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Trauma

Torácico
SUMÁRIO
1. Trauma Torácico................................................................................................. 3

2. Avaliação primária...............................................................................................3

3. Avaliação secundária.........................................................................................16

Referências Bibliográficas................................................................................. 23
1. TRAUMA TORÁCICO
As lesões torácicas são uma das mais frequentes no departamento de emergên-
cia. Possuem elevado potencial de gravidade e alta mortalidade – variando entre
8,4% e 47,5%, a depender do tipo de trauma.
O Trauma torácico é uma das principais causas de morte entre os pacientes que
chegam com vida ao hospital, no entanto, boa parte dessas mortes poderiam ser
prevenidas se houvesse diagnóstico e tratamento adequados.
Os principais sintomas relacionados a esse tipo de Trauma são: hipóxia, hiper-
capnia e acidose, em que a sua avaliação segue o fluxo do atendimento inicial ao
politraumatizado.

Se liga! Boa parte dos traumatismos de tórax podem ser maneja-


dos através de procedimentos simples. Em média, só 10% dos traumas con-
tusos e 15- 30% dos penetrantes requerem abordagem cirúrgica.

O atendimento inicial do paciente com trauma torácico consiste em avaliação pri-


mária, estabilização dos sinais vitais – visando principalmente a correção da hipoxe-
mia –, avaliação secundária minuciosa e tratamento definitivo.
As lesões ameaçadoras à vida são tratadas da forma mais rápida e mais simples
possível e a avaliação secundária é orientada pela história e alto índice de suspeita
da presença de uma lesão específica.

2. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA

Vias Aéreas

Obstrução de VA
A obstrução é um dos principais mecanismos que afetam a VA de um paciente e
ela é frequentemente causada por edema, sangramento ou broncoaspiração.
Sua avaliação na parte torácica consiste no próprio exame semiológico:

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a. Inspecionar a cavidade oral, a faringe e também o tórax para ver se há esforço
respiratório;

b. Palpar o pescoço e o tórax;

c. Auscultar a respiração em busca de creptos ou estertores.

Caso seja identificado alguma obstrução, nossa conduta será remover o conteúdo
por aspiração (se for líquido) ou com dedo em garra (sólido) e avaliar a necessidade
VA definitiva.

Lesão Traqueobronquial
As lesões na árvore traqueobronquial são raras e potencialmente fatais, inclusive,
a grande maioria dos pacientes morre ainda em cena. No entanto, aqueles que con-
seguem chegar com vida, normalmente se apresentam com o seguintes sintomas:

SINTOMAS DE LESÃO NA ÁRVORE TRAQUEOBRONQUIAL

Hemoptise
Enfisema subcutâneo
Pneumotórax Hipertensivo
Cianose
Fonte: Elaborado pelo próprio autor

No final das contas, caso se suspeite de lesão traqueobronquial, nossa conduta


deve ser acionar imediatamente um cirurgião e promover uma via aérea definitiva no
paciente.

Ventilação

Pneumotórax Hipertensivo
O pneumotórax hipertensivo se desenvolve quando o ar consegue entrar na cavi-
dade pleural através de um mecanismo de válvula unidirecional, ou seja: o ar entra,
mas não sai.
Dessa forma, o ar começa a se acumular, comprimindo o pulmão e empurrando o
mediastino para o lado contralateral. Com toda essa compressão, então, o paciente
sofre uma redução do retorno venoso e, consequentemente, do débito cardíaco, le-
vando a um quadro de choque do tipo obstrutivo.

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Figura 1. Representação esquemática do pneumotórax hipertensivo
Fonte: Pepermpron/shutterstock.com

Por conta desse grande comprometimento, o pneumotórax hipertensivo deve ser


manejado de forma rápida e, para isso, o primeiro passo será identificá-lo. Como?
Através da clínica e, no máximo, uma Ultrassonografia (USG) Fast. Visto isso, os sin-
tomas costumam ser:

SINAIS E SINTOMAS DE PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO

Dor Torácica Desvio de traqueia


Taquipneia MV abolido
Dispneia Tórax elevado (s/ resp.)
Desconforto respiratório
Estase de jugular
Hipotensão Cianose (tardio)
Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018

