Você está na página 1de 75

1

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE FISIOTERAPIA

Ayda Tieko Ajisaka Sousa

PERFIL DA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA DE TRABALHADORES NA


INDÚSTRIA DE CERÂMICA DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ

BELÉM

2009
2

Ayda Tieko Ajisaka Sousa

PERFIL DA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA DE TRABALHADORES NA


INDÚSTRIA DE CERÂMICA DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Universidade da
Amazônia para obtenção do grau de
bacharel em Fisioterapia.
Orientadora: Profo. Dr. Manoel
Gionovaldo Freire Lourenço.

BELÉM

2009
S725p Sousa, Ayda Tieko Ajisaka
Perfil da função respiratória de trabalhadores na indústria
de cerâmica de São Miguel do Guamá / Ayda Tieko Ajisaka
Sousa -- Belém, 2009.
70 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) --


Universidade da Amazônia, Curso de Fisioterapia, 2009.
Orientador: Profº. Dr. Manoel Gionovaldo Freire
Lourenço.

1. Doenças ocupacionais. 2. Trabalhador – exposição


ambiental. 3. Pneumoconioses. 4. Indústria de cerâmica –
Doenças respiratórias. I. Lourenço, Manoel Gionovaldo
Freire. II. Título.

CDD 613.62
3

Ayda Tieko Ajisaka Sousa

PERFIL DA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA DE TRABALHADORES NA


INDÚSTRIA DE CERÂMICA DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao curso de Fisioterapia do
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
da Universidade da Amazônia como
requisito para obtenção do título de
Fisioterapeuta.

Banca Examinadora

______________________________

Profo. Dr. Manoel Gionovaldo Freire Lourenço

______________________________

Ft. Paulo Avila

______________________________

Ft. Daniel Nunes

Apresentado em:____/____/____

Conceito:___________________

BELÉM

2009
4

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me presentear com a sua companhia diária e por
todas as bênçãos que me concedeu e concede.
A minha mãe que em todos os momentos difíceis me ampara e me acompanha
permitindo que lute pelos meus objetivos e continue a buscar meus sonhos, construindo o que
somos e o que almejamos.
Ao meu orientador que resistiu bravamente as minhas crises de ansiedades e se
disponibilizou a concretizar meu objetivo.
A minha fiel e querida amiga Ediléa Monteiro, por me proporcionar a felicidade de
sua companhia, recheada de carinho e incentivo.
A professora Carla Serrão por exercer e transmitir conhecimentos com maestria e
doçura inigualável.
Ao professor Paulo Ávila por ter aceitado duas voluntárias do primeiro semestre com
"estágiarias" que voto de confiança.
A família Yokoyama por me receber sempre como quem recepciona a um filho
ausente por muito tempo e pela ajuda de inestimável valor.
Aos meus pacientes que me transformaram na esperança de querer ser melhor para
outros.
5

“Bom
Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com
paixão,
paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo
insignificante..”
pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante
Charles Chaplin
6

RESUMO

Resumo: A doença pulmonar relacionada ao ambiente de trabalho é causada por inalação ou


ocasionalmente por ingestão de uma grande variedade de partículas de poeira ou de
substâncias químicas. O desenvolvimento da doença em um trabalhador individual é
dependente dos efeitos tóxicos da substância inalada, da intensidade, duração da exposição e
da vulnerabilidade do trabalhador. Dependendo das características como solubilidade, da
natureza química da substância inalada, as reações podem ser agudas ou crônicas. Como
poderiam ser esperadas, as primeiras são geralmente acompanhadas de exsudação de edema
fluido, de alterações relativamente rápidas de sintomas e anormalidades radiológicas. Ao
contrário disso, a doença mais indolente tende a mostrar associação com uma reação
inflamatória mononuclear e fibrose com alterações clínicas gradualmente progressivas.
Quanto à função pulmonar, não existem padrões de disfunção típicos em silicose e as
alterações espirométricas são tardias, não devendo ser consideradas como um indicador
precoce de comprometimento respiratório.
Objetivo: Analisar a função respiratória dos trabalhadores na indústria de cerâmica, para
detectar possíveis interferências do ambiente de trabalho na instalação de pneumoconioses.
Métodos: Trata-se de um estudo do tipo descritivo, transversal de cunho exploratório, em 30
indivíduos do sexo masculino, trabalhadores da indústria de cerâmica do município de São
Miguel do Guamá – PA.
Resultado: Na avaliação da função respiratória, foram obtidas as médias do pico de fluxo
expiratório (Peak flow) 553,1 l ⁄min, Pimáx (-113,1 cmH2O) e Pemáx (75,86 cmH2O) e da
saturação periférica 98,1%. A dispnéia foi mensionada por 38% dos voluntários e a fadiga por
89,6%.
Conclusão: O presente estudo conclui que a função respiratória dos trabalhadores da indústria
de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pa apresentou alterações nos valores das provas de
função pulmonar, encontrando-se diminuída, a Pressão inspiratória máxima e o pico de fluxo
expiratório (peak flow) e foi relatado à sensação de fadiga e dispnéia.

Palavras-chave: Doenças ocupacionais, exposição ambiental, silicose, asbestose, função


respiratória, dispnéia, pneumoconioses.
7

ABSTRACT

Summary: A disease caused by work environment is caused by inhalation or occasionally by


eating a wide variety of dust particles or chemicals. The development of disease in an
individual worker is dependent on the toxic effects of inhaled substance, intensity, duration of
exposure and vulnerability of the worker. Depending on the characteristics as solubility, the
chemical nature of the substance inhaled, reactions may be acute or chronic. As might be
expected, the former are usually accompanied by exudation of edema fluid, relatively fast
changes of symptoms and radiological abnormalities. Objective: To assess the respiratory
function of workers in the ceramics industry, to detect possible interference of the desktop in
the installation of pneumoconiosis. Methods: This is a descriptive study, cross-sectional
exploratory, 30 males, workers of the ceramics industry in São Miguel do Guama - PA.
Results: In the evaluation of respiratory function, we obtained the mean peak expiratory flow
(peak flow) 553.1 l / min, -113.1 cmH2O MIP and MEP 75.86 cmH2O and 98.1% saturation.
Dyspnea was "mentioned by 38% of the volunteers and fatigue by 89.6%.
Conclusion: This study shows that lung function of workers in the ceramics industry of Sao
Miguel do Guama - Pa showed changes in the values of pulmonary function and is decreased,
the maximum inspiratory pressure and peak expiratory flow (peak flow) and was reported to
the feeling of fatigue and dyspnea.

Keywords: occupational diaseses, environmental exposure, silicosis, asbestosis, lung


function, dyspnea, pneumoconiosis.
8

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ATS American Thoracic Society


AVD's Atividade de vida diária
bpm Batimentos por minuto
ºC Grau Celsius
CDL Câmara dos diretores lojista
CEP Comitê de ética em pesquisa
CID Classificação internacional de doenças
CPT Capacidade pulmonar total
CVF Capacidade vital funcional
cmH2O Centímetros de água
DPOC Doença pulmonar obstrutiva crônica
EP Erro-padrão
FC Freqüência cardíaca
FR Freqüência respiratória
IMC Índice de massa corpórea
irpm Incursões respiratórias por minuto
kg Quilograma
Kg/m2 Quilograma por metro quadrado
L⁄min Litros por minuto
MI(E) Membro inferior esquerdo
mmHg Milímetros de mercúrio
MV Murmúrio vesicular
O2 Oxigênio
PAD Pressão arterial diastólica
PaO2 Pressão parcial de oxigênio
PAS Periodic Acid Ashiff
PAS Pressão arterial sistólica
PEmáx Pressão expiratória máxima
PImáx Pressão inspiratória máxima
PFE Pico de fluxo expiratório
QP Queixa principal
RA Ruídos adventícios
9

RO Roraima
SaO2 Saturação de oxigênio
SD Desvio padrão
TCLE Termo de consentimento livre e esclarecido
VEF¹ Volume expirado forçado no primeiro segundo
VR Volume residual
10

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Distribuição dos valores médios e desvios padrões dos dados


antropométricos dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá –
Pará. 40
TABELA 2 – Distribuição dos valores médios e desvios padrões do tempo de serviço dos 41
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 3 – Distribuição dos valores percentuais das atividades ocupacionais exercidas 41
pelos trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 4 – Distribuição dos valores percentuais de voluntários com história de 42
tabagismo, trabalhando na indústria de cerâmica de São Miguel do Gama – Pará.
TABELA 5 – Distribuição dos valores percentuais de voluntários com queixas principais 43
(sistêmicas) entre os trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá –
Pará.
TABELA 6 – Distribuição dos valores percentuais de voluntários com queixas principais 44
(respiratórias) entre os trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá –
Pará.
TABELA 7 – Distribuição dos valores percentuais dos padrões musculares respiratórios 45
entre os trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 8 – Distribuição dos valores percentuais dos sons pulmonares (auscultação) 46
entre os trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 9 – Distribuição dos valores médios e desvios padrões dos dados 47
hemodinâmicos dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá –
Pará.
TABELA 10 – Distribuição dos valores médios e desvios padrões dos dados da funcional 48
respiratórios dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 11 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar dos trabalhadores 49
da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 12 - Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar na maioria dos 50
dias do ano passado, dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá
– Pará.
TABELA 13 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar no dia da 51
avaliação, dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 14 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar nas AVD's dos 52
11

trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.


