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PROCESSOS PEDOGENÉTICOS

Alberto Vasconcellos Inda Jr.


Élvio Giasson
Paulo César do Nascimento

As diversas combinações dos fatores de formação do solo (material de origem,


clima, relevo, organismos vivos), agindo ao longo do tempo, criam condições para o
desenvolvimento de diversos processos pedogenéticos (processos de formação do solo).
Os processos pedogenéticos consistem numa combinação de reações químicas, biológicas e
físicas cuja ação, natureza e intensidade são condicionadas pelos fatores ambientais (Buol
et al, 2003). Desta maneira são formados diferentes tipos de solos. Portanto, os fatores
criam as condições para a ação dos processos, os quais são os mecanismos de formação do
solo:

Fatores de formação do solo  processos pedogenéticos  SOLO

A seguir são apresentados os principais processos pedogenéticos: ferralitização e


laterização, lessivagem, gleização, ferrólise, carbonatação, salinização e sodificação,
podzolização, sulfidrização e sulfurização, paludização, turbação.

Ferralitização
Nas regiões tropicais e subtropicais úmidas, a abundância de chuvas e altas
temperaturas favorecem um intemperismo químico intenso e rápido, onde predominam as
reações de hidrólise e oxidação. Com a disponibilidade de água e boa drenagem há intensa
lixiviação dos cátions básicos (Ca, Mg, K, Na) e, em menor grau, do silício (dessilicação)
liberados na alteração dos minerais. O ambiente oxidante, em grau de intemperismo mais
acentuado, favorece a formação de óxidos de ferro (goethita e hematita) e de alumínio
(gibbsita), que tendem a acumular. O quadro 1 mostra a tendência geral de perdas intensas
de cálcio, magnésio, sódio e potássio, com as perdas de sílica em menor magnitude, e a
concentração relativa de ferro e alumínio, no processo de alteração do material de origem

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formando o solo. O silício remanescente no sistema pode combinar-se com alumínio
formando caulinita. Devido à acumulação de Fe e Al no resíduo final (solo), esse processo
é chamado de ferralitização. Os principais solos formados nestas condições são os
Latossolos e os Nitossolos (antigamente Terra Roxa Estruturada), segundo EMBRAPA
(2013).

Quadro 1: Constituição geral de rochas e solos originados a partir das primeiras.

granito, rocha fresca basalto, rocha fresca


São Paulo (SP) Staffordshire, Inglaterra
constituintes rocha solo rocha solo
------------------%-------------- --------------------%------------------
SiO2 68,5 66,3 49,3 47,0
Al2O3 14,2 16,3 17,3 18,5
Fe2O3 2,1 1,9 2,7 14,6
FeO 1,4 1,2 8,3 ---
MgO 1,9 tr. 4,7 5,2
CaO 3,2 tr. 8,7 1,5
Na2O 3,6 0,2 4,0 0,3
K2 O 4,2 0,3 1,8 2,5
TiO2 0,4 0,7 0,4 1,8
P2O5 0,2 0,1 0,2 0,7
Leinz & Amaral, 1998

Os solos resultantes do processo de ferralitização são, geralmente, lixiviados e


ácidos, têm baixa CTC e são pobres em nutrientes. Devido a sua constituição mineralógica
apresentam boa porosidade e permeabilidade, proporcionada pela floculação das partículas
de caulinita e óxidos, formando agregados estáveis. Ferreira et al. (1999), analisando
aspectos macro e microestruturais de Latossolos, apresentaram um modelo de estrutura que
indica a tendência de formação de microagregados em solos gibbsíticos, enquanto solos
cauliníticos tendem a uma estrutura em blocos. Os horizontes subsuperficiais que
apresentam estas feições são identificados principalmente como Bw.

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No RS, os Latossolos e Nitossolos ocorrem principalmente nas regiões dos Campos
de Cima da Serra (Vacaria e Lagoa Vermelha), do Planalto Médio (Passo Fundo, Erechim,
Santo Angelo), e das Missões (São Borja). Nitossolos ainda ocorrem na Encosta Inferior do
Nordeste e parte da Depressão Central.

