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Estudo anatomo-anestesiológico do segmento


lombar (L1 a L6) em cães
Lívia Maria de Souza 1 - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São
ROCHA1,2 Paulo, São Paulo - SP
Flávio MASSONE1,2 2 - Faculdade de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Fundação
de Ensino Octávio Bastos, São João da Boa Vista - SP
Correspondência para:
LÍVIA MARIA DE SOUZA ROCHA
Resumo Palavras-chave:
Faculdade de Madicina Veterinária
Centro Universitário Anestesia.
Fundação de Ensino Octávio Bastos Foram realizadas dissecações seriadas desde as raízes nervosas e suas Cirurgia.
Av. Dr. Octávio da S. Bastos, s/n - Jd. Nova Anatomia.
São João
respectivas inervações viscerais, concernentes ao Sistema Nervoso
13870-000 - São João da Boa Vista, SP, Autônomo, simpático e parassimpático, em cadáveres, a fresco, de
liviarocha@feob.br cães, sem raça definida, de diferentes tamanhos e pesos, ao longo dos
espaços lombossacrais, iniciando-se a dissecação em L1 e finalizando-
Recebido para publicação: 06/05/2004
Aprovado para publicação: 01/06/2005 a em S2. Os aspectos levados em consideração para a análise
morfofuncional destas inervações visaram a orientação para o emprego
da anestesia local espinhal peridural, tão empregada em anestesiologia
veterinária especialmente em se visando pacientes toxêmicos, gestantes
ou de alto risco ao se utilizar esta anestesia efetuada por injeção
utilizando-se agulha de Twoy, através do espaço lombossacral,
manobra esta fácil, mas que conta ainda com certas restrições pela falta
de prática.

Introdução precauções necessárias.


Outro fator importante a ser consi-
Em cirurgia, muitas vezes a derado é muitas vezes o desconhecimento
anestesia se torna um obstáculo para a da distribuição da iner vação e a
realização de atos que, em várias situações repercussão da anestesia dos mesmos
são cruciais para a vida do animal, visto sobre o sistema ner voso simpático e
que, a depressão cardíaca e respiratória parassimpático. Objetiva-se fazer um
causada por anes-tésicos gerais chega a ser estudo anatômico metamérico da coluna
proibitiva para pacientes de alto risco, com lombar e sacral em cães, possibilitando
problemas pré-existentes nestes sistemas, mapear todo o trajeto das raízes nervosas
(idosos ou neonatos e gestantes). envolvidas, bem como suas ramificações
Nestes casos a anestesia peridural e órgãos alvo atingidos.
tem sido uma alternativa para O que se tem obser vado no
procedimentos cirúrgicos caudais ao decorrer destes anos, é que, as anestesias
diafragma, em cães que são classificados locais espinhais peridurais lombossacras,
como pacientes de alto-risco para anestesia têm sido evitadas, não pela falta de
geral. Entretanto, sabe-se que a praticidade, mas sim pelo receio do seu
administração de fármacos no espaço emprego ou mesmo pelo
epidural promove também, algumas desconhecimento anatômico em seus
alterações sistêmicas que podem ser segmentos lombares.
significativas em animais não hígidos, Sabe-se, atualmente que o simples
colocando em risco a segurança da técnica. emprego da anestesia local espinhal
Portanto, o conhecimento acurado da lombossacra, não é suficiente para se
anatomia, histologia e fisiologia do sistema realizarem ovariosalpingohisterectomias,
nervoso neste nível se torna crucial para o ou mesmo cesarianas, pois não ocorre a
uso da técnica com toda a segurança e anestesia no ligamento lienovárico, o que

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causa dor e desconforto no paciente, pois as inervações, usando-as, assim como


