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DINÂMICA EXTERNA DA TERRA; MINERAIS DE ARGILA

Intemperismo e Erosão
Intemperismo é o conjunto de modificações de ordem física (desagregação) e química
(decomposição) que as rochas sofrem ao aflorar na superfície da Terra. Os produtos do
intemperismo, rocha alterada e solo, estão sujeito aos outros processos do ciclo supérgeno –
erosão, transporte, sedimentação – os quais acabam levando à denudação continental, com o
conseqüente aplainamento do relevo. O intemperismo pode ser físico, quando causa
desagregação das rochas, porém sem alterar quimicamente os minerais presentes nas rochas; e
químico, quando ocorre alteração na fase mineral das rochas. As variações de temperatura ao
longo dos dias e noites e ao longo das diferentes estações do ano causam expansão e contração
térmica nos materiais rochosos, levando à fragmentação dos grãos minerais. Além disso, os
minerais, com diferentes coeficientes de dilatação térmica, comportam-se de forma diferenciada
às variações de temperatura, o que provoca deslocamento relativo entre os cristais, rompendo a
coesão inicial entre os grãos. O intemperismo físico é preponderante em climas frios (pela ação do
gelo) e áridos (escassez de água), enquanto que em climas tropicais e temperados, o
intemperismo físico ocorre mais nos estágios iniciais, a fim de facilitar a ação do intemperismo
químico.
No caso do intemperismo químico, o ambiente da superfície da Terra, caracterizado por
pressões e temperaturas baixas e riqueza de água e oxigênio, é muito diferente daquele onde a
maioria das rochas se formaram. Por esse motivo, quando as rochas afloram à superfície da
Terra, seus minerais entram em desequilíbrio e, através de uma série de reações químicas,
transformam-se em outros minerais, mais estáveis nesse novo ambiente. O principal agente do
intemperismo químico é a água da chuva, que infiltra e percola as rochas. Essa água, rica em O 2,
em interação com o CO2 da atmosfera, adquire caráter ácido. Em contato com o solo, onde a
respiração das plantas pelas raízes e a oxidação da matéria orgânica enriquecem o ambiente em
CO2, tem seu pH ainda mais diminuído. Desta forma, os minerais dividem-se durante os
processos de intemperismo químico em minerais primários residuais, que resistiram à ação
intempérica, e minerais secundários, originários a partir da ação intempérica. Os minerais
secundários são chamados de neoformados quando resultam da precipitação de substâncias
dissolvidas nas águas que percolam o perfil (como no caso dos oxi-hidróxidos de ferro e alumínio),
e de secundários transformados, quando se formam pela interação entre as soluções de
percolação e os minerais primários, modificando sua composição química, porém preservando ao
menos parcialmente sua estrutura. Dentre as reações que ocorrem no intemperismo químico,
podemos destacar:
 Hidratação: ocorre pela ação entre os dipolos das moléculas de água e as cargas elétricas
não neutralizadas das superfícies dos grãos. Moléculas de água entram na estrutura
mineral, modificando-a e formando um novo mineral. Como exemplo, a transformação da
anidrita em gipsita;
 Dissolução: alguns minerais estão sujeitos à dissolução, que consiste na solubilização
completa. É o caso, por exemplo, da calcita e da halita, que se solubilizam em água (no
caso da calcita, em águas com pH ácido). A dissolução intensa das rochas, que ocorre
mais comumente em terrenos calcários, pode levar à formação de relevos cársticos,
caracterizados pela presença de cavernas.
 Hidrólise: seria a decomposição de silicatos a partir da ação da água atmosférica e/ou
subterrânea. A água decomporia silicatos como feldspatos, por exemplo, ricos em alumínio
e cátions como K+, Na+ e Ca2+, podendo essa decomposição ser parcial ou total. No caso
de decomposição total, ocorrem os processos chamados de alitização (toda a sílica é
lixiviada do perfil de alteração, sobrando apenas óxidos e hidróxidos de alumínio) e
ferralitização (novamente com toda a sílica sendo lixiviada, sobrando óxidos e hidróxidos
de ferro); na hidrólise parcial, há a formação de novos silicatos de alumínio
(argilominerais), e o processo é genericamente denominado sialitização. Quando são
originados argilominerais do tipo da caulinita, em que a relação de átomos Si:Al é 1:1 (um

