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SUMÁRIO

1. O que é o procedimento? ....................................... 3


2. Quais os objetivos do procedimento?................. 3
3. Quais as indicações do procedimento? ............. 5
4. Contraindicações........................................................ 8
5. Técnica da paracentese............................................ 9
Referências bibliográficas .........................................21
PARACENTESE 3

1. O QUE É O a diferença entre elas precisamos sa-


PROCEDIMENTO? ber que a punção envolve a inserção
de uma agulha e aspiração do con-
A paracentese nada mais que é uma
teúdo naquele local puncionado. A
punção da cavidade peritoneal na
drenagem, por outro lado, envolve a
intenção de colher o líquido ascítico
inserção de um instrumento calibro-
ou peritoneal.
so que permanece no local drenando
É importante ressaltar que nesse pro- qualquer conteúdo que venha a ser
cedimento é feito uma punção, não produzido.
uma drenagem. Para entendermos

A B
Figura 1. Paracentese (A) x Drenagem (B). A drenagem é pautada na utilização de drenos para a retirada de possí-
Imagem:
veis Paracentese
conteúdos produzidos em(A) x Drenagem
cavidades, (B). A no
principalmente drenagem é pautadaAna
âmbito pós-operatório. utilização
paracentese é a de drenos
retirada de um
conteúdo já existente, o líquido ascítico. (Fonte: Rev. Bras. Cir. Plást.2009;24(4):521-524)
para a retirada de possíveis conteúdos produzidos em cavidades, principalmente no
âmbito pós-operatório. A paracentese é a retirada de um conteúdo já existente, o líquido
2. QUAIS OS OBJETIVOS conteúdo peritoneal, de forma a iden-
ascítico. (Fonte: Rev. Bras. Cir. Plást.2009;24(4):521-524)
DO PROCEDIMENTO? tificar a etiologia subjacente à ascite.
Os itens avaliados laboratorialmente
A paracentese possui tanto objeti-
serão discutido adiante.
vos propedêuticos como objetivos
terapêuticos.
O objetivo propedêutico envolve a
investigação etiológica da ascite,
portanto, a paracentese nesse âmbi-
to é feita de forma a ser diagnósti-
ca. A paracentese diagnóstica é feita
através da avaliação laboratorial do
PARACENTESE 4

PRINCIPAIS CAUSAS DE ASCITE


ETIOLOGIA FREQUÊNCIA
Cirrose Hepática 81-85%
Neoplasias Malignas 10%
Insuficiência Cardíaca 3-5%
Tuberculose 1-6,5%
Diálise Peritoneal 1%
Doença Pancreática 1%
Outras Causas 2%
Tabela 1. Principais causas de ascite e suas frequên-
cias. (Fonte: Medicina de Emergência, 13ª Ed, 2019)

O objetivo terapêutico da paracen-


tese é “aliviar” o paciente do des-
conforto gerado pelo acúmulo de
líquido ascítico. Muitas vezes o pa- Figura 2. Podemos observar, pela anatomia abdominal
e torácica, como a presença da ascite pode gerar um
ciente com ascite se apresenta, por aumento da pressão intra-abdominal, impactando na
exemplo, com intenso desconforto insuflação pulmonar, podendo culminar por fim em des-
conforto respiratório. (Fonte: https://bit.ly/3cmWV6n)
abdominal e/ou respiratório devi-
do ao aumento da pressão intra-ab-
dominal que também repercute na APLICAÇÃO CLÍNICA: Vamos pensar
essa classificação observando casos
mecânica respiratória, impedindo a
clínicos?
ampla insuflação pulmonar. Portanto,
Caso 01: Paciente feminina, 36 anos,
nesses casos, podemos denominar o começou a cursar com ascite duran-
procedimento como paracentese “de te a gravidez. Nega qualquer patologia
alívio”, cujo objetivo é terapêutico. prévia.
Diante disso, é feito o esvaziamento Nesse caso, devemos realizar a para-
do máximo de volume possível do lí- centese de forma diagnóstica!
quido peritoneal. Caso 02: Paciente masculino, 72 anos,
cirrótico por uso abusivo crônico de ál-
cool. De 15 em 15 dias, cursa com des-
conforto respiratório intenso por acúmu-
lo de líquido ascítico.
Nesse caso, devemos realizar a para-
centese de forma terapêutica!
PARACENTESE 5

