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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Curso de Graduação em Ciências Contábeis

João Vitor Barbosa Ferreira

LEGALIZAÇÃO DA CANNABIS NO BRASIL:


Um estudo sobre os possíveis benefícios econômicos e os ganhos tributários
com a regulamentação da droga.

Belo Horizonte – Minas Gerais


2019
João Vitor Barbosa Ferreira

LEGALIZAÇÃO DA CANNABIS NO BRASIL:


Um estudo sobre os possíveis benefícios econômicos e os ganhos tributários
com a regulamentação da droga.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Ciências Contábeis da Faculdade
de Ciências aplicadas do Centro Universitário
UNA, como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Ciências Contábeis.
Orientadoras: Adriane Fagundes e Rosemary
Oliveira.

Belo Horizonte – Minas Gerais


2019
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................. 4

3 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................. 5

3.1 Referencial Teórico....................................................................................... 5

3.1.1 Introduzindo a Cannabis ................................................................................. 5

3.1.2 Guerra às Drogas............................................................................................ 6

3.1.3 Países que legalizaram a planta ..................................................................... 8

3.1.4 Legalização da Cannabis - Sistema Uruguaio .............................................. 11

3.1.5 Como é tratada a erva no Brasil.................................................................... 13

3.2 Análise dos dados ...................................................................................... 15

3.2.1 Estimativa do público consumidor ................................................................. 15

3.2.2 Estimativa da receita arrecadada .................................................................. 17

3.2.3 Estimativa da tributação arrecadada ............................................................. 18

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 22

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 23


3

1 INTRODUÇÃO

A ideia de legalização das drogas, em especial a maconha, tem sido discutida


em diversos países do mundo já há algum tempo, e em muitos deles, se torna
presente a flexibilização das leis no que tange o assunto. Nas últimas décadas,
percebe-se que a guerra as drogas têm sido ineficiente, pois, além de não haver
indícios do decréscimo no consumo destas substancias ilícitas, essa política de
combate aos entorpecentes gera altos custos aos Estados.

O uso pessoal da maconha no Brasil não figura pena restritiva da liberdade.


Isto é: a lei em vigor no país sanciona penalidades brandas para quem porta a droga
e diferencia o uso individual de uma substância ilegal, do tráfico (marcado pela
distribuição e comércio da droga). Em resumo, fumar maconha não gera prisão típica,
mas o contrabando é passível de penalidades mais severas. O “x” da questão é que
cabe as autoridades decidirem se a erva portada é destinada ao consumo pessoal ou
ao tráfico. Em contrapartida, em relação ao uso medicinal da maconha, em 2017,
houve a inclusão da erva na Lista Completa das Denominações Comuns Brasileiras
sob categoria de “planta medicinal” e é autorizado a prescrição de medicamentos à
base de canabidiol e tetra-hidrocanabinol (substâncias presentes na Cannabis).

O intuito deste presente trabalho é estimar quanto o Brasil arrecadaria se


houvesse a legalização da maconha no país. Para tanto, foi estabelecido alguns
objetivos, tais como: quantificar o mercado consumidor da Cannabis; precificar a
droga; apontar a quantidade máxima permitida para consumo, além de identificar
quais impostos recairiam sobre a droga.

Passando por essa introdução, neste trabalho será revelado os procedimentos


metodológicos utilizados na pesquisa bem como a contextualização da Cannabis,
apontando sua história e como é tratada ao redor do mundo. Nele, ainda, será
apontado a estimativa do público consumidor da droga, a receita e a tributação
arrecadada com a legalização da planta.
4

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para quantificar o mercado consumidor da maconha no Brasil, foi analisado o


II Levantamento Domiciliar sobre o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil realizado
pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), no ano
de 2005. Desta forma, o índice apurado no levantamento do CEBRID do total de
consumidores da Cannabis (mês), foi aplicado sobre a população em idade ativa (15-
64 anos), estimada pelo IBGE em 2018.

Partindo do número estimado dos consumidores da maconha no Brasil, foi


calculado quanto cada consumidor gastaria ao ano consumindo a droga, levando em
consideração o preço da erva no Uruguai e a quantidade máxima permitida pelo
mesmo país, aplicando a cotação do dólar na data 31 de dezembro de 2018. É
importante ressaltar que o estudo em questão levou em consideração que todos os
possíveis consumidores adquiririam a erva no mercado legal (farmácias) regularizada
pelo governo, em dosagem máxima permitida.

Após identificação da receita estimada com a Legalização da droga, foi aplicada


uma carga tributária semelhante à do cigarro, presente no estudo de Teixeira (2016),
utilizado como referência neste presente trabalho, que aponta como impostos
incidentes: o Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, a Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido, a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, a
Contribuição para os Programas PIS/PASEP, o Imposto sobre Produtos
Industrializados, bem como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e sobre
Serviços de Transporte Interestadual.
5

3 DESENVOLVIMENTO

3.1 Referencial Teórico

3.1.1 Introduzindo a Cannabis

A Cannabis Sativa, popularmente conhecida como maconha, possui ações


psicotrópicas que alteram a maneira de pensar, agir e sentir, e é a droga ilícita mais
usada no mundo (UNIAD, 2016), contando com quase metade do mercado ilegal. Com
mais de 400 substâncias, a planta possui 60 tipos de canabinóides, sendo a principal
substância psicoativa o THC (tetra-hidrocanabinol), que é responsável pelos diversos
efeitos que a planta produz ao usuário, como: relaxamento, euforia, alucinação,
sonolência, entre outros. Existem diversos níveis de THC presentes nas plantas que
são resultantes de fatores como, clima, solo, condições da colheita, estação do ano,
entre outros.1