esta anestesia não atinge metâmeros mais ponto referencial para a dissecação e
craniais. identificação das estruturas desejadas. Este
O estudo anatômico desta região se animal foi então imerso em formol a 10%,
faz necessário, pois, orientará de forma por três dias, e, após esse período,
mais segura o anestesista através da submetido a conge-lamento, nos mesmos
introdução de cateter no espaço peridural moldes dos nove animais citados
via lombos-sacra, permitindo menor risco anteriormente.
para o paciente, com maior efetividade Em todos os animais, foi feita a
anestésica. secção em plano transversal, entre T12 e
Esta justificativa permite objetivar T13, seguida de secção em plano mediano,
este trabalho no sentido de se estudarem, através da coluna vertebral lombar e
anatomicamente, a distribuição nervosa sacral, divi-dindo-os em duas metades
das raízes eferentes de três segmentos iguais. (Figura 1).
definidos (L 1, L 3 e L 6) buscando-se no Após o descongelamento da peça,
futuro o aspecto anestesiológico. efetuava-se a dissecação das raízes dorsais
e ventrais, seus respectivos troncos
Materiais e Métodos espinhais, bem como seus ramos anteriores
e posteriores, em L1, L3 e L6, buscando-se
Foram utilizados 10 cães evidenciar os principais troncos nervosos
anestesiados com pentobarbital sódico na até a sua terceira ramificação.
dose de 30 mg/kg (Hypnol – Cristália
Produtos Químicos e Farmacêuticos ), Resultados, Discussão e
provindos do final da aula prática de Conclusões
Técnica Cirúrgica da Faculdade de
Medicina Veterinária da UNIFEOB de São Os resultados obtidos com a
João da Boa Vista – SP. Os animais dissecação seriada das inervações lombares
selecionados eram machos ou fêmeas dos segmentos L 1 , L 3 e L 6 podem ser
pesando entre oito e quinze quilos. observados a partir da figura 1 onde se
Estes animais foram tratados com nota que a peça havia sido fixada em
uma sobredose de pentobarbital sódico formol a 10%, injetada com látex 600 e
na dose de 70 mg/kg (Hypnol – Cristália congelada, para posterior mente ser
Produtos Químicos e Farmacêuticos ) até seccionada de acordo com a metodologia
que se constatou o choque bulbar. Nove preconizada.
destes animais foram então, envolvidos em A partir da dissecação na região de
embalagem plástica, e submetidos ao L1 observou-se: – saída direta do nervo
congelamento rápido em decúbito lateral esplâncnico menor, para formar o tronco
mantendo a coluna dorsal reta. Em um esplâncnico lombar do sistema nervoso
dos animais efetuou-se a lavagem do autônomo, que através do plexo
circuito vascular com solução fisiológica mesentérico cranial, supre intestinos
ligeiramente aquecida (aproxima-damente delgado e grosso e ceco; e através do
38°C, e infusão de for mol a 10%, plexo aórtico (interme-sentérico) supre
infundindo-se seqüencialmente, látex 650 gânglio mesentérico caudal e plexo pélvico;
(Látex 600 - Látex do Brasil) colorido em como se observa na figura 8; – inervação
vermelho através da carótida cervical, e do gânglio celíaco mesentérico cranial
látex 650 (Látex 600 - Látex do Brasil) direito, que através do plexo hepático supre
colorido em azul através da veia jugular, pâncreas, duodeno, estômago, ducto
com o intuito de se atingir as artérias e cístico, fígado, ducto biliar; – inervação do
veias que, normalmente acompanhavam plexo esplênico que, através do gânglio