TABELA 15 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga dos trabalhadores da 53
indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 16 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga na maioria dos dias 54
do ano passado, dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá –
Pará.
TABELA 17 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga no dia da avaliação, 55
dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
TABELA 18 - Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga nas AVD's dos 56
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
12

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Distribuição dos dados antropométricos dos trabalhadores na industrúia da 40


cerâmica.
GRÁFICO 2 – Distribuição das atividades ocupacionais, entre os trabalhadores na 42
indústria de cerâmica.
GRÁFICO 3 – Distribuição da história de tabagismo, entre os trabalhadores na indústria 43
de cerâmica.
GRÁFICO 4 – Distribuição dos dados da queixa principal sistêmica, entre os 44
trabalhadores da indústria de cerâmica.
GRÁFICO 5 – Distribuição dos dados da queixa principal respiratória, entre os 45
trabalhadores da indústria de cerâmica.
GRÁFICO 6 – Distribuição dos padrões respiratórios, entre os trabalhadores da indústria 46
de cerâmica.
GRÁFICO 7 – Distribuição dos dados da ausculta pulmonar, entre os trabalhadores da 47
indústria de cerâmica.
GRÁFICO 8 – Distribuição dos dados hemodinâmicos dos trabalhadores na indústria de 48
cerâmica.
GRÁFICO 9 – Distribuição dos dados da função respiratória dos trabalhadores na 49
indústria de cerâmica.
GRÁFICO 10 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar dos 50
trabalhadores na indústria de cerâmica.
GRÁFICO 11 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar na maioria dos 51
dias do ano passado.
GRÁFICO 12 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar no dia da 52
avaliação.
GRÁFICO 13 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar nas AVD's. 53
GRÁFICO 14 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga 53
GRÁFICO 15 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga na maioria dos dias 54
do ano passado.
GRÁFICO 16 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga no dia da avaliação. 55
GRÁFICO 17 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga nas AVD's. 56
13

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Valores de referência do pico de fluxo expiratório no sexo masculino 30


QUADRO 2 Equação de Pimáx e Pemáx 32
14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16
2 REFERENCIAL TEÓRICO 18
2.1 ASPECTOS GERAIS 18
2.2 EPIDEMIOLOGIA 19
2.3 POLUIÇÃO RELACIONADA AO MEIO AMBIENTE 20
2.4 SILICOSE 21
2.4.1 Alterações funcionais 23
2.4.2 Diagnóstico 24
2.5 ASBESTOSE 24
2.6 AVALIAÇÃO RESPIRATÓRIA 25
2.6.1 Padrão respiratório 26
2.6.2 Tipos de tórax 27
2.6.3 Percussão do tórax 27
2.6.4 Ausculta pulmonar 28
2.7 PROVAS DA FUNÇÃO PULMONAR 28
2.7.1 Pico de fluxo expiratório 29
2.7.2 Medição da força muscular 30
2.7.3 Oximetria não-invasiva – Monitoração 32
2.7.4 Questionário de sintomas respiratórios 33
3 OBJETIVOS 34
3.1 OBJETIVO GERAL 34
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 34
4 MATERIAIS E MÉTODOS 35
4.1 TIPO DE ESTUDO 35
4.2 AMOSTRA 35
4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO 35
4.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO 36
4.5 LOCAL DO ESTUDO 36
4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS 36
4.7 COLETA DE DADOS 37
4.7.1 Ficha de avaliação 37
4.7.2 Instrumentos avaliativos 38
15

4.7.2.1 Peak flow 38


4.7.2.2 Manovacuometria 38
4.7.2.3 Oximetria 39
5 RESULTADOS 40
5.1 ANALISE DE DADOS 56
6 DISCUSSÃO 57
7 CONCLUSÃO 59
REFERÊNCIAS 60
ANEXO
APÊNDICE A
APÊNDICE B
APÊNDICE C
APÊNDICE D
APÊNDICE E
16

1 INTRODUÇÃO

A doença pulmonar relacionada ao ambiente de trabalho é causada por inalação ou


ocasionalmente por ingestão de uma grande variedade de partículas de poeira ou de
substâncias químicas. O desenvolvimento da doença em um trabalhador individual é
dependente dos efeitos tóxicos da substância inalada, da intensidade, duração da exposição e
da vulnerabilidade do trabalhador (MULLER, et al., 2005).

Dependendo das características como solubilidade, da natureza química da substância


inalada, as reações podem ser agudas ou crônicas. Como poderiam ser esperadas, as primeiras
são geralmente acompanhadas de exsudação de edema fluido, de alterações relativamente
rápidas de sintomas e anormalidades radiológicas. Ao contrário disso, a doença mais
indolente tende a mostrar associação com uma reação inflamatória mononuclear e fibrose com
alterações clínicas gradualmente progressivas (FARESIN et al., 2003).

Segundo Carneiro et al. (2002), quanto à função pulmonar não existem padrões de
disfunção típicos em silicose. A forma nodular simples geralmente está representada por
espirometrias normais ou pouco alteradas, sendo o padrão obstrutivo o mais comum nas fases
iniciais. As alterações espirométricas são tardias, não devendo ser consideradas como um
indicador precoce de comprometimento respiratório, e a constatação de valores espirométricos
normais, ou próximos à normalidade, podem dever-se, em parte, ao fato de a maioria dos
estudos terem delineamento transversal.

Recentemente, um estudo prospectivo, com acompanhamento de cinco anos de


mineiros de ouro na África do Sul, mostrou que pacientes da categoria radiológica zero e um
apresentaram respectivamente diminuição média anual do volume expiratório forçado no
primeiro segundo (VEF1) de 37 e 57ml/ano, apesar dos valores percentuais em relação ao
previsto estarem em geral acima do limite inferior da normalidade. Nas formas complicadas,
como nas grandes opacidades ou fibrose pulmonar maciça, há tendência a predomínio do
padrão restritivo ou misto, que pode ainda estar associado à diminuição da capacidade de
difusão e hipoxemia, assim como nas formas agudas da doença (CARNEIRO, et al., 2002).
17

Os dados epidemiológicos sobre pneumoconioses no Brasil são escassos e referem-se


a alguns ramos de atividades em situações focais. As pneumoconioses são patologias
relacionadas ao ambiente de trabalho e que no estado do Pará, os dados relativos a alterações
do sistema respiratório em portadores de pneumoconioses são pouco conhecidas, neste
sentido este estudo intensionaou-se a traçar o perfil das alterações respiratórias em
trabalhadores da indústria de cerâmica no Município de São Miguel do Guamá – Pa.

Neste estudo tiveram-se como hipóteses, que o ambiente de trabalho na indústria de


cerâmica, não promove alterações no sistema respiratório, levando a pneumoconiose; ou que
o ambiente de trabalho na indústria de cerâmica, promove alterações no sistema respiratório,
levando a pneumoconiose.
18

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ASPECTOS GERAIS

A história das doenças causadas por poeiras minerais é antiga. Foram denominadas
pneumoconioses por Zenker, em 1866, e o nome específico para a silicose foi dado por
Visconti, em 1870. Em 1900, o patologista londrino Montague Murray descreveu o que
conhecemos hoje como asbestose e Fahr, em 1906 relatou a presença de corpos asbestóticos
ou corpos ferruginosos em trabalhadores expostos ao asbesto ou amianto (CASTRO;
VINCENTIN; PEREIRA, 2003).

As pneumoconioses representam um grupo de doenças causadas pela inalação e


acúmulo de poeira nos pulmões, que acarretam uma reação granulomatosa pulmonar. O
processo fisiopatológico inicia-se quando a poeira inalada atinge o parênquima pulmonar,
atraindo células fagocitárias e de defesa para o local, ocasionando a liberação de substâncias
quimiotáxicas e também fibrogênicas, dando início à lesão silicótica, construída por camadas
de tecido hialino, que tem de permeio quantidade razoável de poeira (CASTRO;
VINCENTIN; GONÇALVES, 2007).

Apesar desse conceito conglomerar a maior parte das alterações pulmonares


envolvendo o parênquima, alguns autores apontam para o fato de que o termo pneumoconiose
pode não ser adequado quando aplicado a determinadas pneumopatias ocasionadas por
processos de hipersensibilidade atingindo o parênquima pulmonar, como as alveolites
alérgicas por exposição a poeiras orgânicas e outros agentes, a doença pulmonar pelo berílio,
ou a pneumopatia pelo cobalto, por exemplo (CAPITANI; ALGRANTI, 2006).

Cada pneumoconiose recebe um nome particular, de acordo com a poeira inalada,


representada por talcos, sílicas, asbesto, ferro, estanho e tantas outras poeiras minerais. Sendo
assim, a doença causada por sílica chama-se silicose, asbesto – asbestose, ferro – siderose,
estanho – estanhose, talco – talcose, e cada uma delas recebe um códico na Classificação
Internacional de Doenças (CID) (CASTRO; VINCENTIN; GONÇALVES, 2007).
19

O diagnóstico de uma doença respiratória de causa ocupacional é sempre feito por


meio da interação entre sintomas e sinais clínicos, da história ocupacional e dos exames
complementares funcionais e / ou de imagem e anatomopatológicos e ocasionalmente,
laboratoriais. De maneira geral, o diagnóstico das pneumoconioses é feito pela história
(ocupacional e clínica) associada a exames de imagem. Raramente é necessário um exame
invasivo. Em suma, o diagnóstico de pneumoconiose baseia-se na tríade: história ocupacional,
tempo de latência, alterações de imagem compatíveis.

As provas funcionais são indispensáveis na investigação das doenças ocupacionais


respiratórias que afetam as vias aéreas, assim como no estabelecimento de incapacidade em
pacientes com pneumoconiose. Em contraste com a asma ocupacional, as provas funcionais
não têm aplicação no diagnóstico das pneumoconioses (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Para todas as pneumoconioses existe indicação obrigatória de afastamento da
exposição que a causou (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

2.2 EPIDEMIOLOGIA

As ocupações que expõem trabalhadores ao risco de inalação de poeiras causadoras de


pneumoconiose estão relacionadas a diversos ramos de atividades, como mineração e
transformação de minerais em geral, metalurgia, cerâmica, vidros, construção civil
(fabricação de materiais de construção), agricultura e indústria de madeira (poeiras orgânicas),
entre outros (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

No Brasil, em função da multiplicidade de atividades extrativistas e industriais, existe


um número elevado de trabalhadores expostos às poeiras minerais capazes de produzir essas
doenças, constituindo um problema de saúde pública (CASTRO; GONÇALVES;
VINCENTIN, 2007).

