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Artigo de revisão

Avaliação de riscos em deslizamentos de terra com foco no papel da água:

exemplos de regiões modelo (estado do Rio de Janeiro e Hong Kong)

Rita LealSousa1· Eurípedes Vargas Jr.2· Hélder I. Chaminé3,4· Luís Ribeiro e Sousa5·Karim Karam6

Recebido: 30 de novembro de 2020 / Aceito: 28 de janeiro de 2021 / Publicado online: 6 de março de 2021
© O(s) Autor(es) 2021 ABRIR

Abstrato
Os deslizamentos de terra são um dos perigos naturais mais vitais da Terra. Para satisfazer a procura de protecção contra
deslizamentos de terra, é necessário avaliar e gerir sistematicamente os perigos e riscos de deslizamentos. Os mecanismos de
deslizamento relacionados à hidrologia são analisados com foco nos principais riscos, e metodologias formais de avaliação de
risco são apresentadas no artigo. São discutidas questões relacionadas com a avaliação de riscos e são descritas diferentes etapas.
A gestão de acidentes em encostas é discutida, com especial ênfase para Hong Kong e Rio de Janeiro no Brasil. Hong Kong é uma
região da China com grande densidade populacional e muito montanhosa. Há um histórico de acidentes trágicos nas encostas. O
território tem tradição de alto padrão na prática de engenharia de taludes. Foi estabelecida no território a implantação de um
eficiente sistema de segurança desenvolvido pelo Gabinete de Engenharia Geotécnica. Além disso, são discutidos aspectos
específicos da instabilidade de encostas no estado do Rio de Janeiro e na cidade do Rio de Janeiro, com foco em casos ocorridos na
região serrana do Estado. O megadesastre ocorrido em 2011, com elevado número de mortes e perdas econômicas significativas, é
estudado com incidência em deslizamentos individuais.

Palavras-chaveRiscos naturais · Risco hidrológico · Águas subterrâneas · Deslizamentos de terra · Terremoto

1. Introdução ações. O dimensionamento de taludes envolve a recolha de

Os deslizamentos de terra são um dos riscos geotécnicos mais
importantes do planeta Terra. Os deslizamentos de terra são
difíceis de prever porque o seu início depende de muitos factores e
da interacção entre estes factores. Para satisfazer a procura social
de protecção contra deslizamentos de terra, é necessário avaliar e
gerir sistematicamente os perigos e riscos de deslizamentos. Isso
pode ser feito usando princípios de tomada de decisão sob
incerteza (por exemplo, [33,82].
Taludes naturais ou construídos são definidos como superfícies
inclinadas sobre maciços rochosos, terrosos ou mistos, originados
de processos geológicos, geomorfológicos e antrópicos.
informação geológica e geotécnica, a avaliação das
propriedades de resistência das formações e
descontinuidades, e da presença de água com ênfase no
regime pluviométrico (ex., [2,9,17,33,54,70,74,76,81,92,96].
A presença de água é um dos principais desencadeadores de
deslizamentos de terra ou estabilidade rochosa. A resposta hidrológica
de uma encosta às chuvas depende de um grande número de fatores,
tanto na escala local quanto na escala da bacia hidrográfica [54]. De
facto, a percolação de água nas descontinuidades induz um aumento de
pressão nas superfícies rochosas adjacentes e promove a diminuição da
resistência ao cisalhamento destas superfícies [41,92]. A resposta
hidrológica de uma encosta à chuva é uma

* Hélder I. Chaminé, hic@isep.ipp.pt |1Departamento de Engenharia Civil, Ambiental e Oceânica, Stevens Institute of Technology, Hoboken,
NJ, EUA.2Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.3Laboratório de Cartografia
e Geologia Aplicada (LABCARGA), Departamento de Engenharia Geotécnica, Escola Superior de Engenharia (ISEP), Politécnico do Porto, Porto,
Portugal.4Centro GeoBioTec (Grupo de Investigação em Georrecursos, Geotecnia e Geomateriais), Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal.5
Centro CONSTRUCT, Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Porto, Portugal.6Sarooj
Company, Mascate, Omã.

