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Setembro de 2017
Origem e Formação dos Solos
1 Introdução
O texto que se segue não visa substituir os livros didáticos. Serve como um
complemento das aulas ministradas na disciplina de Mecânica dos Solos I, do curso de
Engenharia Civil, para auxiliar o aluno na fixação dos principais tópicos abortados
referentes à origem e formação dos solos.
Apresenta-se uma síntese sobre o processo de formação dos solos e os principais fatores
intervenientes. Uma breve revisão sobre o conceito de rocha e sua influência nos tipos
de solos são também apresentadas.
As variações da natureza das partículas dos solos são descritas, bem como o impacto
nos diversos comportamentos dos solos.
2. Definição de Solo
A NBR 6502 define solo como “material proveniente da decomposição das rochas pela
ação de agentes físicos ou químicos, podendo ou não ter matéria orgânica”, ou
simplesmente, produto da decomposição e desintegração da rocha pela ação de agentes
atmosféricos”
Para o engenheiro civil, os solos são um aglomerado de partículas provenientes de
decomposição da rocha, que podem ser escavados com facilidade, sem o emprego de
explosivos, e que são utilizados como material de construção ou de suporte para
estruturas (Ortigão, 2007).
A segunda definição, embora simplória diante da complexidade do solo, atende bem às
atividades envolvidas na engenharia civil.
3. Rochas
Como foi dito acima, o solo é o produto da desintegração e decomposição de uma rocha
devido a ação de vários agentes. Mas, o que vem a ser uma rocha?
As rochas são agregados de uma ou mais espécies de minerais e constituem unidades
mais ou menos definidas na crosta terrestre (Chiossi, 2013).
Os minerais são compostos formados por processos inorgânicos e com composição
química definida. Nesse contexto, é de se esperar uma grande variedade de rochas na
natureza, com textura e estruturas diversas. Em algumas rochas são possíveis identificar,
a olho nu, a sua base mineralógica, outras só por meio de uma análise microscópica.
Tanta variedade terá efeito significativo no processo de formação dos solos, visto que
alguns minerais são facilmente decompostos, enquanto outros são, praticamente,
indestrutíveis, permanecendo na composição granular dos solos, como é o caso do
quartzo. O Quadro 1 resumo os principais minerais encontrados nas rochas, que
influenciarão em várias propriedades (textura, cor, estrutura, dureza, etc).
Granitos: são rochas ácidas intrusivas muito abundantes no Brasil, principalmente nas
regiões de Escudo (Guianas, Brasil Central e Atlântico) (Frascá e Sartori, 1997). Na região
do Cariri é possível encontrar rochas graníticas na Colina do Horto. Possui uma
mineralogia variada, com cristais bem desenvolvidos que podem ser identificados a olho
nu. Possui elevada resistência mecânica e, devido a sua composição mineralógica, tem
vários empregos na construção civil, desde a fabricação de agregados para concretos à
peças ornamentais usadas em pisos, revestimentos e mobílias. A Figura 1 apresenta
exemplo de um granito in natura como processado.
(a) (b)
Figura 1. a) Granito in natura; b) Granito usado como peça ornamental
Basaltos: são rochas ígneas vulcânicas (extrusivas) mais abundantes. Sua maior
ocorrência é na forma de derrames e, no Brasil, constituem a Formação Serra Geral na
Bacia do Paraná, onde perfazem mais de 90% das rochas vulcânicas aí existentes (Frascá
e Sartori, 1997).
A mineralogia predominante é de feldspato plagioclásio cálcico, augita, opcados,
resultando numa cor escura e uniforme. Diferente dos granitos, sua mineralogia não é
bem desenvolvida o que resulta na sua coloração uniforme. Seus minerais, sob
condições adequadas, são decompostos em minerais secundários, resultando,
normalmente, em solos predominantemente argilosos. Alguns basaltos apresentam
uma textura vítrea, outros porosa, porém sempre com uma coloração uniforme.
Embora não possua a mesma resistência dos granitos, alguns têm grande emprego na
construção civil, tanto como agregados como peças ornamentais. A Figura 2 apresenta
exemplos de basaltos.