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átomo de silício para um de alumínio na molécula), fala-se de monossialitização. No caso
de serem formados argilominerais do tipo esmectita, em que a relação Si:Al é 2:1 (dois
átomos de silício para um de alumínio na molécula), fala-se de bissialitização.
 Acidólise: na maior parte da superfície dos continentes, os processos intempéricos são de
natureza hidrolítica. No entanto, em ambientes mais frios, onde a decomposição da
matéria orgânica não é total, formam-se ácidos orgânicos que diminuem bastante o pH das
águas, sendo assim capazes de lixiviarem o alumínio e o ferro do perfil. Nestes domínios
de pH<5 não é a hidrólise, mas a acidólise o processo dominante de decomposição dos
minerais primários. Da mesma forma que a hidrólise, a acidólise pode ser total (quando o
pH é menor que 3, e os solos resultantes são constituídos praticamente de minerais
primários insolúveis, como o quartzo) ou parcial (quando o pH varia de 3 a 5, e a remoção
do alumínio é parcial, resultando em um solo com esmectitas aluminosas).
 Oxidação: alguns elementos podem estar presentes nos minerais em mais de um estado
de oxidação, como, por exemplo, o ferro, que se encontra em minerais ferromagnesianos
primários como biotita, anfibólios, piroxênios e olivina sob forma de Fe 2+. Liberado em
solução, oxida-se a Fe3+, e precipita-se como um novo mineral, a goethita, que é um óxido
de ferro hidratado, que confere coloração castanha, laranja e amarela aos solos; isso
ocorre porque o ferro é um elemento que raramente faz parte da estrutura de
argilominerais, preferencialmente precipitando-se na forma de óxidos e hidróxidos. E, por
desidratação, a goethita pode transformar-se em hematita, que confere coloração
vermelha aos solos. Em solos ricos em ferro, onde ocorreu o processo de oxidação, é
comum ocorrerem formações superficiais constituídas por oxi-hidróxidos de ferro, alumínio
e caulinita misturados entre si; tais formações são denominadas lateritas (na região do
Triângulo Mineiro, também são conhecidas pelo nome de tapiocanga; ver figura 1) e ao
processo originador das mesmas se dá o nome de laterização.

Figura 1: Laterita (ou tapiocanga, como é conhecida na região do Triângulo Mineiro).

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Distribuição dos Processos de Alteração na Superfície da Terra
A distribuição potencial dos processos de alteração na superfície da Terra em escala
global, em função dos parâmetros climáticos atuais, está representada na figura 2. Esse esquema
distingue basicamente dois domínios:
 Regiões sem alteração química, correspondendo a 14% da superfície dos continentes;
 Regiões com alteração química, correspondendo a 86% da superfície dos continentes.

Figura 2: Distribuição dos principais processos de intemperismo na superfície da Terra.

As regiões sem alteração química são aquelas caracterizadas por uma carência total de
água no estado líquido, o que pode resultar de duas situações: a)as temperaturas reinantes são
inferiores a 0ºC, de tal sorte que a água se encontra sempre no estado sólido (zonas polares); b)o
meio é caracterizado por um secura extrema devido à ausência de chuva, ou por forte evaporação
(zonas desérticas).
As regiões com alteração química correspondem ao resto do globo e são caracterizadas,
ao mesmo tempo, por uma certa umidade e pela existência de cobertura vegetal mais ou menos
desenvolvida. Trata-se de um domínio heterogêneo, que é subdividido em quatro zonas de
distribuição grosseiramente latitudinal, em função de suas características climáticas:
 Zona da acidólise total: são as zonas frias do globo, onde a vegetação é composta
principalmente por liquens e coníferas, cujos resíduos se degradam lentamente,
fornecendo complexos orgânicos capazes de fazer o alumínio migrar do perfil. Os solos
resultantes são solos podzólicos, ricos em quartzo e matéria orgânica. A zona da acidólise
total corresponde à zona circumpolar do hemisfério norte.
 Zona da alitização: corresponde às regiões do domínio tropical, caracterizadas por
precipitação abundante, superior a 1.500 mm, e vegetação exuberante. A associação
mineral característica é de oxi-hidróxidos de ferro e alumínio.
 Zona da monossialitização: Está contida no domínio tropical sub-úmido, com precipitação
superior a 500 mm e temperatura média anual superior a 15ºC. Os principais minerais
formados são a caulinita e os oxi-hidróxidos de ferro.
 Zona da bissialitização: são as zonas temperadas e áridas, onde a alteração e a lixiviação
são pouco intensas, resultando na formação de argilominerais secundários ricos em silício.

