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CIÊNCIAS DOS SOLOS III

CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS
Agronomia – campus Cuiabá - MT
Professor: José Fernando Scaramuzza
UFMT – FAAZ – DSER
Aula 3: Pedogênese – uma revisão geral
Pedogênese – uma revisão geral

Solo raso

Perfil de solo com sequência de horizontes pedogenéticos

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1. PROCESSOS GERAIS DE FORMAÇÃO DO SOLO
São úteis para entender as feições do solo, identificá-los e classificá-los.
O comportamento geral dos materiais que compõem o perfil e/ou horizonte é indicado
por:

Adição: aporte ou entrada de material do exterior do perfil ou horizonte do solo.


Remoção: o material é removido para fora do perfil.
Transformação: o material muda sua natureza química ou mineralógica.
Translocação: ocorre quando o material passa de um horizonte para outro, sem abandonar o
perfil.
Sem a transformação os demais não ocorrem!
1. Transformação: ocorre em todos os processos pedogenéticos, sem a transformação não há
formação de solos.
• Material orgânico em matéria orgânica
• Minerais primários em secundários (biotita  hematita)
• montmorilonita  caulinita
• Precipitação
• Dissolução
2. Adição: materiais trazidos de outro local e depositados sobre o perfil.
• Areia, Cinzas vulcânicas
• Matéria orgânica
• Chuva
• Vento
• Sedimentação
• Antropogênicos
• Adubos e Biocidas
• Resíduos
• Aterros

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3. Translocação: ocorre com o movimento gravitacional da água no perfil do solo e depende de
ciclos de umedecimento e secagem do solo alternados (eluviação – saída,
iluviação – entrada).
Coloides: orgânicos e inorgânicos
Íons vertical: para baixo (lixiviação) e para cima (crostas salinas: capilaridade + evaporação)
Animais: minhocas, cupins, formigas (Blouin et al., 2013) A review of earthworm impact on
soil function and ecosystem services. European Journal of Soil Science, v.64, n.2, p.161-182,
2013)
Tatus, marmotas, coelhos.
4. Remoção ou Perdas: o material sai do perfil do solo.
• Lixiviação
• Erosão
• Antropogênicas: Erosão acelerada, colheita, Empréstimo de material para construção
2. PROCESSOS PEDOGENÉTICOS ESPECÍFICOS
2.1. LATOLIZAÇÃO (ou FERRALITIZAÇÃO)
• Clima tropical e subtropical úmido (quente e úmido) - abundância de chuvas  intenso
intemperismo químico
• LATOSSOLOS cauliníticos = Planalto RS
• LATOSSOLOS oxídicos = Brasil Central
• perfis de solos profundos
• muito homogêneos
• sem gradiente textural
• coloração uniforme
Formação do horizonte B latossólico (Bw)
• Predomínio:
• Perdas (bases e sílica)
• Transformação e remoção
• Principais horizontes:
• B latossólico
• B nítico??
• Principais solos:
• Latossolos
• Nitossolos??
• Características:
• Enriquecidos em Fe, Al e seus respectivos óxidos
• Empobrecimento em sílica

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• Empobrecimento em bases
• Áreas sem eventos tectônicos recentes (Brasil, África, Austrália)

Processo 1:
• Formação in situ
• Intensa lixiviação (bases e sílica)
Processo 2 (petroplintitas):
• Aporte lateral de ferro em adição ao acumulado pelo intemperismo.
Processo 3:
Transporte e deposição de material pré-intemperizado, com subsequente
pedogênese (poligenia).
• Linhas de pedra??

Latolização
Neossolos B incipiente B textural B latossólico
Mica Caulinita Gibbsita

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ENVELHECIMENTO
Aumento em
- Intemperização
- Profundidade
- Porosidade
- Lixiviação cátions (Ca2+, Mg2+, K+, Na+)
- Fixação de P
Diminuição em
- Fertilidade
- Atividade da fração argila (CTC)
- Minerais primários intemperizáveis
- Teor em silte

2.2. LESSIVAGEM E PODZOLIZAÇÃO


Transferência vertical de coloides e sua deposição em horizontes subsuperficiais.