(a) (b)
Arenitos: são rochas sedimentares detríticas contendo mais de 50% de grãos com
tamanho entre 2 e 0,06 mm. O tipo mais abundante é o quartzo arenito, onde o quartzo
é o mineral mais abundante, com cerca de 95% da composição, podendo ainda conter
uma matriz silto-argilosa de até 15%. Esse tipo de rocha é conhecido pela sua
porosidade, o que facilita o acúmulo da água. Muitos aquíferos subterrâneos envolvem
maciços de arenitos. É o que acontece na Chapada do Araripe. O topo da chapada
apresenta escassez de água, pois é formado por arenitos, que tem condutividade
hidráulica elevada, devido a sua porosidade, permitindo a infiltração e percolação muito
rápidas das chuvas, e o abastecimento dos aquíferos.
Sua resistência é relativamente baixa quando comparado ao basalto e granito, limitando
seu emprego na construção civil na condição de rocha sã, normalmente usados em
revestimentos. Sua estrutura é caracterizada por planos horizontais, em camadas,
decorrente do processo de sedimentação. A ocorrência de arenitos, normalmente, está
associada a jazidas de areias que podem fornecer materiais para aterros e agregados
miúdos para concretos e argamassas. A Figura 3 apresenta exemplos de arenitos e sua
aplicação.
Calcários e dolomitos: os calcários e dolomitos são rochas sedimentares compostas por
mais de 50% de minerais carbonáticos (calcita ou dolomita, respectivamente). Em geral,
no entanto, têm 80% a 100% destes minerais.
(a) (b)
(b)
Figura 4. a) e b) calcário in natura; c) revestimento com laminado da “Pedra Cariri”
(a) (b)
Figura 5. a) gnaisse in natura b) revestimento com gnaisse.
Mármores e quartzitos: são rochas metamórficas resultantes da ação do metamorfismo
regional. Têm pouca ou nenhuma orientação preferencial, como no caso dos gnaisses.
Podem apresentar orientações quando a rocha de origem possui minerais placóidais,
como é o caso das micas.
Os mármores são rochas constituídas por mais de 50% de minerais carbonáticos, mais
especificamente, calcita e/ou dolomitas. Apresentam estrutura maciça e granulação
variada. Sua coloração varia muito (branca, rosada, esverdeada, escura, etc). Sua
principal aplicação na construção civil está em revestimentos de pisos e fachadas, além
de serem muito utilizados como peças ornamentais na confecção de bancadas e outras.
A Figura 6 apresenta um exemplo de mármore e sua aplicação.
(a) (b)
Figura 6. a) rocha mármore in natura; b) mármore usado como revestimento e bancada
Os quatzitos são rochas metamórficas formadas quase exclusivamente de quartzo
recristalizado. Em geral, são derivados de sedimentos silicosos, como quartzo arenitos.
Tem cor branca, com variações para vermelha (pela presença de óxidos de ferro). Devido
a sua resistência (dureza) são muito utilizados em pisos e revestimentos. A Figura 7
apresenta exemplo de um quartzito e sua aplicação.
(a) (b)
Figura 7. a) quartzito in natura; b) Alvenaria executada com rocha quartzito (pedra marrom)
4. Processo de Formação dos Solos
Os solos são formados pela desintegração e decomposição de uma rocha matriz pela
ação do intemperismo. O intemperismo pode ser definido como o conjunto de
processos físicos, químicos e biológicos responsáveis pela transformação das rochas e
dos minerais, formando os solos. Os processos intempéricos geram fragmentos que
poderão ou não serem transportados por agentes da natureza, que ao longo do tempo
podem ter suas características alteradas. O conjunto destes processos leva à formação
dos solos que em consequência são misturas de partículas pequenas que se
diferenciam pelo tamanho e pela composição química. A concentração de cada tipo de
partícula num solo depende da composição química da rocha que lhe deu origem.
(a) (b)
Residual Maduro
Residual Jovem
Rocha Alterada
Rocha Sã
(a) (b)
Figura 15. Amostras de um solo residual de gnaisse: a) solo residual maduro; b) solo
residual jovem.
5.2 Solos Transportados
Os solos transportados são todos aqueles que sofreram um processo de transporte e
deposição. Suas partículas foram removidas do local de origem da rocha matriz. Os solos
transportados possuem diferentes denominações em função do agente transportador.
Os principais agentes são: água; vento; gravidade; e gelo.
(a) (b)
Figura 16. a) Composição típica de aluvião de rios; b) aluvião de areia, na cabeceira do
curso d’água.
(a) (b)
Figura 17. a) terraço; b) planície de inundação.
