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XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas


IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Avaliação de áreas de risco à movimentação de massa no


município de Patos de Minas - MG
Flávio Antônio de Macedo Junior
Engenheiro Civil, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, Brasil,
famjeng@gmail.com

Letícia Silva Braga


Engenheira Civil, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, Brasil,
leticiabraga.eng@gmail.com

Lucas Martins Guimarães


Professor Adjunto, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, Brasil,
guimaraeslm@yahoo.com.br

Fernanda Yamaguchi Matarazo


Professora Substituta, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, Brasil,
fernanda.matarazo@ufv.br

RESUMO: Ao longo dos últimos anos, diversas catástrofes envolvendo rupturas e deslizamentos em maciços
de solo foram registradas no país. Tais deslizamentos podem ocasionar significativos danos em obras públicas
e privadas além de perdas humanas e prejuízos ambientais. Um fator comumente conhecido que acelera este
problema é a expansão sem planejamento, portanto, comprova-se a importância de vistorias em taludes devido
a crescente instalação de construções em locais inapropriados e cortes sem o devido monitoramento, presença
de profissional habilitado ou projeto de estabilidade. Foram vistoriados oito taludes no município de Patos de
Minas/MG através das diretrizes propostas pela norma ABNT NBR 11682:2009 – Estabilidade de Encostas,
no qual leva-se em consideração se há ou não sistema de drenagem, se há presença de trincas, possibilidade
ou não de movimento e outros fatores. As zonas suscetíveis a movimento e o grau de risco de instabilidade
foram elaborados de acordo com os critérios avaliativos propostos pelo Ministério do Meio Ambiente (2007).
Dos oito taludes analisados, cinco foram categorizados com alto grau de risco, dois com risco muito alto e um
com risco médio. Em todos os taludes analisados observou-se a falta de estabilização ou presença de drenagem,
o que agrava o grau de periculosidade.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de talude, laudo de vistoria, movimentação de massa, NBR11682.

ABSTRACT: Over the last few years, several disasters involving ruptures and landslides in sol massifs have
been reported in the country. Such landslides can cause significant damage to public and private constructions
as well as human and environmental damage. A commonly known factor that accelerates this problem is
unplanned expansion, so the importance of slope surveys is proven due to the increasing installation of building
in inappropriate locations and improper excavations without monitoring, presence of skilled professional or
stability design. Eight slopes were inspected in the city of Patos de Minas/MG through the guidelines proposed
by ANBT NBR 11682:2009- Estabilidade de Encostas, which considers a presence of drainage system,
presence of cracks, possibility or not of landslides and other factors. Areas susceptible to movement and the
degree of risk of instability were chosen according to the evaluative criteria proposed by the Ministério do
Meio Ambiente (2007). Of the eight slopes analyzed, five were categorized as high risk, two as very high risk
and one as medium risk. In all analyzed slopes there was a lack of stabilization or presence of drainage, which
aggravates the degree of dangerousness.

KEYWORDS: Slope stability, inspection report, landslide, NBR11682.

1 Introdução
XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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A instabilidade de encostas é um dos grandes problemas enfrentados pelas cidades brasileiras, segundo
a Defesa Civil de Minas Gerais (2018) esses eventos vêm ocorrendo com uma frequencia alarmante devido ao
crescimento desordenado das cidades, com a ocupação de novas áreas de risco principalmente pela população
mais carente.

Em épocas de elevado índice pluviométrico as encostas ficam mais suscetíveis a escorregamentos,


Menezes e Campos (1992) identificaram a possibilidade de ocorrência de rupturas de taludes em decorrência
da redução da sucção, que pode ser associada à variação do grau de saturação do solo do talude. Estes autores
concordam que, durante os períodos de ocorrência de chuvas freqüentes, há um aumento contínuo e gradual
do grau de saturação, logo uma diminuição da sucção e, conseqüentemente, das tensões efetivas, acarretando
numa redução da resistência ao cisalhamento do solo, o que, eventualmente, pode levar o talude à ruptura.

Como o clima da região é tropical, marcado por períodos intensos de chuva, o aumento da infiltração
da água torna os desastres ainda mais recorrentes. A percolação de água no solo provoca movimentos de massa,
deslizamento caracterizado pela descida de rocha, solo ou ambos, devido à força gravitacional. De acordo com
Silveira (2008), esses movimentos ainda podem ser ocasionados pelo lençol subterrâneo ou estimulados por
água superficial. Em novembro de 2018, a Defesa Civil interditou parte da Avenida Fátima Porto, em Patos
de Minas/MG após massa de solo proveniente de rompimento de talude, alcançar a pista (CARDOSO, 2018).

