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SUMÁRIO

1. Hemorragias................................................................. 3
2. Avaliação da hemorragia......................................... 5
3. Choque hemorrágico................................................. 7
4. Sangramentos externos.........................................11
5. Sangramentos internos..........................................16
Referências Bibliográficas .........................................22
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 3

1. HEMORRAGIAS As hemorragias podem ser classifi-


cadas em arteriais, venosas ou ca-
A hemorragia é a perda de sangue
pilares e internas ou externas. As
através de ferimentos ou pelas ca-
hemorragias arteriais apresentam
vidades naturais e pode ser tam-
como características um sangramen-
bém interna, sem exteriorização do
to de coloração vermelho vivo, em
sangue. Podem resultar de um trau-
jato pulsátil, enquanto nas venosas
ma, mas também está presente em
o sangue é mais escuro e sai contí-
diversas condições clínicas. Os qua-
nua e lentamente, escorrendo pela
dros agudos com grande perda de
ferida. Já as hemorragias capilares
volume são graves e podem levar ao
apresentam coloração intermedi-
choque hipovolêmico e óbito, en-
ária, o sangue goteja lentamente
quanto as perdas lentas e crônicas
pelo ferimento e geralmente é muito
costumam levar à anemia ferropriva.
fácil estanca-las através da pressão
direta.

Figura 1. Hemorragia arterial, venosa e capilar. Fonte: https://www.istockphoto.com/br/vetor/


ilustra%C3%A7%C3%A3o-em-vetor-de-uma-hemorragia-arterial-e-venoso-gm871167324-243374694

A hemorragia interna ocorre numa A hemorragia é a principal causa de


cavidade pré-formada no organismo, mortes pós-traumáticas evitáveis.
como peritônio, pleura e pericárdio. O Por isso, a identificação e a parada
sangue não é observado no exte- da hemorragia são passos cruciais
rior, mas o indivíduo pode apresen- na avaliação e tratamento. A hipoten-
tar-se pálido, taquicárdico, sonolen- são em pacientes vítimas de trauma
to, com pele fria e úmida. A suspeita deve ser considerada hipovolêmica
pode ser feita através da avaliação do até que se prove o contrário. É es-
mecanismo do trauma e da avaliação sencial a avaliação rápida e precisa
inicial do paciente. do estado hemodinâmico no trauma,
e os elementos clínicos que oferecem
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 4

informações importantes são o ní-


vel de consciência, a cor da pele e o SE LIGA! A resposta à perda sanguí-
pulso. Quando o volume sanguíneo nea não se dá de modo semelhante
em idosos, crianças, atletas e em in-
está diminuído, a perfusão cerebral
divíduos com doenças crônicas. Os
pode estar criticamente prejudicada, idosos têm uma capacidade limitada
resultando em alteração do nível de de aumentar a sua frequência cardíaca
consciência. A cor da pele pode ser em resposta à perda sanguínea. Des-
sa forma, perde-se um dos sinais mais
importante na avaliação de um pa- precoces de hipovolemia, a taquicardia.
ciente vítima de trauma, sendo a co- A pressão arterial tem pouca correlação
loração acinzentada de face e extre- com o débito cardíaco em idosos. As
midades pálidas sinais evidentes de crianças têm uma grande reserva fisio-
lógica e frequentemente demonstram
hipovolemia. Pulso periférico rápido poucos sinais de hipovolemia. O atleta
e filiforme é também habitualmente bem condicionado possui mecanismos
um sinal de hipovolemia. compensatórios semelhantes aos das
crianças e costumam apresentar uma
bradicardia relativa.

