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Metodologia para Determinação da Suscetibilidade a Corridas de

Detritos em Pequenas Bacias Hidráulicas


Milton Assis Kanji
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Dep. de Enga. Estruturas e Fundações, SP

Marcelo Fischer Gramani


Universidade de São Paulo, Aluno de Pós-Graduação da Escola Politécnica - EPUSP, SP

RESUMO: Após o estudo e análise das ocorrências documentadas de Corridas de Detritos no


Brasil, e de diversos casos ocorridos internacionalmente, foram identificados os principais fatores
intervenientes na geração e formação dessas corridas, assim como as suas importâncias relativas.
Desses fatores destacam-se a constituição geológica da bacia, inclinação e altura das encostas e dos
canais de drenagem, área da bacia, precipitação pluviométrica, vegetação e atividade antrópica. A
esses fatores foram atribuídos pesos relativos, bem como uma escala de atributos a cada fator, com
suas respectivas notas. A Vulnerabilidade de cada caso analisado pode ser obtida pela somatória dos
produtos das notas referentes a cada atributo por seu respectivo peso, resultando em uma nota
índice variando de 0 a 100. A metodologia proposta permite a avaliação da vulnerabilidade de áreas
sujeitas a corridas de detritos de modo simples, rápido e direto, constituindo-se em uma grande
vantagem quando se analisam pequenas bacias hidráulicas.

PALAVRAS-CHAVES: Corridas de Detritos, Suscetibilidade, Mapas de Risco, Bacias Hidráulicas,


Metodologia.