A principal pneumoconiose no país, do ponto de vista epidemiológico e de saúde


pública, é a silicose, causada pela exposição à poeira de sílica livre ou dióxido de silício
(SI02) em forma cristalina (CASTRO; GONÇALVES; VINCENTIN, 2007).
20

Os dados epidemiológicos sobre pneumoconioses no Brasil são escassos e referem-se


a alguns desses ramos de atividades em situações focais. Os dados que se dispõem sobre
ocorrência de silicose, por exemplo, dão uma idéia parcial da situação de risco relacionadaa
esta pneumoconiose. A maior casuística nacional de silicose provém da mineração de ouro
subterrânea de Minas Gerais, na qual já foram registrados cerca de quatro mil casos
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

2.3 POLUIÇÃO RELACIONADA AO MEIO AMBIENTE

Entre os impactos mais graves da degradação ambiental na qualidade de vida da


população estão relacionados à saúde. Mas se ao longo dos últimos cem anos houve um
declínio gradual das taxas de mortalidade, porque seria um motivo de preocupação alguns
poucos efeitos colaterais dos progressos da sociedade moderna? Hoje, a preocupação na
relação entre ambiente e saúde, se refere muito mais à qualidade de vida do que aos óbitos
relacionados aos aspectos ambientais (OJIMA; NASCIMENTO, 2006).

Apesar dos notáveis avanços obtidos nas últimas décadas em direção a um ambiente
com ar mais limpo, especialmente em paises desenvolvidos, os atuais níveis de poluição
experimentados pela maior parcela da população humana continuam a se mostrar danosos à
saúde. Os primeiros estudos relacionados à poluição atmosférica e implicações na saúde
datam da metade do século passado, e ainda hoje essa relação é observada e comprovada por
trabalhos de investigação científica (GOUVEIA et al., 2006).

Se entendermos com Albert Einsten o ambiente como "tudo o que não sou eu", o
organismo humano está exposto às mais diversas agressões, quer no ambiente em geral, quer
no ambiente particular que é o ambiente ocupacional. Os acidentes, as agressões físicas, como
as radiações ultravioletas, as agressões químicas e microbiológicas constituem um permanente
risco para o organismo (GOMES, 2002).

O aparelho respiratório, pelas suas funções que desempenha, está particularmente


exposto às agressões do ambiente e é frequentemente sede de alterações de maior ou menor
intensidade e de maior ou menor gravidade (GOMES, 2002).
21

Na concepção moderna e abrangente de Vigilância à saúde o objeto das ações de saúde


caminha no sentido dos riscos ambientais e não dos efeitos à saúde, sendo os contextos sociais
e os modos de vida relevantes para o julgamento. A forma de organização desse modelo
privilegia tanto a construção de políticas públicas, como a atuação intersetorial, e as
intervenções particulares e integradas de promoção, prevenção e recuperação, em torno de
problemas e grupos populacionais específicos, tendo por base as análises da situação de saúde
nos territórios para o planejamento de ações (MEDEIROS, 2003).

Esta tendência recente da saúde pública desloca o enfoque da doença para o enfoque
da saúde. Isto implica em uma abordagem mais coletiva dos problemas epidemiológicos na
população (MEDEIROS, 2003).

O conceito de vigilância ambiental em saúde busca tratar os fatores ambientais que


afetam a saúde de maneira contextualizada nos espaços de desenvolvimento humano. O
ambiente é determinado pelas atividades antrópicas decorrentes das tecnologias produtivas e,
por esta razão, o ambiente se modifica com a dinâmica social (MEDEIROS, 2003).

A vigilância ambiental configura-se como: um conjunto de ações que proporcionam o


conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes
do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas
de prevenção e controle dos fatores de risco das doenças ou outros agravos à saúde
relacionados ao ambiente e às atividades produtivas (MEDEIROS, 2003).

2.4 SILICOSE

A silicose representa um sério problema de saúde pública, uma vez que, apesar de ser
potencialmente evitável, apresenta altos índices de incidência e prevalência, especialmente
nos países menos desenvolvidos. É irreversível e intratável, podendo cursar com graves
transtornos para a saúde do trabalhador (CARNEIRO et al., 2002).
22

São ambientes com maior risco ocupacional: extração e beneficiamento de rochas,


mineração de ouro e pedras preciosas, perfuração de poços, jateamento de areia, indústria de
cerâmica e vidro e fundição de ferro (BARBOZA et al., 2008).

A silicose é uma doença pulmonar fibrosante com evolução crônica, causada por
inalação da poeira da sílica, que acomete as regiões peribronquiolares, no centro do lóbulo
pulmonar secundário. A drenagem linfática é o mecanismo envolvido na remoção das
partículas dos pulmões, mas esta não é completamente efetiva, fazendo com que haja acúmulo
gradual de partículas nas regiões onde esta drenagem é menos eficiente, que são as faces
posteriores dos lobos superiores (MEIRELLES; KAVAKAMA; RODRIGUES, 2006).

Uma vez inaladas, as partículas de sílica depositam-se principalmente nos bronquíolos


respiratórios e alvéolos. Se o clearance mucociliar ascendente e linfático não for capaz de
remover as partículas, elas acabam por induzir um processo inflamatório, caracterizado
inicialmente como uma alveolite, podendo evoluir para a fase de fibrose (MEIRELLES;
KAVAKAMA; RODRIGUES, 2006).

Clinicamente, a silicose pode apresentar-se de três formas distintas: aguda, acelerada


ou crônica (BARBOZA et al., 2008).

A aguda, ou proteinose alveolar silicótica, ocorre geralmente após meses ou poucos


anos de exposição elevada a partículas de sílica. Habitualmente, há rápida evolução para o
óbito. Manifesta-se com quadro de intensa dispnéia, astenia, perda de peso e hipoxemia, e
apresenta como achado, na radiografia, padrão de infiltrado alveolar bilateral, com
distribuição difusa e, na tomografia de alta resolução, padrão de opacidade em vidro fosco,
espessamento septal liso nas áreas alteradas e imagem de condensação com distribuição
geográfica ou regional. As alterações patológicas são: lesão de pneumócitos tipo I, presença
na luz alveolar de exsudado constituído por material lipoproteináceo, que se cora pelo
Periodic Acid Ashiff - PAS, proliferação de pneumócitos tipo II e aumento da produção de
fosfolípides, em particular o dipalmitol lecitina. A inflamação intersticial com presença de
fibrose geralmente está presente mas não é intensa, podendo ou não ser detectada a presença
de granulomas (FILHO; SANTOS, 2006).
23

Acelerada, causada pela inalação de grandes quantidades de sílica, com evolução mais
rápida que a crônica, e a silicose aguda, também conhecida como silicoproteinose, decorrente
da inalação maciça de sílica por períodos muito curtos. As alterações patológicas são
representadas pela presença de granulomas ou nódulos silicóticos (MEIRELLES;
KAVAKAMA; RODRIGUES, 2006).

Crônica é a forma de apresentação mais comum e geralmente ocorre após mais de dez
a quinze anos de exposição ou de latência. Tem evolução insidiosa, sendo inicialmente
assintomática, e pode evoluir com sintomas de dispnéia progressiva. O exame de imagem
apresenta, nos estágios iniciais, infiltrado micronodular bilateral, com predomínio nas zonas
pulmonares superiores, poupando os seios costofrênicos. A alteração patológica típica é o
nódulo silicótico encontrado no interstício pulmonar, ao redor de bronquíolos respiratórios e
dos vasos, nas regiões subpleurais, na pleura visceral e em linfonodos (FILHO; SANTOS,
2006).

2.4.1 Alterações funcionais

Segundo Filho e Santos (2006), os indivíduos com silicose podem não apresentar
alterações funcionais nas fases iniciais, evoluindo para um padrão obstrutivo, restritivo ou
misto. Nos casos mais avançados de fibrose ou na presença de enfisema, há importante
redução da capacidade de difusão de monóxido de carbono.

Na forma aguda, temos o predomínio do padrão restritivo e nas formas crônicas, o


obstrutivo, em geral pouco ou não responsivo ao uso de brocodilatadores. Obstrução essa
atribuída a diversos fatores, como irritação brônquica pela poeira, distorção e compressão das
vias aéreas pelos nódulos silicóticos, pela fibrose e existência de enfisema (FILHO;
SANTOS, 2006).
24

2.4.2 Diagnóstico

O advento da tomografia computadorizada permitiu a identificação de alterações mais


precoces do que o observado com o uso da radiografia. A identificação de micronódulos, a
presença de coalescência de nódulos e a existência de enfisema, que habitualmente ocorrem
nas regiões superiores e posteriores dos pulmões, são melhor visualizadas na tomografia
computadorizada de tórax de alta resolução, quando comparada com a radiografia e a
tomografia convencionais (CAPITANI; ALGRANTI, 2006).

A biopsia pulmonar só está indicada na presença de alterações radiológicas com


ausência de dados na história ocupacional que sugiram a associação. Nestes casos, pode
contribuir para o diagnóstico de outra doença, confirmar uma apresentação atípica ou ainda
para a diferenciação da doença crônica por berílio, cujo diagnóstico etiológico tem
implicações no tratamento (MEIRELLES; KAVAKAMA; RODRIGUES, 2006).

