, Dr. Antonio Felipe Soares
de Andrade Brederodes. A “Princesa” homenageada era Dona
Carlota Joaquina de Bourbon, casada, em abril de 1785, com
o futuro D. João VI. Região histórica pela luta indígena em fins
do século XVII, sede de guerra intensa, foi centro irradiante de
penetração, constituindo o seu Arraial de N. Sra. dos Prazeres
fundado a 24-4-1696, ponto de reforço para a conquista do sertão.
A ribeira do Açu, povoadíssima de gado, foi de efeito decisivo
para a fixação dos curraleiros e decorrentes conhecimentos da terra.
Foi a segunda Comarca da Província e a segunda cidade. O
deputado provincial João Carlos Wanderley é o autor do projeto,
em 30-9-1845, do que foi a lei n.° 124, de 16-10-1845, assinada pelo
presidente Casimiro José de Moraes Sarmento elevando a Vila
Nova da Princesa à Cidade do Açu. Dois distritos, Açu e Car**
naubais, outrora Santa Luzia e mais remotamente Poço de Lava­
gem.
— 332 —

Goianinha — Criado município pela resolução da Assembléia


Geral Legislativa de 7-8-1832 (gue extinguiu o município de Arez),
instalado no ano seguinte na Povoação de Goianinha que passou
a Vila. Zona agrícola e pastoril, com pequena produção industrial,
povoada desde os inícios da colonização. Em 27-10-1928 o deputado
estadual Dr. Antônio Bento de Araújo Lima apresentou o projeto
que foi convertido na lei n.° 712, de 9-11-1928 (presidente Juvenal
Lamartine de Faria) elevando a Vila ao título de Cidade de
Goianinha. Distrito único.
(O Presidente da Província, Manuel Lobo de Mi­
randa Henriques, assistido pelo Conselho do Govêrno
em sessão de 11-4-1833, criou cinco municípios, Angicos,
Acari, Apodi, S. Gonçalo, extinto pela Lei 268, de 30-12
de 1943, e Touros).
Angicos — criado pelo presidente Miranda Henriques em 11
de abril de 1833 e instalado a 27-2-1834 em terras que pertenciam
ao Açu. Suprimido pela lei n.° 26, de 28-3-1835 (Quaresma Tor­
reão), revertendo o seu município para a Vila da Princesa (Açu).
Restaurado pela lei n.° 9, de 13-10-1836 (Ferreira de Aguiar).
A lei n.° 158, de 2-10-1847, (Moraes Sarmento) criou o município
de Macau, transferindo para êste a sede existente. na Vila de
S. José dos Angicos. A lei n.° 219, de 27-6-1850, (José Joaquim
da Cunha) restituiu a S. José dos Angicos suas prerrogativas
de Vila sede municipal. Os deputados estaduais Pedro de Alcân­
tara Matos e Francisco Gonzaga Galvão, a 24-8-1936, aoresenta-
ram o projeto que se converteu na lei n.° 20, de 24-10-1936, ele­
vando a Vila à Cidade de Angicos, (governador Rafael Fernandes
Gurjão) . Distritos, sede, Afonso Bezerra (antigo Carapebas) e
Fernando Pedrosa (antigo S. Romão) . Foi fazenda d< gado de
Antônio Lopes Viegas que comprou o sítio dos Angicos gor . . . .
280J000 ao coronel Manuel Barbalho Bezerra em 1760. A pas­
toricia é tradicional na região.
Acari — criado em terras do município do Caicó a 11-4-1833,
aprovado pela lei n.° 16, de 18-3-1835 e instalado a 24 de setembro
de 1835. Na sessão de 8-8-1898 foi apresentado o projeto que se
tornou a lei n.° 119, de 15-8-1898 (Ferreira Chaves) mas não há
nome do proponente. Juvenal Lamartine disse-me ter sido o
deputado Dr. Manuel Augusto Bezerra de Medeiros o autor. Por
essa lei a Vila passou a ser Cidade do Acari. Distritos, sede,
Carnaúba e Cruzeta. Era região de cariris e foi atravessada na
guerra dos indígenas nas últimas décadas do séc. XVII. O
povoamento e subseqüente fundação do arraial deve-se ao sar-
gento-mor Manuel Esteves de Andrade, estabelecido na Serra do
333 —

Saco anterior a 1737 quando requereu ao Bispo de Olinda licença


para erigir uma Capela de N. Sra. da Guia na povoaçao do Acari
(provisão episcopal de 11-11-1737).
Apodi — criado município em 11-4-1833, aprovado pela lei
n.° 18, de 23-3-1835 e instalado a 9-10-1835. Os deputados pro­
vinciais Antônio Soares de Macedo, Dr. Luis Antônio Ferreira
Souto e Elpidio Furtado de Mendonça e Menezes apresentaram
na sessão de 24-1-1887 o projeto da lei n.° 988, de 5-3-1887 que
elevou a vila ao título de cidade do Apodi (Pereira de Carvalho).
Distritos, sede e Itaú. É uma das regiões históricas no ciclo do
gado, pela luta dos sesmeiros para a fixação e defesa dos currais
contra os cariris, ocupando as várzeas do Apodi que compreendiam
quase todo o oeste do Estado.
Touros — criado a 11-4-1833 e aprovado pela lei n.° 21, de
27-3-1835, com sede na Vila dos Touros. Cidade de Touros pelo
Decreto-lei n9 457, de 29-3-1938, em virtude do Decreto-lei federal
n.° 311, de 2-3-1938. Distritos, sede e Maxaranguape. Foi conhe­
cida a região desde fins do séc. XVII e nas cercanias da cidade
desembarcou Luis Barbalho Bezerra a 7-2-1640, iniciando a fa­
mosa contra-marcha até a cidade do Salvador. Já se denominava
Pôrto do Touro e Pôrto de Touros, invalidando a versão oral que
faz datar êsse nome do séc. XVIII quando alguns europeus aí
se fixaram, encontrando um grupo dêsses animais (Milliet de
Saint*Adolphe) . Durante a sêca de 1792-96 os habitantes do
interior procuraram o litoral e houve um apreciável desenvolvi­
mento na zona de Touros, com suas pescarias e pequena agri­
cultura. Pertencia ao município de Estremoz. Em 15-1-1832 pos­
suia a Povoação de Touros 202 fogos, correspondendo a 692 almas.
Santana do Matos — criado pela lei n.° 9, de 13-10-1836
(João José Ferreira de Aguiar) que restaurou a Vila de S. José
dos Angicos, desmembrando ambas do território do Açu (Vila
nova da Princesa), sob a denominação de Vila Constitucional
de Sant’Ana do Matos. Era Distrito pelo Decreto de 13-8-1821.
Era originàriamente a fazenda de gado “Bom Bocadinho” de Ma­
nuel José de Matos, que mandou buscar a Imagem de Santana,
chamada do.Matos, em respeito ao seu possuidor. Foi supresso
pela lei n9 267, de 7-3-1853 (Antônio Francisco Pereira de
Carvalho) e reunido ào município do Açu. A lei n.° 314, de
6-8-1855 (Antônio Bernardo de Passos) restaurou a Vila Cons­
titucional de Santana do Matos. O deputado estadual Manuel de
Melo Montenegro, em sessão de 14-10-1927, apresentou o projeto
«ue se tornou a lei n.° 663, de 27-10-1927 (José Augusto Bezerra
de Medeiros) elevando a Vila ao título de Cidade de Santana do
Matos. Distrito único.
— 334 —

Martins — criado pela lei n.° 7b de 10-11-1841 na Vila da


Maioridade em homenagem ao Imperador D. Pedro II. Pertencia
ao municipio de Portalegre. A serra chamava-se Campo Grande
e foi povoada no séc. XVIII. Aleixo Teixeira, capitão mor da
Aldeia de S. João do Apodi dos Tapuias Paiacus, recebeu, em
21-7-1736, terras na serra. O topónimo provém do proprietário
Francisco -Martins Roriz, dono de terrenos compreendedores de
boa parte da região. Daí, Serra do Martins (antes Serra da
Conceição) . O projeto desmembrando do município da Vila de
Portalegre a Povoação da Serra do Martins e elevan do-a à Vila
da Maioridade, é do deputado provincial Bartolomey da Rocha
Fagundes (1790-1847), e foi apresentado na sessão de 26-9 de
1840, tornando-se a lei n.° 71, de 10-11-1841, sancionada pelo
vice-presidente em exercício Estevão José Barbosa de Moura. A
mesma resolução criava a Comarca da Maioridade.. Na sessão
de 11-9-1846 os deputados padre Pedro José de Queirós e Sá
e o Dr. João Nepomuceno Xavier de Mendonça apresentavam um
projeto elevando a Vila da Maioridade ao predicamento de
Cidade da Imperatriz, em honra à Imperatriz dona Teresa Cris­
tina. É a lei n.° 168, de 30-10-1847, assinada pelo vice-presidente
João Carlos Wanderley. Foi a quarta cidade no Rio Grande do
Norte. No regime republicano, decreto 12, de 1-2-1890, o gover­
nador Adolfo Afonso da Silva Gordo mudou o nome de Gidade
da Imperatriz para Cidade do Martins, como mudou Cidade do
Príncipe e Vila Imperial de Papari. Município do Martins pelo
Decreto n.° 35, de 7-7-1890, governador Joaquim Xavier da Sil­
veira Júnior. Distritos, sede, Demétrio Lemos (antiga Boa Espe­
rança) e Umarizal (Gavião e depois Divinópolis) .
Macau — é terra de salinas e pescarias, com raros morado­
res que se fixaram apenas nos meiados do século XIX. Ainda em
1799 a ilha de Macau não era habitada e coberta de matos, ala­
gada pelas marés de lua. Um núcleo de povoação era na ilha de
Manuel Gonçalves que se foi abatendo e desapareceu em 1845.
Os seus moradores vieram para a terra firme que já tinha o nome
de Macau desde fins do séc. XVIII. Outros pontos foram Alaga-
mar e Guamoré ou Aguamaré. A primeira autoridade foi o juiz
de Paz, Francisco Trajano Xavier da Cunha. O juizado de Paz,
criado pela lei 100, de 27-10-1843, fôra provocado por um abaixo-
assinado, com 44 nomes, informando da entrada de 70 e 80 barcos
de comércio por ano. Em 4-9-1845 os macauenses enviaram outro
abaixo-assinado, com 138 nomes, pleiteando o município, explicando
da existência de 35 proprietários e 25 comerciantes e as possibv
lidades econômicas locais. Apesar de parecer favorável, o pronto
caiu. Provocados por outro solicitação, a 23-9-1847, os depvtados
— 335 —

José Henrique de Oliveira, João Inácio de Loiola Barros (padre),


Vitor José de Castro Barroca e José Loureiro de Almeida apre­
sentaram a 25-9-1847 um projeto que foi a lei n.° 158, de 2-10-1847
(Moraes Sarmento), transferindo a sede do município de Angicos
para a Povoação de Macau que se tornava Vila de Macau. É
de notar que 29 moradores de Guamaré protestaram contra a pre­
tensão de Macau. Guamaré desejou ser a Vila Imperial de Gua­
maré, pleiteando essa elevação em setembro de 1837, com 224
assinaturas num memorial enviado à Assembléia Legislativa Pro­
vincial. Na sessão de 28-7-1874 os deputados Braz Marcolino de
Andrade Melo, Avelino Ildefonso de Oliveira Azevedo, Francisco
da Silva Saldanha, José Batista dos Santos Filho e Rafael Arcanjo
da Fonseca apresentaram o projeto que originou a lei n.° 761,
de 9-9-1875 (José Bernardo Galvão Alcoforado Júnior) elevando
ao predicamento de Cidade a Vila de Macau. Distritos, sede e
Pendências.
Nisia Floresta — antigo Papari. Denominação atual pelo
Decreto-lei n.° 146, de 23-12-1948. Zona de criação, lavoura e
pescaria pela presença das lagoas incontáveis, especialmente a de
Papari, chamada Paraguaçu no século XVII. O próprio topónimo,
Ipa-pari, a lagoa do pari, evidencia a normalidade das pescarias.
Era conhecida e trilhada e há referência em 1607, citando-se a
abundância de peixes, roçarias e milharadas dos indígenas ao redor
das lagoas Guirarira (Guaraíras), Upapeva (Upapeba, Papeba
atual, e Upapari, Ipapari, Papari. Criado município, desmembrado
do de S. José de Mipibu, pela lei n.° 242, de 18-2-1852 e instala­
do a 7-1-1853 (José Joaquim -da Cunha) com o nome de ‘‘Vila
Imperial de Papari”,' “Vila de Papari”, pelo Decreto 12, de 1-2
de 1890. Cidade de Papari, Decreto n.° 457, de 29-3-1938 (inter­
ventor Rafael Fernandes Gurjão) . Distrito único.
Nova Cruz — Pela resolução n.° 100, de 27-10-1843 André
d’Albuquerque Maranhão, vice-presidente da Província em exer­
cício, instaurava um distrito de Paz em Anta-esfolada do Municí­
pio de Vila Flor. O primitivo nome da povoação era “Urtigal”.
Passou ao município de Goianinha pela res. 150, de 20-10-184õ
já denominado o distrito de Paz da Nova Cruz. Foi para o muni­
cípio de S. Bento (*) 27-6-849, e voltou à Vila Flor a que sempre
pertenceu, como diz a res. 248, de 22-3-1852. Mas a lei n.° 487,
de 26-4-1860, anexou-o a S. Bento. A lei n.° 609, de 12-3-1868,
(Gustavo Adolfo de Sá) transferiu a freguesia e município de
S. Bento da vila dêste nome para a Povoação de Nova Cruz, que
fica assim elevada à categoria de vila. Foi cidade por um projeto

(*) O Município de S. Bento fora criado pela lei 245, die 15-3-1852.
— 336 —

do deputado Francisco Bruno Pereira, em 24*11*1919, origem da


lei n.° 470, de 3*12*1919 (Ferreira Chaves) . Seu povoamento é
antigo mas esparso ao longo do Curimataú e apenas citado nas
primeiras décadas do séc. XIX.
Mossoró — região de gado e lavoura, distribuida em resma*
rias no séc. XVIII. Sua primeira autoridade, o sargento-mor da
Ribeira do Mossoró, José de Oliveira Leite, é nomeado a 4*10
de 1755. O topónimo provirá dos cariris Monxorós ou Mossorós.
O arraial de St. Luzia substituiu a fazenda St. Luzia que per­
tenceu, antes de 1739, ao capitão Teodorico da Rocha (Bezerra
ou Pita ?) . Em 1755 tinha 50 moradores e, na posse do português
Antônio de Souza Machado ao redor de 1770 a fazenda St. Luzia
determinou a fixação demográfica pela criação do gado, oficina
de carnes, extração de sal. Foram os elementos nativos do povoa*
do. Depois de 1772 veio a Capela. Em 13*2*1852 foi lida na
Assembléia Provincial uma representação dos habitantes da fre*
guesia de St. Luzia do Mossoró pedindo que se elevasse a Povoa­
ção à categoria de Vila e município. O projeto, em 26*2*1852,
foi assinado pelos deputados Pe. Florencio Gomes de Oliveira,
Jerónimo Cabral Raposo da Câmara, Elias Antônio Cavalcanti de
Albuquerque, Manuel Antônio de Oliveira e Belarmino de Almeida
Cavalcanti. É o projeto impresso. O original consta apenas das
assinaturas do Pe. Florencio Gomes de Oliveira, Belarmino de
Almeida Cavalcanti e Manuel Ferreira Borges. Votado nas ses­
sões de 8*9*11 de março, aprovada a redação, subiu à sanção,
sendo a lei n.° 246, de 15*3*1852 (José Joaquim da Cunha). O
deputado Pe. Antônio Joaquim Rodrigues, vigário de St. Luzia
do Mossoró, apresentou a 25*10*1870 um projeto que se converteu
na lei n.° 620, de 9*11*1870, (Silvino Elvidio Carneiro da Cunha),
dando à Vila o predicamento de Cidade de Mossoró. Distritos,
sede e Governador Dix*Sept Rosado (lei municipal n.° 16, de
25*7-1951, antigo Sebastianópolis e primitivo S. Sebastião) .
Pau dos.Ferros — trecho do imenso território de Portalegre,
constituía região de pecuária, alargando*se nos currais de gado
que se espraiavam na investida das sesmarias partindo tda chapada
do Apodi. Em fins do séc. XVII e princípios do séc. XVIII
menciona*se o topónimo na zona dominada pela pastoricia, terras
dos sesmeiros Rocha Pita, da Bahia, grandes latifundiários. Em
1733 os herdeiros do coronel Domingos Gonçalves da Rocha-Pita
citam datas na paragem Pau dos Ferros. Era uma oiticica ou caja*
zeira que guardava a marca dos “ferros” das fazendas ao derredor.
A população, disseminada tinha parte agrupada na Povoação que
era freguesia desde 1756. Em 21*10*1847 o deputado João Inácio
— 337 —

legre para a povoação de Pau dos Ferros sendo regeitada. JËm


12-4-1853 os deputados Elias Antonio Cavalcanti de Albuquerque
e o Dr. Luiz Gonzaga de Brito Guerra, futuro Barão do Açu,
projetaram elevar Pau dos Ferros à categoria de Vila, com a deno­
minação de “Vila Cristina’*, homenagem à Imperatriz Tereza
Cristina. O projeto caiu. A 23-8-1856 o deputado Benvenuto
Vicente Fialho apresentou o projeto que originou a lei n.° 344,
de 4-9-1856, criando a Vila de Pau dos Ferros» sede do município
instalado a 19-1-1857. O presidente da Província que sancionou a
criação foi o Dr. Antônio Bernardo de Passos. O deputado esta­
dual Adolfo José Fernandes apresentou a 24-11-1924 o projeto que
motivou a lei n* 593, de 2-12-1924, dando à vila o título de Cidade,
(José Augusto Bezerra de Medeiros). Distritos, sede, Panatis
(antigo Vitória) e Riacho de Santana.
Jardim — criado pela lei n.° 407, de 1-9-1858 (Nunes Gon­
çalves) que elevou a Povoação de Conceição do Azevedo ao título
de Vila do Jardim, instalado o município a 4-7-1859. Jardim do
Seridó é denominação tradicional que as leis, de vila e cidade, não
registaram. Zona de pastoricia, ativa e tradicional desde meiados
do séc. XVIII embora região batida durante a guerra dos cariris
nas últimas décadas do séc. XVII. “Conceição do Azevedo” deve
nome a Antônio de Azevedo Maia (falecido com 90 anos a 28-11
de 1769) que adquiriu a fazenda depois de 1770 ao sargento-mor
Alexandre Nunes Matos, denominando-a “Conceição” e era indi­
cada pelo nome do proprietário. Os deputados Avelino Ildefonso
de Oliveira Azevedo, Francisco da Silva Saldanha, Braz Marco-
lino de Andrade Melo, José Batista dos Santos Filho e Rafael
Arcanjo da Fonseca, apresentaram em 27-7-1874 o projeto que
se tornou a lei n.° 703, de 27-8-1874> elevando a Vila ao predica­
mento de Cidade do Jardim. Distritos, sede, Ouro Branco e S. José
do Seridó.
Augusto Severo — antigo Campo Grande e depois Triunfo,
Terra de criação de gado pertenceu, boa parte, à família Gondim
que vendeu a João do Vale Bezerra. Êste em 15-9-1756 doava
terrenos para a Capela e veio a falecer antes de 1780. Comprara
por 420$000 numa arrematação a Serra da Cipilhada ou Cipiada,
pertencente aos indígenas Pegas que estavam aldeiados em S. José
de Mipibu. A serra conserva o nome de Serra do João do Vale.
Em 1817 fala-se na Povoação do Campo Grande. A 31-3-1857
rôra apresentado projeto criando o município e vila mas o presi­
dente Costa Dória recusava sancionar. A lei n.° 114, de 4-9-1858
elevou a povoação ao título de Vila do Campo Grande. Instalou-se
o município a 5-7-1859 sendo presidente Joaquim Felicio de Al­
meida Castro. Meus avós, paterno, Antônio Justino de Oliveira.
— 338

e’materno, Manuel Fernandes Pimenta, eram vereadores. O presi­


dente que assinou a lei 114 foi Nunes Gonçalves, depois Senador
do Império e visconde de S. Luis do Maranhão. Campo Grande
era eleitoralmente colégio do Partido Conservador, muito ligado
aos Brito Guerra, especialmente ao Dr. Luis Gonzaga, futuro
barão do Açu. O deputado geral Amaro Carneiro Bezerra Caval­
canti, chefe liberal, aproveitando a vitoria do seu Partido, com o
gabinete Zacarias de Goes e Vasconcelos, obteve a lei n.° 601,
de 5-3-1868, (Gustavo Adolfo de Sá) criando o município de
Carnaúbas e suprimindo o de Campo Grande cuja vila voltou a
ser povoação. Em julho de 1870 subiu o Partido Conservador
com o gabinete do Visconde de Itaboraí. Os conservadores vence­
ram as eleições e mandaram maioria para a Assembléia Provincial.
A 18-5-1870 os deputados Inácio Dias de Lacerda, Afonso de
Paula de Albuquerque Maranhão, Joaquim Manuel Teixeira de
Moura, Elpidio Furtado de Mendonça e Menezes e o Dr. Jerónimo
Cabral Raposo da Câmara apresentaram o projeto restaurando o
municínio. O presidente da Província, Carneiro da Cunha, sancio­
nou a lei n.° 613, de 30-5-1870. Para desafronta, o município deno­
minava-se “Triunfo” e sua sede era a Vila do Triunfo. O 2.° artigo
do projeto mandava incorporar ao município do Triunfo a freguesia
de N. Sra. das Dôres do Patu, pertencente ao município do Mar­
tins onde o deputado Amaro Bezerra tinha amizades velhas. Feliz­
mente êsse artíoo caiu, não afetando o sucesso. O município reins­
tala-se a 7-1-1871. A lei n.° 197, de 28-8-1903 mudou o nome do
Município do Triunfo para Município de Augusto Severo. Apre­
sentou o projeto o deputado José Joaquim Correia a pedido do
deputado Luis Pereira Tito Jacome, chefe político do município e
amigo íntimo de Augusto Severo de Albuquerque Maranhão que
morrera em Paris, a 12-5-1902, no desastre do seu dirigível *Pax”.
A lei 197 foi sancionada pelo governador Alberto Maranhão. Os
deputados Júlio Vitor Pimenta Teófilo Regis, Felipe Guerra, João
Marcelino de Oliveira, Pedro Matos, Pedro Felipe Sobrinho, José
Tavares, Francisco Gonzaga Galvão e Glicério Cicero de Oliveira,
apresentaram a 16-11-1936 o projeto que é a lei n.° 62, de 2-12-1936
Mons. João da Matha Paiva) dando à vila o título de Cidade de
Augusto Severo.
Distrito sede e Upanema (antiga Rua da Palha ou Conceição
do Upanema).
Caraúbas — zona de criação, prolongamento da investida
sesmeira do Açu e Mossoró que passou por Campo Grande, em
meados do séc. XVIII aparecem os primeiros fazendeiros, ini­
ciando na fazenda que deu nome ao município. Juizado de Paz em
1852 (lei n.° 250, de 23-3-1852), assinada pelo presidente José
— 339 —

Joaquim da Cunha) Município criado pela lei n.° 601, de 5-3-1868


(Gustavo Adolfo de Sá). Caraúbas pertencia ao município do
Apodi. O deputado Joaquim José Correia, na sessão de 16-11
de 1914, apresentou uma emenda ao projeto que elevava à cidade
a Vila de Santa Cruz, e esta foi a origem da lei n.° 372, de 30-11
de 1914 (Ferreira Chaves). Distritos, sede e Janduís (ex-Getúlio
Vargas e outrora S. Bento do Bofete).
Serra Negra do Norte— outrora “Serra Negra”. Designa­
ção atual pelo Decreto-lei n.° 268, de 30-12-1943. Á tradição local
evoca uma grande sesmaria dada em 1670 aos Oliveira Ledo na
ribeira do Espinharas e a João de Freitas da Cunha a quem coube
o território correspondente ao município. Morrendo o sesmeiro,
herdou-a seu irmão Domingos Freitas Cunha que a vendeu, por
600$000. a Manuel Barbosa de Freitas a éste doou ao seu sobrinho
Manuel Pereira Monteiro, fundador da povoação e grande agricul­
tor e criador. Município pela lei n.° 688, de 3-8-1874 (Bandeira
de Melo Filho) com o nome de Vila da Serra Negra desmembran­
do-o da Vila do Príncipe (Caicó). O projeto era de autoria do
deputado Rafael Arcanjo da Fonseca que o apresentou na sessão
de 4-6-1874. O Decreto n.° 285, de 27-5-1932, transferiu a sede
do município para a povoação de S. João do Sabugi, elevada à
Vila (secretário geral Antônio de Souza no exercício da Interven-
toria Federal). O Decreto n.° 487, de 24-7-1933, manteve para o
município o nome tradicional de Serra Negra (secretário geral
Sérgio Bezerra Marinho no exercício de Interventor Federal).
Voltou à sede primitiva pelo Decreto n.° 43, de 13-12-1935 (gover­
nador Rafael Fernandes Gurjão). Cidade de Serra Negra pelo
Decreto n.° 457, de 29-3-1938 (interventor Rafael Fernandes Gur­
jão) em virtude do Decreto-lei federal n.° 311, de 2-3-1938.
Distrito único.
S. Miguel — criado pela lei n.° 776, de 11-12-1876 (Passos
Miranda), desmembrado do município de Pau dos Ferros (Dis­
trito de Paz pela Lei 214, de 5-6-1850). Cidade de S. Miguel pela
lei n.° 87, de 10-12-1936 (Mons. João da Matha Paiva, presi­
dente da Assembléia Legislativa no exercício de Governador),
vinda de um projeto do deputado Gil Soares de Araújo. A pri­
meira exploração na região dizem-na feita por José Antônio de
Carvalho, vindo do Icó, descobrindo as lagoas de S. João e do
Cedro, esta a 29-9-1750. Ao redor de sua residência adensou-se
a população. É uma conseqüência, o seu povoamento, do ciclo dos
currais do Apodi, Portalegre e Pau dos Ferros. Distrito único.
Santa Cruz — município criado pela lei 777, de 11-12-1876
(Passos Miranda) que denominou sua sede «Vila do Trairi».
Pertencera aos municípios de Natal S. Bento, S. José e tinha
— 340 —

nome de Povoação da Santa Cruz da Ribeira do Trairi, Santa Cruz


do Inharé, como ainda dizem popularmente e a lei que criou a
freguesia, em 1858, denomina o local Povoação de Santa Rita da
Cachoeira. Explica-o o ciclo do gado e do plantio de çereais, coxa
maior intehsidade a partir de 1831 com os irmãos Rodrigues da
Rocha, Lourenço, João e José. A lei n.° 372, de 30-11-1914 (Fer­
reira Chaves) elevando a Vila ao predicamento de Cidade de
Santa Cruz é de autoria do deputado Joaquim Servita Pereira de
Brito, apresentado o projeto na sessão de 9-11-1914. O nome de
“Santa Cruz’* não constava das leis criadoras do têrmo, freguesia
e município. O decreto n.° 2, de 20-12-1889, orçando a Receita e
fixando a Despesa do Estado para 1890, cita, nas verbas, “Santa
Cruz’* em vez da/Vila do Trairi. E o Decreto 14, de 18-2-1890,
elevando o número de intendentes, menciona, entre os municípios,
o de Santa Cruz. Juntou-se a menção oficial ao uso tradicional
que se positivou na lei que criou a Cidade de Santa Cruz. Distritos,
sede, Jerico e Campo Redondo (ex-Serra do Doutor).
Macaíba — nas últimas décadas do séc. XVIII era á Povoa­
ção do Coité, terra de plantio, sítios e fazendas, com tradicional
fecundidade. A lei n.° 605, de 11-3-1868 (Gustavo Adolfo de
Sá), criando um Juizado de Paz, já a menciona como “Povoação
da Macaíba’. A lei n.° 801, de 27-10-1877 (Tolentino de Car­
valho) elevou a Povoação da Macaíba, da freguesia de S. Gon­
çalo, à categoria de Vila, com a mesma denominação criando um
novo município (art. 2 da mesma lei). O topónimo provém de
uma macaíba existente na residência de Fabricio Gomes Pedroza,
árvore não comum à região. A lei número 832, de 7-2-1879 (Eucli­
des Diocleciano de Albuquerque, vice-presidente -em exercício)
revogou a lei 689, de 3-8-1874, que restaurara o município de
S. Gonçalo, transferindo para a Vila da Macaíba a sede do
respectivo município. O deputado José Bernardo de Medeiros, em
18-12-1888, apresentou o projeto que se tornou a lei n.° 1.010, de
5-1-1889, (José Marcelino da Rosa e Silva), fazendo da Vila da
Macaíba, Cidade da Macaíba. Distritos, da sede, Felipe Ca­
marão (*), (antigo S. Gonçalo) e Serra Caiada.
Pedro Velho — criado pela lei n.° 24, de 10-5-1890 (Joa­
quim Xavier da Silveira Júnior) com a denominação de “Cuitézei-
ras”, desmembrado de Canguaretama. Uma enchente do rio Curi­
mataú, em 13-5-1901, arrasou quase totalmente a Vila de Cuite-
zeiras. Restou a Igreja. Era zona de plantio de algodão, colhendo
300 toneladas. Tinha 30 fazendas de criação, dois engenhos de

(*) S. Gonçalo passou a.scr «Felipe Camarão» pelo Decretc-lei n.° 268,
de 30-12-1913, o mesmo que extinguiu o município.
— 341 —

açúcar c dois descaroçadores. O I.° presidente da Intendência


fôra o Sr. João José da Cruz, eleito a 11-9-1892. A primeira
receita, 1892, chegou a 1.123$170 para a despesa de 1.055$222.
Depois da inundação o povo se foi fixando na chapada mais
próxima, construindo casar, armazéns, edifícios públicos. A 17-12
de 1901 foi inaugurada a feira e benzido o cruzeiro. Já havia outro
nome. Era a «Vila Nova de Cuitezeiras». A lei n9 181, de 4-9
de 1902 (Alberto Maranhão) transferiu a sede do município para o
novo local. Esqueceram “Cuitezeiras*’ e Vila Nova, parte do nome,
ficou sendo da Vila, da Estação de Estrada de Ferro e mesmo do
Município. A lei n.° 261, de 26-11-1908 deu nome de “Pedro
Velho”, falecido a 9-12-1907. Na sessão de 18-8-1936 o deputado
Sandoval Wanderley apresentou o projeto que a lei n.° 13, de 19
de outubro de 1936 realizou, dando à Vila o título de Cidade de
Pedro Velho. Distritos, a sede e Montanhas (antiga Lagoa de
Montanhas).
Luís Gomes — criado pelo Decreto n.° 31, de 5-7-1890 (Joa­
quim Xavier da Silveira Júnior) com sede na Vila de Luis Gomes,
antigo povoado dêsse nome na serra do Bom Jesus, desmembrado
do municipio de Pau dos Ferros. Cidade de Luis Gomes oelo De­
creto 457, de 29-3-1938 (interventor Rafael Fernandes Gurjão).
O povoado nasceu da propriedade do fazendeiro Luis Gomes ao
redór de 1755, vindo do Seridó. Distrito único.
S. Antônio — criado pelo Decreto n.° 32, de 5-7-1890 (Joa­
quim Xavier da Silveira Júnior), desmembrando-o do municipio
de Goianinha. Instalado a 27-7-1890. Extinto pelo Decreto 102,
de 31-3-1891 (Amintas Barros) foi anexado à Goianinha. Restau­
rado pelo Decreto 6, de 8-1-1892 (Junta Governativa). Cidade
de S. Antônio pelo Decreto 457, de 29-3-1938 (interventor Rafael
Fernandes Gurjão}. Um dos seus mais antigos proprietários foi
Florêncio da Costa Palma que, em 1850, vendeu o sítio à D. Ana
Joaquina de Pontes, pernambucana, que viera com o marido e
filhos da serra do Pontes, na Paraíba. Fundou a povoação, am­
pliando os plantios de algodão e roçarias, construiu casas è doou,
em 1869, terreno para a Capela de N. Sra. da Conceição, criou
uma feira. Ao falecer em 1879 quase deixava uma vila. O nome
anterior era “Salto da Onça” e mostra-se o local onde o animal
saltara duma para outra pedra sôbre o rio Jacu. O Pe. Manuel
Ferreira Borges deu-lhe batismo dé “Sant’Antônio” mas ficaram
chamando “Sant*Antônio do Salto da Onça”. Há nos baixos
Pirineus o vale d’Ossau que provirá de origem semelhante, Ours-
sault, de Ursi Saltus, o salto do urso. O Decrèto-lei n.° 268, de
30-12-1943, denominara o município “Padre Miguelinho” o que
não foi mantido na lei n.° 146, de 23-12-1948, divisão territorial dõ
— 342 —

Estado para o qüinquênio 1949-1953, voltando à denominação


anterior de “Sant’Antônio”. Distrito único.
Patu — em zona de pastoricia e ligado ao ciclo dos currais
fixadores da população durante o séc. XVIII, desenvolveu-se len­
tamente ao correr do séc. XIX. Distrito de Paz pela res. 250,
de 23-3-1852, no mesmo ano da criação de sua freguesia (res. 260,
de 3-4-1852). Povoado pelos indígenas cariris. Seus fazendeiros
vieram em boa porcentagem da fronteira paraibana e do Martins.
Figura primacial dessa época é o Coronel Comandante do Regi­
mento de Ordenanças da Ribeira do Apodi, Antônio de Lima
Abreu Pereira, que, em 1758, doou terras para a Capela de
N. Sra. dos Impossíveis na serra que ficou conhecida como Serra
do Lima. Município criado pelo Decreto 53, de 25-9-1890 (Pedro
Velho). Instalado a 10-11-1890. Cidade do Patu pela lei n.° 29,
de 3-11-1936 (Mons. João da Matha Paiva), originando-se de
um projeto do deputado des. Felipe Neri de Brito Guerra nà sessão
de 23-9-1936. Distritos, sede, Almino Afonso (antigo Caieira) e
Olho d’água dos Borges.
Itaretama — denominação dada pelo Decreto-lei n.° 268, de
30-12-1943. Antiga “Lajes”, nome da fazenda já existente em
1832 e que depois pertenceu a Francisco Pedro Gomes de Melo
onde se ergue a sede municipal. A região era conhecida desde
as três primeiras décadas do séc. XVIII, com sesmarias que
foram outras tantas fazendas, disseminando a população numa área
vasta. A proximidade dos trilhos da Estrada de Ferro Central do
Rio Grande do Norte em ativo trabalho de construção determinou
a aglomeração de moradores.nas Lajes, fazendo nascer o comércio,
feiras e casario. A sede do municipio era Jardim de Angicos,
criado pelo Decreto n.° 55, de 4-10-1890 (vice-governador Pedro
Velho), desmembrado do municipio de Angicos. Com o desen­
volvimento de Lajes e a decadência de Jardim de Angicos, semi-
destruido por uma enchente do rio Ceará-Mirim, a 6-4-1894, e
reconstruido parcialmente, a lei n.° 360, de 25-11-1914 (Ferreira
Chaves) transferiu para a Povoação de Lajes a sede municipal,
elevando-a à Vila. A Vila de Lajes se tornou Cidade pela lei 572,
de 3-12-1923, projeto dos deputados Felix Teixeira de Melo e
João Vicente da Costa em 26-11-1923, sancionada pelo governador
Antônio de Souza. Distritos, o da sede, Jardim de Angicos e
Pedra Preta. A lei 1.032, de 11-12-1953 restituiu ao município
sua antiga denominação, Lajes.
Currais Novos — criado pelo Decreto n.° 59, de 15-10-1890
(Pedro Velho), desmembrando-© do municipio do Acari. Insta­
lado a 6-2-1891. Distrito de Paz pela lei 684, de 11-8-1873.
Cidade pela lei n.° 486, de 29-11-1920 (Antônio de Souza),
— 343

projeto do deputado Francisco Ivo Cavalcanti em 18-11*1920.


Em 1755 o coronel Cipriano Lopes Galvão situou currais de gado,
construindo a casa grande da fazenda e reunindo ao seu derredor
os descendentes e agregados.
Dêsses currais-novos partem os elementos econômicos fixa­
dores da população. Distritos, sede e Cerro Corá.
Florânia — denominação dada pelo Decreto-lei n.° 268, de
30-12-1943. «Flores» é o nome tradicional. Distrito de Paz pela
lei n9 684, de 11-8-1873. Município, desmembrado do Acari,
pelo Decreto 62, de 20-10-1890 (Pedro Velho), instalado a 24
de janeiro de 1891 Cidade de Flores pela lei n9 22, de 28-10*1936
(Mom. João da Matha Paiva, presidente da Assembléia Legis­
lativa no exercício do Governador), projeto do deputado Ezequiel
Xavier Bezerra em 28-8-1936, solenemente instalada a 1-6-1937.
O mais antigo povoador será Cosme de Abreu Maciel que, já em
1743, possuia terras, casas, currais cercados no Passaribu e obteve
em 1754 sesmarias no Rossaurubu ou Vossaurubu, tendo depois
terras no riacho da Luiza, 1756, onde está o Distrito de S. Vicente.
Distritos, sede e S. Vicente.
Taipu — criado município pelo Decreto n.° 97, de 10-3-1891
(Amintas Barros), desmembrado do Ceará-Mirim, criando a Vila
do Taipu. Fôra Distrito de Paz pela lei 547, de 21-11-1864,
citando Taipu-do-Meio. Nos fins do século XVII era um dos
pontos extremos povoados da Capitania. O Taipu-Grande, como
o denomina uma data de 2-7-1742, tornou-se produtor de cereais
mas sua população estava espalhada em sítios e propriedades
rurais. Cidade do Taipu pelo Decreto-lei n.° 457, de 29-3-1938
(interventor Rafael Fernandes Gurjão). Distrito único.
Areia Branca — criado pelo Decreto 10, de 16-2-1892 (Junta
Governativa) e instalado a 31-3-1890. Pertencera ao Açu até 1835,
ao Apodi até 1852 e a Mossoró até 1892. A região era conhecida
desde princípios do séc. XVIII. O primeiro morador de Areia
Branca (“Areias Brancas” noutros documentos) foi. Francisco
Gomes da Silva na época da guerra do Paraguai (1864-1870).
Sua proximidade com Mossoró tornou-o de intenso desenvolvi­
mento comercial.. Cidade pela lei n.° 656, de 22-10-1927 (José
Augusto) por um projeto apresentado em 11-10-1927 pelo
deputado Emídio Cardoso Sobrinho. Distritos, sede, Grossos e
Tibau.
Parelhas — Pertenceu ao Caicó até 1833, ao Acari até 1858
e h Jardim do Seridó até 1926. Vila do município de Jardim do
Seridó pela lei n.° 478, de 26-11-1920 (Antônio de Souza). Muni­
cípio pela lei n.° 630, de 8-11-1926 (José Augusto), desmembrado
— 344 —

do tnunicípio dc Jardim do Seridó. Instalado a 1-1*1927 sendo


seu l.° Prefeito Laurentinô Bezerra Neto. Cidade pela lei número
656, de 22*10*1927, emenda apresentada peló deputado Felinto
Elisio de Oliveira Azevedo a 18*10*1926 ao projeto que elevava a
Vila de Arèía Branca ã cidade .Seu mais antigo povóador parece
ter sido o tenente Francisco Fernandes de Souza que, morador
na região âb redor de 17Ö0, recebeu a 30*8*1723 uma terra entre
os rios Seridó e Coati, citando*se o boqueirão da serrota. O sítio
da Cidade era da fazenda Boqueirão. O povoado surje ao redor
da Capela de S. Sebastião, voto para evitar a Cplera Morbo
de 1856, cumprido nesse ano. O Pe. Bento Pereira de Maria
Barros fêz realizar a primeira feira em 1888. Parelhas era Dis­
trito de Paz pela lei 625, dé 12*11*1870. Um dos grandes anima­
dores foi Felix Gomes Pereira e seu filho, Antão Eliziário Pereira
(1858*1937) continuou a cámpanha que viu vitoriosa, de povoado
a vila e de vila a cidade.
Baòía Vérdé — criado pela lei n.° 697, de 29*10*1928 (Ju­
venal Lamartine) com terras dos municípios de Touros, Taipu e
Lajes.. Projeto do deputado.Pedro Soares de Araújo Amorim em
19*10*1928. Zona de cereais, algodão e gado, possuia população
dispersa. A povoação nasceu determinada pela fase de construção
da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, hoje Sam­
paio Correia, inaugurando*se a estação local em 12*10*1910. Ao
redor dêsse núcleo surgiram as casas, ruas, a vila e apareceu a
cidade, com surto comercial e industrial, sendo seu l.° Prefeito
João Severiano da Câmara. Cidade por Decreto n.° 852, de 11*6
de 1935 (Interventor Mário Câmara). Distritos, sede e S. Bento
do Norte.
S. Tomé — criado pela lei n9 698, de 29*10*1928 (Juvenal
Lamartine) com terras dos municípios de Santa Cruz, Currais
Novos, Lajes, S.. Gonçalo e Macaíba. Instalado a 1*1*1929 sendo
J.° Prefeito Felix Gomes de Melo. A região constava de datas de
sesmarias, sendo a mais antiga, 10*1*1736, concedida a Francisco
Diniz da Penha, no Pica-Pau. Em fins do séc. XVIII a fazenda
Barra pertencia ao coronel Francisco de Araújo Correia que, em
1870, não mais estava na posse de seus descendentes. Em terras
dessà fazenda nasceu o povoado dé S. Tomé, com uma pequenina
casa comercial de Tomás de Moura Barbosa em 1890, à margem
direita do Potengi. Ao redor dêsse núcleo aglomeraram*se as
cásaé, os interêsses e o povoado adquiriu proporções maiores,
cemitério, capela (1894), feira, edifícios e serviços; públicos. Ci*
dadé de S. Tomé pèlo Decreto n.° 457, de 29*3*1938 (intérveritof
Rafaël Fernandes Gurjão). Distritos, sede e Barcelona.
— 345 —

Alexandria — antiga Barriguda c Barriguda dá Imperatriz


fixava um centro de povoamento numa zona esparsa de criação
de gado. Ficou mais viva na citação de papéis oficiais depois
de 1850. Distrito de Paz pela lei 442, de 19^4A&59f suprimido
pela lei 464, de 6-3-1860, restaurado pela lei 684, de 11-8-1873
e supresso pela lei 977, de 1-6-1886. Em 1913 a Câmara Muni­
cipal do Martins mudou-lhe o nome para o atual em homenagem à
dona Alexandrina Barreto Ferreira Chaves, filha do distrito, dama
de nobilíssimas virtudes, esposa de Ferreira Chaves senador da
República, duas vêzes Ministro de Estado e duas governador do
Estado, Vila de Alexandria pela lei n.° 572, de 3-12-1923 (Antô­
nio de Souza), projeto dos deputados Felix Teixeira de Melo e
Dr. João Vicente da Costa. Município de João Pessoa por De­
creto n.° 10, de 7-11-1930 (interventor Irineu Jofili), desmem­
bran do-o dos municípios do Martins e Pau dos Ferros, instalado
a 15-11-1930. A lei n.° 19, de 24-10-1936 (governador Rafael
Fernandes Gurjão) fêz voltar sua antiga denominação de Ale­
xandria, elevando a vila ao predicamento de cidade, p'ojeto do
deputado João Marcelino de Oliveira em 14-8-1936. Distrito único.
Juçurutu •— antigo São Miguel de Juçurutu. nome da tradi­
cional propriedade rural com o rio do mesmo nome. Vila do
município do Caicó pela lei n.° 709, de 8-11-1928 (Juvenal La­
martine). Era freguesia desde 1874. Município criado pelo De­
creto n.° 932, de 10-10-1935 (interventor Mário Câmara) com
terras dos municípios do Caicó, Augusto Severo e Santana do
Matos. Instalado a 17-10-1935. Cidade de São Miguel * de
Juçurutu pelo Decreto n.° 457, de 29-3-1938 (interventor Rafael
Fernandes Gurjão). Juçurutu pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10
de 1938. Distrito único.
S. Paulo do Potengi — Vila do município de Macaíba pelo
Decreto-lei n.° 603, de 11-10-1938 (interventor Rafael Fernandes
Gurjão), instalada a 1-1-1939. Município criado pelo Decreto-lei
n.° 268, de 30-12-1943 (interventor Fernandes Dantas) e insta­
lado a 1-1-1944, com terras dos municípios de Macaíba e a maior
parte do extinto (pelo mesmo Decreto-lei) município de S. Gon­
çalo. O último Prefeito de S. Gonçalo e o I.° de S. Paulo do
Potengi foi o capitão Severino Raul Gadelha, até fevereiro de
1945, seguindo-se outros nomeados. O I.° Prefeito municipal eieito
(21-3-1948) foi o Sr. Francisco Cabral da Silva, tomando posse
a 6-6-1944. A história do município é recente. Bento Urbano de
Araújo, comerciante em Juremal (S. Gonçalo), margem esquerda
do rio Potengi, transferiu-se para a margem direita, município de
Macaíba, construindo armazéns e residência em 1911 e atraindo seit
exemplo vários imitadores. A Intendênciá Municipal de Macaíbia,
— 346 —

pela res. 15, de 3*7*1911, autorizava ao seu Presidente promover


a criação de um povoado no lugar S. Paulo do Potengi, fundado
posteriormente pela res. n.° 17, de 17*1*1912. Criou-se a feira, as
construções multiplicaram-se enquanto Juremal decaía e voltava a
ser simples fazenda de gado. A batalha entre as duas povoa ções
ribeirinhas apaixonou as redondezas. Distrito único.
S. José de Campestre — criado pela lei n* 146, de 23-12
de 1948, instalado a 1*1*1949 sendo desmembrado dos municípios
de Santa Cruz e Nova Cruz. Distrito de Nova Cruz pelo Decreto*
lei n.° 268, de 30*12*1943. A sede tinha, em 1910, apenas oito
casas.
Pedro Avelino — criado pela lei n.° 146, de 23*12-1948 e
instalado a 1*1*1949, desmembrado do município de Angicos.
Antigo Epitácio Pessoa e Gaspar Lopes. As terras foram sesma­
ria de Antônio da Rocha Bezerra em 1788 e a povoação em ter­
renos de Gaspar Lopes dps Reis que, já em 1717, tinha datas por
detrás da serra do Trapiá no Ceará-Mirim. As construções datam
de 1877 e o cemitério de 1888. O desenvolvimento real nasceu da
inauguração da estação da E.F.C.R.G.N. (hoie Sampaio Cor­
reio) a 8-1-1922. A Intendência Municipal de Angicos, a 24-12
de 1921, dera a Gaspar Lopes o nome de Epitácio Pessoal A
primeira Capela, 1916, era dedicada à St. Luzia, substituída, em
1923, pela nova, a S. Paulo Apóstolo.
Ipanguaçu — criado pela lei n.° 146, de 23-12-1948 e insta­
lado a 1-1-1949, desmembrado do município de Santana do Matos.
O Decreto-lei n.° 268, de 30-12-1943, que lhe deu a denominação
atual, fê-lo distrito.O nome antigo era “Sacramento”.
S. Rafael — criado pela lei n.° 146, de 23-12-1948 e insta­
lado a 1-1-1949, desmembrado do município de Santana do Matos
no qual era distrito (Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938). O nome
anterior era Caiçara e o mais antigo proprietário, capitão João
Francisco da Costa, teve posse em 1765. Entre 1840-50 Frei
Serafim de Catania mudou-lhe a denominação para “S. Rafael”
que possuia 10 a 12 casas. Caiçara ainda figura com esse nome,
na lei n.° 381, de 16-8-1858, criando para o local uma escola de
primeiras letras. Em 1950 possuia 277 prédios. Seu grande ani­
mador foi Luis Martins de Oliveira Barros, construindo o cemi­
tério, 1908, galpão para a feira, influindo para a instalação de
telégrafo, correios, ereção da Casa Paroquial, Igreja, etc. Seu
I.° Prefeito foi o Te. Genésio Cabral de Lima.
Jardim de Piranhas — distrito de paz pela lei n.° 435, de
9-4-1859. Municípios pela lei n.° 146, de 23-12-1948 e instalado
a 1*1-1949, desmembrado do município do Caicó. Antiga fazenda
— 347 —

dc gado no sec. XVIII, havendo a proprietária, Margarida Car­


doso, oferecido patrimônio constante do terreno onde se ergueu
a cidade atual para uma Capeia de N. Sra. dos Aflitos. «Jardim*
era o nome da fazenda, à margem direita do rio Piranhas.
S. João do Sabugi — teve origem na fazenda S. João, de
Ana Joaquina de Souza, viúva de Francisco Correia de Souza*
doadora em 1832 de terreno para a construção de uma Capela
dedicada à S. João Batista, sendo animador da povoação o tenente
Antônio de Medeiros Rocha Júnior. Chamou-se oficialmente ‘São
João do Príncipe” e foi distrito de Paz pela lei n.9 606, de 11-3
de 1868. O Decreto 34, de 7-7-1890, mudou o nome de S. João
do Principé para S. João do Sabugi. Distrito do município de
Serra Negra pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938. O Decreto
285, de 27-5-1932, transferira a sede municipal para a povoação
elevada à Vila de S. João do Sabugi, sendo Prefeito José Maria
de Souza Lima, bisneto da fundadora, Ana Joaquina de Souza.
O Decreto 43, de 13-12-1935 fêz voltar para Serra Negra a sede
do município. Criado município pela lei n.° 146, de 23-12-1948
e instalado a 1-1-1949, foi seu l.° Prefeito Gorgônio Artur da
Nóbrega. Em 1952 existiam 306 edifícios. Um incansável Laíalha-
dor pela emancipação política local foi o coronel José Maria de
Souza Lima, falecido a 4-3-1944. Freguesia de S. João do Prín­
cipe (desmembrada da Serra Negra) pela lei n9 979, de 7-6-1886,
extinta pela lei n.° 1.006, de 30-11-1888.

(UI)
Seis municípios desapareceram na função administrativa norte-
riograndenses. Desapareceram seus nomes, perdidas as sedes.
Quatro foram transferidas. Uma extinta e outra nãozchegou a
instalar-se. Três no Império e três na República.
Estremoz foi município a 3-5-1760. A lei 321, de 18-8-1855
transferiu a sede do município para a Povoação da Bôca da Mata,
elevada à Vila do Ceará-Mirim (Antônio Bernardo de Passos).
Êste mesmo Presidente, pela lei n.° 345, de 4-9-1856, suspendeu a
execução da anterior, enquanto não se verificasse a construção da
Casa da Câmara e Cadeia na nova Vila. O Presidente Antônio
Marcelino Nunes Gonçalves, pela lei n.° 370, de 30-7-1858, rornou
sem efeito a suspensão e verificou-se a mudança. Ceará-Mirim
evoluiu e Estremoz decresceu até o melancolia atual, povoada de
recordações e lendas.
Vila Flor, município desde 1769, segundo Moreira Pinto mas,
logicamente, bem anterior, assistiu a transferência de sua sede
para o Saco do Uruá óu Povoação do Uruá, pela lei n.° 367, de
— 348 —

19-7*1858, elevando a Povoação do Utuâ ao titulo enome de


Vila de Canguaretama. Assinou-a o presidente Antônio Marcelino
Nunes Gonçalves. Vila Flor ficou morrendo devagar, evocando
o passado. Como a freguesia denominou-se *da Penha”, canta­
va-se, outrora, na nova sede municipal:
Oh ! Vila, diz-me teu nome,
Também te quero chamar.
Tu és a Vila da Penha.
Canguaretama ou Uruá t
A Serra de S. Bento foi paisagem de gente poderosa, inOuente
e decidida. Fazendas de gado, plantações, multiplicavam-se. A
figura do coronel João de Oliveira Mendes, grande latifundiário,
legítimo barão feudal, cercado de guarda-costas e de poderes, espa­
lhava respeito e pavor. Seis vêzes fôra deputado provincial e mesmo
votado na lista tríplice para o Senado do Império em 1845. Fale­
ceu em Cajupiranga, com 58 anos, em 11-6-1850, e veio sepultar-se
nã Matriz de Nossa Senhora d*Apresentação em Natal. Dois anos
depois o Dr. Jerónimo Cabral Raposo da Câmara apresentava o
projeto, 1-3-1852, desmembrando-o do município de Goianinha e
fazendo-o autônomo. A lei n.° 245, de 15-3-1852, criou o Municí­
pio de S. Bento (José Joaquim da Cunha, era o presidente da
Província). Mesmo a Capela de St. Rita da Cachoeira, cm Santa
Cruz, fôra mandada, na res. 199, de 27-6-1849, para i Capela
de S. Bento da Serra do Pires. A lei n9 609, de 12-3-1868 (Gus­
tavo Adolfo de Sá) transferiu a freguesia e a sede municipal de
S. Bento para a povoação de Nova Cruz que se elevou, pela
mesma lei, ao predicamento de Vila. S. Bento desapareceu, resis­
tindo. Hoje é distrito e voltou a ser Vila.
Jatdim de Angicos foi município pelo Decreto n.° 55, de 4-10
de 1890, assinado pelo governador Pedro Velho e teve sua instala­
ção solene a 22-11-1890. Decaiu e uma povoação nascia vigorosa­
mente nas proximidades. Para essa povoação, elevada à Vila de
Lajes, transferiu-se a sede do município. A lei n.° 360, de 25-11
de 1914 (Ferreira Chaves) foi a varinha de condão para Lajes
e ö fio dõ machado para Jardim de Angicos.
A Vilã dos Panatis, distrito de Pau dos Ferros, chamou-se
Vitória ê foi município. Pedro Velho criou-a Vila sede municipal
pelo Decreto 66, de 16-10-Í890. Não houve instalação. O pró­
prio e mesmo Pedro Velho, então governador constitucional, arabóii
com o sonho do Município, revogando o que fizera. A lei n.° 16,
dé 16-6-1892, anulava a Vila da Vitória e dissipava o município I
qué vivera apenas êntrè dois papéis oficiais com á mesma essi-
riátura.
— 349 —

S. Gonçalo teve história mais movimentada. Criado a 11-4


de 1833, aprovado pela lei n.° 25, de 28-3-1835, começou a viver
quando a lei tb* 604, de 11-3-1868 (Gustavo Adolfo de Sá)
suprimiu o município, incorporando-o à Natal. A lei n9 689, de
3- 8-1874, (Bandeira de Melo Filho) restaurou-o. A lei n.® 832,
de 7-2-1879 (Euclides Diocleciano de Albuquerque) r--vogou a
anterior e S. Gonçalo sucumbiu. Com a República veio sopro de
vida. Pedro Velho, Decreto 57, de 9-10-1890, resiaurou-o.
O Interventor Rafael Fernandes Gurjão, Decreto 457, de 29-3
de 1938, elevou sua sede à Cidade de S. Gonçalo. Mas o muni-
/ cípio estava sem rendas e sem entusiasmos para sobreviver. O
Decreto-lei n.° 268, de 30-12-1943, mudou-lhe o nome para “Felipe
Camarão”, passando-o para Vila, distrito de Macaíba. O território
dividiu-se entre Macaíba e em maior porção para S. Paulo do
Potengi. Assim, pela terceira vez, morreu o município de S. Gon­
çalo.

