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1. Introdução e Fisiopatologia..................................... 3
2. Epidemiologia.............................................................12
3. Fatores de risco.........................................................12
4. Quadro clínico.............................................................14
5. Seguimento.................................................................17
6. Diagnóstico.................................................................27
7. Medidas iniciais e tratamento precoce.............32
8. Tratamento da Síndrome Coronariana
Aguda com supra de ST............................................34
9. Tratamento da Síndrome Coronariana
Aguda sem Supra de ST.............................................47
10. Complicações mecânicas pós-infarto............51
11. Cuidados pós-tratamento e pré-alta..............56
Referências Bibliográficas .........................................58
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 3
Figua 2. Mecanismo de formação da placa II. Sequência hipotética de interações celulares na aterosclerose. Pensa-se
que a hiperlipidemia e outros fatores de risco causem lesão endotelial, resultando em adesão de plaquetas e monóci-
tos e liberação de fatores de crescimento, incluindo fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), que levam
à migração e proliferação de células musculares lisas. As células espumosas das placas ateromatosas são derivadas
de macrófagos e células musculares lisas – de macrófagos através do receptor de lipoproteína com densidade muito
baixa (VLDL) e modificações da lipoproteína de baixa densidade (LDL) reconhecidas pelos receptores depuradores
(p. ex., LDL oxidado) e de células musculares lisas por mecanismos menos certos. O lipídio extracelular é derivado da
insudação da luz do vaso, particularmente na presença de hipercolesterolemia, e também de células espumosas em
degeneração. O acúmulo de colesterol na placa reflete um desequilíbrio entre influxo e efluxo, e a lipoproteína de alta
densidade (HDL) provavelmente ajuda a remover o colesterol desses acúmulos. As células musculares lisas migram
para a íntima, proliferam e produzem matriz extracelular (MEC), incluindo colágeno e proteoglicanos. IL-1, interleuci-
na-1; MCP-1, proteína quimioatraente de monócitos-1. (Robbins & Cotran, Bases Patológicas das Doenças, Elsevier).
Figua 3. Placa consolidada (Robbins & Cotran, Bases Patológicas das Doenças, Elsevier)
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 6
Figua 4. Tipos de placas ateroscleróticas. Esquema comparando placa aterosclerótica vulnerável e estável. Embora
as placas estáveis tenham cápsulas fibrosas densamente colagenosas e espessadas com mínima inflamação e centro
ateromatoso subjacente desprezível, as placas vulneráveis (propensas à ruptura) se caracterizam por cápsulas fibrosas
finas, grandes centros lipídicos e aumento da inflamação. (Adaptada de Libby P: Circulation 91:2844, 1995.) (Robbins
& Cotran, Bases Patológicas das Doenças)
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 7
Figua 5. Rotura de placa. Ruptura de placa aterosclerótica. A, Ruptura da placa sem trombo superposto em um pa-
ciente que teve morte súbita. B, Trombose coronária aguda superposta a uma placa aterosclerótica com ruptura focal
da cápsula fibrosa, desencadeando infarto do miocárdio fatal. Em A e B, uma seta aponta para o local de ruptura da
placa. (B, Reproduzida de Schoen FJ: Interventional and Surgical Cardiovascular Pathology: Clinical Correlations and
Basic Principles. Philadelphia, WB Saunders, 1989, p 61.)(Robbins & Cotran, Bases Patológicas das doenças, Elsevier)
SAIBA MAIS!
A síndrome coronariana aguda pode ser caracterizada também pelas regiões do miocárdio
atingidas pela isquemia ou pelas modificações tardias que surgem ao ECG. Infartos sem su-
pra de ST costuma provocar necrose do miocárdio restrita à região subendocárdica, daí serem
denominados de infartos subendocárdicos. Esse tipo de acometimento não costuma gerar
cicatrizes eletrocardiográficas, de modo a também serem chamados infartos sem onda Q ou
não-Q. Nos casos de isquemia severa e persistente, a necrose é mais extensa, atingindo toda
a espessura do miocárdio, classificando esse evento como infarto transmural. Nesse caso,
temos o desenvolvimento de uma onda Q ao ECG, de modo que esse evento pode ser deno-
minado também como infarto com onda Q, ou infarto Q.
