Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MATERIAL DIDÁTICO
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
SUMÁRIO
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3
UNIDADE 2 – CRONOLOGIA DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL ........................... 5
2.1 Os pioneiros....................................................................................................... 5
2.2 O período formativo ........................................................................................... 7
2.3 A fase contemporânea ....................................................................................... 8
2.4 Eventos e personagens importantes em algumas subáreas ........................... 11
UNIDADE 3 – O ÍNDIO BRASILEIRO ...................................................................... 13
3.1 Origens dos povos indígenas americanos e brasileiros ................................... 14
3.2 Culturas indígenas ........................................................................................... 17
3.4 A aculturação indígena .................................................................................... 23
3.5 Línguas indígenas ........................................................................................... 26
UNIDADE 4 – HISTÓRIA DA ETNOLOGIA BRASILEIRA ....................................... 31
UNIDADE 5 – OS PORTUGUESES E OS IMIGRANTES ........................................ 41
UNIDADE 6 – CULTURAS NEGRAS NO BRASIL .................................................. 46
6.1 O início da escravidão africana ........................................................................ 48
6.2 Contribuições culturais do negro ..................................................................... 49
UNIDADE 7 – A REPRESENTATIVIDADE DOS CRONISTAS PARA A
ANTROPOLOGIA ..................................................................................................... 53
UNIDADE 8 – ANTROPÓLOGOS BRASILEIROS ................................................... 56
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 64
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
3
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
5
2.1 Os pioneiros
A Primeira Fase da História da Antropologia no Brasil pode ser
convenientemente delimitada entre 1835, com a descoberta por Peter W. Lund
(1801-1880) do material ósseo de Lagoa Santa e 1933 (imediatamente antes da
fundação da Universidade de São Paulo, em 1934).
O primeiro achado de Lund foram poucos ossos de uma das menores
preguiças-gigantes da América.
Nas cavernas da região, Lund descobriu mais de 12 mil peças fósseis que
permitiram escrever a história do período pleistoceno brasileiro – o mais recente na
escala geológica – numa época em que o passado tropical era quase desconhecido
pela ciência. Lund descobriu também ossadas do chamado ‘homem de Lagoa
Santa’, que puseram em xeque uma série de pressupostos aceitos pela então
incipiente Paleontologia.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
6
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
7
obra basicamente de três pessoas: Júlio de Mesquita Filho, diretor do jornal Estado
de São Paulo; Armando Salles de Oliveira, interventor federal; e, Paulo Duarte,
intelectual e político.
Desde seu início, a nova instituição estabeleceu um critério de valorização
da excelência que permanece até hoje. Foi realizado ativo recrutamento de
intelectuais, especialmente na Europa, e o exemplo foi seguido, pelo menos
parcialmente, em outras regiões do país.
Algumas figuras paradigmáticas fizeram sua parte na Ciência, entre 1934 e
1954, antes da fundação da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).
A contribuição estrangeira é exemplificada pela presença de dois
antropólogos franceses Alfred Métraux, Roger Bastide e dois norte-americanos
(Charles Wagley, Donald Pierson). Entre os brasileiros ou com residência
permanente no país, a maioria, naturalmente, é de São Paulo (Schaden, Willems,
Fernandes, Mussolini, Schultz, Baldus), mas há também representantes do Rio de
Janeiro (Darcy Ramos Ribeiro), Rio Grande do Sul (Laytano), nordeste (Cascudo, R.
Ribeiro, Azevedo) e norte (Arnaux Galvão) do Brasil.
Como exemplo básico, temos o livro de Arnaux que documenta bem sua
trajetória de 50 anos de estudos em populações indígenas; e o de Corrêa (1987)
fornece uma sinopse do período 1930-1960, com testemunhos e bibliografias de
Donald Pierson e Emílio Willems (SALZANO, 2009).