Uma vez identificado, nossa conduta será o pneumotórax hipertensivo que requer
descompressão imediata e pode ser gerenciado inicialmente por uma Punção de
Alívio no espaço pleural.
Devido à espessura variável do tórax parede, torção do cateter e outros procedi-
mentos técnicos ou complicações anatômicas, a descompressão da agulha pode
não ser bem-sucedida.
Nesse caso, a “Toracostomia por dedo” (do inglês, Finger Decompression) é uma
abordagem alternativa, que quando bem sucedida converte um pneumotórax hiper-
tensivo em um pneumotórax simples.

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No entanto, após amabos os procedimentos, é mandatório realizar uma Drenagem
Torácica no paciente. Sendo que tanto a descompressão com dedo quanto a drena-
gem tórácica devem ser realizados no mesmo local que a punção de alívio em adul-
tos: 4º ou 5º espaço intercostal (EIC) anterior à linha axilar média.

PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO

Murmúrio vesicular diminuído/abolido


Hipertimpanismo à percussão

Possíveis Tratamentos Iniciais


Punção de Alívio no 4/5º EIC ipsilateral
Finger Decompression

Tratamento Definitivo
Toracostomia com drenagem em selo
d’água

Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018

Saiba mais! PUNÇÃO DE ALÍVIO


Avalie o estado respiratório e torácico do paciente.
Administre oxigênio de alto fluxo e ventile como necessário.
Prepare cirurgicamente o local escolhido para inserção. (Para pacientes
pediá­tricos, o 2º EIC, na linha hemiclavicular é apropriado.) Para adultos -
especialmente com subcutâneo mais espesso – use o 4º ou 5º EIC anterior
à linha axilar média, ipsilateral ao lado acometido.
Anestesie a área se o tempo e fisiologia permitir.
Insira um cateter com agulha superior a 5 cm para adultos menores; (8 cm
para adultos grandes) com uma seringa acoplada. Direcione a agulha logo
acima da costela no EIC, aspirando a seringa enquanto avança. (A adição de
de solução salina na seringa pode auxiliar na identificação do ar aspirado).
Perfure a pleura.
Remova a seringa e ouça o escape de ar quando a agulha entra no espaço
pleural para indicar alívio da tensão pneumotórax. Avance o cateter para o
espaço pleural.
Estabilize o cateter e prepare-se para a inserção do tubo no tórax.

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Pneumotórax Aberto
O mecanismo do pneumotórax aberto é um pouco diferente do hipertensivo. Aqui,
basicamente, vai haver uma lesão na parede torácica (normalmente ≥ 2/3 do diâme-
tro da traqueia) comunicando o espaço pleural com o meio externo, o que acaba fa-
zendo com que a pressão intrapleural se iguale com a atmosférica.

Figura 2. Representação esquemática do Pneumotórax Aberto. Disponível em: ATLS, 9ª edição.


Fonte: Pepermpron/shutterstock.com

Dessa forma, vai haver uma compressão do pulmão (e consequente prejuízo para
a respiração), mas, como o ar vai conseguir entrar e sair, acaba não acontecendo um
acúmulo muito grande, que é o que justifica não encontrarmos aqui o desvio do me-
diastino e a congestão venosa, por exemplo. Mas, então, quais são os sinais dessa
condição?

SINAIS E SINTOMAS DO PNEUMOTÓRAX ABERTO

Dor torácica
Taquipneia
Dispneia
MV abolido
Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018

Então, vamos lá para o manejo! O primeiro passo é fechar a lesão que está per-
mitindo a entrada de ar, no entanto, a gente tem que lembrar que também é ela que
permite a sua saída.

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Dessa forma, nossa conduta inicial deve ser realizar o chamado Curativo de 3
pontas: colocar um material estéril sobre a lesão e fixá-lo em apenas 3 dos seus
lados, deixando um livre. Por que isso? Porque dessa forma, durante a inspiração, o
material é sugado e oclui a entrada do ar, porém, na fase de expiração, o ar empurra
o material para fora e consegue sair pelo lado não fixado do curativo.
Na sequência, é mandatório realizar uma Drenagem Torácica no paciente e fre-
quentemente é também necessário o fechamento da lesão do tórax.

