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SUMÁRIO

1. Traumatismo raquimedular..................................... 3
2. Epidemiologia............................................................... 3
3. Tipos de fratura........................................................... 5
4. Escalas..........................................................................14
5. Anatomia......................................................................15
6. Clínica............................................................................16
7. Radiologia....................................................................21
8. Tratamento..................................................................23
Referências bibliográficas .........................................27
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 3

1. TRAUMATISMO Para tanto, a imobilização adequada


RAQUIMEDULAR deve ser realizada para todos os pa-
cientes, bem como o rolamento em
Pacientes politraumatizados devem
bloco. A excessiva manipulação e a
sempre ser considerados portadores
imobilização inadequada podem ge-
de Trauma Raquimedular, mesmo se
rar lesões neurológicas adicionais e
não apresentarem déficit neurológico.
piorar o prognóstico do paciente.

Figura 1. Rolamento em Bloco. (A) Enquanto uma pessoa realiza a imobilização cervical outras duas ficam ao lado do
paciente, para controlar o corpo e extremidades. (B) Manutenção do alinhamento da coluna enquanto é feito o rola-
mento. (C) Uma quarta pessoa avalia o dorso enquanto remove a prancha rígida. (D) Reposicionado de forma supina,
mantenho o alinhamento e imobilização da coluna. (Fonte: Adaptado de ATLS 9ª Ed, 2012)

2. EPIDEMIOLOGIA temporárias ou permanentes na


função motora, na sensibilidade ou
A incidência do traumatismo raqui-
na função autonômica do organismo.
medular (TRM) é de 12,7 a 50 pes-
soas por milhão de pessoas/ano, Em relação aos níveis medulares mais
ocorrendo através de um insulto ver- acometidos, o principal é o cervical,
tebro-medular que gera alterações ocorrendo em cerca de 50% dos
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 4

casos, devido à sua maior exposição O TRM na região cervical pode culmi-
e mobilidade, geralmente relacionado nar em morte pela apneia provocada
a mergulhos em superfícies rasas. pela lesão dos nervos frênicos.

SAIBA MAIS!
O nervo frênico é o primeiro nervo periférico a emergir da coluna cervical.

Em seguida, verifica-se o nível torá- casos de TRM. Verifica-se a queda


cico, contabilizando cerca de 29% da própria altura como mecanismo
dos casos, seguido pelo nível lombar de 20% dos casos, comum princi-
(15%) e sacrais (4%). palmente na faixa etária senil. Além
disso, os ferimentos por arma de
SE LIGA! Devemos lembrar que conco-
fogo também possuem uma grande
mitantemente ao envelhecimento ocorre responsabilidade no TRM, gerando
o processo de enfraquecimento dos os- cerca de 12% dos casos. Por fim, os
sos, inclusive das vértebras, predispondo acidentes esportivos ocorrem em
a fraturas em níveis mais inferiores, prin-
cipalmente pelo mecanismo de quedas. cerca de 2% dos casos.

Fatores Causais do TRM


Com relação aos fatores
causais, podemos obser- 2%
var os acidentes automo- 12%
bilísticos despontando
como a principal causa de 30%
TRM, acumulando cerca
de 30% dos casos. Nesse
âmbito, devemos sinalizar 20%
a importância da ejeção,
muitas vezes pela não uti-
lização do cinto de segu-
rança, como um mecanis- 21%
mo de trauma frequente.
Em seguida, pode-se ob- Acidentes automobilísticos Acidente por mergulho em águas rasas
servar o acidente por Queda da própria altura Ferimentos por armas de fogo
mergulho em água rasa Acidentes esportivos

cursando com 21% dos Figura 2.Fatores causais no TRM, de acordo com suas
ordens de prevalência. (Fonte: Aula SanarFlix)
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 5

Cabe ressaltar que o TRM usualmen- geral. O TRM não varia dessa obser-
te acomete a população jovem, de vação, acometendo mais homens, em
15 a 40 anos, em plena idade produ- uma proporção de 4 homens a cada
tiva. Sendo assim, gera dependência 1 mulher.
e diminuição expressiva da qualidade Cabe aqui a diferenciação entre TRM
de vida, com um estigma associado primário ou Secundário. A TRM pri-
muito importante, além do impacto mária trata-se do insulto inicial, onde
para previdência, sendo portanto uma a fratura ocorreu. A TRM secundária
importante questão de saúde pública. envolve as lesões secundárias me-
Sabe-se que o homem é epidemiolo- dulares, como o edema medular, a
gicamente mais acometido que a mu- ocorrência de disautonomia, espasti-
lher nos mecanismos de trauma, em cidade, entre outros.