Nesse período, destaca-se também a criação do Museu do Índio, em 1953,
um passo importante no desenvolvimento da política indigenista que representava
uma tentativa de melhorar as condições de assistência e compreensão das
sociedades indígenas. Em várias ocasiões, Darcy procurou enfatizar que o
empreendimento visava ao combate da “hipocrisia da democracia racial das elites
brasileiras”. Em uma palavra, um museu contra o preconceito e a favor das
sociedades indígenas (MATTOS, 2015).
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
9
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
10
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
11
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
13
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
14
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
15
1
Maria da Conceição de Morais Coutinho Beltrão (1934 - xxxxx), doutora em Arqueologia e Geologia
e uma das pioneira na exploração de sítios arqueológicos nacionais.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
17
Sul do Brasil. Referindo-se à cerâmica da Ilha de Marajó, Diniz (1972, p. 13) enfatiza
a qualidade técnica e artística dos objetos, com decorações diversas, adornos
antropomorfos, pintura policrômica, incisões e excisões que garantem sua
superioridade sobre os demais achados.
Material mais perdurável restante das culturas de tribos já desaparecidas, a
cerâmica é o indicativo da presença de grupos portadores de nível cultural mais
avançado, em relação ao homem do Sambaqui, cujas manifestações culturais
limitavam-se a instrumentos de pedra lascada e posteriormente polida (MARCONI;
PRESOTTO, 2014).
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
18
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
19
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
20
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
21
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
22
Só nos últimos anos do século XIX é que, pela primeira vez, o índio passa a
receber tratamento humanístico, a partir da atuação de Rondon e seus
colaboradores e vai estender-se pelo século XX.
Foram pouco numerosos os grupos indígenas que, nos séculos anteriores,
sofrendo todo tipo de compulsão e de coerção, conseguiram sobreviver, apesar de
submetidos aos processos aculturativos e à miscigenação.
Outros grupos, entretanto, persistiram como unidades culturais e étnicas,
porque só foram alcançados no decurso do século XX; alguns, ainda hoje,
conservam-se isolados, longe das influências coercitivas da civilização. É formada
por uma multiplicidade de tribos, linguística e culturalmente diversificadas,
confinadas em aldeias ou postos indígenas. O número de indivíduos que compõem
esses grupos é, via de regra, pequeno.
A maior parte da população indígena brasileira está concentrada na
Amazônia, seguida do Brasil Central, Oriental e Região Sul.
A posse das terras é de fundamental importância para os indígenas, a fim de
que possam viver e obter sua subsistência. Entretanto, a demarcação desses
territórios não é feita previamente, isto é, antes da atração do grupo; posteriormente,
ela dificilmente se efetiva, configurando as Reservas e os Parques Indígenas. As
áreas destinadas a servir de habitat aos grupos indígenas, com meios suficientes à
sua subsistência, são chamadas reservas indígenas (MARCONI; PRESOTTO,
2014).
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
23
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
24
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
25
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
26
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
27
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
28
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
29
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
30
Brasil, quatro grandes famílias linguísticas: Tupi, Jê, Aruák e Karib, todas de grande
expansão territorial; famílias linguísticas menores, de distribuição geográfica mais
restrita e com menor número de línguas; línguas isoladas, sem parentesco genético
com nenhuma outra.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
31
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
33
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
34
línguas indígenas; lendas indígenas, sem dizer exatamente quem narrou cada uma,
mas indicando que obteve uma delas em Belém e que coligou outras entre soldados
indígenas do Exército. (MELATTI, 2007).
José Vieira Couto de Magalhães defende a ideia de assimilar os índios,
aprendendo-lhes a língua para se poder ensinar-lhes o português, de modo a evitar
seu extermínio futuro. Esse cuidado estaria relacionado à sua previsão de que a
seleção natural iria eliminar os índios, mas aconselhava a se tomar o cuidado de
misturá-los com os brancos antes que isso acontecesse, a fim de que estes
criassem resistências ao ambiente físico do Brasil. O melhor mestiço seria o branco
com um quinto de sangue indígena (MELATTI, 2007).