Lessivagem
O processo de lessivagem (também chamado de eluviação-iluviação) consiste na
translocação de minerais, principalmente da fração argila fina (<0,2 m), da parte superior
do solo para uma maior profundidade. Este processo é ocasionado pela presença de poros e
canais por onde a percolação de água possibilita a translocação da argila, e também pelos
baixos teores de cátions com capacidade de floculação destas partículas (Ca2+; Mg2+), assim
como outros agentes floculantes, permitindo a movimentação descendente destes materiais
com o fluxo de água. Em determinada profundidade do perfil, diminuem os poros e canais,
a água passa a ser retida em poros menores, e inicia-se a deposição do material em
suspensão, constituindo o processo de iluviação.
Este processo resulta em horizontes superfíciais empobrecidos em argila (isto é,
tornam-se mais arenosos) com acúmulo desta em horizontes subsuperficiais (isto é, tornam-
se mais argilosos). O horizonte que perde argila é chamado de eluvial, enquanto que o
horizonte que acumula argila é chamado de iluvial. Os óxidos de ferro e alumínio, quando
em quantidade relativamente menor, têm sua ação floculante limitada, também podendo
sofrer translocação. Phillips (2007) indica que o gradiente textural pode ocorrer por
processos geológicos, como descontinuidade litológica ou erosão seletiva de partículas
menores, a partir da bioturbação; ou processos pedológicos, onde o processo de lessivagem
tem maior expressão. O autor afirma que, normalmente, o gradiente textural deve ser
formado pela contribuição de mais de um destes processos. Bortoluzzi et al. (2008) utilizam
indicadores para avaliar a presença de descontinuidade litológica, como o valor de
uniformidade.
Na descrição morfológica do perfil de solo, um horizonte de máxima perda de argila
é simbolizado pela letra E (não está necessariamente presente no perfil) e o horizonte de
máximo ganho de argila é o Bt. Os solos submetidos à lessivagem apresentam, portanto,
um gradiente textural. Outras feições importantes na identificação da ocorrência são a

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presença de filmes de argila nos poros e nas superfícies das unidades estruturais do
horizonte iluvial (cerosidade), e a maior relação argila fina (< 0,0002 mm): argila total em
relação aos horizontes sobrejacentes (Almeida et al, 1997; Medeiros et al., 2013). Algumas
feições micromorfológicas, como revestimento de material argiloso em poros (“argilãs”),
são também indicativos do processo de lessivagem (Mafra et al., 2001; Santos et al., 2010).
Os principais solos que apresentam estas feições são os Argissolos e os Planossolos,
podendo ocorrer também nos Luvissolos , Plintossolos e outros. Devido ao acúmulo de
argila, o horizonte subsuperficial tende a apresentar uma densidade do solo mais elevada,
resultante da menor proporção de macroporos, com menor condutividade hidráulica
saturada, ou seja, menor permeabilidade. Conseqüentemente, a água infiltrada no solo pode
acumular-se acima do horizonte Bt, originando, temporariamente, um lençol freático
suspenso. Esta condição, associada a relevo ondulado, tende a tornar estes solos mais
suscetíveis á erosão.

Gleização
A gleização se desenvolve em ambiente com excesso de água e deficiência de
oxigênio, onde as condições anaeróbicas favorecem as reações de redução, que são
promovidas por microorganismos anaeróbicos utilizando como receptores de elétrons,
principalmente, óxidos de Fe3+ (goethita, hematita, ferrihidrita, lepidocrocita), mas também
óxidos de Mn4+.O quadro 2 indica a seqüência de reações de redução dos principais
elementos do solo, ressaltando-se que o grande fornecedor dos elétrons para a reação são os
compostos orgânicos, decompostos por estas reações (Ponnmaperuma, 1972).No processo,
os óxidos de Fe3+ (ou Mn4+) são reduzidos e dissolvidos, liberando íons Fe2+ (ou Mn2+) que
migram na solução até alcançarem sítios oxidados onde precipitam novamente como óxidos
de Fe3+ (ou Mn4+). Conseqüentemente, no solo formam-se zonas desbotadas (de coloração
cinzenta) devido a perda de óxidos de Fe3+ e zonas de acumulação destes óxidos na forma
de mosqueados (vermelhos, amarelos), ou, em condições oxidantes localizadas, nódulos e
coalescências destacáveis da massa do solo (plintita).
A laterização consiste na acumulação de óxidos de ferro reprecipitados, a partir da
translocação sob formas móveis (Fe2+), e que promove a cimentação da massa do solo,

