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REFORMA PSIQUIÁTRICA

Profa. Esp. Mariane Rizzetto


Especialista em Psiquiatria e Dependência Química pela Universidade de São Paulo (USP)-
Faculdade de Medicina
Aperfeiçoamento em Neuropsicologia e Neuropsiquiatria pela Universidade de São Paulo – Instituto
de Psiquiatria da Faculdade de Medicina USP
Docente do Centro Universitário Ítalo Brasileiro
Membro do grupo de pesquisa e produção científica de estudos de álcool e outras drogas da
faculdade de enfermagem da universidade de São Paulo (GEAD)
Reforma Psiquiátrica

 O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil


é contemporâneo da eclosão do “movimento sanitário”,
nos anos 70. Porém tem uma história própria
inscrita num contexto internacional de mudanças
pela superação da violência asilar.

 Fundada, ao final dos anos 70, na crise do modelo de


assistência centrado no hospital psiquiátrico, por um
lado, e na eclosão, por outro, dos esforços dos
movimentos sociais pelos direitos dos pacientes
psiquiátricos
Reforma Psiquiátrica

 Compreendida como um conjunto de transformações de


práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no
cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das
relações interpessoais que o processo da Reforma
Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões,
conflitos e desafios.
Reforma Psiquiátrica

A Reforma Psiquiátrica é processo político e social


complexo, composto de atores, instituições e forças de
diferentes origens, e que incide em territórios diversos,
nos governos federal, estadual e municipal, nas
universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos
conselhos profissionais, nas associações de pessoas com
transtornos mentais e de seus familiares, nos
movimentos sociais, e nos territórios do imaginário
social e da opinião pública.
Reforma Psiquiátrica
 1978 = início efetivo do movimento social pelos
direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país.

 O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental


(MTSM) surge neste ano formado por
trabalhadores integrantes do movimento sanitário,
associações de familiares, sindicalistas, membros de
associações de profissionais e pessoas com longo
histórico de internações psiquiátricas.
Reforma Psiquiátrica

 O MTSM passa a denunciar a violência dos manicômios, a


mercantilização da loucura, a hegemonia de uma rede privada de
assistência e a construir uma crítica ao chamado saber
psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às
pessoas com transtornos mentais.

 Os dados do Centro de Informações de Saúde (MS), revelaram


que em 1988, o número de leitos psiquiátricos representava
19,1% do total de leitos disponíveis em todo o país, percentual
superado apenas pelos leitos de clínica médica, 21,6%(13).
Reforma Psiquiátrica
 A experiência italiana de desinstitucionalização em
psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio é inspiradora,
e revela a possibilidade de ruptura com os antigos
paradigmas:
- Ex: Colônia Juliano Moreira, enorme asilo com mais de
2.000 internos no início dos anos 80, no Rio de Janeiro.

Passam a surgir as primeiras propostas e ações para a


reorientação da assistência.
Reforma Psiquiátrica
Em 1987

 I Conferência Nacional de Saúde Mental (RJ): recomenda


priorização de investimentos nos serviços extra-hospitalares e
multiprofissionais como oposição à tendência hospitalocêntrica.

 II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP): adota o lema “Por


uma sociedade sem manicômios”

Neste período, são de especial importância o surgimento do


primeiro CAPS no Brasil, na cidade de São Paulo
Reforma Psiquiátrica
Em 1989

 Intervenção da Secretaria Municipal de Saúde de


Santos em um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde
Anchieta, local de maus-tratos e mortes de pacientes.

Demonstrou possibilidade de construção de uma


rede de cuidados efetivamente substitutiva ao
hospital psiquiátrico.
Reforma Psiquiátrica
 Implantados no município de Santos os Núcleos de
Atenção Psicossocial (NAPS) - funcionam 24 horas
 São criadas cooperativas, residências para os egressos
do hospital e associações.

Trata-se da primeira demonstração, com grande


repercussão, de que a Reforma Psiquiátrica, era possível
e exeqüível.
Reforma Psiquiátrica
 Ainda em 1989, um ano após a criação do SUS – dá entrada
no Congresso Nacional o PL-3657 do deputado Paulo
Delgado (PT/MG):

 Propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com


transtornos mentais e a extinção progressiva dos hospícios no
país.

 Porém, somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação


no Congresso Nacional, que a Lei Paulo Delgado é aprovada
no país.
Reforma Psiquiátrica
Década de 1990

 Conferência de Caracas e II Conferência Nacional de Saúde


Mental = entram em vigor no país as primeiras normas federais
regulamentando a implantação de serviços de atenção diária,
fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e
Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e
classificação dos hospitais psiquiátricos.