Figua 6. Tipos de infarto I. Progressão da necrose do miocárdio apos oclusão da artéria coronária. A necrose come-
ça em uma pequena zona de miocárdio abaixo da superfície do endocárdio no centro da zona isquêmica. A área que
depende do vaso ocluído para perfusão e o miocárdio “em risco” (sombreada). Note que uma zona muito estreita do
miocárdio imediatamente abaixo do endocárdio e poupada da necrose, pois pode ser oxigenada por difusão a partir do
ventrículo. (Robbins & Cotran, Bases Patológicas das Doenças, Elsevier)
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 9
Figua 7. Tipos de infarto II. Distribuição da necrose isquêmica do miocárdio correlacionada com a localização e nature-
za da perfusão reduzida. A esquerda, as posições dos infartos agudos transmurais resultando de oclusões das artérias
coronárias principais; de cima para baixo, artérias descendente anterior esquerda, circunflexa esquerda e coronária
direita. A direita, os tipos de infarto que resultam de uma oclusão parcial ou temporária, hipotensão global ou oclusões
de pequenos vasos intramurais. (Robbins & Cotran, Bases Patológicas das Doenças, Elsevier)
cascata de coagulação. Essa ativação a cerca de 20% dos óbitos fatais por
geralmente é mais tênue, de modo IAM. A hemorragia da placa é mais
que produz um coágulo mais friável rara e atua rompendo a placa, uma
do que aquele da rotura, mas ainda vez que provoca uma rápida expan-
assim, esse mecanismo corresponde são da lesão.
Células
Macrófagos Células espumosas Capa fibrótica
musculares lisas
Placa de ateroma
DOENÇA
ATEROSCLERÓTICA
Instabilização da placa
Agregação
Trombo
plaquetária
Obstrução arterial
Total Parcial
Infarto
Infarto transmural
subendocárdico
IAMSST IAMSSST
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 12
o qual, obviamente, não pode ser al- hipertensão, diabetes mellitus, sín-
terado. Os riscos são acumulativos, drome metabólica, tabagismo, obe-
de modo que é de suma importân- sidade, sedentarismo e etilismo, os
cia a avaliação dos fatores de ris- quais devem ser mitigados e, dentro
co modificáveis, como dislipidemia, do possível, eliminados.
SAIBA MAIS!
Para diagnosticar a presença de síndrome metabólica são necessários ao menos três dos
cinco critérios a seguir: circunferência abdominal > 102 cm em homens ou 88 cm em mu-
lheres, triglicérides ≥ 150 mg/dL, HDL < 40 mg/dL em homens ou < 50 mg/dL em mulheres,
pressão arterial ≥ 130/85 mmHg e glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL.
550 mil eventos por ano Impacto econômico Perda de qualidade de vida
Grandes gastos no
Lesões incapacitantes
Sistema de Saúde
SÍNDROME
CORONARIANA
AGUDA
Fatores de risco
Modificáveis:
Dislipidemia
Hipertensão Não modificáveis:
Diabetes Sexo masculino
Síndrome metabólica Idade
Tabagismo Histórico familiar de Doença
Sedentarismo Aterosclerótica
Obesidade
Etilismo
SAIBA MAIS:
Muitas vezes o paciente se apresentará com claro desconforto corporal, podendo estar leve-
mente curvado devido à dor anginosa e com o punho na região do coração. Essa condição
postural do paciente configura o chamado sinal de Levine.
SE LIGA! É importante que a dor seja SE LIGA! Pacientes mais velho e dia-
bem investigada, uma vez que a angi- béticos podem não apresentar qua-
na decorrente da síndrome coronariana dro típico da doença, sem a presença
aguda é, como o próprio nome diz, agu- de desconforto torácico, uma vez que,
da. Diante disso, o paciente não relatará principalmente nos diabéticos, ocorre
dor recorrente, mas episódio que ocorrer um quadro de denervação, decorrente
há um curto espaço de tempo, geral- da neuropatia diabética. Tais pacientes
mente entre 20 e 30 minutos. apresentarão o chamado equivalente
anginoso ou isquêmico, que consis-
te na apresentação de sintomas como
sudorese, mal-estar súbito, dispneia,
náusea etc (sintomas que podem es-
tar presentes com a angina em outros
pacientes com síndrome coronariana
aguda), sendo mais comum em mulhe-
res, idosos e diabéticos, como já men-
cionado. Desse modo, deve-se ter aten-
ção redobrada caso esses pacientes se
apresentem na emergência com queixa
de vertigem, dispneia, sudorese, náuse-
as, vômitos, arritmias ventriculares e até
mesmo hipotensão.
