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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Fisiopatologia............................................................... 3
3. Sepsis-2 e Sepsis-3.................................................. 5
4. Abordagem Diagnóstica........................................10
5. Abordagem Terapêutica........................................12
Referências Bibliográficas..........................................15
SEPSE 3

1. INTRODUÇÃO 2. FISIOPATOLOGIA
Sempre que o nosso corpo é invadi- Pois bem… Toda vez que um micror-
do por algum microrganismo, quem ganismo antigênico invade nosso cor-
se encarrega por resolver o problema po, ele vai ser exposto aos mecanis-
é o Sistema Imunológico. No entanto, mos imunológicos inatos e adquiridos
em alguns casos, a resposta imune que terão o objetivo de nos proteger.
pode se dar de forma tão exacerbada Contudo, no caso da Sepse, como já
que acaba sendo mais danosa para o comentamos, a resposta imunológi-
corpo do que a própria infecção. São ca se dá de forma exacerbada e isso
justamente esses casos que nós cha- também traz prejuízos.
mamos de Sepse! O que acontece é o seguinte: o pa-
E a Sepse, também conhecida popu- ciente adquire uma infecção - nor-
larmente como “Infecção Generaliza- malmente no trato respiratório, mas
da”, é uma condição muito prevalen- também é comum que seja no urinário
te no meio médico. Só nos EUA, ela ou no digestório - e, a partir daí, inicia
é responsável por cerca de 750 mil uma produção exacerbada de me-
casos por ano, gerando um gasto diadores pró-inflamatórios. Dentre
que fica em torno de 16 bilhões de esses, os mais expressivos são as
dólares. Já no Brasil, mais especifica- citocinas TNF-α e a IL-1, que estão
mente, a Sepse parece estar presente muito associadas ao desenvolvimen-
em cerca de 25% dos pacientes em to de Sepse. Mas além disso também
UTIs, sendo que a sua taxa de mor- há produção de prostaciclinas, trom-
talidade fica em torno de 50%. boxanos, leucotrienos, óxido nítrico,
A partir disso, a gente consegue perce- fator de ativação plaquetária (PAF),
ber que a Sepse é uma condição muito entre outros. Tudo isso, em grande
comum na prática e, por isso, nós pre- quantidade, acaba caindo na circula-
cisamos aprender como deve ser feito ção sanguínea e se disseminando por
o manejo dos pacientes nesse quadro. todo o corpo do paciente. Ou seja, em
Mas para isso, vamos começar pelo co- linhas gerais, a Sepse consiste em um
meço e entender , antes de tudo , processo infeccioso que, mesmo
como é a fisiopatologia da Sepse. que localizado, provoca uma rea-
ção inflamatória generalizada.
E é justamente esse processo de in-
CONCEITO! A sepse corresponde a
flamação generalizado que acaba le-
uma reação inflamatória desregulada ,
secundária a uma infecção (suspeitada vando à disfunção de vários órgãos
ou diagnosticada) que se associa com - o que também é característico da
disfunção orgânica ameaçadora à vida. Sepse. Mas como isso ocorre? Não
SEPSE 4

