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Bases celulares da fisiologia dos

órgãos e sistemas dos animais


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Maria Montserrat Diaz Pedrosa Furlan

Bases celulares da fisiologia dos


órgãos e sistemas dos animais

COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

Maringá
2005
Copyright © 2005 para Maria Montserrat Diaz Pedrosa Furlan
1a. reimpressão 2007, 2a. reimpressão 2008, 3a. reimpressão 2011, 4a. reimpressão 2012,
5a. reimpressão 2016
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Fonte: Garamond, Futura Hv BT
Tiragem - versão impressa: 100 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


(Eduem - UEM, Maringá – PR., Brasil)

Furlan, Maria Montserrat Diaz Pedrosa


F985b Bases celulares da fisiologia dos órgãos e sistemas dos animais / Maria Montserrat Diaz Pedrosa
Furlan. – Maringá, PR : EDUEM, 2005.
55 p. : il.--(Coleção Fundamentum ; n.23)

ISBN 85-7628-041-8

1. Fisiologia celular - Animais. 2. Fisiologia celular - Humanos. 3. Membrana celular -


Transporte. 4. Membrana celular - Potencial elétrico. 5. Célula - Sinalização. I. Série.

CDD 21.ed. 571.6


612

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Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá


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Índice
Introdução....................................................................................... 7
Os sistemas orgânicos e a homeostase do meio interno......... 9
Transporte do Meio Interno................................................... 10
Abastecimento do Meio Interno............................................ 10
Purificação do Meio Interno................................................... 11
Integração das Funções dos Órgãos...................................... 11
Função Homeostática da Reprodução................................... 11
Papel da Membrana Plasmática na Homeostase.................. 12
Movimento de substâncias pela membrana............................... 13
Difusão....................................................................................... 14
Difusão Simples pela Bicamada Lipídica.......................... 16
Difusão Iônica por Canais Protéicos................................ 17
Difusão Facilitada................................................................. 20
Transporte Ativo....................................................................... 22
Transporte Ativo Primário.................................................. 24
Transporte Ativo Secundário............................................. 25
Transporte Vesicular................................................................. 25
Movimento de Água Pelas Membranas................................. 26
Propriedades Fundamentais da Água................................ 26
Determinantes do Movimento de Água........................... 27
Rotas Para a Osmose por Membranas.............................. 30
Movimento de Substâncias por Epitélios................................... 31
Propriedades elétricas da membrana........................................... 32
Potencial de Repouso............................................................... 33
Potenciais de Ação.................................................................... 34
Bases Elétricas do Potencial de Ação............................... 36
Bases Iônicas do Potencial de Ação.................................. 36
Outros Potenciais de Ação................................................. 37
Restauração dos Gradientes Iônicos................................. 38
Período Refratário................................................................ 39
Propagação do Potencial de Ação..................................... 39
Outros Potenciais de Membrana............................................ 41
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

Comunicação celular...................................................................... 42
Sinalizadores Lipossolúveis – Receptores Intracelulares.... 44
Sinalizadores Hidrossolúveis – Receptores de Membrana. 45
Receptores Ionotrópicos..................................................... 46
Receptores Enzimáticos...................................................... 46
Receptores Acoplados a Proteínas G................................ 46
Comunicação Direta Entre Células – Junções
Comunicantes............................................................................ 49
Comunicação Sináptica............................................................ 50
Fundamentos da Transmissão Sináptica........................... 50
Neurotransmissores............................................................. 52
Integração Sináptica............................................................. 53
Referências...................................................................................... 55

6
Bases celulares da fisiologia
siologia dos
órgãos e sistemas dos animais Montserrat Pedrosa
Pedrosa Furlan
Furlan
Montserrat

Introdução
Introdução
Animais pluricelulares
Animais pluricelulares são
são constituídos
constituídos por
por muitos
muitos milhares
milhares de
de cé-
cé-
lulas.
lulas.
Células individuais
Células individuais podem
podem ter ter características
características estruturais
estruturais ee funcio-
funcio-
nais únicas
nais únicas que
que as
as distinguem
distinguem de de outras
outras células
células do
do corpo,
corpo, como
como aa riqueza
riqueza
de prolongamentos
de prolongamentos das das células
células nervosas,
nervosas, asas rotas
rotas bioquímicas
bioquímicas típicas
típicas das
das
células hepáticas, e a ausência de núcleo nas células vermelhas
células hepáticas, e a ausência de núcleo nas células vermelhas do sangue do sangue
dos mamíferos.
dos mamíferos. Porém,
Porém, as as células
células de
de um
um animal
animal também
também compartilham
compartilham
outros tantos
outros tantos aspectos
aspectos entre
entre si.
si. Entre
Entre asas características
características comuns
comuns aa todas
todas
as células,
as células, ou
ou quase
quase todas,
todas, estão
estão asas vias
vias metabólicas
metabólicas básicas
básicas para
para obten-
obten-
ção de
ção de energia,
energia, aa presença
presença de de organelas
organelas intracelulares
intracelulares ee aa permeabilidade
permeabilidade
seletiva da
seletiva da membrana
membrana celular.
celular.
Todas as
Todas as células
células também
também compartilham
compartilham oo fatofato de
de que
que oo elemen-
elemen-
to
to mais
mais abundante
abundante em em seuseu interior
interior éé aa água,
água, onde
onde sese dissolvem
dissolvem íons
íons ee
moléculas
moléculas orgânicos
orgânicos ee inorgânicos,
inorgânicos, coletivamente
coletivamente denominados
denominados solutos.
solutos.
Nos
Nos organismos
organismos pluricelulares,
pluricelulares, aa água
água corporal
corporal também
também éé encontrada
encontrada
fora
fora das células. A porção líquida extracelular em contato direto com
das células. A porção líquida extracelular em contato direto com as
as
células
células éé chamada
chamada de de líquido
líquido intersticial;
intersticial; nos
nos animais
animais com
com sistema
sistema cir-
cir-
culatório,
culatório, uma
uma parte
parte do
do líquido
líquido extracelular
extracelular éé representada
representada pelo
pelo plasma
plasma
(Figura 1).
(Figura 1).

LIC
LIC

plasma
LIS

Figura 11 –– Distribuição
Figura Distribuição dada água
água corporal.
corporal. LIC,
LIC, líquido
líquido intracelular,
intracelular, LIS,
LIS, líquido
líquido
intersticial. Juntos,
intersticial. Juntos, oo LIS
LIS ee oo plasma
plasma compõem
compõem oo líquido
líquido extracelular,
extracelular, LEC.
LEC.
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

A existência de um líquido externo às células, mas contido no cor-


po, tem importantes implicações. Para a grande maioria das células do
corpo, não há contato direto com o meio ambiente, que é a fonte de ele-
mentos necessários para o funcionamento celular e para a eliminação de
produtos residuais do metabolismo. Para essas células, as trocas se dão
com o líquido extracelular, que por sua vez troca matéria e energia com o
meio ambiente, através das células epiteliais dos órgãos mantendo conta-
to com o meio ambiente. Então, as células do corpo vivem cercadas por
um ambiente aquoso comum a todas, e por isso recebe a designação de
meio interno1. A relação entre o meio interno e o meio externo (o meio
ambiente) é mostrada na Figura 2.
As atividades que as células realizam para sua própria sobrevivên-
cia e para a sobrevivência do organismo dependem das condições físicas
e químicas do meio interno. Essas incluem conteúdo de nutrientes orgâ-
nicos (sacarídeos, aminoácidos, lipídeos) e inorgânicos (sais, gases), pH,
temperatura, osmolaridade, pressão, etc. Para cada uma delas, há uma
faixa de variação que pode ser tolerada, e os sistemas orgânicos atuam
para manter os valores dentro desses limites. A importância desses fa-
tores não é a mesma em todos os animais, mas o aumento de complexi-
dade ao longo da escala zoológica foi acompanhado – ou foi decorrente
– do controle cada vez mais abrangente e preciso do meio interno. O
termo homeostase é empregado para designar esse estado de condições
físicas e químicas estáveis no meio interno. Os conceitos de homeostase
e de meio interno são alicerces importantes da fisiologia; na verdade,
grande parte do estudo do funcionamento do corpo está relacionada à
compreensão de como os tecidos e órgãos participam da homeostase.

Figura 2 – Relação entre meio interno e meio externo.

O conceito de homeostase foi criado por Walter Cannon nas pri-


meiras décadas do século XX. Ele também identificou quatro princípios
homeostáticos encontrados com freqüência no estudo da fisiologia:
1 Nos organismos unicelulares, as células estão em contato direto com o meio ambiente, e o
meio interno, como definido aqui, não existe.

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BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

1. o sistema nervoso é responsável pela coordenação e integração dos


vários parâmetros do meio interno, de modo a manter uma homeos-
tase global;
2. muitos parâmetros corporais são controlados de modo tônico; isto
é, um sistema de controle pode aumentar ou diminuir sua influência
de modo graduado;
3. muitos parâmetros corporais são controlados por vias antagônicas,
onde uma tem influência estimuladora e outra tem influência inibitó-
ria;
4. um agente controlador pode ter efeitos distintos em diferentes locais
ou sobre diferentes atividades, dependendo do receptor e das vias
sinalizadoras por meio dos quais ele atua.

Os sistemas orgânicos e a homeostase


do meio interno
Todas as células do corpo compartilham e dependem do mesmo
ambiente aquoso, o meio interno. Ao mesmo tempo, as células de cada
sistema orgânico participam da homeostase do meio interno, controlan-
do algum aspecto desse meio. Alguns sistemas adicionam compostos
ao meio interno, outros removem elementos, transportam substâncias e
mantêm a integração funcional entre os diversos órgãos e entre o corpo
e o meio ambiente. A Figura 3 mostra as relações entre o meio interno
e os diversos sistemas de órgãos que participam da sua homeostase.

Figura 3 - Relação entre o meio interno e os sistemas de órgãos.


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COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

Transporte do Meio Interno


A sustentação das atividades celulares depende da velocidade com
que os componentes são supridos às células e os excretas são removidos
delas. O sistema circulatório, dentro do qual o plasma e seus consti-
tuintes se movimentam por fluxo, garante que a velocidade das trocas
não seja um fator limitante à manutenção da função celular. Uma dada
molécula pode percorrer grandes distâncias no interior do corpo em um
curto espaço de tempo através do sistema circulatório de forma que seu
deslocamento por difusão, mais lento, fica restrito apenas às trocas entre
o plasma circulante, o líquido intersticial e o interior celular, mas essas
distâncias são geralmente muito pequenas. O aumento de tamanho e
complexidade dos animais envolveu uma sofisticação crescente do sis-
tema circulatório.
Além de representar uma via de movimento rápido, o sistema cir-
culatório é também uma interface entre o meio interno e o meio externo.
Através dos órgãos a circulação distribui aos tecidos as substâncias que
adquire do meio ambiente, assim como elimina no meio ambiente os
produtos finais que recebe dos tecidos.

Abastecimento do Meio Interno


Os compostos que um organismo troca com o meio ambiente po-
dem ser divididos em duas categorias amplas: gases (oxigênio e dióxi-
do de carbono) e nutrientes (íons, moléculas orgânicas e inorgânicas, e
água). Muitos desses compostos devem ser constantemente adicionados
ao meio interno porque as células os removem dele para consumi-los em
suas atividades. Outros devem ser eliminados do corpo em proporção à
sua adição ao meio interno.
Tanto o fornecimento de oxigênio quanto a remoção de dióxido de
carbono acontecem no sistema respiratório, cuja superfície de troca é re-
presentada por um epitélio permeável a esses gases. Nos animais aquáticos,
os sistemas respiratórios mais freqüentes são as brânquias, enquanto nos
terrestres são os pulmões.
O suprimento de nutrientes para o meio interno depende do siste-
ma digestório. As diversas estruturas que compõem o sistema digestó-
rio estão organizadas para obter alimento sólido e/ou líquido do meio
ambiente e processá-lo mecânica e quimicamente, de modo que possa
ser absorvido através do epitélio gastrointestinal para dentro do sistema
circulatório.
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BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

Purificação do Meio Interno


Há uma variedade de substâncias que devem ser removidas do
meio interno para o meio externo. O dióxido de carbono resultante do
metabolismo celular é eliminado pelos órgãos respiratórios simultane-
amente à captação de oxigênio. Os outros produtos residuais são eli-
minados pelo sistema excretor. As substâncias excretadas incluem não
apenas produtos finais do metabolismo celular (à exceção do dióxido
de carbono), mas também elementos estranhos absorvidos pelo sistema
gastrointestinal e o excesso de íons e água.

Integração das Funções dos Órgãos


A homeostase de qualquer um dos parâmetros do meio interno
– concentração iônica, osmolaridade, conteúdo de nutrientes, etc – de-
pende da atividade balanceada dos diversos sistemas de órgãos. A inte-
gração funcional dos sistemas é coordenada pelo sistema nervoso e pelo
sistema endócrino.
As unidades funcionais do sistema nervoso são as células nervosas
ou neurônios. São células capazes de conduzir informações na forma de
sinais elétricos ou impulsos nervosos. Funcionalmente, o sistema nervo-
so tem um componente sensorial, um componente motor e um compo-
nente de integração. A porção sensorial coleta informações sobre o meio
interno e sobre o ambiente externo. A porção motora, ao agir sobre os
diversos tipos de músculo e a secreção de muitas células e glândulas,
controla a atividade dos órgãos internos e a movimentação do corpo
no espaço externo. A finalidade básica do componente de integração é
usar as informações sensoriais para conduzir as atividades motoras, mas
a evolução estrutural e funcional do sistema nervoso aumentou grande-
mente a complexidade das funções integrativas.
O sistema endócrino é composto por glândulas e células isoladas
produtoras de moléculas orgânicas que se distribuem pelo corpo; essas
moléculas são chamadas de hormônios. Ao alcançarem os tecidos, os
hormônios exercem suas ações em células específicas, por isso denomi-
nadas células-alvo. As principais ações hormonais estão relacionadas a
metabolismo, expressão gênica, crescimento, diferenciação e prolifera-
ção das células.

Função Homeostática da Reprodução


A reprodução é o surgimento de novos indivíduos de uma espécie
a partir da união de gametas dos indivíduos genitores. A reprodução é
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COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

ao mesmo tempo causa e conseqüência da homeostase promovida pelos


órgãos de um indivíduo. Por um lado, ajuda a manter as condições está-
veis de uma população (homeostase populacional) por gerar novos seres
que vão tomar o lugar dos que morrem. Por outro lado, sua existência e
sua eficiência representam o grau de homeostase do indivíduo, uma vez
que desequilíbrios homeostáticos, muitas vezes, comprometem a capa-
cidade de reprodução.

Papel da Membrana Plasmática na Homeostase


Subjacentes a muitos dos processos fisiológicos que os sistemas
orgânicos desempenham, estão eventos celulares intimamente ligados
à membrana plasmática. Ela representa a separação entre o meio in-
tracelular e o meio extracelular. A constituição básica da membrana
plasmática é a de uma bicamada de fosfolipídeos com conteúdo vari-
ável de colesterol e de proteínas. As moléculas fosfolipídicas são anfi-
páticas e posicionam-se na membrana como uma dupla camada, onde
as porções polares globulares ficam expostas para os meios aquosos
de dentro e de fora da célula, enquanto as longas cadeias hidrofóbicas
de ácidos graxos ficam voltadas para o interior da membrana, entre-
meadas com as moléculas de colesterol. As proteínas da membrana
plasmática podem estar associadas a ela apenas fracamente (proteínas
periféricas e ancoradas) ou estar inseridas na bicamada de fosfolipíde-
os (proteínas integrais). A estrutura geral da membrana plasmática está
esquematizada na Figura 4.

