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elementos (como o nitrogênio, berílio e magnésio) ou valores próximos de zero para alguns
outros elementos.

Tabela 6. Valores de afinidade eletrônica (em eV) para alguns elementos.


Grupos
1 2 13 14 15 16 17 18
H He
0,754 – 0,5

Li Be B C N O F Ne
0,618 <0 0,277 1,263 – 0,07 1,461 3,399 – 1,2

Na Mg Al Si P S Cl Ar
0,548 <0 0,441 1,385 0,747 2,077 3,617 – 1,0

K Ca Ga Ge As Se Br Kr
0,502 0,02 0,30 1,2 0,81 2,021 3,365 – 1,0

Rb Sr In Sn Sb Te I Xe
0,486 0,05 0,3 1,2 1,07 1,971 3,059 – 0,8

A influência do raio atômico é mais sutil e menos constante. Pode-se usar o flúor e o
cloro como exemplos para ilustrar isto. O cloro é maior que o flúor e, por isso, o elétron que
entrará no átomo será menos atraído pelo núcleo. Consequentemente a entrada do elétron
seria menos favorecida. No entanto, com o aumento do raio atômico, ao mesmo tempo em que
o elétron fica mais distante do núcleo também ficará distante dos outros elétrons do cloro,
diminuindo a repulsão. No caso do flúor, a atração do núcleo ao elétron que irá entrar é grande,
já que o raio é menor que o do cloro. Mas, se o raio é pequeno, a repulsão dos outros elétrons
em relação ao novo elétron também é grande. Então, temos no cloro uma menor atração, mas
também uma menor repulsão, enquanto o flúor tem maior atração e repulsão. O resultado
deste quebra-cabeça energético é que a entrada do elétron para o átomo de cloro é mais
favorecida que para o flúor. Portanto, entre flúor e cloro, a repulsão é o fator determinante.
Mas, se continuarmos descendo no grupo, veremos que a atração passará a governar o valor
da AE.
Por conta de todas essas variáveis, a afinidade eletrônica é uma propriedade de difícil
previsão quando comparada com a energia de ionização, a carga nuclear efetiva ou o raio
atômico.
Um outro ponto importante a ser destacado, são os valores negativos para as
afinidades eletrônicas dos gases nobres. Isto indica que é preciso dar energia aos elementos
do grupo 18 para que aceitem o elétron. Curiosamente são os elementos desse mesmo grupo,
que apresentam os maiores valores de energia de ionização nos períodos.

3.5 – Eletronegatividade (χ)


Em uma ligação química com elementos diferentes, um atrai mais os elétrons que o
outro. A eletronegatividade é a propriedade que representa a força de atração de um átomo

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pelos elétrons de uma ligação. Esta propriedade está diretamente relacionada com as outras
duas aqui apresentadas: a energia de ionização e a afinidade eletrônica.
Um elemento eletronegativo é aquele que: 1) não perde elétrons com facilidade – ou
seja, tem um valor elevado de EI; 2) aceita elétrons com facilidade – valores elevados de AE.
Ao contrário da EI e AE, não existe uma medida experimental para a eletronegatividade; ao
invés de uma definição experimental, têm-se diversas definições teóricas para a
eletronegatividade. Uma definição bastante usada e muito ilustrativa é a proposta por Mulliken:

EI AE
χM (4)
2

Uma outra escala de eletronegatividade, muito mais popular que a de Mulliken, foi
proposta por Pauling, que levou em consideração que a eletronegatividade não era uma
propriedade de um átomo isolado. Com isso, os valores da escala de Pauling são ligeiramente
mais coerentes que os de Mulliken. A Tabela 7 mostra alguns valores de eletronegatividade
para ambas as escalas.

Tabela 7. Eletronegatividades de Pauling (P) e Mulliken (M) de alguns átomos.


Grupos
1 2 13 14 15 16 17 18
Li Be B C N O F He
0,98 (P) 1,57 (P) 2,04 (P) 2,55 (P) 3,04 (P) 3,44 (P) 3,98 (P) –
1,28 (M) 1,99 (M) 1,83 (M) 2,67 (M) 3,08 (M) 3,22 (M) 4,43 (M) 5,5 (M)
Na Mg Al Si P S Cl Ne
0,93 (P) 1,31 (P) 1,61 (P) 1,90 (P) 2,19 (P) 2,58 (P) 3,16 (P) –
1,21 (M) 1,63 (M) 1,37 (M) 2,03 (M) 2,39 (M) 2,65 (M) 3,54 (M) 4,60 (M)

É importante lembrar que o uso da eletronegatividade só faz sentido ao se tratar de


fenômenos relacionados às ligações químicas.

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Exercícios
1 – Defina orbital.

2 – Qual é a interpretação de Max Born para a função de onda?

3 – Defina o que é região nodal. Qual sua relação com o número quântico principal?

4 – Dê a definição da Regra de Hund e do Princípio da Exclusão de Pauli.

5 – Explique o que é blindagem e como esse parâmetro varia com o tipo dos orbitais.

6 – Defina carga nuclear efetiva.

7 – Explique como a carga nuclear efetiva varia ao longo de um período da tabela periódica.

8 – Qual a relação entre a carga nuclear efetiva e o raio atômico?

9 – Explique porque o raio atômico diminui do Boro para o Flúor.

10 – Explique porque a primeira energia de ionização do Lítio é menor que o do Berílio.

11 – Consulte a Tabela 4 e explique:


a) a variação da energia de ionização ao longo dos períodos;
b) a variação da energia de ionização ao longo dos grupos.

