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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Revisão anatômica dos ossos e articulações........3
3. Osteomielite ................................................................. 8
4. Artrite séptica.............................................................22
Referências bibliográficas .........................................33
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 3

1. INTRODUÇÃO diagnóstico precoce é extremamente


importante para evitar a cronificação
A osteomielite é um processo infec-
do quadro e sequelas.
cioso do tecido ósseo, causado princi-
palmente por bactérias, que compro- A artrite séptica, por sua vez, é pro-
mete a porção cortical e esponjosa do vocada pela presença de patógenos
osso, bem como o canal medular. 1 na membrana articular, especialmen-
em cada 5000 crianças menores que te bactérias. O quadro clínico dessas
13 anos apresenta um quadro de os- duas condições é bem característico,
teomielite na vida, sendo este qua- e muitas vezes é difícil diferenciá-las
dro mais comum em meninos. Essa devido à proximidade anatômica do
complicação afeta com maior frequ- processo inflamatório inicial. Além
ência ossos longos, especial- disso, a osteomielite pode cau-
mente nos membros inferiores, sar artrite séptica e vice-versa,
QUADRO a depender da localização da
sendo o fêmur mais afetado, CLÍNICO
seguido pela tíbia e úmero. O SIMILAR infecção.

OSTEOMIELITE X ARTRITE SÉPTICA

INFECÇÃO DENTRO DA
INFECÇÃO DO OSSO
CÁPSULA ARTICULAR

2. REVISÃO ANATÔMICA Além disso, cada osso humano é di-


DOS OSSOS E vidido em diáfise, parte central do
ARTICULAÇÕES osso, epífise, que compõe as regiões
distal e proximal do osso (suas extre-
Os ossos são compostos por uma
midades), e a metáfise, que fica en-
porção de osso compacto externa-
tre as outras duas partes. A arquite-
mente e osso esponjoso interna-
tura e proporção de osso esponjoso
mente, no meio do qual se encontra
e compacto depende da função do
a medula óssea amarela (gordurosa)
osso, assim, ossos longos, que são
e a medula vermelha, que produz as
locais de fixação de músculos e liga-
células sanguíneas.
mentos, a quantidade de osso com-
pacto, que proporciona resistência
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 4

para sustentação de peso, é maior na As epífises são as partes dos ossos


parte média da diáfise, onde os ossos ossificadas a partir de centros de os-
tendem a se curvar. sificação secundários, quando os con-
A diáfise constitui o corpo de um osso drócitos, células do tecido cartilagino-
ossificado a partir do centro de ossi- so, situados no meio da epífise ficam
ficação primário, sendo a parte que hipertrofiados e a matriz óssea entre
cresce enquanto o osso se desenvol- eles se calcifica. As artérias epifisiais
ve. O centro de ossificação primário crescem para o interior das cavidades
é assim chamado pois o tecido ós- em desenvolvimento. A metáfise, por
seo formado substitui a maior parte sua vez, é a parte alargada da diáfi-
da cartilagem que compõe o mode- se mais próxima à epífise, região mais
lo ósseo durante o desenvolvimento vascularizada do osso.
da criança, que no início da vida pos- Durante o desenvolvimento ósseo, o
sui a maioria dos ossos formados de osso formado a partir do centro primá-
cartilagem. rio de ossificação não se funde àque-
le formado pelos centros secundários
na epífise até que o osso atinja seu
Epífise proximal tamanho adulto. Com isso, os ossos
Metáfise proximal longos em crescimento apresentam
as lâminas epifisiais entre a diáfise e
a epífise, que são substituídas por te-
cido ósseo ao final do crescimento do
osso.
O sangue chega às células ósseas
Diáfise (corpo)
pelos sistemas haversianos, formado
por pequenos vasos. As extremida-
des dos ossos são irrigadas por ar-
térias metafisiais e epifisiais que se
originam principalmente das artérias
que nutrem as articulações. As co-
municações perpendiculares entre os
Metáfise distal canais de Havers são feitas pelos ca-
nais de Volkman.
Epífise distal

Figura 1. Anatomia do osso. Fonte: https://bit.


ly/3jBc8FCA
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 5

Vaso sanguíneo no
interior do canal de
Havers
Trajeto helicoidal
das fibras colágenas Sistema de Havers
Lamelas circunferenciais
externas
Lamelas Osteócitos
circunferenciais
internas

Canal de
Volkman Vaso sanguíneo no
interior do canal de
Havers
Periósteo
Endósteo
Canal de Havers

Figura 2. Córtex ósseo. Fonte: https://bit.ly/2WMXeCj

As articulações constituem as uni- As articulações sinoviais são o tipo


ões e/ou junções entre dois ou mais mais comum, as quais permitem o
ossos. Muitas articulações permitem movimento livre dos ossos envolvi-
movimento, como a articulação do jo- dos. Nessas articulações, os ossos são
elho, porém outras não, como ocorre unidos por uma cápsula articular, for-
com as lâminas epifisiais entre a epí- mada por uma camada fibrosa reves-
fise e a diáfise de um osso longo em tida por uma membrana sinovial, que
crescimento. Essas estruturas podem produz o líquido sinovial na cavidade
ser classificadas de acordo com a for- articular, o qual lubrifica as superfícies
ma ou o tipo de material que une os articulares, facilitando o movimento
ossos, existindo assim articulações dos ossos. O periósteo que reveste a
sinoviais, fibrosas e cartilagíneas. parte externa à articulação se funde
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 6

com a camada fibrosa da cápsula ar- reforçadas por ligamentos extrínse-


ticular e, no interior da cápsula, a car- cos ou pelo espessamento de uma
tilagem articular cobre as superfícies parte da cápsula articular (ligamentos
articulares dos ossos. Além disso, as intrínsecos).
articulações sinoviais geralmente são

Periósteo Fêmur

Ligamento Membrana sinovial


Cavidade
articular
(líquido
Membrana sinovial)
fibrosa
Cápsula Cartilagem
articular Menisco
articular Membrana
sinovial Coxim gorduroso
infrapatelar
Osso compacto
Tíbia

Figura 3. Articulação sinovial exemplificada pela articulação do joelho. Fonte: https://bit.ly/32XQFAY

As articulações fibrosas são aquelas são chamadas


nas quais os ossos são unidos por cartilagíneas
tecido fibroso, e na maioria delas o secundá-
movimento é limitado, a depender do rias (sínfi-
tamanho das fibras que unem os os- ses), que
sos. Um exemplo desse tipo de arti- são fortes,
culação são as suturas do crânio. pouco mó-
Por fim, nas articulações cartilagíneas, veis, sendo o prin-
os ossos são unidos por cartilagem cipal exemplo os discos
hialina ou fibrocartilagem. As articu- intervertebrais.
lações de cartilagem hialina são cha- As articulações recebem
madas de articulações cartilagíneas sangue das artérias articu-
primárias (sincondroses), que permi- lares que se originam de vasos ao re-
te leve curvatura e normalmente são dor da articulação, principalmente na
uniões temporárias, como as presen- membrana sinovial.
tes nos ossos em crescimento. As ar-
ticulações unidas por fibrocartilagem
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 7