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dando origem à plintita, ou em casos de maior intensidade, à laterita ou ferricrete ou
petroplintita (Miguel et al., 2013).

Quadro 2: Reações de redução envolvendo formas de nitrogênio, manganês, ferro e


enxofre no solo.

reações de redução
0,5 O2 + 2 H+ + 2 e- → H2O
NO3- + 6 H+ + 5 e- → 0,5 N2 + 3 H2O
MnO2 + 4 H+ + 2e- → Mn2+ + H2O
Fe(OH)3 + 3 H+ + e- → Fe2+ + 3 H2O
0,5 SO4-2 + 5 H+ + 4 e- → 0,5 H2S + 0,5 H2O
0,5 CO2 + 4 H+ + 4 e- → 0,5 CH4 + H2O
> redução;
< pe ou Eh

Nestes, o processo inicial é de redução e mobilização do ferro, com precipitação e


acúmulo quando em contato com posições de maior suprimento de oxigênio. Os solos que
apresentam esta cimentação por ferro são representados, no Sistema Brasileiro de
Classificação dos solos (SiBCS), pela classe dos Plintossolos (EMBRAPA, 2013). As
zonas de acumulação dos óxidos de Mn apresentam cor preta na forma de revestimentos em
agregados ou nódulos. Em condição muito severa de redução do solo (Eh < 0,
aproximadamente), o enxofre também passa a sofrer redução, apresentando-se na forma de
sulfetos. Este fenômeno normalmente acontece em solos submetidos a saturação por água
por períodos mais prolongados, como mostra figura 1.
Os horizontes que apresentam feições de gleização são identificados como Ag, Bg
ou Cg. Os principais solos resultantes do processo de gleização são os Gleissolos, mas
também pode ocorrer gleização com menor intensidade nos Planossolos, Plintossolos e
outros.

Ferrólise
As condições alternadas de oxidação e redução do solo, resultantes do relevo e da
hidrologia da área, influenciam bastante as formas e dinâmica de alguns elementos,

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especialmente o ferro, refletindo em características do solo. A participação deste elemento e
suas transformações como agente desencadeante do processo levou a denominar-se este
processo como ferrólise. Em períodos de saturação do solo por água, a reação de redução
do ferro resulta em aumento do teor de Fe2+ na solução do solo. Este aumento induz à
substituição de cátions como Ca2+; Mg2+, K+ e Na+ por Fe2+ no complexo sortivo, estando
assim aqueles sujeitos à lixiviação pela movimentação da água, ainda que em processo
lento devido à restrição de drenagem, ou em movimentação lateral subsuperficial.

conc.

Fe2+
NO3-

Mn2+

S2-
O2
CH4

tempo

Figura 1: Variação dos teores de compostos envolvidos em processos de oxi-redução, em


função do tempo de saturação do solo por água (fonte: Patrick e Reedy, 1978).