Figura 4 – Estrutura generalizada da membrana plasmática.

As organelas intracelulares, como núcleo, retículo endoplas-


mático, mitocôndrias e outras, também são delimitadas por mem-
branas cuja estrutura geral assemelha-se àquela da membrana plas-
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BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

mática. Mas, assim como acontece com a membrana plasmática


de tipos celulares diferentes, a membrana de organelas diferentes
apresenta uma composição específica relacionada à função desem-
penhada pela organela. A proporção entre lipídeos e proteínas é
característica de cada membrana: a membrana plasmática das célu-
las de Schwann que formam a bainha de mielina, o isolante elétrico
das fibras nervosas, tem em torno de 18% de proteínas, enquan-
to a membrana mitocondrial interna tem 75% de sua composição
como proteínas, que formam a cadeia respiratória para produção
de ATP.
Embora parte das propriedades de uma membrana seja decorrente
dos fosfolipídeos específicos que a compõem e da quantidade relativa
de colesterol, as proteínas associadas à membrana dão-lhe maior varia-
bilidade funcional. As proteínas de membrana podem ter as seguintes
atribuições gerais:
1. serem elementos estruturais, ligando os componentes do citoesque-
leto à membrana para dar forma à célula e unindo a membrana celu-
lar aos componentes da matriz extracelular;
2. podem ter ação enzimática sobre substratos extracelulares ou intra-
celulares;
3. podem funcionar como receptores para moléculas provenientes do
meio extracelular;
4. serem agentes transportadores, permitindo o tráfego de moléculas
entre o meio intracelular e o meio extracelular.
Os eventos celulares relacionados à membrana que têm mais re-
levância para os sistemas orgânicos são: 1) a passagem de substâncias
entre o meio intracelular e o meio extracelular; 2) a geração e condução
de sinais elétricos e 3) a comunicação entre células.

Movimento de substâncias pela membrana


Para uma célula viver não pode ficar totalmente isolada do meio
que a circunda. É preciso receber dele os elementos necessários para as
atividades bioquímicas e proliferativas, eliminar nele as moléculas dis-
pensáveis e secretar compostos com função fora da célula. Isso implica
que a membrana plasmática deve ser, ao mesmo tempo, uma barreira e
uma via de troca entre a célula e o meio interno.
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COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

Tabela 1 – Classificação Energética dos Processos de Movimento Pela


Membrana
Energia das Próprias Moléculas Energia Fornecida Pelas Células
Difusão simples pela bicamada lipídica Transporte ativo primário
Difusão iônica por canais protéicos Transporte ativo secundário
Difusão facilitada Endocitose
Osmose Exocitose
Fagocitose

Tabela 2 – Classificação Física dos Processos de Movimento Pela


Membrana
Movimento pela Movimento por Movimento por
bicamada Proteínas Vesículas
Difusão simples Difusão iônica Endocitose
Osmose Difusão facilitada Exocitose
Osmose Fagocitose
Transporte ativo primá-
rio
Transporte ativo secun-
dário

Há dois modos básicos para classificar o movimento de substân-


cias por uma membrana. No primeiro, leva-se em conta a necessida-
de ou não da célula gastar energia para que o movimento da molécula
ocorra. No segundo, leva-se em consideração o mecanismo de passagem
da substância. As tabelas 1 e 2 mostram como os diversos modos de
movimento de moléculas pela membrana se encaixam nessas duas clas-
sificações.

Difusão
Todas as moléculas de uma substância estão em constante mo-
vimento. Nos sólidos, esse movimento é muito restrito por causa do
agrupamento compacto das moléculas, mas nos líquidos e nos gases as
moléculas individuais têm mais liberdade de movimento. A razão desse
movimento constante é a energia inerente às moléculas.
O movimento molecular depende de vários fatores. Ele é tanto
maior quanto mais quente as moléculas estiverem, e também é propor-
cional à quantidade de moléculas. Por outro lado, o movimento é mais
14
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

lento quando as moléculas são maiores do que quando elas são meno-
res.
Essa movimentação constante de moléculas resulta na sua colisão
entre si. As colisões transferem energia de uma partícula para outra e
também alteram a direção de deslocamento das partículas, de modo que
não é possível prever a trajetória de uma molécula individual. Por isso, o
deslocamento é chamado de randômico ou aleatório.
Todos esses fatores caracterizam o processo de difusão. Ele é es-
pontâneo porque não depende de adição de energia, sendo resultado
apenas da energia das próprias moléculas; é dependente da temperatura
e do tamanho das moléculas; é aleatório; e é irreversível: não há como
uma molécula percorrer o caminho inverso usando apenas sua energia
interna.
A difusão de partículas em uma mistura líquida ou gasosa tem ain-
da uma outra característica muito importante: se as partículas estão mais
concentradas em uma parte da solução do que em outra, seu movimento
aleatório contínuo acaba por distribuí-las igualmente por toda a solução.
Em outras palavras, a difusão tende a redistribuir partículas de uma região
de alta concentração para uma de baixa concentração até que um novo
estado de equilíbrio, em que a concentração é a mesma em todo o sistema,
seja alcançado (Figura 5). Então, diz-se que a difusão acontece a favor
de um gradiente de concentração, ou “morro abaixo”. O gradiente de
concentração também determina a intensidade da difusão: quanto maior
o gradiente, maior é a taxa de difusão das moléculas.
A difusão está envolvida em uma série de eventos fisiológicos.
Moléculas orgânicas e inorgânicas estão continuamente difundindo-se
de um local para outro no citosol, de uma região para outra no líquido
intersticial e, através de membranas, entre as organelas e o citosol, entre
os meios extracelular e intracelular, e entre os meios interno e externo.
Em todas essas situações, os princípios básicos da difusão são obedeci-
dos, mas a via específica pela qual a difusão ocorre depende da natureza
da molécula.
Há três processos de difusão distintos que ocorrem pelas membranas
plasmáticas das células (Figura 6): a difusão simples pela bicamada lipídi-
ca, a difusão iônica por canais protéicos, e a difusão facilitada intermediada
por proteínas carreadoras2. O movimento de água através das membranas
celulares também tem características difusionais, porém apresenta certas

2 O movimento de partículas será exemplificado em relação à membrana plasmática,


mas esses processos também podem existir nas membranas das organelas intracelu-
lares.
15
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

particularidades que justificam sua colocação em uma categoria à parte,


denominada osmose.

Figura 5 – Difusão de partículas em solução.

Figura 6 – Difusão pela bicamada lipídica (1), por canais protéicos (2) e facilita-
da (3). Nesta última, a proteína carreadora alterna entre as posições A e B.

Difusão Simples pela Bicamada Lipídica


A bicamada lipídica ocupa a maior extensão da membrana plasmá-
tica da maioria das células. Para atravessar essa barreira física, durante a
difusão, uma molécula tem que ter características adequadas; as princi-
pais são um pequeno tamanho (para que a molécula possa permear por
entre os fosfolipídeos da membrana) e solubilidade lipídica.
Grande parte da espessura da membrana plasmática é ocupada
pelos ácidos graxos dos fosfolipídeos, que são biomoléculas apolares,
hidrofóbicas. Uma molécula só pode atravessar livremente essa bicama-
da se também for apolar. O grau de polaridade de uma molécula é pro-
porcional à quantidade de grupos polares ou ionizados que ela possui.
Para duas moléculas do mesmo tamanho, a mais apolar e lipossolúvel
atravessa mais facilmente a bicamada lipídica da membrana plasmática a
favor de seu gradiente de concentração.
As moléculas apolares mais importantes que se difundem pela bica-
mada lipídica da membrana são os gases (oxigênio, dióxido de carbono,
16
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

óxido nítrico e monóxido de carbono), hormônios esteróides (derivados


do colesterol), ácidos graxos livres (especialmente os de cadeia mais cur-
ta), as vitaminas lipossolúveis. A maioria das outras biomoléculas, como
aminoácidos e carboidratos, e os íons, tem uma lipossolubilidade baixa
(isto é, são hidrossolúveis) e não podem se difundir livremente pela bi-
camada lipídica da membrana porque são fortemente repelidos pelos
ácidos graxos hidrofóbicos.

Difusão Iônica por Canais Protéicos


Íons são átomos com carga elétrica positiva ou negativa (cátions e
ânions, respectivamente). A permeabilidade das bicamadas lipídicas aos
íons é quase nula principalmente porque os íons são partículas polares,
mas também porque suas cargas elétricas tendem a atrair moléculas de
água, que circundam o íon e aumentam seu diâmetro efetivo. A camada
de água em torno de um íon é chamada de camada de solvatação ou de
hidratação.
O movimento difusional de íons pela membrana plasmática depen-
de da presença de proteínas integrais que formam canais hidrofílicos pelos
quais os íons podem passar. O canal protéico pode ser formado por uma
única cadeia polipeptídica que atravessa a espessura da membrana várias
vezes, formando um canal no centro dos segmentos transmembrânicos.
Outras vezes, vários polipeptídios estão arranjados de modo circular para
formar as paredes do canal.
A maioria dos canais iônicos apresenta especificidade para o tipo
de íon que pode passar por ele. Alguns canais são permeáveis a sódio
(Na+), outros a potássio (K+), cálcio (Ca2+) ou cloreto (Cl-). Há tam-
bém canais protéicos permeáveis, por exemplo, a cátions monovalentes,
como Na+ e K+. A especificidade dos canais iônicos depende principal-
mente da composição de aminoácidos que revestem o canal e do tama-
nho do canal.
Os canais iônicos diferem em seu comportamento funcional.
Alguns canais estão permanentemente abertos e o fluxo de íons, através
deles, ocorre continuamente enquanto houver um gradiente. Esses ca-
nais são denominados canais de vazamento. Muitos outros, entretanto,
podem estar temporariamente abertos ou fechados como resultado da
influência de determinados fatores, e por isso são chamados de canais
controlados (Figura 7). Nesses canais, o fluxo de íons só pode ocorrer
quando as condições controladoras mantêm o canal aberto. Há três ca-
tegorias gerais de canais iônicos controlados:
1. canais iônicos voltagem-dependentes: são os que respondem às con-
dições elétricas existentes na membrana;
17
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

2. canais iônicos ligante-dependentes: são canais que abrem ou fecham


em resposta à ligação de uma molécula (chamada de ligante) à prote-
ína que forma o canal;
3. canais iônicos mecano-dependentes: são aqueles que mudam sua
conformação quando ocorre deformação da membrana plasmática.

Figura 7 – Canais de vazamento (A) e canais controlados (B). Os canais contro-


lados mudam da conformação fechada para a aberta ou vice-versa dependendo
da atuação de fatores controladores (voltagem da membrana, presença de um
ligante ou deformação mecânica da membrana).

A cada dia novos canais iônicos controlados são descritos. O au-


mento nessa família de proteínas de membrana vem mostrando que
muitos canais são controlados por mais de um fator, como voltagem e
ligante. O comportamento do canal na presença de um fator geralmente
é diferente do seu comportamento na presença dos dois.
A presença de canais controlados na membrana permite à célu-
la modificar sua permeabilidade a um ou mais íons de um momento
para outro. Essa capacidade é explorada com muito sucesso por vários
tipos de células, especialmente as nervosas e as musculares. Além dis-
so, uma mesma célula pode ter, por exemplo, vários canais voltagem-
dependentes que podem diferir não apenas em sua seletividade iônica,
mas também na velocidade de resposta e na sensibilidade à voltagem.
Estudos moleculares têm revelado as estruturas primárias (seqüência de
aminoácidos), secundárias (formação de hélices e lâminas) e terciárias
(arranjo tridimensional) dessas proteínas, de modo que está sendo possí-
vel sugerir quais as regiões sensíveis à voltagem ou a ligantes, as mudan-
ças de conformação que abrem e fecham os canais, e os relacionamentos
filogenéticos entre diferentes canais. A Figura 8 ilustra a estrutura do
canal de Na+ voltagem-dependente encontrado nos axônios das células
nervosas.
Gradientes Para a Difusão Iônica: não é apenas o gradiente de
concentração que determina em que direção um íon se difunde. As car-
gas elétricas dos íons e de outras moléculas dos meios intracelular e
18
BASES
BASES CELULARES
CELULARES DA
DA FISIOLOGIA
FISIOLOGIA DOS
DOS ÓRGÃOS
ÓRGÃOS EE SISTEMAS
SISTEMAS DOS
DOS ANIMAIS
ANIMAIS

extracelular
extracelular também
também in uenciam aa difusão
influenciam difusão iônica
iônica porque
porque podem
podem criar
criar
um
umgradiente
gradienteelétrico.
elétrico.
Se
Se umum íoníon positivo
positivo se se difunde
difunde dede um
um meio
meio para
para outro,
outro, através
através dede
uma
uma membrana,
membrana, seguindo
seguindo seu seu gradiente
gradiente de de concentração,
concentração, levaleva consigo
consigo
uma
uma carga
carga elétrica
elétrica ee cria
cria um
um gradiente
gradiente elétrico
elétrico entre
entre os
os dois
dois meios,
meios, mes-
mes-
mo
mo que
que antes
antes da da difusão
difusão do do íon
íon os
os meios
meios fossem
fossem eletricamente
eletricamente neutros.
neutros.
OO gradiente
gradiente elétrico
elétrico éé criado
criado por
por causa
causa da
da separação
separação de de cargas:
cargas: cada
cada íon
íon
positivo
positivoque
quese sedifunde
difundeadiciona
adicionaumaumacarga
cargapositiva
positivaaaumummeiomeioeedeixa
deixano no
outro
outrouma
umacarga
carganegativa
negativaexcedente.
excedente.O Oexcesso
excessode decargas
cargaspositivas
positivasememum um
meio
meioeeaade ciência de
deficiência decargas
cargaspositivas
positivas no
no outro
outro logo
logo se
se torna
torna uma
uma força
força
crescente
crescentetendendo
tendendoaafrear frearaacontinuação
continuaçãoda dadifusão
difusãododoíon,
íon,mesmo
mesmoque queoo
gradiente
gradiente dede concentração
concentração continue
continue sendo
sendo favorável.
favorável. OO movimento
movimento iôni-iôni-
co
co está então sujeito a um gradiente eletroquímico, um termo que
está então sujeito a um gradiente eletroquímico, um termo que indica
indica
que
que aa difusão
difusão do do íon
íon depende
depende do do sentido
sentido ee da
da intensidade
intensidade de de ambos
ambos os os
gradientes,
gradientes,oode deconcentração
concentração(químico)
(químico)eeooelétrico.
elétrico.Nas
Nasmembranas
membranasplas- plas-
máticas
máticasdasdascélulas,
células,há háuma
umadiferença
diferençade decarga
cargaelétrica
elétricaentre
entreaaface
faceinterna,
interna,
onde
ondepredominam
predominamas ascargas
cargasnegativas,
negativas,eeaaface
faceexterna,
externa,onde
ondepredominam
predominam
as positivas33..Como
aspositivas Comoresultado,
resultado,os osgradientes
gradienteselétricos
elétricosatraem
atraemíons
íonspositivos
positivos
para
para o citosol ao mesmo tempo em que os íons negativos sãorepelidos.
o citosol ao mesmo tempo em que os íons negativos são repelidos.

P P P P
Figura 8 – A) Organização da
cadeia polipeptídica do canal de
Na+ voltagem-dependente no
plano da membrana. O mesmo
motivo básico de seis segmen-
A
tos transmembrânicos se repete
quatro vezes. O segmento em
cinza representa a porção sensí-
vel à voltagem. A alça P forma as
paredes do canal. B) O canal de
Na+ voltagem-dependente visto
B
de cima. As alças P são mostradas
em preto.

