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XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas


IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Determinação das propriedades hidráulicas de um latossolo


vermelho e um cambissolo da região do Alto Paranaíba em Minas
Gerais
Pedro Silva Maciel
Engenheiro Civil, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, Brasil,
maciel8@gmail.com

Lucas Martins Guimarães


Professor Adjunto, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, Brasil,
guimaraeslm@yahoo.com.br

Fernanda Yamaguchi Matarazo


Professora Substituta, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, Brasil,
fernanda.matarazo@ufv.br

Mariana Cecília Melo


Estudante de Doutorado, Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, marianaceciliamelo@yahoo.com.br

Laura Guimarães de Oliveira


Estudante, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, Brasil,
laura.g.oliveira@ufv.br

RESUMO: Prever o movimento da água na região não saturada do solo é de extrema importância na execução
de obras de terra como aterros, barragens ou conteção de encostas naturais. Vale salientar também a
importância para a escolha correta e garantia de boa qualidade da fundação em qualquer tipo de obra. Sendo
assim, conhecer o comportamento hidráulico dos solos é imprescindível para garantir o melhor aproveitamento
de suas características. Para entender a indiossincrasia de cada material, os modelos de previsão necessitam
das principais variáveis que caracterizam o comportamento hidráulico, que são a curva de retenção de água
(CRA) e a função de condutividade hidráulica (FCH) do solo. Neste trabalho, determinou-se a curva de
retenção de água de um Latossolo Vermelho e de um Cambissolo presentes na região do Alto Paranaíba
utilizando os métodos de papel filtro e mesa de tensão, com os dados experimentais ajustados de acordo com
o modelo de Van Genuchten (1980). A função de condutividade hidráulica foi determinada a partir da
condutividade hidráulica saturada (Ksat) obtida dos valores de coeficiente de permeabilidade resultantes do
ensaio de permeâmetro de Guelph realizado em três pontos distindos para cada tipo de solo. Observou-se nas
curvas de retenção de água o comportamento bimodal típico para solos com poros de grande diferença de
diâmetro. Foram encontrados valores de Ksat na ordem de 10-5 para o Cambissolo e 10-3 para o Latossolo
Vermelho.

PALAVRAS-CHAVE: Curva de rentenção de água no solo, função de condutividade hidráulica, modelo de


Van Genuchten.

ABSTRACT: Predicting the movement of water in the unsaturated of the soil is of utmost importance in the
execution of earth moving works such as landfills, dams or retaining walls. It is also worth emphasizing the
importance for the correct choice and guarantee of good quality of foundation in any type of construction.
Thus, knowing the hydraulic behavior of soils is essential to ensure the best use of its characteristics. To
understand the indiosyncrasy of each material, the prediction models need the main variables that characterize
the hydraulic behavior, which are the soil water retention curve (SWRC) and the soil hydraulic conductivity
function (K(h)). In this paper, the water retention curve of Red Latosol and a Cambisol present in the Alto
Paranaíba region was determined by filter paper and tension table methods, with experimental data adjusted
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according to the Van Genuchten model (1980). The hydraulic conductivity function was determined from
saturated hydraulic conductivity (Ksat) obtained from the permeability coefficient values resulting from Guelph
permmeter test performed at three distinct points for each soil type. In the water retention curves, the typical
bimodal behavior was observed for soils with large diameter pore differences. Ksat values were found in the
order of 10-5 for Cambisol and 10-3 for Red Latosol.

KEYWORDS: Soil water retention curve, soil hydraulic conductivity function, Van Genuchten model.

1 Introdução

A compreensão do comportamento hidráulico dos solos aplica-se diretamente à engenharia, como


