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SUMÁRIO

1. Definição........................................................................ 3
2. Fisiopatologia............................................................... 3
3. Quadro clínico............................................................... 7
4. Diagnóstico.................................................................11
5. Tratamento..................................................................15
Referências bibliográficas..........................................17
DOR TORÁCICA 3

1. DEFINIÇÃO
SE LIGA: Na abordagem inicial ao pa-
A dor ou desconforto torácico ocupa ciente com dor torácica é necessário
sempre afastar o diagnóstico de SCA.
o terceiro lugar nas causas de procu- No entanto, é importante ter em mente
ra ao departamento de emergência, que SCA não é a única condição grave
representando, dessa forma, cerca de e que deve ser afastada inicialmente
10% do total de atendimentos. Nos durante o atendimento. Outras condi-
ções clínicas ameaçadoras a vida que
Estados Unidos, aproximadamente cursam com dor torácica são: dissecção
7,6 milhões de pessoas vão anual- aguda de aorta; tromboembolismo pul-
mente ao departamento de emergên- monar; pneumotórax hipertensivo; tam-
ponamento cardíaco; mediastinites (por
cia com queixa de dor torácica, tor-
exemplo a ruptura de esôfago)
nando a segunda causa mais comum
de busca a esse tipo de atendimento.
2. FISIOPATOLOGIA
A dor torácica pode ter diversas ori-
CONCEITO: A dor torácica é um sinto-
ma que abrange diversas patologias na gens e possui diversos mecanismos
medicina. Ela pode se apresentar em di- diferentes. Uma das formas de dife-
ferentes intensidades, formas e cursos renciação da origem da dor é a dife-
rença entre a estimulação nervosa
somática ou visceral durante a inves-
tigação clínica (tabela 1).
Por ser um sintoma abrangente e
por muitas vezes inespecífico, a dor VARIÁVEIS DOR SOMÁTICA DOR VISCERAL

torácica entra na lista de suspeitas As fibras en-


tram na medula
diagnósticas de diversas síndromes espinal em níveis
As fibras entram
e condições, dentre elas a síndrome Anatomia
específicos e são
na medula em
múltiplos níveis
coronariana aguda (SCA). A SCA é distribuídas em
dermátomos
sempre lembrada no diagnóstico di-
Pode se apre-
ferencial de dor torácica, por além de A dor costuma
sentar como
ser uma emergência que oferece alto ser precisamen-
desconforto,
Características te descrita com
risco, representa cerca de 25% dos forte intensidade
peso, mal-estar.
diagnósticos relacionados ao des- e bem localizada
Não tem locali-
zação precisa
conforto torácico
Síndrome coro-
Pleurite,
nariana aguda,
Exemplos costocondrite,
espasmo
zóster
esofágico
Tabela 1: Achados da dor somática vs. dor visceral.
Fonte: MARTINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de
emergência: abordagem prática (USP). 12ª edição. São
Paulo: editora Manole, 2017.
DOR TORÁCICA 4