1 INTRODUÇÃO dos mais destrutivos processos naturais


associado à dinâmica externa, causando muitos
Recentes tragédias ocorridas em algumas prejuízos sociais, econômicos e impactos
regiões do mundo, como as da Itália, Filipinas, ambientais.
Japão, Hong Kong, Nepal, Porto Rico, No Brasil, há diversos casos relatados na
Tailândia, Hawai, Califórnia, Colômbia, Peru, literatura, descritos desde o século 19. Infanti
Venezuela, Chile, Espanha, México, El Jr. e Fornasari Filho (1998) apresentam um
Salvador, entre outras, envolveram rápidas trecho do diário de Martim Francisco Ribeiro de
transformações de escorregamentos em corridas Andrade, escrito em 1805: “..., com as grandes
de detritos, a partir de chuvas intensas e chuvas desabaram porções da serra, que vieram
prolongadas, causando conseqüências a entulhar o rio das Minas e o ribeirão de
catastróficas em termos de vidas humanas, Mandira, arrastando consigo enormes madeiras
propriedades e infraestrutura. Essas ocorrências com grandes prejuízos aos moradores...”. Trata-
motivaram uma série de estudos visando a se, provavelmente, da primeira descrição de
compreensão, caracterização e prevenção desses uma corrida de detritos em território nacional.
fenômenos. Um sumário dos casos nacionais e de alguns
As corridas de detritos (“debris flows”) se casos internacionais é apresentado em Gramani
destacam, pois são movimentos de massa e Kanji (2000) e Gramani (2001). Os casos
extremamente rápidos, capazes de transportar mais recentes de corridas de detritos no Brasil,
um grande volume de material num curto ocorridos em 1999/2000, são os da Via
espaço de tempo. Além disso, as velocidades Anchieta (km 42, Serra do Mar) e da Fazenda
atingidas por estes processos geralmente são Mato Quieto (Serra da Mantiqueira, nas
muito altas, variando comumente de 5-20m/s, proximidades da cidade de Lavrinhas, Vale do
transportando grandes blocos de rocha por Paraíba). De maneira geral estas corridas
longas distâncias. São consideradas como um ocorrem principalmente nas regiões serranas e
costeiras do território nacional, envolvendo as passíveis de remoção por chuvas de grande
Serras do Mar, Mantiqueira, Serra Geral e intensidade, inclinações críticas das encostas e
Maranguape (Gramani e Kanji 2001). dos canais de drenagem. Estes aspectos foram
Existem diversos tipos de métodos para a separados em geomorfológicos, geológicos,
estimativa do risco de acidentes envolvendo climáticos e atividades antrópicas, sendo
escorregamentos. Segundo Pisani (1998) para a apresentados a seguir.
construção efetiva de programas de redução de
acidentes naturais há necessidade de 4 tipos de 2.1 Fatores Geomorfológicos
informações: a) informações sobre os riscos; b)
comprovação destes riscos; c) vulnerabilidade e As corridas de detritos e lama são geralmente
d) propostas para eliminar ou mitigar os deflagradas em bacias restritas, de altas
desastres. Em termos de análise da declividades e de pequena dimensão (ou uma
vulnerabilidade de terrenos quanto à ocorrência seqüência de bacias vizinhas), sujeita a chuvas
de corridas de detritos não existe uma concentradas. Um grande número de corridas de
metodologia específica para a sua detritos ocorreu em bacias menores do que
determinação. Uma metodologia é proposta 5km2.
neste trabalho para avaliar a vulnerabilidade de Adicionalmente, se constata que bacias
pequenas bacias hidráulicas sujeitas à fechadas em anfiteatro propiciam menor tempo
ocorrência de corridas de detritos, baseada nos de concentração da água, favorecendo a geração
casos ocorridos no Brasil, de visitas técnicas a de corridas de detritos.
alguns destes casos e de casos internacionais O volume de material sólido gerado está
bem documentados. relacionado com a dimensão da bacia
hidrográfica, com as espessuras e tipos de solos
presentes nesta bacia e com a intensidade
2 FATORES ANALISADOS pluviométrica que atinge esta bacia. Portanto,
conhecendo-se o volume mobilizado e a
Nos estudos ambientais, bem como nos de precipitação durante o evento é possível
elaboração de cartografia geotécnica e análises correlacionar estes dados com a área das
de risco, se procura estabelecer diferentes graus diferentes bacias.