exemplo, segundo Guimarães (2013), é possível citar a análise de taludes naturais e aterros, fundações
(especialmente em solos expansívos e colapsíveis), barreiras argilosas para proteção ambiental, dentre outras.
Ainda segundo o autor, dependendo do tipo de solo e do projeto que se analisa, o solo tem comportamento
diferente à medida que perde ou ganha umidade.
McCartney (2007) relaciona o comportamento dos solos não saturados ao teor de umidade volumétrico,
à sucção e à permeabilidade, esses três fatores podem ser correlacionados através de relações diretas. A relação
entre o teor de umidade volumétrico e a sucção é chamada de curva de retenção de água no solo (CRA),
enquanto que a relação entre a sucção, ou o teor de umidade volumétrico, e o coeficiente de permeabilidade é
chamada de função de condutividade hidráulica (FCH).
Guimarães (2013) salienta que tanto em laboratório quanto em campo encontra-se uma série de
dificuldades experimentais para determinar as medidas de sucção e comumente deve-se recorrer à diferentes
técnicas de ensaio. O autor destaca que a técnica de papel filtro é uma das metodologias mais utilizadas,
acompanhada pelo método de placas de pressão e sucção, osmótica e por centrifugação.
Este trabalho utiliza alguns dos métodos mais difundidos e conceituados de determinação da CRA e da
FCH e tem como objetivo avaliar as propriedades hidráulicas não saturadas de dois solos típicos do cerrado
mineiro, o Latossolo Vermelho e o Cambissolo.

2 Ensaios realizados

2.1 Coleta e caracterização do solo

Os solos estudados são característicos do perímetro rural do município de Rio Paranaíba, Minas Gerais.
As amostras de Cambissolo foram obtidas próximo as coordenadas 19°11’31’’S e 46°12’17’’W, enquanto a
coleta das amostras de Latossolo Vermelho ocorreram nas proximidades da coordenada 19°09’56’’S e
46°12’12’’.
Foram retiradas dez amostras indeformadas de cada solo, a uma profundidade varíavel entre 20 e 30 cm,
a partir de uma adaptação feitas nas recomendações da NBR 6457/1996: Amostras de Solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização. A retirada foi feita utilizando anéis de PVC de diâmetro
médio de 4,73 cm e altura média de 2,17 cm usados para o ensaio de papel filtro e anéis metálicos de diâmetro
médio de 4,98 cm e altura média de 5,09 cm usados no ensaio da mesa de tensão.
Os solos coletados foram análisados em laboratório para caracterização de parâmetros essenciais, a
saber, limites de Atterberg, granulometria, massa específica dos sólidos e teor de umidade médio. Todos os
ensaios procederam conforme a regulamentação das respectivas normas descritas pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT).

2.2 Método do papel filtro

O método do papel filtro foi realizado de acordo com as diretrizes da norma ASTM D-5298 (Standard
Test Method for Measurinment of Soil Potential Using Filter Paper), utilizando o papel filtro Whatman nº 42.
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A sucção, definida por vários autores como poropressão negativa, foi avaliada pelo método de secagem,
umedecendo o solo até sua saturação total e em seguida secando-o ao ar até um determinado valor de saturação
previamente selecionado, monitorado através de pesagens sucessivas. O grau de saturação de cada amostra
variou adotando-se um teor de umidade diferente para cada uma.
Em seguida, colocou-se um disco de papel filtro das mesmas dimensões de cada anel em contato com o
solo nas extremidades dos corpos de prova, cobrindo-as rapidamente com discos de PVC para impedir perda
de água por evaporação, e posteriormente envoltos por plástico filme, a fim de manter a umidade do sistema.
As amostras foram armazenadas em ambiente com temperatura amena durante um período de tempo suficiente
para garantia do equilibrio da água no sistema.
Após o período de equilíbrio, o filme plástico e a tampa protetora do papel-filtro foram removidos dos
corpos de prova. O par de papéis-filtro de cada corpo de prova foi imediatamente pesado, em seguida cada par
foi direcionado à estufa, onde permaneceu por aproximadamente duas horas a uma temperatura constante de
105 °C. Por fim, os papéis-filtro foram novamente pesados, determinando-se a umidade de cada um.
Utilizando os dados obtidos para o teor de umidade (w), determina-se a sucção matricial do solo (ψ) a
partir das curvas de calibração do papel filtro utilizado, fornecidas por Chandler et al. (1992), Equação 1 para
umidades do papel filtro superiores a 47% e a Equação 2 para umidades do papel filtro iguais ou inferiores a
47%.

ψ = 10(6,05−2,48 log 𝑤) (1)

ψ = 10(4,84−0,062𝑤) (2)

Onde:
ψ : é a sucção matricial do solo (kPa);
w: é o teor de umidade do papel filtro (%).

Para ajuste dos pontos experimentais à CRA, procedeu-se conforme o modelo de Van Genuchten (1980)
utilizando a ferramenta Solver, do Excel, para otimização dos dados experimentais em relação aos dados
teóricos, Equação 3.