trução do fluxo coronariano. A do-


HORA DA REVISÃO!
ença aterosclerótica é a principal
Para melhor entendimento da dor to- causadora da SCA, pela ruptura
rácica, essa pode ser dividida em cinco
grandes grupos anatômicos, com acha- de placa ateromatosa e agregação
dos semiológicos específicos e diferen- plaquetária, gerando obstrução do
tes abordagens (tabela 2). A fisiopatolo- fluxo sanguíneo. A redução do flu-
gia da dor torácica é variável de acordo
xo sanguíneo leva ao desbalanço
com a sua origem.
entre a oferta e demanda de oxi-
gênio e a duração e intensidade
desse desbalanço são os determi-
GRUPOS ETIOLOGIAS
nantes se o paciente desenvolverá
SCA, pericardite, miocardite, do-
uma angina instável (isquemia sem
enças valvares, cardiomiopatias lesão) ou infarto agudo do miocár-
Cardíacas
de estresse, intoxicação aguda dio (isquemia com lesão).
catecolaminérgica, etc.
Aorta e • Dissecção aguda de aorta: Ge-
Dissecções.
grandes vasos ralmente associada a pacientes
Embolia pulmonar, infecções, idosos e com hipertensão arterial
Pulmão, pleura, pleurite, pneumotórax, hiper-
sistêmica. A dissecção tipicamen-
mediastino e tensão pulmonar, mediastinite,
artérias pneumomediastino, tumores e
te inicia com um “rasgo” na túnica
pulmonares neoplasias pulmonares primárias íntima da aorta, permitindo ao san-
ou metastáticas. gue penetrar a as camadas íntima
Úlcera péptica, dispepsia não e a média. Como o sangue arterial
Esôfago, estô- ulcerosa, DRGE, esofagite,
mago e espasmo esofagiano, ruptura
possui maior pressão, a pulsatili-
abdome supe- de esôfago, pancreatite aguda, dade causa a propagação desse
rior colecistite aguda e abscesso rasgo (dissecção). O aumento da
hepático ou subfrênico. dissecção obstrui a saída de ramos
Fibromialgia, miosite, estira- da artéria e consequentemente is-
Músculos, mento muscular, costocondrite,
nervos e caixa lesões em costelas, herpes-zós-
quemia dos órgãos que seriam ir-
torácica ter, doença do disco cervical e rigados por esses ramos (coroná-
síndromes radiculares. rias, intestino, etc). Em pacientes
Outros
Transtornos psiquiátricos, masti- jovens, a dissecção aguda de aor-
te e causas idiopáticas.
ta está mais associada a aqueles
Tabela 2: Principais causas de dor torácica. Fonte:
MARTINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de emergên- pacientes que já possuíam alguma
cia: abordagem prática (USP). 12ª edição. São Paulo: doença no aparelho valvar aórtico.
editora Manole, 2017.

• Síndrome coronariana aguda: Is-


quemia miocárdica ocorre por obs-
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SAIBA MAIS:
Em aproximadamente 13% dos casos, não é identificado o “rasgo” na túnica
íntima dito acima. Nesses pacientes, acredita-se que um hematoma intramu-
ral causa sangramento dos vasa vasorum (vasos que irrigam as camadas do
próprio vaso), levando a um aumento do sangramento na parede da aorta e
consequentemente a dissecção.

• Tromboembolismo pulmonar DPOC (secundário). O acúmulo de


(TEP): O TEP ocorre com a migra- ar no espaço pleural causa com-
ção de um trombo já existente no pressão do mediastino e deslo-
sistema venoso periférico, que mi- cação de estruturas torácicas.
gra até o lado direito do coração e Possui evolução rápida e pode
é enviado para o pulmão, impac- levar a morte se não reconheci-
tando nas artérias pulmonares. A da precocemente.
mortalidade está muito associada
• Mediastinites: Inflamação do teci-
com o “nível” no qual o trombo im-
do conectivo do mediastino, poden-
pacta, uma vez que ramos maiores
do ocorrer após infecções odonto-
propiciam quadros mais graves.
lógicas, pós-operatório cardíaco ou
A oclusão resulta em hipertensão
perfuração esofágica. Possui mor-
pulmonar e disfunção de câmaras
talidade alta, principalmente pela
cardíacas direitas, além de gerar
demora no diagnóstico e início do
espaço morto pulmonar por redu-
tratamento.
zir a perfusão do parênquima pul-
monar. • Infecções do tecido cardíaco
(miocárdio, endocárdio): As en-
• Pneumotórax: Pode ocorrer por
domiocardites são complicações
trauma ou procedimentos como
que podem cursas com altera-
acesso venoso central, mas tam-
ções eletrocardiográficas e dor
bém pode ocorrer espontanea-
importante que pode confundir
mente em pacientes previamente
com uma SCA. Seu tratamento é
hígidos (primário) ou em pacien-
realizado com antibioticoterapia
tes com alguma condição pulmo-
prolongada.
nar, como fibrose cística, asma ou
DOR TORÁCICA 6