MEDULA AMARELA
E VERMELHA
ESPONJOSO
SISTEMA DE
HAVERS/VOLKMAN
COMPACTO

EPÍFISE ÁREA DE CRESCIMENTO

METÁFISE INTENSA VASCULARIZAÇÃO

DIÁFISE CORPO

ANATOMIA
OSSOS ARTICULAÇÕES
OSTEOARTICULAR

CÁPSULA ARTICULAR:
CAMADA FIBROSA + MEMBRANA SINOVIAL
SINOVIAL

SUTURAS CRANIANAS FIBROSA

SÍNFISES: DISCOS INTERVER-


TEBRAIS/ SINCONDROSES: LINHA CARTILAGÍNEA
EPIFISÁRIA

UNIÃO DOS OSSOS

POUCA OU GRANDE
MOBILIDADE
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 8

3. OSTEOMIELITE principais agentes da osteomielite.


Além disso, há casos de infecções
Fisiopatologia
por bactérias mistas, comum nos ca-
A osteomielite, inflamação do osso, sos de disseminação direta ou inocu-
pode ser uma complicação de qual- lações de patógenos por cirurgias ou
quer infecção sistêmica, mas normal- fraturas abertas.
mente se manifesta como um foco A infecção óssea pode ocorrer por
primário solitário da doença. Qualquer três vias:
microrganismo pode causar essa do-
ença, incluindo vírus, parasitas e fun- • inoculação direta, por meio de trau-
gos, porém os agentes mais comuns ma ou cirurgias;
da osteomielite são certas bactérias • disseminação por contiguidade,
piogênicas e micobactérias, que ge- por celulite por exemplo; e
ram a osteomielite piogênica e a os-
teomielite tuberculosa. • invasão hematogênica, que é mais
comum em crianças.
A bactéria que mais frequentemen-
te provoca osteomielite é a S. aureus,
seguida pelos estreptococos do gru- Na inoculação direta, a ferida gerada
po A, e nos pacientes com anemia por fraturas, procedimentos cirúrgi-
falciforme a osteomielite é provocada cos ou mesmo infecções do pé dia-
principalmente por Salmonella. Nos bético, torna-se porta de entrada do
pacientes imunodeprimidos, grande patógeno, que se instala no osso ou
queimado e nos casos de trauma do mesmo em alguma articulação, ge-
osso calcâneo, o principal agente in- rando uma artrite séptica. A invasão
feccioso é a Pseudomonas. hematogênica é comum em crianças
O S. aureus expressa receptores saudáveis, devendo ser suspeitada
para os componentes da matriz ós- quando a mesma tenha apresentado
sea, como o colágeno, facilitando sua uma infecção prévia. Nesses casos,
adesão ao tecido ósseo. A Pseudo- comumente são identificados focos
monas, assim como a E. coli e Kleb- infecciosos à distância, como absces-
siella são causadoras de osteomielite sos dentários, cutâneos, respiratórios
mais frequentemente em indivíduos e ferimentos e escoriações. Em adul-
com infecção do trato geniturinário. tos, por outro lado, é mais comum os-
No período neonatal, a H. influen- teomielite como uma complicação de
zae e estrepcocos do grupo B são os uma ferida.
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 9

Figura 4. Na primeira imagem, cabeça femoral com área de necrose óssea amarelada em formado de cunha. O espa-
ço entre a cartilagem articular e o osso é causado por fraturas trabeculares por compressão sem reparo. Na segunda
imagem, ressecção de fêmur num paciente com osteomielite em fase de drenagem. O traço da drenagem na concha
superior do osso novo viável (invólucro) revela um córtex interno nativo necrótico (sequestro). Fonte: KUMAR, Vinay, et
al. Robbins & Cotran: Bases patológicas das doenças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

A localização da infecção dentro do onde pequenos êmbolos bacterianos


osso depende da circulação óssea, não prosseguem na circulação, ge-
que varia com a idade. No neonato, rando o foco infeccioso inicial.
os vasos metafisários penetram na
placa de crescimento, gerando infec- SE LIGA! A osteomielite se desenvolve
ção frequente da metáfise, epífise ou principalmente na metáfise óssea em
ambas. Após o fechamento da placa crianças até 1 ano de idade, as quais não
de crescimento, os vasos metafisários possuem a separação sanguínea entre a
diáfise e a epífise, o que ocorre a partir
se unem com vasos epifisários, sendo de 1 ano até os 16 anos de idade, e isso
uma área especialmente vasculariza- torna mais propenso o avanço da oste-
da nos ossos longos por se tratar de omielite para um quadro intra-articular.
uma zona de crescimento, e com isso
acaba criando uma rota para dissemi-
As alterações morfológicas na osteo-
nação de bactérias até a epífise e regi-
mielite dependem do estágio (agudo,
ões subcondrais adultas (osso abaixo
subagudo ou crônico) e localização da
da cartilagem), pela presença de uma
infecção. Ao atingir o osso, a bactéria
circulação capilar término-terminal,
se prolifera e induz uma inflamação
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 10

aguda. A proliferação bacteriana pro- osteomielite pode provocar uma fís-


move um acúmulo de exsudatos e tula na pele, que é a cronificação des-
produtos bacterianos, contribuindo sa condição.
na formação do abscesso dentro do O momento exato da transição da
osso, e nesse estágio não é possível fase aguda para a fase crônica da os-
identificar nenhuma lesão através de teomielite é determinado pela forma-
exames de imagem. ção de osso necrosado por isquemia,
O quadro evolui com a necrose óssea o que na prática é difícil de se iden-
maciça sem reabsorção óssea nas tificar, sendo considerado por alguns
primeiras 48 horas do processo infec- autores 48 horas após a infecção
cioso. Com isso, o exsudato é drenado inicial, mas o mais relevante é que o
até a medula ou para dentro do córtex diagnóstico seja realizado e o trata-
ósseo através dos sistemas haversia- mento iniciado antes de surgir necro-
nos, atingindo o periósteo. Em crian- se óssea e invasão periosteal.
ças, o periósteo é frouxamente unido Além disso, em lactentes, e raramen-
ao córtex, favorecendo a formação de te em adultos, a infecção epifisária se
abscessos subperiosteais. dissemina pela superfície articular ou
Sem drenagem cirúrgica do pus, por meio das inserções capsulares
ocorre o deslocamento do periósteo, até uma articulação, gerando artrite
que dificulta a chegada de suprimen- séptica ou supurativa, especialmente
to sanguíneo, e assim são instaladas se a metáfise é intra-articular, como
lesões supurativas e isquêmica, ge- no fêmur, úmero e quadril.
rando necrose óssea segmentar – a
parte do osso morte é chamada de
sequestro.
O deslocamento do periósteo induz
uma reação de neoformação óssea,
que radiologicamente corresponde à
periostite. A ruptura do periósteo, de-
vido à pressão gerada pelos líquidos
inflamatórios ali presentes provoca
um abscesso e eventual formação
de um seio de drenagem. Algumas
vezes, o osso sequestrado se frag-
menta e forma corpos estranhos li-
vres, que passam através do trato do
seio. Assim, em casos mais graves, a
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 11

Abscesso ósseo

Epífise
Disco epifisário
Rotas de invasão
do pus Metáfise Sequestro ósseo
Abscesso
subperiosteal Fístula
Cortical Neoformação óssea
subperiosteal
Canal medular

Figura 5. Na primeira imagem, evolução da osteomielite aguda. Na segunda imagem, osteomielite crônica com se-
questro ósseo. Fonte: HEBERT, Sizínio K., et. al. Ortopedia e Traumatologia: princípios e prática. 5ª ed. Porto Alegre.
Artmed, 2017.

