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SUMÁRIO

1. Introdução e conceito................................................ 3
2. Fisiopatologia............................................................... 3
3. Etiologia.......................................................................... 5
4. Quadro clínico............................................................... 7
5. Disfunções do nó sinoatrial..................................... 7
6. Distúrbios de condução atrioventricular..........10
7. Tratamento..................................................................17
8. Indicações de marca-passo cardíaco................20
Referências bibliográficas..........................................23
BRADIARRITMIAS 3

1. INTRODUÇÃO E rize a célula, mecanismo muito se-


CONCEITO melhante ao da despolarização dos
neurônios.
O nó sinoatrial (NSA) dita a frequên-
cia cardíaca (FC) através da geração O NSA apresenta células com a me-
de estímulos elétricos que são propa- lhor adaptação para essa capacidade
gados por todo o sistema de condu- de automatismo, apresentando então
ção cardíaco (figura 1). A capacidade a maior frequência de disparo. Isso
de deflagrar um impulso elétrico dimi- faz com que o NSA apresente a maior
nui à medida que se afasta do NSA e, capacidade de disparo espontâneo, e
por isso, qualquer condição que afete portanto, seja encarregado por ditar
o NSA fará com que o próximo nível a frequência de disparo do estímulo
controle a FC. cardíaco. Obviamente, as células do
NSA não são independentes de re-
As bradiarritmias são arritmias que
gulação. Elas têm sua frequência re-
cursam com FC < 60 bpm (< 50
gulada principalmente através da ati-
bpm, a depender da fonte), seja de
vação do sistema nervoso autônomo
forma transitória ou permanente. Ela
simpático e parassimpático. Estímulos
ainda pode ser classificada como
simpáticos (adrenérgicos) aumentam
relativa, ou seja, quando a FC está
o automatismo do NSA, aumentando
dentro dos valores de normalidade,
a frequência cardíaca, e estímulos no-
mas encontra-se abaixo da frequên-
radrenérgicos (colinérgicos) reduzem
cia exigida pela demanda metabóli-
a FC.
ca do organismo.
NA PRÁTICA! Essas células com gran-
CONCEITO! De forma objetiva, bradiar- de propriedade de automatismo, apre-
ritmia é um ritmo com FC < 60 bpm, que sentam canais de sódio que permitem
pode ou não estar associado a sintomas influxo de sódio quando a membrana
e a uma doença cardíaca ou sistêmica. está em repouso, lentamente causando
a despolarização da célula. Uma vez que
essa despolarização atinge certo ponto
2. FISIOPATOLOGIA (cerca de -60mv), os canais de cálcio
do tipo L se abrem e o influxo de cálcio
O coração possui células com pro- permite a fase rápida da despolariza-
ção celular. Dessa forma, uma vez que
priedades de automatismo, principal-
há canais de sódio especiais que ficam
mente no NSA, em outras áreas do abertos no período de repouso da mem-
átrio, NAV, feixes de His e na rede de brana, ela sempre irá deflagrar automa-
Purkinje. Esse automatismo é a capa- ticamente potenciais de ação e iniciar o
estímulo cardíaco.
cidade que essas células apresentam
de espontaneamente desencadear
um potencial de ação que despola-
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As células do NSA não são as únicas consideravelmente mais lentos, com


que apresentam essa capacidade, no FC < 50 bpm, sendo frequentemente
entanto, por apresentarem maior fre- ritmos que deflagram sintomas nos
quência de disparo, elas costumam pacientes devido à FC reduzida.
comandar a frequência cardíaca. Em
situações em que o NSA está doen- CONCEITO! O automatismo é a capa-
te, o ritmo pode ser iniciado por áreas cidade que algumas células possuem
ectópicas do átrio, que também apre- de despolarizar e iniciar um potencial
sentam capacidade de automatismo, de ação de forma espontânea, sem que
esse potencial seja resultado da estimu-
no entanto, normalmente apresentam lação prévia por outra célula. As células
frequência discretamente menor. Rit- com maior frequência de automatismo
mos deflagrados no NAV ou no ven- tendem a ditar o ritmo cardíaco.
trículo costumam apresentar ritmos

Figura 1: Sistema de condução cardíaco.