DOR
TORÁCICA
Cardíacas Outras

Pulmão, pleura
Síndrome Esôfago e Músculos/nervos/ Transtornos
mediatino e
coronariana aguda abdômen superior caixa torácica psiquiátricos
grandes vasos

Úlcera péptica, Miosite,


Pericardite/
dispepsia não estiramento Embolia pulmonar Mastite
Miocardite
ulcerosa muscular

DRGE, esofagite, Dissecção aguda de


Costocondrite,
Doenças valvares espasmo esofagiano, aorta, Hipertensão Causas idiopáticas
ruptura de esôfago lesões em costela pulmonar

Herpes-zóster Infecções
Cardiomiopatias
Pancreatite aguda Síndromes Pleurite/
de estresse
radiculares mediastinite

Pneumotórax/
Intoxicação aguda Doença do disco
Colecistite aguda Pneumo
catecolaminérgica cervical
mediastino

Abcesso hepático/
Fibromialgia Neoplasias
subfrênico
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• Causas gastrointestinais: De ori- • Os sintomas iniciam ao repouso e


gem multifatorial, podendo ser re- possuem duração maior do que 10
fluxo gastroesofágico, espasmo minutos.
esofagiano ou até úlcera péptica.
• O paciente relata dor torácica, des-
Causas gastrointestinais podem
conforto, queimação, peso ou sen-
mimetizar a dor torácica caracte-
sação de opressão.
rística de uma SCA.
• Desconforto com localização retro-
• Doenças musculoesqueléticas:
esternal e que pode irradiar para a
Geralmente associadas com trau-
região ulnar do braço esquerdo,
mas ou exercícios extenuantes, as
para ambos os braços, ombros,
causas de dor torácica musculo-
para o pescoço ou mandíbula.
esqueláticas geralmente se asso-
ciam com movimentação, postura • Exame físico pode ser inexpres-
e respiração. sivo, porém alguns achados fa-
vorecem o diagnóstico de SCA:
• Causas psiquiátricas: Paciente
presença de quarta bulha, sopro
com crise de pânico frequente-
carotídeo, diminuição de pulsos
mente cursam com dor torácica,
em MMII, aneurisma abdominal e
associado a sensação de morte e
achados de sequelas de AVC.
dificuldade de respiração.
• SCA com manifestações atípi-
cas: cerca de um terço dos pa-
SE LIGA! Diagnóstico de causas psi-
quiátricas sempre são diagnósticos de cientes podem apresentar dor ou
exclusão no departamento de emer- desconforto precordial atípico e
gência. Como seus sintomas são se- os achados principais podem in-
melhantes a outras condições que
cursam com dor torácica, é necessário
cluir dispneia, hipotensão, síncope,
realizar a exclusão das outras causas confusão, diaforese, dor epigástri-
para a conclusão do diagnóstico. ca e vômitos (tabela 3).
Diaforese, dispneia ou síncope podem ser a
apresentação da SCA na emergência (dispneia
3. QUADRO CLÍNICO recente inexplicável é o mais comum equivalen-
te isquêmico)
O paciente pode se apresentar com fadiga,
Isquemia miocárdica aguda mal-estar, náusea, vômito e sudorese fria
Dor ou desconforto epigástrico, indigestão,
• Possui achados clínicos variáveis po- mal-estar e diaforese podem ser manifestações
dendo incluir angina instável e IAM. da SCA

• É mais frequente em homens ido-


sos com diabetes.
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Ocorre mais frequentemente em alguns grupos tosse e com a inspiração profun-