MAPA MENTAL: HEMORRAGIAS

Cavidade como peritônio,


pleura e pericárdio

INTERNA
- Vermelho vivo
Sangramento visível - Rápido
( jorrando/pulsando)

EXTERNA ARTÉRIA
HEMORRAGIAS

VEIA VASOS CAPILARES

- Vermelho médio
- Vermelho escuro
- Lento, uniforme,
- Fluxo constante
gotejamento
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 5

2. AVALIAÇÃO DA lentificado. O paciente pode estar an-


HEMORRAGIA sioso ou hostil. Nessa classe a maio-
ria dos pacientes é estabilizada com
O Advanced Trauma Life Suport
soluções cristaloides, porém alguns
(ATLS) descreve quatro classes de
podem precisar de transfusão de
hemorragia, baseadas nos sinais clí-
sangue.
nicos que são úteis para estimar a
porcentagem de perda aguda de A hemorragia classe III envolve uma
sangue. perda de 31 a 40% do volume san-
guíneo, resultando numa queda na
A hemorragia classe I envolve perda
pressão arterial e alteração no esta-
de volume sanguíneo de até 15%. A
do mental. A frequência cardíaca e a
frequência cardíaca é minimamen-
frequência respiratória estão eleva-
te elevada ou normal e não há al-
das. Há uma redução do débito uri-
terações na pressão arterial ou fre-
nário. É considerada uma hemorragia
quência respiratória. Para pacientes
grave. Nessa classe a maioria dos
saudáveis essa quantidade de perda
pacientes necessita de concentrado
de sangue não requer substituição
de hemácias e produtos sanguíneos
porque os mecanismos compensa-
para reverter o estado de choque.
tórios restauram o volume sanguíneo
dentro de 24 horas, sem necessidade A hemorragia classe IV envolve per-
de transfusão de sangue. da de mais de 40% do volume san-
guíneo, levando a depressão signifi-
A hemorragia classe II ocorre quan-
cativa na pressão arterial e no estado
do há uma perda de volume san-
mental. A maioria dos pacientes é
guíneo de 15 a 30% e se manifesta
hipotensa (PAS <90mmHg). A pres-
clinicamente como taquicardia (fre-
são de pulso está bem reduzida e há
quência cardíaca geralmente entre
taquicardia de mais de 140bpm. A
100 e 120), taquipneia (frequência
diurese está muito reduzida ou au-
respiratória geralmente entre 20 e
sente e a pele é fria e pálida. Esses
24) e pressão de pulso diminuída,
pacientes frequentemente precisam
embora a pressão arterial esteja
de transfusão rápida e intervenção
normal. A pele pode estra fria e úmi-
cirúrgica imediata.
da e o enchimento capilar pode estar
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 6

SINAIS E SINTOMAS DA HEMORRAGIA POR CLASSE


PARÂMETRO CLASSE I CLASSE II (LEVE) CLASSE III (MODERADA) CLASSE IV (GRAVE)
Perda sanguínea
<15% 15-30% 31-40% >40%
aproximada
Frequência cardíaca  /  /
Pressão arterial   / 
Pressão de pulso    
Frequência respiratória   / 
Débito urinário    
Glasgow    
Déficit de bases 0 a 2mEq/L -2 a -6 mEq/L -6 a -10 mEq/L ≤ -10 mEq/L
Necessidade de produ- Protocolo de trans-
Monitorar Possível Sim
tos sanguíneos fusão maciça
Tabela 1. Sinais e sintomas das classes de hemorragia. Fonte: ATLS, 10ed

MAPA MENTAL: AVALIAÇÃO DA HEMORRAGIA

Classificação
Hemorragias

CLASSE I CLASSE II CLASSE III CLASSE IV

Perda volume Perda volume de


de 31-40%; >40%;
Perda volume
Perda volume até 15%; de 15-30%; FC 120-140; FC 140;
FC normal; FC 100-120; PA reduzida; PA muito reduzida;
PA e FR normais; PA normal; Taquipneia; Taquipneia;
Não necessita de Taquipneia; Redução de Débito urinário
transfusão de sangue. débito urinário; muito reduzido;
Uso de cristaloides.
Uso de concentrado Protocolo de
de hemácias transfusão maciça.
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 7