Disponível em: http://www.arritmiacardiaca.com.br/p_entendendo01.php
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3. ETIOLOGIA te nesse capítulo, mas é importante


que você saiba que nela o NSA con-
O conceito de bradiarritmias é didá-
tinua gerando o estímulo inicial do
tico, e possui a intenção de estabele-
sistema elétrico cardíaco, e essa len-
cer um diagnóstico sindrômico de um
tificação do ritmo pode ser causada
grupo de diversas alterações dife-
por doenças sistêmicas como o hipo-
rentes que no fim, tem por resultado
tireoidismo, hipotermia, hipertensão
comum, a redução da FC < 60bpm.
intracraniana e distúrbios hidroele-
Tendo isso em mente, não é difícil
trolíticos. No caso do hipotireoidismo,
entender que, por serem compostos
uma vez que a redução dos hormô-
por diversos processos patológicos, a
nios tireoidianos causa diminuição do
etiologia desses processos também
metabolismo e do estímulo catecola-
vai ser muito diversa e depender do
minérgico, importante para a eleva-
tipo específico de bradiarritmia.
ção da FC.
De forma geral, uma das principais
Medicamentos como bloqueado-
causas é a degeneração idiopática
res do canal de cálcio (diltiazem por
do sistema de condução, o que nor-
exemplo), betabloqueadores (como
malmente ocorre em pacientes mais
o metoprolol) e anestésicos gerais
velhos que passam a apresentar al-
(como o midazolam) também são
terações do sistema de condução,
causadores de bradicardias sinusais.
causando bloqueios do NSA, NAV
Além disso, algumas pessoas, princi-
ou de outras partes do sistema de
palmente atletas, podem apresentar
condução, sem doença isquêmica, in-
maior tônus vagal, o que causa pre-
fecciosa ou infiltrativa que explique o
domínio do sistema parassimpático
quadro. Dessa forma, para se creditar
sobre a frequência cardíaca em re-
etiologia idiopática ao quadro de bra-
pouso, e podem apresentar bradicar-
diarritmia, é importante que seja re-
dia sinusal sem nenhum significado
alizada uma investigação prévia que
patológico.
exclua outras causas comuns de bra-
diarritmias.
ATENÇÃO! Fique atento! Pacientes que
Doenças sistêmicas, medi- se apresentam com bradicardia e traça-
camentos ou até mesmo do sinusal, devem levantar alerta para a
adaptações fisiológicas do presença de doenças sistêmicas como
hipotireoidismo, uso de medicamentos
indivíduo, frequentemen-
e podem apenas ser vagotônicos, apre-
te causam bradicardia sentando uma “bradicardia fisiológica”. É
sinusal. A bradicardia muito importante perguntar a esses pa-
sinusal será melhor cientes sobre medicamentos em uso e
doenças previamente conhecidas.
explorada mais a fren-
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A doença isquêmica do coração é uma de condução associadas à doença


causa importante de bradiarritmia, isquêmica são diversas, e dependem
podendo causar alterações da fun- da área do coração que sofrem a is-
ção do NSA, bloqueios atrioventricu- quemia. Obstruções da coronária di-
lares de graus variados ou bloqueios reita, por exemplo, podem causar is-
de ramos específicos do sistema de quemia na região do NSA, causando
condução. As alterações do sistema bloqueios do mesmo.

ETIOLOGIAS DAS BRADIARRITMIAS

Doenças sistêmicas
– hipotireoidismo,
Doenças
hipotermia, hipertensão
isquêmicas do
intracraniana
coração

ETIOLOGIA Medicamentos – bloqueados


do canal de cálcio, beta
bloqueadores, anestésicos
(midazolam)
Degeneração
idiopática do
sistema de
condução
Maior tônus
vagal (atletas)