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Pode produzir gradiente textural no perfil
Horizonte de perda material = ELUVIAL (A ou E) cores claras e textura mais arenosa
Horizonte de ganho material = ILUVIAL (Bt) mais argilosos e menos permeáveis
Lessivagem: translocação de argilas silicatadas. Formação B textural - Bt
• Predomínio:
• Translocação (coloides minerais: argila)
• Principais horizontes:
• B textural (Bt)
• B plânico
• E álbico
• Principais classes de solos: Argissolos, Luvissolos e Planossolos

PROCESSO 1: Lessivagem (Eluviação-iluviação)


• Translocação de argila do A e/ou E para o B
• Dispersão
• Transporte
• Deposição
• Indicadores:
• Filmes de argila
• Razão argila fina/argila total
• Composição do filme de argila
• Micromorfologia
PROCESSO 2:
• Formação de argila a partir de elementos (Al, Si, Fe, etc.) vindos do
intemperismo do A e/ou E.
• Argilas se formam in situ, não foram transportadas
PROCESSO 3:
• Mais argila se forma no horizonte B que nos outros horizontes acima.
• Não há contribuição de elementos vindos do A ou E
• Diferenças no material de origem ou na taxa de intemperismo
PROCESSO 4 (não pedogenético)
• Deposição de material menos argiloso no topo, vindo a formar o A e/ou o E
(comum no Pantanal.)
• PROCESSO 5: Ferrólise
• Produz Al3+
• Quando o pH aumenta (no processo de redução) o Al se polimeriza.

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• Al(OH)3 intercamadas em argilas expansivas causam a “cloritização” (comum no
Pantanal);
• Diminui a CTC
• Diminui a capacidade de retenção de água.
• Ferrólise: Fe3+ + H20 FeOH++ + H+
• A formação de H+ produz um decréscimo de pH na superfície das argilas.
• Dentro de poucos dias, a ligação instável H-argila converte para uma argila com Al 3+
trocável.
• O Al3+ é dissolvido das posições octaedrais dos minerais argilosos, destruindo
parcialmente os minerias argilosos (liberação do Si).
• Na próxima inundação, o ciclo se repete:
• Fe3+ +1 e- Fe2+
• pH aumenta
• Al3+ pode hidrolizar e precipitar como Al(OH)3
• O que “sobra” no horizonte superficial é o material quartzoso, que não se dissolve.
• Pré-requisitos para a ferrólise:
• Remoção dos produtos da reação;
• Bastante Fe e matéria orgânica para sustentar o processo;
• Repetição indeterminada dos ciclos (umedecimento - secagem).

Planossolo na França (terraço na região de Dore).

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Ferrólise identificação no campo. .Austrália – Planossolo

Pantanal- RPPN SESC, Planossolo

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CEROSIDADE
Consiste numa fina película de argila depositada na superfície dos agregados conferindo-
lhes aspecto lustroso e com brilho graxo, resultante da migração de argila iluvial. Serve para
identificar horizontes B textural e B nítico.

A decomposição do basalto (a cebola em casca)

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Podzolização: translocação de óxidos de Fe e de Al (hematita, goethita e gibbsita) e ou
material orgânico.
É necessário material rico em quartzo. Assim, há grande permeabilidade para a matéria
orgânica descer na forma de organometal.
Causas da “acumulação” nos horizontes inferiores:
 pH mais elevado em profundidade pode favorecer a decomposição dos complexos;
 complexos metálicos podem flocular devido ao aumento da relação metal/ligante;
 complexos podem ser imobilizados por adsorção aos minerais.
Formação do horizonte B espódico
• Predomínio:
• Translocação (de complexos organometálicos)  Podzolização
• Principais horizontes:
• B espódico (Bh, Bs, Bhs)
• E álbico
• Principal classe de solo:
• Espodossolos

