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TEMA:

É o assunto que se deseja provar ou desenvolver. Pode surgir de uma dificuldade prática
enfrentada pelo coordenador, da sua curiosidade científica, de desafios encontrados na leitura de
outros trabalhos ou da própria teoria. Pode ter sido sugerido pela entidade responsável pela parte
financeira, portanto, "encomendado", o que não lhe tira o carácter científico, desde que não se
interfira no desenrolar da pesquisa (Marconi & Lakatos, 2003). Tendo em conta esse aspecto, o
tema que pretende-se pesquisar é o seguinte:

 Análise Multicritério AHP na identificação de áreas de risco de inundações na sub-


bacia hidrográfica do Rio Revúboè.

1.1. Delimitação do tema

De acordo com Amorim (1998), a delimitação do tema é o estabelecimento de limites para a


investigação. A pesquisa pode ser limitada em relação ao assunto seleccionando um tópico, a fim
de impedir que se torne ou muito extenso ou muito complexo, a extensão porque nem sempre se
pode abranger todo o âmbito onde o facto se desenrola.

Neste contexto a pesquisa será realizada na província de Tete, concretamente no rio Revúboè, um
dos afluentes do Rio Zambeze.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização

Devido à sua localização geográfica, Moçambique é frequentemente assolado por desastres


naturais. A distribuição desigual das chuvas ao longo do ano e precipitações de intensidade
variável são as principais causas de enchentes e secas. Tornados e ciclones contribuem
adicionalmente para aumentar a vulnerabilidade do país a cheias catastróficas (GIZ, 2017).

Moçambique, atravessado por rios que nascem nos países vizinhos e desaguam no seu litoral,
no sudeste do continente africano, tem sido afectado por inundações de grandes dimensões que
causam danos avultados nas comunidades ribeirinhas (Dgedge e Chemana, 2018). As inundações
são um dos desastres naturais com mais impacto, provocando mortes, afectando pessoas e
causando perdas económicas elevadas tendo a sua frequência aumentada nos últimos anos
(Fernandez, 2015).

A bacia hidrográfica do rio Revúboè possui um histórico de inundações, evidenciando a


grande importância de mapeamento de áreas de risco, as quais se têm como objectivo identificar
no presente estudo. Os mapas de inundação se configuram em um instrumento importante na
prevenção, controle e gestão das inundações, pois por meio deles é possível definir áreas de risco.

No presente trabalho pretende-se identificar as áreas de risco à inundação na sub-bacia de


Revúboè, como resultado vai elaborar-se o mapeamento das áreas de risco a inundações pelo
método da análise multicritério AHP, integrado em Sistemas de Informação Geográficas.

O mapeamento das áreas de risco de inundações, proposto nesta pesquisa, pretende identificar
os locais sujeitos a situações de riscos futuramente. Este mapeamento é um passo importante para
realização de futuros estudos pontuais e aprofundados nas áreas de risco identificadas, tanto se
referindo a probabilidade de ocorrência de desastres naturais, quanto à intensidade dos processos
que os condicionam nestes locais. Reveste-se de extrema importância no planeamento e
ordenamento territorial, particularmente sob a perspectiva de subsidiar a prevenção de desastres
naturais frente às mudanças climáticas que se registam, assim como auxiliar na gestão de áreas
ocupadas.
1.2. Justificativa

Científica

Este trabalho foi elaborado tendo em conta os últimos eventos catastróficos vividos em
Moçambique, particularmente, a Tempestade Tropical ANA, que assolou a sub-bacia
hidrográfica de Rio Revúboè.

No Planeamento e Ordenamento Territorial os resultados da pesquisa podem vir a auxiliar


no processo de planificação territorial, levando em consideração as áreas com maiores riscos de
inundação. O subsídio científico consistirá em identificar as áreas: não-habitáveis; habitáveis com
restrições, e habitáveis sem outras restrições.