tem segredo: a própria atividade infla- Sistema Cardiovascular


matória acaba levando à morte celu-
Com a inflamação generalizada, o pa-
lar. Nisso, vários sistemas podem ser
ciente também acaba apresentando
acometidos, mas os mais comumente
uma importante vasodilatação peri-
afetados são 2: o cardiovascular e o
férica. Dessa forma, em uma primei-
respiratório.
ra fase da doença, conhecida como
“fase quente”, o coração tenta com-
Sistema Respiratório pensar o quadro aumentando seu
débito cardíaco (DC), mas na maioria
O pulmão é um dos órgãos mais aco- das vezes isso é insuficiente.
metidos durante um quadro de Sepse
e isso se deve ao fato de a reação Com toda essa sobrecarga, então, a
inflamatório nos capilares alveola- doença costuma evoluir para a “fase
res levarem a uma lesão endotelial e fria”, na qual o corpo não consegue
consequente acúmulo de líquido nos mais manter o DC aumentado e nem
espaços alveolares o que gera ede- uma saturação periférica adequada
ma e atrapalha o processo de trocas (choque).
gasosas. É justamente para evitar essa evolu-
ção deletéria da Sepse que devemos
saber diagnosticar precocemente os
pacientes acometidos e é justamente
isso que vamos aprender aqui. Para
tal, é importante que a gente tenha
em mente que existem dois consen-
sos sobre Sepse que podem ser em-
pregados: o Sepsis-2 e o Sepsis-3.
Dentre eles, o Sepsis-3 é o consenso
mais atualizado, no entanto, o Sep-
sis-2 traz conceitos que ainda são
Figura 1: Ilustração das trocas gasosas em quadros de
edema pulmonar. Disponível em: https://bit.ly/2PY0nv8
muitos relevantes na prática médica e
por isso precisamos conhecer os dois.
Então vamos lá.
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MAPA MENTAL FISIOPATOLOGIA

• TNF-α
• PAF
• IL-1
• Leucotrienos
• NO2
• Tromboxanos
• Prostaciclinas

Produção
exacerbada Liberação na
Infecção
mediadores pró- corrente sanguínea
inflamatórios

Processo
inflamatório
sistêmico

Sistema respiratório Sistema circulatório

Fase fria,
Reação sobrecarga
Dificuldade de Reação
inflamatório exacerbada e
trocas gasosas inflamatória
capilar/alveolar DC não da conta
(Choque)

Fase quente,
Aumento da
aumento do Vasodilatação
Lesão endotelial permeabilidade
débito periférica
e edema
compensatório

3. SEPSIS-2 E SEPSIS-3 mos abordar os pacientes classifican-


do cada um deles em 4 categorias:
Sepsis-2
• SIRS;
Em 2002, o 2º Consenso Internacional

sobre Sepse definiu que nós devería- • Sepse;



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• Sepse Grave; resposta inflamatória exacerbada,


mas isso pode ser por vários moti-
• Choque Séptico.
vos como trauma, queimadura, is-
quemia ou mesmo uma infecção.
A Síndrome da Resposta Inflama- Em cima disso, o que o Sepsis-2 nos
tória Sistêmica (SIRS/SRIS) é uma diz é que nós só devemos dizer que
condição em que o corpo apresenta está em Sepse aquele paciente que
uma reação inflamatória exacerbada apresenta um quadro de SIRS pro-
e isso pode ser identificado caso o veniente de um processo infeccioso.
paciente tenha 2 ou mais dos seguin- Daí, quando a gente entende isso, fica
tes critérios: fácil de concluir que para podermos
diagnosticar Sepse, vamos precisar
CRITÉRIOS PARA SIRS (2 OU +) de pelo menos 2 critérios da SIRS e
mais um foco infeccioso diagnostica-
1 To > 38oC ou < 36oC do ou suspeitado.
Beleza. Até aqui tá tudo tranquilo,
2 FC > 90 bpm mas como é que vamos definir que
se trata, na verdade, de uma Sepse
3 FR > 20irpm ou pC02 < 32mmHg Grave? Então…por esse consenso,
a gente deve classificar o paciente

4

Leucograma > 12.000 ou < 4.000
ou > 10% de bastões
nessa categoria quando ele já esti-
ver apresentando sinais de hipoper-
fusão tecidual ou disfunção orgânica
e a gente conclui quanto a isso se
o paciente tiver ≥ 1 dos seguintes
SE LIGA! Para avaliar SIRS observe que achados:
nós analisamos os dois principais siste-
mas acometidos na sepse (cardiovascu- CRITÉRIOS DE DISFUNÇÃO ORGÂNICA