O botânico João Barbosa Rodrigues deixou muitas informações sobre
diversos grupos indígenas da Amazônia e, em 1884, fez o contato, que teria sido o
primeiro de caráter amistoso, com os Krixaná, índios da área onde hoje vivem os
Waimirí-Atroarí. Interessou-se pelo curare, por lendas e cantigas amazônicas em
língua geral (uma língua Tupi modificada e usada pelos colonizadores e que
perdurou até o presente século na Amazônia) e pelos muiraquitãs.
Trabalho digno de admiração são os Estudos sobre a tribo ‘Mundurucú’, do
engenheiro Antônio Manoel Gonçalves Tocantins, publicado na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (t. 40, 2ª parte, 1877, pp. 10-161). É uma pequena
e comedida monografia sobre vários aspectos do modo de vida dos Mundurukú
(família, agricultura, guerra, conservação das cabeças dos inimigos, pintura de
corpo, feitiçaria, mitos, entre outros) que visitou em 1875, bem como de importantes
problemas do contato interétnico, tais como relações dos índios com os
missionários, destes com a população civilizada, o comércio com os regatões. O que
nos impressiona é o fato de Gonçalves Tocantins ter estado atento para vários dos
mesmos problemas abordados por etnólogos de hoje.
Com relação aos índios da orla ocidental da região Centro-Oeste, podem-se
citar os trabalhos do Visconde de Taunay e de João Severiano da Fonseca; com
respeito aos do Brasil meridional, os de Telêmaco Borba e de Teodoro Sampaio. Os
autores referidos até aqui neste item receberam atenção no já citado trabalho de
Egon Schaden e João Baptista Borges Pereira (1967).
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
35
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
36
Dante Moreira Leite, que também dedica algumas páginas a Nina Rodrigues
(LEITE, 1969, pp. 215-20), ao examinar sua obra, bem como as de Sílvio Romero e
de Euclides da Cunha, repara nos três, o conflito entre a realidade que descreveram
e a simpatia pelas populações que estudaram, de um lado, e as teorias de
determinismo climático ou racial que aplicavam em suas interpretações, de outro.
Thomas Skidmore também comenta as ideias de Nina Rodrigues
(SKIDMORE, 1976, pp. 74-9). Porém é Augusto Lins e Silva (1945) que dedica todo
um livro à figura do famoso pesquisador (MELATTI, 2007).
Na segunda década deste século iniciam seus trabalhos dois autores que
teriam grande influência nos meios intelectuais brasileiros: Roquette Pinto e Oliveira
Viana. O primeiro, com formação em Medicina, publica, em 1917, seu famoso livro
Rondônia, hoje volume 39 da Coleção Brasiliana (6ª ed., São Paulo, Nacional,
1975), no qual apresenta os dados que obteve em sua viagem, que também
descreve as terras dos índios Paresí e Nambiquaras, em 1912.
Pela maneira de apresentar o trabalho, pelos temas que aborda, pelos
problemas que levanta, pode-se dizer que o livro de Roquette Pinto em nada fica a
dever aos trabalhos então produzidos pelos etnólogos alemães, que então
percorriam o Brasil. Roquette Pinto também se preocupava com a população
brasileira como um todo, mas tratou-a, sobretudo, do ponto de vista da Antropologia
Física. Dedicou-se também à Educação, tendo sido um dos pioneiros da
radiodifusão com finalidades educativas. Sobre Edgard Roquette Pinto há um breve
comentário de Fernando de Azevedo (1954), elaborado por ocasião de sua morte.
Há um ensaio biobibliográfico por Castro Faria (1956/58). Thomas Skidmore (1976,
pp. 205-9) lhe dedica umas poucas, mas interessantes páginas (MELATTI, 2007).