SN Ciências Aplicadas (2021) 3:423 | https://doi.org/10.1007/s42452-021-04300-5

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Artigo de revisão SN Ciências Aplicadas (2021) 3:423|https://doi.org/10.1007/s42452-021-04300-5
fenômeno complexo. À medida que chove numa encosta, parte da
água incidente irá infiltrar-se na encosta, o que depende das
características da precipitação e das propriedades hidráulicas do
solo, maciço rochoso ou formações de solo. Como o solo próximo à
superfície é geralmente insaturado, o processo de infiltração
envolve fluxo também através da zona não saturada.12,54].
A presença de água subterrânea em encostas rochosas pode ter um
efeito prejudicial por diversas razões, entre outras (por exemplo, [4,10,
17,41,69,96], como segue: (1) a pressão da água reduz a estabilidade dos
taludes, diminuindo a resistência ao cisalhamento das superfícies de
falha potencial [48], (2) mudanças no conteúdo de algumas formações
rochosas podem aumentar o intemperismo e consequentemente
diminuir a resistência ao cisalhamento [42,68], (3) a erosão da rocha
intemperizada pode resultar em instabilidade local pelas águas
superficiais [72] e (4) em climas frios, o congelamento das águas
subterrâneas pode causar encravamentos devido às mudanças de
temperatura no volume do gelo e também pode bloquear os caminhos
de drenagem [96].
As águas subterrâneas nas encostas rochosas são
frequentemente a principal causa de instabilidade; portanto, em
geral, a redução das pressões da água é favorável à estabilidade do
talude através da realização de obras de drenagem. Os métodos
usuais de redução da pressão da água incluem diversas medidas,
como limitar a infiltração superficial de chuvas, fazer furos de
drenagem horizontais ou executar galerias de drenagem na ponta
da encosta [7,96]. Portanto, a decisão a tomar depende da
intensidade das chuvas, da permeabilidade do terreno e claro das
dimensões do talude [76].
O dimensionamento de um talude requer uma recolha
sistemática de dados geológicos, geotécnicos e hidráulicos,
bem como a avaliação das propriedades de resistência, a
definição da rede de descontinuidades e a presença de água [
15,17,41]. Para movimentos de encostas, existem diversas
classificações (por exemplo, [12,65]).
Certas regiões podem ser afetadas por vários riscos geológicos e
desastres naturais que incluem terremotos, erupções vulcânicas e
eventos meteorológicos extremos. Os terremotos, especialmente
aqueles com forte movimento do solo, podem desencadear
milhares de deslizamentos de terra em regiões montanhosas com
ambientes geomórficos desfavoráveis. O terremoto de Wenchuan
em 2008, que ocorreu na China, é um exemplo disso. Mais de 87 mil
vítimas e milhões de pessoas deslocadas foram relatadas numa
área de cerca de 850 km2
afetados pelo terremoto. Os principais deslizamentos foram
distribuídos ao longo da falha de Longmenshan. Entre os
deslizamentos de terra mais significativos, o deslizamento de
Daguangbao foi o maior em volume [44,51].
A avaliação e gestão sistemática de riscos em taludes é
essencial para garantir a segurança de tais sistemas. A
avaliação de risco começa com a seleção do local. Durante
as etapas de projeto e planejamento é necessário avaliar os
riscos associados à geologia e obter informações sobre
Volume:.(1234567890)
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site que fornece as informações necessárias para a avaliação da
avaliação de risco. A etapa relativa à identificação e descrição
das ameaças será a próxima etapa, a fim de avaliar os riscos e a
incorporação formal das incertezas na questão do talude. Os
modelos de identificação de riscos, em particular no que diz
respeito aos mecanismos de instabilidade, podem ser
determinísticos e probabilísticos [1,54]. A identificação e
descrição de acidentes em encostas são muito importantes,
com a coleta de informações sobre movimentos e geometria
dos acidentes. Para análise do risco é processado o
estabelecimento de bancos de dados com acidentes e sua
estruturação visando a aplicação de técnicas de Data Mining
(MD) e a descrição direta da instabilidade de taludes. Especial
foco é dado a diversas técnicas de MD, com especial ênfase em
Redes Neuronais e Bayesianas (BN). A utilização das técnicas
probabilísticas do BN é relevante para o gerenciamento do
risco, sendo recomendadas análises de sensibilidade. A
aplicação de uma BN a um problema de decisão em
instabilidade de taludes está bem ilustrada em Einstein e Sousa
[33]. A avaliação e gestão de riscos para encostas exigem como
passo inicial a identificação das possíveis ameaças que podem
levar a consequências prejudiciais. As principais ameaças estão
geralmente associadas à precipitação, infiltração subsequente
e fluxo de águas subterrâneas [83, 84]. A ocorrência de
terremotos pode ser muito relevante como fator
desencadeante [44].
A prática de gestão de riscos é uma atividade relevante em
determinadas regiões, como no território de Hong Kong e na
cidade do Rio de Janeiro. Honk Kong é uma região com grande
densidade populacional e muito montanhosa. Portanto, há um
histórico de acidentes trágicos nas encostas. O território ganhou
tradição de alto padrão na prática de engenharia de taludes. Foi
estabelecida no território a implantação de um eficiente sistema de
segurança desenvolvido pelo Gabinete de Engenharia Geotécnica
(GEO). Em cada ano, o GEO reportou centenas de instabilidades de
taludes, cujos dados são armazenados numa base de dados, sendo
a grande maioria relativamente pequenas, embora ocorram
deslizamentos maiores. Introduziu um programa de longo prazo
para analisar sistematicamente as inclinações das obras
governamentais e realizar uma análise de segurança das obras
privadas. Programas de manutenção foram estabelecidos pelos
diversos setores governamentais. A definição de estratégias de
redução de riscos é uma das atividades mais relevantes que estão
sendo desenvolvidas para evitar ou eliminar determinados
acidentes e inclui estabilização, mitigação; isto é uma redução da
vulnerabilidade e o estabelecimento de sistemas de alerta (por
exemplo, [20,47,67,83, 84]. São feitas análises detalhadas de riscos
de forma consistente no território, bem como o estabelecimento de
diretrizes para o estudo de acidentes.
A cidade do Rio de Janeiro é outra situação importante
em termos de riscos hidrológicos. A ocupação de morros e
encostas ao longo de sua história foi promovida. A
ocorrência de acidentes geotécnicos graves,
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particularmente de blocos em queda, deriva das suas
características geográficas e morfológicas únicas e complexas.
Os estudos realizados por meio de mapeamento de superfície
mostraram alta suscetibilidade a quedas de rochas. Por vezes,
foram observados efeitos de variação de temperatura durante
períodos secos, e modelos interpretativos originados em ações
térmicas foram propostos [94]. Como consequência, foram
realizadas diversas obras de contenção. Foi criado um Instituto,
hoje denominado Fundação GeoRio. Sua criação ocorreu após
fortes chuvas ocorridas na cidade em 1966. Desde então, o
corpo técnico formado por engenheiros e geólogos realiza
levantamentos e define as obras necessárias para garantir a
segurança da população. A Geo-Rio implementou o sistema Rio
Alert, que mantém estações pluviométricas espalhadas pela
cidade para monitorar as chuvas. Um radar está localizado em
Sumaré e suas imagens são atualizadas a cada dois minutos e
permitem observar a localização, deslocamento e intensidade
da precipitação.
É apresentada uma situação de caso no Estado do Rio de
Janeiro, onde ocorreram desastres naturais na região serrana
do Estado. São discutidos aspectos específicos da instabilidade
de encostas, com foco em casos ocorridos na região serrana do
Estado. Um megadesastre ocorrido em 2011, com elevado
número de mortes e perdas económicas significativas, é
estudado com incidência em deslizamentos individuais. As
fortes chuvas que causaram inundações e deslizamentos de
terra em sete municípios foram consideradas a maior
catástrofe climática e geotécnica do Brasil, identificada pelas
Nações Unidas como o oitavo maior deslizamento de terra do
mundo nos últimos 100 anos [13,83,84].
Figura 1Fatores que afetam a
resposta hidrológica das encostas à
chuva [54]
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Artigo de revisão
Neste estudo, os mecanismos de deslizamento relacionados à
hidrologia são analisados com foco nos principais riscos, e são
apresentadas metodologias formais de avaliação de riscos. Na
seita.2, também são destacados conceitos relativos à problemática
da gestão de riscos em taludes. A experiência existente em Hong
Kong é relatada, bem como na cidade do Rio de Janeiro, e
enfatizada na Seção.3. Aspectos específicos da instabilidade de
encostas ocorrida no Estado do Rio de Janeiro com incidência na
região serrana são discutidos na Seção.4. As considerações finais
são finalmente apresentadas.
2 Risco hidrológico e avaliação de risco
2.1 Conceitos de risco hidrológico
O comportamento hidrológico de uma encosta é muito complexo,
particularmente em relação à precipitação, e depende de um grande
número de fatores locais e da área de captação (por exemplo, [12,54,76–
78, 96]. Alguns desses fatores são ilustrados na Fig.1. A água é um dos
principais desencadeadores de deslizamentos de terra. Diferentes
efeitos que a água tem na estabilidade de taludes são descritos em
detalhes nas publicações de Wyllie e Mah [96] e Bronnimann [12].
Quando chove numa encosta, parte da água infiltrada irá
infiltrar-se na encosta. A distribuição desta água dependerá das
características das chuvas e das propriedades hidráulicas do
solo. O leito rochoso é frequentemente considerado uma
superfície impermeável abaixo do solo. No entanto, diferentes
estudos mostraram que a permeabilidade do leito rochoso
pode controlar o regime hidrológico da bacia hidrográfica [12,
Vol.:(0123456789)
Artigo de revisão SN Ciências Aplicadas (2021) 3:423|https://doi.org/10.1007/s42452-021-04300-5
58,78]. O solo próximo à superfície do solo geralmente é
insaturado e consequentemente o processo de infiltração está
relacionado ao fluxo através de meios não saturados. O solo
não saturado apresenta grandes variações especiais e
temporais com mudanças no teor de umidade [54]. Em solos
saturados, o teor de umidade é igual à porosidade do solo. A
condutividade hidráulica do solo é assumida como uma função
da profundidade.
Os deslizamentos de terra pertencem aos perigos naturais mais
frequentes em todo o mundo. Características geomorfológicas
importantes de um deslizamento de terra estão indicadas na Fig.2. Os
deslizamentos de terra podem ser riscos naturais secundários
desencadeados por terremotos, erupções vulcânicas em combinação
com terremotos ou inundações. Uma situação catastrófica ocorreu
durante o terremoto de Wenchuan na China [44].
Vários modelos foram desenvolvidos para estimar a
taxa de infiltração de uma dimensão para três
dimensões usando diferencial finito e elementos finitos.
Figura 2Características importantes de um
deslizamento de terra [22]
Figura 3Modelos hidrológicos para
encostas
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modelos [37,54]. A avaliação do risco de deslizamentos de terra depende
de modelagem. Os modelos incluem soluções para análise hidrológica e
de estabilidade. Figura3mostra possíveis modos usados em hidrologia.
Possíveis modelos para análise de estabilidade podem ser
documentados em Karam [54]. A questão da incerteza do modelo é
muito relevante para ambos os tipos de análise (por exemplo, [31,33,62].
Os modelos hidrológicos são modelos para o gatilho, ou seja, a
precipitação, bem como modelos para descrever o que acontece quando
a água entra no solo. Os modelos de precipitação compreendem
modelos de caracterização para caracterização de uma determinada
tempestade e modelos para previsão da ocorrência de tempestades [54].
O fluxo de água nos maciços rochosos ocorre principalmente ao longo
das descontinuidades. O escoamento através de maciços rochosos, a
nível macroscópico, pode ser considerado seguindo um modelo
contínuo ou descontínuo, no qual o escoamento laminar pode ser
considerado (por exemplo, [10,69,96].
SN Ciências Aplicadas (2021) 3:423|https://doi.org/10.1007/s42452-021-04300-5 Artigo de revisão