MAPA MENTAL: EPIDEMIOLOGIA DO TRM

12,7 a 50 pessoas por


População Jovem (15 a 40 anos)
milhão de pessoas/ano

Epidemiologia
do Trauma
Cervical: 50% Raquimedular
Torácico: 29%
Homem 4:1 Mulheres
Lombar: 15%
Sacral: 4%

Acidentes automobilísticos:30%
Mergulho em água rasa: 21% TRM Primário: Insulto inicial
Queda da própria altura: 20% TRM Secundário:
FAF: 12% Lesões medulares secundárias
Acidentes esportivos: 2%

3. TIPOS DE FRATURA Tipo A – Lesões Compressivas:


Existem 3 tipos de fratura: A (Lesões As lesões compressivas nada mais
compressivas), B ou C. são que o achatamento de vértebras.
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 6

As lesões do tipo A podem ser classi- • A 3: O acometimento do platô


ficadas de I a IV. superior.
• A 1: Fratura em “tear drop”. • A 4: O acometimento de ambos
os platôs.
• A 2: Fratura em “Split”, acomete
os dois platôs, como uma racha-
dura. Trata-se de um caso cirúrgi- Devemos ter em mente a classifica-
co limítrofe, em que se pode adotar ção das fraturas para possível indica-
medidas conservadoras em alguns ção cirúrgica. Fraturas A 3 e A 4, com
casos. achatamento maior que 50%, são
indicativos cirúrgicos.

Figura 3. Lesões compressivas (Tipo A). 1: Lesões “em lágrima” (Tear drop). 2: Fratura “em Split”. 3: Acometimento de
um platô. 4: Acometimento de ambos platôs. (Fonte: Aula SanarFlix)
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 7

Tipo B – Lesões por Ruptura: • B 3: Lesão por ruptura do disco


vertebral, associada a ruptura li-
• B 1: Lesão por ruptura gamentar total.
anteroposterior.
• B 2: Lesão por ruptura do pla-
Usualmente, as fraturas do Tipo B
tô superior, associada a ruptura
são abordadas cirurgicamente, jus-
ligamentar.
tamente pela comum afecção das es-
truturas ligamentares.

Figura 4. Lesões por ruptura (Tipo B). 1: Ruptura anteroposterior. 2: Ruptura do platô superior, associada a ruptura
ligamentar. 3: Ruptura do disco vertebral com ruptura ligamentar total. (Fonte: Adaptado de Aula SanarFlix)

Tipo C - Lesões por


Deslocamento:
A lesão por deslocamento geralmente
envolve compressão, rupturas e des-
locamentos, sendo o tipo mais grave
de fratura, podendo estar associada
a sinais clínicos de rotura parcial ou
completa medular.

Figura 5. Lesão por deslocamento (Tipo C). (Fonte:


Adaptado de Aula SanarFlix)
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 8

MAPA MENTAL: TIPOS DE FRATURA VERTEBRAIS

Tipo A – Lesões Tipo B – Lesões Tipo C – Lesões


Compressivas por Ruptura por Deslocamento

2: Ruptura do platô
Envolvem compressão,
1: “Tear Drop” 2: Fratura em Split 1: Ruptura anteroposterior superior, com lesão
rupturas e deslocamentos
ligamentar

3: Acometimento 4: Acometimento 3: Ruptura do disco, com


Usualmente cirúrgicas Tipo mais grave
de platô superior de ambos platôs ruptura ligamentar total

Indicação cirúrgica: A 3 e 4, Associação com rotura


com achatamento > 50% parcial ou total de medula
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 9

Os tipos de fratura mais frequentes,


em ordem craniocaudal, são:
• Luxação Atlanto-Occipital:
disjunções craniocervicais, pouco
comuns, gerada por movimen-
tos acentuados de flexão e tração.
Normalmente fatal por destruição
do tronco encefálico e apneia.