O primeiro registro do contato entre o Homo sapiens e a Cannabis sativa é de


6 000 anos atrás. Trata-se da marca de uma corda de cânhamo impressa em cacos
de barro, na China.2

A planta antigamente era famosa por ser rica em fibras, essas, chamadas de
cânhamo, obtidas através de vários processos como desfolhamentos, secagem e
separação das fibras da madeira, e eram utilizadas na fabricação de papel, cordas,
tecidos, resinas, entre outros.

O uso da erva para fins medicinais também possui origem antiga. Os chineses
conhecem há pelo menos 2.000 anos o poder curativo da droga, tendo como prova o
Pen-Ts’ao Ching, considerado a primeira farmacopeia3 conhecido no mundo (CINCO;
YUKA, 2013).

Até o início do século XX, a maconha era considerada em vários países,


inclusive no Brasil, um medicamento útil para vários males. Mas também já
era utilizada para fins não-médicos por pessoas desejosas de sentir “coisas
diferentes”, ou mesmo que a utilizavam abusivamente. Em consequência

1Disponível em: <http://www.denarc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=31>.


Acesso em: 20 mai. 2019.
2Disponível em: <https://super.abril.com.br/ciencia/a-verdade-sobre-a-maconha/>. Acesso em: 25 mai.

2019.
3Farmacopeia é um livro que reúne fórmulas e receitas de medicamentos.
6

desse abuso, e de um certo exagero sobre seus efeitos maléficos, a planta


foi proibida em praticamente todo o mundo ocidental, nos últimos 50 a 60
anos. Mas, atualmente, graças às pesquisas recentes, a maconha (ou
substâncias dela extraídas) é reconhecida como medicamento em pelo
menos duas condições clínicas: reduz ou abole náuseas e vômitos
produzidos por medicamentos anticâncer e tem efeito benéfico em alguns
casos de epilepsia (doença que se caracteriza por convulsões ou “ataques”).
(CEBRID, 2014).

Apesar de ser comumente demonizada e associada a uma imagem negativa


por seus vários efeitos, estudos comprovam assim como citado acima, o poder e
eficiência da Cannabis para fins medicinais em relação a outras várias doenças
crônicas, como: esclerose múltipla, câncer, dores neuropáticas, entre outras.

Um dos principais argumentos dos proibicionistas são os danos que essa droga
pode fazer para a saúde das pessoas, como dependência, alterações cerebrais,
transtornos mentais, câncer, e doenças pulmonares (MARLLAT, 2004, apud
Humanidades, 2017, p.9). Mas muito se tem discutido a respeito da erva no Brasil e
no mundo, e atualmente, vários países do globo estão aderindo a legalização da
maconha, flexibilizando suas leis e optando por políticas alternativas a de repressão
e guerra as drogas, levando em consideração os aspectos positivos e benéficos da
Cannabis.

3.1.2 Guerra às Drogas

No século 20, o mundo resolveu declarar guerra às drogas, colocando-as todas,


sem distinção, na ilegalidade. Não deu certo. O consumo jamais foi controlado. Na
verdade, há quem acredite que ele até aumentou. De quebra, esse modelo de
combate ao mercado ilegal de entorpecentes produz violência, já que a guerra não é
apenas contra quem usa, mas também, ou principalmente, contra quem vende.
Resultado: em alguns países como o Brasil e a Colômbia, o choque entre os
traficantes e as forças que reprimem o narcotráfico chega à beira de uma guerra civil.4

Segundo MARCOMINI, 2015:

Depois de mais de três décadas de combate intenso a maconha, reconhece-


se que essa política foi um fracasso, onde foram gastos trilhões de dólares
em recursos, sem se obter o resultado desejado de diminuir a prevalência da
droga no mundo. Novas políticas públicas estão sendo estudadas e adotadas,

4Disponível em: <https://super.abril.com.br/comportamento/guerra-as-drogas/>. Acesso em: 07 mai.


2019.
7

de descriminalização e legalização da droga, com o objetivo de se obter


ganhos econômicos e sociais. Os resultados são positivos e diversos, como
redução na criminalidade, melhor acesso a serviços de saúde pelos usuários,
redução do poder econômico do tráfico e criação de um grande novo mercado
e receitas tributárias ao governo.