3. QUAIS AS INDICAÇÕES insuficiências do lado direito do cora-


DO PROCEDIMENTO? ção, podem gerar uma congestão do
sistema venoso, aumentando o com-
Devemos pensar as indicações desse
ponente hidrostático, que por fim pode
procedimento distinguindo as indica-
vir a gerar um extravasamento líqui-
ções da paracentese diagnóstica para
do para diversos espaços, inclusive
as indicações da paracentese de alívio.
a cavidade peritoneal. Doenças in-
A paracentese diagnóstica deve ser fecciosas podem acometer o peritô-
indicada em casos de ascite a escla- nio, como por exemplo a tuberculose,
recer, sem algum diagnóstico prévio. usualmente gerando um quadro clíni-
Nesse caso, devemos investigar as co que contém a ascite. As doenças
possíveis etiologias da ascite, como linfoproliferativas, como o linfoma,
hepatopatias, cardiopatias, doenças podem gerar a produção e liberação
infecciosas, doenças linfoproliferati- de líquido inflamatório ou linfático
vas e carcinomatose peritoneal. para a cavidade abdominal. Por fim,
Algumas doenças hepáticas cur- a carcinomatose peritoneal é o aco-
sam com hipertensão do sistema metimento da cavidade peritoneal por
porta, normalmente culminando em neoplasias malignas, podendo ser
ascite. Cardiopatias, principalmente primária ou secundária (metástases).

MAPA MENTAL: ASCITE A ESCLARECER – POSSÍVEIS ETIOLOGIAS ASSOCIADAS

Hipertensão do Sistema Porta


Ex: Cirrose Hepática

Insuficiência cardíaca
Acometimento da (Congestão do sistema
cavidade peritoneal por Doenças Hepáticas venoso e extravasamento
neoplasias malignas. para o terceiro espaço)
Ex: Metástases peritoneais Ex: Insuficiência cardíaca
congestiva (ICC)

Carcinomatose Peritoneal Cardiopatias

Doenças Linfo proliferativas Doenças infecciosas

Liberação de líquido
inflamatório e linfático Acometem o peritônio
para a cavidade Ex: Tuberculose Peritoneal
Ex: Linfoma Fonte: Aula SanarFlix
PARACENTESE 6

Além disso, indica-se também o coagulação; icterícia por deficiência


procedimento diagnóstico para pa- na conjugação da bilirrubina, entre
cientes com ascite que comecem a outros achados. Nesse cenário, de-
apresentar uma alteração do seu vemos pensar em uma infecção vi-
estado clínico, com piora significa- gente que esteja piorando a função
tiva. Essa piora pode se apresentar hepática, já comprometida de base.
através de febre, dor abdominal, Essa infecção pode ter diversos sítios,
encefalopatia, leucocitose/sepse, seja ele urinário, respiratório, gas-
disfunção renal, acidose ou inter- trointestinal. Porém, em um quadro
nação por debilidade do estado clíni- clínico desses, não devemos deixar
co recém estabelecida. Em pacientes de pensar na Peritonite Bacteriana
com ascite, devemos sempre pensar Espontânea (PBE)!
que uma alteração do estado clínico A PBE é uma infecção do líquido
pode ser derivada da ascite ou de ascítico por translocação bacteria-
complicações associadas a esta! na do tubo digestório. Ou seja, nes-
Imagine um paciente com doença se caso a ascite é a própria fonte da
crônica parenquimatosa do fígado infecção, devendo a paracentese ser
(DCPF) devido ao vírus da Hepati- realizada de forma diagnóstica!
te C (HCV), com diagnóstico há 5
anos. Esse mesmo paciente compa- SE LIGA! A peritonite bacteriana espon-
rece ao seu ambulatório com queixa tânea é uma infecção bacteriana do lí-
de febre, acompanhada de descom- quido ascítico, na ausência de outra
pensação da hepatopatia. Essa des- infecção intra-abdominal. Representa
uma descompensação aguda da cirrose
compensação pode ser marcada por hepática, piorando significativamente o
uma alteração do estado mental prognóstico da doença. Apresenta uma
recente (encefalopatia por deficiên- alta mortalidade (até 90%) se não
tratada, caindo para cerca de 20% se
cia na metabolização de produtos
diagnosticada e tratada precocemente.
tóxicos como a amônia e a ureia); al- Por esse motivo, ressalta-se que todo
terações da coagulação, sejam elas paciente cirrótico em descompensa-
clínicas ou laboratoriais (petéquias ção deve ser submetido a uma para-
centese diagnóstica!
hemorrágicas, relação normatizada
internacional (RNI) alargada), por de-
ficiência na produção de fatores de
PARACENTESE 7