Se Roquette Pinto não aprovava as ideias relativas à superioridade e
inferioridade das raças, acalentadas por vários dos autores brasileiros precedentes,
paladino que era de ideias mais modernas e atento aos primeiros passos da
Genética, tinha, por outro lado, como seu contemporâneo, Oliveira Viana, autor
também interessado no estudo do povo brasileiro, sobretudo, no que tangia ao então
pouco explorado tema do processo de formação da organização familiar e política,
detendo-se principalmente nas populações do Sudeste e do Sul, mas que ainda
fundamentava sua interpretação nas ideias de hierarquia racial.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
37
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
38
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
39
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
40
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
41
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
43
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
44
dominada pelos mouros durante quase 700 anos; e diretamente pela transferência,
da África para o nosso País, de escravos islamizados. Contribuíram com o uso do
cachimbo nos rituais de candomblé, na reclusão da mulher no período colonial, nas
lendas, como a “Moura Torta”, nas parlendas, contos acumulativos, folguedos e na
veneração do cavalo pelo gaúcho.
Os imigrantes indianos são basicamente de três tipos: os tratadores que
acompanharam o gado importado; executivos de empresas de alta tecnologia e
prestadores de serviços. A colônia indiana na cidade de São Paulo é estimada em
menos de mil pessoas, e concentra-se na região do bairro do Paraíso. A maioria das
esmeraldas retiradas dos garimpos brasileiros destina-se a comerciantes que vêm
da Índia. Para os indianos, as esmeraldas são pedras sagradas.
A influência os ingleses é devida às invasões no período colonial, assim
como o comércio com o Brasil. Os ingleses nos legaram alguns termos como o
“Bond” que de título da dívida pública passou a designar veículo de tração animal e
elétrica; trouxeram também o futebol, esporte preferido pela população.
Já a influência holandesa é devido às invasões no período colonial. Os
holandeses deixaram sua influência na literatura de cordel, nas blasfêmias no
folclore do açúcar, em elementos de confeitaria e laticínios. Por duas vezes, os
holandeses tentaram fixar residência no Brasil, na Bahia (1624 a 1625) e em
Pernambuco (1630 a 1654). Fundaram fortificações, cidades, museus, centros de
ciência e arte, a ponto de causar sentimentos de que seriam melhores colonizadores
que os portugueses. Miscigenaram-se com índios, mamelucos, mulatos e negros;
influenciaram no verde dos olhos de parte dos nordestinos que vivem hoje em São
Paulo. Mas a maior contribuição da colônia holandesa é no cultivo das flores. Foram
eles que criaram a Holambra, um centro de cultivo, que se tornou cidade em 31 de
dezembro de 1991, cujo nome soma Holanda, América e Brasil.
Os coreanos, herdeiros da habilidade e concentração, fundamentais no Tae
Kwon do (caminho dos pés e mãos); além de trabalhadores obstinados, logo
ganharam espaço no ramo da confecção e no comércio de produtos importados.
Os alemães vieram com D. Leopoldina quando se casou com D. Pedro I,
formando a primeira colônia germânica na região fluminense. O ano de 1828 trouxe
mais 560 imigrantes, destes, pelo menos 94 famílias foram encaminhadas para a
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
45
“Freguesia de Santo Amaro”. No ano de 1837, Santo Amaro era o único município a
produzir batatas, cultura esta típica do imigrante alemão.
Os italianos também aportaram no Brasil por razões históricas, com o
casamento de D. Pedro II com a napolitana Tereza Cristina. Vieram para substituir a
mão de obra escrava, que estava desaparecendo devido às leis para a abolição da
escravatura. As principais influências italianas são: as festas de igreja, comilança de
Natal, presépios, massas como macarronada e pizzas, vinhos gaúchos, figas,
capelinhas e cruzeiros à beira das estradas, procissões.