(IV)
Denominação dos Municípios e dos Distritos.
Acari — peixe d’água doce, cascudo, Plecostomuns, Hipos-
tomas, Loricáridas, abundantes nos poços do antigo sítio da
cidade.
Açu — Em nhêengatu o mesmo que “grande”. Local de uma
grande aldeia, Taba-açu.
Ipanguaçu — Ilha Grande, nome de um chefe potiguar, pagé
da tribo na época da colonização. Era de grande prestígio entre
os seus e auxiliou essencialmente a fixação portuguêsa na região.
Alexandria — homenagem da Câmara Municipal do Mar­
tins à dona Alexandrina Barreto Ferreira Chaves, falecida no
Rio de Janeiro em 10-1-1921, nascida na região. O nome anterior
era Barriguda e Barriguda da Imperatriz. A Serra da Barriguda
lembra uma mulher grávida, especialmente vista por quem vier da
fronteira da Paraíba.
Angicos — O local onde se fundou a povoação, vila e cidade
tinha nome de sítio dos angicos pela abundância dessas árvores,
Leguminosas, divisão Mimoseas, família Piptadenia, acácia-angico,
angico branco, angico vermelho, angico verdadeiro, etc.
Pedro Avelino — ver biografia no Cap. XX. Antigo Gaspar
Lopes e Epitácio Pessoa.
Apodi — coisa firme, altura unida, fechada, uma chapada,
4- ppdi ou ç-potf.
Areia Branca — ou Areias Brancas.
350 —

Augusto Severo — ver biografía no Cap. XX. Antigo


Campo Grande e Triunfo.
Baixa Verde — topónimo que dispensa explicação.
Taipu — itá~ipú, a fonte da pedra, o olheiro da pedra; ità~i~pû,
a pedrinha sonora, a pedra ressoadora, pedra de sino, fonólito.
Caicó — nome de indígenas cariris moradores na região,
Caicós.
Jardim, de Piranhas — peixe Carácida, gêneros Pirocentrus
e Serrasalmo. De piräi, o que corta a pele. Alusão a insaciável
voracidade do peixe. “Jardim” era o nome da antiga faicnda.
S. João do Sabubi — de Çapó~gí, o rio dos cipós.
Serra Negra do Norte — antiga Serra Negra.
Canguaretama — caá, mata, guá, vale, retama, sufixo expri­
mindo abundância. Vale das matas.
Pedro Velho — ver biografia no Cap. XX. Antigo Cuite-
zciras e Vila Nova de Cuitezeiras.
Caraúbas — de cará~u~mbá, fruto de casca negra, áspero.
Palmeira.
Ceará-Mirim — O Pequeno Ceará. A tradução, muito con­
trovertida, continua obscura. Cê-ará, fala ou canta o papagaio, e
mirim, diminuitivo. Teve o mirim para diferenciar da Capitania do
Ceará Grande, fundada posteriormente.
Currais Novos — currais feitos pelo Capitão-Mor Cipriano
Lopes Galvão.
Florânia — outrora Flores.
Goianinha — O nome primitivo era apenas Goiana, com vá­
rias grafias. De Guaiana, abundância de carangueijos, períeita-
mente adaptável ao local. É tradução de Mário Melo à Goiana
pernambucana, a Goiana-Grande. A nossa é Goiana e o dimi­
nuitivo português, distinguindo da Goiana-Grande de Pernam­
buco. A Goiana norte-riograndense sempre possuiu êsse nome
fixado nos mapas seiscentistas. Nenhuma influência sobré o topó­
nimo teria a tradição dos mascates da Goiana-Grande.
Arez — Vila no Alentejo, Portugal.
Itarema — abundância de pedras^jtó-reíama, hoje Lajes.
Jardim do Seridó — Seridó parece-me cariri. Coriolano de
Medeiros traduziu por Ceri~tob, do tupi, pouca folhagem, sem
folhagem, descampado, sem árvores, dessassombrado, aplicável à
região. “Jardim” pelo que fôra plantado e cuidado por Miguel
Rodrigues Viana.
— 351 —

Jucurutu — nome de um rio. Canto onomatopaico de uma


coruja, Bubo megallanicus, Mg, tida como ave sinistra pelos colo*
nizadores e emissária do outro mundo pelos indígenas.
Luís Gomes — nome do principal proprietário da Serra do
Bom Jesus. Luís Gomes de Medeiros, segundo Manuel Dantas ou
Luis Gomes de Faria segundo Juvenal Lamartine.
Macaíba — palmeira, Acrocomia sclerócarpa, Martius. A de­
nominação, sempre no singular, denuncia a raridade da espécie
plantada por curiosidade pelo negociante Fabrícío Gomes Pedroza,
na sua residência, na Povoação do Coité que tomou o nome de
Macaíba.
Macau — forma contrata do chinês A ma~ngao, abrigo ou
pôrto de Ama, deusa dos. navegantes, dando Amacau e Macau.
Fernão Mendes Pinto escrevia Amaquá em novembro de 1555.
Martins — serra do Martins, do proprietário e sesmeiro na
primeira metade do século XVIII, Francisco Martins Roriz.
Portalegre — nome de uma cidade no Alentejo, Portugal.
Mossoró — dos indígenas cariris Monxorós ou Môxorós. As
versões tupis são convencionais.
Natal — por se ter fundado no Dia do Natal de 1599.
Nova Cruz — Uma tradição conta que um frade capuchinho
mandou erguer uma cruz no local que uma Anta Esfolada assom­
brava. Seria depois de 1843 e antes de 1846. A criação Jo Dis­
trito de Paz é em ANTA ESFOLADA, 27-10-1843 e a passagem
para o município de Goianinha, 20-10-1846, já cita o DISTRITO
DA NOVA CRUZ.
Parelhas — a serra na vizinhança da cidade é cortada num
boqueirão, fazendo os lados as parelhas majestosas. A explicação
popular é que nessas cercanias costumavam os sertanejos correr
parelhas, disputando a melhor marcha dos cavalos de sela em
esquipado ou baralha-alta, aproveitando a horizontalidade do
terreno.
Pj\Ttí — A região era dominada pelos Cariris e o topónimo
parece-me Cariri. Uma interpretação em nhêengatú seria simples
hipótese. Iba, por ibi~ã, terra alta, a chapada, e o verbo tu, soar,
ser sonante, batido, rumoroso, valendo a chapada, o planalto so­
noro, explicável pelos fenômenos de repercussão xonhecidos e fa­
mosos na região do Patu.
Pau dos Ferros — oiticica ou cajazeira em que os vaqueiros,
arranchados, gravavam os ferros das fazendas vizinhas e distantes
para identificação do gado de evento, ou de vento, como chama­
vam. O Pau dos Ferros denominou o local onde a cidade se
ergueu.
— 352 —

Santa Cruz — A tradição diz ter um frade capuchinho chan­


tado «ma Santa Cruz np lugar Inharé, fazenda de gado, aben-
Çoando-a.
S. José de Campestre — Campestre, anterior.
Saltana do Matos — Santana do Pé da Serra (de Saq-,
tana). O português Manuel José de Matos, dono da fasenda
"Bom Bocadinho*’, onde nasceria a cidade, entronizou a imagem
de uma Santana que mandara buscar çm Portugal. Ficou conhecida
o local pomo Santana do Matos, de Manuel José de Matos.
S. Rafael — outrora era Caiçara, que quer dizer a cêrca,
o cercado. Frei Serafim de Catania, entre 1840 e 1850, mudou o
nome para S. Rafael.
Santo Antônio — antigo Sant’Antonio do Salto da Onça.
S. José de Mipibu —Mipibu, Mopebu e Mepebu, de mbi~pibu,
o saco de couro para conduzir água, a borracha dos nossos com*
boeiros. Era pome de um riacho que atravessava o aldeamento,
correspondendo ao local da cidade.
Nisia Floresta — ver biografía no Cap. XX. O nome ante­
rior, três vêzes secular, era Papari, de Upapari e Ipapari, a lagoa
do pari, cêrca para prender peixes.
S. Miguel — outrora São Miguel de Pau dos Ferros.
S. Paulo do Potengi — a cidade fica à margem direita do
rio Potengi, poti~gi, rio dos camarões.
S. Tomé — nome do local onde, em 1890, Tomás de Moura
Barbosa abriu uma pequena casa de negócios, iniciando a povoação.
Touros — Há confusão nas versões tradicionais do topónimo.
Chamam assim por existir uns cabeços de morros que lembram
êsses animais ou por ter sido encontrado um grupo déles na época
do povoamento. Há também'Touros e Tourinho, denominações
dadas às pedras que estão no mar, fronteiro à cidade. Os nomes
históricos eram Vila dos Touros, Vila do Pôrto dos Touros e
Vila do Touro.
Denominação dos Distritos. As versões do tupi foram feitas,
em sua maioria, segundo Teodoro Sampaio.
Acari —
Carnaúba — é a palmeira Copernicia cerífera. Mart. Fazenda
de Caetano Dantas Correia em 1740. Chamavam*na Carnaúba
dos Dantas .Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10*1937.
Cruzeta — A Vila assenta no antigo sítio «Remédio». Seis
quilômetros fica o lygar «Cruzeta» onde se cruzam os rios Sal­
gado, Quimporó e riacho do M^iQ» formando o S. José. Nesse
ponto foi estudado o açude que se construiu no sítio “Remédio”
— 353 —

com o nome de Cruzeta, iniciado em 1920 e terminado em 1929.


à povoação datou dc 1929, com as primeiras casas, missa c
feira em 24-10-1929. O fundador foi' Joaquim José de Medeiros,
doador do patrimônio à N. Sra. dos Remédios, padroeira da
povoação e vila (Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938).
Açu —
Carnaúbais — Antigo Poço da Lavagem e depois St. Luzia.
Nome atual pelo Decreto-lei n.° 268, de 30-12-1943.
Ipanguaçu
Alexandria — O nome anterior de Barriguda provém da serra
que tem uma projeção lembrando uma mulher grávida. É mais
flagrante o aspecto vindo o observador da Paraíba.
Angicos —
Afonso Bezerra — ver biografia no Cap. XX. Antigo Cara-
pebas, tomando o nome atual pelo ato municipal n.° 5, de 9-6
de 1931. A povoação teve início ao redor de 1880.
Fernando Pedroza — ver biografia no Cap. XX. Antigo
S. Romão. Citado como região povoada desde 1839. A povoação
teve crescimento rápido com os trabalhos da rodovia Lajes-Santana
do Matos em 1920. Nome atuaf pela lei n.° 101, de 19-10-1937.
Pedro Avelino —
Itaú — nome de um chefe dos indígenas Paiacus, século XVIII,
cuja aldeia era no local que lhe herdou a denominação. De íYá-u,
pedra prêta ou também de zíá-ú, do verbo comer, significando o
come-ferro, o manja ferro. Hans Staden cita um chefe tupinambá
com o mesmo nome. Distrito pela lei municipal de 9-1-1911.
Areia Branca —
Grossos — Ilha dos Grossos, com sesmarias desde 1708.
Nestor Lima informa que a origem do topónimo é a existência de
um capim grosso que nasce na várzea e era assim conhecido, como
ainda hoje é. Figurava como distrito em 1911.
Tibáu — do nhêengatú, entre águas ou entre rios.
Criado distrito pelo Decreto-lei 603, de 31-10-1938.
Augusto Severo —
Upanema — de u~panema, água má, imprestável, sem peixes.
Fundado pelo Pe. Francisco Adelino de Brito Dantas, (1828-
1892) em 1867, com o nome de Conceição do Upanema mas popu­
larmente denominado “Rua da Palha’*. Distrito pelo Decreto-lei
n.° 603, de 31-10-1938.
354 -

Baixa Verde —
São Bento do Norte — nome da propriedade primitiva. A
Capela, 1915, é dedicada a S. Antão, Abade. O núcleo da popu­
lação estava na praia atlântica, Caiçara, a velha, soterrada pelos
morros, e a nova que se confundiu com a Vila atual. Caiçara
era povoação conhecida antes de 1849. Zona de pescarias de
voador. Distrito pelo Decreto-lei de 31-10-1938.
Taipu — .
Caicó —
Jardim de Piranhas —
S. João do Sabugi —
Serra Negra do Norte —
Canguaretama —
Vila Flor — nome de vila em Trás-os-Montes, Portugal.
Distrito pela lei municipal n.° 2, de 16-11-1892.
Pedro Velho —
Montanhas — antiga Lagoa de Montanhas. Distrito pelo
Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Caraúbas —
Janduís — tribo cariri que tomou nome do seu chefe, Janduí,
de nhandú-í, ema pequena, o corredor, o veloz. Os Janduís foram
aliados dos holandeses. O nome anterior do distrito era São Bento
do Bofete, e depois Getúlio Vargas. O terreno onde está a Vila
pertencia à propriedade de Canuto Gurgel do Amaral (1890-1951,,
fundador e animador da povoação. Nome atual pelo Decreto-lei
n.° 268, de 30-12-1943.
Ceará-Mirim — - .
Currais Novos — • . *> '
Cerro Corá — região nos pântanos do Paraguai onde sucum­
biu Francisco Solano Lopez, 1-3-1870, findando a guerra com o
Brasil. Chamou-se “Caraúbas". Distrito pelo Decreto-lei número
603, de 31-10-1938.
Florânia —
S. Vicente — A região, cortada pelo riaçho da Luiza (uma
indígena ali residente) era conhecida desde 1756 por “Saco da
Luzia" e também “Luiza". A povoação é de 1890 e a capela de
S. Vicente, de 1898. O fundador da localidade foi Joaquim Ade­
lino de Medeiros. Nome atual pela lei n.° 146, de 23-12-1948.
(“Luiza", de 1944 a 1948).
355 —

Goianinha —
Arez —
Itaretama —
Jardim de Angicos — foi município. Ver III dêste Capítulo.
Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Pedra Prêta — nome da propriedade rural. A população aden-
sou-se provocada pelos trabalhos da construção da Estrada de
Ferro Central do Rio Grande do Norte, hoje Sampaio Correia,
inaugurando-se a estação local de Pedra Prêta em 14-11-1913.
Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Jardim do Seridó —
Ouro Branco — Muito povoado em fins do séc. XIX. Vila
pelo Decreto 457, de 29-3-1938. Teve denominação oficial de
“Manairama”, 1944-1948. O nome primitivo era o atual • - lei
n.° 146, de 23-12-1948.
5. José do Seridó — antigo “Bonita”. Povoação fundada em
4-11-1917. Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Juçurutu —
Luís Gomes —
Macaíba —
Felipe Camarão — ver biografia no Cap. XX. Foi município
de S. Gonçalo, ver III neste Cap. Nome atual pelo Decreto-lei nú­
mero 268, de 30-12-1943. ,
Serra Caiada — outrora “Caiada de Cima”. Vila pelo De­
creto-lei n.° 306, de 31-10-1938.
Macau —
Pendências — a mais antiga menção encontra-se numa sesma­
ria concedida em 9-10-1712 ao sargento mor do Têrço dos Pau­
listas José de Morais Navarro, do sítio Curralinho da praia da
Ribeira do Açu, que pega da Lagoa chamada as Pendências para
baixo. Pendências são rixas, lutas, tumultos. O povo diz sempre
no plural, as Pendências. Teve nome de “Independência”. Vila
pelo Decreto-lei' n.° 603, de 31-10-1938. Nome atual, que é o
histórico, pelo Decreto-lei 268, de 30-12-1943.
Martins —
Demetrio Lemos — antiga Boa Esperança. Ver biografia no
Cap.• XX. Nome atual pelo Decreto-lei n.° 268, de’ 30-12-1943.
Umarizal — abundância de Umaris, Geoffroya spinosa, L,
de uba~mo~ri~i, a árvore que verte água. Os nomes anteriores foram
— 356 —

Gavião e Divinópolis. Nome atual pelo Decreto-lei n.° 268, de


30- 12-1943.
Portalegre —
Mossoró —
Governador Dix-Sept Rosado — Fazenda de gado de Sebas­
tião Machado de Aguiar que, em 1792, doou terreno para construir
uma capela de S. Sebastião, origem do povoado. S. Sebastião e
Sebastianópolis. O nome atual foi dado pela lei municipal mos­
soroense n.° 16, de 25-7-1951, homenagem ao governador morto
num desastre de aviação.
Natal —
Parnamirim — Vila pela lei n.° 146, de 23-12-1948. De pa-
raná-mirim, o rio pequeno. .Há apenas uma pequena lagoa que
enche no tempo das chuvas. Uma das estradas mais conhecidas
no domínio holandês e marcada no mapa de Maregrav. Sede da
Base Aérea e um dos primeiros campos de aviação do mundo,
decisivo na guerra de 1939-1945.
Nova Cruz —
Serra de S.‘ Bento — foi município. Ver III neste Capítulo, i
Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Parelhas —
Equador — antigo Periquito. Distrito pelo Decreto-lei nú­
mero 603, de 31-10-1938.
Patu
Almino Afonso — antigo Caeira. Nome atual desde 1914.
Ver biografia no Cap. XX. Distrito pelo Decreto-lei 603, de
31- 10-1938.
Olho D’água do Borges — nome do antigo proprietário da
região. Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Pau dos Ferros —
Panatis — tribo cariri, egressa da Paraíba, fugindo aos Oli­
veira Ledo, Jocalizou-se na serra que conservou seu nome. O dis­
trito denominava-se Vitória, vila pela lei n.° 4, de 9-10-1936, com
êsse nome antigo. Vitória possuiu o título do Município, 1890-92;
ver III neste cap. Nome atual pelo Decreto-lei n.° 268, de 30-12
de 1943. •
Riacho de Santana — Criado distrito pela lei n.° 146, dye 23-12
de 1948.
— 357 —

Santa Cruz —■
Jerico — outrora Melão. Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de
31-10-1938. “Melão”, 1944-48. Voltou à denominação anterior
e atual pela lei n.° 146, de 23-12-1948.
Campo Redondo — antes Serra do. Doutor. O topónimo pro­
vém de ser, Já em 1762, proprietário na região o Doutor Antônio
Joseph Teixeira de Moraes. Campo Redondo, denominação e dis­
trito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938. “Serra do Doutor”
pelo Decreto-lei 268, de 30-12-1943. Voltou ao nome primitivo
pela lei n.° 146, de 23-12-1948.
S. José de Campestre —
Santana do Matos —
S. Rafael —
S. Antônio —
S. José de Mipibu —
Boa Saúde — nome da lagoa que denominou a região. Dis­
trito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Monte Alegre — outrera Bagaço. Teve nome oficial de Qui-
rambu. Distrito (Monte Alegre) pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10
de 1938. «Guirambu» pelo Decreto-lei n.9 268, de 30-12-1943.
“Monte Alegre” pela lei 146, de 23-12-1948.
Nisia Floresta —
S. Miguel —
S. Paulo do Potengi —
S. Tomé—
Barcelona —• Distrito pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10-1938.
Touros —
Maxaranguape — a grafia antiga é Boixununguape, de m&of-
xinun~gua~pé, no vale ou na baixada da cascável. O rio Maxaran­
guape nasce na povoação de Pau Ferro que, em 1832, possuia 44
casas e 223 habitantes. O Juiz de Direito do Ceará-Mirim, Doutor
José Inácio Fernandes Barros (1844-1907) mudou o nome de Pau
Ferro para “Pureza”. É a atual Vila de Maxaranguape. Fôra
distrito de Paz pelo Decreto 110, de 23-5-1891, na então “Povoa­
ção da Pureza”. Distrito criado-pelo Decreto-lei n.° 603, de 31-10
de 1938, com o nome de Pureza. Mudado para o atual pelo De­
creto-lei n.° 268, de 30-12-1943.
— 358 —

(V)
No ano da proclamação da República, 1889, o municipio de
Natal teve a receita de 9.425$290 e a despesa de 9.077$082. Em
1910, 88:521$000 e despesa de 88:521$000 no justo. Em 1941,
2.590.002,00 e 2.308.010,40. Em 1951, 12.640.712,20 e ....
12.297.077,00. Com 62 anos uma ascensão de nove contos para
doze milhões e seiscentos mil cruzeiros, sem indústrias reais.
O primeiro orçamento republicano de Mossoró previa a re­
ceita ein 3.392$ e a despesa em 3.339$, no ano de 1890. O-cál­
culo para 1891 é inferior, sempre na casa dos três contos anuais.
Em 1941 previu 957.440,40 para uma despesa de 861.105,20.
Ceará-Mirim vencia, calculando 3.955$970 e Caicó vinha com
2.686$430.
Com êsse divertimento de cifras, e examinando-se os orça­
mentos municipais de 1910 e 1939 sente-se que o crescimento
global da receita atingiu 1.887 %. A renda total dos municípios em
1910 alcançava 330:707$867 nas trinta e sete unidades comunais
que dividiam o Estado. Em 1939, um só município, Mossoró,
arrecada 559:050$, superior a todo o computo receitual dos muni­
cípios em 1910.
A arrecadação dos municípios em 1940 é de 7.202:757$600.
Em 1951 arrecadaram Cr$ 59.200.999,94.
Os Adendos e os quadros fixam os elementos que darão uma
perspectiva mais real da evolução municipal. Receita e despesas
orçadas para 1894, 1897, 1905 e 1910. Arrecadação total no qua­
triênio de 1938-1941. Receita arrecadada e despesa efetuada em
1941 e 1951. Quadro dêsses valores nos municípios criados
em 1949.

( 1 ) Luis da Câmara Cascudo, <O Símbolo Jurídico do Pelourinho»,


RIHGRGN, XLV-XLVII, Natal, 1950.
(2) Art. 1.® As Câmaras das cidades se comporão de nove membros,
e as das Vilas de sete, e de um Secretário. Art. 2.®: — A eleição dos membros
será feita de quatro em quatro anos, no dia 7 de Setembro, em tôdas as
paróquias dos respectivos têrmos das cidades, ou vilas, nos lugares, que as
Câmaras designarem, e que, quinze dias antes, anunciarão por editais afixados
nas portas principais das ditas paróquias. Lei de 1-10-1828.
A RECEITA ORÇADA, NOS DIVERSOS MUNICIPIOS, PARA OS EXERCÍCIOS DE 1894, 1897, 1905 e 1910

MUNICIPIOS 1894 1897 1905 1910

Natal ..................................... . ......................... 37:681$734 43:994$000 72:000$000 88:521$000

S. José de Mipibu ......................................... 4:000$000 6:500$000 8:472$000 7:900$000


Papari ................................................................. 2:835$000 3:635$000 4:500$000 ’ 3:500$000
Arês....................... ............................................... 2:110$000 2:350$000 2:850$000 2:100$000
1
Goianinha ........................................................... 3:000$000 4:200$000 4:600$000 4:850$000

359
Canguaretama ................................................... 8:897$000 •• — 9:600$000 10:000$000

Pedro Velho ................................................. . 2:200$000 2:400$000 3:030$000 3:030$000

Nova Cruz ............................... ....................... 2:308$000 3:691$500 4:448$000 4:761$000

Santo Antônio ............................................... 2:200$000 2:110$000 5:430$000 4:195$000

Macaíba ............................................................. 11:250$000 15:145$000 , 14:830$000 11:890$000

S. Gonçalo ....................................................... 2:736$000 3:535$500 3:813$000 4:022$000


Santa Cruz ....................................................... — 3:786$000 4:520$000 4:840$000

Jardim de Angicos ........................................... l:059$901 2:214$000 3:775$000 3:040$000

Ceará*Mirim ..................................................... 10:664$085 16:392$000 14:522$41O 10:280$000


1894
MUNICÍPIOS

Touros.....................................................
8:170$000
Taipu .........................;....

Macau .....................................................
15:011$979
Angicos ...............................................
2:178$000
Mossoró .........................................
14:787$000
Areia Branca ...
6:550$000
Assu............................................................
4:500$000
Santana do Matos
4:152$000
Augusto Severo ,
l:952$000
Martins ..........................................
4:600$000
Patu............................................................
2:849$474
Portalegre..............................
2:856$496
Pau dos Ferres .
2:397$000
S. Miguel..............................
2:902$000

Luiz Gomes .... l:665$000


1897 1905 1910

< 10:0005000 ' 7:9635000 5:6405000

2:2605000 3:0205000 3:3705000

20:6005000 28:6005000 26:5005000


2:2505000 2:4805000 2:5505000

19:0005000 24:1005000 40:0005000


10:7505000 19:0005000 11:5005000

360
— ’• 6:260$000 10:0005000

3:5715000 3:2505000 3:8005000

— 2:1885000 2:1055000

6:8005000 4:5005000 5:2005000

2:1925000 2:5005000 1:9505000

3:3305840 3:9005000 3:9005000

3:741$000x 5:5005000 4:0505000

3:1005000 2:6505000 3:5605000

2:4415000 3:8505000 5:0035000


1
1
MUNICÍPIOS 1894 i 1897 1905 1910

upodi................................................................... — • 4:340$133 6:521$680 Z:888$86Z

Caraúbas ........................................................... — 1:644$000 1:300$000 2:000$000

Acari ................................................................... 2:591$000 2:800$000 3:900$000 3:800$000

Jardim do Seridó ............................................. 4:116$000 3:6ZO$000 5:100$000 6:200$000

Flores ................................................................. l:121$600 l:800$000 3:1255OOO 3:Z28$000

Caicó ................................................................ 5:800$000 5:400$000 4:600$000 10:800$000

Currais Novos ................................................... 3:000$000 2:0Z2$300 2:912$000 2:665$000

Serra Negra ................................................... — l:521$000 2:800$000 l:5Z0$00O

A DESPESA FIXADA NQ MESMO PERIODO

MUNICÍPIOS 1894 1897 1905 1910

Natal ................................................................. 3Z:681$Z34 43:994$000 Zl:Z20$000 88:521$000


Ty\e/& <?/» Kílnlk», 3:Z25SOOO 6:000$000. Z:508$000 . Z:850$000
MUNldPKM 1894

'i. . ’ • X.
Papari ................................................................ 2:8Q0$000

Arês .. .................................................................... 1:336$500

Goianinha ........................................................... 2:950$000

Canguaretama ................................................... 8:310$000

Pedro Velho ................................................... 2:000$000

Nova Cruz ....................................................... 2:113$000

Santo Antônio ............................................... l:815$000

Macaiba ............................................................. 11:150$000

S. Gonçalo ....................................................... l:375$630

Santa Cruz ....................................................... . —

Jardim de Angicos .......................................... l:006$391

Ceará-Mirim ..................................................... 10:664$085

Touros ............................. . ........... ;................... 5:600$000

Taipu .. ................. .................................... —

Macau ................................................................. 15:011$292


1897 1905 1910

3:4005000 4:1705000 2:7205000


2:3005000 2:8305000 2:0005000
4:1005000 4:6005000 4:6805000
9:6005000 10:0005000
2:4905000 3:0185000 3:0305000
3:6915500 4:4485000 4:7615000

362
1:5405000 5:1655000 4:2725000
14:6905000 14:830$000 10:4205000
2:9925250 3:627$350 3:7105000
3:7505000 4:4155000 5:6805000
2:0935100 3:7055330 2:9405000
12:1605000 14:522$410 10:2805000

9:8005000 7:9635000 5:6405000

2:2605000 3:0205000 3:3105000

19:7105000 27:9785000 26:0005000


MUNICÍPIOS 1894

Angicos .. . ........................................................... l:340$000

Mossoró ............................................................. ll:769$000


Areia Branca ..................................................... 5:900$000

Assu..................................................................... 3:716$000
Santana do Matos............................................. 2:545$000
Augusto Severo ................................................ 1:816$000

Martins ............................................................. .. 4:494$000

Patu ..................................................................... 1:396$765

Portalegre ............................................................ 1:829$488

Pau dos Ferros .................................................. 2:227$550

S. Miguel............................................................ l:982$000

Luis Gomes ........................................................ l:545$750


Apodi............... .................................................... —

Caraúbas ............................................................ —
/
Acari .................................................................... 2:576$000
1897 1905 1910

1:8225000 1:8765700 1:7865700

18:2865000 23:1005000 40:0005000


10:0005000 18:2105000 9:7905000

— 6:2605000 9:9465000

3:2665000 3:2505000 2:6905000


— 1:9225000 1:9725000

6:0005000 4:3145000 5:1805000

2:0845200 2:4805000 1:8105000

3:5405000 3:9005000 3:3505000

3:6835550 4:0565000 4:0505000

3:0325000 2:4505000 3:4605000

2:4305150 3:2785000 5:0035000

! 3:3545000 3:9605000 3:8005000

1:4605000 1:0995000 1:2805000

2:4805000 3:6505000 1:1355000


MUNICÍPIOS 1894

Jardim do Seridó ............................................. 2:723$000

Flôres ................................. .............................. l:091$370

Caicó ................................................................. 5:076$000

Cufrais Novos ................................................... 2:437$000

Serra Negra .....................................................


1897 . 1905 1910

3:670$000 5:050$000 6:170$000


1:760$000 3:055$000 3:127Î600
5:076$000 4:556$000 10:800$000

l:545$000 2:686$000 2:600$000

l:511$000 2:722$000 l:570$000

Ui
O\
ARRECADAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO ,RIO GRANDE DO NORTE, NO QUADRIÊNIO DE 1938 — 1941

MUNICIPIOS 1938 1939 1940 1941

Acari ................................................................... 76:255$40Ò 71:710$500 104:115$800 113:301$800

Alexandria ......................................................... 70:656$100 71:710$500 99:339$7OO 93:324$700

Angicos ............................................................... ' 119:371$100 126:759$800 147:635$000 153:532$200

Apodi................................................................... z 62:342$000 73:936$100 81:342$200 102:043$000


Areia Branca ................................................. 1. 268:002$000 272:131$700 303:606$300 288:431$500 03
OS
Ul
Arês .. .................................................................... 22:543$400 21:656$700 23:836$000 24:652$200
Assu ... ................................................ ............... 117:698$100 147:865$600 201:175$200 213:307$000

Augusto Severo ............................................... 42:589$500 47:508$900 70:727^600 92:640$400


Baixa Verde .. ........................................... ,... 162:425$800 161:736$800 144:850$300 172:057$600
Caicó ................................................................. 240:142$400 228:315$300 240:140$400 247:496$900
Canguaretama ................................................... 49:395$000 68:167$400 52:371$300 59:817$100
Caraúbas ......................................*. ................. 66:227$500 75:622$100 80:547$400 82:102$000
Ceará-Mirim ........................ ■............................ 156:463$600 176:173$200 192:437$800 210:206$500
l
Currais Novos........ . . . ..................................... 118:775$700 123:351$400 141:809$500 149:6545300
MUNICÍPIOS 1938

Flôres........................................................... *..,. 83:0665300


1
Goianinha .............. ............................................. 53:1855700
..
Jardim do Seridó .............. ’.............................. 101:783$400
Jucurutu............................................................... 45:217$900

Lajes ................ ......................................... 55:1285600

Luis Gomes ................................................. . 34:5245600


Macaiba ............................................................. 90:6515800
Macau ................................................................. 420:6565900

Martins ............................................................... 97:3785500


Mossoró ............................................................. 654:3795200
Natal ................................................................... 2.043:8485800

Nova Cruz ....................................................... 178:2835900


Papari ............................................... ... ............. 20:6375600

Parelhas ................................................... . 103:5475400


Patu..................................................................... 49:942$300
1939 1940 1941

102:1515700 104:855$400 108:2355900


64:2905900 64:2545400 79:5955700
114:943$800 140:8265600 130:1255100
58:0615100 54:4165200 46:6075200
76:4645200 90:5135600 92:3865400
48:755$300 41:6735500 45:5045800

366
120:130$400 103:2275100 145:059$200
493:2425600 460:4325500 476:8415100 J

96:9745900 112:5755600 108:8745300


750:0175800 707:0885200 888:7915700
. 2.037:0245300 2.065:6675000 2.406:5725000
148:0485500 148:8415300 169:0415500

17:8005900 18:1895000 41:6595800


126:0835000 187:0055700 160:1805200

51:3795100 70:1285000 68 A”t5C0


1 1
1 1
MUNICÍPIOS , 1938 1939 1 1940 1 1941
1 1
1 1

Pau dos Ferros ................................................. 96:154$300 103:888$400. 97:937$100 110:412$900

Pedro Velho ........................................... ;•.... 49:800$800 55:552$100 60:704$200 59:078$500

Portalegre ........................................................... 27:573$000 30:363$700 42:819$000 62:025$400


Santa Cruz ....................................................... 88:148$200 109:318$100 123:680$400 134:200$900
Santana do Matos............................................. 71:416$200 98:748$800 108:688$000 125:272$800
Santo Antônio ..................... ......................... 48:539$300 55:017$400 76:719$800 92:034$800

367
S. Gonçalo ................ ;..................................... 44:163$000 66:339$200 60:909$600 58:421$700
S. José de Mipibu ......................................... 77:729$4OO 73:487$400 91:531$600 98:734$300
S. Miguel ... ;................................................... 37:573$500 58:146$000 66:102$600 74:597$000
S. Tomé............................................................. 81:079$300 70:427$800 . 64:508$900 94:239$200
Serra Negra ..................................................... 66:095$900 64:209$700 76:055$400 67:379$200
Taipu ................................................................. 33:352$600 28:938$100 27:672$200 40:438$700

Touros................................................................. 41:496$600 48:728$500 51:218$200 62:527$700

TOTAL ............................................ 6.368:242$700 6.843:709$700 1• 7.202:757$600 8.049:442$700

Contadoria, 13-4-1942 — Gasparina de A. Moura, Ajixiíiar 11. — Visto. — Solon Aranha, Contador.
— 368 —

^DRO COMPARATIVO DA RECEITA ARRECADADA E DESPESA


TUADA, NOS 42 MUNICÍPIOS DO ESTADO DO RIO GRANDE
GRANDE DO NORTE, NO EXERCÍCIO DE 1941

MUNICÍPIOS RECEITA DESPESA

Cr$ Cr$

1 Acari ............................................ 128.977,30 119.269,60

2 Alexandria .................................. 95.923,00 65.297,00

3 Angicos ........................................ 169.457,60 155.107,50

4 Apodi .......................................... 106.389,40 100.445,50

5 Areia Branca ............................... 291.718,00 290.251,80

6 ^Arês .............................................. 26.871,60 22.396,80

7 Açu ................................................ 225.446,00 180.533,30

8 Augusto Severo ........... ........... 108.290,40 69.510,10

9 Baixa-Verde ...................... ......... 176.118,40 157.422.90

10 Caicó ............................................ 271.390,50 258.566,30

11 Canguaretama .............................. 62.190,70 60.221,20

12 Caraúbas .................................... 91.167,40 84.543,60

13 Ceará-Mirim ,.............................. 225.982,60 200.845,00

14 Currais Novos .......................... 155.807,30 132.022,50

15 Florânia (Flôres) . .................. 116.867,40 93.403,60

16 Goianinha .. . ............................... 81.605,30 69.947,40

17 Jardim do Seridó........................ 151 .672,90 100.902,60

18 Jucurutu .................. .................. 58.891,90 56.487,10

19 Itaretama (Lajes) ...................... 93.150,70 85.219,30


20 Luís Gomes.................................. 46.296,80 45.878,80
21 Macaíba 154.181.60 128.519,90
22 Macau 482.711,90 475.576,60^
Martins 114.872.60 111.153,60
—. 369 —

J • 1
N.° | MUNICÍPIOS RECEITA 1 DESPESA
; • 1
1 1 1
Cr$ 1 Cr$

24 Mossoró ...................................... 957.440,40 861.105,20

25- NATAL ....<.............................. 2.590.002,00 2.308.010,40

26 Nova Cruz. ................................ 169.063,50 157.980,30

27 Nisia Floresta (Papari) .... 42.209,70 31.304,50

28 Parelhas ...................................... 198.737,90 142.355,10

29 Patu ............................................ 70.111,90 64.553,50

30 Pau dos Ferros............................ 115.692,90 109.842,60

31 Pedro Velho ................................ 69.576,70 58.169,70

32 Portalegre .................................... 77.080,40 37.082,50

33 Santa Cruz .................................. 156.252,90 125.088,00

34 . Santana do Matos...................... 136.929,80 . 115.572,30


35 ' Santo Antônio.............................. 105.835,30 81.311,70

36 São Gonçalo (S. Paulo Potengi) 58.875,60 57.736,50

37 • São José de Mipibu .................. 113.327,30 105.607,80

38 São Miguel.................................. 93.986,60 73.018,50

39 São Tomé .................................. 98.194,90 78.414,80

40 Serra Negra .............................. 67.379,20 67.372,00

41 Taipu ■ . .................................... 47.695,90 30.377,90

42 Touros .................................. . 63.408,70 49.032,70

Total Geral.................. 8.667.802,90 7.617.458,00


------------------- 1
• 1

Seção de Contabilidade do Departamento de Assistência aos Municípios


e Cooperativismo, em Natal, 2-7-52. — Luiz Gonzaga de Brito, Contabilista-
Interino. Visto. — Francisco Gonzaga Galvão, Diretor Geral.
— 370 —

OEMONSTRAÇAO DA RECEITA ARRECADADA E DESPESA EFE


TUADA NOS 48 MUNICÍPIOS, NO EXERCÍCIO DE 1951

N.» MUNICÍPIOS RECEITA DESPESA,

Cr$ Ct$
1 J^cari ........................................... 948.732,00 945.940,8C
2 Acu •................... ......................... 1.398.188,80 1.335.847.70
3 Alexandria .................................. 538.818,30 324.084,60
4 Angicos ....................................... 1 840.621,05 567.512,70
s Apodi ........................................... 644.709,60 486.801,60
6 Areia Branca .............................. 2.221.045,26 1.531.629,10
.7 Arês .............................................. 368.784,50 148.195,70
8 Augusto Severo ............................ . 403.464,70 390.504,20
9 Baixa Verde ................................ 949.359.40 923.862,50
10 Caicó ........................................... 3.738.843,20 3.160.603,50
11 Canguaretama ............................ 942.928,50 699.922,20
12 Caraúbas ..................................... 498.559,20 435.385,00
13 Ceará-Mirim ................................ 1.112.578,00 1.097.533,70
14 Currais Novos.............................. 1.693.774,80 1.067.497,50
*
15 Florânia ...................................... | 644.324,30 667.928,50
16 Goianinha .................................... 579.754,20 213.097,10
a
17 Ipanguassu ................................. 402.648,00 316.541,40
18 Itaretama (Não remeteu um só
balancete em Î951)

19 Jardim de Piranhas .................... 625.683,20 548.466,10


20 Jardim do Seridó ........................ 1.005.382#$ 972.346,20
21 Jucurutu ....................................... 464.957,70 364.269,00
22 Luís Gomes.................................. 517.119,90 295.401,80
23 Macaíba ....................................... 1.142.912,40 1.135.709,80
24 Macau ......................................... 3.382.716,70 2.783.387,60
MUNICÍPIOS 1 RECEITA —

Cr$ Cr$
25 Martins....................... .......... . .. 1.266.971,13 1.262.937.43

26 Mossoró ...................................... 6.393 <915,60 6.121.608,90

27 NATAL ..................... 12 640.712,20 12.297.077,00

23 Nisia Floresta ............... 473.809,40 349.506,52

29 Nova Cruz ................... ........... .. 1.857.041,30 1.853.085.40

30 Parelhas ..................................... 668.481,10 552.879,00

31 Patu .......... .................................. 729.741,30 466.047,90

32 Pau dos Ferros........................... 658.240,10 657.667,00

33 Pedro Avelino ........................... 638.247,70 619.374,60

34 Pedro Velho ............................... 414.633,80 384.877,30

35 Portalegre ................................... 748.894,80 259.736.40

36 Santa Cruz ................ ................ 791.530,40 221.147.20

37 Santana do Matos..................... 810.269,80 799.085.10


33 Santo Antônio ........................... 712.089,10 242.912,40
39 São João do Sabugi .................. 484.141,70 247.168,10

40 São José de Campestre.............. 649.243,40 423.682.00


41 São José de Mipibu ............ ... 636.473,80 634.626,00
42 São Miguel ............................... 431.992,90 400.522,30
43 São Paulo do Potengi .............. 543.1*35,90 522.406,70
44 São Rafael ................................. 459.350,10 282.871.00
45 São Tomé ........... ....................... 634.111,40 591.379,10
46 Serra Negra do Norte .............. 464.296,90 | 293.738,90
11
47 Taipu ........................................... 387.438,20 347.103,00

48 Touros ......................................... 620.332,00 436.484,60


Total .................. 59.200.999,94 50.880.391,88

Seção de Contabilidade do Departamento de Assistência aos Municípios c


>erativismo, em Natal, 2 de julho de 1952. — Luiz Gonzaga de
abilistaJnterino. — Visto. — Francisco Gonzaga Galvão, Diretor.
— 372 —

DEMONSTRAÇÃO DA RECEITA ARRECADADA E DESPESA EFE­


TUADA. NOS 6 MUNICÍPIOS, CRIADO NO ANO DE 1949, CON­
FORME DISCRIMINAÇÃO ABAIXO

1 1
N.° MUNICÍPIOS ¡ RECEITA ! DESPESA
11" 1

■ Cr$ Cr$

1 Ipanguassu .............................. 83.744,10 73.361,00

2 Pedro Avelino .......................... 353.594,70 250.073,90

3 São João do Sabugi ................ 75.896,40 69.874,70

4 São José de Campestre ....... 91.983,70 88.242,10

5 São Rafael................................. 60.587,tO 55.674,50

6 Jardim de Piranhas .................. 95.134,40 87.075,20

Total.................. 760.940,40 624.301,40

Seção de Contabilidade do Departamento de Assistência aos Municípios


e Cooperativismo, em Natal, 2-7-52. — Visto. — Francisco Gonzaga Galv^',
Diretor Geral. — Luiz Gonzaga de Brito, Contabilista-Interino.
CAPÍTULO XV

ECONOMIA DO RIO GRANDE DO NORTE

NOTAS AO CAPÍTULO DÉCIMO QUINTO

ADENDO

— Ofício do Senado da Câmara de Natal à sua Al­


teza Real em 1808 .
— Criação da Alfândega de Natal por José Inácio
Borges, 1817.
— Decreto Del-Rei D. João VI criando a Alfândega
de Natal em 1820.
— Panorama do Cooperativismo no Rio Grande do
Norte (Juvino dos Anjos).
— Quadro da exportação de minérios, 1943-1951.
— Quadro da exportação de açúcar e algodão,
1943-1951.
O mais antigo documento sôbre a economia norte-riogran-
dense na manhã de sua organização é a “Relação das cousas do
Rio Grande, do sítio e disposição da terra”, referente a 1607, di-
vulgado pelo Pe. Serafim Leite S. J. (HISTORIA DA COM­
PANHIA DE JESUS NO BRASIL, I?).
— “A mor parte da capitania do Rio Grande, é terra plaina >
e sem montes, toda campinas retalhadas de muitos rios e lagoas,
tôdas elas mui a propósito para a criação de gados. Tem também
algumas várzeas, capazes de ingenios, das quaes a primeira, à bando
do sul, quando sái da capitania da Paraíba, e entre na do Rio
Grande é a que chamam de Camaratiba, na qual se está já fazendo
um ingénio e tem terras para alguns outros. A segunda é a de
Corimataí na qual se faz também outro ingénio e tem terras, águas,
lenhas e tudo necessário para oito ingénios. A terceira se chama
de Iaqui, nesta fazem os índios grandes milharadas e lavouras e
tem muita cana de açúcar e tem também terras para alguns ingé­
nios. Nesta paragens caem as lagoas, tao grandes e nomeadas
por sua abundancia de peixe, entre o gentio da terra, de Guirarira,
de Upapeva e de Upapari, que tem muitas leguas assim de largo
como de comprido. A quarta varzea se chama Taraini; esta tem
excelentes terras para ingénios e estão lá duas aldeias de indios.
A quinta se chama de Nhumdiaí tem terras e ágfuas para dous
ingénios, e tudo o necessário; esta várzea e Rio é da Companhia
e nela tem já situadas casas e roças e um curral de gado. A sexta
é a Varzea do mesmo Rio Grande, do qual toma nome tôda Capi­
tania; esta várzea tem terras e tudo o necessário para três ou
quatro ingénios. Estão nela já plantadas muitas laranjeiras e
outras arvores de espinho, romeiras e muita cana de açúcar. A
sétima é a grande várzea de Siara, tem de comprido cinco ou seis
leguas e de largo quase uma legua; toda ela terra para ingénios
tem cana de açúcar mui fermosa, e nela os índios fazem grandes
lavouras no verão. Grã parte desta várzea é da Companhia de
Jesus0.
Pela exposição anônima o Rio Grande possuia um engenho
em construção na várzea de Camaratiba (depois de 1611 perten­
cente à Paraíba), outro incompleto na do Curimataú, que era o de
Cunhaú, o vale do Jacu, com milharais, roçarias, canavial, a pesca
— 376

nas lagoas de Guaraíras, Papeba e Papari, casas, roças e um


curral de gado na várzea do Potengi Rio Grande, havendo laran­
jas, romãs, limões, frutificando e no vale do Siará ( Ceará-Mirim )
cana de açúcar mui fermosa. Era tudo em 1607. Bem pouco mas
existiam as características econômicas de nossa vida social, o
gado, num curral único, os canaviais, e um engenho que*se fazia,
pertencente aos dois filhos de Jerónimo d’Albuquerque. A pecuária
e o açúcar responderíam pela vitalidade do Rio Grande do Norte
até o século XIX. Já se faziam notas em 1607.
Nos registos do 44Auto de repartição das terras”, em 1614
(I), com 185 datas, vemos êsse pequenino comêço. As terras
cultivadas eram de lavoura de mantimentos, milho, mandioca, fei­
jão, as raízes feculentas para degustação diária, algum gado e três
ou quatro portos de pescarias, em Pirangi, Redinha e barra do
Trairi. O gado viria de Pernambuco assim como a cana de açúcar.
O ecúmeno alcançava Taipu, a noroeste, litoral para o sul, e para
o norte, vagamente, sabia-se até proximidades do futuro Macau ou
Guamaré, melhormente.
Em princípios de 1630 o brabantino Adriano Verdonck espiona
o Rio Grande. O núcleo industrial era Cunhaú, já corrente e
moente em 1614, quando da “Repartição das terras”, graças às
águas do rio Piquiri. Safrejava seis a sete mil arrobas de açúcar,
em cem e cento e dez caixas que eram enviadas para Pernambuco,
assim como farinha e milho. Não há lembrança documental de
outro engenho funcionando. Já em 1630 baixara de moer o outro,
de localização controvertida e nome discutido, “Ferreiro Torto”.
Retirava-se muito sal, atesta Verdonck, havendo depósitos extensos
e naturais, alvíssimo, mais forte que o espanhol. Carregavam bar­
cas de 45 e 50 toneladas, num lugar, 60 milhas para o norte.
Podiam mais de mil navios abarrotarem-se, jurava Verdonck. As
salinas ficavam à beira mar, completamente cheias de sal. Jerónimo
d’Albuquerque as dera aos filhos Antônio e Matias em 20 de
agôsto de 1605. Frei Vicente do Salvador descreveu-as. Adriano
Verdonck também. Em meados do domínio holandês foram explo­
radas a mando de Gedeon Morris de Jonge que gritava tê-las
descoberto (2).
A criação do gado constituía a maior e mais rica atividade. Os
maiores rebanhos estavam nas terras da pequena Capitania. Tôda
avidez da Companhia Privilegiada das índias Ocidentais orien-
tou-se para sustentar a posse dessa região assim abundante de
gadaria. A documentação de origem portuguêsa e flamenga é
fervilhante de citações, narrando as prêsas feitas, milhares e milha­
res de cabeças, desde 1632. Muito mais que a posse de Sergipe,
vales marginais, do S. Francisco, o Rio Grande mereceu os extre­
mos cuidados bátavos para sua manutenção, com violência e bestia-
— 377 —

lidade guerreira. Sôbre a importância decisiva da pecuária norte-


riograndense há, entre cem outras, a informação categórica de
Hermann Wat jen : "... o maior fornecimento de rêses para o
consumo era feito pelos criadores de gado do Rio Grande. Em
1635 os Conselheiros Políticos exaltaram a conquista final desta
Capitania, como um benefício inestimável da fortuna. Sem o Rio
Grande, os soldados holandeses tão miserávelmente tratados, com
□s sós recursos dos armazéns, ficariam condenados a morrer de
fome; sem o Rio Grande a alimentação da população de Pernam­
buco, em constante crescimento, seria uma cousa impossível”;
DOMÍNIO HOLANDÊS NO BRASIL, 442-3.
Expulso o holandês em 1654 continuou a pecuária a ser a con­
dição essencial na vida econômica da Capitania.
As salinas eram procuradas pelos barcos que vinham da
Paraíba, Itamaracá, Pernambuco e Pôrto Calvo, assim como des­
tinadas às pescarias, no litoral nortista, rio do Açu abaixo até a
foz e espraiados em que o delta se alagava.
Houve, em 1680, um episódio inesquecível. Francisco de
Almeida Vena, seus sobrinhos e cunhados, tinham recebido uma
légua de terra nas praias de Touros e proibiram aos moradores da
vizinhança pescaç e colher o sal. Os prejudicados dirigiram-se
ao Senado da Câmara de Natal e êste, em novembro, representou
ao Governador Geral do Brasil, pedindo a revogação da conces­
são aos Venas. O Governador Geral, ouvida a Provedoria da
Real Fazenda, decidiu, em alvará de 10 de dezembro dêsse 1680,
que a concessão das terras em Touros não compreendia as praias e
nestas as pescas e uso das salinas, bens realengos. O Senado da
Câmara intimou aos Venas e concomitante parentela da decisão
superior e os moradores continuaram pescando e retirando sal,
livremente.
A partir de 1688 há a guerra dos “bárbaros”, queimando,
matando, depredando, misturados os interêsses de colonos e a
legítima defesa dos indígenas espoliados e perseguidos como feras.
Essa guerra, até final, custou mais de 30.000 cabeças de gado e
cêrca de 1.000 cavalgaduras. Aquietados os horizontes, voltaram
as boiadas e com elas a predominante no ciclo econômico. Em
1697 mais de 8.000 cabeças de gado estavam na ribeira do Açu.
Por todo o . sertão, informavam os moradores do Rio Grande ao
Rei de Portugal, o gado era o único grangeo. Ainda em 1703
diziam que “O Sertão com facilidade se povoava de gado porque
dava lucro com pouco despesa.”
Por todo século XVIII, fase da fixação demográfica e da
grande expansão da gadaria, o Rio Grande do Norte exportou
seus rebanhos para as Capitanias do Sul. Em ofício de 5-10-1799^
biblioteca
378 —

dirigido pelo Senado da Câmara à rainha D. María Primeira»


pedindo a independência administrativa da Capitania, diziam os
norte-riograndenses pelos seus vereadores de Natal: «... que
fome, que cruel fome. Soberana Senhora, não sofrerão os morado­
res de Pernambuco, se não fôsse constantemente fornecido de
peixe que lhes vai das praias desta Capitania, da mesma forma, a
que extrema necessidade de carne não chegarão aos mesmos mora­
dores, se os sertões do Açu, Seridó, Espinharas e Trairi. perten­
centes a esta Capitania, não exportassem todos os anos seis mil
bois e antes da sêca de 1790 a 1793 certamente iam de 15 a 16 mil
bois por ano; que precisões não teriam aquêles senhores de enge­
nhos respectivos, se os sertões desta mesma Capitania os não
fornecessem de cavalarias para as suas moagens e de outros gê­
neros de que se enriquece esta Capitania (3) .
Diz o mesmo ofício, “aqui se fabrica açúcar excelente; aqui
produz excelente algodão; o pau brasil desta Capitania é o melhor;
não tem salinas mais preciosas nem mais abundantes do que as desta
Capitania, quais são as do Açu e Mossoró, e elas são bem capa­
zes não só de fornecer êste Continente com a sua produção, mais
a todo o mundo.”
Voltando à presença do Govêrno Real, em 30 de abril de
1808, o Senado da Câmara expunha seus pedidos com a clarivi­
dência de veterano na administração e vidente dos problemas
futuros. O peixe sêco exportado alcançaria 70.000$, pelos preços
da terra, tal o seu volume (4).
Teimando em conquistar sua autonomia, o Senado da Câ­
mara reapareceu, em ofício de 6 de maio de 1815, aos ouvi los
de Sua Alteza o Príncipe Regente, indicando sumàriamente seus
produtos de exportação, açúcar, algodão, couros crus e curtidos,
pau brasil, tatajuba e madeiras de construção, “sendo igualmente
abundante de gados.”
O algodão, desde fins do século XVIII, adiantara-se entre os
gêneros de venda externa. Em 22 de outubro de 1808 o Gover­
nador José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, escre­
vendo ao Governador de Pernambuco, informava que o algodão era
um dos “ramos mais copiosos dêste país”. Diga-se que o Gover­
nador de Pernambuco entendia que a liberdade comercial, c.once-
dida por D. João na carta régia de 28 de janeiro de 1808, não
compreendia o Rio Grande do Norte. Devíamos continuar a em­
barcar todos os produtos para Pernambuco, sujeitos às oscilações
e vontades dos compradores de uma única e exclusiva praça distri­
buidora. Francisco de Paula, pernambucano da gema, protestava
alto e sonoro mas inútilmente. Mesmo com a liberdade de nave­
gação e comércio, até 1817, ficamos amarrados à interpretação de
— 379

Caetano Pinto de Miranda Montenegro. Ainda a 31 de maio de


1817, ao almirante Rodrigo José Lôbo, escrevia José Inácio Porges,
governador da Capitania do Rio Grande do Norte: — “O ex-Ge-
neral Caetano Pinto de Miranda Montenegro, proibiu aos meus
antecessores a execução da Carta Régia de 28 de janeiro de 1808,
e Decreto de 18 de junho de 1814 que permitiram em todos os
portos do Brasil a admissão e comércio aos navios nacionais e
estrangeiros, fundando a proibição em motivos fúteis, filhos do
seu acanhado gênio.”
José Inácio Borges, aproveitando a revolução pernambucana
de março de 1817 rompeu, em edital de 13 de março, as relações
dependentes com Pernambuco, estabelecendo a 16 do mesmo mês
e ano uma Alfândega “para nela se receber, e serem despachadas,
as fazendas, e gêneros da Europa, conduzidos em navios nacionais
ou estrangeiros, que vierem aos portos desta Capitania” (5). Pràti-
camente a Capitania estava autônoma. Nenhum Decreto real pos­
terior reprovou ou endossou o gesto de José Inácio Borges. Os
sucessos encarregaram-se de fundamentar nossa independência
funcional.
Um decreto de 3 de fevereiro de 1820, com a rubrica de
Sua Majestade, criava a Alfândega em Natal, chamando-a Cidade
do Natal, capital da mesma Província, quando nenhum outro
documento anterior o fizera claramente. Êsse Decreto, mesmo não
aludindo ao ato de Governador Borges em 16 de março de 1817,
é ímpar na história administrativa norte-riograndense. Oficializa
sua autonomia, pondo-a no mesmo nível e plano das demais uni­
dades do Reino. E expressamente condenava a hermenêutica do
catacego Miranda Montenegro : — “Não tendo a Província do
Rio Grande do Norte gozado até o presente da franqueza do
comércio, que em benefício comum dêste Reino tenho geralmente
concedido, etc.” (6).
Um índice do. volume do algodão vendido para Pernambuco
ser considerável é que, no mesmo 3 de fevereiro de 1820, quando
El-Rei D. João VI criou a Alfândega de Natal (funcionando
desde março de 1817), criou também a Casa da Inspeção do
Algodão.
O domínio absoluto da pecuária vem até 1845-47. Em 1845
os vales começaram a ser trabalhados mais intensamente. Contá­
vamos 43 engenhos, sendo 32 de ferro e 93 engenhocas para rapa­
dura. Em 1847 exporta-se por Natal 11.304 arrobas de açúcar.
Em 1849-50 iam a 17.166. Dez anos depois, em 1860, 278.438,
funcionando 173 engenhos de ferro e apenas 12 de madeira. O
reinando pertencia aos vales do sul, Capió para cima, S. José de
Mipibu com 33 engenhos, Papari com 27, Goianinha com 18 e
— 380 —

Canguaretama com 12. Touros tinha 6. Natal 7. S. Gonçalo 27,


com luxo social. Ceará-Mirim, avançando desde 1851, ostentava
sua floresta de chaminés, fumegando os fornos de 44 engeiilios.
Os engenhos de madeira só existiam em Natal, 2, S. Gonçalo, 6 e
Touros, 4. Os demais eram moendas de-ferro. Um ano além, Lei
n.° 505, de 7 de junho de 1861, reduzia a 1 %, durante nove anos,
o imposto de exportação dos produtos obtidos nos engenhos de
ferro, assentados num prazo de dois anos.
A explicação do recuo da pastoricia fôra a sêca de 1845. O
alqueire de farinha dera 60$ quando seu preço era de três mil réis. O
couro do gado era assado, pulverizado e vendida a massa como
alimento, custando mil réis o oito, cêrca de seis litros (7) . O dí­
zimo do gado que chegara em 1844 a 26.106$073 rendeu em 1846
apenas 392$532. Fazendeiros abastados foram reduzidos à indigên-
cia. O gado, dizimado pela estiagem, perdeu milhares e milhares
de cabeças. Ondas de morcegos cobriam os animais. A sêca atirou
muita gente fora da Província. Coroando a tragédia apareceu a
peste de bexigas.
O açúcar pôde competir com a criação de gado dessa época
em diante. Competir modestamente porque enfrentava o tradicional
elemento econômico da ex-Capitania.
“A parte mais considerável destas rendas, provém do dízimo
dô gado vacum”, escrevia o Presidente J.osé Joaquim da Cunha
em julho de 1851. O Presidente Antônio Francisco Pereira de
Carvalho, em.fevereiro de 1853, interessava-se pela Canalização do
rio do Ceará-Mirim, aludindo à “consideração de existir já hoje
grande número de Engenhos de açúcar levantados nesses terrenos,
e do próspero incremento, que vai tomando a cultura da cana, de
maneira que é nela, que a Província começa a depositar tôdas as
suas esperanças, atenta a decadência, em que, pelo flagelo da sêca
se acha a indústria criadora, até hoje dominante.”
Mesmo assim a pecuária assenhoriava a maior porcentagem na
receita. Basta comparar o rendimento do dízimo do gado, vacum
e cavalar, nos anos de 1851 a 1854, com tôdas as outras verbas
somadas.
Dízimo do Total da
gado Receita
1851 ............................................ 24:991$250 53:779$173
1852 .......................................... 23:478$146 58:652$738
1953 .......................................... 24:028$350 51:590$198
1854 ...................... ;......... .. 27:395$000 49:032$081

Era a época em que, nos relatórios, os Presidentes depositavam


na indústria as esperanças de uma suplência financeira à pecuária
absorvente.
381 —

Também os algarismos acima denunciam que os rebanhos


permaneciam mais ou menos no mesmo volume. A dedução é
pouco rigorosa porque o imposto era arrematado e nunca se
saberíam o número de dispensas concedidas pelo arrematante ou
seus erros de verificação no computo.
A pecuária, em 1860, vivia nas 1.194 fazendas, num total
de 40.333 reses assim divididas:
Natal ... 165 fazendas, 2.219 reses. Não consta S. Gonçalo.
S. José ... 255 fazendas, 8.461. Não constam Goianinha e Can­
guaretama. Açu ... 61, 1.974 reses, Não constam. Angicos,
Santana do Matos e Campo Grande (Augusto Severo). Seridó...
328 fazendas, 13.072 rêses. Idem Conceição do Azevedo (Jardim
do Seridó) e Serra Negra. Maioridade (Martins)\.. 383, 14.607
rêses.
O Presidente José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, no
seu relatório de abril de 1861, resume a economia norte-riogran­
dense:
“Até. o ano de 1847 a criação de gado era a indústria quase
exclusiva a que se aplicavam os habitantes da província. Hoje as
comarcas do Natal e S. José de Mipibu compreendem 173 enge­
nhos de ferro, e mais 14 engenhos de madeira que fabricam única­
mente rapaduras. É calculada em 417.480 arrobas a produção
total de todos êsses estabelecimentos, dos quais bem poucos tem
melherado o sistema do fabrico, e adquirido novas máquinas. Além
dos engenhos existentes o ano passado no município do Ceará-Mi­
rim, foram levantados mais 7 e 2 engenhocas de madeira. Esti­
ma-se em 16 a 20 o número de outros estabelecimentos semelhantes
que existem em diferentes pontos do centro, e que não vão contem­
plados, por falta de informações precisas. Tem-se verificado nas
cinco comarcas a existência de 1.879 fazendas de gado, que dão
anualmente 50.794 crias. Por deficiência dos dados necessários
não se incluem nesse número as fazendas das freguesias da Penha
e Serra Negra. Entretanto avalia-se aproximadamente em 60 a
70.000 crias a produção total de tôdas as fazendas de criar nesta
Província. Na comarca da Maioridade afirma-se que êste ano, por
falta das chuvas em tempo próprio, não haverá colheita alguma de
algodão. A êsse ramo de cultura é que mais se aplicam os habi­
tantes da comarca, calculañdo-se o valor da produção em 200:000$
no ano de 1858, e em 150:000$. nos três últimos anos anteriores.
É avaliada em 200:000$ a importâncià do gado que ali se vende
anualmente.0
É a lase em que o algodão atraiu a preferência no trabalho
rural. O Presidente Pedro Leão Veloso, em fevereiro de 1862,
— 382 —

informa que 44Depois da cana é o algodão o ramo da lavoura de


maior importância na provincia.” Era cultivado em grande escala
os municípios de S. Gonçalo e Pau dos Ferros, No Seridó, apenas
Jardim o plantava. No oeste, Campo Grande e Portalegre. Se­
guiam-se S. José de Mipibu, Mossoró, Macau, Angicos, Açu,
Goianinha. Ceará-Mirim, Touros, em pequena escala.
A guerra de Secessão nos Estados Unidos, 1862-1865, fizera
cessar a exportação algodoeira para os teares da Inglaterra. O Rio
Grande do Norte mereceu, por acaso, sua quota. As 13.528 arro­
bas de 1851 pularam para 140.000 em 1866. A exportação para
portos estrangeiros que fôra, em 1859-60, de 232:478$320, subiu
em 1860-61 para 3.027:762$657 ! O intercâmbio acelerou-se, numa
política instintiva de compensação comercial. Só pelo pôrto de
Liverpool vieram mercadorias no valor de 512:4128393 em 1859-60.
A navegação de cabotagem crescia igualmente. Pernambuco, nosso
melhor mercado, estava em primeiro lugar, cabendo o segundo ao
Ceará. É o tempo em que Fabricio Gomes Pedroza funda a Casa
de Guarapes, na curva do Potengi, comprando açúcar e algodão,
exportando-os para Europa em barcos que encostavam na barranca
do rio, em jornada direta.
O algodão atravessou êsses anos de marcha ascendente. Em
fevereiro de 1868 o Presidente Gustavo Adolfo de Sá, analisando
o orçamento de 1865-1866, mostrava que a receita obtivera um
superávit de 116:825$494. E advertia, profético: — 44Cumpre
notar-se que êsse considerável crescimento da renda não proveio
de causa alguma permanente e duradoura, mas só do elevado preço
do algodão, o qual incitou os agricultores a plantá-lo em maior
quantidade.”
A receita de 1865-66 que fôra de 269.192$429 desceu, brus­
camente, no exercício imediato de 1866-67, para 186:888$755.
Acabara a guerra do “Norte contra o Sul” norte-americano. O
algodão deixou, economicamente, de interessar.
No relatório de outubro de 1872, o Presidente Henrique
Pereira de Lucena mostrando o deficit de 142:640$ 161, 3ponta
como responsáveis pelo declínio a “baixa sensível que sofreu no
mercado o preço dos noSsos generös de exportação, e especialmente
do algodão, o mais importante déles” e a liquidação da casa comer­
cial de Fabricio õ Companhia, em Guarapes, determinando o
desvio dos vendedores de algodão que demandavam o pôrto de
Guarapes, para Mamanguape na Paraíba, onde o produto fôra
classificado como local em pura perda dos direitos fiscais da
Província originária.
353 —

Um balancete registando a exportação pof Natal e Mossoró,


únicos que embarcavam para o estrangeiro, em 1871-72, diz clara­
mente da economia de então e das possibilidades emergentes:
Gêneros Valor oficial Direitos
Algodão em pluma 1.097:917$867 98:312$699
Açúcar bruto ....... 502:771$915 45:25O$389
Caroços de algodão .. 4:069$589 366$262
Couros secos salgados 37:934$800 3:414$132
Cera de carnaúba 116$300 10$647
Pau brasil .................. 5:722$700 858$405
Penas de ema .......... 95$200 8$568

1.648:628$371 148:721$102

Pela primeira vez a Província lançou mão de seu crédito con­


traindo no Banco do Brasil um empréstimo de 100:000$ em dezem­
bro de 1871, e outro de 60:000$000 no mesmo estabelecimento,
ein dezembro de 1873, a fase crucial para a economia norte-rio*
grandense. Em 1876, um terceiro empréstimo de 100:000$ chegou
a ser estudado e mesmo iniciadas as negociações com o Banco
do Brasil.
Em princípios de 1877 o vale do Ceará-Mirim industrializara
sua produção. Dos 40 engenhos, 11 eram movidos a vapor. O
Govêrno tentava a fundação do Engenho Central em 1873, com o
mínimo de 500 toneladas inglesas de açúcar anualmente. Houve
contrato com Pedro H. Waken, prorrogação, adiamento e esque­
cimento. Em 1877 reincidiu o sonho do Engenho Central em
S. Jnsé de Mipibu, contratado com Amaro Barreto de Albuquerque
Maranhão, e que ficou nó contrato bonito, sem positivação.
O algodão, vivendo teimosamente, mereceu os olhares admi­
nistrativos para seu aproveitamento. Em 4 de janeiro de 1877 a
Presidência assinava um contrato com o mesmo Amaro Barreto d<
Albuquerque Maranhão, para a instalação de uma fábrica de tecí
dos que nascería onze anos depois.
As estradas, desde 1840, aparecem nos relatórios desolados
indicando que a sua ausência é a paralisia das safras que apodre
ciam sem transportes. Em julho de 1872 contrata-se a Estrada d
Ferro do Ceará-Mirim. Em julho de 1874 a de Natal a Nova Cruz
Nesse mesmo 1874 Johan Ulrich Graf contrata a do Mossoró, qu
caducaria.
A sêca de 1877 foi uma catástrofe para a pecuária. O Govern
renunciou ao próprio dízimo do gado. A multidão faminta reflui
das zonas ressequidas para o agreste e proximidades do litoral
Mossoró abrigou 70.000 retirantes e nunca possuiu menos d
— 384 —

47.000 nos seus arredores. Bexigas e desinterias assaltaram, mas­


sacrando. O obituário de 1878-79 é de 35.000 mortos. O Presi­
dente Rodrigo Lobato Marcondes Machado visitou Mossoró em
dezembro de 1879 verificando que a calamidade resistia ainda
poderosa. As despesas com os socorros foram a 6.217:264$227.
O dízimo das lavouras rendeu em 1877-78 apenas 1:820$ quando
em 1876 produzira 80:385$917 ...
Os pontos mais atacados foram Imperatriz (Martins),, Pau
dos Ferros, Apodi, Triunfo (Augusto Severo, ex-Campo Grande),
Açu, Santana do Matos, Angicos, Principe (Caicó), Jardim e
Acari. O método mais lógico era enviar os socorros aos centros
assolados e fixar a população em áreas aproximadas, evitando a
deslocação em massa para Mossoró, Areia Branca e Macau e zona
do agreste, desorganizando a produção e criando o problema do
abastecimento normal. Foi o êrro do Presidente José Nicolau To­
lentino de Carvalho que Marcondes Machado corrigiu.
A Província já não mais possuía na pecuária sua base econô­
mica exclusiva. O imposto de 5 % sôbre todos os gêneros de éxpor-
proporções satisfatórias. Viera especialmente da lei orçamentária,
tação saídos para o estrangeiro ou para as outras províncias, toma
não correspondendo à confiança dos contabilistas do Tesouro Pro­
vincial. Com o recuo da pecuária, outrora essencial ao equilíbrio
financeiro, houve para a agricultura um movimento de proteção
que a queda do algodão não pôde extinguir de todo, exportando-se
para Pernambuco o que se podia colhêr no momento.
Um cotejo das receitas do dízimo do gado e do imposto de
exportação, em três exercícios, mostrará que a Província ia lenta­
mente abandonando a monomania da pecuária, dispersando ativi­
dades noutros setores da produção.
Exercícios Direitos de Dízimo de

exportação gado

1878-79 ............................................................................. 69:0868582 2:0348500

1879-80 ..................................................... ........................ 77:8378351 24:9408501

1880-81 ...................................................... 116:9778041 26:5038312

No orçamento da receita para 1887-88, previsto em ..........