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celíaco esquerdo, supre baço, pâncreas e alvo e glândulas abdominais. (Figura 4).
curvatura maior do estômago; – inervação Na literatura consultada, poucos
da cadeia ganglionar celíaca que, através autores 1,2,3,4,5,6,7,8,9 descreveram o aspecto
do plexo gástrico esquerdo supre a anatômico das fibras autonômicas, quanto
cur vatura menor região do cárdia e aos seus locais de origem e seus trajetos
fúndica gástricas; e através do plexo até órgãos alvo, pois descreveram apenas
mesentérico cranial, passando pelo gânglio o aspecto funcional, que também reveste-
mesentérico cranial, supre intestinos se de importância, para atingir o objetivo
delgado e grosso e ceco; – inervação da proposto. No entanto, o aspecto
cadeia ganglionar adrenal, que, através do anatômico se torna imprescindível como
plexo frênico abdominal, supre o cita Dyce, Sock e Wensiwg1 “os trajetos
diafragma e parte do peritônio abdominal dos troncos periféricos principais devem
(Figura 2); e, através do plexo adrenal se reconhecidos para evitar riscos
supre a glândula adrenal; inervação da desnecessários durante cirurgias e
cadeia ganglionar aórtico-renal e renal, que, protocolos anestésicos”.
através do plexo renal, supre os rins; O nervo esplâncnico maior torácico
iner vação do plexo aór tico, gânglio se insinua na cavidade abdominal no nível
gonadal e nervo esplâncnico lombar, que, de T13, de acordo com Stromberg2 o que
nos machos, através do plexo espermático foi achado em todos os animais dissecados.
interno supre testículos e epidídimo; e, nas Por outro lado, também encontraram-se
fêmeas, através do plexo útero-ovariano resultados semelhantes aos de Stromberg2,
supre ovários, ovidutos e útero (Figuras 5 pois em todas as peças os ner vos
e 8); e, ainda, através do plexo mesentérico esplâncnicos menores, deixaram o tronco
caudal supre nervos hipogástricos, cólon simpático caudalmente ao ner vo
distal esquerdo, reto e plexo pélvico esplâncnico maior, que nesta altura emitia
(Figuras 2 e 8); – saída do nervo íleo- filamentos para a aorta e glândula adrenal
hipogástrico cranial. (Figuras 6 e 7). e também vários ramos ao plexo
Já a partir de L3 o que se observou celíacomesenterico. (Figura 2).
foi: saída direta de nervo esplâncnico Após a ramificação deste plexo, já
maior, para formar o tronco esplâncnico na região abdominal, o ramo simpático
caudal do sistema nervoso autônomo, que diminuía o tamanho de suas fibras, mas
através do plexo mesentérico caudal supre logo se tornava maior em diâmetro para
ner vos hipogástricos, cólon distal seguir em direção caudal, aspecto já citado
esquerdo, reto e plexo pélvico; saída do por Stromberg 3.
nervo íleo-hipogástrico caudal; – saída do Quanto aos nervos esplâncnicos
nervo íleo-inguinal (Figuras 6 e 7); saída lombares, nesta pesquisa nenhum deles se
direta de nervo esplâncnico menor, para apresentou duplo2,3.
formar o tronco esplâncnico do sistema Concordando com Goshal 3 o
nervoso autônomo. (Figura. 8). quinto, o sexto e o sétimo ner vos
Em L6 o que se observou foi: saída esplâncnicos lombares dirigiam-se
de inervação originando nervo femoral e diretamente para o plexo mesentérico,
nervo obturador (Figura 6); saída direta emitindo fibras para o plexo mesentérico
de nervo esplâncnico menor, para formar caudal e para os nervos hipogástricos.
o tronco esplâncnico do sistema nervoso Quanto aos gânglios e plexos
autônomo. (Figuras 3 e 8). abdominais, os aspectos anatômicos
Foi encontrado ainda que todas as encontrados e que, estão de acordo com
fibras nervosas se apresentam emergindo a citação de Goshal3 foram os seguintes:
de suas raízes ventrais correspondentes o plexo adrenal possui uma rede adiposa
para atingir e travar sinapses em tecidos densa envolvendo glândula adrenal e

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contendo suas fibras e os gânglios adrenais, celulares das raízes ganglionares tóraco-
distribuídos por todo o plexo e recebendo lombar dorsais, alcançando o tronco
fibras do nervo esplâncnico maior e dos simpático via ramo comunicante branco,
nervos esplâncnicos menores; o plexo percorrendo o tronco e alcançando
celíacomesenterico como uma rede ao vísceras através dos nervos esplâncnicos,
redor das origens da artéria celíaca e fato este também obser vado nesta
mesentérica cranial, contendo o gânglio pesquisa.
celíaco e o mesentérico cranial, recebendo Mullingan apud Stronberg10 cita que
contribuições do nervo esplâncnico maior, as fibras simpáticas terminam entre as
menores e dos primeiros três nervos fibras de colágeno, que envolvem os
esplâncnicos lombares, fato este que ligamentos abdominais no cão (p.e.
encontra respaldo nas citações de ligamento lienovárico), opinião que condiz
Stromberg3 e observado na figura 2. com os achados nas dissecações efetuadas,
Os gânglios aórtico-renais se onde estas fibras alcançaram, em todas as
apresen-taram intimamente ligados ao dissecações, diretamente a maioria destes
plexo celíacomesenterico, derivando, na ligamentos. (Figura 5).
maioria das vezes, de fibras do nervo Quanto ao número exato dos
esplâncnico maior, e do primeiro nervo nervos espinhais lombares, no cão, os
esplâncnico lombar; o plexo mesentérico resultados obtidos, estão de acordo com
caudal origina-se da artéria mesentérica os citados Goshal 3 , pois estes são em
caudal, continuando, caudalmente, sem se número de sete pares, e, no que diz
interromper e ligando-se com o plexo respeito às suas divisões, sempre foram
pélvico, plexo este, que, talvez seja o encontrados os dois ramos citados na
mesmo mencionado por Sanson e Reddy4 literatura consultada, ou seja, o ramo
quando diziam que o nervo pélvico se ventral e o ramo dorsal, sendo que os
expande em um “plexo” que também ramos dorsais se apresentaram bem mais
recebe o nervo hipogástrico. (Figura 3). delgados, conforme o citado também por
Os ramos viscerais seguem um trajeto Kitchel e Evans8 e por Dyce1. (Figura 6).
análogo aos ramos da artéria mesentérica O tronco principal de cada nervo
caudal, para a distribuição periférica. espinhal lombar, apresentou, na maioria
Concordando, em parte, com o que das peças dissecadas, conexão com o
descrevem os autores acima, obteve-se na tronco de nervos esplâncnicos lombares
dissecação a confirmação de Kitchell5 que (simpático). Estas conexões foram citadas
para alcançar o leito vascular, as fibras pós- por Kitchel e Evans8 e chamadas por eles
ganglionares pegam “carona” no leito de ramos comunicantes que podem ir para
vascular, pois, na maioria das vezes, estas um mesmo gânglio, o que ocor reu,
fibras se apresentaram “correndo” também, em várias das peças dissecadas.
juntamente aos vasos de maior Observou-se ainda que, os ramos
importância na região estudada. ventrais dos quatro últimos ner vos
Foram ainda encontrados resultados lombares, acabam se unindo para formar
semelhantes aos descritos por Chrisman7, o plexo lombar, como o descrito pela
pois fibras ner vosas se apresentaram maioria dos autores1,2,3,5,8.
saindo de suas raízes ventrais O nervo íleo-hipogástrico cranial
correspondentes para atingir e travar emerge, ventralmente de L 1,
sinapses em tecidos alvo e glândulas invariavelmente, representando, então o
abdominais conforme as figuras. (Figura primeiro par dos ner vos lombares,
4). conforme citado por Goshal3. O mesmo
Benson et al.6 e Dyce1 descreveram fato ocorreu com a dissecação e
os processos periféricos dos corpos identificação do nervo íleo-hipogástrico