Figura 6. Luxação Atlanto-Occipital – Disjunções cra-


niocervicais. (Fonte: Aula SanarFlix)

• Fratura do Atlas (C1): A fratura


mais comum do Atlas é a fratura
por explosão da vértebra (Fratu- Figura 7. A – RX Transoral normal, demonstra que as
margens laterais de C1 se alinham com as margens
ra de Jefferson). O seu mecanismo laterais de C2. B e C – Na fratura do Atlas (C1), ou
é normalmente uma sobrecarga Fratura de Jefferson, pode-se observar o deslocamento
das massas laterais de C1. (Fonte: Adaptado de Aula
axial, como ocorre em mergulhos SanarFlix)
em superfície rasa. A melhor forma
de diagnosticar essa fratura é a ra-
diografia por incidência transoral. • Subluxação por rotação em C1: O
doente se apresenta com a cabeça
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 10

em rotação persistente (torcico- equidistante dos processos late-


lo). Pode-se observar nessa lesão rais de C1.
que o odontoide não se encontra

Figura 8. Subluxação por rotação em C1. A – Torcicolo persistente. B – Ao exame de imagem pode-se observar uma
rotação da vértebra C1 sobre C2, com deslocamento do processo odontoide. (Fonte: Adaptado de Resid Pediatr.
2019;9(2):156-160)

• Fraturas do Áxis (C2): cranialmente da vértebra C2,


◊ Fraturas do Odontoide: O fazendo contando com C1.
processo odontoide é uma Em geral, é necessária uma TC
protuberância óssea bem para definir a fratura do odon-
definida, que se projeta toide mais claramente.

Fraturas
odontoides

Figura 9. Fraturas do Odontoide (C2) A - As fraturas do odontoide podem ser do tipo I (No ápice), tipo II (na base, as
mais comuns) e tipo III (Na base, atravessando o corpo vertebral). B – Fratura da base do odontoide (Seta). (Fonte:
Adaptado de Aula SanarFlix e ATLS 9ª Ed, 2012)
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 11

◊ Fraturas dos elementos pos- a parte interarticular de C2,


teriores: Fratura típica dos resultando de uma lesão por
enforcamentos, compromete extensão.

Corda abaixo do queixo


gera uma força de
hiperextensão abrupta

Figura 10. Fratura dos elementos posteriores (C2) – Resultado de uma lesão por extensão (A), causando fratura dos ele-
mentos posteriores (B, C e D), como os processos espinhosos. (Fonte: Adaptado de Aula SanarFlix e ATLS 9ª Ed, 2012)

◊ Outras fraturas de C2: Fratu- fraturas-luxações (ruptura dos ele-


ras no corpo, pedículo, proces- mentos posteriores das vértebras).
sos laterais, lâminas e proces-
so espinhoso de C2. Cerca de
20% das fraturas do Áxis.
• Fraturas e luxações (C3 a C7):
As vértebras C5 e C6 constituem a
parte mais móvel da coluna cervi-
cal, sendo os locais mais frequen-
tes de fratura (C5) e luxação (en-
tre C5 e C6). A fratura das facetas
articulares aumenta a incidência
de lesões neurológicas drastica-
mente, nesses casos.
• Fraturas da coluna torácica (T1 a Figura 11. Fraturas da coluna torácica (T1 a T10).
T10): Podem ser lesões em cunha Radiografia demonstrando fratura de chance (associada
ao uso isolado do cinto de segurança abdominal), uma
por compressão anterior (sobrecar- fratura transversa através do corpo vertebral. (Fonte:
ga axial associada a flexão), lesões Adaptado de ATLS 9ª Ed, 2012)

por explosão do corpo vertebral


(compressão vertical axial), fraturas
• Fraturas da Junção Toracolombar
de chance (fraturas transversas no
(T11 a L1): Resultantes da com-
corpo vertebral, associadas ao uso
binação de hiperflexão e rotação
de cinto de segurança abdominal) ou
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 12

agudas, costumam ser instáveis. • Fraturas lombares: Por acomete-


Os portadores tornam-se vulnerá- rem apenas a cauda equina, pos-
veis a movimentos de rotação. suem um menor risco de déficit
neurológico completo.

Figura 12. Fraturas Lombares.


Devemos lembrar que a me-
dula óssea termina ao nível de
L1, continuando como a Cauda
Equina. Portanto, fraturas lom-
bares possuem um menor risco
de lesão neurológica associa-
do. (Fonte: Adaptado de Aula
SanarFlix)

• Lesões penetrantes: Ferimentos • Lesões vasculares contusas das


por arma branca (FAB) ou feri- artérias carótida e vertebral: São
mentos por armas de fogo (FAF). critérios sugeridos para avaliação
A passagem do agente diretamen- vascular nas fraturas de C1 a C3,
te pelo canal vertebral usualmente fraturas cervicais com subluxa-
culmina em déficit neurológico ção e fraturas envolvendo fora-
completo, podendo também ocor- me transverso. O tratamento en-
rer por transferência de energia, volve anticoagulação ou agentes
mesmo sem a transfixação da me- antiplaquetários.
dula espinhal.