MAPA MENTAL: PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA E SEU MECANISMO FISIOPATOLÓGICO

Peritonite
Bacteriana
Espontânea

Junção celular
Junção celular normal
defeituosa

Aumento da Translocação da flora Instalação das bactérias


permeabilidade intestinal bacteriana intestinal no líquido ascítico

Fonte: Adaptado de https://bit.ly/2MkdFR2

Por fim, a paracentese terapêutica INDICAÇÕES DA PARACENTESE


é indicada basicamente para remo- Paracentese Diagnóstica
ção de grandes volumes de ascite, Ascite a esclarecer
na intenção de livrar o paciente dos Deterioração clínica de pacientes portadores de
ascite (febre, dor abdominal, encefalopatia hepá-
sintomas compressivos gerados
tica, leucocitose, piora da função renal, acidose,
pelo acúmulo de líquido. Além dis- entre outros)
so, também indica-se o procedimen- Paracentese Terapêutica
to em casos de ascites resistentes Remoção de grandes volumes de ascite para alívio
ao tratamento clínico otimizado, dos sintomas compressivos
como pacientes em dose máxima de Ascites resistentes ao tratamento clínico
diuréticos. otimizado
Tabela 2. Indicações da Paracentese diagnóstica e
terapêutica (Fonte: UptoDate, 2020)
PARACENTESE 8

4. CONTRAINDICAÇÕES Caso a paracentese seja de extre-


ma importância para o paciente em
Existem algumas contraindicações
questão, devemos tentar minimizar
para a realização da paracentese,
o risco associado ao procedimento e
pois mesmo sendo um procedimen-
realiza-lo.
to simples e rápido não deixa de ser
invasivo. Como podemos minimizar os poten-
ciais riscos da paracentese?
Em quadros clínicos onde há grande
distensão de alças, como em um ab- Punção guiada ou marcada pela Ul-
dome agudo obstrutivo, não se deve trassonografia: A paracentese pode
realizar a paracentese pelo perigo de ser realizada com o auxílio da ultras-
perfuração das alças. sonografia (USG), realizando a obser-
vação do local onde há maior acúmulo
Além disso, deve-se também indicar
de líquido, onde estão mais presen-
esse procedimento com cautela em
tes as alças distendidas e onde está
pacientes que se apresentam com
concentrada a circulação colateral
coagulopatia laboratorial, ou seja,
na parede abdominal, muito comum
plaquetopenia e RNI alargado.
em pacientes com quadro de hiper-
Porém, devemos ter em mente que tensão portal. Com o auxílio da USG,
a contraindicação do procedimen- podemos marcar o ponto mais se-
to para essas situações é relativa! guro para a punção e efetivá-la!

A B C

Figura 3. Mensuração do ponto em que deve ser puncionado pela USG (A), de forma a evitar alças intestinais (B) e
vasos superficiais da parede abdominal (C). (Fonte: Adaptado de CHEST, 2018)
PARACENTESE 9

MAPA MENTAL: INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES DA PARACENTESE

Indicações e
Contraindicações
da Paracentese

Minimizar os
riscos: USG!

Indicações Contraindicações

Diagnóstica Terapêutica Absolutas Relativas

Alívio dos sintomas Grande distensão


Ascite a esclarecer Nenhuma!
compressivos de alças intestinais

Paciente com ascite e Refratariedade ao Coagulopatia


deterioração clínica tratamento clínico laboratorial

Fonte: Aula SanarFlix

5. TÉCNICA DA
PARACENTESE procedimento. Devemos lembrar que
Podemos pensar na realização da a paracentese é realizada como um
paracentese como um passo a passo. procedimento estéril, sendo de alto
Para isso, teremos algumas etapas. risco de contaminação com material
biológico. No âmbito da paracentese,
lidamos usualmente com pacientes
Preparação: portadores de hepatites virais crôni-
A primeira etapa é composta pela pre- cas, em exemplo, por isso devemos
paração do material utilizado para o
PARACENTESE 10

sempre nos precaver dos acidentes estéril, luva estéril, avental, másca-
com material biológico. ra, gorro e óculos, se disponível no
Dessa forma, necessitaremos de an- local.
tisséptico, gaze, campo fenestrado