Social

Além de contribuições académicas, os resultados da pesquisa trarão contributos a nível


social, uma vez que, um dos produtos finais será ilustrado cartograficamente, em base do Mapa
de áreas de risco à inundação na sub-bacia hidrográfica do rio revúboè. Neste cenário, o
mapeamento dessas áreas de risco directa ou indirectamente poderá auxiliar na implementação de
medidas de mitigação pelo órgão que superintende dos riscos ambientais, em especial as
inundações. E essas medidas beneficiarão as comunidades locais.

Pessoal

A razão para a escolha do tema deve-se ao facto de pretender aplicar os conhecimentos


obtidos sobre as aplicações de Sistemas de Informação Geográfica e o Método AHP na análise de
riscos ambientais. Por outra, a prevalência de calamidades provocadas por fenómenos naturais
demonstra que o país deve estar estruturado para prever, mitigar, e combater os seus efeitos. A
sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè tem sofrido nos últimos 3 (três) anos, no que concerne à
ocorrência de inundações, impactos significativos a todos os níveis. É neste contexto que surge a
necessidade de identificar as áreas de risco de inundação na sub-bacia hidrográfica do rio
revúboè.

1.3. Problematização

Desastres naturais de origem hidrometeorológica (enchentes e inundações, secas, ciclones


tropicais) e suas consequências devastadoras estão sendo mais recorrentes no mundo todo. As
causas do aumento na frequência e na intensidade dessas calamidades podem ser múltiplas,
estando entre elas o crescimento populacional e a ocupação de áreas de risco (Zamparoni e
Nunes, 2011: 375).

Moçambique é afectado por vários desastres provocados por fenómenos naturais tais como
inundações, seca, ciclones e sismos. Alguns destes fenómenos são de carácter cíclico, enquanto
os outros são ocasionais. Os ciclones, secas e inundações se devem a influência climática do País,
ditada pelos anticiclones subtropicais do Oceano Índico, a zona de Convergência Intertropical,
depressões térmicas da África Austral e a passagem das frentes frias no Sul (INGC, [s.d.]).

Uma subida do número de desastres naturais foi observada em Moçambique nas últimas três
décadas. As províncias centrais são mais propensas a cheias, ciclones tropicais e epidemias,
seguidas pelas províncias do Sul e do Norte (INGC, 2009).

Fortemente afectado pelo Ciclone Idai, temporais e inundações fluviais de forma cíclica, a
região centro comporta vários rios importantes do ponto de vista hidrográfico em Moçambique.
Um dos rios que mais afecta a região do ponto de vista de inundações e coloca em risco a
população e seus bens é o rio Revúboè. No ano de 2019, antes da incidência do Ciclone Idai a
região já tinha sido afectada pelas inundações do rio Revúboè, que deixaram a cidade de Tete
inundada e o trânsito interrompido. Enquanto a população recuperava-se das inundações foi
afectada pelo ciclone Idai.

Recentemente no início do ano 2022, quase três anos depois um dos bairros da cidade de Tete
ficou totalmente inundado e o distrito de Moatize ficou isolado do resto da província de Tete,
devido a subida do caudal do rio Revúboè, ocasionada pela passagem da Tempestade Tropical
ANA, como resultado, pessoas perderam vidas, incluindo o Administrador da Cidade de Tete e
centenas de casas ficaram destruídas. A vista disso, nesta pesquisa pretende-se responder a
seguinte pergunta:

Quais são as áreas de risco de inundações na sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè?


1.4. Objectivos

Geral:

 Identificar as áreas de risco de inundações na sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè.

Específicos:

 Caracterizar as condições fisíco-natuarais da sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè;

 Determinar os variáveis condicionantes para análise de risco de inundações na sub-bacia


hidrográfica do Rio Revúboè.

 Utilizar o Sistema de Informações Geográficas para delimitar a área da sub-bacia


hidrográfica do Rio Revúboè;

 Produzir mapa de risco de inundações da sub-bacia do Rio Revúboè;


2. REVISÃO DE LITERATURA

Pesquisa alguma parte hoje da estaca zero. Mesmo que exploratória, isto é, de avaliação de
uma situação concreta desconhecida, em um dado local, alguém ou um grupo, em algum lugar, já
deve ter feito pesquisas iguais ou semelhantes, ou mesmo complementares de certos aspectos da
pesquisa pretendida (Marconi e Lakatos, 2003: 225).

