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Evolução histórica...

Reforma psiquiátrica no mundo e no Brasil


Na Pré-História
• O homem primitivo atribuía todas as doenças
á ações de forças externas, forças
sobrenaturais, maus espíritos, bruxos,
demônio, deuses.
• Os atendimentos em
rituais tribais para corrigir tal
distúrbio.
Na Antiguidade
• O indivíduo louco era visto como um problema
familiar e não social.
• Os ricos permaneciam em suas residências e os
pobres circulavam pelas ruas, onde recebiam
caridade pública ou realizavam pequenos serviços.
• Na Grécia de 860 a.C. os sacerdotes recomendavam
que os loucos fosses tratados com bondade.
• Eles poderiam desfrutar de ar, água pura, luz solar.
Idade Média
• Acreditava-se que o mundo era todo organizado de
acordo com os desígnios de Deus.
• Desfrutavam de relativa liberdade de ir e vir.
• Doentes mentais mais graves ou agressivos eram
acorrentados, escorraçados, submetidos a jejuns
prolongados sob a alegação de estarem possuídos
pelo “demônio”.
• Muitas vezes eram submetidos a
rituais religiosos de exorcismo.
Idade Moderna
• Com o início da sociedade industrial, as cidades, cada vez maiores,
encheram-se de pessoas que não encontravam lugar nesta nova ordem
social.
• Multiplicam-se nas ruas os desocupados, os mendigos e os vagabundos –
os loucos dentre eles. Estas pessoas eram sumariamente internadas nas
casas de correção e de trabalho e nos hospitais gerais.
• Tais instituições, não se propunham a ter função curativa – limitando-se
à punição do pecado da ociosidade. O louco não era percebido como
doente, e sim como os que haviam abandonado o caminho da Razão e
do Bem.
• Nesta época surgem os Hospitais Gerais, onde eram internados não só os
loucos, mas toda
a população marginalizada.
• Simbolizada na Europa pela Revolução Francesa,
surgiu uma nova reestruturação do espaço social.
• Formalmente, não era mais permitido o
encarceramento arbitrário de nenhum cidadão com a
exceção dos loucos. Entendia-se que os loucos não
podiam circular no espaço social como os outros
cidadãos devido a sua alta periculosidade. Agora eram
vistos como doentes, que necessitavam de
tratamento. Com o objetivo de curá-los, passaram a
ser internados em instituições destinadas
especificamente a eles: o manicômio.

Bethlem Royal Hospital foi o primeiro hospital psiquiátrico, Londres.


Idade Contemporânea
• Denuncias contra as internações de doentes
mentais junto aos marginais e contra as torturas
a que eram submetidos.
• Começaram a ter uma abordagem mais
humanística ao doente mental.
• Construção de asilos.
• Loucura passa a ser considerada uma doença,
que exigia condições e tratamentos específicos.
Philippe Pinel • Pinel estabeleceu os fundamentos
(1745-1826), da clínica psiquiátrica.
médico francês, • Responsável por dissociar a
considerado pai loucura do caráter.
da Psiquiatria.  • As alienações mentais seriam
devidas a distúrbio funcional do
sistema nervoso central, as lesões
poderiam ou não existir.
• A partir disto, começou-se a
administrar tratamentos diversos
na tentativa de minimizar os
males mentais.
Tecnologia Pineliana
• Constituição da ordem asilar
• A relação da autoridade
• Isolamento do mundo externo
O início do processo de conhecimento no
contexto das ciências naturais
Isolamento Ato de percepção, segundo o qual se
isola, para ver ,melhor e exclusividade
apenas o objeto que se quer conhecer
cientificamente.
ISOLAR PARA CONHECER.
Justificativa do isolamento
1. Garantir a segurança pessoal dos loucos e de
suas famílias
2. Liberá-los das influências externas
3. Vencer suas resistências pessoais
4. Submetê-los a um regime médico
5. Impor-lhes novos hábitos intelectuais e
morais
Formas de tratamento
• Sangria
• Lobotomia
• Eletrochoque
• Insulinoterapia
• Camisas-de-forças
• Quartos-fortes
• A psiquiatria adentra os asilos e o poder no interior
das instituições, a partir do século XVIII, poder
conferido até então à Igreja e ao Estado.
• Instala-se, no ocidente, a partir do século XVIII uma
forma universal e hegemônica de abordagem dos
transtornos mentais: internação em instituições
psiquiátricas de todos aqueles que estão alterados à
ordem da razão, da moral e da sociedade.
Primeiras tentativas de transformação
• 1940 – Maxwell Jones na Inglaterra
• Propôs a criação de comunidades
terapêuticas