Com a secagem do solo, o Fe2+ da solução do solo, bem como de estruturas de


minerais de argila (micas, esmectitas) sofre oxidação, desestabilizando estes minerais.
Além disso, a precipitação de formas oxidadas resulta em liberação de H+, que por sua vez
desestabiliza a estrutura de uma série de minerais de argila. Como resultado final, tem-se
uma “frente” de desestabilização destes minerais, criando um gradiente ou mesmo uma
mudança abrupta de textura no perfil do solo. Os produtos da solubilização das argilas
(sílica e cátions, principalmente) podem ser removidos do perfil por movimentos de água
em profundidade, em diferentes taxas, ou movimentos laterais subsuperficiais, em relevo
ondulado (Bouma, 1983; Almeida et al, 1997). Estes elementos, especificamente a sílica,

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pode se acumular em maiores profundidades. O secamento do solo, com aumento da força
iônica da solução, pode provocar a reprecipitação sob formas de menor cristalinidade,
sendo este um precursor de feições como fragipã ou duripã (Kampf e Curi, 2012)
A Ferrólise é um processo que tende a contribuir na formação dos solos em áreas
caracterizadas pela oscilação do lençol freático, estando comumente associado a Gleização.
Características como baixa cristalinidade de minerais e baixos valores de pH são
indicativos de ocorrência da Ferrólise (Barbiero et al., 2010). Van Harst et al (2011), no
entanto, indicam que a ação deste processo tem efeito limitado, podendo ocorrer associado
a outros processos, como lessivagem e remoção superficial de argilas. Está presente
principalmente em solos classificados como Planossolos ou Plintossolos.

Carbonatação
A carbonatação consiste na formação e enriquecimento de minerais carbonatos
secundários (CaCO3) no solo. Estes carbonatos podem estar finamente distribuídos na
massa do solo ou na forma de nódulos e crostas. A formação de CaCO3 secundário ocorre
quando aumenta a concentração de Ca2+ e HCO3- (bicarbonato de cálcio) na solução do solo
devido a retirada de água pela vegetação, ou quando a pressão parcial de CO2 (pCO2) do ar
do solo diminui pela própria reação do solo. O processo é resultante de altos teores de
cálcio, proveniente do material de origem, e alto pH. A reação pode ser representada por:
Ca2+ +2 HCO3- ↔ CaCO3 + H2CO3
A profundidade de ocorrência do CaCO3 secundário no solo é maior com o aumento
da pluviosidade, até ser totalmente removido por lixiviação. Por isso, o processo de
carbonatação é mais comum em regiões com déficit hídrico (onde a EVT>P), ou em solos
com baixa permeabilidade que contenham argilominerais esmectíticos. No RS, efeitos do
processo de carbonatação são observados na forma de nódulos de CaCO3 em alguns
Chernossolos (antigamente Brunizens), Vertissolos, Planossolos e Gleissolos.

Salinização e Sodificação
A salinização consiste na acumulação de sais solúveis no perfil ou na superfície do
solo, podendo ser natural ou induzida pela irrigação mal conduzida (ação humana). A
salinização tende a ocorrer em regiões semiáridas e áridas; onde houve acúmulo de sais em

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épocas geológicas pretéritas (“fundo do mar”; antigas áreas de transgressão marinha) e
onde a evapotranspiração excede a precipitação (EVT>P), ou a acumulação é atual devido à
migração de sais dissolvidos provenientes de áreas situadas em cotas mais altas,
concentrados em posições da paisagem com drenagem mais restrita. Áreas, ou mesmo
regiões maiores próximas ao litoral, são também suscetíveis à salinização, pela influência
de águas do mar. Assim, nos períodos secos os sais ascendem com a água capilar,
acumulando-se na parte superior ou na superfície do solo na forma de crostas salinas
(eflorescências). A cada chuva os sais são solubilizados e transferidos para maior
profundidade, para ascender novamente nos períodos secos (McBride, 1994). A salinidade
é determinada através da condutividade elétrica (CE), onde valores  4 dS/m podem ser
prejudiciais para o desenvolvimento das plantas sensíveis.Os horizontes com salinidade são
identificados como Az e Cz. Este processo origina os Gleissolos Salinos.
A salinização artificial pode ocorrer pelo uso de água de irrigação com alto teor de
sódio, ou quando a área sob irrigação não tem um sistema de drenagem eficiente. Neste
último caso, a água de irrigação (ao longo de alguns anos) entra em contato com os sais
acumulados (naturalmente) em profundidade, que ascendem com a água capilar quando a
irrigação é interrompida. Muitas áreas irrigadas em regiões áridas e semiáridas foram e
estão em processo de degradação por salinização.
A sodificação consiste na concentração de sódio (saturação por sódio = 100Na/T 
15%) no solo, que promove a dispersão da argila e sua eluviação, originando um horizonte
B textural com caráter sódico (Btn). Neste processo, presente normalmente em solos de
drenagem restrita ou déficit de água, ocorre acúmulo de carbonatos como CO3-2 ou HCO3-,
tornando-se os ânions predominantes na solução do solo. A combinação destes carbonatos
com cátions como Ca2+, Mg2+ favorece a precipitação, enquanto o excedente combinado
com Na+ resulta em acúmulo deste último na solução do solo, uma vez que o carbonato de
sódio tem solubilidade muito maior que os outros. A presença de sedimentos com alto teor
de sódio, como os ricos em albita e minerais alcalinos, contribui para este processo. Assim,
o solo passa a ter grande participação deste elemento no complexo sortivo (Buol et al,
2003; McBride, 1994). O pH destes solos é alto, resultante do acúmulo dos íons Na+ e de
carbonatos em solução.

