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NOTA DE AULA

ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS

Prof. D.Sc. João Barbosa de Souza Neto


Profa. D.Sc. Ana Patrícia Nunes Bandeira

Disciplina: Mecânica dos Solos I

Setembro de 2017
Origem e Formação dos Solos

1 Introdução
O texto que se segue não visa substituir os livros didáticos. Serve como um
complemento das aulas ministradas na disciplina de Mecânica dos Solos I, do curso de
Engenharia Civil, para auxiliar o aluno na fixação dos principais tópicos abortados
referentes à origem e formação dos solos.
Apresenta-se uma síntese sobre o processo de formação dos solos e os principais fatores
intervenientes. Uma breve revisão sobre o conceito de rocha e sua influência nos tipos
de solos são também apresentadas.
As variações da natureza das partículas dos solos são descritas, bem como o impacto
nos diversos comportamentos dos solos.

2. Definição de Solo
A NBR 6502 define solo como “material proveniente da decomposição das rochas pela
ação de agentes físicos ou químicos, podendo ou não ter matéria orgânica”, ou
simplesmente, produto da decomposição e desintegração da rocha pela ação de agentes
atmosféricos”
Para o engenheiro civil, os solos são um aglomerado de partículas provenientes de
decomposição da rocha, que podem ser escavados com facilidade, sem o emprego de
explosivos, e que são utilizados como material de construção ou de suporte para
estruturas (Ortigão, 2007).
A segunda definição, embora simplória diante da complexidade do solo, atende bem às
atividades envolvidas na engenharia civil.

3. Rochas
Como foi dito acima, o solo é o produto da desintegração e decomposição de uma rocha
devido a ação de vários agentes. Mas, o que vem a ser uma rocha?
As rochas são agregados de uma ou mais espécies de minerais e constituem unidades
mais ou menos definidas na crosta terrestre (Chiossi, 2013).
Os minerais são compostos formados por processos inorgânicos e com composição
química definida. Nesse contexto, é de se esperar uma grande variedade de rochas na
natureza, com textura e estruturas diversas. Em algumas rochas são possíveis identificar,
a olho nu, a sua base mineralógica, outras só por meio de uma análise microscópica.
Tanta variedade terá efeito significativo no processo de formação dos solos, visto que
alguns minerais são facilmente decompostos, enquanto outros são, praticamente,
indestrutíveis, permanecendo na composição granular dos solos, como é o caso do
quartzo. O Quadro 1 resumo os principais minerais encontrados nas rochas, que
influenciarão em várias propriedades (textura, cor, estrutura, dureza, etc).

Quadro 1. Minerais mais comuns nas rochas (Chiossi, 2013).

1. Quartzo 6. Zircão 11. Topázio 16. Amianto

2. Feldspatos 7. Magnetita 12. Calcita 17. Talco

3. Micas 8. Hematita 13. Dolomita 18. Zeólitas

4. Anfibólios 9. Pirita 14. Caulim 19. Fluorita

5. Piroxênios 10. Turmalina 15. Clorita

3.1 Classificação das Rochas

Há três grandes classes de rochas encontradas na natureza, em função de sua gênese


(Chiossi, 2013).
1) Rochas magmáticas ou ígneas – são aquelas formadas a partir do resfriamento e da
consolidação do magma, um material em estado de fusão no interior da terra. Por esse
motivo, as rochas magmáticas são também chamadas endógenas.
As rochas magmáticas ainda podem ser divididas em dois subgrupos: as plutônicas ou
intrusivas que são formadas em profundidade, no interior da crosta terrestre, pelos
lentos processos de resfriamento e solidificação do magma, resultando em material
cristalino geralmente de granulação grossa e de formas definidas. No seu movimento
ascendente a parte superior da crosta podem fragmentar e incorporar blocos das rochas
encaixadas, denominados xenófilos; e as vulcânicas ou extrusivas, formadas na
superfície terrestre, ou nas suas proximidades, pelo extravasamento explosivo, ou não,
da lava – material ígneo que alcança a superfície da terra – por condutos vulcânicos.
Resulta em material vítreo ou cristalino (Frascá e Sartori, 1997).
2) Rochas sedimentares – são aquelas formadas por materiais derivados da
decomposição e desintegração de qualquer rocha (solo). Esses materiais são
transportados, depositados e acumulados nas regiões de topografia baixa, como bacias,
vales e depressões. Posteriormente, pelo peso das camadas superiores ou pela ação
cimentante da água subterrânea, consolidam-se, formando uma rocha sedimentar. As
rochas sedimentares são também chamadas exógenas, por se formarem na superfície
da terra; e estratificadas, por normalmente apresentarem camadas. Do ponto de vista
econômico, essas rochas servem de matérias-primas para várias atividades industriais.
Os calcários, por exemplo, são empregados na fabricação da cal e cimento. São
bastantes pesquisadas pelas petroleiras por servirem de reservatório de petróleo, além
de outros minerais de alto valor agregado.
3) Rochas metamórficas – são aquelas originadas pela ação de pressão, da temperatura
e soluções químicas em outra rocha qualquer. Por meio desses fatores, as rochas podem
sofrer dois tipos de alterações básicas: 1) na sua estrutura, principalmente pela ação da
pressão que irá orientar os minerais, ou pela ação da temperatura que irá cristalizá-los;
2) na sua composição mineralógica, pela ação conjunta dos dois fatores citados, bem
como de soluções químicas. Os granitos, por exemplo, transformam-se em gnaisses,
característicos das formações rochosas do litoral do Rio de Janeiro; os calcários quando
submetidos ao processo de metamorfismo podem-se transformar em mármore.