Segundo Cruden e Varnes (1996), os fatores determinantes para a ocorrência da ruptura de solo pode
dividir-se em 4 categorias, umas delas é a causa física, no qual enquadra-se chuvas e inundações.

Tendo em vista a importância de estudos relacionados a estabilidades de taludes, com o intuito de evitar
possíveis acidentes em Patos de Minas, foram realizadas vistorias de acordo com a norma ABNT NBR
11682:2009. Foram obtidos dados que podem servir como base para conclusões sobre a segurança dos mesmos

2 Local de estudo

Patos de Minas/MG é um dos 10 municipios da microrregião do Alto Paraníba e destac-se como o centro
econômico regional. De acordo com Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado
em 2010, a população patense era de 138.710 pessoas. Em 2018, o número de habitante estimado é de 150.833
pessoas. Sobre a infraestrutura da cidade, o IBGE (BRASIL, 2010) expõe que 91,6% da cidade possui
esgotamento sanitário adequado.
Cerca de 90% do terreno é ondulado, 5% é plano e 5% da área é montanhosa, com altitude média de
815 metros. A vegetação predominante na região é o Cerrado e os períodos de seca e chuva são bem definidos,
sendo o último marcado por chuvas intensas, características do clima tropical de altitude.
De acordo com a medição do posto pluviométrico de Sertãozinho no período compreendido entre 1970
e 1998 a precipitação média anual foi de 1.473,75 milímetros (PATOS DE MINAS, 2011). Conforme Rassi et
al (2017) os solos predominantes em Patos de minas são classificados como Latossolos, caracterizados pelo
estágio avançado de intemperismo. (EMBRAPA,2006).

2.1 Coleta de dados

Os taludes foram vistoriados seguindo as prescrições da ABNT NBR 11682 (2009) preenchendo-se o
laudo de vistoria presente no documento. Os dados coletados foram: ponto de referência, coordenadas, tipo da
situação, tipo de ocupação/densidade, tipo de vegetação/condições, drenagem/condições, relevo/perfil de
encosta, características específicas do local vistoriado, geometria, obras de contenção existente, condições de
saturação, natureza do material, características da situação relacionadas ao movimento de massa, indicação de
elementos em risco (vidas e propriedades) e conclusão da necessidade de providências urgentes.
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A localização dos taludes foi obtida por meio de coordenadas com os aplicativos Google Maps e Bússola
presente nos smartphones. Utilizou-se a trena para medição da altura e largura dos taludes. A inclinação por
conferência de médias ao longo do talude obtidas pelo aplicativo de inclinação Angle Pro.
O critério de aspectos locais dos taludes foi caracterizado com as seguintes definições: comunidades
carentes (conjunto de habitações precárias), área urbana estruturada (local onde possui rede de esgoto,
abastecimento de água, energia e coleta de lixo), área urbana não estruturada (ocorre falta de algum dos itens
da área urbana estruturada) e estrada (caminho veicular fora do perímetro urbano).
O tipo de vegetação foi classificado de acordo com as definições: arbórea (árvores de grande porte),
arbustiva (plantas de médio porte constituídas de vários pequenos troncos, que surgem do nível do solo),
rasteira (ervas e gramíneas), nenhuma (solo sem vegetação). Sobre as condições da vegetação adotou-se: alta,
média e esparsa.
Nas questões de drenagem: natural (o solo do talude possui condições naturais de infiltração e
escoamento da água superficial), construída (sistema artificial de escoamento) ou inexistente (o talude não
possui características de escoamento da água ou infiltração, possuindo locais de armazenamento de água
parada).
Para a classificação das formas do relevo foi adotado a classificação da empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) e do IBGE: escarpado (terreno íngreme com declive acima de 75%), montanhoso
(declive de 45 a 75%), ondulado (8 a 20% de declive) e suave (3 a 8% de declive).
As características específicas dos taludes foram definidas classificando em: encosta (talude de origem
natural), talude de corte, talude de aterro, talvegue e extração mineral. Sobre as condições de saturação,
categorizou-se de forma visual e tátil em: seco, úmido e saturado. Além da caracterização da tipologia do solo,
deve-se avaliar no talude a presença de trincas, blocos e fraturas. A classificação da natureza do material seguiu
as diretrizes propostas pela ABNT NBR 6502:1995 – Rochas e Solos.
Os números de elementos em risco foram obtidos pela observação do local e o número de vidas adotou-
se a média de 4 moradores em cada residência somado a um número de pedestres/motoristas de acordo com o
fluxo médio de pessoas nas vias vistoriadas.
A suscetibilidade de deslizamento foi analisado a partir dos critérios estabelecidos pelo Ministério do
Meio Ambiente (2007). No qual divide-se a suscetibilidade de acontecimento em grau muito alto, alto, médio
e baixo e o grau propabilidade do acontecimento em R4 Muito Alto, R3 Alto, R2 Médio e R1 Baixo. No laudo
de vistoria ainda existem os itens de preenchimento de dados do responsável técnico pelo relatório e a
obrigatoriedade da existência de anexos com croqui e fotos do local vistoriado.