2.5 ASBESTOSE

O asbesto, ou amianto, fibra mineral abundante na natureza, vem sendo utilizado pelo
homem desde o início da civilização. São fibras que apresentam grande resistência ao fogo e à
abrasão mecânica e química, além de serem um material isolante acústico e térmico. Os
primeiros relatos científicos relacionando a exposição a essas fibras com agravos à saúde
foram publicados no início do século passado. Os principais comprometimentos
pleuropulmonares são: derrame pleural, espessamento pleural circunscrito ou placas pleurais,
espessamento pleural difuso, atelectasia redonda, asbestose, câncer pulmonar e mesotelioma
maligno de pleura (FILHO; NERY; FREITAS, 2006).

A fibrose intersticial pulmonar difusa como conseqüência da inalação de fibras de


asbesto é conhecida como asbestose. As alterações do parênquima pulmonar têm início nas
regiões peribronquiolares, com evolução para as paredes dos alvéolos, septos interlobulares e
regiões subpleurais, predominando nos campos pulmonares póstero-inferiores, de modo
geralmente simétrico (MEIRELLES; KAVAKAMA; RODRIGUES, 2006).
25

O sintoma de maior relevância clínica é a dispnéia. Este é um sintoma difícil de


avaliação e mensuração, principalmente nas doenças ocupacionais, nas quais outros fatores
podem confundir a sua interpretação, tais como: idade, sedentarismo, tabagismo e doenças
cárdio-respiratórias assosiadas. Além disso, trabalhamos buscando a concessão de benefícios
que podem superestimar a dispnéia nas suas atividades cotidianas (SETTE et al., 2004).

Segundo Filho, Nery e Freitas (2006), o diagnóstico diferencial com fibrose pulmonar
idiopática deve ser feito somente pela contagem de fibras não revestidas no tecido pulmonar,
que deve situar-se acima do limite superior da normalidade obtido em estudo controles.

Do ponto de vista histopatológico, observamos comumente fibrose intersticial difusa e


bilateral, predominante nas regiões póstero-basais dos lobos inferiores, próxima à superfície
pleural. Em sua evolução, a fibrose avança para as porções centrais do parênquima. Nas fases
mais avançadas, pode-se observar a formação de faveolamento. Como estes achados são
inespecíficos, o diagnóstico histológico de asbestose requer, portanto, a identificação de
fibrose intersticial difusa num pulmão bem inflado, distante de regiões com lesões tumorais
ou outras massas e a presença de dois ou mais corpos de asbesto numa área de secção de
tecido de 1 cm.(15) Em casos de suspeita de asbestose, em que não são detectados corpos de
asbesto, o diagnóstico diferencial com fibrose pulmonar idiopática deve ser feito somente pela
contagem de fibras não revestidas no tecido pulmonar, que deve situar-se acima do limite
superior da normalidade obtido em estudos controles (FILHO; NERY; FREITAS, 2006).

2.6 AVALIAÇÃO RESPIRATÓRIA

A avaliação respiratória segue a linha de uma anamnese. Ela deve ser feita de forma
criteriosa, pois os achados são muito semelhantes podendo confundir o fisiodiagnóstico e o
diagnóstico. Devem-se seguir os passos de uma avaliação clínica simples, ou seja, queixa
principal, história da doença atual, história patológica pregressa, história social, história
familiar, exame físico e, se for necessário, exames complementares (PRESTO; PRESTO,
2004).
26

À medida que a entrevista evolui, o questionamento pode tornar-se direcionado


àquelas características mais importantes que necessitam ser esclarecidas. Existem cinco
principais sintomas na doença respiratória: falta de ar (dispnéia), tosse, escarro e hemoptise,
sibilos e dor torácica. Para cada um desses sintomas, devem ser feitas perguntas no que diz
respeito: à duração, à gravidade, ao padrão e aos fatores associados (PRYOR; WEBBER,
2002).

No momento da avaliação respiratória podemos utilizar, questionários de sintomas


respiratórios. Nesta pesquisa foi utilizado, o questionário de sintomas respiratórios da
American Thoracic Society (Sociedade Americana do Tórax).

2.6.1 Padrão respiratório

O padrão respiratório pode ser dividido em apical (torácico), costo-diafragmático


(diafragmático) ou misto (PRESTO; PRESTO, 2004).

Para Presto e Presto (2004), o padrão apical está normalmente relacionado com a
ventilação utilizando-se os ápices pulmonares. Este padrão também pode estar associado ao
uso da musculatura acessória da ventilação em caso de aumento do trabalho ventilatório, que
consiste em uma ventilação com uso predominante da parte superior do tórax.

Segundo Costa (1999) o padrão diafragmático está relacionado a uma ventilação com
utilização predominante das bases pulmonares, ou seja, com a porção mais inferior do tórax,
podendo se observar um aumento do diâmetro antero-posterior do tórax e abdômen.

O padrão misto é a combinação dos dois padrões já citados. A avaliação do padrão


respiratório deve levar em consideração: freqüência respiratória (FR), ritmo (eupneico,
bradipneico ou taquipneico) e a profundidade (superficial ou normal) (COSTA, 1999).
27

2.6.2 Tipos de tórax

Nos adultos, o tórax deve ser simétrico às costelas, descendo a aproximadamente 45°
da coluna. O diâmetro transverso deve ser maior do que o diâmetro ântero-posterior (AP). A
coluna torácica deve ter uma leve cifose (PRYOR; WEBBER, 2002).

Segundo Presto e Presto (2004), a deformidade do tórax pode significar a presença de


uma patologia restritiva, ou pode auxiliar no diagnóstico de algumas patologias, como:
• Pectus escavatum: depressão do esterno durante a inspiração o movimento normal do
esterno consta de sua elevação.
• Tórax de sapateiro – depressão do terço inferior do esterno com comprometimento do
apêndice xifóide
• Peito de pombo – proeminência acentuada do esterno no momento da inspiração
• Tórax em tonel – aumento do diâmetro antero-posterior e transverso do tórax.
Facilmente encontrado em pacientes portadores de DPOC.
• Tórax paralítico – aumento do diâmetro transverso e redução do diâmetro antero-
posterior no momento da inspiração.
• Tórax assimétrico – presença de alterações funcionais ou patológicas que distingue um
hemitórax do outro.

2.6.3 Percussão do tórax

A percussão do tórax proporciona informações adicionais que podem ajudar na


avaliação e localização da doença pulmonar. É realizada colocando-se a mão esquerda na
parede torácica para que os dedos tenham bom contato com a pele. O dedo médio da mão
esquerda é golpeado na articulação interfalangeana distal com o dedo médio da mão direita. O
pulso deve ficar relaxado para que o peso de toda a mão direita seja retransmitido através do
dedo médio. Ambos os lados do tórax deverão ser percurtidos alternadamente, cedendo
particular atenção à comparação entre os hemitórax (PRYOR; WEBBER, 2002).
28

A ressonância normal é audível sobre o pulmão ventilado, enquanto o pulmão


consolidado soa maciço, e num derrame pleural soa como uma submaciez. O aumento da
ressonância é ouvido quando a parede torácica está livre para vibrar sobre um espaço cheio de
ar como no pneumotórax ou bolha (PRYOR; WEBBER, 2002).

2.6.4 Ausculta pulmonar

A ausculta pulmonar é o procedimento de escutar e interpretar os sons produzidos


dentro do tórax. O estetoscópio simplifica a ausculta e facilita a localização de qualquer
anormalidade (PRYOR; WEBBER, 2002).

Sons respiratórios normais vesiculares são sons tênues, com freqüências entre 100 e
400 Hz, auscultados através da parede torácica de um indivíduo sadio, ao longo de toda a
inspiração e no início da expiração (TILKIAN; CONOVER, 2004).

2.7 PROVAS DA FUNÇÃO PULMONAR

O médico pode fazer o diagnóstico de doença pulmonar pela história, pelo exame
físico, raios X, tomografia computadorizada de tórax e alguns exames de laboratório. Até
aqui, a avaliação é qualitativa e incompleta. Existe ainda a necessidade de caracterizar o
distúrbio respiratório, quantificar a perda da função pulmonar, aprimorar o diagnóstico ou
mesmo diagnosticar o que os sinais clínicos e radiológicos apenas permitem suspeitar e,
ainda, avaliar a evolução da doença ou o impacto terapêutico (DIAS et al., 2001).

Scan Lan, Wilkins e Stoller (2000) referem que os objetivos específicos da avaliação da
função pulmonar são os seguintes:
• Identificar e quantificar alterações na função pulmonar. A doença pulmonar pode
progredir ou regredir e as provas da função pulmonar ajudam a quantificar o progresso
ou a reversibilidade da doença
29

• Vigilância epidemiológica das doenças pulmonares. Programas de investigação podem


detectar anormalidades pulmonares causadas por doenças ou por fatores ambientais de
trabalho, nos fumantes ou em outros grupos de alto risco. Além disso, ao mensurarem
a função pulmonar da população média, os pesquisadores determinaram o que é a
função pulmonar normal.
• Avaliação do risco pulmonar pré-operatório. A avaliação pré-operatória pode
identificar aqueles pacientes que podem apresentar um maior risco de complicações
pulmonares após cirurgia. Algumas vezes, o risco de complicações pode ser reduzido
pela terapia respiratória pré-operatória. (Auxílio na determinação da incapacidade
pulmonar. As provas da função pulmonar também podem determinar o grau de
incapacidade causado por doenças pulmonares, incluindo as doenças ocupacionais
como a pneumoconios. Avaliação e quantificação da eficácia terapêutica. As provas da
função pulmonar podem ser úteis na seleção ou modificação de um esquema ou uma
técnica terapêutica específica.

2.7.1 Pico de fluxo expiratório

O pico de fluxo expiratório (PFE) ou peak-flow é um parâmetro espirométrico obtido


da curva fluxo-volume. Contudo, a medida do PFE tornou-se popular em razão de medidores
de pico de fluxo. Estes são aparelhos portáteis, de baixo custo, independente de fonte elétrica
ou de recurso humano especializado, e, o que é mais importante, a medida apresenta alta
correlação com o VEF¹, índice espirométrico mais reprodutível e de maior aplicabilidade
clínica (DIAS et al., 2001).