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 16
SAIBA MAIS!
Pacientes que chegam na emergência com quadro de SCA, podem apresentar sinais e sinto-
mas típicos de insuficiência cardíaca, sendo que a estratificação e classificação desses é feita
por meio da Escala de Killip, cujo grau aumenta conforme pior for o prognóstico. A classifica-
ção de Killip segue na tabela abaixo:
SAIBA MAIS!
As alterações eletrocardiográficas que podem estar presentes diante de um IAMSST consis-
tem na presença de onda T apiculada, em segundos ou minutos após o início do quadro. Em
até trinta minutos, ocorre o supradesnivelamento do segmento ST, com a elevação do ponto
J, evidenciando oclusão arterial total. A partir de 6 horas, o segmento ST começa a cair, junto
com o aparecimento da onda Q patológica, revelando uma área eletricamente inativa, repre-
sentativa de necrose. Para além de 24 horas, o segmento ST continua caindo, cursando com
inversão de onda T. Cerca de após uma semana do evento, observa-se a permanência da
onda Q, a qual não irá desaparecer, configurando uma “cicatriz eletrocardiográfica” da necro-
se, e da onda T invertida, a qual pode desaparecer após alguns meses.
Até 30 A partir de
Após 1 semana
Segundos minutos 6 horas
> 24 horas aproximadamente
ou minutos
Figura 11. ECG evidenciando supra de ST. ECG evidenciando IAM em parede anterolateral. As derivações DI, aVL, V2
a V6 demonstram o supradesnivelamento do segmento ST, com o recíproco infradesnivelamento pelas “visão espelha-
da” das derivações II, III e aVF.(Cecil, Essential of Medicine, Elsevier)
Figura 12. ECG evidenciando infra de ST. Observa-se que o infradesnível se estende por toda a parede anterior (V2 a
V6, DI e aVL) sugerindo a presença de uma obstrução crítica proximal em artéria descendente anterior. CONSIDERAR
A TÉCNICA NORMALIZADA (Clínica Médica, USP)
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 21
Figura 14. IAMSST de parede anterior extensa. Observa-se a presença de supradesnivelamento do segmento ST nas
derivações de V2 a V6, bem como em DI e aVL, configurando um IAMSST de parede anterior extensa. Observe tam-
bém a visão espelhada das derivações inferiores, como visto DII, DIII e aVF. Diante disso, a provável artéria acometida,
é a descendente anterior, responsável pela irrigação da parede citada. (Sanarflix)
Figura 15. Marcadores de necrose miocárdica. Cinética dos marcadores de lesão miocárdica no sangue periférico.
