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DINÂMICA INTERNA DA TERRA

Introdução

Os vulcões e terremotos representam as formas mais enérgicas e rápidas de manifestação


dinâmica do planeta. Ocorrem tanto em áreas oceânicas como continentais, e são válvulas de
escape que permitem o extravasamento repentino de energias acumuladas ao longo de anos ou
milhares de anos. Esses eventos são sinais de que, no interior da Terra, ocorrem fenômenos
dinâmicos que liberam energia e se refletem na superfície, modificando-a. Por outro lado, existem
formas lentas de manifestação da dinâmica interna terrestre. As placas tectônicas, com
continentes e partes de oceanos, movem-se em mútua aproximação ou distanciamento, a
velocidades de alguns milímetros ou centímetros por ano, contribuindo para a incessante evolução
do relevo e da distribuição dos continentes e oceanos na superfície terrestre.
A Tectônica e a formação das grandes cadeias de montanhas e dos oceanos
Várias evidências demonstram que as massas continentais e oceânicas das placas
tectônicas flutuam sobre o material da astenosfera e movem-se umas em relação às outras e que,
continentes que hoje encontram-se separados, já formaram um único bloco. É o caso da América
do Sul e África, que se apresentam como duas peças contíguas de um quebra-cabeças, não
apenas pela forma de seus litorais, mas também pelas características geológicas e
paleontológicas que mostram continuidade nos dois continentes. América do Sul e África já
estiveram unidos e submetidos a uma mesma evolução.

Os movimentos das placas


litosféricas são devidos às correntes
de convecção que ocorrem na
astenosfera. As correntes de
convecção levam os materiais mais
quentes para cima, perto da base da
litosfera, onde vão perdendo calor e
tendendo a descer dando lugar ao
material mais quente que está
subindo. À medida que o material se
desloca lateralmente para depois
descer, ele entra em atrito com as
placas da litosfera rígida, raspando
na sua parte inferior e levando-as a
se movimentarem (Fig. 1).
Figura 1: Esquema de funcionamento das
correntes de convecção na formação e na
destruição de placas oceânicas.

No meio dos Oceanos Atlântico, Pacífico e Índico existem cordilheiras submarinas, que se
elevam a até cerca de 4.000 m acima do assoalho oceânico. Estas cordilheiras marcam imensas
rupturas na crosta, ao longo das quais há extravasamentos periféricos de lava basáltica vinda das
partes mais internas (astenosfera), como se um contínuo suprimento de material do manto
subjacente ascendesse pela fratura, empurrando as placas em direções opostas (zona de
acreção de placa). Nestas condições, algumas porções da astenosfera devem se fundir
originando magma que é um material rochoso fundido, que contém cristais em suspensão e
gases dissolvidos, e que se forma quando a temperatura aumenta provocando fusão no
manto ou na crosta. O magma que se forma debaixo das cadeias meso-oceânicas ascende para
o topo da litosfera, onde se resfria e cristaliza formando nova crosta oceânica (Fig. 2).

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Figura 2: Esquema de formação de cordilheiras meso-oceânicas.

O mesmo mecanismo que força a cordilheira a se abrir periodicamente (correntes de


convecção divergentes) para que materiais mais novos possam se colocar ao longo das
aberturas, formando e expandindo o domínio oceânico, em outros locais promove colisões de
placas (correntes de convecção convergentes). Nestas colisões a placa que contém crosta
oceânica, mais pesada, entra sob a placa continental, que se enruga e deforma, gerando as
grandes cadeias de montanhas continentais (Andes, Montanhas Rochosas). A placa que afundou
acaba por se fundir ao atingir as grandes pressões e temperaturas internas (zona de
subducção); se a colisão for entre duas porções continentais, ambas se enrugam (Alpes,
Pirineus, Himalaias). Assim, a crosta terrestre é renovada, sendo gerada nas cadeias meso-
oceânicas e reabsorvida nas zonas de colisões entre as placas, onde ocorre subducção (Fig. 3).