Desastre Natural

É uma grave perturbação desencadeada por um desastre natural que causa perdas
humanas, materiais, econômicas ou ambientais, que excedem a capacidade de enfrentamento das
pessoas afetadas (UNDP, 2004: 98).

Risco

Segundo a definição da UNDP (2004), risco é a probabilidade de consequências


prejudiciais, ou perda esperada de vidas, pessoas feridas, propriedades, meios de subsistência,
atividade econômica interrompida (ou danos ao meio ambiente) resultantes de interações entre
perigos naturais ou induzidos pelo homem e condições vulneráveis. O risco refere-se
exclusivamente à perda de vida e é considerado em função da exposição física e da
vulnerabilidade. O risco é convencionalmente expresso pela equação Risco = Perigo x
Vulnerabilidade.

O termo risco pode ser associado à vulnerabilidade, sensibilidade, susceptibilidade ou


danos potenciais. No campo da engenharia, o risco está relacionado tanto à probabilidade de
ocorrência de um evento quanto à expectativa de perdas causadas por ele (Silva et. al., 2016:
432).

Para Barrera et al. (2014), risco é definido como provável dano ou perda a um sistema
afectado, resultante da interação entre a sua vulnerabilidade e a presença de um fenómeno natural
ou antropogénico.

O risco pode ser reduzido se entendido como o resultado de relacionar a ameaça, ou


probabilidade de ocorrência de um evento, e a vulnerabilidade dos elementos expostos, ou fator
interno de seletividade da gravidade dos efeitos sobre os referidos elementos (Sanchez, 2018: 22).
Segundo Tsakiris, citado por Campioli & Vieira, risco é a probabilidade de ocorrer
consequências danosas ou perdas esperadas (mortos, feridos, edificações destruídas e
danificadas), como resultado de interações entre um perigo natural e as condições de
vulnerabilidade local (Tsakiris apud Campioli e Vieira, 2019: ). “De forma simplificada, risco é a
probabilidade (mensurável) de um perigo transformar-se num desastre” (Campioli e Vieira,
2019: 125).

Fórmula geral e método para estimar

De acorco com UNDP (2004) a fórmula usada para modelar o risco combina seus três
componentes. O risco é uma função da probabilidade de ocorrência do perigo, do elemento em
risco (população) e da vulnerabilidade. A equação abaixo foi feita para modelar o risco de
desastres.

Risco = perigo x exposição x vulnerabilidade

Os três fatores usados para construir essa explicação estatística do risco foram
multiplicados entre si. Isso significava que se o perigo fosse nulo, então o risco era nulo. O risco
também era nulo se ninguém morasse em uma área exposta ao perigo (população = 0). A mesma
situação ocorreu se a população fosse invulnerável [vulnerabilidade = 0, induzir um risco = 0]
(UNDP, 2004: 100).

Perigo

O perigo é um fenômeno natural que ocorre em épocas e região conhecidas que podem
causar sérios danos nas áreas sob impacto. Assim, perigos naturais (natural hazards) são
processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera, podendo constituir um evento danoso
e serem modificados pela atividade humana, tais como a degradação do ambiente e urbanização
(Kobiyama et al, 2006).

Segundo Cardona (1993 apud Sanchez, 2018), é a probabilidade de ocorrência de um


evento potencialmente desastroso durante um determinado período de tempo em determinado
lugar.
É a probabilidade de ocorrência de um fenômeno natural, tecnológico ou induzido pelo
homem, potencialmente prejudiciais às pessoas, propriedades, infraestrutura e/ou ao ambiente,
dentro de um período específico e em uma área delimitada (Koolhaas apud Sanchez, 2018: 23).