3. CHOQUE inadequadas. O primeiro passo é re-


HEMORRÁGICO conhecê-lo e o segundo é identificar
a sua provável causa para planejar
O choque é definido pelo ATLS como
o tratamento. No paciente vítima
uma anormalidade do sistema cir-
de trauma a hemorragia é a causa
culatório, que resulta em perfusão
mais comum de choque.
orgânica e oxigenação tecidual

HORA DA REVISÃO
O débito cardíaco é definido como o volume de sangue bom-
beado pelo coração a cada minuto e é determinado pelo produto
da frequência cardíaca e do volume sistólico. O volume sistóli-
co é a quantidade de sangue bombeado a cada contração cardía-
ca e é determinado pela pré-carga, contratilidade miocárdica e
pós-carga.
A pré-carga expressa o volume de retorno venoso para o co-
ração e é determinada pela capacitância venosa, pelo estado da
volemia e pela diferença entre a pressão venosa sistêmica média e
a pressão do átrio direito.

FIGURA 02

Frequência cárdiaca
(batimentos por minuto) X Volume de ejeção
(mL/batimentos) = Débito cardíaco
(L/minuto)

Pré-carga Contratilidade miocárdica Pós-carga

Figura 2: Débito cardíaco


Fonte: ATLS, 9ed

As respostas circulatórias precoces à (para reservar o sangue para os rins,


perda sanguínea constituem-se em coração e cérebro) e aumento da fre-
mecanismo de compensação. São quência cardíaca (tentativa de man-
elas: a vasoconstricção da circula- ter o débito cardíaco). Como conse-
ção cutânea, muscular e visceral quência a pressão diastólica aumenta
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 8

e a pressão de pulso reduz. Esse me- físico é dirigido para o diagnóstico


canismo compensatório, no entanto, imediato das lesões que ameaçam a
é limitado. vida e inclui o ABCDE (vias aéreas,
A nível celular, as células mal perfun- respiração, circulação, disfunção neu-
didas e mal oxigenadas começam a rológica e exposição com prevenção
realizar o metabolismo anaeróbi- de hipotermia). O controle da hemor-
co, com formação de ácido lático e ragia é essencial em conjunto com a
acidose metabólica. Se o choque reposição apropriada do volume in-
for prolongado a membrana celu- travascular. O acesso vascular deve
lar perde a capacidade de manter a ser estabelecido por dois cateteres
sua integridade e o gradiente elétri- venosos calibrosos (16G ou maior)
co normal. São liberados mediadores para administração de fluidos, san-
pró-inflamatórios, com dano orgâni- gue e plasma. Amostras de sangue
co e disfunção de múltiplos órgãos são obtidas para tipagem sanguínea
e sistemas. e prova cruzada e para exames labo-
ratoriais de rotina, incluindo teste de
A administração de quantidades gravidez em mulheres em idade fértil.
apropriadas de soluções eletrolíticas A gasometria e o lactato devem ser
isotônicas e sangue e o controle da obtidos para avaliar a presença e o
hemorragia ajudam a combater esse grau do choque.
processo.
Quando não é possível obter acesso
periférico, infusão intraóssea, aces-
SE LIGA! Vários fatores podem confun- so venoso central ou dissecção ve-
dir a resposta hemodinâmica clássica à
perda de sangue circulante e devem ser nosa podem ser usados, dependen-
reconhecidos prontamente por todos os do da clínica do paciente. É indicado
profissionais no atendimento inicial. São que a reposição seja feita com crista-
eles: idade do paciente, gravidade do
loides aquecidos de 37 a 40°C. Um
trauma e localização das lesões, in-
tervalo entre o trauma e o início do bolus de 1 litro de solução isotônica
tratamento, reposição volêmica pré- é feito para o paciente adulto. Após
-hospitalar e medicamentos usados esse volume inicial é feita a observa-
no tratamento de doenças crônicas.
ção da resposta do paciente através
da pressão arterial, pressão de pulso
Abordagem do choque e frequência cardíaca, além do débito
hemorrágico: urinário que representa a perfusão
renal, sendo considerado adequado a
O princípio básico do tratamento é partir de 0,5ml/kg/h para adultos.
interromper o sangramento e re-
por as perdas volêmicas. O exame A resposta ao volume inicial é clas-
sificada como rápida, transitória ou
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 9