EQUIPAMENTOS DE PARAMENTAÇÃO, PROTEÇÃO INDIVIDUAL E DEGERMAÇÃO

Campo Fenestrado

Antisséptico Óculos Cirúrgico

Escova com Equipamentos de


Gorro Cirúrgico
antisséptico paramentação

Gaze Máscara Cirúrgica

Luva Estéril Avental Cirúrgico

Fonte: Aula SanarFlix

Para o procedimento propriamente parte do líquido ascítico (20mL),


dito, necessitaremos de anestésico Jelco 14 para a paracentese de alívio
(Lidocaína a 2% sem vasoconstrictor), e Jelco 16 ou menor para a paracen-
seringa para o anestésico (10mL), tese diagnóstica, além de um equipo
agulha para pegar o anestésico (N° estéril, caso seja uma paracentese de
18), agulha para aplicar o anestési- alívio.
co (N° 22), seringa para colher uma
PARACENTESE 11

O Jelco é uma agulha revestida com ele é utilizado para outra função que
um cateter de silicone, o qual per- será descrita em breve.
manece na cavidade após a punção Além disso, serão utilizados também
e retirada da agulha, possibilitan- tubos de análise laboratorial, bem
do a saída do líquido ascítico sem a como um tubo específico para cul-
permanência da agulha na cavidade tura do conteúdo puncionado. Por
durante esse procedimento. Quanto fim, devemos nos lembrar do cálice
maior a sua numeração, menor o graduado, um objeto de vidro que
seu diâmetro. possui a mensuração do conteúdo
O equipo é um instrumento que habi- ali depositado, de forma a possibili-
tualmente é utilizado para conectar o tar a contagem de quantos litros de
soro ao dispositivo de punção venosa líquido ascítico foram retirados no
periférica. Aqui nesse procedimento procedimento.

MAPA MENTAL: EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA A REALIZAÇÃO DA PARACENTESE

Equipamentos
necessários para a
paracentese

Lidocaína a 2% sem Seringa de 10 mL Seringa de 20 mL Agulha N° 18 Agulha N° 22 (Aplicação


vasoconstrictor (Aplicação do Anestésico) (Punção) (Aspirar o anestésico) do anestésico)

Jelco N°14 Tubos de análise


laboratorial (Roxo: EDTA, Cálice Graduado (Coleta
(Paracentese de Alívio) Equipo Estéril Tubo de Cultura
citometria; Amarelo: gel, do líquido ascítico na
e N° 16 (Paracentese (Paracentese de alívio) (Análise microbiológica)
bioquímica; Vermelho: paracentese de alívio)
diagnóstica) tubo seco, sorologias)

Fonte: Aula SanarFlix


PARACENTESE 12

Técnica: espinha ilíaca anterossuperior. Po-


demos pensar nesse ponto como um
A técnica da paracentese pode ser di-
“ponto de McBurney à esquerda”.
vidida, também, em algumas etapas,
Caso haja o auxílio do USG, como
de forma a se tornar mais elucidativa.
dito anteriormente, deve-se mapear o
abdome em busca de um local onde
Marcação do ponto: haja concentração de líquido, poucas
alças intestinais e pouca circulação
A punção às cegas deve ser reali-
colateral na parede abdominal, dei-
zada na fossa ilíaca esquerda, no
xando esse ponto marcado.
terço médio entre uma linha ima-
ginária traçada entre o umbigo e a