3.2 Exemplos de algumas rochas

Granitos: são rochas ácidas intrusivas muito abundantes no Brasil, principalmente nas
regiões de Escudo (Guianas, Brasil Central e Atlântico) (Frascá e Sartori, 1997). Na região
do Cariri é possível encontrar rochas graníticas na Colina do Horto. Possui uma
mineralogia variada, com cristais bem desenvolvidos que podem ser identificados a olho
nu. Possui elevada resistência mecânica e, devido a sua composição mineralógica, tem
vários empregos na construção civil, desde a fabricação de agregados para concretos à
peças ornamentais usadas em pisos, revestimentos e mobílias. A Figura 1 apresenta
exemplo de um granito in natura como processado.

(a) (b)
Figura 1. a) Granito in natura; b) Granito usado como peça ornamental

Basaltos: são rochas ígneas vulcânicas (extrusivas) mais abundantes. Sua maior
ocorrência é na forma de derrames e, no Brasil, constituem a Formação Serra Geral na
Bacia do Paraná, onde perfazem mais de 90% das rochas vulcânicas aí existentes (Frascá
e Sartori, 1997).
A mineralogia predominante é de feldspato plagioclásio cálcico, augita, opcados,
resultando numa cor escura e uniforme. Diferente dos granitos, sua mineralogia não é
bem desenvolvida o que resulta na sua coloração uniforme. Seus minerais, sob
condições adequadas, são decompostos em minerais secundários, resultando,
normalmente, em solos predominantemente argilosos. Alguns basaltos apresentam
uma textura vítrea, outros porosa, porém sempre com uma coloração uniforme.
Embora não possua a mesma resistência dos granitos, alguns têm grande emprego na
construção civil, tanto como agregados como peças ornamentais. A Figura 2 apresenta
exemplos de basaltos.

(a) (b)

Figura 2. a) Basalto in natura; b) Basalto usado como peça ornamental

Arenitos: são rochas sedimentares detríticas contendo mais de 50% de grãos com
tamanho entre 2 e 0,06 mm. O tipo mais abundante é o quartzo arenito, onde o quartzo
é o mineral mais abundante, com cerca de 95% da composição, podendo ainda conter
uma matriz silto-argilosa de até 15%. Esse tipo de rocha é conhecido pela sua
porosidade, o que facilita o acúmulo da água. Muitos aquíferos subterrâneos envolvem
maciços de arenitos. É o que acontece na Chapada do Araripe. O topo da chapada
apresenta escassez de água, pois é formado por arenitos, que tem condutividade
hidráulica elevada, devido a sua porosidade, permitindo a infiltração e percolação muito
rápidas das chuvas, e o abastecimento dos aquíferos.
Sua resistência é relativamente baixa quando comparado ao basalto e granito, limitando
seu emprego na construção civil na condição de rocha sã, normalmente usados em
revestimentos. Sua estrutura é caracterizada por planos horizontais, em camadas,
decorrente do processo de sedimentação. A ocorrência de arenitos, normalmente, está
associada a jazidas de areias que podem fornecer materiais para aterros e agregados
miúdos para concretos e argamassas. A Figura 3 apresenta exemplos de arenitos e sua
aplicação.
Calcários e dolomitos: os calcários e dolomitos são rochas sedimentares compostas por
mais de 50% de minerais carbonáticos (calcita ou dolomita, respectivamente). Em geral,
no entanto, têm 80% a 100% destes minerais.

(a) (b)

Figura 3. a) Arenito in natura; b) Arenito usado como peça ornamental

Essas rochas são importantes matérias-primas para as indústrias cimenteiras, da cal,


vidreira, siderurgica, de tintas, de borrachas e muitas outras. Os dolomitos são utilizados
também como corretivo da acidez do solo. Sua resistência mecânica é bem inferior a do
granito e basalto, porém pode ser utilizados como agregados, desde que respeite sua
redução de resistência e sua dissolução quando em meio ácido. Além dos empregos
citados, alguns calcários são também empregados na construção civil como pedras
ornamentais em pisos e revestimentos. Um exemplo disso é o calcário laminado,
conhecido na região do Cariri como “Pedra Cariri”. Sua cor varia em função do nível de
impurezas, podendo oscilar entre o branco ao cinza. A Figura 4 apresenta exemplos de
calcários.
Gnaisses: são rochas metamórficas, usualmente quartzo-feldspáticos, de granulação
média a grossa e com moderada a forte orientação planar, denominada estrutura ou
foliação gnáissica, fornecida pela isorientação de minerais placoides ou hábitos
prismática. Podem ser derivadas de rochas graníticas submetidas a um metamorfismo
dinâmico, ou da total reorganização mineralógica e textural de rochas sedimentares, em
especial as rochas pelíticas, sob condições metamórficas de alto grau (Frascá e Sartori,
1997).
O metamorfismo torna as rochas mais resistentes, mesmo quando proveniente de uma
rocha sedimentar de baixa resistência. Sua orientação mineralógica, pode levar algum
profissional inexperiente a confundir esse tipo de rocha com uma sedimentar, porém a
dureza e as variações nas direções dos planos permitem a adequada distinção. Na
construção civil são utilizadas na fabricação de agregados para concretos e peças de
pisos e revestimento. A Figura 5 mostra exemplos de gnaisses.
(a)