401:414$500, o imposto de exportação era calculado em 139:052$
e o imposto sôbre o gado, vacum e cavalar, muar e jumentos, em
62:123$, menos da metade inferior ao primeiro.
O ciclo do gado se fechara e estávamos no domínio da agri­
cultura. O açúcar, outrora importado de Pernambuco para as
necessidades da Província, desde 1852, era produzido suficiente­
mente ao consumo e atendia aos pedidos, reduzidos diga-se a
verdade, de exportação.
No derradeiro quatriênio imperial, a Província se manteve
nessa situação, em plena marcha para a pluralidade producional.
A exportação cobria normalmente 1 /3 da receita ordinária prevista.
O imposto sôbre o gado atingia uma terça parte do que se arre­
cadava com o primeiro.
Exercícios Direitos de Imposto
exportação gado
1884-85 .............. .......... 108:6485934 60:7285000
1885-86 ...'........ .......... 123:045$776 57:2665000
1886-87 .............. .......... 163:3675134 76:0655000
1889 .................... .......... 131:6875000 46:3795000

O sal constituía indústria tradicionalmente conhecida para


os moradores da Capitania, Província e Estado. A mais antiga
referência é a data 85, registada no “Auto de repartição das terras”,
feito em Natal em fevereiro de 1614. Alude que Jeronimo d’Albu­
querque dera aos filhos Antônio e Matias, em 20 de agosto de
1605, “umas salinas que estão quarenta léguas daqui para a banda
do norte, não a cultivaram nem se fêz benfeitorias, nem a terra
servia para cousa alguma, mais que para o sal que por si cria.”
Frei Vicente do Salvador em 1627 e Adriano Verdonck em meados
de 1630 fazem elogios. Durante o período holandês foram parcial­
mente exploradas a mando de Godeon Morris de Jonge até 1641.
Depois de 1654 voltaram a ser faladas e utilizadas, sendo sabido
o' episódio dos sesmeiros de Touros que pretendiam proibir seu
uso aos moradores praieiros. A exportação do sal para o sul já era
regular em 1807. O alvará com fôrça de lei em 24 de abril de
1802 criou o imposto de mil réis sôbre cada dez alqueires. João
Álvares do Ouental foi o primeiro arrematante do imposto do sal.
Dêsse 1802 data a exploração normal e extensiva das salinas de
Mossoró, litoral de Areia Branca, Açu e Macau.
Vindo para o Brasil, D. João, impossibilitado de receber
carregamentos de sal de Portugal, favorecido pelo monopólio
(7 de dezembro de 1758), assinou a carta régia de 7 de setembro
de 1808, onde se lia: — “Sou servido ordenar-vos (dirigia-se ao
Governador de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Monte­
negro) que façais promover a extração de sal das Marinhas dessa
Capitania, da de Itamaracá, e Açu na do Rio Grande do Norte,
animando os Povos ao aproveitamento de tôdas as salinas naturais,
. ~ oferecer
que »» o terreno, ficando o dito gênero livre de tôda a impo-
siçao.
Mandava Sua Alteza comprar e embarcar o sal norte-riogran­
dense para o Rio de Janeiro, ilha de Sta. Catarina e Rio Grande
do Sul, o que, várias vêzes, foi feito. Multiplicaram-se as tarefas
nas salinas e nem sequer se pagava o dízimo, motivando reclamação
do Governador da Capitania para o Príncipe Regente e uma
provisão, de novembro de 1812, mandando-o cobrar e arrematar,
386

por não ser «imposto real» e sim uma obrigação de preceito divino.
No ano de 1814 rendia 112$670 réis.
Na Provincia o comercio do sal animava-se. Em 1844-45,
setenta e oito barcos carregaram em Macau 59.895 alqueires. O
Presidente Benvenuto Augusto de Magalhães Taques, na sua
“Fala”, de 3 de maio de 1849, estuda o que depois se chamaria,
solene e dispensadamente, problema do sal. Era a concorrência
estrangeira, os processos primitivos, o produto superior pela sua
qualidade intrínseca tornado inferior pela rudeza % das formas de
obtenção. O sal europeu era mais barato e melhor preparado.
Consistia essa a excelência única. Foi o período da derrocada,
visível nessas cifras melancólicas :
alqueires
1845-46 .............................................................. 59.895
1846-47 .............................. .............................. 54.0,1/2
1847- 48 .............................................................. 18.346,1/2
1849 ................................ .................................. 11.534

Em 1860 há um movimento vertiginoso de ascensão: 104.145


alqueires !
O presidente Pedro Leão Veloso, em fevereiro de 1862,
resumia sua opinião nesta frase: — “Mais largamente exploradas
seriam as nossas salinas, se o seu sal pudesse competir com o
estrangeiro; e para as charqueadas, achassem mercado no Rio
Grande do Sul; o que é impossível atentas as despesas do transporte,
em razão do monopólio da navegação de cabotagem por navios
nacionais. ”
O pau-brasil desaparecera. A tatajuba, exportada para a
França, perdera o mercado substituída pelas anilinas. Açúcar e
algodão, couro e peles, sustentavam a Província. O imposto do
sal era auxílio convergente. Não mais constituía uma determinante
econômica.
Nos últimos anos do regime imperial a situação econômica
da Província, no domínio econômico da produção, era o seguinte:
Açúcar, 1886-87, 15.933.879 quilos exportados, algarismo
máximo em tôda sua trajetória.
Algodão obstinava-se em ser notado para os efeitos econô­
micos. Indústria então individual, independente do financiamento
e da aparelhagem, dispensando a proteção administrativa, residia
sua existência na própria vontade do pequeno produtor e sua osci­
lação interna nos preços do primeiro comprador em Natal para
revender no Recife, ou seu escoamento para Paraíba ou Ceará,
não obstante os agentes fiscais norte-riograndenses estabelecidos
nessas duas últimas praças, desde a Regência. Em Mossoró e
Natal o algodão tinha grandes firmas compradoras ao redor de
— 387 —

1870 — as casas Mossoró & Cia, em Mossoró, Graf õ Cia. em


Natal, Fabricio Pedroza em Guarapes.
•Algodão, açúcar, sal, couros e peles, cera de carnaúbas, faziam
a exportação. O dízimo do gado garantia, minimamente, as peque­
ninas despesas do Govêrno.
Era êsse o ambiente quando a Província se tornou um Estado
republicano.
O primeiro ano republicano indicará. as fontes da economia
no quadro de sua exportação (1890) :
Açúcar, quilos, por Natal, 13.287.267. Por Canguaretama,
686.750.
Algodão, quilos, por Natal, 11.190.567. Por Macau, 238.235.
Por Mossoró, 1.026.505.
Por Canguaretama, 15.610.
Sal, quilos, por Macau, 46.656.794. Por Mossoró, ........ ..
12.914.176. Por Canguaretama, 12.000.
Couros salgados, quilos, por Natal, 68.564. Por Macau,
22.638. Por Mossoró, 25.608.
Por Canguaretama, 4.531.
Os demais produtos eram borracha de mangaba, benjoim,
caroço de algodão, cal, carne de sol, carnaúbas, caroços de car­
naúba, cera de carnaúba, cordas de carnaúba, chapéus de palha,
cera de abelha, côcos, chifres, esteiras, peixe sêço, madeiras, palha,
penas de ema, queijos, fumo, feijão, farinha, lã de carneiro, milho,
tijolo, mangue, unhas de boi, sebo, etc. Os cereais apareciam nos
primeiros sem continuação. A produção de farinha, milho, feijão,
não bastava ao consumo interno. Tivemos, anos depois, épocas de
exportação mas foram exceções à regra.
Ainda em 1895 o governador Pedro Velho aludia em sua
“Mensagem'* às ausências da aparelhagem técnica na agricultura.
Nem mesmo instrumentos tradicionais noutras paragens venciam a
resistência do hábito secular. Seria puramente retórico falar em
charrúas e arados, ironizava, desolado, o grande conterrâneo.
Dez anos depois da queda da Monarquia, em 1899, o Rio
Grande do Norte passara a viver de sua exportação. As rendas
internas antigamente suficientes, eram frações na receita geral.
A República trouxera despesas gerais obrigatórias e que não
existiam no Império. A Província não pagava ao seu Presidente,
Chefe de Polícia, vigários-colados e tinha verbas normais para
outros gastos. O Estado devia prover-se. Assim, em 1899, a
exportação marítima respondia pela mais alta porcentagem tribu­
tária, com 634:513$397, quando a renda interna, soma de todos
os dízimos, gado, pescado, imposto de giro comercial/ novos e
velhos direitos, transferências de contratos, transmissão de proprie-
— 388 —

dades, produtos de leilões de salvados, ia a 391:050$700. E não


se inclui na conta a exportação pelas barreiras, rendendo..........
50:817$470 nesse 1899.
As fontes tributadas são as mesmas, mas o tempo ampliou as
áreas de produção.
As “mensagens” abordam os problemas econômicos, desobstru­
ção do vale do Ceará Mirim, selecionamento do algodão (que o
governador Alberto Maranhão denominava em 1912 o nosso mais
importante produto de exportação, pelo valor que já representa na
receita atual), açudagem, transportes, aproveitamento dos vales
úmidos para cereais, usinas para a produção padronizada do açúcar
no centro da zona produtora, máquinas para a agricultura, indus­
trialização da pesca, expansão do sal, defesa organizada e sistemá­
tica contra as conseqüências das sêcas, poços tubulares, estradas
de rodagem, ampliação da rêde telegráfica e postal, eficiência nos
métodos de fiscalização e arrecadação de impostos, etc.
Durante os séculos XVII, XVIII e parte do XIX a pecuária
reinou sozinha, quase, cedendo apenas nos últimos dois decênios à
indústria açucareira uma parte do trono.
O século XX pertenceu ao algodão, ano a ano em marcha
as:ensional para a primeira renda orçamentária nos cálculos da
receita. O sal ocupou, várias vêzes, o segundo pôsto.
Êsses produtos exigiam o impossível no Rio Grande do Norte:
— um regime regular de chuvas. As longas estiagens matavam o
algodão e conservavam o sal mais puro nos aterros, depurando-o
das impurezas. Nas grandes invernadas, as salinas desapareciam na
enxurrada e os algodoais aproveitavam o poder d’água do céu.
Nessas épocas, sêca e inverno, recorre o povo às indústrias impro­
visadas e naquele tempo efêmeras, extração de minérios, carnaúba,
:uja produção se torna metódica e valorizada embora com raros
replantios racionais.
O algodão veio subindo sem solução de continuidade. Subida
enta quando a sêca o surpreendia. Raramente o preço estava rela-
.ionado às safras. Na guerra de 1914-18 tivemos a sêca de 1915,
natando esperanças de ganhos para a exportação pedida. O
ireço, entretanto, sanou as amarguras pessimistas. . .
Quilos Rs.
1914 ........ ........................ 5.381.266 3.286:404$665
1915 .... ........................ 5.460.624 4.318:663$900
1916 ........ ........................ 4.350.489 8.220:716$610
1917 ........ ........................ 8.674.848 2O.131:26O$897
1918 ........ ........................ 9.137.714 29.897:298$100

n 1919 o algodão voltou à casa dos cinco milhões.


no sêco, continuando nos 5.283.017 em 1920. Em 1921 pulou
390
depois. Essa constância demográfica não apenas explicável pelas
elevadas taxas da natalidade sertaneja, dever-se-á à substituição
do ciclo pecuário pelo ciclo do algodão, como depois de 1942 o
ciclo da mineração, culturas eminentes fixadoras.
A economia norte-riograndense atinge a fase da industriali­
zação há tempo recente. Fase inicial, tateante e experimentadora.
Terra do algodão, não possuímos uma fábrica de tecidos (junho
de 1952) e a única que tivemos, inaugurada a 21 de junho de 1888
(9), desapareceu em 1925.
Do açúcar tínhamos em 1942 três usinas, duas no Ceará-
Mirim e uma em Arês (Estivas) e cêrca de 97 engenhos, divididos
pelo Ceará-Mirim, 25, Goianinha, 17, Papari (Nisia Floresta), 9.
S. José de Mipibu, 9, S. Gonçalo (Felipe Camarão), 14, Arez,
5, Macaíba, 2, Pedro Velho, 3, Canguaretama, 13, além de outros
menores.
Os óleos vegetais mereceram fábricas em Mossoró, Fernando
Pedroza, Baixa Verde. Assim fábricas de mosaicos, cortumes,
artefatos de ferro forjado, além das seculares fabricações de selas,
a cerâmica cabocla, etc.
Com cem anos de percurso a receita do Rio Grande do Norte
veio de 11:276$524 para 18.799$203$500 ! Representa um percurso
de incrível valimento social. É terra assaltada pelas sêcas, com
sua economia dependendo de soluções climatéricas, sem o recurso
humano da emigração estrangeira, sem auxílios de capitais fecun-
dadores, auxiliada, nas horas de cataclismas, pela política de conta-
gota do Govêrno Federal, sujeita às interrupções de serviços ina­
diáveis e somente válidos pela sua continuidade, graças às faltas
de verbas federais habituais despachos para os Estados pequenos
e desajudados de petróleo e de pulmões atroadores.
O Comércio tomou impulso na segunda metade do século
XIX. Desde 1811 os natalenses sugeriam a criação de uma casa
comercial, com capitais fortes, destinada a desenvolver o intercâm­
bio dos produtos com as praças vizinhas e mesmo com, o estran­
geiro .
Uma das mais antigas que tivemos, de maior projeção, foi
a que Johan Ulrich Graf e seus irmãos, cidadãos suíços, fundaram
em NataL pelos fins da década de 1860-70; comprando algodão,
açúcar, pau brasil, tatajuba, etc. Ainda em 1872 era a Casa Graf
a única a realizar a importação direta, no valor de 140:000$.
Transferiram-se posteriormente para Mossoró, deixando em Natal
a filial, depois fechada em 1873. Em Mossoró Graf deixou vestí­
gios de sua operosidade prestante, batendo-se pela organização de
uma estrada de ferro do litoral para o rio S. Francisco, obtendo
essa concessão, Dec. Provincial 5.561, de 26 de fevereiro de 1874,
caducando por falta de auxílios financeiros.
389

para 10 milhões. Doze milhões em 1922, descendo para 9,6 e 9


nos très anos posteriores, indo all milhões ein 1926. Em 1936
exportaya-se o volume de 19.972.001 quilos. O sal colara o
segundo lugar na contribuição tributária para a receita: — ....
307.165,663 quilos, rendendo os direitos 1.836:709$440. São as
duas constantes econômicas.
Para o sal, agora com um instituto técnico (8) a União se
associava amplamente, usufruindo o triplo sem os encargos da
administração estadual. Aqui está um índice. De 1915 a 1926 o
Estado recebeu 10.747:390$624 de impostos quando a União arre­
cadara 35.329:534$830 sôbre os mesmos 1.769.906.533 quilos
de sal (*).,
Numa 4<exposição” ao Presidente da República, em outubro
de 1935, escrevia o Interventor Mário Leopoldo Pereira da Câmara:
— Êsse imposto (imposto de consumo federal) é presentemente
de 22$000 por tonelada, isto é, de 55 •% do preço atual de venda
do produto nas salinas potiguares. Foi criado em 1901, quando
Ministro da Fazenda o Dr. Joaquim Murtinho, e já produziu
para o erário federal quantia superior a 90 mil contos de réis.
Entretanto, os portos que concorreram para essa avultada arreca­
dação não receberam, até hoje, nenhum benefício do Govêrno
Federal, estando cada vez mais obstruídas as suas barras e lutando
até com dificuldade para transpô-las as embarcações de pequeno
calado que transportam o sal, o algodão, o gesso, a cera de car­
naúba e outros produtos, de terra para os navios fundeados a 10
milhas do pôrto, no lamarão.”
O algodão atingiu o primado da exportação, artigo ímpar, pelo
cuidado que sua produção mereceu dos administradores norte-
riograndenses ao redor de sua fixação e defesa dos tipos.
A pecuária assumiu os aspectos modernos pela aquisição do
gado estrangeiro para melhoria dos rebanhos criolos. Espécimes
Red-Polled, Polled. Angus, Holandesa, Schwitz foram espalhados.
A preferência parece fixar-se no Zebu, adquirido os primeiros
reprodutores em Minas Gerais. Gabam sua robustez, resistência,
abundância de carne, â pior carne do mundo, excelente razões para
os fazendeiros e penitência para o consumidor, saudoso das carnes
de sol de outrora para as quais o Zebu, enriquecedor de criadores,
é um pesadelo e uma opressão.
Em 1920 tínhamos 232.919 moradores no sertão e em 1940
encontramos 351.136, sejam 43,39 em 1920 e 45,34, vinte anos
(*) O imposto do sal era arrematado. O último arrematante foi o Sindi­

cato de Salineiros Rio Grande do Norte por 50:000$ mensais. O governador

Ferreira Chaves extinguiu o «contrato do sal», Decreto 5, de 23-1-1914 (e Lei

365, de 28-11-1914).
— 391 —

A Lei n9 660, dc 11 de junho de 1868, com o fim de desen­


volver o comércio de Mossoró, concedia a isenção de 5 % aos
negociantes que ali se estabelecessem. Além de Johan Ulrich
Graf, apareceu a firma “Mossoró õ Cia”, em novembro de 1868,
pertencente ao depois Barão de Ibiapaba (Joaquim da Cunha
Freire, 1827-1907) com serviços ao desenvolvimento econômico do
município.
Em Natal, ou melhor em Guarapes, foi empório comercial a
casa fundada em 1859 por Fabricio Gomes Pedroza e que veio
até 1872 quando encerrou sua atividade, não por falência mas por
transferir-se seu chefe, enfermo, para o Rio de Janeiro onde faleceu
(1809-1872). Exportadora de algodão e de açúcar, com navegação
direta para a Inglaterra, muito fêz pela expansão provincial.

(II)
De 1943 a* 1952 afirma-se um movimento ascensional na eco­
nomia. Os minérios fixam populações e salvam a previsão pessi­
mista da arrecadação. A cheelita, com a exportação no valor
comercial de Cr$ 19.475.726,00 em 1943, desce para a casa dos
3 e 4 até mesmo Cr$ 665.135,00 em 1940, subindo, em 1950 e 1951
a Cr$ 13.958.254,00 e 17.988.513,00 respectivamente.
O gêsso mantém-se no nível dos 12, 18, 13, 19, 20 e 10 mi­
lhões de cruzeiros, nesses anos. Os demais minérios corresponde­
ram à estimativa (Ver quadros no ADENDO).
O algodão oscilou entre 17 e 23 milhões de quilos, descendo
em 1951 para 10. Em 1948, num pleno de 32.846.271, valia
comercialmente Cr$ 423.847.833,00, justamente quando se cobrou
o orçamento dos Cr$ 56.907.000,00.
Idénticamente o açúcar, com o valor mercantil de Cr$..........
460.897,00 para a safra mínima de 1943 e de Cr$ 486.089,00 para
os 710.570 quilos de 1944, ficou em 1, 2, 3, 5, 14 e 10 milhões até
1951 quando caiu para 199.673 quilos ño valor de Cr$ 714.375,00
(Ver quadro, açúcar e algodão, no ADENDO).
Os estabelecimentos industriais em. 1950 iam a 3.421.
Especialmente a partir de 1940 o agave (Agave americana, L)
intensificou seu cultivo no Estado, imitando-se modestamente o
exemplo da Paraíba que fôra pioneira nessa cultura. Era previsto
em 1951 uma safra entre oito a dez milhões de quilos de fibras.
Certamente o problema econômico no Rio Grande do Norte
tem uma base permanente no escoamento das pequeninas finanças
para aquisição de utilidades imediatas. A alimentação ainda está
subordinada à importação. O povo compra fora do Estado 92 %
do arroz, 58 % do feijão, 78 % da farinha indispensáveis. Feliz
— 392 —

o govêrno que reduzir ao mínimo essa dolorosa evasão na finança


humilde do povo.
Um ato digno de registe é o levantamento agro-geológico e a
pesquisa geofísica no território norte-riograndense, contratado pelo
governador Sílvio Piza Pedrosa em 13-3-1911 com a Sociedade
Civil de Engenharia Química e Agrícola Ltda de S. Paulo em que
é técnico o Sr. Paulo Vegeler, edafologista. Êsse levantamento
localizará, fora do empirismo palpiteiro, as culturas apropriadas às
peculiaridades edáficas e ecológicas regionais.
NOTAS AO CAPÍTULO DÉCIMO-QUINTO

(1) «AUTO DA REPARTIÇÃO DAS TERRAS DA CAPITANIA

DO RIO GRANDE DO NORTE», RIHGRGN, VII, 1909, Natal.

(2) A identificação dessas salinas e sua história foram estudadas mais

demoradamente no meu GEOGRAFIA DO BRASIL HOLANDÊS, ed. José

Olímpio, Rio de Janeiro.

(2) «Ofícios dirigidos à Metrópole pelo Senado da Câmara de Natal

em que pede a independência da Capitania do Rio Grande do Norte»,

RIHGRGN, VII, 1909, NataL

(4) Ver no ADENDO o documento na íntegra.

(5) Ver no ADENDO o documento na íntegra.

(6) Ver no ADENDO o documento na íntegra.

(7) Felipe Guerra e Teófilo Guerra, SECCAS CONTRA A SECCA,

26, e segs. Rio de Janeiro, 1909.

(8) Ver Dioclcdo D. Duarte, «A Indústria Extrativa do Sal e a sua

importância na economia do Brasil», Serviço de Informação Agrícola do Minis­

tério da Agricultura. Rio de Janeiro, 1941.

(9) Autorizado o Presidente da Província a contratar o estabelecimento

de uma fábrica de tecidos (Leis n9 732, de 9-8-1875 e n9 773, de 9-12-1876)

foi assinado o contrato com Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão a

4-1-1877, que o transferiu ao seu genro, Juvino César Paes Barreto. Posta

a primeira pedra a 24-5-1886, foi a Fábrica de Fiação e Tecidos Natal inau­

gurada a 21-7-1888, com 48 teares, 1.600 fusos, ocupando 80 operários. Juvino

Barreto faleceu em 1901 e sua Fábrica, de proprietário em proprietário, parou

e foi vendida a aparelhagem para o Pará. Durante sua gestão deu ganhos

notáveis, sendo uma organização modelar, com escola, médico, assistência eco­

nômica aos operários. Ao desaparecer, a Fábrica aumentara em muito suas

instalações.. Foi a primeira e até junho de 1952 a única no Estado. Resta

apenas, como um pilone marcando o túmulo de rei, a chaminé inútil te simbó­


lica. Sôbre a figura impressionante de Juvino Barreto ver ACTA DIURNA,

Sêu Juvino, A REPUBLICA, 30-1-1940, Natal.

w
1808
REGISTRO DE UM OFICIO QUE A CAMARA DIRIGE A S. ALTEZA
REAL

Senhor. O Senado da Camara da Cidade do Natal, Capital da Capitania


do Rio Grande do Norte, com o devido acatamento Beja a Augusta e Poderosa
Mão de V. Alteza Real, e, sendo obrigado a promover o bem do Povo e
andamento do Imperio de V. Alteza Real, xeio da mais sencivel admiração,
— 393 —

vê com prazer que na feliz vinda de V.A.R. a este novo Mundo vieram as
artes, as ciencias, e tudo quanto faltava ao grande Brazil para poder vir a
fazer mais opulenta figura no Oniverso. Para adiantar esta Epoca, conside­
rando que a Capitania do Rio Grande do Norte é uma parte integrante do
Rio Brazil, se lhe deve perparar os caminhos mais breves de xegar a grandeza
pocivel, da qual resulte beneficio ao Povo, grandeza, riqueza e fortaleza ao
Império de V.A.R.; este é o nosso fim, pelo que, fiados na Paternal bondade
de V.A.R. Levamos com o mais profundo respeito as nossas vozes até o
Real Trono dizendo — Que esta cidade tem um porto capaz de recolher um
grande numero de armadas, bondade conhecida no século décimo cexto, quando
na barra se fez uma Fortaleza, que, suposto ainda exista, não sendo bastante
para a sua defeza, se lhe fez outra este anno de 1808 — Que todas as embar­
cações, navegando pela costa do Brazil do rio dos Amazonas a Baia de todos
os Santos, lhes é fácil a navegação do dito rio para o sul até a este porto, onde
diariamente entram e se demoram té terem menção de continuarem a navegação
para baria vento, servindo egualmente este porto de azilo comum a todas as
embarcações que navegam na mesma costa do Sul ao Norte, sendo acuçadas
de máo tempo; o qúe se prova pellos muitos factos acontecidos nos nossos dias
e outros que nos tem sido transmitidos — Que, lançando a vista sobre a posição
Geographica do porto desta cidade, vemos que lhe ficam ao Norte as duas
capitanias g.eraes, Maranhão e Pará, e outras pariculares, e ao Sul Pernam­
buco e Baia e. outras subalternas, e em nenhua délias se vê um porto capaz de
recolher uma Não de linha, o que pello contrario se admira neste, que, alem
de ser para mentos Néos, tem de mais a singolaridade de um abrigo tão pacifico
que qualquer Vaso por maior que seja se segura pela mais debil amarração.
A bondade deste porto com as mais circumstancias expendidas provam eviden­
temente que a segurança mais solida das capitanias mensionadas dependem
muito de sua concervação; o meuio porem de concervar é dar-lhes forças taes,
que as Nações as respeitem: Mas se podem conceguir bem que sejam onerozas
a V.A.R., fazendo cultivar as muito boas terras desta Capitania, e fazendo
armar grandes pescarias para aproveitar o innumeravel peixe que á por toda
a costa da Capitania, Senhor, a agricultura e pescaria tem sido e são as bases
alimentares da grandeza das Nações, pelo que também podemos esperar o
sejam da grandeza desta Capitania: para conceguirmos também é perciso
dar-lhe outra direcção ao Governo, Justiça a recadação das rendas Reaes, ao
Çommercio, e em fim destruir todas as cauzas que té agora tem feito o atraza-
mento da mesma Capitania, quaes são as seguintes — O ser esta Capitania
sujeita a de Pernambuco pello que estes Povos padecem muito nas delongas
das suas .dependencias Civis, politicas Militares, e comerciaes, pois todas ellas
necesitão de passar pelo obliquo caminho de Pernambuco para xegarem ao
Trono Real Tribunaes Regios, e Praça do Comercio da Corte, de sorte que
todos os generös de comercio vindo ou indo desta Capitania para a Metropo7e
Nacional pagam dois riscos, dois fretes, e duas comições, emquanto os de
Pernambuco pagam só um risco, um frete e uma comição — O ser o Erario
desta Capitania sujeito ao de Pernambuco, por cuja cauza se arrematam em
Pernambuco os Dizimos desta Capitania em grande ramos aos moradores da­
quela, o que cauza grave prejuizo. aos moradores desta, pois os lucros que
aqueles tiram são filhos dos suores e trabalho destes, pello que lhes ficam
desanimados e innabilitados de poderem- continuar com mais vantagens os seus
trabalhos, de que se segue o prejuizo geral, de sorte que a massa da riqueza
da Capitania vai diminuindo da mesma razão que podia augmentar; a isto
acresce o grave prejuizo da Fazenda Real, o gue se faz incrível só pela conci-
deração dè ser pequeno o numero de omens abelitados para rematarem os
Dizios em grandes ramos, sendo ao mesmo tempo maior o numero daqueles
que os podem rematar em pequenos ramos. O Ouvidor da Capitania da Paraiba
é quem administra a Justiça aos moradores desta, e por isso e’les quando tem
— 394 —

questões judiciaes a dicidir deixão suas casas e lavouras e caminham as vezes


mais de oitenta Léguas vão a Paraiba decidil-as, de que resulta pobreza aos
particulares, á Capitania, e ás Rea es Rendas. — O perderse todos os annos
nesta Capitania, grande quantidade de sal nas salinas feitas pela natureza,
onde a mesma natureza sem auxilio dá arte produz anualmente tão grande
porção que bem aproveitado seria uma fonte de riqueza. — O não se ter
aproveitado o muito peixe que á na costa desta Capitania, porque só vem
percarem em pobres jangadas e o maior numero délias é das capitanias de
Pernambuco, Paraiba e Siará, e mesmo nesta tão exiguas embarcações pescam
com toda segurança de verão desde a Baia formosa, principio desta Capitania ao
Sul, até o porto dos Toiros e de inverno o fazem com egual segurança dalli
até Mossoró limites da mesma Capitania ao Norte, tal abundancia de peixe
que depois de fartar de todo este povo o exportam seco annualmente em tal
quantidade que se pode avaliar pelos preços da terra em reis setenta contos.
Ora se pescando-se com taes embarcações faz-se tal exportação, grande
exportação se faria ese a pesca se fozece em embarcações grandes e proprias
para pesca, do que certicimamente rezultaria ao Estado e a V.A.R. muitos
intereces sendo, maior de crear marinheiros abeis para tripular as embarcações
Reaes quando a percisão o pedice. — O não a ver aqui uma casa de negocio
com fundo capaz de prestar a credito por alguns anos todos os generös percisos
para os Lavradores adiantarem a Agricultura: — O não vir a este porto
embarcações com escravos para vender, pois ainda que esta Capitania tem
cincoenta mil almas contudo é muito diminuto numero este em rasão da suá
vastidão de terras.
' Em atenção as expostas causas da decadencia da Capitania, para satisfazer
o fim a que nos proposemos, pedimos a V.A.R. que faça esta Capitania
independente, dando-lhe logo um Erario independente do de Pernambuco.
Um Ouvidor, emfim que fique no mesmo pé em que V.A.R. foi servido por
a do Sears; que os Dizimos desta Capitania sejam rematados em pequenos
ramos no seu respectivo Erario, tendo preferencia ria arrematação os morado­
res delia; Que estabeleça a’gum premio onorifico para quem exportar anual­
mente mais de vinte mil alqueires de sal, e também para quem empregar maior
numero de embarcações de quilha na pescaria do peixe da costa desta Capi­
tania; Que perdoi a redizima a que está sujeito o peixe seco exportado desta
para outra Capitania; Que conceda a esta Capitania as mesmas graças e
faculdades que tiver concedido, ou aja de conceder á Capitania de Pernambuco
relativas ao negocio Nacional Estrangeiro estabelecimento das cazas de negocios
estrangeiras; Que perdoi por tempo de dez anos os mais direitos dos generös
importados, e exportados desta Capitania da mesma sorte que V.A.R. foi
servido fazer mercê a Capitania do Seará; Que mande que todos os generös
exportados, e emportados para o Brazil nas embarcações Nacionaes Brazilienses
pagem metade dos direitos daqueles que pagarem os exportados, e importados
nas embarcações Estrangeiras; Que reserve só para as embarcações nacionaes
Brazilienses a exportação do açúcar bruto, ficcando livre aos estrangeiros
toda a exportação dos mais generös, e do açúcar refinado, uma vez que as
circumstancias tem feito este genero quasi privativo no Brazil, emquanto
durarem devemos julgar que o dito genero terá sempre grande consumo, e
entretanto irá ficando no Brazil o produto das refinações, que si fizerem e o
importanticimo aumento da marinha para conduzir o açúcar bruto; Que conceda
por tempo de dez anos a primeira casa Nacional de negocio que aqui se
estabelecer, a qual mostre ter de fundo duzentos contos de reis, empregados no
comércio desta Capitania, o previlegio de uzar do executivo Real para cobrar
as suas dividas que tiverem quatro anos, ou mais de contraidas; Que para
terem feliz éxito todas as graças que temos suplicado é de primeira necessidade
que V.A.R. faça mercê de dar a esta Capitania o maior numero pocivel de
braços. A sabia Politica mostra muitos caminhos por onde se conduzam a
— 395 —

virem viver neste dilicioso clima Braziliense os omens que a fatalidade tem
feito nascer em ásperos climas e ainda também aqueles que em amenos climas,
vivem debaixo de pesado jugo. Nós só por por ora nos lembramos dos pretos
que podem vir em grande numero adiantar a agricultura deste Paiz, por isso
Pedimos a V.A.R. perdoi todos os Direitos daque’es que vierem vender nesta
Capitania da mesma sorte que V.A.R. faz mercê a Capitania do Pará.
Augusto Senhor Nosso, nós em outubro de 1807 rogamos ao nosso
Governador José ' Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque puzece na
Augusta presença de V.A.R. muitas das suplicas aqui expendidas» e porque
as evoluções do mundo politico, e o fedelicimo respeitoso amor que consagramos
a V.A.R. nos impele a fazer tudo quanto acabamos de expor; de mais
conhecendo nós com poca ou nenhua sabedoria, por isso proseados deanfe do
Trono Real com joelhos em terra, e vista baixa pedimos a V.A.R. perdão dos
nossos involuntarios erros e que defira as nossas suplicas, fazendo-nos todas
as mercês que pedimos só assim conceçuiremos o fim a que nos propuzemos;
pelo que nós e todos os abitantes desta Capitania agradecidos rogamos issen-
çantemente a Divindade Suprema aum,ente os dias da preciosa vida de —
V.A.R. enxendo-os tod*» maxima prosperidade.espiritual e temporal Cidade
do Natal em Veriação de 30 de abril de 1808. De V.A.R. Vaçalos obedientes
e leaes Antonio da Rocha Bezerra. Lourenço de Araujo Correia, Luis José
Teixeira, Manoel Soares Raposo da Camara. Manoel Jose Teixeira. E não
se continha mais em dita carta, que aqui registrei da propria. Cidade do Natal
— 28 de Junho de 1809.
Eu, Manoel Jose Moraes, Escrivão da Camara, o escrevi.

(Do Livro de Registro de Cartas e Provisões do Senado da


Camara do Natal de 1807 por deante á pag. 71. v.)
— Vai com a ortographia do proprio original.

CRIAÇÃO DA ALFÂNDEGA EM NATAL PELO GOVERNADOR JOSÉ


INACIO BORGES EM 1817
Ofício para tôdas as Comarcas desta Capitania

Havendo os funestos e destetáveis acontecimentos, que tiveram lugar na


Vila de S. Antônio do Recife na tarde do dia seis desligado esta Capitania
da condição de subalterna, em que estava ao/Govêrno daquela, como já fiz
certo pelo meu Edital de treze, tenho determinado estabelecer no pôrto desta
Cidade, em conformidade da Carta Régia de vinte e oito de janeiro de mil
oitocentos e oito, e decreto de dezoito de Junho de mil oitocentos e quatorze
uma Alfândega para nela se receber, e serem despachadas, as fazendas, e
generös da Europa, conduzidos em navios Nacionais ou Estrangeiros, que
vierem aos portos desta Capitania, e quiserem comerciar, pagando os Reais
direitos, que estão determinados pelas Ordens de Sua Majestade. Na mesma
Alfândega se despacharão os efeitos da terra, que embarcarem por troca, ou
compras naqueles Navios, com quem se fizer o comércio, satisfazendo-se no
ato da sua saída os subsídios e dízimos, que estão determinados. Com esta
medida, e declaração que fiz no meu edital de treze ficarãos os habitantes
dessa.Vila na inteligência de não dirigir os seus efeitos a outra parte, que não
seja aos armazéns desta Cidade, a esperar nêles a sua venda. O que V. Mees
farão cientes por editais, transcrevendo esta minha ordem, afixada nos lugares
mais públicos do distrito dessa Vila. — Deus guarde a V. Mees. Cidade do
Natal, 16 de Março de 1817.
José Inacio Borges.
— 396 —

DECRETO DE D. JOAO VI CRIANDO A ALFÂNDEGA DE NATAL

Decreto áe 3 de Fevereiro de 1820. Crea uma Alfândega na cidade do Natal,


capital da Provincia do Rio Grande do Norte
Não tendo a Província do Rio Grande do T>îorte gozado até o presente
da franqueza do comércio, que em benefício comum dêste Reino tenho geral­
mente concedido, por não haver nela uma alfândega, em que se arrecadem e
fiscalisem os direitos que* devem pagar os generös por entrada e saída, sendo
por isso obrigada a transportá-los, para os comerciar, a Pernambuco, como
logar de maior concurrência de compradores, e da mesma praça se provia
do que necessitava para o seu consumo, com despeza de transporte de uns e
de outros, que sendo economisadas podem engrossar a soma de seus cabedais,
e ser útilmente empregadas em fazer prosperar a sua indústria; E quereúdo eu
conciliar o interêsse geral daquela Província e de seus habitantes com os da
minha Real Fazenda; Hei por bem crear na Cidade do Natal, Capital da
mesma Província, uma Alfândega para os despachos de todos os generös
permitidos de importação, ou exportação, a qual será composta de um Juiz,
qué será o ouvidor da comarca, um tesoureiro, um feitor, um Porteiro, e dous
guardas, e se regulará em tudo pela Alfândega de Pernambuco. O Conselho
da Fazenda o tenha entendido, e faça executar com os despachos necessários.
Palácio do Rio de Janeiro em 3 de Fevereiro de 1820. Com a rubrica de
Sua Majestade.

PANORAMA DO COOPERATIVISMO NO RIO GRANDE DO NORTE


Juvino dos Anjos

um pouco de historia

Coube ao município de Mossoró, a fundação da primeira cooperativa no


Rio Grande do Norte, no ano de 1915, vindo a ser instalada em janeiro de
1916, sob a denominação de «Mossoró Novo», sendo o empreendimento de
iniciativa do farmacêutico Tércio Rosado Maia.
«Entretanto a semente não germinou. Caiu em terreno sáfaro e entre
cardos. Não criou raízes», conforme expressão do desembargador Felipe
Guerra, que participou da diretoria dessa Cooperativa e foi o seu .historiador.
Em 25 de setembro de 1925, com a fundação da Caixa Rural de Ceará-
Mirim, pelo Dr. Heráclio Vilar Ribeiro Dantas, jurista, sociólogo e católico
fervoroso, iniciou-se a fase do cooperativismo potiguar, que chegou até os
dias atuais, tendo sofrido alguns reveses parciais, mas, progredindo, sempre,
no movimento geral.
Uma das razões que permitiram êsse movimento iniciado em 1925, ter
alcançado em condições mais ou menos satisfatórias, a Assistênci aoficial ins­
tituída em janeiro de 1938, com a criação da Comissão de Assistência ao
Cooperativismo, órgão consultivo e a Seção de Cooperativas, órgão executivo,
foi o cunho de organização que lhe foi imprimido desde o comêço, notada-
mente, depois da fundação da Caixa Rural e Operária de Natal, instalada a
1 de dezembro de 1926. A idéia lançada por D. Antônio dos Santos Cabral
em uma reunião da Congregação Mariana de Moços em 1919. encontrou pouco
entusiasmo naquela época e sômente sete anos depois, foi concretizada.
O Cooperativismo no Rio Grande do Norte, teve no seu início a forma
confessional, tendo surgido sob o patrocínio de soda1ícios católicos e merecido
todo desvêlo dos bispos da Diocese de Natal, a única do Estado, naquele
tempo.
397 —

Dom José Pereira Alves, que foi cognominado no sexto Congresso de

Crédito, realizado no Rio de Janeiro, o «Bispo do Cooperativismo», antes

de deixar a Diocese por ter sido nomeado Bispo de Niterói, por Decreto n.° 8,

de 19 de Março de 1928, instituiu a Comissão Central de Cooperativismo de

Crédito.

Para presidente da Comissão Central de Cooperativismo foi escolhido

o Dr. Heráclio Vilar, para seu assistente esclesiástico — Monsenhor Alves

Landim e para seu órgão técnico a Caixa Rural e Operária de Natal, cujo

president^ Professor Ulisses de Góis, sendo emérito contador, muito contribuiu

para a organização contábil e padronizada das Caixas e Bancos Rurais que

iam surgindo, graças a propaganda desenvolvida pe’os membros da Comissão

Central de Cooperativismo, em excursões pelos diversos municípios do Estado.

A Caixa Rural e Operária de Natal, tornou-se além de órgão técnico, o

órgão financiador das Caixas Rùrais que se criavam.

Heráclio Vilar, Ulisses de Góis, Ricardo Barreto, Vital Joreií, Pedro

Silva e José Borges de Oliveira, foram os paladinos dessa fase do Coopera­

tivismo no Estado.

Com o falecimento de Heráclio Vilar em 12 de junho de 1931, assumiu a

presidência da Comissão Central de Cooperativismo de Crédito o Dr. Ricardo

Barreto, porém a liderança do movimento dessa data até hoje, passou às mãos

do professor Ulisses de Góis.

No govêrno Rafael Fernandes, sendo Diretor do Departamento de Agri­

cultura o Dr. Dioclécio Duarte, grande adepto do Cooperativismo, foram

criadas a Seção de Cooperativas do Departamento de Agricultura, Viação e

Obras Públicas e a Comissão de Assistência ao Cooperativismo, sendo nomeados

seus membros os componentes da Comissão Central de Cooperativismo de

Crédito, que se extinguiu substituída pelos novos órgãos.

Desde o início da fase do Cooperativismo organizado, que teve como ponto

de partida a fundação da Caixa Rural de Ceará-Mirim, o Rio Grande do

Norte, tomou parte ativa no movimento cooperativista brasileiro, fazendo-se

representar nos diversos Congressos de Crédito que se realizaram, onde a

cultura, inteligência de seus filhos, como o Dr. José Ferreira de Souza, tiveram

atuação brilhante.

A REVOLUÇÃO SOCIAL E FINANCEIRA DO MOVIMENTO NOS ANOS DE 1931 A 1937

A ação desenvolvida pela Comissão de Cooperativismo de Crédito, criou

um clima propício* ao desenvolvimento do Cooperativismo. Tenho conhecimento

graças a sua atuação, direta ou indireta, da fundação de 24 cooperativas,

sendo :

17 caixas rurais

4 bancos rurais

1 banco de crédito popular

1 caixa de crédito operário

1 cooperativa de consumo de funcionários públicos

24

Algumas destas cooperativas não chegaram a entrar em funcionamento.

Um balancete geral, publicado pela Comissão Central de Cooperativismo

de Credito, em dezembro de 1931, apresenta o movimento de 17 cooperativas.

Nesse balancete colhi os dados que mais interessam a êste trabalho, fal­

tando o número de sócios que não constava do referido balancete. Êsses

dados são os seguintes:


— 398 —

DEZEMBRO DE 1931
Cooperativas Associados Capital Depósitos Mov. Geral
Caixas Rurais ....................... 11 1.314:537$120 1.399:205$650
Caixas Operárias ................. 2 — — 134:379$020 135:967$310
Bancos Rurais .......................____ 4 — 182:950$000 40:757$820 259:494$750

Totais .............................. ____ 17 182:950$000 1.489:637$960- 1.764:667$7l0

Quando foi criada a assistência oficial, no ano de 1938, por intermédio da


Seção de Cooperativas do Departamento de Agricultura, hoje Divisão de
Cooperativismo do Departamento de Assistência aos Municípios e Coopera­
tivismo, a situação era esta :
Cooperativas Associados Capital Depósitos Mov. Geral
Caixas Rurais ............................. 9 2.330 — 3.998:266$030 4.816:208$390
Caixas Operárias ....................... 1 110 — • 48:581$120 53:264$310
Bancos Rurais ............................. 1 259 49:650$000 137:778$450 230:633$400
Banco de Crédito Popular .... 1 459 75:844$000 18:677$400 • 118:690$200
Coop, de Consumo.................... 1 500 9:345$000 — 270:482$650

13 3.568 134:839$000 4.203:303$000 5.489:278$950

Durante os sete anos que mediaram entre os dados do primeiro para o


segundo quadro, houve aumento do movimento financeiro e redução do número
de unidades cooperativas que sofreu as seguintes mutações:
Número de cooperativas em 31-12-1931 — 17
Menos: Cooperativas extintas no período*.
Caixas de crédito operário de Anchieta e Ale­
crim, em Natal ................................................ 2
Caixas Rurais de Mossoró, Caraúbas e Santana
do Mato ........................................................... 3
Bancos Rurais de Macau e Acari ...................... 2
Banco Popular e Agrícola de Santa Cruz .. 1 8
Cooperativas restantes .............. ........................... 9
Mais: Cooperativas fundadas no período*.
Caixa Rural de Alexandria .............................. 1
Caixa de Crédito Operária Natalense (Não con­
fundir com a Caixa Rural e Op. de Natal já
existente desde 1926) .......... ..................... 1
Sociedade Cooperativa dos Funcionários Públicos
do Estado (Consumo) ................................ 1
Banco dos Auxiliares do Comércio ............ .. 1 4

13
Total das cooperativas existentes em 1-1-38.

A Caixa Rural e Operária de Natal desempenhava com abnegação ,através


da ação do seu presidente e dos seus funcionários, a função de órgão técnico
da Comissão Central de Cooperativismo de Crédito, mas, estando ainda em
formação, não podia dispor de um eficiente corpo de Inspetores, que prestassem
assistência e controlassem o movimento das Caixas Rurais e Bancos que iam se
— 399 —

fundando e se hoje ainda é difícil encontrar-se pessoas capacitadas para encar­


regados de escrita das cooperativas, imagine-se a situação uã anos passados.
São estas algumas das razões do fracasso dessas cooperativas, além da falta
de educação e compreensão cooperativista da época.

Éfeitos da Assistência Oficial

A Seção de Cooperativas do Departamento de Agricultura, foi criada de


modo precário, sem quadro próprio, designando o Govêrno funcionários de
outras Repartições para servirem nela. Compunha-se de um Chefe, um 2.° Ofi­
cial e uma dactilógrafa.
Depois, em fevereiro de 1938, foi contratado um contador que é o rabiscador
destas linhas. Em 1939, foi organizado o seu quadro regular, embora insuficiente
para as suas atribuições.
O primeiro Chefe da Seção de Cooperativas, denominada depois Divisão
de Cooperativas, Professor Francisco Veras Bezerra, dirigiu-a com dedicação
e competência até o ano de 1947.
No fim de 1938, o primeiro ano da sua gestão» o movimento já apresentava
a seguinte situação :

Cooperativas Sócios Capital Depósitos Mov. Geral


Caixas Rurais ............ 9 2.374 — 3.959:966$030 4.820:933$360
Banco Popular ............. 1 459 85:440$000 12:665$700 145:240$4C0
Banco Rural ................ 1 258 50:400$000 102:713$550 258:950$000
Agro-Pecuárias ............ 4 296 52:900$000 5:255$800 91:308$200
Consumo ....................... 1 500 12:440$000 287:411$640

16 3.887 201:180$000 4.080:601$080 5.603:843$600

Ao quadro supra, deve-se juntar o Financiamento do Estado na impor­


tância de 195:000$000 e o Estoque de Mercadorias da Cooperativa de Con­
sumo 54:596$700.
Comparando-se o quadro acima com o anterior, verifica-se que o movimento
foi beneficiado com o aumento de 4 Cooperativas Agro-Pecuárias, reunindo 296
associados e prejudicado pela falta da Caixa de Crédito Operária Natalense,
com 110 associados, que fracassou, cóm um desfalque cuja responsabilidade,
apesar do inquérito policial, ficou entre o Presidente a Gerente em virtude de
ambos terem chaves do cofre e cada um, atribuir a culpa ao outro.
O Professor Francisco Veras Bezerra dirigiu a Divisão de Cooperativas,
até fins de 1947, afastando-se por motivo de saúde e vindo a falecer em 17
de março de 1948.
Sendo o Cooperativismo uma «Democracia Econômica» a volta do Brasil
ao regime democrático fêz alimentar no espírito dos cooperativistas, grandes
esperanças que pouco a pouco vão se transformando em desilusões.
O primeiro requerimento apresentado na Assembléia Constituinte do Rio
Grande do Norte, foi um pedido de informações do deputado José Xavier da
Cunha, sôbre o Movimento Cooperativista do Estado.
O Professor Francisco Veras Bezerra deu resposta completa e documen­
tada, em 14-8-1947, expondo a situação. Houve muitos debates, muitas críticas,
achando-se deficiente a sua atuação, aliás injustas, pois com os meios de que
dispunha não podia realizar mais do que realizou. Nada porém de concreto
e útil para o cooperativismo potiguar, resultou da iniciativa ou dos debates
havidos na Assembléia.
— 400 —

Para demonstrar a situação do cooperativismo, no último ano da gestão


do Professor Francisco Veras Bezerra e o progresso resultante da mesma, vou
servir-me de elementos extraídos do quadro da «Situação Social e Financeira
das Cooperativas do Estado, em 30 de junho de 1947», incluído na Resposta
apresentada à Assembléia Constituinte:
Cooperativas Ns. Associados Capital Depósitos Mov. Geral
Agro-Pecuárias ........................... 33 7.568 2.018.220.00 3.739.384.00 9.100.787,40
Bancos Rurais . .*........................ 3 1.167 675.950.00 2.144.871.20 3.701.251.90
Banco Popular ............................. 1 874 485.500,00 949.268.40 1.-582.817,50
Coop, de Crédito....................... 1 120 52.000.00 55*. 841,70 157.578,80
Central de Crédito..................... 1 2.155 1.906.400.00 10.643.745,70 15.977.270.C0
Produção ....................................... 2 49 649.850.00 8.364,40 4.660.841,40
Consumo ......................................... 4 1.300 237.180.00 — 1.341.297.50

45 13.233 6.025.100.00 17.541.475,40 36.521.844,50

O capital acima, é o subscrito," do qual estava realizado Cr$ 5.635.832,80.