mínima/sem resposta. Nos pacien- pacientes necessitam de controle da


tes com resposta rápida não é ne- hemorragia através de uma cirurgia.
cessária reposição de mais fluidos ou Pode ser considerado o protocolo de
sangue. Os pacientes com resposta transfusão maciça. A resposta míni-
transitória respondem ao volume ini- ma ou ausência de resposta mostra
cial, mas começam a apresentar piora a necessidade de tratamento imedia-
nos sinais de perfusão tecidual indi- to com intervenção definitiva (cirurgia
cando perda contínua de sangue ou ou angioembolização). Choque não
ressuscitação volêmica inadequada. hemorrágico deve ser considerado
Nesse caso a transfusão de sangue no diagnóstico desse grupo e deve-
e derivados é indicada, mas é mais -se iniciar o protocolo de transfusão
importante reconhecer que esses maciça.

RESPOSTA À REPOSIÇÃO VOLÊMICA INICIAL


RESPOSTA MÍNIMA/
RESPOSTA RÁPIDA RESPOSTA TRANSITÓRIA
AUSENTE
Melhora transitória, recidiva de di-
Sinais vitais Retorno ao normal Continuam anormais
minuição da PA e aumento da FC
Perda sanguínea Moderada e persistente (20 a
Mínima (10 a 20%) Grave (>40%)
estimada 40%)
Necessidade de mais Moderada como uma pon-
Baixa Baixa a moderada
cristaloides te para transfusão
Necessidade de
Baixa Moderada a alta Imediata
sangue
Tipado e com prova Liberado em caráter de
Preparo do sangue Tipo-específico
cruzada emergência
Necessidade de
Possível Provável Muito provável
cirurgia
Presença precoce do
Sim Sim Sim
cirurgião
Tabela 2. Resposta à reposição volêmica inicial. Fonte: ATLS, 9ed

CONCEITO! A transfusão maciça é de-


finida como uso de mais de 10 unida-
des de concentrado de hemácias nas
primeiras 24 horas da admissão ou mais
de 4 unidades em 1 hora.
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 10

traumatizados com sinais de hemor-


SE LIGA! Um concentrado de hemá- ragia significativa, até 3 horas após
cias compatível com o tipo sanguíneo a lesão. A dose inicial deve ser admi-
do paciente é preferível, porém o pro-
nistrada em 10 minutos e de prefe-
cesso de realização das provas cruza-
das necessita de 1 hora nos bancos de rência no local do acidente e a segun-
sangue. Se não for possível a realização da dose deve ser infundida em oito
desse processo ou não estiver disponí- horas, em ambiente hospitalar.
vel é indicado o sangue tipo O para os
pacientes que necessitam de transfu- A ressuscitação volêmica agressiva
são. O sangue Rh negativo é preferível não substitui o controle definitivo da
para mulheres em idade fértil para evitar
hemorragia, inclusive foi demonstra-
sensibilização e uma posterior complica-
ção pela doença hemolítica perinatal. do que a hidratação agressiva antes
do controle do sangramento aumenta
a mortalidade e morbidade.
O ácido tranexâmico (antifibrino-
lítico) é indicado para pacientes

MAPA MENTAL: CHOQUE HEMORRÁGICO

CHOQUE HEMORRÁGICO Conduta

Causa mais comum de


choque no trauma ABCDE

2 acessos calibrosos (≤16G);