PNEUMOTÓRAX ABERTO

Murmúrio vesicular diminuído/abolido


Ferida Aspirativa

Tratamento Inicial
Curativo de 3 pontas

Tratamento Definitivo
Toracostomia com drenagem em selo d’água
Fechamento da Ferida

Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018

Hemotórax Maciço
Hemotórax corresponde a presença de sangue na cavidade pleural e a gente o
classifica como maciço quando esse volume de sangue é maior do que 1500mL ou
maior do 2/3 do volume total. A partir daí, o sangue vai se comportar como o ar e
comprimir o pulmão, atrapalhando, assim, o processo respiratório.

Figura 3. Representação esquemática do hemotórax


Fonte: Designua/shutterstock.com

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Mas aí você pode estar se perguntando uma coisa: como é que vamos saber que
lá no espaço pleural tem mais de 1,5L de sangue? Bem…realmente não teremos co-
mo saber isso para podermos definir se é ou não um hemotórax maciço, então na
prática o que a gente faz é suspeitar e tratar essa condição quando o paciente apre-
sentar sinais de hemotórax e sinais de choque - afinal de contas, o paciente está
perdendo sangue!
Então vamos entender um pouco mais dessa condição na letra C!

Circulação

Hemotórax Maciço
Até já entendemos do que se trata o hemotórax maciço, então agora vamos apren-
der a reconhecê-lo.
A primeira coisa que precisamos ter em mente é que o volume de sangue que
vaza para a cavidade pleural dificilmente será parecido com o volume de ar em um
pneumotórax hipertensivo, por exemplo. Ou seja, na maioria das vezes não haverá
um desvio de mediastino significativo a ponto de provocar desvio de traqueia e muito
menos estase de jugular.

Se liga! Por conta da perda de sangue, a presença de estase de ju-


gular é muito difícil e ela, inclusive, costuma estar colapsada. Mas caso haja
um hemotórax com esse achado, fique atento pois o paciente pode ter um
pneumotórax hipertensivo associado!

Então só para deixar claro: esses dois sinais podem aparecer, mas não é o co-
mum. Mas o que é clássico, então?
A macicez à percussão e os murmúrios vesiculares (MV) abolidos, ambos justifi-
cados pelo fato de haver líquido no local onde deveria estar o parênquima pulmonar.

PNEUMOTÓRAX HEMOTÓRAX
HIPERTENSIVO MACIÇO
Ausculta ↓ ↓
Percussão Hipertimpânico Maciço
Traqueia Desviada Colapsada
Jugular Distendida Colapsada
Tórax Expandido e imóvel Móvel

Diferencial entre Pneumotórax hipertensivo e Hemotórax maciço


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

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Chegado até aqui, então, nos resta agora aprender a manejar essa condição. Logo
de cara a gente já pensa: Drenagem Torácica! Sim…vai ser preciso descomprimir o
tórax do paciente. No entanto, não podemos perder de vista que o hemotórax maciço
envolve uma perda significativa de sangue e por isso que o indicado é realizar repo-
sição volêmica SIMULTANEAMENTE - usando primeiro cristalóides e, logo depois,
transfusão sanguínea.

Se liga! A drenagem imediata de 1,5 ml ou a uma velocidade >


200mL/h por 2-4 horas → indicação de Toracotomia Cirúrgica.

Se tratando de um trauma penetrante medialmente a escápula, já liga um alerta:


possivelmente houve lesão de estruturas importantes como os grandes vasos, a re-
gião hilar ou mesmo o coração e tudo isso levaria à toracotomia.

HEMOTÓRAX MACIÇO

Murmúrio vesicular abolido


Choque
Macicez à percussão

Tratamento
Toracocentese com drenagem em selo d’água

Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018

Tamponamento Cardíaco
O mecanismo por trás do tamponamento cardíaco é bem parecido com do hemo-
tórax e do pneumotórax: basicamente vai haver um acúmulo de fluido dentro do sa-
co pericárdico e isso vai comprimir o coração, comprometendo o seu enchimento e,
por tabela, o débito cardíaco (ou seja: choque restritivo).