A influência americana não foi espontânea como a dos povos que aqui
vieram habitar, ela foi planejada e, devido à intensa propaganda através dos meios
de comunicação, que atingem as mais longínquas regiões brasileiras, esta influência
aparece não somente na música da juventude e no linguajar, como também na
alimentação, através dos sanduíches, principalmente hambúrgueres e cachorros-
quentes e da Coca-Cola. O “jeans” é atualmente usado por todas as camadas da
sociedade, inclusive pelos trabalhadores rurais e habitantes das cidades do interior.
Os chineses vindos para o Brasil, trouxeram os conhecimentos mais antigos
do mundo; influenciaram o desenvolvimento da medicina e a arte de produzir fogos
de artifício.
Os sírios influenciaram em alimentos, como o quibe, a esfiha, o tabule,
iogurte; assim como a esperteza nos negócios.
Os japoneses trouxeram recentemente várias contribuições, que vêm sendo
introduzidas na cultura popular. Os nipônicos nos legaram o folclore das flores, dos
frutos, da morte, e ainda o “sushi” e “sachimi”, pratos muito apreciados hoje em dia,
além das artes marciais.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
46
padrões africanos, mesclados com elementos culturais das demais etnias. São os
afro-brasileirismos que persistem, embora redefinidos por força do complexo cultural
em formação.
Em algumas regiões, as influências africanas imprimiram à subcultura
regional traços extremamente marcantes nas expressões materiais, espirituais e
simbólicas, que a diferenciam, nitidamente, de outras subculturas regionais.
Constituem exemplos dessa afirmativa os contrastes dos padrões culturais da região
Nordeste, especialmente da Bahia, marcadamente de influência da África Ocidental,
com os da região Sul, de colonização europeia.
Levando em conta as influências, o papel e as contribuições do negro à vida
brasileira, a partir do final do século XIX, multiplicam-se os estudos sobre essa etnia.
O “negro” tem servido como temática a muitos cientistas sociais, sobretudo,
antropólogos, sociólogos e historiadores, na defesa de teses muitas vezes
discordantes, mas por isso mesmo, muito estimulantes, na interpretação dos
fenômenos relativos à presença africana no Brasil.
A contribuição do negro e do mestiço à cultura e à mentalidade do brasileiro
é substancial e duradoura. Graças à fusão e à integração dos elementos culturais
africanos que, reinterpretados, foram assimilados pela configuração cultural
brasileira, não se plasmou em nosso país uma subcultura afro-brasileira, que daria
origem a minorias, verdadeiros quistos culturais em que os valores da negritude
suplantariam as ideias, os padrões e as cosmovisões essencialmente brasileiros
(MARCONI; PRESOTTO, 2014).
Apesar do longo e violento processo aculturativo, consequência do contato
forçado entre as sociedades, a cultura africana não foi destruída, mas persistiu,
mesmo esfacelada. Pode-se notar isto pelo sincretismo, principalmente religioso, tão
evidente quando se abordam os aspectos culturológicos da questão.
Os séculos XV e XVI caracterizaram-se pela vigorosa e fecunda expansão
da Europa Ocidental, cujos interesses atingiram grande parte da humanidade,
provocando mudanças nas configurações socioculturais e colaborando para a
formação de etnias e nacionalidades.
Era o surgimento de novo estágio do desenvolvimento humano, possível
pela consequente redefinição da concepção do universo, condicionada pela eclosão
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
48
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
49
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
50
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
51
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
52
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
53
Outra interessante crítica dos cronistas foi a que Thekla Hartmann (1975)
escreveu a respeito dos desenhos feitos por eles, ou por desenhistas que os
acompanharam, no final do século XVIII ou no decorrer do século XIX, em que se
representam indivíduos ou cenas indígenas. A etnóloga examina: o grau de
habilidade dos artistas em achar as proporções corretas e as características
somáticas dos índios de cada grupo; sua capacidade em captar os traços
individuais; a utilização de adornos e marcas culturais tribais para acentuar
diferenças que os artistas não conseguiam ver ou reproduzir nas características
biológicas, até casos extremos de utilização de um “manequim” único, decorado e
marcado diferentemente segundo o grupo tribal; se os desenhos foram realizados
por observação pessoal, ou se a memória, a imaginação, a informação de terceiros,
também serviram como recursos; se a informação etnográfica foi filtrada pela
orientação técnica, ideias preconcebidas e imagens pré-formadas.