MECANISMO COMPENSATÓRIO Amostras de sangue;
1l de cristaloide aquecido

Vasoconstricção periférica;
↑ FC AVALIAR RESPOSTA

Rápida

DISFUNÇÃO ORGÂNICA

Transitória

Mínima
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 11

4. SANGRAMENTOS individual, deve colocar um pano lim-


EXTERNOS po ou curativo estéril sobre o fe-
rimento e aplicar pressão manual
A hemorragia externa no trauma deve
constante. A região com o ferimen-
ser identificada e controlada durante
to deve ser elevada acima do nível
a avaliação primária.
do coração se não houver suspeita
Na abordagem de um sangramento de fraturas ou lesão medular. Perio-
arterial inicialmente é feita a com- dicamente alivia-se a pressão para
pressão local da ferida. Se o san- observar se o sangramento parou ou
gramento persistir, deve-se aplicar diminuiu. Pode ser colocada uma ban-
pressão manualmente na artéria dagem de pressão sobre o curativo.
proximal à lesão (pressão indireta).
Se ainda assim o sangramento per-
sistir pode ser considerado um tor-
niquete manual ou pneumático. Os
riscos do uso do torniquete em cau-
sar lesão isquêmica aumentam com o
tempo. Se existir uma lesão arterial
extensa deve-se consultar imediata-
mente um cirurgião especialista em
trauma vascular. A aplicação de pin-
ças hemostáticas vasculares no san-
gramento aberto enquanto o paciente
está no pronto-socorro não é aconse-
lhado, a menos que um vaso super-
ficial seja claramente identificado. Se Figura 3. Pressão direta sobre ferimento. Fonte: https://
incrivel.club/criatividade-saude/este-e-o-guia-basico-
uma fratura estiver associada a uma -de-primeiros-socorros-que-todos-deveriam-saber-
-863210/?utm_source=Incrivel_web&utm_medium=ar-
hemorragia aberta, deve-se realinhar ticle&utm_campaign=share_image&utm_content=co-
e imobilizar o membro enquanto uma pylink&image=13007510
segunda pessoa aplica pressão sobre
a ferida.
Pressão indireta:
Se a pressão direta associada a ele-
Pressão direta e indireta:
vação do membro não forem suficien-
A pressão direta é o melhor método tes o sangramento pode ser contro-
para controlar hemorragias. O so- lado comprimindo-se um ponto de
corrista, devidamente paramentado pressão, que é um local onde a ar-
com os equipamentos de proteção téria fica próxima a uma estrutura
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 12

óssea e à superfície da pele e pro- em membros superiores e o ponto


ximal à lesão (pressão indireta). A está localizado na parte interna do
pressão direta e indireta devem ser braço, entre a axila e o cotovelo.
usadas juntas. Os pontos de pressão A pressão sobre a artéria femoral é
devem ser usados com cautela, pois usada para controle de sangramen-
a pressão indireta pode causar da- tos nos membros inferiores. O ponto
nos decorrentes do fluxo sanguíneo de pressão está localizado na parte
inadequado. Os pontos de pressão central anterior da dobra da virilha,
mais usados são o braquial e femoral. onde a artéria femoral cruza a ba-
A pressão sobre a artéria braquial cia pélvica em direção aos membros
é usada nos casos de sangramentos inferiores.

COMPRESSÃO INDIRETA
Figura 4. Pontos de pressão indireta em hemorragias. Fonte: http://emergenciaoutdoor.blogspot.com/2011/05/plane-
ta-off-road-ta-sangrando.html

Torniquetes: controle de uma hemorragia em mem-


bros. Deve ser considerado em casos
Os torniquetes, como já citado, devem
de lesão de artéria calibrosa, mem-
ser usados como último recurso no
bro parcial ou totalmente decepado
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 13

e sangramento incontrolável. É pos-


sível improvisar um torniquete com
retalhos, lenços, toalhas, gravatas ou
panos, com pelo menos 8cm de largu-
ra ou usar dispositivos específicos co-
mercializados com essa função.