Após a primeira semana, as células e a infecção é mais branda; e oste-


inflamatórias crônicas se acumulam omielite esclerosante de Garré, que
na região acometida e a liberação de geralmente se desenvolve na man-
citocinas estimula a reabsorção óssea díbula e está associada à formação
por osteoclastos, levando ao cresci- de osso novo que obscurece grande
mento de tecidos fibrosos e deposição parte da estrutura óssea subjacente.
de osso reativo na periferia. Quando Em cerca de 25% dos casos, a osteo-
o osso recém-depositado forma uma mielite aguda não regride espontane-
camada de tecido vivo adjacente ao amente e persiste como uma infecção
segmento de osso infectado morto, crônica, o que ocorre em pacientes
ele é chamado de invólucro. imunodeprimidos ou quando o diag-
Vale pontuar que algumas variantes nóstico é tardio, quando há necrose
morfológicas da osteomielite pos- extensa ou tratamento inadequado.
suem nomenclaturas próprias, como Podem ocorrer ainda exacerbações
o abscesso de Brodie, que é um pe- agudas espontâneas após anos de
queno abscesso intraósseo que co- regressão. Além da artrite séptica, a
mumente envolve o córtex e é isolado osteomielite também pode complicar
por osso reativo, casos em que o foco com fratura patológica, amiloidose
infeccioso inicial é contido (englobado) secundária, endocardite, sepse e até
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 12

mesmo desenvolvimento de carcino- se originam do sangue, a partir de in-


ma de células escamosas no trato si- fecções viscerais ativas durantes os
nusal e sarcoma no osso infectado. estágios iniciais da infecção primária.
Assim, pode ocorrer por extensão di-
reta, como a partir de um foco pulmo-
nar uma costela ou esterno, ou dis-
seminação por drenagem linfática. A
infecção do osso normalmente é soli-
tária e alguns casos pode ser a única
manifestação da tuberculose, poden-
do ulcerar antes de ser diagnosticada.
É importante ressaltar que indivíduos
com AIDS frequentemente tem en-
volvimento ósseo multifocal. A colu-
na, seguida dos joelhos e quadril são
os sítios mais comumente afetados.
Na maioria dos casos de osteomie-
lite tuberculosa, os indivíduos afeta-
dos cursam com dor na mobilização,
sensibilidade localizada, febres de
Figura 6. Abscesso de Brodie justaepifisário distal baixo grau, calafrios e perda de peso.
da tíbia. Fonte: HEBERT, Sizínio K., et. al. Ortopedia e Na coluna, a infecção se alastra pe-
Traumatologia: princípios e prática. 5ª ed. Porto Alegre.
Artmed, 2017. los discos vertebrais, vértebras e até
tecidos moles, formando abscessos,
gerando achados histológicos típicos
A osteomielite tuberculosa é uma for- de tuberculose. A osteomielite tu-
ma incomum de tuberculose, ou seja, berculosa tende a ser mais destruti-
é uma infecção óssea gerada pelo va e resistente do que a osteomielite
bacilo de Koch (Mycobaterium tuber- piogênica.
culosis). Os organismos geralmente
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICAA 13

FISIOPATOLOGIA

S. AUREUS;
SALMONELLA (A. FALCIFORME);
PSEUDOMONAS
OSTEOMIELITE
(IMUNODEPRIMIDOS); OSTEOMIELITE PIOGÊNICA BACILO DE KOCH
TUBERCULOSA
H. INFLUENZAE; E
ESTREPCOCOS GRUPO B
(NEONATAL)

INVASÃO HEMATOGÊNICA
INOCULAÇÃO DISSEMINAÇÃO POR
(CRIANÇAS – FALTA DA
DIRETA (TRAUMA) CONTIGUIDADE
SEPARAÇÃO EPIFISÁRIA)

ACÚMULO DE
ABSCESSO INTRAÓSSEO/ DESLOCAMENTO
INFLAMAÇÃO AGUDA EXSUDATOS E PRODUTOS NEOFORMAÇÃO ÓSSEA
SUBPERIOSTEAL DO PERIÓSTEO
BACTERIANOS

SEQUESTRO FÍSTULA
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 14

Manifestações clínicas e O edema surge nos primeiros dias e


diagnóstico se torna mais volumoso com o tempo.
É importante se diferenciar o edema
É recomendado que pacientes com
de articulações superficiais de derra-
suspeita de osteomielite sejam inter-
me articular. O edema e a inflamação
nados em ambiente hospitalar com
de partes moles também provocam
urgência, pois a rápida evolução e po-
impotência funcional, que surge na
tenciais sequelas torna fundamental a
logo na fase inicial e piora com a evo-
rapidez dos exames complementares
lução. Quando há o envolvimento do
para que o tratamento seja iniciado.
membro inferior, a claudicação é o si-
O paciente com osteomielite apre- nal mais frequente.
senta frequentemente antecedente
de infecção, febre de intensidade va-
CONCEITO: Derrame articular consiste
riável, sem correlação entre clínica e
no acúmulo de líquido em uma articula-
gravidade. Normalmente é acometido ção, provocado por traumas, infecções e
apenas 1 osso, e pode ocorrer em os- doenças articulares crônicas, como ar-
sos chatos, especialmente os ossos trite reumatóide e gota. Essa condição
é chamada de “água no joelho” quando
cranianos e as vértebras. A osteomie- acomete a articulação do joelho, área
lite hematogênica pode se manifestar mais comumente afetada. Pode-se di-
como uma doença aguda sistêmica, ferenciar o edema articular infeccioso
com mal estar, febre, calafrios, leu- do derrame articular pelo fato de que no
derrame articular normalmente não es-
cocitose e dor intensa sobre a região tarão presentes outros sinais flogísticos,
afetada. O paciente, no entanto, pode como hiperemia e calor.
apenas apresentar febre inexplicada,
principalmente lactentes ou uma dor
localizada na ausência de febre em A febre na osteomielite, como na
adultos. maioria dos processos infecciosos, é
quase sempre elevada, normalmente
A dor, provocada pela hiperemia te- acima de 39ºC, tende a ser constante
cidual e aumento da pressão intraós- com a evolução da bacteremia ou da
sea, geralmente é a primeira queixa septicemia e não é facilmente contro-
do paciente com osteomielite, que lada com os antitérmicos usuais.
apresenta instalação aguda e aumen-
to progressivo da intensidade com Em recém-nascidos (RNs), é comum
o passar das horas. A característica a intensa irritabilidade, dor à palpação
dessa dor é a resistência a analgési- na região acometida e pode ocorrer
cos comuns, e com a evolução o pa- pseudoparalisia. RNs também podem
ciente se torna irritadiço, perde o ape- apresentar elevação da temperatura
tite e diminui as atividades habituais. não tão sugestiva, devido ao fato de
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 15