de vulnerabilidade à ocorrência de movimentos Declividades de encostas da ordem de 30°-
de massa. 45° são consideradas extremamente críticas na
A partir da coleta e do estudo dos diferentes geração de corridas. Valores mínimos
casos pesquisados, foi possível estabelecer estimados para a inclinação das encostas variam
alguns fatores intervenientes no processo. Estes de 20°-25°. Em Cubatão, por exemplo, a
fatores são considerados fundamentais para a maioria dos escorregamentos ocorreu no
caracterização das áreas e para compreender a intervalo de 32°-42° (Massad et al. 2000).
dinâmica do processo. Uma intensa discussão Casos excepcionais são relatados na literatura,
sobre as características das corridas de detritos na China e Japão (Takahashi 1991), com
no Brasil foi apresentada por Massad et al. corridas ocorrendo em inclinações de 10°-15°,
(1997, 1998, 2000), Cruz e Massad (1997), porém se observa que são mais fluidas e não
Kanji et al. (1997, 2000, 2001), Cruz et al. contêm muitos blocos de rocha.
(1999, 2000), Araújo Filho et al. (1998), A inclinação dos canais de drenagem
Znamensky (2001) e Macias et al. (1997). A também é considerada na análise, pois nesta
partir das características e dos parâmetros feição geomorfológica ocorrem também a
apresentados por aqueles autores, bem como da formação e o desenvolvimento das corridas de
literatura internacional, foi possível estabelecer massa. Valores da ordem de 15°-20° parecem
os critérios utilizados na análise aqui proposta. ser suficientes para a movimentação dos
Considera-se que a vulnerabilidade de uma materiais depositados no leito, somente com a
área ou região depende basicamente da elevação da lâmina d’água durante eventos
existência e da combinação dos seguintes chuvosos de grande intensidade.
aspectos: materiais soltos e inconsolidados
Medidas feitas nos córregos afetados por Dentre os casos de rochas vulcânicas, os
corridas de detritos têm mostrado uma boa “lahars” tendem mais à formação de corridas de
correlação entre a inclinação dos canais e a detritos que de corridas de lama, devido ao
deposição das partículas: quanto maior a conteúdo de material grosseiro existente nestes
inclinação do canal, maiores são as dimensões terrenos. Geralmente necessitam índices
dos blocos encontrados (Massad et al. 2000). pluviométricos de menor intensidade para
Verifica-se ainda que a partir de 15°-17° há serem deflagrados, o que indica sua alta
uma mudança considerável no comportamento suscetibilidade devido à sua matriz de cinza
da deposição dos materiais no leito dos vulcânica.
córregos. Os terrenos tectonicamente ativos (sismos,
As corridas de massa ocorrem para uma vulcanismo) tendem a apresentar maior
relação H/L (H=altura da encosta e L=distância freqüência nas ocorrências de grandes corridas
total percorrida) menor do que observado em de detritos (menor tempo de recorrência e maior
outros movimentos de massa (escorregamentos, magnitude). Isto ocorre pois, no caso de
quedas, tombamentos, rastejos), visto que as vulcanismo, há uma maior produção de
corridas percorrem grandes distâncias (L), material disponível para mobilização, e no caso
mesmo em áreas planas. Identificou-se um de sismos, introduz-se uma força atuante
limite superior entre a relação H/L das corridas adicional.
com o volume total envolvido (Kanji et al. Os depósitos geológicos que apresentam
1997, 2000) cuja reta é praticamente paralela à típicas feições de corridas de detritos indicam a
que representa a média dos pontos plotados para recorrência do fenômeno em muitas áreas.
escorregamentos. A Equação 1 define este Portanto, é necessário o reconhecimento destes
limite superior, estabelecido para as corridas de depósitos em trabalhos de campo (Ogura e
detritos. Gramani 2000, Znamensky e Gramani 2000).
As litologias e as estruturas geológicas
H controlam a qualidade do maciço rochoso e,
= 1,87 (V )−0,15 (1) portanto, afetam diretamente na ocorrência de
L
escorregamentos e corridas de detritos. Influem
onde V = volume de material transportado ainda no tamanho e na resistência das partículas
durante o evento (m3). transportadas durante o seu escoamento.