Uso do torniquete:
• Segurar o ponto de pressão apro-
priado para controlar temporaria-
mente o sangramento e, em seguida,
posicionar o torniquete proximal ao
Figura 6. Apertar torniquete. Fonte: Aula Sanarflix
ferimento, o mais distal possível, dei-
xando pelo menos 5cm de pele sa-
dia entre o ferimento e o torniquete; • Torcer o bastão para apertar o
• Colocar uma compressa grossa so- torniquete somente até o sangra-
bre o tecido que será comprimido; mento parar. Prender o bastão no
local com as extremidades do tor-
niquete ou outro pedaço de tecido;

Figura 5. Aplicar compressa local. Fonte: Aula Sanarflix Figura 7. Fixar bastão do torniquete. Fonte: Aula
Sanarflix

• Passar o material do torniquete


• Anotar a localização e hora que o
ao redor do membro duas vezes,
torniquete foi aplicado;
apertando bem e, em seguida,
prender com um meio-nó; • Se o sangramento não for inter-
rompido com um torniquete, ou-
• Inserir um bastão pequeno ou ou-
tro pode ser usado logo acima do
tro objeto semelhante no meio nó
primeiro.
e fazer um nó completo;
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 14

SAIBA MAIS!
Existem dispositivos comercializados para realização de
torniquete. Um deles é o Combat Application Tourniquet
(CAT), que possui faixas aderentes, haste com sistema
de fixação e pode ter um espaço para registrar o horário
da aplicação.

Figura 8. Combat Application Tourniquet. Fonte: https://www.


amazon.com/Tactical-Tourniquet-Military-Emergency-Application/
dp/B06ZZQPRQ8

Sangramento nasal Se o sangramento não for interrompi-


do, inserir gazes pequenas na narina
O sangramento nasal é relativamen-
e aplicar pressão.
te comum, podendo ser resultado de
lesão, doença, exercício, temperatu-
ras extremas ou outras causas. San-
gramentos nasais intensos podem
causar perda de sangue importante.
Pode ser causado por fratura de crâ-
nio e se esta for a suspeita, deve-se
acionar o SAMU, sem tentar inter-
romper o sangramento pois levaria
a um aumento na pressão intracra-
niana. É preciso cobrir o orifício nasal
com curativo estéril seco para absor-
ver o sangue. Se a suspeita não for
de fratura de crânio deve-se man-
ter a vítima sentada, imóvel, incli-
nada para frente, impedindo que
o sangue seja aspirado. Uma opção
é apertar as narinas ou colocar gaze Figura 9. Sangramento nasal. Fonte: ht-
enrolada entre o lábio superior e a tps://fernandobraganca.com.br/2016/09/24/
epistaxe-sangramento-nasal-e-o-tempo/
gengiva e pressionar com os dedos.
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 15

MAPA MENTAL: SANGRAMENTOS EXTERNOS

SANGRAMENTO
EXTERNO

PRESSÃO DIRETA Sangramento nasal

Melhor método para


controlar hemorragias
Curativo estéril com pressão manual Suspeita de fratura de crânio?
constante + elevação do membro

SIM
PRESSÃO INDIRETA
Acionar SAMU e não tentar
interromper o sangramento
Compressão de artéria proximal à lesão:
MMSS= a. braquial
MMII= a. femoral
NÃO

Vítima sentada, inclinada para


frente, pressionar as narinas
TORNIQUETE

Último recurso. Usado em casos de


sangramento de artéria calibrosa,
membro decepado ou exsanguinação.
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 16