O mesmo autor refere ainda que o PFE esteja diretamente relacionado com a força
muscular, volume pulmonar e área transversa das vias aéreas. As indicações para a avaliação
do PFE encontram-se abaixo elencadas:
• Monitoramento a curto e longo prazo das doenças pulmonares obstrutivas.
• Classificação funcional da gravidade.
• Avaliação da resposta broncodilatadora ou antiinflamatória.
• Determinação do ambiente como indutor de doenças obstrutivas (asma ocupacional).
30

MENEZES et al. (1995), em seu estudo com uma amostra de 1200 voluntários, acima de 40
anos, estabeleceram valores de referência para o pico de fluxo expiratório em adultos baseado
na altura e idade (Quadro 1).

Altura (cm) Idade (anos)


40 45 50 55 60 65 70 75
150 481 495 493 478 454 423 389 352
155 500 515 513 498 473 441 405 366
160 521 536 534 518 492 459 421 381
165 542 558 556 539 512 477 438 397
170 564 580 578 561 533 497 456 413
175 587 604 602 584 554 517 474 430
180 611 628 626 608 577 538 494 447
Quadro 1: Valores de referência do pico de fluxo expiratório no sexo masculino

2.7.2 Medição da força muscular

O desempenho ventilatório depende não apenas das propriedades mecânicas dos


pulmões e da parede torácica, mas também da ação dos músculos respiratórios (SILVA;
RUBIN; SILVA, 2000).

Os músculos de maior destaque na respiração fisiológica são o diafragma e os


músculos intercostais paraesternais. A fase expiratória ocorre de forma passiva com o
relaxamento desses músculos; todavia, na expiração profunda ou tosse, verifica-se o
desempenho dos músculos intercostais paravertebrais, oblíquos internos e externo, reto
abdominal e transverso do abdômen. Na inspiração profunda verifica-se a ação de músculos
acessórios como esternocleidomastoideo, escalenos, peitoral menor, serrátil anterior entre
outros com ações menores, a exemplo do peitoral maior (COSTA, 1999).

A medida da força dos músculos respiratórios é um exame incorporado à prática, tanto


do intensivista, como de clínicos. Trata-se de um exame de fácil realização, basta um medidor
31

de pressão negativa e positiva: manovacuômetro. Como a distensão da fibra muscular


influencia a força, devemos sempre relacioná-la ao volume pulmonar no qual é feita a
aferição. A força também se exerce em dois sentidos, no da inspiração e no da expiração,
produzindo, respectivamente, pressão negativa, pressão inspiratória máxima (PImáx), e
positiva, pressão expiratória máxima (PEmáx) (DIAS et al., 2001).

A medida da pressão inspiratória é geralmente feita no nível do volume residual, ou


seja, com a expiração máxima, que passa a ser indicada pela sigla PImáxVR. Por outro lado, a
medida da pressão expiratória máxima é feita a partir da capacidade pulmonar total, com o
pulmão totalmente cheio, em inspiração máxima, sendo designada PEmáx CPT (DIAS et al.,
2001).

Segundo Silva, Rubin e Silva (2000) as indicações para a realização da


momovacuômetria são:
• Diagnóstico diferencial de dispnéia ou de quadro restritivo inexplicado.
• Doenças que afetam a musculatura respiratória: doenças neuromusculares e
deformidades da parede torácica.
• Avaliação e diagnóstico de fadiga diafragmática e muscular respiratória,
principalmente em pacientes com DPOC (devido à hiperinsuflação).
• Avaliação de anormalidades funcionais (diminuição da CVF ou do PFE).
• Avaliação de resposta à fisioterapia e reabilitação pulmonar.
• Avaliação da possibilidade de desmame da ventilação mecânica

A primeira referência quanto aos valores das pressões respiratórias máximas foram
descritas em 1969 por Black e Hyatt. Que avaliaram 120 indivíduos saudáveis com idade
entre 20 e 86 anos, de ambos os sexos, onde foi elaborada a primeir equação para os valores
de normalidade levando-se em consideração sexo e idade. NEDER et al. (1999), realizaram
estudo com a uma amostra de 100 indivíduos saudáveis da população brasileira de ambos os
sexos, com idade entre 20 e 80 anos. E apartir da analise de regressão múltipla foram os
primeiros a desenvolver equações preditivas, sexo e idade dependestes, para PI máx e PE
máx, no estado de São Paulo (Quadro 2).
32

MASCULINO

PImáx - 0,80 (idade) + 155,3

PEmáx - 0,81 (idade) + 165,3

FEMININO

PImáx - 0,49 (idade) + 110,4

PEmáx - 0,61 (idade) + 115,6

Quadro 2: Equação de Pimáx e Pemáx previsto por Neder et al (1999).

2.7.3 Oximetria não-invasiva – Monitoração

Esta técnica permite a estimativa da SaO2 através da análise da absorção da luz pela
hemoglobina durante a passagem pelo leito capilar. É uma boa alternativa principalmente para
a avaliação dos resultados terapêuticos. Deve ser um recurso disponível para a rotina do
pneumologista, já que seus resultados são acurados e a técnica é simples e de baixo custo.
Valores acima de 90% costumam corresponder a uma PaO2 acima de 60 mmHg, indicando
um aporte satisfatório de O2 ao organismo (SILVA; RUBIN; SILVA, 2000).

Para Silva, Rubin e Silva (2000) as sugestões para a realização da oximetria não
inavasiva são:
• Deve fazer parte do exame físico, como o "quinto" sinal vital.
• Diagnóstico de hipoxemia.
• Estadiamento de doenças obstrutivas (DPOC, asma) e restritivas (fibrose pulmonar,
colagenose, proteinose alveolar etc.).
• Acompanhamento de atividade física seja em testes de exercício, na reabilitação ou na
atividade de rotina.
• Indicação e acompanhamento da oxigenoterapia.
• Monitoração do O2 durante cirurgias e procedimentos (por exemplo, endoscopias,
biópsias, polissonografia).
• Indicação e orientação da ventilação mecânica ou não-invasiva.
33

2.7.4 Questionário de sintomas respiratórios

São normalmente utilizados em avaliações em grupos, bem como em avaliações


individuais, como constituindo-se como instrumento complementar da anamnese.
Objetivando a avaliação da dispnéia e fadiga, entre os grupos expostos a fatores de risco
ambientais. Neste estudo foi utilizado, o questionário de sintomas respiratórios da American
Thoracic Society (Anexo)
34

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a função respiratória dos trabalhadores na indústria de cerâmica, para detectar


possíveis interferências do ambiente de trabalho na instalação de pneumoconioses.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Avaliar a força muscular;


• Avaliar alterações no pico de fluxo expiratório;
• Avaliar alterações na oxigenação periférica de forma não invasiva;
• Avaliar alterações do padrão muscular respiratório;
• Avaliar alterações nos sintomas respiratórios.
35

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 TIPO DE ESTUDO

Foi realizado um estudo do tipo descritivo, transversal de cunho exploratório, em 30


indivíduos do sexo masculino, trabalhadores da indústria de cerâmica do município de São
Miguel do Guamá – PA.

4.2 AMOSTRA

A seleção dos voluntários foi realizada de forma randômica na qual foram


selecionados 30 indivíduos do sexo masculino, na faixa etária entre 21 anos e 56 anos entre os
trabalhadores de cerâmica do município de São Miguel do Guamá - PA. Ao longo do estudo,
houve uma perda amostral de 1 voluntário, concluindo o experimento com 29 participantes
(idade= 32,24 ± 10,4 anos).

4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

• Voluntários que concordaram com o termo de consentimento livre e esclarecido


(TCLE), que foi previamente analisado e aprovado pelo comitê de ética da instituição.
• A população pesquisada foi composta apenas de indivíduos do sexo masculino, com
idade superior a 18 anos e que fossem trabalhadores da indústria de cerâmica no
município de São Miguel do Guamá – PA.
• Indivíduos com carga horária semanal de trabalho, igual ou superior a 30 horas e
tempo mínimo de serviço de um ano.
• Ausência de patologias pulmonares, tais como: tuberculose, enfisema pulmonar entre
outras.
36

• Ausência de doenças sistêmicas.

4.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

• Distúrbios de compreensão para responder os questionários.


• Dificuldades de cooperação com os exames propostos.
• Incapacidades de realizar os testes de função pulmonar.
• Presença de patologias pulmonares, já diagnosticadas, tais como: tuberculose,
enfisema pulmonar entre outras.
• Presença de doenças sistêmicas.

4.5 LOCAL DO ESTUDO

Os voluntários foram avaliados nas instalações da Câmara dos Diretores Lojistas


(CDL) de São Miguel do Guamá – Pa, localizado na rua 7 de Setembro, número 19. As
avaliações ocorreram nos dias 23 e 24 de outubro, 30 e 31 de outubro, 06 e 07 de novembro
de 2009.

4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Esta pesquisa foi realizada segundo os preceitos da Declaração de Helsinki e do


Código de Nuremberg (WORLD MEDICAL ASSOCIATION, 2008), respeitadas as Normas
de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Res. CNS 196/96) do Conselho Nacional de Saúde
(BRASIL, 1996).

O projeto foi aceito inicialmente pelo orientador da pesquisa (APÊNDICE A), pelo
local onde foram realizados os procedimentos avaliativos, Câmara dos diretores lojistas de
37

São Miguel do Guamá - Pa (APÊNDICE B), posteriormente foi submetido à avaliação pela
banca de qualificação e em seguida pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) envolvendo
seres humanos da Universidade da Amazônia – UNAMA (APÊNDICE C). Após aprovação
pelo Comitê e pela banca de qualificação, o projeto entrou em fase de execução. Os
voluntários, então, tomaram conhecimento e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (APÊNDICE D), no qual constaram: o objetivo do estudo, os
procedimentos de avaliação, os riscos e benefícios, o caráter de voluntariedade da
participação do sujeito e a responsabilidade por parte do avaliador, tendo sido respeitada a
privacidade e a total confiabilidade dos dados.