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A alta saturação por sódio no solo favorece a dispersão das partículas de argila,
obstruindo poros e canais e diminuindo a condutividade hidráulica, ou atuar aumentando a
translocação de argila no perfil. A presença de sódio em altos teores ainda desloca dos
sítios de adsorção os cátions como Ca2+ e Mg2+, provocando desbalanços nutricionais para
as espécies vegetais. Estes solos são normalmente manejados com adição de fontes de
cálcio, principalmente gesso (CaSO4), desalojando o sódio que pode ser removido pela
drenagem juntamente com o sulfato.
Este processo origina os Planossolos Nátricos (anteriormente Solonetz-
solodizados).

Podzolização
A podzolização consiste na transferência de compostos orgânicos, complexados ou
não com cátions metálicos como ferro e alumínio, da parte superior do solo até uma
determinada profundidade. Estes elementos (principalmente o alumínio) podem estar na
forma catiônica ou formando estruturas em estado incipiente de precipitação (baixa
cristalinidade). A movimentação dos compostos orgânicos com estes elementos
complexados acontece normalmente até a situação onde o acúmulo destes últimos provoca
a diminuição da relação carbono orgânico/metal, induzindo a deposição deste material em
maior profundidade no solo (Coelho et al., 2010). O resultado é um horizonte eluvial (E) de
perda de material e um horizonte espódico de acumulação (Bh, Bs ou Bhs). Para o
desenvolvimento deste processo é necessária a acumulação de material orgânico com
mobilidade e capacidade complexante na superfície do solo, cujo material de origem
normalmente apresenta uma fração grosseira quartzosa (areia grossa, cascalho), para
facilitar a migração dos complexos nos macroporos. Este processo, quando predominante,
origina os Espodossolos.

Sulfidrização (ou tiomorfismo) e sulfurização


Como já visto, a condição de anaerobiose nos solos saturados provoca a utilização
de sulfatos como aceptores de elétrons nas reações de decomposição da matéria orgânica,
resultando na formação de sulfetos no solo. A combinação do enxofre reduzido com