Com a constatação do fracasso da “Guerra às Drogas” apresentada pela


Comissão Global de Políticas Sobre Drogas, em seu relatório de 2011, os movimentos
sociais antiproibicionistas ganharam fôlego e forçaram os Estados a terem a obrigação
de reverem os seus sistemas político jurídicos para lidar com as drogas e a cannabis
está no centro dessas mudanças.5

HIDALGO, 2014, lista dez razões para legalização das drogas:

1. A legalização colocaria fim a parte exageradamente lucrativa do negócio


do narcotráfico, ao trazer para a superfície o mercado negro existente.
2. A legalização reduziria dramaticamente o preço das drogas, ao acabar com
os altíssimos custos de produção e intermediação que a proibição implica.
Isto significa que muita gente que é viciada nestas substâncias não teria que
roubar ou prostituir-se com o fim de custear o atual preço inflacionado destas
substâncias.
3. Legalizar as drogas faria com que a fabricação dessas substâncias se
encontre dentro do alcance das regulações próprias do mercado legal. Abaixo
da proibição, não existem controles de qualidade ou vendas de doses
padronizadas.
4. O narcotráfico tem estendido seus tentáculos ao cenário político dos
países. A legalização acabaria com esta nefasta aliança do narcotráfico e o
poder político.
5. Legalizar as drogas acabaria com uma fonte importante de corrupção, a
qual aumenta em todos os níveis do governo devido ao fato de uma
substancial parte de toda a classe de autoridades tem sido compradas,
subornadas e extorquidas por narcotraficantes, criando um grande ambiente
de desconfiança por parte da população quanto ao setor público de forma
geral.
6. Os governos deixariam de desperdiçar bilhões de dólares no combate as
drogas, recursos que seriam destinados a combater os verdadeiros
criminosos: os que violam os direitos dos demais (homicidas, fraudadores,
estupradores, ladrões etc).
7. Com a legalização se acaba com o pretexto do Estado de violar nossas
liberdades civis com o fim de levar a cabo esta guerra contra as drogas.
Grampos telefônicos, buscas, registros legais, censura e controle de armas
são atos que atentam contra nossa liberdade e autonomia como indivíduos.
8. Legalizar as drogas desativará a bomba-relógio em que se converteu a
América Latina, especialmente os países andinos, América Central e México.
Isto tem levado a uma intervenção crescente por parte dos EUA, país que
desde quase mais de uma década vem fortalecendo sua presença militar na
região de uma maneira nunca vista desde o fim da Guerra Fria.
9. Em uma sociedade onde as drogas são legais, o número de vítimas
inocentes produzidas pelo consumo e venda de entorpecentes seria reduzido
substancialmente. Grande quantidade de pessoas que nunca consumiram
essas substâncias ou que não estão relacionadas com essa atividade se

5Disponível em:
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:1Xzavet6gNcJ:www.uel.br/revistas/uel/ind
ex.php/Geographia/article/download/32548/23626+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 03
jun. 2019.
8

veem prejudicadas ou perdem a vida devido as “externalidades” da guerra


contra as drogas: violência urbana, abusos policiais, confiscos de
propriedades, revistas e buscas equivocadas, entre muitos outros casos.
10. A legalização conduzirá a sociedade a aprender a conviver com as
drogas, tal e como tem feito com outras substâncias como o álcool e o cigarro.
O processo de aprendizagem social é extremamente valioso para poder
diminuir e internalizar os efeitos negativos que derivam do consumo e abuso
de certas substâncias.
Segundo MELO, 2015:

Experiências em outros países como Estados Unidos, na sua campanha de


Guerra as Drogas, Canadá e Portugal; demonstram que a repressão ao
usuário, levava a uma consequência agravante, dificultava a prevenção; uma
vez que se caracterizava crime uma conduta, ficava difícil comunicar-se com
os dependentes, estes se sentiam ameaçados, perseguidos e possuíam
receio de procurar pelo tratamento. Tratar o usuário como criminoso e não
como um dependente que precisa de ajuda, se aumentava o número de
usuários.

Em 1994 iniciou-se o movimento chamado “Marcha da Maconha” e hoje é


presente em diversos lugares do mundo. Trata-se de uma manifestação em prol da
legalização da maconha e favorável a mudanças nas leis relacionadas a Cannabis6.
Em 2011 o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a Marcha da Maconha no Brasil e
declarou que não se pode proibir a realização de protestos em prol da
descriminalização do uso de drogas e, considera o movimento e eventos similares um
retrato da liberdade de expressão (STF, 2011).

3.1.3 Países que legalizaram a planta

Em diversos países do mundo a legalização da maconha já é uma realidade.


Uruguai, Portugal, Holanda, EUA, Espanha, Argentina, são exemplos de países que
descriminalizaram a maconha, seja para fins comerciais, medicinais ou recreativos.

O Uruguai, fonte de referência deste estudo, foi o pioneiro na legalização para


uso recreativo da droga e permite também o cultivo individual e coletivo da Cannabis.
Existem três formas de se adquirir maconha no Uruguai: o cultivo residencial para uso
pessoal, a participação em algum clube de Cannabis ou a compra em farmácias.7

Logo após, Oregon, Colorado, Washington, Califórnia, entre outros estados dos
EUA, também aderiram a legalização do uso recreativo da maconha. Em 2018, cerca

6Disponível
em: <https://amame.org.br/historia-da-cannabis-medicinal/>. Acesso em: 25 mai. 2019.
7Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/sociedade/atlas-da-maconha-no-mundo-revela-
complexidade-de-legalizacao-da-erva/>. Acesso em: 25 jun. 2019.
9

de 20 milhões de estadunidenses vivem em estados onde o uso recreativo da erva é


legalizado.8

A Holanda por sua vez, por mais que seja referência turística devido seus
famosos coffees shops, apenas tolera o uso da erva, sendo descriminalizado a posse
de até 30 gramas por pessoa, desde 1976. Na Jamaica, os chamados “rastafaris”
usam a droga para fins religiosos, mas no país, somente após 2015 seu uso tornou-
se legal, sendo permitido o porte de até 56 gramas por pessoa. Em Portugal houve a
descriminalização de todos os tipos de drogas, onde, são tratados como doentes
aqueles que forem flagrados portando substâncias como maconha, cocaína, crack,
entre outras. O Chile, México, Colômbia, Brasil são, entretanto, exemplo de países
que legalizam o uso medicinal da droga (BBC, 2018). Ressalta-se que no Brasil não
há mais prisão prevista para usuários de drogas, e será abordado sobre o país mais
detalhadamente ao longo do trabalho.