O Financiamento do Estado nessa data era de Cr$ 958.400,00.
Os fatos principais dêsse decênio, foram o Decreto n? x445, de 5 de março
de 1938. consolidando a legislação sôbre o assunto e dispondo sôbre financia­
mento, auxílios e isenções às Cooperativas. Nesse período, não foi criada
nenhuma Caixa Rural e as que existiam se transformaram em Cooperativas
Agro-Pecuárias, tendo a Caixa Rural e Operária de Natah se transformado
na Cooperativa Central de Crédito Norte Rio-grandense Ltda.
A fundação de Cooperativas em todos os municípios do oeste do Estado,
em razão da atuação do Dr. Jocelin Vilar, irmão do saudoso Herácio Vilar,
foi outro fato de importância que merece destaque.
A êsse tempo, Jocelin Vilar exercia a advocacia na zona oeste, viajando
pelos seus 10 municípios, constantemente £ de preferência a cavalo, tendo
coordenado os agricultores e criadores, dessa zona, para a fundação das suas
cooperativas.
O último fato de importância ocorrido na gestão Francisco Veras Bezerra,
foi a reestruturação da Comissão de Assistência ao Cooperativismo, mudando-se
a sua denominação para Conselho Estadual de Cooperativismo. Entretanto, a
reestruturação da Divisão de Cooperativas, de maior alcance para a assistência
e fiscalização do Cooperativismo, apesar de todos os seus esforços não foi
conseguido.
Assim me expressando não estou desmerecendo a obra do Conselho Estadual
de Cooperativismo, que, pelo concurso abnegado de seus componentes, muito
tem contribuído para o prestígio do cooperativismo no Estado. Mas à contri­
buição de seus membros depende mais das suas convicções cooperativistas do
que da denominação do órgão a que. pertencem e esta contribuição‘como Comis­
são de Assistência ao Cooperativismo, ou Conselho Estadual de Cooperativismo
seria dada do mesmò modo. Portanto a reestruturação e mudança de nome,
foi apenas uma reforma superficial, levada a efeito no Govêrno José Varela,
com o Decreto n9 727 de 25 de setembro de 1947.
No decênio a que venho me referindo, houve uma experiência de Coope­
rativismo Escolar, em 1939, com a colaboração da professôra pernambucana
Nair de Andrade, tendo sido fundadas 8 cooperativas escolares, sendo 5 nos
grupos tscolar.es da capital e 3 nos grupos escolares do interior. Estatísticas
levantadas com rigorosa exatidão na Divisão de Cooperativas, demonstraram
que embora houvesse artigos em que o lucro do Comércio excedia de 100%,
— 401 —

a média geral de diferença de pr.eço das Cooperativas para o Comércio er.


de 33%, em benefício dos escolares. Em razão de um mal entendido, essa
cooperativas suspenderam o funcionamento por determinação de uma portari;
do Diretor de Educação tornando-se depois difícil restaurá-las.
Para a vaga de Chefe da Divisão de Cooperativas, aberta com o faleci­
mento do Professor Francisco Veras Bezerra, em 17 de março de 1948, sur­
giram diversos candidatos de natureza política, estando entre os indicados um
irmão do Governador José Varela, o tenente Manuel Varela. Entretanto, o
Governador prestigiando o Conselho Estadual de Cooperativismo, nomeou, em
10-5-948, o candidato por êste indicado, que é o autor do presente trabalho, em
razão de estar identificado com o movimento do qual vinha participando desde
fevereiro de 1938.
O último quatriênio
A mudança de Chefe de Divisão, pouco alterou as normas pelas quais
vinha se orientando o Chefe substituído. A Divisão de Cooperativas cominuou
a contar com o concurso do Conselho Estadual de Cooperativismo, que no
plano estadual, para as providências junto ao Govêrno, em benefício do movi­
mento, tem ascendência sôbre a referida Divisão.
Logo no início da nova gestão, surgiu no cenário cooperativista do Estado,
na zona do Seridó, a figura de um grande bispo cooperativista, que sabendo
bem delimitar as zonas do temporal e do espiritual, procurou o apoio do
Conselho de Cooperativismo e da Divisão de Cooperativismo, para auxiliá-lo
na obra social que desenvolveu na sua Diocese, na qual o cooperativismo,
segundo seus planos, teria parte destacada. Êste bispo é Dom José de Medeiros
Delgado, da Diocese de Caicó, já hoje nomeado Arcebispo do Maranhão.
Da sua ação direta com a assistência da Divisão de Cooperativas, resultou
a fundação de três cooperativas: a Esco ar Diocesana de Caicó, a Central
Agro-Pecuária do Seridó Ltda. e do Crédito Agrícola de Cruzeta.
Interessando-se por tôdas as cooperativas da sua Diocese, exerceu sôbre
as mesmas, benéfica supervisão, estimulando seus diretores, comparecendo às
assembléias e orientando os associados, promovendo Semanas de Ação Católica,
e Semanas Rurais, onde o Cooperativismo merecia lugar distinguido, procurando
resolver os problemas do homem do campo por meio de cooperativas de pro-
duçãçí' tendo conseguido apenas, pelo seu apostolado, fortalecer mais as
cooperativas de crédito já existentes. O Cooperativismo no Rio Grande do
Norte, muito deve a Dom José de Medeiros Delgado.
Decorridos quatro anos de 1947 a 1951, a situação do Cooperativismo, pelos
últimos mapas levantados em 20 de dezembro de 1951,. mas referente aos
balancetes até junho do mesmo ano, é a seguinte:
Cooperativas Ns. Associados Capital Depósitos Mov. Geral
Agro-Pecuárias ..................... 35 9.433 3.254.965.00 6.982.485.50 <1.018.207.70
Bancos Rurais ....................... 3 1.618 1.393.950.00 5.363.886.60 8.601.490.50
Crédito Agrícola .................... 5 956 873.250,00 964.483.90 ;.111.081.50
Crédito Popular ..................... 2 134 167.400.00 * 199.536.80 477.342.40
Banco Popular ....................... 1 1.162 1.051.830.00 2.487.283.00 '.815.445.60
Central de Crédito.............. . 1 2.936 3.281.750.00 17.493.256.10 2°.248.480.10
Central Agro-Pecuário ... 1 166 233.720.00 128.622.70 470.254.30
Consumo ...................... ....... ... • 6 . 2.037 845.100,00 — 2.421.449.40
Produção ................................. 3 137 1.208.500.00 — 4.441.156.40
Escolares ................................. 5 1.258 ' 9.653.00 — 32.196.10

62 19.837 12.320.118.00 13.619.554.60 93.637.104.40


402 — I

Pela comparação dos diversos demonstrativos, verifica-se que o movimenta


tem progredido de maneira confortadora para os esforços dispendidos.
Um aspecto que merece ser salientado e a seriedade do cumprimento da
obrigação em relação à subscrição do capital. Com efeito, do capital subscrito
de Cr$ 12.320.118,00 está realizada a importância de Cr$ 11.016.467,90.
Outro aspecto a ser ressaltado é a forma livre que cada dia assume o
cooperativismo potiguar, apoiado mais nos recursos particulares, em razão da
confiança que vai merecendo do povo, do que no financiamento do Govêrno.
Somando-se Cr$ 11.016.467,90 de capital realizado, com Cr$ 33.619.554,60
de depósitos, teremos Cr$ 44.636.022,50 de dinheiro do povo, enquanto o
financiamento do Estado atinge, apenas, Cr$ 1.500.000,00.
Porém o maior galardão do Cooperativismo Potiguar, tem sido até o
presente, ter conseguido mantera neutralidade política, assim como a religiosa.
O Govêrno do Estado através dos diversos mandatários tem apoiado
moralmente o movimento, prestigiando o Conselho Estadual de Cooperativismo,
presidido pelo Comendador Ulisses de Góis, e ação da Divisão de Cooperati­
vismo, sempre empenhados em manter as cooperativas afastadas da política.
Outro fato digno também de nota tem sido a continuidade de orientação,
desde o início dêsse movimento, sempre coordenado e tendo para orientá-lo
um órgão supervisionador,assim como a capacidade de adaptação às novas
formas, dentro de uma esclarecida compreensão, passando da supervisão de
forma particular e confecional, para o cooperativismo livre e assistido pelo
Estado, utilizando os mesmos elementos humanos que continuaram no Conselho
Estadual de Cooperativismo, a ação benemérita que vinham exercendo na
Comissão Central de Cooperativismo de Crédito, criada pelo espírito esclarecido
de um grande Bispo D. José Pereira Alves, que aos outros dotes de .espírito
juntava o de ser um eloqüente orador.
Os últimos acontecimentos que interessam o movimento e dos quais se
espera uma repercussão de resultados favoráveis, foram a transferência da
Divisão de Cooperativas para o Departamento de Assistência aos Municípios .e
Cooperativismo (Lei n9 410, de 6-11-951), cujo Diretor é o Professor Francisco
Gonzaga Galvão e o relatório solicitado por S. Excia. o Governador Sílvio
Piza Pedroza, que já foi expedido, apresentando uma síntese da situação de
cada uma das cooperativas e a situação e deficiência da Divisão de Coope­
rativismo .
É êste o panorama do Cooperativismo no Rio Grande do Norte, desde os
seus primordios até os nossos dias, segundo as pesquisas que fiz sôbre o
assunto, a minha participação no movimento e modos de ver e expor.
Natal, 9 de janeiro de 1952. — Juvino dos Anjos, Diretor da Divisão
de Cooperativismo do Departamento de Assistência aos Municípios e Coope­
rativismo .
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EXPORTAÇÃO DE MINÉRIOS DO ESTADO, NOS ANOS DE 1943 A 1951

BARITA BERILO BISMUTO

Anos P. Líquido V. Comercial P. Líquido V. Comercial P. Líquido V. Comercial

(Em quilos) Cr$ (Em quilos) Cr$ (Em quilos) Cr$

403
1943 .. 555.000 628.259,00
— — — —

1944 .. 7.000 2.100,00 771.000 1.882.297,00



1945 ..
— — —
— — —

1946 .. 42.050 35.260,00


— — — —

1947 .. 183.328 217.050,90 _____


— —

1948 .. 29.394 37.280,00


— — —

1949 .. 34.711 90.523,00 935 9.350,00


— —

1950 .. 16.000 3.600,00 171.950 405.737,00


— —
i
210.925,00 ' i
1951 .. 15.000 5.900,00 88.580
-
1 1 1
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EXPORTAÇÃO DE MINÉRIOS DO ESTADO, NOS ANOS DE 1943 A 1951


, * ’ z

DIATÔMITO ESTANHO ESPODUMENA

Anos P. Liquido V. Comercial P.- Líquido V. Comercial P. Líquido V. Comercial


(Em quilos) Cr$ (Em quilos) Cr$ (Em quilos) Cr$

1943 .. — •— — — —

1944 .. —- .— — — — •

1945 .. —- — 600 24.000,00 — —

1946 .. — — 1.935 66.000,00 — —

1947 .. — — 400 18.800,00 1.193 2.400

1948 .. 37.678 53.218,00 650 31.200,00 — • —

1949 : • — — — . . —
4
1950 .. — — ■— —-

1951 .. 9.000 1.200,00 — - —


-

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EXPORTAÇÃO DE MINÉRIOS DO ESTADO, NOS ANOS DE 1943 A 1951
1 FLUORITA
GESSO SCHEELITA
i

Anos P. Líquido V. Comercial P. Líquido V. Comercial P. Líquido V. Comercial


(Em quilos). Cr$ (Em quilos) Cr$ (Em quilos) Cr$
1

1943 .. — — — 461.565,00 802.154 19.475.726,00


X — 21.969.046 7.923.568,00 288.092 4.334.649,00
1944 .. »-U
o
Lh
1945 .. — — 22.277.160 2.839.833,00 232.517 3.816.602,00

1946 .. — — 31.814.360 12.884.230,00 226.817 3.314.919,00

1947 ... — — 47.410.829 18.677.119,00 253.469 3.347.581,00

1948 .. — — 26.458.900 13.991.100,00 167.348' 4.785.057,00

1949 .. 76.200 32.200,00 40.699.936 19.999.059,00 25-. 700 665.135,00

1950 .. 54.000 . 29.000,00 39.248.111 20.855.055,00 522.369 13.958.254,00

1951 .. 47.900 16.000,00 19.803.000 10.209.587,00 399.173 17-,988.513,00


1
As informações de 1951 referem-se apenas ao período de janeiro a junho.
2* Divisão do D.E.E., em Natal, 26 de junho de 1952. — Pureza Pinto, Estatístico classe }. — L. Medeiros,
Chefe de Divisão.
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EXPORTAÇÃO DE MINÉRIOS DO ESTADO, NOS ANOS DE 1943 A 1951

TANTALITA NÃO ESPECIFICADOS TOTAL

Anos P. Líquido V. Comercial P. Líquido V. Comercial P. Líquido V. Comercial


(Em quilos) Cr$ (Em quilos) Cr$ (Em quilos) Cr$

1943 .. 214.816 6.995.240,00 — — 1.571.970 27.560.790,00

1944 .. 118.650 7.042.578,00 — — 23.406.327 15.583.410,00

406
1945 .. — — — — 22.257.738 12.282.217,00
1
1946 .. 3.644 229.800,00 20.450 46.120,00 32.109.256 16.576.329,00

1947 .. 5.866 204.450,00 — — 47.855.085 22.467.433,00

1948 .. '500 18.000,00 — — 26.694.470 18.915.855,00

1949 .. — -7- 25.000 496.508,00 40.862.482 21.292.775,00

1950 .. — — 5.006 150.050,00 40.017.436 35.401.696,00

1951 .. — — 43.600 29.150,00 20.406.253 28.461.275,00

As informações de 1951 referem-se apenas ao período de janeiro a junho.


2* Divisão do D.E.E., em Natal, 26 de junho de 1952. — Pureza Pinto, Estatístico classe J. — L. Medeiros,
Chefe de Divisão.
— 407 —

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EXPORTAÇÃO DE AÇÚCAR E ALGODÃO, DO ESTADO, NOS


ANOS DE 1943 A 1951

AÇÚCAR ALGODÃO

Anos Peso líquido Valor comercial Peso líquido Valor comercial


(Em quilos) Cr$ (Em quilos) Cr$

11 -
1943 . — 460.897,00 73.538.405,00

1944 . 309.570 486.089,00 17.423.563 146.980.729»00

1945 . 710.152 1.212.015,00 18.067.592 134.688.588,00

1946 . 777.363 2.369.693,00 28.987.398 254.326.632,00

1947 . 1.490.969 3.998.585,00 22.477.102 256.853.543,00

1948 . 2.050.618 5.248.517,00 32.846.271 423.847.833,00

1949 . 3.966.249 14.208.751,00 21.308.842 332.751.669,00

1951 . 199.673 714.375,00 10.411.543 262.977.111,00

1950 . 2.858.102 10.975.454,00 23.529.396 441.967.949,00

As informações de 1951 referem-se apenas ao período de janeiro a junho.


2* Divisão do D.E.F., em Natal, 26 de junho de 1952. — Pureza Pinto,
Estatístico classe J. — L. Medeiros, Chefe de Divisão.
CAPÍTULO XVI

FINANÇAS DO RIO GRANDE DO NORTE

(I) Na Capitania. (II) Na Província. (Ill) Na Repú


blica. (IV) Psicologia do Orçamento. (V) Finan
ças de 1930 a 1951.

NOTAS AO CAPÍTULO DÉCIMO SEXTO

ADENDO
Receita arrecadada e Despesa realizada, 1836-1950.
No ano de 1615 a despesa da Fazenda Real com a Capitania
do Rio Grande era de 3.293$950. Ao funcionalismo cabia 110$ e
ao pessoal de guerra, 3.183$950. Natal era uma fortaleza e o
interêsse consistia em sua guarnição militar. Não se fala em ren­
dimentos. Já moía, na várzea do Cunhaú, um engenho de açúcar.
Seria a única fonte de renda.
Quinze anos depois, em 1630, a receita total atinge a quantia
de 3.518.581. É um resultado positivo do adiantamento finan­
ceiro da Capitania. Iniciava-se a produção açucareira e o ciclo
do gado progredia. É a época em que Adriano Verdonck espiona
por conta do Conselho Político Holandês e constata a situação
humilde mas próspera pela continuidade do trabalho humano.
Regista a safra de 7.000 ou 8.000 arrobas de açúcar produzido
pelo engenho Cunhaú e elogia os rebanhos de gado. Paraíba
olhava seus dezessete engenhos moentes e correntes.
Não tinha, porém, pecuária. Marcávamos desta forma, na
manhã colonial, nossas linhas de produção financeira. Não havía­
mos de ser, por séculos, industriais.
Em 1615 só se sabe da despesa e em 1630 só se conhece a
receita. Possivelmente daria cobertura para o gasto local. Cin-
qöenta anos depois a despesa da Provedoria Real ia a pouco
mais de 600$. É natural que, meio século antes, fôsse menor. Os
3.518$581 representam disponibilidade alviçareiras.
O gado era tudo e seu dízimo o fundamento das finanças que
se iniciavam.
O Papa Júlio III, por uma Bula de 4 de janeiro de 1551, dera
a El-Rei D. João III, in perpetuum, como grão mestre das Ordens
de Cristo, Aviz e Santiago, a jurisdição espiritual sôbre as terras
conquistadas. Dessa jurisdição decorria a adição dos dízimos à
Coroa. Como os dízimos, noutros países católicos, pertenciam ao
sacerdócio, o Rei, em compensação, daria congruas aos vigários,
mantendo o esplendor do culto e a propagação da fé.
Êsses dízimos eram comumente arrematados, dando o arre­
matante caução ou fiador idôneo. O tempo duraria um ano ou um
triênio. As cobranças administrativas resultavam desastrosas.
Passado o domínio holandês, 1633-54, a gadaria se multiplica
nos taboleiros e várzeas. São milhares e milhares de cabeças. Em
412 —

1680 o contrato dos dízimos alcançava 900$ para uma despesa


total que pouco mais ultrapassava a 600$. A violência devastadora
, da guerra dos Cariris, durando dez anos, recuou para 50 % a
cifra da receita. Em 1689 os dízimos iam a 340$. Oito anos antes
orçavam o triplo.
Nas primeiras décadas do século XVIII as finanças da Capi­
tania discriminavam-se nos Dízimos Reais e do Gado de Vento
(de evento). Uma arrematação para o trienio de 1727-29 rendia
3.987$, cujos Dízimos, gado de vento, erão os únicos ramos da Fa­
zenda Real que havião nesta Capitania até aquele tempo, informa
uma certidão da Provedoria. O rendimento anual era de 1.329$.
O Senado da Câmara perdeu, pela Ordem Real de 18 de
novembro de 1743, a renda do contrato da passagem do pôrto da
Cidade, passado a cobrar pela Provedoria. Em 1744 êsse contrato,
arrematado por um ano, dava quinze mil réis. Nunca constituiu
elemento sensível mas veio se arrastando até a primeira década do
século XX.
Em 1749, metade do século XVIII, a Fazenda Real recolhia
1.134$999 com uma despesa de 1.302$ 140. Era deficit mas a
Capitania estava organizada com seus característicos de adminis­
tração. As verbas anuais assim se distribuíam: Capitão Mor (400$);
Provedor da Fazenda Real, (120$); Almoxarife da Fazenda Real
(80$); Escrivão da mesma (50$); Ajudante das Ordens do Capitão
Mor (30$); Tenente da Fortaleza (72$ e mais o pão de munição
no valor de 4$380); Cirurgião (63$ 180); Clérigo professor de
gramática (60$); Vigário da Matriz (244, de congrua); Coadiutor
(25$); Tesoureiro-e-Fabriqueiro, (8$); Capelão da Fortaleza, (50);
Missionários das Igrejas das aldeias de Mipibu e do Apodi, (dois,
a 30$ cada um).
A receita vinha dos dízimos reais arrematados por três, no
valor de 2.042$, passagem do rio Ribeira da Cidade do Natal,
arrematado o contrato anualmente por 13$ e o relativo ao Gado
de Vento das ribeiras da Capitania, indo a 331$. O gado de
vento era de evento, errante, sem dono conhecido, nos têrmos da
Ordenação, lib. Ill, Tit. 94.
As outras verbas vieram surgindo com o passar dos anos.
Em 1760, vilados os indígenas, reverteu para a Provedoria os dízi­
mos das plantações. Em 1814 rendia 98$945.
Para dar idéia do valor do dinheiro em meados do século
XVIII basta um episódio. Em 1762 a Câmara de Arez solicitou à
Câmara de S. José de Mipibu o empréstimo de dez mil réis ! Os
camaristas de S. José não puderam, no momento, abrir o cofre
municipal, com três chaves guardadas por três pessoas, e, não
querendo deixar de atender ao pedido, fizeram um empréstimo no
comércio, sob sua responsabilidade, enviando os 10$ à Arez.
413 —

Em’1802 veio o sêlo nos papéis públicos, dando o rendimento


de 224$698 em 1814. O alvará de 3 de junho de 1809 criou o
imposto sôbre rês abatida para consumo. Era o chamado «imposto
de carne verde”, dando 123$441 em 1814. Vinham os impostos de
transmissão, cizas e meias cizas, com um total de 873$788. O
Donativo e os impostos sôbre Novos Direitos dos Ofícios de Jus­
tiça (alvará de 11 de abril de 1661) renderam, o primeiro 282$450,
e o segundo 94$ 144, cobrados em Natal no ano de 1806 porque
anteriormente eram recebidos em Pernambuco. O dízimo do sal,
iniciado em 1812, deu 112$670. O elemento essencial era o con­
trato do dízimo do gado, lavoura, açúcar, pescado, todos os produ­
tos excetuando o algodão, arrematados por triênio. De 1811-13
foi arrematado por André de Albuquerque Maranhão por 40:300$.
O de 1814-16 foi a 41:151 $500. Compreendia as sete Ribeiras,
norte e sul, e da freguesia de Pau dos Ferros do Apodi, nascente
e poente do Açu, Seridó e da freguesia das várzeas do Apodi.
Em 1814 o rendimento era de 13:717$ 166. Era êsse, na pri­
meira década do século XIX, o ritmo das finanças do Rio Grande
do Norte nas vésperas do Brasil tornar-se Reino.
Os dízimos do gado pertenciam à Coroa e vemos os contratos
de arrematação registados e feitos e aprovados pelas Reais Letras,
sempre na Provedoria da Real Fazenda que depois se denominou
Tesouraria da Fazenda. Quando se criou a Tesouraria Provincial
(Res. n9 20, de 24 de outubro de 1836) a Tesouraria da Fazenda
enviou todos os livros de receita e despesa da província, iniciando
’ aquela sua escrituração, com funcionários, privativos, nomeados
pelo Presidente.

(II)
A Lei Geral n9 99, de 31 de outubro de 1835, havia transfe­
rido o dízimo *de gado para as rendas provinciais, retirando-o das
rendas gerais do Império. O primeiro orçamento norte riograndense
CRes. n9 32, de 4 de abril de 1835) não pormenoriza as verbas
dà receita provincial, calculando-a apenas na quantia de ......
15:009$162. No segundo orçamento (Lei n9 28, de 5-11-1836),
pela primeira vez, a Receita Provincial é determinada em suas
parcelas,- dividindo o total de 56:420$.

Várias vêzes-o dízimo passou a ser arrecadado administrati­


vamente. Dava sempre surprêsas. Na «Fala» de 7-9-1848, o
presidente Antônio Joaquim da Cunha, assombrado, informa que
o dízimo de gado da freguesia do Seridó rendera, administrativa­
414

mente, novecentos réis em 1845-46. Arrematado para 1846-47


produzira 1.600$! Verdade é que havia a sêca de 1845, assola-
dora dos rebanhos, mas não há proporção entre 900 réis e 1.600$
dentro de dois exercícios imediatos. Mesmo assim o regulamento
de 17-10-1883 fêz voltar o imposto de gado a cobrança adminis­
trativa, não obstante os protestos dos técnicos provinciais. Mantido
nos orçamentos republicanos veio aos nossos dias. No orçamento
de 1936 era relegado ao nono lugar, numa previsão de 55:460$7Q0.
Abaixo vinham os’ dois últimos impostos, de emolumentos, com
38:800$ 100, e sôbre hipotecas, com 7.718$300, incluídos nos
onze totais como impostos constantes de renda ordinária.
Na receita para 1950 (prorrogado o orçamento para 1951)
aparecia numa previsão de 400.000$, imposto sôbre gado bovino.
Para uma receita calculada em Cr$ 79.908.080,00, o velho dízimo
mostrava resistir ao tempo e fortuna.
Com o dízimo,. depois imposto, sôbre a produção pecuária,
salientavam-se os direitos sôbre os gêneros de exportação, funda­
dos na Lei n9 28, de 5-11-1836, 29 orçamento provincial. Com
maiores ou menores modificações respondiam pela normalidade fi­
nanceira da administração.
Na modicidade de seus recursos, a Província sempre conheceu
fases difíceis, enfrentadas serenamente pelos presidentes. As sêcas
impossibilitavam a normalidade das previsões orçamentárias e a
política partidária arredava a continuidade administrativa, indis­
pensável na consecução de obras estáveis e de maior vulto. Cada
subida de Partido, Liberal ou Conservador, correspondia às demis­
sões em massa, substituições esperadas, nomeações devidas não
às vêzes ao merecimento funcional mas à fidelidade do correli­
gionário. As simpatias pessoais, outrora e sempre, afastavam ido­
neidades e premiavam os hábeis. A multiplicação dos empregos,
para atender aos reclamos da grei, enxugava a Tesouraria Provin­
cial, incapaz de ter numerário para os trabalhos gerais. O funcio­
nalismo era, entretanto, a maior vítima. Vítima da instabilidade,
dos vencimentos minúsculos, das rivalidades políticas, inteiramente
alheias aos conhecimentos técnicos dos serventuários.
De 1836 a 1889, o período imperial no Rio Grande do Norte,
arrecadou 10.320:18?$560 e despendeu 10.501:203$129. O
deficit é o mais explicável e legítimo se atentarmos para o ambiente
em que se processou.
Com o funcionalismo, acentuava o presidente Pedro Leão
Veloso em fevereiro de 1862, gastava muito. Muito em volume mas
insignificantemente quanto às necessidades pessoais dêsses ele­
mentos. De 1851 a 1859 a Província pagou 64í:517$148 ao
funcionalismo e 75:355$351 às Obras Públicas. As demais des-
- 415, -

pesas alcançavam 148:608$962 réis. No mesmo período o número


de funcionários passou de 87 em 1851 para 156 em I860. O
partidarismo político influía soberanamente, aposentando amigos
ou expulsando adversários sem jamais pensar nos serviços pú­
blicos. O simples reconhecimento de direitos legais ao adversário
significava uma deslealdade ao “amigo dedicado’’, intolerante e
intolerável. O presidente João Capistrano Bandeira de Melo Filho,
em maio de 1875, notara o número exagerado de inativos. .A
Tesouraria tinha 13 empregados aposentados, número quase igual
aos efetivos. Na Tesouraria êsse método era mais visível. Criada
em 1836, organizada em 1838, trinta e sete anos depois possuía
três Inspetores aposentados, quatro tesoureiros e quatro chefes de
seções. O cargo de chefe de seção datava da resolução n.° 354, de
28-9-1856. A última aposentadoria fôra em 1873, restringindo
ainda mais o espaço para o tempo de serviço.
Junto a êsses fatores negativos da cooperação, atuavam os
elementos infixíveis da própria produção. A pecuária dependia
do regime das chuvas. Os dízimos variavam em curvas impres­
sionantes. Em 1844 dera 26:106$073. Veio a sêca de 1845.
Em 1846 o dízimo de gado rende apenas 392$532...
A exportação, ainda em julho de 1859, constituía a sexta parte
do rendimento provincial. A pecuária ascendeu de 28 contos em
1854 para 35 em 1855, 41 em 1856. Em 1873 atingiu ao “pleno'1
beirando os cem contos, 99:616$!
Era fevereiro de 1860 o presidente João José de Oliveira
Junqueira escrevia : não tem esta Província divida passiva.
Nesse mesmo ano, Fabricio Gomes Pedroza emprestava 5:000$,
sem juros, para atender às necessidades gritantes de dinheiro em
cofre na Tesouraria Provincial.
O algodão procurava o escoamento mais próximo, indepen­
dendo das agências fiscais. Impossível saber-se a prpdução total
e real, com essa evasão constante para as províncias limítrofes. A
Tesouraria sugeriu a nomeação de agentes fiscais nas províncias
vizinhas, justamente nos pontos indicados como desviadores das
rendas. Assim tivemos agências fiscais norte-riograndense no Ata-
cati, Mamanguape, Araruna, Paraíba, Recife, etc.
,Os exercícios de 1860 a agôsto de 1866 trazem saldos. 66-67
foi suprido em 40:000$ pelo superávit de 1865-66. A exportação
açúcar e algodão, tatajuba, couros, afirmava-se nessa época. Em
1869-70, quando o presidente Henrique Pereira de Lucena, dois
anos depois, ainda olhava Natal como “uma vila insignificante e
atrazadíssima do interior’’, recebia 21 navios para carregamento,
e Guarapes, na curva do Potengi, que banhava a capital, tivera
vinte navios, navegação, direta impulsionada pela casa comercia!
de Fabricio Gomes Pedroza.
416

1870-1880 é deficitário. A Província conhece os primeiros


empréstimos. Pede e obtém do Banco do Brasil 100:000$ em 28-12
de 1871 e 60:000$ em 27-12-1876. E as primeiras apólices, 42:000$.
Essas dívidas pesarão tremendamente, quase insolváveis, determi­
nando deficits, admoestações, atrazo no serviço de juros e amorti­
zação do principal, aparecendo o juro-sôbre-juros, numa capita­
lização de dívidas que apavorava a serenidade do administrador.
Vieram até a República. O contrato estipulara dez anos pára o
pagamento total.
Nenhuma continuidade funcional seria possível na intermitên-
cia política dos partidos que se sucediam. Cada presidente “liberal”
estava na obrigação de repudiar as iniciativas “conservadores” do
seu antecessor. E como liberais e conservadores eram intimamente
divididos e fiéis a subchefes e. facções dentro do mesmo bôjo
partidário, na melhor boa fé, instituindo a teia de Penélope, feita
de dia e desfeita à noite, como símbolo construtor, ininterrupto,
inoperante e ineficaz.
De 5 de maio de 1824 quando assumiu o primeiro Presidente
da Província,, a 17 de novembro de 1889 quando deixou o último
da fase imperial, o Rio Grande do Norte possuiu quarenta e oito
presidentes e vinte e cinco vice-presidentes, dois presidentes da
Câmara e dois membros do Conselho do Govêrno. Setenta e
sete administradores em 65 anos, 6 meses e 11 dias. Não é possí­
vel rumo certo com tal variedade diretiva de pilotos. E vários
presidentes e vices assumiram muitas vêzes, interrompendo a dire­
ção. Na República, até 1952, vamos, não contando as interrupções,
com cinqüenta e um chefes do executivo, incluindo as substituições
e os membros da Junta Governativa de 1891 e a Junta Militar de
1930, Om três cidadãos em cada, num. período de sessenta e três
anos.
Houve mesmo desorientação orçamentária, numa ausência
notória de análise financeira das condições reais. Os dízimos de
miunças e lavouras, cobrados juntos, sofreram alteração sensível.
As miunças eram gado lanígero e caprino. A Lei n9 829, de 7-2-
-18^9, concedeu êsse imposto aos municípios e extinguiu-o sôbre
as lavouras. A Lei n9 985, de 17-6-1887 restabeleceu-os, privativos
da Tesouraria Provincial.
1886, por exemplo, foi financeiramente, um ano negro. A
dívida passiva era de 250:743$713. Devia-se ao Banco do Brasil
204:107$678 por conta dos 160:000$. Ao funcionalismo á dívida ia
a 14:535$135 e aos aposentados, 42:374$139.
Desvendava-se a mentira dos saldos fictícios, meras passagens
de saldos parciais* para cobrir o alcance, entre a previsão e a arre­
cadação, disfarçadas sob o rótulo solene de «operações de crédito>.
— 417

O Inspetor Joaquim Guilherme de Souza Caldas e.- .j.ciou, numa


demonstração corajosa,-a simulação. O saldo de 124:804$280
surgido ao encerrar-se a escrita de 1884-85, significava realmente
apenas 560$877. As outras cifras representavam «letras» inco-
bráveis, dívidas prescritas, valores perdidos, simples jôgo de alga­
rismo, insusceptível de transformação positiva em disponibilidades
reais. Os saldos nascidos do malabarismo equilibrista da contabi­
lidade, dissolviam-se ao mero toque da primeira análise. Assim, em
1886-87, o saldo de 100:157$971 valia, verdadeiramente, 784$175.
O de 1887-888, oficialmente de 101:727$538, era de 1:400$.
O primeiro relatório do regime republicano, o do Governador
Adolfo Gordo, em 8-2-1890, detalha a herança financeira, encon­
trada: — “As condições financeiras dêste Estado são sumamente
graves. Segundo se lê do longo e bem elaborado relatório do digno
Inspetor do Tesouro, no dia 15 de novembro do ano passado, que
se inaugurou no país o atual regime, o balanço que se procedeu nas
caixas a cargo do Tesoureiro demonstrou a existência de valores
na importância de réis 23:442$512, pertencendo, porém, à Fazenda
do Estado apenas 17:296$096, sendo 16:772$500 representados
em letras e 523$596 em moeda corrente.
Existiam ainda nas mesas de rendas de Macau, Mossoró e
Canguaretama, na Alfândega e diversas coletorias do Estado, a
quantia de 7:140$460. “Para fazer face à dívida de 385:510$554
tinha apenas o Tesouro a quantia de 24:436$556. Esperava-se o
deficit de 80:000$. Adolfo Gordo comentou: — Parece que o
deficit, de há muito, fêz o seu domicílio no orçamento dêste Estado,

(UI)
Com o advento da República o Rio Grande do Norte perdeu
as subvenções que recebia normalmente para manter vários
serviços administrativos. A presidência, a magistratura, a polícia
civil, a higiene e, até dois anos antes de novembro de 1889, a polí­
cia militar, eram financiadas pelo Govêrno Imperial, sendo a polícia
militar auxiliada com cêrca de 25:000$ anuais.
Nenhuma desonestidade se contara no período imperial. Os
recursos desequilibravam-se na oscilação do mercado exterior ou
pela influência de fenômenos climatéricos. Como a produção era
pequena, um deficit qualquer alarmava como uma bancarrota. A
prudência dos administradores imperiais, delegados de partidos e
sujeitos às injunções dos correligionários, é uma constante. O
recurso às emissões de apólices fôra empregado apenas duas vêzes,
a 9-9-1875 e a 5-4-1887. A massa dessa dívida chegara à Repú­
blica em 42:800$.
— 418 -

Havia a dívida com o Banco do Brasil, dois empréstimos, um


de 100:000$ a 28-9-1871 e outro de 60:000$ em 27-12-1873. A
Província pagara 175:377$001 e devia ainda 257:277$628. O
Governador Pedro Velho ofereceu 160:000$. soma dos dois emprés­
timos, pela liquidação total. O Banco do Brasil, então Banco da
República, aceitou, firmando a quitação em 18-7-1893.
Sem os suprimentos do Govêrno Federal os quatro primeiros
governadores, Pedro Velho, Ferreira Chaves, Alberto Maranhão e
Tavares de Lira, atravessaram épocas cruéis, enfrentando dificul­
dades tremendas ocasionadas pelas enchentes e pelas sêcas, pela
ausência de safras ou abundância delas desacompanhadas do preço
compensador. Mesmo assim vemos a Lei 95, de 15-12-1895, os
Decretos 76 e 77, de 31-3-1897 e 8-4-1897, autorizando ao Te­
souro Estadual emprestar aos agricultores de cana de açúcar até
180:000$, elevados pelo Decreto 79, de 5-6-1897 para 200:000$,
com prazos máximos de dez anos. Era heroísmo.
1894 trouxe inverno forte, iniciado em julho. Ceará-Mirim
perdeu dois terços de suas plantações e noutras regiões do Estado
o prejuízo chegou a 50%. O remédio foi recorrer ao crédito
interno para pagar ao funcionalismo público e fazer frente às des­
pesas inadiáveis. Iniciou-se a era da apólice, com preamar e va­
zante, sucessos e derrocadas que vieram até 1930. As emissões se
sucedem, inevitáveis ante a desolução dos elementos financeiro e
surdez do Govêrno Federal, absorvido nos problemas políticos para
a consolidação do regime. O decênio 1889-99 é farto em apólices,
agôsto e dezembro de 1894, janeiro de 1895, agôsto de 1895, março
de 1897 (ao portador). Essas últimas, proibidas na circulação,
foram substituídas (Decreto 105, de 30-1-1899) pelos 500:000$
de apólices nominais, a 8 %, começando a troca.
Não deixaram de ser, entretanto, operações felizes, dentro
da fórmula condenada de apêlo à economia interna, forçada e pre­
cária. Joaquim Guilherme de Souza Caldas, o Inspetor do Tesouro,
estudioso veterano das finanças, escrevera no seu relatório de 6-7
de 1896: — ‘‘...foram emitidas 3.796 apólices, no valor de-
Rs. 457:200$, das quais já foram pelo Tesouro resgatadas 2.983,
na importância de Rs. 293:600$, restando assim, em circulação,
163:600$ em 813 apólices sem contar as que, constantemente, dão
entrada nas estações fiscais do interior e que ainda não figuram
na escrituração do Tesouro. Com efeito! Levantar-se um emprés­
timo, por meio de apólices, emitidas ao par, na avultada soma de
457:200$; fazer-se o seu movimento de modo a acudir de pronto às
urgências do Estado; realizar-se o resgate de mais da metade dessa
dívida, em curto espaço de tempo, no valor de 293:200$
ficando o Estado a restar tão sômente 163:200$, sem perturbações
— 419 —

c receios no correr das respectivas transações; e, mais ainda, sem


o ruinoso sistema de acumular-se ao débito primitivo juros capita­
lizados, obrigando-se assim o Estado à penosa contingência de
pagar juros de juros, como desastradamente aconteceu nos emprés­
timos negociados com o antigo Banco do Brasil, nos anos de 1871
e 1873; se esta operação não foi uma operação excelente, vantajosa
e felicíssima — não sei, realmente, que outro qualificativo se lhe
possa dar!”
Naturalmente sempre houve o mistério psicológico do contri­
buinte. Um episódio dêsse tempo ilustra o moto.
O imposto denominado de «Estatística Comercial» (4%),
da Lei n9 20, de 25-6-1893, fôra substituído pelo «Giro Comercial»,
incidindo nos mesmos objetos, mediante coleta sôbre as casas co­
merciais de qualquer natureza, grosso ou retalho, nacionais ou
estrangeiras, estabelecidas no Estado. Fôra adotada na Lei n9 875,
de 17-3-1883 e sua readaptação despertara uma tempestade de
protestos. O “Giro Comercial” (§ 2.° do art. l.° da Lei n.° 30,
de 13-9-1893) causou sucesso. Os 4% caíram em 2 %, produ­
zindo resultados vantajosos. 'Quando.a “Estatística Comercial”
rendera, com 4 %, 107:644$786 em 1893, o “Giro Comercial”,
com 2%, trouxera 130:840$ em 1894. Era o mesmíssimo imposto,
mudando de nome. A popularidade viera da baixa porcentagem
tributária, ganhando o Tesouro no aumento de volume das transa­
ções.
1898 fôra sêco. As duas principais fontes de receita eram a
exportação do açúcar e algodão e o dízimo do gado grosso. A
sêca, informava o governador Ferreira Chaves na sua “Mensagem”:
— “Determinou a perda quase completa da produção agrícola,
prejudicando, em mais da metade, a indústria pastoril.”
A dívida passiva, dez anos depois da proclamação da Repú­
blica, ficada estacionária.
1889 .................. .. 395:510$554
1899 . 389:037$445
Era quase um elogio ao equilíbrio, às forças de contensão,
ao cuidado minucioso da gerência republicana.
1900-1914 são três lustros decisivos para o Rio Grande -do
Norte. Nessa fase emergem tôdas as forças que atuam, desenvol­
vidas e poderosas, em nossos dias.
Administrativamente, financeira e economicamente, depois de
1914, há desdobramento, ampliação e melhoria. Os fundamentos
do edifício foram plantados nesse período, agitado, convulso, tu­
multuoso, cortado pelas sêcas aniquiladoras e pela política parti­
dária estéril, divididora, quase fratricida. Mas foi a fase da vélo-
— 420 —

cidade inicial do Estado, seu impulso vitorioso, o surto entusiásti-


co, a confiança geral de que a marcha não mais cessaria mesmo
retardada, dirigindo-se para situações de fartura e prosperidade.
Os orçamentos na Província nunca ultrapassaram 400:090$.
Tivemos apenas em 1882-83, 1885-86, 1886-87, 1888, receitas com
êsses números. Na República (*), 1892 bateu o pleno com
720:000$. 1893 galgou o primeiro milhar, 1.070:707$101. Mas a
curva se notou, subseqüentemente, até 1899, indo a 707: 861, 945,
987, 948. 1899 deu 1.130:169$700. 1900 consolida a estabili­
zação na casa dos mil contos. Nunca mais descemos às centenas.
Nem mesmo nos anos calamitosos de 1903-4, 1915, 1919, 1932.
Podemos notar que os recuos consideráveis, desequilibrando todo o
plano regular da administração mas sem influência duradoura e
decisiva no otimismo das previsões modestas. Assistimos a saltos
de mil contos, desnorteando os contabilistas mas fazendo sorrir os
estudiosos da economia local. 1929, com 13.797:446$400 passou
o ramo a 1930 que nos deu 7.742:786$400. De 19 mil contos em
193^ fomos a 17 mil em 1936. Onze anos depois, 1946, orçava-se
a receita em Cr$ 37.817.400,00 e no ano imediato, 1947, um salto
de Cr$ 16.885,00 sobre o anterior, receita prevista em Cr$..........
54.702.400,00, a mais alta na história local e também o mais
audacioso aumento, que a arrecadação justificou.
Mas são marolas em mar alto. Houve sempre alguma água
para a navegação costeira, de quilha rasa, olhando o litoral pobre.
1900 começa êsse ciclo. Com êle apruma-se a fôrça ascen­
sional dos nossos orçamentos e as “mensagens” aludem, sugerem,
fixam os aspectos velhos e novos de problemas que eram apenas
situações esperando processos de resolução, sem mistério e sem
exigências geniais. Neue Führung, alte Nöte, novo chefe, velhos
problemas, dizem os alemães.
1900 é um dos anos anotados no martirológio das sêcas nordes­
tinas. Muita gente abandonou o Estado, indo cortar borracha nos
Seringais amazonenses. A dívida ativa sobe a 861:471$072. Ses­
senta por cento são títulos e lançamentos de liquidação difícil, senão
impossível de realizar-se, comenta o Governador Alberto Maranhão.
Uma revisão posterior, em maio de 1901, reduz a pouco mais de
setenta êsses 861:000$. Em janeiro autoriza-se emissão de
500:000$, elevados a 600:000$ em outubro. Os estabelecimentos
comerciais, coletados em todo Estado vão apenas a 736.
Em 1900 o famoso imposto do «Giro Comercial» é fulminado
pela inconstitucionalidade, expressa num acórdão do Supremo
Tribunal Federal. Mudam-lhe o nome outra vez. Chamá-lo-ão
— 421 —

«Imposto de classe», sôbre indústria e profissão. Continua vivo


e bulindo.
O inverno é escasso, irregular no sertão. No agreste o rio
Curimataú alaga Nova Cruz e arraza a Vila de Cuitezeiras, em
maio de 1901. Em janeiro, nova emissão, até 500:000$, juros de
8 %, para resgatar apólices de 1894, 95 e 97. As finanças são
melancólicas porque o regime pluviométrico tem acessos humorísr
ticos.
Bruscamente as chuvas desmancham o sal, amontoado nos
aterros. O funcionalismo não recebe. As obras públicas param.
Nova emissão de apólices, descontadas com ágios, palha sêca,
enganando ou exasperando a fome.
A sêca de 1904 é horrorosa. O prejuizo é alto e ainda hoje
incomputável. Até julho 15.647 pessoas emigram, 12.684 pára o
norte e 2.936 para o sul. São os braços mais fortes, os elementos
eugênicamente produtores. Vão para Amazonas, roteiro do Acre,
abrir picadas e conquistar terras para o Brasil.
Os auxílios da União e particulares atingem a 297:8815890 .. •
Não significam realmente auxílios, da parte da União, mas apenas
o pagamento do cerimonial das exéquias.
Quem salva a situação é osai. Entra com 634:3735322,
quase a metade da receita condenada de antemão ao deficit. Mas,
no ano seguintes, 1902, o sal escorrega para\50 % menos. Lembre­
mo-nos que nas horas terríveis o Pará nos mandou 100 sacas da
farinha e o Rio Grande do Sul uma grande partida de xarque. O
governador Tavares de Lira conta a história real das finanças. A
massa das apólices, desde a emissão provincial de 14-10-1876 a
1904, ia a 2.693:750$, resgatadas 2.445:002$, circulando ....
248:747$700. O governador consegue 450:000$ emprestados do
Banco da República e pede auxílio, constitucionalmente através
da Câmara dos Deputados e não ao duro e lento pensamento dos
Ministros de Estado. Em setembro de 1905 recebe 500:000$. Paga
ímediatamente ao Banco credor.
Faltam 50:000$. O Ministro da Fazenda não quer mandar
pagar porque enviara, no tempo da sêca, 50:000$ a mais. Elas
por elas. Tavares de Lira protesta, o mais suavemente possível
mas protesta. Teve o dinheiro. Custou mais veio. Foi o
reinado do sal. De 1896 a 1905 o sal contribuiu, nos direitos de
exportação com 2.756:971 $812. O algodão ficara com menos de
50%, no mesmo período, 1.141:219$146, e o açúcar fechava a
raia, com 540:315$320. Nesse decênio, 1896-1905, a receita total
arrecadada é de 11.589:461 $456. A maior porcentagem é a renda
do sal.
— 422 —

Instala-se o primeiro estabelecimento de crédito, o Banco de


Natal, a 26-3-1905, com o capital nominal de 200:000$. Elevado
a 1.000:000$ em 1910, e atualmente o Banco do Rio Grande do
Norte, com o capital de Cr$ 3.000.000,00.
.Um índice dos tempos novos é a posição do Rio Grande do
Norte na Exposição Nacional de 1908. Conquista nove grandes
prêmios, 25 medalhas de ouro, 42 de prata, 17 de bronze. A pro­
porção dos grandes prêmios, tendo-se em vista a riqueza propor­
cional da terra, colocou-nos em quarto lugar. Na classificação
definitiva, combinando o coeficiente da representação com a popu­
lação, ficamos no nono. Era significativa a obtenção de 93 prê­
mios para 75 expositores apenas.
Autorizadg pela Lei n9 270, de 18-11-1909, o Governador
Alberto Maranhão contraiu o nosso primeiro empréstimo externo,
com os banqueiros Perles Frères, Eugène Vasseur é o Banco
Sindical Francês, em Paris, 1910, constante de 350.000 libras
esterlinas ou 8.750.000 francos, juros de 5%, amortização em
37 anos, a razão de 1,5 por semestre. Ao câmbio de 16, reti­
radas as despesas realizadas com as negociações, diferenças de
tipo, intermediários, etc., recebeu o Tesouro do Estado o líquido
real de 4.214:274$830 dos 4.250:000$ em moeda brasileira devi­
dos. Os 81 coupons seriam pagos até 1950. O Estado respondeu
perfeitamente a confiança, satisfazendo prontamente seus compro­
missos até 1926 quando os portadores dos títulos norte-riogran­
denses exigiram o pagamento em franco-ouro, inteiramente omisso
na estipulação do empréstimo. Até 1929 o Tesouro enviara ....
4.310:977$650.
1910 ainda apresenta outros aspectos promissores. A dívida
fundada era de 161:018$, correspondentes as apólices. A dívida
passiva estava apenas em 27:749$337. O funcionalismo estava em
dia. O empréstimo transformou Natal, livrando^a do colonismo
teimoso em que vivia.
A exportação nesse 1910 é a seguinte, computando-se o valor
oficial do produto: — Algodão, por Natal, 3.379:696$978; por
Macau, 1.051:285$; por Areia Branca, 3.690:928$132. Açúcar,
por'Natal, 895.705 quilos no valor de 79:873$961. Sal, por Natal,
48:917$200; por Macau, 334:471 $320; por Areia Branca,..........
1.394:584$920.
Em 1912 a exportação somava 5.437:902$822, não contando
o imposto do sal. O algodão contribuira com 91.874 fardos, va­
lendo 4.277:762$310. Funcionavam duas usinas de beneficia-
mento em Natal e Mossoró.
; Ao iniciar-se a segunda administração Ferreira Chaves, 1914-
1920, a dívida crescera. Progresso custa dinheiro. As apólices
— 423 —

circulantes montavam a.l57:318$000. A conta-corrente do Banco


do Natal acusava um crédito em seu favor de 267:416$574. Fal­
tava pSgar, de «material fornecido ao Estado», 699:276$829. O
funcionalismo sonhava com o pagamento devido de 762:537$295.
E havia uma prestação do sal, paga pelos contratantes em dezem­
bro por adiantamento de janeiro, de 41:666$666. O total era de
1.928:215$364.
O uremédio foi emitir em fevereiro e maio 600:000$ de apó­
lices e cortar despesas desapiedadamente. Em setembro as apólices
emitidas iam a 471:700$. O funcionalismo esperava por ..........
300:424$ 150. A dívida subia a 6.668:726$825.
Mas todo Estado fôra sacudido por um movimento precursor
de energia e de vontade. Poços tubulares, açudes, escolas, estra­
das, automóveis, intercâmbio comercial mais intenso, aproximação
intermunicipal, tudo nascia, depressa, veloz, como desejando
recuperar tantos anos inúteis de silêncio e de sono. A luz elétrica
brilhava em Natal e o automóvel esmagava o panasco nos tabo­
leiros do Seridó. Mossoró erguia seu parque industrial iniciante.
A extração do sal entrava em processos novos. Jornais se espalha­
vam. Livros, versos, cinemas, revistas, pecados, tudo aparecia,
abundantemente, numa só vez, confusamente, numa sedução huma­
na e real.
A segunda administração Ferreira Chaves se inicia e termina
em anos de sêca. Em conseqüência da sêca, começada em 1914 e
desoladora em 1915, a chamada sêca de 15, 6.507 homens emigram
e a pecuária sofre uma perda calculada na “mensagem” governa­
mental em 70 %. A guerra, pela raridade do transporte, dificul­
tava a exportação. A receita orçada em 2.367:349$800 teve
uma arrecadação de 1.938:193$ 100, menos 429:156$710 da esti­
mativa oficial.
O Govêrno Federal atendia às necessidades criadas pela sêca
mandando atacar os trabalhos de açudes e estradas pela Inspeto-
ria Federal de Obras contra as Sêcas, dentro da Verba de 500:000$,
retirada dos 5.000.000$ destinados às zonas flageladas. Ferreira
Chaves debatendo-se sem numerário, com a safra algodoeira assal­
tada pela lagarta rosada, não tinha recursos para adquirir novas
sementes e distribuí-las. Houve um fato simpático. O comércio
solicitou a emissão de 20:000$ em apólices e recebeu-as ao par.
Cora essa cobertura as sementes foram compradas e nova safra
se fundou.
Em 1916-1917 o algodão pagou as gentilezas recebidas. Su­
perávit de 1.025:030$735. Animam açudagem particular, lavoura
mecânica, de lentíssima adoção, e, especialmente estradas para o
interior. Ferreira Chaves emprestou 900 contos a Companhia
— 424 —

Industrial do Rio Grande do Norte e êsse auxílio, com saldo de '


capital, juros, fiscalização, estava em mais de mil contos mortos
em títulos insolváveis. À Estrada de Automóveis do Seridó, que
ligou Natal à Santa Cruz, com 105 quilômetros, o Estado finan­
ciou 1.114:476$454 em apólices. Falaram muito contra a loucura
mas essa estrada foi a inicial incessante de tôda a rêde rodoviária
estadual. Popularizou a estrada e mostrou o automóvel.
O movimento financeiro da administração Ferreira Chaves, o
período de transição entre os velhos e os novos processos de go­
vêrno para o interior e do aparelhamento técnico, menos outrora
pela mentalidade dos chefes que pelo diminuto dos elementos de
que poderíam dispor, é o seguinte:
Receita orçada, de 1914 a 1919, 13.701:949$810. Receita
arrecada nesse período, 21.736:072$558. Dessa receita arreca­
dada extraem-se 2.223:650$ de apólices emitidas e a exata quantia
é 19.512:422$558.
A despesa fixada, no mesmo período, é de 13.673:601 $570 e
a efetuada atingiu a 20.218:407$409. Saldo negativo de ......
705:984$851.
De 1914 a 1919 as emissões de apólices chegam a 2.223:650$,.
sendo resgatadas no valor de 1.375:500$. O resto boiava em
848:150$, não contando as emissões anteriores.
Financeiramente, de 1920 a 1930, foi ascenção. 1918 dera
cinco mil contos de receita. A sêca de 1919 manteve a baixa para
os 4.000:000$. O Ano do Centenário recuperou os cinco mil,
passando a sete mil em 1923, descendo para seis mil no ano se­
guinte, 1924, o ano das enchentes arrazadoras. 1925 e 1926 fixa-
ram-se nos sete mil. 1927 subiu a 9 mil contos. 1928 fechou a
renda arrecadada em 10.624:308$600, soma que deslumbraria os
velhos Inspetores do Tesouro Provincial. 1929 ainda alcançou o
record, recolhendo 13.797:446$400,
O quatriênio Antônio José de Melo e Souza, 1920-1923^
arrecadara a quantia de 21.270:102$500 e despendera..............
22.722:599$600, com saldo negativo de 1.452:497$100. A emissão
de apólices nessa administração constou de três autorizações. Em
8-9-1921, 600:000$, tipo 90,8 %, elevados a mais 400:000$ em
janeiro de 1923 para atender às despesas de substituição e reparo
dos mecanismos e material da usina elétrica de Natal, a fim de
assegurar a continuação dos serviços de abastecimento d’água,.
iluminação pública da capital e restabelecer os transportes urba­
nos, o que foi feito em setembro de 1923. A terceira autorização,
novembro de 1922, de 600:000$, em títulos de 1:000$, serviu
para pagamento de uma antiga dívida do Estado do então Banco
do Natal, desde 1914, por adiantamentos feitos em 1913, num total
— 425 —

dc 500:000$. Como a satisfação dos juros para o Banco era de


12% e o das apólices de 6 %, houve a economia de 50 %. As
apólices para os Serviços Urbanos da Capital, em setembro de
1923, iam a 877:950$, líquidos 790:155$, reduzidos, em dezembro*
do mesmo ano, a 477:500$.
Seguiu-se o quatriênio José Augusto, 1924-27, arrecadando
30.337:819$700 e gastando 35.219:701 $200, com um alcance glo­
bal de 4.881:881$500.
Encontrara 1.461:218$ de apólices em circulação. O ambiente
era funcionalmente o mesmo, inquietante para a administração.
Todos os serviços públicos ampliavam-se diàriamente pelo surta
demográfico e desenvolvimento da economia privada mas as ren­
das dependiam de produtos condicionados às oscilações climaté­
ricas. A dificuldade maior seria fixar a mínima orçamentária,
dado o imprevisto dos ciclos meteorológicos e implemência de fa­
tores imponderáveis no cálculo financeiro.
1924 deixou o nome de ano de enchente. Inundações por
tôda a parte, matando animais, anulando as safras, arrastando os
depósitos de sal em Areia Branca e Macau, num prejuízo para as
rendas do Estado, somente nesse gênero, superior a 600:000$. As
Estradas de Ferro foram obrigadas às suspensões do tráfego por­
que as pontes e os trilhos tinham sido arrancados pelo ímpeto dás
torrentes.Por êsse tumulto, ainda a coluna de Luís Carlos Prestes
varejou os municípios de S. Miguel e de S. Luís Gomes, na extrema
oeste do Estado, como um ciclone. Os prejuízos foram calculados
em 307:330$000 (S. Miguel) e 128:036$096 (Luís Gomes).
O algodão, base da economia pública e privada, recebeu a
sistemática de sua defesa. Criou-se o Serviço Estadual do Algodão.
O Govêrno Federal não pôde atender aos apelos do gover­
nador José Augusto quando das “enchentes” de 1924, arrastando
para o mar trechos consideráveis de terrenos de plantio. O serviço
de socorro, de apoio para o reequilíbrio, saiu do Tesouro unica­
mente, auxiliado pelá solidariedade particular que não era em
volume capaz de substituir o que se pedira e necessitara. A solução
voltou a ser mal-assombrada apólice. Funcionalismo em atraso,,
dívida flutuante, luz, água, transportes urbanos da capital exigindo
despesas maiores para um funcionamento imprescindível, foram as
“constantes” da época. Parecia Leão Veloso em 1862 ou Ferreira
Chaves em 1914. As despesas atingiram ao máximo de compres­
são. Os funcionários dispensáveis foram licenciados. Outros demi­
tidos. As obras públicas adiáveis, sustidas. O algodão continuou
um jogo de esconder sumamente trágico. Sumia-se quando o preço*
compensava e aparecia quando o preço se diluía. As alternativas,
de ontem e hoje, esquematizam-se fácilmente. Há safra e não há
— 426 —

preço. Há preço e não há safra. Há safra e preço e não há trans­


porte. Não há safra nem preço. Ao administrador, privado da
lâmpada de Aladino, resta o direito de vencer os deficits, tarefa
muito menos difícil do que dominar os superávits.
Dec. 261, de 11-2-1925 — 600:000$, juros de 8,%, tipo 90, nomi­
nais de 100$ a 1:000$
Dec. 277, de 23-6-1925 — 50:000$, juros de 8 %, tipo 95.
Dec. 293, 13-2-1926 — 3.000:000$, 8 %, caucionando um emprés­
timo de 2.000:000$ com o Banco do Brasil, assinado em
20-2-1926 no Rio de Janeiro.
Dec. 294, 26-2-1926 — 500:000$, nominais, tipo 90,8 %, para
auxiliar o Tesouro a liquidar o exercício financeiro de 1925.
Dec. 217, 21-1-1927 — 300:000$, ao par, 8 %, destinados a li­
quidar o exercício financeiro de 1926.
Lei 628, 6-11-1926 — 1.300:000$ de empréstimo com a firma Al­
meida Lisboa ô Cia. Ltd. 200:000$ ao Tesouro do
Estado e 1.100:000$ para compra de uma usina têrmo-
elétrica. Assinado o contrato em 21-6-1927. Não houve
lastro de apólices garantidor dessa operação. O Estado
concedia à firma emprestadora os direitos hipotecários
sôbre a usina, instalações e maquinário e o imposto esta­
dual sôbre mercadorias nacionais ou estrangeiras, incor­
poradas à riqueza do Estado, de acordo com a Lei Federal
1.185, de 11-6-1904.
Dec. 360, de 2-12-1927 — 100:000$, ao par, 6%, inalienáveis,
patrimônio do Hospital do Seridó em Caicó.
O govêrno Juvenal Lamartine, 1928-1931, interrompido pela
Revolução em outubro de 1930, arrecadou nesse período ..........
32.164:541 $400 para uma despesa de 36.793:131 $600, deficit de
4.628:590$200. Durante essa administração o Estado contou a
sua maior receita arrecadada, em 1929, num total de..................
13.797:445$400, soma ímpar, solitária em sua grandeza até 1934.
Essa arrecadação é do mesmo ano sinistro do crack econômico nos
Estados Unidos, convulsionando a riqueza do mundo, revolvendo,
modificando, transmudando, verticalmente, a psicologia capitalista
sem que lhe transformasse a sensibilidade individual dos orienta­
dores. A concepção orgulhosa da Tecnocracia desmoronou-se num
fragor de desabamento financeiro, restando o que de real, humano
e útil devera permanecer.
Começa-se a cobrar o imposto territorial. As três “mensagens”
falam entusiásticamente de novos planos, de modificações radicais
nas fórmulas tributárias. Pretendia Lamartine ir atenuando os
— 427 —

inpostos de exportação pára que, de futuro, figurassem como “meios


de elevação da receita mas não como base dá fixação da despesa*’.
Natural é que um administrador de terra pequena raciocine em
basear o orçamento nos elementos mais permanentes da tributação,
não colocando na safra do algodão, como outrora se fazia no
dízimo do gado ou nas “partidas” de açúcar, a explicação única
do equilíbrio financeiro. Não um mais vários impostos sôbre pro­
dutos de mercado mais estáveb ou de variação menos brusca, devem,
de mais a mais, merecer desenvolvimento e auxílio como sucedâneos
da colima mestra de todo edifício estadual. Há ao lado, melancóli­
camente, o pensamento tenebrante da evasão diária das pequeninas
disponibilidades populares na compra de cereais e tecidos, inexis­
tentes no Estado que se preocupou com as culturas intensivas do
algodão, como depois do agave. Essa economia individual do
contribuinte humilde é a primeira a sofrer. Ganha no algodão
e nada poderá reter o contínuo escoamento para aquisição de roupa,
farinha, arroz, café, justificativas do seu regime deficitário (2).
O Estado não era Província. Os serviços públicos custam
caro em seu desenvolvimento para atender às necessidades da po­
pulação em crescimento. Policiamento, estradas, higiene, escolas,
transportes, comunicações foram imperativos de resolução imediata.
Juvenal Lamartine via claro o problema e não se iludia com a
iluminação teatral. Tentou a propaganda da policultura, expli­
cando a urgência de um abastecimento normal para a população.
Entre as compensações de 1929 veio o pagamento aos 1.300:000$
tomadas à firma Almeida, Lisboa, õ Cia. A capital pediu mais
1.200:000$ para seus edifícios públicos. A habilidade do gover­
nador não pôde alcançar a massa das apólices, em preamar, e o
funcionalismo deixou de aproximar-se dos guichets vázios do Te­
souro. Nove emissões pesaram no pessimismo ambiente, cinco
destas em 1930, duas em janeiro, duas em fevereiro e uma em se­
tembro, a derradeira que conhecemos. As crianças nascidas depois
de outubro de 1930 não mais viram êsses papéis impressos que
anoiteciam os lares dos funcionários públicos, recebidos com des­
contos humilhantes ou recusados como inutilidades apesar das assi­
naturas ilustres (3).
A 6 de outubro de 1930 outro ciclo se iniciou.

