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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Hipersensibilidade tipo I........................................... 9
3. Hipersensibilidade tipo II........................................14
4. Hipersensibilidade tipo III.......................................21
5. Hipersensibilidade tipo IV......................................28
Referências bibliográficas .........................................37
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 3

1. INTRODUÇÃO respostas imunológicas contra an-


tígenos de diferentes fontes podem
Chamamos de reações de hipersen-
ser causa subjacente de distúrbios de
sibilidade aquelas que ocorrem de
hipersensibilidade.
forma exagerada ou de forma inapro-
priada. São reações oriundas de uma • Autoimunidade: a falha dos me-
resposta normal, mas que em algum canismos normais de autotole-
momento se processam de forma in- rância resulta em reações contra
devida e algumas vezes promove um células e tecidos próprios. As do-
processo inflamatório ou causa lesão enças causadas pela autoimuni-
tecidual. Estas reações não aparecem dade são denominadas Doenças
no primeiro contato do indivíduo com Autoimunes.
o antígeno, mas sempre num contato • Reações contra micro-organis-
posterior. mos: ocorre quando as reações
A hipersensibilidade se refere a pro- são excessivas ou quando os mi-
cessos patológicos que são oriun- cro-organismos são persistentes.
dos de interações imunologica- A resposta mediada por células T
mente específicas entre antígenos contra micro-organismos persis-
(exógenos ou endógenos) e an- tentes pode originar uma inflama-
ticorpos humorais ou linfócitos ção grave, com formação de gra-
sensibilizados. Esta definição exclui nulomas; essa é a causa de lesão
alguns distúrbios nos quais os an- tecidual na tuberculose e outras
ticorpos não apresentem qualquer infecções crônicas.
significado fisiopatológico conhecido
• Reações contra antígenos am-
(por exemplo, o anticorpo para teci-
bientais: a maioria dos indivídu-
do cardíaco, que surge após cirurgias
os saudáveis não reage contra
cardíacas ou infarto do miocárdio),
substâncias ambientais comuns,
embora sua presença possa ter um
em geral, inofensivos, mas cerca
certo valor diagnóstico.
de 20% da população responde
A imunidade adaptativa apresenta- de forma anormal a uma ou mais
-se como uma importante função de dessas substâncias. Esses indiví-
defesa contra infecções microbianas, duos produzem anticorpos IgE que
mas as respostas imunológicas são causam doenças alérgicas. Alguns
também capazes de causar lesão indivíduos tornam-se sensíveis a
tecidual ou doença. Os distúrbios antígenos ambientais e químicos,
causados pela resposta imunológi- quando em contato com a pele, e
ca são chamados de Distúrbios de desenvolvem reações mediadas
Hipersensibilidade. Até mesmo as por células T que desencadeiam
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 4

inflamação mediada por citocinas, linfócitos T, várias outras células efeto-


resultando em sensibilidade de ras e mediadores da inflamação.
contato. O problema nas doenças de hiper-
sensibilidade é que a resposta é de-
Em todas essas condições, os meca- sencadeada e mantida de forma
nismos de lesão tecidual são os mes- inadequada. As doenças de hiper-
mos que normalmente apresentam a sensibilidade são comumente clas-
função de eliminar patógenos infeccio- sificadas de acordo com o tipo de
sos. Esses mecanismos incluem res- resposta imunológica e o mecanismo
posta imunológica inata, anticorpos, efetor responsável pela lesão celular
e tecidual.

HIPERSENSIBILIDADE

Distúrbios causados por


respostas imunes se essas
respostas forem:

Mal controladas

Direcionadas ao nossos
Autoimunidade
próprios tecidos

À microrganismos Reação contra


CAUSAS
comensais microrganismos

Reação contra
À antígenos ambientais
antígenos ambientais

Qualquer classificação de hipersen- exposição a um antígeno (por exem-


sibilidade está fadada a ser excessi- plo, as reações de hipersensibilidade
vamente simplificada. Algumas ba- imediata e tardia), no tipo de antígeno
seiam-se no tempo necessário para (por exemplo, nas reações a drogas)
o aparecimento dos sintomas ou ou na natureza do envolvimento or-
de reações a testes cutâneos após gânico. Além disso, as classificações
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 5

não levam em consideração o fato e IgM) reage a componentes anti-


de que possa estar ocorrendo mais gênicos de uma célula ou elemen-
de um tipo de resposta imune ou que tos teciduais, ou a um antígeno ou
mais de um tipo de resposta possa hapteno que ficou intimamente liga-
ser necessária para produzir uma le- do a uma célula ou tecido. A reação
são imunológica. antígeno-anticorpo pode ativar cer-
Coombs e Gell em 1963 propuseram tas células citotóxicas (células T ex-
um esquema de classificação, no qual terminadoras ou macrófagos) para
a hipersensibilidade alérgica do tipo produzir citotoxicidade mediada por
descrito por Portier e Richet foi de- células anticorpo-dependentes. Ela
nominada tipo I, e ampliou a definição geralmente envolve a ativação do
da hipersensibilidade para incluir: complemento e pode causar aderên-
cia opsônica através do recobrimento
Nas reações do Tipo I, os antígenos da célula com anticorpos; a reação se
(alérgenos) se combinam com anti- desenvolve pela ativação dos compo-
corpos IgE específicos que estão li- nentes do complemento através de
gados aos receptores de membrana C3 (com consequente fagocitose de
sobre mastócitos teciduais e basófi- célula) ou pela ativação de todo o sis-
los sanguíneos. A reação antígeno- tema complemento, com subsequen-
-anticorpo provoca a liberação rápida te citólise ou lesão tecidual.
de potentes mediadores vasoativos
e inflamatórios, que podem ser pré- As reações do Tipo III – de imuno-
-formados (por exemplo, histamina, complexos (IC) – resultam da depo-
triptase) ou recentemente gerados a sição de imunocomplexos Ag-Ac
partir dos lipídeos da membrana (por (antígeno-anticorpo) circulantes
exemplo, leucotrienos e prostaglan- solúveis em vasos ou tecido. Os IC
dinas). Durante horas, os mastócitos ativam o complemento e iniciam, des-
e basófilos também liberam citoci- ta forma, uma sequência de eventos
nas pró-inflamatórias (por exemplo, que resulta na migração de células
interleucina-4 e interleucina-13). Os polimorfonucleares e liberação de en-
mediadores produzem vasodilata- zimas proteolíticas lisossômicas e fa-
ção, maior permeabilidade capilar, tores de permeabilidade em tecidos,
hipersecreção glandular, espasmo produzindo uma inflamação aguda.
da musculatura lisa e infiltração teci- As consequências da formação de
dual com eosinófilos e outras células IC dependem, em parte, das propor-
inflamatórias. ções relativas de antígeno e anticor-
po contidas no IC. Com um exces-
As reações do Tipo II (citotóxicas) so de anticorpo, os IC se precipitam
ocorrem quando o anticorpo (IgG rapidamente onde o antígeno está
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localizado (por exemplo, dentro das outras não sensibilizadas pode ocor-
articulações, na artrite reumatóide) rer com leucócitos periféricos, mas
ou são fagocitados por macrófagos e, não com soro.
desta maneira, não causam nenhum Os linfócitos T sensibilizados que fo-
dano. Com um leve excesso de antí- ram desencadeados ou ativados pelo
geno, os imunocomplexos tendem a contato com um antígeno específico
ser mais solúveis e podem causar re- podem provocar lesão imunológica
ações sistêmicas ao serem deposita- por um efeito tóxico direto ou através
dos em vários tecidos. da liberação de substâncias solúveis
As reações do Tipo IV são de hiper- (linfocinas). Na cultura de tecidos, os
sensibilidade celular, mediada por linfócitos T ativados destroem as cé-
células, tardia ou do tipo tuberculina, lulas-alvo após sensibilização pelo
causadas por linfócitos T sensibiliza- contato direto. As citocinas liberadas
dos após contato com um antígeno dos linfócitos T ativados incluem vá-
específico. Exemplos de linfócitos T rios fatores que afetam a atividade de
induzindo respostas indesejadas são: macrófagos, neutrófilos e células lin-
sensibilidade de contato (por exem- fóides exterminadoras
plo, a níquel ou plantas como hera Passados alguns anos, tem-se tor-
venenosa); as respostas de hiper- nado aparente que a classificação de
sensibilidade tardia da hanseníase ou Coombs e Gell dividiu artificialmente
tuberculose; a resposta exagerada a reações de anticorpos relacionadas
infecções virais, tais como sarampo; e com seus mecanismo (tais como tipos
os sintomas persistentes da doença I, II e III), as quais contribuem para a fi-
alérgica. siopatologia de muitas doenças imu-
Os anticorpos circulantes não estão nomediadas comuns, enquanto inclui
envolvidos e nem são necessários reações mediadas pelas células T de
para desenvolver a lesão tecidual. A hipersensibilidade tipo tardia (HTT)
transferência da hipersensibilidade numa mesma classificação (denomi-
tardia de pessoas sensibilizadas para nada tipo IV).

