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Bloqueio paravertebral do plexo braquial para amputação de membro torácico


em cão-Relato de caso

Article · January 2007

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Roberto Thiesen
Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
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Bloqueio paravertebral do plexo braquial
para amputação de membro torácico em
cão - Relato de caso
Roberto Thiesen
Mestre em Cirurgia Veterinária - UNESP
Professor do Centro Universitário Anhanguera - Unidade Leme
e-mail: betothiesen@hotmail.com

Resumo Abstract

O uso da anestesia regional em pequenos animais cresce The use of the regional anesthesia in small animals grows
a cada dia. Dentre elas, o bloqueio do plexo braquial é muito to each day. Amongst them, the brachial plexus block is very
utilizado quando se deseja dessensibilização do membro used when desensitization of the thoracic member is desired
torácico (MT). Várias técnicas foram descritas, porém não (TM). Several techniques had been described, however they
promovem analgesia do MT por inteiro. Um cão foi anestesiado do not promote analgesia of entirely TM. A dog was
para cirurgia de amputação de MT direito e o bloqueio anesthetized for amputation of right TM and paravertebral
paravertebral do plexo braquial foi realizado utilizando-se como block of brachial plexus was performed using the transverse
pontos de referência o processo transverso de C6 e a primeira process of C6 and the first rib as landmarks. In the predetermined
costela. Nos locais predeterminados foi injetado lidocaína 2%, places, lidocaine 2% was injected, blocking in this way, nervous
bloqueando desta maneira, as raízes nervosas formadoras do that form the plexus. During the surgery, the animal remained
plexo. Durante o trans-operatório o animal permaneceu com as with cardiac and respiratory rate steady, as well as medium
freqüências cardíacas e respiratórias estáveis, assim como a arterial pressure, suggesting that the block has been carried
pressão arterial média, sugerindo que o bloqueio tenha sido through in correct way. It was concluded that this type of block
realizado de maneira correta. Concluiu-se que este tipo de is of medium difficulty of accomplishment and is useful and
bloqueio é de média dificuldade de realização e útil e eficaz em effective in directly provide analgesia at the surgery local.
promover analgesia diretamente no local da cirurgia.
Key-words: brachial plexus, dog, anesthesia, lidocaine.
Palavras-chave: plexo braquial, cão, anestesia, lidocaína