O transporte eólico é o mais seletivo tipo de transporte das partículas do solo. Se por um lado
grãos maiores e mais pesados não podem ser transportados, os solos finos, como as argilas,
têm seus grãos unidos pela coesão, formando torrões dificilmente levados pelo vento. Esse efeito
também ocorre em areias e siltes saturados (falsa coesão) o que faz da linha de lençol freático
(definida por um valor de pressão da água intersticial igual a atmosférica) um limite para a
atuação dos ventos. Pode-se dizer, portanto que a ação do transporte do vento se restringe ao
caso das areias finas ou silte. Por conta destas características, os solos eólicos possuem grãos
de aproximadamente mesmo diâmetro, apresentando uma curva granulométrica denominada de
uniforme.
As dunas são exemplos comuns de solos eólicos nordeste do Brasil. A formação de uma duna
se dá inicialmente pela existência de um obstáculo ao caminho natural do vento, o que diminui a
sua velocidade e resulta na deposição de partículas de solo. A deposição continuada de solo
neste local acaba por gerar mais deposição de solo, já que o obstáculo ao caminho do vento se
torna cada vez maior. A Figura 18 ilustra bem o processo de formação de um depósito eólico.
(a) (b)
Não há uma definição consensual sobre solos tropicais. A mais geral é aquela relativa a
solos que ocorrem nos trópicos e com comportamentos peculiares. Nesse contexto, o
Comitê Internacional de Solos Tropicais definiu solos tropicais como todos os solos
residuais originados nas regiões tropicais e os solos lateríticos.
Outros profissionais têm estendido o conceito para englobar as argilas expansivas e os
solos colapsíveis, que embora possam ocorrer em regiões tropicais não é exclusividade
dessas regiões.
Os solos residuais já foram bem descritos no item 5.1. Neste item será dada ênfase aos
solos lateríticos, expansivos e colapsíveis.
(a) (b)
Figura 24. a) desmoronamento de taludes devido à contração dos solos; b) vegetação
rasteira e trincas hexagonais típicas de solos expansivos.
A depender do modo como as unidades cristalinas estruturais estão unidas entre si,
pode-se dividir os argilo-minerais em três grandes grupos (Figura 27).
Algumas considerações sobre a cor dos solos, além das citadas no parágrafo anterior
merecem destaque:
A intensidade da cor varia com o teor de umidade.
Cores mais escuras, marrom, cinza escura e preto indicam solos de origem
orgânica.
Cores vermelha, amarela e tons de marrom são resultados de intemperismo
químico, onde o vermelho escuro indica a presença de óxido de ferro não
hidratado.
Cores mais claras indicam solos de origem inorgânica, com predominância de
sílica, gipsita ou de depósitos de argila.
Quanto maior a quantidade de matéria orgânica, mais escura é a cor do solo, o
que pode indicar fertilidade ou apenas condições desfavoráveis à decomposição
da mesma.
As cores avermelhadas ou amareladas estão associadas aos diferentes tipos de
óxidos de ferro existentes no solo (terra roxa). Já os solos com elevada
quantidade de quartzo na fração mineral apresentam coloração clara.
Quanto ao tamanho das partículas, os solos podem ser divididos em três grandes
grupos: a) granulares; b) finos; e c) fibrosos.
Os solos granulares são aqueles que possuem partículas maiores que 0,075 mm,
enquanto os finos os solos que possuem partículas menores que essa dimensão. A Figura
29 ilustra essa divisão.
SOLOS GRANULARES
SOLOS FINOS
Peneira no 200
0,075 mm
6.3 Plasticidade
Plástico
Não Plástico
AREIAS E PEDREGULHOS
SILTES
1) É menos áspero ao tato que as areias, porém não é possível identificar seus
minerais e as partículas.
2) Fazendo uma pasta de solo e água e esfregando na palma da mão, distingue-se
por apresentar alguma dificuldade para limpar, sendo necessário sempre alguma
fricção para a limpeza.
3) A desagregação é rápida quando colocado um torrão de solo num recipiente com
água, sem deixar imerso por completo.
4) Quando secos ao ar formam torrões, facilmente desagregáveis pela pressão dos
dedos
ARGILAS
1) Táctil: esfrega-se o solo na mão para sentir sua aspereza. Areias são mais ásperas
que as argilas;
2) Plasticidade: tenta-se moldar pequenos cilindros de solo úmido. Argilas são
moldáveis, os siltes e areias não;
3) Resistência do solo seco: Torrões de argilas são resistente, de siltes pouco
resistente e areias nem formam torrões;
4) Dispersão em água: Argilas sedimentam mais lentamente que siltes e bem são
mais dispersas em água que as areias.
Referências