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CAPÍTULO 05 - INTEMPERISMO

A exposição das rochas à atmosfera, devido à erosão, movimentos tectônicos,


vulcanismo ou isostasia, coloca-as frente a forças e reagentes diferentes daqueles
existentes em seu ambiente de formação. Estas forças e reagentes tendem a quebrar as
rochas, reduzindo sua resistência, transformando-as em solo. Os processos físicos,
químicos e biológicos, responsáveis pela sua fragmentação são conhecidos como
INTEMPERISMO. Dentre estes processos, os processos biológicos, pela sua ação
localizada, não serão aqui abordados.

A importância do estudo do intemperismo e seus produtos reside no fato de que a


maior parte das obras de engenharia são implantadas na superfície ou em regiões
próximas a esta, dentro da ZONA DE INTEMPERISMO, em que os processos
intempéricos atuam sobre as propriedades das rochas, alterando-as consideravelmente.
Dependendo da composição química e mineralógica dessas rochas o intemperismo pode
se dar de maneira extremamente rápida.

Os principais fatores que controlam o intemperismo são:

• Tipo de rocha e estruturas - cada rocha tem uma mineralogia característica,


que reage de maneira distinta ao intemperismo. A presença de estruturas e
texturas direcionais (foliação, clivagem, etc.) também influencia o
intemperismo. Rochas com estruturas e/ou texturas direcionais pouco
espaçadas, em geral, alteram-se mais facilmente que aquelas mais maciças.

Figura 5.1 – Exemplo da influência do fraturamento no desenvolvimento do intemperismo


em uma rocha vulcânica (Fonte: Skinner & Porter, 1995).
• Inclinação da encosta (Topografia ou Relevo) - nos taludes mais inclinados, as
chuvas transportam o material intemperizado para o pé dos mesmos, expondo
continuamente a rocha sã ao ataque intempérico, de tal maneira que a rocha
alterada tem pouca espessura. Nos taludes menos íngremes este processo
não ocorre e as espessuras podem atingir dezenas de metros.

• Clima - O intemperismo é mais intenso e atinge maiores profundidades nas


regiões de clima tropical, pois as reações químicas são aceleradas pelas
amplas variações sazonais e diárias de umidade e calor, comuns neste tipo de
clima. Nos climas secos e frios, por seu turno, o intemperismo químico atua
muito lentamente, de maneira que o intemperismo físico é o principal
responsável pelo processo.

• Tempo de ação do processo - o tempo necessário para a decomposição de


uma rocha sã pode variar muito devido ao tipo de clima, à inclinação da
encosta e à composição da rocha. Assim, são necessários dezenas de
milhares de anos para o surgimento de solos residuais em regiões de clima frio
e seco, enquanto que em regiões de clima úmido, este tempo pode ser muito
menor.

5.1 - Intemperismo Físico

Os processos de intemperismo físico são aqueles que causam fragmentação ou


cominuição da rocha sem que haja qualquer modificação química em sua composição,
devido à variações no nível de pressões atuantes, que levam à fadiga e ruptura do
material. As variações no nível de pressões podem ocorrer a partir das seguintes ações:

• Alívio de tensões no maciço rochoso, ocasionando o surgimento de


descontinuidades aproximadamente paralelas ao relevo;
• Aquecimento e Resfriamento - as variações térmicas, diuturnas e
sazonais, causando expansão e retração dos maciços rochosos, podem
induzir à criação de fraturas no maciço rochoso;
• Ciclos de Umidecimento e Secagem - algumas rochas, quando
submetidas à ciclos de umidecimento e secagem, desenvolvem
mecanismos de variação de pressões, principalmente ligadas à
expansão de alguns minerais ou ao desenvolvimento de poro-pressões,
que podem vir a colapsar a rocha;
• Ação Erosiva da Água e dos Ventos - no Rio de Janeiro, por exemplo, os
maciços rochosos expostos comumente apresentam desplacamentos
resultantes da percolação de água através das juntas;
• Ação de escavações mecânicas.

A desagregação física (intemperismo físico), por ser um processo mais rápido e


que aumenta a superfície de exposição, é considerado como controlador da
decomposição química (intemperismo químico). Os minerais existentes nas rochas,
formados a pressões e temperaturas superiores às existentes na superfície da Terra,
tornam-se instáveis, tendendo a se alterar para minerais estáveis à estas novas
condições. Os minerais mais estáveis, quartzo, ouro, platina, diamante, são transportados
(chuvas, rios, ventos) e sedimentam-se, podendo originar depósitos com valor comercial
associados à rochas sedimentares.
Figura 5.2 - Exemplo de fraturamento causando aumento da superfície de exposição em
uma rocha, resultando em um aumento da velocidade do intemperismo (Fonte: Skinner &
Porter, 1995).