3 Resultados

Todos os taludes vistoriados são de corte e situados em área urbana estruturada de média à baixa
densidade. O endereço, coordenadas e a geometria de cada um estão apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Dados dos taludes vistoriados


Talude Rua/Avenida Coordenadas Altura (m) Largura Inclinação (°)
(m)
1 Zulmira V. De Araújo 18°34'36.12"S e 46°29'8.88"O 4,0 25,0 80 a 90
2 Canjeranas 18°34'35.36"S e 46°29'7.89"O 7,0 20,0 80 a 90
3 Canjeranas 18°34'35.73"S e 46°29'7.52"O 8,0 10,0 80 a 90
4 Fátima Porto 18°34'48.80"S e 46°30'41.48"O 18,0 a 22,0 32,6 75 a 85
5 Fátima Porto 18°36'90.92"S e 46°30'47.11"O 20,0 85,0 65 a 85
6 Santa Rita 18°35'30.47"S e 46°30'40.53"O 8,0 16,0 80 a 90
7 Santa Rita 18°35'30.31"S e 46°30'38.89"O 6,0 16,0 70 a 90
8 Fátima Porto 18°35'16.58"S e 46°30'5.22"O 22,0 33,5 65 a 75

3.1 Descrição dos taludes

3.1.1 Talude 1
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O talude de perfil linear côncavo possui superfície de deslizamento solo-solo e não apresenta sistema de
drenagem, portanto todo o fluxo de chuvas escoa pela superfície. O relevo da região é ondulado e a vegetação
presente é constituída por árvores de pequeno porte e gramíneas, sendo caracterizada como arbustiva e rasteira.
A contenção existente ao longo da base do talude (Figura 1b e 1c) foi realizada pelos próprios moradores, sem
estudo prévio ou projeto, e segundo relato de um deles, o muro não está estável, visto que há deslocamento
dos pneus. De acordo com Sieira et. al. (2001), um muro de solo-pneu, composto por 3 pneus por camada,
devidamente amarrados por corda ou arame de gabião, pode ser uma solução para muros de até 4 metros de
altura. Sendo assim, a suscetibilidade a deslizamentos, segundo a classificação do MMA (2009) é média, com
um grau de probabilidade R3, já que a declividade é alta e há instabilidade no sistema de contenção existente
além de apresentar degrau de abatimento.

a). b). c).

Figura 1. Vista laterais e frontal do talude 1 (Os autores)

3.1.2 Talude 2

Localiza-se no fundo de dois lotes, em uma distância média de 5 metros das residências. Sua superfície
está praticamente toda coberta por vegetação rasteira e algumas árvores de médio porte no topo (Figura 2a). O
relevo da região é ondulado. O solo estava úmido. A drenagem é do tipo natural e não há nenhuma obra de
contenção. O talude, com perfil linear convexo, apresenta trincas (Figura 2b) e houve movimento do tipo
escorregamento translacional próximo ao muro de divisa (Figura 2c), com uma superfície de deslizamento
solo-solo. O talude situa-se em área com probabilidade média a deslizamentos, apresentando grau de risco R3,
devido a presença de trincas no solo.

a). b). c).

Figura 2. Vista lateral e frontal do talude 2 (Os autores)

3.1.3 Talude 3

A região, caracterizada como ondulada, é composta por solo e blocos de rocha. A vegetação é rasteira,
com árvores de pequeno porte em condições esparsas. O talude, com perfil linear-linear, não apresenta sistema
de drenagem. Segundo relato dos moradores houve deslizamento de solo e queda de bloco de rocha (Figura
3a) em novembro de 2018, chegando massa de solo até a parede de suas residências. Eles contataram a
Prefeitura e a equipe de reportagem local para registrar o ocorrido. A contenção de solo-pneu foi executada
pelos moradores logo após (Figura 3b), porém ainda ocorrem deslizamentos, que se caracterizam como corrida
de lama. Descreveram que mesmo em períodos de seca há desagregação do solo, e se agrava em períodos
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chuvosos. Observou-se que as casas do topo do talude sofrem risco e a tubulação de águas pluviais do vizinho
deságua no pé do talude (Figura 3c). Há necessidade de providências urgentes, se classificando como uma área
de suscetibilidade de deslizamento alta, com grau de risco R4.

a) b). c).
.