SAIBA MAIS!
O termo alérgeno foi utilizado primeiro por von Pirquet, em 1906, para cobrir todas as subs-
tâncias estranhas que poderiam produzir uma resposta imune. Subsequentemente, a palavra
“alérgeno” passou a ser utilizada seletivamente para as proteínas que causam “supersensibi-
lidade”. Assim, um alérgeno é um antígeno que dá início à hipersensibilidade imediata.
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 7

TIPO I TIPO II TIPO III TIPO IV

Mastócito Antígeno Anticorpo Complemento Macrófago

IgE Antígeno ligado à célula


Antígeno
processado

Anticorpo
Antígeno

Leucócito Células T sensibilizadas


Liberação do mediador Hemácia polimorfonuclear Citocinas

Figura 1. Reações de Hipersensibilidade. Disponível em: fernandobragança.com.br; adaptado

Concluindo, o esquema a seguir nos elencados nesse primeiro contato


apresenta um panorama amplo dos com o assunto, mas também aborda
quatro tipos de hipersensibilida- tópicos que iremos explicar e elucidar
de, pontuando tópicos que já foram melhor ao decorrer desse módulo.
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 8

DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE

TIPO I TIPO II TIPO III TIPO IV

REAGENTE
IgE IgG IgG Células Th1 Células Th2 CTL
AUTOIMUNE

Antígeno Receptor Antígeno


Antígeno Antígeno Antígeno Antígeno
ANTÍGENO associado à de superfície associado à
solúvel solúvel solúvel solúvel
célula celular célula

Produção de
Complemento, Anticorpos
Ativação de Complemento, Ativação de IgE, ativa Toxicidade
MECANISMO células com alteram a
mastócitos fagócitos macrófagos eosinófilos e à célula
receptor Fc sinalização
mastócitos

Rinite Doença do soro, Dermatite de Asma crônica


Alergias a Urticária Rejeição de
EXEMPLOS alérgica, asma, LES, Artrite contato, reação e rinite alérgica
fármacos crônica enxertos
anafilaxia reumatoide tuberculínica crônica
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 9

2. HIPERSENSIBILIDADE IL-3, IL-4, que atuam nos mastócitos,


TIPO I outras capazes de ativar os linfócitos
B a produzirem e secretarem IgE; IL-
É caracterizada como uma reação
5, IL-8 e IL-9, que parecem ativar a
alérgica que ocorre imediatamen-
quimiotaxia e ativação de células in-
te após o contato com o antígeno
flamatórias ao sítio de inflamação.
ou alérgeno. Seus sintomas clínicos
incluem asma, eczema, febre, urti- A produção da IgE depende da apre-
cária e alergia a comida. Geralmente sentação do antígeno por uma APC e
ela ocorre em pessoas que apresen- da cooperação entre células B e TH2.
tam algum histórico familiar de alergia Assim que a IgE é produzida ela cai na
também. circulação e se liga a receptores es-
pecíficos para ela, presentes em ba-
As reações do tipo I são dependen-
sófilos e mastócitos (o receptor de Fc
tes de IgE ligadas a mastócitos ou
presente nestas células). Apesar de a
basófilos, pois a partir do momento
IgE durar alguns dias, os mastócitos
em que a IgE se liga ao antígeno, ela
e basófilos permanecem sensibiliza-
sensibiliza os mastócitos a degranu-
dos para a IgE por meses, isto devido
larem, desta forma levando ao pro-
à alta afinidade que a IgE apresenta
cesso inflamatório. Ao que parece,
para o receptor Fc, o qual evita que
quando os mastócitos são ativados
a IgE seja destruída por proteases
há a liberação de citocinas como a
séricas.

SAIBA MAIS!
O fragmento cristalizável, região do fragmento cristalizável ou região Fc é a região dum an-
ticorpo que forma a sua cauda (ou base do Y, dado que os anticorpos têm forma de Y), que
interage com receptores da superfície das células chamados receptores Fc e com algumas
proteínas do sistema complemento. As células também apresentam um receptor de Fc, só
que este tem baixa afinidade pela IgE.

Em manifestações alérgicas e infec- IL-5, IL-9 e IL-13, que ativam a célula


ções parasitárias, os níveis de IgE es- B a fazer a troca de classe de imuno-
tão sempre elevados, mas as reações globulina e assim passar a produzir
alérgicas não se manifestam apenas IgE. A IL-5 liberada também é capaz
pela elevação sérica da IgE. Sabe-se de promover o aumento do núme-
que a produção de IgE depende da ro de eosinófilos, levando a eosino-
coordenação das células TH2, pois filia tão característica nos processos
ela libera citocinas como a IL-3, IL-4, alérgicos.
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 10

Erupções cutâneas Dor abdominal

Congestão nasal Diarreia

Broncoconstrição Choque

MANIFESTAÇÕES
Alterações vasculares
CLÍÍNICAS

Alterações de
músculo liso
REAÇÕES
ALÉRGICAS EXISTE PREDISPOSIÇÃO
ESTIMULADAS POR
DEPENDENTES GENÉTICA
DE IgE

IgE

Células T auxiliares MEDIADAS POR Imediata -> Th2

IL - 4 Tardia -> Th1

Existem outras células que podem se A degranulação dos mastócitos e ba-


ligar a IgE e com isso ter sua ação ci- sófilos ocorre a partir do momento em
totóxica aumentada no combate a pa- que as moléculas de IgE se ligam ao
rasitos, como os schistosomas. Estas antígeno e promovem a agregação
células podem ser sensibilizadas por dos receptores de Fc, isto promove
complexos imunes circulantes e com o aumento da entrada de íons Ca++
isso contribuir no processo alérgico já dentro da célula, resultando na de-
que elas contém uma variedade de granulação. Devemos ressaltar que
mediadores inflamatórios capazes de existem outras substâncias capazes
promover a reação alérgica. Estas cé- de fazer os mastócitos e basófilos de-
lulas podem ser o próprio linfócito B, granularem, como os fatores C3a e
células T, macrófagos, células de Lan- C5a do complemento, drogas como
gerhan e células foliculares dendríti- o ACTH sintético, codeína, morfina e
cas as quais, se ligam a IgE via o seu ionóforos de cálcio.
receptor Fc.
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 11

SAIBA MAIS!
O influxo de cálcio nos mastócitos induzido pelo antígeno tem dois efeitos principais: um é
que ocorre a exocitose do conteúdo dos grânulos com a liberação de mediadores pré forma-
dos (sendo que a histamina é o mais conhecido) e o outro é que ocorre a indução da síntese
de novos mediadores formados a partir do ácido araquidônico, levando a produção de pros-
taglandinas e leucotrienos, os quais tem efeito direto nos tecidos locais. Nos pulmões eles
levam a broncoconstrição, edema de mucosas e hipersecreção, levando a asma.