Figura 13. Lesões vascu-


lares. Angio-TC cervical
demonstrando lesão de
carótida (Seta). (Fonte:
Adaptado de ATLS 9ª Ed,
2012)
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 13

MAPA MENTAL: TIPOS DE FRATURAS MAIS FREQUENTES (ATLS 9ª ED, 2012)

Raro, normalmente
fatal por destruição de
tronco encefálico.
Critérios de avaliação
Fratura por explosão =
vascular: fraturas de C1 a
Fratura de Jefferson
C3, fraturas cervicais com
Sobrecarga axial
subluxação e envolvendo
Rx transoral
forame transverso Luxação Atlanto-Occipital

Passagem do agente
Lesões vasculares Fratura do Atlas
pelo canal vertebral
usualmente gera déficit Torcicolo persistente por
neurológico completo. cotação de C1 sobre C2
Pode ocorrer também por Subluxação por
Lesões Penetrantes
transferência de energia rotação em C1

Fraturas Lombares Fratura do Áxis


Fratura do Odontoide
Menor risco de déficit
Fratura dos elementos
neurológico
posteriores (Do enforcado)
Fraturas da Junção Fraturas e Luxações
Toracolombar de C3 a C7

Fraturas da coluna torácica Local mais frequente


Combinação de hiperflexão de fratura (C5) e luxação
e rotação agudas, são (entre C5 e C6) da
fraturas instáveis. coluna cervical pela
Lesões em cunha, hipermobilidade
lesões por explosão,
fraturas de chance ou
fraturas-luxações
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 14

4. ESCALAS • B: Paciente apresenta função


sensitiva até S4/S5, sem respos-
A Escala de Frankel serve para clas-
ta motora. Rotura incompleta.
sificação clínica do paciente com
TRM, sendo dividida em A, B, C, D • C: Paciente apresenta resposta
ou E. Essa escala classifica o paciente motora com força inferior a grau
do mais grave possível (A – rotu- 3 na grande maioria dos grupos
ra completa medular) ao paciente musculares. Rotura incompleta.
menos grave (E – Normal) de acor- • D: Paciente apresenta resposta
do com os critérios clínicos de função motora com força superior a grau
motora e sensitiva observados. 3 na grande maioria dos grupos
• A: Paciente não apresenta ne- musculares. Rotura incompleta.
nhuma resposta motora. Rotura • E: Paciente sem alterações mo-
completa. toras ou sensitivas. Normal.

HORA DA REVISÃO!
As lesões medulares implicam em síndromes específicas a depender da topografia de
acometimento.
Síndrome central medular: perda de força mais acentuada em membros superio-
res. Geralmente ocorre por hiperextensão em pacientes com estenose preexistente
do canal medular.
Síndrome anterior medular: paraplegia e dissociação da perda sensorial, com per-
da de sensibilidade à dor e temperatura (Trato Espinotalâmico). Das lesões incom-
pletas, é a de pior prognóstico.
Síndrome posterior medular: comprometimento da propriocepção, sensação vi-
bratória e tato epicrítico.
Síndrome de Brown-Séquard ou Hemissecção medular: comprometimento motor
ipsilateral (trato corticoespinhal) e perda da sensibilidade postural (coluna posterior),
além da perda contralateral à sensibilidade térmica e à dor (Trato Espinotalâmico).
Fascículo grácil
Coluna dorsal
Fascículo corneato

Trato corticoespinhal
lateral
Trato espinotalâmico

Figura 14. Tratos da Medula Espinhal. 3 tratos podem ser avaliados clinicamente, o trato corticoes-
pinhal lateral (motor), o trato espinotalâmico lateral (dor e temperatura) e tratos das colunas dorsais
(Fascículo grácil e corneato ou cuneiforme, responsáveis pela propriocepção consciente, tato epicrítico
e sensibilidade vibratória). (Fonte: Adaptado de ATLS 9ª Ed, 2012)].
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 15

ESCALA DE FRANKEL
A Não apresenta nenhuma resposta motora. Rotura completa.
B Função sensitiva até S4/S5, sem resposta motora. Rotura incompleta.
C Resposta motora com grau inferior a 3 na maioria dos grupos musculares. Rotura incompleta.
D Resposta motora com grau superior a 3 na maioria dos grupos musculares. Rotura incompleta.
E Sem alterações motoras ou sensitivas. Normal.
Tabela 1. Escala de Frankel (Fonte: Adaptado de Aula SanarFlix)