Revisão de literatura se originam os nervos musculocutâneo, ulnar, mediano e


radial, que inervam todo o membro (KITCHELL &
A anestesia regional em pequenos animais está EVANS, 1993).
sendo muito utilizada nos dias de hoje como forma de Para realizar este bloqueio, diferentes técnicas já
promover analgesia diretamente no local da cirurgia e, foram descritas. Tufvesson (1951) utilizou 10mL de
dessa maneira, contribuir na diminuição do requerimento lidocaína a 2% através da inserção da agulha na direção
anestésico geral e de analgésicos sistêmicos no pós- caudal entre a parede lateral do tórax e o músculo
operatório. subescapular, tendo por referência a articulação escapulo-
Dentre as técnicas empregadas, o bloqueio do umeral. Com esta técnica, Nutt (1962) produziu
plexo braquial é utilizado quando se objetiva a anestesia na região distal ao cotovelo, sendo insignificante
dessensibilização das estruturas que compõe os membros a analgesia provida a úmero, ombro e escápula.
torácicos. No cão, este plexo é formado pelos ramos Mais recentemente, Futema et al. (1999)
ventrais dos sexto, sétimo e oitavo nervos cervicais e descreveram a utilização e a viabilidade do emprego do
também pelo primeiro e segundo nervos torácicos. Deles estimulador de nervos para a realização deste bloqueio
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em cães. A técnica consta da palpação do pulso da artéria
axilar e da inserção da agulha do estimulador lateralmente
a artéria, pois os nervos estão ao redor da mesma. Após
a correta localização do plexo, os autores injetaram
bupivacaína, obtendo a dessensibilização de toda a área
abaixo da articulação escapulo-umeral com um índice
de 90% de sucesso.
Porém quando se necessita de um bloqueio mais
alto, como no caso de amputações de membro torácico,
as duas técnicas descritas não são as mais adequadas,
pois não promovem analgesia na região escapular, onde
se encontram os nervos que originam o plexo braquial.
Nestes casos, pode-se optar pelo bloqueio paravertebral
destes nervos, promovendo desta maneira analgesia
adequada para procedimentos que envolvam a região
da escápula. Para a realização da técnica, Hofmeister et
al. (2007) determinaram alguns pontos anatômicos como meperidina por via intramuscular (IM), o qual
referências para a correta introdução das agulhas e proporcionou um leve grau de sedação e conforto ao
deposição do anestésico. Os pontos utilizados foram: paciente, devido as propriedades analgésicas deste
processo transverso da sexta vértebra cervical e a fármaco, o qual é um representante da classe dos
primeira costela, sendo a injeção do anestésico feita hipnoanalgésicos, ou opióides (MASSONE, 1999). Foi
cranial e caudalmente a estas estruturas. realizada então, a tricotomia do campo cirúrgico. Após
este procedimento, fez-se a indução à anestesia, sendo
Descrição do caso utilizado para tal, a associação de cetamina e midazolam
(5 e 0,2 mg/kg respectivamente) por via IV. Esta
Aos vinte e cinco dias do mês de abril de 2007, associação não causa queda da pressão arterial, o que
no Hospital Vetarinário do Centro Universitário era desejado, pois o animal já apresentava um quadro
Anhanguera, campus de Leme, foi atendido junto ao setor de hipovolemia por hemorragia. A cetamina, um derivado
de clínica de pequenos animais, um animal da espécie da fenciclidina, possui atividade simpatomimética, o que
canina, fêmea, idade aproximada de dez meses, pesando contribui para o aumento da freqüência cardíaca e
6,350 kg, que havia sido atropelado no dia anterior. O manutenção do débito cardíaco (MASSONE, 1999).
paciente apresentava o membro torácico direito Em seguida o paciente foi intubado e a manutenção da
dilacerado, com fraturas múltiplas e expostas, sendo até anestesia feita com halotano, diluído em 100% de
mesmo difícil a identificação das estruturas mais distais oxigênio por meio de circuito sem reinalação de gases
(Figura 1). Ao exame clínico mostrou-se deprimido e (Baraka). O animal foi posicionado em decúbito lateral
com sinais de hipovolemia, como tempo de esquerdo sobre colchão térmico e a área a ser bloqueada
preenchimento capilar (TPC) de três segundos, foi preparada com técnica asséptica.
taquicardia e mucosas pálidas, devido a perda sanguínea Para o bloqueio do plexo braquial foi utilizada a
no trauma. lidocaína 2% sem vasoconstritor na dose de 7mg/kg. O
Foi decidido juntamente com o proprietário, pela volume de anestésico foi diluído em NaCl 0,9% até
realização de cirurgia para amputação do membro completar 10mL, sendo injetado 2,5mL em cada local
afetado, pois sua recuperação foi descartada. Antes do de injeção. Utilizou-se agulha hipodérmica 30x8 para a
animal ser submetido à anestesia, realizou-se tratamento infiltração do anestésico. A técnica foi realizada utilizando-
para restabelecimento da volemia, com solução de se como pontos de referência para posicionamento da