lar e respiratório) e também fatores rela- SEPSE GRAVE

cionados ao próprio processo infeccioso Hipotensão (Responsiva


Lactato elevado
(temperatura e leucograma). à reposição)
Debito urinário < 0,5mL/ PaO2/FiO2 < 250 (ou
Kg/h por 2h 200 se pneumonia)
No entanto, é muito importante que Creatinina > 2mg/dL Bilirrubina total > 4mg/L
a gente tenha mente que o termo Plaquetas < 12.000/mm³ INR > 1,5
“SIRS” é bastante inespecífico: ele
só indica que o paciente tem uma
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Por fim, um quadro de Choque Sép- realizando mudanças importantes


tico seria aquele em que o pacien- como a retirada dos critérios de SIRS
te apresenta uma Sepse Grave com para definição de Sepse e também
hipotensão não responsiva à admi- a extinção do termo “Sepse Grave”.
nistração de volume, de modo que é Diante disso, também foi necessário
necessário entrar com fármacos va- redefinir o conceito de Sepse, que
sopressores para manter uma PAM passou a ser uma infecção suspeita-
≥ 65mmHg. Trata-se, então, de um da ou diagnosticada que se associa
choque distributivo em que anorma- com disfunção orgânica ameaçado-
lidades circulatórias, celulares e me- ra à vida.
tabólicas são profundas o suficiente Percebe como o Sepsis-3 deixa as
para aumentar substancialmente a coisas mais específicas? A partir
mortalidade. Resumindo… dele, a Sepse deixa de ser apenas o
SEPSIS-2 processo infeccioso com inflamação
SIRS Reação inflamatória exacerbada generalizada e passa a já envolver
Sepse SIRS + Infecção evidências de disfunção dos órgãos,
Sepse grave Sepse + Hipoperfusão/Disfunção que antes só víamos na Sepse Gra-
Choque
Sepse grave + Vasopressores ve. Ou seja, o que esse consenso
séptico
fez foi, basicamente, encarar como
sepse apenas os quadros mais com-
Sepsis-3 plicados!
A partir disso, então, como a gen-
Uma grande crítica que pairava sobre
te perdeu os critérios da SIRS, foi
essa abordagem do Sepsis-2 era de
necessário lançar mão de alguma
que os parâmetros utilizados eram
outra ferramenta para avaliar se o
muito sensíveis, de modo que pacien-
paciente está ou não em Sepse e é
tes com algum processo infeccioso
justamente daí que surge o SOFA
que nem fosse tão grave, acabavam
(Sequential Organ Failure Assess-
sendo submetidos ao protocolo de
ment ), um critério que define se há
tratamento para Sepse.
disfunção orgânica a partir de uma
Na intenção de resolver essa ques- série de dados de cada um dos sis-
tão, no ano de 2016 foi lançado o 3º temas orgânicos, como vemos na
Consenso Internacional, o famoso tabela abaixo.
Sepsis-3, que atualizou a forma com
que avaliamos os quadros de Sepse,
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SOFA ESCORE 0 1 2 3 4
<200 com <100 com
PaO2/FiO2 ≥400 <400 <300 suporte venti- suporte venti-
latório latório
Plaquetas (103) ≥150 <150 <100 <50 <20
Bilirrubina <1,2 1,2-1,9 2-5,9 6-11,9 ≥12
Dopamina Dopamina
Dopamina <5
(5,1-15) ou >15 ou adre-
ou dobutami-
Cardiovascular PAM ≤70 PAM <70 adrenalina nalina >0,1 ou
na (qualquer
≤0,1 ou nora- noradrenalina
dose)
drenalina ≤0,1 >0,1
Glasgow 15 14-13 12-10 9-6 <6
Creatinina ou
3,5-4,9 ou DU >5 ou DU
débito urinário <1,2 1,2-1,9 2-3,4
<500 <200
(mL/dia)
Tabela 1: SOFA - Sequential Organ Failure Assessment