Figura 3: Esquema de funcionamento de uma zona de subducção entre crosta continental e


crosta oceânica, a exemplo da Cordilheira dos Andes.

Resumindo:

-Colisão de placas: Pode formar cadeias de montanhas, fechamento de oceanos ou fossas


submarinas profundas. PODE OU NÃO formar zona de subducção.

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Colisão entre placa continental e placa oceânica: SEMPRE a placa oceânica entra abaixo da
placa continental, por ser mais pesada (o basalto é uma rocha mais pesada que o granito,
por conta dos minerais que o compõem), formando cordilheira no continente, pelo
enrugamento da placa continental. Ocorre formação de zona de subducção, ou seja, há
destruição de placa oceânica antiga. Exemplos: Andes, Montanhas Rochosas.

Colisão entre duas placas oceânicas: uma das duas placas oceânicas entra embaixo da
outra (a que está sofrendo maior pressão), e isso ocasiona a formação de uma fossa
submarina profunda. Ocorre formação de zona de subducção, ou seja, há destruição de
placa oceânica antiga. Exemplo: Fossa das Marianas.

Colisão entre duas placas continentais: NENHUMA das placas continentais entra embaixo
da outra, porque ambas são muito leves. Pode ocorrer a formação de cordilheira
continental ou o fechamento de um mar ou oceano. NÃO OCORRE formação de zona de
subducção, ou seja, não há destruição de placas. Exemplo: Himalaia, Alpes, Pirineus,
fechamento do Mar Mediterrâneo.

-Afastamento de placas: abertura de oceano ou formação de cordilheira submarina. NÃO


OCORRE formação de zona de subducção.

Afastamento entre placas oceânicas: é o mecanismo de formação de nova crosta oceânica,


abrem-se fendas no fundo do mar, de onde sai o magma e se solidifica, formando
cordilheiras submarinas. Exemplo: Dorsal Atlântica.

Afastamento entre placas continentais: na verdade, o que ocorre é a rachadura de uma


única placa continental, que se divide em duas ou mais placas. Ocorre a abertura de um
novo oceano. Exemplo: Rift Valley, no leste da África, e isso ocorreu no Mesozoico, na
separação entre África e América do Sul.

Afastamento entre placa continental e placa oceânica: no momento, não ocorre em


nenhuma parte do planeta.

-Atrito entre placas: nesse caso não há destruição nem formação de placa oceânica,
apenas atrito, o que ocasiona fenômenos como vulcanismos e terremotos. NÃO OCORRE
formação de zona de subducção. Exemplo: Falha de San Andreas, na costa da Califórnia.

Assim, os oceanos são formados pela divisão de continentes (por exemplo, há 180 milhões
de anos atrás, um grande continente chamado Gondwana dividiu-se formando a África, a América
do Sul e o oceano Atlântico). Outros oceanos podem ser fechados por movimentos convergentes
das placas (por exemplo o Mar Mediterrâneo está sendo fechado pela aproximação entre a África
e a Europa).
A litosfera rochosa semi-rígida é constituída por uma série de placas de tamanhos
variáveis (de centenas a milhares de quilômetros de largura), cujo movimento é responsável pela
configuração atual dos continentes e bacias oceânicas. A litosfera atual é constituída por seis
grandes placas (Eurasiana, Africana, Americana, Indo-Australiana, Pacífica e Antártica) e
inúmeras placas menores, que se movem numa velocidade que varia de 1 a 12cm por ano. A
medida que as placas se movem, tudo que está sobre as placas se move também. Se parte do
capeamento é crosta oceânica e o resto é crosta continental, tanto o fundo oceânico quanto o
continente se moverão com a mesma velocidade e na mesma direção da placa inteira (Fig. 4).
Os limites entre as placas podem ser divergentes, onde elas se separam criando fundo
oceânico, ou convergentes onde elas colidem formando cadeias montanhosas continentais ou

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fechando oceanos. Podem ainda ser limites transformantes, onde uma placa passa ao lado da
outra, com atrito mas sem criar nem consumir material. Todos estes tipos de limites são zonas de
instabilidade tectônica, ou seja, sujeitas a terremotos e vulcões.
Neste processo, as posições dos continentes no globo terrestre também são modificadas
em relação ao Equador e aos pólos, explicando em parte as mudanças climáticas em cada
continente ao longo do tempo geológico.