Espinha ilíaca
ântero-superior

Artéria epigástrica
inferior

Figura 4. Duas possíveis abordagens para punção na paracentese. A – Formação de uma linha imaginária entre o
umbigo e a Espinha Ilíaca Anterossuperior (EIAS), com punção no ponto do terço inferior dessa linha (ponto vermelho).
agem: DuasB –possíveis
Punção noabordagens para punção
ponto a 3 cm medialmente e 3 na paracentese.a EIAS,
cm superiormente A – Formação de uma
evitando os vasos linha imaginária
epigástricos inferiores. entre o
(Fonte: Uptodate, 2020)
pinha Ilíaca Anterossuperior (EIAS), com punção no ponto do terço inferior dessa linha (ponto vermelho). B –
nto a 3 cm medialmente e 3 cm superiormente a EIAS, evitando os vasos epigástricos inferiores. (Fonte: Uptodate
Anestesia: quando aspirar e vier o líquido as-
cítico, usualmente de coloração ci-
O primeiro passo antes da punção
trina! Nesse momento, você recua
é a anestesia da pele no local em
até não ocorrer mais aspiração de
que ela será feita. Com a agulha N°
líquido ascítico, significando que você
22 e seringa com lidocaína deve-
está na borda do peritônio, onde
mos adentrar o local e sempre as-
deve realizar mais uma aplicação do
pirar antes de realizar a injeção do
anestésico. Após anestesiar o peritô-
anestésico, de forma a não aplica-lo
nio, você deverá realizar o trajeto de
em algum vaso. A agulha deve ser
saída aplicando o anestésico até a
aprofundada a 45° até a cavidade.
borda da pele, onde deve ser realiza-
Você saberá que chegou na cavidade
do um botão anestésico.
PARACENTESE 13

cavidade peritoneal, onde ao aspirar


você vai observar a saída de líquido
18 gauge
ascítico em sua seringa, a qual deve
ser totalmente preenchida para aná-
lise laboratorial e cultura.
Nesse momento, o cateter do Jelco
deve ser inserido mais profunda-
22 gauge
mente, de forma a se aproximar da
pele, para então ser realizada a re-
tirada do dispositivo metálico. Ao
retirar esse dispositivo, deve-se ter
muito cuidado com o fluxo de saída
do líquido ascítico pelo cateter. Mui-
tas vezes esse fluxo pode estar in-
tenso e acabar gerando um acidente
com materiais biológicos.
Figura 5. Demonstração de utilização da agulha de
maior calibre para aspirar o anestésico (N° 18) e a
utilização de uma agulha com menor calibre (N°22 ou
menor) para realização da anestesia. (Fonte: Adaptado Conexão com Equipo:
de UptoDate, 2020)
Em paracenteses de alívio, uma pon-
ta do equipo deve ser conectado ao
Punção: cateter do Jelco, enquanto a outra
ponta deve ser depositada no cá-
Após a anestesia, é feita a punção. Uti-
lice graduado, de forma a coletar o
lizando um Jelco (14, se paracentese
líquido ascítico presente no paciente.
de alívio) e uma seringa de 20mL,
deve-se adentrar o ponto marcado O Jelco pode ser fixado com micro-
e anestesiado, ultrapassando a pele, pore à pele do paciente, de forma
subcutâneo, músculo e aponeurose, que o seu cateter não saia, “perden-
gordura pré-peritoneal, peritônio e do” a punção realizada.
PARACENTESE 14

A D
A AA DD D
A D

B BB
B EE E
E
B E

C CC FF F
C
C FF
Figura 6. Paracentese. A – Avaliação do sítio de punção por via ultrassonográfica. B – Marcação do sítio de punção e
degermação do local. C – Colocação do campo cirúrgico fenestrado. D – Anestesia no local da punção. E – Punção com
Jelco. F – Retirada da agulha e fixação do cateter na pele, com micropore. Incorporação ao equipo, por onde é drenado
o líquido ascítico até o cálice graduado. (Fonte: Adaptado de British Journal of Hospital Medicine, 2007, Vol 68, No 9)

Qual o volume máximo? devemos sempre tirar o máximo pos-


sível, tendo em mente que existem ris-
Não existe um volume máximo na
cos associados a esse procedimento.
paracentese! Deve-se retirar o vo-
lume suficiente para possibilitar A retirada de grandes volumes de
um alívio aos sintomas do paciente. líquido ascítico gera grandes mobi-
Em pacientes com muito desconfor- lizações de liquido no organismo
to, seja ele abdominal ou respiratório, do paciente. Sabemos que o pacien-
te cirrótico “distribui mal” o seu
PARACENTESE 15