SAIBA MAIS
Na aula Bradiarritmias #aprenda, o professor Thiago Aragão cita o Lupus Eritematoso Con-
gênito como etiologia de bloqueio atrioventricular de terceiro grau congênito. Se você gosta
de pediatria, cardiologia, ou ficou curioso para saber mais sore isso, nós separamos esse
artigo para aprofundar o tema: Friedman, D., Rupel, A., Glickstein, J. and Buyon, J. (2002).
Congenital heart block in neonatal lupus: The pediatric cardiologist’s perspective. The Indian
Journal of Pediatrics, 69(6), pp.517-522.
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4. QUADRO CLÍNICO de bradiarritmia pode ser fei-


ta já no início do exame físico,
Normalmente os quadros de bradi-
ao avaliar o pulso do paciente,
cardia só apresentam sintomas com
dessa forma guiando
frequências abaixo de 50bpm, e ain-
o médico a comple-
da assim, muitos pacientes podem
mentar a avaliação
se apresentar assintomáticos com FC
do quadro com um ele-
em torno de 45bpm. Os sintomas fre-
trocardiograma (ECG).
quentemente são inespecíficos, como
tontura, intolerância aos exercícios, No decorrer do capítulo, serão abor-
turvação visual, pré-síncope e síncope. dados os tipos de bradiarritmias a
seguir:
Em pacientes com relato de síncopes,
é muito importante que se realize uma 1. Disfunção do nó sinusal:
boa anamnese buscando esclarecer • Bloqueios sinoatriais (BSA)
se a síncope foi súbita, se foi prece-
dida por sintomas ou por mal estar e • Pausas sinusais
se houve algum estímulo vaso-vagal • Síndrome bradicardia-taquicardia
que possa ter causado a síncope.

QUADRO CLÍNICO DAS BRADIARRITMIAS 2. Bloqueios atrioventriculares (BAV):


• BAV 1º grau
• BAV 2º grau
Pré-síncope Tontura
• BAV 3º grau

5. DISFUNÇÕES DO NÓ
QUADRO
Síncope CLÍNICO SINOATRIAL
Intolerância
ao esforço
As disfunções do nó sinoatrial podem
resultar de um problema na geração ou
Turvação
na saída do estímulo elétrico do NSA.
visual Podem aparecer em indivíduos apa-
rentemente normais, nas situações de
vagotonia (vômitos, emoções, estimu-
lação do seio carotídeo e micção), no
A boa notícia é que, apesar de sin- uso de fármacos parassimpaticomimé-
tomas muito inespecíficos, frequen- ticos, betabloqueadores, bloqueado-
temente a suspeita de um quadro res dos canais de cálcio, amiodarona,
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clonidina, propafenona, digitálicos e 5.1 Bloqueio Sinoatrial


nas intoxicações exógenas.
O BSA se caracteriza como o distúr-
A causa mais frequente é a degene- bio de condução do estímulo do NSA
ração das células do NSA e sua subs- para os átrios e ventrículos, diagnosti-
tituição por fibras de colágeno. Este cado no eletrocardiograma pela ocor-
processo é mais comum em idosos, rência de pausas cuja duração em ge-
visto que a hipoperfusão gerada pelo ral é o dobro do intervalo RR normal e
processo aterosclerótico (comum não precedidas de onda P.
nesse grupo) intensifica a degenera-
O NSA é composto por dois grupos
ção. A tabela (tabela 1) a seguir traz
principais de células: células marca-
as causas de disfunções do NSA,
passo (células P), que produzem o
classificando-as em extrínsecas e in-
estímulo elétrico, e células transicio-
trínsecas.
nais (células T), que ficam na periferia
e são responsáveis pela transmissão
Disfunção intrínseca do impulso para o átrio direito. Como
Doença degenerativa idiopática
o estímulo elétrico produzido pelas
células P é bloqueado na periferia, o
Infiltrativas (amiloidose, hemocromatose).
BSA é também denominado de blo-
Inflamatória (pericardite, miocardite).
queio de saída do nó sinusal.
Músculo-esquelética (distrofia de
Duchenne, ataxia de Friedreich). Os distúrbios podem se manifestar
Doença do colágeno (Lúpus, como atraso na condução (primeiro
esclerodermia). grau), bloqueios intermitentes (se-
Pós-operatório (procedimento de gundo grau) ou bloqueio completo
Mustard, correção de comunicação (terceiro grau). Os bloqueios do se-
interatrial). gundo grau apresentam duas varie-
Disfunção extrínseca dades: tipo I (fenômeno de Wencke-
Efeito de drogas (antiarrítmicos, bach) e tipo II (tudo ou nada).
antihipertensivos).
No BSA, o NSA gera o estímulo, mas
Distúrbios hidroeletrolíticos (hipercalemia,
ele ou não é transmitido para os átrios
principalmente).
ou é transmitido com atraso, resultan-
Distúrbio endócrino (hipotireoidismo)
do em uma pausa entre duas ondas P
Infartos do miocárdio (parede inferior)
ou sua ausência. O bloqueio sinoatrial
Diversos (hipersensibilidade do seio pode ser classificado em:
carotídeo, síncope vasovagal,
hipertensão intracraniana) • BSA de 1o grau: a condução do im-
Tabela 1: Causas de disfunção do NSA pulso do NSA aos átrios é atrasada.
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Não pode ser detectado em um aproximadamente a duas vezes