(IV)
De 1931 a 1941 o Tesouro do Rio Grande do Norte arrecadou
184.440:983$200 e gastou 190.240:005$ 100, com um deficit de
5.799:022$900, maior que todo o orçamento da receita arrecadado
em 1922.
428 —

' O Estado não é banco que se obrigue ao dividendo com seus


acionistas. Não tem (ou não deve ter) sócios nem comanditários.
É a reunião suprema dos serviços públicos. Vive em função única
de sua utilidade coletiva. Suas rendas não defluem de fontes pri­
vadas mas de um sistema de vasos comunicantes, harmônicos, numa
ativa interdependência, completando a rêde complexa das subven­
ções e financiamentos, manutenções e criações que representam o
labirinto potamológico da irrigação financeira estatal. O saldo tem
sua mística no espírito do Povo mas é uma mística aposentãvel
ante os imperativos incessantes da necessidade geral. Sob inúme­
ros aspectos, não é possível a previsão hirta do volume de despesa.
Serviços podem desdobrar-se no próprio curso, demandando supri­
mentos imediatos e imprevisíveis que sabemos ser os créditos extra­
ordinários ou suplementares, antipatizados pela inteligência popu­
lar. Não se deve crer que o Estado tenha o deficit como situação.
O deficit na contabilidade estadual tem outra tradução. Dirá que
certas rendas diminuiram no computo geral. Dirá igualmente que
a marcha continua e que o movimento da produção não cessou
pela curva momentânea de sua arrecadação específica. A fornalha
consumindo todo combustível estará no seu rendimento pleno e é
preciso pensar que a verificação das contas é feita no fim dos
exercícios, quando já estamos dentro de um outro, resolvidas as
questões e renovado o stock animador da velocidade. Nenhuma
lei moderna de economia política e ciência de finanças absolverá
o Estado do crime de ter reservas intactas ante um apêlo coletivo.
O Estado é, em última e simples análise, o serviço público
organizado. Será legítimamente a vertente comum recebendo tôdas
as águas das fontes inumeráveis para redistribui-las num sistema
racional e permanente de irrigação. O resto é eloqüência.

(V)
A Revolução não livrou o Rio Grande do Norte da velha
moléstia brasileira tão viva e virulenta no Império, a descontinui-
dade administrativa. De 6 de outubro de 1930 a 31 de julho de
1947, posse de José Augusto Varela, 11 Interventores Eederais 1
(treze contando com os três oficiais da Junta Militar) e os secre­
tários gerais e diretores de Departamentos assumiram 30 vêzes.
Uma administração inesquecível no domínio financeiro foi a
de Mário Leopoldo Pereira da Câmara. Hercolino Cascardo seria
uma das mais brilhantes mas se interrompeu logo depois do
esquema anunciador de sua eficácia.
Não houve milagre nas finanças do Rio Grande do Norte.
Um exame nos orçamentos, desde 1936-37, evidenciará que o
movimento se processou incessantemente. 1933 retoma a receita
— 429 —

na casa dos 10.000 contos, já alcançados em 1928 e ultrapassados


em 1929. 1930, com atmosfera agitada, seca, ausencia de ordem
pela intuição popular da lu ta esboçada, fêz baixar para ..........
5.742:786$400 a receita arrecadada. 1932 arrecadou..................
9.131:145$600 em plena sêca. O ritmo ia voltando ao normal,
normalidade do crescimento. De 1935 em diante sobe degrau a
degrau, num adive lógico pelo desenvolvimento e ampliação das
áreas algodoeiras e dos cristalizadores saliníferós, pela arrecada­
ção mais segura e real, pelos métodos próprios, especialmente
depois de 1937 quando os “correligionários” foram incluídos na
classe humana des contribuintes, sem o direito clássico de alegar
“serviços” e fidelidade ao Partido. Essa anquilose desapareceu
para felicidade geral da Nação. Um governador, Antônio de
Sousa, proclamara na “mensagem” de 1-11-1922: — “Em alguns
municípios, poucos felizmente, a renda é insignificante, não porque
os impostos sejam módicos, ou reduzida a matéria tributável, mas
porque os “amigos” não os pagam, nem lhes são cobrados. O
imposto é para o adversário e para o adventicio.» Êsses poucos
municípios era delicadeza irônica do governador. Sabíamos cons­
tituir maioria absoluta.
O maior acréscimo foi de 1933 para 1934, de 10.893:094$ 100
para 15.117:230$500. Em 1935 os 19.498:011 $700 diriam a re­
petição de 1929 mas a cadência reaparece nos anos posteriores.
1936 com 17 mil contos, 1938 com 18 mil, 1939 com 20 mil,
1940 com 20 mil, 1941 com 23.812:557$500. Dez anos depois,
a receita de 1951, prorrogado o orçamento de 1950 e conseqüen-
temente abaixo da arrecadação, previa Cr$ 79.908.080,00. 1952
a previsão da receita chegou aos primeiros cem mil, Cr$..............
147.047.150,00... Também se previa deficit de Gr$..................
9.789.745,30 porque a despesa ia a Cr$ 156.836.895,30.
A arrecadação uniforme e justa é a explicação legítima do
desenvolvimento financeiro. Atravessamos épocas de exportação
semimortà e de estiagem total mas não apareceu a necessidade
inadiável de emitir apólices, legalmente defesas nem a urgên­
cia de proclamar-se o Estado em situação insolvável. A crítica
partirá humanamente dos dasabituados à participação obrigacio-
nal do5 impostos, sempre exigentes pelo progresso de um con­
junto no qual são elementos inoperantes e defuntos. A con­
cepção positiva da tributação repousa no ideal do Estado vivo,
composto de células sadias e sobres, produtoras e assimiliáveis.
Na orquestra onde um violino teima em não executar sua parte e
espera, orgulhosamente, o efeito total sonoro sem seu auxílio, a
culpa dessa falha de rendimento musical ê do regente, que não
substituiu o artista indisciplinado. O crescimento financeiro está
subordinado essencialmente a essa colaboração prestante e cons-
— 430 —

dente de todos os contribuintes, certo de que nenhuma classe se


eximirá de sua responsabilidade, remando no mesmo banco, para
que o Estado avance, contra vento e maré, nos roteiros tranqüilos
de sua missão natural.
A Junta Militar entregou o Estado ao Governador, depois
Interventor, Irineu Jofili e a êste coube a tarefa de tentar cons­
truir no turbilhão, entre o desvario entusiástico e as ambições
despertadas pela vitória. Foram apenas dias tumultuosos onde a
boa intenção natural clareia, posteriormente, a sombra das injus­
tiças semeadas. De durável nada pôde fazer. Uma lufada o
trouxe e outra o levou. Seu substituto, Tte. Aluizio de Andrade
Moura, deu os primeiros passos para a restauração financeira.
Irineu Jofili mandara vigorar o orçamento de 1930. O inverno
desaparecera. O Ihtcrventor Aluizio Moura passou a adminis­
tração ao Comte. Hercolino Cascardo com um saldo de 200:000$,
Hercolino Cascardo conquistou as simpatias gerais pela ampli­
dão renovadora de seu programa, imediato e prático. Só escapou
à sua perspicácia a necessidade da própria permanência. O fun­
cionalismo, que recebia seus vencimentos pontuais desde novem­
bro de 1930, perdera as esperanças de rever “os atrasados*', os
meses anteriores à Revolução. Cascardo mandou saldar essa dí­
vida, mediante ura abatimento razoável. Conseguiu um emprés­
timo de 1.000:000$ com o Banco do Brasil e sonhou melhores
rendas com o fortalecimento da produção algodoeira e salinífera.
Para o comércio, o Decreto 182, de 23-12-1931, foi o melhor pre­
sente do Natal. 928:650$ de apólices circulavam, emitidas regu­
larmente pelo Presidente Juvenal Lamartine mas a Assembléia
Legislativa não tivera tempo de aprovar os três decretos, dissolvida
depois de quatro dias de funcionamento.
Êsse decreto interventorial confirmava a legalidade das emis­
sões circulantes e autorizava, a partir de 1933, o resgate, de certo
grupo. Iniciou igualmente o imposto proporcional.
O Comte. Bertino Dutra encontrou a sêca de 1932. anunciada
desde o exercício anterior. Houve a revolta de S. Paulo.
Inquietação nos espíritos, conversas surdas, prisões, antipatías,
desequilíbrio financeiro que a estiagem, sozinha, explicava, acres­
cendo o êxodo dos sertanejos que se alistavam nos batalhões
de Milícias, como outrora partiam para o Acre ou Amazonas,
lutando com a morte pela vida. Em 1932 há um saldo de
870:405$546.
Mário Câmara assumiu em agôsto de 1933, deixando em outu­
bro / de 1935. Sua “Exposição” ao Presidente da República,
24-10-1935, é o mais expressivo documento de sua gestão. Fêz
o primeiro resgate de apólices em 1933, 151:500$, repetindo
— 431 —

as compras dc títulos da dívida estadual até a quantia dc ....


767:400$, 37 % sôbre o total existente. 1934 é um ano sem
dívida flutuante. Nos ‘restos a pagar” não existe essa data.
Em janeiro de 1934 pagou o empréstimo Cascardo, mil contos,
ao Banco do Brasil. Resolveu também a questão arrastada do
empréstimo de 2.000:000$ que deviam .ao Banco do Brasil desde
1927, sem amortização alguma, vencendo juros de 8 % com o
lastro de três mil contos em apólices e o remanescente do imposto
sôbre o sal exportado como refôrço de garantia. O Banco do
Brasil desceu os juros de 8 % para 7 %, recebendo 100:000$ a
20-3*1935, permitindo ser o crédito em conta corrente e não
mais fixo, na forma contratual, facilitando-lhe a movimentação
com economia real do serviço de juros. Ainda pagou outras
prestações, deixando a dívida de 2.000:000$ em 1.400:000$.
Na sua administração o Banco do Rio Grande do Norte, rece­
bendo dívidas velhas do Estado e da Prefeitura dq Natal, elevou,
a 16-9-1935, o capital para 3.000:000$ (5 milhões em 1952),
destinando 1.500:000$ para a recém-criada Carteira Agrícola,
nos moldes do Decreto federal 241.641, de 10-7-1934. Encon­
trara a dívida interna elevada a 7.117:678$488, reduziu-a a
menos da metade. Ao encerrar-se o exercício financeiro de 1935
os compromissos iam a 3.603:591 $260.
Pertence a Rafael Fernandes Gurjão, governador e depois
o 69 interventor federal, o mais longo período administrativo,
sete anos, oito meses e quatro dias, de 29-10-1935 a 3-7-1943,
superior a qualquer outro governador ou mesmo presidente de
província durante todo o regime imperial.
Logo, de 23 a 27 de novembro de 1935, surpreendeu-o um
movimento comunista que desorganizou a normalidade do Estado,
durante meses, nos processos de repressão e inquietude social.
A prudência inalterável venceu a confusão e o Estado recobrou
seu ritmo regular. 1935 fechou com um superávit de 690:060$400.
A -supressão dos velhos impostos “de barreiras”, de incor­
poração, determinou sua substituição pelos tributos sôbre vendas
e consignações e indústria e profissão, parte fixa e parte variável,
proporcional ao desenvolvimento do volume comercial.
Autorizado pelo Lei n9 4, de 7-10-1936, o governador assinou
a 14-5-1937 um contrato de empréstimo com o Banco do Brasil,
no valor de 7.000:000$, juros de 7 %, amortizável em dez anos.
1.022:443$S00 foram destinados a liquidação da dívida anterior,
contraída em 1926. Os restantes 5.977:556$200 foram aplicados
a atender ao custeio das obras do serviço de sanèamento da
cidade do NataL abastecimento d’água e rêde de esgoto. Ini-
ciava-se obra de vulto sempre adiada. O Interventor Mário Câ-
432 —

inara dera as providências indispensáveis, pelos Decretos 823 e


844, de 26 de abril e 24 de maio de 1935, criando a Comissão
de Saneamento de Natal e contratando a direção dos serviços
com o escritório Saturnino de Brito. O trabalho custou ..........
13.000:000$ e foi inaugurado a 13-5-1939. O “Grande Hotel”
também se deve a essa gestão. Era sonho teimoso e velho e
vários governadores tinham tentado, inútilmente, despertar a
iniciativa particular, isentando de impostos. O Interventor Mário
Câmara adquiriu o terreno, a planta com o arquiteto George
Munier e abriu o crédito. Em 1936 o governador Rafael Fer­
nandes mandou iniciar o serviço sob a responsabilidade técnica
do Prefeito de Natal, engenheiro Gentil Ferreira de Sousa. O
edifício custou, com instalações e mobiliário, 1.607:856$500,
inaugurado a 13-5-1939.
Para reforço financeiro na construção do “Grande Hotel"
a Interventoria realizou uma operação fiduciária com êxito com­
pleto. Pelo Decreto 431. de 22-2-1938, foi autorizado a emitir
apólicxs na quantia de 700:000$, nominativas, juros de 8 %,
tomadas tôdas ao par pela Companhia Comércio e Navegação
e recebidas, depois de l.° de janeiro de 1939, em qualquer esta­
ção fiscal do Estado em pagamento de impostos sôbre o sal. A
emissão foi rápidamente resgatada sem ônus sensível para a
balança finance-’ca do Estado.
Apesar dos serviços públicos terem tomado vulto desmar­
cados, exigindo verbas especiais, a Interventoria encerrou 1940
com o saldo de 528:955$500 e 1941 igualmente, com um supe~
ravit de 3.019:506$100.
Os orçamentos de 1941 a 1951 sobem sempre. Duma receita
de Cr$ 20.767.000,00 alcança Cr$ 79.908.080,00 em 1950. pror­
rogado para 1951. As arrecadações vêm de 23.812:557$500
(1941) a Cr$ 71.862.026,90 em 1950. As despesas são de
20.793:051 $400 (1941) para Cr$ 74.430.614,30 em 1950.
Dividindo a receita arrecadada pela população existente
ter-se-á o rendimento tributário do Estado através dos seis gran­
des recenseamentos Cada norte-riograndense contribuiu, anual­
mente .
Em 1872 ........................................................................................................................................................................... com 1$258

Em 1890 ............................................................................................................................................................................ com 1$776

Em 1900 ............................................................................................................................................................................ com 4$88O

Em 1920 ............................................................................................................................................................................ com 7$484

Em 1940 ............................................................................................................................................................................ com 25$905

Em 1950 ........................................................................................................................................ com Cr$ 73,07

São índices expressivos do desenvolvimento progressivo. De


1872 a 1890, em dezoito anos, os impostos pouco se adiantam e
as duas receitas acompanham a proporção: = 294:381 $572 em
— 433 —

1872 c 476:581 $328 em 4890. Um decênio depois os impostos


galgaram acima de 50%, 4$880. O total arrecadado, ........
1.130:169$700, é igualmente um salto de clara e equidistante re­
lação. De 1900 a 1920 os impostos não duplicaram mas a receita
está acima do tripo, 1.130:169$700 contra 4.020:014$700. Vinte
anos depois a elevação per capita não quadruplicou, mas a renda do
Estado orca o quintuplo, 4.020:014$700 em 192Ò e .............. ;.
20.062:591$500 em 1940.
Del940 a 1950 a exigência legal obrigou o norte riograndense
a quase o triplo tributário mas é apenas uma denúncia de produção
e o levantamento da linha no diagrama de percurso financeiro.
As receitas arrecadadas vieram sucessivamente:
1940 ........................................................... 20.062:591 $400
1941 ..;............ ......................................... 23.812:557$5OO
1942 ........................................................... 22.168:575$500
1943 ............................................................ 24.585:587$3OO
1944 ........................................................... 32.759.274,40
1945 ........................................................... 34.281.445,50
1946 ......................................................... 43.242.035,50
1947 ........................................................... 51.330.073,10
1948 ................................................... . 67.944.642,20
1949 ............................................. ............. 67.127.860,50
1950 ...................................... .'................... 71.862.026,90
A ascensão da receita positiva autoriza e explica essa subida
tributária.
A mais vultosa operação de empréstimo autorizou a Lei 324,
de 10-7-1951, dando ao Governador poderes de assinar com o
Saneo do Brasil um empréstimo de Cr$ 30.000.000,00 com a
finalidade da ampliação do serviço d’água e saneamento de Natal,
e do abastecimento d’água de Mossoró e Caicó.
Para garantia dessa operação a Lei n9 332, de 11-8-1951, auto­
riza uma emissão de Cr$ 60.000.000,00 em apólices da dívida
pública estadual. Serão nominativas, de Cr$ 1.000,00, juros de
7 %, caucionadas por dez anos ao Banco do Brasil.
O Governador Sílvio Piza Pedroza, com êsses recursos, abriu
um crédito de Cr$ 700.000,00 à Verba da Dívida Pública, amor­
tizando o que restava do empréstimo de 14-5-1937 (Lei n9 4, de
7-10-1936). A Lei n9 393, de 22-10-1951, pagava, desta forma
o último empréstimo contraído anteriormente pelo govêrno do
Estado.
Um índice dessa elevação, emergindo de fatores adversos,
vencidos pelo trabalho, é receita de 1951, orçada em Cr$..........
79.908.080,00 obter uma arrecadação de Cr$ 99.207.751,40,
dando um superávit de Cr$ 19.299.679,40, o maior a registrar-se
na história financeira norte-riograndense. Êsse resulado autorizou
um aumento de Cr$ 45.000.000,00 no orçamento de 1952.
— 434

NOTAS
(1) anexo. Quadro da receita arrecadada e despesa realizada.
(2) Em 1929 importévamos 90.000 sacos de farinha de mandioca. Em
1932 a importação era de 52.689 sacos, de 75 quilos. O Rio Grande do
Norte fôra um bom exportador da farinha de mandioca, base secular da ali­
mentação popular. Podemos calcular em 200.000 sacos a importação .até 1940,
ou sejam, quinze milhões de quilos. Nessas cuias de farinha o pequeno colhedor
de algodão esgota seu pobre saldo. E não pode melhorar a choupana, ali­
mentar-se e menos ainda ajudar a saúde pessoal, bem merecedora de auxílios.
(3) Quadro.das Apólices da Dívida Pública do Estado do Rio Grande
do Norte em circulação a 31 de dezembro de 1936.
Leis:
763, de 9- 9-1875 ]
958, de 17- 1-1886 }• .................................... l:450$000
998. de 5- 4-1887 J
Decretos :
33, de 28- 8-1884 ]
48, de 18- 8-1896 I
5:200$000
73, de 2- 1-1896 |
-87, de 16- 1-1877 J
57, de 20- 1-1896 1
68, de 25-11-1896 |
73, de 16- 1-1897 f- .................................... 10:450$000
105, de 30- 1-1899 |
125, de 2- 1-1901 J
76, de 31- 3-1897 ......................................... l:368$000
130, de 12- 8-1902 ......................................... 93:000$000
57. de 17- 1-1916 ......................................... 5:150$000
67, de 13-10-1916 ....................................... . 5:250$000
9. de 19- 2-1914 ......................................... 42:250$000
150. de • 8- 9-1921 ...... . ................................. 155:650$000
525, de 18-11-1922 ..................................... ll:000$000
261, de 11- 2-1925 .... ;................................ 31:400$000
277, de 23- 7-1925 ............................... :.... 8:500$000
294, de 26- 2-1926 ............................... ......... 226:700$000
317, de 21- 1-1927 ......................................... 7:550$000
360, de 9-12-1927 ....................................... .. 100:000$000
396, de 14- 9-1928 ......................................... *2:800$000
398, de 28- 9-1928 •......................................... 136:000$000
417, de 25- 1-1928 ......................................... 105:900$000
429, de 30- 4-1929 ......................................... 86:500$000
475, de 12- 2-1930 ................................. 69:900$000
462, de 23- 1-1930 .............. ............... ........... 200:000$000
477, de 14- 2-1930 ......................................... 280:350$000
453, de 2- 1-1930 ......................................... 43:200$000
511, de 8- 9-1930 ......................................... 90:000$000

Total 1.719:568$000

Em junho de 1952 êsse total era de Cr$ 1.683.568,00.


— 435 —
RECEITA E DESPESA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
1836-1951
Exercícios Receita Despesa
arrecadada realizada
18364837 .................. 11:2765524 13:0175336
1837-1838 .................... 55:183$532 50:8135887
18384839 ................ . 67:5125285 64:3945512
18394840 .................... 52:8025489 52:9275057
18404841 .................... 58:4995443 56:0455815
18414842 .................... 53:592$192 65:6565844
1842- 1843 .................... 54:0845309 52:1495696
1843- 1844 .................... 44:5765143 67:8405925
1844- 1845 ................ .. 46:7885383 45:2175213
1845- 1846 .................... 44:7705091 48:7205964
1846- 1847 .................... 60:536590* 60:9805471
1847- 1848 .................... 56:7395306 52:3605799
1848- 1849 .................... 54:9625485 44:3535596
1849 ;.......................... 49:9955099 52:4315627
1850 .,........................ 53:7915253 55:6985689
1851 ............................ 53:7275173 51:1115270
1852 ........................ . 74:0885400 52:3845023
1853 ............................ 76:7425140 54:0525286
1854 ........................... 64:7575584 61:1055312
1855 ............................ 87:1495927 86:1785250
1856 ............................ 87:8075027 74:1415236
1857 ........................ 171:4425364 98:2165697
1858 ................ :......... 167:3195908 138:8595714
1859 ............................ 191:8865735 175.1555032
1860 ............................ 100:900$025 180:4475215
1861 ............ ............... 154:3715258 128:3595510
1862 ............................ 113:8665589 154:7695818
1863 ............................ 100:7595283 158:6195463
1863- 1864 .......... . 182:2245622 183:6945176
1864- 1865 .................. 229:5185506 164:0475670
1865- 1866 .................. 268:4245630 159:3365805
1866- 1867 ..................... 194:26l$/99 231:05^969
18674868 .................. 218:5885837 262:0595303
1868- 1869 .................. 226:0775769 259:2475742
1869- 1870 .................. 305:5435781 272:9495462
1870- 1871 .............. . 132:9595823 274:6945984
1871- 1872 .................. 304:5095114 314:0105842
1872- 1873 ..................... 294:3815572 302:0õò5953
1873- 1874 .................. 269:0045012 338:5835484
1874- 1875 ............ . 234:6105695 271:8975617
1875- 1876 .................. 230:3745985 263:2135157
1876- 1877 .................. 332:2585936 277:2885919
18774 878 .................. 300:1305765 317:7335874
1878- 1879 .................. 338:5255656 331:5345506
1879- 1880 .................. 328:4915388 306:3415747
1880- 1881 .................. 319:4055290 287:2795403
1881-1882 .................. 322:1555383 390:0465631
1882-1883 .................. 470:4205257 426:2115933
18834884 .................. 371:1585812 423:3275105
1884-1885 .................. 385:0445695 408:8235236
436 —

1885-1886 ........ ........ 410:281$039 456:429$520


1886-1887 ........ ........ 459:434$748 479:196$000
1887-18S8 ........ ........ 263:459$259 211:436$509
1888 .................. ........ 406:058$891 425:147$775
1889 .................. ........ 321:967$448 370:720$451
1890 .................. ........ 476:581$328 475:542$090
1891 .................. ........ 484:528$854 439:022$256
1892 .................. ........ 720:496$984 615:501$328
1893 .................. ........ 1.070:707$101 854:864$799
1894 ........ ......... ........ 707:635$124 778:436$600
1895 .................. ........ 861:201$729 . 971:696$184
1896 .................. ........ 945:355$004 1.116:158$689
1897 ................ : ........ 987:407$691 1.068:372$524
1898 .................. ......... 948:767$710 1.039:885$318
1899 .................. ......... 1.130:169$700 1.113:392$198
1900 .................. ......... 1.338:816$413 1.374:316$413
1901 ................. .......... 1.101:053$051 l.O39:583$65O
1902 .................. ......... 1.176:331$!19 1,093:191$950
1903 ........................... 1.238:244$645 •1.310:904$465
1904 ................. .......... 1.276:647$760 1,289;501$953
1905 ........................... 1.446:6685363 1.365:386$154
1906 .................. ........ 1.138:5455908 1.292:647$500
1907 ............................ 1.376:546$789 1.313:112$317
1908 ........................... 1.252:5895051 1.333:364$176
1909 ................. .......... 1.371:003$641 1.358:853$158
1910 ............................ 1.693:453$298 1.61O:565$250
1911 ................. .......... 1.869:572$322 1.875:330$8Í6
1912 ............................ 1.864:909$306 1,994:892$689
1913 ............................ 2.382:920$000 3.337:998$332
1914 .................. .......... 1.938:193$100 2.148:881$359
1915 ................. .......... 2.182:137$638 2.960:228$112
1916 ................. .......... 3.209:030$735 3.167:040$944
1917 ................. .......... 4.190:048$573 3.370:393$086
1918 ................. .......... 5.678:659$400 4.634:126$100
1919 ................. .......... 4.489:379$000 5.489:379$000
1920 ................. .......... 4.020:014$700 4.452:548$100
1921 ......... .......... 4.271:947$700 4.358:184$000
1922 ................ .......... 5.196:41l$200 6.776:681$600
1923 ................ .......... 7.781:728$900 7.135:185$900
1924 ................ .......... 6.152:693$300 7.635:792$500
1925 ................ .......... 7.185:163$100 9.333:347$í00
1926 ................. .......... 7.329:688$400 7.697:153$700
1927 ................. .......... 9.670:274$900 10.553:407$900
1928 .......... 10.624:308$600 11.109:949$000
1929 .:............ ;........ 13.797:446$400 14.768:106$300
1930 ......... .......... 7.742:786$400 10.915:076$300
1931 ................ .......... 10.-108:980$000 8.940:452$600
1932 ................ .......... 9.131:145$6OO 8.260:740$000
1933 ................ 1O.893:O94$1OO 10.832:568$700
1934 ................ 15.117:230$500 13.450:085$300
1935 ................ ...... 19.498;011$700 18.807:961$300
1936 ................ ...... 17.684:680$000 21.156:836$100
1937 ........ ....... .......... 18.624:948$500 24.569:609$900
1938 .............. .......... 18.799:203$500 21.880:187$400
1939 ................ .......... 20.708:540$400 22.014:876$500
— 437 —

194ö 20.062:591 $400 19.533:635$900


1941 23.812:557$500 20.793:051$400
1942 22.168.575.50 23.144.806,90
1943 24.585.587,30 24.152.011,80
1944 32.729.274,40 31.783.402,40
1945 34.281.445.50 33.722.066,60
1946 43.242.035,60 43.541.673.20
1947 51.330.073,10 54.343.510.30
1948 67.944.642.20 67.638.644.20
1949 67.127:860,50 67.200.235,70
1950 71.862.026,90 74.430.614.30
1951 100.519.423,90 102.617.210,00
1952 130.982.208.20 137.225.563,60
CAPÍTULO XVII

Cronologia dos Capitães-Mores, Presidentes de Pro­


víncia e Governadores do Estado do Rio Grande do
Norte.
1597-195!
CRONOLOGIA DOS CAPITÃES-MORES, PRESIDENTES
DA PROVINCIA E GOVERNADORES DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO NORTE

Manuel de Mascarenhas Homem, comandante da expedição


colonizadora do Rio Grande do Norte. Dezembro de 1597.
Jerónimo de Albuquerque, nomeado pelo anterior, Capitão
do Forte dos Reis Magos a 24 de junho de 1598. Posse no mesmo
dia. Era março ou abril de 1599 já não se encontrava no seu
pôsto.
João Rodrigues Colaço. Em abril ou mesmo antes, estava
como Capitão-Mor. Recebeu a primeira sesmaria, dada por Mas­
carenhas Homem na cidade do Natal a 6 de janeiro de 1600. Desta
forma, presidiu a cerimônia da fundação da Cidade em 25 de
dezembro de 1599. Governou até meiados de 1603. Em 8 de
agôsto dêsse ano governava seu sucessor.
Jerónimo de Albuquerque. Nomeado Capitão-Mor por pa­
tente real de 9 de janeiro de 1603. Governou até fins de 1609
ou princípios de 1610.
Lourenço Peixoto Cirne. Capitão-Mor em 31 de agôsto de
1609. Deve ter assumido em 1610 e governado até outubro
de 1613.
Francisco Caldeira Castel Branco, Capitão-Mof. Já gover­
nava em 3 de outubro de 1613. Não ultrapassou junho de 1615.
Estêvão Soares de Albergaria, Capitão-Mor, nomeado em 14
de outubro de 1613. Governou até 1617 (Tavares de Lira, “His­
tória do Rio Grande do Norte”, 77) ou 1618, (Vicente de Lemos,
“Capitães-Mores e Governadores do Rio Grande do Norte”, 12).
Ambrósio Machado, Capitão-Mor por nomeaç✠de 20 de
agôsto de 1616. Parece ter governado até 1621.
André Pereira Temudo, Capitão-Mor nomeado a 18 de março
de 1621. Já não governava em junho de 1625.
Francisco Gomes de Melo, Capitão-Mor em 13 de julho de
1624. Há provas do seu govêrno.
Bernardo da Mota, Capitão-Mor nomeado a 3 de março de
1619. Não sabemos quando assumiu e o que fêz na Capitania.
— 442 —

Domingos da Veiga Cabral. Jul goo nomeado Capitão-Mor


pelo Governador Geral do Brasil, governando possivelmente até
fins de 1631.
Cipriano Pôrto Carreiro, nomeado Capitão-Mor em 22 de
julho de 1627. Deve ter governado até fins de 1632 ou janeiro
de 1633.
Pero Mendes de Gouveia. Era Capitão-Mor em dezembro de
1633 quando os holandeses se apoderaram do Forte dos Reis
Magos.
Dominio Holandês, de 12 de dezembro de 1633 a fevereiro
de 1654.
Antônio Vaz Gondim, nomeado Capitão-Mor em fevereiro
de 1654, governando até 4 de dezembro de 1663.
Valentim Tavares Cabral, nomeado a 12 de fevereiro, assu­
miu em 5 de dezembro de 1663.
Antônio de Barros Rêgo, nomeado Capitão-Mor a 13 de fe­
vereiro de 1668, assumiu a 21 de janeiro de 1670, governando até
21 de «iunho de 1673.
Antônio Vaz Gondim, nomeado, novamente a 5 de outubro
de 1672, posse a 21 de junho de 1673, governou até 21 de maio
de 1677.
Francisco Pereira Guimarães, Capitão-Mor nomeado em 28
de maio de 1676, posse a 21 de maio de 1677, governando até
2 de novembro de 1678 quando faleceu em Natal.
Govêrno do Senado da Câmara, de 2 de novembro de 1678
a 3 de abril de 1679.
Geraldo de Suni, nomeado interinamente a 7 de janeiro de
1679, posse a 3 de abril do mesmo ano, governando até 3 de
seteçibro de 1681.
Govêrno do Senado da Câmara, de 3 de setembro a dias
de outubro de 1681, pelos seus oficiais, Antônio Gonçalves Fer­
reira e Francisco Ferreira Coelho.
Antônio da Silva Barbosa, Capitão-Mor nomeado a 5 de julho
de 1681, governando desde fins de outubro do mesmo ano até
25 de maio de 1682.
Manuel Muniz, Capitão-Mor, nomeado a 5 de setembro de
1680, posse em 25 de maio de 1682, governando até agôsto
de 1685.
Pascoal Gonçalves de Carvalho, nomeado a 11 de outubro
de 1684, posse a 30 de agôsto de 1685, governando até junho
de 1688.
— 443 —

Agostinho César de Andrade, nomeado pelo Governador Geral


e depois por Real Patente em 7 de maio de 1688. Em junho go*
vemava e veio até 22 de agôsto de 1692.
Sebastião Pimentel, nomeado a 17 de março de 1692, posse
em 22 de agôsto do mesmo ano, governando até 3 de outubro de
1693 quando faleceu.
Govêrno do Senado da Câmara, de 3 de outubro de 1693
a outubro de 1694.
Agostinho César de Andrade, nomeado pela segunda vez em
6 de julho de 1694. A 6 de outubro do mesmo ano já governava
e veio até princípios de 1695.
Bernardo Vieira de Melo, nomeado por patente real de 8 de
janeiro de 1695. Ignora-se a posse. O Senado da Câmara soli­
citou em 2 de fevereiro de 1697 sua recondução sendo atendido
em carta régia de 18 de novembro do mesmo ano. Governou até
14 de agôsto de 1701.
Antônio de Carvalho e Almeida, nomeado a 14 de março
de 1701, assumiu em 15 de agôsto do mesmo áno, governando
até dezembro de 1705.
Sebastião Nunes Colares, ignora-se data de nomeação e
posse. Governou de dezembro de 1705 a 30 de dezembro de 1708.
André Nogueira da Costa, nomeado a 31 de março, assumiu
a 30 de novembro de 1708, governando até 30 de novembro
de 1711.
Salvador Álvares da Silva, nomeado a 17 de junho, posse a
30 de novembro de 1711 e governou até 20 de junho de 1715.
Domingos Amado, nomeado a 12 de março de 1715, posse
a 20 de junho do mesmo ano, governando até 3 de julho de 1718«
Luís Ferreira Freire, nomeado a 23 de janeiro, posse a 3 de
julho de 1718, governou até 28 de fevereiro de 1722 quando
faleceu.
Govêrno do Senado da Câmara, de 28 de fevereiro a 8
de março de 1722. Não havia Regimento regulando a substitui­
ção do Capitão-Mor. O Senado da Câmara seguiu a praxe que
se verificara quando do falecimento do Capitão-Mor Francisco
Pereira Guimarães em 1678 e do Capitão-Mor Sebastião Pimentel
em 1693, assumindo a administração da Capitania. Mesmo a 3
de setembro de 1681 o Senado da Câmara estivera no govêrno
pelos seus oficiais Antônio Gonçalves Ferreira e Francisco Fer­
reira Coelho, quando o Capitão-Mor Geraldo de Suni se retirara
em gõzo de licença. Havia, pois, precedente. Nesse ano, novem­
bro de 1721 a novembro de 1722, o Senado da Câmara se com­
punha dos senhores Tomé Leite de Oliveira, Manuel de Melo de
- 444 —

Albuquerque, Antonio Marques da Rocha, André Rodrigues da


Conceição e Manuel do Couto Rodrigues.
José Pereira da Fonseca, nomeado a 17 de março de 1721,
assumiu a 8 de março de 1722, governando até 18 de janeiro
de 1728.
Domingos de Morais Navarro, nomeado a 30 de junho, de
1727, posse em 18 de janeiro de 1728, governando até 19 de
março de 1731.
João de Barros Braga, nomeado a 16 de julho de 1730, assu­
miu a 19 de março de 1731, governando até 22 de outubro
de 1734.
João de Teive Barreto de Menezes, nomeado a 24 de março
de 1734, assumiu a 22 de outubro do mesmo ano, governando até
30 de maio de 1739 (Tavares de Lira) . Nomeação a 3 de julho
de 1734, posse a 21 de outubro do mesmo ano, deixando a 18
de dezembro de 1739 (Vicente dc Lemos).
Francisco Xavier de Miranda Henriques, nomeado a 10
de julho de 1739, posse a 18 de dezembro do mesmo ano, gover­
nando até 30 de maio de 1751.
Pedro de Albuquerque Melo, nomeado a 14 de novembro de
1750, posse a 30 de maio de 1751, governando até 4 de dezembro
de 1757.
João Coutinho de Bragança, ignora-se a nomeação. Posse a
4 de dezembro de 1757, governando até 14 de junho de 1760.
Joaquim Félix de Lima, nomeação a 29 de março, assumiu a
14 de junho de 1760, governando até 28 de setembro de 1774
quando faleceu.
Govêrno do Senado da Câmara, de 28 de setembro de 1774
a 12 de agôsto de 1791. A Ordem Régia de 12 de dezembro de
1770 mandava que, na ausência dos Capitães-Mores, o govêrno
fôsse entregue a um triunvirato, composto pelo Ouvidor (da Pa­
raíba, sempre ausente), o Comandante das Tropas e o Vereador
mais Velho. Éste era anualmente substituído.
1774 — Comandante das Tropas, José Batista Freire e Joa­
quim Luís Pereira, Juiz Ordinário. Cabendo o lugar
ao Vereador mais velho o Governador de Pernam­
buco advertiu do erro.
1775 — Freire, e o vereador alferes Domingos João Campos.
1776 — Freire, e o vereador Salvador Rebouça de Oliveira.
1777 — Freire, e o vereador Manuel de Souza Nunes.
1778 — Freire, e o vereador José Duarte da Silva.
1779 — Freire, e o vereador José Pedro de Vasconcelos.
— 445 —

1780 —• Freire, e o vereador Prudente de Sá Bezerra.


1781 — Freire, e o vereador José Pedro de Vasconcelos.
1782 — Freire (até maio) substituído pelo novo Comandante
das Tropas João Barbosa de Gouveia, e o vereadoi
Manuel Gonçalves Branco.
1783 — Gouveia, e o vereador Manuel de Araújo Correia.
1784 — Gouveia, e o vereador Antônio de Barros Passos.
1785 — Gouveia, e o vereador Antônio da Rocha Bezerra.
1786 — Gouveia, e o vereador Francisco Machado de Oli­
veira Barros.
1787 — Gouveia, e o vereador Antônio Luís Pereira.
1788 — Gouveia, e o vereador José Pedro de Vasconcelos
(até março);. De 11 de abril em diante, Manuel
Gonçalves Branco.
1789 — Gouveia, e o vereador Joaquim de Morais Navarro.
1790 — Gouveia, e o vereador Albino Duarte de Oliveira.
1791 —- Gouveia, e o vereador Manuel Anfônio de Morais,
até 12 de agôsto.
Caetano da Silva Sanches, primeiro a ser nomeado “Gover­
nador da Capitania do Rio Grande do Norte”, interinamente, pelo
Governador de Pernambuco, a 10 de novembro de 1790, posse em
12 de agôsto de 1791. Nomeado efetivo, patente real de 27 de
março de 1797, ratificou a posse em 7 de fevereiro de 1798. Go­
vernou até 14 de março de 1800, dia em que faleceu.
Govêrno do Senado da Câmara . O Comandante das Armas,
Antônio de Barros Passos, e o vereador Luís Antônio Ferreira
assumem a 14 de março de 1800.
1801 — Comandante das Armas, Antônio de Barros Passes
e o vereador Gonçalo Soares Raposo da Câmara.
1802 — Barros Passos e o vereador José Lucas Alvares, até
30 de agôsto de 1802.
Lopo Joaquim de Almeida Henriques, Governador da Ca­
pitania, nomeado a 2 de junho, empossou-se no Recife á 20 de
agôsto, chegando a Natal a 30 do mesmo mês e ano quando
assumiu. Governou até 19 de fevereiro de 1806.
Govêrno do Senado da Câmara, de 19 de fevereiro a 23
de março de 1806. Comandante das Armas Joaquim José dc
Rêgo Barros e o vereador Luís Antônio Ferreira.
José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, nomeade
Governador a 4 de setembro de 1805 e assumiu a 23 de março
de 1806. Governou até fins de abril ou começos de maio de 1811.
— 446 —

Govêrno do Senado da Câmara, da data supra a 22 dc


janeiro de 1812.. Manuel José da Costa Monteiro, comandante
do Forte dos Reis Magos, e o vereador Antonio Martins Praça.
(Êste govêrno-não consta de nenhuma cronologia anterior).
Sebastião Francisco de Melo e Povoas, Governador nomeado
a 22 de junho de 1811, posse a 22 de janeiro de 1812, governando
até 16 de novembro de 1816. . •
/osé Inácio Borges, Governador nomeado a 4 de março de
1816, assumiu a 16 de novembro do mesmo ano. Foi presó pelos
revolucionários a 23 de março de 1817 e mandado para o
Recife. Encontrava-se no engenho Belém ao ser prêso.
Govêrno Republicano de 1817 — coronel André d'Albu­
querque Maranhão, capitão Antônio Germano Cavalcanti de
Albuquerque, Coronel José Joaquim do Rego Barros, capitão An­
tônio da Rocha Bezerra e vigário Feliciano José Dómelas. De
29 de março, entrada e posse da cidade do Natal, a 25 de abril
de 1817 (prisãtf de André de Albuquerque).
Govêrno Interino — Comandante das Armas Antônio Ger­
mano Cavalcanti de Albuquerque, vereador Antônio Freire de
Amorim, Provedor da Real Fazenda Manuel Inácio Pereira do
Lago. De 26 de abril a 17 de junho de 1817 (De conformidade
com a carta régia de 12 de dezembro de 1770)«
José Inácio Borges, reassume o govêrno a 17 de junho de 1817,
administrando até 3 de dezembro de 1821-.
Junta Constitucional Provisória, eleita na conformidade
com o decreto das Cortes de Lisboa de 1 de setembro de 1821,
enviado ao Govêrno de Pernambuco. Presidente, coronel Joaquim
José do Rego Barros, secretário Manuel de Melo Montenegro
Pessoa, padre Francisco Antônio Lumachi de Melo, coronel Luís
de Albuquerque Maranhão, capitão Antônio da Rocha Bezerra,
sargento-mor Manuel Antônio Moreira e capitão-mor Manuel
Medeiros Rocha. Os dois últimos foram excluídos em 25 de ja­
neiro de 1822. De 3 de dezembro de 1821 a 7 de fevereiro
de 1822.
Govêrno Temporário, eleito e empossado a 7 de fevereiro
de 1822, governando até 18 de março do mesmo ano. Presi­
dente, professor Francisco Xavier Garcia, secretário Matias Bar­
bosa de Sá, Francisco Xavier de Sousa Júnior, Inácio Nunes Cor­
reia Tomás e Pedro Paulo Vieira.
Junta de Govêrno Provisório^ eleita e empossada a 18 de
março de 1822, governou até 24 de janeiro de 1824. Presidente,
— 447 —

padre Manuel Pinto de Castro, secretário Manuel Antonio Mo­


reira, sargento-mor João Marques de Carvalho, Agostinho Leitão
de Almeida e Tomás de Araújo Pereira (êste assumiu em 16 de
setembro de 1822). João Marques de Carvalho e Agostinho
Leitão de Almeida foram excluídos da Junta a 11 de novembro
de 1822 e no mesmo dia eleitos e empossados José Correia de
Araújo Furtado e o padre João Francisco Fernandes Pimenta.
Manuel Teixeira Barbosa» presidente da Câmara Municipal
de Natal, assumiu em 24 de janeiro de 1824 em virtude do artigo
19 da carta de lei de 20 de outubro de 1823, das Cortes de
Lisboa, que mandava dissolver as Juntas e entregar a administra­
ção aos presidentes das Câmaras. Governou até 5 de maio
de 1824.
Tomás de Araújo Pereira, l.° presidente da província, no­
meado por carta imperial de 25 de novembro de 1823. Tomou
posse a 5 de maio e deixou o govêrno a 8 de setembro de 1824.
Lourenço José de Morais Navarro, presidente da Câmara,
assumiu a 8 de setembro de 1824 e governou até 20 de janeiro
de 1825, quando terminou seu mandato municipal.
Manuel Teixeira Barbosa, presidente da Câmara, assumiu
o govêrno da Província a 20 de janeiro até 21 de março do ano
de 1825.
Manuel do Nascimento Castro e Silva, 2.° Presidente. Carta
imperial de l.° de dezembro de 1824. Posse a 21 de março de
1825, governando até 8 de maio de 1826.
Antônio da Rocha Bezerra, membro do Conselho do Govêrno.
De 8 de maio de 1826 a 21 de fevereiro de 1827. Na-forma do
art. IX da carta de lei de 20 de outubro de 1823, Antônio da
Rocha Bezerra, conselheiro mais votado, substituiu o Presidente da
Província por duas vêzes.
Jose Paulino de Almeida e Albuquerque, 3.° Presidente.
Carta Imperial de 13 de setembro de 1826. Governou de 21 de
de fevereiro de 1827 a 10 de março de 1830.
Antônio da Rocha Bezerra, membro do Conselho do Govêrno.
Governou de 10 de março de 1830 a 22 de fevereiro de 1832.
Joaquim Vieira da Silva e Sousa, 4.° Presidente. Carta impe­
rial de 24 de setembro de 1831. Governou de 22 de fevereiro de
1832 a 4 de setembro do mesmo ano.
Manuel Pinto. de Castro, padre. Membro do Conselho do
Govêrno. Governou de 4 de setembro a 24 do mesmo mês em 1832.
Joaquim Vieira da Silva e Sousa, 4.° Presidente. Reassumiu
a 24 de setembro, governando até 8 de outubro de 1832.
Manuel Pinto de Castro, padre, membro do Conselho do
Govêrno. De 8 de outubro de 1832 a 23 de janeiro de 1833.
— 448 —

Manuel Lôbo de Miranda Henriques, 59 Presidente. Carta


imperial de 13 de agôsto de 1832. Govemou de 23 de janeiro
de 1833 a 31 de julho do mesmo ano.
Basilio Quaresma Torreão, 6.° Presidente. Carta imperial de
11 de maio, posse em 31 de julho de 1833. Govemou até l.° de
maio de 1836.
João José Ferreira de Aguiar, 7.° Presidente. Carta imperial
de 13 de fevereiro e posse a l.° de maio de 1836, governando até
26 de agôsto de 1837.
Manuel Ribeiro da Silva-Lisboa, 89 Presidente. Carta im­
perial de 10 de março, posse a 26 de agôsto de 1837. Govemou
até 11 de abril de 1838 quando foi assassinado em Natal.
Joaquim Aires de Almeida Freitas, 6.° vice presidente. De 11
a 25 de abril de 1838.
Manuel Teixeira Barbosa, 3.° vice presidente. Governou de
25 de abril a 3 de julho de 1838.
João Valentino Dantas Pinagé, 2.° vice presidente. Govemou
de 3 de julho a 3 de novembro de 1838.
Manuel D'Assis Mascarenhas, 9.° Presidente. Carta imperial
de 17 de setembro, posse a 3 de novembro do mesmo 1838. Deixóu
a 6 de julho de 1841.
Estevão José Barbosa de Moura, l.° vice-presidente, nomeado
a 12 de março de 1841. Governou de 6 de julho a 4 de dezembro
do mesmo 1841.
Manuel D'Assis Mascarenhas, 10.° Presidente. Carta Impe­
rial de 9 de setembro, posse a 4 de dezembro de 1841. Govemou
até 31 de março de 1842'.
Estêvão José Barbosa de Moura, l9 vice, mesma nomeação
anterior. Governou de 31 de março a 31 de maio de 1842«
Manuel D'Assis Mascarenhas, voltando dos trabalhos parla­
mentares reassumiu a 31 de maio de 1842, governando até 15 de
novembro do mesmo ano.
Estêvão José Barbosa de Moura, mesma nomeação anterior,
l.° vice. Govemou de 15 de novembro de 1842 a 7 de julho
de 1843.
André de Albuquerque Maranhão, l.° vice-presidente. Carta
imperial de 29 de maio de 1843. Governou de 7 de julho de 1843
a 8 de janeiro de 1844.
Francisco de Queiroz Coutinho Matoso da Câmara, ll9 Pre­
sidente. Carta imperial de 9 de dezembro de 1843. De 9 de
janeiro de 1844 a 19 de julho do mesmo ano.
Venceslau de Oliveira Belo, 129 Presidente. Carta imperial
de 25 dc maio, posse a 19 de julho de 1844. Govemou até 28
de abril de 1845«.
— 449

Casimiro José de Morais Sarmento, 13.° Presidente. Carta


imperial de 4 de abril e posse a 28 do mésmo mês em 1845»
Governou até 9 de outubro de 1847.
João Carlos Wanderley, l.° vice, nomeado por carta imperial
de 10 de agosto de 1847. Posse a 9 de outubro do mesmo ano.
Governou até 5 de dezembro do mesmo.
Frederico Augusto Pamplona, 14.° Presidente . Carta imperial
de 23 dc setembro, posse a 5 de dezembro do mesmo 1847.
Governou até 31 de março de 1848.
Joao Carlos Wanderley, l.° vice, mesma nomeação. De 31
de março a 29 de abril de 1848.
Antonio Joaquim de Siqueira, 159 Presidente. Carta impe­
rial de 24 de março, posse a 29 de abril, deixou a 25 de novembro
de 1848.
João Carlos Wanderley, l.° vice, mesma nomeação. Governou
de 25 de novembro dé 1848 a 24 de fevereiro de 1849.
Benvenuto Augusto de Magalhães Taques, 169 Presidente.
Carta imperial de 20 de janeiro, posse a 24 de fevereiro, deixou
a 2 de dezembro de 1849.
José Pereira de Araújo Neves, 17.° Presidente. Carta impe­
rial de 2 de novembro e posse a 2 de dezembro de 1849., Go­
vernou até 15 de março de 1850 quando faleceu em Natal.
João Carlos Wanderley, l9 vice, mesma nomeação. Gover­
nou de 15 de março a 6 de maio de 1850.
José Joaquim da Cunha, 18.° Presidente. Carta imperial de
5 de abril. Governou de 6 de maio de 1850 a 10 de julho
de 1852.
Antônio Francisco Pereira de Carvalho, 19.° Presidente.
Carta imperial de 7 de junho e posse a 10 de julho de 1852.
Deixou a 24 de outubro de 1853.
Antônio Bernardo de Passos, 20.° Presidente. Carta imperial
de 1 de outubro e posse a 24 do mesmo mês em 1853. Governou
até 1 de abril de 1857.
Bernardo Machado da Costa Dória, 21.0 Presidente. Carta
imperial de 18 de fevereiro, posse a 1 de abril de 1857. Governou
até 19 de maio de 1858.
Otaviano Cabral Raposo da Câmara, 1.® vice, nomeado a 2
de julho de 1853. Governou de 19 de maio a 18 de junho de 1858.
Antônio Marcelino Nunes Gonçalves, 22.° Presidente. Carta
imperial de 19 de abril, posse a 18 de junho de 1858. Deixou a
administração a 4 de outubro de 1859.
— 450

João Jõsé de Oliveira Junqueira, 23? Presidente. Carta impe*


rial de 4 de junho, posse a 4 de outubro de 1859. Governou até
28 de abril de 1860.
Jodé Bento da Cunha Figueiredo Júnior, 249 Presidente.
Carta imperial de 20 de março, posse a 28 de abril, de 1860
governando até 16 de maio de 1861.
Antônio Galdino da Cunha, 3.° vice, nomeação de 4 de fe­
vereiro de 1852. Assumiu a 16 a deixou a 17 de maio de 1861-
Pedto Leão Veloso, 25.° Presidente. Carta imperial de 13
de abril, posse a 17 de maio de 1861. Administrou até 14 de
maio de 1863.
Trajano Leocadio de Medeiros Murta, 4.° vice presidente no­
meado a 9 de junho de 1850. Governou de 14 a 26 de maio
de 1863.
Antônio Galdino da Cunha, 3.° vice, mesma nomeação. De
26 de maio a 27 de julho de 1863.
Vicente Alves de Paula Pessoa, 1? vice, nomeado a 6 de
julho. Governou de 27 a 30 de julho de 1863.
Olinto José Meira, 26.° Presidente. Carta imperial de 22 de
abril, posse a 30 de julho de 1863. Governou até 21 de agôsto
de 1866.
Luis Barbosa da Silva, 27* Presidente. Carta imperial de
16 de junho, posse em 21 de agôsto de 1866. Governou até 25
de abril de 1867.
Antônio Basilio Ribeiro Dantas, 2’ vice, nomeado a 6 de se­
tembro de I860. Governou de 25 de abril a 13 de maio de 1867.
Gustavo Adolfo de Sá, 28? Presidente. Carta imperial de 3
de abril, assumiu a 13 de maio de 1867. Governou até 29 de
julho de 1868.
Bartolomeu da Rocha Fagundes, padre, 69 vice, nomeado
a l9 de junho de 1864. Governou de 29 de julho a 6 de agôsto
de 1868.
Antônio Basilio Ribeiro Dantas, 2? vice, mesma nomeação.
Governou de 6 a 19 de agôsto de 1868.
Luis Gonzaga de Brito Guerra, 1? vice, nomeado a 20 de
julho de 1868. Governou de . 19 de agôsto a 1 de setembro
de 1868.
Manuel José Marinho da Cunha, 29? Presidente. Carta
imperial de 25 de julho, posse a 1 de setembro de 1868, Gover­
nou até 10 de março de 1869.
Pedro de Alcântara Pinheiro, 4? vice, nomeado em 15 de
janeiro de 1862* Governou de 10 de março a 12 de abril de 1869.
Pedro de Barros Cavalcanti de Albuquerque, 30? Presidente.
Carta imperial de 13 de março, assumiu a 12 de abril de 1869.
Governou até 17 de fevereiro de 1870.
— 451 —

Otaviano Cabral Raposo da Câmara, 3.° vice, mesma nomea­


ção. Govemou de 17 de fevereiro a 22 de março de 1870.
Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, 31.° Presidente. Carta
imperial de 26 de janeiro, posse a 22 de março de 1870. Deixou
a 11 de janeiro de 1871.
Jerónimo Cabral Raposo da Câmara, 4.° vice, nomeado a
22 de junho de 1870« Governou de 11 de janeiro a 17 de agôsto
de 1871.
Delfino Augusto Cavalcanti de Albuquerque, 32.° Presidente.
Carta imperial de 28 de junho, assumiu a 17 de agôsto de 1871,
administrando até 11 de junho de 1872.
Jerónimo Cabral Raposo da Câmara, 4.® vice, mesma no­
meação. Govemou de 11 a 15 de junho de 1872.
João Gomes Freire, l.° vice, nomeação de 15 de janeiro de
1872, governando de 15 de junho a 1 de julho do mesmo 1872.
Henrique Pereira de Lucena, 33.° Presidente. Carta imperial
de 31 dc maio, posse a 1 de julho, governando até 17 de novem­
bro de 1872.
Francisco Clementino de Vasconcelos Chaves, 1? vice, no­
meado em 23 de outubro, govemou de 17 de novembro de 1872
a 19 de janeiro de 1873.
Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara, 2.° vice, nomeado a
23 de outubro de 1872. Govemou de 19 de janeiro a 17 de junho
de 1873.
João Capistrano Bandeira de Melo Filho, 34.° Presidente.
Carta imperial de 29 de março, posse a 17 de junho de 1873. Go­
vernou até 10 de maio de 1875.
João Bernardo Galvão Alcoforado Júnior, ’ 359 Presidente,
Carta imperial de 10 de abril, empossou-se em 10 de maio de
1875, deixando a 20 de junho de 1876.
Antônio dos Passos Miranda ,369 Presidente. Carta imperial
de 12 dc abril, posse em 20 de junho de 1876, governando até 18
de abril de 1877.
Joáé Nicolau Tolentino de Carvalho, 379 Presidente. Carta
imperial de 13 de março, posse em 18 de abril de 1877• Deixou a
6 de março de 1878.
Manuel Januário Bezerra Montenegro, l.° vice, nomeado a 16
de fevereiro, governando de 6 a 18 de março de 1878.
Bliseu de Sousa Martins, 38.° Presidente. Carta imperial de
16 de fevereiro, posse a 18 de março, deixou a 4 de outubro
de 1878.
Manuel Januário Bezerra Montenegro, l9 vice, nomeação
anterior, governando de 4 de outubro de 1878 a 31 de janeiro
de 1879.
— 452 —

Matias Antônio da Fonseca Morato, 1.° vice, nomeado


â 9 de janeiro, governando de 31 de janeiro a 7 de fevereiro
de 1879.
Euclides Diocleciano de Albuquerque, 2.° vice, nomeado a 16
de fevereiro de 1878. Governou de 7 a 14 de fevereiro de 1879.
Vicente Inácio Pereira, 1,° vice, nomeado a 1. de fevereiro,
governando de 14 dêsse fevereiro a 13 de março de 1879.
Rodrigo Lobato Marcondes Machado, 39.° Presidente. Carta
imperial de 11 de janeiro e posse a 13 de março de 1879. Go­
vernou até 1 de maio de 1880.
Alarico José Furtado, 40.° Presidente. Carta imperial de 13
de abril, posse a 1 de maio de 1880, deixando a 20 de abril
de 1881.
Matias Antônio da Fonseca Morato, l.° vice, nomeado em
24 de março, governando de 20 de abril a 1 de junho de 1881.
Sátiro de Oliveira Dias, 41.° Presidente. Carta imperial de 24
de março, posse a 1 de junho de 1881. Deixou a 16 de março
de 1882.
Matias Antônio da Fonseca Morato, l.° vice, mesma nomea­
ção. De 16 de março a 13 de abril de 1882.
Francisco de Gouveia Cunha Barreto, 42.° Presidente. Carta
imperial de 25 de fevereiro, assumiu a 13 de abril de 1882. Go­
vernou até 21 de julho de 1883-
Antônio Basilio Ribeiro Dantas, 1.° vice, nomeação de 23
de junho de 1882. Governou de 21 de julho a 22 de agôsto
de 1883.
Francisco de Paula Sales, 43.° Presidente. Carta imperial de
7 de julho, assumiu a 22 de agôsto de 1883. Deixou a 19 de
julho de 1884.
Antônio Basilio Ribeiro Dantas, l.° vice, mesma nomeação.
De 19 de julho a 30 de setembro de 1884.
Francisco Altino Correia de Araújo, 44.° Presidente. Carta
imperial de 9 de agôsto, posse a 30 de setembro de 1884. Gover­
nou até 11 de julho de 1885.
Antônio Basilio Ribeiro Dantas, l9 vice, mesma nomeação.
Governou de 11 de julho a 22 de setembro de 1885.
Álvaro
í Antônio da Costa, l9 vice, nomeado a 1 de setembro
•de 1885. Governou de 22 de setembro a 22 de outubro de 1J585.
José Moreira Alves da Silva, 45.° Presidente. Carta imperial
de 12 de setembro, posse a 22 de outubro de 1885. Governou até
30 de outubro de 1886.
Luis Carlos Wanderley, l.° vice, nomeado a 31 de outubro
de 1885. Governou de 30 de outubro a 11 de novembro de 1886.
— 453

Antonio Francisco Pereira de Carvalho, 46.a Presidente. Carta


imperial de 16 de outubro, posse em 11 de novembro de 1886»
governando até 10 de agôsto de 1888.
Francisco Amintas da Costa Ramos, l9 vice, nomeado a 8
de dezembro de 1887. Governou de 10 de agôsto a 14 de outubro
de 1888. .
José Marcelino da Rosa e Silva, 47.° Presidente. Carta impe*
rial de 8 de agôsto, posse em 14 de outubro de 1888. Governou
até 15 de junho de 1889.
Francisco Amintas da Costa Bardos, l9 vice; mesma nomea*
ção. Governou de 15 a 18 de junho de 1889.
Antonio Basilio Ribeiro Dantas, l.° vice, nomeado a 15 de
junho, assumindo a 18 do mesmo mês e deixando a 12 de julho
de 1889.
Fausto Carlos Barreto, 48.° Presidente. Carta imperial de 15
de junho, governou de 12 de julho a 23 de outubro de 1889-
Foi o último Presidente nomeado no regime imperial ( * ).
Antônio Basilio Ribeiro Dantas, l.° vice, mesma nomeação.
Posse a 23 de outubro e deposto a 17 de novembro de 1889 pelo
advento da proclamação da República. Assumira pela 5* vez e
fôra o 28.° vice presidente em exercício.