(b)
Figura 4. a) e b) calcário in natura; c) revestimento com laminado da “Pedra Cariri”

(a) (b)
Figura 5. a) gnaisse in natura b) revestimento com gnaisse.
Mármores e quartzitos: são rochas metamórficas resultantes da ação do metamorfismo
regional. Têm pouca ou nenhuma orientação preferencial, como no caso dos gnaisses.
Podem apresentar orientações quando a rocha de origem possui minerais placóidais,
como é o caso das micas.
Os mármores são rochas constituídas por mais de 50% de minerais carbonáticos, mais
especificamente, calcita e/ou dolomitas. Apresentam estrutura maciça e granulação
variada. Sua coloração varia muito (branca, rosada, esverdeada, escura, etc). Sua
principal aplicação na construção civil está em revestimentos de pisos e fachadas, além
de serem muito utilizados como peças ornamentais na confecção de bancadas e outras.
A Figura 6 apresenta um exemplo de mármore e sua aplicação.

(a) (b)
Figura 6. a) rocha mármore in natura; b) mármore usado como revestimento e bancada
Os quatzitos são rochas metamórficas formadas quase exclusivamente de quartzo
recristalizado. Em geral, são derivados de sedimentos silicosos, como quartzo arenitos.
Tem cor branca, com variações para vermelha (pela presença de óxidos de ferro). Devido
a sua resistência (dureza) são muito utilizados em pisos e revestimentos. A Figura 7
apresenta exemplo de um quartzito e sua aplicação.

(a) (b)

Figura 7. a) quartzito in natura; b) Alvenaria executada com rocha quartzito (pedra marrom)
4. Processo de Formação dos Solos

Os solos são formados pela desintegração e decomposição de uma rocha matriz pela
ação do intemperismo. O intemperismo pode ser definido como o conjunto de
processos físicos, químicos e biológicos responsáveis pela transformação das rochas e
dos minerais, formando os solos. Os processos intempéricos geram fragmentos que
poderão ou não serem transportados por agentes da natureza, que ao longo do tempo
podem ter suas características alteradas. O conjunto destes processos leva à formação
dos solos que em consequência são misturas de partículas pequenas que se
diferenciam pelo tamanho e pela composição química. A concentração de cada tipo de
partícula num solo depende da composição química da rocha que lhe deu origem.

O intemperismo pode ainda ser classificados em três grupos:


a) Intemperismo físico: responsável pela quebra da estrutura da rocha (desintegração
da rocha), sem alteração da sua composição mineral.
b) Intemperismo químico: responsável pela decomposição da rocha (transformação
mineralógica pode meio de vários processos químicos).
c) Intemperismo biológico: refere-se à ação dos seres vivos (vegetais e animais) que
atual tanto na desintegração da rocha como na sua decomposição.
O solo formado por esse processo pode ser submetido a um processo de transporte e,
posteriormente, consolidado por agentes cimentantes, num processo denominado
litificação, resultando numa rocha sedimentar. Trata-se, portanto, de um ciclo fechado
como ilustrado na Figura 8.

Figura 8. Representação esquemática do processo de formação dos solos


4.1 Principais agentes do intemperismo

a) Água: a água atuará de diversas formas no processo do intemperismo, tanto na


desintegração da rocha (intemperismo físico) quanto na decomposição (intemperismo
químico).
No intemperismo físico a água atua, basicamente, de duas formas:
i) penetrando nas fendas das rochas e exercendo pressão. Essa variação de pressão, com
o tempo, vai aumentando as fissuras a ponto de resultar no fracionamento do bloco de
rocha.
ii) outra forma ocorre pela expansão da água quando muda do estado líquido para o
sólido, por meio do congelamento em regiões árticas.
A Figura 9 ilustra as duas situações.

Figura 9. Ilustração da ação da água na desintegração da rocha.

No intemperismo químico a água é o principal agente em muitas reações químicas


envolvidas na decomposição dos minerais da rocha, tais como a hidrólise e dissolução.
Outra reação comum no processo de formação dos solos é a oxidação, resultando em
tons avermelhados nos materiais envolvidos. A Figura 10 ilustra este processo.
Figura 10. Oxidação de uma rocha e laterização de um solo.

b) Temperatura: a temperatura atua tanto no intemperismo químico quanto no físico.


A variação da temperatura provoca a contração e retração do maciço rochoso,
resultando em trincas que, por sua vez, levará a fragmentação da rocha. Quanto maior
a variação da temperatura, maior será a intensificação desse processo. Na
decomposição da rocha, algumas reações químicas são intensificadas com o aumento
da temperatura, resultando na aceleração do processo. A Figura 11 apresenta exemplos
da atuação da temperatura no processo de desintegração.

(a) (b)

Figura 11. Exemplo do efeito da temperatura no intemperismo tempo.

c) Organismos vivos: os organismos vivos (vegetais e animais) atuam tanto no


intemperismo físico quanto no químico. No intemperismo físico, as raízes de plantas
penetram nas fendas das rochas exercendo pressão nas fendas e acelerando a ruptura
dos blocos. Os resíduos orgânicos e elementos minerais fornecidos, principalmente por
restos vegetais fornecem matéria influenciando no microclima e desenvolvimento por
fornecer matéria orgânica para o desenvolvimento das plantas, que, por sua vez,
protegerá o solo contra a erosão.
Os restos vegetais, acumulados na superfície do solo passam progressivamente por
transformações físico-químicas sob estreita dependência do clima, produzindo os
húmus. A produção, acumulação e migração de húmus representam aspectos
fundamentais de desenvolvimento pedogenético. Além disso, a participação de
organismos vivos se manifesta, principalmente, pela atividade de espécies inferiores,
como bactérias, fungos e líquens que contribuem com a alteração química de certos
minerais, transformando-os em mineras secundários (minerais não originais da rocha
matriz). Mais informações sobre o assunto podem ser obtidas em Salomão e Antunes
(1997). A Figura 12 apresenta algumas ações da vegetação no intemperismo físico de
rochas.
Com impactos menores, alguns insetos e animais, como cupins e formigas, podem
influenciar na formação dos solos por meio de transportes localizados, principalmente
na superfície dos terrenos.