𝑠(𝜃 −𝜃 )
𝑟
𝜃𝑤 (ψ) = 𝜃𝑟 + [1+(𝛼ψ) 𝑛 ]𝑚 (3)

Onde:
𝜃𝑤 : teor de umidade volumétrica (%);
𝜃𝑟 : teor de umidade volumétrica de saturação (%);
𝜃𝑠 : teor de umidade volumétrica residual (%);
𝛼: parâmetro de ajuste da curva (𝑐𝑚−1);
𝑛: parâmetro empírico de ajuste;
𝑚: parâmetro empírico de ajuste (𝑚 = 1 − 1⁄𝑛).

2.3 Método da mesa de tensões

Para realização do procedimento da mesa de tensão, utilizou-se a placa de sucção SandBox da empresa
Eijkelkamp Agrisearch Equipament (Figura 1) e o ensaio foi executado seguindo as orientações do manual da
mesma.
Na Figura 1, (1) representa a caixa de areia; (2) indica o suporte para a caixa; (3) ilustra a tampa metálica;
(4) indica o cano de drenagem; (5) ilustra o cano de suplementação; (6) mostra o recipiente de suplementação;
(7) aponta a tampa do recipiente; (8) representa o suporte para o recipiente; (9) mostra o cano de descarga.
(10) indica a régua reguladora de pressão; (11) indica o regulador de sucção; (12) mostra o reservatório de
evaporação; (13) aponta o cano de saída e (14) ilustra as amostras de solo.
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Figura 1: Componentes da mesa de tensão (Eijkelkamp Agrisearch Equipament)

Na parte inferior da caixa encontra-se um conjunto de tubos de PVC que formam um sistema de
drenagem, este cojunto é preenchido com areia fina e sintética e coberto por um filtro de nylon. As amostras
de solo do ensaio são colocadas na parte superior do filtro, enche-se a caixa de água, utilizando o tubo de
abastecimento alimentado pelo reservatório, até um nível aproximadamente um centímetro abaixo do topo das
amostras. O nível de água inicial representa a condição saturada do solo.
A variação no nível de água dentro da caixa ocorre a partir da retirada de água pelo tubo de descarga e
é usada para aplicar diferentes valores de sucção nas amostras. A diferença de altura entre o regulador de
sucção e o meio das amostras determina a quantidade de pressão (sucção) aplicada. O regulador de sucção é
ajustado para aplicar pressões específicas. A variação de 0 e 100 cm a qual pode ser ajustada a régua de sucção
permite aplicar uma sucção de 0 a 10 kPa. O reservatório de evaporação controla a perda de água do sistema.
A cada valor de pressão aplicado as amostras são pesadas, o equilíbrio das amostras é atingido quando
a variação da massa do sistema é constante. Os valores de massa utilizados são aqueles obtidos após o
equilíbrio a uma pressão específica. Por fim, as amostras são secas e pesadas de modo que o teor de água a
cada pressão específica possa ser calculado.

2.4 Condutividade hidráulica saturada e função de condutividade hidráulica

Para determinação da condutividade hidráulica saturada, utilizou-se o permeâmetro de Guelph da


empresa CONTENCO, sendo o ensaio executado seguindo as instruções do manual de utilização da mesma.
O procedimento foi realizado em três pontos equidistantes a uma profundidade variável de 20 a 30 cm em uma
região representativa dos dois tipos de solo analisados, distante até dois metros do local de retirada das
amostras indeformadas. Em todos os pontos o procedimento de ensaio foi adotado uma carga hidráulica.

A partir da condutividade hidráulica (Ksat) obtida pelo ensaio do permeâmetro de Guelph, ajusta-se os
dados segundo o modelo de Van Genuchten (1980), Equação 4, os mesmos ajustes matemáticos utilizados
para a CRA com auxílio da ferramenta Solver, do Excel, foram utilizados para otimizar os dados experimentais
em relação aos dados teóricos.