NA REPÚBLICA

Pedro Velho d'Albuquerque Maranhão, aclamado Presidente


em 17 de novembro de 1889. Governou até 6 de dezembro do
mesmo 1889.
Adolfo Afonso da Silva Gordo, primeiro governador nomeado
pelo Govêrno Provisório Republicano, decreto de 30 de novembro.
Governou de 6 de dezembro de 1889 a 8 de fevereiro de 1890.
Jerónimo Américo Raposo da Câmara, Chefe de Polícia.
Assumiu por autorização telegráfica do Govêrno Provisório (Mi­
nistro do Interior). De 8 de fevereiro a 10 de março de 1890.
Joaquim Xavier da Silveira Júnior, 2.° Governador nomeado
por decreto de 8 de fevereiro. Governou de 10 de março a 19
de setembro de 1890.
Pedro Velho d’Albuquerque Maranhão, l.° vice Governador,
nomeado em fevereiro, governando de 19 de setembro a 8 de
novembro de 1890.
João Gomes Ribeiro, 3.° Governador nomeado a 11 de outubro,
governando de 8 de novembro a 7 de dezembro de 1890.

(*) Ao ser proclamada ia República estava nomeado o 49.° Presidente,


Manuel Joaquim de Albuquerque Lins.
— 454 —

Manuel do Nascimento Castro e Silva, Chefe de Polícia, assu­


miu o govêrno a 7 de dezembro. Foi nomeado Governador, o 4.°, a
6 de dezembro, assumindo neste caráter a 29 do mesmo mês em
1890. Governou até 2 de março de 1891.
Francisco Amintas da Costa Barros, 5.° Governador, nómeado-
a 28 de fevereiro, governando de 2 de março a 13 de Junho
de 1891.
José Inácio Fernandes Barros, l.° vice presxaente do Estado,
eleito pelo Congresso Estadual em 12 de junho, governando de
13 de junho a 6 de agôsto de 1891.
Francisco Gurgel de Oliveira, 29 Vice-presidente, eleito pelo
Congresso Estadual em 20 de julho, governando de 6 de agôsto
a 9 de setembro de 1891.
Miguel Joaquim de Almeida Castro, Presidente eleito pelo
Congresso Estadual em 12 de junho. Posse a 9 de setembro e
deposto a 28 de novembro de 1891.
Junta Governativa, de 28 de novembro de 1891 a 22 de
fevereiro de 1892. Composta pelo coronel Francisco de Lima e
Silva, comandante do 37 Batalhão de Caçadores (viajou a 11 de
fevereiro de 1892), Drs. Joaquim Ferreira Chaves e Manuel do
Nascimento Castro e Silva.
Jerónimo Américo Raposo da Câmara, - Presidente do Con­
gresso Estadual (o segundo). Governou de 22 a 28 de fevereiro
de 1892.
Pedro Velho D Albuquerque Maranhão, Governador eleito
pelo Congresso do Estado em 23 de fevereiro, assumiu a 28 do
mesmo mês em 1892.
Jerónimo Américo Raposo da Câmara, Presidente do Con­
gresso Estadual, na ausência do vice-governador, assumiu a 9
de maio de 1893.
Pedro Velho D Albuquerque Maranhão reassumiu a 12 de
maio de 1893.
Jerónimo Américo Raposo da Câmara assumiu a 18 de setem­
bro de 1894.
Pedro Velho D Albuquerque Maranhão, reassumiu a 25 de
setembro de 1894.
presidente do Congresso Estadual, assumiu a 19 de outubro
Jerónimo Américo Raposo da Câmara, Presidente do Supe­
rior Tribunal de Justiça, na ausência do vice-governador e do
de 1895.
Pedro Velho D’Albuquerque Maranhão reassumiu a 31 de
outubro de 1895.
— 455 —

Joaquim Ferreira Chaves, Governador eleito a 14 de junho de


1895 (primeira eleição direta para o cargo por parte do povo)
assume a 25 de março de 1896.
Francisco de Sales Meira e Sá, vice-governador do Estado,
assume a 24 de julho de 1897.
Joaquim Ferreira Chaves reassume a 31 de julho de 1897.
Alberto Maranhão, Governador. De 25 de março de 1900 a
25 de março de 1904.
Augusto Tavares de Lira, Governador. Posse a 25 de março
de 1904. Renunciou a 5 de novembro de 1906.
Manuel Moreira Dias, vice-governador. Governou de 5 de
novembro de 1906 a 23 de fevereiro de 1907.
Antônio José de Melo e Sousa, Governador. Eleito para com­
pletar o quatriênio Tavares de Lira, governou de 23 de fevereiro
de 1907 a 25 de março de 1908.
Alberto Maranhão, Governador. De 25 de março de 1908
a l9 de janeiro de 1914. (*) .
Joaquim Ferreira Chaves, Governador, de l.° de janeiro de
1914 a l.° de janeiro de 1920.
Antônio José de Melo e Sousa, Governador, de l.° de janeiro
de 1920 a l9 de janeiro de 1924.(**)
José Augusto Bezerra de Medeiros, Governador, e pela re­
forma da Constituição, Presidente, assume a l.c de janeiro de
1924.
Augusto Leopoldo Raposo da Câmara, vice-governador. De
2 de fevereiro a 2 de março de 1925.
José Augusto Bezerra de Medeiros reassumiu a 2 de março
de í925.
Felinto Elisio de Oliveira Azevedo, presidente do Congresso
Estadual (vice; ó vice-governador preside o Congresso) na ausên­
cia do vice-governador assume a 29 de julho de 1925.
José Augusto Bezerra de Medeiros reassume a l.° de setem­
bro de 1925.
Augusto Leopoldo Raposo da Câmara assume a 29 de abril
de 1926.
José Augusto Bezerra de Medeiros reassume a l.° de junho
de 1926.
Augusto Leopoldo Raposo da Câmara assume a 26 de
junho de 1926.
José Augusto Bezerra de Medeiros reassume a 30 de junho
de 1926.
(*) A Constituição Estadual de 25-3-1907 aumentara para seis anos o •=>
peyodo governamental (art. 22). ,
(**) A Constituição Estadual de 25-3-1915 restabelecera o quadríênio.
— 456

Augusto Leopoldo Raposo da Cámara assume a 6 de agosto


de 1926.
José Augusto Bezerra de Medeiros reassume no mesmo 6 de
agôsto de 1926»
Augusto Leopoldo Raposo da Câmara assume a 31 de ja­
neiro de 1927.
José Augusto Bezerra de Medeiros reassume a 26 de feve­
reiro de 1927.
Juvenal Lamartine de Faria, Presidente. Posse a l.° de Ja-*
neiro de 1928.
Joaquim Inácio de Carvalho Filho, vice-presidente, assume a
30 de abril de 1928.
Juvenal Lamartine de Faria, reassumiu a 4 de julho de 1928.
Joaquim Inácio de Carvalho Filho assume a 14 de setembro
de 1929.
Juvenal Lamartine de Faria reassume a 22 de dezembro
de 1929.
Joaquim Inácio de Carvalho Filho assume a 16 de Junho
de 1930.
Juvenal Lamartine de Faria reassume a 7 de julho, deixando
o govêrno a 5 de outubro de 1930 (terminaria a 1-1-1932) .
Junta Governativa Militar, de 6 de outubro a 12 do mesmo
mês em 1930. Foi integrada pelo major Luís Tavares Guerreiro,
capitão Abelardo Tôrres da Silva Castro e tenente Júlio Perouse
Pontes.
Irineu Jofili, Governador revolucionário, ’designado pelo ge­
neral Juarez Távora, assumiu a 12 de outubro de 1930. Nomeado
l.° Interventor Federal pelo Govêrno Provisório assumiu a 23 de
novembro de 1940. Deixou a 28 de janeiro de 1931.
Aluízio de Andrade Moura, tenente do Exército, comandante
do Regimento Policial Militar, com autorização do Govêrno Pro­
visório assumiu a 28 de janeiro. 2.° Interventor*Federal, nomeado
a l.° de março, deixou a 31 de julho de 1931.
Hercolino Cascardo, capitão-tenente da Armada. 3.° Inter­
ventor Federal nomeado a 16 de julho, assumiu o govêrno a 31
do mesmo mês em 1931.
Antônio José de Melo e Sousa, secretário geral, assumiu a
9 de agôsto de 1931.
Hercolino Cascardo reassumiu a 12 de outubro de 1931.
Antônio José de Melo e Sousa, assumiu a 29 de janeiro
de 1932.
Hercolino Cascardo reassumiu a 3 de fevereiro de 1932.
Antônio José de Melo e Sousa assumiu a 5 de fevereiro
de 1932.
— 457 —

Bertino Dutra da Silva, capitão-tenente da Armada, 4.° Inter­


ventor Federal, nomeado em 8 de junho de 1932, toma posse a
11 do mesmo mês e ano.
Ezequias Pegado Cortez, diretor geral, do Departamento da
Faáenda, com autorização do Govêrno Federal, assumiu a 4 de
dezembro de 1932.
Bertino Dutra da Silva reassume a 5 de janeiro de 1933.
Sérgio Bezerra Marinho, tenente do Exército, secretário wge-
ral, assume a 12 de abril de 1933.
Bertino Dutra da Silva reassume a 19 de abril de 1933.
Sérgio Bezerra Marinho assume a 8 de junho de 1933.
Mário Leopoldo Pereira da Câmara, 5.° Interventor Federal,
nomeado a 13 de julho, assumiu a 2 de agôsto de 1933.
Antônio José de Melo e Sousa, secretário geral, assume a 23
de janeiro de 1934.
Mário Leopoldo Pereira da Câmara reassume a 7 de março
de 1934.
Antônio José de Melo e Sousa assume a 8 de outubro
de 1934.
Mário Leopoldo Pereira da Câmara reassume a 18 de outu­
bro de 1934.
Antônio José de Melo e Sousa assume a 19 de novembro
de 1934.
Mário Leopoldo Pereira da Câmara reassume a 29 de no­
vembro de 1934.
Antônio José de Melo e Sousa assume a 9 de janeiro
de 1935.
Mário Leopoldo Pereira da Câmara reassume a 24 de janeiro
de 1935.
Antônio José de Melo e Sousa assume a 2 de fevereiro
de 1935.
Mário Leopoldo Pereira da Câmara reassume a l.° de março
de 1935.^
José Lagreca, diretor geral do Departamento da Fazenda, com
autorização regulamentar assume a 5 de julho de 1935.
Mário Leopoldo Pereira da Câmara reassume a 23 de agôsto
de 1935.
Liberato da Cruz Barroso, capitão do Exército, comandante do
21 Batalhão de Caçadores, assume a 27 de outubro de 1935.
Rafael Fernandes Gurjão, Governador eleito pela Assembléia
Legislativa, assume a 29 de outubro de 1935.
João da Mata Paiva, monsenhor, Presidente da Assembléia
Legislativa, assume o govêrno a 13 de junho de 1936.
— 458 —

Rafael Fernãndès Gurjão reassume a 2 de agôsto de 1936.


João da Mata Paiva assume a 26 de outubro de 1926.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 19 de dezembro de 1936.
João da Mata Paiva assume a 1 de abril de 1837.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 29 de maio de 1937.
João da Mata Paiva assume a 24 de setembro de 1937.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 27 de setembro de 1937.
Nomeado 6.° Interventor Federai em 24 de novembro de 1937,
assume a 26 do mesmo mês e ano.
Aldo Fernandes Raposo de Melo, secretário geral, com auto­
rização regulamentar assume a Interventoria a 27 de dezembro
de 1937.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 18 de janeiro de 1938.
Aldo Fernandes Raposo de Melo assume a 12 de agôsto
de 1938.
Rafael Fernandes Gurjão assume a 24 de agôsto de 1938.
Aldo Fernandes Raposo de Melo assume a 14 de janeiro
de 1939.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 8 de abril de 1939.
Aldo Fernandes Raposo de Melo (designado pelo dec. fe­
deral de 31 de outubro de 1939, de acordo com o Decreto-lei nú­
mero 1.202, de 8 de abril de 1939 para substituir o Interventor
Federal) assume a l.° de novembro de 1939.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 18 de dezembro
de 1939.
Aldo Fernandes Raposo de Melo assume a 24 de fevereiro
de 1940.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 4 de março de 1940.
Aldo Fernandes Raposo de Melo assume 21 de março
de 1940.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a l.° de julho de 1941 ¿
Aldo Fernandes Raposo de Melo assume 10 de março de 1942.
Rafael Fernandes Gurjão reassume 11 de junho de 1942.
Aldo Fernandes Raposo de Melo assume l.° de novembro
de 1942.
Rafael Fernandes Gurjão reassume 11 de junho de 1942.
Aldo Fernandes Raposo de Melo assume l9 de novembro
de 1942.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 3 de janeiro de 1943.
Aldo Fernandes Raposo de Melo assume a 22 de fevereiro
de 1943.
— 459 —

Rafael Fernandes Gurjão reassume a 9 de marçò de 1943.


Aldo Fernandes Raposo de Melo assume a 18 de março
¿e 1943.
Rafael Fernandes Gurjão reassume a 29 de abril de 1943.
Antônio Fernandes Dantas, general de brigada, 7.° Interventor
Federal, nomeado a 10 de junho de 1943, toma posse a 3 de
julho de 1943 em Natal.
João Dionisio Filgueira, desembargador, secretário geral,
assume a 20 de julho de 1943.
Antônio Fernandes Dantas reassume a 12 de setembro
de 1943.
João Dionisio Filgueira assume a 2 de dezembro de 1943.
Antônio Fernandes Dantas reassume a 11 de janeiro de 1944.
João Dionisio Filgueira assume a 20 de novembro de 1944.
Antônio Fernandes Dantas reassume a 26 de dezembro
de 1944.
João Dionisio Filgueira assume a 13 de março de 1945.
Antônio Fernandes Dantas reassume a 2 de abril de 1945.
João Dionisio Filgueira assume a 14 de julho de 1945.
Georgino Avelino, 8.° Interventor Federal, nomeado a 7 de
agôsto de 1945. Posse a 15 de agôsto de 1945.
Dioclécio Dantas Duarte, secretário geral, assume a Interven-
toria interina em 9 de outubro de 1945.
Georgino Avelino reassume a 19 de outubro de 1945.
Dioclécio Dantas Duarte assume a 28 de outubro de 19t45.
Miguel Seabra Fagundes, desembargador, 9.° Interventor Fe­
deral, nomeado a 3 de novembro de 1945. De 7 de novembro de
1945 a 13 de fevereiro de 1946.
Ubaldo Bezerra de Melo, 10.° Interventor Federal, nomeado a
4 de fevereiro de 1946, posse no Ministério da Justiça a 5. Assume
em Natal a 13 de fevereiro, governando até 15 de janeiro de 1947.
Orestes da Rocha Lima, general de brigada, 11.° Interventor
Federal, nomeado a 13 de. janeiro, posse a 15 do mesmo mês era
1947. Governou até 31 de julho dé 1947.
José Augusto Varela, Governador, eleito em voto direto e
popular em 19 de janeiro de 1947 (A última eleição dessa forma
ocorrera a 31 de julho de 1927, vinte anos passados) assumiu o
govêrno a 31 de julho de 1947.
Tomás Salustino Gomes de Melo, desembargador, vice-gover­
nador do Estado. Assume o govêrno em 7 de julho de 1949.
José Augusto Varela reassume a 24 de julho de 1949.
— 460 —

Carlos Augusto Caldas da Silva, desembargador, Presidente


do Tribunal de Justiça, como substituto do Governador (Consti­
tuição Estadual, art. 37, § l.°) assumiu a administração do Estado
a 31 de janeiro de 1951.
Jerónimo Dix-Sept Rosado Maia, Governador. Posse em 31
de janeiro de 1951 (*).
Silvio Piza Pedrosa, vice-governador. Assume o govêrno a 6
de abril de 1951.
Jerónimo Dix-Sept Rosado Maia reassume a 30 de abril
de 1951.
Sílvio Piza Pedroza assume a 10 de julho de 1951. Com

Ô Ô
falecimento do titular em desastre de aviação, a 12 dé julho,
vice-governador, assume o cargo de Governador do Estado pe­
rante a Assembléia Legislativa em 16 de julho de 1951 (Ter­
minará seu mandato a 31-1-1956).

(*) A Constituição Estadual de 1947 fixa (art. 40) cinco anos para»
> período gbvernamental.
%

CAPÍTULO XVIII
( 1 ) Origem do Corpo Policial. Histórico de sua organi­
zação. (II) Denominações. (Ill) Chefia de Polícia.
A polícia na cidade do Natal era exercida pelos oficiais do
Senado da Câmara, encarregados de garantir aos cidadãos ou
homens-bons, o sossêgo da noite e distância dos ladrões noturnos.
Êstes, apanhados durante a função, iam para o Pelourinho e ali
ficavam em exposição algumas horas para que todos ficassem
conhecendo as' feições do amigo das cousas alheias.
Para o interior a autoridade, sargento-mor ou capitão-mor da
Ribeira, mantinha a tránqüilidade à sua custa e fôrça moral .res­
ponsável aos olhos do Rei pela calma da região confiada à sua
personalidade.
O Capitão-Mor possuia soldados más êsses não exerciam
policiamento como o conhecemos. Nem repressão havia. Estavam
para certos e determinados casos como a fôrça militar do Exército.
No século XIX é que tiveram um Quartel digno e amplo, inaugu­
rado em 1813, para a Companhia de Linha. Muito remodelado
ainda resiste na Praça Tomás de Araújo.
No século XIX é que nasceu a idéia de uma fôrça policial
da terra, encarregada de agir diretamente, ampliadas as áreas
de uma fiscalização repressora.
Em 1833 o presidente Basilio Quaresma Torreão, falando ao
Conselho Geral da Província, expôs a questão: — “Em Pernam­
buco o sangue dos nossos concidadãos ainda ensopa o solo bra.-
sileiro; e se tôdas essas oscilações não têm até hoje cruzado as
raias da nossa. Província, nem por isso devemos tomar o sono da
indiferença, defronte mesmo da borrasca que nos ameaça. O
Destacamento destinado ao serviço da Província ainda está auxi­
liando os nossos irmãos de Pernambuco na luta contra os homicidas
de Panelas; a Capital acha-se guarnecida por um Corpo exótico,
composto de soldados de Primeira Linha, e paisanos assalariados,
em total de sessenta homens, número insignificantíssimo à guardar
as Estações que convém; e o resto da Província entregue ao
tacanho auxilio dos guardas Nacionais, cuja má vontade se mani­
festa ainda no mais doce serviço policial. Foi debaixo destas vistas
que organizei um plano de um Corpo de Cavaleiros, que de pronto
acuda a todos os pontos da Província, ou que sirva de base à
qualquer fôrça maior de que houvermos mister. Neste plano, que
vos vai ser mostrado, vós notareis a forma simples da organização
464 —

dc um Corpo, tanto mais vantajoso à Província, quanto menos


deve êle gravar o Tesouro Público se não contarmos o arma­
mento que o deve revestir.”
O Conselho Geral da Província criou o Corpo Policial da
Província pela resolução de 27 de junho de 1834 e aprovada pelo
art. 4 da Lei de 4 de abril de 1835.
Essa lei de 4-4-1835 é o primeiro Orçamento que a Provín­
cia possuiu. No art. 4 lê-se: “O Govêrno porá em efetividade
com urgência o Corpo de Polícia com o mesmo número de praças,
marcado pelo extinto Conselho da Presidência.”
Não era, realmente, o Conselho da Presidência, espécie de
Conselho Administrativo, mas o Conselho Geral da Província,
tendo funções próximas ao legislativo provincial e que foi supri­
mido quando se criou a Assembléia Legislativa Provincial.
Nesse primeiro Orçamento, art. 2.°, § 7.° havia a verba de
7:561$ para os Guardas Policiais já existentes.
O presidente Ferreira de Aguiar, sucessor de Quaresma Tor­
reão, na sua “Fala” de 7-9-1836, dizia aos deputados provinciais:
— “Fôrça é, senhores, tratar aqui do Corpo Policial da Provín­
cia, criado pela Resolução do Conselho do Govêrno de 27-6-1834,
e por vós aprovado, em virtude do art. 4.° da lei de 4 de abril
do ano passado. Êsse Corpo que, criado com quarenta praças,
não tem podido preencher o fim da sua instituição, por quanto
sendo um número assás diminuto e vendo-se o Govêrno forçado
a lançar mão dêle até para a guarnição diária da Cidade, por
não haver suficiente tropa de Primeira Linha, apenas e muito
apenas sobra gente para as rondas noturnas.”
O presidente Ferreira de Aguiar propôs elevar o número de
40 para* 120 homens, indispensáveis ao policiamento da cidade
e interior da Província, e mandar adir, imediatamente, dez pra­
ças. E informava: — “O Quartel do Corpo Policial que estava
ameaçando ruína, acha-se completamente reparado, mas é êsse
um edifício tão pequeno que, com dificuldade aloja as cinqüenta
praças nêle aquarteladas, donde se segue que, em aumentando-se
o número que será de absoluta necessidade ampliá-lo. O quartel
da Tropa de Primeira Linha, cuja metade está ocupada pelo
Ateneu, pôsto que tenha acabado, não há muito de consertar,
precisa de algumas obras e reparos indispensáveis.”
E pormenoriza: — “Eu mesmo, senhores, desanimo em qual­
quer plano de melhoramento de que concebo a respeito da Polícia
pela absoluta falta de tropa; e por isso dai-vos pressa aprovando
a medida que tomei de adir os dez homens ao Corpo, elevá-lo ao
indispensável número de cento e vinte. Finalmente, senhores,
4V) —

devo fazer-vos sentir a grande precisão que há de criardes mais


dois oficiais para êsse Corpo, visto que não é possível ao único
que atualmente existe, apesar de seus desvelos e reconhecida
aptidão, dar conta do trabalho inerente ao seu cargo, assim, como
de, quanto antes, apresentardes um Regulamento que ponha têrmo
aos abusos que dem ocasionado a sua falta, cumprindo-me, entre­
tanto, científfcar-võs de que, para obstar as contínuas desobediên­
cias que se cometiam e para haver alguma regularidade no Corpo;
mandei por em execução, provisoriamente, alguns capítulos do Re­
gulamento do Corpo Municipal da Corte, que julguei apropria­
dos.»
As sugestões do presidente Ferreira de Aguiar foram trans­
formadas em projetos. A proposta para aditamento dos dez sol­
dados obteve parecer. favorável da Comissão de Justiça Civil,
Criminal e Fazenda, composta pelos deputados Dr. Joaquim Aires
de Almeida .Freitas, Bartolomeu da Rocha Fagundes, José Teodoro
de Freitas e Elias Antônio Cavalcanti de Albuquerque, que
assinou “vencido” em 19-9-1836. O parecer elevando o Corpò
Policial para 120 homens e mais os dois oficiais foi negativo,
aprovado a 26, com as mesmas restrições do mesmo Elias Antônio.
O homem tinha lá suas idéias. Era professor, advogado,
chefe político. Apresentou a 15 de outubro dêsse 1836 um projeto
em cujo art. l.° se. lia: — “Fica criada nesta Província uma
fôrça Policial com a denominação de Corpo Policial da Província
do Rio Grande do Norte.” Julgado objeto de deliberação, dis­
cutido a 26 e 2/9 o deputado Bartomeu da Rocha Fagundes, pro­
testou contra a expressão Fica criada porque o Corpo Policial
existia, funcionando, com um oficial, 50 soldados, quartel, etc.
A terceira discussão, 31 de outubro, aprovou a emenda,
retirando-se o Fica criada e dando redação. O Corpo Policial
passava a 70 praças, organizado com um l.° comandante, um
2.°, um l.° e 2.° sargentos, um furriel, três cabos, dois cometas e
<50 soldados. Estavam criadas as dez praças e os dois oficiais
solicitados pelo presidente Ferreira de Aguiar, futuro barão de
Gatuama. O l.9 comandante teria 40$ de sôldo e 10$ de
gratificação mensal, o 2.9 comandante o sóido de 25$, o l.9 sar­
gento, 640 diárias, e as demais praças o sôldo que atualmente
vencem. Os voluntários serviriam por dois anos e os recrutados
por quatro, podendo, uns e s outros, findo o prazo respectivo,
engajar-se por mais tempo. O presidente Ferreira de Aguiar
sancionou. É a resolução n.° 24, de 4-11-1836. Organiza a nossa
Polícia Militar porque fôra realmente criada em 27-6-1834.
O orçamento provincial consignou a verba de 11:300$ para
o Corpo Policial e o presidente regulamentou-o a 30-5-1837.
— 466 —

O l.° comandante foi o capitao Antonio José de Moura.


Ignoro quem foi o 2.° nesse momento. Os sargentos seriam José
Antonio de Sousa Caldas e José Hermenegildo Monteiro que
requeriam reengajamento em junho de 1837.
Em agosto dêsse 1837 o Corpo Policial tinha 62 homens.
O armamento constava de 66 espingardas, igual número de
baionetas, varetas, bandoleiras, patronas, martelinhos, sacatrapos»
guardas-feixos e sete cornetas de tocar.
O equipamento, sessenta unidades, era composto de moxilas.
cantis, marmitas e sacos para víveres. Os utensílios do quartel
eram: — um armário, duas mesas, dois moxos (tamboretes), três
bancos,\um cabide d’armas, dois ditos para correame, um candieiro,
duas tarimbas pequenas, uma craveira, um caneco para água e
um côco de tirar.
O Corpo Policial alojou-se na igreja de Sant’Antônio. no
consistório, durante alguns anos. Seu l.°* comandante, Antônio
José de Moura, faleceu a 24-10-1850.
Pouco tempo comandou o Corpo. Em meados de 1838 foi
exonerado, passando a ensinar geometria no Ateneu, desde ja­
neiro dêsse ano. Sete vêzes deputado provincial, ajudante d’Ordens
do presidente, era pessoa querida na cidade. Substituiu-o o Alfe­
res de quarta classe do Exército Matias Carlos de Vasconcelos
Monteiro, assumindo a 14-8-1838, com a graduação de capitão.
-Foi demitido a 27-3-1853 e faleceu a 11-2-1867. Sucedeu-o no
pôsto o capitão Francisco Machado do Rêgo Barros. Veio então^
em 1861, o capitão Fócio Joaquim do Rêgo Barros, até 1885,
quando faleceu a 30 de abril. Com o alferes veterano do Paraguai,
João da Fonseca Varela (1850-1931), são as figuras* «histó­
ricas” do Corpo.
Vinte anos depois de organizado, em 1857, o Corpo de
Polícia, dispunha:
Capitão comandante, 50$ de sôldo mensal, 10* de gratificação do
comando.
Tenente, 45$ de sôldo mensal.
Dois Alferes, cada um, 35$ de sôldo/mensal.
l.° sargento, 640 por dia.
2? sargento, 560 por dia (dois sargentos) .
Furriel, 480 por dia.
Seis cabos, cada, 440 por dia.
Dois cornetas, 440 por dia.
Cem Guardas, 400 por dia.
A verba orçamentária era de 23:660$.
— 467
\
Quitos vinte anos. 1877. A verba era de 42:463$.
Capí.jo Comandante, 150$ (sóido, 90$, gratificação, 10$,
exercício dò comando, 20$, etapa diaria, 1$).
Tenente, 60$ de sóido, gratificação, 10$, etapa, 1$, total,
100$000. x
Dois Alferes, cada, 50$, sóido; gratificação, 10$, etapa, 1$;
total, 90$0000.
P Sargento, 600 réis de etapa e 600 de sóido diário, 36$.
29 Sargento, dois, cada, 600 e 480; total, 32$ (mensal).
Furriel, 6Ó0 X 40, diários, mensal, 30$.
8 Cabos de Esquadra, cada, 600 e 340, total mensal, 28$200.
82 soldados, cada, 600 e 300 réis, mensal, 27$.
2 Cornetas, cada 600 e 340, mensal, 28$200.
Dez anos depois, 1887, mesma tabela. Havia apenas figuras
novas, o Mestre de Música com 48$ e o Contra-Mestre com
40$ mensais. A Banda de Música surge no orçamento provin­
cial para 1869 (Gustavo Adolfo de Sá). Mestre, Contra Mestre
e 14 músicos a mil réis diários cada um.
Em 1908. 276 praças e oficiais. Tte-cel, major ajudante, 2
alferes, 3 capitães, 3 tenentes, 3 alferes e 180 soldados. O coman­
dante recebia 4:800$ anuáis, 400$ mensais. O major 3:240$ por
ano. Os 180 soldados custavam 9:900$. A verba total ia a
222:402$.
. Vinte anos depois, 1928. Verba total de 1.114:963$. O
comandante Tte-cel percebia 800$ mensais. As 390 praças,
414:600$. Eram 563 oficiais e praças e havia o Esquadrão de
Cavalaria, 124 oficiais e praças, e uma seção de Bombeiros. Em
1947 a verba alcançava Cr$ 6.076.924,60. Em 1952, Cr$ ......
15.125.819,20-
Daquele quadro inicial de 1837 o Corpo Policial evoluiu até
a Polícia Militar, com 54 oficiais e 1.085 praças. Os 600$ anuais
do capitão passaram aos Cr$ 72.000,00 do coronel contempo­
râneo.
Na administração Dix-Sept foi iniciada e o governador Pedrosa
continuou o programa da recuperação material da Polícia Militar,
ficando concluído em 1953 o seu Quartel, um dos melhores do
país. Realizou-se a respectiva motorização, compra de armas
pesadas e equipamento de campanha. Os pelotões motorizados
substituíram o velho Esquadrão de Cavalaria desaparecido, num
plano de ação eficiente e rápida na manutenção e garantia da
ordem púbiica. Na parada de 7-9-1952 em Natal, pela primeira
vez, a Polícia Militar desfilou com seu uniforme de grande gala,
— 468 —

armamento moderno, com aspecto magnífico de elegância e dis­


ciplina perfeitas. (* )
(H)
O Corpo Policial ou Companhia de Polícia no Império, na
República as denominações variaram.
Em maio de 1892 tomou nome de Corpo Militar de Segu­
rança, tornado em Batalhão de Segurança pela Lei n.9 42, de 25-8
1894. Polícia Militar em 1923. Regimento Policial Militar em
1929. Atualmente, Polícia Militar.
Seu primeiro comandante no regime republicano e em título
efetivo foi um oficial do Exército, major Francisco de Paula
Moreira, com a graduação de tenente coronel, julho de 1892 a
junho de 1894, Tradicionais foram as figuras de muitos dos seus
comandantes, o coronel Caldas, Manuel Lins Caldas Sobrinho,
1854-1921, Joaquim Anselmo Pinheiro Filho, soldados desde a
organização do corpo, histórias vivas, cheias do espírito de despren­
dimento e abnegação militar.
Bem merece um histórico dedicado à sua evocação no tempo.
Mantém as características do corpo militar onde as tradições
mais vivas são de valentia, fidelidade e disciplina, constantes psico­
lógicas. Com centenas de episódios emocionais de coragem e
resistência, palmilhando tôda a Província e Estado nas alpercatas
das patrulhas, espalhando-se nas diligências sem fim, difíceis e
desesperadas, vencedora de cangaceiros, pronta às ordens, ao sacri­
fício e a renúncia, com uma galeria impressionante de mortos
no pôsto do dever, batendo-se sempre, conserva a Polícia Militar
a história bonita e vivida de um lema cada vez mais raro e. cada
vez mais heróico: — Forte e Fiel.

(III)
O cargo de Chefe de Polícia foi criado pela lei de 29-11-1832,
o Código de Processo Criminal. Seria função exercida por Juiz
de Direito de Capital. O primeiro Juiz de Direito efetivo da
Comarca de Natal foi o Dr. Joaquim Aires de Almeida Freitas,
posse a 12-8-1834.
Em maio de 1837 Almeida Freitas funcionava como Chefe
de Polícia. A designação, expressa e clara da lei, dirimia dificul­
dades maiores. A JPõIícia era antes de tudo repressiva e punidora.
Ninguém admitia a possibilidade de uma autoridade preventiva.
Almeida Freitas, baiano, vice-presidente da Província, foi o
primeiro Chefe de Polícia que tivemos.
(*) Inaugurado a 30-5-1954, o Ouartel moderno.
- 469

A Lei n? 261, de 3*12*1841 estabeleceu a Chefia de Polícia


de um modo mais nítido. O art. 1.® dizia: — Haverá no Municí­
pio da Córte, e em cada Província um Chefe de Polícia com os
Delegados e Subdelegados necessários, os quais, sob proposta,
serão nomeados, pelo Imperador, ou pelos Presidentes. Tôdas as
autoridades Policiais são subordinadas ao Chefe de Polícia.
O Regulamento n.° 120, de 31*1*1842, precisando a execução
da Lei n.9 261, de 3*12*1841, na parte policial e criminal, decidia
nos seus artigos, aqui transcritos porque são história do cargo em
sua função:
Art. 4.° No município da Corte, e em cada Província haverá
um Chefe de7 Polícia que residirá na Capital.
Art. 5.° No município da Córte, e nas Províncias do Rio
de Janéiro, Bahia, Alagoas, Paraíba, Ceará, Maranhão, Pernam*
buco, Minas Gerais, Pará e S. Paulo, os Chefes de Polícia não
acumularão outras funções: nas outras porém poderão exercer con*
juntamente as de Juiz de Direito da Capital, e sua Comarca ou
têrmo.
Art. 7.° Os Chefes dé Polícia das Províncias terão um
Delegado em cada Têrmo, e tantos subdelegados quantos os
Presidentes d$s mesmas Províncias, sôbre sua informação, julga­
rem necessários. Haverá por via de regra um Subdelegado em
cada Distrito de Paz, quando fôr muito populoso, e também se
fôr muito extenso, e houverem nêles pessoas idôneas para exercer
êsse, e os outros cargos públicos.
Art. 10. Na Córte, e nas Capitais das Províncias mencio­
nadas no art. 5.°, haverá uma casa privativamente destinada para
o expediente ordinário da Polícia.
Art. 21. Os Chefes de Polícia serão nomeados pelo Impe­
rador, dentre os Desembargadores, e Juizes de Direito. Nenhum
Juiz de Direito será nomeado Chefe de Polícia (salvo o caso de
interinidade) sem que tenha servido, pelo menos por três anos,
o lugar de Juiz de Direito, e nêle, dado provas de desinterêsse,
atividade e inteligência.
Art. 22. Serão conservados nos lugares, enquanto bem
servirem, e o Govêrno julgar conveniente.
Art. 24. Os Chefes de.Polícia, além do ordenado de De­
sembargador (quando o sejam) ou de Juizes de Direito das Co­
marcas; em que servirem, vencerão mais uma gratificação propor­
cional ao trabalho, a qual marcada pelo Govêrno, sôbre informa­
ções dos Presidentes das Províncias.
, 470 —

No Rio Grande do Norte os Chefes de Polícia foram, durante


o Império, Juizes dè Direito, da Capital, interior ou de outras
Províncias, nomeados pelo Imperador.
O Regulamento 120 criou, verdadeiramente, a polícia civil
e fundamenta ainda quanto possuímos no Brasil na espécie.
Na República a Chefia de Polícia dependeu de nomeação
estadual e sua organização e remodelações seguem o ritmo lógico
de adaptação às necessidades sempre maiores, delicadas e comple­
xas, de sua finalidade social.
O primeiro Chefe de Polícia na República foi o Dr. Jerónimo
Américo Raposo da Câmara, Juiz de Direito, depois primeiro pre­
sidente do Superior Tribunal de Justiça. Durante o período de
1889 a 1930 a tradição foi mantida, servindo ainda simples titu­
lares em Direito. De 1930 em diante foram nomeados também
militares« Dos dezoito Chefes de Polícia, de 1930 a 1952, oito
foram oficiais do Exército.
CAPÍTULO XIX
REPRESENTAÇÃO PARLAMENTAR

Cortes de Lisboa. (II) Constituinte de 1823. (III)


Deputados Gerais. 1826-1889. (IV) Constituinte
Republicana e Deputados Federais, 1890-1930 . (V)
1933-1950. ( VI ) Senadores do Império. ( VII ) Se­
nadores da República, 1890-1930. (VIII). 1935-
1950.
DEPUTADOS AS CORTES CONSTITUINTES DE
LISBOA — 1821

Procedeu-se à eleição na Igreja Matriz de Natal a 8 de


dezembro de 1821. Presidente Joaquim José do Rego Barros,
secretário padre Manuel Pinto de Castro, Escrutadores, Luís de
Albuquerque Maranhão e ò padre Francisco Antônio Lumachi de
Melo. Eleitores, padre Manuel Teixeira da Fonseca, Alexandre
de Melo Pinto e o padre José Inácio de Brito. O secretário da
Câmara, Manuel José de Morais. Testemunhas, Padre-Vigário
Feliciano José Dómelas e padre Joaquim Manuel de Albuquerque
Melo. Eleição em dois turnos. Á primária para escolher os “elei­
tores de paróquia” e a segunda, dêstes, para a escolha dos deputa­
dos por pluralidade de votos .
Foram eleitos :
Padre Antônio de Albuquerque Montenegro. Deputado.
Afonso de Albuquerque Maranhão. Deputado.
Padre Gonçalo Borges de Andrade. Suplente.
O Padre Antônio de Albuquerque Montenegro era vigário
de Goianinha pelo menos desde 1802. Cavaleiro da Ordem de
Cristo. Grande elemento animador da revolução de 1817 junto
ao coronel André d’Albuquerque Maranhão. Pronunciado a 13
de setembro de 1818 ocultou-se não sendo prêso. Só reapareceu
em 1820 quando os revolucionários regressaram da Bahia, indul­
tados. Viajou para Lisboa onde se encontrava em princípios de
agôsto de 1822, mandando seu diploma às Cortes Gerais,. Extra­
ordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa que o declarou
válido, convidando seu portador a assumir, 16-8-1822- A 16 escre­
veu informando não comparecer por “se achar muito incomodado
cóm a viagem". A 19 declara que o estado de sua saúde não
lhe permite o desempenho do mandato, Na sessão de 25 as Côrtes
votaram um parecer convidando-o a assumir e depois demitir-se
ou licenciar-se. Montenegro não respondeu e voltou ao Brasil.
Reassumiu sua paróquia e aí faleceu a 8-12-1840.
Afonso de Albuquerque Maranhão não viajou. Estava ligado
à politica .de Pernambuco e não a do Rio Grande do Norte. Fêz
474 —

parte da Convenção de Beberibe que motivou a saída do gover­


nador de Pernambuco, general Luís do Rego Barreto. Presidiu
a “Junta dos Matutos” que fêz aproximação decidida com o
govêrno imperial, atenuando os exageros nacionalistas locais. Foi
o primeiro Senador pelo Rio Grande do Norte no Império (1825)
embora colocado no terceiro lugar, com 21 votos. Faleceu a
10-7-1836.
O Padre Gonçalo Borges de Andrade, ordenado em 1815,
sendo Vigário do Apodi e da serra do Martins onde sempre residiu,
envolvido na revolução de 1817 fugiu para a vila de Sousa, na
Paraíba, onde foi prêso e enviado para a cadeia pública da Bahia.
Foi sôito a 17-11-1820. Não compareceu às sessões das Côrtes de
Lisboa. Faleceu no Martins em data ignorada.
A data da eleição às Côrtes de Lisboa realizada em Natal
é dois de dezembro, segundo, documentos autênticos que li tio
arquivo do Instituto, ou oito, segundo a ata das Côrtes em 16-8
de 1822.

DEPUTADO À CONSTITUINTE DO IMPÉRIO (1823)


A eleição realizou-se em Natal a 11 de novembro de 1822
comparecendo dezoito eleitores. Foram escolhidos:
Doutor Antônio de Arruda Câmara. Deputado.
Dr- Tomás Xavier Garcia de Almeida. Suplente.
Antônio de Arruda Cámara era paraibano, doutor em Medi­
cina pela Universidade de Coimbra e grande proprietário no
Piancó. Era irmão do naturalista Francisco de Arruda Câmara.
Em 1778 não tinha títulos e assinava-se Antônio de Arruda
Câmara Júnior (João de Lira Tavares, “Apontamentos para a
História Territorial da Paraiba”). Quarenta e quatro .depois,
quando foi eleito, devia ser de idade provecta. Não compareceu à
Assembléia.
O Dr. Tomás Xavier Garcia de Almeida (ver biografia no
cap. XX) assumiu a 25 de outubro dê 1823 e votou sempre ao
lado do Govêrno. Assistiu a dissolução da Constituinte a 12 de
novembro do mesmo 1824.

DEPUTADOS GERAIS
PRIMEIRA LEGISLATURA. (1826-29)
Aaostinho Leitão de Almeida.
— 475 —

SEGUNDA LEGISLATURA. (1830-33)


José Paulino dc Almeida e Albuquerque.
O deputado José Paulino e Albuquerque faleceu
durante esta Legislatura. O padre Francisco de Brito
Guerra, suplente, assistiu às sessões de 1831-33.

TERCEIRA LEGISLATURA. (1834-37)


Padre Francisco de Brito Guerra.

QUARTA LEGISLATURA. ( 1838-41 )


Basilio Quaresma Torreão.
QUINTA LEGISLATURA. ( 1842-44 )
Dom Manuel de Assis Mascarenhas.
A Câmara foi dissolvida antes de sua abertura por
decreto de 1 de maio de 1842. A Câmara novamente
eleita foi dissolvida pelo decreto de 24 de maio de 1844.
Dom Manuel de Assis Mascarenhas fôra eleito.
SEXTA LEGISLATURA. ( 1845-47)
André de Albuquerque Maranhão.
O suplente, Dr. Francisco de Queirós Coutinho
Matoso da Câmara, substituiu-o de 28 de fevereiro a 3
de março de 1845 e em tôdas as sessões de 1846 a 1847.
SÉTIMA LEGISLATURA. ( 1848 )
Dr. Casimiro José de Morais Sarmento.
Foi dissolvida por decreto de 19 de fevereiro de 1849.
OITAVA LEGISLATURA. ( 1850-52 )
Dr. Casimiro José de Morais Sarmento.
João Carlos Vanderlei-
O deputado João Carlos Vanderlei assistiu às ses­
sões de 1852.
NONA LEGISLATURA. ( 1853-56 )
»
Dr. José Joaquim da Cunha.
Dr. Otaviano Cabral Raposo da Câmara.
Na sessão de 1853 o deputado José Joaquim da
Cunha foi substituído pelo suplente, Dr. Amaro Car­
neiro Bezerra Cavalcanti.
— 476 —

DÉCIMA LEGISLATURA. (1857*60)

Dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti.


Coronel José Xavier Garcia de Almeida.
Os suplentes, Drs. Antônio de Albuquerque Ma­
ranhão Cavalcanti e Luís Francisco da Silva não tive­
ram ocasião de servir.

DÉCIM A-PRIM EIRA LEGISLATURA. (1861*1864)


Dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti.
Dr. Gabriel Soares Raposo da Câmara.
A Câmara foi dissolvida por decreto de 12 de maio
de 1863.

DÉCIMA-SEGUNDA LEGISLATURA. (1864*66).


Dr. Amaro Carneiro-Bezerra Cavalcanti.
Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco.

DÉCÏMA-TERCEIRA LEGISLATURA. ( 1867*70)


Dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti.
Dr. José Maria de Albuquerque Melo.
A Câmara foi dissolvida por decreta de 18, de julho
de 1868.
DÉCIM A-QU ARTA LEGISLATURA. ( 1869-72 )

Dr. Francisco Gomes da Silva.


Dt. Otaviano Cabral Raposo da Câmara.
A Câmara for dissolvida por decreto de 22 de maic
de 1872.

DÉCIMA-QUINTA LEGISLATURA. ( 1873*76)

Padre João Manuel de Carvalho.


Dr. Tarquinio Bráulio de Sousa Amaranto.

DÉCIMA-SEXTA LEGISLATURA. ( 1877*80)


Dr. Francisco Gomes da Silva.
Dr. Tarquinio Bráulio de Sousa Amaranto.
A Câmara foi dissolvida por decreto de 11 de abril
de 1878.
— 477 —

DÉCIMA-SÉTIMA LEGISLATURA . ( 1878-81 )


Dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti.
Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco.
Esta Câmara foi dissolvida por decreto de 30 de
junho de 1881.

DÉCIMA-OITAVA LEGISLATURA. ( 1882-85)


Dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti.
Dr. Tarquínio Bráulio de Sousa Amaranto.
A Câmara foi dissolvida por decreto de 3 de setem­
bro de 1884.

DÉCIMA-NONA LEGISLATURA . ( 1882-85 )


Dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti.
Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco.
A Câmara foi dissolvida por decreto de 26 de outu­
bro de 1885.

VIGÉSIMA LEGISLATURA. (1886-89)


Dr. Tarquínio Bráulio de Sousa Amaranto.
Padre João Manuel de Carvalho.
A Câmara foi dissolvida por decreto de 15 de junhc
de 1889 e convocada outra para 20 de novembro. Æ
eleição realizou-se a 31 dê agôsto. Foram eleitos <
Dr- Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti e o Dr. Migue
Joaquim de Almeida Castro. Não chegaram a legislai
por ter sobrevindo o movimento republicano de 15 dc
novembro de 1889.

DEPUTADOS FEDERAIS
Os deputados pelo Rio Grande do Norte ao Congresso
Republicano Constituinte foram, na forma predita na Lei Magna,
os primeiros deputados federais. Independeram de outra eleição.
Promulgada a Constituição.passaram a legislar, então divididas as
casas do Segundo-Poder.

PRIMEIRA LEGISLATURA. (1891 -93 )

Dr. Almino Alvares Afonso.


Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão.
— 478 —

Dr. Miguel Joaquim de Almeida Castro.


Dr. Antonio de Amorim Garcia.
Êste Congresso foi dissolvido pelo marechal Deo*
doro da Fonseca a 3 de novembro e recontinuou suas
sessões a 24 do mesmo mês de 1891.
O deputado Pedro Velho de Albuquerque Maranhão
foi eleito Governador do Estado e tomou posse a 28 de
fevereiro de 1892. Foi eleito para substitui-lo Augusto
Sêvero de Albuquerque Maranhão a 22 de maio. Esta
eleição foi anulada. A segunda» em 23 de abril de 1893,
considerada válida, levou o mesmo candidato à Câmara
onde foi reconhecido e empossado a 30 de junho de 1893.

SEGUNDA LEGISLATURA. (1894*96)


Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.
Francisco Gurgel de Oliveira.
Dr. Augusto Tavares de Lira.
Dr. Luis Francisco Junqueira Aires de Almeida.
O deputado Junqueira Aires faleceu a 10 de maio
de 1896. Elegeram o Dr. Pedro Velho de Albuquerque
Maranhão empossado a 27 de agôsto do mesmo ano.

TERCEIRA LEGISLATURA. (1897-99)


Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.
Dr. Augusto Tavares de Lira.
Francisco Gurgel de Oliveira.
Dr. Amaro Cavalcanti.
O deputado Amaro Cavalcanti foi nomeado Mi­
nistro da Justiça e Negócios Interiores. Toi eleito a 20
de junho de 1897 seu substituto, o Dr. EloiCastriciano
de Sousa.

QUARTA LEGISLATURA. (1900-902)


Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.
Dr. Augusto Tavares de Lira.
Dr. Eîoi Castriciano de Sousa.
Dr. Manuel Pereira Reis.
O deputado Augusto Severo morreu em Paris fa
zendo experiências no seu dirigível “PAX” a 12 de maio
de 1902. Elegeram a 17 de agôsto do mesmo ano o
coronel Francisco Vitor da Fonseca e Silva.
— 479 —

QUINTA LEGISLATURA. ( 1903*1905 )

Dr. Augusto Tavares de Lira,


Dr. Eloi Castriciano de Sousa.
Dr. Manuel Pereira Reis.
Coronel Francisco Vitor da Fonseca e Silva.
O deputado Tavares de Lira assumiu o govêrno do
Estado a 25 de março de 1904. O Dr. Alberto Ma­
ranhão (oi seu substituto na Câmara.
O deputado Fonseca e Silva faleceu em 27 de Julho
de 1905 sendo eleito para sua vaga o Dr. Juvenal La­
martine de Faria.

SEXTA LEGISLATURA. ( 1906-908 )

Dr. Alberto Maranhão.


Dr. Eloi Castriciano de Sousa.
Dr. Juvenal Lamartine de Faria.
Dr. Manuel Pereira Reis.
O Deputado Alberto Maranhão assumiu o govêrno
do Estado em 25 de março de 1908. Sucedeu-o na
CâmaraoDr. João Lindolfo Câmara. \

SÉTIMA LEGISLATURA. (1909-11)


Dr. Eloi Castriciano de Sousa.
Dr. Juvenal Lamartine de Faria.
Dr. Sérgio Paes Barreto.
Dr. João Lindolfo Câmara.

OITAVA LEGISLATURA. ( 1912-14)


Dr. Eloi Castriciano de Sousa.
Dr. Juvenal Lamartine de Faria i
Dr. Augusto Carlos de Vasconcelos Monteiro.
Dr. Augusto Leopoldo Raposo da Câmara.
Tendo o deputado Eloi Castriciano de Sousa pas­
sado para o Senado, foi eleito em 1914, o Dr. Alberto
Maranhão.

NONA LEGISLATURA. (1915-17)


Dr. Alberto Maranhão.
Dr. Juvenal Lamartine de Faria.
Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros.
Dr. Afonso Moreira de Loiola Barata.
— 480 —

DÉCIMA LEGISLATURA. (1918-20)


Dr. Alberto Maranhão.
Dr. Juvenal Lamartine de Faria. .
Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros.
Dr. Afonso Moreira de Loiola Barata.

DÉCIMA-PRIMEIRA LEGISLATURA. (1921-23)


Dr. uvenal Lamartine de Faria-
Dr. osé Augusto Bezerra de Medeiros.
Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro.
Dr. Alberto Maranhão.
O deputado Almeida Castro faleceu a 22 de junho
de 1922. Foi eleito a 20 de agôsto do mesmo ano o
Dr. Rafael Fernandes Gurjão.

DÉCIMA-SEGUNDA LEGISLATURA . ( 1924-26)


Dr. Juvenal Lamartine de Faria.
Dr. Rafael Fernandes Gurjão.
Dr. José Georgino Alves Avelino.
Dr. Alberto Maranhão.

DÉCIM A-TERCEIRA LEGISLATURA . ( 1927-29 )


Dr. Rafael Fernandes Gurjão.
Dr. Cristóvão Bezerra Dantas.
Dr. Alberto Maranhão.
Dr. Eloi Castriciano de Sòusa.

DÉCIMA-QUARTA LEGISLATURA. (1930-32)


Dr. Rafael Fernandes Gurjão.
Dr. Dioclécio Dantas Duarte.
Dr. Cristóvão Bezerra Dantas.
Dr. Eloi Castriciano de Sousa.
Esta Câmara foi dissolvida pela revolução de 3 de
outubro de 1930.

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE


Alberto Roseli.
Kerginaldo Cavalcanti de Albuquerque.
Francisco Martins Veras.
José Ferreira de Sousa.
— 481 —

A Constituinte instalou-se a 15-11-1933 e elaborou


a Constituição promulgada a 16-7-1934.
O art. 3.° das “Disposições Transitórias” mandava
proceder às eleições para membros* da Câmara dos Depu-*
tados e das Assembléias Constituintes' dos Estados, no­
venta dias depois da promulgação da Constituição.
PRIMEIRA LEGISLATURA. ( 1935-1938 )

José Augusto Bezerra de Medeiros.


Alberto Róseli.
João Café Filho.
Ricardo Paes Barreto.
José Ferreira de Sousa.
O resultado final das el.eições suplementares modit
ficou a bancada. O deputado Ricardo Paes Barreto dei­
xou a Câmara em outubro de 1935 sendo substituido
pelo Dr. Francisco Martins Veras.
A primeira legislatura deveria findar a 3-5-1938.
Foi dissolvida a 10-11-1937.
SEGUNDA LEGISLATURA (1946-49)
(Prorrogada para 1950. Disposições Constitucionais Transitórias,
art. 29, § l9, da Constituição Federal de í8-9-946).
José Augusto Bezerra de Medeiros.
João Café Filho.
José Augusto Varela.
Valfredo Gurgel.
Vicente da Mota Neto.
Aluizio Alves.
Dioclécio Dantas Duarte.
Foram os Constituintes, de 12 de fevereiro a 18 de
setembro de 1946, passando a legislação ordinária, ter­
minando em 1950.
O deputado José Augusto Varela renunciou a 31-7
de 1947 por ter sido eleito Governador do Estado. Foi
seu substituto ó suplente José Arnaud Gomes Neto, de
5-8-1947 a 3-1-1951.
O deputado José Arnaud estêve licenciado 180 dias,
de 14-2-1950 a 10-8-1950, sendo convocado o suplente
Gil Soares de Araújo, de 16 de fevereiro a 9 de agôsto
de 1950.
O deputado Mota Neto estêve licenciado de 16-8
de 1950 a 30-1-1951 sendo substituido pelo suplente Gil
Soares, 16-8-1950 a 31-1-1951.
- 482 —

TERCEIRA LEGISLATURA (1951-55)


oão Café Filho.
osé Arnaud Gomes Neto.
erônimo Dixhuit Rosado Maia.
Teodorico Bezerra.
André Fernandes de Sousa.
Aluízio Alves.
José Augusto Bezerra de Medeiros.
Tendo sido eleito Vice-Presidente da República o
deputado João Café Filho foi convocado seu suplente,
Dr. Vicente da Mota Neto, posse a 12-3-1951.
Teodorico Bezerra esteve licenciado de 11-9-1951
a 23-5-1952. O seu suplente, monsenhor Valfredo Gurgel,
tomou posse a 11-9-1951 e entrou em licença de 6-2-1952
a 22-5-1952, tendo assumido o suplente Dioclécio Dantas
Duarte em 6-2-1952.
O deputado Teodorico Bezerra prorrogou a sua li­
cença a partir de 29-5-1952, assumindo a 16-6-1952 o
suplente Mons. Valfredo Gurgel.
O deputado Aluísio Alves esteve licenciado de 23-10
de 1951 a 17-2-1952, assumindo o suplente Djalma Ma­
rinho, de 23-10-1951 a 18-2-1952.
O deputado José Arnaud esteve licenciado de 5-10
de 1951 a 5-2-1952, sendo substituído pelo suplente Abe­
lardo Calafange, de 5-10-1951 a 15-12-1951. De 15 de
janeiro a 5 de fevereiro de 1952 o lugar do deputado
José Arnaud estêve vago.
O deputado Mota ’Neto estêve licenciado de 11-9
de 1951 a 13-12-1951, sendo substituido pelo suplente
Mons. Valfredo Gurgel.

SENADORES IMPERIAIS
( Vitalícios, Constituição do Império, art, 40)
Afonso de Albuquerque Maranhão. Proprietário. Escolhido
por oferta imperial de 22 de janeiro de 1826. Posse a 22 de agôsto.
Faleceu em 10 de julho de 1836.
Francisco de Brito Guerra. Padre. Escolhido a 10 de junho
de 1837. Posse a 12 de julho. Morreu em 26 de fevereiro de 1845.
Paulo José de Melo Azevedo e Brito. Veador da Casa Im­
perial. Escolhido a 15 de setembro de 1845 . Posse a 5 de maio
de 1846. Faleceu a 25 de setembro de 1848.
— 483

Dom Manuel de Assis Mascarenhas. Magistrado. Escolhido


a 12 de junho de 1850- Posse a 17 do mesmo. Morreu a 30 de
janeiro de 1867.
Francisco de «Sales Tôrres Homem, (Visconde de Inhome-
rim) Escolhido a 27 de abril de 1870. Posse a 20 de junho. Fa­
leceu a 3 de junho de 1876.
Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque. (Visconde de Ca­
valcanti) Escolhido a 4 de janeiro de 1877. Posse a 6 de março.
Era Senador quando a República foi proclamada. Faleceu em 13
de iunho de 1899.

SENADORES FEDERAIS
A representação eleita a 15 de setembro, reuniu-se a 15 de
novembro de 1890 para o Congresso Constituinte Republicano.
Depois de promulgada a Constituição de 24 de fevereiro de 189Ir
eleito presidente e vice-presidente da República, o Congresso sepa-
rou-se e formou as duas casas legislativas, independente de eleição
distinta.
Senado e Câmara dos Deputados funcionaram a partir de
15 de junho de 1891 em obediência com o § 4.° do art. l.° das
disposições transitórias da Constituição da República.
Rezava o parágrafo 6.° do art. l.° das Disposições Transi­
tórias :
§ 5.° “No primeiro ano ’da primeira legislatura, logo nos
trabalhos preparatórios, discriminará o Senado o primeiro e se-
gundo‘têrços de seus membros, cujo mandato há de cessar no têrmo
do primeiro e do segundo triênios.
§ 6.® “Essa discriminação efetuar-se-á em três listas, corres­
pondentes aos três têrços, graduando-se os Senadores de cada
Estado e os do Distrito Federal pela ordem de sua votação res­
pectiva, de modo que se distribua ao terço do último triênio o
primeiro votado no Distrito Federal e em cada um dos Estados,
e aos dois têrços seguintes os outros dois nomes na escala dos
sufrágios obtidos.”
Por êsse critério o mais votado ficaria Senador por nove
anos e os seus companheiros de eleição seguir-se-iam em seis e
três anos respectivamente.
Para o Congresso Constituinte o Rio Grande do Norte elegeu:
José Bernardo de Medeiros.
Tenente-coronel José Pedro de Oliveira Galvão.
Dr. Amaro Cavalcanti.
Na discriminação do Senado o primeiro ficou com os nove
anos, o segundo com seis e o terceiro com três.
— 484

O Senado foi dissolvido pelo marechal Deodoro da Fon­


seca no golpe de Estado de 3 de novembro de 1891 e só voltou
a funcionar no dia 24 do mesmo mês, na vitória da reação chefiada
pelo marechal Floriano Peixoto.