de pacientes: da), alivio da dor com a inclinação
• Idade > 75 anos
• Diabéticos
para frente e eventualmente pos-
• Dialíticos ou com doença renal crônica sui irradiação para o trapézio.
avançada
• História de demência, doenças neurológi- • Achados no exame físico: atrito
cas ou psiquiátricas pericárdico mais intenso na borda
• Mulheres esternal esquerda, mais audível
Tabela 3: Isquemia miocárdica aguda com manifesta- utilizando o diafragma do estetos-
ções atípicas. Fonte: MARTINS, Herlon Saraiva et al.
Medicina de emergência: abordagem prática (USP). 12ª cópio e mais intenso quando o pa-
edição. São Paulo: editora Manole, 2017.
ciente se inclina para frente.
• Confirmação do diagnóstico de pe-
Pericardite aguda ricardite é feita somente se o pa-
ciente possui pelo menos dois dos
• É mais comum no sexo masculino
seguintes critérios diagnósticos:
e representa cerca de 5% dos ca-
dor torácica com características de
sos de dor torácica não relaciona-
pericardite, atrito pericárdico, alte-
dos à SCA.
rações típicas no ECG e efusão pe-
• Nos casos de etiologia viral ou ricárdica (derrame).
idiopática (maioria dos casos) há
• Miocardite associada: pode ser de-
sintomas de infecção sistêmica
mostrada por atraso na condução
associados a febre e leucocitose.
ou novo bloqueio de ramo demos-
Sintomas respiratórios semelhan-
trados no ECG. Pode ser diagnos-
tes aos da gripe podem preceder
ticada pela elevação da troponina
a dor torácica que estará presente
sérica.
em quase 100% dos casos de pe-
ricardite. • Tamponamento cardíaco: é a com-
plicação mais grave da pericardite
• Principais características da dor to-
aguda e deve ser diagnosticado pre-
rácica da pericardite: início súbito,
cocemente
localização an-
através dos
terior no tórax,
sintomas clí-
intensa, pleuríti-
nicos (tríade
ca (piora com a
de Beck).
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NA PRÁTICA! BLS, masculino, 6 anos • Apresentação clínica: dor torácica


e 2 meses. Genitora refere que paciente e/ou dorsal, oclusão arterial aguda
queixar de dor no peito há 03 dias, asso- com isquemia distal, insuficiência
ciado a dispneia leve, febre e um episo-
cardíaca aguda, choque e síncope.
dio de vomito. RCR em 3T (B4), bulhas
hipofonéticas, ausência de sopro. ECG: • Fatores de risco e condições asso-
Ritmo Sinusal. Alteração inespecífica do
segmeto ST com presença de suprades- ciadas: HAS, aterosclerose, taba-
nivelamento. CK 48; CKMB 20; Leuco- gismo, coarctação de aorta, valva
grama 28000 (neutrófilo 85%, sem des- aórtica bicúspide, doenças infla-
vio). Pericardiocentese com drenagem
matórias vasculares autoimunes
de 225mL, líquido amarelo-citrino
ou infecciosas e antecedente pes-
soal ou familiar de SAA.
Síndromes aórticas agudas (saas) Fácies de dor, agitação, sudorese profusa e pa-
lidez pela vasoconstrição cutânea
• São pouco frequentes no departa-
Hipertensão: é o fator de risco mais frequente
mento de emergência, porém re- (cerca de 80% dos pacientes). PA elevada no
presentam condição associada a exame físico inicial: 66% na dissecção do tipo
elevadas taxas de mortalidade. B e 28% na dissecção do tipo A
Pseudo-hipotensão: devido a oclusão ou com-
• A dissecção de aorta representa prometimento das artérias braquiais
cerca de 80% dos casos de SAA. Diferença pressórica entre os membros: ocorre
Segundo a classificação das dis- em 50% dos casos, embora não seja específica
secções agudas de Stanford, a do Déficits de pulsos (carótidas, femorais ou bra-
tipo A é aquela que acomete a aor- quiais): mais frequentes na dissecção do tipo
A (31% dos casos) do que na do tipo B (19%)
ta ascendente, independentemen-
Propedêutica de derrame pleural (ou pelo ul-
te do sítio de origem (tipo mais fre- trassom POC): mais frequente à esquerda e
quente. Representa cerca de dois pode ser devida a hemotórax ou reação infla-
terços dos casos), já a do tipo B é matória exsudativa em torno da aorta envol-
vida
aquela que não acomete a aorta
Sopor de insuficiência aórtica aguda pelo com-
ascendente. prometimento valvar
• Características da dor na SAA: sú- Sinais de tamponamento cardíaco: bulhas aba-
fadas, estase jugular e hipotensão
bita e de forte intensidade desde
Disfagia e rouquidão agudas ou síndrome de
seu início, podendo migrar para o
Horner (compreensão do gânglio estrelado)
percurso da aorta sendo acompa-
Tabela 4: Achados mais relevantes na dissecção guda
nhada de sinais autonômicos. de aorta. Fonte: MARTINS, Herlon Saraiva et al. Me-
dicina de emergência: abordagem prática (USP). 12ª
edição. São Paulo: editora Manole, 2017.
DOR TORÁCICA 10