2.2 Avaliação de risco onde R é o risco, P[T] é o perigo, definido como a probabilidade de que
uma determinada ameaça ocorra dentro de um determinado período de
O risco pode ser expresso de várias maneiras. Assim, o risco pode ser tempo, ∑euP[Ceu|T] é a vulnerabilidade, definida como a probabilidade
expresso como [33,54,55,85]: condicional de que as consequências Ceuocorrer dadas as ameaças Ceu

∑[] () são consequências que podem incluir, por exemplo

=P[T] PCeu|Você Ceu (1) danos econômicos simples, bem como aqueles que afetam vidas
eu
humanas, como ferimentos e mortes, e u(Ceu) é a utilidade das
consequências Ceu, definida como uma função que descreve as
preferências relativas de um tomador de decisão entre atributos.
As etapas ou níveis (Tabela1) na abordagem analítica de
tabela 1Abordagens de diferentes níveis (ver Fig.4) decisão são descritos na Fig.4.
Descrição O nível L1 está relacionado à coleta de informações. O início da
instabilidade de taludes é complexo e depende de um grande
Avaliar a natureza do estado (L1)
número de fatores e da interação entre eles (Fig.1). A resistência de
Identifique e descreva a ameaça (L2) um maciço rochoso é afetada pela resistência da rocha e pela
Determine as probabilidades e combine com a ameaça para determinar existência e persistência de fraturas e conjuntos de juntas. Além
perigos (L3)
disso, a percolação da água tem efeitos importantes na estabilidade
Avaliação de risco (L4)
e os regimes de fluxo subterrâneo podem ser complexos. Além
Gestão de riscos (Decisões) (L5)
disso, eventos naturais, como chuvas e terremotos, e fatores
Modelo de informação (L6)
provocados pelo homem, como explosões,

Figura 4Abordagem analítica de decisão para avaliação e gerenciamento de riscos de ameaças naturais (adaptado de [29]), consulte a tabela1