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Figura 1 – Peça anatômica, previamente preparada, pronta para o início da dissecação

Figura 2 – Nervos esplâncnico lombares(A), saindo de L1 e L3, deixando tronco simpático caudalmente ao nervo esplâncnico maior, e emitindo
filamentos para a aorta(B), glândula adrenal(C) e plexo celíaco mesentérico (D)

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Figura 3 – Aspecto morfológico do plexo mesentérico caudal (A) se originando da artéria mesentérica caudal(B) e
ligando-se ao plexo pélvico(C)

Figura 4 – Fibras nervosas emergindo de suas raízes ventrais (A) atingindo e travando sinapses em tecidos alvo (B) e glândulas abdominais(C)

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Figura 5 – Fibras nervosas emergentes de L1(A) e L3 (B) se insinuando entre os ligamentos abdominais(C), destacando-se os ligamentos ovarianos e
uterinos em uma fêmea (D)

Figura 6 – Aspecto geral dos nervos espinhais lombares destacando-se nervo íleo-hipogástrico cranial(A), íleo-hipogástrico caudal(B), íleo-inguinal(C),
cutâneo femoral lateral(D), femoral(E) e obturador (F)

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Figura 7 – Saída do nervo íleo-hipogástrico cranial de L1 (A), nervo íleo-hipogástrico caudal de L3 (B) formando os dois primeiros pares de nervos
lombares

Figura 8 – Vista geral do tronco esplâncnico lombar do SNA e seus respectivos ramos (A), e plexos alvo (B)

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caudal, que se mostrou, invariavelmente deste tipo de anestesia promoveria