Atualmente é dito que existem dife- anti-histamínicos, que são eficazes


rentes populações de mastócitos pro- nas rinites e urticárias, mas não são
duzindo diferentes tipos de media- eficientes na asma, onde os leucóci-
dores. Como prova disto, citamos os tos têm um papel mais importante.
Primeira exposição ao
alérgeno
Ativação antigênica
das células Th2 e
estimulação da troca
de classe IgE nas
células B
Produção de IgE

Ligação da IgE ao Fc
nos mastócitos

Exposição repetida ao
alérgeno

Ativação dos
mastócitos: liberação
dos mediadores

Aminas vasoativas. Citocinas


Mediadores lipídicos

Reação de Reação de fase


hipersensibilidade tardia ( entre
imediata (minutos 6-24h após
após exposição) exposição)

Figura 2. Hipersensibilidade Tipo I. Disponível em: Abbas, A. K., Lichtman, A. H., & Pillai, S. (2008). Imunologia celular
e molecular.
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 12

Falando de processos alérgenos, (UI) e cada UI equivale a 2,4 nanogra-


sempre nos vem à mente o conceito mas de IgE. Em geral, os testes para
de anafilaxia, mas é importante dife- a dosagem total de IgE no soro são
renciarmos. Anafilaxia é uma reação baseados na metodologia de ELISA,
imediata muito grave e que pode le- mas também dispomos da metodolo-
var ao choque. Suas principais con- gia de quimioluminescência mas a sua
sequências são a broncoconstrição popularização só será possível quan-
intensa (a qual impede a oxigenação) do estiver a preços mais acessíveis.
por meio de um edema de glote e o
colapso cardiovascular, que acontece
por meio do aumento extremo de va- Testes sorológicos específicos
sodilatação e permeabilidade que faz para dosagem de IgE
com que o coração não consiga mais Ultimamente dispomos de vários tes-
bombear. tes para dosagem de IgEs específicas
no soro. Dos testes disponíveis temos
os de radioimunoensaio, que já estão
Diagnóstico in vitro
caindo em desuso devido aos pro-
Dosagem da IgE sérica total blemas que os materiais radioativos
apresentam, o teste de ELISA e suas
Em geral na hipersensibilidade do tipo
variações e os testes de quimiolumi-
I, a IgE sérica está aumentada em pa-
nescência. Todos estes testes apre-
cientes que apresentam alergia a ina-
sentam boa sensibilidade, no entanto
lantes. No entanto, a quantidade de
o que apresenta maior sensibilidade
IgE sérica depende de fatores como
e permite quantificar a IgE com maior
idade, sexo, fumo, histórico familiar
exatidão é o teste que emprega a
e presença de processos infecciosos
quimioluminescência.
como parasitoses. A IgE sérica é ex-
pressa em Unidades Internacionais
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 13

Leucotrienos
Asma

PAF Recém-formados

Rinite alérgica
Prostaglandinas D2
Pápulas

Triptase Pré-formados MANIFESTAÇÕES Anafilaxia

Halo eritematoso
ECF-A (tetrapeptídeos)

MEDIADORES PATOLOGIA Inflamação


Cininogenase
HIPERSENSIBILIDADE
TIPO I (IMEDIATA)
Histamina ANTICORPO ESTÍMULOS Imunogênico

IgE Não imunogênico

HISTOLOGIA TEMPO DE RESPOSTA

Exposição prévia
Basófilos Reação de fase tardia 2-4h

Eosinófilos Reação imediata 15-30m

Mastócitos

Linfócitos Th2
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 14

3. HIPERSENSIBILIDADE fagocitárias a produzirem mais leu-


TIPO II cotrienos e prostaglandinas, que
terminam por aumentar a resposta
As reações do tipo II são mediadas
inflamatória. Quininas e moléculas
por anticorpos da classe IgG e IgM
quimiotáticas como o C5a, leucotrie-
que se ligam a células ou tecidos es-
no B4 (LTB4) e peptídeos da fibrina
pecíficos, e por isso, o dano causado
também contribuem nesse processo
se restringe as células adjacentes ao
de quimiotaxia.
antígeno.
Diferentes classes de anticorpos pro-
Os mecanismos pelos quais a rea-
duzem graus variáveis na capacidade
ção do tipo II ocorre, se dá inicialmen-
de induzir esta reação, dependendo
te pela ligação do anticorpo a célula
da capacidade de se ligar ao receptor
alvo, desencadeando a ativação da
de Fc das células participantes da re-
via clássica do complemento, com
ação. Componentes do complemen-
isso, os fragmentos C3a e C5a do
to ou IgG agem como opsoninas ao
complemento atraem macrófagos e
se ligarem ao antígeno, com isso as
polimorfonucleares ao local, além de
células fagocitárias agem com maior
estimular mastócitos e basófilos a li-
facilidade.
berarem substâncias que irão atrair
mais células ao sítio de reação. A via
clássica do complemento também HORA DA REVISÃO!
promove a deposição de C3b, C3bi e As opsoninas, além de aumentar a ativi-
C3d na membrana da célula alvo, fa- dade fagocitária e potencializar a capa-
cilitando assim sua fagocitose ou des- cidade dos fagócitos de produzir inter-
mediários do oxigênio reativo, também
truição por células matadoras. Ainda promovem o aumento da capacidade de
com relação a via clássica do comple- destruição do patógeno, o que aumenta
mento, pode se observar a formação o dano imunopatológico. Isso pode ser
do complexo de ataque a membrana observado nos neutrófilos do líquido si-
novial de pacientes com artrite reuma-
(MAC) que leva a lise da célula alvo. toide, onde a capacidade desses neu-
As células que participam deste pro- trófilos produzirem superóxido é maior
do que a dos neutrófilos encontrados
cesso são macrófagos, neutrófilos, na circulação. É suposto que isso ocorra
eosinófilos e células K (Killer), que se devido a ativação dos neutrófilos pre-
ligam ao anticorpo complexado com a sentes na junta por mediadores como
os complexos imunes e fragmentos do
célula alvo, via o receptor de Fc ou via
complemento.
os fatores C3b, C3bi e C3d do com-
plemento depositados na membrana
da célula alvo. A ligação do anticorpo Os mecanismos pelos quais as cé-
via receptor de Fc, estimula as células lulas efetoras destroem a célula alvo
na reação do tipo II é idêntico ao que
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 15

acontece na destruição de micror- ela, os neutrófilos fazem a exocitose


ganismos, porém, como a célula não de seu conteúdo lisossomal, lesando
consegue fagocitar algo maior que a célula alvo e as células adjacentes.

SAIBA MAIS!
Em algumas reações como a que acontece com os eosinófilos ao reagir com os schistosomas,
a exocitose do conteúdo dos grânulos é benéfica, mas quando o alvo é o tecido do hospedeiro
que foi sensibilizado com anticorpos o dano tecidual é inevitável.

Além desses dois meca-


nismo, ainda existe outro
que envolve a inativação
de algum processo fisio-
lógico normal do corpo
humano por conta de li-
gações errôneas de an-
ticorpos com células que
participam desse pro-
cesso fisiológico essen-
cial. Ou seja, o anticorpo
ocupa o receptor dessa
célula do corpo e a partir
desse ponto, o receptor
se torna inutilizável para
a realização desse pro-
cesso fisiológico natural.
Como consequência ób-
via disso, o corpo huma-
no perde a capacidade
de realizar alguma fun-
ção fisiológica, e, dessa
vez, sem lesão celular.