5.2 - Intemperismo Químico

Os processos químicos, por sua vez, são aqueles que, através de reações
químicas, resultam na decomposição da estrutura dos minerais. É um processo muito
importante em regiões de clima tropical úmido. Entre estes processos, resultantes da
ação deletéria da água:

• Hidrólise – é, em geral, o mais importante processo químico. Resulta na


transformação do mineral original em um neomineral adaptado às novas
condições. Ex.:
KAlSi3O8 + H2O → HAlSi3O8 + KOH
(Feldspato) (Argila)

• Hidratação – ocorre devido à adição de moléculas de água à composição de


certos minerais, formando novos compostos, com maior volume. Ex.:

Fe2O3 + H2O → Fe2O3nH2O


(Hematita) (Limonita)

• Oxidação – decomposição de minerais devido à ação oxidante do oxigênio (O2)


e do gás carbônico (CO2), dissolvidos na água. Ex.:

FeS2 + O2 + H2O → Fe2O3nH2O + H2SO4


• Carbonatação – decomposição de minerais pelo CO2 dissolvido na água,
formando ácido carbônico. Ex.:

CaCO3 + H2CO3 → Ca(HCO3)2


(calcita) (Bicarbonato de Cálcio)

5.3 - Perfis de Intemperismo

A atuação de processos intempéricos sobre as rochas origina Perfis de


Intemperismo (Figuras 5.3 e 5.4), que mostram uma gradação progressiva em direção à
superfície: rocha sã, rocha pouco alterada, rocha medianamente alterada, rocha muito
alterada e solo residual, resultantes do intemperismo “in situ”, sem que haja transporte.
Alternativamente, podem desenvolver-se “zonas de intemperismo”, marcadas pela
ausência de intemperismo seqüencial, em que os níveis de alteração são influenciados
pelas estruturas geológicas, tanto a nível de afloramento, quanto a nível regional.

Figura 5.3 – Exemplo de perfil de intemperismo seqüencial, mostrando gradação, de baixo


para cima, desde rocha sã até solo residual (Fonte: Skinner & Porter, 1995).

Figura 5.4 – Exemplo de perfis de intemperismo de rochas metamórficas (a esquerda) e


ígneas (a direita), segundo Deere & Patton (1971).
Figura 5.5 – Exemplo de influência de juntas de alívio no desenvolvimento de “zonas de
alteração” em ganisse facoidal do Rio de Janeiro (Fonte: Menezes Filho, 1993).

Figura 5.6 – Exemplo de intemperismo esferoidal em rochas graníticas (Fonte: Skinner &
Porter, 1995).
Figura 5.7 - Exemplo de “zona de intemperismo” em biotita-gnaisse, em que observa-se
que os níveis de alteração não estendem-se lateralmente por influência do fraturamento
existente na rocha (Fonte: Marques, 1998)
De maneira a permitir uma melhor padronização nas classificações efetuadas por
diferentes técnicos em regiões distintas do planeta, a Associação Internacional de
Mecânica das Rochas (ISRM), elaborou um esquema de classificação em termos
qualitativos, conforme a Tabela 5.1, abaixo.

Tabela 5.1 – Esquema de classificação e descrição de maciços rochosos intemperizados


(Fonte: ISRM, 1981).

TERMO DESCRIÇÃO CLASSE


Nenhum sinal visível de alteração da matriz; possível leve
SÃ descoloração ao longo das descontinuidades principais. I
Descoloração indica intemperismo da matriz da rocha e de
LEVEMENTE superfícies de descontinuidade. Toda a matriz da rocha pode II
INTEMPERIZADO estar descolorida pelo intemperismo e pode estar algo mais
branda externamente do que na condição sã.
Menos da metade da matriz da rocha está decomposta e/ou
MEDIANAMENTE desintegrada à condição de solo. Rocha sã ou descolorida está III
INTEMPERIZADO presente, formando um arcabouço descontínuo ou como
núcleos de rocha.
Mais da metade da matriz da rocha está decomposta e/ou
ALTAMENTE desintegrada à condição de solo. Rocha sã ou descolorida está IV
INTEMPERIZADO presente, formando um arcabouço descontínuo ou como
núcleos de rocha.
Toda a matriz da rocha está decomposta e/ou desintegrada à
COMPLETAMENTE condição de solo. A estrutura original do maciço está, em V
INTEMPERIZADO grande parte, preservada.
Toda a rocha está convertida em solo. A estrutura do maciço e
SOLO RESIDUAL da matriz da rocha está destruída. Há uma grande variação de VI
volume, mas o solo não foi significativamente transportado.

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