ainda não possuírem sistema imuno- geralmente apresenta leucocitose


lógico bem desenvolvido. característica de infecção aguda nos
Crianças com até um ano de idade primeiros dias da doença. Com a evo-
podem cursar com dor e impotência lução da doença, quase sempre há
funcional, que impossibilita colocar desvio à esquerda e posteriormente
os pés no chão ou se segurar, por pode surgir anemia e baixa hemoglo-
exemplo. Há ainda edema e abscesso bina. O VHS aparece elevada desde
subperiostal, que pode ser observada o início da infecção, normalmente em
em radiografias. valores superiores a 15 mm na pri-
meira hora, e constitui em um critério
Pacientes em idade escolar/adoles- laboratorial de cura quando apare-
centes apresentam sinais e sintomas ce normalizado. Também podem ser
focais, localizando com maior pre- realizados PCR e hemocultura, que
cisão o ponto doloroso. Nesses pa- costuma ser positiva em 40 a 50%
cientes, a lesão raramente atravessa dos casos e por isso deve ser utilizada
o córtex ósseo justamente pela maior como um recurso auxiliar. Entretanto,
facilidade de diagnóstico precoce. recém-nascidos podem não demons-
Os exames complementares para trar as alterações clássicas do he-
diagnóstico de osteomielite incluem mograma de um processo infeccioso
hemograma, punção óssea e exames característico em crianças maiores e
de imagem, basicamente. O hemo- adolescentes.
grama de paciente com osteomielite

SAIBA MAIS!
VHS (velocidade de hemossedimentação), também conhecido como reação de Biernacki,
analisa a velocidade de sedimentação das hemácias, sendo um exame muito importante para
detecção de processo inflamatório ou infeccioso. Este teste mede a taxa de separação dos
glóbulos vermelhos e brancos da amostra sanguínea no período de uma hora, e nos casos em
que há processo inflamatório ativo, a VHS é elevada pois os mediadores inflamatórios induz
a produção de proteínas de fase aguda pelos hepatócitos, como o fibrinogênio, que neutraliza
as cargas de ácido siálico das hemácias, tornando “mais fácil” a separações entre os eritróci-
tos e leucócitos. Os valores normais de VHS para mulheres após uma hora é de 10 mm, para
homens até 8mm e em crianças os valores variam de 3 a 13mm/h. A VHS aumenta com a
idade em indivíduos saudáveis.

Na punção óssea, a cultura é positiva antibióticos, e quando é aspirado pus


em 70 a 80% dos casos, e deve ser já se pode confirmar o diagnóstico de
realizada em perfeitas condições de osteomielite.
assepsia e antes da administração de
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 16

Porém, vale ressaltar que o principal


diagnóstico da osteomielite é o diag-
nóstico clínico, a partir dos sintomas
e sinais apresentados e correlaciona-
dos com os antecedentes médicos.
Devido a essas peculiaridades dos
bebês, é importante sempre suspei-
tar de um quadro de osteomielite ne-
onatal ou artrite séptica, a fim de se
iniciar precocemente o tratamento e
evitar sequelas e danos irreversíveis.
Nos primeiros 5 a 7 dias, não é possí-
vel identificar alterações ósseas pelo
raio-X, apenas podem ser observa-
das edema de partes moles e infil-
tração local elo exsudato e porose ou
desmineralização óssea metafisária,
Figura 7. Deslocamento do periósteo do fêmur com
seguida de necrose óssea. Como o periostite facilmente evidenciada por raio-X. Fonte:
deslocamento do periósteo induz ne- HEBERT, Sizínio K., et. al. Ortopedia e Traumatologia:
princípios e prática. 5ª ed. Porto Alegre. Artmed, 2017.
oformação óssea, pode aparecer um
quadro radiológico de periostite ca-
racterístico dessa fase, como na figu-
ra 7. A radiografia se apresenta alte-
rada após 7 e/ou 10 dias de infecção,
daí a importância do bom exame clí-
nico para o diagnóstico e consequen-
te tratamento precoce. Após 2 sema-
nas aparece lesão periosteal e lítica,
ou seja, podem ser observadas áreas
de destruição óssea.

Figura 8. Raio-x em AP da tíbia direita com abscesso.


Fonte: https://bit.ly/39mD1s8
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 17

A tomografia não é muito útil para o


diagnóstico na fase aguda da osteo-
mielite, sendo mais indicada para lo-
calizar sequestros ósseos na fase crô-
nica da doença. Entretanto, apresenta
maior precisão do que a radiografia
simples em casos de infecção em
osso esponjoso (ilíaco e vértebras).
Por fim, a ressonância magnética não
é um exame de rotina, sendo solicita-
da em casos de dúvida no diagnósti-
co e como diagnóstico diferencial. A
qualidade da imagem desse exame é
excelente especialmente das partes
Figura 9. Raio-x de osteomielite na extremidade distal
do rádio esquerdo. Fonte: https://bit.ly/32MEHtS moles adjacentes ao osso.

Figura 11. TC do quadril direito apresentando se-


Figura 10. Raio-x de osteomielite neonatal. Fonte: questro ósseo. Fonte: Fonte: HEBERT, Sizínio K., et. al.
https://bit.ly/3hx5lew Ortopedia e Traumatologia: princípios e prática. 5ª ed.
Porto Alegre. Artmed, 2017.

A cintilografia óssea é um exame que


Tudo até aqui descrito foi direcionado
evidencia a área de hiperemia, apre-
para os quadros de osteomielite agu-
sentada pela região onde o contraste
da. A osteomielite crônica se instala
tem captação maior. Não é um exame
comumente em pacientes com debili-
específico para processo infeccioso,
dade clínica, má nutrição e imunode-
mas serve também para o diagnós-
primidos. A radiografia normalmente
tico diferencial. Existem marcadores
é suficiente para estabelecer o diag-
ósseos específicos para infecção,
nóstico, a qual apresenta um aspecto
como gadolínio.
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 18

característico de periostite, invasão


de partes moles, desmineralização
óssea ao redor da área comprometida
e extensão do osso necrosado ou se-
questro ósseo. A fistulografia é muito
útil nas situações em que fica difícil
localizar o trajeto fistuloso e com se-
questro de pequeno tamanho. A TC e
a RM podem ilustrar zonas difíceis de
ser observadas no raio X convencio-
nal e também com pequenos ou múl-
tiplos fragmentos do osso necrosado.
Entre os diagnósticos diferenciais de
osteomielite, além da artrite séptica,
que é o principal diagnóstico dife-
rencial, há também a gota, que pode
gerar um quadro de edema e hipere-
mia semelhante, porém é muito raro
Figura 12: Osteomielite crônica no colo do fêmur.
em crianças, visto que é uma doen- Fonte: HEBERT, Sizínio K., et. al. Ortopedia e Trauma-
ça associada ao acúmulo de cristais tologia: princípios e prática. 5ª ed. Porto Alegre. Artmed,
2017.
de ureia. O tumor de Ewing também
pode causar febre, com dor intensa e
edema, e nas radiografias pode ser
confundido com osteomielite durante
a fase de periostite.
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 19

FEBRE (> 39ºC)


DOR INTENSA
VHS ELEVADA SINAIS FLOGÍSTICOS
CLAUDICAÇÃO

LEUCOCITOSE
SINAIS E SINTOMAS

PUNÇÃO ÓSSEA

QUADRO
HEMOGRAMA CLÍNICO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
DIAGNÓSTICO