Figura 3. Processos fisiopatológicos e biomoleculares envolvidos na Hipersensibili-


dade tipo II. Disponível em: Abbas, A. K., Lichtman, A. H., & Pillai, S. (2008). Imuno-
logia celular e molecular
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 16

Em relação às formas de expressão genéticas. Cada grupo sanguíneo


da reação de hipersensibilidade tipo consiste de um locus no gene que é
II, podemos citar: capaz de expressar um antígeno na
membrana da hemácias a algumas
células do sangue. Em cada sistema
Reação contra hemácias e existem dois ou mais fenótipos. No
plaquetas sistema ABO encontramos 4 fenóti-
Estas reações são as mais comuns de pos, A, AB, B e O o que corresponde
serem observadas, elas podem ocor- aos 4 grupos sanguíneos. Uma pes-
rer em circunstâncias como: soa com determinado grupo sanguí-
neo é capaz de reconhecer eritrócitos
• Transfusão sanguínea incompa-
não próprios e por isso é capaz de
tível, na qual a pessoa que recebe
montar anticorpos para estas hemá-
as hemácias é sensibilizada pelos
cias com antígenos alogênicos. Os
antígenos presentes na superfície
grupos A, B, AB, O e Rh são fortes
desta;
imunógenos, seus epítopos apare-
• Doença Hemolítica do Recém cem em vários tipos celulares e estão
Nascido, na qual a mulher grávi- localizados em unidades de carboi-
da é sensibilizada pelas hemácias drato de glicoproteínas. A maioria das
fetais; pessoas desenvolve anticorpos para
os grupos alogênicos sem que te-
• Anemias Hemolíticas Autoimu-
nham tido contato com hemácias não
nes, na qual o indivíduo é sensibili-
próprias, isto porque umas série de
zado pelos próprios eritrócitos.
microrganismos expressa antígenos
parecidos com os do grupo ABO.
Com relação as plaquetas, ela apa- Já o sistema Rhesus é de extrema im-
rece no Lúpus Eritematoso Sistêmi- portância pois ele é a principal cau-
co, onde elas promovem a tromboci- sa da Doença Hemolítica do Recém
topenia e reações com neutrófilos e Nascido. Os antígenos Rhesus são
linfócitos. proteínas lipídio dependentes distri-
buídas na superfície celular.
Reações transfusionais A forma mais simples de se saber se o
sangue de uma pessoa é compatível
Estas reações ocorrem quando o re-
ou não com outro, é a reação de pro-
ceptor possui anticorpos para as
va cruzada, nesta reação misturamos
hemácias do doador. São conheci-
o sangue do doador com o do recep-
dos mais de 20 grupos sanguíneos,
tor, se houver a presença de anticor-
o que gera mais de 200 variantes
pos para o sistema ABO alogênico
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 17

será possível observar a aglutinação mais severas que ocorrem na rejeição


de hemácias. Deve-se tomar cuida- de transplante se devem aos antíge-
do com os grupos sanguíneos menos nos do grupo ABO e/ou das moléculas
comuns e mais fracos pois estes cau- do MHC expressos nas células, onde
sam aglutinação mais branda, só per- o dano tecidual é feito pelo sistema
ceptível com o auxílio de um micros- complemento nas veias sanguíneas
cópio ou por vezes só detectável com e também devido ao recrutamento e
o Teste de Coombs. Se uma pessoa ativação de neutrófilos e plaquetas.
é transfusionada com o sangue total,
faz-se necessário verificar se o soro
do paciente não apresenta anticorpos Doença hemolítica do
para o sangue do receptor. recém-nascido

A transfusão com sangue incompatí- Esta doença, também conhecida


vel leva a uma reação imediata com como eritroblastose fetal, ocorre de-
sintomas clínicos como febre, hi- vido a formação de anticorpos mater-
potensão, náusea, vômito e dor nos, da classe IgG, que reagem com
abdominal. A gravidade da reação as hemácias do feto. Estes anticor-
depende da quantidade de hemácias pos, são produzidos na primeira vez
administrada. no momento do parto que uma mãe
Rh-, tem um filho Rh+. Por esse mo-
Os anticorpos para o sistema ABO
tivo o primeiro filho não apresenta
são geralmente da classe IgM, mas
a Doença Hemolítica, pois a mãe só
também temos a participação da IgG
é sensibilizada no momento do parto.
onde, as células sensibilizadas com
Na segunda vez que esta mãe tiver
esta classe são destruídas pelas célu-
uma criança Rh+, os anticorpos IgG
las fagocitárias do fígado e baço, não
para as hemácias Rh+, atravessarão a
podemos esquecer que também há a
placenta e reagirão com as hemácias
participação do sistema complemen-
fetais, assim, as levando a destruição.
to. A destruição das hemácias pode
levar ao choque circulatório e a necro-
se tubular aguda do fígado. SE LIGA! A anemia estimula a medula
óssea fetal a produzir e liberar eritróci-
A reação hiperaguda de órgãos tos imaturos (eritroblastos) na circulação
transplantados, é outra que se deve periférica fetal (eritroblastose fetal). A
a formação de anticorpos para o ór- hemólise resulta em níveis elevados de
bilirrubina indireta nos neonatos, cau-
gão doado, ela é observada em te- sando kernicterus.
cidos que são revascularizados logo
após o transplante, como no caso
de transplante de fígado. As reações
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 18

Anemias hemolíticas autoimune também pode estar associado com


doenças autoimunes como o Lúpus
Este tipo de doença parece ocorrer
Eritematoso.
espontaneamente com a pessoa pro-
duzindo anticorpos contra si mesma.
Pode-se suspeitar de uma anemia Reação à drogas ligadas às
hemolítica autoimune se obtivermos hemácias
resultado positivo para o teste indi-
reto para antiglobulinas. Este teste Este tipo de reação ocorre devido a
identifica anticorpos presentes para anticorpos ligado a drogas que por
as hemácias do paciente. sua vez estão aderidas à membrana
das hemácias, ou devido à quebra do
As doenças Hemolíticas Autoimunes mecanismo de auto tolerância.
podem ser divididas em três tipos,
dependendo da forma como elas se Drogas ou seus metabólitos podem
apresentam. Elas podem ocorrer de- levar a reações de hipersensibilidade
vido a presença de anticorpos autor- contra hemácias ou plaquetas e isto
reativos que reagem com as hemá- parece ocorrer de diversos modos,
cias acima de 37°C, devido a reação dentre estes, destacamos a ligação
de anticorpos capazes de reagir com da droga as células sanguíneas com
as hemácias abaixo dos 37°C ou ain- a formação de anticorpos para esta
da, devido a reação de anticorpos droga. Isto foi observado nos casos
para drogas fixadas na membrana de Trombocitopenia Purpúrica onde
das hemácias. após a administração de Serdormida
ocorria a destruição das plaquetas. A
administração de drogas como Pe-
Anticorpos para plaquetas nicilinas, Quininas e Sulfonamidas
pode levar ao desenvolvimento das
A maioria dos casos em que se ob-
anemias hemolíticas. Também pode
serva a formação de anticorpos para
ocorrer devido a formação de imuno-
plaquetas é na trombocitose purpúri-
complexos adsorvidos na membrana
ca idiopática. A trombocitose purpú-
de hemácias, e consequente dano
rica idiopática é uma doença em que
devido ao complemento. Outra das
a remoção das plaquetas da circula-
formas de ativação da anemia hemo-
ção é acelerada pelos macrófagos do
lítica se deve a droga induzir a rea-
baço, e a remoção se dá pela aderên-
ção alérgica e por isso são formados
cia aos receptores destas células.
anticorpos para os antígenos eritroci-
Também costuma ocorrer a formação tários. Isso foi observado em pacien-
de anticorpos para plaquetas após as tes em que se administrou α-metildo-
infecções por bactérias ou vírus, mas pa, só que esta reação cessa a partir
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 19

do momento que a administração do nas células pulmonares que reagem


medicamento é suspensa. cruzadamente com os anticorpos
para as células dos glomérulos.
Reações contra tecidos No Pênfigo temos a produção de
anticorpos para a molécula intracelu-
Em geral esta reação ocorre em pro- lar de adesão o que causa um sério
cessos autoimunes, já que a molécula comprometimento da pele e mucosas
reconhecida como antígeno é alguma com a formação de bolhas. Os pa-
proteína da membrana celular. Exem- cientes apresentam autoanticorpos
plos deste tipo de reação ocorrem na para uma das proteínas do desmos-
Síndrome de Goodpasture, Pênfigo e somo, o que leva a formação de jun-
na Miastenia Gravis. ções entre as célula epidérmicas. Os
Na Síndrome de Goodpasture ob- anticorpos acabam por separar as
servamos a presença de anticorpos células uma das outras levando a for-
capazes de reagir com uma glicopro- mação da epidermite.
teína da membrana de células basais Na Miastenia Gravis encontramos
do glomérulo. Normalmente a classe a fraqueza muscular ocorre devido a
de anticorpo envolvida é a IgG. O re- presença de anticorpos para os re-
sultado desta reação leva a necrose ceptores da acetil colina presentes
severa e a deposição de fibrina nos na superfície da membrana celular.
glomérulos. Mas esta síndrome pode A maioria dos anticorpos envolvidos
também envolver os pulmões, isto nesta doença também são da classe
porque há a presença de antígenos IgG.