2.2 Fatores Geológicos 2.3 Fatores Climáticos

As corridas de detritos ocorrem em diversos A chuva é considerada o principal agente


ambientes geológicos. Não há um terreno preparador e deflagrador de corridas de detritos.
considerado mais suscetível, exceto as áreas Outros agentes também podem iniciar corridas,
vulcânicas (depósitos piroclásticos) que dentre eles degelo, avalanches de neve e
parecem ser mais sensíveis ao processo. rupturas de barragens naturais ou artificiais.
De maneira geral, há uma maior freqüência Quando ocorrem simultaneamente dois destes
das corridas de detritos em ambientes que processos, eventualmente com sismos ou
apresentam os seguintes constituintes: solos vulcanismo, os movimentos de massa possuem
residuais espessos, depósitos coluvionares e de maiores magnitudes.
tálus, aluviões e terraços aluvionares e As chuvas de grande intensidade e de curta
depósitos vulcanoclásticos. À exceção dos duração, dentro de um período chuvoso, são
depósitos vulcânicos, os demais são favorecidos responsáveis pela deflagração das corridas de
em áreas de clima tropical, devido ao mais detritos. Valores limites da ordem de 60-
intenso intemperismo. A condição fundamental 70mm/h têm sido responsáveis por grandes
é a disponibilidade de material solto, movimentações de massa, com a ocorrência de
inconsolidado, passível de mobilização por escorregamentos generalizados e corridas de
agentes deflagradores. detritos.
Os critérios adotados por diferentes 3 ESTUDO DA VULNERABILIDADE DE
pesquisadores são geralmente apresentados de TERRENOS
formas distintas, dificultando a comparação
direta dos diversos acidentes relatados. Os fatores que foram considerados
Com objetivo de comparar os dados de intervenientes no processo, seus pesos relativos
chuvas entre os diferentes critérios se e as respectivas classes definidas neste trabalho
desenvolveu um gráfico de chuva acumulada estão apresentados na Tabela 1.
(Pac, em mm) em função do tempo (t, em Os fatores foram distribuídos, em primeira
horas), que define um limite crítico acima do aproximação, em 4 classes distintas, atribuindo
qual ocorrem escorregamentos e corridas de a cada classe valores numéricos (atributos) com
detritos (Kanji et al. 1997, 2000). Tal gráfico base nos diversos casos analisados da
possibilita o estabelecimento de um novo bibliografia.
critério para definir a intensidade de chuva que A determinação dos pesos (P) para cada fator
deflagra movimentos de massa, representada interveniente foi estabelecida definindo-se a
por uma curva, definida pela equação 2. ordem de importância de cada fator, após uma
análise e comparação dos diversos casos. A
Pac = 22,4 (t )0,41 (2) nota parcial (NP) de cada atributo foi dividida
em intervalos regulares, admitindo o valor 10
para o caso mais crítico e valor 0 para o caso
onde Pac = precipitação acumulada (mm) e t = menos crítico.
tempo (horas) Considera-se que a chuva (R), dentre os
De forma geral, quanto mais acima da curva, demais fatores, é o principal agente envolvido
maior é a probabilidade de ocorrência de no processo, tendo, portanto, um peso maior na
corridas de detritos e mais catastróficos serão os análise. No caso de corridas de detritos,
seus efeitos. deflagradas por picos de chuvas dentro de um
evento pluviométrico, as medidas são expressas
2.4 Atividades Antrópicas em mm/h.
A inclinação das encostas (S) corresponde a
A atividade antrópica é um fator agravante que outro fator de grande importância, pois propicia
contribui com profundas modificações no meio escorregamentos (por vezes generalizados),
ambiente. Estas ações normalmente interferem contribuindo assim com o aporte de material
no equilíbrio das áreas, por vezes acelerando os para os canais, alimentando as corridas de
processos da dinâmica superficial. Entre as detritos durante sua trajetória.
causas antrópicas que aumentam a freqüência e A declividade dos canais (D) também é
a intensidade dos movimentos de massa, o considerada outro importante fator por ser a
desmatamento tem papel de destaque. superfície na qual as corridas de massa traçam a
A erosão, a saturação do solo, má drenagem sua trajetória.
das águas (pluviais e servidas), infiltrações no A área da bacia (A) é responsável pela
terreno, cortes e escavações não seguindo captação, distribuição, amortecimento e
critérios técnicos, expondo a superfície do solo concentração das águas pluviais, interferindo
aos agentes da dinâmica externa, aterros e diretamente na geração e na dinâmica das
sobrecargas, são as principais alterações feitas corridas de massa.
na superfície das áreas. Vibrações induzidas A altura das encostas (H), além de influir na
pelo uso de explosivos, também podem iniciar geração de escorregamentos, também é
processo de mobilização de massa. Construção considerada como fonte de energia para o
de rodovias, pedreiras e a ocupação desenvolvimento do fluxo. Estes quatro fatores
desordenada de encostas favorecem a acima apresentados (S, D, A, e H) são
ocorrência dos movimentos (Vargas 1966, considerados como condicionantes
Fernandes e Amaral 1996, Augusto Filho 1995, geomorfológicas intervenientes na
Costa Nunes et al. 1990, Nakazawa e Cerri vulnerabilidade das áreas.
1990, Cerri e Almeida 1990).
Tabela 1. Fatores, pesos (P), classes, atributos e notas parciais (NP) utilizados para a avaliação da
vulnerabilidade de uma área com relação a corridas de detritos.
PESO NOTA PARCIAL
FATORES CLASSE ATRIBUTOS
(P) (NP)
R1 >80 10
Chuva (R) R2 60-80 6,6
3
(mm/h) R3 30-60 3,3
R4 <30 0
S1 >45 10
Inclinação da Encosta (S) S2 45-30 6,6
2,5
(°) S3 15-30 3,3
S4 <15 0
D1 >25 10
Declividade do canal (D) D2 15-25 6,6
0,5
(°) D3 10-15 3,3
D4 <10 0
A1 <5 10
Área da Bacia (A) A2 5-10 6,6
1
(km2) A3 10-20 3,3
A4 >20 0
H1 >750 10
Altura da Encosta (H) H2 500-750 6,6
1
(m) H3 200-500 3,3
H4 <200 0
V1 90-100 10
Uso e ocupação/vegetação (V)
V2 50-90 6,6
(% da área ocupada ou 0,5
V3 30-50 3,3
desmatada)
V4 <30 0
G1 G1 10
G2 G2 6,6
Aspectos geológicos (G) 1,5
G3 G3 3,3
G4 G4 0