podzolização – B espódico

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2.3. GLEIZAÇÃO (horizonte glei)
- Ocorre em ambiente de solo com prolongada ou permanente saturação com água.
- A ausência de O2 favorece a atividade de microrganismos anaeróbios, que utilizam metais
como aceptores finais dos elétrons (reação de oxirredução).
- Fe3+, Mn3+ e Mn4+ são reduzidos e liberados dos respectivos óxidos.
- A migração dos íons Fe2+ e Mn2+ na solução forma zonas pobres em óxidos e, por isso,
descoloridas (cinzentas).
Em locais com presença de oxigênio (poros, interior de agregados, raízes, zona de oscilação
do lençol freático), há formação de concreções localizadas de óxidos.
Solos: comuns em áreas de várzeas mal drenadas (drenagem lenta ou impedida).
Horizonte com gleização intensa: glei (Bg ou Cg).
• Predomínio:
• Transformação (oxirredução)
• Remoção (perdas)
• Translocação (formação de concreções)
• Principais horizontes:
Glei (Bg, Cg), plíntico e (B espódico - clima tropical).
• Principais solos
• Plintossolos

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• Gleissolos
• Planossolos
• (Espodossolos)
(Organossolos)
Ambientes de solo
• Constantemente saturado: glei
• Alternadamente saturado:
mosqueados, plintitas
Oxirredução: Nos solos de drenagem deficiente, encharcados, o oxigênio disponível esgota-
se logo.
Os próximos oxidantes, substituindo o oxigênio na recepção de elétrons, são nitratos e
alguns compostos de manganês.
Quando esses se esgotam, o ferro de valência 3 na goethita e hematita passa a ser o
recepcionador de elétrons, passando de Fe(III), para Fe(II),
Gleização
Fe3+ + 1e- Fe2+
A redução é normalmente seguida pela oxidação do Fe 2+ a Fe3+ e precipitação dos óxidos de
Fe (FeOOH)

Baixo croma (cores acinzentadas)


A cor do solo fornece pistas importantes a respeito dos constituintes, como também do
estado de oxirredução dos solos.
Arejamento deficiente condiciona uma decomposição lenta da MOS, provocando seu
acúmulo e um ambiente de redução (baixo potencial de redox), que transforma Fe e Mn em
formas reduzidas (solúveis), facilitando sua migração ou a toxidez para as plantas.

Gleização

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GLEISSOLO MELÂNICO Eutrófico típico
(Unidades Taim e Colégio)
1. os solos hidromórficos estão nas depressões, isto é, nas partes mais baixas do terreno;
2. quando são drenados, natural ou artificialmente, podem apresentar deficiência de Fe e
Mn, que são levados para fora do alcance das raízes. O Mn é reduzido mais rapidamente
que o Fe, porém é reoxidado mais lentamente.
3. O cobalto comporta-se de maneira semelhante ao Fe e Mn mas sua deficiência se
reflete nos animais.

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Nos solos inundados há um aumento
na disponibilidade de alguns
elementos e redução em outros. As
transformações seguem uma ordem
relativa, começando com o
desaparecimento do O2 até a
formação de metano.
A redução de Fe3+ só ocorre na
presença de M.O., ausência de O 2 ,
NO3- e óxidos de Mn redutíveis, e
presença de organismos
anaeróbicos.
Oxidar é doar, e reduzir é receber
elétrons.

Redução do solo x tempo

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Lençol freático de um perfil glei

Água superficial de um perfil glei

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Movimento de Fe e Mn em solo glei estagnado

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Cronossequência de um solo glei

Exemplo, Fe e Mn em solo glei

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Formação do pseudo glei

Fonte: Beirigo (2014).

2.4. PLINTITIZAÇÃO e LATERIZAÇÃO


Acumulação de óxidos de Fe e Al
Forma: plintita e laterita

PLINTITA: acumulações localizadas de óxidos de Fe na


forma de mosqueados e nódulos macios de cor
avermelhada, capazes de endurecer e cimentar
irreversivelmente através de ciclos de umedecimento e
secagem alternados.

LATERITA: plintita endurecida.


O Fe liberado nas porções mais elevadas da paisagem é
transferido na forma Fe2+ por fluxos laterais
subsuperficiais, oxidando e precipitando nas porções mais
baixas.
O material argiloso que fica incluso na massa, pode ser
removido por percolação, originando uma laterita
vesicular (porosa).