Após um infarto agudo do miocárdio, a detecção periférica da CKMB e troponina é quase simultânea. O decaimento
da CKMB, no entanto, é bem mais rápido, principalmente quando há reperfusão do miocárdio. A troponina tende a
manter-se elevada por até 10 dias nas lesões mais extensas do músculo cardíaco. A mioglobina é o mais precoce dos
marcadores cardíacos, porém, sua baixa especificidade limita sua utilização na prática clínica. (Clínica Médica, USP)
PACIENTE
COM DOR
TIPICAMENTE
ANGINOSA
Normal após
IAMSST Elevada Duvidoso
tempo hábil
Crescente Platô
Buscar causas
IAMSSST
secundárias
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 27
APRESENTAÇÃO
DOR ANGINOSA
MECANISMO DA
DOENÇA
Diminuição do suprimento
sanguíneo (Predominantemente Síndrome Coronariana Aguda
não trombótico)
TROMBO TROMBO
PLACA
PLACA PLACA
ECG
Ausência de supra de ST Ausência de supra de ST Presença de supra de ST
TROPONINA
Sem elevação Com elevação Sem elevação Com elevação Com elevação
Sem supra de ST na
DIAGNÓSTICO
Síndrome
Coronariana Aguda
Angina instável
Angina instável IAMSSST Mediada por IAMSSST IAMSST
trombo
MANIFESTAÇÃO
TARDIA AO ECG
Sem onda Q Sem onda Q Com onda Q
Espectro patológico e clínico quanto à elevação (IAMSST) ou não (IAMSSST) do segmento ST na Síndrome Coronariana aguda
Adaptação New England Journal of Medicine, 2017
Tabela 4. Tabela diagnósticos diferenciais do Figura 18. Escore TIMI (Diretriz IAM, SBC)
supra de ST
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 30
PACIENTE
COM DOR
TIPICAMENTE
ANGINOSA
Eletrocardiograma
Estratificação de risco
TIMI GRACE
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 32
SEIS PASSOS INICIAIS NO MANEJO DE PACIENTES COM DOR TORÁCICA E COM SUSPEITA DE SCA
1. Triagem diagnóstica de SCA por meio da anamnese, exame físico, ECG e teste de marcadores de necrose
miocárdica;
2. Classificação quanto ao risco de morte cardiovascular ou de isquemia recorrente por meio dos achados ao
ECG, troponina e escores GRACE ou TIMI;
3. Iniciar cuidados gerais: repouso, ácido acetilsalicílico, nitroglicerina e estatinas, considerando a administra-
ção de oxigênio, betabloqueadores e morfina;
4. Escolher a estratégia terapêutica adequada para o quadro e a situação na qual o paciente se encontra;
5. Escolher um segundo agente antiplaquetário para ser administrado junto do AAS, como um inibidor de
P2Y12, de acordo com o risco de trombose do paciente, tempo até a realização da terapia de reperfusão,
possível necessidade de cirurgia posterior e risco de sangramento;
6. Escolher um agente anticoagulante (enoxaparina, heparina não fracionada ou fondaparinux) de acordo
com a estratégia de reperfusão e risco de sangramento.
Tabela 6: Seis passos iniciais no manejo de pacientes com dor torácica sugestiva de SCA (Adaptado de New England
Journal of Medicine, 2017)
Salvo se sinais de
choque ou
acometimento de VD
Sublingual
Morfina Nitroglicerina
Intravenosa
Insuficiência cardíaca
SÍNDROME
IECA/BRA CORONARIANA Betabloqueadores
AGUDA
Estatinas
Evitar se:
Maior benefício se:
Contínuo
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 34
SAIBA MAIS!
Stents são basicamente malhas metálicas que são inseridas na luz arterial e que permitem a
patência do vaso.
Fio guia no
interior da
artéria
coronária
esquerda
Artéria
Cateter
Braquial
guia
Artéria
Radial
Artéria Femoral
Figura 19. Acesso percutâneo (Netter’s Cardiology, 2nd ed., Elsevier, 2010)
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 36
Primeiramente, o fio
guia coronariano
avança para além da
placa aterosclerótica
que obstrui o fluxo
coronariano
Passa-se um cateter
de duplo lúmen
sobre o fio guia.
Esse balão é
inflado, de modo a
comprimir a placa e
desobstruir a
artéria
Um cateter balão
contendo o stent é
colocado na região
previamente
dilatada
Infla-se o balão, de
modo a instalar o
stent
SAIBA MAIS!
Para acessar a rede arterial do paciente, existem as opções de entrada pela artéria femoral
ou pela artéria radial. Esse último é considerado prioritário, uma vez que está relacionado a
menores índices de sangramento local e, por consequência, a menor tempo de procedimento.
Ele é preconizado para ambos os tipos de IAM, sendo associado à redução dos índices de
eventos adversos em até 30 dias, uma vez que há a diminuição do número de mortes e de
sangramentos mais graves.
SAIBA MAIS!
Os stents farmacológicos de segunda geração possuem um papel dominante na angioplas-
tia coronariana primária, com sólida melhora quanto aos desfechos cardiovasculares quando
comparados com os de primeira geração, reduzindo as chances de trombose. Stents farma-
cológicos de cromo e de cobalto possuem maior segurança e eficácia, apresentando redução
quanto aos índices de mortes por causas cardiovasculares, IAM e trombose quando compa-
rados com os puramente metálicos.