volume corporal, com muita perda


de volume para o interstício, a qual avançada a terminal. Quando a insufi-
ciência renal é rapidamente progressi-
é agravada no procedimento da pa- va o prognóstico é bastante reservado,
racentese por criar um “espaço li- com uma sobrevida média de aproxi-
vre” no abdome. Essas implicações madamente duas semanas. O único
podem culminar em uma Síndrome tratamento confiável para essa pato-
logia é o transplante hepático. Já que
Hepatorrenal, com uma diminuição a insuficiência renal é mais funcional
da perfusão renal, levando a injúria que estrutural, ou seja, a questão não
renal aguda (IRA) por consequên- é no parênquima renal, ao melhorar
a função hepática e aliviar a hiper-
cia da patologia hepática. É uma pa-
tensão porta, a função renal também
tologia grave e que deve ser evitada. vem a melhorar. Atualmente, vem-se
considerando a anastomose portos-
sistêmica intra-hepática transjugular
HORA DA REVISÃO! (TIPS) como um possível tratamento
Uma complicação ameaçadora da hi- temporário para a melhora da função re-
pertensão portal é a síndrome hepator- nal, enquanto não é feito o transplante.
renal, que se desenvolve principalmen-
te em pacientes com doença hepática

MAPA MENTAL: MECANISMO DA SÍNDROME HEPATORRENAL

Síndrome
Hepatorrenal

• Cirrose Descompensada
• Hipertensão portal grave

• Vasodilatação do sistema arterial esplâncnico


• Ascite expressiva

• Redução expressiva do volume intravascular


• Mecanismos cardíacos de compensação insuficientes
• Distribuição de volume desigual
• Ativação dos sistema de reabsorção de sódio

• Retenção de sódio e água


• Baixa perfusão renal
• Disfunção renal acentuada

Fonte: Adaptado de N Engl J Med, 2009; 361:1279-90


PARACENTESE 16

Existem alguma forma de evitar a


Síndrome Hepatorrenal?
Quando há a retirada de mais de 5
Litros de conteúdo ascítico deve-
mos, obrigatoriamente, administrar
albumina para o paciente, de forma a
gerar um estímulo coloidosmótico
no sangue para manutenção do vo- A
lume no compartimento intravascu-
lar, evitando a má perfusão renal.
Podemos usar uma regra prática para
saber quanto de albumina adminis-
trar. Para cada 1 L retirado, deve-
mos administrar 1 Frasco de Albu- B
mina. Ou seja, 1:1. Figura 6. Aspecto Macroscópico do líquido ascítico. A
– Aspecto amarelo-citrino. B – Aspecto quiloso. (Fonte:
https://bit.ly/2ZSrZbA; https://bit.ly/2Miyrkf)
Quais exames solicitar?
Principalmente em paracenteses A avaliação bioquímica do conteúdo
diagnósticas, devemos sempre reali- ascítico é composta basicamente da
zar a análise macroscópica e labora- avaliação de albumina (sorológica e
torial do material coletado, sendo que no líquido ascítico) e de proteínas
a nível laboratorial o líquido é analisa- totais, além da avaliação do GASA.
do no âmbito bioquímico, citológico e O GASA é o gradiente albumina so-
bacteriológico. ro-ascite. Trocando miúdos, nada mais
A elucidação diagnóstica se inicia é que uma relação entre a quantidade
pela avaliação macroscópica do lí- de albumina presente no sangue/
quido ascítico, podendo o mesmo se quantidade de albumina presente
apresentar seroso (amarelo-citrino, no líquido ascítico. O valor aferido
clássico da cirrose), hemorrágico (su- do GASA nos auxilia a encontrar uma
gere neoplasia ou tuberculose), turvo etiologia do líquido ascítico. GASA >
(sugestivo de infecção, podendo ha- 1.1 usualmente se refere a um quadro
ver odor fétido associado), leitoso ou de Hipertensão Portal, ou seja, por
quiloso (linfático) e bilioso (amarela- doença hepática. GASA < 1.1 fala a
do e espesso, sugestivo de trauma ou favor de outras etiologias, como ascite
tumores biliares). cardiogênica ou neoplásica. Outras
etiologias menos comuns também po-
dem gerar ascite, citados na tabela a
PARACENTESE 17