Figura 3. Bloco, contenção de solo-pneu e tubo de desague (Os autores)

3.1.4 Talude 4

O talude, em estado de erosão (Figura 4a), não apresenta vegetação em seu corpo, apenas vegetação
rasteira e densa em sua crista (Figura 4b), possui condições naturais de drenagem e escoamento superficial. A
frente do talude encontra-se com o fundo de uma edificação comercial (Figura 4a), porém foi identificada
como uma área de baixa movimentação de pessoas e observou-se que o muro de divisa apresenta reforço
(Figura 4c). O relevo apresenta-se montanhoso e o perfil da encosta foi identificado como linear-linear. O
talude é formado por solo sedimentar e apresenta trincas e pequenos blocos rocha. A superfície de deslizamento
é solo-solo. Por apresentar poucas evidências de instabilidade, á área foi classificada como média
suscetibilidade, e grau de risco R2.

a). b). c).

Figura 4. Vistas laterais do talude 5 e muro de edificação comercial (Os autores)

3.1.5 Talude 5

O talude 5 composto de solo sedimentar e em processo de erosão, possui condições naturais de drenagem
no solo e escoamento superficial. Ao longo do seu corpo a vegetação existente é arbórea, rasteira e arbustiva
em condições esparsas (Figura 5a). Em um dos lados encontra-se uma tubulação exposta utilizada para
canalizar uma nascente de água (Figura 5d), esta desagua no pé do talude e escoa superficialmente de forma
natural até o canal presente na Avenida. O relevo da região é montanhoso e o perfil da encosta foi identificado
como côncavo-côncavo. Não existe obra de contenção. A superfície de deslizamento é solo-solo. A frente do
talude encontra-se uma via com médio fluxo veicular e acima do talude uma rua não pavimentada. Relato do
proprietário do terreno superior informou que com 3 metros de profundidade encontra-se o nível d’água e que
o talude sofre desmoronamentos após sequência de chuvas e secagem do solo. A árvore inclinada, presente na
figura 5b e c, não corre risco de tombamento, segundo o 1º Pelotão de Bombeiros Militar - Patos de Minas,
em entrevista. A suscetibilidade para essa situação é alta e grau de risco R4.
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a). b). c). d).

Figura 5. Vista frontal e lateral do talude 5 e canalização de nascente (Os autores)

3.1.6 Talude 6

A drenagem no talude 6 ocorre de forma natural, com infiltração da água no solo e escoamento
superficial. Observa-se que a vegetação é composta por poucas árvores, arbustos e vegetação rasteira em
condições médias e com presença de entulho (Figura 6a). O talude apresenta trinca e deslizamento classificado
como corrida de solo, cuja massa deslocada está em contato direto com a residência (Figura 6d). O relevo é
montanhoso. O perfil do talude foi identificado como côncavo-côncavo formado por solo sedimentar e sua
superfície de deslizamento é solo-solo. Existem duas residências na base do talude (Figura 6b), e uma delas
possui muro de arrimo na divisa com o terreno (Figura 6c). O número de vidas em risco é menor que 10. Caso
ocorra ruptura o deslocamento de massa danificará as residências, colocando em risco a estabilidade estrutural
das edificações. A área tem probabilidade moderada para desenvolver novos deslizamentos, podendo ser
classificada como suscetibilidade média, e grau de risco R3.

a). b). c). d).

FUNDO DE
RESIDÊNCIA

Figura 6. Vista frontal e lateral do talude 6 (Os autores)

3.1.7 Talude 7

Em processo de erosão, o talude 7 composto por solo sedimentar (Figura 7a), apresenta condições
naturais de drenagem, com infiltração da água no solo e escoamento superficial. Possui vegetação arbórea e
rasteira em condição média de ocupação. Uma das árvores tombou recentemente, podendo ser uma evidência
de movimentação de massa (Figura 7b). O relevo é montanhoso, perfil da encosta foi identificado como linear-
linear e a superfície de deslizamento é solo-solo. Existem duas residências na base do talude. A residência
localizada à esquerda possui uma mureta de contenção (Figura 7c). Classificou-se em suscetibilidade média,
uma vez que a área é favorável a movimentos e grau de risco R3, devido às instabilidades observadas.
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a). b). c).