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Essa zona engloba tanto o ambiente hidrolítico de formação de esmectitas ricas em
elementos alcalinos e alcalino-terrosos, como o ambiente da acidólise parcial, onde se
formam as esmectitas aluminosas.
Esse esquema, válido em escala global, pode ser bastante modificado por condições locais de
relevo, microclima, litologia predominante, etc. Na Bacia Amazônica, por exemplo, embora o
processo dominante seja a laterização, sobre rochas ricas em quartzo pode ocorrer uma
acidólise secundária, resultando na perda de argilas e levando à formação de verdadeiros
solos podzólicos.

Fatores que Controlam a Alteração Intempérica


Várias características do ambiente em que se processa o intemperismo influem
diretamente nas reações de alteração, no que diz respeito à sua natureza, velocidade e
intensidade. São os chamados fatores de controle do intemperismo, basicamente representados
pelo material parental, clima, topografia, biosfera e tempo.
 Material Parental: A alteração intempérica das rochas depende da natureza dos minerais
constituintes, de sua textura e estrutura. Por exemplo, uma rocha silicática como o granito
é mais resistente à alteração do que uma rocha carbonática, como o mármore.
 Clima: É o fator que, isoladamente, mais influencia no intemperismo. Mais do que qualquer
outro fator, determina o tipo e a velocidade do intemperismo numa dada região. Os dois
mais importantes parâmetros climáticos, precipitação e temperatura, regulam a natureza e
a velocidade das reações químicas. Assim, a quantidade de água disponível nos perfis de
alteração, fornecida pelas chuvas, bem como a temperatura, agem no sentido de acelerar
ou retardar as ações do intemperismo.
 Topografia: A topografia regula a velocidade do escoamento superficial das águas pluviais
(que também depende da cobertura vegetal) e, portanto, controla a quantidade de água
que se infiltra nos perfis. Em encostas muito íngremes, o perfil de alteração não se
aprofunda porque as águas escoam rapidamente, não ficando em contato com os
materiais tempo suficiente para promover as reações químicas. Por outro lado, nas
baixadas, as águas ficam muito tempo em contato com as rochas e tornam-se
concentradas nos componentes solúveis, perdendo assim sua capacidade de continuar
promovendo as reações de ataque aos minerais. O relevo ideal para o desenvolvimento de
perfis de alteração profundos e evoluídos é o de platôs de encostas suaves, pois há
desnível considerável em relação ao nível de base regional, permitindo boa infiltração das
águas, drenagem interna dos perfis eficiente e conseqüente eliminação dos produtos
dissolvidos.
 Biosfera: A qualidade da água que promove o intemperismo químico é bastante
influenciada pela ação da biosfera. A matéria orgânica morta no solo decompõe-se,
liberando CO2, cuja concentração nos poros do solo pode ser até 100 vezes maior que na
atmosfera, o que diminui o pH das águas de infiltração. Em torno das raízes das plantas, o
pH é ainda menor, entre 2 a 4, e é mantido enquanto o metabolismo da planta continua.
Isso é particularmente importante para o comportamento do alumínio, que, sendo muito
pouco solúvel nos meios normais, torna-se bastante solúvel em pH abaixo de 4.
 Tempo: O tempo necessário para intemperizar uma determinada rocha depende dos
outros fatores que controlam, principalmente da suscetibilidade dos constituintes minerais
e do clima. Em condições de intemperismo pouco agressivas, é necessário um tempo mais
longo de exposição às intempéries para haver o desenvolvimento de um perfil de
alteração.