5. SANGRAMENTOS enquanto numa fratura de fêmur esse


INTERNOS valor pode alcançar 1.500ml. Impor-
tantes complicações relacionadas à
As principais áreas de hemorragias
fratura de ossos longos são a sín-
internas são o tórax, abdome, re-
drome compartimental e a embolia
troperitônio, bacia e ossos longos.
gordurosa.
A fonte do sangramento geralmen-
te é identificada pelo exame físico e
de imagem (por exemplo, radiografia Tórax:
de tórax, pelve ou FAST- avaliação
O acúmulo de sangue e líquidos em
ultrassonográfica direcionada para
um hemitórax pode prejudicar o es-
trauma). O tratamento pode incluir a
forço respiratório pela compressão do
descompressão do tórax, compres-
pulmão e pela limitação da ventilação
são da pelve, uso de imobilizadores
normal. O acúmulo maciço de san-
e intervenção cirúrgica.
gue pode resultar em hipotensão e
Lesões de órgãos e vísceras re- choque. O hemotórax maciço resulta
troperitoneais são difíceis de serem do rápido acúmulo de 1,5 litros de
reconhecidos e diagnosticadas pois sangue ou de um terço ou mais do
essa área não possibilita a realização volume de sangue do paciente na
de um exame físico adequado; além cavidade torácica. É causado mais
disso, os sinais ou sintomas de peri- comumente por traumas penetrantes
tonite podem não estar presentes na que dilaceram os vasos sistêmicos ou
fase inicial. Outra dificuldade diagnós- hilares. Pode haver nesses pacientes
tica é que este espaço não é acessa- jugulares colabadas pela hipovolemia
do pelo lavado peritoneal diagnóstico ou dilatadas se houver um pneumo-
(LPD) e é difícil de ser avaliado pela tórax hipertensivo concomitante. Na
ultrassonografia direcionada pera avaliação inicial o paciente vai apre-
trauma (FAST). sentar ausência do murmúrio ve-
A fratura de ossos longos pode le- sicular e/ou macicez à percussão
var ao choque pela perda de grande de um dos hemitóraces. É tratado
volume de sangue. Em uma fratura incialmente com reposição volêmi-
de úmero ou tíbia pode-se obser- ca e descompressão da cavidade
var perda de até 750ml de sangue, torácica.
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 17

Figura 10. Representação do hemotórax maciço. Fonte: ATLS, 9ed

Abdome: (15%). As lesões por arma de fogo


acometem mais o intestino delgado
Qualquer paciente que tenha sofrido
(50%), o cólon (40%), fígado (30%)
traumatismo fechado no tronco, seja
e as estruturas vasculares intra-ab-
por impacto direto ou desaceleração
dominais (25%).
brusca, ou que tenha sido vítima de
ferimentos penetrantes no tronco, Na avaliação inicial o paciente deve
deve ser considerado portador de le- ser completamente despido para
são vascular ou de víscera abdominal, permitir uma inspeção completa. O
até que prove o contrário. Nas vítimas abdome anterior e posterior, bem
de trauma fechado, os órgãos mais como a parte inferior do tórax e pe-
acometidos são o baço (40 a 55%), o ríneo devem se inspecionados à
fígado (35 a 45%) e o intestino del- procura de abrasões, lacerações e
gado (5 a 10%). Já os ferimentos por contusões. A defesa abdominal in-
arma branca geralmente envolvem o voluntária à palpação é um sinal de
fígado (40%), o intestino delgado irritação peritoneal.
(30%), o diafragma (20%) e o cólon
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 18

A conduta no trauma abdominal vai resultados de exames de imagem,


variar de acordo com o mecanis- FAST e LPD se forem realizados.
mo do trauma, clínica do paciente e

SAIBA MAIS!
O FAST (Avaliação ultrassonográfica direcionada ao trauma) é um dos exames diagnós-
ticos mais rápidos utilizados para identificar hemorragia. Pode ser à beira leito, simultanea-
mente a outros procedimentos diagnósticos ou terapêuticos. Os focos onde o transdutor é
posicionado são: saco pericárdico, espaço hepatorrenal, espaço esplenorrenal, e pelve.

Figura 11. Localização do transdutor. Fonte: ATLS, Figura 12. Quadrante superior direito mostrando fígado,
9ed rim e líquido livre. Fonte: ATLS, 9ed

A Lavagem Peritoneal diagnóstica (LPD) é outro exame rápido para identificar hemorragia.
Embora invasiva, permite a investigação de possível lesão de víscera oca. Apresenta sensibi-
lidade de 98% para identificação de sangue intraperitoneal. A aspiração de sangue, conteúdo
gastrointestinais, de fibras vegetais ou de bile, através do cateter, em pacientes com anorma-
lidade hemodinâmica, indica laparotomia.