Figura 12. Ação da vegetação no intemperismo físico de rochas.

4.2 Principais fatores que influenciam no intemperismo

a) Tipo de rocha: o intemperismo (físico e químico) sofrerá influência das rochas.


Algumas rochas possuem elevada resistência (granitos e gnaisses) e outras (calcário e
arenitos) podem ser facilmente desintegrada. Mais outro fator de grande importância é
a mineralogia. Como visto no Quadro 1, são vários os minerais que compões a rochas e
com resistências variáveis ao intemperismo químico. Rochas calcárias que possuem
calcita, por exemplo, são facilmente decompostas pela ação de águas ácidas e outros
agentes, transformando em argilominerais. As micas e os feldspatos, que estão
presentes, sob condições apropriadas transformam-se, também, em argilominerais.
Rochas que são ricas desses minerais apresentam tendências de formar solos mais
argilosos. No caso dos quartzos e topázios, esses são minerais muito estáveis e
resistentes ao intemperismo químico. Eles fragmentam-se, mas não se decompõem e,
normalmente, compõem a fração granular dos solos. Rochas ricas em quartzo, por
exemplo, tendem a resultar em solos, predominantemente, arenosos. O Quadro 2
apresenta os minerais predominantes nos principais tipos de rochas e o solo resultante.

Quadro 2. Decomposição de rochas (Adaptada de DNIT, 2006)

Tipo de Rocha Composição Mineral Tipo de Solo

Basalto Plagioclásio; piroxênios Argiloso (pouca areia)

Quartzito Quartzo Arenoso

Filitos Micas (sericita) Argiloso

Granito Quartzo, feldspato, mica Areno-argiloso (micáceo)

b) Clima: é a sucessão de diferentes estados do tempo que se repetem e se sucedem


na atmosfera ao longo do ano em determinada região. Vários fatores intervêm no clima,
a destacar a pluviometria, temperatura, ventos, etc, que são também agentes do
intemperismo. Logo é de se concluir que o clima interfere tanto no intemperismo
químico quanto no físico. Há regiões que apresentam elevado índice pluviométrico e
elevadas temperaturas, favorecendo tanto as ações físicas quanto as reações químicas
envolvidas na decomposição dos minerais. Normalmente, nessas regiões é comum
encontrar perfis de solos profundos e com grande variedade física e mineralógica.
Noutras regiões, praticamente, não chove, embora possam ocorrer grandes variações
de temperatura. Nessas condições predomina o intemperismo físico e os solos
resultantes são predominantemente granulares e constituídos de minerais primários
(originais da rocha matriz). Os perfis de solo são, também, de poucos metros, as vezes
não atingindo o metro. Portanto, é de se concluir que o clima é um dos principais fatores
que interfere na formação do solo, visto que o solo recém-formado estará, ainda sob
seus efeitos e resultando em contínua alteração mineralógica. Exemplo disso são os
solos lateríticos, caracterizados pela excessiva presença de óxidos de ferro na sua
constituição.
A Figura 13 apresenta, esquematicamente, a espessura dos perfis de solos e sua
variedade mineralógica com o clima. Pode-se observar que as regiões tropicais onde
predomina elevada precipitação e temperatura tende a ter perfis mais profundos. Já nas
regiões desérticas e semi-áridas, onde predomina clima seco com variações, em alguns
casos, acentuadas na temperatura tem-se perfis poucos profundos, ou quase não há
intemperismo, sendo caracterizadas por grandes formações rochosas e vegetação
rasteira ou inexistentes.

Figura 13. Variação da espessura do perfil de solo com o clima.

c) Relevo: a influência do relevo na formação do solo manifesta-se, fundamentalmente,


pela sua interferência na dinâmica da água e nos processos de erosão e sedimentação.
Deve-se, entretanto, nestes casos, considerar também as características dos terrenos
relacionadas à percolação das águas superficiais e subterrâneas.
Assim, áreas com relevo pouco movimentado (topografia suave) e com materiais (solos
e/ou rochas) permeáveis, facilitam a infiltração das águas pluviais, superando as taxas
de escoamento superficial e subsuperficial. Neste caso, o intemperismo atinge grandes
profundidades, alterando as rochas e removendo com relativa facilidade os elementos
químicos solúveis. As perdas de solo por erosão são pouco significativas.
Em regiões montanhosas, caracterizadas por maciços rochosos íngremes, a velocidade
de escoamento da água é elevada. A velocidade da erosão pela água pode exceder a do
intemperismo, mesmo em regiões onde os demais fatores e agentes são otimizados,
transportando as partículas recém-formadas pela água e depositando-as num ambiente
de menor energia, conhecido como bacia sedimentar. É comum encontrar nessas
regiões florestas relativamente densas no pé das montanhas e escarpas desprovidas de
vegetação.