ARTRITE SÉPTICA/ GOTA/


TUMOR DE EWING

RADIOGRAFIA

AGUDA CRÔNICA

A PARTIR DE 7 A 10 DIAS DE SINAIS DE PERIOSTITE


INFECÇÃO - PERIOSTITE INVASÃO DE PARTES MOLES
DESMINERALIZAÇÃO AO
REDOR DA ÁREA AFETADA
SEQUESTRO ÓSSEO
Tratamento
A intervenção cirúrgica-ortopédica
é indicada quando não há melhora ser feita irrigação contínua com entra-
após 48 horas de antibioticoterapia. da e saída de sucção contínua, e não
A cirurgia é feita quando não há lesão é recomendado que se utiliza antibió-
óssea estabelecida. ticos ou detergentes no local, apenas
soro fisiológico, e a irrigação deve ser
O tratamento da osteomielite consis-
mantida por no máximo 24 a 48 horas.
te inicialmente com punção local, para
Com isso, a ferida cirúrgica é sutura-
qual o paciente precisa estar sedado e
da de modo convencional e o membro
anestesiado, em centro cirúrgico. Caso
afetado é imobilizado em tala gessa-
seja aspirado pus, deve-se realizar
da, férula, órtese plástica ou com tra-
drenagem cirúrgica de partes moles.
ção em partes moles a depender da
Se houver pus subperiosteal, é preci-
região afetada, permitindo distensibi-
so fazer perfurações ósseas com bro-
lidade tecidual e prevenindo isquemia.
ca adequada ou aberta uma pequena
janela com formão fino, e com isso o A antibioticoterapia deve ser institu-
local é lavado e o material bacteriano ída logo após cultura de material e
e tecido necrosado é expulso. Deve antibiograma, mas se deve iniciar o
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 20

tratamento antes do resultado, com uso de cefalosporina de 3ª geração,


antibiótico de amplo espectro. Re- como ceftriaxona, por via venosa as-
comenda-se que o início do trata- sociada à oxacilina. Nos pacientes com
mento seja por via endovenosa, com osteomielite traumática ou agentes
antibióticos que tenham penetração como o S. aureus, bacilos coliformes e
no osso e nas cavidades articulares, P. aeruginosa indica-se o uso de oxa-
evitando efeitos colaterais, como oto cilina associada à cefalosporina de 3ª
ou nefrotoxicidade. Em recém-nasci- geração com atividade antipseudo-
dos, pode-se associar oxacilina a um monas, como ceftazidima. Vancomici-
aminoglicosídeo. Em crianças após na e teicoplanina devem ser reserva-
períodos neonatal até a idade adulta, das para casos de infecção adquirido
recomenda-se a associação de oxa- no ambiente hospitalar ou nos casos
cilina à cefalosporina de terceira ge- resistentes aos antibióticos usuais.
ração. Como alternativa à oxacilina, O tempo de antibioticoterapia vai de-
pode-se utilizar vancomicina ou clin- pender da curva térmica e da evolu-
damicina, principalmente nos casos ção clínica do paciente, podendo utili-
em que o antibiograma apresentar zar o VHS e o PCR como critérios de
S. aureusmeticilino-resistente, casos avaliação. Normalmente, o tempo de
em que também se pode usar a line- tratamento é de 4 a 6 semanas, sen-
zolida. Outra escolha possível é a du- do que se o paciente se mantiver es-
pla ciprofloxacino e rifampicina para tável nos 10 primeiros dias, a medi-
pacientes maiores de 18 anos. cação pode ser passada para via oral
Em pacientes com anemia falciforme, a nível ambulatorial. Abaixo, uma ta-
por conta da grande possibilidade de bela com antibióticos para infecções
infecção por Salmonella, é indicado o osteoarticulares:

FÁRMACO DOSE ADMINISTRAÇÃO


Oxacilina (Staficilin) 100 a 200 mg/kg/dia (máximo de 12 g/dia) 6/6 h, IV
Ceftriaxona (Rocefim) 25 a 100 mg/kg/dia 6/6 h, IV
Cefazolina (Kefazol)* 20 mg/kg/dia 8/8 h, IV ou IM
Ciprofloxacino (Cipro)* 200 a 400 mg/kg/dia 12/12 h, IV
Ceftazidima (Fortaz) 150 mg/kg/dia (máximo de 6 g/dia) 8/8 h, IV
Clindamicina (Dalacin) 20 a 40 mg/kg/dia 6/6 h ou 8/8 h, IV ou IM
Vancomicina (Vancocina) 40 mg/kg/dia 6/6 h ou 8/8 h, IV
Prematuros até sete dias: 10 mg/kg/dia
Recém-nascido a termo até os 12 12/12 h, IV ou VO 8/8 h, IV
Linezolida (Zynox)
anos: 10 mg/kg/dia ou VO 12/12 h, IV ou VO
Acima de 12 anos: 40 a 60 mg/kg/dia
*Não recomendado para menores de 18 anos
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 21

atenção para outros possíveis focos


SE LIGA! Antibióticos de amplo espec- infecciosos, como quadros de pneu-
tro são aqueles que atingem grande nú- monias, encefalites e meningites.
mero de microrganismos nas doses te-
rapêuticas, como as penicilinas de largo O tratamento da osteomielite crôni-
espectro, tetraciclinas e cefalosporinas. ca se baseia na ressecção de todas
Antes do resultado da cultura, exame as partes moles necrosadas e retira-
que identifica qual bactéria está geran-
do a infecção, deve-se utilizar antibi- da cirúrgica dos fragmentos de osso
óticos dessas classes, e se o resultado sequestrado, além da curetagem das
da cultura mostrar que o agente infec- extremidades comprometidas dos
cioso é um tipo de bactéria resistente a
vasos associados à região afetada.
esses medicamentos, deve-se trocar a
medicação. Nos casos em que há perda óssea,
deve-se utilizar algum tipo de fixador
externo, que permite controlar o com-
Além disso, os cuidados gerais de
primento e angulações do osso e reali-
hidratação, analgesia, sedação, con-
zar transporte ósseo ou alongamento
trole da febre com antitérmicos e
quando indicado. Em algumas situa-
alimentação saudável são extrema-
ções, quando há comprometimento
mente importantes na resolução da
da pele, pode ser necessário enxerto
osteomielite. Durantes os primeiros
de pele ou retalhos musculocutâneos.
dias de atividade microbiana e qua-
dro febril elevado, é fundamental a

TRATAMENTO

CUIDADOS GERAIS: RESSECÇÃO


HIDRATAÇÃO, DRENAGEM DAS PARTES
ALIMENTAÇÃO ANTIBIOTICOTERAPIA CIRÚRGICA E NECROSADAS
SAUDÁVEL, GUIADA POR IRRIGAÇÃO E RETIRADA DE
ANALGESIA, CULTURA CONTÍNUA POR FRAGMENTOS
SEDAÇÃO E 24 A 48H ÓSSEOS
CONTROLE DA FEBRE SEQUESTRADOS