12 – Explique a variação da energia de ionização entre os grupos 15 e 16.

13 – Qual o significado físico dos valores positivos ou negativos da afinidade eletrônica?

14 – Por que a energia de ionização é sempre positiva?

15 – Por que a afinidade eletrônica do nitrogênio é negativa?

16 – Sabe-se que os gases nobres, em sua grande maioria, são inertes. Relacione esse
comportamento com a energia de ionização e a afinidade eletrônica destes elementos.

17 – Defina eletronegatividade.

18 – Por que não existem valores de eletronegatividade de Pauling para o hélio e o neônio?

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4. A Regra do Octeto

Os gases nobres apresentam valores altos de EI e valores negativos de AE, o que


significa que não perdem ou ganham elétrons com facilidade. Some isto ao fato de serem
praticamente inertes (ainda hoje existem poucos compostos formados por gases nobres) e
têm-se alguns elementos com propriedades intrigantes para os cientistas da época. Tão
intrigantes que a inércia química dos gases nobres foi considerada um modelo de estabilidade
para os outros elementos da Tabela Periódica. Os átomos se combinavam para atingirem a
estabilidade de um gás nobre e, portanto, chegar a um estado de menor energia. Esta foi a
proposta de Gilbert N. Lewis.
Gilbert Lewis foi um homem de idéias simples, porém extremamente úteis. Primeiro
propôs uma nova divisão para as substâncias como polares e não polares ao invés de
inorgânicas e orgânicas. Seguindo essa idéia de substâncias polares e não polares, ele
concluiu certas coisas interessantes. As diferentes propriedades que estas substâncias
apresentavam estavam ligadas à mobilidade dos elétrons da molécula. Ele escreveu:
“Se então considerarmos moléculas não polares como sendo aquelas onde os elétrons
pertencentes a um átomo em particular estão restritos de tal forma que eles não podem se
afastar muito de suas posições normais, enquanto nas moléculas polares os elétrons, tendo
mais mobilidade, se separam na molécula formando partes positivas e negativas, então todas
as propriedades diferentes entre os dois tipos de compostos tornam-se dependentes dessa
hipótese(...)” (Traduzido de LEWIS, 1916).
Hoje essa idéia é um conceito bem sólido para os químicos. No entanto, numa época
onde Niels Bohr tinha acabado de propor seu modelo atômico de órbitas quantizadas, atribuir
as propriedades de substâncias químicas à mobilidade dos elétrons era algo revolucionário. No
entanto, sua outra idéia, sobre o “átomo cúbico” teria um impacto ainda maior na química, pois
explicaria porque os elementos se ligam uns com os outros da maneira que o fazem.
Era sabido na época que a diferença entre a valência máxima positiva e negativa de
um elemento era, frequentemente, oito (e nunca mais que oito). Lewis então propôs a idéia do
“Átomo Cúbico” (Figura 17), que sustenta que quando os átomos possuem oito elétrons – um
em cada vértice de um cubo – tem-se uma situação de grande estabilidade.
Por conta disso, o flúor (Figura 17g) recebe um elétron, apresentando uma carga
negativa em seus compostos. E é claro, todos os gases nobres possuem todos os vértices dos
cubos preenchidos com elétrons. É preciso lembrar que a mecânica quântica de Schrödinger,
que traria os conceitos de orbitais e configuração eletrônica, só apareceria dez anos depois das
primeiras idéias de Lewis. No entanto, nem a introdução de uma nova teoria do átomo mudou o
foco central das idéias de Lewis. É claro que se abandonou a idéia de elétrons localizados em
vértices de cubos, completamente incompatível com o caráter probabilístico da mecânica
quântica, mas a estabilidade através dos oito elétrons se manteve. Mudou-se também o nome
de “Átomo Cúbico” para a conhecida Regra do Octeto.

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(a) (b) (c) (d)

Li Be B C

(e) (f) (g) (h)

N O F Ne
Figura 17. Exemplos da idéia de Lewis sobre do “Átomo Cúbico.”

A Regra do Octeto está relacionada com o número de elétrons na camada de valência.


Um átomo qualquer estará mais estável quando ficar com oito elétrons em sua camada de
valência – que é o número de elétrons da camada de valência dos gases nobres. A exceção
feita a esta regra é o hélio, que só possui apenas dois elétrons. Os átomos próximos a este gás
nobre, como hidrogênio, lítio e berílio, seguirão a sua configuração eletrônica. Ou seja, a Regra
do Octeto pressupõe que um átomo alcança a estabilidade máxima quando está com a
configuração eletrônica do gás nobre mais próximo a ele. Selecionando o segundo e terceiro
períodos da Tabela Periódica:

2He

3Li 4Be 5B 6C 7N 8O 9F 10Ne

11Na 12Mg 13Al 14Si 15P 16S 17Cl 18Ar

As configurações eletrônicas dos gases nobres He, Ne e Ar são:

2He 1s2
10Ne 1s2 2s2 2p6
18Ar 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6

Enquanto para os outros elementos mostrados acima:

3Li 1s2 2s1


4Be 1s2 2s2
5B 1s2 2s2 2p1
6C 1s2 2s2 2p2
7N 1s2 2s2 2p3
8O 1s2 2s2 2p4
9F 1s2 2s2 2p5
11Na 1s2 2s2 2p6 3s1
12Mg 1s2 2s2 2p6 3s2
13Al 1s2 2s2 2p6 3s2 3p1

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