Envolver todas as pessoas que estavam


Psiquiatra
no ambiente hospitalar num projeto
sul-africano
terapêutico comum, funcionando (1907 - 1990)
através de assembleias, reuniões e
grupos terapêuticos.
Primeiras tentativas de transformação
• 1940 – François Tosquelles na
França
• Experiências sob a denominação
de psiquiatria institucional.
Psiquiatra
francês
(1912-1994)
O hospital foi aberto a comunidade, com
realização de atividades conjuntas como
festas, comércio, atividades culturais,
organização cooperativas dos pacientes.
Primeiras tentativas de transformação

Contudo, essas tentativas ficaram restritas ao


modelo hospitalocêntrico, que afasta os sujeitos
de suas famílias e seus territórios.
Antipsiquiatria
• Surgiu no fim da década de 50 e início da década de
60, com um grupo de psiquiatras ingleses.
• Indicada como uma crítica a uma contestação radical
ao saber e as instituições psiquiátricas.
• Tentativa de reformar os manicômios e transformar as
relações entre os que prestavam e os que recebiam os
cuidados, logo pretendiam extinguir os manicômios e
eliminar a própria ideia de doença mental.
• Principal precursor: Roland Laing e publicações de
Michel Foucault
Michel Foucault 
• Filósofo francês (1926 - 1984) foi um, 
historiador das ideias, teórico
social, filólogo e crítico literário.
• Suas teorias abordam a relação
entre poder e conhecimento e como eles são
usados ​como uma forma de controle social por
meio de instituições sociais.
• Foucault é conhecido pelas suas críticas às
instituições sociais, especialmente à psiquiatria,
à medicina, às prisões, e por suas ideias sobre a
evolução da história da sexualidade, suas teorias
gerais relativas à energia e à complexa relação
entre poder e conhecimento.
Escreveu mais
de 34 livros
Ronald David Laing
• Psiquiatra britânico (1927 -  1989).
Destacou-se por sua abordagem
inovadora da doença mental e,
particularmente, da experiência
da psicose. Promoveu uma revolução
de conceitos na sua área, ao buscar
compreender a lógica por trás dos
sintomas ditos irracionais.
• Sugeriam o tratamento em instituições abertas, não
asilares, nestes locais o louco era incentivado e
acompanhado de perto, dentro de ambiente
protegido e livre de coerções e repressões.
• Combater a institucionalização e a violência
decorridas dos tratamentos tradicionais.

Se a psiquiatria não conseguia tratar seus doentes, ou


seja, cumprir seus objetivos, o de curar a doença
mental, qual seria a justificativa para manter as
pessoas internadas?
Reforma psiquiátrica Italiana
• Franco Basaglia, foi um dos principais precursores na Itália.
• Em 1961 Basaglia assumiu a direção do Hospital de Gorizia
e imediatamente introduziu mudanças radicais nas
condições de vida dos internos, abolindo os métodos
coercitivos e violentos de tratamento.
• Pensamento central: “não se ocupar da doença mental
como conceito psiquiátrico, e sim, pelo contrário, ocupar-
se de tudo aquilo que se refere ao sujeito na sua
existência”.
OLHAR PARA O SUJEITO
DOENTE E NÃO PARA A
DOENÇA
• Em 1971, fechou completamente o hospital psiquiátrico
San Giovanni e promoveu em Trieste a substituição do
tratamento hospitalar e manicomial por uma rede
territorial de atendimento da qual faziam parte serviços
de atenção comunitários, emergências psiquiátricas em
hospital geral, cooperativas de trabalho protegido,
centros de convivência e moradias assistidas, chamadas
por ele de "grupos-apartamento", destinados aos loucos.

Em 1973, foi reconhecida pela OMS como área-piloto,


dentro de um plano de pesquisa sobre novas soluções em
psiquiatria quanto à adequação dos serviços às novas
exigências da organização social.
• Aprovada em 1978 a Lei 180, da Reforma
Psiquiátrica Italiana, que vigora até hoje.
Franco Basaglia