Figura 21. Resultado de cateterismo de IAM inferior. Cinecoronariografia de artéria coronária direita de um IAMSST
inferior. A imagem à direita revela oclusão total da artéria coronária direita. A imagem à esquerda demonstra a reper-
fusão do fluxo sanguíneo após 90 minutos da realização do cateterismo. (Cecil Essentials of Medicine, 9th ed., Elsevier,
2016)
A aspiração do trombo não possui melhor), uma vez que com o passar
efeitos significantes quanto ao risco do tempo, a organização do trombo,
de morte por causas cardiovascu- bem como a sua firmação, reduz a
lares, IAM ou insuficiência cardíaca capacidade do agente fibrinolítico de
severa dentro de 180 dias quando dissolver esse trombo.
comparada à angioplastia convencio- A fibrinólise pode ser feita com o uso
nal. Junto a isso, ensaios clínicos de- da streptoquinase (SK), administran-
monstraram que o uso dessa técnica do-se 1,5 milhões de UI entre 30 e 60
aumentou o risco de AVC dentro de minutos. Ela possui efeitos colaterais
30 dias nos pacientes que a ela são alérgicos, como urticária e hipotensão
submetidos. e, além disso, ela já não é mais tão
Nos casos em que não seja possível utilizada.
cumprir os requisitos do tempo por- O tratamento é feito majoritariamente
ta-balão, deve-se proceder com a com os novos fibrinolíticos, que apre-
terapia fibrinolítica. O ideal é que o sentam melhores resultados, dado
tempo de chegada até a punção ve- que são fibrinoespecíficos. Um deles
nosa para iniciar o tratamento (tempo é a alteplase (Tpa), que deve ser ad-
porta-agulha) seja menor do que 30 ministrada em uma dose de 15 mg
minutos, sendo o ideal em até 10 mi- em bolus, seguida de manutenção de
nutos. Reiterando a necessidade de 0,75 mg/kg após 30 minutos e de 0,5
urgência do tratamento, o benefício mg/kg após 60 minutos da primeira
é maior quando a terapia tem o seu dose de manutenção, de modo que o
início em até 2 horas a partir do iní- tratamento dura uma hora e meia. É
cio do quadro (quanto mais precoce,
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 39
TERAPIA FIBRINOLÍTICA
CONTRAINDICAÇÃO ABSOLUTA CONTRAINDICAÇÃO RELATIVA
História de Hipertensão crônica grave e não
Qualquer hemorragia cerebral prévia
controlada
PAS > 180 / PAD > 110 mmHg apesar do alívio da
Lesão vascular cerebral conhecida
dor
AVC isquêmico > 3 meses e outras doenças cerebrais
Neoplasia intracraniana (primária ou metastática)
sem contraindicação absoluta
AVC isquêmico < 3 meses (exceto < 3 horas) Uso de anticoagulantes cumarínicos
Traumatismo craniano ou facial significativo < 3 Trauma recente ou cirurgia de grande porte nas últi-
meses mas 3 semanas
Reanimação cardiopulmonar traumática ou prolonga-
Sangramento interno ativo (exceto menstruação)
da (> 10 minutos)
Suspeita de dissecção de aorta Punção vascular não compressível
Doenças da coagulação Sangramento interno recente (2 a 4 semanas)
Redução da expectativa de vida (coma, sepse,
Úlcera péptica ativa
neoplasia)
Tabela 7. Tabela de contraindicações à fibrinólise (Clínica Médica, USP, 2ª ed., Manole, 2014)
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 40
Uma vez realizada uma das terapias não ser capaz de desobstruir com-
fibrinolíticas, deve-se ficar atento pletamente a artéria do paciente, de
para o aparecimento dos Critérios de modo que esse necessitará de uma
Reperfusão entre 60 a 90 minutos angioplastia. Nos casos em que não
após o tratamento. O primeiro critério forem satisfeitos os critérios de reper-
é eletrocardiográfico, consistindo na fusão, o paciente é classificado como
redução de, pelo menos, 30 a 50% urgente, devendo ser submetido a
do supra de ST, devendo ter como uma angioplastia de resgate.