Figura 4: Atuais placas tectônicas constituintes da crosta terrestre.

Vulcões e Terremotos
O material rochoso em profundidade está submetido a pressões e temperaturas altíssimas
(astenosfera) e, quando a placa litosférica rígida sofre uma ruptura, este material se funde e tende
a escapar por ela, extravasando na superfície (vulcanismo) ou ficando retido dentro da crosta,
quando não consegue chegar à superfície (plutonismo). O material que extravasa é constituído
por gases, lavas e cinzas. A atividade vulcânica pode formar ilhas em meio aos oceanos (Havaí,
Açores, etc.) ou destruí-las em instantes. Pode ocorrer nos continentes, formando montanhas
(Estromboli e Vesúvio na Itália, Osorno e Vila Rica no Chile, Santa Helena nos EUA). Podem
também constituir o vulcanismo fissural como na lslândia. O mais espetacular aspecto construtivo
do vulcanismo é o que ocorre nas cadeias meso-oceânicas, que representam limites divergentes
de placas, gerando verdadeiras cordilheiras submarinas, formando assoalho oceânico novo a
cada extravasamento e causando, assim, a expansão oceânica.
Os terremotos são tremores ou abalos causados pela liberação repentina da energia
acumulada durante longos intervalos de tempo em que as placas tectônicas sofreram esforços
para se movimentar. Quando o atrito entre elas é vencido (subducção ou falha transformante) ou
quando partes se rompem (separação de placas), ocorrem os abalos. Estes abalos têm
intensidade, duração e freqüência variáveis, podendo resultar em grandes modificações na
superfície, não só pela destruição que causam, mas por estarem associados aos movimentos das
placas tectônicas.
Os hipocentros (pontos de origem dos terremotos) e epicentros (projeções verticais dos
hipocentros na superfície) estão localizados preferencialmente em zonas limitrofes de placas
tectônicas, onde elas se chocam e sofrem subducção e enrugamento formando respectivamente
fossas oceânicas e cordilheiras continentais, ou onde elas se separam, nas cadeias dorsais meso-

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oceânicas. Ocorrem terremotos também no limites onde as placas se movem lateralmente em
sentidos opostos (falhas transformantes).
No mapa mundial pode-se observar que a distribuição dos terremotos forma faixas
contínuas ao longo das fossas oceânicas e cadeias continentais e meso-oceânicas. É famoso o
"cinturão de fogo circumpacífico", sujeito a freqüentes e intensos terremotos (exemplo da Falha de
San Andreas, EUA), formando uma faixa muito ativa em volta do Oceano Pacífico (Fig. 5).
Também existem terremotos que não são devidos aos movimentos das placas, mas a esforços
chamados lntra-placas. São menos freqüentes, menos intensos, e relacionados à reativação de
falhas (rupturas) muito antigas na crosta (Exs. recentes: João Câmara, RN e Rio de Janeiro).

Figura 5: Localização dos principais pontos de vulcanismo e terremotos na crosta terrestre.