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Formação dos Solos
Os produtos friáveis e móveis formados na superfície da Terra como resultado da
desagregação e decomposição das rochas pela ação do intemperismo podem não ser
imediatamente erodidos e transportados pelos agentes da dinâmica externa (vento, gelo, águas)
para bacias de sedimentação. Quando formados em regiões planas ou de relevo suave, ou ainda,
quando estão protegidos por cobertura vegetal, sofrem pouco a ação da erosão, sobretudo a
erosão física. Nesta situação, o saprolito (a transição entre rocha fresca e solo) evolui através de
reorganizações estruturais efetuadas por processos pedogenéticos, dando origem aos solos. Para
um saprolito tornar-se um solo é preciso, em primeiro lugar, que nesse meio a alimentação
mineral dos organismos vivos autótrofos e, em particular, dos vegetais superiores, esteja
assegurada. A vida necessita de água e de elementos químicos, que são encontrados no ar ou
dissolvidos na água e que têm como fonte primária as rochas. Nas rochas, esses elementos estão
disponíveis para os organismos em concentrações muito baixas e, nas soluções, em
concentrações demasiadamente elevadas, para assegurar uma alimentação contínua e suficiente
para os organismos vivos. Nesse particular, o solo desempenha um papel fundamental por se
tratar de um meio intermediário entre a fase sólida (rocha) e líquida (água). No solo, essa função
vital para os organismos vivos é desempenhada por uma fração organomineral denominada
plasma argilo-húmico, por ser constituída pela íntima associação de argilominerais e húmus. Em
função das condições ambientais, qaue envolvem rocha parental, clima, topografia, biosfera e
tempo, os solos podem apresentar características e propriedades físicas, químicas e físico-
químicas diferenciadas. Assim, os solos podem ser argilosos ou arenosos, podem ser vermelhos,
amarelos ou cinzentos, ricos ou pobres em matéria orgânica, espessos ou rasos, homogêneos ou
nitidamente diferenciados em horizontes.
Em relação aos horizontes apresentados pelos solos, nem sempre é fácil identificá-los,
mas em geral os solos em geral apresentam os seguintes horizontes, evidenciados na figura 3:
 Horizonte C: Horizonte de rocha alterada (saprolito). Pode ser subdividido em saprolito
grosseiro (parte inferior, onde as estruturas e texturas da rocha estão conservadas) e
saprolito fino (parte superior, onde a herança morfológica da rocha não é mais
reconhecida);
 Horizonte B: Horizonte de acumulação de argila, matéria orgânica e oxi-hidróxidos de ferro
e alumínio;
 Horizonte E: Horizonte mais claro, marcado pela remoção de partículas argilosas, matéria
orgânica e oxi-hidróxidos de ferro e alumínio;
 Horizonte A: Horizonte escuro, com matéria mineral e orgânica e alta atividade biológica;
 Horizonte O: Horizonte rico em restos orgânicos em vias de decomposição.
Na porção mais superficial do perfil de alteração, o saprolito, sob a ação dos fatores que
controlam a alteração intempérica, sofre profundas e importantes modificações, caracterizadas
por: a) perda de matéria, provocada pela lixiviação tanto física (em partículas) como química
(em solução); b) adição de matéria, proveniente de fontes externas, incluindo matéria orgânica
de origem animal ou vegetal, poeiras minerais vindas da atmosfera e sais minerais trazidos
por fluxo de soluções; c) translocação de matéria, isto é, remobilização através dos fluxos de
soluções no interior do perfil (movimentos verticais e laterais) ou pela ação da fauna; d)
transformação de matéria, em contato com os produtos da decomposição da matéria vegetal e
animal.
Esses mecanismos são controlados pelas soluções que percolam o perfil vertical e
lateralmente ao longo da vertente e pelos organismos (a cobertura vegetal, dificultando a erosão,
tem um papel mais protetor do que destruidor das estruturas dos solos). Porém, em escala global,
os principais agentes de remobilização dos materiais do solo (bioturbação) são os animais. Os
vermes são os mais importantes bioturbadores, seguidos pelas formigas. Os cupins e outros
invertebrados têm papel menos importante. O impacto desses vários grupos não é uniforme no

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globo porque habitam ambientes específicos. Os cupins atuam principalmente na faixa tropical,
enquanto a atuação dos vermes se estende por todo o planeta, mas concentra-se
preferencialmente nos ambientes úmidos. Em termos geográficos, as formigas são mais
disseminados que qualquer outro animal.
Os horizontes mais superficiais do perfil, por conterem quantidades maiores de matéria
orgânica, apresentam uma tonalidade mais escura, enquanto os horizontes inferiores, mais ricos
em argilominerais e oxi-hidróxidos de ferro e alumínio, são mais claros (regiões temperadas) ou
mais avermelhados-amarelados (regiões tropicais).