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Artigo de revisão SN Ciências Aplicadas (2021) 3:423|https://doi.org/10.1007/s42452-021-04300-5
podem servir como gatilhos para instabilidades de taludes [52,55]. A
coleta de informações sobre os parâmetros que afetam a estabilidade
dos taludes, o que significa a caracterização do local, geralmente é feita
através de esquemas de exploração [91]. Normalmente, as informações
podem compreender técnicas tradicionais, como mapas, fotografias,
registros de sondagens, dados topográficos, dados meteorológicos e
observações visuais.8,55,91].
Para o nível L2, existem várias técnicas para avaliar a estabilidade de
taludes que variam em complexidade, desde modelos simples a
modelos estatísticos baseados em dados históricos, até modelos
mecânicos mais complexos que tentam representar a realidade [54]. Em
maciços rochosos, um modo típico de ruptura de taludes envolve um
bloco de material deslizando em dois ou três planos de descontinuidade,
conhecidos como cunhas de rocha. A análise de estabilidade de cunhas
em taludes rochosos envolve a resolução de forças no espaço 2D e 3D.
Os métodos utilizados incluem diagramas de geologia estrutural
(particularmente, técnica de projeção estereográfica), gráficos de
engenharia e análise vetorial (por exemplo, [39,49,64,65,95,96] e
referências nele contidas).
Várias categorizações de incertezas foram propostas (Nível L3)
ao longo dos anos e foram discutidas no contexto da avaliação de
risco de estabilidade de taludes (por exemplo, [30, 31,54,61,85]. A
integração formal de incertezas no problema de estabilidade de
taludes resulta em probabilidades de instabilidades ou perigos de
taludes. Estas podem variar entre análises de confiabilidade de
primeira e segunda ordem (por exemplo, [24,43], até análises
probabilísticas de distribuição completa baseadas em técnicas
numéricas (por exemplo, [40,54,66,85,93] e suas referências).
O risco é obtido como combinação do perigo quantificado
com a quantificação das consequências condicionadas ao
perigo. Para o nível L4 de avaliação de riscos, vale a pena notar
que um perigo específico pode ter consequências diferentes. A
quantificação das consequências requer a identificação das
consequências e a associação a elas de uma expressão de
perda. Esta expressão geralmente está na forma de uma
função de utilidade [5], que é uma transformação adimensional
que descreve as preferências relativas do tomador de decisão
em relação a diferentes resultados, bem como a atitude do
tomador de decisão em relação ao risco, ou seja, neutro ao
risco versus avesso ao risco [34,50,55,59].
O nível L5 está relacionado às decisões. As decisões no problema
da instabilidade de taludes dizem respeito a medidas que podem
ser tomadas para mitigar o risco. Essas ações podem variar desde
contramedidas de construção até procedimentos administrativos.
As ações típicas incluem (1) contramedidas passivas que incluem
galerias e redes; (2) contramedidas ativas, incluindo tirantes,
âncoras, amarrações e estruturas de contenção; e (3) sistemas de
alerta, que mitigam os riscos reduzindo as consequências. Os
sistemas de alerta consistem em dispositivos que capturam sinais
relevantes, modelos para relacionar o sinal a ameaças potenciais,
pessoas e procedimentos que interpretam os resultados
modelados, avaliam consequências e emitem avisos. Os sistemas
de alerta incluem os seguintes componentes:
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sistemas de monitoramento com aquisição de dados que rastreiam
ameaças como instabilidade de taludes; sistemas de comunicação
que transmitem continuamente medições para especialistas;
modelos que prevêem a ameaça a curto e longo prazo; sistemas de
alarme que transmitem o(s) sinal(es) de alerta às partes
potencialmente afetadas de forma eficiente e eficaz quando um
limite de alarme predefinido é excedido; e ações específicas
(procedimentos) que são implementadas durante o aviso, bem
como aquelas após o aviso [55,80].
O último nível L6 envolve a coleta de informações adicionais.
Isto envolve atualizar as probabilidades anteriores para resultar
em probabilidades posteriores que reflitam as novas
informações. Isso geralmente é feito usando atualização
bayesiana [85]. É possível e muitas vezes desejável verificar se
vale a pena coletar informações adicionais através da
modelagem de informações antes de sair e obter as
informações. Isto é feito através do processo de exploração
pré-posterior ou virtual. Este processo foi aplicado no contexto
do planejamento da exploração de túneis em Karam et al. [56,
57], e para deslizamentos de terra em Einstein et al. [32].
O gerenciamento de riscos é fundamental, e foram mostradas
possíveis ações de gerenciamento em relação a nenhuma ação,
ações ativas e passivas, além de considerar sistemas de alerta que
podem ser considerados como uma espécie de contramedida
passiva [33]. Possíveis ações de gerenciamento são mostradas em
uma árvore de decisão representada na Fig.5.
As contramedidas reduzem o risco, mas acrescentam custos. As
contramedidas passivas reduzem a vulnerabilidade, resultando
num risco reduzido R', onde:
∑[] ()()
�=P[T]× P�Ceu|Tvocê Ceu+ você Cnão
(2)
eu
onde P'[Ceu|T] é a vulnerabilidade reduzida e u(Cnão) é
a utilidade associada ao custo da contramedida
passiva.
As contramedidas ativas reduzem a vulnerabilidade, resultando
num risco reduzido R', onde:
∑[] ( )()
�=P�[T]P�Ceu|T ×você Ceu+ você Cagir (3)
eu
onde P'[Ceu|T] é a probabilidade reduzida de ameaça e
você(Cagir) é a utilidade associada ao custo da
contramedida ativa.
A análise de risco pode ser de dois tipos, qualitativa e
quantitativa (por exemplo, [16,65,83,84]. A análise qualitativa é
mais rápida e associa cada evento à análise de um índice
qualitativo, tanto para a frequência como para o respetivo
dano, sendo possível representar o risco como uma
combinação de classes de frequência e classes de dano. Uma
matriz de riscos permite, portanto, estabelecer os critérios de
aceitabilidade dos riscos e, desta forma, determinar os eventos
críticos, não críticos ou aqueles sobre os quais é necessário
realizar avaliações mais exaustivas. Diz-se que a análise de risco
SN Ciências Aplicadas (2021) 3:423|https://doi.org/10.1007/s42452-021-04300-5
Figura 5Instabilidade da encosta da
árvore de decisão com diferentes ações
possíveis [33]
ser quantitativo quando baseado em valores numéricos das
potenciais consequências e da probabilidade de ocorrência de
eventos adversos. Este grupo inclui análises por árvores de eventos
(ETA – Event Tree Analysis) e árvores de falhas (FTA – Fault Tree
Analysis). Possíveis ações de gerenciamento de taludes são
ilustradas na Fig.5usando uma análise de árvore de eventos.
O conceito de mapa de risco é amplamente utilizado e
resulta da aplicação de uma classificação de risco previamente
definida a uma área geográfica. É possível atribuir a cada ponto
da área em estudo o correspondente nível (no caso de análise
qualitativa) ou valor numérico (no caso de análise quantitativa)
de risco, obtendo-se assim um mapa de risco da área sobre a
qual os efeitos adversos eventos têm probabilidade de ocorrer.
Num mapa de risco serão reconhecíveis as áreas de maior
risco, onde será aconselhável intervir aplicando medidas de
mitigação [65]. Os mapas de risco, baseados em novos
elementos obtidos através do monitoramento, podem ser
recalculados e redesenhados [14].
As metodologias seguidas para análise de risco e tomada de
decisão baseiam-se, hoje, na utilização de técnicas de Inteligência
Artificial (IA), incluindo a utilização de técnicas de DM, como
sistemas baseados em conhecimento, aproximação de regras fuzzy,
redes de neurônios artificiais, árvores de eventos , árvores de
falhas, decisões de análise clássica e redes Bayesianas [21,28, 86].
Para definir os níveis de risco, os países ou regiões adotaram
atitudes diferentes. Alguns adotam o princípio ALARP (As Low as
Reasonably Practical) e definem valores de risco iso para novas
atividades [33,65].
A estabilidade de taludes é uma área complexa que lida com
dados da natureza (geologia, morfologia, hidrologia, climatologia,
etc.) que são em sua maioria escassos devido às limitações de
acesso e disponibilidade de informações. Devido a esta limitação, é
necessário utilizar métodos probabilísticos para introduzir
incertezas na análise de risco e nos processos de decisão. BN são
gráficos de dependência probabilística para raciocínio em
condições de incerteza. A utilização desses modelos é
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Artigo de revisão
tornando-se cada vez mais comuns em problemas espaciais,
como a análise do risco de estabilidade de taludes. O grau de
envolvimento em problemas espaciais varia desde o
mapeamento espacial dos resultados, até nós baseados em BN
que envolvem explicitamente características geográficas, e a
integração de diferentes redes baseadas em informações
geográficas [36,45,75,85,86].
A BN pode ser usada em qualquer estágio de uma análise de
risco, e no caso de taludes, e pode substituir árvores de falhas e
de eventos em análises de árvores lógicas [33,86]. Embora a
causa comum ou os fenómenos de dependência mais gerais
representem complicações significativas na análise da árvore
de falhas clássica, este não é o caso da BN. Pelo contrário,
facilitam a modelação de tais dependências. Pelo que foi dito,
as BN fornecem uma boa ferramenta para análise de decisão,
incluindo pré-análise e pós-análise. Além disso, eles podem ser
generalizados para incluir diagramas de influência e ser
capazes de modelar explicitamente a tomada de decisão,
inclusive para módulos relacionados à decisão e utilidades [86].
No caso da estabilidade de taludes, a exposição do sistema
pode ser calculada utilizando modelos físicos e (ou) numéricos.
Além de determinar mapas de risco, também é possível testar o
efeito de diversas opções através do BN com nós de decisão. A
aplicação de um BN a um problema de decisão em
instabilidade de taludes é ilustrada na Fig.6, onde é testado o
efeito de diversas medidas, incluindo um sistema de alerta de
evacuação. São apresentadas as matrizes associadas ao
sistema de alerta (Alarme); perigo (ameaça); custo das medidas
a serem tomadas (contramedidas); custo das medidas (sistemas
ativos, passivos, de alerta); e custo das consequências [33]. O
objectivo do estudo e determinação da melhor medida de
intervenção (ou mitigação) a tomar (por exemplo: sistema de
alarme com evacuação, ancoragens (activas), sistema de
monitorização, redes de segurança (passivas) entre outras).
O resultado de todo o processo de decisão a ser tomado é
evidenciado pelo resultado obtido com a BN da Fig.7. Isto
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Artigo de revisão
Figura 6BN aplicado a um problema de instabilidade de taludes rochosos [33]
termina com uma decisão sobre as utilidades finais para cada
uma das ações e seleciona aquela com menor utilidade
(negativa), neste exemplo específico e o sistema de alerta.
3 Gestão de acidentes em encostas
3.1 Geral
Taludes naturais ou construídos são definidos como superfícies
inclinadas em rochas ou solos, ou massas mistas, originadas de
processos geológicos, hidrogeomorfológicos e antrópicos (Fig.2
).
Nesta seção, são descritas as práticas de gerenciamento de
riscos para a região de Hong Kong e para a cidade do Rio de
Janeiro, descrevendo sua prática no gerenciamento de
acidentes em taludes. Hong Kong é uma região da China com
grande densidade populacional, num território de apenas 1100
km2, e muito montanhoso. Cerca de 75% do território tem
declives superiores a 15° e mais de 30% tem declives superiores
a 30°. Há um histórico de acidentes trágicos no
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encostas. O território tem tradição de alto padrão na prática de
engenharia de taludes. Foi estabelecida no território a implantação
de um eficiente sistema de segurança desenvolvido pelo Gabinete
de Engenharia Geotécnica (GEO). Em cada ano, o GEO reportou
centenas de instabilidades de taludes, cujos dados são
armazenados numa base de dados, sendo a grande maioria
relativamente pequenos embora ocorram deslizamentos maiores,
com mais de 5000 m3. Também foi introduzido um programa de
longo prazo para analisar sistematicamente as inclinações das
obras governamentais e realizar uma análise de segurança das
obras privadas. Programas de manutenção foram estabelecidos
pelos diversos setores governamentais. A definição de estratégias
de redução de riscos é uma das atividades mais relevantes que
estão sendo desenvolvidas para evitar ou eliminar determinados
acidentes e inclui estabilização, mitigação; isto é uma redução da
vulnerabilidade e o estabelecimento de sistemas de alerta [67,90].
São feitas análises detalhadas de riscos de forma consistente no
território, bem como o estabelecimento de diretrizes para o estudo
de acidentes.
Além disso, a cidade do Rio de Janeiro, Brasil, é outro
município importante em termos de riscos hidrológicos. O
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Figura 7Tomada de decisão para um
problema de instabilidade de taludes [33]
promoveu-se a ocupação de morros e encostas ao longo de sua
história. A ocorrência de acidentes geotécnicos graves,
nomeadamente de queda de blocos, deriva das suas
características geográficas e morfológicas únicas e complexas.
Os estudos realizados por meio de mapeamento de superfície
mostraram alta suscetibilidade a quedas de rochas [3]. Algumas
vezes foram observadas rupturas nas encostas durante
períodos de seca, e modelos interpretativos originados em
ações térmicas foram propostos [94]. Foram realizadas diversas
obras de contenção, como contrafortes. A Fundação Geo-Rio foi
criada após fortes chuvas ocorridas na cidade em 1966. Desde
então, o corpo técnico formado por engenheiros e geólogos
realiza levantamentos e define as obras necessárias para
garantir a segurança da população. A Geo-Rio implementou o
sistema Rio Alert, que mantém estações pluviométricas
espalhadas pela cidade para monitorar as chuvas. Imagens de
radar meteorológico são fundamentais para a detecção de 108
tempestades.
3.2 Experiência em Hong Kong
Honk Kong é uma região associada à China com elevada
densidade populacional, cerca de 7 milhões de pessoas, num
território de apenas 1.100 km2, e muito montanhoso. Cerca de
75% do território tem declives superiores a 15° e mais de 30%
tem declives superiores a 30°. Uma vista aérea da construção
em Hong Kong é ilustrada na Fig.8a.
Tem um histórico de trágicos acidentes em encostas. Depois de
1947, mais de 470 pessoas morreram devido a rupturas associadas
a aterros e muros de contenção. Em junho de 1972, ocorreram
grandes deslizamentos de terra devastadores nas regiões de Sau
Mau Ping, em Po Shan Road e no território de Kowloon. Ainda hoje,
após ações governamentais desde 1977, cerca de 300 incidentes
envolvendo rupturas nas medidas de contenção
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estruturas e encostas naturais são reportadas anualmente pelo
Governo do território. Alguns deslizamentos de terra que
ocorreram em Honk Kong estão ilustrados na Fig.8ser. Muitos dos
acidentes são de menor relevância, como a erosão das superfícies
das encostas. No entanto, uma proporção significativa consiste em
grandes perturbações que podem ameaçar vidas e propriedades,
bloquear estradas e perturbar a vida da comunidade [67].
Hong Kong tem uma tradição de alto padrão na prática de
engenharia de taludes num território com um desenvolvimento
urbano montanhoso muito intenso, com formações altamente
alteradas e muitas vezes com um sistema de drenagem adequado.
De alguma forma, pode ser atribuído ao estabelecimento de um
sistema de segurança eficiente, desenvolvido pelo Gabinete de
Engenharia Geotécnica (GEO) estabelecido no território [18,46,48,60
,67].
As formações rochosas dominantes são graníticas e vulcânicas,
sendo muito alteradas pela meteorização e, consequentemente,
muito heterogéneas. Intrusões na forma de diques são bastante
comuns. Veios cauliníticos estão presentes e podem constituir
material de preenchimento de descontinuidades. Em muitos
aterros, existem formações coluvionares devido a fenómenos de
erosão [46].
Todos os anos, o GEO reporta centenas de instabilidades de taludes,
cujos dados são armazenados numa base de dados, a grande maioria
dos quais são deslizamentos de terra relativamente pequenos, embora
maiores, com mais de 5.000 m.3, ocorrer. Um programa de longo prazo
denominado LPM (Medidas Preventivas de Deslizamentos) também foi
introduzido para analisar sistematicamente as encostas de obras
governamentais e realizar uma análise de segurança de obras privadas.
Concomitantemente, programas de manutenção são estabelecidos
pelos diversos setores governamentais. É uma atividade fundamental
para obter lições tanto de encostas construídas como de deslizamentos
de pequena e grande escala. Definir estratégias de redução de riscos é
um dos aspectos mais relevantes
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Figura 8aVista aérea de Hong Kong;