OSTEOMIELITE OSTEOMIELITE
AGUDA CRÔNICA
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 22

4. ARTRITE SÉPTICA Fisiopatologia


A artrite séptica se desenvolve quan- A artrite séptica, como já mencionado,
do há bactérias no espaço articular, o pode ser provocada por inoculação
que gera inflamação sinovial e conse- direta de patógenos na articulação e,
quente derrame purulento. 65% dos além disso, também pode ocorrer por
casos ocorrem em indivíduos meno- contiguidade, como na osteomielite
res que 20 anos, predominantemente e infecção de pele, porém essa via é
em pessoas do sexo masculino. Os incomum nos pacientes pediátricos;
principais fatores de risco para essa e por via hematogênica, comum nos
complicação são o cateterismo um- membros inferiores, principalmente
bilical, cateter central, osteomielite e na articulação do joelho e coxofemo-
cirurgias, que são vias de inoculação ral. Basicamente, o processo infeccio-
de patógenos nas articulações. so se instala no interior da articulação
quando a metáfise apresenta locali-
O agente infeccioso mais frequente
zação intra-articular, como no quadril
da artrite infecciosa também é o S.
e ombro, ou por invasão de partes
aureus, seguido dos estreptococos do
moles, por contiguidade.
grupo A e pneumococo e Salmonella
nos pacientes com anemia falcifor- A ausência de membrana basal faci-
me, semelhante à etiologia da oste- lita a entrada da bactéria na sinóvia
omielite. Nos pacientes neonatais, de durante o processo de bacteremia,
6 a 36 meses de idade, as principais gerada num quadro de infecção res-
bactérias causadoras de artrite sépti- piratória, por exemplo, especialmente
ca são o S. aureus e o H. influenzae. nos pacientes pediátricos. Isso pode
Essa complicação é grave e pode le- ter como consequência a degradação
var à destruição articular rapidamente da cartilagem e tecido ósseo, a partir
e gerar deformidades permanentes. da liberação de enzimas proteolíticas,
migração de leucócitos e derrame
sinovial, ou seja, um processo infla-
matório intenso que gera morte do
tecido.
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 23

Bactérias
Fêmur

Cartilagem Ligamento colateral


articular medial

Células brancas
Ligamento
(leucócitos)
colateral lateral

Ligamento cruzado
Ligamento cruzado
Menisco posterior
anterior
Fíbula Tíbia Figura 13. Artrite infecciosa. Fonte: https://bit.
ly/3hEZRhI

A infecção dentro da articulação des- da membrana sinovial e consequente


trói essa estrutura por um processo diminuição da irrigação sanguínea.
de condrólise química, na qual as en- Esse aumento pressórico também
zimas bacterianas e seus produtos pode causar isquemia da epífise ós-
de degradação são condrolíticas. Ini- sea e necrose.
cialmente, ocorre a perda da matriz Algumas articulações são mais sus-
cartilaginosa, seguida de perda de cetíveis à necrose do que outras,
colágeno cartilaginoso. As enzimas como as articulações escapuloume-
bacterianas geram erosões na super- ral e coxofemoral, porque a cápsu-
fície articular, que se soltam para den- la articular na qual estão as artérias
tro da articulação como grumos ou que nutrem a epífise dessas articu-
fragmentos livres. Essas alterações lações se prolonga até a região me-
destrutivas já podem ser observadas tafisária, ou seja, essas articulações
dentro de 24 a 48 horas de infecção, possuem metáfise intra-articular, e
e se tornam mais grave com o maior nessas regiões é muito comum que
tempo do pus dentro da cavidade a artrite séptica evolua com osteo-
articular. mielite. Especialmente nessas duas
O aumento do volume de líquido den- articulações, a distensão produzida
tro da articulação gera grande pres- pelo aumento de líquido intra-articu-
são intra-articular e distensão da cáp- lar pode levar a uma subluxação ou
sula articular, o que leva à isquemia mesmo a uma luxação. No caso da
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 24

articulação coxofemoral, isso provoca granulomas confluentes com necrose


perda irreversível da função articular, caseosa. A sinóvia (membrana sino-
com encurtamento e adução e flexão vial) afetada pode crescer como um
e mobilidade diminuídas. Não haverá pannus sobre a cartilagem articular e
mais crescimento epifisário nesse lo- causar erosão do osso ao longo das
cal. Quando a luxação for de ombro, a margens articulares. A artrite tuber-
mobilidade é diminuída porém razo- culosa crônica leva à destruição grave
ável, pois se forma uma neoarticula- com anquilose fibrosa e obliteração
ção fibrosa, na qual não há ação do do espaço articular, afetando princi-
peso corporal como no quadril, sendo palmente as articulações de suporte
a maior consequência o encurtamen- de peso, como a articulação do qua-
to do úmero dril, joelho e tornozelos.
Essas infecções articulares afetam A artrite infecciosa também pode ser
ambos os sexos igualmente, exceto a provocada por vírus, incluindo do al-
artrite gonocócica, que é mais comum favírus, parvovírus B19, rubéola, vírus
entre mulheres sexualmente ativas. Epstein-Barr e os vírus da hepatite
Em 90% dos casos não gonocócicos, B e C. além disso, uma variedade de
a infecção acomete apenas uma arti- doenças reumáticas, incluindo artrite
culação, normalmente o joelho, segui- reativa, artrite psoriática e artrite sép-
do do quadril, ombro, cotovelo, punho tica se desenvolveram em pacientes
e articulação esternoclavicular. As ar- com HIV. É incerto que os sintomas
ticulações axiais são mais comumen- articulares causados sejam por infec-
te afetadas em pacientes dependen- ções direta das articulações por vírus,
tes de drogas. como na rubéola e algumas infecções
Há ainda a artrite tuberculosa, que por alfavírus ou se a infecção viral in-
ocorre em grupos de todas as idades, duz uma reação autoimune, como em
principalmente adultos. Normalmen- alguns casos de infecção por HIV.
te esse quadro se desenvolve como
uma complicação da osteomielite
concomitante ou após disseminação
hematogênica a partir de um sítio de
infecção visceral, geralmente pulmo-
nar. O início é insidioso e causa dor
que piora progressivamente, poden-
do ou não cursar com sintomas sistê-
micos (febre, queda do estado geral).
A contaminação de uma articulação
por micobactérias leva à formação de
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 25

SAIBA MAIS!
A artrite de Lyme é uma artrite infecciosa causada por infecção pela espiroqueta Borrelia
burgdoferi, transmitida por carrapatos do complexo Ixodes ricinus. A infecção inicial da pele
cursa por vários dias ou semanas pela disseminação do patógeno para outros sítios, princi-
palmente para as articulações, que são acometidas em cerca de 60% dos indivíduos com
doença de Lyme. Essa artrite costuma ser remitente e migratória e envolve principalmente as
grandes articulações (joelhos, ombros, cotovelos e tornozelos). A membrana sinovial infec-
tada apresenta sinovite papilar crônica com hiperplasia de sinoviócitos, deposição de fibrina,
infiltrado de células mononucleares (especialmente TCD4) e espessamento em casca de ce-
bola das paredes arteriais.

