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História da Loucura

Professor Marcos Lima


• Na Grécia antiga, que consideramos o ponto
de origem de toda civilização ocidental,
A antiga Grécia acreditava-se que a loucura tinha causas de
ordem sobrenatural.
• Era resultado de ações e forças de natureza
mística e, portanto, as intervenções eram
promovidas por médicos-sacerdotes na
forma de práticas médicoreligiosas.
• criou o primeiro conceito
médico de loucura
abandonando as
explicações religiosas e
metafísicas em prol de
mecanismos orgânicos.
• Ele propôs que há quatro
Hipócrates humores corporais
(sangue, bílis negra, bílis
amarela e fleuma) e
quatro qualidades básicas
da natureza (calor, frio,
umidade e aridez).
• O desequilíbrio causava o
(pai da medicina) excesso de alguns dos
humores, o que resultava
em um mau
funcionamento da
personalidade. A terapia
consistia em restabelecer
o equilíbrio através de
drogas e regimes, além de
explicar o contexto ao
paciente
• Na antiga Roma, o doente mental tinha limitada a
liberdade de agir. Ele era considerado incompetente em
questões tanto pessoais quanto econômicas. Nessa época,
Galeno propõe que o cérebro ocupa o papel central dos
Roma antiga fenômenos mentais e que sintomas físicos podem não
expressar qual órgão ou parte do corpo é o local afetado.
Segundo ele, a "alma racional" é dividida em duas partes:
externa e interna.
No Período da Antiguidade
e Idade Média:

• - As populações eram reduzidas e com curta


duração média de vida;
• - O trabalho agrícola era de subsistência
como o artesanato para consumo ou troca;
• - Respeitava-se o tempo e o ritmo psíquico
de cada um.
Na Idade Média:

• - Doente preso numa rede se


significações religiosas
(possessão) – o “pecado” era
de natureza religiosa e moral;

• - Necessidade de um olhar
objetivo para descobrir a
deteriorização da natureza,
onde até então se decifravam
apenas perversões
sobrenaturais.
Século XV – Renascimento

• Ao fim do século XV, na Europa, com o advento


da manufatura inicial e a divisão social do
trabalho ocorreu a ruptura da ordem feudal e a
emergência do capitalismo mercantil com a
urbanização maciça e a industrialização, o que
resultou em:

• - Aumento de desocupados, mendigos,


vagabundos;
• - Escassez de mão-de-obra.
• Desorganização social e crise econômica na Europa pelas
mudanças estabelecidas nos modos de produção – o
mundo da loucura torna-se o mundo da exclusão – criam-
se em toda a Europa, primeiro na Espanha (Saragossa),
Meados do depois na Itália, estabelecimentos para internação, as casas
de correção, casas de internamento chamados hospitais
século XVII gerais, não só dos loucos, mas de toda série de indivíduos
(inválidos, pobres, velhos na miséria, mendigos, portadores
de doenças venéreas, libertinos, pessoas a quem a família
ou o poder real queria evitar castigo público – todos
aqueles que, em relação à ordem da razão, da moral e da
sociedade, dão mostra de “alteração”.
Meados do
século XVII • Não tinham função curativa. Possuíam estrutura semijurídica
(decide/julga/executa). O objetivo era limpar as cidades dos
mendigos, prover trabalho para os desocupados, punir a
ociosidade, reeducar para a moralidade, mediante instrução
religiosa e moral.
• A partir do meio do século XVIII, com as
idéias do Iluminismo, os princípios da
revolução Francesa (nova ordem social e a
industrialização), e a declaração dos direitos
do homem nos Estados Unidos – iniciam-se
os primeiros movimentos de denúncias
contra as internações liberando-se todos os
outros indivíduos, exceto os loucos; estes
permaneceram herdeiros naturais do
internamento e da exclusão.
• Os “Reformadores” da
Revolução Francesa delegaram a
Phillipe Pinel (1745-1826) a

Phillipe Pinel tarefa de humanizar e dar


sentido terapêutico aos
hospitais gerais, onde os loucos
encontravam-se recolhidos junto
com outros marginalizados da
sociedade. Mesmo quando
reformadores médicos bem
intencionados, tais como Phillipe
Pinel, conseguiram amenizar em
parte as aterrorizantes
condições existentes nos asilos
para loucos, ainda não existiam
tratamentos de rotina realmente
efetivos no começo do século
XXI.
O isolamento era definido como algo terapêutico
e indispensável.

• Philippe Pinel na França, Samuel Tuke na Inglaterra, entre outros, serão os


protagonistas de um movimento de reforma para separar os loucos dos seus
colegas de infortúnio passariam a receber cuidado psiquiátrico sistematizado –
tratamento moral – utilização conveniente da disciplina. Assim surge a Psiquiatria,
passando o louco a ser visto como um doente.

• Ocupava-se o espírito e o corpo, em lugares – os asilos – onde os pacientes


ficavam isolados da sociedade e o cérebro “em repouso”, longe das impressões
irritantes, dos distúrbios, reprimindo a vividez, moderando a exaltação de idéias –
tratamento alienista, moral.
• O internamento torna-se medida de
caráter médico. Substitui-se a violência
franca pela violência velada da ameaça e
das privações. Pinel transforma o asilo
numa espécie de instância perpétua de
julgamento; o louco tinha que ser vigiado
nos seus gestos contradito no seu delírio,
ridicularizado nos seus erros: a sanção
tinha que seguir uma conduta normal sob
a direção do médico que estava mais
encarregado de um controle ético do que
de uma intervenção terapêutica.
• Os tratamentos nos séculos
XVII e XVIII consistiam em
submeter o doente a banho
para refrescar seus espíritos;
injetar sangue fresco para
remover sua circulação
perturbada. Pinel e seus
sucessores num contexto
puramente repressivo e moral
retomaram estas técnicas.