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Figura 4. Representação esquemática de tamponamento cardíaco.
Fonte: Pepermpron/shutterstock.com

Para identificar essa condição, nós vamos procurar pela famosa Tríade de Beck,
que consiste em:

TRÍADE DE BECK
Hipotensão
Estase de Jugular
Abafamento de bulhas
Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018

No entanto, a estase de jugular pode não estar presente, por conta da hipovolemia
do paciente, e o abafamento das bulhas cardíacas pode ficar inviável de ser identi-
ficada no barulho da sala de emergência. É por isso que a gente precisa se atentar
para outros sinais de tamponamento que são:

OUROS SINAIS DE TAMPONAMENTO CARDÍACO


Sinal de Kussmaul Ritmo AESP
Aumento da pressão venosa durante inspiração Atividade Elétrica Sem Pulso
Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
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Pode acontecer de confundirmos um tamponamento com um pneumotórax hiper-
tensivo (especialmente se for do lado esquerdo). A grande diferença a gente encon-
tra em dois fatores:

a. percussão, em que o pneumotórax se mostrará hipertimpânico;

b. ausculta, na qual os MVs estarão presentes bilateralmente se for


tamponamento.

Saiba mais! A Atividade Elétrica Sem Pulso (AESP) é um ritmo car-


díaco identificado através do ECG que, como o nome já deixa bem claro, se
caracteriza pela detecção de atividade elétrica no coração, embora não seja
identificado pulso.
Essa condição costuma ocorrer em quadros de tamponamento cardía-
co, pneumotórax hipertensivo, hipovolemia severa e também em rupturas
cardíacas.

Somado isso tudo, temos que a confirmação do diagnóstico pode ser feita por
meio de uma USG Fast, exame capaz de identificar entre 90 e 99% dos casos.
Inclusive: o tamponamento pode se desenvolver a qualquer momento, então repetir
esse exame é essencial!
Enfim…no final das contas, se a gente concluir que o paciente está com um tam-
ponamento, devemos indicá-lo para uma Toracotomia/Esternotomia de Emergência
e é interessante infundir fluido para aumentar um pouco sua pressão venosa e seu
débito cardíaco enquanto aguarda a cirurgia.
Agora, se não houver cirurgião disponível para realizar o procedimento, de-
ve-se optar por realizar uma descompressão através do procedimento de
Pericardiocentese, mas aí deveremos nos atentar para 2 questões:

a. a inserção as cegas está muito associada com complicações e por isso é indi-
cado realizar o procedimento guiado por USG;

b. esse tratamento não é definitivo e o paciente precisa passar por uma aborda-
gem cirúrgica o quanto antes! São métodos adicionais de diagnóstico: ecocar-
diograma e janela pericárdica.

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Figura 5: pericardiocentese
Fonte: Pepermpron/shutterstock.com

PCR Traumática
A parada cardiorrespiratória proveniente do Trauma é identificada pela junção de 2
sinais: inconsciência e ausência de pulso.
Sendo que no ECG ela costuma se apresentar como AESP, fibrilação ventricular e
assistolia. No entanto, vale frisar que uma vez identificada a PCR, não se deve atra-
sar o manejo para obter ECG ou ecocardiograma. Qual deve ser a nossa conduta,
então? Iniciar o protocolo de Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (ACLS).
A sistematização do ACLS para o manejo da PCR traumática consiste em iniciar
imediatamente a reanimação cardiopulmonar (RCP) e, concomitantemente, seguir
uma sequência de prioridades muito parecida com a do ATLS, que é o ABCD:

ABCD DO ACLS
A Via aérea Intubação Orotraqueal
B Ventilação Oximetro de pulso e Capnográfo
C Circulação ECG, AVP e Epinefrina (1mg)
D Diagnóstico 5 Hs e 5 Ts
Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
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Tendo visto, então, temos que o fluxograma da abordagem desses pacientes se
inicia com a RCP fechada associada ao ABCD pregado pelo ACLS.
Se isso já for bem sucedido e fizer o paciente voltar à circulação normal, a gente
segue o atendimento normal. Caso contrário, está indicado a realização de descom-
pressão torácica bilateral.
Isso pode ou não resolver a parada do paciente. Caso resolva, devemos reali-
zar Drenagem Torácica e seguir o atendimento normal. No entanto, se não resol-
ver, o indicado é seguir para uma abordagem cirúrgica, com a realização de uma
Toracotomia (Anteroposterior ou de Clamshell) com Pericardiotomia.
Dessa forma, poderemos determinar se a causa da parada foi uma lesão cardíaca
ou uma hipovolemia severa e aí, a depender do que definirmos, seguiremos por vias
diferentes.
Havendo lesão cardíaca, a conduta deve ser reparar o coração, o que já é suficien-
te para acabar com a parada. Porém, pode acontecer do paciente continuar em PCR
e aí nossa última tentativa é realizar massagem cardíaca interna e/ou aplicar choque
elétrico internamente. Se mesmo assim o paciente não voltar em até 30min de res-
suscitação, devemos considerá-lo morto.
Por outro lado, se a questão toda for uma hipovolemia severa, nossa abordagem
envolverá o clampeamento de vasos envolvidos e a reposição através do acesso
venoso.
Caso o paciente continue em parada: massagem interna e/ou choque elétrico in-
ternamente. Se ele não voltar em até 30min, deve ser considerado morto.

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MANEJO DE PCR TRAUMÁTICA

RCP Fechada
(via aérea, massagem cardíaca externa, IOT, oxigênio 100%,
acesso venoso, fluidos, Epinefrina)

PCR RCE

Descompressão
Manejo normal
bilateral de tórax

PCR Drenagem
PCR
Torácica

Toracotomia (anteroposterior ou Clamshell) e Pericardiotomia vertical (corrige


tamponamento se tiver)

Lesão Cardíaca Hipovolemia Severa

Lesão Cardíaca Abdome


Controle da lesão
cardíaca (cardiotomia)
Hemostase Clampear Aorta
ereparo do coração
(clam, loop) descendente

RCE Continuar reposição pelo acesso venoso

PCR
Manejo normal

Morte depois
Continuar
de 30 min de
reposição pelo PCR
ressuscitação e
acesso venoso
T> 33°C

Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
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3. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
Ao longo de toda a avaliação primária, nós só estávamos nos preocupando
com as lesões de risco iminente à vida e que, portanto, precisavam ser manejadas
imediatamente.
Ao chegar na avaliação secundária, no entanto, nós mudamos um pouco o foco e
agora vamos nos preocupar em diagnosticar as lesões potencialmente ameaçadoras
à vida. E para diagnosticá-las, precisamos monitorar o paciente:

AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA

Exame Físico ECG

Oximetria de Pulso Gasometria Arterial

Exames Radiológicos

Radiografia Tomografia
USG fast
de tórax Computadorizada

Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
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Visto isso, então, temos que são 8 as principais condições para as quais devemos
nos atentar:
• Pneumotórax Simples
• Hemotórax
• Tórax Instável
• Contusão Pulmonar
• Contusão Cardíaca
• Ruptura Aórtica
• Ruptura Diafragmática
• Ruptura Esofágica por Trauma Contuso

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Pneumotórax Simples
O pneumotórax simples resulta da entrada de ar no espaço pleural e, na maioria
das vezes, isso surge de uma lesão no pulmão que permite a passagem do ar para
esse espaço.
Contudo, é importante a gente se atentar de que a quantidade de ar aqui não é tão
grande, então tem uma compressão do pulmão, mas não costuma ser suficiente pa-
ra deslocar mediastino, por exemplo.
A partir disso, a identificação dessa condição é feita por meio da percussão hi-
pertimpânica, da ausculta com MV abolidos e também pela identificação de um tó-
rax elevado e sem movimentos respiratórios.
E para tratar? Drenagem Torácica com posterior radiografia de tórax para confir-
mar o posicionamento do tubo.

Se liga! Atenção! O que não fazer antes da drenagem: anestesia


geral, ventilação com p + e transporte aéreo.