Para cada sistema avaliado pelo vel para consulta, então na prática a
SOFA, o paciente receberá uma pon- gente não precisa memorizar todos
tuação que varia entre 0 e 4, de modo esses valores de referência, mas,
que, no final das contas, ele pode ficar por outro lado, conhecer quais são
com um escore de 0 a 24 pontos. E os parâmetros avaliados (bilirrubina,
a gente vai definir que há disfunção creatinina, etc.) é fundamental pois é
quando o paciente tiver um aumento isso que define quais exames vamos
de 2 pontos no SOFA. solicitar!
E a segunda coisa que vem à nossa
cabeça quando olhamos para o SOFA
SE LIGA! O que define a disfunção é o
aumento de 2 pontos, então se o pa- é que ele é uma escala complexa e
ciente tiver alguma condição de base realmente o SOFA não é uma ferra-
que confira alguma pontuação no SOFA, menta prática que a gente consegue
ele só terá evidência de disfunção se au-
aplicar facilmente na abordagem de
mentar 2 pontos em relação a essa pon-
tuação prévia. um paciente - até porque vamos pre-
cisar do resultado de alguns exames,
como acabamos de ver. Foi justamen-
Massa. Mas quando a gente olha
te por conta disso que se criou uma
para uma tabela dessas é inevitá-
versão bem mais simplificada dele, o
vel pensar 2 coisas. A primeira delas
famoso: qSOFA (quickSOFA), que
é: precisa gravar tudo isso? Não!
tem 3 critérios:
O SOFA sempre vai estar disponí-
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qSOFA e, por isso, o SOFA deve ser aplicado.


Hipotensão
Alteração Então já vimos que o Sepsis-3 tirou
de estado Taquipneia
sistólica (≤ mental os conceitos de SIRS e Sepse Gra-
(≥ 22 ipm)
100mmHg) (GCS < 15) ve, já entendemos a nova definição
de Sepse e agora só nos resta atu-
≥ 2 pontos indica disfunção orgânica - SOFA
alizar o que é Choque Séptico. Pois
bem… diante de todas essas altera-
O qSOFA se baseia em critérios clí- ções, o conceito de Choque Séptico
nicos para identificar a probabilidade acaba mudando por tabela, de modo
de um paciente com infecção (ou pelo que para definirmos que o paciente
menos suspeita) ter um prognóstico está com um quadro desses, ele pre-
ruim e aí, justamente por não preci- cisa de vasopressores para manter a
sar de testes laboratoriais, ele acaba pressão arterial média (PAM) igual ou
sendo uma ferramenta mais simples, maior que 65mmHg, como também
rápida e prática de ser aplicada. No deve apresentar uma hiperlactate-
entanto, apesar de alguns estudos mia, o que corresponde a um lactato
apontarem que ele tem um valor pre- sérico superior a 2mmol/L (18mg/dL).
ditivo similar ao do SOFA, o qSO-
SEPSIS-3
FA não define diagnóstico! Assim,
Sepse Infecção + Disfunção orgânica
a gente admite que um qSOFA ≥ 2
Choque Sepse + Vasopressores +
pontos é um indicativo de disfunção séptico Hiperlactatemia

MAPA MENTAL sepsis-2 sepsis -3

Disfunção orgânica
Infecção + SIRS
• Hipotensão Sepse grave +
• Febre/hipotermia hipotensão não
• Debito urinário/
• Taquicardia responsiva à volume,
Creatinina
• Taquipneia ou
Sepsis - 2 • Plaquetas/INR necessitando de DVA
hipocapnia
• Leucocitose ou
• Bilirrubina para manter PAM ≥
• PaO2/FiO2 65mmHg
leucopenia
• Hiperlactatemia