SAIBA MAIS!
Nem sempre as doenças autoimunes envolvem a reação de hipersensibilidade do tipo II, por
exemplo, no caso em que a diabete é causada por uma doença autoimune, embora se detec-
tem anticorpos da classe IgG para as células pancreáticas, a maior parte dos danos imunopa-
tológicos são causados por células T autorreativas, o que se enquadraria no tipo IV.
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 20

Doença de Graves

Radicais livres
Miastenia gravis Pênfigo vulgar

Enzimas lisossômicas
Eritoblastose fetal Síndrome de
(anemia hemolítica
autoimune) Goodpasture
Leucócitos

MANIFESTAÇÕES

Complemento Lise celular e necrose

Moléculas intrínsecas à
MEDIADORES PATOLOGIA membrana celular ou da
HIPERSENSIBILIDADE matriz extracelular
TIPO II (CITOTÓXICA)
IgG ANTICORPO ANTÍGENOS Exógenos adsorvidos

IgM

HISTOLOGIA TEMPO DE RESPOSTA Minutos a horas

Anticorpos e
Neutrófilos
autoanticorpos

Complemento Macrófagos
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 21

4. HIPERSENSIBILIDADE as quais podemos incluir neste pro-


TIPO III cesso são: lepra, malária, dengue he-
morrágica, hepatites virais e a endo-
A Reação de Hipersensibilidade do
cardite estafilocócica.
Tipo III é também conhecida como a
Doença dos Imunocomplexos. Ela Nas doenças autoimunes o proces-
ocorre quando o complexo antíge- so é na verdade uma complicação da
no-anticorpo (Ag-Ac) formado não é doença devido a produção contínua
removido pelas células fagocitárias de anticorpos para antígenos pró-
e deste modo o complexo acaba se prios. Conforme o número de imu-
depositando em algumas regiões nocomplexos no sangue vai aumen-
do organismo (principalmente nos tando, os sistemas responsáveis pela
vasos sanguíneos), onde sofrerá ação remoção destes (monócitos, eritróci-
do sistema complemento e de fagóci- tos e via do complemento), ficam so-
tos. O local de deposição dos imuno- brecarregados e os complexos vão se
complexos é em parte determinado depositando nos tecidos. As doenças
pela localização do antígeno nos teci- em que observamos isto ocorrer com
dos e em parte pela forma como eles maior frequência são na artrite reu-
se depositam. Os locais mais acome- matoide, lúpus eritematoso sistêmico
tidos são os rins e as articulações, pois (LES) e poliomiosite.
é nos vasos da circulação sanguínea Com relação a inalação de material
desses tecidos que os imunocomple- antigênico, os imunocomplexos são
xos tendem a se depositar. formados na superfície corporal logo
As doenças dos imunocomplexos após a exposição ao antígeno. Tais
pode ser dividida de modo genéri- reações são mais observadas nos
co em três grupos: imunocomplexos pulmões após exposições repetidas
formados devido a uma infecção per- ao antígeno. Em geral os antígenos
sistente, imunocomplexos devido a são fungos, pólen e outros materiais
uma doença autoimune e imunocom- oriundos de plantas e materiais ani-
plexos devido a inalação de material mais. Os exemplos típicos descritos
antigênico. na literatura são o da Doença do Feno
ou Doença Pulmonar do Fazendeiro e
No caso de uma infecção persisten-
a Doença Pulmonar dos Criadores de
te, os efeitos combinados de uma
Pombos. Neste caso quando o antí-
infecção persistente com baixa repli-
geno entra no organismo por inalação
cação antigênica associados a fraca
ocorre a formação de imunocomple-
resposta dos anticorpos leva a forma-
xos locais nos alvéolos levando ao
ção de imunocomplexos e a deposi-
processo inflamatório e fibrose. Nes-
ção destes nos tecidos. As doenças
ses casos, o anticorpo envolvido é da
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 22

classe IgG e não da IgE como ocorre


na reação tipo I.

DOENÇA ANTÍGENO ENVOLVIDO CLÍNICA

LES DNA, nucleoproteínas etc. Nefrite, artrite e vasculite

Antígeno de superfície do vírus da Hepatite


POLIARTRITE NODOSA Vasculite
B (alguns casos)

GLOMERULONEFRITE
Antígeno da parede celular do estreptococo Nefrite
PÓS-ESTREPTOCÓCICA

DOENÇA DO SORO Diversas proteínas Artrite, vasculite e nefrite


Tabela 1. Principais doenças mediadas por imunocomplexos

Mecanismos da reação do tipo III vascular e permitindo que ocorra a


deposição do complexo imune na pa-
Os imunocomplexos são capazes de
rede dos vasos, este complexo por
dar início a uma série de proces-
sua vez continua a estimular a forma-
sos inflamatórios, entre eles a inte-
ção de mais C3a e C5a.
ração com o sistema complemento,
gerando fragmentos C3a e C5a. Es- As plaquetas também se agregam
tas frações estimulam a liberação de no colágeno da membrana basal aju-
aminas vasoativas como a histamina dado pela interação da região Fc do
e 5-hidroxitriptamina e também fato- complexo imune depositado, forman-
res quimiotáticos para mastócitos e do assim microtrombos. As plaquetas
basófilos, não esquecendo que C5a agregadas continuam a produzir ami-
também apresenta esta função qui- nas e a estimular a produção de C3a
miotática. Os macrófagos também e C5a, além disso como elas liberam
são estimulados a liberar citocinas fatores de crescimento celular, parece
como o TNFα e IL-1. Além disso, os que estão envolvidas na proliferação
complexos interagem diretamente celular.
com basófilos e plaquetas, via recep- Os polimorfonucleares também são
tor de Fc, induzindo a liberação de atraídos para o sítio inflamatório por
aminas vasoativas. As aminas vaso- C5a. Eles tem o papel de fagocitar
ativas liberadas pelas plaquetas, ba- os imunocomplexos mas não conse-
sófilos e mastócitos promovem a re- guem, pois os imunocomplexos estão
tração das células endoteliais deste aderidos a paredes dos vasos. Por
modo aumentando a permeabilidade esse motivo eles fazem a exocitose
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 23

de suas enzimas. As enzimas dos complemento. A sintomatologia clíni-


polimorfonucleares, no soro, são ra- ca da doença do soro se deve a de-
pidamente inativadas devido a pre- posição dos imunocomplexos e da
sença de inibidores, porém essas fração C3 na membrana basal de pe-
enzimas acabam destruindo o tecido quenos vasos. Quanto maior a quan-
adjacente. tidade de anticorpos formados, mais
cresce o tamanho do imunocomplexo
e isso facilita a sua destruição.
Doença do soro
Foi observado que o complemento é
Essa doença também é causada por importante para que a reação se de-
complexos imunes circulantes que se senvolva, pois ele é que atrai os neu-
depositam nas paredes dos vasos e trófilos para o sítio de inflamação, e
tecidos levando a doenças inflamató- sucessivamente, o TNFα age aumen-
rias como a glomerulonefrite e artrite. tando a reação mediada por células.
A doença do soro é na verdade uma
A remoção dos imunocomplexos de-
complicação da soroterapia, onde
pende de que este IC esteja recober-
doses maciças de anticorpos para
to por C3b para que monócitos, prin-
antígenos como o veneno de ofídios
cipalmente do fígado e baço, façam a
e a toxina do bacilo diftérico acabam
fagocitose. Os eritrócitos também são
por estimular o sistema imune a mon-
importantes neste processo pois eles
tar anticorpos, que reagirão com es-
possuem em sua membrana o re-
tes que foram aplicados como parte
ceptor de C3b, o CR1, com isso eles
de um tratamento. Isto porque os an-
carregam os imunocomplexos opso-
ticorpos usados na soroterapia são
nizados até o fígado e baço onde os
geralmente de origem animal assim,
complexos são removidos pelos ma-
quando se aplica um soro anti-ofídi-
crófagos teciduais.
co em um paciente, como este é pro-
duzido em equinos, o paciente acaba Em pacientes com baixos níveis de
por montar anticorpos para as proteí- complemento, principalmente da via
nas dos equinos. clássica, a ligação dos imunocom-
plexos as hemácias é pequena. Com
Esta reação ocorre por excesso de
isso, esses imunocomplexos circu-
antígeno, e como os imunocomple-
lantes passam pelo fígado e acabam
xos formados são pequenos eles
sendo liberados, ou seja, acabam se
levam muito tempo circulando até
depositando em tecidos como a pele,
que sejam fagocitados pelos monó-
rins e músculos, aonde eles promo-
citos. A formação dos imunocomple-
vem reações inflamatórias.
xos é seguida de uma queda abrup-
ta dos componentes do sistema
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 24

Figura 4. Sequência de respostas imunológicas na doença do soro aguda experimental.