Quando
Quando oo gradiente
gradiente elétrico
elétrico ee oo gradiente
gradiente químico
químico dede um
um íon
íon al-
al-
cançam
cançamum umponto
pontodedeequilíbrio,
equilíbrio,aaresultante
resultantede deforças
forçaselétricas
elétricaseequími-
quími-
cas
cas éé nula
nula ee aa difusão
difusão iônica
iônica cessa.
cessa. OO valor
valor do
do potencial
potencial de
de membrana
membrana
em
emquequeisso
issoacontece
acontecepode
podeserserquantitativamente
quantitativamentedeterminado,
determinado,aapartir
partir
33 AAseparação
separaçãode
decarga
cargaelétrica
elétricaentre
entreoointerior
interioreeooexterior
exteriorda
damembrana
membranaplasmática
plasmática
éédenominada
denominadapotencial
potencialde
demembrana.
membrana.
19
19
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

das concentrações intracelular e extracelular do íon, aplicadas a uma


fórmula conhecida como equação de Nernst:

Eíon (mV) = ± 61 log concentração interna


concentração externa

Eíon é o potencial de membrana em que a difusão efetiva não ocor-


re mais. Nesta equação, o sinal do potencial é positivo quando o íon
analisado é negativo e vice-versa. Os dados da Tabela 3 permitem cal-
cular o potencial de equilíbrio de alguns íons importantes dos líquidos
corporais.

Tabela 3 – Concentração de Alguns Íons Importantes e Seus Potenciais


de Equilíbrio
Líquido Sódio Potássio Cloreto Cálcio
Intracelular (mM) 14 150 10 2
Extracelular (mM) 140 5 125 5
Eíon (mV) + 61 – 90 – 67 + 24

Quando o potencial de equilíbrio para cada um dos vários íons


presentes nos líquidos corporais é calculado e comparado com o po-
tencial de membrana das células, observa-se que esses dois valores são
geralmente distintos, em alguns casos muito diferentes. Isso mostra que
os íons não estão em equilíbrio através das membranas plasmáticas, e
possuem um gradiente eletroquímico que favorece sua difusão em uma
direção ou em outra, através da membrana. Se houver uma via disponí-
vel (um canal iônico aberto), a difusão certamente ocorrerá e será tanto
mais intensa quanto maior for a diferença entre o potencial de equilíbrio
e o potencial de membrana.
É importante observar que as duas forças que compõem o gra-
diente eletroquímico podem se somar ou se opor. O gradiente elétrico
de um íon pode ser favorável ao seu movimento em uma direção pela
membrana, enquanto a diferença de concentração para o íon pode ser
favorável ao seu movimento na mesma direção ou na direção oposta. O
movimento efetivo do íon neste último caso é determinado pelas mag-
nitudes das duas forças oponentes.

Difusão Facilitada
Moléculas grandes como glicose e aminoácidos não passam pela
bicamada lipídica da membrana e nem por canais protéicos. Sua difusão
20
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

depende da presença de outras proteínas integrais na membrana plasmá-


tica, conhecidas como carreadores ou transportadores.
A interação entre uma molécula e um carreador é diferente daquela
entre um íon e um canal. Quando um canal iônico está aberto, milhões
de partículas do íon para o qual ele é seletivo podem passar, através
dele, a cada segundo, e o fluxo iônico, em condições fisiológicas, é tanto
maior quanto maior é o gradiente eletroquímico. Na difusão facilitada,
por outro lado, a molécula interage fisicamente com um local específico
do carreador chamado de sítio de ligação e o próprio carreador sofre
mudanças de conformação para levar a molécula de um lado da mem-
brana para o outro. Ainda assim, o deslocamento da molécula se dá a
favor de seu gradiente de concentração e a mudança de conformação do
carreador não depende da energia da célula.
A difusão facilitada tem três características importantes:
1. cada tipo de transportador é específico para o tipo de substância que
transloca pela membrana. Alguns carreadores transportam apenas um
tipo de molécula, outros podem transportar várias moléculas estrutural-
mente semelhantes;
1. os ciclos de mudanças conformacionais levam tempo e o número de
transportadores na membrana é limitado, de modo que um sistema de
carreadores pode ficar saturado, isto é, não pode transportar mais mo-
léculas por unidade de tempo. Tipos diferentes de proteínas de difusão
facilitada têm cinéticas de transporte diferentes e assim apresentam satu-
ração em concentrações diferentes de suas moléculas4;
2. se um carreador é seletivo para mais de uma substância, uma compete
com a outra pelo sítio de ligação.
Essas propriedades dos transportadores da difusão facilitada são
comuns também às proteínas de membrana que realizam transporte ati-
vo. Por isso, todos esses tipos de movimento de moléculas pelas mem-
branas celulares costumam ser agrupados sob o termo de transporte
mediado.

4 A saturação é usada comumente como parâmetro de distinção entre a difusão iônica


por canais e a difusão facilitada. No entanto, à medida que os estudos avançam e
tornam-se mais sofisticados, já se observa a saturação dos canais iônicos em determi-
nadas situações. Alguns canais também parecem exibir uma interação com o íon que
o atravessa, da mesma forma que um substrato interage com seu carreador específico
na difusão facilitada. Esses fatores tendem a tornar as classificações do movimento de
moléculas por membranas menos restritivos.
21
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

O sistema celular mais importante de difusão facilitada é aquele dos


monossacarídeos. Nesse sistema, há subgrupos de carreadores que são
específicos para glicose, enquanto outros transportam mais de um mo-
nossacarídeo, como glicose e galactose, por exemplo. Adicionalmente,
alguns subtipos estão sob controle hormonal, enquanto outros não.
Da mesma forma que acontece com os canais iônicos, as membra-
nas plasmáticas de células diferentes contêm tipos e números diferentes
de carreadores e assim exibem diferenças nos tipos de substâncias trans-
portadas e nas suas propriedades cinéticas de transporte.

Transporte Ativo
Muitas partículas que a célula necessita adquirir, a partir do meio
interno, e outras que ela precisa eliminar, não apresentam gradientes
favoráveis ao seu movimento difusional pela membrana. Para outras
partículas, a homeostase celular depende da contraposição à dissipação
de seus gradientes decorrente da difusão. Nesses casos, o movimento
depende de transporte ativo através das membranas.
A característica distintiva dos processos de transporte ativo por
membranas é que as células fornecem energia para que os transportado-
res possam funcionar. Esse gasto energético está vinculado ao fato do
transporte ativo mover moléculas de um compartimento em que elas
estão menos concentradas para outro onde estão mais concentradas, isto
é, “morro acima” ou contra o gradiente químico e/ou elétrico. A energia
fornecida ao transporte ativo é proveniente do metabolismo celular, e
em algumas células pode representar uma fração muito significativa do
consumo energético total.
As proteínas de transporte ativo exibem especificidade, saturação
e competição, como aquelas da difusão facilitada, mas ao contrário delas
são unidirecionais; quer dizer, só transportam uma dada molécula de um
lado para outro e não no sentido inverso.
Os carreadores do transporte ativo podem transportar uma ou
mais moléculas simultaneamente (Figura 9), e assim o transporte ati-
vo é denominado: 1) uniporte quando o transportador desloca apenas
uma molécula a cada ciclo, 2) simporte, também chamado co-transporte,
quando o transportador desloca duas ou mais partículas na mesma dire-
ção, e 3) antiporte ou contra-transporte, quando o transportador trans-
loca duas ou mais partículas em direções opostas.
Muitos transportadores ativos usam o ATP, a biomolécula celular
armazenadora de energia, como fonte energética para transportar partí-
culas: é o transporte ativo primário. Outros transportadores aproveitam
22
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

a energia liberada pela difusão de um íon para conduzir o transporte


contra gradiente de outra molécula: é o transporte ativo secundário. Os
termos primário e secundário provêm da posição do ATP no forneci-
mento de energia ao processo de transporte ativo. No transporte pri-
mário, é a própria molécula de ATP que transfere energia ao carreador,
enquanto no secundário o ATP foi usado numa etapa anterior para criar
o gradiente iônico que será a fonte energética direta do transporte secun-
dário. Dessa forma, todos os mecanismos de transporte ativo de uma
célula estão energeticamente interligados (Figura 10) e são dependentes
da produção de ATP pelo metabolismo.

Figura 9 – Uniporte (A), simporte (B) e antiporte (C). Em todos os casos, o


transportador muda de conformação quando seus sítios de ligação estão preen-
chidos, liberando as moléculas no lado oposto da membrana.

Figura 10 – Inter-relação entre transporte ativo primário e secundário. O gra-


diente iônico criado e mantido pelo transporte ativo primário às custas de ATP
(transportador à esquerda) é a fonte de energia para o transporte ativo secundá-
rio (transportador à direita).
23
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

Transporte Ativo Primário


As proteínas do transporte ativo primário são enzimas ATPases,
que hidrolisam ATP a ADP e fosfato (Pi), e utilizam a energia libe-
rada para alterar sua conformação e, simultaneamente, deslocar seu
ligante de um lado para outro da membrana. São também chamadas
de bombas e são responsáveis pelo transporte de vários íons contra
seus gradientes de modo que revertem os efeitos da difusão iônica
que acontece pelos canais. A Na+, K+-ATPase, a Ca2+-ATPase, a H+-
ATPase, e a H+, K+-ATPase são bombas iônicas. A bomba de Ca2+ e
a bomba de H+ são encontradas também na membrana de algumas
organelas intracelulares.
A bomba iônica de ocorrência mais abrangente nas células é a
Na+, K+-ATPase ou bomba de Na+, K+. Seu funcionamento contí-
nuo é que produz os gradientes de concentração típicos desses íons
através da membrana, com o Na+ sendo mais abundante no meio
extracelular e o K+ no meio intracelular. A bomba de Na+, K+ é
uma proteína de antiporte porque transporta Na + para fora da célula
ao mesmo tempo em que transporta K+ para dentro. Três Na+ são
transportados para fora para cada dois K+ transportados para dentro,
criando uma pequena separação de cargas, através da membrana; por
isso a bomba de Na+, K+ é chamada de eletrogênica (Figura 11). As
bombas de Ca2+ e de H+ também são eletrogênicas, enquanto que a
bomba de H+, K+ é eletroneutra.

Figura 11 – A bomba de Na+,K+. Os círculos representam íons Na+ e os qua-


drados íons K+. Esta é uma representação simplificada: nas células, a bomba
transporta Na+ para fora e K+ para dentro em etapas seqüenciais, e não simul-
taneamente.
24
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

Transporte Ativo Secundário


Quando um íon se difunde pela membrana através de um canal
protéico, a energia armazenada em seu gradiente eletroquímico é perdida
como calor. Por outro lado, se o íon se difundir acoplado a uma proteína
de transporte ativo secundário, a energia liberada pode ser aproveitada
pelo carreador para mover outra substância contra seu gradiente.
O Na+ é o íon empregado pela maioria das proteínas de transporte
ativo secundário como fonte de energia. A razão para isso é que o gra-
diente eletroquímico do Na+ é muito grande e favorável ao seu movi-
mento difusional para dentro das células, significando que muita energia
é liberada. Alguns dos transportadores secundários mais comuns são
os co-transportadores de Na+, aminoácidos e 2Na+, glicose, e o contra-
transportador de Na+,Ca2+.

Transporte Vesicular
Muitos tipos de moléculas grandes, geralmente polímeros orgâni-
cos, não atravessam a membrana celular usando proteínas carreadoras
ou canais. Seu movimento depende de vesículas. Através delas, as células
lançam componentes da matriz extracelular e moléculas sinalizadoras,
capturam componentes extracelulares que devem ser destruídos e adqui-
rem elementos que participam do funcionamento celular.
O transporte vesicular através de membranas é dividido em três
categorias (Figura 12):
1. na fagocitose, a célula estende prolongamentos que englobam uma
partícula grande. Quando as extremidades distais dos prolonga-
mentos se fundem, forma-se uma vesícula intracelular contendo a
partícula. A fagocitose é a primeira etapa da digestão intracelular
de nutrientes que ocorre em alguns grupos de invertebrados e da
destruição de corpos estranhos por certas células do sistema imuno-
lógico. Esses processos acontecem quando a vesícula fagocítica se
funde com lisossomos no citosol, criando uma vesícula digestiva;
2. a endocitose assemelha-se à fagocitose, mas as vesículas se formam
por invaginação da membrana e são menores que as vesículas fago-
cíticas. Em alguns casos, a endocitose é desencadeada pela ligação
de uma molécula específica a receptores na membrana plasmática:
é a endocitose mediada por receptores. Em outras situações, a en-
docitose ocorre continuamente e engloba indiscriminadamente os
componentes extracelulares;
3. a exocitose é o processo pelo qual vesículas intracelulares fundem-se
com a membrana plasmática, liberando seu conteúdo para o meio
25
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

extracelular. A importância da exocitose é que ela não apenas secreta


moléculas para o meio mas também devolve à membrana os compo-
nentes lipídicos e protéicos que foram removidos na formação das
vesículas fagocíticas e endocíticas.

fagocitose

endocitose exocitose
Figura 12 – Transporte vesicular. Os círculos abertos pequenos na célula fago-
cítica representam lisossomos.

Movimento de Água Pelas Membranas

Propriedades Fundamentais da Água


A água é o elemento mais abundante do corpo. Nela estão dissol-
vidas as muitas moléculas orgânicas e inorgânicas que compõem esses
líquidos, criando um conjunto conhecido como solução aquosa. Numa
solução aquosa, a água é o solvente e as moléculas dissolvidas são gene-
ricamente chamadas de solutos.
São as propriedades físicas e químicas da água que a tornam o
solvente universal. O átomo de oxigênio de uma molécula de água é
mais eletronegativo que os átomos de hidrogênio, de forma que uma
molécula de água é polar: o átomo de oxigênio adquire uma carga
parcial negativa porque atrai fortemente os elétrons dos átomos de
hidrogênio, e estes por sua vez adquirem uma carga parcial positiva.
A característica dipolar da água permite que ela forme pontes de
hidrogênio – atrações entre átomos de hidrogênio e átomos eletro-
negativos próximos a eles – e atrações de Van der Waals – entre o
núcleo de um átomo e os elétrons de outro – entre si e também com
outras moléculas polares ou eletricamente carregadas. Essas intera-
ções elétricas são observadas na água congelada (onde criam uma
estrutura cristalina), na água líquida (onde se formam e desmancham
26
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

rapidamente) e nas soluções aquosas do corpo. Os elementos polares


das membranas e das macromoléculas tendem a estabilizar as intera-
ções das moléculas de água, que então é chamada de água vicinal, e
as cargas dos íons e outras moléculas atraem fortemente a água, que
fica ligada a eles. No meio intracelular, onde há uma abundância de
solutos e estruturas com os quais a água pode estabelecer interações,
uma fração considerável da água é vicinal ou ligada, e o restante está
na forma livre.