Sepse Sepse grave Choque séptico


Maior gravidade

Infecção + SOFA
• PAM Sepse + hipotensão não
• PaO2/FiO2 CONCEITO NÃO EXISTE responsiva à volume,
• Bilirrubina NO SEPSIS-3! necessitando de DVA para
Sepsis - 3 • Creatinina/Debito
A sepse é considerada uma
manter PAM ≥ 65mmHg
urinário +
doença grave por si só Lactato > 2mmol/L
• Plaquetas
• Escala de coma de (18mg/dL)
Glasgow
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4. ABORDAGEM compõem o critério para definir SIRS


DIAGNÓSTICA no Sepsis-2. É justamente por isso
que o Instituto Latino Americano de
Agora que já estamos dominando os
Sepse (ILAS) propõe uma aborda-
conceitos atuais e antigos no que tan-
gem que mescla um pouco dos dois
ge à Sepse, vamos começar a aplicar
últimos Consensos Internacionais -
isso na prática e sistematizar como
até como forma de um compensar os
é que deve ser a nossa abordagem
pontos fracos do outro. Mas vamos
para com esses pacientes.
com calma para entendermos todos
Pois bem…a primeira coisa que preci- os passos.
samos ter em mente é o quadro clíni-
Digamos que estamos avaliando um
co do paciente. De maneira prática, a
paciente e aí suspeitamos que ele
apresentação da Sepse se dá de forma
esteja com alguma infecção. Diante
bastante inespecífica e os sintomas
disso, nós vamos pesquisar se há ≥ 2
identificados costumam estar muito
critérios de SIRS e/ou se há disfun-
mais relacionados ao processo infec-
ção orgânica. Se tiver, liga o alerta e
cioso em curso. Dessa forma, os pa-
começa a investigar Sepse.
cientes costumam se apresentar com
taquicardia, taquipneia, alteração da O próximo passo, então, é pensar no
temperatura (para mais ou para me- foco infeccioso. O paciente já tem
nos) e com a evolução do quadro po- uma infecção diagnosticada? Em não
dem começar a apresentar sinais de tendo, o quadro dele realmente nos
choque e disfunção orgânica. permite sustentar essa suspeita? Se
a resposta aqui for não, a gente vai
Reparou? Os principais sintomas
atrás de um manejo fora do protocolo
que a gente identifica num paciente
de Sepse, mas se a resposta for sim,
com Sepse são aqueles mesmos que
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aí vamos nos aproximar um pouco tindo em cuidados paliativos para o


mais do diagnóstico de Sepse. No en- SEPSIS-3 Sepse Infecção + Disfun-
tanto, antes de continuar o raciocínio, ção Orgânica Choque Séptico Sepse
existem 2 tópicos muito importantes + Vasopressores + Hiperlactatemia
e que precisamos levar em conside- paciente e no segundo tratando es-
ração: pecificamente a doença que ele apre-
senta.
• Cuidado de fim de vida;
Agora…se ele não se enquadrar em
• Quadro sugestivo de doença atípi- nenhuma dessas situações, aí nós va-
ca - como dengue, malária e lep- mos continuar investigando Sepse e
tospirose. para isso temos que lembrar que o 3º
Consenso Internacional restringiu um
Nessas duas situações a gente vai in- pouco as coisas, então para fechar o
terromper a investigação e cuidar do diagnóstico a gente precisa identificar
paciente por outro protocolo que não se há disfunção orgânica através da
o de Sepse. No primeiro caso, inves- aplicação do qSOFA.

MAPA MENTAL: ABORDAGEM DIAGNÓSTICA

O paciente apresenta:
Disfunção orgânica
• Hipotensão: PAS ≤ 90mmHg
• Sonolência, agitação,
confusão ou coma Presença de dois Pacientes em cuidados
• SatO2 ≤ 90%, necessidade critérios de SIRS de fim de vida?
de O2 ou dispneia e/ou uma disfunção Sim
• Diurese < 0,5mL/Kg/h orgânica?
Não Continuar atendimento
fora de protocolo sepse
Acionar equipe médica