2
⁄𝑚 𝑚
𝐾(Θ) = 𝐾𝑠𝑎𝑡 ∗ Θ 0,5 [1 − (1 − Θ 1 ) ] (4)

Em que:
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𝑘𝑠𝑎𝑡 : condutividade hidráulica obtida in situ (cm/s);


𝑚: parâmetro de ajuste obtido pelo modelo de van Genuchten para a CRA;
Θ: saturação efetiva, dada pela Equação 5:

𝜃𝑤 −𝜃𝑟
Θ= (5)
𝜃𝑠 −𝜃𝑟

Em que 𝜃𝑠 e 𝜃𝑟 são os parâmetros de ajuste estatístico da CRA

3 Resultados e discussão

3.1 Caracterização do solo

A partir dos ensaios realizados, constata-se que o Cambissolo é um solo silto-argiloso de alta
plasticidade, enquanto o Latossolo Vermelho é argiloso de média plasticidade, a determinação do tipo de solo
analisado ocorreu conforme a EMBRAPA (2006). Os resultados que permitem entendimento desta
classificação podem ser observados na Tabela 2 e as curvas granulométricas são apresentadas nas Figuras 2 e
3.

Tabela 1. Caracterização e índices físicos dos solos


Limites de Atterberg γs γd γnat w
Solo n e
LL LP IP (kN/m³) (kN/m³) (kN/m³) (médio)
Cambissolo 64 40 24 26,9 15,2 16,9 0,51 1,04 23,11
Latossolo 35 22 13 27,1 15,6 15,1 0,56 1,26 15,42

100
90
Porcentagem que Passa (%)

80
70
60
50
40 Classificação: ABNT
30 Argila 40%
20 Silte 41%
10 Areia 19%
Pedregulho 0%
0
0,0001 0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 100,0000
Argila Silte Areia Pedregulho
fina média grossa
Diâmetro da Partícula (mm)
Figura 2. Curva granulométrica do Cambissolo.
100
90
Porcentagem que Passa (%)

80
70
60
50
40 Classificação: ABNT
30 Argila 69%
20 Silte 13%
10 Areia 18%
Pedregulho 0%
0
0,0001 0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 100,0000
Argila Silte Areia Pedregulho
fina média grossa
Diâmetro da Partícula (mm)
Figura 3. Curva granulométrica do Latossolo.
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De acordo com o Sistema Unificado de Classificação dos Solos (USCS), observa-se que o Cambissolo
pertencente ao grupo MH, ao passo que o Latossolo Vermelho pertence ao grupo CL.
3.2 Curva de retenção de água no solo

Os dados experimentais para a curva de retenção de água no solo foram determinados combinando duas
técnicas para determinação dos dados amostrais, o ajuste da curva foi obtido seguindo o modelo duplo Van
Genuchten, os parâmetros de ajuste obtidos podem ser verificados na Tabela 2. Na Figura 4 é apresentado os
resultados ajustados para as CRA’s dos solos estudados.

Parâmetro Latossolo Cambissolo


θr 1 0,2355 0,3710
θs 1 0,6000 0,6000
α1 0,14733 0,1019
n1 2,35797 2,1436
m1 0,57591 0,5335
Erro 1 1,6227 0,7996
θr 2 0,0300 0,0400
θs 2 0,2300 0,3713
α2 0,0001 0,0002
n2 12,4835 3,4534
m2 0,7000 0,7104
Erro 2 5,4076 8,2390
Tabela 2. Parâmetros de ajuste do modelo Van Genuchten.

Os erros observados na Tabela 2 foram encontrados pelo modelo e referem-se ao ajuste de dados
realizado pelo Solver na otimização matemática, utilizando o Método dos Mínimos Quadrados. Seguindo o
padrão dos experimentos realizados, outros pontos de ensaio poderiam representar um ainda erro menor. Ainda
assim, de acordo com o resultado obtido, pode-se considerar os pontos analisados suficientes para a
representação da CRA. Os valores de sucção até 10 kPa foram obtidos pelo do método da mesa de tensão e os
valores entre 10 e 100000 kPa foram obtidos pelo método do papel filtro.
As curvas obtidas confirmam a análise de Dexter et al. (2008) quanto ao comportamento bimodal dos
solos. A CRA do Latossolo Vermelho é compatível com os estudos de Melo e Silva (2017) relacionados à um
Latossolo do cerrado mineiro. Os pontos de inflexão distinguem os dois solos em relação à sua granulometria,
também levando em consideração a diferença no tamanho dos poros. Além disso, a diferença de inclinação
das duas curvas corrobora o estudo de Fredlung & Xing (1993) quanto à influência da composição
mineralógica do material.

Figura 4. CRA do Latossolo e CRA do Cambissolo.