referência a derivação que apresen-
tava a maior elevação do segmento SE LIGA! É importante lembrar que, nos
ST. O segundo critério é sintomático casos em que o paciente não responder
e consiste na melhora da dor referida à terapia fibrinolítica, essa NÃO deve
pelo paciente. Em caso positivo, ado- ser repetida em hipótese alguma, dado
o alto risco de sangramento. Ou seja: o
ta-se a estratégia farmacoinvasiva, tratamento fibrinolítico não funcionou? O
na qual, após a fibrinólise, o paciente paciente DEVE ir para o serviço de he-
deve ser encaminhado para o catete- modinâmica o quanto antes (lembre-se
de que TEMPO É MÚSCULO!).
rismo dentre 2 a 24 horas, uma vez
que se sabe que o fibrinolítico pode
SAIBA MAIS!
Um possível achado eletrocardiográfico quando da reperfusão miocárdica pós-fibrinólise é
o ritmo idioventricular acelerado (RIVA), que consiste na observação de um complexo QRS
largo, com frequência mais alta do que a observada nos escapes ventriculares e menor do
que a que ocorre nos casos de taquicardia ventricular. A sua identificação é um indicativo de
possível sucesso da terapia fibrinolítica, sendo transitório. Assim, não fazem-se necessárias
intervenções para reverter a situação do achado (nem cardioversão e nem amiodarona), uma
vez que esse sinal desaparecerá em alguns minutos, sem repercussões hemodinâmicas para
o paciente.
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 41
TRATAMENTO IAMSST
IAMSST
Se tempo para
Se tempo para
Cateterismo se tempo transferência para centro
transferência para centro
porta-balão < 90 min capacitado > 120 min, e tempo
capacitado < 120 min
porta-agulha < 30 min
9. TRATAMENTO
DA SÍNDROME SE LIGA! O ticagrelor, quando disponí-
CORONARIANA AGUDA vel, pode ser preferido para administra-
ção ao paciente em SCA sem supra, uma
SEM SUPRA DE ST vez que há uma maior resposta desses
a esse fármaco, diferente do que ocorre
Uma vez diagnosticada a Síndrome
com o clopidogrel no tocante à farmaco-
Coronariana Aguda, o paciente deve dinâmica (metabolização), prejudicando
receber de imediato antiagregantes a anti-agregação.
plaquetários, a fim de inibir a forma-
ção do trombo branco. Dessa forma,
administra-se ácido acetilsalicílico Como a principal queixa do paciente
(AAS) em dose de ataque (200 a 300 com SCA é a dor anginosa, o alívio
mg), devendo ser mastigados, com dessa faz-se necessário para a tran-
posterior dose de manutenção entre quilização e bem-estar do paciente,
75 e 100 mg ao dia, para o resto da bem como para que a colaboração
vida do paciente. É realizada a dupla desse para com o tratamento seja
anti-agregação por meio da adminis- adequada. Para tal, pode ser admi-
tração de um inibidor de P2Y12, ge- nistrada morfina para o controle da
ralmente o clopidogrel, em dose de dor e nitratos, cujas indicações e con-
ataque de 300 mg, com manutenção traindicações já foram vistas no trata-
de 75 mg por dia, durante um ano. mento de IAMSST.
Podem ser utilizados no lugar do clo- Dado que um dos sintomas da SCA
pidogrel, o ticagrelor (ataque de 180 é a dispneia, a oxigenoterapia pode
mg e manutenção de 90 mg) e o pra- ser benéfica. A suplementação com
sugrel (ataque de 60 mg e manuten- oxigênio deve ser feita nos casos em
ção de 10 mg). que o paciente apresenta sinais de
hipoxemia, seja com a saturação me-
nor do que 90% ou pela pressão de
SE LIGA! O prasugrel só deve ser admi-
nistrado após haver o conhecimento da oxigênio menor do que 60 mmHg na
anatomia da lesão do paciente. Ou seja, gasometria arterial.
somente após o cateterismo. Isso porque
o prasugrel possui melhor performance Os anticoagulantes devem ser admi-
em pacientes que fazem angioplastia, nistrados a fim de evitar a formação
com colocação de stent. Nos pacientes do trombo vermelho, resultante da
que não realizam tal procedimento ou
agregação de hemácias. Nos casos
naqueles que são submetidos à cirurgia
de revascularização do miocárdio, esse de pacientes com SCA sem supra, a
fármaco aumenta o risco de sangramen- primeira opção consiste na enoxapa-
to, o qual supera os seus benefícios. rina, devendo ser aplicada por via
subcutânea, 1 mg/kg a cada 12 horas.