Determinantes do Movimento de Água


O movimento de água entre quaisquer dois compartimentos se-
parados por membrana ocorre exclusivamente por difusão. Em ne-
nhum animal foi encontrado um processo que causasse o movimento
de água contra gradiente. Sendo o movimento de água um processo
difusional, ele depende do gradiente de “concentração de água”. O ter-
mo concentração é geralmente empregado para indicar a quantidade
de solutos, e não de solvente, em uma solução; então, a concentração
de água em uma solução é mais frequentemente indicada pela osmo-
laridade da solução.
A osmolaridade é uma função das partículas de soluto numa
solução. Numa solução de água pura, a concentração de água é máxi-
ma e a osmolaridade é nula porque não há soluto algum. Quando um
soluto é adicionado, a concentração de água diminui e a osmolarida-
de aumenta, porque agora parte do volume da solução é composta
pelo soluto.
Não é o tamanho ou o peso da molécula de soluto que importa na
determinação da osmolaridade de uma solução. Dois litros de solução,
um contendo 1 mol de glicose e outro contendo 1 mol de uréia têm a
mesma concentração de soluto (1 M) e a mesma osmolaridade, indicada
como 1 Osm/L, apesar dos solutos presentes (glicose e uréia) terem
naturezas muito diferentes. O que importa na determinação da osmo-
laridade é o número de partículas que se formam quando a molécula é
adicionada à solução. Cada molécula de glicose ou de uréia permanece
em solução como partícula única, e a osmolaridade da solução tem o
mesmo valor que a molaridade. Por outro lado, moléculas iônicas, como
cloreto de sódio (NaCl), se dissociam na água, formando duas partículas
por molécula: a osmolaridade será o dobro da molaridade da solução.
Outras moléculas podem se dissociar em três ou mais partículas, e a
osmolaridade da solução é calculada, como nos casos anteriores, multi-
plicando a concentração molar pelo número de partículas formado por
27
COLEÇÃO FUNDAMENTUM
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23
• N. 23

molécula55.. Duas
molécula Duas soluções
soluções podem
podem ser
ser comparadas
comparadas emem termos
termos dede osmola-
osmola-
ridade, isto
ridade, isto é,
é, em
em termos
termos de
de concentração
concentração total
total de
de partículas
partículas na
na solução.
solução.
Uma solução é hiperosmótica, isosmótica ou hiposmótica em relação aa
Uma solução é hiperosmótica, isosmótica ou hiposmótica em relação
outra se
outra se sua
sua osmolaridade
osmolaridade for,
for, respectivamente,
respectivamente, maior,
maior, igual
igual ou
ou menor
menor
que a da outra solução.
que a da outra solução.
A difusão
A difusão dede água
água através
através de
de uma
uma barreira
barreira éé chamada
chamada de de osmose.
osmose.
Se uma membrana separa dois compartimentos, ambos
Se uma membrana separa dois compartimentos, ambos de mesmo vo- de mesmo vo-
lume mas com concentrações diferentes de um soluto, pode
lume mas com concentrações diferentes de um soluto, pode haver três haver três
respostas diferentes
respostas diferentes do
do movimento
movimento de de água,
água, as
as quais
quais dependem
dependem do do com-
com-
portamento da membrana em relação ao soluto. Num primeiro
portamento da membrana em relação ao soluto. Num primeiro caso, se caso, se
aa membrana
membrana que que separa
separa os
os compartimentos
compartimentos for for totalmente
totalmente permeável,
permeável, oo
soluto se
soluto se difunde
difunde aa favor
favor de
de seu
seu gradiente
gradiente de
de concentração,
concentração, enquanto
enquanto aa
água sofre osmose na direção oposta. Quando o equilíbrio é
água sofre osmose na direção oposta. Quando o equilíbrio é alcançado, alcançado,
ambos os compartimentos terão concentração de soluto,
ambos os compartimentos terão concentração de soluto, osmolaridade osmolaridade
e volume iguais (Figura 13A).
e volume iguais (Figura 13A).
A

Figura 13
Figura 13 –– Movimento
Movimento osmótico
osmótico de
de água
água A)
A) quando
quando aa membrana
membrana éé permeá-
permeá-
vel ao soluto, B) quando a membrana é impermeável ao soluto, e C) quando aa
vel ao soluto, B) quando a membrana é impermeável ao soluto, e C) quando
membrana éé impermeável
membrana impermeável ao
ao soluto
soluto ee oo compartimento
compartimento hiperosmótico
hiperosmótico não
não éé
expansível.
expansível.

Esses princípios
5 Esses
5 princípios são
são verdadeiros
verdadeiros para
para soluções
soluções ideais.
ideais. Nas
Nas soluções
soluções reais,
reais, aa dissocia-
dissocia-
ção dos
ção dos íons
íons não
não éé total,
total, ee aa osmolaridade
osmolaridade real
real éé ligeiramente
ligeiramente inferior
inferior àà ideal.
ideal. Além
Além
disso, os solutos podem interagir uns com os outros, reduzindo o número
disso, os solutos podem interagir uns com os outros, reduzindo o número real de real de
partículas na
partículas na solução.
solução.
28
28
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

Em um segundo caso, em que a membrana que separa os dois


compartimentos é impermeável ao soluto, o equilíbrio só pode ser alcan-
çado pelo movimento da água do compartimento de menor osmolarida-
de para o de maior osmolaridade, já que o soluto não pode se difundir
pela membrana. O resultado é um aumento no volume do comparti-
mento inicialmente hiperosmótico e a redução no volume do compar-
timento inicialmente hiposmótico até que a igualdade de osmolaridade
seja alcançada (Figura 13B).
Finalmente, se os compartimentos separados pela membrana im-
permeável ao soluto não forem infinitamente expansíveis, quer dizer,
não puderem aumentar de volume indefinidamente, o movimento os-
mótico causará um aumento de pressão no compartimento hiperosmó-
tico, criando uma força que se opõe à própria continuidade da osmose.
Quando a pressão alcança um determinado valor, a osmose cessa mes-
mo que a osmolaridade dos dois compartimentos ainda seja diferente
(Figura 13C). Essa pressão é chamada de pressão osmótica, e ela é tanto
maior quanto maior a osmolaridade da solução. A pressão osmótica (Π)
é calculada pela lei de van’t Hoff:
Π = RTC (unidade: atm)6
onde R (constante universal dos gases) = 0,082, T = temperatura em K
(oC + 273) e C = osmolaridade.
Outras propriedades das soluções, conhecidas como propriedades
coligativas, são decorrentes da presença de solutos, independente de sua
natureza. Além de aumentar a pressão osmótica, os solutos diminuem a
pressão de vapor e o ponto de congelamento, e aumentam o ponto de
ebulição das soluções das quais fazem parte.
A comparação de duas soluções em termos de osmolaridade não
leva em conta a permeabilidade seletiva da membrana que as separa, e
sim apenas o número total de partículas em cada solução independente
delas poderem atravessar a membrana (solutos permeantes) ou não (so-
lutos impermeantes). Para entender o efeito dos solutos impermeantes
sobre o movimento osmótico de água (Figura 13B), usa-se a tonicidade
relativa da solução. Uma solução é hipertônica, isotônica ou hipotônica
em relação à outra, se tem concentração de solutos impermeantes maior,
igual ou menor que a outra solução. Dessa forma, em soluções comple-
xas, contendo uma variedade de solutos, a osmolaridade e a tonicidade
podem não ser correspondentes, e em última análise é a diferença de
tonicidade que determina a direção e a intensidade da osmose entre dois

6 1 atm = 760 mmHg.

29
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

compartimentos: a osmose acontece de uma solução hipotônica para


outra hipertônica, mesmo quando elas são isosmóticas.
As concentrações dos vários solutos corporais são diferentes entre o
líquido intracelular e o extracelular. Para a maioria das células dos animais,
entretanto, a osmolaridade do citosol é igual à osmolaridade do meio in-
terno quando há homeostase, e esses meios são isotônicos entre si. Muitos
animais aquáticos também são isotônicos com o seu ambiente. Nesses
casos, não há fluxo osmótico de água, e o volume das células e dos líquidos
corporais em geral mantém-se constante. Por outro lado, outros animais
aquáticos têm uma osmolaridade corporal diferente daquela do meio: o
fluxo osmótico de água tende a igualar a osmolaridade corporal à am-
biental, mas esses organismos têm mecanismos e estruturas especialmente
desenvolvidos para reverter essa tendência.
Há muitos solutos impermeantes nas soluções intracelulares e ex-
tracelulares. A membrana plasmática pode simplesmente não ter vias
para o deslocamento desses solutos, como acontece para os vários in-
termediários metabólicos e as proteínas intracelulares, ou ela possui me-
canismos ativos que antagonizam a difusão do soluto, como no caso do
Na+ e do K+: eles se difundem pela membrana através de seus respec-
tivos canais iônicos, mas são devolvidos ao compartimento de origem
pela bomba de Na+,K+.

Rotas Para a Osmose por Membranas


Uma vez que se tenha compreendido os fatores que determinam
a osmose, resta saber como a água atravessa a membrana em resposta a
um gradiente osmótico. Isso pode acontecer diretamente pela bicamada
lipídica e também por canais protéicos especiais.
A natureza polar da água não impede que ela permeie a bicamada
lipídica da membrana celular. Por ser o componente mais abundante
das soluções corporais, a água tem uma grande quantidade de energia
e desloca-se muito rapidamente. Junto com seu pequeno tamanho, isso
permite que a água atravesse a bicamada lipídica sem que haja tempo
para que ela seja repelida pelas cadeias de ácidos graxos.
Nem todas as membranas plasmáticas têm a mesma permeabili-
dade à água, contudo. Algumas delas restringem a tal ponto o desloca-
mento de água entre os compartimentos intracelular e extracelular que
grandes gradientes osmóticos são mantidos através dessas membranas.
Acredita-se que a quantidade relativa de colesterol na membrana seja
responsável pela sua permeabilidade hídrica: o colesterol ocupa os espa-
ços entre as cadeias de ácidos graxos por onde a água se difunde, e assim
30
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

quanto mais colesterol há em uma membrana, menor a capacidade da


água de atravessar a bicamada lipídica.
A água também pode sofrer osmose pelos canais iônicos, que são
hidrofílicos, mas esse movimento parece ser fisiologicamente insignifi-
cante. Adicionalmente, muitas células possuem canais protéicos especiais
em suas membranas, as aquaporinas, que têm o propósito de permitir o
fluxo de água. Alguns tipos de aquaporinas são controlados por hormô-
nios de modo que a célula, sob influência hormonal, pode aumentar ou
reduzir sua permeabilidade à água.

Movimento de Substâncias por Epitélios


Os epitélios são camadas de células que estabelecem o limite entre
o meio interno e o meio externo, da mesma forma que as membranas
celulares definem os limites entre o meio intracelular e o extracelular e
entre o citosol e as organelas.
Os epitélios são delimitados e separados dos tecidos abaixo de-
les por uma membrana basal, ou lâmina basal, de tecido conjuntivo. As
células epiteliais podem estar organizadas em uma ou mais camadas, e
unem-se umas às outras por junções protéicas.
Alguns tipos de epitélio têm características especiais que os tornam
bons revestimentos, através dos quais o movimento de substâncias é
muito pequeno ou inexistente. Esses epitélios de proteção incluem o
tegumento e o revestimento das vias aéreas e dos tratos reprodutor e
urinário. Ao contrário dos epitélios protetores, outros tipos de epitélio
estão projetados especificamente para permitir o movimento de subs-
tâncias entre os compartimentos que separam. Esses epitélios de troca
e de transporte incluem o respiratório, o gastrointestinal, o excretor, e o
endotélio dos capilares sanguíneos7.
É possível identificar duas porções na membrana plasmática nos
epitélios, particularmente no gastrointestinal e no excretor. A porção api-
cal, também chamada de luminal ou mucosa, é aquela que fica voltada para
o lúmen oco do órgão, que por sua vez é contínuo com o meio externo. A
membrana apical do epitélio muitas vezes apresenta microvilosidades, que

7 Ao contrário dos outros epitélios citados, o endotélio capilar separa dois subcom-
partimentos do meio interno (o plasma e o líquido intersticial), mas os princípios
que explicam o movimento de substâncias através de epitélios também são aplicá-
veis ao endotélio.
31
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

são dobras da membrana que aumentam sua área superficial. A membrana


apical é separada do restante da membrana, chamada de membrana baso-
lateral ou serosa, pelas junções intercelulares. Sendo assim, a membrana
apical fica em contato com o meio externo, enquanto a membrana basola-
teral fica em contato com o meio interno.

Figura 14 – Estrutura dos epitélios e vias de transporte epitelial.

Há duas vias possíveis para o movimento de uma substância atra-


vés de um epitélio (Figura 14). Na primeira, chamada de via paracelular,
a substância atravessa pelos espaços entre as células. Na segunda, cha-
mada de via transcelular, a substância cruza de um lado para outro se
movendo pelas membranas e pelo citosol das células epiteliais, ou seja,
através da célula. A natureza da substância é um importante determinan-
te da via que ela usa para atravessar um determinado epitélio, mas outros
fatores também interferem. Por exemplo: as proteínas que formam as
junções intercelulares determinam a sua permeabilidade: em um extre-
mo, há junções intercelulares frouxas muito permeáveis a vários tipos de
moléculas, e no outro há junções fechadas totalmente impermeáveis. Na
via transcelular, o movimento de uma molécula vai depender da perme-
abilidade das membranas do epitélio – a apical e a basolateral – a essa
molécula, isto é, se há algum tipo de rota para o seu deslocamento atra-
vés daquela membrana. Para uma determinada substância, o mecanismo
para o movimento pela membrana apical pode ser diferente daquele da
membrana basolateral. Da mesma forma, os mecanismos de movimento
transcelular de uma substância através de um epitélio podem ser diferen-
tes daqueles para seu movimento através de outro epitélio.

Propriedades elétricas da membrana


Muitos solutos dos líquidos corporais são dotados de cargas elétri-
cas. Esses solutos incluem não apenas íons como Na+, H+, K+, Cl-, Ca2+
32
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

e outros, mas também moléculas orgânicas como proteínas e interme-


diários metabólicos. O meio intracelular é mais rico que o extracelular
em íons K+, e em proteínas e outras biomoléculas carregadas negativa-
mente. No meio extracelular predominam os íons Na+, Ca2+ e Cl-. As
diferenças de concentração de íons e outros solutos entre esses meios
são decorrentes dos transportadores ativos e da permeabilidade seletiva
da membrana plasmática.
Todas as células animais apresentam uma desigualdade de cargas
elétricas entre a face interna e a face externa de suas membranas plas-
máticas. É possível quantificar a diferença de cargas elétricas entre os
meios extracelular e intracelular, isto é, estabelecer qual é a diferença de
voltagem através da membrana plasmática em um determinado momen-
to. Nesses registros, a voltagem do meio extracelular é adotada como
referência e tem valor igual a 0. A voltagem registrada no meio intrace-
lular é chamada potencial de membrana, e seus valores são da ordem de
milivolts (mV), sendo então muito pequenos quando comparados, por
exemplo, com os potenciais elétricos dos circuitos domésticos. Embora
o potencial de membrana de muitas células permaneça relativamente
estável ao longo do tempo, algumas células podem mostrar variações de
seu potencial de membrana sob certas circunstâncias, uma característica
funcional denominada excitabilidade.