Assim, fica-se sabendo da fidedignidade de Hércules Florence, ou do pouco
valor documentário de Debret, que desenhou no Rio de Janeiro cenas indígenas que
nunca viu, às vezes baseado na descrição de terceiros e em artefatos do acervo do
Museu Nacional. Além disso, repara Hartmann que, devido às modificações que
sofriam os desenhos nas mãos dos gravadores que os preparavam para publicação,
torna-se necessário conhecer os originais e não apenas as reproduções publicadas.
Enfim, o livro de Hartmann nos ensina que os desenhos, uma vez passados por
severa crítica, podem vir a ser uma valiosa fonte etnográfica.
Além de Florestan Fernandes e Thekla Hartmann, Melatti (2007) lembra
outros autores a exemplo de Estêvão Pinto (1958) que também escreveu uma
apreciação dos cronistas do século XVI. Embora zoólogo, C. de Mello-Leitão, em
três livros publicados na conhecida coleção Brasiliana (Mello-Leitão, 1934, 1937 e
1941), descreve as viagens e contribuições de vários cronistas e, nos dois livros
mais antigos, sobretudo, alude a suas observações concernentes aos fenômenos
sociais. Luís da Câmara Cascudo, numa Antologia sobre o folclore brasileiro
(Câmara Cascudo, 1971), precede os textos selecionados de breves informações
sobre seus autores, sendo quase um terço do volume dedicado aos que aqui
estamos chamando de “cronistas”.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
55
Sobre aqueles que trataram do Brasil desde a chegada da Família Real até
o final do Império, há um trabalho dos antropólogos Egon Schaden e João Baptista
Borges Pereira. Trata-se de um capítulo da conhecida História geral da civilização
brasileira, dirigida por Sérgio Buarque de Holanda. Nesse capítulo – Schaden;
Borges Pereira, 1967 –, além dos cronistas, estão incluídos os primeiros
antropólogos propriamente ditos, bem como intelectuais brasileiros que lidaram com
temas antropológicos (MELATTI, 2007).
Sem dúvida, se fosse feito um levantamento geral dos dados que os
cronistas nos puseram à disposição, certamente se poderiam distinguir períodos
mais ricos em informações de outros mais pobres, podendo-se fazer o mesmo com
diferentes regiões do Brasil ou diferentes tópicos. Temos a impressão de que é a
partir da chegada da Família Real que o número de cronistas aumenta, certamente
devido à abertura dos portos e à transferência da capital de Portugal para o Brasil,
que logo depois se torna independente. Por outro lado, o século XVIII, pelo menos
no que tange às informações sobre indígenas, foi um período pobre. É isso pelo
menos que nos diz Herbert Baldus, na “Introdução” à sua tão útil Bibliografia crítica
da Etnologia brasileira – Baldus, 1954/68, vol. 1, p. 11 –, na qual faz um breve
histórico dos estudos sobre índios do Brasil e que inclui também os cronistas
(MELATTI, 2007).
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
56
introduziu no Brasil as ideias culturalistas de seu mentor para um país que, desde a
Semana de Arte Moderna, de 1922, começava a sentir a necessidade de um novo
projeto de nação que destoasse das ideias eugênicas que ganhavam força. Até
aquele momento, vigorava no Brasil uma política aristocrática que, com auxílio dos
pensadores da época, via na mistura de raças a maior fraqueza brasileira e
apostava em grandes projetos de imigração de trabalhadores europeus para clarear
o Brasil e torná-lo menos africano do que efetivamente era.