Por outra, Barrera et. al. (2014), define perigo como um fenómeno de origem natural ou
causados pelo homem que podem causar danos e expor a vida das pessoas, bens e o
funcionamento da comunidade.

Vulnerabilidade

Susceptibilidade ou propensão de um sistema afectado (comunidade) a sofrer danos ou


perdas na presença de um fenómeno natural ou antropogénico (Barrera et al., 2014: 21).

De acordo com Cardona (apud Sanchez, 2018), assim que se destaca uma classificação de
perdas, separando-as em perdas diretas e indiretas onde “ as perdas diretas são relacionados a
danos físicos, expressos em vítimas, em danos de infra-estrutura de serviços públicos, em
edifícios, espaço urbano, indústria, comércio e a deterioração do meio ambiente, ou seja, a
alteração física do habitat. As perdas indirectas geralmente pode ser subdividido em efeitos
sociais, como a interrupção transportes, serviços públicos, meios de comunicação social e
imagem desfavorável que uma região pode assumir em relação a outras; e em efeitos economia
que representam a alteração do comércio e da indústria como consequência da queda na
produção, da falta de motivação para o investimento e da geração de despesas de reabilitação e
reconstrução.

Segundo UNDP (2004) , a vulnerabilidade é uma condição ou processo resultante de


fatores físicos, sociais, econômicos e ambientais, que determinam a probabilidade e a escala de
danos decorrentes do impacto de um determinado perigo.

Exposição

Elementos em risco, um inventário das pessoas ou artefatos que estão expostos a um


perigo. A exposição refere-se ao número de pessoas localizadas em áreas onde ocorrem eventos
perigosos combinado com a frequência dos eventos perigosos (UNDP, 2004: 98).

A exposição seria a probabilidade de que um evento potencialmente danoso ocorra em um


local e dentro de um período de tempo definido (Zarco et al., 2003: 56).
Desta forma a exposição pode ser entendida como a tendência que uma zona tem de ser
afectada fisicamente por um perigo.

Inundações

Segundo Castro (2003) as inundações podem ser definidas como um transbordamento de


água proveniente de rios, lagos e açudes. As inundações têm como causa a precipitação anormal
de água que, ao transbordar dos leitos dos rios, lagos, canais e áreas represadas, invade os
terrenos adjacentes, provocando danos. Em áreas densamente habitadas, podem danificar ou
destruir habitações mal localizadas e pouco sólidas, bem como danificar móveis e outros
utensílios domésticos.

O incremento dos caudais superficiais, na maioria das vezes, é provocado por


precipitações pluviométricas intensas e concentradas, mas, também, pode ter outras causas
imediatas e/ou concorrentes, como: degelo; elevação dos leitos dos rios por assoreamento;
redução da capacidade de infiltração do solo, causada por ressecamento, compactação e/ou
impermeabilização; saturação do lençol freático por antecedentes próximos, de precipitações
continuadas; erupções vulcânicas em áreas de nevados; combinação de precipitações
concentradas com períodos de marés muito elevadas; invasão de terrenos deprimidos e dos leitos
dos rios em áreas de rebaixamento geológico, por maremotos ou ressacas intensas; rompimento
de barragens construídas com tecnologia inadequada; drenagem deficiente de terrenos situados a
montante de aterros, em estradas que cortem transversalmente vales de riachos; estrangulamento
de leitos de rios, provocado por desmoronamentos causados por terramotos ou deslizamentos
relacionados com intemperismo (Castro, 2003: 40).

De acordo com Amaral & Moni (2020), a inundação é o processo que ocorre quando as
águas do rio transbordam em função das chuvas e ocupam a área ao lado do rio, que são
chamadas de planícies fluviais ou várzeas.

Segundo UNISDR (2017), as inundações são o perigo natural com a maior frequência e a
mais ampla distribuição geográfica em todo o mundo. Embora a maioria das inundações sejam
eventos pequenos, as inundações monstruosas não são infrequentes. As inundações ocorrem mais
comumente devido a fortes chuvas quando os cursos d'água naturais não têm capacidade de
transportar o excesso de água. Também pode resultar de outros fenómenos, nomeadamente nas
zonas costeiras, por uma maré de tempestade associada a um ciclone tropical, a um tsunami ou a
uma maré alta.

