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CAPÍTULO 04 - PROPRIEDADES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DE

FORMAÇÕES GEOLÓGICAS

As rochas, como vimos anteriormente, dividem-se, de acordo com a sua


origem, em : sedimentares, ígneas e metamórficas.

4.1 - Rochas Sedimentares

São formadas à partir da ação de processos erosivos atuantes sobre rochas


pré-existentes, sejam elas ígneas, metamórficas ou sedimentares, que produzem
sedimentos, que são transportados e depositados, sofrendo a ação de processos
diagenéticos, responsáveis pela sua consolidação.

Subdividem-se em :
- Clásticas (Pelíticas e Granulares);
- Químicas;
- Orgânicas.

As rochas sedimentares cobrem cerca de 75% da área da crosta terrestre, a


profundidades que estão na faixa de interesse para obras civis. As características
geológicas de interesse para a engenharia são aquelas que controlam a resistência,
a deformabilidade e a permeabilidade dos maciços rochosos.

4.1.1 - Rochas Sedimentares Clásticas Pelíticas

São os argilitos (maior % de grãos na fração argila), siltitos (maior % de


grãos na fração silte) e folhelhos (maior % de grãos na fração argila, mostrando
laminação). Compõem o grupo de rochas mais freqüente (em área) na superfície
terrestre.

Principais Características Geotécnicas:


• são comumente afetadas por problemas de desagregação,
expansão e deformabilidade com a ação do intemperismo sobre as
mesmas;
• menor resistência na direção // ao acamamento;
• alta deformabilidade, quando alteradas;
• a susceptibilidade à expansão/desgregação deve-se à presença de
argilominerais expansivos (montmorilonita, esmectita, etc.) e
sulfetos (pirita, marcassita, etc.);
• elevada desagregação quando expostos à ciclos de umidecimento
e secagem;
• tendência à se fragmentar (empastilhar) quando expostos em
cortes, formando uma camada superficial protetora do talude,
minimizando a ação dos agentes intempéricos no maciço.

4.1.2 - Rochas Sedimentares Clásticas Granulares

São constituídas principalmente por arenitos (maior % de grãos na


fração areia), classificados de acordo com o seu teor de quartzo e feldspato e
também pelo tipo de cimento ou matriz. Também os conglomerados e brechas
fazem parte deste grupo, os primeiros caracterizando-se por serem formados por
fragmentos arredondados, com tamanho superior à um grão de areia (2.0 mm) e os
últimos caracterizados pelos fragmentos angulares, também maiores que 2.0 mm.

Principais Características Geotécnicas (arenitos):


• boa resistência ao intemperismo, exceto nos arenitos argilosos;
• as propriedades geotécnicas são influenciadas pela porosidade,
quantidade e tipo de cimento, composição dos grãos e teor de
umidade:
- maior porosidade => menor resistência
- maior % de grãos de quartzo => maior resistência
- maior teor de umidade => menor resistência e maior
deformabilidade
• arenitos bem cimentados podem ter resistências de até 240 MPa
(24000tf/m2), constituindo-se em excelente rocha para fundações
pesadas;
• a quantidade de cimento (grau de cimentação) é mais importante
que o tipo de cimento:
- cimentos silicosos - mais resistentes
- cimentos carbonáticos - problemas de dissolução
- cimentos argilosos - mais susceptíveis à alteração
- cimentos ferruginosos - a resistência varia em função do tipo
de óxido existente
• a intercalação de camadas de arenitos com folhelhos, siltitos e/ou
argilitos (bastante comuns na natureza), induz problemas de
estabilidade devido à erosão diferencial desta rochas;
• o contato arenito - rochas pelíticas é uma superfície potencial de
percolação de água;
• diferenças de permeabilidade podem levar à pressurização da
água. Podem ainda ocorrer a formação de níveis d’água suspensos;

4.1.3 - Rochas Sedimentares Químicas

São principalmente constituídas por rochas resultantes da precipitação


de solutos e carapaças calcárias. Constituem-se principalmente por rochas
carbonáticas, razão pela qual são utilizadas na fabricação de cimento e fertilizantes.

• > 50% de calcita - CALCÁRIOS


• > 50% de dolomita - DOLOMITO
• > de 13% de argila – MARGAS

Principais Características Geotécnicas (calcários e dolomitos):


• solubilidade - a percolação de água causa dissolução que cria
cavernas, fissuras, etc.;
• problemas de permeabilidade em obras de engenharia civil -
barragens, túneis, etc.
• presença de finas camadas de argilas mais alteradas => influência
sobre a resistência, deformabilidade e permeabilidade;
• podem ter resistências à compressão uniaxial de até 190 MPa;
• o intemperismo produz a criação de uma série de estruturas -
dolinas, cavernas, sumidouros, vazios, irregularidades do topo
rochoso, etc., que são importantes para a definição de projetos de
engenharia.