4.7 COLETA DE DADOS

4.7.1 Ficha de avaliação

Consistiu-se de uma avaliação global do estado de saúde dos voluntários através de


uma ficha de avaliação que foi dividida em cinco seções: a identificação, onde foram
registrados os dados pessoais dos voluntários; o histórico onde constava a exploração de
dados relativos à anamnese, na qual foram feitos questionamentos a respeito da presença de
doenças relativas aos critérios de exclusão; sinais vitais; exame físico, no qual foram
avaliados o padrão respiratório e a ausculta pulmonar; e as provas de função pulmonar,
avaliadas pelo peak-flow, manovacuômetro e oxímetro (APÊNDICE E). Posteriormente, foi
aplicado o questionário da ATS.

Neste momento os voluntários permaneceram sentados, numa posição confortável. Em


determinados pontos da avaliação foi necessário que o tórax do mesmo ficasse desnudo, para
melhor ausculta e determinação do padrão respiratório.
38

4.7.2 Instrumentos avaliativos

4.7.2.1 Peak flow

Procedimento de fácil realização, no qual o paciente foi orientado a realizar uma


expiração forçada máxima, a partir de uma inspiração máxima até a capacidade pulmonar
total (CPT). Essa orientação foi importante porque a medida do PFE é esforço-dependente,
sendo que não é necessário um esforço prolongado, já que o PFE ocorre dentro dos primeiros
150 milisegundos da expiração. Foram realizadas três manobras e o maior valor foi o
registrado.

Para a realização do PFE, foi utilizado o peak flow meter, adulto, modelo 3103, com
marcação de 60 a 900 L⁄min, fabricado por HS internacional – Clement Clarke, de origem
inglesa.

4.7.2.2 Manovacuometria

Na realização do teste de manovacuometria, os voluntários permaneceram sentados e


com o tórax ereto. Nesse momento as orientações continuaram sendo de grande importância,
visto que, para que esse ocorresse foi importante que o indivíduo compreendesse o método de
execução da manobra e colaborasse para que os esforços respiratórios fossem realmente
máximos.

Foi utilizado o manovacuômetro Wika, com valores de -300 cmH2O a 300 cmH2O,
fabricado pela Criticalmed, de origem brasileira.
39

4.7.2.3 Oximetria

Foi realizada no momento da avaliação enquanto o voluntário permanecia sentado sem


executar qualquer outra prova de avaliação pulmonar. Para a aferição desta foi utilizado o
oxímetro de pulso, modelo 9500, fabricado pela Nonin Medical, de origem USA.
40

5 RESULTADOS

O grupo estudado foi formado por 29 voluntários, do sexo masculino, trabalhadores da


indústria de cerâmica do município de São Miguel do Guamá, que foram avaliados
proporcionando as seguintes informações: característica da amostra, característica
antropométrica, característica hemodinâmica e dados da avaliação respiratória.

Tabela 1 - Distribuição dos valores médios e desvios padrões dos dados antropométricos dos
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Dados Antropométricos Média (X) Desvio Padrão (SD)

Idade (anos) 32,24 ± 10,4


Peso (kg) 67,31 ± 11,6
Altura (m) 1,69 ± 0,05

IMC(Kg/m2) 23,4 ± 3,5

* Valores representam a média (X), ± desvio padrão (SD) da idade, peso, altura e IMC dos voluntários da
pesquisa.

70
67,31
60

50
Valores

40

30 32,24

20 23,4

10
1,69
0
Idade (anos) Peso (Kg) Altura (m) IMC (Kg m-2)

Gráfico 1 - Distribuição dos dados antropométricos dos trabalhadores da indústria de


cerâmica.

Com relação à amostra foram observadas as seguintes características antropométricas,


dos 29 voluntários. A idade média foi de 32,24 anos, o peso médio foi de 67,31 kg a altura
41

média foi de 1,69 m e no índice de massa corpórea (IMC) observamos a média de 23,42 kgm-2
(Tabela 1).

Tabela 2 - Distribuição dos valores médios e desvios padrões do tempo de serviço dos
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Tempo de serviço Média (X) Desvio Padrão (SD)

Tempo de serviço em anos 7,82 ± 6,91

* Valores representam a média (X), ± desvio padrão (SD) do tempo de serviço dos voluntários da pesquisa.

O tempo de serviço dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel dos


Guamá, em anos teve como média 7,82 ± 6,91.

Tabela 3 - Distribuição dos valores percentuais das atividades ocupacionais exercidas pelos
trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Atividades Ocupacionais % N

Forneiro 24,1 7
Serviços gerais 51,8 15
Op. de máquinas 3,4 1
Ger. De produção 3,4 1
Chefe de produção 3,4 1
Aux. de produção 13.8 4

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) das atividades exercidas pelos voluntários,
participantes da pesquisa.
42

14% Forneiro
24%
3% Serv Gerais
3%
3%
Op. de Máquinas
Ger. de produção
Chefe de Produção
53% Aux. de Produção

Gráfico 2 - Distribuição das atividades ocupacionais, entre os trabalhadores da indústria de


cerâmica.

Quanto às ocupações no ambiente de trabalho, a pesquisa demonstrou que grande


parte dos voluntários avaliados, pertencia à categoria de serviços gerais representando 51,72
%, os forneiros representaram 24,13%, os auxiliares de produção representaram 13,79%, os
operadores de máquinas, gerente de produção e chefe de produção ambos representaram 3,4%
(Tabela 3).

Tabela 4 - Distribuição dos valores percentuais de voluntários com história de tabagismo,


trabalhando na indústria de cerâmica de São Miguel do Gama – Pará.
Tabagismo % N

Tabagista 34,4 10
Não tabagista 51,7 15
Ex-tabagista 13,7 quatro

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários tabagistas, não tabagistas e
ex-tabagistas, participantes da pesquisa.

Como a pesquisa se direciona a traçar o perfil respiratório dos trabalhadores de


cerâmica, um hábito de grande importância seria o questionamento sobre o tabagismo. Sobre
este obtivemos os seguintes dados: não tabagistas representaram a grande maioria com
percentual de 51,7%, enquanto os tabagistas representaram 34,4% e os ex-tabagistas 13,7%
(Tabela 4).
43

14%
34%
Tabagista
Não tabagista
Ex-tabagista

52%

Gráfico 3 – Distribuição da história de tabagismo, entre os trabalhadores da indústria de


cerâmica.

Tabela 5 - Distribuição dos valores percentuais de voluntários com queixas principais


(sistêmicas) entre os trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Queixas Principais - Sistêmicas % N

Irritação nos olhos 3,4 1


Dor de estômago 6,8 2
Dor nas costas 24,14 7
Dor no MMII (E) 3,4 1
Sintomas gástricos 3,4 1
Sistemas gástricos 3,4 1
NR 44,82 13

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários com queixas sistêmicas
entre os participantes da pesquisa.
44

4% 8% Irritação nos olhos


Dor de estômago
Dor nas costas
52% 28% Dor no MMII (E)
Sintomas gastricos
4% 4% NR

Gráfico 4 – Distribuição dos dados da queixa principal (sistêmica), entre os trabalhadores da


indústria de cerâmica.

No momento da avaliação, quando questionados sobre a queixa principal obtivemos


um leque de informações, que puderam ser divididas em queixas sistêmicas e queixas
respiratórias e sem queixas.
As queixas sistêmicas mais encontradas foram: dor nas costas 24,14%, dor de
estômago 6,8%, irritação nos olhos, dor no mmii (E) e sintomas gástricos, representaram
3,4%. Enquanto voluntários sem relatos de queixa principal representaram 44,82% (Tabela 5).

Tabela 6 - Distribuição dos valores percentuais de voluntários com queixas principais


(respiratórias) entre os trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá –
Pará.
Queixas Principais - Respiratórias % N

Cansaço 3,4 1
Tosse pela manhã 3,4 1
Dor no peito 3,4 1
Falta de ar 3,4 1
Sem Q.P - Resp 86 25

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários com queixas respiratórias
entre os participantes da pesquisa.
45

4% 3% 3%
3% Cansaço
Tosse pela manhã
Dor no peito
Falta de ar
Sem Q.P - Resp
87%

Gráfico 5 - Distribuição dos dados da Queixa Principal (Respiratória), entre os trabalhadores


da indústria de cerâmica.

As queixas relacionadas ao quadro respiratório foram: cansaço, com 3,4%, tosse pela
manhã 3,4%, dor no peito 3,4% e falta de ar 3,4% (Tabela 6).

Tabela 7 - Distribuição dos valores percentuais dos padrões musculares respiratórios entre os
trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Padrões Respiratórios % N

Apical 3,4 1
Diafragmático 24,13 7
Misto (apical) 41,37 12
Misto (diafragmático) 31,03 9

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
com seus respectivos padrões musculares respiratórios.
46

3%
31% 24% Apical
Diafragmático
Misto (apical )
Misto ( diafragmático)
42%

Gráfico 6 - Distribuição dos padrões respiratórtios, entre os trabalhadores da indústria de


cerâmica.

Na inspeção dos padrões respiratórios foram obtidos os seguintes dados: padrão


respiratório com predomínio apical 41,37%, padrão respiratório misto com predomínio
diafragmático 31,03%, padrão diafragmático 24,13% e padrão apical 3,4% (Tabela 7).