Hemotórax
O hemotórax (não maciço) consiste no acúmulo de menos do que 1,5L de sangue
no espaço pleural. As principais causas para essa condição são as lacerações de
pulmão, de grandes vasos, de vasos intercostais, entre outros.
Contudo, no final das contas esses sangramentos tendem a ser autolimitados, de
modo que o paciente pode apresentar percussão maciça, ausculta com MV abolidos
e também sinal de trauma penetrante.
Uma vez identificados tais sinais, deve-se solicitar radiografia de tórax e a condu-
ta será a Drenagem Torácica com tubo de 28-32 French.

Tórax Instável e Contusão Pulmonar


Tórax instável e contusão pulmonar são 2 condições diferentes e que podem apa-
recer de forma independente. E por que estamos juntando as duas aqui? Por nosso
manejo será praticamente igual! Então primeiro vamos entender do que cada uma
delas se trata.
Bem…o tórax instável, também conhecido retalho costal móvel, advém de fraturas
em 2 pontos da costela e em duas ou mais costelas adjacentes, ou então pode ser
decorrente de uma luxação de articulações costocondrais.

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Esse tipo de lesão acaba criando um retalho na parede torácica, que se move de
forma independente e oposta ao restante da caixa óssea (então enquanto a parede
torácica se expande, o retalho se retrai e vice-versa).
Já a contusão pulmonar, por sua vez, é como se fosse um hematoma dentro do
pulmão. Normalmente depois de um trauma contuso, sangue e outros fluidos se
acumulam no tecido pulmonar, interferindo na respiração e causando hipóxia no
paciente.
Para identificar essas condições a gente deve buscar por hipóxia, esforço respira-
tório e também fazer uma radiografia de tórax.

Se liga! Cuidado: a radiografia pode não ser útil na identificação de


retalho costal móvel por luxação da articulação costocondral.

Por fim, nossa conduta será administrar oxigênio umidificado, adequar a ventila-
ção, iniciar reposição volêmica e anestesiar o paciente. Mas atenção com 2 coisas:

a. Antes de começar a reposição é importante avaliar se o paciente tem sinais de


hipotensão, caso ele não tenha, essa reposição deve ser com cuidado, contro-
lando para não infundir muito volume e acabar atrapalhando ainda mais o pro-
cesso de respiração;

b. A anestesia pode ser feita com narcóticos por via intravenosa ou de forma loca-
lizada por bloqueio de nervo (que é a mais indicada pois os narcóticos podem
deprimir o sistema respiratório).

TÓRAX INSTÁVEL

Respiração Paradoxal
Dispneia
Dor ventilatório-dependente
Hipoxemia

Tratamento
Oxigenoterapia
Analgesia
Reposição Volêmica

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

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Contusão Cardíaca
Cerca de 50% das contusões cardíacas ocorrem por conta de acidente de carro,
atropelamento, acidente de moto ou queda de mais de 6m, sendo que as principais
repercussões desse tipo de Trauma são:
• Contusão do músculo cardíaco
• Ruptura cardíaca
• Dissecção de artéria coronária
• Lesão valvar
Dessa forma, o paciente costuma se apresentar com hipotensão e desconforto
torácico. No entanto, o diagnóstico preciso é feito através do ECG com disritmia e do
ecocardiograma alterado.

Se liga! A disritmia pode ocorrer de forma súbita e por isso é pre-


ciso monitorar o paciente nas primeiras 24h.

Ruptura Aórtica
A ruptura de aorta é uma lesão normalmente causada por acidente automobilísti-
co e na grande maioria das vezes ela leva à morte de forma imediata.
No entanto, alguns pacientes podem ter uma ruptura incompleta da aorta ou o
sangramento vazar apenas para dentro do mediastino, o que permite a formação de
um hematoma que o contenha.
Como vamos identificar essa condição? Esse é o problema. A ruptura de aorta não
apresenta sinais e sintomas específicos, então a gente acaba ligando o alerta ape-
nas com a história de desaceleração.
Dessa forma, o seu diagnóstico é feito com base nos achados radiológicos, sendo
que os exames solicitados podem ser 2: a TC e a radiografia de tórax.
A TC é o melhor exame nesse caso, mas é importante a gente atentar de que ela é
contraindicada caso o paciente esteja hemodinamicamente instável e é justamente
aí que entra a radiografia, que pode se apresentar com uma série de sinais:

Trauma Torácico   19


Figura 6: Aneurisma de aorta
Fonte: joshya/shutterstock.com

SINAIS DE RUPTURA DE AORTA


Mediastino Alargado Obliteração do cajado
Desvio de traqueia (p/ D) Desvio de esôfago (p/ D)
Brônquio-fonte E baixo Brônquio-fonte D elevado
Hemotórax à esquerda Obliteração do espaço entre A. Pulmonar e Aorta
Derrame extrapleural apical Fratura de escápula ou primeiros arcos costais
Alargamento de faixa paratraqueal Alargamento das interfaces para espinhais
Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018

Uma vez tendo sido feito o diagnóstico, o tratamento dessa condição é com o ci-
rurgião e consiste na sutura da lesão, ou então na colocação de enxerto.

Ruptura Diafragmática
A ruptura diafragmática pode ser gerada tanto por um trauma penetrante quanto
por um trauma contuso, sendo que ela é mais facilmente identificada quando ocorre
do lado esquerdo, até porque o fígado acaba dificultando o acesso a esse músculo
pelo lado direito.
Normalmente, o principal achado que fala a favor dessa condição é a elevação da
cúpula diafragmática e isso a gente pode confirmar através de uma radiografia ou
de uma TC. Caso nenhum desses exames consigam identificar a ruptura, aí pode ser
necessário solicitar um radiografia contrastada.
Métodos diagnósticos minimamente invasivos também podem ser úteis aqui, co-
mo é o caso da laparoscopia e da toracoscopia

Trauma Torácico   20


Se liga! Caso se suspeite de uma ruptura diafragmática do lado
esquerdo, é indicado realizar uma sondagem gástrica no paciente e checar
se o tubo aparece no tórax. Se aparecer, podemos confirmar a presença da
ruptura e não será necessário expor o paciente ao contraste.

Por fim, o tratamento dessa condição é o reparo direto do tecido muscular.

Ruptura Esofágica por Trauma Contuso


O trauma mais comum a acometer o esôfago é o penetrante. Contudo, mesmo
sendo raro, o contuso também pode acontecer e ele é potencialmente fatal se não
for reconhecido. Normalmente esse tipo de lesão ocorre quando o paciente sofre
uma expulsão forçada do conteúdo gástrico pelo esôfago.
Toda a força envolvida nesse mecanismo acaba provocando lesões lineares na
musculatura esofágica, permitindo que o conteúdo caia no mediastino e/ou no espa-
ço pleural, causando, respectivamente, mediastinite e empiema.
O diagnóstico é suspeitado quando se encontra ar no mediastino e pode ser con-
firmado por meio de uma radiografia contrastada.
Já o tratamento, por sua vez, consiste na drenagem do conteúdo perdido e no re-
paro direto da lesão.

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MAPA MENTAL RESUMO

Desvio de Traqueia

Estase de Jugular
Drenagem de Tórax Definitivo
Hipotensão Sintomas Tratamento
Punção de alívio Imediato
Dispneia

Expansibilidade Simétrica PNEUMOTÓRAX Dor Intensa


HIPERTENSIVO

Sinais de Choque
Retalho costal móvel
hipovolêmico

Sintomas Sintomas
HEMOTÓRAX MACIÇO TÓRAX INSTÁVEL
Tratamento TRAUMA Tratamento
TORÁCICO

Hemotransfusão Analgesia

Cirúrgico PNEUMOTÓRAX TAMPONAMENTO


ABERTO CARDÍACO

Tratamento Sintomas Tratamento Sintomas

Cirúrgico Dispneia Hipotensão

Pericardiocentese
Drenagem Ferida “aspirante” Bulhas abafadas Tríade de
Beck

Curativo de 3 pontas Estase de Jugular

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Vias Aéreas   22


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 9ª ed.
Chicago - IL: 2012.
American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10ª ed.
Chicago - IL: 2018
Figura 1: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < ht-
tps://www.shutterstock.com/pt/image-vector/lung-cancer-collapse-chest-pain-
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Figura 2: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < ht-
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Trauma Torácico   23


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