seralguns deslizamentos de terra
ocorreram na região de Hong Kong
(adaptado de [83,84])

atividades que estão sendo desenvolvidas para prevenir ou Referência especial a um estudo realizado por Hoek [48]
eliminar determinados acidentes e inclui trabalhos de para a estrada Sau Mau Ping, que tem um declive muito
estabilização, mitigação, ou seja, redução da vulnerabilidade, e acentuado de um lado da estrada e uma série de apartamentos
estabelecimento de avisos de alerta [47,67]. elevados do outro lado. Pretendia-se saber qual a segurança

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fator de inclinação para condições normais e excepcionais, que
pode ocorrer durante um terremoto ou associado a fortes
chuvas durante um tufão, e cujo fator de segurança é
considerado aceitável no longo prazo. O maciço rochoso
associado à encosta é um granito inalterado e com
descontinuidades. As principais descontinuidades são paralelas
à superfície do talude e o espaçamento entre elas aumenta
com a profundidade. Durante a escavação do aterro, foram
induzidos pequenos deslizamentos de terra.
Com base nos estudos de sensibilidade realizados, a
instabilidade neste aterro poderia ocorrer para um aterro
totalmente saturado e sujeito a um sismo. Na época, foram
tomadas as seguintes decisões [48]: não evacuação de
moradores ao longo da estrada nas proximidades do
aterro, execução de furos de drenagem horizontais para
redução de pressões; instalação de piezômetros para
medição de pressões nos períodos de maior chuva;
fechamento do trânsito em períodos de lençol freático que
ultrapassem determinado limite; e a realização de uma
investigação para avaliar as medidas de reforço ou
remediação mais eficazes destinadas a estabilizar o talude a
longo prazo. No longo prazo, a situação existente foi
considerada inaceitável e foi adotado um fator de
segurança de 1,5. Nos estudos realizados foram
consideradas as seguintes alternativas: redução da altura
do talude; redução do ângulo da face do talude; drenar a
encosta; e reforço do talude. A última opção escolhida
consistiu em reduzir o ângulo do talude para 35° através de
uma escavação, sendo o talude utilizado como pedreira,
dada a escassez de agregados na altura, não tendo
ocorrido deslizamentos após a execução dos trabalhos.
Análises detalhadas de riscos são realizadas de forma
consistente no território, bem como o estabelecimento de diretrizes
para o estudo de acidentes. Um fluxograma das ações de
estabilização de taludes é ilustrado na Fig.9. As principais
publicações de Malone [67], Ho [46] e Ho e Ko [47] ilustram as
estratégias seguidas na análise de risco no território.
Com o GEO, inserido no CEDD (Departamento de
Engenharia e Desenvolvimento Civil), com o objetivo de
minimizar o risco de instabilidade das encostas, o Governo
de Hong Kong conseguiu um reforço da estabilidade das
encostas do território e foi criado um Sistema de
Segurança. As atividades desenvolvidas são referidas na
publicação de Chan [19].
3.3 Fundação Geo‑Rio
A cidade do Rio de Janeiro promoveu a ocupação de morros
e encostas ao longo de sua história. A ocorrência de
acidentes geotécnicos graves, nomeadamente queda de
blocos, deriva das suas características geográficas únicas e
complexas. As fotografias ilustradas na Fig.10a, b dão uma
ideia da complexidade da cidade. A queda do bloco é
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Figura 9 Fluxograma das ações de estabilização de taludes [47]
sem dúvida um dos problemas mais complexos e mais
arriscados (Fig.10c). Estudos realizados através do
mapeamento de superfície mostraram alta suscetibilidade à
queda de cavacos e blocos evidenciada por seções em balanço
rochoso, sujeitas a esforços de tração [3,79]. Por vezes foram
observadas quebras nas encostas em períodos de seca e foram
propostos modelos interpretativos com origem em ações
térmicas [94]. Foram realizadas diversas obras de contenção,
como contrafortes. Figura10d mostra contenção no Morro do
Queimado.
Os aspectos de perigos de Hong Kong são muito
semelhantes aos do Estado do Rio de Janeiro e em particular da
cidade do Rio de Janeiro, e o Rio tem períodos de chuvas muito
intensas.
Um Instituto da Secretaria Municipal de Obras do Rio de
Janeiro foi fundado há quase 45 anos e hoje se chama
Fundação GeoRio. Sua criação ocorreu após graves chuvas
ocorridas no Rio de Janeiro em 1966. Desde então, um corpo
técnico formado por engenheiros e geólogos tem realizado
levantamentos e definido as obras necessárias para garantir a
segurança da população. A GeoRio implantou o sistema Alert
Rio, que mantém 32 estações pluviométricas espalhadas pela
cidade para monitorar as chuvas. A partir da análise das
condições meteorológicas, o sistema emite alertas em casos de
possíveis escorregamentos. Esses alertas são divulgados à
população por meio da imprensa e dos órgãos municipais
responsáveis, com retirada das famílias dos locais e
implementação de outras ações preventivas [38]. Este Instituto
é ainda responsável pelo levantamento e registo das
características geológicas e geotécnicas dos solos, rochas e
depósitos de materiais de construção e pelo licenciamento e
fiscalização de projectos de contenção de taludes e de
exploração de
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Figura 10aVista da cidade do Rio de