Tabela 8 - Distribuição dos valores percentuais dos sons pulmonares (auscultação) entre os
trabalhadores na indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Ausculta Pulmonar (sons pulmonares) % N

Murmúrio Vesicular sem Ruídos Adventícios 58,6 17


Murmúrio Vesicular diminuído bilateral 17,2 5
Murmúrio Vesicular diminuído Hemitórax (D) 7 2
Murmúrio Vesicular diminuído 1/3 inf. HTx (D) 7 2
Murmúrio Vesicular diminuído base 3,4 1
Ronco bilateral 2/3 inferior 3,4 1
Sibilo 1/3 médio Hemitórax (D) 3,4 1

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
com seus respectivos sons pulmonares.
47

Mv sem RA
3% 3% 3% Mv dim. bilat.
7%
7% Mv dim. HTx (D)
Mv dim.1/3 inf. HTx (D)
60% Mv dim. base
17%
Ronco bilat. 2/3 inf.
Sibilo 1/3 med.HTx (D)

Gráfico 7 - Distribuição dos dados da auscultação pulmonar, entre os trabalhadores na


indústria de cerâmica.

Na ausculta respiratória, foram obtidos os seguintes resultados: MV sem RA 58,62%,


MV diminuído bilateralmente 17,24%, MV diminuído no hemitórax (D) 6,89%, MV
diminuído no 1⁄3 inferior do hemitórax (D) 6,89%, MV diminuído na base 3,4%, presença de
roncos bilateralmente nos 2⁄3 inferiores 3,4% e sibilo no 1⁄3 médio do hemitórax (D) 3,4%
(Tabela 8).

Tabela 9 - Distribuição dos valores médios e desvios padrões dos dados hemodinâmicos dos
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Dados Hemodinâmicos Média (X) Desvio Padrão (SD)

FC (bpm) 68,68 ± 10,3


FR (irpm) 15,24 ± 3,03
PAS (mmhg) 121,4 ± 15,9
PAD (mmhg) 75,1 ± 15,9

* Valores representam a média (X), ± desvio padrão (SD) das freqüências cardíaca e respiratória e pressão
arterial sistêmica dos voluntários da pesquisa.
48

140

120
121,4
100
Valores

80
75,1
60 68,68

40

20 15,24
0
FC (bpm) FR (irpm) PAS (mmhg) PAD (mmhg)

Gráfico 8 - Distribuição dos dados hemodinâmicos dos trabalhadores da indústria de


cerâmica.

Com relação aos sinais vitais foram obtidas as seguintes médias: FR 15,24 irpm, FC
68,68 bpm, temperatura 35,17 C°, PAS 121,44 mmHg, PAD 75,17 mmHg. Todos os valores
encontram-se dentro dos padrões de normalidade (Tabela 9).

Tabela 10 – Distribuição dos valores médios e desvios padrões dos dados da funcional
respiratórios dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Dados Funcionais Respiratórios Média (X) Desvio Padrão (SD)

Peak Flow (L/min) 553,1 ± 74,3


Pi Max (cm H2O) -113,1 ± 45,5
Pe Max (cmH2O) 75,8 ± 24,2
SpO2 % 98,1 ± 0,97

* Valores representam a média (X), ± desvio padrão (SD) do fluxo máximo expiratório, das pressões
inspiratórias e expiratórias máximas e da saturação periférica de oxigênio dos voluntários da pesquisa.
49

600

553,1
500

400
Valores

300

200

100 98,1 113,1


75,8
0
SpO2 (%) Peak Flow PI max PE max
(L/min) (cmH2O) (cmH2O)

Gráfico 9 - Distribuição dos dados da função respiratória dos trabalhadores da indústria de


cerâmica.

Na avaliação da função respiratória, foram obtidas características relacionadas à


oximetria PSO2 ao (Peak flow) pico de fluxo expiratório, Pimáx e Pemáx. Os dados coletados
demonstram que a média de saturação foi de 98,1%, que o (Peak flow) pico de fluxo
expiratório foi de 553,1 l ⁄min, Pi máx 113,1 cmH2O e Pe máx 75,86 cmH2O (Tabela 10).

Tabela 11 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar dos trabalhadores da


indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Já sentiu falta de ar % N

Sim 37,93 11

Não 62,06 18

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
quanto à sensação de falta de ar.

No momento da avaliação constava também a aplicação de um questionário da ATS,


este constituia-se de perguntas relacionadas à dispnéia e fadiga.

Com relação à fadiga foi questionado: Já sentiu falta de ar - 37,93% responderam que
sim enquanto 62,06% responderam que não (Tabela 11).
50

38%

Sim
Não

62%

Gráfico 10 - Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar dos trabalhadores da


indústria de cerâmica.

Tabela 12 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar na maioria dos dias do
ano passado, dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Como se sentiu na maioria dos dias do ano passado (Dispnéia) % N

Sem falta 72,41 21


Leve 10,34 3
Moderada 17,24 5

Muito grave e grave 0 0

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
quanto à sensação de falta de ar na maioria dos dias do ano passado.
51

17%

10%
Sem falta
Leve
Moderada

73%

Gráfico 11 - Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar na maioria dos dias do
ano passado.

Quando questionados de como se sentiram na maioria dos dias do ano passado com
relação à dispnéia, 72,41% responderam sem falta de ar, 10,34% responderam leve falta de ar,
17,24% responderam moderada falta de ar, não foram mencionadas faltas de ar grave ou
muito grave (Tabela 12).

Tabela 13 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar no dia da avaliação, dos
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Como se sente hoje (Dispnéia) % N

Sem falta 89,65 26


Leve 3,4 1
Moderada 6,8 2

Muito grave e grave 0 0

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
quanto à sensação de falta no dia da avaliação.
52

3% 7%

Sem falta
Leve
Moderada

90%

Gráfico 12 - Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar no dia da avaliação.

No momento da avaliação com relação à dispnéia os voluntários referiram-se: sem


falta de ar 89,65%, leve falta de ar 3,4%, moderada falta de ar 6,8%, não foram mencionadas
falta de ar grave ou muito grave (Tabela 13).

Tabela 14 – Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar nas AVD's dos
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Como se sente na maioria das AVD's (Dispnéia) % N

Sem falta 79,31 23


Leve 17,24 5
Moderada 3,4 1

Muito grave e grave 0 0

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
quanto à sensação de falta nas AVD's.

Os voluntários quando questionados sobre a dispnéia nas AVD's, forneceram os


seguintes dados: sem falta de ar 79,31%, leve falta de ar 12,24%, falta de ar moderada 3,4%,
não foram relatadas falta de ar grave ou muito grave (Tabela 14).
53

3%
17%

Sem falta
Leve
Moderada

80%

Gráfico 13 - Distribuição dos valores quanto à sensação de falta de ar nas AVD’s.

Tabela 15 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga dos trabalhadores da


indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Já sentiu cansado % N

Sim 89,65 26

Não 10,34 3

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
quanto à sensação de fadiga.

10%

Sim
Não

90%

Gráfico 14 - Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga.


54

Segundo os dados obtidos na pesquisa com os trabalhadores da indústria de cerâmica


de São Miguel do Guamá, com relação à sensação de cansaço: 89,65%, afirmaram que sim,
enquanto 10,34% não referiram (Tabela 15).

Tabela 16 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga na maioria dos dias do ano
passado, dos trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Como se sentiu na maioria dos dias do ano passado (Fadiga) % N

Sem fadiga 17,24 5


Leve 24,13 7

Moderada 34,48 10
Grave 20,68 6

Muito grave 3,4 1

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
quanto à sensação de fadiga na maioria dos dias do ano passado.

3% 17%
21%
Sem cansaço
Leve
Moderado
24% Grave

35% Muito grave

Gráfico 15 - Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga na maioria dos dias do ano
passado.

Questionados sobre como se sentiram na maioria dos dias do ano passado com relação
à sensação de cansaço, foram obtidas as seguintes informações: sem fadiga 17,24%, leve
24,13%, moderada 34,48%, grave 20,68 e muito grave 3,4 (Tabela 16).
55

Tabela 17 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga no dia da avaliação, dos
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Como se sente hoje (Fadiga) % N

Sem fadiga 55,17 16


Leve 13,79 4
Moderada 20,68 6
Grave 6,8 2

Muito grave 3,4 1

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
quanto à sensação de fadiga no dia da avaliação.

7% 3%
Sem cansaço
21%
Leve
Moderado
55% Grave
Muito grave
14%

Gráfico 16 - Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga no dia da avaliação.

Foram relatadas pelos voluntários as seguintes informações sobre a fadiga no


momento da avaliação: sem fadiga 55,17%, leve 13,79%, moderada 20,68%, grave 6,8% e
muito grave 3,4% (Tabela 17).
56

Tabela 18 – Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga nas AVD's dos
trabalhadores da indústria de cerâmica de São Miguel do Guamá – Pará.
Como se sente na maioria das AVD's (Fadiga) % N

Sem falta 24,13 7


Leve 41,37 12
Moderada 20,68 6
Grave 13,79 4

Muito grave 0 0

* Os valores representam os percentuais (%) e números absolutos (N) de voluntários, participantes da pesquisa,
quanto à sensação de fadiga nas AVD's.

14% 24%
Sem cansaço
21%
Leve
Moderado
Grave

41%

Gráfico 17 - Distribuição dos valores quanto à sensação de fadiga nas AVDs.

Com relação à fadiga nas atividades do dia-a-dia foram obtidos os seguintes relatos:
sem fadiga 24,13%, leve 41,37%, moderada 20,68%, grave 13,79% e muito grave 0% (Tabela
18).

5.1 ANALISE DE DADOS

Todas as informações obtidas foram processadas utilizando programa Microsoft


Office Excel 2003 para o estudo descritivo. Nas análises foram utilizadas estatísticas
descritivas para apresentar os dados como média ± erro-padrão (EP) e porcentagem.
57

6 DISCUSSÃO

No ambiente das indústrias ceramistas há o predomínio do gênero masculino


(BARBOZA, 2008), tal fato justifica a escolha do mesmo para o presente estudo. Este fato
concorda com o perfil do trabalhador da indústria de cerâmica de Roraima, que ainda refere a
média de 32 anos de idade, apoiando a presente investigação que obteve a média de idade de
32,24 anos (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE RORAIMA – FIER;
2007).