seguir, de acordo com o GASA encon- A citometria, como o próprio nome


trado nas mesmas. elucida, é uma avaliação citológica
do líquido ascítico, de forma muito
semelhante ao hemograma. Nessa
PRINCIPAIS CAUSAS DE ASCITE CONFOR-
ME O GASA (GRADIENTE DE ALBUMINA
avaliação, devemos nos atentar aos
SORO-ASCITE) linfócitos, principalmente os polimor-
GASA > 1,1 GASA < 1,1 fonucleares. Caso existem > 250
Carcinomatose polimorfonucleares (em número
Cirrose Hepática
Peritoneal absoluto), deve ser realizado o diag-
Hepatite Alcóolica Tuberculose peritoneal nóstico de PBE e o seu subsequente
Cirrose Cardíaca Ascite Pancreática tratamento.
Insuficiência hepática Obstrução ou infarto
fulminante intestinal
Outro dado que aponta para a PBE é a
Metástases Hepáticas
cultura do líquido ascítico positiva,
Ascite biliar
maciças porém esse exame tem o resultado
Síndrome de um pouco tardio. A cultura nada mais
Síndrome nefrótica
Budd-Chiari é que a avaliação bacteriológica do
Trombose de Veia porta
Vazamento linfático líquido ascítico.
pós-operatório
Tabela 3. Principais etiologias da ascite discriminadas
de acordo com o GASA (Gradiente albumina soro-asci-
te). (Fonte: Medicina de Emergência, 13ª Ed, 2019

SAIBA MAIS!
Os germes comumente encontrados na PBE são a Escherichia coli, Streptococcus sp. e Kle-
bsiella pneumoniae.

Caso a punção demonstre um líquido


esbranquiçado e leitoso, devemos
pensar que ele pode ter origem lin-
fática! Além disso, podemos também
já ter uma suspeita por outros fatores
clínicos para a presença de uma do-
ença linfoproliferativa cursando com
ascite. Para melhor avaliar essa situa-
ção, podemos dosar a quantidade de
Figura 7. Coloração de Gram em fluido peritoneal, com
diagnóstico de Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE). triglicérides nele presente. Caso seja
Pode-se observar diferentes germes, incluindo cocos > 200mg/dL, devemos pensar em
gram positivos e microrganismos entéricos gram ne-
gativos. Trata-se de uma “mistura” dos germes da flora ascite quilosa (linfática).
intestinal. (Fonte: UptoDate, 2020)
PARACENTESE 18

Por fim, caso haja uma suspeita ela- observado em microscopia óptica
borada sobre a presença de uma (MO), em busca de células tumo-
neoplasia primária ou secundária rais viáveis. Caso a citologia oncótica
de topografia abdominal, como a esteja positiva, temos um direciona-
carcinomatose peritoneal, deve- mento positivo para a carcinomatose
mos realizar uma citologia oncóti- peritoneal. Podemos também lançar
ca. Realiza-se um esfregaço em uma mão dos marcadores tumorais na
lâmina com o líquido ascítico, que é análise do líquido ascítico.

Figura 8. Carcinomatose peritoneal. Achado chamado de “Omental Cake”, se referindo a difusa infiltração da gordura
peritoneal por material neoplásico. (Fonte: https://www.atlascirurgico.com.br/artigo/106a-carcinomatose-peritoneal)

Acidentes no Procedimento calibrosos que podem ser eventual-


mente puncionados são as artérias
Como estaremos muitas vezes lidan-
e veias epigástricas inferiores. En-
do com pacientes cuja patologia de
tretanto, na grande maioria das situ-
base predispõe problemas na coa-
ações a conduta é basicamente a
gulação, podemos ter que lidar algu-
compressão sob o local, sendo muito
mas vezes com o sangramento, aci-
efetiva habitualmente, não necessi-
dente que ocorre em cerca de 0,97%
tando de maiores intervenções.
dos procedimentos. Os vasos mais
PARACENTESE 19

Figura 9. Presença de circulação colateral que pode dificultar o procedimento da paracentese, favorecendo a aciden-
tes como o sangramento. Devemos nos atentar principalmente para os vasos epigástricos inferiores. (Fonte: Atlas de
Anatomia Humana, 7ª Ed, 2019; Anatomia Orientada para a Clínica, 6ª Ed, 2013)