• Psiquiatra e neurologista
italiano (1924 - 1980), professor,
fundador da moderna concepção
de saúde mental, reformador da
disciplina psiquiátrica na Itália, que
introduziu uma revisão importante das
direções regulamentados hospitais
psiquiátricos na Itália e promoveu
mudanças significativas no tratamento
no território e no mundo todo.
Evolução histórica no Brasil
• O primeiro manicômio foi fundado por D. Pedro
II em 1852, no Rio de Janeiro.
• A partir desse momento vários outros hospícios
foram sendo fundados.
• Manicômios era construídos em locais afastados.
• Em sua maioria era frequentado pela população
mais pobres.
• No inicio o atendimento aos loucos era tarefa da
Irmandade da Misericórdia e esteve nas mãos da
Santa Casa até a proclamação da República em
1889.
• Após 1950 o Estado assumiu o “custeio” dos
leitos para saúde mental.
• Iniciou: infraestrutura péssimas; higiene em
banhos coletivos; medicações distribuídas sem
critério; e tratamento através de castigos.
• Objetivava-se o lucro, e não o bem estar do
doente.
• Por isso: havia número de internações superiores
aos leitos e a ociosidade dos internos.
Principais hospitais psiquiátricos no BR

• Hospital Juqueri: 12.000 internos


• Hospital São Pedro: 5.000 internos
• Colônia Juliano Moreira 8.000 internos
• Hospital Dom Pedro: 6.000 internos
Reforma Psiquiátrica no BR
• Anos 70 do séc. XX  Brasil  Com alguns anos de
atraso em relação ao resto do mundo;

“A Reforma Psiquiátrica é um processo político e social


complexo, composto de atores, instituições e forças de
diferentes origens, e que incide em territórios diversos.”
Reforma Psiquiátrica no BR
• 1978  Movimento dos Trabalhadores em Saúde
Mental (MTSM)  denúncia da violência nos
manicômios, da mercantilização da loucura e da
hegemonia de uma rede privada de assistência;
• 1987  Bauru (SP)  II Congresso do MTSM  “Por
uma sociedade sem manicômios”;
• 1987  Rio de Janeiro  I Conferência Nacional de
Saúde Mental.
Reforma Psiquiátrica no BR
• 1987  São Paulo  primeiro Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS);
• 1989  Secretaria Municipal de Santos (SP) 
Intervenção no hospital psiquiátrico “Casa de Saúde
Anchieta” maus-tratos e morte de pacientes 
primeiros Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS);
Reforma Psiquiátrica no BR
• 1989  Projeto de Lei do Deputado Federal Paulo
Delgado (MG)  propõe a regulamentação dos
direitos da pessoa com transtornos mentais e a
extinção progressiva dos manicômios do país;

• 06 de abril de 2001  Lei Federal 10.216;


19 de fevereiro de 2002  Portaria GM 336.
Influências à Reforma Psiquiátrica no BR

Reforma Sanitária:
• Compromisso com uma nova concepção da saúde;
• Incremento de diversos atores ao Movimento da
Reforma Sanitária;
• 1990  Lei Orgânica da Saúde Brasileira:
– Lei 8080  Lei do “SUS”;
– Lei 8142  Lei do “Controle Social”.
Influências à Reforma Psiquiátrica no BR

Reforma Sanitária:
• 1994  Programa Saúde da Família (PSF – hoje ESF)

– Atenção territorial e integral, de base


comunitária;

– Regulador da atenção em saúde;


A Reforma Psiquiátrica é processo político e social
complexo, composto de atores, instituições e forças de
diferentes origens, e que incide em territórios diversos,
nos governos federal, estadual e municipal, nas
universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos
conselhos profissionais, nas associações de pessoas com
transtornos mentais e de seus familiares, nos
movimentos sociais, e nos territórios do imaginário
social e da opinião pública. Compreendida como um
conjunto de transformações de práticas, saberes,
valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das
instituições, dos serviços e das relações interpessoais
que o processo da Reforma Psiquiátrica avança,
marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios.
Nise da Silveira 
•Médica psiquiatra brasileira (1905 - 1999).
•Dedicou sua vida à psiquiatria e manifestou-se radicalmente
contrária às formas agressivas de tratamento de sua época.
•Em 1944 inicia seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II,
no Rio de Janeiro, onde retoma sua luta contra as técnicas
psiquiátricas que considera agressivas aos pacientes.
•Em 1946 funda naquela instituição a "Seção de Terapêutica
Ocupacional". No lugar das tradicionais tarefas
de limpeza e manutenção que os pacientes exerciam sob o título de
terapia ocupacional, ela cria ateliês de pintura e modelagem com a
intenção de possibilitar aos doentes reatar seus vínculos com
a realidade através da expressão simbólica e da criatividade,
revolucionando a Psiquiatria então praticada no país.

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