Potencial de Repouso
A Figura 15 mostra o registro do potencial de membrana de uma
célula ao longo de um período de tempo. Nesse registro, o valor das or-
denadas é negativo porque o referencial do registro, que é o meio extra-
celular, é tido como 0 mV, e no meio intracelular predominam as cargas
negativas. O potencial de membrana mostrado nessa figura não se altera,
e então ele é chamado de potencial de repouso da membrana porque,
em termos elétricos, a membrana está em repouso – não há movimento
efetivo de cargas elétricas através dela.
As células animais com potenciais de repouso mais negativos são
as células nervosas com axônios calibrosos e as células musculares es-
queléticas: – 90 mV. Outras células, como as musculares lisas, têm poten-
ciais de repouso entre – 40 e – 60 mV, e outros neurônios têm potenciais
em torno de – 70 mV.
O principal determinante do valor do potencial de repouso é o íon
K+. A permeabilidade da membrana celular ao K+ é maior que aos ou-
tros íons porque normalmente a membrana tem uma quantidade maior
de canais de vazamento de K+. A difusão do K+ para fora da célula tende
33
COLEÇÃO
COLEÇÃOFUNDAMENTUM
FUNDAMENTUM• •N.N.23
23

a alevar
levaroopotencial
potencialdedemembrana
membranaem emdireção
direçãoaoaopotencial
potencialdedeequilíbrio
equilíbrio
do (Tabela3).3).AAcontribuição
doKK+ +(Tabela contribuiçãodedeoutros
outrosíons,
íons,especialmente
especialmenteooNa Na+,+,
para
paraoopotencial
potencialdederepouso,
repouso,depende
dependedodonúmero
númerodedecanais
canaisdedevazamen-
vazamen-
totodedeNaNa+ +nanamembrana,
membrana,que quepermitem
permitemsua
suaentrada
entradananacélula
célulaa afavor
favordede
seu
seugradiente
gradienteeletroquímico.
eletroquímico.AAentrada
entradadedeíons
íonspositivos
positivosreduz
reduzooefeito
efeito
dadasaída
saídadedecargas
cargaspositivas
positivaslevadas
levadaspelo
peloKK+,+,mas
masesse
esseefeito
efeitoredutor
redutoré é
geralmente
geralmentepequeno
pequenoporque
porquea amembrana
membranadadamaioria
maioriadas
dascélulas
célulasem emre-
re-
pouso
pousoé émuito
muitomaismaispermeável
permeávela aKK+ +do
doque
quea aNa
Na.+.
+

mV

tempo

Figura1515– –Registro
Figura Registrododopotencial
potencialdedemembrana
membranadederepouso.
repouso.

Nacélula
Na célulaememrepouso,
repouso,oofluxo contínuodedeKK+ +e eNa
uxo contínuo Na+ +pela
pelamem-
mem-
branaatravés
brana atravésdedeseus
seusrespectivos
respectivoscanais
canaisdedevazamento
vazamentoé écontraposto
contraposto
pelabomba
pela bombadedeNa Na+,K,K, que
+ ++
, quemantém
mantémososgradientes
gradienteseletroquímicos
eletroquímicosdesses
desses
íons e estabiliza o potencialdederepouso
íons e estabiliza o potencial repousodadamembrana.
membrana.

Potenciaisde
Potenciais deAção
Ação
AAforma
formamais
maisnotória
notóriadedealteração
alteraçãododopotencial
potencialdedemembrana
membranaé éoo
potencialdedeação.
potencial ação.Ele
Eleé éuma
umaalteração
alteraçãorápida
rápidae etransitória
transitóriadadavoltagem
voltagem
dadamembrana,
membrana,cujocujoper
perfil emum
l em umregistro
registroé ésempre
sempreoomesmo
mesmonuma numade-de-
terminadacélula.
terminada célula.Os
Ospotenciais
potenciaisdedeação
açãosão
sãousados
usadospelas
pelascélulas
célulascomo
como
meiodedetransmissão
meio transmissãodedeinformações
informaçõesdedeuma
umaparte
partedadacélula
célulapara
paraoutra.
outra.
OOpotencial
potencialdedeação
açãopadrão,
padrão,usado
usadopara
paraanalisar
analisarasascaracterísticas
características
geraisdesse
gerais dessetipo
tipodedeatividade
atividadeelétrica,
elétrica,é éaquele
aqueledos
dosneurônios,
neurônios,onde
ondeele ele
tambémé échamado
também chamadodedeimpulso
impulsonervoso.
nervoso.NasNascélulas
célulasnervosas,
nervosas,a aduração
duração
dopotencial
do potencialdedeaçãoaçãotípico
típicoé édedecerca
cercadede11milissegundo
milissegundo(1(1ms), ms),e eseu
seu
perfil
per l é éaquele
aquelemostrado Figura16.
mostradonanaFigura 16.
OOaparecimento
aparecimentodedeum umpotencial
potencialdedeação
açãoé édependente
dependentedadaatua- atua-
ção
çãodedealgum
algumfator
fatorsobre
sobrea amembrana
membranadadacélula.
célula.Esse
Essefator
fatoriniciador,
iniciador,
genericamente
genericamenteconhecido
conhecidocomo comoestímulo,
estímulo,deve
deveterteruma
umaintensidade
intensidade
mínima
mínimaque quepossa
possaalterar
alteraroopotencial
potencialdederepouso
repousodadamembrana
membranaem em
direção
direçãoa aum umvalor
valormenos
menosnegativo.
negativo.Quando
Quandoesse essevalor
valordedevoltagem,
voltagem,
chamado
chamadodedelimiar,
limiar,é éalcançado,
alcançado,um umpotencial
potencialdedeação
açãodesenvolve-se
desenvolve-se
34
34
BASES CELULARES
BASES CELULARES DA
DA FISIOLOGIA
FISIOLOGIA DOS
DOS ÓRGÃOS
ÓRGÃOS EE SISTEMAS
SISTEMAS DOS
DOS ANIMAIS
ANIMAIS

automaticamente até
automaticamente até oo seu
seu término,
término, quando
quando então
então aa membrana
membrana retorna
retorna
ao potencial
ao potencial dede repouso.
repouso. Como
Como oo potencial
potencial dede ação,
ação, uma
uma vez
vez iniciado,
iniciado,
prossegue até
prossegue até oo fim, diz-se que
m, diz-se que ele
ele éé uma
uma atividade
atividade tipo
tipo tudo-ou-nada:
tudo-ou-nada:
se oo estímulo
se estímulo não
não alcançar
alcançar oo limiar,
limiar, oo potencial
potencial dede ação
ação não
não acontece;
acontece;
se alcançar,
se alcançar, oo potencial
potencial de de ação
ação aparece
aparece ee não
não pode
pode ser
ser interrompido
interrompido
ou modi
ou modificado.
cado.

mV
ultrapassagem
0

despolarização repolarização

pós-hiperpolarização
tempo

Figura16
Figura 16––Potencial
Potencialde
deação
açãoneural
neuraltípico.
típico.As
As etapas
etapas do
do potencial
potencial são
são nomina-
nomina-
das. AA linha
das. linha pontilhada
pontilhada indica
indica oo potencial
potencial limiar.
limiar.

Um potencial
Um potencial dede ação
ação mostra
mostra duas
duas fases
fases distintas:
distintas:
1.1. fase
fase de
de despolarização
despolarização rápida:
rápida: período
período em em que
que oo potencial
potencial de de mem-
mem-
brana distancia-se
brana distancia-se rapidamente
rapidamente de de seu
seu valor
valor de
de repouso
repouso em em direção
direção
aa potenciais
potenciais menos
menos negativos.
negativos. Em Em algumas
algumas células,
células, oo potencial
potencial dede
membrana pode
membrana pode sofrer
sofrer inversão,
inversão, isto
isto é,é, alcançar
alcançar valores
valores de
de voltagem
voltagem
positivos, um
positivos, um fenômeno
fenômeno chamado
chamado de de ultrapassagem.
ultrapassagem. AA despolariza-
despolariza-
ção aparece
ção aparece como
como uma uma de deflexão para cima
exão para cima no no registro
registro da
da voltagem
voltagem
da membrana.
da membrana. AA amplitude
amplitude de de um
um potencial
potencial de de ação
ação éé aa diferença
diferença
entre aa voltagem
entre voltagem de de repouso
repouso ee aa voltagem
voltagem alcançada
alcançada no no pico
pico do
do po-
po-
tencial;
tencial;
fase de
2.2. fase de repolarização:
repolarização: período
período emem que
que oo potencial
potencial dede membrana
membrana re- re-
torna em
torna em direção
direção ao ao potencial
potencial de
de repouso.
repouso. AA repolarização
repolarização costuma
costuma
ser um
ser um pouco
pouco mais
mais demorada
demorada do do que
que aa despolarização.
despolarização. Em Em algumas
algumas
células, ao
células, ao término
término da da repolarização
repolarização aa voltagem
voltagem da da membrana
membrana fica ca
transitoriamente mais
transitoriamente mais negativa
negativa dodo que
que oo valor
valor dede repouso
repouso normal,
normal,
mas em
mas em seguida
seguida essa
essa pós-hiperpolarização
pós-hiperpolarização desaparece
desaparece ee oo potencial
potencial
de repouso
de repouso éé restabelecido.
restabelecido.
O entendimento
O entendimento completo
completo dos dos fundamentos
fundamentos do do potencial
potencial de de
ação envolve
ação envolve duas
duas coisas:
coisas: compreender
compreender oo movimento
movimento de de cargas
cargas elé-
elé-
tricas que
tricas que altera
altera aa voltagem
voltagem da da membrana
membrana durante durante oo potencial,
potencial, ee iden-
iden-
tificar
ti car osos portadores
portadores dessas
dessas cargas
cargas ee as
as vias
vias pelas
pelas quais
quais eles
eles cruzam
cruzam
aa membrana.
membrana.
35
35
COLEÇÃO
COLEÇÃOFUNDAMENTUM
FUNDAMENTUM• •N.N.23
23

Bases
BasesElétricas
Elétricasdo
doPotencial
Potencialde
deAção
Ação
Quando
Quandouma umacélula
célulaestá
estáem
emseuseupotencial
potencialdederepouso,
repouso,não
nãoháhámo-
mo-
vimento
vimentoresultante
resultantededecargas
cargaselétricas
elétricaspositivas
positivasouounegativas
negativasentre
entreooLICLIC
eeooLEC,
LEC,eepor porisso
issoa avoltagem
voltagempermanece
permanececonstante.
constante.Na Namaioria
maioriadas das
células,
células,a adespolarização
despolarizaçãodo dopotencial
potencialdedeação
açãobem
bemcomo
comooutros
outroseventos
eventos
despolarizantessão
despolarizantes sãocausados
causadospelopeloin
influxo (entrada)dedecargas
uxo (entrada) cargaspositivas
positivas
célula8.8.AAdespolarização
nanacélula despolarizaçãopára páraquando
quandoasascargas
cargaspositivas
positivassão
sãoimpedi-
impedi-
dasdedecontinuar
das continuarentrando
entrandonanacélula.
célula.
OOmesmo
mesmoraciocínio,
raciocínio,porém
porémno nosentido
sentidoinverso,
inverso,aplica-se
aplica-sea arepo-
repo-
larização.OOpotencial
larização. potencialdedemembrana
membranarepolariza
repolariza((fica maisnegativo)
ca mais negativo)pela
pela
saídadedecargas
saída cargaspositivas
positivasdo doLIC
LICpara
paraooLEC,
LEC,eea arepolarização
repolarizaçãoé éinter-
inter-
rompidaquando
rompida quandoesseessee
efluxo (saída)cessa.
uxo (saída) cessa.Uma
Umarepresentação
representaçãodosdosfluxos
uxos
elétricospela
elétricos pelamembrana
membranano norepouso,
repouso,nanadespolarização
despolarizaçãoe enanarepolariza-
repolariza-
çãoéédada
ção Figura17.
dadananaFigura 17.

LIC LEC

LIC LEC
LIC LEC

B C

Figura
Figura1717––Fluxo
Fluxodedecorrente
correnteelétrica
elétricapela
pelamembrana
membranano norepouso
repouso(A),
(A),nanades-
des-
polarização
polarização (B) e na repolarização (C). A natureza (passiva ou ativa)do
(B) e na repolarização (C). A natureza (passiva ou ativa) dofluxo
uxo
iônico
iôniconão
nãoestá
estárepresentada.
representada.

Bases
BasesIônicas
Iônicasdo
doPotencial
Potencialde
deAção
Ação
São
Sãoososíons
íonsque
quelevam
levamasascargas
cargaselétricas
elétricasatravés
atravésdadamembrana
membrananana
despolarização
despolarizaçãoe enanarepolarização.
repolarização.Na Namaioria
maioriadas
dascélulas
célulasque queproduzem
produzem
potenciais
potenciaisdedeação,
ação,a adespolarização
despolarizaçãoé écausada
causadapor Na+,+e, ea arepolarização
porNa repolarização
por
porKK+.+.OOmovimento
movimentoiônico iônicoque
quefundamenta
fundamentaoopotencial
potencialdedeação açãoé édede
natureza
naturezadifusional
difusionaleeocorre
ocorrepor
porcanais
canaisiônicos
iônicosvoltagem-dependentes.
voltagem-dependentes.
OOgradiente
gradienteeletroquímico
eletroquímicodo doNaNa+,+,quando
quandoa amembrana
membranaestá estáem
em
seu potencial de repouso, é muito favorável ao influxo de Na , masháhá
seu potencial de repouso, é muito favorável ao in uxo de Na ,
++
mas
poucos
poucoscanais
canaisdedevazamento
vazamentodisponíveis
disponíveispara
paraooseu
seuin uxo. Quando
influxo. Quandoum um
estímulo
estímuloperturba
perturbaa amembrana
membranaoosu ciente para
suficiente paraa avoltagem
voltagemlimiarlimiarserser

8 8 OOfluxo
uxo dedecargas
cargaselétricas
elétricasrecebe
recebeoonome
nomededecorrente
correnteelétrica.
elétrica.
36
36
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

alcançada, um grande número de canais de Na+ voltagem-dependentes


se abre, aumentando tremendamente e rapidamente a permeabilidade da
membrana a esse íon. O intenso influxo de Na+ responde pela rapidez da
fase de despolarização do potencial de ação nas células nervosas. De ma-
neira igualmente rápida, os canais de Na+ são inativados, interrompendo
o influxo do íon e a despolarização.
A abertura dos canais de Na+ é um exemplo de retroalimentação
positiva fisiologicamente importante: quando algumas cargas elétricas
positivas entram na célula e iniciam sua despolarização, abrem alguns
canais de Na+, que entra e acentua a despolarização; esta por sua vez
abre ainda mais canais de Na+, intensifica a despolarização, e assim por
diante. Este ciclo é interrompido pela inativação dos canais.
Enquanto a despolarização prossegue, outro conjunto de canais
voltagem-dependentes, seletivo para K+, começa a ser aberto. Quando
a despolarização atinge seu pico, os canais de K+ são completamente
ativados e o K+ sai, obedecendo a seu gradiente eletroquímico. O mo-
vimento do K+ e o fechamento de seus canais são menos rápidos que
os do Na+, e por isso a repolarização é mais lenta e pode hiperpolarizar
temporariamente a membrana após o término da repolarização.
Nos neurônios, a densidade de canais voltagem-dependentes não
é a mesma em toda a extensão da membrana. Certas áreas são mais ex-
citáveis do que outras porque têm uma alta densidade de canais, como
é o caso do cone axonal; nessas áreas é mais fácil desencadear um po-
tencial de ação9. Nos axônios mielinizados os nódulos de Ranvier, que
são as interrupções da bainha de mielina, também são ricos em canais
voltagem-dependentes. Por outro lado, o corpo celular e a membrana
axonal recoberta pela mielina têm uma quantidade relativamente menor
desses canais.