compressão manual ou através de


curativos compressivos. Em alguns
poucos casos podem necessitar de
pequenas intervenção cirúrgicas,
como realização de sutura no local.
Por fim, a perfuração de alças intes-
tinais pode ser também um acidente
do procedimento, que será percebi-
da caso seja aspirado gás ou con-
Figura 10. Sangramento de pequena monta durante a
teúdo de víscera oca, como fezes
punção da paracentese. Usualmente esses sangramen- e líquido entérico. As consequên-
tos são controlados apenas com a compressão local.
(Fonte: http://www.hepcentro.com.br/ascite.htm)
cias mais comuns da perfuração são
a contaminação do líquido ascítico
(podendo vir a cursar com Peritonite
De forma mais frequente, em cerca Bacteriana Secundária – PBS, pela
de 5% dos procedimentos, após o conexão temporária da microbiota in-
mesmo ocorre o vazamento de lí- testinal com o líquido ascítico. Ocorre
quido ascítico pelo local da pun- em cerca de 0,58 a 0,63% dos proce-
ção, usualmente em pacientes des- dimentos) e, de forma menos comum,
nutridos cuja camada subcutânea a formação de uma fístula digestiva.
não consegue vedar devidamente o Nesses casos, deve-se manter o pa-
orifício da punção. De forma seme- ciente em observação e análise clini-
lhante ao sangramento, também tem co-laboratorial constante, de forma a
uma ótima resolução apenas com a evitar maiores consequências.
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MAPA MENTAL GERAL: PARACENTESE

Hepatopatias Alívio dos sintomas Ascites resistentes Antisséptico, gaze, Lidocaína a 2% sem vaso, seringa (10 mL e 20 mL),
ao tratamento campo fenestrado, agulha (N° 18 e 22), Jelco (N° 14 ou 16), Equipo, tubos de
compressivos clínico otimizado análise laboratorial, de cultura e cálice graduado
luva estéril, máscara
Cardiogênica cirúrgica, touca e
óculos cirúrgicos Equipamentos
Doenças Terapêutica Punção da cavidade necessários
Infecciosas peritoneal
Material de proteção
Propedêutica Terço inferior entre o
Doenças umbigo e a Espinha Ilíaca
linfoproliferativas Anterossuperior (EIAS)
O que é? Preparação Marcação
Ascite a esclarecer
do ponto USG: acúmulo de líquido,
Carcinomatose poucas alças intestinais e
peritoneal Técnica poucos
vasos colaterais
Febre, dor Ascite com piora
abdominal, do estado clínico Sempre injetar depois de
O procedimento aspirar: Evitar vasos!
encefalopatia,
leucocitose, Grande distensão de Não há
disfunção renal alças abdominais volume Anestesia
máximo! Anestesiar até a cavidade,
e acidose Exames solicitados retornar anestesiando
Coagulopatias peritônio, em seguida até a
Atentar para Retirar o pele (botão anestésico)
Peritonite Contraindicações Macroscopia: seroso, suficiente
Bacteriana Ambas contrain- hemorrágico, turvo, para aliviar
Espontânea dicações são relativas quiloso e bilioso os sintomas Ultrapassar pele,
(PBE) subcutâneo, músculo e
Acidentes aponeurose, gordura pré-
Infecção Minimização Avaliação bioquí- peritoneal, peritônio e
dos riscos: USG! mica: Albumina (soro Retirada
bacteriana GASA (Gradiente albumina soro- de grandes cavidade peritoneal
do líquido ascite): Relação que possibilita a e ascite), proteínas
Compressão Sangra- totais e GASA volumes:
ascítico local avaliação etiológica da ascite Cuidado com
mento Punção Saberá que adentrou a
na a síndrome cavidade quando aspirar o
ausência Compressão Outros exames: Citometria: Células hepatorrenal!
local, curativos Vaza- GASA > 1,1: líquido ascítico
de Ascite quilosa: vermelhas e brancas.
outra compressivos mento Hepatopatias Triglicérides > 200mg/
pelo Polimorfonucleares
infecção ou sutura dL. Carcinomatose (PMN) > 250 = PBE! Reposição Adentrar o cateter do Jelco
local da e retirar a agulha
intra- Aspiração de punção GASA < peritoneal: Citologia de albumina:
abdominal ar ou fezes oncótica A partir de
1,1: Outras
Perfur- Bacteriologia: 5L, 1 frasco Conexão Conectar o Jelco ao equipo
Pode gerar Peritonite ação etiologias (Ex: Eventualmente cocos gram para cada litro com o e esse ao
positivos, principalmente germes Cultura
Bacteriana Secundária (menos Cardiogênica) retirado Equipo cálice graduado
(PBS) ou fístula digestiva comum) entéricos (E. coli, K. pneumoniae)
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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