A imagem a seguir, indica os países que tiveram a descriminalização da planta


e/ou legalização para uso recreativo e terapêutico:

8Disponível em: <https://exame.abril.com.br/mundo/michigan-se-torna-10o-estado-dos-eua-a-aprovar-


uso-recreativo-de-maconha/>. Acesso em: 20 jun. 2019.
10

IMAGEM 1 – O mapa da maconha

Fonte: Revista Versar (2018)


11

3.1.4 Legalização da Cannabis - Sistema Uruguaio

Em 2013, o Uruguai, nosso país vizinho deu início a um projeto totalmente novo
no mundo: a legalização do uso recreativo da Cannabis. O projeto que antes era
grandemente rejeitado pela população, tem agora mais defensores do que críticos.9

Aprovada em 2013, a legislação permite três formas de acesso à maconha


com fins recreativos: a produção residencial ou o auto cultivo, com até seis
plantas por pessoa; a produção cooperativa em clubes de usuários; e a
compra em farmácias, última perna do projeto e a com implementação mais
difícil e tardia. (ESTADO DE MINAS, 2018)

Com base em OVIEDO, 2015:

A iniciativa da legalização foi proposta no início de 2012 pelo então presidente


do Uruguai José Mujica, junto a uma série de medidas para frear o aumento
da insegurança pública e desencorajar a violência associada ao narcotráfico.
O projeto concede ao governo o controle e a regulamentação da importação,
cultivo, colheita, distribuição e comercialização da maconha e de seus
derivados. No Uruguai, segundo as autoridades, há 128.000 consumidores
de maconha, embora as associações de consumidores calculem que este
número alcance os 200.000.

A lei 19.172/2013 trata do controle e regulação da importação, produção,


aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição da maconha. Destaca-se
no título I da lei:

Art. 1º- Declarado de ações de interesse público para proteger, promover e


melhorar a saúde pública da população através de uma política destinada a
minimizar os riscos e reduzir os danos do uso de Cannabis, que promove a
informação adequada, educação e prevenção, sobre as consequências e os
efeitos nocivos associados a esse consumo, bem como o tratamento, a
reabilitação e a reinserção social de usuários problemáticos de drogas.
Art. 2º- Sem prejuízo do disposto no Decreto-Lei n. 14.294, de 31 de outubro
de 1974 e suas leis modificativas, o Estado assumirá o controle e regulação
das atividades de importação, exportação, plantio, cultivo, colheita, produção,
aquisição de qualquer título, armazenamento, comercialização e distribuição
de Cannabis e seus derivados, ou cânhamo, quando apropriado, através das
instituições às quais concede mandato legal, de acordo com as disposições
desta lei e os termos e condições que A este respeito, defina os
regulamentos.

Ainda se tratando da Lei 19.172/2013, temos como objetivo:

Proteger os habitantes do país dos riscos envolvidos na ligação com o


comércio ilegal e tráfico de drogas que procuram, através da intervenção do
Estado, para atacar as consequências devastadoras para a saúde, sociais e

9Disponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/10/17/interna_internacional,997969/a-
experiencia-do-uruguai-um-ano-apos-a-legalizacao-da-maconha.shtml/>. Acesso em: 24 jun. 2019.
12

econômicas de uso problemático substâncias psicoativas, além de reduzir a


incidência do narcotráfico e do crime organizado (Art. 4º, Lei 19.172/2013).

Em julho de 2017, o Uruguai se tornou pioneiro na comercialização da maconha


com fins recreativos, tendo sua produção sob controle do Estado e sendo
comercializada no âmbito de uma lei pioneira que regulamentou o consumo, a venda
e a distribuição da Cannabis.

O artigo 5º da lei 19.172/2013, em sua disposição substitui o artigo 3º


do Decreto-Lei nº 14.294 , de 31 de outubro de 1974, na redação dada pelo artigo 1º
da Lei nº 17.016 , de 22 de outubro de 1998, pelo seguinte:

A. Quando eles são realizados com o único propósito de pesquisa científica


ou para a produção de produtos terapêuticos para uso médico. As plantações
ou culturas, em tal caso, devem ser previamente autorizadas pelo Ministério
da Saúde Pública e estarão sob seu controle direto.
No caso específico da Cannabis, as plantações ou culturas devem ser
previamente autorizadas pelo Instituto de Regulação e Controle da Cannabis
(IRCCA), e estarão sob seu controle direto, sem prejuízo dos controladores
que a legislação atual concede aos organismos correspondentes no campo
das respectivas competências.
B. Plantar, cultivar e colher, assim como a industrialização e venda de
Cannabis psicoativa para outros fins, desde que seja efetuada no quadro da
legislação em vigor e com autorização prévia do IRCCA, sob o seu controlo
direto.
Cannabis psicoativo significa topos floridos com ou sem fruta da planta
canábica fêmea, exceto sementes e folhas separadas do caule, incluindo os
seus óleos, extratos, preparações de potencial uso farmacêutico, xaropes e
semelhantes, cujo teor de tetrahidrocanabinol (THC) natural, é igual ou
superior a 1% (um por cento) do seu volume.
C. A plantação, o cultivo e a colheita, bem como a industrialização e
comercialização da Cannabis não psicoativa (cânhamo). As plantações ou
culturas, em tal caso, devem ser previamente autorizadas pelo Ministério da
Pecuária, Agricultura e Pesca e estarão sob seu controle direto.
A Cannabis não psicoativa (cânhamo) designa partes vegetais ou vegetais
dos géneros de Cannabis, folhas e pontas floridas, que não contêm mais de
1% (um por cento) de THC, incluindo os derivados de tais plantas e pedaços
de plantas.
Sementes de variedades de cânhamo não psicoativas a serem usadas não
podem exceder 0,5% (zero com cinco por cento) de THC.

D. A plantação, o cultivo, a colheita, a coleta para fins de pesquisa e a


industrialização para uso farmacêutico, desde que realizada no âmbito da
legislação vigente e conforme estabelecido pelo regulamento, devendo ter
prévia autorização do IRCCA estar sob seu controle direto.

E. O plantio, cultivo e colheita de plantas de Cannabis de efeito psicoativo


destinadas ao consumo pessoal ou compartilhado em casa. Sem prejuízo
disso, o plantio, o cultivo e a colheita de até seis plantas de Cannabis com
efeito psicoativo e o produto da colheita da plantação anterior até um máximo
13

de 480 gramas são destinados ao consumo pessoal ou compartilhados em


casa anual.

F. O plantio, cultivo e colheita de plantas de Cannabis com efeito psicoativo


realizados pelos clubes de associação, que serão controlados pelo
IRCCA. Estes clubes devem ser autorizados pelo Poder Executivo, de acordo
com a legislação vigente, e na forma e condições estabelecidas pelos
regulamentos emitidos a este respeito.

Os clubes membros devem ter um mínimo de quinze e um máximo de


quarenta e cinco membros. Podem plantar até noventa e nove plantas de
maconha para uso psicoativo e obter como um produto da coleta da plantação
um máximo de acumulação anual proporcional ao número de membros e de
acordo com o montante estabelecido para o uso não medicinal da maconha
psicoativa.

G. O IRCCA concederá licenças para a venda de maconha psicoativa às


farmácias (de acordo com o Decreto-Lei nº 15.703 , de 11 de janeiro de 1985
e suas leis modificadoras), de acordo com as condições estabelecidas na
legislação vigente e com os procedimentos e requisitos estabelecidos em lei.
Regulamentação

A lei ainda dispõe que a venda da maconha para consumo pessoal, necessitará
de credenciamento no registro correspondente, e a venda da erva para consumo
medicinal exigirá uma prescrição médica e não pode exceder 40 gramas por utilizador
ao mês.

3.1.5 Como é tratada a erva no Brasil

A maconha foi trazida ao Brasil por escravos africanos, ainda durante o período
colonial. Disseminou-se entre os índios, e mais tarde entre brancos, tendo sua
produção estimulada pela coroa. Até a rainha Carlota Joaquina habituou-se a tomar
chá de maconha, depois que a corte portuguesa se mudou para o Brasil.10

Conforme ROSADO, 1959, apud CARLINI, 2006, a planta teria sido introduzida
em nosso país, a partir de 1549, pelos negros escravos, como alude Pedro Corrêa, e
as sementes de cânhamo eram trazidas em bonecas de pano, amarradas nas pontas
das tangas.

Segundo CARLINI, 2016, a repressão da maconha no Brasil intensificou-se por


volta da década de 30, surgindo em grande parte, devido ao posicionamento do
delegado brasileiro, Pernambuco Filho, na II Conferência Internacional do Ópio, 1924,
em Genebra. Afirma CARLINI (2006), que mesmo a conferência possuindo como foco

10Disponível em: <https://amame.org.br/historia-da-cannabis-medicinal/>. Acesso em: 25 mai. 2019.


14

a discussão do ópio e coca, Pernambuco Filho juntamente ao delegado egípcio se


esforçaram para incluir a planta.

Essa participação do Brasil na condenação da maconha é confirmada em


uma publicação científica brasileira (Lucena, 1934): “já dispomos de
legislação federal referente aos contraventores, consumidores ou
contrabandistas de tóxico. Aludimos à Lei Nº 4.296 de 06 de julho de 1921
que menciona o haschich. No Congresso do Ópio da Liga das Nações
Pernambuco Filho e Gotuzzo conseguiram a proibição da venda de maconha
(grifo do autor). Partindo daí devesse começar por dar cumprimento aos
dispositivos do referido Decreto nos casos especiais dos fumadores e
contrabandistas de maconha. ” (CARLINI, 2006).

A Lei Antidrogas (Lei Nº 11.343/06) em vigor no Brasil, entende como droga


substâncias ou produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei
ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.

Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o


plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais
possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de
autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção
de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a
respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.

Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos


vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais
ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização,
respeitadas as ressalvas supramencionadas. (BRASIL, 2006)

Até o ano de 2006 qualquer pessoa que fosse pega com drogas era
considerada criminosa e, portanto, estava sujeita à pena de prisão. A Lei 11.343/06,
conhecida como Antidrogas, descriminaliza o uso da maconha para uso pessoal.11

No Capítulo III da Lei Antidrogas dispõe sobre os crimes e as penas, e podemos


destacar:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I-advertência sobre os efeitos das drogas;
II-prestação de serviços à comunidade;
III-medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.

Ainda referente ao Capítulo III da Lei Antidrogas, fica a valor do Juiz determinar
se a droga se destina ao consumo pessoal, dando importância a quantidade da
substância apreendida, o local e as condições em que se desenvolveu a ação, as

11Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/descriminalizacao-das-drogas/>. Acesso em: 25 jun.


2019.
15

circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do


agente.

Por mais que no Brasil o uso pessoal da maconha não seja passível de
detenção, a Lei em vigor se torna imprecisa por não determinar uma quantidade
máxima de porte da droga, ficando a mercê das autoridades decidirem as medidas
cabíveis ao portador.

Se tratando do uso da planta para fins medicinais, a Anvisa e o Poder Judiciário


já evoluíram no sentido da legalização:

- Janeiro de 2015: Retirada do canabidiol da lista de substâncias de uso proscrito,


abrindo caminho para facilitar a comercialização de medicamentos com a substância
no país;
- Março de 2016: Autorização da prescrição de remédios à base de canabidiol e
THC no Brasil;
- Janeiro de 2017: Registro do primeiro remédio à base de maconha no Brasil, o
Mevatyl, droga já aprovada em outros 28 países;
- Abril de 2017: A Justiça Federal na Paraíba autorizou uma associação de João
Pessoa a cultivar maconha para fins exclusivamente medicinais;
- Maio de 2017: Inclusão da Cannabis sativa na Lista Completa das Denominações
Comuns Brasileiras (DCB) sob a categoria de "planta medicinal".12

3.2 Análise dos dados

3.2.1 Estimativa do público consumidor

Nesta pesquisa, para que seja possível quantificar os consumidores da


Cannabis no Brasil, foi utilizado o último Levantamento Domiciliar sobre o uso de
Drogas Psicotrópicas no Brasil realizado pelo CEBRID (Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas), em 2005.

12Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2019/06/11/anvisa-vota-nesta-terca-


propostas-preliminares-sobre-o-cultivo-de-maconha-no-brasil.ghtml>. Acesso em: 20 jun. 2019.
16

Entendeu-se neste trabalho que os dados apresentados pelo CEBRID são os


que mais se assemelham a realidade do mercado consumidor no Brasil, devido a
metodologia abordada no levantamento, e sua forma de apresentação dos resultados.

No respectivo ano da pesquisa, a população Brasileira era estimada em


169.799.170 habitantes com base nos dados do IBGE em 2001. Uma amostragem de
7.939 entrevistas, foi realizada dentro das 108 maiores cidades brasileiras com mais
de 200 mil habitantes. Das 108 cidades Brasileiras temos o total de 70.332.068
habitantes, onde destes, 47.135.928 têm entre 12 e 65 anos de idade (IBGE, 2001).

Com base nos resultados do último levantamento do CEBRID (2005), 8,8% dos
brasileiros já fizeram o uso da maconha na vida, 2,6% dos brasileiros já fizeram o uso
da maconha no ano e 1,9% dos brasileiros fizeram o uso da maconha no mês.

Ainda em concordância com os dados apontados na pesquisa (CEBRID, 2005),


podemos visualizar que o número de consumidores da maconha no Brasil é maior
para o sexo masculino e ocorre em maior frequência na faixa etária de 18 – 24 anos.

Em relação aos índices apontados, iremos levar em consideração no presente


trabalho o dado de prevalência no mês de uso da maconha (1,9%), uma vez que com
essa informação conseguimos chegar o mais próximo possível do mercado que
regularmente consome a droga.

Ressalva-se que os dados se referem ao último levantamento do CEBRID em


2005 e que a prevalência apresenta tendência de aumento na última década.

Em 2018, a população estimada pelo IBGE era 208.494.900 de habitantes,


onde, 69,43% da população está no grupo etário de 15-64 anos (144.758.009
brasileiros), denominado como PIA13 (IBGE, 2018). Levando em consideração este
grupo etário no ano de 2018 e aplicando ao percentual apontado pelo CEBRID (2005)
dos consumidores de Cannabis (1,9% mês), temos o total de 2.750.402 Brasileiros
consumidores da droga no mês.

13População em Idade Ativa.


17

Em relação ao efeito pós-legalização e ainda com base na pesquisa sobre o


Impacto econômico da legalização da Cannabis no Brasil (TEIXEIRA, 2016), podemos
ressaltar que:

De acordo com Miron & Waldock (2010), com a legalização da maconha, não
haverá alteração da demanda pelo produto. Segundo o estudo, com a
legalização, o fim do “efeito fruto proibido” – ou seja, a atração pela droga
proibida – deverá reduzir o consumo. Por outro lado, haverá aumento da
demanda, devido à facilidade de acesso à droga em um mercado legalizado
e à redução do estigma do usuário. Esses efeitos, segundo a pesquisa,
tendem a se anular.