A inundação, popularmente tratada como enchente, é o aumento do nível dos rios além da
sua vazão normal, ocorrendo o transbordamento de suas águas sobre as áreas próximas a ele
(Figura 1). Estas áreas planas próximas aos rios sobre as quais as águas extravasam são chamadas
de planícies de inundação. Quando não ocorre o transbordamento, apesar do rio ficar
praticamente cheio, tem-se uma enchente e não uma inundação. Por esta razão, no mundo
científico, os termos “inundação” e “enchente” devem ser usados com diferenciação. (Kobiyama
et al., 2006: 45).

Figura 1: Esquema de enchentes e inundações.

Fonte: Adaptado de (Goerl e Kobiyama apud Prochman, 2014).

A ocorrência de uma inundação é o resultado de vários fatores que interferem na


formação dos escoamentos e em sua propagação ao longo da bacia hidrográfica de contribuição
(Pinheiro apud Campos et al., 2015: 69). Os fatores que se interrelacionam e são responsáveis
pela ocorrência de eventos de inundação podem ser divididos em: transitórios, associados à
ocorrência de chuvas, taxas de evapotranspiração e grau de saturação do solo; permanentes, que
correspondem às características morfométricas da bacia de drenagem e à geologia; e mistos, que
estão relacionados ao tipo de uso e ocupação do solo (Cooke e Doornkamp apud Campos et al.,
2015).
As inundações podem ser classificadas em função da magnitude e da evolução (Castro, 2003).
Em função da magnitude, as inundações, através de dados comparativos de longo, prazo, são
classificadas em:

 Inundações excepcionais;
 Inundações de grande magnitude;
 Inundações normais ou regulares;
 Inundações de pequena magnitude.

Em função da evolução, as inundações são classificadas em:

 Enchentes ou inundações graduais;


 Enxurradas ou inundações bruscas;
 Alagamentos;
 Inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão do mar.

Enchentes ou inundações graduais

Segundo Castro (2003), as inundações graduais ocorrem quando a água eleva-se de forma
lenta e previsível, mantêm-se em situação de cheia durante algum tempo, e a seguir escoam-se
gradualmente. As inundações graduais são intensificadas por variáveis climatológicas de médio e
longo prazos e pouco influenciáveis por variações diárias do tempo. Relacionam-se muito mais
com períodos demorados de chuvas contínuas do que com chuvas intensas e concentradas.

Enxurradas ou inundações bruscas

Por outro lado, popularmente conhecidas como enxurradas, as inundações bruscas são
provocadas por chuvas intensas e concentradas, em regiões de relevo acidentado, caracterizando-
se por produzirem súbitas e violentas elevações dos caudais, os quais escoam-se de forma rápida
e intensa. As enxurradas são típicas de regiões acidentadas e normalmente ocorrem em bacias ou
sub-bacias de médio e de pequeno portes. Normalmente, relacionam-se com chuvas intensas e
concentradas, sendo o fenômeno circunscrito a uma pequena área. (Castro, 2003: 50).
Alagamentos

Alagamentos são águas acumuladas no leito das ruas e nos perímetros urbanos por fortes
precipitações pluviométricas, em cidades com sistemas de drenagem deficientes. Nos
alagamentos o extravasamento das águas depende muito mais de uma drenagem deficiente, que
dificulta a vazão das águas acumuladas, do que das precipitações locais (id. 51).

Os alagamentos são freqüentes nas cidades mal planejadas ou quando crescem


explosivamente, dificultando a realização de obras de drenagem e de esgotamento de águas
pluviais.

Inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão do mar

As inundações litorâneas, provocadas pela brusca invasão do mar, normalmente


caracterizam-se como desastres secundários, podendo ser provocadas por vendavais e
tempestades marinhas, ciclones tropicais, trombas-d’água, Tsunamis e ressacas muito
intensificadas (Castro, 2003).