• Pneumotórax hipertensivo: pres-


NA PRÁTICA! Paciente de 51 anos,
sexo masculino, portador dehiperten-
são intrapleural maior do que a
são arterial há mais de 15 anos, sem pressão atmosférica levando a um
tratamento, foi admitido naemergência desvio contralateral das estruturas
com dor na região precordial e retroes- mediastinais.
ternal havia quatro dias,em queimação,
intensa, irradiada para pescoço, mem- Diagnóstico clínico: sinais clássicos do pneumotó-
bros superiores e dorso, desencadeada rax no paciente com insuficiência respiratória aguda
em repouso e associada a náuseas e
Ansiedade, agitação, confusão, rebaixamento do
sudorese fria.Ecocardiograma realizado
nível de consciência
há 05 anos mostrou dilatação de aor-
taascendente e insuficiência aórtica de FC>120 bpm, muitas vezes acima de 140 bpm
graus discretos com fração de ejeção Extremidades frias, temo de reenchimento capilar
preservada. Tabagista 40 maços/ano. prolongado
Ao exame físico apresentava assimetria Turgência venosa jugular é comum
de pulsos.
Hipotensão é um achado ominoso (o ideal é diag-
nosticar antes)
O deslocamento da traqueia contralateral é descri-
Pneumotórax to, mas é pouco frequente
Tabela 5: Pneumotórax hipertensivo no departamento
• Pneumotórax espontâneo primá- de emergência. Fonte: MARTINS, Herlon Saraiva et al.
rio: ocorre em indivíduos sadios e Medicina de emergência: abordagem prática (USP). 12ª
edição. São Paulo: editora Manole, 2017.
sem patologias pulmonares pré-
vias.
NA PRÁTICA! P.J.S.S., masculino, vítima
• Pneumotórax espontâneo secun- de acidente automobilístico, foi ejetado
dário: ocorre em pacientes com de sua moto ao colidir com a lateral de
doença pulmonar de base, portan- um carro. No exame físico, foi achado
Murmúrio vesicular abolido à esquer-
to, evento grave e de risco maior. da. Realizada drenagem torácica em 5°
Achados clínicos: dor torácica de iní- espaço intercostal à esquerda, anterior-
mente à linha axilar média, sem intercor-
cio súbito, em repouso, localizada rências. Saída de ar pelo dreno
no hemitórax afetado, sendo do tipo
pleurítica.
Dor de origem pulmonar ou das
• Exame físico: pode ser normal
artérias pulmonares
quando o pneumotórax é peque-
no ou moderado. Em casos graves, • A dor torácica pode surgir em do-
pode haver redução da expansi- enças do parênquima pulmonar
bilidade no lado acometido com como pneumonia, câncer e sar-
ausência do frêmito toracovocal, coidose. Nesses casos, pode ter
redução do murmúrio vesicular e várias apresentações, agravar-se
timpanismo à percussão. com a inspiração e ter sintomas
DOR TORÁCICA 11