Figura 7. Vista frontal e lateral do talude 7 e fundo de residência (Os autores)

3.1.8 Talude 8

Da sua extensão total de 100 metros, apenas 33,5 julgou-se estar comprometida (Figura 8). O relevo é
montanhoso e a vegetação é composta por árvores, arbustos e vegetação rasteira em condições esparsas. A
Figura 8b mostra que a massa deslizada invade a pista, comprometendo o sistema de drenagem. A drenagem
no talude é natural e em ocorrências de chuvas, há escoamento superficial de água com lento arraste de
material. A superfície de deslizamento é solo-solo. Classificou-se a suscetibilidade de movimento alta e grau
de risco R3.

Figura 8. Vista frontal e lateral do talude 8 (Os autores)

Na tabela 2 encontra-se a classificação quanto ao grau de probabilidade, suscetibilidade, número de


elementos de risco, segundo a classificação do Ministério do Meio Ambiente (2007) e tipologia do movimento
de acordo com a classificação empregada em mecânica dos solos.

Tabela 2. Classificação dos taludes vistoriados


Talude Grau de Suscetibilidade Número de elementos Tipologia do
probabilidade de risco movimento
1 R3 Média 4,0 Escorregamento
2 R3 Média 7,0 Esgorregamento
3 R4 Alta 8,0 Corrida
4 R2 Média 18,0 a 22,0 Corrida
5 R4 Alta 20,0 Escorregamento
6 R3 Alta 8,0 Corrida
7 R3 Alta 6,0 Corrida
8 R3 Alta 22,0 Escorregamento

4 Conclusão
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Por apresentarem significativas evidências de instabilidades, tais como trincas, degraus de abatimento,
entre outros, os taludes 1, 2, 6, 7 e 8 foram classificados como grau de risco R3. No talude 4, observou-se
início de instabilidade, sendo assim categorizado como R2. Os taludes 3 e 5, por estarem em terrenos
favoráveis para ocorrência de deslizamento, apresentando indícios de movimentos, foram avaliados como grau
de risco R4.
Os taludes 3, 5, 6, 7 e 8 apresentam suscetibilidade alta à ocorrência de deslizamento, uma vez que se
situam em terrenos instáveis, sendo necessário desenvolver projetos de estabilidade. Os taludes 1, 2 e 4
apresentam suscetibilidade média, pois as áreas são propensas a movimentos de massa, mesmo que em menor
escala, sendo necessário adotar medidas de proteção, minimizando o risco.
No processo de construção dos taludes é mais coerente adotar medidas preventivas para que evite
eventos de rupturas e posteriores transtornos (gastos e riscos de vidas). Observou-se a falta de cuidados em
relação ao mecanismo de drenagem e estabilização. Os locais que mais apresentaram processos erosivos foram
por falta de vegetação adequada e correto afastamento da água dos taludes.
Sugere-se o emprego de uma alternativa de estabilização para os taludes 2, 5, 6 e 8, para o talude 3
recomenda-se uma técnica de contenção e o melhor direcionamento da tubulação pluvial da residência na crista
do talude.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 11682: Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro (2009).
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de Janeiro (1995)
Brasil. Agência EMBRAPA de informação tecnológica. Embrapa de Informação
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/bioma_caatinga/arvore/CONT000g5twggzh02wx5ok01ed
q5snbmwc3w.html>. Acesso em: 07 de janeiro 2019.
Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativas de População. 2010. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/patos-de-minas/panorama>. Acesso em: 10 de janeiro de 2019.
CARDOSO, Odair. Após deslizamento, Defesa Civil interdita pista na Avenida Fátima Porto. Em
<https://patosja.com.br/noticias/patos-de-minas/transito/apos-deslizamento-defesa-civil-interdita-pista-
na-avenida-fatima-porto>. Acesso em 23 de janeiro de 2019
Defesa Civil de Minas Gerais. Como agir em deslizamentos. Disponível em: <
http://www.defesacivil.mg.gov.br/images/documentos/Defesa%20Civil/manuais/Como-agir-em-
Deslizamentos.pdf>. Acesso em 10/01/2020
Ministério do Meio Ambiente. Vulnerabilidade ambiental: Desastres naturais ou fenômenos induzidos? Rozely
Ferreira dos Santos, organizadora. Brasília: MMA, 2007. 192 p.
Menezes, M. S. S. e Campos, L. E. P., Estabilização de taludes em solos residuais tropicais, in: 1º COBRAE
Rio de Janeiro, 1992, volume I, 101-110 pp.

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