saindo de L3. (Figura 7). analgesia para “alguns” procedimentos
Comparado com a afirmativa de cirúrgicos ortopédicos em ossos longos.
DeLahunta9 de que os nervos lombares Os resultados confir mam a
três, quatro e cinco contribuem para a preocupação de Intelelizano14 quanto aos
formação do nervo femoral, observou- efeitos deletérios e complicações da técnica
se, apenas com o quarto e quinto nervos epidural, visto a intimidade do nervo vago
lombares, não se encontrando evidência e tronco simpático torácico com as
de contribuição do nervo lombar três para estruturas encontradas e identificadas na
formar o nervo femoral. Por outro lado, dissecação.
confirmou-se o citado do autor quanto Por outro lado, Massone15 cita que
ao nervo genito-femoral saindo de L3 e a anestesia local peridural espinhal lombo-
L4; e nervo obturador de L4, L5 e L6, fato sacra em cadelas, não é suficiente para se
que concorda com afirmações de Kitchel efetuar uma ovariosalpingohisterectomia,
e Evans 8 e Goshal 3 que citam o nervo pois, ao se pinçar o ligamento lienovárico
obturador surgindo do quinto e sexto o animal sente dor, fato este comprovado
espaços intervertebrais lombares. nesta pesquisa, pois está inervação depende
Os achados do nervo íleo-inguinal da aferência de L1 conforme se observa
foram compatíveis com os descritos por na figura 8, e confir ma a citação de
Kitchel e Evans8 e por Goshal 3, pois o Mullingan apud Stronberg10.
ner vo em questão foi encontrado O que mais chama a atenção é de
emergindo de L3 e emitindo seus ramos que a distribuição nervosa observada no
ventrais e mediais, e se comunicando com organograma na página 60 mostra
o quarto nervo lombar. Os achados foram exatamente as estruturas nervosas que
compatíveis também com estes autores, podem ser bloqueadas através de uma
pois o nervo genito-femoral sempre se anestesia local lombo-sacra espinhal
apresentou como um ramo em separado peridural contínua, evitando assim,
do nervo femoral, surgindo sempre, do possíveis desconfortos (dor), para o
quarto espaço intervertebral. Por sua vez, animal durante o ato cirúrgico.
o nervo femoral, se apresentou sempre Frente aos resultados obtidos, na
surgindo do quinto espaço intervertebral, dissecação da iner vação lombar
fato que confir ma as afir mativas de observada, conclui-se que:
Bailey 11 em seu experimento, que Em L1 as emergências nervosas são:
encontrou o mesmo achado em cinco do - ner vo esplâncnico lombar,
total de 11 cães. contribuindo para for mar o tronco
Schimidt et al. 12 afir ma que “a esplâncnico lombar do sistema nervoso
anestesia epidural promove completa autônomo, que, através do plexo
analgesia e relaxamento muscular da mesentérico cranial supre intestino delgado,
metade posterior do corpo permitindo ceco e intestino grosso; através do plexo
procedi-mentos cirúrgicos caudais ao inter mesentérico supre gânglio
diafragma”. Quanto a esta afirmação, vale mesentérico caudal e plexo pélvico, e,
ressaltar que, com os resultados obtidos, através do gânglio celíacomesenterico
anatomicamente nem todas as estruturas cranial direito, passando pelo plexo
caudais ao diafragma teriam analgesia. hepático supre pâncreas, duodeno,
Esta afirmação, em verdade, estaria ligada estômago e fígado; através do gânglio
diretamente ao segmento lombar onde o celíaco esquerdo supre baço, pâncreas e
agente anestésico local seria depositado. estômago; através do plexo adrenal supre
Por outro lado, esses resultados apóiam a diafragma e parte do peritônio abdominal,
afirmação de Jones13 que com a indicação glândula adrenal, ovários, ovidutos e útero.

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- nervo íleo-hipogástrico cranial. Em L6 as emergências nervosas são:


Em L3 as emergências nervosas são: ner vo esplâncnico lombar,
- ner vo esplâncnico lombar, contribuindo para for mar o tronco
contribuindo para for mar o tronco esplâncnico lombar do sistema nervoso
esplâncnico lombar do sistema nervoso autônomo;
autônomo, que, através do plexo emergência do nervo obturador
mesentérico caudal supre ner vos Existe interligação entre as
hipogástricos, cólon distal esquerdo, reto emergências nervosas de L4, L5, L6 e L 7
e plexo pélvico; para a formação do plexo lombo-sacro
nervo hipogástrico caudal; que supre todas as estruturas músculo-
nervo íleo-inguinal. esqueléticas do membro posterior.

Anatomo-anesthaesiological study of the lumbar segment in dogs

Abstract Key-words:
Anesthesia
Serial dissections were accomplished from the nervous roots and Surgery
Anatomy.
their respective visceral innervations, concerning to the Autonomous
Nervous System, sympathetic and parasympathetic, in corpses, fresh
dog, without defined race, of different sizes and weights, along the
lumbossacral spaces, beginning the dissection in L-1 and concluding
this, in S-2. The aspects taken into account for the morfofunctional
analysis of these innervations to certify the orientation to apply the
local spinal peridural anesthesia, that so help in veterinary
anesthesiology, especially in toxemic, pregnant or high risk patients,
when the use of this anesthesia, made by injection using Twoy needles,
through the lumbossacral space, an easy procedure, but there are
restrictions still because the lack of practice.

Referências 6 BENSON, J.G; THURMON, J. C.; TRANQUILI, W.


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