5. ANATOMIA torácicas e 5 lombares, além do


sacro e do cóccix. São compostas
Para entendermos melhor o nível da
por um corpo vertebral, sendo esse
lesão de acordo com sua repercussão
o principal mecanismo de susten-
clínica é mandatório o conhecimento
tação, separados entre si pelos dis-
da anatomia relacionada.
cos intervertebrais e fixados pelos
A coluna vertebral é formada por 24 ligamentos.
vértebras, sendo 7 cervicais, 12

Processo espinhoso
Curvatura Vértebras
cervical cervicais
Processo Lâmina Processo
articular superior transverso

Curvatura Vértebras
torácica torácicas Forame
Discos Faceta para o
intervertebrais vertebral
tubérculo
Forame
intervertebral
arco costal
Corpo Pedículo
Curvatura Vértebras
lombar lombares

Sacro
Curvatura Figura 15. Anatomia da Coluna Vertebral. A – Coluna vertebral,
sacral
visão lateral direita e posterior. B – Vértebra torácica típica vista
Cóccix superiormente. (Fonte: Adaptado de ATLS 9ª Ed, 2012)

A medula espinhal, por sua vez, par- como cauda equina com as raízes
tícipe do Sistema Nervoso Central, se nervosas. As raízes nervosas emi-
inicia a nível do forame magno e tidas se distribuem para inervação
termina ao nível de L1, continuando do corpo dentro de determinados
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 16

segmentos, chamados miótomos


(porção motora) e dermátomos
(porção sensitiva).

HORA DA REVISÃOQ
Os dermátomos são a área da pele inervada por neurônios sensitivos per-
tencentes a uma determinada raiz nervosa. É importante termos noção
de alguns dermátomos, para que saibamos reconhecer o nível da lesão
traumática.
Podemos internalizar alguns dermátomos mais significativos, a partir dos
quais lembraremos o restante! C5 – Deltoide T4 – Mamilos T8 – Apêndice
Xifóide T10 – Umbigo T12 Região Inguinal S4/S5 – Região Perianal.

Figura 16. Distribuição dos dermátomos de acordo com as raízes nervosas. Podemos
internalizar alguns dermátomos mais significativos, a partir dos quais lembraremos o
restante! C5 – Deltoide T4 – Mamilos T8 – Apêndice Xifóide T10 – Umbigo T12 Região
Inguinal S4/S5 – Região Perianal. (Fonte: Adaptado de Aula SanarFlix)

Sendo assim, durante a avaliação clí- A paraplegia é a perda dos mo-


nica, tanto a nível térmico, nociceptivo vimentos dos membros inferiores,
ou tátil, é necessário determinarmos ocorrendo por lesões torácicas ou
os níveis avaliados para predizer mais inferiores (abaixo de T1). A
um prognóstico de acordo com nível tetraplegia envolve também a perda
medular afetado. de movimentos de membros supe-
riores além da sustentação axial,
denotando uma possível lesão cervi-
6. CLÍNICA cal (acima de T1).
Existem alguns conceitos semiológi-
cos importantes de serem abordados
no tocante ao TRM.
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 17

IMAGEM: PARAPLEGIA X TETRAPLEGIA. A PARAPLEGIA OCORRE EM LESÕES


ABAIXO DE T1, ENQUANTO A TETRAPLEGIA OCORRE EM LESÕES ACIMA DE T1

Cervical C4 -
Tetraplegia

Torácica

C6 -
Tetraplegia
Lombar

Sacral T6 -
Paraplegia
Coccígea
L1 -
Paraplegia

Fonte: Adaptado de https://bit.ly/2V5QIFW

A lesão completa medular envol-


HORA DA REVISÃO!
ve a perda de todos os movimentos,
enquanto a lesão incompleta cursa Priapismo é definido como uma ereção
peniana prolongada e persistente (> 4
com a manutenção do movimento horas), frequentemente dolorosa, de-
de certos grupamentos muscula- sencadeada ou não por estímulo sexual.
res, de um hemicorpo, entre outras Caracteriza-se como uma situação clíni-
ca de emergência, requerendo um diag-
formas a depender do mecanismo de nóstico rápido.
acometimento medular.
O reflexo bulbocavernoso, por sua vez,
O paciente que cursa com uma le- é observado pelo estímulo da glande
são completa de medula cursa com peniana ou do clitóris, que gera em si-
tuações fisiológicas a contração do es-
disfunção esfincteriana, arreflexia, fíncter anal.
hipotonia generalizada, perda total
dos movimentos e da sensibilida- Esfíncter

de, sendo essa entidade caracteriza-


anal

da como um choque medular. Nesse


caso, pode-se observar a ausência
do reflexo do bulbo cavernoso, bem
como a presença de priapismo, am-
bos pela descarga adrenérgica ex- Figura 17. Reflexo Bulbocavernoso. Avaliação
do reflexo no indivíduo do sexo masculino, no
pressiva que ocorre no choque medu- qual ao estímulo da glande ocorre a contração
lar, indicando um pior prognóstico. do esfíncter anal, em situações normais. (Fonte:
Adaptado de Medicina, Ribeirão Preto, 32: 388-
400, out./dez. 1999.)
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 18