Um segundo grupo rochas sedimentares químicas são aquelas


resultantes da precipitação de sílica amorfa: sílex, opala, calcedônea, chert, etc.
Outro grupo de rochas sedimentares químicas importantes são as rochas
evaporíticas (sais): gypso, anidrita e halita, principalmente. Estas rochas são
formadas pela concentração de sais em lagos e mares em evaporação e
caracterizam-se por:
• apresentam solubilidade, resistência e deformabilidade variável com
a temperatura e a umidade do ar (maior umidade => menor
resistência, maior deformabilidade);
• a variação do teor de umidade causa grandes variações
volumétricas;
• baixa permeabilidade.

4.1.4 - Rochas Sedimentares Orgânicas

São formadas pela concentração de restos de organismos. A


seqüência de enriquecimento do teor de carbono, com diminuição dos teores de
oxigênio e hidrogênio, responsável pela formação de carvões cada vez mais ricos,
se dá na seguinte ordem:

celulose → turfa → linhito → carvão betuminoso → antracito → grafita

A formação do carvão se dá através de:

a) desenvolvimento de uma vegetação continental que permita um


acúmulo de substância vegetal;
b) condições de proteção contra a decomposição (queima) total (ambiente
pobre em oxigênio), fato que ocorre quando houver cobertura imediata
pela água;
c) após o acúmulo subaquoso deve ocorrer o sepultamento contínuo e
prolongado por sedimentos.

Assim, os pântanos e as turfeiras constituem exemplos de ambientes


propício à formação de carvão (Figura 4.1).
Figura 4.1 – Ambiente de formação de carvão (Fonte: Leinz & Amaral, 1985).

Tabela 4.1 – propriedades da madeira, carvões e grafita (Fonte: Leinz & Amaral,
1985).
Valor Energético do Umidade (%) Cinza (%)
Material Seco em Kcal/Kg
Madeira 4.500 15 1a2
Turfa 5.000 a 6.000 30 a 80 5
Linhito 6.500 10 a 25 4a6
Carvão 7.000 a 8.000 1 4a8
Betuminoso
Carvão Sub- 8.000 a 8.300 1 4a8
betuminoso
Antracito 8.500 0.9 3.4
Grafita 8.000 0 0

Na análise da tabela acima, deve-se observar que:


• quanto maior o teor de umidade menor o seu valor energético (será
grande a necessidade de energia para sua liberação);
• a quantidade de cinzas é um índice importante para a indústria, pois
dependendo de sua composição mineralógica pode causar problemas
relacionados à utilização do carvão em alto-fornos.

O petróleo, por sua vez, tem origem mista, animal e vegetal


(principalmente plantônico). O ambiente de formação do petróleo é análogo ao do
carvão. Para que se forme uma jazida petrolífera economicamente explotável são
necessárias as seguintes condições:
• existência da rocha-mãe;
• condições propícias à transformação química e bioquímica dos
componentes orgânicos em hidrocarbonetos (ação prolongada e
branda de pressão e temperatura);
• ocorrência de processos migratórios, através de: presença de água,
porosidade elevada; contato entre rocha-geradora com boa porosidade
e rocha-reservatório com boa porosidade e boa permeabilidade; e
presença de estruturas acumuladoras (armadilhas ou “trapas”).

As Figuras 4.2 e 4.3, a seguir, mostram, respectivamente, o ambiente


de formação do petróleo e alguns exemplos de armadilhas (“trapas”).

Figura 4.2 - Ambiente de formação do petróleo (Leinz & Amaral, 1985).

Figura 4.3 – Exemplos de armadilhas que causam depósitos explotáveis de petróleo


(Fonte: Skinner & Porter, 1995).
4.2 - Rochas Ígneas

São rochas de origem primária e estão ligadas à dinâmica interna, resultantes


da solidificação do magma. Conforme a local de sua formação podem ser: plutônicas
ou intrusivas, ou vulcânicas ou extrusivas.

As rochas plutônicas ou intrusivas são formadas em profundidade, no interior


da crosta terrestre, através do resfriamento lento do magma, o que permite que os
elementos químicos presentes organizem-se em arranjos cristalinos, originando
minerais de granulação grossa e de formas definidas.

As rochas vulcânicas ou extrusivas, por sua vez, são formadas na superfície


terrestre, pelo extravasamento de lava – material ígneo que alcança a superfície da
Terra – através de condutos vulcânicos. Como o resfriamento é muito rápido o que
impede ou dificulta a formação de arranjos cristalinos, resultando em material vítreo
ou cristalino de granulação fina.