5. Classificação dos Solos Segundo a Formação


Quanto à formação, os solos podem ser classificados em três grandes grupos:
a) Solos Residuais
b) Solos Transportados
c) Solos Orgânicos

5.1 Solos Residuais


Solos residuais são solos que permanecem no local da rocha de origem. Ocorre em
ambientes onde os agentes do intemperismo encontram-se otimizados. Pode-se ter
solos residuais de todo tipo de rocha, mudando a composição do solo em função da
natureza da rocha.
Esse tipo de formação é muito comum no Brasil e em outras regiões de clima tropical,
particularmente no sudeste do país, onde há elevada precipitação e temperaturas,
condição essencial para o desencadeamento das reações químicas responsáveis pelo
intemperismo químico.
Uma vez que o intemperismo ocorre a partir da superfície para o interior da rocha, é de
se esperar que, os solos mais superficiais tendem a apresentar uma grande variação
mineralógica, estando os solos com uma mineralogia mais alterada (com grande
incidência de minerais secundários). A medida que a profundidade aumenta, os solos
tendem a apresentar mineralogia com predominância de minerais primários (os
mesmos que compõem a rocha), até atingir a rocha sã. É comum se referir a um perfil
de solo residual como perfil de intemperismo. O nome do solo residual é associado à
rocha de origem (ex. solo residual de basalto; solo residual de arenito, etc). A Figura 14
apresenta um típico perfil de intemperismo.
Num perfil de intemperismo (Figura 14) dois tipos de solo se destacam: a) solo residual
jovem; e b) solo residual maduro.
O solo residual jovem é caracterizado por apresentar mineralogia e estrutura
semelhante à rocha matriz, porém com baixa resistência mecânica. Muitas vezes são
referidos de “rocha podre”, pelo fato de se parecer com uma rocha, mas se desfazer
com o manuseio. Na literatura esses solos são também referidos de “solos saprolíticos”
ou “saprólitos” para alguns. O termo saprolito gera controvérsias no meio acadêmico.
Muitos autores usam esse termo a uma camada intermediária entre o solo e a rocha.
Por isso, na engenharia é mais empregado o conceito de solo residual jovem, material
de transição (saprolito) e rocha sã. Por herdar características estruturais da rocha matriz,
como foliações ou planos de fraquezas, nem sempre é fácil de se prever o seu
comportamento mecânico e hidráulico no campo, requerendo maior quantidade de
amostras para sua caracterização. A heterogeneidade é a principal característica dos
solos jovens.

Residual Maduro

Residual Jovem

Rocha Alterada

Rocha Sã

Figura 14. Exemplo de perfil de intemperismo


O solo residual maduro ocupa a camada superficial do perfil e é caracterizado por não
apresentar semelhança estrutural e mineralógica com a rocha matriz. Há uma
predominância de minerais secundários e a textura dependerá da mineralogia da rocha.
Rochas ricas em micas e feldspatos tendem a originar solos maduros argilosos e rochas
ricas em quartzo resultam e solos maduros arenosos. Uma das características dos solos
maduros é a sua homogeneidade, embora muitos possam apresentar uma estrutura
bem porosa, com vazios possíveis de serem visíveis a olho nu. Algumas vezes, os solos
residuais maduros podem apresentar comportamento colapsível, mesmo quando
predominantemente argiloso. A Figura 15 apresenta duas amostras típicas de um solo
residual de gnaisse da zona da mata de Pernambuco, onde pode-se observa a grande
diferença entre essas duas camadas (horizontes).

(a) (b)
Figura 15. Amostras de um solo residual de gnaisse: a) solo residual maduro; b) solo
residual jovem.
5.2 Solos Transportados
Os solos transportados são todos aqueles que sofreram um processo de transporte e
deposição. Suas partículas foram removidas do local de origem da rocha matriz. Os solos
transportados possuem diferentes denominações em função do agente transportador.
Os principais agentes são: água; vento; gravidade; e gelo.

5.2.1 Solo Aluvionar


São transportados onde o agente transportador é a água. Sua constituição depende da
velocidade das águas no momento de deposição, sendo encontrado próximo às
cabeceiras de cursos d’água, material mais grosseiro e o material mais fino (argila) são
carregados a maiores distâncias. A Figura 16 apresenta exemplos de aluvião.
Existem aluviões essencialmente arenosos, bem como aluviões muito argilosos, comuns
nas várzeas dos córregos e rios.
Apresentam duas formas distintas: terraços (ao longo do próprio vale do rio) e planícies
de inundação (forma depósitos mais extensos). A Figura 17 ilustra as duas formações.

(a) (b)
Figura 16. a) Composição típica de aluvião de rios; b) aluvião de areia, na cabeceira do
curso d’água.
(a) (b)
Figura 17. a) terraço; b) planície de inundação.

5.22 Solos Eólicos


Os solos eólicos é todo aquele cujo agente transportador é o vento. Em virtude do atrito constante
entre as partículas, os grãos de solo transportados pelo vento geralmente possuem forma
arredondada. A capacidade do vento de transportar e erodir é muito maior do que possa parecer
à primeira vista. Vários são os exemplos de construções e até cidades soterradas parcial ou
totalmente pelo vento, como foram os casos de Itaúnas - ES e Tutóia - MA; os grãos mais finos
do deserto do Saara atingem em grande escala a Inglaterra, percorrendo uma distância de mais
de 3.000 km. Como a capacidade de transporte do vento depende de sua velocidade, o solo é
geralmente depositado em zonas de calmaria.