SAIBA MAIS!
O choque neurogêni- MAPA MENTAL: CHOQUE NEUROGÊNICO X CHOQUE MEDULAR
co resulta da lesão das
vias descendentes do
sistema nervoso sim-
pático a nível cervical
ou torácico alto (até T6,
usualmente), o que oca-
siona a perda do tônus
vasomotor e a perda
da inervação simpática
do coração. A perda do
tônus vasomotor causa
vasodilatação dos va-
sos viscerais e das ex-
tremidades inferiores, Choque Neurogênico Choque Medular

represamento de sangue
e, consequentemente, Lesão das vias Choque por
Cervical a Torácico Perda do tônus
hipotensão. O doente descendentes do
SNA simpático
alto (até T6) muscular e arreflexia
lesão medular em
qualquer nível
pode tornar-se bradicár-
dico ou deixar de apre-
Pode voltar Período de
sentar taquicardia como Perda do tônus
vasomotor
Perda da inervação
simpática do coração
a apresentar acometimento
função normal é variável
resposta à hipovolemia.
A pressão sanguínea
não costuma normalizar- Vasodilatação Bradicardia ou
de vasos viscerais taquicardia não
-se através da infusão de e extremidades compensatória
líquidos apenas.
O termo choque medu- PA não se
lar, por outro lado, refe- Hipotensão normaliza apenas
com cristaloides
re-se à flacidez (perda
do tônus muscular) e à
perda de reflexos notada após a lesão medular. O “choque” para a medula pode fazer com
que ela pareça totalmente desprovida de função, ainda que não esteja necessariamente des-
truída, podendo voltar a ter algum nível de funcionamento.
Esses termos muitas vezes são utilizados de forma intercambiável, apesar de serem entida-
des diferentes!
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 19

Além disso, é importante a verifica- GRAUS DE FORÇA MUSCULAR


ção do nível de sensibilidade, bem 0 Nenhum movimento é observado
como da avaliação do grau de força 1
Esboço de movimentos ou fasciculações
muscular em todo o corpo do indiví- musculares
Força muscular e movimentação apenas
duo que sofreu de um TRM. 2
sem a resistência da gravidade
Força muscular e movimentação contra
SE LIGA! A gradação de força muscular 3 a gravidade, mas falha contra resistência
segue a seguinte classificação: do examinador
Força muscular reduzida, mas vence a
• Grau 0: Nenhum movimento é 4
resistência do examinador
observado
Força muscular normal contra a resistên-
• Grau 1: Esboço de movimento ou 5
cia do examinador
fasciculações musculares
Tabela 2. Graus de Força Muscular. (Fonte: Adaptado
• Grau 2: Força muscular e movimen- de Aula SanarFlix)
tação apenas se retirada a resis-
tência da gravidade
• Grau 3: Força muscular e movi-
mentação contra a gravidade, po-
rém falha contra a resistência do
examinador
• Grau 4: Força muscular reduzi-
da, mas há contração contra
resistência
• Grau 5: Força muscular normal
contra resistência.
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 20

MAPA MENTAL: QUADRO CLÍNICO DO TRAUMA RAQUIMEDULAR

Paraplegia: Lesões
abaixo de T1, MMII’s
Grau 0: Nenhum movimento
Grau 1: Esboço de movimentos
Tetraplegia: Lesões acima Grau 2: Apenas a favor da gravidade
de T1, MMII’s, MMSS’s e
Paraplegia x Quadro Verificar grau de
Grau 3: Vence a gravidade,
Tetraplegia Clínico TRM força muscular
sustentação axial mas falha contra a resistência
Grau 4: Há contração contra resistência
Grau 5: Força muscular normal

Lesão incompleta: Verificar nível


Lesão completa x
Manutenção de certos de sensibilidade
Incompleta
movimentos, hemicorpo, etc. (Dermátomos)