A forma da Terra e a distribuição de continentes e oceanos


A Terra é um corpo aproximadamente esférico, com 12.766 Km de diâmetro, que rotaciona
em torno de um eixo ligeiramente inclinado em relação ao seu plano de órbita em torno do Sol. O
balanço entre a força centrífuga, devida à rotação da Terra, e a força gravitacional distorce a
forma da Terra de uma esfera para um elipsóide. Isto ocorre porque enquanto a gravidade é uma
força radial que atrai todos os objetos para o centro da Terra, a força centrífuga oposta atua numa
direção perpendicular ao eixo de rotação, sendo grande no equador e nula nos pólos. Como
resultado da atuação destas forças opostas a Terra é ligeiramente achatada nos pólos e abaulada
no equador. Desta forma, o raio da Terra no equador (6.378 Km) é maior do que nos pólos (6.357
Km).
A forma externa da Terra é irregular em função dos continentes, montanhas, vulcões nos
oceanos e outras feições que causam irregularidades. Estas irregularidades são devidas às
propriedades de fluxo das rochas que, em função de mudanças na temperatura ou pressão
podem se comportar como um sólido rígido ou plástico. Quando as rochas são sujeitas a um
rápido acréscimo de força, elas se comportam como sólidos rígidos e se quebram; quando a força
é lentamente aplicada, as rochas se deformam plasticamente.
As propriedades de fluxo da Terra têm importantes conseqüências. Uma delas é que
quando uma massa de rochas de baixa densidade é empilhada para formar uma montanha, esta
montanha tem uma raiz de baixa densidade abaixo dela, à semelhança de um “iceberg” flutuando,
que tem uma grande massa de gelo abaixo do nível do mar para balancear o pequeno topo acima

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da água. Por isto, todas as porções da crosta e da litosfera estão, neste sentido, flutuando – a
propriedade de balanço flotacional ideal entre segmentos da litosfera é a isostasia. A
isostasia é a razão pela qual os continentes são elevados (rochas com menor densidade) e as
bacias oceânicas rebaixadas (rochas de maior densidade).
Se a superfície da Terra fosse plana e uniformemente coberta pela água dos oceanos, a
profundidade média do oceano seria de 2,6 Km. Na realidade, os oceanos cobrem 71% da
superfície do planeta e sua profundidade média é de 3,8 Km. Os 29% restantes da superfície
terrestre são ocupados por terra, numa altitude média de 0,8 Km acima do nível do mar. Os
continentes ascendem abruptamente e se colocam a cerca de 4,6 Km acima da profundidade
média do fundo oceânico. A razão disso é que a crosta continental tem uma densidade de
2,7g/cm3 enquanto a crosta oceânica tem densidade de 3,2g/cm3. Neste sentido, ambos os tipos
de rochas devem ser considerados como “flutuando” sobre o manto. A crosta continental é leve e
por isso sobe; a crosta oceânica é densa e por isso afunda.
O limite das bacias oceânicas não coincide com as margens continentais emersas e há
uma plataforma submersa de largura variável que forma uma franja em torno dos
continentes conhecida como plataforma continental. A borda atual das bacias oceânicas é o
talude continental, um pronunciado declive na margem da plataforma continental (Fig. 6).

Figura 6 – Perfil do Oceano Atlântico mostrando as maiores feições topográficas.


Considerando que a borda dos continentes é definida pelo talude continental, somente
60% da superfície terrestre é ocupada pelas bacias oceânicas, enquanto 40% é tomada pelos
continentes (Fig. 7).

Figura 7 – Mapa mundial mostrando os limites da plataforma e talude continentais.


Além do talude continental estende-se o fundo das bacias oceânicas, cujas feições
particularmente proeminentes incluem: as cadeias meso-oceânicas, que são grandes cadeias
de montanhas contínuas sobre o fundo oceânico, com centenas de quilômetros de largura e
altura superior a 0,6 Km, e as trincheiras, que constituem bacias arqueadas longas, estreitas
e muito profundas no fundo oceânico (Fig. 8).

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Figura 8 – Perfil do fundo do mar comparando as formas de cadeia meso-oceânica e
trincheira.