 Neste período, o processo de expansão dos CAPS e NAPS é


descontínuo.
Reforma Psiquiátrica
Em 1992
 Embora as normatizações do Ministério da Saúde regulamentasse
os novos serviços de atenção diária, não instituíam uma linha
específica de financiamento para os CAPS e NAPS.

As normas para fiscalização e classificação dos hospitais


psiquiátricos não previam mecanismos sistemáticos para a redução
de leitos.

 Ao final deste período, o país tem em funcionamento 208 CAPS,


mas cerca de 93% dos recursos do MS para a Saúde Mental ainda
são destinados aos hospitais psiquiátricos.
Reforma Psiquiátrica
Em 2001

 A Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A aprovação, no


entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei original, que
traz modificações importantes no texto normativo

 Lei Federal 10.216/2001 redireciona o amparo em saúde


mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em
serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os
direitos das pessoas com transtornos mentais, no entanto, não
estabelece estruturas claras para a progressiva extinção dos
manicômios
Reforma Psiquiátrica

Ainda assim, a promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso e


novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil.

É no contexto da promulgação da lei 10.216 e da realização da


III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de
saúde mental do governo federal, passa a consolidar-se,
ganhando maior sustentação e visibilidade.
Reforma Psiquiátrica
 Linhas específicas de financiamento são criadas pelo MS para os
serviços abertos e substitutivos ao hospital psiquiátrico

 Novos mecanismos são criados para a fiscalização, gestão e


redução programada de leitos psiquiátricos no país.

A rede de atenção diária à saúde mental experimenta uma


importante expansão onde a assistência comunitária em saúde
mental era praticamente inexistente
Reforma Psiquiátrica

 O processo de desinstitucionalização de pessoas longamente


internadas é impulsionado, com a criação do Programa “De
Volta para Casa”

 Uma política de recursos humanos para a Reforma Psiquiátrica


é construída

 É traçada a política para a questão do álcool e de outras drogas,


incorporando a estratégia de redução de danos.
Reforma Psiquiátrica
 2004 – realiza-se o primeiro Congresso Brasileiro de CAPS, em
São Paulo, reunindo dois mil trabalhadores e usuários de CAPS.

 O período atual caracteriza-se assim por dois movimentos


simultâneos :

 a construção de uma rede de atenção à saúde mental substitutiva


ao modelo centrado na internação hospitalar

 a fiscalização e redução progressiva e programada dos leitos


psiquiátricos existentes
III Conferência Nacional de Saúde
Mental (Brasília)

 Convocada logo após a promulgação da lei 10.216, e sua etapa


nacional é realizada no mesmo ano, em dezembro de 2001;

 É a III Conferência Nacional de Saúde Mental, com ampla


participação dos movimentos sociais, de usuários e de seus
familiares, que fornece os substratos políticos e teóricos para a
política de saúde mental no Brasil
III Conferência Nacional de Saúde
Mental (Brasília)
A III Conferência consolida:
 Reforma Psiquiátrica como política de governo;

 Confere aos CAPS o valor estratégico para a mudança do modelo


de assistência;

 Defende a construção de uma política de saúde mental para os


usuários de álcool e outras drogas;

 Estabelece o controle social como a garantia do avanço da


Reforma Psiquiátrica no Brasil;
Concluindo...
 Nos últimos anos, o processo de desinstitucionalização de
pessoas com longo histórico de internação psiquiátrica avançou
significativamente através da instituição pelo MS de
mecanismos seguros para a redução de leitos no país e a
expansão de serviços substitutivos aos hospital psiquiátrico:

 O Programa Nacional de Avaliação do Sistema


Hospitalar/Psiquiatria (PNASH/Psiquiatria)
 O Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar
Psiquiátrica no SUS (PRH)
 O Programa de Volta para Casa e a expansão de serviços como
os Centros de Atenção Psicossocial e as Residências
Terapêuticas
Embora em ritmos diferenciados, a redução do
número de leitos psiquiátricos vem se
efetivando em todos os estados brasileiros,
sendo muitas vezes este processo o
desencadeador do processo de Reforma.
O gráfico acima mostra a expansão regular dos serviços tipo CAPS ao
longo dos anos. A cobertura em saúde mental no Brasil ao final de 2002,
quanto existiam 424 CAPS, era de 21%. Em dezembro de 2010 temos 1620
CAPS e 66% de cobertura.
A tabela 2 permite visualizarmos a evolução do número de CAPS por tipo ao longo dos anos. A
expansão dos CAPS III ficou aquém do esperado
para o período. Com a criação dos CAPSad III, ao final de 2010, outro serviço do tipo III passará
a compor a rede de saúde mental – a rede CAPS deverá aumentar então em número e
diversificação.
O gráfico 2 mostra o aumento da cobertura em saúde mental em todas as regiões do
Brasil no período de dezembro de 2002 a 2010. Este processo foi mais vigoroso na
região Nordeste, que havia terminado 2002 com cobertura média de 0,12 CAPS por
100.000 habitantes e encerra 2010 com 0,81 CAPS por 100.000 habitantes – uma
cobertura semelhante à da região sul do país.
A tabela 3 apresenta o número de CAPS de dezembro de 2002 e 2010
distribuído por faixas populacionais. É relevante aumento do número de
serviços em municípios entre 20 e 50 mil habitantes ao longo dos anos,
processo que indica a interiorização dos serviços no país.
A expansão e a consolidação das
Residências Terapêuticas – Serviços
Residenciais Terapêuticos (SRT), foi
uma das principais preocupações do
processo de desinstitucionalização de
pacientes psiquiátricos de longa
permanência nos últimos anos. A
cobertura das Residências no país, no
entanto, ainda é baixa. Entre os
fatores que dificultam a expansão das
Residências estão as dificuldades
políticas e técnicas dos processos de
desinstitucionalização, as questões
sócio-culturais emergentes na
resistência das comunidades ao
processo de reintegração de pacientes
de longa permanência e a baixa
articulação entre o programa e a
política habitacional dos estados.
Programa de Volta para Casa, que estabeleceu em 2003 (Lei 10.708/03) o auxílio-reabilitação
psicossocial para egressos de longas internações psiquiátricas, demonstrou ser essencial para o
processo de desinstitucionalização no Brasil e vem se afirmando como uma importante
experiência do SUS.
Existe ainda, no entanto, grande dificuldade para a desinstitucionalização da população moradora
de Hospitais Psiquiátricos. Apesar dos avanços alcançados nos últimos anos, o número de
beneficiários do Programa de Volta para Casa ainda é muito baixo – apenas 1/3 do número
estimado de pessoas internadas com longa permanência hospitalar no Brasil recebe o benefício
Cerca de 18.000 leitos psiquiátricos de baixa qualidade assistencial foram fechados
no período entre dezembro de 2002 e 2010, através do PNASH/Psiquiatria e do PRH (Programa
de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica). No mesmo período, foi significativa a expansão
da rede de atenção comunitária.
Desde dezembro de 2002, através do PNASH/Psiquiatria e do Programa de
Reestruturação da Assistência Psiquiátrica (PRH), os hospitais psiquiátricos vem
ficando cada vez menores. Hoje, a faixa que apresenta maior número de leitos
(48,67%) está compreendida pelos hospitais de pequeno porte (com até 160 leitos) –
em 2002, esta porcentagem era de cerca de 24% e ao final de 2006, de 42,5%. Esta é
uma mudança estrutural fundamental, que contribui para a qualificação do atendimento
e reduz os problemas presentes nos macro-hospitais, como baixa qualidade da atenção,
isolamento e longo tempo de permanência.
O Gráfico 6 permite melhor visualização do processo de migração dos leitos de
hospitais de maior porte para hospitais de menor porte sem a criação de novos
leitos ou novos hospitais psiquiátricos (dezembro de 2002 a 2010).
Os gastos Federais do Programa de Saúde mental tiveram aumento real no
período entre dezembro de 2002 e 2009. O ano de 2006 ficou marcado com um
fato histórico – nele, pela primeira vez, os gastos federais extra-hospitalares do
Programa de Saúde Mental ultrapassaram os gastos do Programa com hospitais.
Isto significou uma efetiva reorientação do financiamento, seguindo a mudança
do modelo de atenção à saúde mental.
O Gráfico ao lado permite melhor visualização do processo de “inversão
de gastos” e reorientação do financiamento do Programa.
CAPS
CAPS
CAPS

Cerca de 50 usuários do Centro de Assistência Psicossocial (Caps) estiveram,


no início da tarde desta segunda-feira (18/05), no hall da Prefeitura para abrir
oficialmente a exposição de artesanato em homenagem ao Dia Nacional da
Luta Anti Manicomial.
CAPS

CAPS Infanto-Juvenil de São Bernardo do Campo


CAPS

A Secretaria de Saúde do Município de Jaguarari, através do Centro de Apoio PsicoSocial


(CAPS), realizou, no dia 10 de outubro, uma caminhada para lembrar o dia mundial da saúde
mental.
CAPS

CAPS AD Taubaté
Reforma Psiquiátrica

Filme!!!

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