Lesão completa: Perda de todos


movimentos e sensibilidade, Choque medular x
disfunção esfincteriana, Choque Neurogênico
arreflexia, hipotonia
=
Choque Medular
Choque medular: Choque neurogênico:
Hipotonia e arreflexia lesão das vias
após lesão simpáticas (Até T6)
Ausência do reflexo
bulbocavernoso e
presença de priapismo Perda do tônus
vasomotor e da
inervação simpática
do coração
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 21

7. RADIOLOGIA Avaliação Radiológica Cervical


A coluna vertebral deve ser avaliada As Colunas de Denis são linhas que
por meio de radiografias nas inci- separam a região cervical em ante-
dências anteroposterior (AP) e em rior, médio e posterior. O acometi-
perfil, buscando avaliar a assimetria, mento de duas ou mais dessas colu-
o alinhamento das vértebras e rotura nas usualmente implica na realização
de partes moles. de um procedimento cirúrgico. Esse
conceito se estende para a coluna to-
rácica e lombar.

Figura 18. Colunas de Denis


na avaliação radiográfica. 3
colunas: anterior (parte ante-
rior do corpo vertebral, disco
intervertebral e ligamento
longitudinal anterior), média (li-
gamento longitudinal posterior,
1/3 posterior do ânulo fibroso
e corpo vertebral) e posterior
(ligamento supra e interes-
pinhoso, ligamento amarelo,
cápsula e facetas articulares).
(Fonte: Adaptado de Aula
SanarFlix)

A observação radiológica da região


cervical em colunas, bem como a ve-
rificação dos pontos entre as vérte-
bras Atlas e Áxis (C1 e C2, respec-
tivamente), possibilita a avaliação de
simetria, distância entre pontos anatô-
micos importantes, como a posição do
Figura 19. Avaliação radiográfica de simetria e relação
entre os pontos anatômicos através de linhas e pontos. dente do Áxis em relação ao Atlas.
(Fonte: Adaptado de Aula SanarFlix)
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 22

A realização de radiografia em AP, Em certos momentos é necessária a


perfil e transoral (para visualização realização de radiografias em exten-
do processo odontoide ou dente do são/flexão para observar se há algu-
Áxis) é eficaz para o diagnóstico de > ma luxação nas vértebras cervicais.
80% das fraturas de coluna cervical.
É de extrema importância a visuali- SE LIGA! As radiografias com hiperfle-
zação de todas as vértebras da co- xão ou hiperextensão (dinâmicas) são
contraindicadas em pacientes com
luna cervical, bem como a transição
dor, déficit neurológico ou incons-
cervicotorácica. Na impossibilidade cientes, devido ao risco de agravamento
de visualização desse segmento em de lesão subjacente.
radiografias convencionais pode-se
lançar mão das radiografias sob tra-
ção de membros superiores ou na
posição do nadador.

Figura 21. Radiografia realizada em movimento de


hiperextensão para possibilitar a melhor visualização de
luxações nas vértebras cervicais. Lembrando que ra-
diografias em hiperextensão/flexão são contraindicadas
em pacientes com dor, déficit neurológico ou incons-
cientes, pelo alto risco de lesão. (Fonte: Aula SanarFlix)

Além da radiografia, pode-se utilizar


da tomografia computadorizada
Figura 20. Manobras para a melhor visualização das
vértebras da coluna cervical, bem como da transição (TC) e da ressonância magnética
cervicotorácica. A – Tração de membros superiores. B nuclear (RMN). A TC possibilita um
– Posição do nadador. (Fonte: Adaptado de Medicina,
Ribeirão Preto, 32: 388-400, out./dez. 1999.) diagnóstico de fraturas ocultas, bem
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 23

como avaliação de sua morfologia,


estabilidade e se há compressão
do canal vertebral pelos fragmen-
tos fraturados. A RMN, por sua vez,
permite um maior detalhamento das
partes moles, avaliando contusões
medulares, hematomas, lesões liga-
mentares, hérnias discais e coleções
líquidas.

Figura 23. A TC tem um importante papel para avalia-


ção de lesões lombares, principalmente para detectar
fraturas dos elementos posteriores (pedículos, lâmina e
processos espinhosos) e determinar o grau de com-
pressão medular. (Fonte: Adaptado Aula SanarFlix)