Os aspectos geológicos (G), incluem a


determinação do tipo de rocha e solo, suas NF = Σ NP × P (3)
propriedades geotécnicas e estruturais, o
mapeamento de depósitos que indiquem a Para o estabelecimento de correlações entre a
recorrência do fenômeno na respectiva área. nota final e a vulnerabilidade, foram feitas
A vegetação e o uso e ocupação do solo (V) algumas simulações, conforme apresentado na
correspondem à porcentagem da área ocupada Tabela 2.
por moradias ou outras formas de ocupação, ou Em função dos históricos de casos analisados
por outra forma de exploração das áreas, e das simulações feitas, estabeleceram-se os
expondo o solo aos processos da dinâmica graus de vulnerabilidade do terreno a corridas
externa. de detritos, a partir da nota final obtida,
A nota final (NF), variando de 0 a 100, é conforme consta na Tabela 3.
obtida por meio da somatória das notas parciais Apesar de serem hipotéticas, estas situações
(NP) de cada classe multiplicadas pelo seu são aplicáveis a muitos casos relatados na
respectivo peso (P), segundo a Equação 3. literatura.
Tabela 2. Situações hipotéticas
SITUAÇÃO HIPOTÉTICA VALORES NOTAS
Condição muito crítica R1/S1/D1/A1/H1/G1/V1 100
Condição intermediária – crítica R2/S2/D2/A2/H2/G2/V2 66
Chuva e inclinação da encosta críticas R1/S1/D4/A4/H4/G4/V4 55
Chuva, inclinação da encosta e altura intermediárias R3/S3/D4/A1/H3/G1/V1 51
Condição intermediária – não crítica R3/S3/D3/A3/H3/G3/V3 33
Condição não crítica R4/S4/D4/A4/H4/G4/V4 0