Outros Potenciais de Ação


As células musculares representam um segundo grupo importante
de células que manifestam atividade elétrica como potenciais de ação,
o primeiro grupo sendo o das células nervosas. Os potenciais de ação
musculares diferem do neural nos seguintes pontos:
1. no músculo esquelético, a duração do potencial de ação pode ser de
até 5 ms, como resultado de uma cinética mais lenta de abertura dos
canais de Na+;

9 Isso é o mesmo que dizer que o limiar para a geração de potenciais de ação é mais
baixo nesse local. O limiar é determinado, em parte, pela densidade local de canais
iônicos controlados.
37
COLEÇÃO
COLEÇÃO FUNDAMENTUM
FUNDAMENTUM •• N.
N. 23
23

2.
2. no
no músculo
músculo cardíaco,
cardíaco, aa despolarização
despolarização rápida
rápida não não éé seguida
seguida de de ime-
ime-
diato
diato pela repolarização, e sim por uma fase intermediária em que
pela repolarização, e sim por uma fase intermediária em que
aa despolarização
despolarização da da membrana
membrana éé mantida,
mantida, estendendo
estendendo aa duração
duração
total
total do
do potencial
potencial de de ação
ação para
para até
até 150-300
150-300 ms (Figura 18).
ms (Figura 18). AA des-
des-
polarização
polarização mantida
mantida éé chamada
chamada de
de platô
platô ee decorre
decorre da
da abertura
abertura de
de
canais de Ca 2+ voltagem-dependentes, permitindo o inuxo desse
2+
canais de Ca voltagem-dependentes, permitindo o influxo desse
íon;
íon;
3.
3. no
no músculo
músculo liso
liso ee em
em algumas
algumas células
células especializadas
especializadas do
do coração,
coração, aa
despolarização pode ser causada por Ca 2+, e não por Na +. Como
2+
despolarização 2+pode ser causada por Ca , e não por Na +. Como
+

os
os canais
canais de Ca2+ abrem-se
de Ca abrem-se mais mais lentamente
lentamente que que os
os de
de Na
Na+,, aa des-
des-
polarização
polarização é mais lenta e o potencial de ação dura entre 10
é mais lenta e o potencial de ação dura entre 10 ee 5050
ms.
ms.
Outras
Outras células
células também
também geram geram potenciais
potenciais de de ação.
ação. Eles
Eles jájá foram
foram
registrados
registrados em em oócitos,
oócitos, nana pele
pele dede girinos,
girinos, na
na hipó se anterior
hipófise anterior ee nasnas
células
células das
das ilhotas
ilhotas pancreáticas
pancreáticas de de mamíferos,
mamíferos, ee até até mesmo
mesmo em em fungos
fungos
ee plantas.
plantas.

mV

tempo

Figura
Figura 18
18 –– Potencial
Potencial de
de ação
ação com
com platô
platô do
do músculo
músculo cardíaco.
cardíaco.

Restauração
Restauração dos
dos Gradientes
Gradientes Iônicos
Iônicos
A
A difusão
difusão dosdos íons
íons NaNa+ ee K
+
K+,, durante
+
durante oo potencial
potencial de
de ação,
ação, causa
causa uma
uma
grande
grande alteração
alteração nana voltagem
voltagem da da membrana,
membrana, que que em
em algumas
algumas células
células pode
pode
alcançar
alcançar aa amplitude
amplitude de de 100
100 mV.
mV. A A quantidade
quantidade de de íons
íons que
que se
se difunde
difunde para
para
dentro (Na +) e para fora (K +) da célula a cada potencial de ação é mui-
+ +
dentro (Na ) e para fora (K ) da célula a cada potencial de ação é mui-
to
to pequena,
pequena, ee não não altera
altera signi cativamente as
significativamente as concentrações
concentrações iônicas,
iônicas, mas
mas
mesmo assim, os íons devem ser devolvidos aos
mesmo assim, os íons devem ser devolvidos aos seus compartimentos seus compartimentos
de
de origem
origem porque
porque se se aa sua
sua difusão
difusão nãonão for
for contraposta
contraposta haverá
haverá um um efeito
efeito
cumulativo
cumulativo sobre os gradientes eletroquímicos. A devolução do Na
sobre os gradientes eletroquímicos. A devolução do Na+ para
+
para
oo meio
meio extracelular
extracelular ee dodo K K+ para
+
para oo meio
meio intracelular
intracelular éé umum processo
processo contra
contra
gradiente
gradiente que que envolve
envolve gasto
gasto de de energia
energia ee éé levado
levado aa cabo
cabo pela
pela bomba
bomba de de
Na +
+,K +. A atividade da bomba é contínua, e é ainda mais estimulada pelo
+
Na ,K . A atividade da bomba é contínua, e é ainda mais estimulada pelo
aumento
aumento intracelular
intracelular dodo NaNa+ decorrente
+
decorrente da da despolarização.
despolarização.
38
38
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

Período Refratário
Quando um potencial de ação está acontecendo em um ponto da
membrana plasmática, não é possível gerar um novo potencial de ação
nesse ponto, mesmo que a célula seja fortemente estimulada. Este perí-
odo é chamado de período refratário absoluto, e baseia-se no comporta-
mento dos canais de Na+ voltagem-dependentes.
Os canais de Na+ voltagem-dependentes envolvidos no potencial
de ação podem estar em três condições funcionais distintas: 1) fechados,
2) abertos e 3) inativados. Num ciclo completo, um canal de Na+ pas-
sa de fechado (no repouso) para aberto (durante a despolarização), daí
para inativado (ao final da despolarização) e em seguida para fechado
(durante a repolarização). As mudanças de um estado para outro são
dependentes da mudança na voltagem da membrana (fechado→aberto
e inativado→fechado) e de tempo (aberto→inativado). Não é possível
um canal inativado ser aberto antes da membrana se repolarizar o su-
ficiente para mudá-lo para a condição fechada. Isso explica o período
refratário absoluto: não há como iniciar um novo potencial de ação (i.e.,
despolarizar a membrana) até que os canais de Na+ tenham mudado de
inativados para fechados. Só depois de fechados é que eles podem ser
re-abertos para permitir o influxo de Na+ da despolarização. Em muitos
tipos celulares excitáveis, o período refratário absoluto estende-se até
pelo menos a metade do período de repolarização.
O período refratário absoluto é seguido por um outro intervalo de
tempo durante o qual a excitabilidade da célula ainda não está totalmen-
te restaurada. Este é o período refratário relativo, em que um estímulo
mais forte pode conseguir disparar um novo potencial de ação. Nesse
período, parte dos canais de Na+ ainda está inativada, mas parte já está
fechada e pode ser aberta pelo estímulo. O período refratário relativo
costuma terminar próximo ao término da repolarização, quando a célula
reassume excitabilidade plena.
A duração do período refratário tem conseqüências sobre a freqü-
ência máxima de potenciais de ação que uma célula pode produzir, quer
dizer, quantos potenciais de ação podem ser registrados em um ponto
por unidade de tempo. Quanto mais longo é o período refratário, menor
é a freqüência máxima de potenciais de ação.

Propagação do Potencial de Ação


As correntes elétricas de um potencial de ação ocorrem inicial-
mente em uma região restrita da membrana plasmática. As porções de
membrana circunvizinhas, a princípio, permanecem polarizadas, isto é,
em seus potenciais de repouso. Mas a corrente despolarizante dos íons
39
COLEÇÃO
COLEÇÃOFUNDAMENTUM • N.
FUNDAMENTUM 2323
• N.

NaNa+
pode
+
podeuir
fluirlivremente
livrementepelos peloslíquidos
líquidoscorporais,
corporais,e ela
e elaentão
entãosesedisper-
disper-
sasapara
para essas regiões vizinhas, despolarizando-as até o limiare causando
essas regiões vizinhas, despolarizando-as até o limiar e causando
o oaparecimento
aparecimentodedeum umnovonovopotencial
potencialdedeação.
ação.Esse
Esseé oé omecanismo
mecanismopelo pelo
qual
qualo opotencial
potencialdedeação açãopassa
passadedeuma umaárea
áreadedemembrana
membranapara paraoutras
outrassu-su-
cessivamente,
cessivamente,quer querdizer,
dizer,sesepropaga.
propaga.AApropagação
propagaçãododopotencial
potencialdedeação ação
permite
permite que as células nervosas transmitam informaçõesrecebidas
que as células nervosas transmitam informações recebidasemem
uma
umaextremidade
extremidadedadacélula célula(geralmente
(geralmenteososdendritos)
dendritos)para paraa outra
a outraextre-
extre-
midade
midade (geralmente as ramificações terminais do axônio), e tambémque
(geralmente as rami cações terminais do axônio), e também que
o opotencial
potencialdedeação açãomuscular
muscularpossa possasesedeslocar
deslocardadaplaca
placamotora
motoraonde ondeé é
gerado
geradopara paraasasporções
porçõesmaismaisdistantes
distantesdadamembrana,
membrana,onde ondedesencadeia
desencadeia
ososprocessos que levam à contração
processos que levam à contração muscular. muscular.
NosNosinvertebrados,
invertebrados,é comum é comumencontrar
encontraraxônios
axônioslongos
longosdedegrande
grande
diâmetro.
diâmetro.A Amaior maiorárea áreadedesecção
secçãotransversal
transversaldodocitoplasma
citoplasmaaxonal axonalau-au-
xilia
xilianonouxo
fluxodadacorrente
correntedespolarizante
despolarizanteporqueporqueháhámaismaisíons íonspor
porárea
áreae e
mais
maisespaço
espaçoparaparaeleselesuírem,
fluírem,melhorando
melhorandoa velocidade
a velocidadededepropagação
propagação
dodopotencial
potencialdedeação. ação.Nesses
Nessesaxônios,
axônios,o opotencial
potencialdedeação
açãopodepodeserserregis-
regis-
trado
trado em cada seção seqüencial da membrana (Figura 19A).Mas
em cada seção seqüencial da membrana (Figura 19A). Masa pro-
a pro-
pagação
pagaçãoponto-a-ponto
ponto-a-pontododopotencial potencialdedeaçãoaçãoé metabolicamente
é metabolicamentecara, cara,e e
relativamente
relativamentelenta lentamesmo
mesmoememaxônios axôniosdedegrande
grandediâmetro.
diâmetro.Todos Todososos
íons
íonsque quecruzam
cruzama amembrana
membranadevem devemserserativamente
ativamentetransportados
transportadosdede
volta
voltapela bombadedeNaNa,K
pelabomba ,K, o, oque
+ + + +
queconsome
consomeATP. ATP.AlémAlémdisso,
disso,a acor-
cor-
rente
rente elétrica despolarizante cruza a membrana plasmática aolongo
elétrica despolarizante cruza a membrana plasmática ao longodede
toda
todaa sua
a suaextensão.
extensão.A Amodi cação mais
modificação maiseeficiente
ciente paraparacontornar
contornaresses esses
problemas
problemasfoifoio oisolamento
isolamentoelétrico
elétricodosdosaxônios,
axônios,através
atravésdadasua suamielini-
mielini-
zação,
zação,observada
observadanos nosvertebrados.
vertebrados.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 A

Figura
Figura1919– –Propagação
Propagaçãododopotencial
potencialdedeação
açãoememaxônios
axôniosamielínicos
amielínicos(A)(A)e e
mielinizados
mielinizados(B).(B).Quando
Quandonão nãoháhábainha
bainhadedemielina,
mielina,a corrente
a correntedespolarizante
despolarizante
gera
gerapotenciais
potenciaisdedeaçãoaçãoememcada
cadaseção
seçãotransversal
transversaldadamembrana
membranananaseqüência
seqüência
indicada a partir
indicada a partir dada
região dodo
região estímulo
estímulooriginal
original(1).(1).
Quando
Quandoháhá
bainha
bainhadedemielina,
mielina,
a corrente
a correnteuifluipelo
pelocitoplasma
citoplasmaaxonal
axonale só
e sódesencadeia
desencadeiapotenciais
potenciaisdedeação
açãonos
nos
nódulos
nódulosdede
Ranvier.
Ranvier.
4040
BASESCELULARES
BASES CELULARESDA
DAFISIOLOGIA
FISIOLOGIADOS
DOSÓRGÃOS
ÓRGÃOSEESISTEMAS
SISTEMASDOS
DOSANIMAIS
ANIMAIS

AAbainha
bainhade demielina
mielinaque
queenvolve
envolveos osaxônios
axônioséémuitomuitorica
ricaemem
lipídeos. Isso aumenta a resistência da membrana
lipídeos. Isso aumenta a resistência da membrana axonal ao fluxo axonal ao fluxo
decorrente
de correnteelétrica
elétricaatravés
atravésdela,
dela,de
demodo
modoque queaacorrente
correntedespolari-
despolari-
zantesegue
zante segueporpordentro
dentrodo doaxônio
axôniomantendo
mantendosua suapotência.
potência.Quando
Quando
aa corrente
corrente chega
chega em em umum nódulo
nódulo de de Ranvier,
Ranvier, elaela desencadeia
desencadeia um um
potencialde
potencial deação.
ação.Como
Comoaacorrente
correntenesse
nesseponto
pontoééintensa
intensaeeaadensi-
densi-
dadede
dade decanais
canaisééalta,
alta,oolimiar
limiarééalcançado
alcançadorapidamente,
rapidamente,oopotencial
potencial
acontece,eeaacorrente
acontece, correntesegue
segueadiante
adiantepelo
pelocitoplasma
citoplasmaaxonal.
axonal.Assim,
Assim,
nosaxônios
nos axôniosmielinizados,
mielinizados,os ospotenciais
potenciaisde deação
açãosó sóaparecem
aparecemnos nos
nódulosde
nódulos deRanvier:
Ranvier:éécomocomoseseeles
elessaltassem
saltassemde deum umnódulo
nódulopara
para
outro,eepor
outro, porisso
issoaacondução
conduçãonesses
nessesaxônios
axôniosééchamada
chamadade desaltatória
saltatória
(Figura 19B). Quanto mais espessa é a bainha de
(Figura 19B). Quanto mais espessa é a bainha de mielina, melhor mielina, melhor
ooisolamento
isolamentoelétrico
elétricoque
queela
elafornece,
fornece,eemais
maisrápida
rápidaééaacondução
condução
saltatória.
saltatória.

OutrosPotenciais
Outros Potenciaisde
deMembrana
Membrana
Alémdo
Além dopotencial
potencialde derepouso
repousoestável
estáveleedo
dopotencial
potencialdedeação,
ação,exis-
exis-
temoutras
tem outrasmanifestações
manifestaçõeselétricas
elétricasque
quepodem
podemser serregistradas
registradasnas
nasmem-
mem-
branascelulares.
branas celulares.Por
Porexemplo:
exemplo:algumas
algumascélulas
célulasapresentam
apresentamum umpotencial
potencial
de membrana
de membrana inerentemente
inerentemente instável;
instável; seu
seu valor
valor sobe
sobe gradativamente
gradativamente
paravalores
para valoresmenos
menosnegativos
negativosaté
atéalcançar
alcançaraavoltagem
voltagemlimiar,
limiar,quando
quando
desencadeiaum
desencadeia umpotencial
potencialde deação.
ação.Quando
Quandoeste estetermina,
termina,oopotencial
potencial
de“repouso”
de “repouso”reinicia
reiniciaseu
seudeslocamento
deslocamentopara paravalores
valoresmenos
menosnegativos
negativos
(Figura 20).Este
(Figura20). Esteprocesso
processodededespolarização
despolarizaçãolenta
lentaéécausado,
causado,provavel-
provavel-
mente,por
mente, poroscilações
oscilaçõesnosnosmecanismos
mecanismosde dedifusão
difusãoeededetransporte
transporteativo
ativo
namembrana
na membranadesses
dessestipos
tiposcelulares.
celulares.Como
Comoosospotenciais
potenciaisdedeação
açãonessas
nessas
célulasaparecem
células aparecemem emintervalos
intervalosregulares,
regulares,aaatividade
atividadeelétrica
elétricaééchamada
chamada
depotencial
de potencialmarcapasso.
marcapasso.

mV
Potencial marcapasso
0

Potencial de ação

tempo

Figura20
Figura 20––Potenciais
Potenciaismarcapasso.
marcapasso.Esses
Essespotenciais
potenciaissão
sãoencontrados
encontradosememalgu-
algu-
mascélulas
mas célulasdo
dotecido
tecidonervoso,
nervoso,do
dotecido
tecidocardíaco
cardíacoeedo
dotecido
tecidogastrointestinal.
gastrointestinal.
41
41
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

Muitos neurônios e outros tipos celulares têm atividade elétrica que


não se manifesta como potenciais de ação. Os dendritos e o corpo celular
das células nervosas também não costumam exibir potenciais de ação. A
atividade elétrica nesses casos aparece na forma de potenciais graduados,
alterações no potencial da membrana celular que variam de amplitude em
função da intensidade do fator que os desencadeou. Um potencial gradu-
ado pode ser uma despolarização parcial ou uma hiperpolarização, depen-
dendo de se ele torna o potencial de membrana menos negativo ou mais
negativo, respectivamente, o que, por sua vez, depende do tipo de canal
iônico sobre o qual o estímulo atua.
Os potenciais graduados, sendo resultado de correntes elétricas
como o potencial de ação, também podem se propagar pela membra-
na. Porém, a corrente dos potenciais graduados não é auto-regenerativa
como a do potencial de ação, e assim eles diminuem de amplitude à me-
dida que se distanciam do seu ponto de origem, e eventualmente desa-
parecem. As células nervosas diferem umas das outras no grau com que
seus potenciais graduados perdem amplitude ao longo de uma determi-
nada distância. O decaimento dos potenciais graduados com a distância
é avaliado quantitativamente pela constante de comprimento da célula,
que é a distância em que o potencial caiu para 37% de seu valor inicial.
Quanto maior a constante de comprimento de uma célula, maior a dis-
tância que o potencial graduado pode percorrer antes de sua extinção.
Embora haja uma tendência para atribuir toda a transmissão de
informação entre células nervosas à geração e condução de potenciais
de ação, isso não é verdadeiro. Uma boa parte da comunicação neural
no sistema nervoso central e em agrupamentos periféricos de células
nervosas ocorre ao longo de pequenas distâncias, e potenciais graduados
são suficientes.