Teixeira (2016) também conclui que as estimativas sobre o mercado de


maconha pós-legalização são incertas e que existem especulações sobre a resposta
da demanda e da oferta de maconha em razão de quedas bruscas e inesperadas de
preços.

Ainda relacionado a pesquisa de Teixeira (2016), podemos apontar que:

Sabe-se, entretanto, que as estimativas sobre o mercado atual de maconha


no Brasil podem estar subestimadas em razão de considerar apenas gastos
da população que consumiu o produto no mês anterior, não se computando
pessoas que teriam consumo mais irregular ao longo do ano. Igualmente,
deve-se notar que diversos derivados da maconha, em especial os
comestíveis, avaliados como produtos de grande apelo em mercados com
venda regulada, não entraram no cálculo direto.

3.2.2 Estimativa da receita arrecadada

Com base na pesquisa sobre o Impacto econômico da legalização da


Cannabis no Brasil (TEIXEIRA, 2016):

Supondo que a regulação da maconha no Uruguai se aplicaria ao Brasil, cada


usuário, registrado no Ministério da Saúde, poderia comprar até 40 gramas
de maconha por mês. Segundo o governo uruguaio, a expectativa é que o
grama de maconha seja vendido em farmácias credenciadas a cerca de
US$1,20. Dessa forma, cada usuário frequente - que não necessariamente
utilizaria toda a cota disponível - poderia adquirir cerca de US$48,00 de
maconha por mês ou US$576,00 da erva por ano.

Considerando que em 31 de dezembro de 2018 a cotação do dólar girava em


torno de RS3,8914, o valor consumido por usuário pode atingir R$2.240,60 por ano,
sendo que a grama da maconha valeria cerca de R$4,67.

14Disponível em: <https://www.neocambio.io/cotacao/dolar/31-12-2018>. Acesso em: 26 jun. 2019.


18

Partindo da estimativa no número de usuários da Cannabis no Brasil (2.750.402


de brasileiros – equivalente à 1,9% da PIA em 2018), da quantidade máxima permitida
do uso da droga anualmente conforme regulamentação uruguaia (480 gramas) e do
preço do produto (U$S1,20 – R$4,67), temos como resultado os valores apresentados
na tabela abaixo:

TABELA 1 – Estimativa do mercado consumidos da Cannabis no Brasil

Número de usuários da droga no Brasil 2.750.402


Quantidade permitida do uso da droga 480 gramas/ano
Preço da grama da droga R$4,67 reais
Consumo anual por usuário da droga R$2.241,60 mil
Receita total do consumo da droga no Brasil R$6.165.301.123,20 bilhões
Fonte: elaborado pelo autor.

Importante ressaltar que para o cálculo da receita total proveniente do consumo


da maconha no Brasil, foi considerado que todo o público consumidor da droga
adquiriu a mesma no mercado legal, em quantidade máxima permitida por ano e
levando em consideração o preço do produto no Uruguai convertido em reais.

3.2.3 Estimativa da tributação arrecadada

O fator tributário é de muita relevância nesta pesquisa, pois a incidência de


impostos sobre a droga poderá determinar a magnitude do mercado consumidor, seus
gastos e receitas provenientes do mercado.

Segundo TONETTO, 2010, apud MOREIRA, 2018, a ausência da tributação faz


com que as drogas sejam um produto de fácil acesso a todas as camadas da
população, uma vez que as tornam mais baratas, e logo, financeiramente acessíveis.
Ao mesmo tempo, o sistema de repreensão e combate se mostra ineficaz.

Por outro lado, uma alta carga tributária pode impactar numa elevação do preço
do produto, fazendo com que haja um estímulo ao mercado ilegal, incitando o
contrabando, carreando ao tráfico e afetando a arrecadação regulamentada.
19

É evidente a dificuldade de se encontrar uma taxação adequada ao produto,


levando em consideração que os respectivos percentuais impactam diretamente na
saída do mesmo.

No estudo elaborado por Teixeira (2016), é proposto um modelo de tributação


baseado nas alíquotas de imposto incidentes sobre o cigarro. O cigarro é o 4º produto
que mais sofre incidência de imposto no Brasil, sendo 80,42% do seu valor apenas de
tributação, ficando atrás da cachaça (81,87%), casaco de pele (81,86%) e vodca
(81,52%) respectivamente.15

Com base TEIXEIRA, 2016:

Nesse propósito, considera-se que as empresas que irão fornecer o produto


estarão sujeitas a cinco tributos federais (o Imposto de Renda das Pessoas
Jurídicas – IRPJ, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, a
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, a
Contribuição para os Programas PIS/Pasep e o Imposto sobre Produtos
Industrializados – IPI), bem como a um tributo estadual (o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e sobre Serviços de Transporte Interestadual,
Intermunicipal e de Comunicações – ICMS).

As alíquotas apresentadas no estudo de TEIXERA (2016), estão em


conformidade com a legislação em vigor e servirão como base para o presente
trabalho.