Janeiro (Brasil);bVista do Rio de
Janeiro (tirada do inselberg
chamado Pão de Açúcar);cQueda de
bloco na Vila Izabel, Rio de Janeiro [
73],d Obras de contenção no Morro
do Queimado, Rio de Janeiro [73]

depósitos do sector privado. A GeoRio também é
responsável pelo licenciamento de edificações em áreas de
encosta. É importante destacar o fato de esta Fundação ter
desenvolvido o manual técnico de encostas, em uso em
diversas entidades, universidades e profissionais do Brasil,
dedicado à análise e pesquisa de taludes, drenagem e
proteção superficial, reforço de paredes com
geossintéticos, e âncoras e grampos [83,84].
A gestão de riscos geotécnicos foi iniciada em 1984,
abrangendo as encostas mais perigosas. Posteriormente, foi
estendido a toda a cidade. Conforme mencionado, a partir de
1996, o GeoRio implementou o sistema Alert-Rio que permite
monitorar em tempo real as precipitações nas diversas
estações. A implantação do sistema Alerta-Rio tem sido um
sucesso, já tendo emitido boletins de alerta em diversas
ocasiões de grandes chuvas [23,38,63]. Em projetos como
Rio Vigilante e Infocrise, GeoRio introduziram novas
tecnologias para gestão de risco de deslizamentos. A
Câmara Municipal instalou limites físicos nas áreas de
risco. Figura11mostra o fluxograma das atividades
básicas que fazem parte do Projeto Rio Vigilante desde a
implantação dos limites [38].
Destaque especial para a inauguração do Centro de Operações
Rio na Cidade Nova. O Centro de Operações do Rio monitora o
cotidiano da cidade 24 horas por dia. Todas as etapas do
gerenciamento de crises são integradas, desde a antecipação,
redução e preparação, até a resposta imediata a eventos, como
fortes chuvas, deslizamentos de terra e acidentes de trânsito. O
Centro monitora permanentemente a cidade e está sempre pronto
para atuar em situações de emergência. Com um sistema de dados
integrado e suas inúmeras câmeras, é a sede onde todas as ações
são coordenadas e planejadas em tempo hábil

Figura 11Programa do projeto

Rio Vigilante (Adaptado de [38])

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de crise. Todos os dados são interligados para visualização,
monitoramento e análise na Sala de Controle. Nesta sala de
crise, equipada com videoconferência, é possível
comunicar-se com a residência oficial do Prefeito e com a
sede da Defesa Civil. O processo permite atuar em tempo
real na tomada de decisões e resolução de problemas.
As imagens de radar meteorológico são críticas para a detecção
de tempestades. Este radar capta imagens e as atualiza a cada dois
minutos e permite observar a localização, deslocamento e
intensidade das precipitações (chuva, granizo). A refletividade
captada pelo radar pode estar relacionada com a intensidade da
precipitação.
A cidade do Rio de Janeiro possui características geográficas
e topográficas, bem como padrões atmosféricos, que permitem
o desenvolvimento de fenômenos meteorológicos que
provocam precipitações significativas (a precipitação média
anual é de cerca de 2.000 mm), ver detalhes em Erassi et al. [35
].
Os meses de verão são muito chuvosos, ocorrendo cerca de
60% das encostas nesses meses. Assim, um banco de dados
sobre encostas foi criado usando um sistema GIS e técnicas de
DM foram aplicadas para descobrir padrões. As tarefas
associadas à preparação de dados são muito importantes e
demoradas [86–88].
Figura12ilustra um mapa com a rede pluviométrica da
cidade do Rio de Janeiro com os 30 pluviômetros centralizados
nos polígonos de Thiessen. A preparação dos dados foi um dos
Figura 12Mapa do Rio de
Janeiro e da rede pluviométrica
(adaptado de [89])
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Artigo de revisão
as tarefas mais importantes na estratégia DM. Foram
consideradas as taxas de chuva associadas a cada encosta de
acordo com a proximidade geográfica e sua ocorrência. Porém,
os dados apresentaram valores faltantes e foram preenchidos
com base na aplicação de técnicas de RNA (Redes Neurais
Artificiais) [87,88].
4 Instabilidades de Encostas no Rio de Janeiro
Estado
4.1 Geral
O desastre natural ocorrido na região serrana do Estado do
Rio de Janeiro, nos dias 11 e 12 de janeiro de 2011, quando
fortes chuvas causaram inundações e deslizamentos de
terra em sete municípios, foi considerado a maior
catástrofe climática e geotécnica do Brasil [13]. Identificado
pelas Nações Unidas como o oitavo maior deslizamento de
terra do mundo nos últimos 100 anos, o desastre foi
comparado, por seu tamanho e danos, a outras grandes
catástrofes, como a que devastou a região de Blumenau-
Itajaí, em Santa Catarina, em 2008 e que foi causada pelo
furacão Katrina, que destruiu a cidade de Nova Orleans,
EUA, em 2005 [13]. Muitas pessoas morreram no desastre
natural no Estado do Rio de Janeiro, principalmente na
região serrana do
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Estado (fig.13). O megadesastre atingiu sete cidades,
principalmente Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, e
foi considerado um dos maiores eventos de movimentos de
massa generalizados no Brasil [83,84]. Segundo os
documentos da época, surgiram dúvidas sobre o que
causou o desastre nas proporções que ocorreu,
nomeadamente sobre os factores que levaram a tantas
perdas humanas. A região sempre se caracterizou por uma
grande vulnerabilidade natural, localizada noSerra do Mar,
formada por rochas com fina camada de terra e coberta por
mata atlântica, com declividade elevada e regime de chuvas
intensas no verão, características que geram solos mais
instáveis e propensos a deslizamentos [11].
A região ainda não havia vivido uma situação dessa
gravidade e bairros inteiros foram cobertos em questão de
segundos. Foi declarada situação de emergência e
calamidade pública e formada uma grande rede de apoio,
composta por órgãos públicos locais, estaduais e federais,
organizações privadas e voluntários. Segundo os
documentos da época, foram levantadas dúvidas sobre o
que causou o desastre nas proporções que ocorreu e sobre
os fatores que levaram a tantas perdas humanas, com
declividade elevada e regime de chuvas intenso no verão,
características que geram mais instabilidade e solos
propensos a deslizamentos de terra.
Um mapa geológico simplificado da região serrana
do Estado do Rio de Janeiro é mostrado na Fig.14.
4.2 Nova Friburgo
O megadesastre na região serrana do Rio de Janeiro deixou um
número incalculável de cicatrizes de deslizamentos de terra
Figura 13Estado do Rio de Janeiro.
Diagnóstico de risco de deslizamentos
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nas encostas de quatro municípios (Nova Friburgo,
Teresópolis, Petrópolis e Sumidouro), mas principalmente
em Nova Friburgo, um elevado número de mortes e
desalojados, sendo o maior desastre do Brasil causado por
desastres naturais [6,25,74].
O Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro, por
meio do seu Centro de Análise e Diagnóstico de
Deslizamentos, realizou atendimentos emergenciais para
apoiar a resposta e reabilitação ao mega desastre, e, desde
então, desenvolveu, em parceria com Universidades do
Estado do Rio de Janeiro, na análise das condições de
deslizamentos desastrosos. Este estudo não pretende ser
exaustivo na análise do trágico acidente ocorrido em Nova
Friburgo. O excelente trabalho desenvolvido pela DRM-RJ
(Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de
Janeiro) [26,27]
Figura15mostra vários deslizamentos significativos
associados às encostas do município de Nova
Friburgo, que ilustram bem a gravidade dos
acidentes ocorridos.
Outro acidente importante ocorreu em Três Irmãos
conforme referido na Fig.16ocorreu em novembro de 2012 [27].
Foi um mês particularmente chuvoso, caracterizado por
aguaceiros muito fortes ou chuva significativa acumulada ao
longo de 24 horas. Foram registradas fortes chuvas nos dias 5 e
6, conforme Tabela2. Os dias anteriores foram de pouca
precipitação, o que explica o facto de não ter havido acidentes.
O acidente de Três Irmãos ocorreu na tarde do dia 13, com um
grande bloco rochoso de 4.000 m3destacando-se, devido ao
deslizamento plano causado por percolação de água, na
superfície de ruptura preenchida com material alterado com
espessura máxima de 20 cm. De acordo com o DRM-RJ
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Figura 14Geologia simplificada