Ex: “pedra cupim” – Ruínas de São Miguel

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PLINTOSSOLO ARGILÚVICO Eutrófico abrúptico
Petroplintita

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A petroplintita na depressão cuiabana.
2.5. CARBONATAÇÃO: Formação e acúmulo de CaCO3 (calcita) no solo.
Precipitação da calcita – favorecida por altas [Ca 2+] e   decrescentes de água
(pluviosidadeevapotranspiração) para a dissolução e lixiviação dos carbonatos.
A calcita não é adsorvida à superfície de óxidos, então, quando o solo seca os macroporos
são os principais locais para a sua precipitação.
Vertissolos (Uruguai e RS), há indicação da dissolução da calcita, devido ao clima atual mais
úmido.
Forma horizonte A chernozêmico

O antigo processo pedogenético conhecido como Halomorfismo foi subdividido em


Salinização (1), Sodificação (2 e 3) e Solodização (4).
Clima favorável: seco

Melhoria da drenagem.

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2.6. SALINIZAÇÃO
Acúmulo sais solúveis no perfil (natural, ou artificial - irrigação mal feita).
Salinização natural: áreas litorâneas ou sob clima árido, onde a pluviosidade é menor que a
evapotranspiração.
Nos solos que estão em depressões (1 e 2) podem ter excesso de sais e de água
temporariamente. Os sais são trazidos das elevações circunvizinhas (3 e principalmente 4) pela
enxurrada ou pelo lençol freático ou muitas vezes o local é rico em sais por causa de depósitos
marinhos.
Nessas depressões (1), com excesso de água (temporário) e de sais, é formado horizonte B
textural – translocação).
Por solubilização de depósitos geológicos subsuperficiais pela água que penetra no perfil.
Na seca a ascensão capilar da água transfere os sais (cloretos, sulfatos e carbonatos de Na, Ca e
Mg) à superfície formando crostas.
Com as chuvas os sais são solubilizados e lixiviados para o subsolo, onde aguardam nova
oportunidade para ascender.
Solos com elevados teores de sais
 2% da CTC saturada por sais
condutividade elétrica CE  4 mS
2.7. SODIFICAÇÃO
O excesso de sais é removido, ficando muitos íons sódio (Na) adsorvidos nas argilas, tem-se
um solo alcalino na posição (2).
Enquanto sais solúveis estiverem presentes, seu efeito floculante mantém os agregados
estruturados e o solo permeável.
Com a lixiviação desses sais, o Na+ passa a predominar nos horizontes superficiais,
causando a dispersão da argila e a destruição dos agregados estruturais.
A argila dispersa é translocada  horizonte B textural impermeável
Forma o horizonte B textural plânico antigo B nátrico (Btn). Solos com alta saturação com
Na+ (>15%): PLANOSSOLOS SÓDICOS (CE 4 mS)

Sodificação
Saturação do complexo de troca pelo íon Na+

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Salinização
Acúmulo de sais solúveis no perfil

2.8. SOLODIZAÇÃO
O Na+ do horizonte superficial é substituído por H+, acidificando-o.
Quando a remoção do Na ocorre mais completamente no horizonte A do que no B, tem-se
um solo intermediário na posição (3) antigamente denominado de Solo Solonetz-Solodizado.
Se o Na for removido e substituído pelo H intensamente, tem-se um solo mais ácido na
posição 4.
Em geral tem-se a formação de um horizonte B latossólico (Bw).

2.9. TURBAÇÃO
Processo de mistura de material do solo, podendo originar horizontes mais uniformes ou
menos uniformes.
Bioturbação (ação atribuída à fauna do solo) é ativa tanto na mistura como na
transferência de materiais finos à superfície do solo (minhocas, formigas...)
Hidroturbação ocorre através da expansão e contração (devido a ciclos alternados de
umedecimento e secagem) em solos com argilominerais esmectíticos (Vertissolos). Promove a
formação do microrelevo gilgai.

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2.10. PALUDIZAÇÃO
Processo de acumulação de M.O. em grandes quantidades de massa durante o período
úmido, mas que devido a existência de um período seco e mais frio sua decomposição é
limitada. Forma o horizonte Hístico - turfa.

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