associados como febre, tosse e fa- Dor osteomuscular e psicogênica


diga.
• A dor osteomuscular, geralmente,
• A embolia pulmonar é uma cau- possui características pleuríticas
sa importante de dor torácica na pela relação com os movimentos
emergência. dos músculos e das articulações
• A hipertensão pulmonar pode oca- produzidos pela respiração. A pal-
sionar dor torácica muito seme- pação desses locais desencadeia
lhante à angina típica. dor. A dor é contínua e localizada.
• A dor psicogênica costuma aco-
meter pacientes com depressão ou
Dor esofágica e gastroduodenal
com transtornos de ansiedade. É
• A dor torácica em doenças esofá- difusa, imprecisa e pode estar as-
gicas pode mimetizar as SCA. Mui- sociada ao abuso de analgésicos.
tas vezes, pacientes com DRGE
podem apresentar desconforto
4. DIAGNÓSTICO
torácico em queimação e defini-
do como uma sensação de opres- Para avaliação da dor torácica e cor-
são retroesternal que pode irradiar reto diagnóstico é necessário uma
para o pescoço, braços ou dorso. investigação minuciosa da dor, além
de outros sintomas associados, pato-
• A dor pode aliviar com a posição
logias de base do paciente e exames
ereta, com uso de nitratos, antiáci-
complementares.
dos, BCC ou com o repouso.
Para avaliação da dor torácica, alguns
• A histórica clínica deve avaliar a re- detalhes devem ser investigados:
lação da dor com a alimentação.
• A dor da úlcera péptica se localiza
em região epigástrica e pode ser Caracterização da dor
referida em região subesternal ou Início da dor (abrupta ou gradual)
retroesternal.
• Começo de maneira abrupta pos-
• Na ruptura de esôfago a dor é ex- sui mais associação com dissec-
cruciante, retroesternal e geral- ção aguda de aorta; pneumotó-
mente acompanhada de um com- rax e tromboembolismo pulmonar
ponente pleurítico à esquerda. (que pode piorar com o tempo).
• O desconforto da SCA tipicamen-
te começa gradualmente e piora
com esforço. Já na angina estável
DOR TORÁCICA 12

a dor/desconforto aparece apenas pontada agu-


quando a demanda de oxigênio é da também
aumentada, fruto de uma limita- pode acom-
ção imposta por uma lesão ateros- panhar o TEP,
clerótica estável. pneumotórax
ou pericardite.

Qualidade da dor (aperto, • TEP pode se


queimação, abafamento)/Radiação apresentar com diferentes tipos
de dor, podendo até se apresentar
• Pacientes com SCA geralmente como dispneia sem dor. Pacientes
relatam um desconforto que pode com pneumotórax geralmente re-
ser um peso, pressão ou aperto. latam dor em um único lado.
Mais raramente a dor é relatada
• Na pericardite, classicamente o pa-
como pontada, rasgo ou associa-
ciente relata que a dor é dependen-
da a posição. Dor que irradia para
te da posição, piorando ao ficar em
membros superiores e que pioram
ortostase e aliviando ao se curvar.
ao exercício aumenta significante-
mente o risco de ser uma SCA. • Dor bem localizada, que dor à pal-
pação ou movimentação é típico
• A dissecção aguda de aorta geral-
de doenças musculoesqueléticas.
mente se apresenta como aguda.
Geralmente a história associada é
Paciente geralmente relatam sen-
de exercício ou trauma no local.
tir um “rasgo” no peito. A dor ge-
ralmente é retroesternal, mas pode • Além disso, outras questões de-
ser sentida no dorso e por migrar vem ser investigadas, como fato-
ou irradiar para res precipitantes e de melhora ou
a b d o m e /p e i t o / piora da dor; Sítio da dor (difusa,
dorso a depender localizada, precordial, caixa toráci-
a porção da aorta ca) e temporalidade (quantidade,
envolvida na dis- quando começou)
secção. A dor em
DOR TORÁCICA 13