O transporte eólico é o mais seletivo tipo de transporte das partículas do solo. Se por um lado
grãos maiores e mais pesados não podem ser transportados, os solos finos, como as argilas,
têm seus grãos unidos pela coesão, formando torrões dificilmente levados pelo vento. Esse efeito
também ocorre em areias e siltes saturados (falsa coesão) o que faz da linha de lençol freático
(definida por um valor de pressão da água intersticial igual a atmosférica) um limite para a
atuação dos ventos. Pode-se dizer, portanto que a ação do transporte do vento se restringe ao
caso das areias finas ou silte. Por conta destas características, os solos eólicos possuem grãos
de aproximadamente mesmo diâmetro, apresentando uma curva granulométrica denominada de
uniforme.

As dunas são exemplos comuns de solos eólicos nordeste do Brasil. A formação de uma duna
se dá inicialmente pela existência de um obstáculo ao caminho natural do vento, o que diminui a
sua velocidade e resulta na deposição de partículas de solo. A deposição continuada de solo
neste local acaba por gerar mais deposição de solo, já que o obstáculo ao caminho do vento se
torna cada vez maior. A Figura 18 ilustra bem o processo de formação de um depósito eólico.

5.2.2 Solos Coluvionares


São solos formados pela ação da gravidade. São de ocorrência localizada, geralmente ao pé de
elevações e encostas, provenientes de antigos escorregamentos.

Os solos coluvionares são, dentre os solos transportados, os mais heterogêneos


granulometricamente, pois a gravidade transporta indiscriminadamente desde grandes blocos de
rocha até as partículas mais finas de argila.
(a) (b)
Figura 18. a) formação de um solo eólico; b) dunas

Pode apresentar resistência variada e elevada permeabilidade (facilidade de infiltração das


águas). Podem se apresentar de duas formas: Colúvios e Tálus. O primeiro tende a ser mais
fino, quanto o segundo mais grosseiro. A Figura 19 apresenta exemplos de solos coluvionares.

Figura 19. Exemplos de solos coluvionares.

5.2.3 Solos Glaciais


São solos transportados pelo desprendimento e movimentos das geleiras. Caracterizam-
se por apresentar uma grande variedade de tamanhos de partículas a poucas distâncias,
uma vez que o agente transportador não é tão seletivo como a água e o vento.
Normalmente é um material grosseiro constituído de minerais primário, já que os
principais agentes do intemperismo não encontram-se otimizados. A Figura 20
apresenta exemplo de um solo glacial.
Figura 20. Exemplo de solo glacial

5.4 Solos Orgânicos


Formados pela impregnação do solo por sedimentos orgânicos preexistentes, em geral
misturados a restos de vegetais e animais. Podem ser identificados pela cor escura e por possuir
forte cheiro característico. Têm granulometria fina, pois os solos grossos têm uma
permeabilidade que permite a "lavagem" dos grãos, eximindo-os da matéria impregnada. Suas
principais características são:

a) Mistura do material transportado com quantidades variáveis de matéria orgânica


decomposta.
b) Normalmente são identificados pela cor escura, cheiro forte e granulometria fina.
c) Decomposição sobre o solo de grande quantidade de folhas, caules e troncos de plantas
forma-se um solo fibroso, de alta compressibilidade e baixíssima resistência, que se
chama turfa.

A Figura 21 apresenta exemplos de solos orgânicos.

(a) (b)

Figura 21. a) solo orgânico; b) Turfa


5.5 Solos Tropicais

Não há uma definição consensual sobre solos tropicais. A mais geral é aquela relativa a
solos que ocorrem nos trópicos e com comportamentos peculiares. Nesse contexto, o
Comitê Internacional de Solos Tropicais definiu solos tropicais como todos os solos
residuais originados nas regiões tropicais e os solos lateríticos.
Outros profissionais têm estendido o conceito para englobar as argilas expansivas e os
solos colapsíveis, que embora possam ocorrer em regiões tropicais não é exclusividade
dessas regiões.
Os solos residuais já foram bem descritos no item 5.1. Neste item será dada ênfase aos
solos lateríticos, expansivos e colapsíveis.

5.5.1 Solos Lateríticos


Solos lateríticos são solos tropicais que sofreram um processo de laterização,
caracterizado pela acumulação de óxidos de ferro e de alumínio, ou outro composto
ferroso. Esses óxidos alteram, de forma significativa, o comportamento dos solos. Os
óxidos tendem a agregar partículas finas fazendo-as se comportar como um solo grosso.
Num estágio avançado do processo de laterização, a cimentação é de tal ordem que
várias concreções são formadas, tornando os solos semelhantes a uma rocha branda. A
Figura 21 apresenta exemplo de um perfil de solo, com camada arenosa no topo e
argilosa na base, com presença de uma crosta laterítica entre elas. Uma das
características visuais do solo lateríticos é a sua coloração avermelhada e baixa
plasticidade quando manuseado. A Figura 22 apresenta exemplos de solos lateríticos e
laterita.