no Estado do Rio de Janeiro

Figura 15aBlocos rochosos na base

resultantes de deslizamento de terra; b
Nova Suiça. Deslizamento plano com
deposição de material;
cprédio destruído por deslizamento de
terra;dedifício parcialmente destruído por
um deslizamento de terra

No relatório, o acidente começou às 5h30 com queda de bloco
associada a 19 mm/h. Duas horas depois, ocorreu uma chuva
de 21,6 mm/h, sendo que a movimentação do grande bloco de
rocha ocorreu às 16h, quando a chuva já havia praticamente
parado. O deslize parece ter ocorrido através
uma junta de relevo e em combinação com fraturas por
tração presentes na parte mais alta da escarpa.
De referir que os cenários de risco para deslizamentos
foram construídos a partir da análise da correlação entre
chuvas intensas, tendo sido desenvolvidos desde dezembro
de 2011, e que permitiram o funcionamento do alerta e

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Figura 16Acidente de deslizamento de

terra em Três Irmãos [27]

mesa 2Dados de chuva em 5 e 6 de

Localização Pico Chuva Fundo
novembro de 2012 [27]

Macaé (Glicéroo–INEA) 05–15h 44,80mm/h 3,6mm/24h; 16,4mm/96h; 60,6 mm/mês

Silva Jardim (INEA) 05–16h45 25,48mm/h 13,0mm/24h; 33,8mm/96h; 61,2 mm/mês
Petro (Posse–INEA) 06–01h45 32,78mm/h 4,2mm/24h; 6,0mm/96h; 84,0 mm/mês

sistemas de alarme para deslizamentos de terra [26,27]. Figura deslizamentos de terra generalizados. Com base nessas curvas, os
17mostra curvas de precipitação, sendo que a amarela separa o cenários identificados na Tabela3foram definidos.
domínio em que não foram registrados deslizamentos do
domínio associado a deslizamentos esparsos; e o vermelho que
separa o domínio de deslizamentos esparsos com

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Figura 17Curvas críticas de

precipitação para a região
serrana [27]

4.3 Outras cidades do município. As rochas desta unidade são intensamente

Em relação a Petrópolis, foi realizado um trabalho de pesquisa
sobre a simulação do processo de queda de blocos em encostas
deste município, com a aplicação da mecânica de contato,
consubstanciada no trabalho de Ribeiro [73]. O estudo foi
delimitado em uma área do Bairro da Glória sujeita à ocorrência de
queda de blocos. A abrangência dos blocos foi analisada tendo em
vista a alteração dos parâmetros físicos das unidades geotécnicas
que compõem o terreno. Para isso, simulações numéricas foram
realizadas utilizando o software de elementos discretos PFC-3D [53].
Em termos geológicos, a área é formada por afloramentos
rochosos de gnaisse hornblenda-biotita, muitas vezes encontrados
cobertos por solo residual. O batólito da Serra dos Órgãos está
presente nas porções central e sudeste
deformadas e metamorfizadas e frequentemente
migmatizadas e fraturadas. Existem três famílias de
descontinuidades presentes no maciço rochoso, que se cruzam,
criando condições para a ocorrência de queda de blocos. Essas
descontinuidades variam amplamente no ângulo de mergulho,
variando de vertical a horizontal [73].
Figuras18e12mostram blocos que foram selecionados para
simulações com o método de blocos discretos como mostrado
na montanha [73]. A topografia do terreno gerada pelo
software PFC-3D é mostrada em detalhes nas Figs.19,20e 21
que representam, respectivamente, as trajetórias dos blocos
esférico, octaédrico e de geometria real de acordo com as
condições de rigidez e amortecimento explicadas por Ribeiro [
73].

Tabela 3Cenários de risco atribuídos pela DRM-RJ (Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro) adaptados de [26,27]

Cenário Tipo de acidente Precipitação horária Precipitação diária e outras Comentários

Deslizamentos de terra ocasionais < 5 por município < 30mm/h < 100 mm/dia Acidentes ocasionais
Deslizamentos de terra esparsos 5 <n<25 por município > 30mm/h > 100mm/ Acidentes esparsos; curva amarela;
dia > 115 mm/96 h > 300 mm/ n—não. acidentes; afetam
mês encostas e linhas de drenagem

Deslizamentos de terra generalizados > 25 por município > 50mm/h > 120mm/ Acidentes com mobilização
dia > 130 mm/96 h > 300 mm/ de massas deslizantes; deslizamentos de

mês terra grandes e fluidos

Desastres associados > 50 por município – – Ótimo não. de natureza e

com deslizamentos de terra acidentes induzidos; grandes
movimentos de massa; grande
registro de eventos prolongados
de chuva

Grandes catástrofes Número ainda não alcançado em 80mm/h > 250mm/ Relacionado a um número ainda não
desastres dia > 400 mm/96 h > 600 mm/ confrontados com desastres
mês naturais e induzidos

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Figura 18Visualização dos 12 blocos

selecionados para simulações com o
método de blocos discretos [73]

Figura 19Topografia do terreno

gerada pelo PFC-3D [73].
Topografia do terreno gerada
pelo PFC-3D [73]