A arrecadação mínima do Imposto de Renda Pessoa Jurídica - IRPJ


corresponderá àquela obtida com a aplicação da alíquota do imposto (quinze
por cento), acrescida do adicional do tributo (dez por cento), sobre o lucro
presumido, o qual representa oito por cento da receita líquida de vendas.
No caso da CSLL, a arrecadação mínima equivale à aplicação da alíquota
(nove por cento) sobre a base de cálculo presumida do tributo (doze por cento
da receita líquida de vendas).
No tocante à COFINS, estimou-se a arrecadação a partir da aplicação do
coeficiente de 2,9169 sobre o preço de venda no varejo e, em seguida, da
alíquota da Contribuição, que é de três por cento.
Em relação às Contribuições para o PIS/Pasep, a arrecadação foi estimada
a partir da aplicação do coeficiente de 3,42 sobre o preço de venda no varejo,
utilizando-se, em seguida, a alíquota de sessenta e cinco centésimos por
cento.
A arrecadação do IPI foi estimada levando-se em conta a alíquota ad valorem
de 300% sobre 15% do preço de venda a varejo dos cigarros, o que
representa uma alíquota efetiva de 45% sobre tal preço.
Por fim, estimou-se a arrecadação do ICMS tendo-se em conta a alíquota
aplicada no Estado de São Paulo sobre o produto, que é atualmente de trinta
por cento.

15Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Dinheiro/noticia/2017/04/os-10-produtos-com-


mais-imposto-no-brasil.html>. Acesso em: 03 jun. 2019.
20

Detalhando a tributação utilizada por Teixeira (2016), o IRPJ e o CSLL sobre o


Lucro Presumido serão pagos sobre a base de cálculo presumida, conforme a receita
de cada atividade da empresa (8% de presunção para o IRPJ e 9% para o CSLL) e
após, será aplicado sobre a base de cálculo apurada, a alíquota de 15% (NORMATIVA
RFB Nº 1700, 2017).

O artigo 62 da Lei nº 11.196/2005 especifica que o percentual e o coeficiente


multiplicadores na condição de contribuintes e de substitutos dos comerciantes
varejistas, passam a ser de 291,69% para a COFINS e 3,42 para o PIS,
respectivamente sobre o preço de venda a varejo dos cigarros (referência de
tributação para o caso da legalização da Cannabis), e, em seguida, é feita a aplicação
das alíquotas de 3% para cálculo da COFINS e 0,65% para o PIS/PASEP.

No que tange o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a tributação


estabelece que o mesmo seja calculado utilizando-se de uma alíquota ad valorem de
300% aplicada sobre 15% do preço de venda a varejo dos cigarros, resultando em
uma alíquota efetiva de 45% sobre o preço de venda (INCA, 2019).

Chegando no ICMS, a Lei 6.374 dispões em seu artigo 34 que a alíquota do


imposto deve ser de 30% (trinta por cento), nas operações com fumo e seus
sucedâneos manufaturados, classificados no capítulo 24. (Item acrescentado pela
Lei 16.005, de 24-11-2015; DOE 25-11-2015; produzindo efeitos 90 dias após a
publicação) (SÃO PAULO, 2018).

Como resultado da aplicação das alíquotas de tributação sobre a receita


estimada, temos os valores apresentados na tabela abaixo:
21

TABELA 2 – Tributação sobre arrecadação com a Legalização da Cannabis

Número de usuários da droga no Brasil 2.750.402


Quantidade permitida do uso da droga 480 gramas/ano
Preço da grama da droga R$4,67 reais
Consumo anual por usuário da droga R$2.241,60 mil
Receita total do consumo da droga no Brasil R$6.165.301.123,20 bilhões
Imposto de Renda R$73.983.613,48 milhões
Contribuição Social s/ Lucro Líquido R$66.585.252,13 milhões
COFINS R$539.507.005,38 milhões
PIS/Pasep R$137.054.643,97 milhões
IPI R$2.774.385.505,44 bilhões
ICMS R$1.849.590.336,96 bilhões
Total R$5.441.106.357,36 bilhões
Fonte: elaborado pelo autor.
22

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maconha possui uma história bastante marcante na sociedade e muito se

fala a respeito da sua legalização. Podemos ver, com este presente estudo que apesar

de ser muitas vezes demonizada devido aos seus efeitos, a planta possui substâncias

significativas na cura de várias doenças crônicas e seus avanços medicinais são cada

mais presentes.

Novas políticas de tratamento a Cannabis, tem sido intensificada ao redor do

globo, uma vez que a repressão às drogas não se mostra muito eficaz no que tange

a redução do seu consumo.

A tarefa não se torna simples quando falamos na legalização, uma vez que o

estado tem que estar propriamente equipado a receber a nova política, além de

conseguir chegar a um preço que não induza o mercado ilegal, e nem abra muito as

portas, incentivando o consumo.

A carga tributária utilizada na receita estimada pelo estudo, baseia-se na

tributação sobre o cigarro. Assim, nota-se que a determinação do peso tributário

poderá determinar a magnitude do mercado consumidor, bem como os gastos e

receitas provenientes do mercado.

O objetivo do presente trabalho foi estimar quanto o Brasil poderia arrecadar


caso a maconha fosse legalizada.

Os números são favoráveis, ao observar a estimativa de arrecadação com os


tributos: na casa dos 5 bilhões de reais. Essa receita estimada poderia ser bastante
benéfica para o Brasil, uma vez que a entrada nos cofres públicos contribuiria no PIB
do país, e poderia, por exemplo, ser revertida em medidas políticas oportunas a
educação, saúde, lazer, segurança, assim como sanar dívidas públicas.
23

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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