8. TRATAMENTO
Figura 22. A RNM da coluna vertebral possibilita
um maior detalhamento das partes moles, avaliando Por ser um trauma, semelhante ao
contusões medulares, hematomas, lesões ligamentares,
hérnias discais e coleções líquidas. (Fonte: Adaptado
trauma torácico, abdominal, entre
de Aula SanarFlix) outros, o tratamento do TRM tam-
bém pautado no ATLS, seguindo a
sequência de atendimento inicial
Avaliação Radiográfica Torácica e do trauma, o ABCDE. A prioridade,
Lombar: como qualquer trauma, é evitar as le-
Nesse caso também se utiliza de ra- sões secundárias.
diografia em AP, perfil e aqui há um
maior papel da TC em cortes axiais,
principalmente para detectar fraturas
dos elementos posteriores (pedícu-
los, lâmina e processos espinhosos)
e determinar o grau de compressão
medular provocado por fraturas.
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 24

MAPA MENTAL: ABCDE DO TRAUMA

A B C D E
AIRWAY BREATHING CIRCULATION DISABILITY EXPOSURE

Circulação Exposição e
Via aérea e Ventilação e Disfunção
e controle da controle do
colar cervical Respiração Neurológica
Hemorragia Ambiente

Escala
Pele, pulso,
Viabilidade da Inspeção, de Coma de Retirar roupas e
perfusão e
via aérea palpação Glasgow e objetos
hemorragias
Pupilas

Avaliar pescoço
Ausculta e
antes de passar USG Fast IOT se ECG <=8 Avaliar dorso
Percussão
colar

Sendo assim, o tratamento do TRM O tratamento básico das lesões de co-


de fato, com correção de fraturas ou luna e medula inclui a correta imobili-
outros possíveis achados, só é reali- zação, como já citado anteriormente,
zado após a estabilização clínica do bem como infusão endovenosa de
paciente, priorizando o atendimento fluidos (da mesma forma que é re-
e cuidado para as lesões que cursam alizado em qualquer atendimento a
com maior risco de vida. politraumatizado) e transferência, se
for apropriado ao caso.

SAIBA MAIS!
O estudo NASCIS III demonstrou que a utilização de corticoide gera benefícios em pacientes
com TRM, porém torna-se inadequada por suas complicações secundárias graves, cur-
sando com 2 vezes mais chance de pneumonias, 4 vezes mais chance de sepse e aumento
da mortalidade em 6 vezes. Portanto, o uso de corticoide é atualmente contraindicado em
TRM.
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 25

Devemos também pensar nas pos- Além disso, na fase crônica do cho-
síveis complicações associadas ao que medular o paciente passa a de-
choque medular, principalmente as senvolver hipertonia, hiperreflexia
relacionadas a perda de esfíncter, e espasticidade, gerando a neces-
tanto urinário quanto fecal. Com re- sidade de medicamentos relaxantes
lação ao descontrole autonômico, musculares ou o uso de toxina bo-
podemos também observar compli- tulínica, por exemplo.
cações crônicas relacionadas ao O tratamento da dor deve sempre
controle pressórico, justamente pelo ser realizado e otimizado, de forma
desbalanço entre o sistema simpático a possibilitar um melhor enfrenta-
e parassimpático. mento do quadro clínico.
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 26

MAPA MENTAL GERAL: TRAUMA RAQUIMEDULAR

Paraplegia
Choque medular
Alteração temporária/
Tetraplegia permanente Cervical (50%)
Completa
Função motora,
Lesão Acidentes
autonômica ou
Incompleta sensibilidade automobilísticos

Reflexo Bulbo cavernoso Avaliar


Definição
Homens (4:1)
Motricidade

Nível de sensibilidade Clínica Epidemiologia 15-40 anos - Jovens

Priapismo
Tratamento Tipos de fratura A Lesões compressivas

ATLS B Lesões por ruptura


Imagem Acometimento

Evitar lesões
secundárias Lesões por
TC ou RNM se dor s/ C
deslocamento
evidência na radiografia
Não usar corticoide!
Determinação
Radiografia Anatomia
do nível
Choque medular?
Eixo AP e perfil
Escala de Frankel Classificação clínica
Tratamento cirúrgico
Incidência transoral

Analgesia Coluna de Denis


TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 27

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ATLS - Advanced Trauma Life Support for Doctors. American College of Surgeons. 10a. Ed
2018
DEFINO, Helton. Trauma raquimedular. Medicina, Ribeirão Preto, 32: 388-400, out./dez.
1999.
DEFINO, Helton Luiz Aparecido. Classificação das fraturas da coluna torácica e lombar. Co-
luna, São Paulo, v. 1, n. 1. p. 41-48, 2002.
NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Pereira DF, Oliveira NMNe, Magalhães ALP, Oliveira MA, Giannini EFB. Síndrome de Gri-
sel - Relato de Caso. Resid Pediatr. 2019;9(2):156-160 DOI: 10.25060/residpediatr-2019.
v9n2-13
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