Qualidade (tipo)
da dor

Início abrupto ou
Localização da dor
gradual

Temporalidade DOR Fatores


precipitantes
TORÁCICA

Intensidade
Fatores de piora
da dor
Fatores de
melhora

Antecedentes ECG deve ser realizado imediatamente em todo


paciente com dor torácica na sala de emergência.
• Antecedentes: Trauma; cirurgia de Achados clínicos + ECG são os dados mais impor-
tantes na avaliação inicial de paciente com um qua-
grande porte; períodos de imobili-
dro de dor torácica aguda
zação; uso de drogas; tabagismo;
Caso inicialmente seja inespecífico, ECGs seriados
histórico familiar podem ser necessários no paciente com quadro clíni-
co sugestivo de isquemia miocárdica aguda
• Comorbidades: Hipertensão; dia-
ECG com elevação de segmento ST: na presença de
betes; doença arterial periférica; alterações em múltiplas derivações, sem uma distri-
história de neoplasia; doença val- buição anatômica plausível, com supra ST de conca-
var; gravidez recente vidade para cima, junto com infradesnivelamento de
segmento PR, indica pericardite aguda
Embolia pulmonar: o ECG pode ser normal ou mos-
trar taquicardia sinusal ou inversão de onda T em
Exames complementares
derivações inferiores. Desvio do eixo para direita
com o padrão S1Q3DIII não é específico e ocorre
• ECG: indispensável e deve ser fei-
em >20% dos pacientes. Inversão de ondas T em
to imediatamente (em até 10 min) V1, V2 e V3 indica sobrecarga de VD na embolia
à chegada do paciente ao depar- pulmonar.
tamento de emergência. Utilizado Tabela 6: ECG no desconforto torácico agudo. Fonte:
MARTINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de emergên-
para buscar achados sugestivos cia: abordagem prática (USP). 12ª edição. São Paulo:
de SCA. editora Manole, 2017.
DOR TORÁCICA 14

O resultado do exame deve ser disponibilizado o


ECG COMENTÁRIOS
mais rápido possível, e não deve ser acima de 1 hora
Alterações transitó- de solicitação
rias de ST > 0,5mm • Sugerem isquemia e grave
A magnitude do aumento da troponina é útil na de-
durante os sinto- doença coronariana de
finição de prognóstico de curto e longo prazo
mas, como paciente base ou espasmo
em repouso. Quanto maior a elevação da troponina de alta sensi-
bilidade, maior a chance de ser devido a SCA (p. ex.
Depressão de ST
acima de 5 vezes o limite superior da normalidade,
do tipo horizontal
• Achado muito sufestivo de valor preditivo positivo > 90%)
ou de concavi-
IAM sem supra. Troponina de alta sensibilidade com elevação de
dade para baixo
(downsloping) até 3 vezes o limite superior da normalidade tem
somente 50 a 60% de valor preditivo positivo para
Inversão simétri-
• Sugere isquemia aguda, SCA e pode ocorrer em várias condições, sendo
ca e relevante de
sobretudo estenose crítica imprescindível a coleta de uma nova amostra para
onda T em deriva-
de artéria descendente avaliar se há curva ou não da troponina (ou seja, se
ções precordiais
anterior esquerda está aumentando e/ou caindo).
(> 2mm)
Com a metodologia contemporânea para medida
Alterações ines-
da troponina, não existe benefício ou utilidade de se
pecíficas de seg-
• São menos úteis do ponto solicitar CK-MB ou mioglobina.
mento ST (<0,5
de vista diagnóstico. Tabela 8: Troponina de alta sensibilidade. Fonte: MAR-
mm) ou de onde T
TINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de emergência:
(<2mm)
abordagem prática (USP). 12ª edição. São Paulo:
• São menos úteis para o editora Manole, 2017.
diagnóstico de SCA
• Todavia, indicam IAM pré-
Ondas Q patoló- vio e maior probabilidade
gicas de doença coronariana
• Radiografia de tórax: em geral, é
associada normal ou inespecífica na SCA,
• Onda Q somente em DIII porém é útil no diagnóstico dife-
não é patológica.
rencial de dor torácica não isquê-
Tabela 7: ECG na SCA sem elevação de segmento
ST. Fonte: MARTINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de
mica (infecções, derrame pleural,
emergência: abordagem prática (USP). 12ª edição. São neoplasias torácicas, fraturas, me-
Paulo: editora Manole, 2017.
tástases, etc.).
• Ultrassom torácico beira leito: deve
Troponina de alta sensibilidade: a de- ser feito rotineiramente. Pode ser
tecção de quantidades mínimas de utilizado para diagnóstico diferen-
troponina no sangue sugerem SCA e cial. Sensibilidade chega a 100%
deve ser realizada seriadamente (cur- nos casos de derrame pericárdico.
va de troponina).
• Ecocardiograma transesofágico:
1. Troponina T ou I de alta sensibilidade é o biomar-
exame de escolha para pacientes
cador de escolha no DE na suspeita de SCA
Uma amostra deve ser coletada à chegada e uma se-
hemodinamicamente instáveis com
gunda após 1 hora ou após 3 horas conforme o pro- suspeita de dissecção de aorta.
toocolo escolhido pelo hispital (dieta de 1 ou de 3h)
DOR TORÁCICA 15