Mitigação e controle de inundações

A estrutura de um sistema de previsão de inundações é de capital importância para a


redução da vulnerabilidade ao fenómeno (Castro, 2003). O controlo de inundações consiste em
um conjunto de medidas que tem por objectivo minimizar os riscos a que as populações estão
sujeitas, diminuindo os prejuízos causados por inundações e possibilitando o desenvolvimento
urbano de forma harmónica, articulada e sustentável (Enomoto, 2004: 09).

O estudo do controle de enchente considera tanto os meios estruturais quanto os não


estruturais como alternativa para o fornecimento de protecção contra enchente, para a redução
dos riscos e importância dos danos (id: 10).

Medidas estruturais

As medidas estruturais consistem em obras de engenharia implementadas com o objectivo


de reduzir o risco de enchentes. Elas modificam o sistema fluvial e são as mais onerosas
(Enomoto, 2004). Elas podem ser classificadas em extensivas ou intensivas: as medidas
extensivas são aquelas que são aplicadas na bacia hidrográfica, elas têm como objectivo
modificar as relações entre precipitação e vazão, um exemplo é a modificação da cobertura
vegetal do solo, visando retardar os picos de enchente e controlar e erosão da bacia (Barbosa
apud Peruzzo, 2017: 23). Já as medidas intensivas são aquelas que agem directamente no recurso
hídrico e que, segundo Canholi, citado por Enomoto (2004), podem ser classificadas em quatro
tipos: (a) de aceleração do escoamento; (b) de retardamento do escoamento; (c) do desvio do
escoamento; (d) de acções individuais para tornar edificações a prova de enchentes.

De acordo com Castro (2003), dentre as obras de redução de riscos de inundações, as mais
efectivas são as barragens reguladoras; obras de desenrocamento, desassoreamento e de
canalização; canais de derivação e de interligação de bacias; diques de protecção; construção de
habitações diferenciadas e obras de perenização e de controlo das enchentes.

Estas medidas são essenciais e necessárias para a solução de grande parte dos problemas
de inundações urbanas. Porém, além de onerosas, não representam por si só soluções eficazes e
sustentáveis dos problemas mais complexos de drenagem urbana. As melhores soluções são
alcançadas através de compreensão mais integrada do ambiente urbano e das relações entre os
sistemas que o compõem (Enomoto, 2004).

Medidas não-estruturais

As medidas não estruturais são medidas de carácter preventivo. Elas buscam criar uma
melhor convivência das populações com os processos de inundação, de uma maneira em que,
geralmente, não envolva nenhuma obra de engenharia (Peruzzo, 2017).

Segundo Enomoto (2004), as medidas não-estruturais podem ser agrupadas em:


regulamento do uso da terra, construções à prova de enchentes, seguro de enchente, previsão e
alerta de inundação. E de acordo com Costa, citado por Peruzzo, são medidas não-estruturais os
sistemas de previsão e alerta de inundações, seguro contra inundações, zoneamento de áreas
inundáveis, ordenamento legal e jurídico e a educação ambiental (Costa apud Peruzzo, 2017: 24).

Mapeamento de risco de inundação

Segundo Santos (2015), o mapeamento das áreas de risco de inundação é uma ferramenta
que auxilia no controle e prevenção de inundações. O método de mapeamento que faz uso de uma
base cartográfica confiável e em conformidade com a localização exata dos elementos da bacia
hidrográfica e de suas características hidráulicas compõe um material importante para avanços do
setor técnico em relação à população.
O estudo direcionado ao mapeamento de áreas de riscos é relevante e de fundamental
importância, principalmente na realização de planeamentos urbanos pois fornecem subsídios na
execução de Planos Diretores, Planos de Ações Preventivos a desastres, bem como na tomada de
decisão para amenizar, reduzir ou até mesmo eliminar as situações de riscos (Cristo, 2002: 36).