Deformações das rochas: falhamentos e dobramentos


Na natureza, as rochas podem apresentar comportamento rúptil ou dúctil quando
submetidas a esforços tectônicos. Quando o comportamento é rúptil, os blocos de rochas se
partem, tal qual um vidro quando sofre aumento brusco de pressão; quando o comportamento é
dúctil, os blocos de rochas se deformam, tal qual uma lata de alumínio. O resultado de esforços
tectônicos em rochas de comportamento rúptil são as falhas, e em rochas de comportamento
dúctil, as dobras.
As falhas resultam de deformações rúpteis nas rochas da crosta terrestre. São expressas
por superfícies descontínuas com deslocamento diferencial de poucos centímetros a centenas de
quilômetros, sendo esta a ordem de grandeza para o deslocamento nas grandes falhas.
Aparecem como superfícies isoladas e discretas de pequena expressão, ou, no caso mais
comum, como uma região deformada de grande magnitude, que é a zona da falha. A condição
básica para a existência de uma falha é que tenha ocorrido deslocamento ao longo da superfície.
Uma falha contém os seguintes elementos: espelho de falha, que seria uma superfície brilhante
(Fig. 9); capa ou teto e lapa ou muro, no caso das falhas inclinadas, sendo que a capa
corresponde ao bloco situado acima do plano de falha, e a lapa, ao bloco situado abaixo; escarpa
de falha, que seria a parte exposta da falha na topografia, geralmente estriada; e plano de falha,
que seria o plano por onde a falha atua (Fig. 10). O deslocamento entre dois pontos previamente
adjacentes, situados em lados opostos da falha, medido no plano de falha, é denominado rejeito,
que pode ser mensurado.

Figura 9: Espelho de falha ou slickenside em arenito.

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Figura 10: Elementos geométricos de uma falha: blocos de falha: muro ou lapa e teto ou
capa; escarpa e plano de falha.
As falhas podem ser vistas diretamente no campo (Fig. 11) ou serem inferidas diretamente
por meios geofísicos, fotografias aéreas, imagens de satélite, mapas geológicos e topográficos.

Figura 11: Falha visível no campo, afetando pacotes de rochas.

Em relação ao movimento relativo entre os blocos, as falhas podem ser classificadas como
normais ou de gravidade (onde a capa desce em relação à lapa), inversa ou de empurrão (onde a
capa sobe em relação à lapa), transcorrente (sem deslocamento vertical, mas horizontal, com o
plano da falha perpendicular à superfície) e oblíqua (também sem deslocamento vertical, e sim
horizontal, porém com plano de falha oblíquo à superfície) (Fig. 12).

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Figura 12: Classificação de falhas com base no movimento relativo entre blocos
adjacentes: a) falha normal; b) falha inversa; c) falha transcorrente; d) falha oblíqua.

As dobras são deformações dúcteis que afetam corpos rochosos da crosta terrestre.
Acham-se associadas a cadeias de montanhas de diferentes idades e possuem expressão na
paisagem, sendo visíveis em imagens de satélite. São caracterizadas por ondulações de
dimensões variáveis e podem se manifestar em três escalas: microscópica, mesoscópica e
macroscópica. A escala microscópica corresponde à escala de estudo em que a estrutura é
observada com o auxílio de microscópio ou lupa. Na escala mesoscópica a estrutura é visualizada
de modo contínuo desde amostras na escala de mão até afloramento (Figs. 13 e 14). Na escala
macroscópica a estrutura observada é produto da integração e reconstrução de afloramentos,
sendo, em geral, representada em perfis ou mapas geológicos.

Figura 13: Exemplo de dobra mesoscópica observada no campo.


Usa-se o termo estilo para descrever dobras, à semelhança do seu significado em arquitetura.
Assim, estilo de uma dobra corresponde a um conjunto de feições morfológicas e geométricas
associadas a um grupo (ou família) de dobras. Essas feições são adquiridas durante a
deformação e podem ser reconhecidas em um mesmo grupo de dobras, mesmo em afloramentos
diferentes. O estilo traduz uma identidade de um mesmo grupo de estruturas, contudo, ele tende a

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Figura 14: Dobras observadas em escala de afloramento.