SEGUNDA LEGISLATURA . ( 1894-96 )


Dr. Almino Alvares Afonso. Eleito na renovação do têrço.
Nove anos.
José Bernardo de Medeiros. Seis anos.
Tenente-coronel José Pedro de Oliveira Galvão. Três anos.

TERCEIRA LEGISLATURA . ( 1897-99 )


Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Eleito na re­
novação do têrço. Nove anos.
Dr. Almino Alvares Afonso. Seis anos.
José Bernardo de Medeiros. Três anos.
O Senador Almino Afonso faleceu em 13 de feve­
reiro de 1899. Foi eleito para sua vaga Francisco Gomes
da Rocha Fagundes, que se empossou em 20 de abril
de 1900.
QUARTA LEGISLATURA. ( 1900-902 )

José Bernardo de Medeiros. Eleito na renovação do têrço.


Nove anos.
Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Seis anos.
Francisco Gomes da Rocha Fagundes. Três anos.
O Senador Rocha Fagundes renunciou o mandato a
10 de julho de 1900. O Dr. Joaquim Ferreira Chaves
foi eleito em 25 de agôsto para substitui-lo, tomando
posse .a 4 de outubro do mesmo 1900.

QUINTA LEGISLATURA. (1903-905)


Dr. Joaquim Ferreira Chaves. Eleito na renovação do têrço.
Nove anos .
José Bernardo de Medeiros. Seis anos.
Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Três anos.

SEXTA LEGISLATURA. (1906-908)


Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Eleito na reno­
vação do têrço. Nove anos.
— 485 —

Dr. Joaquim Ferreira Chaves. Seis anos.


José Bernardo de Medeiros. Três anos.
Os Senadores José Bernardo de Medeiros e o Doutor
Pedro Velho de Albuquerque Maranhão faleceram du*
rante o ano de 1907. A 15 de janeiro e 9 de dezembro,
respectivamente. A José Bernardo de Medeiros substituiu
em 25 de junho de 1907 o Dr. Francisco de Sales Meira
e Sá. Ao Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão
substituiu o Dr. Antonio José de Melo e Sousa, a 1.* de
setembro de 1908.

SÉTIMA LEGISLATURA. (1909*11)


Dr. Francisco de Sales Meira e Sá. Eleito na renovação do
têrço. Nove anos.
Dr. Antonio José de Meló e Sousa. Seis anos.
Dr. Joaquim Ferreira Chaves. Três anos.
O Senador Francisco de Sales Meira e Sá renun­
ciou à senatoria em 4 de janeiro de 1910 por ter sido
nomeado Juiz Federal na seção do Rio Grande do Norte.
Foi eleito para sua vaga o Dr. Augusto Tavares de Lira
que tomou posse a 25 de abril do mesmo 1910-

OITAVA LEGISLATURA. (1912*14)


Dr. Joaquim Ferreira Chaves. Eleito na renovação do têrço.
Nove anos.
Dr. Augusto Tavares de Lira. Seis anos.
Dr. Antonio José de Melo e Sousa. Três anos.
Deram*se, durante a Oitava Legislatura, duas vagas.
O Senador Joaquim Ferreira Chaves, eleito Governador
do Estado, assumiu a 1 de janeiro de 1914. A 1 de
março era eleito o Dr. Eloi Castriciano de Sousa para
substitui-lo no Senado.
O Senador Tavares de Lira deixou a cadeira , por
ter sido nomeado em 15 de novembro de 1914 Ministro
da Viação e Obras Públicas. Preencheram a vaga na
eleição de 1915.

NONA LEGISLATURA. (1915*17)


Dr. Antônio José de Melo e Sousa. Eleito na renovação do
têrço. Nove anos.
Dr. Eloi Castriano de Sousa. Seis anos.
João de Lira Tavares. Três anos.
- 486 —

DÉCIMA LEGISLATURA. (1918-20)


João de Lira Tavares. Eleito na renovação do terço. Nove
anos.
Dr. Antonio José de Meló e Sousa. Seis anos.
Dr. Eloi Castriciano de Sousa. Três anos.
O Senador Antonio José de Melo e Sousa a 1 de
janeiro de 1920 assumiu o cargct de Govemádor do Es­
tado. Foi eleito a 24 de abril do mesmo ano o Doutor
Joaquim Ferreira Chaves para sua vaga.
O Senador Ferreira Chaves renunciou a senatoria
por ter sido nomeado Ministro da Marinha a 21 de
outubro de 1920«.

DÉCIMA-PRIMEIRA LEGISLATURA. ( 1921-23)


Dr. Eloi Castriciano de Sousa. Eleito na renovação do têrço.
Nove anos.
João de Lira Tavares. Seis anos.
Tobias do Rego Monteiro. Três anos.
O Senador Tobias do Rego Monteiro renunciou a
21 de janeiro de 1923. Foi eleito em 4 de março do
mesmo ano o Dr. Joaquim Ferreira Chaves.

DÉCIMA-SEGUNDA LEGISLATURA. ( 1924-26)

Dr. Joaquim Ferreira Chaves. Eleito na renovação do têrço.


Nove anos.
Dr. Eloi Castriciano de Sousa. Seis anos.
João de Lira Tavares. Três anos.
O Senador Eloi Castriciano de Sousa renunciou ao
mandato em 28 de janeiro de 1927.

DÉCIMA-TERCEIRA LEGISLATURA. ( 1927-29)


João de Lira Tavares. Eleito na renovação do têrço. Nove
anos.
Dr. Joaquim Ferreira Chaves. Seis anos.
Dr. Juvenal Lamartine de Faria. Três anos.

DÉCIMA-QUARTA LEGISLATURA. (1930-32)


Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros. Eleito na renovação
do têrço. Nove anos.
João de Lira Tavares. Seis anos.
Dr. Joaquim Ferreira Chaves. Três anos.
— 487 —

A Décima-quarta legislatura foi interrompida pela


dissolução do Senado e Câmara dos Deputados em vir­
tude do movimento revolucionário de 3 de outubro de
1930, depondo o presidente "Washington Luís Pereira de
Sousa no dia 24 de outubro de 1930. O Dr. "Washington
Luís deixaria a presidência da República vinte c dois
dias depois.
A Constituição Federal de 16-7-1934 compunha o Senado
da República com dois senadores de cada Estado, eleitos por oito
anos. (art. 89) . E estatuía (art. 79 das «Disposições Transitó­
rias”) : — “O mandato do representante menos votado do Dis­
trito Federal e de cada Estado no Senado Federal terminará com
a primeira legislatura. Em caso de votação igual, o órgão eleitor
escolherá por sorteio, aquele cujo mandato terminará com a pri­
meira legislatura.”
A Assembléia Constituinte do Rio Grande do Norte elegeu,
na sessão de 30-10-1935 os senadores.
Eloi de Sousa (anos, 1935-42) .
Joaquim Inácio de Carvalho Filho (1935-38) .
O Senado Federal, foi dissolvido a 10-11-1937*
Nas eleições gerais de 2-12-1945 foram eleitos senadores:
Georgino Avelino. 1946-1954.
José Ferreira de Sousa. 1946-1954.
A Constituição Federal de 18-9-1946 restabeleceu o número
de três senadores, art. 60, § l.°, com o mandato de oito anos
(§ 2.°), a representação renovada de quatro em quatro tanos, alter­
nadamente, por um e por dois têrços (§ 3.°).
O § l.° do art. 2.° do “Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias” declarou: — Os mandatos dos atuais deputados e os
dos senadores federais que forem eleitos para completar o número
de que trata o § l.° do art. 60 da Constituição, coincidirão com
o do Presidente da República. § l.9 — Os mandatos dos demais
senadores terminarão a 31 de janeiro de 1955.
Foi eleito a 19-1-1947 o terceiro senador.
João Severiano da Câmara e
O Senador João Câmara faleceu em Natal a 12-12-1948.
Assumiu o suplente
Kerginaldo Cavalcanti de Albuquerque.
Terminando o mandato a 31-1-1950. Foi reeleito a 3-10-950,
na renovação, oito anos, 1950-1958.
CAPÍTULO XX

NOTAS PARA A BIOGRAFIA NORTE-RIO-GRANDENSE


NOTAS PARA A BIOGRAFIA NORTE-RIO-GRANDENSE

Afonso Ligório Bezerra: — nasceu na povoação de Carapcbas,


município de Angicos a 6-6-1907. Estudou em Natal e ingressou
na Faculdade de Direito do Recife em 1928, cursando o 3.° ano«
Estudioso, recatado, sensível, leitor infatigável, desde os 12 anos
começou a escrever artigos e contos que tiveram lisongeira re­
percussão na imprensa natalense e carioca, fixando paisagem e
psicologia sertaneja. Profundamente católico, deixou estudos rápi­
dos em defesa da doutrina cristã. Era um santo leigo em potencial,
puro, espontâneo, natural. A Prefeitura de Angicos mudou o
nome de Carapebas para “Afonso Bezerra** (ato n.° 5, dé 9-6
de 1931). Faleceu em Natal a 8-3-1930.
Alexandre Baraúna Mossoró: — soldado na Guerra do Flo­
res na República do Uruguai, salientando-se por notável bravura
no combate de Paissandu, volvendo a bater-se apesar de perdido
um olho e quebrado o braço. Crê-se ter nascido em Mossoró.
Faleceu no campo de batalha, janeiro de 1865, sendo reverenciado
o seu cadáver pelo comandante da brigada, general Sampaio.
Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão: — nasceu na
cidade da Macaíba, então povoação, a 2-10-1872. Bacharel no
Recife, 1892. Jornalista, político. Promotor Público em Macaíba,
secretário do Govêrno, foi eleito Governador do Estado, 1900-1904.
Deputado Federal. Novamente Governador, 1908-1911. Voltou à
Câmara dos Deputados, reeleito até a legislatura de 1927-29. Em
1930 era Delegado Comercial do Estado do Rio de Janeiro. Sôbre
suas administrações ver Cap. VIII. Um dos raros homens de
Estado preocupados e enamorados pela cultura literária, arte,
música. Inspetor do Instituto de Açúcar e Álcool. Faleceu era
Parati, Estado do Rio de Janeiro, a 1-2-1944.
Almino Alvares Afonso: — nasceu no Patu de Dentro, arredo­
res da cidade do Patu, a 17-4-1840, bacharelando-se em Direito
no Recife, 1871, após vencer dificuldades inúmeras. Teve vida
acidentada, ocupando cargos de magistratura e magistério no Ceará
€ Amazonas, sendo abolicionista notável e um dos mais aclamados
tribunos do seu tempo. Honesto, arrebatado, envolventeraente
— 492 —

simpático, gozou de invejável popularidade em várias províncias


do Império pela generosidade de seus gestos e firmeza de caráter.
Deputado/à Constituinte Republicana pelo Rio Grande do Norte,
Senador Federal em 1894. Foi dado seu nome ao distrito de
Caeira no Patu. Seu busto em bronze, obra do escultor Eduardo
Sá e oferta do coronel Demétrio Lemos foi inaugurado na cidade
do Martins a 15-11-1929. Faleceu em Fortaleza, Ceará, a 13-2
de 1899.
Amaro Cavalcanti: — nasceu na cidade do Caicó a 15-8-1849,
De pais pobres e desajudados, iniciou a vida com o maior* esforço
e animado por uma fôrça de vontade miraculosa. Chegou a Mi­
nistro de Estado, Plenipotenciário no Paraguai. Deputado Fede­
ral, Senador da República, Prefeito do Distrito Federal e Ministro
do Supremo Tribunal de Justiça. Deixou extensa bibliografia sôbre
Direito, Economia-Finanças, Linguística, Política, etc. Uma das
mais impressionantes figuras que o Rio Grande do Norte doou
ao Brasil. A sede da Assembléia Legislativa Estadual denomina-se
“Palácio Amaro Cavalcanti”. Faleceu no Rio de Janeiro a 28-1
de 1922.
André de Albuquerque Maranhão: — nasceu em Goianinha,
grande proprietário rural, cavaleiro da Casa Real, Senhor dê
Cunhaú, coronel comandante da divisão do Sul. Foi o chefe da
Revolução de 1817, entrando em Natal a 28-4-1817. Prêso e
ferido na contra-revolução a 25 de abril, faleceu no dia seguinte,,
pela madrugada, no quarto escuro do Forte dos Reis Magos.
Aurélio Valdemiro Pinheiro: — nasceu em S. José de Mipibu
a 28-1-1882. Doutor em Medicina pela Faculdade da Bahia, jôr*
nalista, crítico, residiu no Amazonas, fixando-se em Nitèrói.
Autor de vários romances e livros de contos, “Desterro de Hum­
berto Saraiva”, premiado pela Academia Brasileira de Letras,
“Gleba Tumultuária”, “Macau”, “À Margem do Amazonas’* e
«Em busca do Ouro». Faleceu em Niterói a 17-11-1938.
Antônio Basilio Ribeiro Dantas, pai e filho, o primeiro,
duas vêzes deputado provincial, presidiu a Câmara Municipal
de S. José de Mipibu, 1841-45 e 1853-57 e como vice-presidente
administrou a Província em 1867 e 1868. Faleceu em 1874. O
Filho, nasceu em S. José a 13-6-1828, deputado provincial, pre­
sidindo a Câmara Municipal em 1881-83 e 1891, e cinco vêzes go­
vernou a Província, 1884, 1885 e 1889. Estava no govêrno quando
foi proclamada a República. Faleceu em Natal a 2M1-1895.
Antônio Felipe Camarão, Dom — chefe dos. indígenas ., po­
tiguares, de raça tupi, nasceu em Aldeia Velha, á margem esquerdat
— 493 —

do Potengi, tomando ativíssimá parte nas guerras contra os holan­


deses. Foi-lhe concedida a honra de um brazão d'armas e o título
de dom, além* de tenças em dinheiro. Faleceu no Arraial da Vár­
zea, Pernambuco, em agôsto de 1648. O barão do Rio Branco
regista 24 como o dia do falecimento do herói.
Antônio Florêncio Pereira do Lago: — nasceu em S; José,
município de Touros, a 10-5-1825, estudando penosamente e con­
seguindo matricular-se na Escola Militar ( 1849 ) ? indo a tenente
coronel a 5-11-1885, reformando-se no pôsto imediato a 2-2-1890.
Presidiu a Junta Governativa Republicana do Amazonas em 1889.
Tomou parte na Retirada da Laguna onde exerceu influência
decisiva pela sua coragem, iniciativa e inteligência pronta. O
visconde de Taunay escreveu sua biografia. Faleceu no Rio de
Janeiro a 1-1-1892.
Antônio da Rocha Bezerra Cavalcanti: — nasceu a 20-5-1837,
ignorando-se em que ponto do Rio Grande do Norte. Oficial de
Artilheria, tenente em 1867 e capitão em 1868 no Paraguai por
atos de bravura- Coronel, reformou-se como general de Brigada
a 7-4-1892. Tinha as condecorações de S. Bento de Aviz, Cru­
zeiro, Rosa e Cristo, Rendição de Uruguaiana e Mérito Militar.
Publicou vários estudos sôbre assuntos profissionais. Faleceu no
Rio de Janeiro em 18-11-1898.
Antônio Marinho Pessoa: — nasceu em Natal a 6-8-1878>
Jornalista, autodidata, revelou-se polemista vibrante e a primeirà
organização de crítico literário do seu tempo. Faleceu na então
Vila de Angicos a 4-5-1902.
Antônio Xavier Garcia de Almeida: — nasceu em Natal a
13-4-1797, ordenando-se Padre. Professor de Filosofia, vice-dire­
tor do Ateneu, Cônego honorário, Pregador da Capela Imperial,-
três vêzes deputado provincial, foi diretor da Instrução Pública
de 1834 a 1838, o primeiro a ocupar êsse cargo. O Padre Mestre
Garcia de Almeida faleceu em Natal a 3-9-1845.
Augusto Carlos de Vasconcelos .Monteiro: — nasceu em
Goianinha a 12-10-1881. Bacharel em direito em 1903, Juiz de
Direito de Acari e Caicó, deputado federal em 1912-14, Prefeito
do Território do Acre, função correspondente a de Governador,
Faleceu ém Belém do Pará a 9-3>1919.
Augusto César Leite: — nasceu em Natal a 15-3-1863, espe­
cializando-se nos trabalhos de tipografia e impressão. Dirigiu a
parte técnica da “Gazeta do Natal”, “Correio do Natal”, “Rio
Grande do Norte”, “A República”, “Gazeta do Comércio” e
M‘A Imprensa”. Era, na espécie, *a maior autoridade. Foi o maior
494

animador do movimento associativo operário. Seu nome é insepa­


rável da elevação cultural da classe. Faleceu em Natal a 20*2
de 1921.
Augusto Franklin Moreira da Silva: — nasceu em Goianinha
a 19*3*1842. Padre. Exerceu cargos paroquiais em Pernambuc^
onde sempre residiu. Foi longos anos vigário da Boa Vista xíó
Recife^ sendo geralmente querido. Fundou a fôlha católica “Era
Nova”, de grande circulação nos Estados vizinhos. Camareiro
do Papa. Monsenhor Augusto Franklin faleceu no Recife a 8*1
de 1906.
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão: — nasceu em
Macaíba a 11-1-1864. Abolicionista e republicano histórico ao
lado dõ seu irmão Pedro Velho, jornalista “n’A República” desde
a fundação, deputado estadual em 1892 e federal em 1893, dedi­
cou-se aos estudos de finanças, obtendo nomeada na Câmara dos
Deputados. O problema da dirigibilidade dos balões apaixonara-o
e realizou várias experiências com balões dirigíveis no Rio de
Janeiro. Com os parcos recursos financeiros pessoais que podia
dispor, viajou para Paris onde construiu o dirigível ‘PAX”,
semi-rígido, elogiado por todos os técnicos da época. Com o
mecânico francês George Sachet empreendeu um voo na manhã
de 12-5-1902. O “Pax” explodiu sôbre a avenue du Maine, viti­
mando os dois aeronautas. Augusto Severo tem sepultura no
cemitério de S. João Batista do Rio de Janeiro.
Auta de Sousa: — nasceu em Macaíba, 12-9-1876, educan-
do-se no colégio de S. Vicente de Paulo no Recife. Publicou em
1900 o seu livro de versos “Horto”, com prefácio de Olavo Bilac,
em quarta edição atualmente. Seu lirismo místico e a sensibilidade
delicada e nostálgica de sua inspiração fazem-na de excepcional
destaque na literatura brasileira. Faleceu em Natal a 7-2-1901.
Bartolomeu-da. Rocha Fagundes: — nasceu a 8-9*1813 em
Vila Flor, Canguaretama. Ordenou-se padre e foi Vigário Colado
de Natal desde 1843, sendo antes coadjutor e vigário encomendado
a partir de 1839. Estêve na vigararia até 23*3-1873 quando foi
suspenso de ordens pelo Bispo D. Frei Vital por não ter querido
abjurar a Maçonaria. Pertenceu ao Partido, Liberal, deputado
provincial quatro vêzes e mesmo governando a Província, como
vice-presidente, em 1868. Faleceu no Recife a 2-11-1877.
Basilio Quaresma Torreão Júnior: — nasceu em Goianinha
a 18-4-1811, formando-se em Direito na Academia de Olinda em
1834. Deputado provincial cinco vêzes, foi Juiz de Direito do
Açu, empossado a 1-7-1835, o primeiro nomeado. Transferido
„ 495 —

para Natal a 9-8-1841, exerceu ainda as funções de Chefe de


Polícia. Pela Carta Imperial de 1-10-1855 foi nomeado desembar­
gador na Relação do Maranhão, tomando posse em S. Luiz a
27-11-1855. Foi-me impossível obter a data do falecimento do
Des. Torreão Júnior.
Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara: — nasceu em Natal
a 14-5-1813. Foi um dos chefes mais prestigiosos do Partido
Conservador, deputado provincial, vice-presidente da Província em
exercício em 1873, presidente da Câmara Municipal, administrador
dos Correios, Inspetor do Tesouro, Coronel da Guarda Nacional,
tinha o oficialato das Imperiais Ordens da Rosa e de Cristo.
Faleceu em Natal a 2-11-1884.
Braz de Andrade Melo: — nasceu em S. José de Mipibu a
17-4-1866, bacharel em Direito no Recife, 1890, sendo um dos
mais conhecidos mentores republicanos entre os estudantes. Espi­
rituoso e original, deixaram fama suas pilhérias e fatos vividos na
época estudantina. Em Natal foi professor de Filosofia e de
Francês no Ateneu, Chefe de Polícia .em 1891, advogado, Juiz
Distrital,, membro da Câmara Municipal. Faleceu em Natal a
14-3-1895.
Daniel Pedro Ferro Cardoso: — nasceu em Natal a 8-10
de 1837, sendo o primeiro engenheiro arquiteto norte-rio-grandense,
em 1859, sendo financiado pela Província. Formou-se em Paris
eia engenharia civil em 1868. É autor do projeto da cúpula da
Igreja da Candelária no Rio de Janeiro, assim como melhoramentos
urbanísticos aproveitados em Bruxelas, na Bélgica. Tinha várias
invenções mecânicas. Republicano histórico. Cônsul do Brasil em
New Orleans muito divulgou o comércio nacional naquela região
sulista dos Estados Unidos. Falava várias línguas. Faleceu no
Rio de Janeiro a 5-4-1899.
Dendê Arcoverde, André d’Albuquerque Maranhão Arco
Verde: — nasceu no engenho Cunhaú, então freguesia de N. Sra.
do Destêrro de Vila Flor, hoje município de Canguaretama, em
1797. Rico, valente, atrabiliário, o Brigadeiro Dendê Arcoverde
(ignora-se totalmente a origem dessa patente) deixou profunda
tradição de coragem e dé afoiteza pessoal. Dizem-no responsá­
vel por inúmeros assassinatos. Viveu como um barão feudal no
alto do seu castelo roqueiro. Foi deputado provincial em 1852-53
e 1854-55 e Juiz Municipal em Vila Flor. Suicidou-se em Cunhaú
na manhã de 26-7-1857.
Demétrio do Rego Lemos: — nasceu nos arredores da cidade
do Martins em 20-10-1867. Ingressou na Escola Militar do
— 496

Ceará em 1891, participando das lutas de 1893, sendo Alferes “por


serviços prestados à República” em 1894. Tenente em 1908 e
Capitão em 1914, numa série de preterições, e reformado compul­
soriamente em 1921. Intentando ação contra a União, ganhou-a,
voltando ao Exército em 1927 como Major, promovido a Tenente
Coronel e reformado no pôsto de Coronel. Solteiro, simples,
desinteressado, vivendo frugalmente, dedicou quase a totalidade
dos seus limitados recursos ao auxílio do seu município longínquo,
numa campanha rara e nobre de interêsse generoso. Doou o
busto em bronze de Almino Afonso ao Martins, bibliotecas, sinos
para igrejas e capelas, bandeiras, o primeiro rádio que a zona oeste
conheceu, amplificadora, esmolas várias, mandando arrancar as
pedras que afeiavam as ruas do Martins, placas, carroça para
lixo, relógio de carrilhão, inumeráveis ofertas ao Grupo Escolar
« finalmente, sem auxílio federal, estadual e municipal, a rodovia
“13 de Maio”, subindo do pé da serra do Geraldo, do riacho
Quixeré, até o vértice, no Cedro, numa extensão de 6.300 metros
e altura de 500. Essa estrada, que contou com a supervisão
afetuosa e diária do seu sobrinho dr. Pelopidas Fernandes, Juiz
de Direito do Martins, custou 37:000$ (Cr$ 370.000.00 neste
1952) e foi entregue ao município a 13-5-1931, possibilitando
o acesso à Cidade por automóveis. Simpático à doutrina*positivista,
viveu para servir e é ainda desconhecido o número dos auxílios
que enviou às pessoas e entidades, gestos fora dos registos da
imprensa e da confidência aos amigos. O Decreto 1.197, de
17-5-1943 deu seu nome às Escolas-Reunidas de Boa Esperança,
e o Decreto-lei n.° 268, de 30-12-1943, denominou-sé “Demétrio
Lemos” o distrito Vila de Boa esperança, no Martins. Faleceu
no Rio de Janeiro a 13-5-1943.
Elias Antônio Ferreira Souto: — nasceu na cidade do Açu
em 25-1-1848, sendo professor em vários municípios até inícios
do regime republicano quando se dedicou exclusivamente ao jor­
nalismo. Foi o nosso primeiro jornalista profissional, fundador da
imprensa diária no Estado e o maior criador de jornais. Onde se
fixava, nascia um jornal. Fundou oito. Grande abolicionista
no Açu e Macau. O seu jornal “O Nortista”, 1892-93, em S. José
de Mipibu, acompanhou-o quando se transferiu para Natal e tor­
nou-o diário a 1-3-1895, mudando-lhe o título para “Diário do
Natal”, 7-9-1895, durando até 1913. Faleceu em Natal a 17-5
de 1906.
Elvito Carrilho da Fonseca e Silva: — nasceu no engenho
Carnaúbal, Ceará-Mirim, a 10-9-1867. Formou-se em direito
no Recife, 1890. Magistrado. Juiz de Direito em S- Vitória do
Palmar, Rio Grande do Sul, fixou-se no Rio de Janeiro onde foi
— 497 —

delegado de Poljcia, Pretor, Juiz de Direito, Desembargador e


Presidente da Córte de Apelação do Distrito Federal, cargo ern
que se aposentou em 1937. Presidiu muitos anos o Conselho do
Patrimônio do Ministério da Fazenda. Exemplo clássico de magis­
tério, severo, simples, puro. Faleceu no Rio de Janeiro ém 7-8
de 1942.
Eneas de Araújo Torreão: — nasceu em Goianinha, não se
sabendo o ano. Formou-se em direito na Faculdade de'Direito
de S. Paulo em 1864. Deputado provincial no Rio Grande do
Norte em 1872-73 e 1874-75. Presidente da Província do Ceará,
de 11-9-1886 a 21-4-1888. Desembargador da Relação cearense,
posse a 21-3-1891, pôsto em disponibilidade em junho do mesmo
ano. Ministro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Faleceu
na Capital Federal a 17-7-1914.
Epaminondas Tito Jacome: — nasceuno município de Campo
Grande (Augusto Severo) em 20-4-1867. ,Médico. Deputado
estadual no Rio Grande do Norte em 1893. Viajou longamente
pela Europa. Subprefeito do Acre na administração Augusto
Monteiro. Fôra um dos partidários de Plácido de Castro na
campanha pela nacionalização do Território. Primeiro Governa­
dor do Acre, de 1920 a 1922, fazendo magnífica gestão pública.
Faleceu em Natal a 29-3-1928.
Estevão José Barbosa de Moura: —: nasceu em Pousa, Taipu,
em janeiro de 1810. Grande proprietário e político, provincial,
depurado nos biênios de 1840-41, 42-43 e 44-45. Como'' vice-
presidente governou a Província em 1841, 42 e 43. Faleceu em
Macaíba em 2-12-1891.
Estevão José Dantas: — nasceu no engenho “ôlho d’água",
próximo à cidade de S. José de Mipibu a 13-8-1860. Ordenou-se
em Fortaleza em 1884, tendo feito estudos na Universidade Gre­
goriana de Roma. Vigário em Macau, Açu, Macaíba. Cônego
honorário da Catedral da Paraíba, dirigiu a fundação do Colégio
S. Luzia em Mossoró. Vigário de Natal. Professor de italiano,
1911, de latim, 1915, no Ateneu, diretor do estabelecimento, 1918-
1924. Primeiro latinista do Estado. Faleceu em Natal a 29-7-1929.
Ezequiel Lins Wanderley: — nasceu na cidade do Açu a 27
de outubro de 1872. Escriturario do Tesouro do Estado. Poeta,
jornalista, teatrólogo. Foi um grande animador do teatro de ama­
dores, colaborando assiduamente nas revistas e jornais. Publicou
Poetas do Rio Grande do Norte", 1922, com notas biobiblio-
gráficds, “Balões de Ensaio", 1^19,* “O Meu Teatro", 1927. Fale­
ceu em Natal a 26-11-1933.
— 498 —

Felipe Neri de Brito Guerra: — nasccu no município de Au­


gusto Severo, então Campo Grande, a 26-5-1867. Bacharel em
1890. Deputado estadual em 189b 92 e 1936. Promotor Público
do Apodi, Juiz de Direito de Macau, Caicó e Mossoró, Desem­
bargador do Tribunal de Justiça, Procurador Geral do Estado,
aposentou-se em 1926. Diretor Geral do Departamento de Educa­
ção ha administração Cascardo {1931 ). Publicou trabalhos de
•preciosa informação histórica e sociológica, «Sêca contra sèca>,
^Ainda o Nordeste ', ”A Sêca de 1915”, “Ö Pôrto de Mossoró",
e um ensaio sôbre a “História Militar do Rio Grande do Norte*\
Magistrado culto, simples, de alta fibratura moral, era um exemplo
digníssimo de saber e de cáráter. Faleceu em Natal a 4-5-1951.
Felipe Neri de Carvalho e Silva: — nasceu em Santana do
Matos a 2-5-1829. Grande fazendeiro, deputado provincial em
1878-79, 1880-81. Abolicionista, libertou seus últimos escravos em
30-3-3888. Barão de Serra Branca por decreto de . 19-8-1888.
Faleceu nos arredores de Caicó, voltando de uma viagem ao Joa-
seiro, Ceará, em 16-7-1893.
Felix José do Nascimento: —- nasceu em Touros em 1802.
Escravo, alforriou-se pelo seu trabalho em 1846. Grande entusiasta
do movimento abolicionista e republicano, tornou-se figura popular
entre os propagandistas. Pedro Velho afirmava que Mestre Felix
era, cronologicamente, o mais antigo abolicionista e o primeiro
republicano do Estado. Faleceu no Barro Vermelho, município
de S. Gonçalo, a 29-6-1904.
Fernando Gomes Pedrosa: — nasceu no município de Ma­
caíba a 30-3-1886. Residindo no Rio de Janeiro voltou em 1915
à Baixa Verde em estudos do plantio de algodão em que se tornou
um verdadeiro técnico. Fundou a Gasa comercial Wharton Pe­
drosa em 1917, Natal, e foi o pioneiro da indústria do algodão
«o Estado, racionalizando o financiamento das safiras, seleciona­
mento das sementes, renovação e modernização do maquinário,
padronização dos tipos, etc. fundando a fábrica de óleos vegetais
em São Romão (Angicos) em 1929, demento decisivo para que
o povoado se tomasse vila. Fof um dos fundadores do Aero-Clu’be
e diplomou-se na primeira turma de pilotos de turismo. Pela lei
n." 101, de 19-10-1937, São Romão passou a denominar-se Fer­
nando Pedrosa e seu busto em bronze foi inaugurado numa praça
-em 1 !-9*1938. Distrito pelo Decreto-lei 603, de 31-10-1938.
Faleceu no Rio de Janeiro a 9-3-1936.
Francisco Adelino de Brito Dantas: — nasceu em 1825 no
município de Campo Grande,, ordenando-se sacerdote em 185Í.
Foi Capelão na ilha de Fernando de Noronha, descobrindo a
— 499

melhor àgua doce da região, ainda denominada cacimba do Padre.


Fundou em 1887 a povoação de N. Sra. da Conceição do Upa-
nema, boje Vila do Upanema, antiga “Rua da Palha", no municí­
pio de Augusto Severo (Campo Grande), Bom latinista. Um dos
melhores cavaleiros de seu tempo. Faleceu na Vila do Triunfo
(nome da atuàl cidade de Augusto Severo) em 18-8-1893.
Francisco Cascudo, Francisco Justino de Oliveira Cascudo: —
nasceu na vila do Campo Grande a 27-11-1863. Pequeno nego­
ciante, prestou juramento no Batalhão de Segurança de 13-7-1892
no pôsto de Alferes, desempenhando comissões difíceis e de com­
provada coragem. Na noite de 21-12-1894 cercou o bando do
famoso cangaceiro Antônio Moita Brava, em S. Miguel de Pau
dos Ferros. Moita Brava pereceu na luta. Tenente a 12-8-1895.
Ajudante d*Ordens do governador Ferreira Chaves em 1898. Em
agôs*o de 1899 dispersou os fanáticos da serra de João do Vale
que se estavam tornando perigosos pelo fanatismo espontâneo ao
redor de dois matutos hábeis. O senador Pedro Velho fizera o
seu elogio público em discurso a 11-2-1898. Exonerou-se a 24-3
de 1900. Comerciante, coronel da Guarda Nacional, tornou-se
um leader prestigioso de sua classe, presidindo inúmeras vêzes a
•Junta Cornei ciai e a Associação Comercial que reorganizou e
elevou. Deputado nos trienios de 1918-19-20 e 1921-22-23, mem­
bro da Intendencia Municipal de Natal f 1922) participou ativa­
mente da vida social, econômica e política do Estado, com influên­
cia eleitoral em vários municípios. Fundou e manteve, de 1914 a
1927, o jornal «A Imprensa», de profunda impressão cultural e
política. Era profundamente generoso e bom, deixando mais de
1.200 afilhados. Rara será a iniciativa no seu tempo em que não
tivesse ajudado. O Prefeito Municipal de Natal, por ato de nú­
mero 280, de 13-1-1948, denominou “Rua Coronel Cascudo"
à antiga “Rua Rui Barbosa" no bairro alto da Cidade. Faleceu
em Natal a 19-5-1935.
Francisco de Brito Guerra, Padre: — nasceu na fazenda
Jatobá, município de Augusto Severo, a 18-4-1777. Ordenou-se
cm Olinda em 1801. Professor de latim. Vigário colado do
Caicó em 1810. Deputado provincial e presidente de primeira
Assembléia em 1835,. suplente de deputado> {feral, com assento em
1831 e 1833, reeleito para 1834-37, foi eleito e escolhido Senador
do Império pelo Rio Grande do Norte, posse a 12-7-1837, o único
norte-rio-grandense na Câmara vitalícia. Comendador da Ordem
de Cristo. Visitador Geral. Educou grande número de moços.
Foi um dos animadores “d*O Natalense", o primeiro jornal da
Província. Faleceu no Rio de Janeiro a 26-2-1845.
— 500 —

Francisco Fausto de Sousa t — nasceu na fazenda Pintos,


arredores da cidade de Mossoró, a 19-5-1861. Funcionário pú­
blico no Río Grande do Norte e no Amazonas. Exonerando-se,
fêz-se industrial salineirò em Areia Branca. Deputado estadual
em 1898-900, 1910-12, 16-17, 21-23, 27-29 e Presidente da Inten­
dencia de Areia Branca de 1914 a 1928. Estava na presidencia
quando sobreveio o movimento revolucionário de 1930. Grande
pesquisador da História do oeste do Estado, possuindo extensa
documentação, genealogista, era de real autoridade em tudo quanto
se referisse ao passado da região em que vivia. Faleceu na cidade
de Areia Branca a 14-1-1931-
Francisco Gomes da Rocha Fagundes*. — nasceu em Natal a
18-3-1827. Funcionário público exemplar, citado como elogio do
equilibrio e perfeição do trabalho confiado à sua dedicação.
Senador da República em julho de 1899, renunciou em 1900. F^’e-
ceu em Natal a 20-9-1901.
Francisco Gomes da Silva: — nasceu em Natal a 23-3-1837.
Cursou a Faculdade de Direito de Paris, bacharelando-se em
1862 e revalidando seu diploma no Brasil em 1864. Advogado
de nomeada, figura do Partido Conservador,( foi sete vêzes
deputado provincial e deputado geral em 1869-72, 1877-78,
ocupando ainda os cargos de Procurador Fiscal da Tesouraria
Provincial, Diretor da Instrução Pública, professor de Francês no
Ateneu. Jornalista e orador político, apontavam-no como um dos
mais brilhantes espíritos do seu tempo. Faleceu no Recife a
28-10-1880.
Francisco Gurgel de Oliveira: — nasceu no município de
Carnaúbas a 7-9-1848. • Sem grande cultura, inteligente e obser­
vador, galgou postos de alta confiança política na zona oeste da
Província, sendo um dos nomes ainda citados com viva simpatia.
Na República, o Coronel Gurgel foi deputado federal em 1894-96
e 1897-99. Como 2.° Vice-Governador, administrara o Estado de
agôsto a setembro de 1891. Faleceu em S. Sebastião, município
de Mossoró, a 7-1-1910.
Francisco Longuinhos Guilherme de Melo: — nasceu no
arraial de S. Luzia do Mossoró a 15-3-1802, dia de S. Longui­
nhos. Foi o primeiro sacerdote nascido em Mossoró, ordenando-se
em novembro de 1826 e cantando a primeira missa a 2-2-1827.
Temperamento turbulento, arrebatado, o Padre Longino (como era
conhecido) deixou memória profunda de sua luta com a família
Ferreira da Costa, os Butragos, e atitudes violentas comumente
assumidas que o Jizeram popularíssimo. Em 1844 viajou para o
— 501 —

Piauí regressando velho, pobre e cego mas sem mudanças maiores


no gênio, em 1872. Faleceu em Mossoró a 30*3*1876.
\
Francisco Severiano de Figueiredo: — nasceu no municípiò
do Caicó a 9-11*1872. Ordenou*se na Paraíba em 1898. Vigário
do Acari,V no Rio Grande do Norte, de 1899 a 1901. Cônegò da
Catedral da Paraíba em 1905. Vigário da Catedral em 1917.
Professor do Liceu Paraibano. Monsenhor Camareiro Papal. Pes­
quisador da história religiosa, deixou trabalhos indispensáveis para
o estudo do desenvolvimento das instituições católicas na Pa­
raíba e Rio Grande do Norte. Faleceu na cidade do Salvador,
Bahia, em 23-3-1936.
Francisco Vitor da Fonseca e Silva: — nasceu a 15*3*1851
no Rio Grande do Norte. Cadete em 1865, seguiu para a cam­
panha do Paraguai, por solicitação obstinada. Reformou*se como
general de brigada em 17*7*1905. Amigo pessoal do marechal
Deodoro da Fonseca, colaborou eficazmente para a implantação
da República. Tinha brilhante fé*de*ofício. Deputado federal
pelo Rio Grande do Norte em 1902 e reeleito para 1903*5. Faleceu
no Rio de Janeiro a 27*7*1905.
Hcmetério Fernandes Raposo de Melo: — nasceu na Serra
do Frade, freguesia de N. Sra. da Conceição de Pau dos Ferros
a 3-10*1869- Bacharel em 1893. Juiz de Direito do Martins, Mos­
soró e Ceará-Mirim. Chefe de Polícia, 1908. Secretário de Go­
vêrno. Desembargador em 7*4*1915. Presidente do Tribunal de
1921 a setembro de 1926 quando se aposentou. Instalador e
principal animador do Instituto da Ordem dos Advogados em
1932 c-seu primeiro Presidente. Organizou o projeto do Código
do Processo Civil e Comercial do Estado (lei n.° 551, de 11-12
de 1922), revisão e consolidação das leis de organização judiciária,
fundamento do Decreto 315, de 3*1*1927, relator da Comissío de
Juristas para a preparação do projeto de reorganização judiciária,
dec. 154, de 24*10*1931. Era o maior advogado da época depois
de ter sido juiz magnifico. Faleceu em Natal .a 30*8*1932.
Henrique Castriciano de Sousa: — nasceu na cidade de Ma­
caíba a 15-3-1874. Bacharel em Fortaleza, 1904: Tnrnalista. poeta,
ensaista. critico, político. Secretário de Govêrno, Procurador Ge­
ral do Estado, Vice-Governador de 1914*20 e de 1920*24. Viajou
pela Europa e Africa. Publicou “Inações”, 1889, “Ruínas”, 1898,
“Mãe”, 1?99, “Vibrações”, 1903, “Educação da Mulher no
Brasil”, 1911, as peças de teatro “Engeitado”, “A Promessa”,
“Suprema Dor”. Colaborou intensamente na imprensa do Rio de
BIBLIOTECA
VFRN/MCS
— 502 —

Janeiro e de Notai. Fundador da Escota Doméstica. Uma das


mais altas e formosas inteligências norte-rio-grandenses em todos
os tempos. Faleceu em Natal a 26-7-1947.
Hcrculano Bandeira de Melo*. — nasceu no município do
Ceará Mirim a 22-9-1869. Doutorou-se em Medicina pela Facul­
dade da Bahia a 5-12-1891. Inteligência brilhante, de invulgar
capacidade de trabalho, desinteressado até o sacrifício, deixou pro­
funda impressão de saudade e admiração no ambiente em que
viveu. Faleceu em Ceará-Mirim a 9-6-1903.,
Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco: — nasceu em Natal
a 19-4-1839. Cursou a Faculdade de Direito de Paris, bachare­
lando-se em dezembro de 1863. A Província financiara sua via­
gem para que estudasse engenharia. Em 1873 foi professor no
Ateneu, geometria e depois francês. Era um dos melhores advoga­
dos da Província. Republicano histórico, foi eleito Presidente dó
Centro Republicano de Natal em janeiro de 1889. Deputado
estadual em 1892. Faleceu em Natal a 26-7-1900.
Heronides Alvares de França: — nasceu em Natal a 13-9
de 1860. Funcionário da Alfândega. Musicista nato, o melhor
violão da cidade, musicou deliciosamente muitos poemas. Faleceu
no Recife a 3-4-1926.
Isabel Gondim: — nasceu no sítio Ribeiro, município de Pa­
pari (Nisia Floresta) a 5-7-1839. Seu nome todo era Dona Isabel
Urbana de Albuquerque Gondim. Prestou concurso em Natal a
15-6-1866 para obtenção de uma cadeira de ensino primário, apo­
sentando-se a 2-3-1891, embora continuasse mantendo cursos par­
ticulares. Desde 1861 colaborou nas revistas literárias. Foi a mais
antiga escritora norte-rio-grandense, residindo no Estado. Única
associada do Instituto Histórico local, 1927. Publicou vários livros
de versos, pedagogia, dramas, e um ensaio sôbre a revolução de
1817, registando as tradições orais que sabia por intermédio de
d. Clara Monteiro de Melo, filha de d. Inácia Monteiro de
Albuquerque, Gondim, irmã do Padre João Damasceno Xavier
Carneiro. Medalha 'de ouro do Mérito em 1927. Nobre e vene­
randa figura de mestre. Faleceu em Natal a 10-6-1933.
Janúncio da Nóbrega: — nasceu na fazenda Pedreiras, Caicó,
a 20-13-1869. Acadêmico de Direito dirigiu uma seção republicana,
abril dc 1889, no “Povo”, jornal da cidade, sendo o mentor do
Centro Republicano Seridoense. Bacharelou-se em 1891. Deputado
estadual em 1892. Morreu na fazenda Pedreiras, a 7-10-1899.
Jerónimo Américo Raposo da Câmara: — nasceu em Natal a
14-11*1843. Bacharel no Recife, 1868. Magistrado ilustre. De-
— 503 —

sembargador no Tribunal dc Justiça cm 1892 c scu primeiro pre­


sidente. Chefe de Polícia várias vêzes. Presidente do Congresso
Constituinte de 1892, assumiu o* govêrno do Estado por quatro
vêzes. Aposentado em 1898, foi pelo Supremo Tribunal Federal,
em acórdão de 16-12-1899, pôsto em disponibilidade. Faleceu em
Natal a 26-1-1920.
Jerónimo Cabral Raposo da Câmara: — nasceu na fazenda
Arraial, Aíu* & 11-1-1821. Bacharel em 1847 em Olinda. Diretor
da Instrução Pública, 1869-70, Inspetor da Tesouraria, 1851-56,
dez vêzes deputado provincial, assumiu o govêrno da Provincia
em 1871 e 1872. Era um chefe conservador, com, facção própria,
influente e influído. O Doutor Loló, advogado, espirituoso, pro­
fundamente generoso e bom, era o grande advogado gratuito dos
pobres e deixou um vasto anedotário humorístico de sua verve.
Fundou e dirigiu vários jornais políticos. Faleceu em. S. Gon­
çalo a 24-5-1900.
João Batista de Vasconcelos Chaves: — nasceu no engenho
Ferreiro Torto, município de Macaíba, a 4-10-1875. Bacharel em
1894 no Recife. Magistrado no Pará. Grande advogado no Pará,
deputado estadual nesse Estado em 1897-1912, Professor de Di­
reito Penal na Faculdade de Direito local, de 1905 a 1911. Viajou
pela Europa em 1911-12. Deputado federal pelo Pará, 1912-14.
Fixou-se em Natal em 1915. Publicou uma memória sôbre a
Faculdade de Direito do Pará, 1908, e a “Ciência Penitenciária”,
(Lisboa, 1912), trabalho valioso na época. Faleceu em Natal
a 28-4-1924.
João Carlos .Wanderley: — nasceu na Vila Nova da Princesa
(cidade do Açu) * a 25-7-1811. Foi secretário do govêrno provin­
cial de 1836 a 1848 e ainda em 1844. Inspetor do Tesouro ein
1857-1862. Diretor da Instrução Pública em 1845 e 1848. Sete
vêzes deputado provincial e deputado-geral em 1852. Fundou e
dirigiu vários ¡ornais, O seu “Correio de Natal”, 1870-1889,
editou o jornal republicano de Pedro Velho. Como vice-presi­
dente administjou a província quatro vêzes em 1847, 1848, 1849-50.
Foi um chefe do Partido Liberal cheio de astúcia c de inteligência.
Em 1885 adenu aos conservadores. Era, sabidamente, um dos
homens mais vivos e prestigiosos do seu tempo, tendo época
de verdadeiro domínio. Faleceu em Natal a 2-3-1899.
João Crisóstomo de Paiva Tôrres — nasceu no município do
Martins em 1925. Ordenou-se em Olinda em 1847. Coadjutor
da freguesia do Martins em 1848. Em 1872 era Visitador. Cô­
nego. Fundou o semanário “Santa Cruz” e traduziu do italiano
’O Mês Doloroso”. Foi Vigário Capitular e Governador do Bis­
— 504 —

pado de Pernambuco por nomeação do Bispo D. Frei Vital Maria


Gonçalves de Oliveira quando da questão religiosa. Faleceu em
Igaraçu, Pernambuco, em 1874.
João da Fonseca Varela: — nasceu no município do Ceará-
Mirim a 25-12-1850. Alistou-se para a guerra do Paraguai era
9-3-1865, tomando parte nos grandes combates dessa campanha,
como Avaí, Curuzu, Curupaiti, Itororó, Lomas Valentinas, Tuiuti,
tomada de Ascurra e em tôdas as ações dás Cordilheiras. Alferes
por atos de bravura. Tinha as Imperiais Ordens de Cristo e da
Rosa, medalhas do Mérito Militar, Campanha do Paraguai, Uru­
guai e Argentina, passadores de prata ns. 5, 11, 21 e 27. O
marechal Floriano Peixoto fê-lo capitão honorário do Exército,
(setembro de 1893) promovido a major em 1894. Comandou
o Corpo de Polícia do Estado. Faleceu em Natal a 28-12-1931. „
João Dionisio Figueira: — nasceu na cidade de Mossoró a
9-10-1868. Bacharel em 1889 no Recife. Magistrado. Juiz de
Direito de Pau dos Ferros, Açu, Mossoró. Desembargador em
1907. Presidente em sucessivas reeleições. Aposentado em 1937.
Duas vêzes deputado estadual. Vice-Governador do Estado, 1900-
1904. Secretário Geral na Interventoria Federal do general Fer­
nandes Dantas, assumiu o govêrno cinco vêzes. Inteligente, de
fina educação, espirituoso, era um encanto a sua convivência.
Faleceu em Natal a 14-4-1947.
João Lindolfo Câmara: — nasceu em Natal a 14-5-1863. Ven­
cendo lôdas as dificuldades cursou o Ateneu, 1879-80, prestando
concurso para praticante do Tesouro Provincial em 1881, sendo
nomeado. Em 1889 era Contador, o mais alto pôsto da carreira.
Pediu exoneração e passou para a Fazenda Nacional, escriturário
da Tesouraria da Fazenda de Pernambuco em 1890, exercendo
comissões em Pará, Rio Grande do Norte e Paraná. Conferente
da Alfândega do Rio de Janeiro em 1904, diretor da Recebedoria,
três vêzes Inspetor da Alfândega, 1906, 1918, 1928, oficial de
gabinete do ministro Davi Campista, diretor da Caixa de Amorti­
zação, foi deputado federal pelo Rio Grande do Norte em 1908 e
reeleito'para 1909-1911. Entre outros projetos apresentou o da
transladação do corpo do Imperador D. Pedro II (29-7-1910).
Foi o grande, inflexível e poderoso adversário dos defraudadores
e peculatários. Sua capacidade de trabalho, conhecimentos pro­
fundos na especialidade, rivalizavam com a fôrça,do seu caráter e
incomparável grandeza moral. Aposentou-se em 23-3-1931. Fa­
leceu no Rio de Janeiro em 3-7-1944.
João Manuel de Carvalho: — nasceu em Natal a 26-12-1841,
Ordenou-se em 1865 nn Maranhão. Grande orador sacro e polí-
— 505 —

tico, polemista temido, vivaz e pronto na réplica, foi um dos


chefes do Partido Conservador nos últimos anos do regime monár­
quico. Diretor da Instrução Pública, 1868, deputado provincial
três vêzes, deputado-geral em 1873-74 e 1886-89. Dirigiu vários
jornais. Fundou no Rio de Janeiro o "Quinze de Julho” em 1870.
Em 1861 dirigiu um jornal, “O Recreio”, de feição literária suges­
tiva e que constitui o melhor documento literário da fase. Na
apresentação dó gabinete de Ouro Prêto, 11-7-1889, o Padre
João Manuel fêz declaração pública de adesão republicana, vi­
vando a República. Desligado dos políticos de sua terra, não teve
influência local. Vigário de Amparo, em S. Paulo, continuou a
escrever nos jornais, com a mesma verve feroz sôbre figuras e
fatos contemporâneos. Publicou ura interessante “Reminescên-
cias” (Amparo, 1894) . Faleceu no Rio de Janeiro a 30-5-1899.
João Maria Cavalcanti de Brito : — nasceu no Logradouro,
município de Caicó, a 23-6-1848. Ordenou-se no Ceará em 1871.
Vigariou Jardim de Piranhas, Flôres, St. Luzia do Sabugi, Papari
e finalmente Natal onde tomou posse da freguesia em 7-8-1881*
Pelo seu apostolado incessante e caridade inextinguível foi a mais
impressionante e sedutora figura de sacerdote que tenha paro-
quiado os natalenses. Em vida, cercava-o uma auréola de san­
tidade. Seu busto em bronze, na praça do seu nome, foi inaugu­
rado a 7-8-1921. É lugar da devoção popular, ali rezando e
acendendo velas votivas. Faleceu em Natal a 16-10-1905.
João Perceval Lins Caldas*. — nasceu na cidade do Açu a
15-7-1847. Trabalhava no comércio do Recife quando irrompeu a
guerra do Paraguai. Alistou-se imediatamente, dando provas de
inexcedível bravura pessoal. Alferes a 4-9-1866, dia em que seu
irmão Ulisses Caldas era promovido a tenente, foi porta-bandeira
do 36? Corpo de Voluntários da Pátria. Morreu no combate do
Forte do Estabelecimento, nas linhas de Humaitá, pessoalmente
dirigido pelo marquez de Caxias, a 19-2-1868.
João Severiano da Câmara: — nasceu no município do Taipu
a 8-3-1895. Com uma invulgar capacidade de trabalho, notável
fôrça de vontade, indomável energia, foi o mais impolgante cria­
dor de indústrias. Grande fazendeiro, criador, plantador de algo­
dão, exportador, industrial vitorioso, venceu tôdas as dificuldades,
tornando-se figura de projeção demarcada na política e économia
estaduais. Foi o animador decisivo para a criação e desenvolvi­
mento do município de Baixa Verde no qual foi o l.° Prefeito.
Chefe de partido, influente em vários municípios, deputado esta­
dual, Senador Federal na eleição de 19-1-1947, estava indicado
para o govêrno do Estado. Faleceu em Natal a 12-12-1948.
— 506 —

João Tibúrcio da Cunha Pinheiro: — nasceu no sítio “Sus­


piro”, município de Goianinha, a 13*5*1845. Professor de latim
no Açu em 1869, a 15*6*1869 assumia a cadeira t de latim no
Ateneu em Natal. Em março de 1905 passou a ensinar Língua
Portuguesa. Professor na Escola Normal, Diretor interino da
Instrução Pública em 1892 e 1893, deputado provincial em 1878*79.
Aposentado em 1927. Por ocasião do seu jubileu, 1919, recebera
manifestações gerais, sagrando*o como rnodêlo do mestre. Há
um busto em bronze, inaugurado a 15*10*1928. Latinista exímio
e grande conhecedor do idioma português. Faleceu na povoação
de Panelas, hoje Bom Jesus, Macaíba, a 24*6*1927.
/oão Valentino Dantas Pinagé: — nasceu na fazenda Ca­
jueiro, município do Acari, a 4*4*1808. Bacharel em Olinda,
1835. Juiz de Direito em Natal e Maioridade (Martins), Açu
e Caicó, recusando o de S- Pedro do Rio Grande do Sul e acei­
tando o de Fortaleza, no Ceará. Chefe conservador. Jornalista,
orador. Chefe de Polícia em 1852*53, deputado provincial seis
vêzes. Como vice-presidente governou a Província em 1838. Tem­
peramento arrebatado, leal, era uma das fisionomias mais enérgicas
do seu tempo. Faleceu em Fortaleza a 16*4*1863.
Joaquim Alonso Moreira de Almeida: — nasceu em Natal
a 2*6*1841. Funcionário na Tesouraria da Fazenda, com esforço
próprio, atingiu aos postos mais elevados, desempenhando comis­
sões relevantes nas províncias da Paraíba, Sergipe, Alagoas. Na
República, foi subdiretor do Tesouro Nacional em 1891 e em
1892 Diretor Geral da Contabilidade. Nomeado Diretor do
Tribunal de Contas (cargo que hoje chamam «Ministro»), a
31-12*1896, empossou*se a 4-1-1897 e aposentou-se por decreto
de 14*5*1901. Foi o primeiro norte-rio-grandense que alcançou
êsse pôsto. Faleceu no Rio de Janeiro a 22-5-1901.
Joaquim Antônio de Almeida, Dom: — nasceu no sítio Ben­
fica, município de Goianinha, a 17*8*1868. Ordenou*se no Semi­
nário de Fortaleza em 1894. Residindo na Paraíba, foi professor
do Seminário local, vice-reitor, reitor. Cônego em 1896 e Monse:-
nhor em 1904. Sagrado primeiro Bispo do Piauí a 4*2*1906, na
presença do Núncio Apostólico, Mons. Júlio Tonti, tomou posse
em Teresina a 12*3*1906. Transferido para a Diocese de Natal,
assumiu a 15*6*1911 sendo o primeiro Bispo e também o primeiro
norte-riograndense que ascendia ao Episcopado. Resignou o Bis­
pado a 15-6-1915. A Santa Sé fê-lo Bispo titular de Lari.
Residiu muitos anos no Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraíba,
Voltou ao Rio Grande do Norte, fixando*se na cidade de Macaíba.
Faleceu a 30*3*1947.
— 507