3.3 Condutividade hidráulica saturada e função de condutividade hidráulica (FCH)


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O procedimento para determinação da Ksat foi executado conforme o método de um estágio para os
dois tipos de solo, os resultados são apresentados na Tabela 3. Os parâmetros de permeabilidade saturado
obtidos tanto para o Latossolo Vermelho quanto para o Cambissolo possuem pequena variação entre si, fato
que certifica a credibilidade do valor médio adotado para a função de condutividade hidráulica. Os resultados
obtidos condizem com estudos encontrados na literatura.

Tabela 3. Valores de Ksat dos solos (cm/s)


Cambissolo Latossolo
Ponto 1 5,29E-05 3,34E-03
Ponto 2 5,54E-05 3,52E-03
Ponto 3 8,32E-05 3,51E-03
Média 6,39E-05 3,46E-03

Sousa e Alves (2003) obtiveram a partir de estudo de manejos para o Latossolo Vermelho valores de
Ksat na ordem de 3,0E-03 cm/s. Carvalho (2006) caracterizou hidraulicamente um Latossolo Vermelho de
acordo com a pedologia do perfil, obtendo valores de Ksat a 30 cm de profundidade na ordem de 5,0E-03. Para
o Cambissolo, Betim et. Al (2012) e Morais et al (2008) encontraram valores na ordem de 10E-04 a 10E-6
cm/s.
As FCH’s de cada solo são apresentadas na Figura 4, as curvas foram ajustadas segundo o modelo de
van Genuchten relacionando apenas com o primeiro trecho da curva bimodal das CRA’s, utilizando os
parâmetros da Tabela 2. Por esse motivo, a saturação efetiva foi nula em relação a esse trecho. A modelagem
referente à segunda fase do comportamento bimodal dos solos analisados não foi estudada neste trabalho.

Figura 4. FCH do Latossolo e FCH do Cambissolo.

4 Conclusão

Os coeficientes de permeabilidade saturado obtidos para as amostras analisadas foram condizentes com
os valores apresentados na literaturas Sousa e Alves (2003) e Carvalho (2006) para o Latossolo Vermelho e
Betim et al (2012) e Morais et al (2008) para o Cambissolo. Os coeficientes encontrados neste trabalho na
ordem de 10E-3 cm/s para o Latossolo e 10E-5 cm/s para o Cambissolo mostrou que o uso do valor médio
adotado para a função de condutividade hidráulica foi crível, uma vez que possuiram pequena variação entre
si.
Mesmo com uma pequena quantidade de dados experimentais observou-se o comportamento bimodal dos
solos a partir da composição e da porosidade. Os erros encontrados no ajuste matemático da curva foram
considerados pequenos, comprovando a adaptação da CRA aos dados experimentais obtidos.
Além disso, este trabalho comprovou a adequação da técnica do papel filtro para análise da sucção,
corroborando sua ampla utilização para confecção da CRA, ajustada pelo modelo de van Genuchten. A
utilização da mesa de tensão Sandbox se mostrou adequada ao ajuste do modelo, mas ressalta-se a limitação
dos valores de sucção capazes de serem analisados (apenas até 10 kPa).
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Em relação à condutividade hidráulica, foi possível perceber que apesar da utilização do ensaio do
permeâmetro de Guelph com duas cargas hidráulicas nos trabalhos encontrados na literatura (a maioria
relacionados à agricultura), o ensaio com apenas uma carga hidráulica também forneceu resultados
compatíveis com o esperado, suficiente para aplicação em estudos preliminares para projetos de engenharia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1996) NBR 6457 - Amostras de solo – Preparação para ensaios
de compactação e ensaios de caracterização, Rio de Janeiro, 9p.
ASTM D-5298-03. (2003) Standard test method for measurement of soil potential (suction) using filter paper.
Betim, L.S et al. Caracterização da condutividade hidráulica dos solos típicos de uma microbacia
representativa da Zona da Mata de Minas Gerais. In: XVII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas e
XVIII Encontro Nacional de Perfuradores de Poços, 2008, Bonito-Ms. Rev. Águas Subterrâneas, São Paulo,
2008.
Carvalho, J.L.N. (2006) Conversão do Cerrado para fins agrícolas na Amazônia e seu impacto nas mudanças
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EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. (2006) Sistema brasileiro de classificação de
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Melo, E. L. & Silva, P. C. (2017) Determinação das propriedades hidráulicas não saturadas de um latossolo
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Morais, N. B et al. Variabilidade da condutividade hidráulica e do potencial matricial em um cambissolo com
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