Figura 3: Esquema de perfil de alteração ou perfil de solo típico.

Minerais de Argila
Minerais de argila (também denominados argilominerais) são silicatos hidratados
com estrutura cristalina em camadas, constituídos por folhas contínuas de tetraedros SiO 4,
ordenados de forma hexagonal (fazendo parte do grupo dos silicatos denominados filossilicatos),
condensados com folhas octaédricas de hidróxidos de metais di e trivalentes, e são constituídos
essencialmente por partículas de pequenas dimensões (microcristais), geralmente abaixo de 2m.
Devido às dimensões reduzidas, os argilominerais são impossíveis de serem identificados a olho
nu ou mesmo ao microscópio óptico; por tal razão, deve-se lançar mão de recursos como a
Difratometria de Raios-X ou o Microscópio Eletrônico de Varredura para identificá-los.
A origem dos argilominerais pode ser tanto hidrotermal (fluidos, em especial água quente,
percolando rochas, podendo ser ou não de origem ígnea) como intempérica (é a origem da maior
parte dos argilominerais; devido às condições intempéricas, a partir de minerais primários,
particularmente feldspatos).

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Os diferentes tipos de argilominerais formados em ambiente supérgeno estão diretamente
ligados a fatores como clima (pluviosidade e temperatura), topografia, influência da rocha original
(textura, estrutura e composição), vegetação circundante e tempo. Os argilominerais apresentam
propriedades importantes para sua utilização nos mais diversos setores econômicos, como
plasticidade e impermeabilidade (fatores fundamentais para materiais cerâmicos), tixotropia e
capacidade de troca catiônica (importantes na agricultura, por exemplo).
Quanto à composição mineralógica, as argilas podem ser cauliníticas, montmorilloníticas,
ilíticas ou cloríticas, de acordo com o argilomineral predominante. No caso de dois ou mais
argilominerais predominantes, a classificação se estabelece considerando os minerais
majoritários, como, por exemplo, argilas ilítico-cauliníticas, caulinítico-montmorilloníticas.
Caulinita: Representa um grupo de argilominerais que compreende, além da espécie caulinita
propriamente dita, os politipos dickita e nacrita e halloysita.
A caulinita e seus politipos são formados pelo empilhamento regular de camadas 1:1, em que
cada camada consiste de uma folha de tetraedros SiO4 e uma folha de octaedros Al(OH)3,
também chamada folha de gibsita, ligadas entre si em uma única camada, através do
compartilhamento do O da hidroxila (figura 4), dando uma estrutura fortemente polar. Sua fórmula
geral é Al4Si4O10(OH)8, praticamente sem abrigar outros cátions em sua estrutura cristalina. Pode
ter origem hidrotermal ou intempérica, sendo mais freqüente este último caso. O ambiente ideal
para a formação da caulinita intempérica é: pluviosidade alta, boa drenagem com alta lixiviação,
ambiente ligeiramente ácido e pobre em cátions. Os principais geradores de caulinita são os
feldspatos, seguidos dos feldspatóides e da muscovita. O espaçamento basal entre as camadas é
de 7,15 Ǻ (figura 4). Quando tratada com etilenoglicol, o espaçamento basal da caulinita não se
modifica e quando aquecida a 500C, o espaçamento basal desaparece, pois a estrutura se
colapsa pela desidroxilação das folhas de gibbsita. Particularmente no Brasil, onde o
intemperismo químico é intenso e o carreamento de íons é intenso, a caulinita é um dos
argilominerais mais comuns.

Esmectita: A exemplo da caulinita, também representa um grupo de argilominerais, constituídos


por duas folhas de tetraedros de silício, com uma folha central octaédrica, unidas entre si por
oxigênios comuns às folhas. A grande diferença deste grupo de minerais 2:1 em relação à
caulinita é, além da folha adicional de tetraedros de silício, a presença de moléculas de água
intersticial entre as camadas (figura 4). Com isso, o espaçamento basal da esmectita é de
aproximadamente 14 Ǻ (valor médio; valores extremos podem variar de 12 Ǻ a 17 Ǻ); quando
glicolada, o espaçamento se expande e atinge cerca de 17 Ǻ a 18 Ǻ e, quando aquecida, o
espaçamento cai para 10 Ǻ. A morfologia também é lamelar.