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cátions, principalmente o ferro, forma principalmente a pirita (FeS2),e outros sulfetos em
menor escala, em processo conhecido como sulfidrização. A reação é:
4 SO4-2 + Fe2O3 + 8 CH2O + 0,5 O2  2 FeS2 + 8 HCO3- + 4 H2O
Este processo tende a ser mais comum em regiões da costa litorânea, em virtude do
maior teor de enxofre nas águas do mar, principalmente em áreas pantanosas, com acúmulo
de material orgânico, resultante do ambiente acentuadamente redutor.
A sulfurização consiste na oxidação destes sulfetos quando os solos são drenados.
No processo forma-se ácido sulfúrico (H2SO4) que promove a acidificação do solo (pH
<3,5) e a dissolução de minerais, dificultando ou inviabilizando o desenvolvimento da
vegetação (Nascimento et al., 2013). Outros minerais resultantes do processo podem ser
formados, como a jarosita ou natrojarosita, (minerais sulfatados de ferro, com potássio ou
sódio respectivamente, e de coloração amarelada); e, com a atenuação do processo e
aumento de pH, óxidos de ferro (Van Breemen e Pons, 1978). A reação completa,
excluindo-se as reações intermediárias, pode ser representada por:
FeS2 + 3,75 O2 + 3,5 H2O  Fe (OH)3 + 2SO4-2 + 4 H+
Os solos desenvolvidos sob este processo são chamados de solos tiomórficos, que
apresentam um horizonte sulfúrico (Bj ou Cj). Nesta situação, a correção da acidez pela
aplicação de calcário pode ser muito onerosa; em certos casos, um manejo da drenagem,
impedindo a oxidação dos sulfetos, pode ser adequado para controlar a acidificação. Este
processo origina os Gleissolos Tiomórficos e os Organossolos Tiomórficos.
O processo de sulfurização também ocorre quando materiais contendo sulfetos são
expostos ao ar nas áreas de mineração (carvão, ouro, cobre, etc.), que em tempos pretéritos
também tiveram influência de sedimentação (deposição de materiais até maior
profundidade). Após a mineração, na recuperação destas áreas deve ser evitado o uso de
materiais com sulfetos em sua composição.

Paludização
A paludização consiste na acumulação de materiais orgânicos em áreas alagadiças,
originando turfeiras e Organossolos (solos orgânicos). Restos de plantas aquáticas
acumulados em alagadiços podem alcançar até vários metros de espessura, pois a oxidação
do material orgânico é inibida pela ausência de oxigênio (ambiente anaeróbico). Áreas de

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formação lacustre podem acumular materiais orgânicos originados da flora presente,
resultando em colmatação por resíduos orgânicos em diversos estádios de alteração. Este
processo, também bastante comum em áreas de pântanos e mangues, resulta em solos com
capacidade bastante acentuada de acúmulo e retenção de compostos de origem natural ou
antrópica, alguns deles potencialmente poluentes, em razão da alta capacidade de ligação da
matéria orgânica com elementos como, por exemplo, os elementos-traço (Stevenson, 1994;
Canellas et al., 1999). Os solos apresentam horizontes hísticos (H). Áreas extensas de
Organossolos são encontradas na Planície Costeira do RS, nas proximidades de lagoas.

Turbação
A turbação ou pedoturbação consiste na mistura dos materiais do solo pela
atividade de uma série de agentes. Entre eles, destacam-se a fauna do solo (bioturbação) ou
a variação de umidade do solo resultante da alternância de regimes úmidos e secos
(hidroturbação). Pequenos mamíferos, formigas, térmitas e minhocas transportam materiais,
promovendo a mistura de horizontes e homogeneização do solo. A formação de estrutura
do solo, especialmente do tipo granular, também pode ser atribuída à ação de termitas
(Ferreira et al., 2011). A homogeneização das camadas e horizontes do solo pode ser uma
característica de solos intemperizados, como os Latossolos (Kampf e Curi, 2012). Na
hidroturbação, as alternâncias de períodos úmidos e secos promovem a expansão e
contração do solo. Na primeira situação, ocorrem movimentos de fricção resultante do
atrito entre unidades estruturais do solo; enquanto em segundo momento, o aparecimento
de fendas propicia penetração de materiais dos horizontes sobrejacentes, contribuindo
ambos para a homogeneização dos horizontes. Este processo é também conhecido como
argiloturbação, sendo característico nos solos classificados como Vertissolos.
A ação de revolvimento do solo, com mistura de materiais de diferentes horizontes,
tende a atenuar as características resultantes doe processos como o de Lessivagem (Demattê
et al., 1992). Por outro lado, pode também acentuar a organização e a diferenciação de
perfis do solo, como o caso de mesofauna estimulando o desenvolvimento da estrutura
(Silva Neto et al, 2010).

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