Quadro sugestivo
de doenças atípicas Sim
Não Foco infeccioso suspeito Sim (dengue, malária,
Finalizar protocolo
ou confirmado? leptospirose)?
Manter a
Não atenção, pois
Quadro clínico pouco
o paciente tem
sugestivo de sepse (IVAS, Não, somente SIRS Paciente com risco de vida
amigdalite ou pacientes disfunção orgânica?
sem fatores de risco?
Sim
Não
Seguimento ao
Continuar atendimento Sim Não atendimento em Paciente com qSOFA ≥ 2
fora de protocolo sepse protocolo Sepse

Redobrar a atenção: Alto risco de óbito


• Reavaliar o paciente a cada hora Sim
• Agilizar transferência para UTI sempre
que possível
SEPSE 12

É nesse ponto do fluxograma que a e garantir acesso vascular, sendo


ILAS propõe uma interação maior en- que por esse nós já devemos colher
tre os dois últimos protocolos diag- os exames necessários para definir o
nósticos de Sepse. Presta atenção: SOFA, ou seja:
se nesse momento da abordagem a Gasometria arterial Hemograma
gente não identificasse disfunção or- Plaquetograma Coagulograma
gânica, o paciente não seria tratado Bilirrubina Creatinina
como Sepse pelo Sepsis-3. No en-
tanto, o fato dele ter uma SIRS com
infecção suspeitada ou diagnosticada Além disso, é importante investigar o
faria com que ele fosse tratado pelo foco infeccioso e por isso deve ser so-
Sepsis-2. licitado também 2 hemoculturas de
Em cima disso, o que ILAS faz com sítios diferentes e culturas de todos
esses casos em que há divergência os sítios pertinentes. Esses exames
diagnóstica entre o Sepsis-2 e o Sep- precisam ser feitos antes do início da
sis-3 é recorrer à clínica do paciente. terapia medicamentosa, contudo, não
Se ele tiver com um quadro infeccio- podemos atrasar a conduta inicial es-
so que não seja sugestivo de Sepse perando o resultado!
- como uma infecção de via aérea A antibioticoterapia deve ser insti-
superior (IVAS) ou uma amigdalite, tuída de imediato (antes da primeira
por exemplo - a gente desconside- hora após o atendimento ao pacien-
ra submeter o paciente ao protocolo te), preferencialmente após a coleta
de Sepse. Por outro lado, se o quadro das culturas – como dito anterior-
dele te fizer suspeitar que há um risco mente. A cada hora de atraso no iní-
grande dele evoluir com disfunção or- cio na antibioticoterapia, a mortalida-
gânica nos próximos dias, aí podemos de aumenta cerca de 4%. A escolha
iniciar o protocolo de Sepse para ele. de qual medicação deve ser usada vai
Levando em conta também, que cada variar de acordo com o foco suspeito
instituição de saúde pode apresentar de infecção, uso prévio de antibióticos,
um protocolo de sepse diferente. internação recente, comorbidades e/
ou imunossupressão, dispositivos in-
vasivos e os padrões de resistência
5. ABORDAGEM dos microrganismos locais. A esco-
TERAPÊUTICA lha inicial deve incluir uma cobertura
Uma vez tendo levantado a suspei- de amplo espectro (com um único
ta de Sepse, a gente deve manejar o agente ou uma combinação de agen-
paciente o mais rápido possível e isso tes), sendo que o espectro deve ser
envolve, logo de cara, monitorizá-lo reduzido quando os patógenos tive-
SEPSE 13