eletrocardiograma normal, pois o o intervalo P-P anterior. Também
impulso sinusal não é visível. pode ser 3 ou 4 vezes maior do
que intervalo anterior à pausa.
• BSA de 2o grau tipo I (Wencke-
bach): encurtamento progressivo • BSA de 3o grau: é registrado como
do intervalo P-P até que aparece a ausência de ondas P, mas não
um intervalo P-P mais longo (que pode ser confirmado sem eletro-
contém o impulso bloqueado). O cardiograma prévio com ritmo si-
intervalo P-P mais longo é menor nusal ou estudo eletrofisiológico,
que a soma de dois intervalos con- pois ele é indistinguível da parada
secutivos. sinusa.
• BSA de 2o grau tipo II: um inter-
valo sem ondas P que equivale

Figura 2: Bloqueio sinoatrial de 2º grau tipo I, com encurtamento progressivo do intervalo P-P anterior ao impulso
bloqueado. O intervalo P-P mais longo é menor do que a soma de dois intervalos anteriores.

5.2 Pausa sinusal Na pausa sinusal, os intervalos P-P


anteriores à pausa são constantes, e
A pausa sinusal é causada pela au-
o intervalo P-P da pausa tem duração
sência de geração de impulsos elé-
menor do que a do intervalo P-P an-
tricos no NSA. No eletrocardiograma,
terior multiplicado por dois (a próxima
a principal característica da pausa si-
onda P aparece fora do ciclo habitual).
nusal é o prolongamento do intervalo
entre as ondas P.

Figura 3: Pausa sinusal não patológica, com intervalos P-P anteriores constantes de 1.24 seg, com pausa
de 2.12 seg, menor que o dobro dos anteriores.
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Não há consenso sobre quando uma de disfunção do NSA, sendo reco-


pausa sinusal é considerada patoló- mendado realizar estudos adicionais.
gica. É frequente encontrar, no Hol-
ter, pausas sinusais superiores a 2
segundos, sem sintomas associados, 5.3 Síndrome de Bradicardia-
sem implicar em disfunção do NSA. Taquicardia

É importante correlacionar os sinto- Outra forma de apresentação da dis-


mas com os achados eletrocardiográ- função do NSA é a síndrome de bra-
ficos. Em geral, uma pausa superior a dicardia-taquicardia.
3 segundos, é considerada sugestiva Apresenta-se como episódios de bra-
dicardia sinusal seguidos por taquiar-
ritmias.

Figura 4: Bradicardia sinusal que alterna com fibrilação atrial rápida, terminando com uma longa pausa.

As taquiarritmias tendem a terminar ocorrem. Em geral, os bloqueios be-


espontaneamente produzindo uma nignos ocorrem no NAV e os malig-
pausa sinusal prolongada. nos no feixe de His ou em seus ramos
direito ou esquerdo. As causas de
BAV estão listadas na tabela abaixo:
6. DISTÚRBIOS DE CONDUÇÃO
ATRIOVENTRICULAR
CAUSAS DE BAV
Os bloqueios atrioventriculares (BAV)
• Doença aterosclerótica;
são distúrbios da condução decorren-
tes da lentificação da condução nos • Doença valvular calcificada;
átrios, no nó atrioventricular (NAV), • Doenças do colágeno;
ou no feixe de His e seus ramos. Há • BAV congênito;
um bloqueio ou retardo acentuado, • Efeito de drogas;
transitório ou permanente, da con- • Fibrose idiopática;
dução do estimulo estímulo elétrico • Doenças inflamatórias;
dos átrios para os ventrículos. Os blo- • Trauma;
queios podem ser benignos ou ma- • Tumores.
lignos, dependendo da altura em que
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BAV pode ser de três tipos: seja, supra-hissiano, mas também