A definição e o mapeamento das áreas de risco e o consequente zoneamento urbano,


periurbano e rural facilitam o correto aproveitamento do espaço geográfico e permitem uma
definição precisa das áreas: non aedificandi; aedificandi com restrições; - aedificandi sem outras
restrições, que não as impostas pelo código de obras local. Dá-se ênfase para as áreas aedificandi
com restrições, aos quais correspondem aos locais atingidos por alagamentos, mas onde as águas
fluem sem impetuosidade, podem ser construídas habitações sobre pilotis, ou com sótãos
habitáveis, mediante adaptações pré-planeadas (Castro, 2003: 42).

O mapeamento das áreas de risco de inundação é de fundamental importância no controle


e prevenção de inundações. O seu processo baseia-se em dados cartográficos confiáveis, com a
precisa localização dos dados da bacia hidrográfica junto com as suas características hidráulicas,
constituindo um material de extrema importância para decisões técnicas e possibilitando uma
melhor visualização do sistema de drenagem, bem como o seu comportamento frente a diferentes
cenários de inundações (Enomoto, 2004: 13).

Em conformidade com o Castro (2003), pode-se demonstrar a importância da


identificação e mapeamento das áreas de risco de inundações na sub-bacia hidrográfica do Rio
Revúboè, contribuindo para elaboração de planeamentos preventivos e de ordenamento da
ocupação humana para locais adequados a instalações urbanas.

O mapeamento de risco visa “identificar áreas geográficas que provavelmente sofrerão


danos se uma ameaça se tornar realidade” (Lowry et al. apud Zarco, 2003: 56). O mapa de áreas
de risco à inundação é um instrumento importante na prevenção, controle e gestão das
inundações. (Hora e Gomes, 2009: 61).

De acordo com Cristo, citado por Cristo o estudo de áreas de risco, pode obter três
direcionamentos, primeiro a prevenção de acidentes onde busca-se evitar o desastre; segundo
buscando-se a redução da intensidade do desastre, melhorando a convivência das pessoas com a
situação de risco e a terceira, seria a eliminação definitiva do risco de desastre, removendo-se as
pessoas e seus bens materiais para locais seguros (Cristo apud Cristo, 2002: 37).

Para Campos et al. (2015), o mapeamento de áreas sujeitas a inundações reveste-se de


extrema importância no planeamento territorial, particularmente sob a perspectiva de subsidiar a
prevenção de desastres naturais frente à expansão urbana, assim como auxiliar na gestão das
áreas ocupadas.

De acordo com Monteiro & Kobiyama, citados Campos et al., há uma diferenciação entre
mapa de inundação, mapa de perigo de inundação e mapa de risco de inundação. O mapa de
inundação consiste na delimitação das áreas inundadas com a altura da lâmina de água. o mapa de
perigo de inundação contém informações sobre a probabilidade e/ou magnitude de um evento,
enquanto o mapa de risco contém informações adicionais sobre as consequências, danos
econômicos, pessoas afetadas (Monteiro e Kobiyama apud Campos et al., 2015: 69).

O mapeamento das áreas susceptíveis a inundações é um recurso muito importante para a


leitura e compreensão dos episódios de inundações, e auxilia na tomada de decisões para
amenização desses problemas. Actualmente, em virtude da capacidade de armazenamento e
análise de informações, o geoprocessamento surge como uma ferramenta dinâmica capaz de
conferir mais precisão aos mapeamentos e à análise espacial (Oliveira e Gausselli, 2011:06).

Modelos de análise de risco de inundação

Os modelos de inundações são utilizados em estudos que visam estudar os impactos e


características de um evento de inundação para uma determinada área de estudo (Peruzzo, 2017).

No caso de risco de inundação fluvial, a evolução desse evento é modelado usando um


modelo hidrológico para avaliar adequadamente o encaminhamento da precipitação da chuva
para o escoamento e um modelo hidráulico para avaliar em detalhes as extensões espaciais das
áreas inundáveis (UNISDR, 2017: 04).

