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UFRGS – PPG CIÊNCIA DO SOLO

SOL 202 – QUÍMICA DO SOLO

PROPRIEDADES NUCLEARES E QUÍMICAS DOS ÁTOMOS

© Philip A. Helmke, Trad. Carlos A. Bissani

O modelo nuclear do átomo foi proposto por Rutherford e seus colaboradores em 1911.
O famoso experimento de dispersão das partículas alfa (), conduzido por Geiger e Madsen,
mostrou que praticamente toda massa de um átomo está concentrada em uma pequena
região no centro, o núcleo, carregado positivamente. Circundando o núcleo está uma nuvem
de partículas muito mais leves, os elétrons, carregados negativamente, que orbitam o núcleo
similarmente aos planetas ao redor do sol.
É atualmente bem conhecido que os núcleos são compostos de prótons, com carga
positiva, e de nêutrons, sem carga. Estas partículas elementares, que possuem
aproximadamente a mesma massa, são coletivamente chamadas de núcleons. A carga
nuclear, proporcional ao número de prótons, é balanceada pelo mesmo número de elétrons,
resultando na eletroneutralidade do átomo. O número de prótons confere o número atômico
(Z) de um elemento. O número de elétrons controla sua posição na tabela periódica e suas
propriedades químicas. A massa de um átomo depende somente do número total de núcleons.
Cada diferente espécie nuclear ou nuclídeo pode ser especificada por seu número atômico Z e
seu número de massa A, sendo
A = Z + N,
onde N é o número de nêutrons.
A determinação química da massa relativa de um elemento fornece somente o valor
médio para um grande número de átomos. Com a invenção do espectrômetro de massa por
Aston em 1921, tornou-se possível medir as massas individuais dos átomos e então descobrir
que muitos elementos consistem de uma mistura de átomos com diferentes massas,
chamados isótopos. Os isótopos de um elemento possuem o mesmo número de prótons, mas
diferente número de nêutrons, o que implica em diferentes números de massa. Por exemplo, o
magnésio, com Z=12, tem três isótopos estáveis, com A = 24, 25 e 26, notados como 24Mg,
25
Mg e 26Mg, respectivamente. Em todo magnésio de ocorrência natural, estes três isótopos
estão presentes em proporções aproximadamente constantes de 79,99, 10,00 e 11,01%,
respectivamente. O número de massa médio do Mg de ocorrência natural é, portanto, 24,320,
valor muito próximo da sua massa atômica relativa (24,305). As massas atômicas relativas são
expressas em relação ao isótopo 12C, assumindo-se que sua massa é exatamente 12,000
unidades de massa atômica (uma). O C natural tem 12C e 13C nas proporções de 98,89 e
1,11%, respectivamente.
As propriedades químicas de diferentes isótopos de um elemento são muito
semelhantes e praticamente indistinguíveis para muitos propósitos. Entretanto, a diferença nas
massas certamente implica em pequenas diferenças nas taxas de algumas reações químicas
e físicas. Esta pequena separação na abundância dos isótopos durante algumas reações
químicas é chamada de fracionamento isotópico. Para alguns elementos, amostras naturais de
diferentes fontes não possuem a mesma composição isotópica. A origem destes desvios
geralmente fornece importantes informações biogeoquímicas. Em contraste com as
propriedades químicas dos isótopos, as diferenças em massa podem resultar em propriedades
nucleares bastante diferentes para os isótopos de cada elemento.
Para a maioria dos elementos, são dados o mesmo nome e o mesmo símbolo para os
diferentes isótopos, com o número de massa mostrado como no caso do Mg mencionado
acima. Para o hidrogênio, entretanto, os isótopos são referidos por diferentes nomes. Por larga
diferença, o isótopo mais abundante é o 1H, com um próton e nenhum nêutron no seu núcleo.
O isótopo mais pesado, com um nêutron, é chamado de deutério e referido como 2D ou 2H. O
hidrogênio tem também um isótopo instável ou radioativo, o trítio, referido como 3T ou 3H.
O tamanho de um átomo é determinado pelo raio dos orbitais eletrônicos. Medidas de
distâncias interatômicas em cristais e moléculas mostram que o tamanho dos átomos varia
com a posição do elemento na tabela periódica, mas é geralmente da ordem de 2 x 10 -10 m
(200 pm). Em contraste, os experimentos de dispersão das partículas  mostraram que o
núcleo é muito menor, menos que 10-14 m (10 fm). Experimentos mais recentes, usando a
dispersão de elétrons e prótons de maior energia, mostraram que os núcleos possuem, sem
dúvida, um tamanho mensurável. Seus raios seguem geralmente a seguinte fórmula:
R = RoA1/3
onde A é o número de massa e Ro é uma constante com valor aproximado de 1,2 fm. Como
volume é proporcional a R3, a equação acima expressa o fato de que o volume por núcleon é
aproximadamente o mesmo em todos os núcleos. Pode-se imaginar um núcleo como sendo
um pacote mais ou menos fechado de núcleons, com pequeno espaço livre entre eles. Como
um todo, os átomos são sensivelmente diferentes, já que os elétrons se comportam
essencialmente como pontos de carga, sem tamanho mensurável. Assim, os elétrons
conferem aos átomos semelhança às moléculas em um gás, no qual a maior parte do volume
é representada por espaço livre.
Os diferentes tamanhos de núcleos e átomos levam a estimativas das diferentes
escalas de energia envolvida em reações químicas e nucleares. De acordo com a lei da
eletrostática de Coulomb, a energia de interação entre dois cargas q1 e q2, separadas por uma
distância r, é
V = q1q2/(4r)
Com q1 e q2 iguais à carga do próton ou do elétron, e r igual ao típico tamanho do átomo de
200 pm, chega-se a uma energia eletrostática de 1,2 x 10 -18 ou 7 eV. Este é um valor típico de