A classificação da IAEG (1981) associa e simplifica as classificações


petrográficas e química, juntamente com a granulometria. A Tabela 4.2 sintetiza
estas proposições, a Tabela 4.3 mostra as classes granulométricas propostas e a
Tabela 4.4 apresenta as principais características das rochas ígneas.

Tabela 4.2 – Classificação das rochas ígneas (Fonte: ABGE, 1998).

Classificação Teor de Classificação Granulométrica /


Química SiO2 Granulometria
Ácidas > 66% Granito (> 0,06 mm) e riolito (< 0,06 mm)
Intermediárias 52 – 66% Diorito (> 0,06 mm) e andesito (< 0,06 mm)
Básicas 45 – 45% Gabro (> 2 mm), diabásio (2 – 0,06 mm) e
basalto (< 0,06 mm)
Ultrabásicas < 45% Peridotito e piroxenito

Tabela 4.3 – Classes granulométricas – rochas ígneas (IAEG, 1981). Entre


parênteses, os limites usuais em petrografia (Fonte: ABGE, 1998).

Granulação Tamanho (mm)


Muito grossa > 60 (> 30)
Grossa 2 – 60 (5 – 30)
Média 0,06 – 2 (1 – 30)
Fina 0,002 – 0,06 (<1)
Muito fina 0,002
Tabela 4.4 – Características principais das rochas ígneas (Fonte: ABGE, 1998).

Rocha Estrutura Textura Cor Minerais


Essenciais
Granito Maciça Granular fina a Cinza a rosa- Quartzo, plagioclásio,
grossa/porfiríti avermelhada feldspato potássico
P ca (biotita e hornblenda)
L Diorito Maciça Granular fina a Cinza-escura Plagioclásio, biotita,
U grossa hornblenda (quartzo,
T feldspato potássico)
Ô Sienito/ Maciça/Fluxionar Granular fina a Rosa a Feldspato potássico
N Nefelina grossa marrom- (biotita/hornblenda)
I Sienito avermelhada (aegirina)
C (nefelina/sodalita)
A Gabro/ Maciça Granular Cinza-escura Feldspato cálcico,
S Diabásio grossa fina a preta augita, opacos
média
Peridotito/ Maciça Granular fina a Preta, Olivina/piroxênio
Piroxenito grossa esverdeada
Riolito Maciça/Vesículo- Granular cripto Cinza a rosada Quartzo, plagioclásio,
amigdaloidal a feldspato potássico
microcristalina/ (biotita/hornblenda)
V porfirítica
U Andesito Maciço Granular cripto Cinza- Plagioclásio, biotita,
L a escura/marrom hornblenda
C microcristalina/ -esverdeada (quartzo/feldspato
 porfirítica potássico)
N Traquito Maciço/Fluxonar Granular cripto Cinza a verde- Feldspato potássico
I a escura (biotita/hornblenda)
C microcristalina (aegirina)
A Fonolito Porfirítica (Nefelina/sodalita)
S Basalto Maciça/Vesículo- Granular cripto Cinza-escura a Plagioclásio cálcico,
Amigdaloidal a preta augita, opacos
microcristalina/
vítrea

4.2.1 - Magma

Trata-se de um material fundido devido à ação de elevadas pressões e


temperaturas. Sua origem está ligada à zonas de subducção de rochas na crosta,
resultantes de colisões entre as placas tectônicas, de três maneiras:

• fusão localizada da porção superior do manto, sob a zona de


subducção;
• à fusão de camadas de rocha da placa que mergulha e;
• na crosta oceânica sobre “hot points”.

Tipos de magma:
- Basáltico = ± 50% de SiO2 (básico) ⇒ menos viscosos, originados do
manto. As erupções em vulcões de magmas básicos não são explosivas,
devido à menor viscosidade (maior fluidez). Exs.: Islândia, Brasil (Bacia
do Paraná), Antártica e Havaí.
- Andesítico = ± 60% de SiO2 (intermediário) ⇒ viscosidade
intermediária, originados da fusão completa de porções da crosta e
basaltos úmidos. Devido à sua viscosidade intermediária, originam
erupções vulcânicas explosivas. Exs.: Andes.
- Riolíticos = ± 70% de SiO2 (ácidos) ⇒ mais viscosos, tem origem na
fusão da crosta continental, com algum tipo de fusão parcial com água.
São os que produzem as erupções mais explosivas. Ex.: Zona de
subducção ao longo da porção leste do continente Americano (Andes,
Rochosas, etc.) e Vesúvio.

4.2.2 - Características Geotécnicas Principais - Granitos

Os granitos são as rochas ígneas mais comuns entre todas. Suas


características principais são:

• Altas Tensões Residuais

Os granitos são rochas formadas em profundidades elevadas, onde


atuam altas pressões e temperaturas. O deslocamento destes maciços em direção à
superfície, com o conseqüente alívio de tensões, representado pela diminuição do
peso de rocha sobrejacente, induz à criação de juntas/fraturas aproximadamente
paralelas à superfície do terreno (Figura 4.4).