S. AUREUS/ FATORES DE RISCO:


ESTREPTOCOCOS GRUPO A/ CATETERISMO UMBILICAL,
FISIOPATOLOGIA
SALMONELLA (A. FALCIFORME)/ CATETER CENTRAL,
H. INFLUENZAE (NEONATAL) OSTEOMIELITE E CIRURGIAS

DISSEMINAÇÃO POR
INVASÃO HEMATOGÊNICA
INOCULAÇÃO CONTIGUIDADE
(ART. COXOFEMORAL
DIRETA (TRAUMA) (OSTEOMIELITE – METÁFISE
E DO JOELHO)
INTRA-ARTICULAR)

INFLAMAÇÃO AGUDA

ACÚMULO DE EXSUDATOS E
PRODUTOS BACTERIANOS

DISTENSÃO PELO
CONDRÓLISE QUÍMICA:
AUMENTO DO VOLUME
ENZIMAS BACTERIANAS
INTRA-ARTICULAR

DEGRADAÇÃO ARTICULAR LUXAÇÃO OU SUBLUXAÇÃO


OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 26

Manifestações clínicas e abdução e rotação externa, que con-


diagnóstico siste em um tipo de “posição de defe-
sa” do paciente, como na figura 14.
O quadro clínico do paciente com ar-
trite séptica inclui febre e queda do A dor é sempre muito intensa, gerada
estado geral, além de sinais flogísti- pela distensão capsular (movimenta-
cos na articulação acometida, ou seja, ção da articulação afetada). A limita-
edema, calor, rubor e dor à movimen- ção da mobilidade também é um fator
tação. Geralmente é monoarticular, importante, sendo uma das primeiras
sendo raros os casos com duas arti- queixas. Na realidade, é praticamen-
culações afetadas ao mesmo tempo. te impossível realizar movimentos em
É um quadro muito similar ao de oste- uma articulação com artrite séptica,
omielite, porém aqui o pus se encon- sejam eles ativos ou passivos. Além
tra dentro da cavidade articular. disso, o aumento do volume articular
é um sinal constante e normalmente
A artrite séptica acontece com gran-
pode ser observado com facilidade,
de frequência em recém nascidos e
visto que a maioria das articulações
lactentes jovens, devido à fragilidade
são superficiais, sendo mais difícil
de seu sistema imune e formação in-
identificar isso nas articulações coxo-
completa da epífise óssea. Nesses pa-
femoral, sacroilíacas e na coluna ver-
cientes, é comum o acometimento do
tebral. O aumento do volume articular
quadril, os sinais flogísticos podem es-
comumente é acompanhado de calor
tar ausentes e, além disso, um sinal clí-
local e hiperemia.
nico muito característico é a perna em

Figura 14. Sinal de artrite séptica pediátrica: perna em abdução e rotação externa. Fonte: www.sanarflix.com.br
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 27

Entre os exames complementares, o


hemograma apresenta leucocitose HORA DA REVISÃO:
com desvio à esquerda e VHS eleva- Os polimorfonucleares são o grupo de
da (> 60 mm/h), que é um dado labo- leucócitos que incluem os granulócitos,
ratorial muito importante. Além disso, que são os neutrófilos, eosinófilos e ba-
sófilos. Essas células são as primeiras a
toda suspeita de artrite séptica deve chegar no foco inflamatório, constituin-
ser puncionada, exame que determi- do a primeira defesa do organismo, que
na o diagnóstico imediato. Na punção além de combaterem diretamente os
patógenos invasores com suas enzimas
articular de articulação com artrite
e granulócitos, também liberam citoci-
séptica há exsudato (pus), que permi- nas que recrutam outras células infla-
te identificar pelo aspecto macro que matórias para resolverem a inflamação.
há infecção, e nessa punção cerca de
80% de polimorfonucleares e a cultu-
ra é positiva em 80% dos casos sem Na radiografia, as alterações precoces
antibioticoterapia iniciada. que podem ser vistas em radiografias
simples são espessamento de cáp-
A aspiração do líquido intra-articular sula sinovial, infiltração e edema de
por punção pode ser realizada em pa- partes moles e da região periarticular
cientes que colaboram, sob anestesia e, principalmente, um aumento do es-
local. Normalmente, a dor é muito in- paço articular. Esse último dado sig-
tensa, e a punção articular torna-se nifica que existe líquido com aumento
difícil, sendo necessário sedar o pa- da pressão intra-articular. Após 48
ciente ou submetê-lo a uma anestesia horas é possível identificar alarga-
geral. Deve-se realizar a punção sob mento do espaço articular, luxação ou
anestesia geral, em centro cirúrgico, subluxação em algumas articulações,
no mesmo momento de se iniciar o e os achados devem ser comparados
tratamento cirúrgico, lembrando que entre os dois lados. Um dos primeiros
a punção deve ser realizada antes de sinais radiográficos junto ao aumento
iniciada a antibioticoterapia. A punção do espaço articular é o afastamento
é o exame complementar que fecha o lateral da epífise e uma linha de Shen-
diagnóstico da artrite séptica. ton “quebrada”. Nos casos em que há
artrite e osteomielite concomitante, é
possível encontrar os mesmos sinais
de destruição óssea da osteomielite
já descritos, associado às alterações
de infecção articular.
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 28

Figura 15. Afastamento lateral da cabeça do fêmur esquerdo (subluxação) na fase inicial de uma artrite séptica de
quadril. Notam-se afastamento lateral da cabeça do fêmur e linha de Shenton quebrada. Mesmo sendo sinais da fase
inicial, é evidente que já existe um grande aumento de pressão intra-articular. Fonte: HEBERT, Sizínio K., et. al. Orto-
pedia e Traumatologia: princípios e prática. 5ª ed. Porto Alegre. Artmed, 2017.

Figura 16. Luxação coxofemoral esquerda por artrite séptica. Fonte: HEBERT, Sizínio K., et. al. Ortopedia e Traumato-
logia: princípios e prática. 5ª ed. Porto Alegre. Artmed, 2017.
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 29

A ultrassonografia é atualmente um do joelho, tornozelo, sacroilíaca e do


importante exame complementar ombro. Como é uma infecção de iní-
para diagnóstico precoce da artrite cio insidioso, todos os sinais clínicos
séptica, a qual pode ser identificada são lentos e pouco específicos da
pelo líquido articular que é evidencia- tuberculose.
do mesmo em quantidades pequenas Na artrite, a dor é exacerbada com
na fase inicial da infecção. Porém, nos movimentos ativos e passivos, tam-
estágios mais avançados da doença, bém há a limitação funcional, porém
quando há muito pus intra-articular, na tuberculose surge de forma lenta
as alterações são evidenciadas com e insidiosa, sendo mais intensa nas
facilidade na ecografia e também em articulações que recebem carga. O
raio-X simples. aumento da temperatura pode ou
A ressonância é o melhor exame para não estar presente no local inflama-
diagnóstico precoce, pois detalha o do e a febre também não é um dado
envolvimento ósseo e das partes mo- constante, porém surge geralmente à
les, além do edema e aumento do lí- tarde ou à noite, entre 37,5 e 38ºC. O
quido sinovial. paciente também costuma apresen-
Além deles, há a cintilografia, que tar sinais de fraqueza, astenia, ano-
evidencia maior captação de forma rexia, apatia e perda de peso.
bastante precoce, destacando áreas Os sinais radiológicos não são espe-
“quentes”, que significam regiões com cíficos, apresentando aumento do vo-
reação inflamatória, hiperemias e rea- lume das partes moles por edema si-
ção infecciosa. Na presença de sinais novial e periarticular, além de porose
positivos de artrite séptica vistos no óssea metafisária e alargamento do
ultrassom ou no raio X, não há neces- espaço articular que podem ser no-
sidade de ser realizada cintilografia. tados nas fases iniciais da infecção.
Entretanto, nas infecções da pelve, Com o tempo, são identificados os
como artrite séptica do quadril, nas sinais de destruição articular, assim
articulações sacroilíacas e na sínfise como ocorre na artrite séptica gera-
pubiana, esse exame é fundamental da por outros patógenos, mas como
para localizar o foco infeccioso. a tuberculose tem evolução lenta, por
A artrite tuberculosa é muito mais co- ser uma inflamação de caráter granu-
mum que a osteomielite tuberculosa, e lomatoso, as variações radiológicas
ela ataca principalmente a articulação demoram semanas para aparecer.
coxofemoral, seguida da articulação
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICAA 30