Joaquim Fagundes*. — nasceu em Natal a 19*3*1856. Fundou


e dirigiu o “Echo Miquelino”, revista literária de acentuado matiz
anticatólico e republicano, de julho a novembro de 1874, órgão
da “Sociedade Miguelina”, instalada a 17*11*1872. Foram as
primeiras associações e páginas de intenção literária sistemática.
Envolveu*se na “Questão Religiosa” ao lado da Maçonaria.
Diziam*no eloqüente e inteligentíssimo. Em 1875 dirigiu o “íris”,
dedicado ao “belo sexo”. Escreveu dramas que se perderam. Fa*
leceu em Natal a* 21*8*1877«
Joaquim de Fontes Galvão: — nasceu na cidade do Mossoró
a 2*5*1902. Estudou em Mossoró, Açu, Natal onde sua família
fixou residência. Em 1917 ficou paralítico. Continuou a estudar,
com viva curiosidade por todos os assuntos. Jornalista, político,
polemista temido, orador, grande professor particular, sempre idea*
lista, bem humorado, entusiasta. Tornou*se espírita em 1925.
“Minha Profissão de Fé” (1926). Dirigiu e ajudou a fundar
jornais e colaborou assiduamente sôbre motivos religiosos, polí*
ticos e sociais na imprensa dè Natal e Rio de Janeiro. Presidiu a
Federação Espírita. Publicou ainda “Pela Saúde Pública (1927).
Empolgado pelo movimento político da Aliança liberal foi um
propagandista ardente, orador oficial recebendo a Caravana Augus­
to de Lima na noite trágica de 7*2*1930 onde teve sua cadeira
despedaçada. No período revolucionário de 1930, foi diretor da
Imprensa Oficial sob a interventoria de Irineu Jofili, Hercolino
Cascardo e Bertino Dutra, dirigindo “A República”. Retirando*se
da política, fundou o Curso Fontes Galvão, um dos mais procura­
dos da capital, ensinando das 7 às 21 horas, quase inínterrupta-
mente, por turmas, a centos de alunos diários. Pela res. 18, de
2*12*1948, a Câmara Municipal deu seu nome à antiga Rua do
Camboim, na Cidade Alta. Faleceu em Natal a 12-7-1944.
Joaquim Guilherme de Sousa Caldas: — nasceu em Natal a
26*6*1856. Político conservador, deputado provincial em cinco
biênios, era um dos maiores conhecedores da política econômica e
financeira da Província, em cuja Tesouraria fêz carreira. Inspe­
tor de 1885, continuou exercendo*a com eficácia até a morte.
Recebeu a comenda da Imperial Ordem da Rosa. Jornalista
político, era especialmente o ironista, o humorista irresistível, fa­
zendo um ambiente de pilhéria e graça com seus remoques e re­
paros felizes. Faleceu em Natal a 26-2*1898.
Joaquim Inácio de Carvalho Filho: — nasceu em Pico Bran­
co, município do Martins, a 6*2*1888. Bacharel em 1908, Recife.
Magistrado. Juiz de Direito de Caicó e Canguaretama. Secretá­
rio Geral do Govêrno (Ferreira Chaves). Deputado estadual
508 —

cm 1913-15 e 1916-17. Diretor do Departamento da Fazenda em


1924-27. Vice-presidente em 1928-31. Desembargador em de­
zembro de 1927 e pôsto em disponibilidade em janeiro-de 1928.
Senador federal em 1935. Presidente do Conselho Administra­
tivo. Prefeito de Natal. Prefeito do Martins. Pesquisador inte­
ligente de assuntos econômicos, deixou vários estudos reveladores
do interêsse e dedicação à sua terra. Faleceu na cidade do Martins
a 9-6-1948.
Joaquim Inácio Pereira*. — nasceu em Natal a 20-1-1831.
Grande negociante e político liberal, gozou de vasto ' prestígio
político, figurando na primeira linha da sociedade do seu tempo.
Era comendador da Ordem de Cristo e Vice-Consul de Portugal.
Na vigência republicana foi nomeado (16-1-1890) membro da
Câmara Municipal de Natal e eleito, pelos seus pares, presidente.
Solicitou exoneração em 11-2-1890. Faleceu em Natal a 20-11-
1911..
Joaquim Lourival Soares da Câmara*. — nasceu em Natal a
19-9-1949. Em 1875 era professor primário em Taipu. transferido
sucessivamente para Muriú, Touros, S. Gonçalo e Natal onde,
de 1882 até 1908 quando ficou em disponibilidade, ocupou a
cadeira de instrução primária na Ribeira. Aproveitado na Secre­
taria do Govêrno em 1909, chegou a l.° Oficial, aposentando-se
em 1917. Escreveu nos jornais da época, fundando “O Pastor**,
de propaganda evangélica. Foi o primeiro pastor Batista em
Natal. Tinha o apelido de Panqueca. O Professor Panqueca
era o maior conhecedor das tradições populares da Província,
sabendo-as evocar e escrever. Seus trabalhos estão dispersos.
Faleceu em Natal a 10-9-1926.
José Bernardo de Medeiros: — nasceu em Carnaubinha, mu­
nicípio de Serra Negra em 20-8-1837. Era o maior prestígio
político no Seridó. Chefe liberal do sertão, cognominado pela
oposição “Bispo do Seridó”, teve atuação destacada nos últimos
anos da monarquia e primeiros da República. Seis vêzes deputado
provincial, presidiu a Assembléia Provincial em 1883 e 1885.
Vice-presidente em 1889 não teve ocasião de assumir. Senador
da República em 1890 e reeleito. Faleceu na cidade do Caicó
a 15-1-1907*
José Correia de Araújo Furtado. — nasceu no município do
Açu a 10-11-1788. Tomou parte na Junta de Govêrno Provisório,
substituindo um dos membros excluídos em novembro de 1823.
Representava a Ribeira do Açu e veio como delegado da Junta
pacificar ós ânimos exaltados das Câmaras do Principe (Caicó),
Princesa (Açu) e Portalegre que haviam declarado não reconhe-
— 509 —

cer a Junta. Araújo Furtado tudo conseguiu com a brandura de


seus modos e a fortaleza de seu caráter. Fôra o proclamador da
Independência no Açu, vivando-a no que se chamou alto do Impé-
• rio, hoje Pr, G^túlio Vargas. Recusou as indenizações ofere­
cidas. Faleceu no Açu a 8-5-1870.
José Correia Teles : — nasceu no município do Açu em 1835.
Assentou praça em 1856, alferes em 1865, tenente em 1869 por
atos de bravura. Teve tôdas as promoções regulamentares até
coronel, 9-3-1894. Reformou-se como general de brigada enf 11-3-
1897. Em 1891 fizera parte da Junta Governativa de Alagoas.
Possuía as condecorações da campanha do Urumtni, Paraguai e
as brasileiras. Faleceu no Rio de Janeiro 4-11-1897.
José Emidio Rodrigues Galhardo*. — nasceu na vila do Ceará-
Mirim a 5-8-1876. Foi residir no Rio de Janeiro. Alferes-aluno
da Escola Militar, fêz todos os cursos do Exército, inclusive o
de Estado Maior, diplomando-se Engenheiro Civil e Militar,
bacharel em ciências físicas e matemáticas. Trabalhou na Estrada
de Ferro Central do Brasil. Foi professor de materiais de cons­
trução e organização de proj’etos e orçamentos na Escola Militar,
1913-1918. Conquistou alto renome como matemático. Apaixo­
nando-se pela Homeopatía, cursou a Faculdade Hahnemaniana,
1916-22, doutorando-se em Medicina, com a tese “Porque sou
homeópata”. Obteve o l.° lugar no concurso para professor de
Matéria Médica e Terapêutica na Faculdade Hahnemaniana, to­
mando posse da cadeira e ensinando depois Medicina Legal e Te­
rapêutica. Foi diretor do Hospital Hahnemaniano do Brasil,
1924-25, dos «Anais de Medxina Homeopática» presidente do
Instituto Hahnemaniano do Brasil, 1934-35. Colaborava ativa-
ciente na imprensa sôbre os assuntos de sua especialidade. Man­
teve no "Correio da Manhã” uma crônica de divulgação hahne­
maniana durante oito anos, escrevendo a última poucas horas
antes de morrer. Seu livro, «Iniciação Homeopática», é um do3
mais conhecidos. Diziam-no o maior conhecedor da ciência homeo­
pática no Brasil. Faleceu no Rio de Janeiro a 25-1-1942.
José Gotardo Emerenciano: — nasceu em Natal, professor de
instrução primária no bairro da Ribeira, em Natal, desde 4-6-1842
até sua aposentadoria a 22-7-1872, continuando a manter cursos
particulares muito freqüentados. Era grande sabedor de latim,
exprimindo-se facilmente nessa língua. Faleceu em Natal a 16-6
de 1896.
1
José Gotardo Emerenciano Neto: — nasceu em Natal a 14-7-
1881. Foi um dos melhores poetas de sua geração, aclamado
e declamado. Uma coletânea de seus versos, edição póstuma,
— 510 —

foi pública em 1913, “Folhas Mortas”. Faleceu em Natal a


7-5-1911.
José Inácio Fernandes Barros: — nasceu na vila de S. Gon­
çalo (Felipe Camarão) a 25-4-1844. Bacharel em 1868, Recife.
Magistrado. Juiz de Direito de Jardim do Seridó, 1875-77, ins­
talou a comarca do Ceará-Mirim em 1877, transferido em 1884
para Maroim, Sergipe, onde foi Chefe de Polícia, 1885. Em
1888 voltotí à comarca do Ceará-Mirim onde se aposentou em
1890. De maneiras fidalgas, culto e viajado, impressionava pela
superior distinção pessoal. Como vice-governador administrou o
Estado em 1891. Faleceu na cidade do Ceará-Mirim 17-10-1907.
José Joaquim Geminiano de Morais Navarro: — nasceu em
Natal a 19-12-1799. Envolveu-se nos acontecimentos políticos da
Independência e Confederação do Equador. Foi o primeiro norte-
rio-grandense bacharel em direito pela Academia de Olinda, na
primeira turma, 1832. Presidiu a província de Sergipe, de 29-10-
1833 a 13-2-1835. Ocupou cargos de magistratura, sendo Juiz
de Direito’ no Recife. Ignora-se quando e onde faleceu.
José Leão Ferreira Souto: — nasceu no sítio Polônia, muni­
cípio de Santana do Matos a 11-4-1850. Fixou-se no Rio de
Janeiro. l.° escriturárto do Tesouro. Republicano histórico. Fun­
dou em abril de 1888 u'm “Centro Potiguarense” destinado a pro­
paganda republicana. Com a República foi demitido e só em
1903 promovido. Jornalista, poeta, orador, auxiliou intensamente
o Partido Republicano de sua terra. Deixou vários livros impres­
sos de poesia, crítica, questões sociais, limites do Estado com o
Ceará, etc. Faleceu no Rio de Janeiro a 27-8-1904.
José Moreira Brandão Castelo Branco: — nasceu na vila de
Goianinha a 4-9-1828. Bacharel em Olinda, 1849. Figurou sempre
no Partido Liberal sendo um dos chefes de mais legítimo prestí­
gio. Dez vêzes deputado provincial, deputado *geral em 1864*66,
1378-81 e 1885. Fundou, dirigiu e colaboróu na imprensa par­
tidária. Era bom advogado, poeta e orador. Foi Diretor da
Instrução Pública em 1858 e 1866. Faleceu em Natal a 16-7
de 1895.
José da Penha Alves de Sousa: — nasceu em Angicqs a ^-5-
1875. Militar. Alferes em 1894, tenente em 1908, capitão em
1911. Jornalista, escrevendo nos grandes jornais do Rio de Ja­
neiro, paladino republicano, arrebatado, entusiasta, idealista.
Ocupou cargòs de eleição popular no Ceará. Tríbunò político,
dirigiu a campanha oposicionista em 1913 na JRd© Grand^^Ho
Norte. Publicou livros sôbre assuntos militares, filosóficos e so­
ciais. Morreu combatendo na insurreição do Joazeiro. em Miguel
511 —

Calmon, Ceará, defendendo o govêrno Franco Rabelo. Ergueram


em sua honra uma herma em Fortaleza. Faleceu em combate a
22-2-1914.
José Paulino de Andrade : — nasceu na cidade de S. José de
Mipibu a 16-3-1861. Cursou medicina no Rio de Janeiro, aban­
donando o cuiso e ordenou-se padre em Olinda, 1886. Em 1888
obteve per concurso a freguesia de Macaíba, no Rio Grande do
Nortê. Foi o único sacerdote residente na Província que se de-
cîaroü publicamente republicano, assinando a ata da fundação do
Partido em 27-1 -1889 em Natal, onde foi secretário e membro do
diretório. Transferindo-se para Pouso Alegre. Minas Gerais,
levantou a ideia da criação do Bispado local, conseguindo patri­
mônio, seminário, colégio, paço episcopal. O Bispado foi criado
mas outro o nomeado e êle recebeu o título de Prelado Doméstico
do Papa. Doente, regressou ao Rio Grande do Norte, paroquiando
ainda Papari c Touros, 1902 e 1903. Latinista, escritor vibrante,
era uni dos melhores oradores sacros da época. Faleceu em Natal
a 24-9-1907.
fosé Pedro de Oliveira Galvão: — nasceu no sítio Poção,
Goianinha, a 10-8-1840. Militar. Fêz a campanha do Paraguai.
Republicano, a propaganda alcançou-o capitão em 1879. Amigo
do marechal Decdoro da Fonseca, acompanhou-o em todos os
passos acidentados dos primeiros tempos da República. Coronel
em 1895, reíormou-se no ano seguinte como general de brigada.
O Rio Grande do Norte elegeu-o Senador à Constituinte de 1890.
Faleceu mo Rio dc Janeiro a 2-10-1896.
José Teotônio Freire: — nasceu na cidade de S. José de
Mipibu a 18-2-1858. Bacharel na Academia do Recife em 1884.
Promotor Público em Mossoró em 1886, Açu e Nova Cruz em
1887-88. Viajando para o sul foi Juiz Municipal em Capão
Bonito do Paranapanema, S. Paulo, em 1889. Nomeado pelo
Govêrno Provisório Juiz de Direito de Pau dos Ferros em 1890.
Juiz do Potengi (Macaíba) em 1892. Desembargador em 1898.
Presidente do Superior Tribunal de Justiça de 1909 a 1921 quando
deixou o cargo por ter sido nomeado > riz Federal. Aposentou-se
em 1937. Em 1895-96 exerceu as funções de Chefe de Polícia.
Magistrado ilustre, austero e digno, cercava-o um ambiente de
respeitosa admiração. FoLum dos modelos de sua classe. Faleceu
em Natal a I1-5-Î944.
Jose X&nzi Garcia de Almeida: — nasceu em Natal. Enge­
nheiro militar. Coronel, reformou-se como general de brigada em
1863. Era irmão do ministro Tomás Xaxier Garcia de Almeida
— 512

c sobrinho do Padre Miguelinho. Deputado geral na décima


legislatura, 1857^60. Faleceu no Rio de Janeiro a 11*10*1869.
Lóurival Açucena: — Joaquim Eduvirges de Melo Açucena
nasceu em Natal a 17*10*1827. Funcionário da Secretaria dc
Govêrno pcrconeu tôda a escala, aposentando*se como Oticial-
Maior. Poeta, com leituras clássicas, versejava com desembaraço,
possuindo pioduções de vôo lírico e a maioria de feição popular,
destinada ao encanto das seranatas ao violão. Musicava seus
versos. O instituto Histórico publicou uma coletânea de versos
p^r ocasião da passagem do seu centenário. Faleceu em Natal
a • 28-3-1*907.
Luís Cutios Lins Wanderley : — nasceu na Nova da Princesa
cm 30-8*1831. Primeiro norte-riograndense que se doutorou em
Medicina (Bahia, 5-12*1857). Comendador da Imperial Ordem
da Rosa. Poeta, teatrólogo, publicou romances, cabendo-lhe a
prioridade para.êsse gênero literário na província (“Mistérios de
um Homem Rao’ , 1873, 1874, realmente saiu em 1S83 e ignoro
se o terceiro tomo foi publicado). Deputado provincial em seis
biênios, desempenhou cargos profissionais. Diretor da Instrução
Pública em i8c6, Médico do Partido Público, etc. Como vice-pre­
sidente assumiu a presidência da Província em 1886. Faleceu em
Natal a 10*2*1390.
Luís Gcnraga de Brito Guerra: — nasceu na fazenda Coroas,
município de Campo Grande (Augusto Severo), a 27*9*1818.
Bacharel em 1849.. Olinda. Magistrado no Rio Grande do Norte.
Desembargador na Relação de Ouro Prêto, 1876. Removido para
o Ceará em 1885. Ministro do Supremo Tribunal de Justiça,
posse em 23-3-1887, aposentando-se a 10-11-1888, com 44 anos
de serviços. Barão do Açu por decreto imperial de 17*11*1888.
Conselheiro a 14-2-1874. Tinha as Ordens dc Cristo e da Rosa.
Deputado provincial no Rio Grande do Norte cm 1842-43, 1846-47
e 1856-57. Como vice-presidente administrou a Província em 1868.
Impressionante figura de severidade moral, cultura jurídica, digni­
dade pessoal inexcedível. Faleceu em Caraúbas, Rio Grande do
Norte, a 6-6*1896.
Luís Manuel Bernandes Sobrinho: — nasceu na fazenda Sabe-
Muito, Caraúbas, a 28*2*1856. Bacharel em 1835. Magistrado.
Juiz de Direito em S. José de Mipibu e Natal, 1898.
Desembargador do Tribunal de Justiça em 19J9, aposentõu-se em
1915. Deputado estadual no triênio 1892*94 e 1895-97. Chefe de
Polícia, boi um dos mais pesquisadores da História, publicando
ensaios dignos de louvor, como “A Imprensa Periódica no Rio
— 513 —

Grande do Norte”, "A Naturalidade de dom Antônio Felipe


Camarão”, etc. Faleceu em Natal a 21*9*1935.
Manuel Andté da Rocha: — nasceu’em Natal a 20*3*1860.
Bacharel no Recife em 1883. Promotor na comarca do Martins.
Fixou-se no Rio Grande do Sul, sendo Juiz Municipal de Can-
guçu, Juiz de Direito de Lagoa Vermelha, 1890*96, transferido
para Pôrto Alegre, Desembargador, Chefe de Polícia, Presidente
do Tribunal de Justiça, Procurador Geral, um dos fundadores da
Faculdade de Direito onde ensinou Direito Comercial, diretor
da Faculdade, 1904*1934. Reitor da Universidade de Pôrto Ale*
gre, 1934*37. Aita expresão de cultura, honestidade e altivez,
deixou recordação profunda no espírito de seus alunos, alguns
atinqindo elevadas funções nacionais. Faleceu em Pôrto Alegre
a 26-8*1942;
Manuel Antônio de Oliveira Coriolano: — nasceu no sítio
Sonhorcm, Aj.odi, a 5*1*1835. Foi Promotor Público, escrivão,
advogado provisionado, eleitor de paróquia, elemento social conhe*
cido e querido. Durante tôda sua existência registrou os fatos
ocorridos no município, desde as variações climatéricas até a
sucessão de funcionários públicos, recolhendo tradições orais, dei­
xando vários tomos manuscritos. Era o “Cronista do Sertão”.
Faleceu na cidade do Apodi a 28*12*1922.
Manuel BeníJo de Melo Filho: — nasceu na cidade de Mos­
soró a 4*10*1886. Telegrafista, foi servir no Ceará 1905*1911,
em várias localidades, bacharelando*se em Direito em Fortaleza,
1910. Em 1918 foi removido para Natal. Em 1918 ingressou na
Magistratura, sende Juiz Municipal de Jardim do Seridó e depois
Juiz de Direito na mesma comarca, 1920. Chefe de Polícia era
1926*27 elaborou regulamentos do Departamento da Segurança
Pública e urra codificação do processo penal, convertidos cm leis.
Desembargador cm 1928. Presidindo*o. Aposentou-se em 1949.
Magistrado eminente pelas virtudes e extensão da cultura, ora­
dor, era uma das expressões mais altas da magistratura. Faleceu
em Natal a 16*7*1949.
Manuel Ferreira Nobre: — batizou*se em Natal a 21*3*1834
onde deve ter nascidc por ser de família tradicionalmentc radicada
à cidade. Não possuía títulos de educação superior. Funcionário
da Secretaria da Assembléia Provincial chegou a Oficial Maior em
1856, demitido em 1864 e readmitido em 1868 quando permutou
seu cargo pelo de Bibliotecário Público Provincial, onde se apo­
sentou. Publicou cm 1877 a “Breve Notícia sôbre a Província
do Rio. Grande do Norte” que é o primeiro resumo histórico-
geográfico da Provincia. Acompanhou o Presidente Pedro Leãc
— 514 —

Veloso na sua excursão pelo interior da Provincia em 1861,


Ignora-se onde e quando faleceu. Ainda vivia em Papari em
meados de 1895.
Manuel Gomes de Medeiros Dantas: — nasceu na fazenda
Riacho Fundo, município do Caicó em 26-4-1867. Bacharel em
1890. Promotor Público no Jardim e Acari, Juiz Federal subs­
tituto, foi Diretor Geral da Instrução Pública de 1897 a 1905 e
de 1911 a 1924. Foi um dos fundadores do “Povo”, Cairo,
1889-92, e jornais em Natal, “Diário do Natal”, 1893, “Estado”,
1895. Redator da ‘República”, desde 1897, nunca mais abandonou
a redação, manten ao várias seções divulgativas de geografia, agri­
cultura, ciências naturais. Procurador Geral do Estado de 1908
a 1911, professo, deputado estadual de 1905 a 1907. Publicou
“O R io Grande do Norte”, “Denominações dos .Municípios”,
«Natal daqui a cinqüenta anos», «Tomás de Araújo» e, postu­
mamente, “Homens de outrora”. Grande conhecedor de tradições
sertanejas, assuntos geográficos, um folclorista n3to, fazia as delí­
cias da conversação pelo pitoresco, variado e colorido de sua frase
e dos motivos escolhidos, sempre originais e em pleno serviço de
informação. Membro da Intendência Municipal em 1924, foi eleito
Presidente para o triênio 1923-25. Faleceu em Natal a 15-6-1924.
Manuel Gonçalves Soares de Amorim: — nasceu na cidade
do Açu a 2-11-1851. Sacerdote. Estudou n oPôrto, Portugal,
Olinda, Fortaleza, voltando à Europa onde se ordenou em Roma,
doutorando-se ein direito canônico pela Universidade Gregoriana
em 1876. Visitou a Terra Santa, regressando ao Recife cm fins
do mesmo 1876. Vigariou Santana do Matos no Rio Grande do
Norte. Fixando tua residência em Pernambuco, foi Capelão do
Arsenal de Aprendizes Marinheiros no Recife e em 1883 paro-
quiava Itambé, hoje També. Deputado provincial nas 26.a e 27.a le­
gislaturas pernambucanas. Bacharelou-se em Direito na Facul­
dade do Recife em 1889. Orador de mérito, advogado brilhante,
historiador, publkuu interessante monografia sôbre a naturalidade
de D. Antônio Felipe Camarão, em 1923. Faleceu no Recife
a 22-10-1935.
Manuel José Fernandes: — nasceu no municipio de Campo
Grande em 1800. Vigário interino do Príncipe, Caicó, foi colado
na mesma freguesia em 1845, substituindo seu tio, o Padre
Guerra, senador do Império. Exercendo muitíssimos anos as fun­
ções de Visitador Apostólico, é conhecido como o “Visitador Fer­
nandes”. Foi deputado provincial na primeira legislatura, 1835,
e ininterruptameníe até 1855. Faleceu na vila do Príncipe, Caicó,
a 10-2-1858.
515 —

Manual Pinto oe Castro*. — nasceu em Natal a 3-8-1774. i


Padre Pinto foi pró-pároco em Natal, Presidente do Conseil
Geral da Província em 1830, membro do Conselho do Govern'
secretário do Govêrno, vice-presidente da Assembléia Legislativ
em 1835-37. Presidiu a Junta de Govêrno Provisório, 1822-24
Como conselheiro mais votado substituiu o presidente da Provínci
no govêmo em 1832 e 1833. Faleceu em Natal a 2-8-1850.
Manuel Segundo Wanderley*. — nasceu em Natal a 6-4
1860. Médico em 1886, Bahia. Exerceu em Natal os cargos d
professor do Ateneu, inspetor de Higiene, diretor do Hospita
de Caridade, deputado estadual em 1906. Publicou muitos livro:
de verso e fêz representar vários dramas e comédias, muito aplau­
didos todos. É a mais viva expressão poética da escola condoreira
no Estads. Seus versos arrebatavam o auditório, levando-o ac
entusiasmo delirante. Alguns versos seus, musicados, foram can­
tados em todo o Brasil, como o “Poeta e a Fidalga”. Extrema­
mente simples, modesto e bom. Há uma seleção de seus poemas,
“Poesias”, 1910 e 1923. Faleceu em Natal a 14-1-1909.
Manuel Tavares da Costa Miranda*. — nasceu na vila de
Canguaretama a 25-12-1873. Funcionário da Prefeitura do Dis­
trito Federal de 1893 a 1934 quando se aposentou como vice-dire­
tor da Fazenda. Pertenceu ao Batalhão Acadêmico, tomando paite
no combate da Armação, 9-2-1894. Foi um dos espíritos mais
nobres, retos e puros que o Brasil possuiu. É o criador da Festa
da Bandeira. A lápide do seu túmulo no cemitério de S. João
Batista é o elogio exato de uma existência ilibada. “Republicano
histórico e defensor estrênuo da República, Soldado de Floriano
Peixoto. Criador da Festa da Bandeira. Caráter ilibado. Intransi­
gente no cumprimento do dever. De honestidade modelar. Gastou
a vida no serviço da Pátria e da Família.” Faleceu no Rio de
Janeiro a 22-12-1935.
Manuel Teófilo da Costa Pinheiro*. — nasceu na vila de
S. Gonçalo a 5-3-1872. Major do Exército em 3-12-1919, refor-
mou-se como tenente coronel em 1921, com 39 anos de serviços.
Bacharel em matemáticas e ciências físicas e naturais. Grande
engenheiro de campo, astrônomo, explorador infatigável, perseve­
rante e acima da própria fadiga, prestou relevan tíssimos auxílios,
à Comissão Rondon. Foi o explorador do rio Jaci-Paraná, 1909-10,.
do rio Juruena, 1911-12, e do rio Cautário, 1916-17, fazenda
todos os levantamentos com precisão admirável. De sua resistência,
estoicismo, conhecimentos e afabilidade, vive uma tradição notória
entre seus companheiros sobreviventes. Faleceu na estação de
Buriti, Minas Gerais, a 23-2-1930.
— 516 —

Manuel Varela do Nascimento*. — nasceu no Veríssimo, arre­


dores da cidade do Ceará-Mirim a 24-12-1802. Grande proprie­
tário, senhor de engenho, alcançou vultosa fortuna, introduzindo
melhoramentos na indústria açucareira do vale. 3.° Vice-Presidente
da Província — 1868. Deputado provincial no biênio de 1868-69,
coronel comandante da Guarda Nacional, Barão do Ceará-Mirim
por decreto imperial de 22-6-1874, o primeiro norte-riograndense
a ser agraciado pela Coroa. Construiu e doou no município um
prédio para escola pública, entregando-o a 5-11-1878. Sua resi­
dência, a casa grande do engenho S. Francisco, era a mais deco­
rativa das redondezas. Faleceu em S. Francisco, Ceará-Mirim seu
engenho, a 1-3-1881.
Manuel Vítor Fernandes Barros: — nasceu em Natal,
Bacharel em 1877 no Recife. Presidente da província das Ala­
goas de agôsto a novembro de 1889. Deixou o govêrno precisa­
mente no dia 15, horas antes da proclamação da República. Resi­
dia no Rio de Janeiro. Faleceu na .Capital Federal a 10-12-1902.
Manuel Virgílio Ferreira Itajubá: — nasceu em Natal a 21-8-
1876. Exerceu cargos humildes na administração estadual.
Poeta de inspiração poderosa, original e vivo, quase iletrado, cons­
titui fisionomia invulgar na paisagem literária do seu tempo.
«Terra Natal», 1914, edição póstuma. «Possias Completas», 1927.
Grande boêmio, sereneiro, cheio de verve, seu nome é inseparável
das tradições orais do populário natalense. Faleceu no Rio de
Janeiro a 30-7-1912.
Marcos Bezerra Cavalcanti: — nasceu em Natal a 22-10-1854.
Formou-se em Medicina no Rio de Janeiro, 1878. Preparador
de Anatomia e Operações em 1881 por concurso. Professor substi­
tuto da mesma seção. Em 1891, catedrático de Operações, foi
transferido, pelo voto unânime da Congregação para a primeira
cadeira de Clínica Cirúrgica. Foi um dos fundadores e presidentes
da Academia Nacional de Medicina. Representou o Brasil nos
congressos médicos de Lisboa, 1906, Paris, 1910, Londres, 1913.
Foi o primeiro norte-riograndense catedrático de Medicina. Fa­
leceu no Rio de Janeiro a 9-10-1932.
Miguel Joaquim de Almeida Castro: — nasceu em Natal a
17-11-1768.' Professor a 4-11-1784 ná Ordem dos Carmelitas com
o nome de Frei Miguel de S. Bonifácio, apelidado popularmente
Frei Miguelinho por ser de pequena estatura. Obteve a seculari-
zação em Portugal, 1800. Voltando ao Recife foi professor de
retórica no Seminário de Olinda. Entusiasta da Revolução de
1817, secretário da Junta Governativa, foi prêso a 21 de maio
-e enviado para a Bahia, onde, condenado a 10 de junho, foi
— 517 —

executado na manhã seguinte. De energia imperturbável, sereno e


forte, recusou defender-se e antes dé sua prisão destruiu tôdas
as provas que levariam a processo milhares de pessoas. Foi
fuzilado rio Campo da Pólvora, na Bahia, a 12-6-1817.
Miguel Ribeiro Dantas: — nasceu no município de S. José
de Mipibu a 9-5-1799. Proprietário, fazendeiro; capitalista, era
um dos nomes mais populares na sua tçrra. Doou um prédio para
escola pública na cidade natal. Coronel da Guarda Nacional,
presidente da Câmara Municipal de 1833-37. Barão de Mipibu
por decreto imperial de 18-3-1877. Faleceu em S. José de Mipibu*
a 14-7-1881.
Nisia Floresta Brasileira Augusta: — nasceu no sítio Flo-
Floresta, a 12-10-1810. Chamava-se Dionísia Pinto Lisboa. Em
resta, arredores da vila Imperial de Papari, hoje Cidade de Nisia
1828 viajava p^ra o Recife não mais voltando à sua terra. Dirigiu
colégios no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Visitou a
Europa em 1848 e em 1885 fixou-se, definitivamente, no estran­
geiro, percorrendo vários países, convivendo com os nomes ilustres
e publicando interessantes livros de viagens, comentários e crítica
social, além de poesias e traduções. Ê a mais notável mulher de
letras brasileiras no século XIX. Foram inaugurados monumentos
à sua memória em Papari (1909) e Natal a 19-3-1911. Faleceu
em Rouen, França, a 24-4-1885.
Otaviano Cabral Raposo da Câmara: — nasceu na fazenda
Arraial, Açu, a 15-1-1819. Bacharel em 1843, Olinda. Chefe
conservador de um grupo constituído por seus irmãos, os Cabrais.
Deputado provincial cinco vêzes. Deputado geral em 1853-56 e
1869-72. Advogado, jornalista, orador político, desempenhou as
68-69. Presidiu a Província como vice-presidente em 1870. Fa-
funções de Inspetor da Tesouraria, 1870-71, Procurador Fiscal,
Pedro Alexandrino dos Anjos: — nasceu em Natal a 26-11-
Ieceu em 1872,
1873. Autodidata, escrevendo e trabalhando nos jornais, foi
um dos primeiros jornalistas do seu tempo, conhecedor do portu­
guês, sendo professor de grande número de alunos. Quase todos
os jornais da oposição o tiveram como redador, diretor ou cola­
borador. No seu freqüentadíssimo curso de português, foi um
legítimo precursor dos métodos mais modernos, intuitivos e racio­
nais de ensino. Todos os seus trabalhos estão dispersos. Faleceu
em Natal a 5-10-1917.
Pedro Celestino da Costa Avelino: — nasceu na vila de An­
gicos a 19-5-1861. Ficou, de 1879 a 1884, trabalhando no corner-
— t>lö —

cio do Recife, voltando em 1885 à província. Fixou-se em Natal


iniciando sua colaboração na imprensa local, fundando “O Caixei­
ro”, 1892-94, já na redação de «A República», embora só em 1898
fizesse oficialmente parte. Jornalista brilhante, polemista de raça,
foi um dos nomes mais famosos da época. Administrou os Cor­
reios. Tornado oposicionista fundou em 1901 a “Gazeta do
Comércio” cujas oficinas foram depredadas na noite de 18-2-1905.
No Recife fundou “A Pátria”. Residindo no Rio de Janeiro, con­
tinuou colaborando na imprensa. Em 1911 foi Prefeito do De­
partamento do Cruzeiro do Sul. Estêve sempre escrevendo nos
jornais e foi auxiliar precioso do seu cunhado José da Penha Alves
de Sousa em 1913. Faleceu no Rio de Janeiro a 20-7-1923.
Pedro Velho d'Albuquerque Maranhão: — nasceu em Natal
a 27-11-1856. Médico no Rio de Janeiro, 1881. Clinicou em
Natal, dirignido o “Ginásio Rio Grandense”, de 1882-84. Ins­
petor de Saúde Pública em 1885, professor de História no Ateneu
do mesmo ano. Abolicionista, fundou o Partido Repúblicano do
Rio Grande do Norte a 27-1-1889. Presidente aclamado na pro­
clamação da República, foi depois deputado, governador ,senador
da República, e chefe mais poderoso das forças políticas do Estado.
Faleceu à bordo do vapor “Brasil”, no pôrto do Recife, a 9-12
de 1907.
Pedro Soares de Araújo: — nasceu na cidade do Açu a
29-8-1855. Eleitor de paróquia em 1876, foi vereador em sua
cidade e deputado provincial em 1882-83, fixando-se em Natal,
1886. Funcionário público. Deputado ao I.° Congresso Consti­
tuinte de 1891, eleito para o Congresso em 1901-1903 e reeleito
até 1924, sendo vice-presidente. Inspetor do Tesouro do Estado
em 1902, aposentou-se em 1925. Era a maior autoridade era
assuntos de economia e fisco do Estado. Membro do Instituto
Histórico, fundador, deixou trabalhos interessantes de pesquisa,
dez anos, 1916-1926, seu presidente. Faleceu em Natal a 11-4-
1927.
Rafael Arcanjo Galvão, pai e filho: — o pai nasceu em
Natal em 1811, iniciando a carreira na Secretaria do Govêrno e
passando para a Tesouraria da Fazenda, ascendeu, pela perseve­
rante conduta e correção inalterável, aos postos supremos de sua
repartição, sendo inspetor do Tesouro em Sergipe e Rio Grande
do Sul, contador do Tesouro, Diretor Geral da Contabilidade e
Presidente do Tribunal do Tesouro. Tinha as comendas da Rosa
e de Cristo e o título de Conselheiro. No Rio Grande do Norte
foi deputado provincial em três biênios assim como em Sergipe.
Faleceu no Rio de Janeiro a 8-4-1882. O filho, de igual nome,
— 519 —

nasceu cm Natal a 10*6*1836, sendo engenheiro notável, recons*


truindo a Alfândega do Rio de Janeiro, construindo a de Santos,
e tendo projetos sôbre abastecimento d’água, exgotos, ferro*
vias, etc. Faleceu no Rio de Janeiro a 24*6*1888.
Rafael Fernandes Gurjão*. — nasceu em Pau dos Ferros
a 24-10*1891. Médico pela Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro em 1912. Clínico, industrial e comerciante em Mossoró,
foi Prefeito do município e dirigiu o semanário “O Mossoroense”.
Deputado estadual em 1918*1920 e 1921*1922, passou à Câmara
Federal em 1922, reeleito seguidamente até 1930. Eleito Gover­
nador do Estado pela Assembléia Legislativa em 29*10*1935;
assumiu no mesmo dia. Em 24*11*1937 foi nomeado Interventor
Federal e neste caráter administrou até 3*7*1943. Na parte
histórica há o registo de sua administração, a mais longa desde
o período imperial e com realizações úteis. Regressou ao Rio
de Janeiro onde faleceu a 11*6*1952.
Raimundo Nonato Ferreira da Mota*. — nasceu no município
do Apodi a 30*6*1866. Foi Intendente Municipal. Estudioso da
história local, alcançou grande número de notas preciosas sôbre
os municípios de Portalegre e Apodi, origens, povoamento, orga­
nização, etc. Parte dêsses estudos foi publicado na revista do
Instituto Histórico XVIII e XIX. Faleceu na cidade do Apodi
a 4*6*1936.
Rodolfo Augusto de Amorim Garcia: — nasceu no engenho
do Meio, arredores da cidade do Ceará-Mirim em 26*5*1873.
Fixou*se no Recife. Bacharel em 1908. Em 1913 transferiu-se
para o Rio de Janeiro. Professor emérito, historiador, comentador
da obra de Varnhagen, Fernão Cardim, “Diálogos das Grandesas
do Brasil”, Pe. Manuel da Nóbrega, “Primeira Visitação do
St. Ofício às Partes do Brasil” (Denunciações de Pernambuco),
deixou vasta e erudita obra, notável de concisão e severidade
da pesquisa e amplitude da informação. Foi diretor do Museu
Histórico e da Biblioteca Nacional onde se aposentou. Faieceu
no Rio de Janeiro a 14*11*1949.
Sebastião Constantino de Medeiros: — nasceu na fazenda
Umari, Caicó, a 20*1*1847. Ordenou*se em Olinda, 1870. Viga-
rio de Serra Negra no Rio Grande do Norte. Chamado pelo
Bispo D. Frei Vital ao Recife foi um dos três governadores do
Bispado na ausência do prelado, prêso por ocasião da Questão
Religiosa. O Padre Sebastião, assim como seu colega, foi prêso
em fevereiro de 1875 por não desobedecer as instruções deixadas
pelo seu Ordinário. Lecionou Teologia Moral e foi Reitor do
Seminário de Olinda. Em 5*10*1878 ingressou na Companhia de
— 520 —

Jesus. Em Roma foi professor, 1882 e 1883, no Colegio Pio


Latino. Faleceu em Roma a 24-4-1886.
Sebastião Fernandes de Oliveira: — nasceu em Natal a 11-3-
1880. Bacharel em 1902, Recife. Promotor Público, Juiz Dis­
trital, primeiro Diretor da Escola de Aprendizes Artífices (Liceu
Industrial,, voltou à Magistratura sendo Juiz de Direito do Ceará-
Mirim em 1915, transferido para a segunda Vara da Capital em
1929. Chefe de Polícia e5Secretário Geral do Estado. Desembar­
gador em 1935, presidiu o Tribunal de Apelação em 1937 e 1938.
Publicou “Alma Deserta", Mossoró, 1906, “Estudos e Aplicações
de Sociologia Criminal", Natal, 1922. Poeta, orador empolgante,
Jurista completo, era, nos domínios da criminalística, a mais alta
expressão cultural no Estado. Faleceu em Natal a 29-5-1941.
Tarquínio Bráulio de Sousa Amaranto: — nasceu na povoação
de Papari a 20-7-1829. Bacharel em 1857, doutor em Direito em
1859, professor substituto em 1860, catedrático em 1871 na Facul­
dade de Direito do Recife. Era o primeiro norte-riograndense que
exercia êsse pôsto numa Faculdade de Direito. Em Natal foi
Promotor Público e professor de filosofia no Ateneu. Deputado
provincial em 1858-59, deputado geral em 1875-77, 1882-85 le
1886-89. Pertenceu ao Partido Conservador, chefiando um grande
grupo na Província nos fins do Império. O Pe. João Manuel de
Carvalho dirigia o outro grupo. Temperamento equilibrado, justo,
sereno, o Conselheiro Tarquínio era um representante legítimo
da boa educação parlamentar e política, grave, prudente, solene,
profundamente honesto e em tudo digno. Faleceu no Rio de Ja­
neiro a 29-8-1894.
Teotônio Coelho Cerqueira de Carvalho: — nasceu em Natal
a 19-11-1838. Cursou a Academia de Marinha; 2.° tenente em
1861, l.° em 1864, capitão-tenente em 1877, em 1892. Almirante
em 1904 quando foi reformado compulsoriamente por ter atingido
medalha militar, campanha do Paraguai e condecorações argentinas
o limite àa idade. Possuía as Ordens da Rosa, S. Bento de Aviz
em Natal em 1873. Foi Chefe do Estado Maior da Armada em
e uruguaias. Instalou a Companhia de Aprendizes Marinheiros
1893. Comandante geral dos toípedeiros em 1896, Inspetor do
Arsenal de Marinha em Mato Grosso em 1898, comandante da
Flotilha em 1900, etc. Publicou; “Viagem de exploração ao alto
Paraná e Iguaçu" (1876) . Faleceu no Rio de Janeiro a 14-2-1930.
Tobias do Rêgo Monteiro: — nasceu na cidade do Natal a
29-7-1866, transferindo-se para o Rio de Janeiro depois do curso
ginasial. Jornalista, autoridade em assuntos de economia e finan­
ças, secretário de Rui Barbosa quando Ministro da Fazenda
521

( 1889*91 ) tomou-se um historiador ilustre pela minuciosidade da


pesquisa e vastidão documentât agilidade e profundeza do comen­
tário. Seus livros sôbre a História da Independência e do Impé­
rio, o clássico «Pesquisas e Depoimentos», sua ação como redator
e diretor de Jornais, sua prestigiosa presença nos mais altps debates
dêsses temas, fizeram-no figura de notável influência cultural.
Senador Federal pelo Rio Grande do Norte, 1920-22. Faleceu
no Rio de Janeiro a 4-8-1952.
Tomás de 'Araújo Pereira : — nasceu no-município do Acari
em 1765. Fazendeiro e agricultor, possuía grande prestígio ná
região seridoense pela firmeza de sua palavra e honestidade mo­
delar. Pertence à Junta de Govêrno Provisório, 1822 a 1824.
Foi o primeiro Presidente da Província, de maio a setembro de
1824 e o único norte-riograndense que mereceu essa nomeação
durante todo o periodo imperial. Faleceu na vila do Acari &
20-5-1847.
Tomás Xavier Garcia de Almeida : — nasceu em Natal a
14-6-1792. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra,
1818. Juiz de Fora no Recife, 1821. Em 1823, como suplente,
tomou parte na Assembléia Constituinte, representando o Rio
Grande do Norte. Magistrado fiel à lei, inflexível, condenou os
republicanos da Confederação do Equador em 1824. Ouvidor do
Recife ém 1825. Foi p primeiro norte-riograndense desembarga­
dor (Relação da Bahia, 8-8-1827) Ministro do Supremo Tribunal
de Justiça do Império a 13-5-1846. Fôra deputado geral por Per­
nambuco em 1826-29 e pela Bahia em 1843-44. Governou cómo
Presidente S. Paulo, 1827-28, Pernambuco, 1828 e 1844 e a
Bahia em 1838. Conselheiro a 18-7-1841. Possuía as ordens do
Cruzeiro e da Rosa. Aposentado a 25-9-1867. Faleceu no Rio de
Janeiro a 1 í-1-1870.
Ulisses Olegario Lins Caldas : — nasceu na cidade do Açu a
5-5-1846. Alistou-se para a guerra do Paraguai a 17-3-1865.
Alferes do 299 Corpo de Voluntários da Pátria, comandado pelo
tenente coronel Alexandre Freire Maia Bittencourt, foi alferes e,
a 4-9-1866, tenente. Sua espetacular bravura, o arrojo com que
carregava, estimulando seus homens, criou-lhe uma lenda de invul­
nerabilidade. Na tomada de Curuzu, 3-9-1866, arrebatou um
rodízio de 32, cavalgando-o à vista assombrada do inimigo, depois
de ter sido atirado a um fôsso pela explosão dé uma mina. Em
13-10-1866, com uma patrulha de oito soldados, resistiu a 80 para­
guaios, não cedendo terreno até que fôsse reforçado. O 29.° Corpo
de Voluntários saiu em reconhecimento e engajou forte combate.
— 522

Ulisses tinha vinte anos, seis meses e dois dias de existência.


Uma bala atingiu-o no coração na manhã de 7-11-1866.
Ulisses Telemaco de Araújo Galvão: — nasceu no sitio S.
Bento, Currais Novos, a 3-3-1872. Autodidata, professor primá­
rio, tabelião público, 1897-1906. Fundou um jornalzinho manus­
crito, 4‘O Eco do Norte”, 1900, e depois o impresso, semanário,
“A Voz Potiguar” 1-1-1905 que resistiu algum tempo. No ambiente
melancólico de uma pequenina vila do interior foi um animador
apaixonado pela história, geografia, educação, poesia, literatura,
escrevendo sôbre êsses assuntos e determinando a criação de um
grupo de amigos sacudidos pela lnesma vibração. Colaborou em
publicações em Natal, Recife, Pôrto Alegre. É um exemplo
inesquecível. Seus admiradores ergueram um modesto monumento
em sua memória, 25-7-1928. Faleceu em Currais Novos a 21-12
de 1907.
NOTA DO FIM

Em 194Í o secretário geral do Estado, Aldo Fernandes, procurou-me para


«que escrevesse uma História do Rio Grande do Norte. As duas impressas,
«de Tavares de Lira e Rocha Pombo, datavam de vinte anos. Entregue! os
originais e êstes foram encaminhados à Imprensa Oficial. Fiz algumas revi­
sões dos três primeros capítulos. O Interventor Rafael Fertíandes pedira
exoneração e o volume ficou esquecido numa gaveta. Anos depois fui
informado de que os originais estavam sendo lidos e ameaçavam desapare­
cimento. O diretor, Romildo Gurgel, teve a caridade de salvá-los, recolhen­
do-os e entregando-os a mim, para que os guardasse. Cinco capítulos foram
¡perdidos. Várias páginas faltavam. Os originais, assim incompletos e trunca­
dos, ficaram em meu poder.
Em março de 1951 o secretário geral Mário Negócio de Almeida e Silva
estêve comigo dizendo-se interessado pela publicação da História mas, no
momento, desejava que eu escrevesse um volume sôbre Economia e Finanças
-do Rio Grande do Norte, ampliando os capítulos existentes na História. Um
deles, sôbre Economia, estava no número dos que não haviam regressado
ao lar paterno. -Estava eu com obrigação de entregar outros originais ao
editor José Olímpio e sugeri o segundo semestre para um entendimento. Dias
depois Mário Negócio falecia num desastre de automóvel.
Em fevereiro de 1952 o governador Sílvio Piza Pedrosa convidou-me,
por carta, pára escrever a História do Rio Grande do Norte. Aceitei. A
tarefa não foi, pelo exposto, copiar o existente mas refaZer, aproveitando o
material indispensável e remergulhar nos arquivos, na via-cruais dos pedidos
de informação, oficial e particular, às repartições e aos amigos, para atualizar
dez anos de administração, de 1942 a 1952, com a criação de municípios,
freguesias, comarcas, a evolução financeira e econômica, em ritmo acelerado,
educação, saúde e cronologia e enoadeiamento dos fatos, enfim um trabalho
-que só pode ser julgado por quem o fizer. Inútil será qualquer dedução ou
-cálculo. Vale únicamente a experiência pessoal para as tarefas dessa espécie.
As datas criadoras e modificadoras da existência de municipios, freguesias
•e comarcas foram tôdas verificadas na legislação provincial e estadual. Os
-enganos e omissões corregidos, notas fornecidas pela secretarias dos três Bis­
pados, obtidas direta ou indiretamente.
Longa e cuidadosa revisão mereceu a cronologia da administração, desde
1597 a 1952, com substituições no correr dos séculos. Nos ADENDOS
transcrevo ou comento assuntos indispensáveis para a História. Algumas
'dessas informações são inéditas e outras pela primeira vez impressas totalmente.
A vida cultural não cabe num capítulo e espera naturalmente o apareci­
mento da cHistória da Literatura Norte Rio Grandense>. A História Reli­
giosa merece o seu volume que está tardando. O mesmo se dirá para a
História Política ou do Legislativo, ambas com vida centenária e compre­
endendo motivos dignos de estudo e evocação.
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Sôbre a capital do Estado dediquei todo um volume, «História da Cidade


do Natal» e para êle envio o leitor interessado em conhecer ou lembrar sua
existência através de 352 anos vividos.
*
Duas publicações impõem-se num plano de urgência: a impressão das
nossas datas de sesmarias, planejada desde 1929, e a história dos municípios.
Nesse último caso pode ser que alguns prefeitos atinem com a necessidade
da indicação informativa tão distante de suas atividades. Não me foi possí­
vel conseguir de muitos Prefeitos, de municípios novos, a honra de uma notícia.
Alguns, absorvidos pelos trabalhos eminentes, guardaram um silêncio majestoso
em tudo digno de tão alta prosápia.
Deixo os meus melhores agredecimentos aos ilustres colaboradores dessa
«História», aquêles que enviaram as notas solicitadas, general Fernando Távora
(Rio de Janeiro), Eng. João Galvão de Medeiros (Natal), Prof. Antônio
Fagundes, Dr. Antônio Pinto de Medeiros (diretor da Imprensa Oficial),
Mons. Paulo Herôncio (Currais Novos), Dr. Pelopidas Fernandes (Martins),
Luís Bezerra (Florânia), Wilson Figueiredo (Luís Gomes), Pe. Eimar L’Erais-
Mons. Paulo Herôncio (Currais Novos), Dr. Pelopidas Fernandes (Martins)>
Pe. Gurgel (Mossoró), Francisco Cabral da Silva (Prefeito de S. Paulo
do Potengi), Gonzaga Galvão e Paulo Nobre (Departamento de Assistência
aos Municípios e Cooperativismo), Juvino dos Anjos (idem), Dr. Hélio
Galvão (D.E.R.A.S. ), José Brasil (Areia Branca), Dr. Lourival Medeiros
(Patu), Dr. Morais Filho (Goianinha), Dr. Manuel Luís Gomes Neto (S.
Tomé), Dr. Veríssimo de Melo (Natal), general Jair Dantas Ribeiro (Rio de
Janeiro), Prefeito Pedro Heráclito Pinheiro (S. Rafael), Dr. Djalma Aranha
Marinho (Natal), Dr. Joaquim Arn3ud Gomes Neto (Touros), Prefeito
Francisco Leonis Gomes de Assis e José Fernandes Bezerra, agente de Esta­
tística (S. Tomé), Des. Virgílio Otávio Pacheco Dantas, Presidente do
Tribunal Regional Eleitoral, Deputado Aluísio Alves, Vigário Expedito Sobral
de Medéiros (S. Paulo do Potengi), Moisés Janúncio (Jucurutu), Manuel
Rodrigues dc Melo (Natal), Vigário Ramiro Varela (Touros e Taipu), Vigário
Severino Bezerra (Goianinha), Prefeito José Nestor de Gduvei3 (Pedro Ave­
lino), Prefeito Antônio Quintino de Araújo e Cícero Soares Wanderley (S.
João do Sabugi), Pe. Bianor Aranha (Santan3 do Matos), Mário Eugênio
Lira (Natal), Joaquim Lopes Pequeno (Cruzeta), Coronel Luciano Veras
Saldanha (Natal), Cônego Amâncio Ramalho (Parelhas), Dr. Antônio Pe­
reira de Macedo (Natal), José Avelino (S. Miguel), Dr. Nestor dos Santos
Lima (Natal), Dr. Luís Antônio (Natal), Dr. Álvaro Vieira (Departamento
de Saúde Pública), Prof. Severino Bezerra (Departamento de Educação),
Antônio Alves de Oliveira (Departamento de Estatística), José Henrique de
Araújo (Jardim de Piranhas), Severino Rosendo da Silva (Natal). Doutor
Lélio Câmara (Natal), Boanerges LeitÃo (Departamento da Fazenda), Zuleide
Barbalho (Contadoria Geral do Estado), Dr. José Ildefonso Emerenciano
-(Natal), Dr. Antônio Soares de Araújo Filho (Natal), Deputado André
Fernandes dc Sousa (Rio de Janeiro).

E, para findar, lembro a frase de Ser Giovanni Fiorentino no IL PECO-


RONE, XIII. Qui de terra est, de terra loquitur.,.
Natal, 1 de junho a 13 de setembro de 1952. — Luís da Câmara Cascudo.
HISTÓRIA

de Luís da Câmara Cascudo

— Histórias que o Tempo leva... Ed. M. Lobato. S. Paulo. 1924.


— O Conde d'Eu. Col. Brasiliana. S. Paulo, 1933.
— Em memoria de Stradelíi. Manaus. 1936-
— O Marquês de Olinda e seu Tempo. Col. Brasiliana. S. Paulo. 1935.
— Doutor Barata. Bahia. 1938.
— Govêrno do Rio Grande dô' Norte. Natal. 1939.
— Informação *dê Historia e Etnografía. Recife. 1940, Segunda ed. 1944.
— História da Cidade do Natal, Natal, 1947.
— Os Holandeses no Rio Grande do Norte. Natal. 1951.
— Geografia do Brasil Holandês. Ed. José Olímpio. Rio de Janeiro. A sair.
— História da Literatura Norte^Rio^Grándense. Inédito.
— História da República no Rio Grande do Norte. Inédito.
— Toponimia Norte-RioXdrándense. Inédito.
— História do Rio Grande do Norte. (Í955?)
— Notas e Documentos para a História do município do Mossoró. Imprensa
Oficial, Natal, 1955.
— História do Município do Cearâ-mirim. Inédito.
— Notas e Documentos para a História da Assembléia Legislativa do Rio
Grande do Norte. Inédito.
— História de um Homem. Imprensa Oficial. Natal, 1954.
INDICE

Capítulo Primeiro
(I) A Capitania de João Barros. (II) Tentativas de colonização. Os
filhos do Donatário. (Ill) Presença francesa Traficantes e corsários.
Riffault. (IV) A expedição colonizadora de Mascarenhas Homem. Cons­
trução do Forte dos Reis Magos. (V) Pazes com os indígenas. (VI)
Fundação da Cidade do Natal.
NOTAS ao Capítulo Primeiro. ADENDOS: Hojeda esteve no delta
do rio Apu em 1499? Vicente Pinzón esteve no Rio Grande do
Norte? A extensão da Capitania de João de Barros. O Porto dos
Búzios. O cabo de S Roque e a expedição de 1501. O mais antigo marco
colonial. O Padre Gaspar de Samperes. O Fundador da Cidade
do Natal.

Capítulo Segundo
(I) O Povo do Rio Grande do Norte. (II) Indígenas. Tribos, histó­
rico, localização. (III) Negros, número, influência, miscigenação,
determinantes econômicas, pecuária, agricultura, atualidades. (IV)
O elemento branco, origens, projeção, valor étnico. (V) A marcha
demográfica. (VI) Movimentos de fixação.
NOTAS ào Capítulo Segundo.

Capítulo Terceiro
(I) Organização da Capitania. Governo. Limites. Informação de Anthony
Knivet. (II) A Igreja. (III) O Forte. (IV) Tentativas holandesas.
3, (V) O Domínio holandês.
NOTAS ao Capítulo Terceiro. ADENDOS: Onde desembarcaram os
holandeses? Por que o Forte se rendeu? O comandante holandês
dos Reis Magos. Trabalho holandês no Forte dos Reis Magos. O
Fortim de Guaraíras. Trabalho holandês na lagoa de Estremoz.
Açúcar, farinha e carne. Os misteriosos Fortins holandeses. Engenho
e Fortim de Cunhaú. O massacre de Uruaçu. Jacó Rabi, inspirador
da morte. Brazão holandês do Rio Grande do Norte. Governo
holandês dc Rio Grande do Norte. O Rio Grande do Norte que o
holandês conheceu. O episódio de Jaguarari.

Capítulo Quarto
(I) Reconstrução da Capitania e sua expansão territorial. (II) Guerra
dos «Bárbaros». (III) Aldeamentos indígenas.
ADENDOS: Instrução e Memorial do Senado, da Câmara a El-Rei de
Portugal. O título de Conde do Rio Grande.
Capítulo Quinto
(I) Conquista geográfica e povoamento. Os acontecimentos principais.
(II) As sete Vilas. (Ill) As dez fréguesias. (IV) A Sociedade;
alimentação, indumentária, mobiliário, usos e costumes.
NOTAS ao Capitulo Quinto. ADENDOS ; Inventários do século XVIII
e princípios do XIX. Regimentos de ofícios em Î791.

Capítulo Sexto

(I) Governadores da Capitania no século XIX. O mapa da população


de 1805. Aspecto geral. (II) José Inácio Borges. A Revolução de
1817. (III) Trabalho e pacificação. (IV) A Revolução de 1817 em
Portalegre. (V) O Governo das três Juntas.
NOTAS ao Capitulo Sexto. ADENDOS : O Fortim da ilha de Manuel
Gonçalves. Os réus na Revolução de 1817.

«Capítulo Sétimo
(I) Ensaio de govêrno local. Tomás de Araújo e a Confederação do
Equador. Procura de rumo. (II) Ambiente de governação. (Ill) A
luta de Pinto Madeira. (IV) Do 4.® ao 35.° Presidente da Província.
(V) Quebra-Quilo. (VI) As últimas administrações no Império.
(VII) Abolição dos Escravos. (VIII) Notas pretas. (IX) Insurreições
negras.
NOTAS ao Capitulo Sétimo. ADENDO : Final do Governo de Tomás
de Araújo Pereira Carta-diploma do Barão do Ceará-Mirim.

Capítulo Oitavo
(I) Idéia republicana no Rio Grande do Norte. (II) Proclamação da
República em Natal. (III) Governadores nomeados. Política local.
Os dois Congressos Constituintes. (IV) Pedro Velho e a organi­
zação do Estado Republicano. (V) Da primeira eleição direta à
Revolução de 1930. (VI) A década 193O-194Q. (VII) órgãos
funcionais do Estado. (VIII) Dos últimos interventores ao Governo
Constitucional.
NOTAS ao Capítulo Oitavo. ADENDOS : Ata da Proclamação da
República em Natal. Constituições do Rio Grande do Norte. Brazão
d’armas do Estado, da Cidáde do Natal. Hino e Bandeira. A
participação norte-rio-grandense na guerra de 1942-45.

Capítulo Nono. Religião


(I) Início histórico. As três Dioceses. (II) Aldeias e missionários.
(Ill) As paróquias vivas. (IV) Religiões acatólicas.
NOTAS ao Capitulo Nono.

Capitulo Décimo
(I)A Instrução Pública na Capitania, Província e Estado. (II) Estabe­
lecimentos privados.
NOTAS ao Capitulo Décimo.
Capítulo Décimo Primeiro
(I) Assistência médica na Capitania e Província. Epidemias. (II) Orga­
nização, reformas e transformações. Saúde Pública na República
e sua evolução.
NOTAS ao Capítulo Décimo Primeiro. ADENDO: O Médico do Par­
tido Público. Assistência Social no Rio Grande do Norte — Hélio
Galvão.

Capítulo Décimo Segundo


(I) História do Judiciário na Capitania, Provínçia e Estado. (II) As
Comarcas. (III) O tribunal de Justiça. (IV) Relação de Comarcas
e Termos em 1952.
NOTAS ao Capítulo Décimo Segundo.
< Capítulo Décimo Terceiro

(I) Os velhos caminhos do Rio Grande do Norte. (II) Correios. (III)


Telégrafo. (IV) Navegação a vapor. (V) Estradas de ferro.

i Capítulo Décimo Quarto


(I) O Município colonial. (II) Cronologia dos municípios. (III)
Municípios supressos e transferidos. (IV) Denominação dos Muni­
cípios e dos Distritos. (V) Informação financeira dos Municípios.
NOTAS ao Capítulo Décimo Quarto. ADENDOS : Quadros financeiros,
z Capítulo Décimo Quinto
(I) Economia do Rio Grande do Norte na Capitania, Província e
Estado.
NOTAS ao Capítulo Décimo Quinto. ADENDOS : Ofício do Senado
da Câmara à Sua Alteza Real em 1808. Criação da Alfândega de
Natal por José Inácio Borges em 1817. Decreto del-rei D. João VI
criando a Alfândega de Natal em 1820. Panorama do Cooperativismo
no Rio Grande do Norte (Juvino dos Anjos). Quadro da exportação
de minérios, 1943-51. Quadro da exportação de açúcar e algo­
dão, 1943-51.

Capítulo Décimo Sexto


(I) Finanças na Capitania. (II) Na Província. (III) Na República^
(IV) Psicologia do Orçamento. (V): Finanças de 1930 a 1951.
NOTAS ao Capítulo Décimo Sexto. ADENDO : Receita arrecadada e
Despesa realizada de 1936 a 1951.

Capítulo Décimo Sétimo


(I) Cronologia dos Capitães-Mores, Presidente de Província e Governa­
dores do Estado, e suas substituições, de 1597 a 1952.

Capítulo Décimo Oitavo


(I) Origem da Polícia Militar. Histórico de sua organização. (II)
Denominações. (III) Chefia de Polícia.
Capítulo Décimo Nono
(I) Representação parlamentar. Cortes de Lisboa, (II) Constituinte
em 1823. (III) Deputados Gerais, 1826-1889. (IV) Constituinte
Republicana e Deputados Federais, 1890-1930. (V) 1933-1950. (VI)
Senadores do Império. (VII) Senadores da República, 1890-1930.
(VIII,, 1935-1950.

Capítulo Vigéssimo
(I) Notas à Biografia Norte-Rio-Grandense.

NOTA DO FIM.

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