rem sido isolados e as sensibilidades (2mmol/L ou 18mg/dL), aí está indi-


estabelecidas, ou quando a evolução cado fazer reposição volêmica no
clínica permitir. Sendo importante paciente através da infusão de crista-
salientar que nem sempre é possí- loide, 30mL/kg por 3h, se atentando
vel isolar o patógeno na cultura, mas ao fato de que cada paciente deve ser
é importante realizar para guiar um individualizado, pois nem todos su-
possível tratamento posterior. portam a mesma reposição de fluidos
Com base nisso, assim que forem co- – devido a comorbidades prévias ou
lhidos os exames para investigação estrutura física.
de foco, a gente deve iniciar o pacote A avaliação do estado hemodinâmi-
de 1h proposto pela Campanha de co deve ser feita com a monitorização
Sobrevivência à Sepse em 2018. da frequência cardíaca, da pressão
Basicamente, o que ele nos diz é que arterial, exame cardiovascular, tempo
nós temos 1h desde a triagem do pa- de enchimento capilar e avaliação da
ciente para realizar toda a abordagem pele e mucosas.
inicial à Sepse. Em pacientes com sinais de hipo-
perfusão a despeito das medidas de
SAIBA MAIS ressuscitação volêmica, ou pacientes
Em 2018 foi proposto um pacote de 1 que não possam receber muito volu-
hora para a abordagem inicial da sepse. me – como pacientes com insuficiên-
Cheque esse artigo se quiser se apro- cia cardíaca - podem ser introduzido
fundar no tema: LEVY, Mitchell; et al.
o uso de drogas vasoativas para au-
2001 SCCM/ESICM/ACCP/ SIS Interna-
tional Sepsis Definitions Conference. xiliar na estabilização do quadro.
Passado tudo isso, o paciente deve
Sendo assim, para todos os pacien- ser internado e continuar com a mo-
tes nós vamos colher o Lactato , po- nitorização e com o tratamento para
dendo ser arterial ou misto - inclusive, a infecção. Por fim, para aqueles que
isso já deve ser feito juntamente com apresentaram hiperlactatemia, é
a gasometria lá em cima. Associado importante mensurar o lactato mais
a isso, se o paciente estiver com si- uma vez entre 2-4h após a aplicação
nais de hipotensão e/ou lactato 2x do protocolo para reavaliar o estado
maior do que o valor de referência do paciente.
SEPSE 14

FLUXOGRAMA RESUMO

Presunção de infecção
PAS < 100mmHg
+
Suspeita de sepse Aplicação do qSOFA Glasgow < 15
Alterações relevantes na história
FR > 22 IPM
Pacientes idosos ou imunossupressos

qSOFA ≥ 2 qSOFA < 2

Monitorização • Reavaliar se
Acesso Venoso persistir suspeita
Monitorização
SOFA Coleta de exames -
Acesso Venoso • Descartar
• Respiratório SOFA
• Cardiovascular Protocolo SEPSE • Investigação
• Fígado • Coleta de exames de foco
• Coagulação SOFA • Disfunção orgânica
• Rim • Investigação de • Dosagem lactato
• SNC foco
Antibioticoterapia
• Antibioticoterapia
Fluidoterapia
(avaliar!)

• Internamento em
SOFA ≥ 2 unidade fechada
• Droga vasoativa
se necessário
Lactato ≥ 2 mmol/L • Avaliar resposta
à volume
Sepse PAM < 65mmHg após Choque séptico
• Dosagem seriada
ressuscitação volêmica de lactato
• Avaliação
parâmetros
de perfusão
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
GOLDMAN, Lee; SCHAFER, Andrew. Cecil Medicina. 24ª ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2014.
Instituto Latino Americano de Sepse. Roteiro de Implementação de Protocolo
Assistencial Gerenciado. 5ª ed. São Paulo: 2019.
LEVY, Mitchell; et al. 2001 SCCM/ESICM/ACCP/ SIS International Sepsis Definitions
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LEVY, Mitchell; et al. The Surviving Sepsis Campaign Bundle: 2018 Update. Critical Care
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MARTINS, Herlon. NETO, Rodrigo. VALESCO, Irineu. Medicina de Emergência – Aborda-
gem Prática. 13ª ed. São Paulo: Manole, 2019.
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SCHMIDT, Gregory. MANDEL, Jess. Evaluation and management of suspected sepsis
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SINGER, Mervyn et al. The Third International Consensus for Sepsis and Septic Shock
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