Figura 21. Perfil de solo com crosta laterítica


(a) (b)
Figura 22. a) Solo laterítico; b) Laterita

5.5.2 Solos Colapsíveis e Expansivos


Os solos colapsíveis e expansivos não se enquadram na categoria clássica dos solos
tropicais, pois é muito comum encontra solos expansivos em regiões de clima
temperado e solos colapsíveis em regiões semiáridas. Ênfase será dada a esses dois solos
por serem muito presentes na região nordeste do Brasil.
Os solos expansivos são solos argilosos que apresentam significativa variação de volume
quanto absorvem ou perdem água. O efeito dessas variações volumétricas nas obras,
principalmente as de pequeno porte, são danos que podem comprometer a
funcionalidade ou até a sua estabilidade estrutural. A expansão do solo está associada
a dois fatores, baixa umidade (teor de água no solo) e a mineralogia da fração argila
(partículas com dimensão menor que 0,002 mm). A Figura 23 apresenta alguns efeitos
da expansão do solo nas estruturas.
A principal característica das argilas expansivas no campo é o desmoronamento de
taludes devido a contração do solo e vegetação rala. Outras características são trincas
hexagonais quando secas, cor cinza a esverdeada, podendo também apresentar cores
escuras, como as terras rochas do sul do Brasil, elevada pegajosidade quando misturada
com água, a ponto de grudar nos sapatos. A Figura 24 ilustra algumas dessas
características.
(a) (b)
Figura 23. a) fissuras na parede devido à expansão do solo; b) levantamento do piso
devido à expansão do solo.

(a) (b)
Figura 24. a) desmoronamento de taludes devido à contração dos solos; b) vegetação
rasteira e trincas hexagonais típicas de solos expansivos.

As deformações de expansão são definidas como potencial de expansão e dependem


das condições iniciais do solo. Quanto mais seco o solo, maior será a expansão. A
expansão é, também, inversamente proporcional a pressão externa transmitida pela
obra, sendo tanto menor quanto maior for a pressão, havendo ainda uma pressão limite
onde o potencial de expansão será nulo. Essa pressão recebe o nome de “pressão de
expansão”.

5.5.3 Solos Colapsíveis


Os solos colapsíveis são solos que ocorrem em regiões planas e com deficiência hídrica,
resultando numa estrutura porosa (aberta) caracterizada por partículas ou agregados
de partículas mantidas por vínculos que permanecem estáveis sob baixa umidade.
Quando o solo é umedecido e estando sob carregamento, os vínculos perdem
resistência e se rompem, resultando no colapso da estrutura do solo. Como
consequência ocorrem deformações de compressão e recalques (deslocamentos
verticais descendentes). Os recalques podem ser de tal ordem que podem comprometer
a estabilidade da estrutura.
No campo, os solos colapsíveis são caracterizados por vegetação de pequeno porte e,
em alguns casos, afundamentos na superfície do terreno no período chuvoso. A Figura
25 apresentam exemplo de solo colapsível.

Figura 25. a) vegetação típica sobre solo colapsível; b) afundamento da superfície do


terreno devido ao colapso do solo.

6. Constituição mineralógica dos solos

As partículas formadoras do solo dependem da rocha de origem. Tais partículas são


formadas por um ou mais minerais. Na fração granular, o mais comum é o quartzo – SiO2
– (bastante resistente à degradação) que forma siltes e areias. Além desses, outros
minerais podem ser encontrados também na fração granular, como as micas, feldspatos
etc.
Os Feldspatos e micas são minerais sensíveis ao intemperismo químico, dando origem
aos argilo-minerais (minerais secundários) que irão constituir parte das partículas mais
finas do solo. A presença de alguns tipos de argilo-minerais altera de maneira muito
marcante o comportamento do solo, como é o caso dos solos expansivos.
Os argilo-minerais são silicatos complexos de alumínio, magnésio e ferro. As duas
estruturas cristalinas básicas são (Figura 26):
Tetraedro de silício Octaedro de alumínio

Figura 26. Estrutura básica dos argilominerais.

A depender do modo como as unidades cristalinas estruturais estão unidas entre si,
pode-se dividir os argilo-minerais em três grandes grupos (Figura 27).

Figura 27. Grupos de argilominerais.

A presença de um determinado tipo de argilo-mineral no solo pode ser identificada


utilizando-se diferentes métodos, dentre eles a análise térmica diferencial, o raio-X, a
microscopia eletrônica de varredura, etc.
As partículas dos argilominerais caracterizam-se por serem placoidais, sendo
responsável por uma das propriedades que marca as argilas, que é a plasticidade
(propriedade que permite a moldagem da argila).

6.1 Cor dos solos


A cor dos solos reflete a sua composição mineralógica (Figura 28). Embora não seja uma
característica que influencie, diretamente, no comportamento dos solos, a cor pode dar
indicativo do mineral predominante e pode ser usado como um critério de identificação
de alguma peculiaridade de comportamento.
Figura 28. Perfil de solo refletindo a sua mineralogia na cor.

Algumas considerações sobre a cor dos solos, além das citadas no parágrafo anterior
merecem destaque:
 A intensidade da cor varia com o teor de umidade.
 Cores mais escuras, marrom, cinza escura e preto indicam solos de origem
orgânica.
 Cores vermelha, amarela e tons de marrom são resultados de intemperismo
químico, onde o vermelho escuro indica a presença de óxido de ferro não
hidratado.
 Cores mais claras indicam solos de origem inorgânica, com predominância de
sílica, gipsita ou de depósitos de argila.
 Quanto maior a quantidade de matéria orgânica, mais escura é a cor do solo, o
que pode indicar fertilidade ou apenas condições desfavoráveis à decomposição
da mesma.
 As cores avermelhadas ou amareladas estão associadas aos diferentes tipos de
óxidos de ferro existentes no solo (terra roxa). Já os solos com elevada
quantidade de quartzo na fração mineral apresentam coloração clara.