A injeção de albumina sérica bovina em um coelho leva à produção de anticorpos específicos e à formação de imu-
nocomplexos. Esses complexos são depositados em diversos tecidos, ativam o complemento (levando à redução
sérica das concentrações de proteínas do complemento) e causam lesões inflamatórias que se resolvem conforme os
complexos e o antígeno remanescente são removidos e começa a aparecer anticorpo livre (não ligado ao antígeno) na
circulação. Disponível em: Abbas, A. K., Lichtman, A. H., & Pillai, S. (2008). Imunologia celular e molecular

O tamanho dos imunocomplexos imunocomplexos maiores fixarem


também influência na deposição des- melhor o complemento e por isso se
tes, isso porque quanto maior ele for, ligar melhor as hemácias. Sabe-se,
mais rapidamente ele é eliminado, além disso, que os grandes comple-
geralmente em minutos, enquanto xos são liberados mais lentamente
que os menores podem persistir por das hemácias.
dias. Isso se deve a capacidade dos

SAIBA MAIS!
A classe do anticorpo também tem participação na remoção dos complexos circulantes pois
anticorpos da classe IgG, por se ligarem melhor as hemácias do que os da classe IgA, são
liberados mais lentamente, e por isso que dificilmente irão se depositar em órgãos como rins,
pulmões e cérebro.
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 25

Artrite reumatoide (ar) recrutam leucócitos para a articulação


e ativam células sinoviais para produ-
A artrite reumatoide (AR) é uma do-
zir colagenases e outras enzimas. O
ença inflamatória crônica sistêmica,
resultado é a destruição progressiva
que afeta muitos tecidos, atacando
da cartilagem e do osso. As respos-
principalmente as articulações para
tas imunes crônicas nas articulações
produzir sinovite não supurativa pro-
podem levar à formação de tecidos
liferativa que frequentemente pro-
linfoides terciários na sinóvia, e es-
gride para destruir a cartilagem arti-
ses tecidos linfoides terciários podem
cular e o osso, resultando em artrite
manter e propagar a reação inflama-
incapacitante.
tória local.
Como outras doenças autoimunes, a
AR é uma doença complexa, na qual
fatores genéticos e ambientais con-
tribuem para a quebra de tolerância
a antígenos próprios. A especifici-
dade das células B e T patogênicas
permanece desconhecida, embora já
se tenha estabelecido a existência de
ambas as células B e T capazes de
reconhecer peptídios citrulinados. A
suscetibilidade à AR está ligada ao
haplótipo HLA-DR4.
De acordo com um modelo, agres-
sões ambientais, como tabagismo e
algumas infecções, induzem a citruli-
nação de proteínas próprias, levando
à criação de novos epítopos antigê-
nicos. Em indivíduos geneticamen-
te suscetíveis, a tolerância a esses
Figura 5. Ilustração de articulação normal e com artrite
epítopos pode falhar, resultando em reumatoide. Fonte: Robbins & cotran-patologia bases
respostas de anticorpos e de células patológicas das doenças, 2010.
T contra as proteínas. Se essas pro-
teínas próprias modificadas também
estiverem presentes nas articulações, Lúpus eritematoso sistêmico
as células T e os anticorpos ataca- O lúpus eritematoso sistêmico (LES)
rão as articulações. Células TH17, e é uma doença autoimune que afeta
talvez TH1, secretam citocinas que diversos órgãos, com manifestações
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 26

multiformes e comportamento clínico observado pode-se dizer se o órgão


variável. Do ponto de vista clínico, é está muito ou pouco comprometido.
uma doença imprevisível, remitente e Por exemplo, em pacientes com a
recorrente, de início súbito ou insidio- deposição contínua de IgG sub-ep-
so, que pode envolver virtualmente telial como nos pacientes com glo-
qualquer órgão; entretanto, ela afeta merulonefrite o prognóstico é ruim,
sobretudo pele, rins, serosas, articu- já nos pacientes em que os comple-
lações e coração. xos estão localizados no mesângio o
Na LES os fatores genéticos e am- prognóstico é melhor. Nem todos os
bientais contribuem para a quebra de imunocomplexos dão origem a uma
tolerância de linfócitos B e T autorre- resposta inflamatória. No LES, por
ativos. Entre os fatores genéticos, a exemplo, pode-se encontrar comple-
herança de determinados alelos HLA xos depositados na pele com aparên-
é um fator importante. cia normal.
O defeito fundamental no LES é a in- No caso de complexos circulantes po-
capacidade de manter a autotole- de-se fazer a pesquisa dos complexos
rância, levando à produção de grande ligados a hemácias e dos complexos
número de autoanticorpos que po- livres no plasma. Como os comple-
dem danificar os tecidos, diretamente xos ligados as hemácias são menos
ou na forma de depósitos de comple- lesivos que os complexos livres cir-
xos imunes. culantes, normalmente se procura
pelos últimos. O Fator I exerce uma
ação na hemácia que a faz liberar os
Detecção dos imunocomplexos complexos, ou seja, o problema de se
Os imunocomplexos depositados po- dosar os complexos livres está justa-
dem ser pesquisados com o auxílio mente aí. Por isso todo cuidado deve
da imunofluorescência dos tecidos ser tomado no momento da coleta do
em que a reação está ocorrendo. A sangue, com a separação imediata do
pesquisa pode ser feita para a pes- plasma das células sanguíneas, tudo
quisa de determinada classe de imu- com a finalidade de tornar o resultado
noglobulina ou do complemento. De o mais próximo do real possível.
acordo com o padrão de fluorescência
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 27

Parede vascular

LES Vasculites
Membrana
Inflamação e necrose
glomerular
Artrite reumatoide Doença do soro
Membrana articular Edema

MANIFESTAÇÕES
Depuração ineficaz
Eritema
de imunocomplexos

Deposição em excesso
PATOLOGIA MECANISMO
de imunocomplexos
HIPERSENSIBILIDADE
TIPO III (COMPLEXO
IgG ANTICORPO IMUNE) ESTÍMULOS Antígeno solúvel

IgM

HISTOLOGIA TEMPO DE RESPOSTA

Complemento Minutos a horas

Neutrófilos

Imunocomplexos
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 28

5. HIPERSENSIBILIDADE abrangente, pois há casos, como na


TIPO IV reação tardia de uma resposta feita
por IgE, que envolve além dos an-
Esta reação é a mais longa (leva mais
ticorpos a resposta controlada por
de 12 horas para que se desenvol-
células Th. Ou seja, a reação do Tipo
vam os sintomas clínicos) e envol-
IV pode ocorrer junto com as outras
vem reações mediadas por células
reações de hipersensibilidade, assim
em detrimento a reação mediada por
como pode ser oriunda da complica-
anticorpos. Esta definição é muito
ção de uma delas.