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 48
Ela dever ser administrada até a reali- o TTPa (tempo de protrombina) en-
zação da angioplastia, ou até a alta do tre 50 e 70 segundos. Esse fármaco
paciente ou por até oito dias (impor- pode ser utilizado até a angioplastia
tante frisar aqui a questão do “ou”, de ou por até 48 horas, o que ocorrer
modo que o evento que ocorrer pri- primeiro.
meiro é suficiente para a interrupção O fondaparinux é utilizado principal-
da administração do medicamento). mente para pacientes com alto risco
de sangramento, devendo ser admi-
SE LIGA! Existem certas situações que nistrado por via subcutânea, 2,5 mg,
requerem a correção da posologia da uma vez ao dia.
heparina. Dentre elas, caso o paciente
possua um ritmo de filtração glomeru- Em até 24 horas após o início do tra-
lar menor do que 30 ml/min, a posologia tamento devem ser administrados
cai pela metade, indo para 1 mg/kg uma fármacos que melhoram o desfecho
vez ao dia, somente. Nos casos em que
o paciente possuir mais de 75 anos, de- quanto ao remodelamento e quan-
ve-se administrar 0,75 mg/kg a cada 12 to à sobrevida a longo prazo, como
horas. estatinas de alta potência em dose
máxima, betabloqueadores e vasodi-
latadores, como inibidores da enzima
Pode ser utilizada a heparina não fra-
conversora de angiotensina (IECA) e
cionada, mas o seu manejo é mais
bloqueadores do receptor de angio-
complicado quando comparado à
tensina (BRA), principalmente para
enoxaparina. Ela deve ser administra-
aqueles cujas sequelas contemplam
da em bomba de infusão contínua, via
fração de ejeção reduzida (menor do
endovenosa, com ataque de 60 UI/
que 40%).
kg sendo máximo de 5000 UI, com
manutenção de 12 UI/kg, mantendo
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 49
SAIBA MAIS!
Talvez lendo esse material você tenha ficado com dúvida, uma vez que tenha se lembrado
das cirurgias de ponte de safena, ou revascularização do miocárdio, e não viu tal procedi-
mento dentre as medidas de tratamento. Isso ocorre porque essa cirurgia não cabe para tra-
tar pacientes urgentes, dado o seu grau de complexidade e relativa demora, a depender do
grau de acometimento e da quantidade de pontes arteriais a serem colocadas. Diante disso,
a cirurgia é indicada para pacientes estáveis, sendo que os mais beneficiados por ela são
aqueles com acometimento obstrutivo com ao menos 70% de oclusão em pelo menos três
ramos coronarianos (sendo chamados triarteriais), ou pacientes biarteriais e diabéticos, bem
como aqueles com disfunção ventricular. Também podem ser encaminhados para a cirurgia
aqueles pacientes que apresentam sintomatologia grave a despeito do máximo emprego de
tratamento farmacológico.
TRATAMENTO IAMSSST
IAMSSST
Cateterismo:
Em até 2h: de alto risco
Entre 12 e 24h: de risco intermediário
Em até 72h: baixo risco
choque), bem como pela presença de capaz de gerar esse quadro. Em pa-
pulso paradoxal, ocorrendo variação cientes com artéria descendente an-
maior do que 10 mmHg da pressão terior longa (tipo 3), que pode irrigar a
de pulso quando comparada a ins- porção apical por completa do septo,
piração e a expiração. A evolução do a obstrução desse ramo arterial pode
quadro geralmente consiste em ativi- cursar com necrose da porção apical
dade elétrica sem pulso, culminando do septo interventricular, causando o
em morte súbita. Em casos de rup- quadro de comunicação.