energia de ligação de um elétron mais externo em um átomo e também fornece uma idéia da
energia envolvida na formação ou quebra de ligações químicas, processos que envolvem a
redistribuição de elétrons entre átomos. Em unidades molares, mais familiares aos químicos, a
energia acima mencionada é cerca de 700 kJ mol-1. Por outro lado, para um r igual ao
tamanho do núcleo, a energia é cerca de 1 MeV ou 100 GJ mol -1. Esta é a escala de energia
envolvida em reações nucleares, nas quais os núcleons (prótons e nêutrons) são
redistribuídos entre átomos. Além das diferentes ordens de magnitude, há outro importante
contraste entre as duas estimativas de energia. Enquanto a energia eletrostática de atração
entre núcleos (positivos) e elétrons (negativos) é a força responsável por ligações químicas, as
únicas espécies com carga nos núcleos são os prótons. A energia eletrostática é, portanto,
repulsiva entre prótons e então outra força atrativa é requerida para o balanceamento para os
núcleos sejam estáveis.
As grandes energias envolvidas na formação ou quebra de núcleos podem ser
diretamente medidas, mas são também aparentes através de seu efeito nas massas atômicas.
Já foi mencionado que a massas exatas dos átomos não são exatos múltiplos da massa do
hidrogênio. A escala internacional para unidade de massa atômica (uma) é baseada no átomo
de 12C, definido ter a massa de exatamente 12 amu. Nesta escala, a massa do átomo de
hidrogênio “normal” (1H) é 1,00727661. A massa de um nêutron livre (1,00866520 uma) é
também um pouco superior a um.
Num primeiro momento, pode-se notar uma certa discrepância entre a massa do átomo
de carbono e a de suas partículas constituintes. Se o 12C fosse formado a partir de 6 átomos
de H e seis nêutrons, teria massa de (6 x 1,00727661) + (6 x 1,00866520) = 12,09565 uma,
uma diferença de +0,09565 em relação à massa atribuída ao átomo de 12C. Todos os átomos
possuem este tipo de discrepância, tendo massas medidas levemente menores que a soma
das massas de suas partículas constituintes.
Esta diferença seria difícil de ser explicada pela física clássica. Mas é consistente com
a marcante predição feita por Einstein em sua Teoria da Relatividade em 1905, antes que
qualquer evidência experimental fosse conhecida. Esta teoria leva à famosa equação que
relaciona a massa de um corpo (m) e sua energia (E), com a velocidade da luz (c):
E = mc2.
Como resultado desta equação, foi hipotizado que massa e energia são dois aspectos da
mesma quantidade de “massa-energia” e que mudanças em energia implicarão em
correspondentes mudanças na massa medida. Devido ao grande valor de c2 (~ 9 x 1016
J kg-1), tais diferenças entre as massas são muito pequenas para medir as energias envolvidas
em mudanças químicas ou mecânicas. Entretanto, com as maiores energias de processos
nucleares, as mudanças de massa são bem significantes. A medida das discrepâncias como
as exemplificadas para o 12C é geralmente a melhor maneira para estimar uma mudança de
energia numa reação nuclear. De fato, a massa perdida (diferença entre a esperada e a
medida) fornece uma quantificação direta da energia liberada quando um núcleo é formado a
partir de partículas elementares, isto é, sua energia de ligação. As energias em processos
nucleares são normalmente expressas em MeV, com o fator de conversão c 2 = 931.5 MeV
uma-1. Por exemplo, para o 12 C a energia total de ligação é de
931,5 x 0,095651 = 89,1 MeV.
A precisa determinação das massas atômicas através de espectroscopia de massa não
apenas forneceu uma importante e inesperada verificação da Teoria da Relatividade, mas
também mostrou que reações nucleares poderiam fornecer energias imensamente maiores
que aquelas obtidas por processos químicos. A observação de que somente processos
nucleares poderiam prover a energia presente nas estrelas ajudou a solucionar um grande
problema em astronomia e forneceu um mecanismo para a formação dos elementos.
Como acima discutido, a determinação acurada da massa de um átomo fornece uma
estimativa da energia total de ligação dos prótons e nêutrons dentro do núcleo. Porém, é mais
interessante dividir esta energia pelo número de massa para obter a energia de ligação por
núcleon. A figura anexa mostra a relação entre esta energia e o número de massa (A) para
todos os nuclídeos estáveis. Após um rápido e irregular aumento em baixo A, a energia de
ligação é mais ou menos constante ao redor de 7-8 MeV por núcleon. Entretanto, há um leve
decréscimo após A=56 e, sem dúvida, o 56Fe é o mais estável dos nuclídeos, possuindo a
maior energia de ligação por núcleon. A variação na curva é muito importante para entender
os processos nucleares pelos quais os elementos são formados nas estrelas. Pode ser
observado que é energeticamente favorável (reações exotérmicas) formar elementos com
massa até 56Fe pela fusão de núcleos mais leves. Por larga margem, a maior parte da energia
liberada provém da primeira etapa, a fusão de átomos de H para formar He. Esta reação
fornece as estrelas com uma fonte de energia para a maior parte de sua existência. Elementos
com massa superior ao 56Fe podem ser formados por fissão (reações endotérmicas). De fato,
é energeticamente favorável dividir os núcleos mais pesados em fragmentos menores, como
exemplificado pelos processos de fissão em armas nucleares e plantas de geração de energia.
Energia de ligação por núcleon (MeV)

Energia de ligação por núcleon dos isótopos estáveis em função do número de massa (A)

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