6.2 Classificação quanto ao tamanho dos grãos

Quanto ao tamanho das partículas, os solos podem ser divididos em três grandes
grupos: a) granulares; b) finos; e c) fibrosos.
Os solos granulares são aqueles que possuem partículas maiores que 0,075 mm,
enquanto os finos os solos que possuem partículas menores que essa dimensão. A Figura
29 ilustra essa divisão.

SOLOS GRANULARES
SOLOS FINOS

FRAÇÃO FINA FRAÇÃO GROSSA

Peneira no 200
0,075 mm

Figura 29. Representação esquemática entre solos granulares e finos.

6.2.1 Superfície especifica


Define-se superfície específica de um solo como a soma de todas as superfícies das
partículas contidas numa porção, normalmente uma g. Quanto mais fino o solo, maior
será a sua superfície específica.
Imagine uma partícula de forma cúbica, com 1 cm de aresta, subdividindo-a,
decimalmente, em cubos cada vez menores, poderemos organizar o Quadro 3 de
valores.

Quadro 3. Variação da superfície específica em função do tamanho da partícula.

Aresta Volume No de Área Total Superfície


Total Cubos Específica (s)
1 cm 1 cm3 1 6 cm2 6 cm2 / cm3
1 mm 1 cm3 103 60 cm2 6 x 10 cm2 / cm3
0,1 mm 1 cm3 106 600 cm2 6 x 102 cm2 / cm3
0,01 mm 1 cm3 109 6000 cm2 6 x 103 cm2 / cm3
0,001 mm 1 cm3 1012 60000 cm2 6 x 104 cm2 / cm3
A superfície específica é uma importante propriedade dos argilo-minerais, na medida
em que quanto maior a superfície específica, maior vai ser o predomínio das forças
elétricas (em detrimento das forças gravitacionais), na influência sobre as propriedades
do solo (estrutura, plasticidade, coesão, etc.).
A superfície específica dos argilo-minerais é geralmente expressa em unidades como
m2/m3 ou m2/g.
Para os minerais argílicos, as superfícies específicas assumem os valores:
Caulinita 10 m2/g
Ilita 80 m2/g
Montmorilonita 800 m2/g

6.3 Plasticidade

Plasticidade é a propriedade apresentada por alguns materiais sólidos de serem


moldados, sob certas condições de umidade, sem ruptura e sem variação de volume.
Propriedade típica de solos finos argilosos que possuem grande variação na consistência
com a umidade. A Figura 30 ilustra essa propriedade das argilas. Esse assunto é
detalhado em tema específico (limites de consistência dos solos).

Plástico

Não Plástico

Figura 30. Ilustração da mudança de consistência da argila.


7. Identificação táctil-visual dos solos

A identificação táctil-visual dos solos é de grande importância na engenharia. Nas


sondagens de simples reconhecimento, por exemplo, os solos são classificados táctil-
visualmente. Nesses ensaios a cor do solo é sempre descrita. Embora seja considerado
de caráter subjetivo, devem ser utilizadas as designações branco, cinza, preto, marrom,
amarelo, vermelho, roxo, azul e verde. Quando as amostras apresentarem mais do que
duas cores, deve ser utilizado o termo variegado no lugar do relacionamento das cores.
Para a Classificação Tátil-visual do solo é necessário um técnico experiente e bem
treinado, que tenha prática nesse procedimento. É desejável que tenha, também, um
bom conhecimento do solo da região analisada. Entretanto, alguns princípios podem ser
seguidos que podem ser grande utilidade. Abaixo descreve-se sobre algumas
propriedades observadas neste método de análise, de acordo com a textura do solo.

AREIAS E PEDREGULHOS

1) Apresentam partículas visíveis a olho nu, permitindo, muitas vezes o


reconhecimento dos minerais.
2) Quando secas ao ar, não apresentam coesão entre os grãos.
3) Misturando uma porção de solo e água e esfregando na palma da mão, os solos
arenosos são facilmente lavados.

SILTES
1) É menos áspero ao tato que as areias, porém não é possível identificar seus
minerais e as partículas.
2) Fazendo uma pasta de solo e água e esfregando na palma da mão, distingue-se
por apresentar alguma dificuldade para limpar, sendo necessário sempre alguma
fricção para a limpeza.
3) A desagregação é rápida quando colocado um torrão de solo num recipiente com
água, sem deixar imerso por completo.
4) Quando secos ao ar formam torrões, facilmente desagregáveis pela pressão dos
dedos
ARGILAS

1) Táctil: esfrega-se o solo na mão para sentir sua aspereza. Areias são mais ásperas
que as argilas;
2) Plasticidade: tenta-se moldar pequenos cilindros de solo úmido. Argilas são
moldáveis, os siltes e areias não;
3) Resistência do solo seco: Torrões de argilas são resistente, de siltes pouco
resistente e areias nem formam torrões;
4) Dispersão em água: Argilas sedimentam mais lentamente que siltes e bem são
mais dispersas em água que as areias.

Referências

Chiossi, N. (2013). Geologia de Engenharia. Oficina de Textos. São Paulo.


Frascá, M.H.B.O e Sartori, P.L.P (1998). Minerais e Rochas. Geologia de Engenharia.
ABGE. São Paulo.
Ortigão, J.A.R (2007). Introdução à Mecânica dos Solos dos Estados Críticos. Terratek. 3ª
Edição.
Salomão, F.X.T e Antunes, F.S. (1998). Solos em Pedologia. Geologia de Engenharia.
ABGE. São Paulo.

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