Comunicação celular
As células dos animais contêm um sistema complexo de proteínas
e outros componentes cuja finalidade é enviar sinais para outras células
e responder a sinais vindos delas. Essa extensa rede de comunicação
celular transmite informações, influencia as atividades celulares, e dá
sincronia e harmonia funcional a grupos celulares. A importância da co-
municação celular é atestada pelo fato dela estar presente até mesmo em
organismos unicelulares, onde propicia um ambiente social e coordena
atividades reprodutivas.
Dois elementos são essenciais para a comunicação entre células.
Um desses elementos é chamado de ligante: é a molécula que uma cé-
42
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

lula libera no seu meio e que vai agir sobre outras células. O segundo
elemento é o receptor, a molécula que interage com o ligante de modo
específico e desencadeia os efeitos do ligante. A célula que contém o
receptor é chamada de célula-alvo. A princípio, todas as células podem
ser expostas a um determinado ligante, mas somente as suas células-alvo
irão responder à sua presença.
Um mesmo ligante pode ter efeitos diferentes sobre células-alvo
diferentes porque as células estão projetadas para finalidades específicas,
e também porque as células podem ter receptores distintos para o mes-
mo ligante. Os eventos celulares que podem ser influenciados por molé-
culas sinalizadoras incluem permeabilidade iônica, atividade enzimática,
expressão gênica (transcrição de genes e síntese de proteínas), secreção,
metabolismo, e movimento. Quando um ligante liga-se ao seu receptor
na célula-alvo, causa algum tipo de alteração no funcionamento celular.
Essa ligação, no entanto, é transitória, e quando o ligante se desprende
do receptor, todos os processos intracelulares retornam à condição que
tinham antes da presença do ligante.
A comunicação entre células envolvendo ligantes e receptores
pode ser de quatro categorias:
1. Na comunicação autócrina, o ligante alcança as células-alvo por di-
fusão pelo líquido intersticial, de maneira que é um sinalizador, ou
mediador, de ação local. A célula-alvo da comunicação autócrina é
do mesmo tipo da célula sinalizadora. Eventualmente, a própria cé-
lula que secreta o ligante é a célula-alvo (Figura 21A).
2. A comunicação parácrina difere da autócrina porque as células-alvo
são diferentes da célula sinalizadora; o ligante também é distribuído
localmente, por difusão através do líquido intersticial (Figura 21B).
3. Na comunicação sináptica, a molécula sinalizadora é chamada de
neurotransmissor. O neurotransmissor é secretado num pequeno
espaço extracelular que separa a célula sinalizadora da célula-alvo
(Figura 21C).
4. Quando a molécula sinalizadora é distribuída para os tecidos através
da corrente sanguínea, a comunicação é do tipo endócrina, e o ligan-
te é chamado de hormônio (Figura 21D).
A classificação da comunicação celular em autócrina, parácrina, si-
náptica e endócrina não tem relação direta com a identidade do ligante.
Assim, uma dada molécula pode ser um sinalizador autócrino em um
local, um neurotransmissor em outro, e um hormônio em outro.
Existe ainda um tipo de comunicação celular em que ocorre a
transferência direta de moléculas ou de corrente elétrica do citoplasma
de uma célula para o citoplasma de outra através de proteínas de mem-
brana que formam um canal de comunicação entre elas (Figura 22).
43
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

A B

C D
Figura 21 – Tipos de sinalização celular. A) autócrina, B) parácrina, C) sináptica,
D) endócrina. Os receptores nas células-alvo não são mostrados.

Figura 22 – Junções comunicantes. As moléculas sinalizadoras passam direta-


mente de uma célula para outra.

A natureza do ligante determina a localização de seu receptor na


célula-alvo. Quando as moléculas sinalizadoras são lipossolúveis, a bi-
camada lipídica da membrana plasmática não é um empecilho para sua
difusão para dentro da célula-alvo e seus receptores podem estar loca-
lizados no citosol ou no próprio núcleo. Por outro lado, os receptores
para os ligantes hidrossolúveis são proteínas da membrana plasmática.
Em cada caso, a forma como o ligante influencia a atividade celular
costuma ser diferente, e depende de como o receptor está interligado
a outros componentes celulares.

Sinalizadores Lipossolúveis – Receptores Intracelulares


Os sinalizadores lipossolúveis mais conhecidos são os hormô-
nios esteróides (derivados do colesterol), os hormônios tireoideanos,
os retinóides (derivados da vitamina A) e a vitamina D. Eles difun-
dem-se pela membrana plasmática e ligam-se a seus receptores espe-
cíficos, que ficam no citosol ou no núcleo da célula-alvo. O complexo
ligante-receptor, nessa categoria, tem suas ações mais importantes
sobre o controle da expressão gênica: o complexo pode, direta ou
indiretamente, induzir ou reprimir a transcrição de genes específicos,
modificando a composição protéica da célula e, conseqüentemente,
a sua atividade. É comum o complexo ligante-receptor produzir seus
efeitos em duas etapas: primeiro, ele induz a produção de certas pro-
44
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

teínas
teínas que
que são
são fatores
fatores de
de transcrição,
transcrição, ee estas
estas por
por sua
sua vez
vez controlam
controlam aa
expressão de outros genes, que codificam proteínas estruturais, enzi-
expressão de outros genes, que codicam proteínas estruturais, enzi-
mas, etc (Figura 23).
mas, etc (Figura 23).

complexo ligante-receptor
receptor ligante

DNA
fatores de transcrição

DNA

proteínas

Figura 23 – Ação dos sinalizadores lipossolúveis.

As alterações na expressão gênica são relativamente lentas, e por


isso os efeitos dos sinalizadores lipossolúveis costumam demorar algu-
mas horas para se manifestarem após a formação do complexo ligante-
receptor, e outro tanto para desaparecerem quando o ligante é removi-
do.
Outros dois sinalizadores lipossolúveis, os gases óxido nítrico
(NO)
(NO) ee monóxido
monóxido de de carbono
carbono (CO),
(CO), agem
agem dede maneira
maneira diferenciada.
diferenciada. Nas
Nas
células-alvo,
células-alvo, esses gases ligam-se a uma enzima, a guanilil ciclase,
esses gases ligam-se a uma enzima, a guanilil ciclase, estimu-
estimu-
lando
lando aa produção
produção dede GMP
GMP cíclico
cíclico (cGMP)
(cGMP) aa partir
partir de
de GTP.
GTP. Sendo
Sendo assim,
assim,
aa guanilil
guanilil ciclase citosólica funciona, ao mesmo tempo, como receptor
ciclase citosólica funciona, ao mesmo tempo, como receptor ee
como
como efetor
efetor enzimático
enzimático desses
desses ligantes.
ligantes.

Sinalizadores
Sinalizadores Hidrossolúveis
Hidrossolúveis –– Receptores
Receptores de
de Membrana
Membrana
Quando
Quando um um ligante
ligante éé hidrossolúvel,
hidrossolúvel, oo mesmo
mesmo necessita
necessita de
de recep-
recep-
tores
tores na membrana plasmática de suas células-alvo, já que ele não pode
na membrana plasmática de suas células-alvo, já que ele não pode
atravessá-la.
atravessá-la. A A formação
formação do do complexo
complexo ligante-receptor
ligante-receptor nana membrana
membrana éé
que
que influencia
inuencia aa atividade
atividade dada célula-alvo.
célula-alvo.
Existem
Existem três classes principais
três classes principais de
de receptores
receptores dede membrana,
membrana, dis-dis-
tintos
tintos entre si pela organização tridimensional da proteína receptora
entre si pela organização tridimensional da proteína receptora nana
membrana
membrana plasmática
plasmática ee pela
pela forma
forma como
como afetam
afetam aa atividade
atividade celular.
celular. A
A
primeira
primeira classe
classe éé aa dos
dos receptores
receptores ionotrópicos,
ionotrópicos, que
que nada
nada mais
mais são
são do
do
que
que os
os canais
canais iônicos
iônicos controlados
controlados por
por ligante
ligante descritos
descritos anteriormente.
anteriormente.
A
A segunda classe é a dos receptores acoplados aa proteínas
segunda classe é a dos receptores acoplados proteínas G,G, que
que são
são
45
45
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

as primeiras proteínas intracelulares de uma seqüência a serem ativadas


pela presença do ligante no receptor. A terceira classe é a dos receptores
enzimáticos, que têm atividade enzimática sobre substratos intracelula-
res ou estão associados a enzimas. Os receptores acoplados a proteínas
G e os receptores enzimáticos, por serem mediadores de alterações me-
tabólicas, são conhecidos como receptores metabotrópicos.

Receptores Ionotrópicos
Os receptores ionotrópicos são, ao mesmo tempo, uma proteína
receptora específica para um dado ligante e um canal iônico. Quando o
ligante interage com a proteína, formando o complexo ligante-receptor,
o canal iônico que estava fechado abre-se (em alguns casos o canal iô-
nico estava aberto e fecha-se quando o complexo é formado). A mo-
dificação da permeabilidade da membrana ao íon para o qual o canal
é seletivo altera a voltagem da membrana, causando despolarização ou
hiperpolarização e, conseqüentemente, modificando a capacidade da cé-
lula de conduzir informações na forma de sinais elétricos. Os canais
iônicos sensíveis a acetilcolina da junção neuromuscular são um exem-
plo de receptores ionotrópicos. Muitos neurotransmissores agem sobre
receptores ionotrópicos na comunicação sináptica.

Receptores Enzimáticos
Esses receptores são proteínas transmembrânicas com um sítio de
ligação para a molécula sinalizadora na sua porção extracelular. Na por-
ção intracelular, o receptor ou tem um sítio catalítico, de forma que atua
como enzima, ou está associado a uma enzima. A atividade enzimática se
manifesta geralmente pela fosforilação de proteínas intracelulares como
no caso dos receptores para insulina e para fatores de crescimento, ou
pela produção de moléculas que influenciam a atividade protéica como o
cGMP produzido pelo receptor do peptídeo natriurético atrial.

Receptores Acoplados a Proteínas G


A categoria dos receptores acoplados a proteínas G é muito ampla.
Esses receptores medeiam a ação de muitos hormônios, neurotransmis-
sores, e sinalizadores locais.
Há muitas variantes desse sistema de receptores, mas a maioria
segue um plano comum (Figura 24): a molécula sinalizadora liga-se
ao receptor de membrana e ativa a proteína G associada ao receptor.
Esta regula uma enzima associada à membrana plasmática, resultan-
46
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

do na produção de um segundo mensageiro. Por sua vez, o segun-


do mensageiro controla outras moléculas intracelulares, levando à
resposta da célula. Nesse plano, o ligante extracelular é o primeiro
mensageiro (o sinalizador original), e seu representante intracelular
é o segundo mensageiro; a proteína que o produz é o efetor primá-
rio e as moléculas afetadas pelo segundo mensageiro são os efetores
secundários. A proteína G é o transdutor (a molécula que converte o
sinal extracelular em um sinal intracelular).

PRIMEIRO MENSAGEIRO (MOLÉCULA SINALIZADORA)

RECEPTOR

TRANSDUTOR (PROTEÍNA G)

EFETOR PRIMÁRIO (ENZIMA DE MEMBRANA)

SEGUNDO MENSAGEIRO

EFETOR SECUNDÁRIO

Figura
Figura 24
24 –– Esquema
Esquema geral
geral dos
dos receptores
receptores acoplados
acoplados aa proteínas
proteínas G.
G.

Alguns
Alguns dos
dos sistemas
sistemas mais
mais importantes
importantes acoplados
acoplados aa proteínas
proteínas G
G são
são
apresentados a seguir. Esses sistemas são mais conhecidos pelos
apresentados a seguir. Esses sistemas são mais conhecidos pelos nomes nomes
dos
dos segundos
segundos mensageiros
mensageiros ee das
das enzimas
enzimas que
que os
os produzem.
produzem.
A
A Via da Adenil Ciclase – AMP Cíclico: Muitas moléculas
Via da Adenil Ciclase – AMP Cíclico: Muitas moléculas sinaliza-
sinaliza-
doras
doras extracelulares
extracelulares agem
agem sobre
sobre receptores
receptores acoplados
acoplados aa proteínas
proteínas GG que
que
ativam a enzima adenil ciclase. A adenil ciclase converte ATP em AMP
cíclico (cAMP), um segundo mensageiro (Figura 25). Um dos princi-
pais efetores secundários controlados pelo cAMP é a proteína cinase A
(PKA), que fosforila proteínas intracelulares especí cas. Há proteínas
específicas.
G que estimulam a adenil ciclase, como aquelas associadas ao receptor

β para adrenalina, e outras que a inibem, como aquelas associadas ao
receptor 2
α2 para adrenalina.
Em algumas células o próprio cAMP controla a expressão gênica
ao agir sobre fatores de transcrição, e no sistema olfativo o cAMP abre
canais de Na+.
47
COLEÇÃO
COLEÇÃOFUNDAMENTUM
COLEÇÃOFUNDAMENTUM ••N.•
FUNDAMENTUM N.232323
N.

adenil
adenilciclase
ciclase

Membrana
Membranaplasmática
plasmática

ATP
ATP cAMP
cAMP
proteína
proteínaGG

PKA
PKAinativa
inativa PKA
PKAativa
ativa
complexo
complexoreceptor-ligante
receptor-ligante

fosforilação
fosforilaçãodedeproteínas
proteínas

RESPOSTA
RESPOSTACELULAR
CELULAR

Figura
Figura2525–25–Via
Figura dedesinalização
–Via
Via desinalizaçãodo cAMP.
dodo
sinalização cAMP.
cAMP.