pode ser nos átrios e no restante
• BAV de 1o grau: ocorre apenas do sistema de condução. O QRS
um retardo na condução do NAV, alargado fala a favor de problemas
perceptível por um intervalo P-R na condução distal, enquanto QRS
aumentado > 0,20 seg (figura 5). estreito indica retardo no próprio
Nesse tipo, o local onde ocorre o NAV;
atraso é tipicamente o NAV, ou

Figura 5: Bloqueio atrioventricular de 1º grau

• BAV de 2o grau : eventualmen- que uma onda P é bloqueada e


te alguma onda P é bloqueada na não é correspondida por um QRS.
junção atrioventricular junção AV, Esse fenômeno é chamado de
podendo ainda ser subdividido em: fenômeno de Wenkebach. É um
bloqueio supra-hissiano (figura
• Mobitz tipo I: de evolução mais
6). É considerada uma bradiarrit-
insidiosa, ocorre um aumento
mia benigna.
progressivo do intervalo P-R, até

Figura 6: Bloqueio atrioventricular de 2º grau Mobitz I

• Mobitz tipo II: pode progre- sem variação do intervalo P-R (fi-
dir abruptamente para BAV total gura 7). O intervalo P-R. Geral-
(BAVT). Alguns estímulos atriais mente, é infra-hissiano, mas pode
são conduzidos e outros não são, ser intra-hissiano. R não varia.
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Figura 7: Bloqueio atrioventricular de 2º grau Mobitz II

• Tipo 2.1: se observa uma onda P se é tipo I ou tipo II, porque não se
conduzida que alterna com uma pode determinar se o PR varia ou
onda P bloqueada. Como não é constante, devendo-se realizar
existem dois intervalos PR conse- um exame complementar como o
cutivos, é impossível determinar Holter.

Figura 8: Bloqueio atrioventricular de 2º grau tipo 2:1

• Avançado: se observa mais de risco e de pior prognóstico do que


uma onda P não conduzida con- os anteriores, podendo ocasionar
secutivas (3:1 ou mais). É de maior bradicardia severa sintomática.

Figura 9: Bloqueio atrioventricular de 2º grau avançado


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ATENÇÃO! Lembre-se da aula do Dr.


Thiago: No BAVT o ritmo atrial e o ritmo
ventricular são dissociados. O ventrícu-
lo dá “unfollow” no átrio. Por isso esse é
um BAV mais grave, com maior risco de
instabilidade hemodinâmica.
• BAV de 3o grau ou BAV total
(BAVT): Há uma interrupção com-
pleta do estímulo do NSA para os
ventrículos, marcado no eletrocar-
diograma por ondas P dissociadas
do complexo QRS (figura 10), em-
bora sejam regulares entre si (P-P
regular e R-R regular).

Figura 10: Bloqueio atrioventricular de 3º grau


BRADIARRITMIAS 14

CLASSIFICAÇÃO DAS BRADIARRITMIAS

DISTÚRBIO
DISFUNÇÃO
TIPOS DE
DO NÓ SA
CONDUÇÃO
AV

Síndrome
Pausa sinusal Bradi-Taqui
BAV de BAV de BAV de
1º grau 2º grau 3º grau
Prolongamento
do intervalo entre Bloqueio
ondas P Sinoatrial
Intervalo PP BAVT
aumentado
Pausa com duração (> 0,20 s)
= ao dobro do Ondas P
RR normal e não dissociadas do
precedido de onda P. QRS