EXAMES CONSIDERAÇÕES 5. TRATAMENTO


• Deve ser realizado na suspeita
de SAA, pois pode demons- O tratamento da dor torácica depen-
1. Ultrassom
trar a dissecção proximal ou derá da etiologia da mesma. É neces-
POC ou eco-
seus indícios, como derrame
sária uma avaliação rápida e eficaz
pericárdico, dilatação da aorta,
cardiograma
regurgitação aórtica e derrame
para tomada de condutas específicas.
transtorácico
pleural, além de ser de grande De medidas gerais, todo paciente
valor na avaliação de diagnós-
ticos diferenciais
com dor torácica deve ser monitori-
• Método de eleição para pacien-
zado, com cardioscopia, oxímetro de
2. Ecicardio- tes instáveis, sendo realizado pulso e pressão arterial. A utilização
grama tran- na sala de emergência de oxigenioterapia só deve ser utili-
sesofágico • Sensibilidade de 98% e especi-
zada naqueles pacientes que efetiva-
ficidade de 95%
mente precisem, com saturação peri-
• Método mais usado para pa-
3. Angio-
cientes estáveis hemodinami- férica reduzida.
tomografia
camente
multidetector Para mais detalhes, no Sanarflix exis-
• Sensibilidade e especificidade
de aorta
acima de 98% tem diversos matérias complementa-
• Sensibilidade e especificidade res com SCA, TEP e muito mais!
de quase 100%
• Não usa contraste iodado
• Melhor que a TC para avaliar
arco aórtico e valva aórtica
4. Ressonân-
• Desvantagens: é necessário le-
cia magnéti-
var o paciente para outro setor,
ca de aorta
é um exame mais demorado,
não pode ser feito em portado-
res de marca-passos, próteses
metálicas valvares ou clipes
metálicos
Tabela 9: métodos complementares para o diagnóstico
da dissecção aguda de aorta. Fonte: MARTINS, Herlon
Saraiva et al. Medicina de emergência: abordagem prá-
tica (USP). 12ª edição. São Paulo: editora Manole, 2017.
DOR TORÁCICA 16

DOR
TORÁCICA
História clínica
Exame complementar
• Descrição da dor
bem direcionado
• Dispneia
• Palpitações
• ECG
• Diaforese
Exame físico minucioso • Marcadores de
• Fatores de risco
necrose miocárdica
SCA
• Sinais vitais • Raio x de tórax
• Dor aguda súbita
• Náuse/Vômito • Saturação de
oxigênio
• Ap. respiratório
• Ap. Cardiovascular
• Extremidades

Cardíaca Cranianos

Não Não
Isquêmica Gastroesofágica
isquêmica gastroesofágica

Angina
Pericardite Refluxo Pneumotórax
estável

Angina Dissecção Espasmo Embolia


instável aguda de aorta esofagiano pulmonar

Músculo
IAM Valvular Úlcera péptica
esquelética

Psicogênica
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
MARTINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de emergência: abordagem prática (USP). 12ª
edição. São Paulo: editora Manole, 2017.
MOREIRA, Maria da Consolidação Vieira et al. LIVRO-TEXTO da sociedade brasileira de
cardiologia. 2° edição. Barueri – SP: editora Manole, 2015.
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