Figura 6. Mecanismos das reações de hipersensibilidade mediadas pelas células T (tipo IV). A, Nas reações de hiper-
sensibilidade retardada, as células T CD4+ (e, algumas vezes, as células CD8+) respondem aos antígenos presentes
nos tecidos por meio da secreção de citocinas que estimulam a inflamação e ativam as células fagocitárias, levando
à lesão tecidual. B, Em algumas doenças, as CTLs CD8+ destroem as células do tecido diretamente. APC, célula
apresentadora de antígenos. CTLs, linfócitos T citotóxicos. Fonte: Robbins & cotran-patologia bases patológicas das
doenças, 2010.
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 29

Diferente das outras reações de hi- desencadeado na reação do tipo IV


persensibilidade, a reação do tipo IV embora por vezes a reação clínica
não pode ser transferida de um ani- seja muito parecida.
mal para o outro via soro, mas pode As porções dos alérgenos que desen-
ser transferida pelas células T. Ela está cadeiam a reação do tipo IV, chama-
associada com a proteção conferida das de Haptenos, são substâncias
pelas células T mas nem sempre cor- tão pequenas que por si só não são
re em paralelo com ela. Nem sempre capazes de desencadear a resposta
há correlação entre a reação de hiper- imune, ou seja, não são substâncias
sensibilidade do tipo IV e imunidade imunogênicas. Estas substâncias têm
protetora. As células T responsáveis a capacidade de penetrar na pele e se
pela reação do tipo IV foram especi- conjugar com as proteínas orgânicas.
ficamente sensibilizadas por um en-
contro prévio e agem recrutando ou- Existem dois tipos de células princi-
tras células para o sítio da reação. pais que participam no desencadear
da resposta do tipo IV: as células de
São classificados três tipos de reação Langerhan (originadas na medula
de hipersensibilidade do tipo IV. São óssea e concentradas na pele) e os
elas: a hipersensibilidade de conta- Queratinócitos (células diferencia-
to, a reação granulomatosa e a rea- das do tecido epitelial que sintetizam
ção tuberculínica. Tanto a hipersen- queratina).
sibilidade de contato quanto a reação
tuberculínica, ocorrem num período Para a reação de contato ocorrer é
de 48 a 72 horas, ao passo que a re- necessária uma primeira etapa de
ação granulomatosa ocorre num perí- sensibilização, que leva de 10 a 14
odo de 21 a 28 dias em média. Na re- dias. Nesta etapa, o hapteno absorvi-
ação granulomatosa, os granulomas do combina com uma proteína e aí é
formados se devem a agregação e a fagocitado pela célula de Langerhan,
proliferação dos macrófagos, e isso a qual migrará da epiderme até a re-
pode durar semanas; por isso ocorre gião paracortical dos lifonodos regio-
num período mais longo. nais. Nos linfonodos, elas apresentam
o hapteno em associação com o MHC
de classe II aos linfócitos CD4+ dando
Hipersensibilidade de contato origem a uma população de células T
CD4+ de memória.
A hipersensibilidade de contato é ca-
racterizada por eczemas na região Em uma segunda fase, ao se entrar
de contato com o produto alergêni- em contato com o alérgeno de novo,
co. Substâncias irritantes para a pele este causa uma pequena diminuição
agem de modo diferente do processo do número de células de Langerhan
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 30

da epiderme, as quais irão se deslo- HIPERSENSIBILIDADE


car e apresentar o antígeno na pele e GRANULOMATOSA
linfonodos às células T CD4+ de me-
Esta reação é resultante da persistên-
mória. Após o pico máximo da reação,
cia de microrganismos ou partículas
ela começa a ser suprimida pela ação
as quais os macrófagos não conse-
de Prostaglandina E (PGE), produzi-
guem destruir. Este processo resulta
da por macrófagos e queratinócitos
na formação de granuloma de células
ativados. A PGE inibe a produção de
epiteliais.
IL-1 e IL-2. Ao mesmo tempo, a célula
T se liga aos queratinócitos e assim Histologicamente ele difere do que
o hapteno ligado ao MHC de classe se observa na reação tuberculínica,
II sofre a degradação por enzimas no entanto ele é o resultado da sen-
celulares. sibilização por microrganismos como
o Mycobacterium tuberculosis e M.
leprae.

SAIBA MAIS!
A reação granulomatosa também pode ocorrer como resultado a um corpo estranho presente
no organismo, como o que ocorre nas pessoas que trabalham na indústria de amianto, de-
senvolvendo a formação de granulomas nos pulmões devido a inalação do pó do amianto, e
também uma série de outras substâncias que os macrófagos são incapazes de digerir. Nesse
caso temos o que se chama de granuloma não imunológico, pois não encontramos a presen-
ça de linfócitos nele.

As células mais importantes neste tipo O granuloma oriundo de uma ativa-


de granuloma são as células epiteliói- ção imune tem a participação de cé-
des e as células gigantes. As células lulas epitelióides e macrófagos na
epitelióides são oriundas de macrófa- região central, sendo que, algumas
gos ativados num processo crônico em vezes tem a participação de células
que há a liberação contínua de citoci- gigantes. Em doenças como a tuber-
nas e TNF, que potencializam a forma- culose a área central do granuloma
ção do processo inflamatório. Quanto pode ser uma zona de necrose, com
as células gigantes, elas se originam a destruição completa das estruturas
da fusão de células epitelióides e ao celulares. A região central de macró-
que parece, podem ser oriundas de fagos e células epitelióides é circun-
um estágio terminal de diferenciação dada por uma camada de linfócitos,
de monócitos e/ou macrófagos. onde ocorre a deposição de fibras de
colágeno levando a formação de uma
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 31

considerável zona de fibrose, ocasio- oriundos de microrganismos como o


nada pela proliferação de fibroblastos berílio e o zircônio.
e aumento da síntese de colágeno.

Reação tuberculínica –
hipersensibilidade do tipo tardio
(DTH)
A hipersensibilidade do tipo tardio
(DTH) é uma reação inflamatória pre-
judicial mediada por citocinas resul-
tantes da ativação de células T, par-
ticularmente das células T CD4 +. A
reação é chamada tardia porque se
desenvolve tipicamente 24 a 48 ho-
ras após o desafio com o antígeno,
em contraste com as reações de hi-
persensibilidade imediata (alérgicas),
que se desenvolvem em minutos.
Esta forma de hipersensibilidade é
observada quando se inocula por
via subcutânea um antígeno solúvel,
como o bacilo da tuberculose (proteí-
nas da bactéria morta). Na região em
que foi injetado o antígeno, se obser-
va a formação de um edema em torno
de 48 horas pós inoculação. Reações
semelhantes podem ser observadas
quando se administra antígenos so-
lúveis de microrganismos como My-
cobacterium leprae e Leishmania tro-
pica em pessoas sensibilizadas. Por
este motivo o teste de sensibilidade
cutânea é utilizado para saber se uma Figura 8. Reação de Hipersensibilidade do tipo tardio.
pessoa foi exposta previamente a um A infecção ou imunização (vacinação) sensibiliza um
indivíduo, e o desafio subsequente com um antígeno
determinado antígeno. Esta forma de do agente infeccioso elicita uma reação de DTH. A
hipersensibilidade também pode ser reação é manifestada pelo endurecimento com eritema
e inchaço no local do desafio, com pico em aproximada-
induzida por antígenos que não sejam mente 48 horas. Disponível em: Abbas, A. K., Lichtman,
A. H., & Pillai, S. (2008). Imunologia celular e molecular
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 32