Mobitz I Mobitz II

2º grau 2º grau
1º grau Tipo I Tipo II 3º grau
Aumento Algumas ondas
progressivo do P são conduzidas
Ausência de PP até bloqueio e outras são
Não detectado Encurtamento Intervalo entre ondas P onda P de onda P bloqueadas
por ECG progressivo do PP aproximadamente 2x
até PP mais longo maior em relação ao PP
anterior
2:1 Avançado
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6.1 Achados clínicos normais do paciente e durante o


seu sono.
A bradicardia sinusal geralmente é
assintomática, mas pode aparecer na • Ecocardiograma Doppler: é um
forma de tontura, fadiga, intolerância exame importante na avaliação
aos esforços e, raramente, pré-sínco- de qualquer bradicardia, uma vez
pe e síncope. Ao exame físico, pode que, permite a análise do tamanho
haver hipotensão ortostática e con- do coração, das válvulas cardíacas,
gestão pulmonar. contração do músculo e de regiões
funcionalmente inativas. Em espe-
cial, verifica-se a importância de
6.2 Diagnóstico e exames sua realização em pacientes assin-
complementares tomáticos, visto que a bradicardia
O diagnóstico baseia-se no exame pode levar à dilatação das câma-
clínico e na realização das provas ele- ras cardíacas.
trocardiográficas descritas a seguir: • Teste ergométrico: trata-se de um
ECG convencional de 12 derivações: eletrocardiograma realizado du-
é importante para determinar a FC, rante o esforço físico do paciente,
ritmo cardíaco, presença de bloqueios o qual permite identificar de arrit-
cardíacos do tipo atrioventriculares ou mias induzidas pelo esforço e ava-
bloqueio de ramos e outras arritmias. liar o prognóstico de uma arritmia.
• Holter: Consiste na gravação con- Normalmente é um exame mais
tínua do ritmo cardíaco por um pe- útil para a observação de taquiar-
ríodo de 24 ou 48 horas, permitin- ritmias, ou alterações eletrocardio-
do identificar arritmias paroxísticas, gráficas induzidas pelo esforço,
quantificar batimentos normais e no entanto, é um recurso útil para
anormais, correlacionar sintomas observar a resposta de pacientes
com alterações do ritmo, avaliar bradicárdicos ao exercício, princi-
efeito de antiarrítmicos, e detectar palmente quando esses pacientes
episódios de isquemia miocárdica. relatam intolerância ao exercício fí-
É um exame de grande utilidade sico.
para diagnóstico, principalmente, • Estudo eletrofisiológico: consiste
de arritmias cardíacas, pois permi- na colocação de eletrodos intracar-
te avaliação durante as atividades díacos para registro e estimulação
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miocárdica, objetivando avaliar a citados anteriormente não elucida-


função do NSA e a condução atrio- rem o diagnóstico ou prognóstico
ventricular. É um exame que deve de uma possível bradiarritmia.
ser solicitado quando os exames

DIAGNÓSTICO DAS BRADIARRITMIAS

Colocação de eletrodos
intracardíacos para Permite identificar de
registro e estimulação arritmias induzidas
miocárdica, objetivando pelo esforço e avaliar
avaliar a função do o prognóstico de uma
NSA e a condução arritmia
atrioventricular

Estudo Teste
eletrofisiológico ergométrico

DIAGNÓSTICO

Ecodoppler Holter

Permite a análise Gravação contínua do


do tamanho do ritmo cardíaco por um
coração, das válvulas período de 24 ou 48
cardíacas, contração do horas
músculo e de regiões
funcionalmente inativas
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7. TRATAMENTO Mediante a abordagem inicial, proce-