Pelve: do períneo, vagina, reto ou nádegas,


sugestivo de fratura pélvica exposta.
As fraturas pélvicas instáveis e le-
A instabilidade mecânica do anel
sões vasculares associadas podem
pélvico pode ser testada pela ma-
causar choque hemorrágico. No
nipulação da pelve com uma leve
exame físico o flanco, escroto e área
pressão sobre as cristas ilíacas de
perineal devem ser inspecionados
forma medial e descendente.
à procura de sangue no meato ure-
tral, edema, hematoma ou laceração
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 19

Figura 13. Avaliação de instabilidade da pelve. Fonte: ATLS, 9ed

A estabilização preliminar da pelve rompida- ≥2,5cm). Além da consulta


amarrando um lençol firmemente ao ortopédica imediata, radiologia inter-
redor da pelve pode reduzir o sangra- vencionista e cirurgia vascular podem
mento. Essas intervenções são mais ser necessárias para ajudar a contro-
importantes nas fraturas pélvicas lar a hemorragia.
abertas (nas quais a sínfise púbica é

Figura 14. Radiografia de pelve em “livro aberto”. Fonte: https://www.scielo.br/scielo.


php?script=sci_arttext&pid=S1413-78522004000100001
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 20

MAPA MENTAL: SANGRAMENTOS INTERNOS

Sangramento
interno

Hemotórax maciço: >1,5l ou 1/3 volume


de sangue no tórax;
TÓRAX
Exame: MV abolidos + macicez
Conduta: reposição volêmica + drenagem

Órgão mais acometidos: baço, fígado e


intestino delgado;
ABDOME Exame: despir o paciente e realizar inspeção
completa, procurar sinais de irritação peritoneal;
Conduta: Varia pelos órgãos envolvidos

Exame: Inspeção de flancos, períneo, meato


uretral, vagina e reto; teste da instabilidade da pelve;
PELVE
Conduta: estabilização se fratura de pelve; solicitar
avaliação de ortopedista e cirurgia vascular.

RETROPERITÔNIO Difícil de ser reconhecido e diagnosticado

Perda de até 1,5l em fratura de fêmur.


OSSOS LONGOS Complicações: embolia gordurosa e
Sd. compartimental
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 21

MAPA MENTAL: GERAL

Interna
Hemotórax maciço: Localização
Tórax
drenar Externa

Conduta Vasos Arterial


Abdome
individualizada
Venosa
HEMORRAGIAS
Fratura: estabilizar Pelve
Capilar
Retroperitônio

HEMORRAGIA Classe I
CLASSIFICAÇÃO
INTERNA
<15%
Ossos longos
Classe II
HEMORRAGIA CHOQUE
EXTERNA HEMORRÁGICO 15-30%

Fratura de crânio = SAMU Sangramento nasal ABCDE Classe III

Sem fratura de crânio = Pressão direta Amostra de sangue 31-40%


comprimir sentado,
inclinado para frente
Pressão indireta 1L de cristaloide aquecido Classe IV

>40%
Torniquete Avaliar resposta
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 22

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
MA, ALICE. Approach to the adult with a suspected bleeding disorder. UpToDate Inc.
http://www.uptodate.com (Acesso em 21 de maio de 2020).
COLWELL, CHRISTOPHER. Initial management of moderate to severe hemorrhage in
the adult trauma patient. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 21 de maio
de 2020).
Manual de Primeiros Socorros. Ministério de Sáude. 2003. Fundação Oswaldo Cruz- FIOCRUZ.
KOOL, DR; BLICKMAN, JG. Advanced Trauma Life Support. Capítulo 3: Choque. 9ª edição,
2012.
ATLS - Advanced Trauma Life Support for Doctors. American College of Surgeons. 10a. Ed
2018.
AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS HEMORRAGIAS 23

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