Tabela 3. Intervalos propostos área. No caso de ocorrerem chuvas de igual


Intervalos Designações intensidade às registradas no Córrego das
80 – 100 → Muito alta Pedras (R=R2), a nota final seria 54,55, ou
60 – 80 → Alta seja, vulnerabilidade média.
40 – 60 → Média 4. Cidades portuárias do Estado de Vargas
20 – 40 → Baixa (Venezuela), onde ocorreram muitos
0 – 20 → Muito baixa escorregamentos e muitas corridas de
detritos de conseqüências catastróficas:
R1=80mm/h; S1=>45°; D2=20°; A2=5-
4 EXEMPLOS DE CASOS 10km2; H1=>800m; V=V3 e G=G1,
obtendo-se a nota final 91,55. A
No intuito de testar a sensibilidade dos vulnerabilidade é muito alta, justificando a
intervalos propostos, o grau de vulnerabilidade sua grande magnitude.
foi calculado para algumas situações reais e 5. Bacias do Quitite e Papagaio, Serra do Mar,
com características físicas distintas, como Rio de Janeiro (RJ), onde ocorreram
segue. corridas de detritos: R2=70mm/h; S2=35°;
1. Bacia do Córrego das Pedras, Serra do Mar, D2=15°; A1=2,13km2; H2=700m;
Cubatão (SP), onde ocorreram V4=<30%; G=G1, tem-se que a nota final é
escorregamentos e corrida de detritos: 71,2, correspondendo a vulnerabilidade alta
R2=60mm/h; S2=35°; D2-15°; a muito alta.
2
A1=2,64km ; H2=650m; V4=<30% e G-
G1, tem-se que a nota final é 71,2,
confirmando que a vulnerabilidade na área 5 CONCLUSÕES
é, de fato, alta a muito alta.
2. Bacia dos Rios Paiol e Jacu, Serra da O presente trabalho procura contribuir com os
Mantiqueira, Lavrinhas (SP), onde também estudos que visam a caracterização das corridas
ocorreram escorregamentos e corridas de de detritos no Brasil, bem como à sua previsão
detritos (considerado apenas os atributos e mitigação nas regiões serranas. Uma vez
referentes ao Rio Paiol): R2=65mm/h; entendidos os fatores intervenientes na
S2=38°; D3=15°; A2=12km2; H2-720m; deflagração das corridas e suas importâncias
V4<30% e G=G1, obtendo-se nota final de relativas, a análise dos diversos casos permitiu a
66,15. Conclui-se que a vulnerabilidade na elaboração de uma metodologia para determinar
área é alta, porém algo menor que a do a vulnerabilidade de terrenos quanto à
Córrego das Pedras. ocorrência de corridas de detritos. A Tabela 1,
3. Bacia Adjacente ao Córrego das Pedras, anteriormente apresentada, revelou-se
onde não ocorreu corrida de detritos: representativa para uma série de casos.
Contudo, considera-se que estudos mais
R3=40mm/h; S3=30°; D2=15°; A1=1km2;
detalhados das bacias serranas que sofreram
H3=500m; V4=<30%, G=G2, tem-se que a
corridas de massa e a obtenção de novos dados
nota final é 44,65. A vulnerabilidade neste
auxiliarão nos ajustes dos intervalos e dos pesos
caso é média a baixa, como verificado na
propostos neste trabalho. Não se incluíram os
fatores relacionados à sismicidade, vulcanismo Cartografia Geotécnica, 3, ABGE, 12p (CD-
e degelo, uma vez que no Brasil estes fatores Rom).
são inexistentes, ou de muito baixa intensidade. Cruz, P.T.; Massad, F.; Kanji, M.A. e Araújo
Contudo, a metodologia admite a inclusão Filho, H.A. (2000) Debris Flows in Serra do
destes fatores, a partir de ajustes feitos nos Mar, Cubatão, Brazil: Control Works and
pesos de cada classe. Design Parameters, International Workshop
on the Debris Flow Disaster of Dec. 1999 in
Venezuela, Caracas, JIFI/2000 (CD-Rom).
AGRADECIMENTOS Fernandes, N.F. e Amaral, C.P. (1996)
Movimentos de Massa: uma abordagem
Os autores gostariam de registrar os seus Geológico-Geomorfológica, Guerra, A.J.T. e
agradecimentos à Escola Politécnica da da Cunha, B.S. (eds.) Geomorfologia e Meio
Universidade de São Paulo (EPUSP), Ambiente, Bertrand Brasil RJ/BR, Cap. 3,
Departamento de Engenharia de Estruturas e p.123-194.
Fundações, bem como à Petrobrás S.A. Gramani, M.F. e Kanji, M.A. (2000) Debris
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