MONOARTICULAR/ FEBRE
(> 39ºC) /DOR INTENSA/
SINAIS FLOGÍSTICOS
IMPOTÊNCIA FUNCIONAL
POSIÇÃO DE DEFESA
VHS ELEVADA

SINAIS E SINTOMAS
LEUCOCITOSE

DIAGNÓSTICO OSTEOMIELITE/ DOENÇAS


PUNÇÃO ARTICULAR HEMOGRAMA
DIFERENCIAL REUMATÓIDES
QUADRO
CLÍNICO E
DIAGNÓSTICO
ESPESSAMENTO DA CÁPSULA RADIOGRAFIA CINTILOGRAFIA
SINOVIAL/ INFILTRAÇÃO/
EDEMA DE PARTES MOLES/ ÁREAS QUENTES
AUMENTO DO ESPAÇO REPRESENTAM REGIÕES
ARTICULAR INICIAIS COM FOCO INFLAMATÓRIO
USG

ALARGAMENTO DO ESPAÇO
ARTICULAR/ LUXAÇÃO OU APÓS 48H
PRESENÇA DE FUNDAMENTAL
SUBLUXAÇÃO/ AFASTAMENTO PARA LOCALIZAR O
LÍQUIDO ARTICULAR
LATERAL FOCO INFECCIOSO
DA EPÍFISE/ LINHA DE DE ARTRITE SÉPTICA
SHENTON QUEBRADA NO QUADRIL, ART.
SACROILÍACAS E
SÍNFISE PÚBICA
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 31

Tratamento “esterilização” do espaço articular. Esse


procedimento, em tese, serve como
O tratamento da artrite séptica en-
parâmetro para retirar a irrigação, mas
volve cuidados gerais, com analgesia
outra forma de interromper a irrigação é
para controle da dor, repouso da ar-
quando se observa o líquido de drena-
ticulação acometida e antibioticotera-
gem com aspecto límpido, sem grumos,
pia, que deve ser guiada por cultura,
nem material hemorrágico, e quando se
mas que deve ser iniciada mesmo an-
retira o tubo de irrigação, deixa-se o de
tes do resultado.
sucção por mais 24 horas.
O principal ponto do tratamento da ar-
Além disso, é importante imobilizar a
trite séptica é a drenagem cirúrgica com
articulação afetada com tala gessada,
anestesia geral e em condições de as-
ou tração em alguns casos de artrite do
sepsia, realizando uma artrotomia que
quadril, permitindo, com o repouso ar-
permite lavar o espaço articular e aliviar
ticular, uma rápida diminuição da dor e
a pressão em todos os casos. Não é
do espasmo articular. Essa imobilização
recomendado as punções de esvazia-
pode durar de 10 a 30 dias, a depender
mento repetidas, pois não promovem
da resposta ao tratamento, porém nos
uma lavagem eficiente e não podem ser
casos que há luxação ou subluxação, o
retirados os grumos e o material necró-
tempo de imobilização deve ser maior,
tico por uma agulha, mesmo que seja
a fim de manter a articulação reduzida.
de grosso calibre. A artrotomia permite
Por conta do longo tempo de imobiliza-
lavar de forma cuidadosa e exaustiva
ção, após a retirada é necessários exer-
a articulação, retirando todo o material
cícios de reabilitação.
purulento e necrótico.
A antibioticoterapia para o tratamen-
Assim como na osteomielite, não se
to de artrite séptica se baseia nos
deve utilizar antibióticos locais, nem
mesmos princípios do tratamento da
detergentes biológicos e, após a lava-
osteomielite já mencionados, e tam-
gem articular, instala-se um sistema
bém deve ser associada a analgési-
de irrigação contínua por um cateter
cos e antitérmicos.
e um sistema de sucção contínua me-
cânico em outro cateter, o qual deve Quando há retardo no diagnóstico e
ser constantemente checado para consequentemente no tratamento, a
identificar possíveis obstruções por artrite séptica também pode evoluir
coágulos ou restos de material necró- para um quadro de osteomielite e até
tico. A drenagem deve ser mantida mesmo septicemia, assim a osteo-
por 24 a 48 horas. mielite, especialmente em pacientes
recém nascidos e menores de 1 ano,
Em condições ideais, deve ser colhido o
que ainda não possuem a barreira
material do dreno de sucção para cul-
metáfiso/fisária desenvolvida.
tura em 24 e 48 horas para confirmar a
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 32

SE LIGA! Tração em ortopedia consiste na aplicação de uma força de empuxo


em um osso, usado para tratar fraturas do fêmur, tíbia e da coluna vertebral.
A tração permite o movimento da articulação enquanto está sendo alinhada
a fratura, além de manter o comprimento do membro e a estabilidade no local
da fratura. A tração consegue ainda vencer o espasmo muscular associado a
doenças ósseas, como a osteomielite e artrite séptica.

TRATAMENTO

CUIDADOS GERAIS: DRENAGEM CIRÚRGICA E


ANTIBIOTICOTERAPIA
HIDRATAÇÃO, ALIMENTAÇÃO IRRIGAÇÃO CONTÍNUA POR
GUIADA POR CULTURA
SAUDÁVEL, ANALGESIA, 24 A 48H - ARTROTOMIA
SEDAÇÃO E CONTROLE
DA FEBRE IMOBILIZAÇÃO DA
ARTICULAÇÃO

S. AUREUS

INVASÃO DISSEMINAÇÃO
INOCULAÇÃO DIRETA
HEMATOGÊNICA POR CONTIGUIDADE

OSSO OSTEOMIELITE ARTRITE SÉPTICA ARTICULAÇÃO

EXAMES DE IMAGEM
EVIDENCIAM
EXAMES DE IMAGEM ALTERAÇÕES DESDE O
FEBRE/ DOR/ DRENAGEM
EVIDENCIAM INÍCIO (ESPESSAMENTO
IMOBILIDADE/ CIRÚRGICA/
ALTERAÇÕES APÓS DA CÁPSULA SINOVIAL/
CLAUDICAÇÃO/ SINAIS ANTIBIOTICOTERAPIA/
7-10 DIAS DE INFILTRAÇÃO/ EDEMA
FLOGÍSTICOS CUIDADOS GERAIS
INFECÇÃO DE PARTES MOLES/
AUMENTO DO ESPAÇO
ARTICULAR)
OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 33

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
KUMAR, Vinay, et al. Robbins & Cotran: Bases patológicas das doenças. Rio de Janeiro: El-
sevier, 2010.
MOORE, L. Keith, et al. Anatomia orientada para Clínica. 7ªed. Editora Guanabara
Koogan. Rio de Janeiro, 2014.
HEBERT, Sizínio K., et. al. Ortopedia e Traumatologia: princípios e prática. 5ª ed. Porto Alegre.
Artmed, 2017.
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OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA 34

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