tura incompleta ou subaguda, ocorre A comunicação interventricular de-
quadro de dor pleurítica, semelhante sencadeia um quadro clínico carac-
à pericardite e choque cardiogênico, terizada pela presença instabilidade
com ausência de sopro à ausculta. hemodinâmica, culminando em cho-
Pode-se diagnosticar essa complica- que. Junto a isso, observa-se a pre-
ção por meio do ecocardiograma, o ponderância de sinais de insuficiência
qual evidenciará a lesão miocárdica cardíaca direita (congestão sistêmica),
de rotura. O tratamento pode ser fei- auscultando-se um sopro muito carac-
to por meio de uma pericardiocentese terístico: holossistólico, focado em ápi-
para aliviar a pressão, mas tal proce- ce (nos casos de comunicação apical),
dimento não é o ideal, uma vez que mas podendo ser bem auscultado em
não impede que o sangramento pare todos os focos, sendo descrito como
de ocorrer. O padrão consiste no tra- de 4 + ou mais (sopro com frêmito).
tamento cirúrgico da lesão, realizan- Como toda complicação mecânica, o
do o fechamento do orifício pelo qual diagnóstico é dado pelo ecocardio-
ocorreu a saída de sangue. grama, que evidenciará a lesão com
A comunicação interventricular pode sinais de sobrecarga ventricular direi-
ocorrer entre o terceiro e quinto dia ta, dado o aumento de pressão pelo
pós-infarto. Essa complicação decor- maior volume sanguíneo. O tratamen-
re do acometimento do suprimento to consiste na administração de vaso-
vascular do septo interventricular, que dilatadores, inotrópicos e diuréticos, a
é suprido pela artéria descendente fim de diminuir o gradiente pressórico
anterior (em seus dois terços ante- na aorta (dado o mecanismo de vaso-
riores) e pela descendente posterior dilatação periférica), fazendo com que
(em seu terço posterior). Logo, em li- haja um gradiente pressórico maior
nhas gerais, pode-se dizer que para entre o ventrículo esquerdo e a aorta,
que ocorra a comunicação interven- de modo que o sangue tenha maior
tricular, faz-se necessário um infarto tendência para se dirigir para ela ao
dessas duas artérias levando a isque- invés de para o ventrículo direito. O
mia de uma região do septo que seja diurético atua diminuindo o volume
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 53
circulante, de modo a haver menos vo- vasodilatadores. Logo, tem-se que tal
lume a ser transferido para o coração conduta é apenas paliativa, a fim de
direito pela comunicação. O inotrópi- que haja tempo hábil para que a co-
co atua melhorando a performance municação seja interrompida por via
cardíaca em bombear o sangue para cirúrgica, que consiste no tratamento
a aorta, auxiliando no mecanismo dos resolutivo.
Figura 23. Complicações mecânicas. Complicações do infarto do miocárdio. Síndromes da ruptura cardíaca (A-C). A,
Ruptura do miocárdio anterior em um infarto agudo (seta). B, Ruptura do septo ventricular (seta). C, Ruptura completa
de um musculo papilar necrosado. (Robbins & Cotran, Bases Patológicas das Doenças, Elsevier)
acesso femoral. Esse balão insuflará Tabela 9. Complicações possíveis pós-IAM (Cecil, Es-
sentials of Medicine, Elsevier)
no período da diástole e se esvazia-
rá na sístole, de modo a melhorar a
perfusão coronariana, uma vez que
essas recebem sangue na diástole, e
aumentar a condução aórtica do san-
gue, dado que o seu esvaziamento
auxilia na propulsão do sangue. Am-
bos os tratamentos são paliativos,
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 55
Edema agudo
Choque cardiogênico Sopro Choque Sopro Sinais de ICC direita
de pulmão
Monitorização
Retomada gradual
ECG
das atividades
FUNÇÃO
Terapia farmacológica
VENTRICULAR Avaliação funcional ALTA
via oral
ESQUERDA
Mudanças do Acompanhamento
Teste de esforço
estilo de vida ambulatorial
Reabilitação cardíaca
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA 57
Terapia medicamentosa
Dupla antiagregação
Terapia antigoagulante:
plaquetária: Estatina, IECA/BRA,
Enoxaparina
AAS Betabloqueador
HNF
Inibidor de P2Y12
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