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variar com o tipo de rocha e com a profundidade na crosta, bem como com a taxa de deformação.
A observação do estilo deve ser feita num plano perpendicular ao eixo da dobra. Este plano é
referido como plano de perfil da dobra (Fig. 15). Em qualquer outro plano diferente deste, o estilo
da dobra será alterado. Ainda na Fig. 15 são indicados os principais elementos geométricos de
uma superfície dobrada cilíndrica, definidos a seguir. Linha de charneira corresponde à linha que
une os pontos de curvatura máxima da dobra. Uma outra linha dessa superfície que une os pontos
de curvatura mínima é denominada linha de inflexão da dobra. Esta linha divide as dobras em dois
setores: um de convexidade voltada para cima e outro, para baixo. A orientação da linha de
charneira permite definir a posição espacial da dobra, horizontal, vertical ou inclinada. Ela situa-se
numa região da dobra conhecida como zona de charneira da dobra. A superfície axial pode ser
curva ou plana, sendo nesse caso referida como plano axial. Ela é definida como uma superfície
que contém a linha de charneira da superfície dobrada.

Figura 15: Elementos geométricos de uma superfície dobrada cilíndrica (a) e plano de perfil
de uma dobra (b): Sa – Superfície axial; Lc – Linha de charneira; Li – Linha de inflexão; Zc –
zona de charneira; Fl – Flanco.

Do ponto de vista genético, as dobras podem ser classificadas em dois tipos: atectônicas e
tectônicas. As primeiras são formadas na superfície ou próximas a ela, em condições muito
semelhantes à condição ambiente, sendo desencadeadas pela ação gravitacional e possuem
expressão apenas local; as últimas são formadas sob condições variadas de esforço, temperatura
e pressão, sendo mais relacionadas com processos de evolução da crosta, em particular com a
formação de cadeias de montanhas. Com base na estatrigrafia, é comum classificar as dobras em
sinclinais e anticlinais. Embora seja uma classificação que implica o uso de critérios
estratigráficos, isso nem sempre é seguido. Define-se sinclinal como uma dobra que possui
camadas mais novas no seu interior, e as mais antigas no exterior; no anticlinal, é o oposto, as
camadas mais antigas estão no núcleo (Fig. 16).

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Figura 16: Esquema de dobras sinclinais e anticlinais. Sequência estratigráfica das
camadas: 1-mais antiga; 2-intermediária; 3-mais nova.

Tectônica Global

O embrião de uma revolução nas ciências geológicas foi apresentada no início do século
XX pelo cientista alemão Alfred Wegener, sob o nome de Teoria da Deriva Continental, que
afirmava que os continentes já estiveram unidos anteriormente em um único e imenso bloco, o
qual ele denominou Pangea, o qual se fragmentou inicialmente em dois blocos: o setentrional, que
ele denominou Laurásia, e o meridional, denominado Gondwana (Fig. 17).

Figura 17: Pangea e sua divisão em dois continentes, Laurásia ao norte e Gondwana ao sul,
separados pelo Mar de Tethys.

Wegener enumerou algumas feições geomorfológicas, como a cadeia de montanhas da Serra


do Cabo na África do Sul, que seria a continuação da Sierra de La Ventana, na Argentina, ou
ainda um planalto na Costa do Marfim, na África, que teria continuidade no Brasil. Entretanto, as
evidências mais impressionantes apresentadas pelo pesquisador foram:
 Presença de fósseis de Glossopteris (tipo de gimnosperma primitiva) em regiões da África
e do Brasil, cujas ocorrências se correlacionavam perfeitamente, ao se juntarem os
continentes.