AAVia
AVia dadada
Via Fosfolipase
Fosfolipase
Fosfolipase CC–C–IP ,3,DAG,
–IP3IP DAG,
, DAG, Cálcio:
Cálcio:
Cálcio: Nessa
Nessa
Nessa via,
via, aaenzima
via, aenzima
enzima
3
ativada
ativada pela
ativadapela proteína
pelaproteína G é a fosfolipase
proteínaGGé éa afosfolipase C,
fosfolipaseC,C,queque hidrolisa
quehidrolisa um
hidrolisaum fosfolipí-
umfosfolipí-
fosfolipí-
deo
deo de
deo membrana,
dedemembrana,
membrana, oofosfatidil-inositol
ofosfatidil-inositol
fosfatidil-inositol bifosfato
bifosfato
bifosfato (PIP
(PIP ),),gerando
gerandodois
2 2 2), gerando dois
(PIP dois
segundos
segundos mensageiros:
mensageiros: inositol
inositol trifosfato
trifosfato
segundos mensageiros: inositol trifosfato (IP (IP
(IP ) )e ediacilglicerol
diacilglicerol (DAG)
(DAG)
3 3 3) e diacilglicerol (DAG)
(Figura
(Figura
(Figura26).
26). OOIP
26). ééuma
OIP3IP umamolécula
moléculahidrossolúvel
hidrossolúvelpequena pequenaque
3 3 é uma molécula hidrossolúvel pequena que deixa a
quedeixa
deixaaa
membrana
membrana
membrana plasmática
plasmática
plasmática eeliga-se
liga-seaacanais
e liga-se canais
a canais iônicos
iônicos
iônicos na membrana
nana membrana
membrana do retícu-
dodo retícu-
retícu-
loloendoplasmático.
endoplasmático. Esses
Esses canais,
canais, quando
quando ativados
ativados
lo endoplasmático. Esses canais, quando ativados pelo 3IP pelo
pelo IP
IP , permitem
, permitem
3 3, permitem a
aa
saída
saídade
saída Ca
dedeCaCado
2+2+2+
retículo,
dodo retículo, aumentando
retículo, aumentando
aumentando sua
sua concentração
suaconcentração
concentração citosólica.
citosólica.
citosólica.

fosfolipase CC
fosfolipase

Membrana
Membranaplasmática
plasmática

PKC
PKCinativa
inativa PKC
PKCativa
ativa
proteína
proteínaGG
2+ 2+
CaCa
fosforilação dede
fosforilação proteínas
proteínas

RESPOSTA
RESPOSTACELULAR
CELULAR
complexo receptor-ligante
complexo receptor-ligante

Retículo
Retículoendoplasmático
endoplasmático

Figura
Figura2626–26–Via
Figura dedesinalização
–Via
Via desinalizaçãodo IPIP3.IP
dodo
sinalização .
3 .
3

OOO DAG,
DAG,
DAG,sendo
sendo
sendohidrofóbico,
hidrofóbico,permanece
permanece
hidrofóbico, permanecepreso
preso ààmembrana
preso àmembrana
membrana plas-
plas-
plas-
mática,
mática,onde
ondeativa
ativaa aproteína
proteínacinase
cinase CC(PKC).
(PKC). AA presença
presençada
da
mática, onde ativa a proteína cinase C (PKC). A presença da PKCPKC
PKC nanana
membrana
membrana
membrana plasmática
plasmática
plasmática depende
depende do
depende aumento
dodo
aumento nanana
aumento concentração
concentração citosólica
concentraçãocitosólica
citosólica
48
4848
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

de Ca2+ induzida pelo IP3. Enquanto estiver ativada, a PKC fosforila


moléculas intracelulares que compõem a resposta ao ligante.
O Ca2+ é um importante segundo mensageiro em várias vias de si-
nalização celular. Sua concentração citosólica é mantida baixa, de modo
que há um gradiente eletroquímico muito favorável à sua difusão para
o citosol, a partir do meio extracelular ou de organelas intracelulares.
O Ca2+ age em muitas células ligando-se a uma proteína regulatória, a
calmodulina.
A Via do Ácido Araquidônico: alguns receptores ligados a proteí-
nas G ativam outra enzima de membrana, a fosfolipase A2, que hidrolisa
fosfolipídeos de membrana e promove a liberação de ácido araquidônico.
O ácido araquidônico é rapidamente convertido, pela ação de enzimas
ciclooxigenases e lipoxigenases, em compostos lipossolúveis que podem
funcionar como moléculas sinalizadoras, tais como as prostaglandinas.

Comunicação Direta Entre Células – Junções


Comunicantes
As junções comunicantes são vias de passagem que permitem
o movimento de moléculas diretamente do citoplasma de uma célula
para o de outra. As proteínas que formam as junções comunicantes ge-
ralmente formam poros relativamente grandes que permitem o fluxo
rápido de íons e de pequenas moléculas orgânicas, como cAMP. Cada
canal é formado por dois conjuntos de proteínas organizadas como um
cilindro, um em cada célula, de forma que cada conjunto forma metade
do canal. A maioria das junções comunicantes fica permanentemente
aberta, mas em alguns tecidos elas podem ser controladas por fatores
como pH e concentração citosólica de Ca2+.
Quando muitas células estão unidas por junções comunicantes, o
tecido funciona como se fosse uma unidade, ou sincício, porque qual-
quer alteração em uma célula é rapidamente conduzida para as demais
pelas junções. Essa sincronia de funcionamento é importante não apenas
para a função adequada de alguns órgãos, como a contração do músculo
cardíaco e a atividade elétrica de grupos de neurônios, mas também para
regular o desenvolvimento tecidual durante a embriogênese.
No tecido nervoso, as junções comunicantes são conhecidas como
sinapses elétricas. Sua incidência diminuiu à medida que o sistema ner-
49
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

voso dos animais evoluiu e as sinapses elétricas foram sendo substituídas


pelas sinapses químicas.

Comunicação Sináptica
As sinapses químicas envolvem a liberação de uma substância
química (o neurotransmissor) por uma célula (chamada de pré-sinápti-
ca) e sua ligação a um receptor em outra célula (chamada de pós-sináp-
tica). É uma forma de comunicação mais versátil e mais adaptativa do
que a sinapse elétrica por diversas razões. Primeiro, um mesmo neuro-
transmissor pode causar excitação ou inibição da célula pós-sináptica,
dependendo do subtipo de receptor ao qual ele se liga. Segundo, a res-
posta da célula pós-sináptica muitas vezes depende da integração dos
sinais recebidos de muitas células pré-sinápticas. Terceiro, a efetividade
sináptica pode ser modificada em longo prazo, um fenômeno que in-
fluencia a capacidade do sistema nervoso de armazenar e recuperar in-
formações e de adaptar-se a novas situações com base em informações
previamente adquiridas.

Fundamentos da Transmissão Sináptica


A comunicação celular por sinapses químicas envolve basicamen-
te duas células: a célula pré-sináptica, que é quase sempre um neurônio,
é a célula que libera a molécula sinalizadora, ou neurotransmissor. A
célula pós-sináptica é onde estão localizados os receptores para o neu-
rotransmissor. A célula pós-sináptica pode ser um neurônio, uma fibra
muscular, ou outro tipo de célula. Entre as células pré- e pós-sinápticas
há um estreito espaço, chamado de fenda sináptica, por onde o neuro-
transmissor se difunde.
Na comunicação sináptica mais característica entre neurônios, os
terminais pré-sinápticos são as ramificações finais do axônio da célu-
la pré-sináptica. São caracterizados pela presença de muitas vesículas
intracelulares contendo o neurotransmissor, mitocôndrias, e canais de
Ca2+ voltagem-dependentes na sua membrana plasmática. Quando a
célula pós-sináptica é um neurônio, esses terminais geralmente ficam
próximos dos dendritos e do corpo celular, mas podem ser encontra-
dos também em outros locais (Figura 27).
50
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

Figura 27 – Elementos da sinapse química.

A liberação do neurotransmissor acontece por exocitose das vesí-


culas quando o terminal pré-sináptico é despolarizado. A despolarização
abre os canais de Ca2+ voltagem-dependentes, o Ca2+ se difunde rapida-
mente para o citosol do terminal e leva ao deslocamento e à fusão das
vesículas com a membrana plasmática. Uma vez na fenda sináptica, o
neurotransmissor se difunde e liga-se a seus receptores na membrana
da célula pós-sináptica (Figura 28). Os efeitos produzidos dependem
do tipo de receptor (ionotrópico ou metabotrópico), mas é comum ha-
ver uma modificação do potencial de membrana da célula pós-sináptica
por causa da abertura ou fechamento, diretamente ou indiretamente, de
canais iônicos.
Quando o neurotransmissor se desliga do receptor, pode ser re-
captado pelo terminal pré-sináptico para ser reutilizado ou pode ser de-
gradado.

Figura 28 – Etapas do funcionamento de uma sinapse química entre dois neu-


rônios.
51
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

Neurotransmissores
A identidade das moléculas usadas como neurotransmissoras é
muito variada e muitos membros novos são acrescentados constante-
mente. Para apreciar essa variedade, é mais conveniente dividir os neu-
rotransmissores em grupos que tenham relação com a natureza química
do neurotransmissor:
1. Acetilcolina (Ach): é uma substância transmissora pequena, de estru-
tura molecular singular, e por isso tem um grupo próprio em que ela
é o único membro;
2. Aminas biogênicas: são neurotransmissores derivados de aminoá-
cidos. Este grupo inclui as catecolaminas, derivadas do aminoácido
tirosina (dopamina; norepinefrina e epinefrina10), a serotonina, de-
rivada do aminoácido triptofano, e a histamina, derivada da histidi-
na;
3. Aminoácidos: aqueles que podem ser usados como neurotransmis-
sores são: o glutamato, o aspartato, a glicina, e o GABA (ácido gama-
amino-butírico). O GABA é derivado do glutamato;
4. Peptídeos: mais de 50 peptídeos neuroativos foram encontrados
em neurônios. Alguns deles também são usados como hormô-
nios e mediadores locais por outras células. Alguns exemplos
são: a substância P, o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina
(CGRP), a somatostatina e os peptídeos opióides (encefalinas,
endorfinas, dinorfina).
A visão atual da comunicação sináptica inclui a noção de que uma
mesma célula pré-sináptica pode liberar mais de um neurotransmissor.
Geralmente, a associação é entre um peptídeo e um neurotransmissor
clássico, armazenados em vesículas separadas, de modo que a célula
pode liberá-los sob condições diferentes. Na célula pós-sináptica, os
neurotransmissores clássicos costumam ter ação rápida, de curta dura-
ção. Por outro lado, os peptídeos normalmente ativam receptores que
desencadeiam respostas celulares de longa duração, promovendo modi-
ficações importantes para certos processos como memória e comporta-
mento emocional.
A acetilcolina, as aminas e os aminoácidos transmissores são sin-
tetizados e embalados nas vesículas sinápticas no próprio terminal pré-
sináptico. Os peptídeos, como outras proteínas, são produzidos por
processos de transcrição e tradução, e isso acontece no corpo celular do
neurônio. O corpo celular também fornece ao terminal os componentes
da membrana vesicular e as enzimas que sintetizam os neurotransmis-
sores.

10 Também conhecidas como noradrenalina e adrenalina, respectivamente.

52
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

Integração Sináptica
A maioria dos neurônios recebe centenas ou até milhares de sinap-
ses químicas nos seus dendritos e seu corpo celular11. Cada uma dessas
sinapses tem seu próprio neurotransmissor, que atua sobre receptores
pós-sinápticos específicos, os quais por sua vez podem causar excitação
(despolarização) ou inibição (hiperpolarização) da membrana pós-sináp-
tica, dependendo de como o receptor controla a permeabilidade iônica
da célula. Essa grande afluência convergente de sinais químicos precisa
ser integrada, ou “contabilizada”, pelo neurônio para determinar qual
será sua resposta. Adicionalmente, na maioria das sinapses químicas a
ligação do neurotransmissor ao receptor não é suficientemente podero-
sa para causar um potencial graduado supralimiar, isto é, com amplitude
suficiente para desencadear um potencial de ação na célula pós-sinápti-
ca, até porque os potenciais graduados são gerados nos dendritos e no
corpo celular e devem se propagar até o cone axonal, que é o local onde
um potencial de ação pode ser desencadeado. Tipicamente, os potenciais
graduados pós-sinápticos têm cerca de 0,2-0,4 mV de amplitude no seu
ponto de origem e, por não serem auto-sustentáveis, perdem amplitude
à medida que se deslocam da sua origem até o cone axonal.
Então, os potenciais pós-sinápticos podem ser excitatórios (po-
tenciais excitatórios pós-sinápticos, ou PEPS) ou inibitórios (potenciais
inibitórios pós-sinápticos, ou PIPS). Um PEPS despolariza a membrana
pós-sináptica, enquanto um PIPS a hiperpolariza.
Os neurônios integram as sinapses que recebem de duas formas
simultâneas, mas que podem ser apresentadas separadamente: a soma-
ção espacial e a somação temporal. Na somação espacial, o neurônio
pós-sináptico contabiliza simultaneamente os efeitos de várias sinapses
distintas, regionalmente espaçadas. Nessa contabilização, o efeito hiper-
polarizante dos PIPS é deduzido do efeito despolarizante dos PEPS,
criando uma variação resultante do potencial de membrana que pode ser
despolarizante ou hiperpolarizante. Se esse potencial graduado for des-
polarizante e alcançar o cone axonal com amplitude supralimiar, a célula
dispara um potencial de ação (Figura 29); caso contrário, o potencial de
ação não é gerado.
Na somação temporal, o neurônio pós-sináptico acumula os efei-
tos de vários potenciais pós-sinápticos gerados a partir da ativação re-

11 Da mesma forma que muitos terminais pré-sinápticos, originários de neurônios


distintos, convergem sobre uma mesma célula pós-sináptica, um mesmo neurônio
pré-sináptico pode fazer sinapse com várias células pós-sinápticas diferentes, uma
característica denominada divergência.
53
COLEÇÃO FUNDAMENTUM • N. 23

petitiva de uma mesma sinapse, criando um potencial graduado único


(Figura 30).

Figura 29 – Somação espacial. PEPS são indica-


dos como + e PIPS como –. Neste exemplo, a
somação espacial resultou em um potencial gra-
duado supra-limiar, e um potencial de ação foi
produzido no cone axonal.

Figura 30 – Somação temporal. Cada potencial


de ação que chega ao terminal pré-sináptico causa
a liberação de certa quantidade de neurotrans-
missor. Neste caso, a somatória dos vários PEPS
resultou num potencial graduado despolarizante
sub-limiar no cone axonal, e o potencial de ação
não foi gerado.

Dois outros eventos sinápticos aumentam a complexidade da co-


municação sináptica. O primeiro deles é a inibição pré-sináptica, em que
um terminal axonal pré-sináptico está sujeito à ação inibitória de um
terceiro neurônio. Quando este terceiro neurônio é ativado, ele bloqueia
a liberação de neurotransmissor pelo neurônio pré-sináptico, dessa for-
ma impedindo que ele exerça qualquer ação no neurônio pós-sináptico.
Sinapses sujeitas à estimulação pré-sináptica também podem existir.
O segundo é a automodulação sináptica, na qual o neurotransmis-
sor, além de interagir com receptores na membrana pós-sináptica, liga-
se também a receptores na célula pré-sináptica, modulando sua própria
liberação. Essa automodulação pode ser muito complexa, por exemplo:
os auto-receptores pré-sinápticos podem ser excitatórios ou inibitórios
e a ligação do neurotransmissor pode depender da quantidade de neuro-
transmissor liberada pelo terminal pré-sináptico.
A integração da comunicação sináptica por somação, inibição pré-
sináptica, e automodulação, junto com as modificações em longo prazo
que podem ser induzidas pelos contatos sinápticos, geram uma enorme
54
BASES CELULARES DA FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS DOS ANIMAIS

diversidade funcional dos circuitos neuronais. Essa diversidade dá ao


sistema nervoso a característica de plasticidade pela qual as redes de
neurônios podem modificar, filtrar, bloquear, armazenar e recuperar in-
formações, incrementando a adaptabilidade do animal ao meio em que
vive.

Referências
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of Body Function. Boston: McGraw-Hill, 1998.
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