Como bem sintetizou Velho (2008), é de conhecimento público e notório que
um dos pontos altos e sempre polêmicos do seu trabalho foi a temática das relações
raciais. É preciso distinguir o que ele realmente escreveu, do que foi divulgado e
vulgarizado por seguidores e adversários. Não negou a existência de racismo na
sociedade brasileira, mas procurou salientar as peculiaridades aqui existentes,
contrastantes com países como os Estados Unidos. A sua contribuição para o
estudo de gênero é tão importante que até hoje é insuficientemente valorizada. Suas
análises sobre o mundo feminino do Brasil tradicional são de uma importância ímpar
e de absoluta originalidade.
Coforme Velho (2008), em Sobrados e Mucambos, particularmente,
desenvolve um trabalho de vanguarda para o estudo da vida urbana, precursor de
desenvolvimentos em Antropologia e Sociologia das décadas seguintes. O foco no
cotidiano, no dia-a-dia, no mundo doméstico, no que poderíamos chamar hoje de
microssociologia, não o afastou de uma visão ampla, de longue durée da sociedade
brasileira e de suas relações com o mundo em geral.
Darcy Ribeiro (1922-1997), mineiro de Montes Claros, foi antropólogo,
escritor e político, conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no
Brasil.
A obra de Darcy Ribeiro pertence a uma geração de antropólogos pós-
coloniais. Os que, pós-Segunda Guerra Mundial, desejavam romper com a
Antropologia Eurocêntrica que via os habitantes de outros continentes mais
atrasados como naturalmente inferiores, vocacionados para servir mais do que para
mandar, sendo desqualificados para conduzir o autogoverno (SCHILLING, 2013).
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
58
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
59
na história dos Estados Unidos. Todavia, esta “paz racial” bem pouco contribuiu para
minimizar o abismo social que aparta os ricos dos pobres, como qualquer
levantamento estatístico confere e a própria vista das cidades brasileiras demonstra
(SCHILLING, 2013).
No momento de explicar quais motivos levaram o Brasil a empacar depois
de ter sido na época do açúcar e do ouro (1620-1820) uma das maiores do mundo,
enquanto a modesta América do Norte tornava-se uma potência econômica e depois
mundial, Darcy Ribeiro reduz tudo ao fato de haver liberdade geral nos Estados
Unidos, ao menos depois da Guerra de Secessão (1861-1865), enquanto por aqui
se vivia sob o escravagismo. O que fez com que o país somasse apenas 10% do
PIB norte-americano no transcorrer do século 19.
Enquanto lá, usando a linguagem de hoje, difundia-se o empreendedorismo,
o que proporcionava que cada homem ou mulher – pelo menos entre os brancos
vindos em massa da Europa – tivesse a mais ampla autonomia para tocar a sua vida
e decidir seus negócios (rurais ou urbanos) por si mesmos. No Brasil, tal situação
era prerrogativa de poucos – “os homens livres da ordem escravocrata” –, e
geralmente subordinada a serviço dos poderosos. Assim, Darcy Ribeiro contorna as
explicações raciais e de ordem cultural e afirma o primado marxista da exploração
do homem pelo homem abertamente praticada no Brasil.
Darcy Ribeiro é considerado um dos precursores da Etnologia brasileira,
idealizador de importantes instituições de ensino e pesquisa no país, pioneiro em
pesquisas etnológicas, particularmente aquelas baseadas em longos períodos de
observação participante, inspirador de uma boa soma de trabalhos acadêmicos,
como vem exemplificar a “escola do contato”, que em Roberto Cardoso de Oliveira
encontraria sem membro mais ilustre, Darcy Ribeiro faz parte, ainda, de um seleto
grupo de antropólogos brasileiros que se tornaram conhecidos também – e talvez
principalmente – fora da disciplina, dentro e fora do país. Isso se deve à repercussão
nacional e internacional alcançada por sua diversificada obra e, paralelamente, pelos
trabalhos de diferentes matizes desenvolvidos por ele no Brasil e no exterior – neste
caso, particularmente, durante os anos em que se manteve na condição de exilado
político, entre 1964 e 1976 – que acabaram por projetá-lo internacionalmente
(MATTOS, 2015).
