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Entre o fim do século XVIII e início do XIX, com o avanço do conhecimento científico e da consciência
social, que a medicina começou a tomar a forma atual. A Revolução Francesa, no plano político, e os
avanços científicos relacionados com a Revolução Industrial, no plano econômico, foram as influências
mais significativas desse processo. Foi quando a assistência aos doentes mentais se tornou médica.
O movimento italiano tem sido apontado como modelo inspirador da reforma psiquiátrica brasileira, que
foi contemporânea da Reforma Sanitária e teve sua história com influência internacional desses
movimentos de mudança asilar. Inspirado pela reforma basagliana, o Movimento dos Trabalhadores em
Saúde Mental (MTSM) passou a denunciar os maus tratos em instituições asilares e promover reflexão
sobre a necessidade de mudança, criticando a hegemonia do saber psiquiátrico e do modelo
hospitalocêntrico.
O Hospício do Rio de Janeiro foi inaugurado como parte da comemoração da Declaração da Maioridade
do Imperador Pedro II e já nasceu moderno, pois seguiu o recém-instituído modelo francês e serviu de
paradigma para os demais que o seguiram os fatos acerca das enfermidades mentais graves que,
curiosamente, deram origem a duas interpretações opostas. Os historiadores otimistas os explicam
como sendo fruto da caridade cristã, do desejo de minorar o sofrimento alheio, de solidarizar-se com
quem padece uma doença que todos temem. Os pessimistas, por sua vez, atribuem-nos ao desejo de
esconder a miséria e a loucura, de aumentar o sofrimento do sofredor. Provavelmente, ambos têm parte
da verdade.
Entre os anos 20 e 30 do século XX, deu-se o primeiro esforço de reforma: Juliano Moreira e Ulisses
Pernambucano foram os primeiros artífices. Ulisses diferenciou os serviços de psicóticos agudos dos
crônicos, instituiu um serviço aberto para tratamento em regime de pensão livre, criou um sistema de
educação especial e um serviço de saúde mental .
1978: Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) passa a apoiar o projeto político do MTSM após
participação no V Congresso Brasileiro de Psiquiatria, criticando o modelo psiquiátrico clássico e as
instituições psiquiátricas.
As primeiras iniciativas da substituição nos serviços acontecem a partir de 1987, quando surgiu o
primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Brasil na cidade de São Paulo. Logo aconteceu a
primeira intervenção em hospital psiquiátrico, na Casa de Saúde Anchieta, em Santos, que teve
repercussão nacional e pôde demonstrar que a retórica da reforma era possível de ser executada.
Em 1989, o deputado Paulo Delgado lançou o projeto de Lei n. 3.657/1989, que só foi aprovado doze
anos depois.
Entre 1992 e 2000: Vários estados conseguiram aprovar as primeiras leis que determinaram a
substituição dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de cuidados em saúde mental e, finalmente,
com a promulgação da Lei Paulo Delgado e a II Conferência Nacional de Saúde Mental, a Reforma
Psiquiátrica Brasileira passou a ganhar sustentação e visibilidade.
Com a Reforma Psiquiátrica, surgem a atenção psicossocial e o campo da saúde mental. A saúde
mental, enquanto campo de conhecimento plural, complexo e intersetorial, entrecruza uma rede de
saberes sobre o estado mental dos sujeitos e das comunidades. A atenção psicossocial enquanto
práticas de cuidado integral, intersetorial, multiprofissional e individualizado, orientadas para a promoção
da saúde e estímulos de aspectos essenciais para a vida em sociedade e respeitando as singularidades
e as subjetividades.
No modelo psicossocial, é importante perceber que o adoecimento é uma condição de um cidadão com
vontades e desejos, que tem trabalho, estuda, tem parentes, vizinhos, rotinas e um cotidiano que devem
ser respeitados. Compreender que não se cuida de um doente, mas de um sujeito em sofrimento
psíquico abre opções de acolhimento, trocas sociais e medidas inclusivas.
Mais do que administração de fármacos ou psicoterapias, o usuário deve tornar-se um sujeito e não
objeto de estudos da psiquiatria.
O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento
mental. Dentro desta luta está o combate à idéia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental
em nome de pretensos tratamentos, idéia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença
mental. O Movimento da Luta antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão estas pessoas têm o
direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direto a receber cuidado e
tratamento sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos.
O Movimento da Reforma Psiquiátrica se iniciou no final da década de 70, em pleno processo de
redemocratização do país, e em 1987 teve dois marcos importantes para a escolha do dia que simboliza
essa luta, com o Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, em Bauru/SP, e a I Conferência
Nacional de Saúde Mental, em Brasília.
Com o lema “por uma sociedade sem manicômios”, diferentes categorias profissionais, associações de
usuários e familiares, instituições acadêmicas, representações políticas e outros segmentos da
sociedade questionam o modelo clássico de assistência centrado em internações em hospitais
psiquiátricos, denunciam as graves violações aos direitos das pessoas com transtornos mentais e
propõe a reorganização do modelo de atenção em saúde mental no Brasil a partir de serviços abertos,
comunitários e territorializados, buscando a garantia da cidadania de usuários e familiares,
historicamente discriminados e excluídos da sociedade.
Assim como o processo do Movimento da Reforma Sanitária, que resultou na garantia constitucional da
saúde como direito de todos e dever do estado através da criação do Sistema Único de Saúde, o
Movimento da Reforma Psiquiátrica resultou na aprovação da Lei 10.216/2001, nomeada “Lei Paulo
Delgado”, que trata da proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o
modelo de assistência. Este marco legal estabelece a responsabilidade do Estado no desenvolvimento
da política de saúde mental no Brasil, através do fechamento de hospitais psiquiátricos, abertura de
novos serviços comunitários e participação social no acompanhamento de sua implementação.
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou
responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde,
visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de
sua hospitalização involuntária;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave
dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será
objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade
da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo,
assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário.
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado
que caracterize os seus motivos.
Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no
momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.
Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou
por determinação do médico assistente.
Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente
registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.
Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz
competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à
salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.
Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão
comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante
legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro
horas da data da ocorrência.
Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas
sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida
comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.
BIBLIOGRAFIA:
https://www.scielo.br/j/rprs/a/j8pC5pj4fDLZy7tG4QhvLGJ/?lang=pt
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm
https://www.saude.df.gov.br/diretoria-saude-mental
https://bvsms.saude.gov.br/18-5-dia-nacional-da-luta-antimanicomial-2/