De acordo com os resultados foi possível afirmar que o salto
é o modo de movimento predominante para os blocos esféricos
e o rolamento ocorre no trecho final do percurso. Para blocos
octaédricos, existem diferentes modos de movimento
envolvidos ao longo da rota. Em certas trajetórias, os blocos
deslizam. Em outros, pular e rolar parecem estar presentes.
Porém, os saltos dos blocos octaédricos apresentam dimensões
menores quando comparados aos saltos dos blocos esféricos.
Em blocos com geometrias reais aproximadas, há predomínio
do deslizamento como modo de movimento. E esse é
exatamente o comportamento esperado para chips e blocos
cujo formato não se aproxima de uma esfera. Possivelmente,
os diferentes comportamentos assumidos pelos blocos em
suas trajetórias alteraram a forma como a rigidez e o
amortecimento interferiram no alcance dos blocos.
No caso do Município de Teresópolis, localizado no
trecho central do Estado do Rio de Janeiro, a região é
caracterizada por jazidas de gnaisse e granito, datadas
do período Pré-cambriano, e por um relevo muito acentuado,
onde a fisiografia predominante é representada por falésias
íngremes [71]. A imagem do deslizamento de terra neste
município é ilustrada na Fig.22. Após o megadesastre, em
janeiro de 2011, bem como as fortes chuvas que atingiram o
município em abril de 2012, causaram a maior parte dos
problemas socioambientais e a falta de gestão ambiental. A
partir dos levantamentos de campo, pode-se inferir que a
característica básica do solo nas encostas do município é de
pouca profundidade e afloramento rochoso proeminente; ou
seja, nas áreas de encostas, o solo apresenta horizonte de
pouca profundidade acima da formação rochosa granítica. Tais
aspectos, aliados à presença de afloramentos rochosos em
processo de intemperismo, bem como ocorrências de chuvas e
declives acentuados foram alguns dos fatores que contribuíram
e contribuem para os deslizamentos ocorridos em Teresópolis.

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Figura 20aTrajetórias e área suscetível à queda de blocos esféricos [73],bTrajetórias e área suscetível à queda de blocos octaédricos [73]

5. Conclusões

O estudo concentrou-se no papel da água na avaliação dos riscos

de deslizamentos de terra. Os riscos de deslizamentos de terra
incluem incertezas de forma determinística e probabilística, e a
incerteza do modelo em modelos hidrológicos pode estar
relacionada a modelos que resolvem o fluxo em formações de solo,
meios não saturados e saturados, ou em massas rochosas
fissuradas. A incerteza do modelo na modelagem de estabilidade
vem dos próprios modelos de estabilidade, mas em modelos
combinados a incerteza vem de ambos os modelos. O estudo
discute detalhadamente diferentes abordagens para avaliação de
risco e níveis seguidos nas abordagens de decisão.
Discute-se o manejo de deslizamentos de terra, destacando-se
as situações ocorridas no território de Hong Kong, bem como na
cidade do Rio de Janeiro. No caso de Hong Kong, existe um terreno
montanhoso, com fortes chuvas e desenvolvimento denso que
tornam a região propensa ao risco de deslizamentos de terra. Para
reduzir este risco, foi implementado um sistema abrangente de
segurança de taludes através do estabelecimento de normas de
segurança e controlos geotécnicos administrativos, bem como da
modernização e manutenção de taludes. A redução global do risco
alcançada foi resultado da eficácia do sistema implementado. Um
programa de longo prazo denominado Medidas Preventivas de
Deslizamentos foi introduzido para analisar sistematicamente as
encostas de obras governamentais e realizar uma análise de
Figura 21 Trajetórias e área suscetível à queda de blocos com segurança de
geometrias reais aproximadas [73]

Vol.:(0123456789)

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Figura 22 Deslizamentos de terra em Teresópo-
lis [25]
obras privadas. Concomitantemente, programas de manutenção
foram estabelecidos pelos diversos setores governamentais.
Aspectos específicos da instabilidade de taludes na cidade
do Rio de Janeiro também foram analisados detalhadamente.
A cidade promoveu a ocupação de morros e encostas ao longo
de sua história. Aconteceu a ocorrência de perigos graves, com
incidência em queda de blocos, decorrentes de suas
características únicas e complexas. O município do Rio de
Janeiro fundou a chamada Fundação Geo-Rio para definir as
obras necessárias para garantir a segurança da população. A
Geo-Rio implantou o sistema Alert Rio, que mantém estações
pluviométricas espalhadas pela cidade para monitorar as
chuvas. A partir da análise das condições meteorológicas, o
sistema emite alerta em casos de possíveis deslizamentos. Esta
fundação é ainda responsável pelo levantamento e registo das
características geológicas e geotécnicas dos solos, rochas e
jazidas de materiais de construção e pelo licenciamento e
fiscalização de projectos de contenção de taludes e exploração
de jazidas pelo sector privado.
Por fim, como estudo de caso, estuda-se o megadesastre da
região serrana do Estado do Rio de Janeiro devido às fortes
chuvas. Ocorreu entre 11 e 12 de janeiro de 2011 e
posteriormente em 2012, atingindo sete cidades,
principalmente Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, e foi
considerado um dos maiores eventos de movimentos de massa
generalizados no Brasil. A região sempre se caracterizou por
uma grande vulnerabilidade natural, localizada noSerra do Mar,
formada por rochas com fina camada de terra e coberta por
mata atlântica, com declividade elevada e regime de chuvas
intensas no verão, características que geram solos mais
instáveis e propensos a deslizamentos.
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ReconhecimentosEste trabalho foi apoiado financeiramente pelo
Financiamento Base – UIDB/04708/2020 do CONSTRUCT – Instituto de
I&D em Estruturas e Construção – financiado por fundos nacionais em
Portugal através da FCT/MCTES (PIDDAC). Os autores agradecem
imensamente ao CNPq do governo brasileiro pelo apoio financeiro à
estadia de Luís Ribeiro e Sousa no Brasil, através do Processo
310072/2013—1. O nosso agradecimento a Manuel Leal e Sousa que nos
ajuda na melhoria dos valores definidos. Agradecimentos especiais à
colega Liliana Freitas (LABCARGA|ISEP) pelo apoio na edição final das
figuras e tabelas. A HIC foi parcialmente apoiada pela GeoBioTec|UA
(UID/GEO/04035/2020). O presente manuscrito é uma revisão atualizada
e aprofundada do livro de atas do capítulo “Riscos hidrológicos em
desastres naturais focados no papel da água: estudos sobre
deslizamentos de terra” (ASTI Springer, pp 43-47) apresentado no 2º
Workshop Internacional sobre Natural Hazards (NATHAZ'19), Ilha do Pico
– Açores 2019, dos autores. Agradecemos aos revisores anônimos pelos
comentários construtivos que ajudaram a melhorar o foco do
manuscrito.
Contribuições dos autoresLuis Ribeiro e Sousa concebeu o estudo. Luis
Ribeiro e Sousa, Eurípedes Vargas Jr., Rita Leal Sousa e Karim Karam
apoiaram a aquisição, análise e modelação dos dados. Helder I. Chaminé
deu contributos sobre geologia estrutural, geociências de engenharia e
hidrogeologia dos locais de estudo. Todos os autores contribuíram para
a análise dos dados, interpretação e discussão dos resultados. Luis
Ribeiro e Sousa e Rita Leal Sousa escreveram o manuscrito com
contribuições de todos os autores. Luis Ribeiro e Sousa e Helder I.
Chaminé realizaram a revisão da versão final editada.
Conformidade com padrões éticos
Conflito de interessesNenhum potencial conflito de interesses foi relatado
pelos autores.
Acesso livreEste artigo está licenciado sob uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional, que permite o uso, compartilhamento, adaptação,
distribuição e reprodução em qualquer meio ou formato, desde que você dê o
devido crédito ao(s) autor(es) original(is) e ao(s) autor(es) original(ais).
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feitas alterações. As imagens ou outros materiais de terceiros neste artigo
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contrário na linha de crédito do material. Se o material não estiver incluído na
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Nota do editorA Springer Nature permanece neutra em relação a
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Vol.:(0123456789)
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