de-se com a administração de atropi-
O tratamento na emergência é indi-
na na dose de 0,5mg (EVIV) repetida
cado somente nos casos em que a
a cada 3 a 5 minutos até uma dose
bradicardia, independente do seu tipo
máxima total de 3,0 mg. No entanto,
ou causa, provoca uma redução sig-
é importante salientar que a atropina
nificativa na pressão arterial sistêmi-
não será efetiva nos pacientes trans-
ca, com sinais clínicos de baixo débito
plantados ou com BAV de segundo
cardíaco ou quando surgem focos de
grau do tipo II e BAVT. A atropina
despolarização ectópica.
deve ser evitada nas bradiarritmias
por hipotermia.
ATENÇÃO! Os sintomas de instabilida-
de são os 5 Ds! Diminuição da PA (hi-
potensão), desmaio, diminuição do nível ATENÇÃO! O sistema parassimpático,
de consciência, dispneia e dor torácica. através do vago, só emite ramos para o
O tratamento para esses pacientes exi- átrio e NAV, dessa forma, bloqueios que
ge muita atenção e deve ser iniciado ocorrem no nível do NAV ou abaixo des-
com atropina 0,5mg EV e progredir para te, muitas vezes não apresentam res-
implante de marcapasso. No contexto posta a atropina. Por isso, a atropina não
emergencial, o marcapasso transcutâ- apresenta boa eficácia no tratamento de
neo é uma excelente alternativa por não pacientes com BAV de segundo grau do
exigir o deslocamento do paciente para tipo II e BAVT.
um centro cirúrgico.

Na ausência de reversão do quadro


Já nas situações de bradicardia instá- clinico, usa-se os métodos de segun-
veis em que são identificados sinais da opção, que são os marcapasso
de choque, hipotensão, má perfusão (tabela 2), adrenalina (2 a 10 μg/mi-
periférica, síncope ou pré-síncope, nuto) e dopamina (2 a 10 μg/kg/mi-
dor precordial ou dispneia, o pacien- nuto). No entanto, estas duas últimas
te deverá ser conduzido com atendi- medicações devem ser empregadas
mento inicial, que consiste na manu- como medida temporária à instalação
tenção das vias aéreas, assistência do marcapasso, nos casos em que o
à ventilação por oferta de oxigênio paciente não responde à atropina ou
suplementar, além da monitorização quando nas situações em que o mar-
do ritmo cardíaco, oximetria de pulso, capasso não se mostra efetivo no tra-
avaliação da pressão arterial e esta- tamento da bradicardia.
belecimento de acesso venoso e rea- O Marcapasso transcutâneo é usado
lização do ECG convencional. através de pás adesivas que devem
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ser conectadas ao tó- ajustar a corrente um pouco acima da


rax do paciente, po- corrente mínima para conseguir cap-
dendo uma delas ser tura elétrica. Por último, pulsos cen-
posicionada no precórdio trais (femoral ou carotídeo) devem ser
e a outra no dorso do hemitórax es- palpados para confirmar que cada
querdo, posterior ao coração, ou com QRS está sendo efetivamente corres-
uma no hemitórax direito, na região pondido por uma pulsação.
da 2º espaço intercostal e o outro no
ápice do coração. O paciente precisa
de uma sedação leve e analgesia efe-
tiva, que pode ser obtida com o uso de
opioides (como a morfina e o fentanil)
ou a ketamina, um sedativo com alta
potência analgésica. O marcapasso
deve então ser ligado, ajustada a fre-
quência desejada, o modo do marca-
passo (que pode ser fixo, que é me-
nos utilizado) ou de demanda, onde o
marcapasso só vai disparar quando a
FC do paciente estiver abaixo da fre-
quência ajustada no aparelho.
Deve ser ajustada então a corrente,
de forma que cada espícula do mar-
capasso no ECG, desencadeie des-
polarização ventricular, observada
pela presença do QRS. É prudente
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CONDUTAS NA EMERGÊNCIA BRADIARRITMIAS

AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DA CONDIÇÃO CLÍNICA

Abordagem inicial:
-Monitorização
Auxílio à respiração conforme a necessidade de proteção de via aérea
Oxigenoterapia se hipoxemia
Obennha um acesso venoso
Solicite um ECG com 12 derivações

Hipotensão
Alteração agudo do
nível de consciência
Sinais de choque
Há Desconforto torácico
instabilidade Insuficiência cardíaca aguda

NÃO SIM Atropina 0,5mg EV em bolus


Monitore e observe (pode repetir a cada 3-5 min até
máximo de 3mg)

Avalie o ECG de 12 derivações

Se atropina ineficaz:
Bradiarritmia maligna? Estimulação com MPTC
Ou
Dopamina 2-10 mcg/kg/min EV
NÃO Ou
Adrenalina 2-10mcg/min EV

