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Editado por: Dr. Kim Russon, Consultor Anestésico, Hospital Rotherham, Reino
Unido
● PONTOS CHAVE
● ● O bloqueio supraclavicular guiado por ultrassom é seguro e eficaz para cirurgia distal ao ombro.
● ● A sonda de ultra-som deve ser manipulada em diferentes ângulos para garantir uma imagem ideal da artéria
subclávia, do plexo braquial, da primeira costela e da pleura.
● ● Esteja preparado para abandonar esta abordagem por uma alternativa devido aos ramos arteriais sobrepostos.
● ● O volume típico de anestésico local requerido é de 20 a 30 mL.
● ● O nervo intercostobraquial (de T2) geralmente não é afetado, mas pode ser bloqueado por uma injeção
subcutânea adicional.
INTRODUCÃO
Os bloqueios do plexo braquial são comumente alcançados por meio de uma abordagem interescalênica, supraclavicular,
infraclavicular ou axilar. O nível supraclavicular é um local ideal para se conseguir a anestesia de toda a extremidade
superior imediatamente distal ao ombro, já que o plexo permanece relativamente compactado neste nível, resultando em
um bloqueio rápido e de alta qualidade. Por esse motivo, o bloqueio clavicular é geralmente chamado de “espinhal do
braço”.
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Kulenkampf descreveu o primeiro bloqueio supraclavicular percutâneo do plexo braquial no início do século XX. Contudo, a
técnica original estava relacionada a uma alta incidência de pneumotórax. Com a maior disponibilidade do uso da
ultrassonografia na prática clínica, tem-se a capacidade de identificar e evitar estruturas vasculares e pleurais, bem como
de se permitir uma visualização em tempo real da agulha. As evidências para o uso do ultrassom em anestesia regional
estão crescendo, com uma Revisão Cochrane recentemente atualizada sugerindo que tal uso diminui o tempo de execução
do bloqueio, melhora o bloqueio sensor e motor, e reduz a necessidade de suplementação do bloqueio.²
Embora haja evidências de que o uso de ultrassom diminui a incidência de pneumotórax e de toxicidade sistêmica do
anestésico local, não há evidências de que reduza a incidência de lesão nervosa periférica.
ANATOMIA
O plexo braquial é formado pelos ramos ventrais das 4 nervos cervicais inferiores e raízes do primeiro nervo torácico (C5-
C8, T1). V. Figura 1. Esses nervos se alinham para criar troncos, divisões, cordões, e ramos terminais que inervam todo o
membro superior, exceto pelo território suprido pelo nervo intercostobraquial (a partir do T2), que fornece inervação
sensorial para o território medial do braço superior.
● No nível periclavicular, o plexo braquial consiste dos troncos superiores (C5, 6), médio (C7) e inferiores (C8, T1).
● Os troncos curtos e largos logo se separam em divisões anteriores e posteriores.
● Uma bainha fascial compactaengloba o feixe neurovascular que se estende da fáscia cervical profunda até um pouco atrás das
margens da axila.
● Os troncos emergem ao longo da borda externa da primeira costela e ficam empilhados um sobre o outro à medida que
atravessam o sulco interescalênico triangular formado entre os músculos escaleno anterior e escaleno médio.
● Os principais pontos de referências de lateral para medial ao longo da primeira costela são o músculo escaleno médio, o
plexo braquial, a artéria subclávia, o músculo escaleno anterior, e a veia subclávia. V. Figura 2.
Figura 2. Anatomia do plexo braquial demonstrando sua relação com a artéria e a veia subclávias. Observe que o plexo braquial fica lateral à
artéria subclávia, que, por sua vez, fica lateral à veia subclávia. A parte cinza indica a posição da sonda de ultrassom na fossa supraclavicular.
APLICAÇÃO CLÍNICA
A abordagem supraclavicular ao plexo braquial proporciona uma anestesia confiável a todo o braço, mas apenas
ocasionalmente para o território do nervo intercostobraquial. Pode ser usada para procedimentos ortopédicos abaixo do
nível do úmero médio, incluindo cirurgia do cotovelo, antebraço, e mão, bem como para a criação de fístulas arteriovenosas
do nível do braço médio até o antebraço médio.