A reação tuberculínica envolve vários subepitelial com basófilos não é ca-


tipos celulares, mas os monócitos racterística deste tipo de reação, no
são os principais participantes desta. entanto, ela pode ser observada em
Logo após a inoculação do antígeno, algumas reações de hipersensibilida-
ocorre a ativação de células T especí- de e testes cutâneos em que são usa-
ficas, que passam a secretar citocinas das proteínas heterólogas.
como o TNFα e TNFβ que atuam nas
células endoteliais e dos vasos, as
induzindo a expressar moléculas de Algumas situações em que
adesão como a E-selectina, ICAM-1 observamos a reação do tipo IV
e VCAM-1. Estas moléculas se ligam Existem várias doenças em que ob-
a receptores presentes nos leucóci- servamos isto, a maioria se deve a
tos, assim os recrutando para o sí- agentes infecciosos como micobac-
tio da reação. Nas primeiras 4 horas térias, protozoários e fungos, embora
pós inoculação se observa o influxo isso também seja observado em do-
de neutrófilos, que vão sendo aos enças como a Sarcoidose onde não
poucos substituídos por macrófagos há um agente infeccioso estabelecido
e células T nas 10 horas seguintes. para tal. As doenças mais comuns em
Este infiltrado celular vai aumentando que esta reação se apresenta são: Le-
de forma que acaba rompendo o fei- pra, Tuberculose, Esquistossomose,
xe de colágeno da derme. Esta reação Sarcoidose e Doença de Crohn. Há
atinge o seu pico máximo em 48 ho- uma situação que não é doença, mas
ras pós inoculação. Encontramos tan- incomoda bastante as pessoas que
to células T CD4+ como CD8+, sendo é a picada de insetos, inicialmente a
o dobro CD4+ em relação a CD8+. reação que ocorre pode ser do tipo I,
Os macrófagos constituem aproxima- por ser mediada por IgE, mas a evo-
damente 80% das células presentes lução da resposta imune leva a uma
no infiltrado, sendo que os macrófa- reação de hipersensibilidade tardia
gos e linfócitos presentes expressam com a formação de granuloma como
o MHC de classe II, o que contribui o observado na reação tuberculínica.
para aumentar a eficiência de macró- Uma característica comum nestas in-
fagos e de células apresentadoras de fecções é que o agente infeccioso é
antígenos. persistente e promove o estímulo an-
A reação tuberculínica se resolve sozi- tigênico crônico. A ativação dos ma-
nha em cerca de 5 a 7 dias, no entanto crófagos pelos linfócitos pode limitar
se o antígeno persistir no local, pode a infecção só que, o estímulo contí-
haver o desenvolvimento de uma re- nuo leva a destruição tecidual devido
ação granulomatosa. A infiltração a liberação de produtos oriundos dos
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 33

macrófagos como o oxigênio reativo e Esse processo ocorre nos nervos pe-
intermediários das hidrolases. riféricos, onde as células de Schwann
contém o M. leprae; o que é a causa
SE LIGA! Embora a reação de hipersen-
mais importante da destruição ner-
sibilidade seja induzida pelos linfócitos T vosa nesta doença. Na lepra tuber-
ativados, nem sempre a reação é contro- culoide a imunidade protetora está
lada, de forma que a imunidade proteto- normalmente associada com a imu-
ra e a reação de hipersensibilidade tar-
dia nem sempre acontecem ao mesmo nidade mediada por células, só que
tempo. Por este motivo é que algumas esta vai declinando a medida que a
pessoas que tem hipersensibilidade tar- doença caminha para o quadro lepro-
dia não apresentam proteção ao mesmo
matoso, com a produção de anticor-
antígeno que as levou a desenvolver
esta hipersensibilidade. pos não protetores para o M. leprae.
Outro exemplo, é a tuberculose, nela
observa-se um balanço entre os efei-
Um dos exemplos que podemos ci-
tos dos macrófagos ativados contro-
tar é a lepra. A lepra é dividida em 3
lando a infecção e/ou causando danos
tipos, tuberculoide, intermediária e
teciduais nos órgãos infectados. Nos
lepromatosa. Na lepra tuberculoide
pulmões a reação granulomatosa leva
a pele apresenta pequenas áreas hi-
a formação de “buracos” (necrose ca-
popigmentadas que tem um intenso
seosa), que contribuem para o espa-
infiltrado de leucócitos e células epi-
lhamento da bactéria. As reações são
telióides, mas sem a presença do ba-
frequentemente acompanhadas de fi-
cilo, já na lepra lepromatosa se obser-
brose extensa. Observa-se na região
vam múltiplas lesões confluentes que
central do granuloma a presença de
apresentam numerosos bacilos, ma-
uma área de necrose, circundada por
crófagos e alguns linfócitos. Já a lepra
células epitelióides e células gigantes
intermediária, como o próprio nome
com células mononucleares na região
diz, apresenta características tanto da
periférica.
lepra tuberculoide quanto da lepro-
matosa e a reação se apresenta com No caso da esquistossomose a rea-
o quadro típico de hipersensibilidade ção granulomatosa se processa con-
do tipo IV, sendo que nela as lesões tra o ovo dos esquistossomas, levan-
hipopigmentadas de pele contendo o do a formação do granuloma ao redor
bacilo, se tornam inchadas e inflama- do mesmo.
das, porque o organismo é incapaz e Na Sarcoidose, a causa exata da do-
montar a reação de hipersensibilidade ença é desconhecida. Sabe-se que
tardia. Nestas lesões observa-se o in- é uma doença crônica, com quadro
filtrado de linfócitos secretando γ-IFN. clínico algumas vezes parecido com
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 34

o da lepra, onde macrófagos se acu- neutrófilos na camada epitelial, reco-


mulam em vários tecidos como pul- brindo então o intestino com agrega-
mões, lifonodos, ossos, tecido ner- dos de linfócitos, o que leva a infiltra-
voso, e pele, formando o granuloma, ção destes nas criptas e a posterior
frequentemente acompanhado de fi- formação da fístula. Esta reação gra-
brose. Essa doença acomete mais o nulomatosa leva a diminuição do diâ-
tecido linfóide, promovendo o edema metro interno do intestino e a forma-
dos linfonodos. ção de fístulas que chegam até outros
A Doença de Crohn também é uma órgãos.
doença em que não há a participação As CTLs desempenham um papel im-
de um agente infeccioso. Ela acomete portante na rejeição de transplantes
o colo e o íleo, as vezes mais na por- de órgãos sólidos e podem contribuir
ção terminal do íleo e por isso tam- para muitas doenças imunológicas,
bém chamada inicialmente de ileíte como o diabetes do tipo 1 (no qual
terminal, e pode acometer qualquer as células b das ilhotas pancreáticas
porção do trato alimentar. Nela temos são destruídas por uma reação au-
a presença de os linfócitos e macrófa- toimune das células T).
gos se acumulando em várias cama-
das do intestino, levando a formação
do granuloma e fibrose. Esta reação
parece começar com a infiltração de
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 35

DM tipo I

Esclerose múltipla Dermatite de contato

Tuberculina

Artrite reumatoide Tuberculose


Agentes químicos
orgânicos
Doença inflamatória
Hanseníase
intestinal
Metais pesados

Granuloma MANIFESTAÇÕES

Corpo estranho

Infiltrado perivascular

PATOLOGIA ANTÍGENO Lepromina

Edema HIPERSENSIBILIDADE
TIPO IV (TARDIA)
SEM ANTICORPO TIPOS
Lesão celular

Granulomatosa 21-28d
HISTOLOGIA

Contato - epiderme 48 -72h

Monócitos
Tuberculina -
48 -72h
intradérmica
Linfócitos T
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 36

REAÇÕES DE
HIPERSENSIBILIDADE

Hipersensibilidade
Hipersensibilidade
Hipersensibilidade mediada por Hipersensibilidade
mediada por
imediata (tipo I) complexos imunes celular (tipo IV)
anticorpos (tipo II)
(tipo III)

Mecanismo Exemplos Mecanismo Exemplos Mecanismos Exemplos Mecanismo Exemplos

Anemia Depósito de Dermatite de


Anafilaxia, hemolítica LES,
complexos Ativação de contato, esclerose
IgE alergias, asma IgG, IgM autoimune, glomerulonefrite,
síndrome de antígeno- linfócito T múltipla, diabetes
(formas atópicas) doença do soro
Goodpasture anticorpo tipo I, tuberculose

Liberação Se ligam a Reação Liberação de


de aminas antígenos na inflamatória citocinas e
vasoativas pelos célula ou nos locais de ativação dos
mastócitos tecido-alvo depósito macrófagos

Recrutamento Fagocitose
de células através da Citotoxicidade
ativação do
inflamatórias complemento ou celular
(reação tardia) receptores Fc
DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 37

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Abbas, A. K., Lichtman, A. H., & Pillai, S. (2008). Imunologia celular e molecular. Elsevier
Brasil.
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Machado, S. L., & Machado, R. D. (2014). Imunologia básica e aplicada às análises clínicas.
Kumar, V. (2010). Robbins & cotran-patologia bases patológicas das doenças 8a edição.
Elsevier Brasil.
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