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Figura 4. Estrutura e espaçamento basal dos diferentes argilominerais.

A água intersticial da esmectita é perdida, na sua maior parte, por aquecimento de 100 a
250C, mas permanecem traços até cerca de 300C, temperatura na qual começa a perda lenta
da água de formação. A perda rápida inicia-se a 500C e completa-se a 700C. A desidratação da
esmectita é, pelo menos parcialmente, reversível, desde que não seja levada ao extremo e

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mesmo depois do aquecimento a 600C, uma certa quantidade de água intersticial pode ser
readquirida lentamente.
Uma característica típica deste grupo de argilominerais é a capacidade de expansão
volumétrica mesmo em condições naturais superficiais. A esmectita também apresenta alta
Capacidade de Troca Catiônica (CTC), como se pode ver na Tabela 1.
A gênese da esmectita pode ser neoformação (alteração residual de vidros, cinzas e tufos
vulcânicos), hidrotermal ou sedimentar (clima temperado ou semi-árido com riqueza em cátions
como Na+, Ca2+ e Mg2+), além de transformações por alteração nas condições físico-químicas
(argilominerais como vermiculita, clorita e illita podem transformar-se em esmectita). Costuma
ocorrer em solos de ambientes temperados ou semi-áridos, com drenagem ineficaz e baixa
lixiviação. Porém, não são de ocorrência rara nos solos brasileiros (em várzeas, devido à baixa
lixiviação, é comum a ocorrência de esmectita).
Ilita: possui estrutura cristalina semelhante à da esmectita (figura 4), sendo também 2:1, com a
diferença de que, além de água entre as camadas, existe também o cátion K+ intersticial. A
conseqüência é que, devido ao alto poder de atração entre as camadas e o cátion intersticial, este
argilomineral possui espaçamento basal fixo de aproximadamente 10 Ǻ mesmo se glicolado e/ou
aquecido (520C/4h). Este argilomineral está correlacionado ao grupo das micas, da qual fazem
parte a flogopita, a biotita e a muscovita, entre outras. Difere das micas devido ao tamanho muito
menor das partículas e pela insaturação em íons K+. Pode se originar por neoformação
(combinação de íons em solução ou ação sobre micas degradadas), herança (divisão mecânica
de micas pré-existentes, em especial a partir da muscovita) ou transformação (pela fixação do íon
K+, caulinitas e esmectitas podem se transformar em illitas). Em geral são herdadas da rocha de
origem.
Clorita: A estrutura cristalina das cloritas é constituída por camadas alternadas estruturais do tipo
da mica (uma camada de brucita entre duas camadas de silicato) com uma de brucita (hidróxido
de magnésio) (Figura 4). O magnésio da brucita pode ser substituído parcialmente por ferro, o que
proporciona dois tipos de clorita: a Mg-clorita (ou clinocloro) e a Fe-clorita (ou chamosita). O
espaçamento basal da clorita é de cerca de 14 Ǻ, sendo que não expande se tratada com
etilenoglicol e, quando aquecida, retrai-se para cerca de 10 Ǻ. Existem na literatura casos de
cloritas cuja reflexão basal de primeira ordem no curva de difração é pouco intensa e que
expandem com etilenoglicol. Provavelmente, tratam-se de interestratificados regulares
clorita+esmectita. Como fração argila de solos, costuma se originar pela alteração da biotita,
hornblenda ou outros silicatos ferromagnesianos, porém, possui baixa estabilidade em clima
tropical, com intemperismo químico intenso, por isso é rara em depósitos coluvionares e
aluvionares e, quando presentes, tendem a formar interestratificados.

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Tabela 1: Valores de CTC para os argilominerais.
Argilominerais CTC (meq/100g)
Caulinita 3-5
Illita 10-40
Clorita 10-40
Esmectita 80-150

Bibliografia
Skinner, B.J. & Porter, S.C. 1987. Physical Geology. John Wiley & Sons, New York, 750p.
Teixeira, W.; Toledo, M.C.M.; Fairchild, T.R. & Taioli, F. 2000. Decifrando a Terra. Ed. Oficina de
Textos, São Paulo.

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