Quando interrogados quanto às condições de saúde da avaliação geral, 44,82% dos


trabalhadores de São Miguel do Guamá afirmaram não apresentar nenhum tipo de problema,
dado semelhante foi encontrado nos trabalhadores de Roraima, onde 98,10% consideraram
sua saúde boa ou excelente. O estudo de Carneiro et al. (2002), referente aos trabalhadores
expostos à sílica em Belo Horizonte, contradisseram a presente investigação, apresentando
19,33% (tuberculose), 39% (com limitação crônica ao fluxo aéreo) e 9,4% (pneumopatias
diversas).

Nos voluntários do presente estudo foi observado o predomínio de dor nas costas
(24,14%), entre as queixas sistêmicas encontradas, corroborando o estudo da Federação das
Indústrias do Estado de Roraima-FIER (2007) que apresenta a mesma queixa como a mais
referida entre os trabalhadores da indústria de cerâmica de RO.

No estudo de Medeiros (2003), realizado com a poeira de gesso, foi relatado que entre
as queixas mais persistentes estavam irritação conjuntiva ocular (43%) e episódios de tosse
(39%). Na presente investigação os achados para estas queixas foram 3,4% e 3,4%,
respectivamente, corroborando com nossos achados quanto às queixas mais referidas pelos
voluntários, com relação aos problemas respiratórios e sistêmicos.

No presente estudo a média do fluxo expiratório máximo entre os voluntários foi de


553,1±74,3, o qual se apresenta abaixo do valor de normalidade, identificando possíveis
alterações das vias respiratórias (MENEZEZ, 1995). Em um estudo anterior com
trabalhadores expostos à sílica, atendidos ambulatorialmente em Belo Horizonte, também
foram referidos valores abaixo dos padrões de normalidade (CARNEIRO, 2002).
58

A força muscular respiratória foi avaliada através da manovacuometria. A PEmáx é


uma medida que indica a força dos músculos abdominais e intercostais enquanto que a PImáx
indica a força do músculo diafragma. Todavia, a maioria dos autores considera que a PImáx
responde a força do conjunto de todos os músculos respiratórios (COSTA et al., 2003).

Os dados do presente estudo apontam para uma diminuição dos valores de PEmáx e
PImáx em relação aos valores de normalidade encontrados na Tabela de Neder (1999). A
média da PEmáx foi de (75,8 cmH2O) e média da PImáx foi de (-113,1cmH2O).

Para a avaliação de sintomas como dispnéia e fadiga, desta amostra, utilizou-se do


questionário da ATS, entretanto, devido às características sócio-culturais da população alvo,
optou-se, neste estudo, por aplicá-lo verbalmente. Para todos os indivíduos, uma mesma
entrevistadora fez as perguntas referentes ao questionário, no qual 93% dos voluntários
afirmaram não apresentar dispnéia, enquanto no estudo semelhante com ex-trabalhadores
portadores de asbestose, a dispnéia foi relatada por 72,5% dos participantes (NÁPOLIS et al.,
2004).

Estudos anteriores afirmam que a silicose crônica é também conhecida como forma
nodular simples, é a mais comum, e ocorre após longo tempo do inicio da exposição, que
pode variar de dez a vinte anos, a níveis relativamente baixos de poeira. A dispnéia ao esforço
é o principal sintoma, e o exame físico na maioria das vezes, não mostra alterações
significativas no aparelho respiratório, este tipo de silicose pode ser observado nas indústrias
de cerâmica. Neste estudo constatamos que a dispnéia foi referida durante atividades de vida
diária por 20,6% dos voluntários, entre estes a média do tempo de serviço no ambiente da
indústria ceramista foi de 7,8 ± 6,9 (FAGUNDES; ZANELLATA, 2005).
59

7 CONCLUSÃO

Os resultados encontrados em nossa pesquisa demonstram que, embora sejam


conhecidos os problemas de saúde ocupacional em face da exposição a poeiras, poucos
estudos foram realizados com esta temática.

A pesquisa constatou que a maioria dos voluntários avaliados, apesar de não referirem
problemas quanto a saúde, o quadro respiratório desta classe de trabalhadores encontra-se
com alterações nas prova de funções pulmonares.

A sensação de fadiga e dispnéia foram sintomas clínicos relatados pelos participantes


do estudo.

No aspecto hemodinâmico não foram encontradas alterações, assim como nos padrões
musculares respiratórios.

Desta forma conclui-se que é necessário um olhar mais atencioso para as patologias
relacionadas ao ambiente de desenvolvimento das atividades dos trabalhadores da indústria de
cerâmica.
60

REFERÊNCIAS

BARBOSA, C. E. G. Tuberculose e silicose – epidemiologia, diagnóstico e quimioprofilaxia.


Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo - SP, v.34, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução 196/96. O Plenário do Conselho Nacional de


Saúde resolve aprovar diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo
seres humanos. Em 10 de outubro de 1996.

CARNEIRO, A. S et al. Perfil de 300 trabalhadores expostos à sílica atendidos


ambulatorialmente em Belo Horizonte. Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo - SP,
v.28, nov.-dez.2002.

CASTRO, H. A.; VICENTINI, G.; GONÇALVES, K. S. Estudo das internações hospitalares


por pneumoconioses no Brasil, 1993 – 2003. Revista brasileira de epidemiologia, Rio de
Janeiro – RJ, 2007.

CASTRO, H. A.; VICENTINI, G.; PEREIRA, K. C. X. Mortalidade por pneumoconioses nas


macrorregiões do Brasil no período de 1979-1998. Jornal brasileiro de pneumologia, São
Paulo - SP, v.29, mar.-abr. 2003.

CAPITANI, E. M.; ALGRANTI, E. Outras pneumoconiose. Jornal Brasileiro de


Pneumologia, São Paulo - SP, v.32, maio. 2006.

COSTA, D. Fisioterapia Respiratória Básica. São Paulo: Manole, 1999.

FAGUNDES, G.; ZANELLATO M. A. Silicose doença pulmonar ocupacional no


trabalhador de mineração. Univali.2006.

FILHO, M. T.; FREITAS, J. B. P.; NERY, L. E. Doenças asbesto-relacionadas. Jornal


brasileiro de pneumologia, São Paulo - SP, v.32, maio. 2006.

FILHO, T. M.; SANTOS, P. U. Silicose. . Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo -


SP, v.32, maio. 2006.

GOMES, M. J. M. Ambiente e pulmão. Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo - SP,


v.28, nov.-dez.2002.
61

GOUVEIA, N.; FREITAS, C. U.; MARTINS, L. C.; MARCILIO, I. O. Hospitalizações por


causas respiratórias e cardiovasculares associadas à contaminação atmosférica no Município
de São Paulo, Brasil. Caderno de saúde pública, Rio de Janeiro – RJ, v.22, dez.. 2006.

LIDO, V. A.; KITAMURA, S.; OLIVEIRA, I. J.; LUCCA, R. S.; AZEVEDO, Z. A. V.;
BAGATIN, E. Exposição ocupacional e ocorrência de pneumoconioses na região de
Campinas (SP) Brasil, 1978 – 2003. Jornal brasileiro de pneumologia, 2008.

MEDEIROS, M. S. Poluição ambiental por exposição à poeira de gesso – impactos na saúde


da população. Centro de pesquisas Aggeu Magalhães, Recife, 2003.

MEIRELLES, G. S. P.; KAVAKAMA, J. I.; RODRIGUES, R. T. Imagem nas doenças


ocupacionais pulmonares. Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo - SP, v.32, maio.
2006.

MENEZES, A. M. B. et al. Valores de referência para o pico de fluxo expiratório em


adultos acima de 40 anos, Pelotas, RS. [S.1.]: J. Pneumol., 1995.

NEDER, J. A., ANDREONI, S., LERARIO, M.C., NERY, L.E. Reference values for lung
function tests II: maximal respiratory pressures and voluntary ventilation. Braz J Med
Biol Res. 1999; 32:719-27.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Atenção à Saúde. Pneumoconioses – saúde do


trabalhador, protocolos de complexidade diferenciada. Brasília DF, 2006.

MULLER, L. N.; FRASER, S. R.; LEE, S. K.; JOHKOH, T. Doenças do pulmão –


correlação radiológica e patológica. Rio de Janeiro, RJ: Revinter, 2005.

NÁPOLIS, L. M. et al. Dispnéia crônica e alterações funcionais respiratórias em ex-


trabalhadores com asbestose avaliados para concessão de benefício. Jornal brasileiro de
pneumologia, São Paulo - SP, v.30,2004.

NASCIMENTO, T. T. N.; OJIMA, R. Dispersão urbana e doenças respiratórias – uma


avaliação preliminar dos impactos do espraiamento urbano. III Encontro da ANPPAS,
Brasília – DF, 23 a 26 de maio de 2006.

PRESTO, L. V. P.; PRESTO, L. D. N. Fisioterapia respiratória – uma nova visão. Rio de


Janeiro, RJ: Bruno Presto 2005.
62

PRYOR, J. A.; WEBBER, B. A. Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos.


Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan 2002.

TILKIAN, A. G.; CONOVER, M. B. Entendendo os sons e sopros cardíacos – com


introdução aos sons pulmonares. São Paulo, SP: Rocca 2004.

WORLD MEDICAL ASSOCIATION. Declaration of Helsink. Ethical principles for


medical research involving human subjects. 59th WMA General Assembly, Seoul, October.
2008.
63

APÊNDICE A

-
-
64

APÊNDICE B

-
65

APÊNDICE C

-
-
66

APÊNDICE D

-
67

-
-
-
68

APÊNDICE E

-
-
69
70

ANEXO ATS

-
71

-
-
-
72

-
-
-
73

-
-
-
74

Você também pode gostar