Figura 4.4 – Exemplo de talude de corte em granito, mostrando a presença de juntas


de alívio de tensão paralelas ao relevo.

• Intemperismo Seqüencial

Caracteriza-se pela seqüência de camadas mais alteradas empilhadas


sobre camadas menos alteradas, com o aumento da profundidade (Figura 4.5).
Solo Transportado (Colúvio)
Velocidade de
Propagação Alteração ↓
Solo Residual (Saprolito)
De Ondas ↓

Rocha Muito Alterada (V)


Porosidade ↑ Alteração ↑

Rocha Alterada (IV)


Resistência ↑ Alteração ↓

Rocha Moderadamente Alterada (III)

Rocha Levemente Alterada (II)

Rocha Sã (I)

Figura 4.5 – Perfil de intemperismo seqüencial.

As rochas intrusivas resultam da cristalização de minerais a diferentes


temperaturas, deixando, a cada estágio, um magma diferente do inicial. No final
deste processo, formam-se soluções aquosas residuais, com temperaturas entre
1000C e 2500C, que atravessando as rochas previamente consolidadas, causam
alterações na mineralogia original. Podem piorar as características de resistência,
através de um processo conhecido como caulinização. Também são responsáveis
pela formação de depósitos minerais de valor econômico.

4.3 - Rochas Metamórficas

As rochas metamórficas são formadas em temperaturas entre 2000C (abaixo


da qual ocorre a diagênese) e a temperatura de fusão da rocha (dependente do tipo
de rocha), sem que haja mudança na composição química, apenas a mineralogia
muda, devido à rearranjos na organização cristalográfica.

Todas as mudanças (mineralogia e textura) ocorrem no estado sólido, na


crosta terrestre e devido à mudanças na Temperatura e na Pressão, cuja eficácia
depende de:

• presença ou não de fluidos;


• tempo de duração do aquecimento e;
• existência de pressões elevadas.

Estas diferenças produzem rochas distintas:

• Rochas metamórficas grosseiras - formadas a altas pressão e temperatura


que agem por longo tempo (milhões de anos). Ex.: gnaisses, xistos
grosseiros,
• Rocha metamórficas finas - formadas em temperatura e pressão inferiores
e que atuam durante pouco tempo. Ex.: xistos, filitos, ardósias.
Além deste aumento no tamanho dos grãos, com o aumento do grau de
metamorfismo, a maioria das rochas metamórficas desenvolve texturas direcionadas
e visíveis, tais como foliação e clivagem, dadas pela orientação dos minerais
planares (ex.: muscovita, biotita, clorita, etc.), de tal maneira que as placas orientam-
se na direção perpendicular à maior pressão (esforço). Tipos de texturas direcionais:

• Foliação - planos definidos por qualquer grupo planar de minerais ou


bandamento de minerais, encontrados em qualquer rocha metamórfica. No
caso de rochas metamórficas de baixo grau a foliação desenvolve-se
paralela à direções pré-existentes (acamamento, estrutura de fluxo). Já
para as rochas de alto grau metamórfico este desenvolve-se na direção
perpendicular à maior pressão;
• Xistosidade - arranjo paralelo de grãos grosseiros de minerais, com
estrutura laminar (micas e clorita).
• Clivagem - propriedade pela qual uma rocha se desplaca ao longo de
planos de fraqueza, originando fragmentos de forma planar.
• Lineação - arranjo paralelo de grãos minerais alongados.

Tipos de rochas metamórficas:

Folhelho → Ardósia → Filito → Xisto → Gnaisse


Basaltos → Xistos Verdes → Anfibolito → Granulito ou Piroxenito
Calcáreo → Mármore
Arenito → Quartzito

4.3.1 - Características Geotécnicas Principais - Gnaisses, Filitos e Xistos

• quanto menor o grau de metamorfismo - maior a anisotropia;


• elevada complexidade estrutural - muitas falhas, dobras, lineações,
fraturas, etc.;
• apresentam zonas de baixa resistência devido à concentração de
minerais planares tais como clorita, biotita, micas, etc.;
• apresentam, em geral, elevada alterabilidade, devido à anisotropia em
relação à foliação;
• a profundidade do topo rochoso é extremamente irregular, devido à
presença de estruturas;
• gnaisses tem, em geral, boa resistência, baixa permeabilidade e baixa
deformabilidade, constituindo excelentes materiais de fundação;
• filitos e xistos caracterizam-se pela elevada anisotropia, constituindo-
se em materiais de baixa qualidade de engenharia;
• quartzitos variam de características de acordo com as características
do arenito que o originou. Podem variar de pouco resistentes e muito
permeáveis a muito resistentes e pouco permeáveis.

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