• A ducha não mais refrescava,


mas punia; não se aplicava
mais quando o doente estava
“excitado”, mas quando
cometia um erro.
• O asilo fundado na época de Philippe Pinel para o internamento não representava a
“medicalização” de um espaço social de exclusão; mas a confusão no interior de um
regime moral único cujas técnicas tinham algumas, um caráter de precaução social e
outras um caráter de estratégica médica.
A loucura se torna verdade médica.

• A cura significava reinculcar-lhe sentimentos de dependência, humildade, culpa,


reconhecimento que são a armadura moral da vida familiar. Meios para conseguilos:
ameaças, castigos, privações alimentares, humilhações, tudo o que poderá ao mesmo
tempo infantilizar e culpabilizar o louco.
• Neste mundo moral que castiga, a loucura tornou-se um fato que concerne
essencialmente à alma humana, sua culpa e liberdade; ela inscreve-se na dimensão da
interioridade e pela primeira vez no mundo ocidental, a loucura recebe status, estrutura e
significação psicológicos.
• A loucura é separada do desatino e adquire o status de doença mental, tornandose objeto
de um novo saber, surgido da prática do poder, ou da internação : a Psiquiatria.
Período Colonial – No Brasil
Período Colonial – No Brasil
• Durante o período Colonial, a assistência médica e hospitalar dependia,
Período sobretudo das irmandades religiosas – Santa Casas de Misericórdia que
funcionavam como albergues para os pobres, órfãos, inválidos e,

Colonial – obviamente, loucos. No Rio de Janeiro, foi fundado em 1567 o Hospital da


Santa Casa de Misericórdia.
• Séculos XVI e XVII – famílias mais abastadas escondiam seus doentes em
No Brasil casa, em quartos próprios ou em construções anexas.
• No final do século XVIII – existiam grandes propriedades rurais que eram
auto-suficientes na produção doméstica de seus implementos agrícolas –
mão-de-obra escrava. O escravo restringe o espaço ao trabalho livre para o
homem livre. A atividade laborativa para os mestiços, mulatos e mesmos
os brancos era considerado indigna
• As Santas Casas de Misericórdia no Brasil – amontoavam nos porões
insalubres, sem assistência médica, os loucos como os demais marginais,
entregues a guardas e carcereiros, seus delírios e agitações reprimidos por
espancamentos ou contenção.
HOSPITAL NACIONAL
DOS ALIENADOS (1842)
A Psiquiatria surge no
Brasil, com a função • A partir de 1830, um grupo de médicos
de tomar para si a alienistas (criadores da Sociedade de
Medicina do Rio de Janeiro) começou a
normatização social – pressionar para que se construísse um
transformação do hospício para os alienados. Com o apoio do
desviante (o mendigo, Conselho de Império que tinha o intuito de
o louco, o criminoso, celebrar a celebrizar a maioridade do jovem
o pobre em geral) Monarca Pedro II, mais a pressão da
num ser normalizado. sociedade (elite política) e dos médicos
alienistas (elite médica), surgiu à idéia da
criação do hospício Pedro II, que foi criado
no Rio de Janeiro, em 1841.
• O nascente Império Brasileiro, ávido por mostrar-se em
sintonia com a modernidade científica da civilização
européia, busca implementar novas práticas e
instituições. O local era uma chácara na Praia
Vermelha, de propriedade da Santa Casa de
Misericórdia anexa ao Hospital, porém, tinha precárias
condições para o atendimento e funcionamento. O
Brasil pretendia organizar o espaço do hospital
psiquiátrico nos moldes da organização realizada por
Pinel e Esquirol, na França. Assim, em 1842, na
tentativa de atender este projeto, teve início a
construção do Hospital Pedro II e subordina-se sua
administração à Santa Casa de Misericórdia (as irmãs
de caridade eram as diretoras de fato). As obras
duraram de 1842 a 1852.
• Marco do início da atividade psiquiátrica no Brasil –
ano de 1852 – inauguração no Rio de Janeiro, do
Hospício de Pedro II, no bairro da Praia Vermelha, com
capacidade para 350 pacientes.
• O Diretor Geral da Instituição, Dr. João Carlos Teixeira Brandão, em 1887 dispensou as Irmãs
de Caridade, até então responsáveis pelo serviço de enfermagem e pela administração
interna do hospício, pois eram acusadas de colaborar e acobertar os maus tratos sofridos
pelos doentes por parte dos guardas.

• Com a saída das Irmãs, existiu uma carência de pessoas disponível para realizar as atividades
de cuidado e administração da assistência e da Instituição de uma forma geral, levando os
médicos a organizarem uma escola para formação de pessoal de enfermagem para atuar no
espaço deixado pelas Irmãs e preparar os guardas e serviçais do hospício para uma atividade
profissional específica, ainda inexistente no País.
A enfermagem psiquiátrica brasileira surgiu no hospício, para vigiar, controlar e reprimir.

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