Tenha cuidado com pacientes com doença pulmonar importante, por causa do risco potencial de comprometimento
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respiratório secundário ao pneumotórax ou bloqueio do nervo frênico, que pode ocorrer em 36% a 67% dos pacientes. De
maneira semelhante, não se deve realizar bloqueios bilaterais.
O nervo intercostobraquial (que deriva do T2 e, portanto, não é parte do plexo braquial) não é frequentemente bloqueado
pela abordagem supraclavicular do plexo braquial. Fornece uma pequena faixa de pela ao longo do aspecto medial do
braço superior. Pode ser bloqueado diretamente infiltrando-se aproximadamente 10 mililitros de anestésico local
administrado subcutaneamente a partir da borda superior do bíceps até a borda inferior do tríceps na linha axilar anterior.
Também pode ser bloqueado diretamente usando orientação ultrassônica. Alguns autores comentaram que isso pode
reduzir a dor do torniquete durante cirurgia com paciente consciente sob do bloqueio supraclavicular, mas isso ainda carece
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de evidências, já que a dor de torniquete provavelmente também é mediada por isquemia tecidual e não apenas pela
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sensação local.
PREPARAÇÃO PRÉ-BLOQUEIO
● Por favor, consulte também o Tutorial ATOTW 134 Bloqueios nervosos periféricos – início.
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● Obtenha o consentimento informado do paciente.
● Certifique-se de que não há contraindicações ao procedimento.
● Em caso de injeção intravascular acidental de anestésico local, instalações para completa ressuscitação e Intralipid 20%
devem estar imediatamente disponíveis. As diretrizes de gestão de toxicidade anestésica local grave da Associação de
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Anestesistas da Grã-Bretanha e Irlanda fornecem uma estrutura para o tratamento desta complicação.
● Estabeleça o acesso intravenoso e conecte o monitoramento apropriado: Eletrocardiograma, monitoramento não-invasivo
da pressão arterial e oxímetro de pulso.
● Confirma o lado correto do bloqueio. Um exemplo de abordagem para minimizar bloqueios do lado errado é fornecido pelo
conjunto de ferramentas “Stop Before You Block” [“Para antes de Bloquear”], do site do Colégio Real de Anestesistas.
● Assegure precauções assépticas apropriadas. A preferência deste autor é preparar o site com spray de clorexidina (0,5%
de gluconato de clorexidina e 70% de etanol desnaturado) e deixar secar antes de proceder a uma técnica de agulhagem
“sem toque”.
Equipamento
Use uma sonda linear de alta frequência (10 a 15 MHz).
Uma agulha isolada, estimuladora de nervo, de 50mm ou 80mm de comprimento, de bisel curto, deve ser utilizada.
A estimulação de nervos periféricos (ENP) é uma maneira adicional de confirmar a localização do nervo. Se a ENP for
utilizada, as configurações iniciais devem ser: corrente de 0,5mA, frequência de 2Hz, e largura de pulso de 0,1ms. Os
estudos implicam que a combinação das técnicas de ENP e anestesia regional guiada por ultrassom (ARGUS) não
agregam valor à orientação por ultrassom por si só. O sucesso do bloqueio não foi melhorado quando uma resposta motora
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esteve presente, ao invés de ficar inacessível durante a colocação da agulha para o bloqueio supraclavicular.
Figura 3. Foto demonstrando o posicionamento do paciente e a localização da máquina de ultrassom para bloqueio do plexo braquial
supraclavicular do lado esquerdo.
Anestesia Local
A escolha do anestésico local, da concentração e do volume devem ser ajustados aos objetivos específicos de anestesia
cirúrgica, analgesia pós-operatória, velocidade de início da ação, duração do bloqueio e efeitos de limitação motora.