cloreto de sódio (NaCl) 7,5% na dose de 4mL/kg por agulha, os descritos por Hofmeister et al. (2007).
via intravenosa (IV) seguido da infusão de solução de Os dois primeiros pontos de aplicação foram
NaCl 0,9% na taxa de 20mL/kg/h. Iniciou-se também determinados palpando-se o processo tranverso da sexta
terapia antimicrobiana com 5mg/kg de enrofloxacina via vértebra cervical. A agulha foi inserida cranial e
IV, objetivando diminuir a proliferação bacteriana pelo caudalmente a este processo a uma distância de três
organismo. centímetros lateralmente a linha média dorsal do animal,
O animal foi pré-medicado com 3 mg/kg de num ângulo de 45º em relação à coluna vertebral, sendo
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então injetado o anestésico. A localização dos outros minuto (rpm), SpO2 de 99% e PAM 60mmHg. Após
dois pontos de injeção foi feita palpando-se a primeira esse período, iniciou-se a infusão de fentanil como já
costela o mais dorsal possível, sendo a agulha inserida descrito, e as médias registradas até o final da cirurgia
respeitando-se as delimitações descritas anteriormente, foram: FC 135bpm, FR 12rpm e PAM 50mmHg. A
com a diferença de que no ultimo local, a inserção da SpO2 permaneceu em 99%. A diminuição dos valores
agulha foi feita num ângulo de 90° (Figura 2). Com essas das variáveis hemodinâmicas citadas ocorreu devido ao
direções, objetivou-se a colocação da ponta da agulha fentanil causar depressão cardiovascular mínima e pouca
e deposição do anestésico no nível do forame hipotensão. A redução da FR foi resultante da diminuição
intervertebral. na responsividade do centro respiratório do tronco
Valores de freqüência cardíaca (FC) e freqüência cerebral às concentrações de dióxido de carbono no
respiratória (FR) foram aferidos e registrados. Realizou- sangue arterial (PaCO2) segundo Wagner (2002).
se também a monitorização da saturação da A técnica de bloqueio paravertebral do plexo
oxihemoglobina no sangue arterial (SpO2) por meio de braquial mostrou-se de média dificuldade quanto a sua
oximetria de pulso e ainda da pressão arterial média execução, sendo que o último local de injeção foi tido
(PAM) invasiva, sendo os dados deste parâmetro obtidos como o mais difícil de ser acessado, devido ao seu
em manômetro aneróide conectado a um cateter posicionamento encontrar-se exatamente abaixo da
posicionado no interior da artéria podal dorsal esquerda escápula. Quanto ao sucesso do bloqueio, não há como
do paciente. Todos os dados foram registrados em se ter certeza de que a deposição do anestésico foi feita
intervalos de 10 minutos até o término do procedimento. nos locais corretos, pois foi uma técnica realizada às
Após uma hora da realização do bloqueio, foi feito cegas, sem utilização de um localizador de nervos
um bolus de fentanil (2µg/kg IV) e iniciada a infusão periféricos. Porém, a estabilidade do paciente no período
contínua do fármaco (0,2µg/kg/min IV), em virtude do em que estava sob ação analgésica da lidocaína sugere
tempo de ação da lidocaína utilizada no bloqueio ser de que o bloqueio tenha sido executado de maneira
aproximadamente uma hora. Este fármaco foi escolhido satisfatória. Outro fator que aumentam estas especulações
por possuir rápido início de ação e potencial analgésico é de que imediatamente antes da aplicação do fentanil,
cerca de 100 vezes maior do que a morfina (FANTONI os parâmetros monitorizados tiveram um aumento,
& CORTOPASSI, 2002). novamente sugerindo de que a ação analgésica da
lidocaína estava cessando e o animal estava começando
a sentir a manipulação no foco cirúrgico. No pós-
operatório imediato foi realizada a aplicação de
meperidina 2mg/kg por via intradérmica e cetoprofeno
1mg/kg por via subcutânea.
O retorno do paciente da anestesia foi marcado
por um pouco de vocalização, que cessou quando o
mesmo apresentava-se mais desperto. Não foram
notadas outras alterações quanto da recuperação
anestésica. A retirada dos pontos da cirurgia foi feito
com 10 dias de pós-operatório e o animal apresentava-
se sadio, alerta e já adaptado a sua nova condição física.
Conclui-se que o bloqueio paravertebral do plexo
braquial é uma técnica útil e eficaz em fornecer analgesia
diretamente no local da cirurgia para procedimentos que
envolvem as regiões mais proximais do membro anterior,
contribuindo também na diminuição do requerimento
Discussão e conclusão anestésico e na quantidade de analgésicos no pós-
operatório.
O trans-operatório desta cirurgia ocorreu sem
nenhum problema, sendo o tempo cirúrgico total de 130 Referências Bibliográficas
minutos. Durante o período inicial (primeiros 60 minutos),
o animal apresentou valores médios para FC de 150 FANTONI, D. T., CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia
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Recebido em 26 de junho de 2007 e aprovado em


23 de julho de 2007.

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