Monitorização e SIM
investigação

Hipoxemia
BAC de 2º grau Mobitz II Considere
Distúrbios eletrolíticos
BAV 2:1 Avaliação do
Reflexo vagal
BAV avançado cardiologista
Hipotireoidismo
BAVT Estimulação com MP
IAM
Ritmo de escape ventricular transvenoso
Medicamentos
BRADIARRITMIAS 20

Deve ser usado rapidamente


nas bradiarritmias
resistentes à atropina, princi-
Marcapasso palmente naquelas
Transcutâneo com BAV severo (Mobitz II e
terceiro grau), e
nos pacientes com sintomas
severos.

Indicado quando o transcutâ-


neo não é eficaz.
Sua inserção é realizada através
de um cateter posicionado na 8. INDICAÇÕES DE
Marcapasso artéria pulmonar, por onde os MARCA-PASSO CARDÍACO
Transvenoso probes devem ser inseridos até
uma posição que seja possível o O implante definitivo está indicado
controle da FC por estímulos no nas situações de bradicardia sinusal
átrio, no ventrículo ou sequen-
ou BAV sintomático, bradicardia com
ciais atrioventriculares
sintomas como resultado de medi-
É eficaz nos casos de bradiarrit- cação essencial ao paciente, BAV
mia supraventricular, sinusal ou avançado com assistolia > 3 segun-
Marcapasso juncional intraoperatória, exceto
dos, ritmo de escape < 40 bpm, BAV
Transesofágico no tratamento da bradicardia
provocada por BAV, por provo- pós-operatório, doença neuromuscu-
car estímulos ventriculares. lar, BAV completo intermitente, BAV
Tabela 2: Tipos de marcapassos usados para tratamen-
de 2º grau Morbitz II intermintente,
to de bradiarritmias bloqueio de ramo alternante, sínco-
pe recorrente por massagem de seio
carotídeo. O implante provisório de
marcapasso transcutâneo indica-se
nas situações de emergência, como
pacientes com bradicardia importan-
te, muito sintomáticos e que não res-
pondem à atropina.
BRADIARRITMIAS 21

Doenças isquêmicas FC dentro dos valores


do coração de normalidade, porém
abaixo da frequência
Maior tônus vagal (atletas) exigida para a demanda Holter
metabólica
Medicamentos – bloqueados do Tontura, Ecodoppler
canal de cálcio, beta bloqueadores, intolerância ao exercício,
anestésicos (midazolam) Relativa
turvação visual, síncope Teste ergométrico

Doenças sistêmicas – FC < 60 bpm


Estudo eletrofisiológico
hipotireoidismo, hipotermia,
hipertensão intracraniana

Degeneração idiopática
do sistema de condução
Quadro clínico Definição Diagnóstico

Quadro clínico Bradiarritmias

Disfunção do nó SA Tipos Distúrbio de condução AV

Síndrome Bradi-Taqui
BAV de BAV de BAV de
Pausa sinusal 1º grau 2º grau 3º grau

Bloqueio Sinoatrial
Prolongamento
do intervalo entre Pausa com duração = ao BAVT
ondas P Intervalo PP
dobro do RR normal e não aumentado
precedido de onda P. (> 0,20 s)
Ondas P
dissociadas do
QRS

2º grau 2º grau
1º grau Tipo II 3º grau
Tipo I Mobitz I Mobitz II

Intervalo Ausência de
Não Encurtamento
entre ondas P onda P
detectado progressivo do
por ECG PP até PP mais aproximadamente Aumento Algumas ondas
longo 2x maior em progressivo do P são conduzidas
relação ao PP PP até bloqueio e outras são
anterior de onda P bloqueadas

Hipotensão 2:1 Avançado


Alteração agudo do
Atropina 0,5mg Atropina 0,5mg nível de consciência
EV EV Sinais de choque
Preparar 3-5 min 3-5 min Desconforto torácico
Refratário Dose máx: Dose máx: Insuficiência cardíaca
MCP TV Tratamento
3,0 mg 3,0 mg aguda
BRADIARRITMIAS 22

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