A levobupivacaína (0,25%-0,5%) e a bupivacaína (0,25%-0,5%) proporcionam bloqueios com início de ação mais lento, mas
de maior duração, e são comumente utilizadas no Reino Unido. Uma alternativa, a ropivacaína (0,2%-0,75%) proporciona
um início de ação moderadamente mais rápido com longa duração de ação. Para bloqueios com início de ação mais rápido,
mas durações mais curtas, a lidocaína (1%-2%) ou prilocaína (1%) pode ser empregada. A lidocaína e a prilocaína podem
ser combinadas com a adrenalina para prolongar a duração do bloqueio, bem como permitir o uso de volumes maiores.
Embora 0,2% a 0,5% de ropivacaína e 0,25% de bupivacaína proporcionam uma excelente analgesia, nenhuma das duas
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consistem proporcionem consistentemente anestesia cirúrgica. Uma anestesia cirúrgica comparável e adequada foi obtida
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com simples 0,75% de ropivacaína ou simples 0,5% bupivacaína. Vinte a trinta mL de anestésico local serão suficientes;
contudo, é possível usar significantemente menos (10-20ml) com orientação ultrassônica. É imperativo estar atento, e
permanecer nos limites, das doses seguras máximas de agentes anestésicos locais.
Inserção da Agulha
Após injetar uma pequena quantidade de 1% de lidocaína para anestesias a pele, insira uma agulha de bisel curto ao longo
do eixo longitudinal da sonda ultrassônica (abordagem de agulha no plano). Certifique-se de que a agulha seja mantida
paralela ao eixo a todo instante para melhorar a visualização da ponta da agulha.
A abordagem no plano é fortemente recomendada para este bloqueio (Figura 6); a ponta da agulha e a haste devem ser
continuamente visualizadas em tempo real para evitar uma punção pleural acidental. Insira a agulha lateral à sonda,
estabelecendo um alvo medialmente. Avance a agulha em direção à junção da artéria subclávia e primeira costela. Esta
área, que é ínfero-medial ao plexo, póstero-lateral à artéria subclávia, e superior à primeira costela, é comumente chamada
de “bolsão do canto”.
Figura 5. Imagem de ultrassom demonstrando a relação das estruturas relevantes na fossa supraclavicular.
Enquanto este método se beneficia de uma rota reta geralmente desobstruída até o bolsão do canto, a maior desvantagem
é que a agulha é direcionada em direção a pleura. Direcionar a agulha em direção à primeira costela, em vez de em direção
à pleura, pode reduzir o risco de acidentalmente perfurar a pleura. Alguns praticantes, portanto, preferem uma abordagem
medial a uma lateral. Isso é teoricamente mais seguro, já que o movimento da agulha é em direção oposta ao pulmão.
Contudo, essa abordagem requer a manipulação especializada da agulha, pois a artéria está no caminho entre o ponto de
inserção da agulha e o bolsão do canto. Em ambas as técnicas, a ponta da agulha deve ser visualizada a todo instante.
Nunca avance a agulha para dentro da linha hiperecoica da costela/pleura.
Figura 7. Imagem de ultrassom demonstrando a ponta da agulha no “bolsão do canto”. Observe que o plexo braquial foi levantado pela
injeção de anestésico local e se tornou mais fácil de visualizar.
Tabela 1. Efeitos colaterais e complicações do Bloqueio do Plexo Braquial Supraclavicular Guiado por Ultrassom RESUMO
Figura 9. Imagem de ultrassom demonstrando o plexo braquial rodeado por anestésico local.
AGRADECIMENTOS
Dr. David Conn (1959-2015)
O Dr. David Conn faleceu em 15 de dezembro de 2015 (veja o obituário da BMJ, BMJ. 2016;353:i1962). Ele trabalhou no
Hospital Real de Devon & Exeter por quase 20 anos desenvolvendo o serviço de dor e se tornando um praticante
especialista em anestesia regional e um treinador altamente respeitado de anestesistas júniores. Ele ensinou, publicou e
deu aulas amplamente sobre o assunto, e os autores gostariam de aproveitar esta oportunidade para reconhecer sua
orientação especializada e sua contribuição para com este tutorial.
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