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 Evidências de glaciação, há aproximadamente 300 M.a. na região Sudeste do Brasil, Sul
da África, Índia, Oeste da Austrália e Antártica.
No entanto, Wegener não conseguiu responder a questão fundamentais, como, por exemplo:
Que forças seriam capazes de mover os imensos blocos continentais? Como uma crosta
rígida como a continental deslizaria sobre uma outra crosta rígida como a oceânica, sem que
fossem quebradas pelo atrito? Infelizmente, naquela época as propriedades plásticas da
astenosfera não eram ainda conhecidas, o que impediu Wegener de explicar sua teoria. Por
causa disso, Wegener não foi considerado um pesquisador sério e sua teoria foi sendo
esquecida. Porém, na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, devido às
necessidades militares de localização de submarinos no fundo dos mares, os mesmos foram
mapeados, onde se comprovou a existência de cordilheiras submarinas e fossas muito
profundas, destoando da imagem de planície monótona com alguns picos e planaltos isolados
que se imaginava na época para o fundo do mar. Outra ferramenta importante foi o advento da
geocronologia, que permitia datar as rochas, e constatou-se que, no Atlântico Norte, as rochas
que se encontravam no centro eram mais jovens do que as rochas do assoalho oceânico mais
próximas dos continentes (Fig. 18). O estudo do magnetismo das rochas também contribuiu
para uma melhor compreensão dos movimentos da crosta continental. Estudos de
paleomagnetismo revelaram que as posições primitivas dos pólos magnéticos da Terra tinham
mudado ao longo do tempo geológico em relação às posições atuais dos continentes. Como
sabia-se que o eixo magnético da Terra coincidia com o seu eixo rotacional, os dados
paleomagnéticos poderiam indicar, ao invés de mudanças do eixo magnético, um movimento
relativo entre os continentes.

Figura 18: Distribuição das idades geocronológicas do fundo oceânico do Atlântico


Norte, onde se observam as idades (em M.a.) mais jovens próximas à dorsal meso-
oceânica.

Em 1962, Hess sugeriu a hipótese da expansão do assoalho oceânico; com base os dados
geológicos e geofísicos disponíveis, este autor propunha que as estruturas do fundo oceânico
estariam relacionadas a processos de convecção no interior da Terra. Tais processos seriam
originados pelo alto fluxo de calor emanado na dorsal meso-oceânica, que provocaria a ascensão
de material do manto, devido ao aumento da temperatura que o tornaria menos denso (Fig. 19);
de acordo com Hess, esse material, ao atingir a superfície, se movimentaria lateralmente e o
fundo oceânico se afastaria da dorsal. A fenda existente na crista da dorsal não continuaria a
crescer porque o espaço deixado pelo material que saiu para formar a nova crosta oceânica é
preenchido por novas lavas, que, ao se solidificarem, formam um novo fundo oceânico. A
continuidade desse processo produziria, portanto, a expansão do assoalho oceânico. A Deriva

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Continental e a expansão do fundo dos oceanos seriam assim uma conseqüência das correntes
de convecção. Assim, em função da expansão dos fundos oceânicos, os continentes viajariam
como passageiros, fixos em uma placa, como se estivessem em uma esteira rolante. Com a
continuidade do processo de geração de crosta oceânica, em algum outro local deveria haver um
consumo ou destruição desta crosta, do contrário a Terra expandiria. A destruição da crosta
oceânica mais antiga ocorreria nas chamadas Zonas de Subducção, que seriam locais onde a
crosta oceânica mais densa mergulharia para o interior da Terra até atingir condições de pressão
e temperatura suficientes para sofrer fusão e ser incorporada novamente ao manto.

Figura 19: Esquema de correntes de convecção atuantes na dorsal meso-oceânica.

Bibliografia
Skinner, B.J. & Porter, S.C. 1987. Physical Geology. John Wiley & Sons, New York, 750p.
Teixeira, W.; Toledo, M.C.M.; Fairchild, T.R. & Taioli, F. 2000. Decifrando a Terra. Ed. Oficina de
Textos, São Paulo.

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