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
60
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
61
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
62
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
63
Guarde...
No Brasil, durante três séculos ininterruptos, verificaram-se contatos inter-
raciais resultantes do encontro de três etnias e culturas diferenciadas: branca, negra
e índia. Sociedade e cultura plasmaram-se em decorrência das trocas culturais e
dos intercruzamentos biológicos. Posteriormente, correntes imigratórias euro-
orientais vieram contribuir para que novo caldeamento e nova mudança cultural se
processassem nitidamente. O povo brasileiro é mestiço e ainda em processo de
miscigenação e aculturação.
Justificam-se as observações de Darcy Ribeiro (1977, p. 22):
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
64
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS BÁSICAS
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
CÂMARA CASCUDO, Luís da. Antologia do folclore brasileiro: séculos XVI- XVII-
XVIII. Os cronistas coloniais. Os viajantes estrangeiros. Bibliografia e notas. 4ª ed.,
São Paulo, Martins, 1971. (1ª ed.: São Paulo, Martins, 1944).
FREITAG, Barbara. Florestan Fernandes: revisitado. Estud. av. vol.19 .55 São Paulo
Sept./Dec. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
40142005000300016&script=sci_arttext
HOLANDA, Sérgio Buarque. de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro, José Olympio,
1984.
LEITE, Dante Moreira. 1969. O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia.
2ª ed., revista, refundida e ampliada. São Paulo, Pioneira.
MATTOS, André Luís Lopes Borges de. Darcy Ribeiro e a Antropologia no Brasil
(1944-1956). (2015). Disponível em:
http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/tr
abalhos/GT%2015/andre%20luis%20lopes%20borges%20de%20mattos.pdf
Disponível em:
http://www.revistaflorestan.ufscar.br/index.php/Florestan/article/view/9/pdf_6
OLIVEIRA, Roberto. O índio e o mundo dos brancos. São Paulo: Pioneira, 1972.
Capítulo 1.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
68
http://www.marizapeirano.com.br/capitulos/1999_antropologia_no_brasil_alteridade_
contextualizada.htm
SCHADEN, Egon. “A Etnologia no Brasil”. In: História das Ciências do Brasil, coord.
por Mário Guimarães Ferri & Shozo Motoyama, Vol. 2, São Paulo, EPU/EDUSP;
Brasília, CNPq, pp. 239-71 (cap. 5), 1980.
SCHADEN, Egon. Aculturação indígena. São Paulo: Pioneira: Edusp, 1969. Capítulo
2.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
69
SILVA, Maria Odila Leite da Silva. Dialogando com Sérgio Buarque de Holanda.
Cienc. Cult. vol.54 no.1 São Paulo June/Sept. 2002. Disponível
em: http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v54n1/v54n1a36.pdf
STEINEN, Karl von den. Entre os aborígenes do Brasil Central. São Paulo:
Departamento de Cultura, 1940.
VIDAL, Lux (Org.). O índio e a cidadania. São Paulo: Brasiliense, 1983. Parte I.
VIEIRA, Telmo Pedro; SILVA, Marcos Aurélio da. Gilberto Freyre, “cultura nacional”
e a Antropologia brasileira: revisões e contribuições de um passado incompreendido.
XVI CONGRESO INTERNACIONAL DE ANTROPOLOGÍA IBEROAMERICANA
“Culturas ibéricas y mestizaje en América, África y Oriente” Salamanca, 20 a 22 de
abril de 2010. Disponível em: http://marcoaureliosc.com.br/freyre.pdf
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.