Para a elaboração de mapas de eventos de inundação são integradas informações de


sensores remotos, que permitem identificar a extensão da inundação a partir do processamento e
análise das imagens disponíveis com as medições feitas em campo para estabelecer outros
atributos de alto interesse para a caracterização do evento de inundação como altura do lençol
freático, tanto em estações de controlo hidrométrico como em locais de interesse (centros
povoados, infra-estrutura de edifícios para a prestação de serviços básicos, áreas de produção
agrícola, entre outros) bem como a velocidade do fluxo de água e tempo de chegada nos casos em
que as características do evento o permitam.

Os eventos históricos também podem ser reconstruídos a partir da consolidação das


imagens de suporte para o período de análise e estabelecer a extensão das inundações associadas,
embora nestes casos seja um pouco mais difícil caracterizar outros atributos da vazão, os registos
das séries de nível e vazão podem ser analisados com o objectivo de associá-los em áreas que
possuam informações sobre as planícies de transbordo e sua relação. Com os locais de medição
existentes (IDEAM, 2017: 32).

Modelo LISFLOOD-FP

Fernandez (2015), na “avaliação do risco de inundação em zonas urbanas com a


integração de dados Lidar e cartografia e escala grande”, aplicou o modelo hidráulico de
inundação LISFLOOD-FP, que inclui um modelo hidrológico à escala da bacia hidrográfica
(LISFLOOD-WB) e um modelo de estimativa de inundações (LISFLOOD-FF).

O modelo LISFLOOD-FP é um modelo hidráulico de inundação raster 1D/2D que foi


desenvolvido por Bates e Roo e incorporou, ao longo do tempo, várias modificações no seu
código. O modelo baseia 1D de escoamento no leito do canal, acoplada a uma representação 2D
do escoamento na zona inundável. O MDT é o elemento principal do LISFLOOD-FP, devido à
importância da topografia na modelação hidráulica de inundações. (Bates e Roo apud Fernandez,
2015: 51).

O modelo LISFLOOD-FP apresenta vários métodos numéricos para simular a propagação


da onda de cheia ao longo do canal e na zona inundável, utilizando simplificações das equações
de Saint-Venant. A simplificação da formulação matemática do modelo hidráulico de inundação
permite trabalhar com um número elevado de células na grelha, sem aumentar excessivamente o
custo computacional. O modelo LISFLOOD-FP é capaz de calcular a extensão da zona
inundável, a altura de água e a velocidade de escoamento, que são resultados à estimativa do
perigo de inundação (Fernandez, 2015: 52).
Modelo HEC-RAS

O software HEC-RAS é utilizado para a simulação das inundações (Peruzzo, 2017). O


HEC-RAS é um sistema integrado de softwares, desenvolvido para o uso interactivo em um
ambiente de várias tarefas e vários usuários. O sistema é compreendido de uma interface gráfica
para usuários, componentes de análise de separação hidráulica, dados de armazenamento e
capacidade de gerenciamentos de gráficos e relatórios (Enomoto, 2004: 37).

O programa foi desenvolvido para cálculos hidráulicos unidimensionais para uma rede de
canais naturais ou artificiais. O HEC-RAS é capaz de calcular o escoamento permanente
gradualmente variando em canais naturais ou artificiais e os regimes subcrítico, supercrítico,
misto podem ser analisados. Um método alternativo disponível no HEC-RAS é calcular a
conveyances parciais da planície de inundação entre cada ponto de coordenadas na seção (ibid.).

Modelo SOBEK

Segundo Deltares, citado por Lipski et al., SOBEK é um conjunto de modelagem que faz
previsão de enchentes, optimização de sistemas de drenagem, controle de sistemas de irrigação,
qualidade da água superficial, entre outros (Deltares apud Lipski et al., 2007: 03). O SOBEK é
adequado para modelagem e análise de: sistemas de irrigação e drenagem; sistemas rurais:
hidráulica de canal aberto, sistemas fluviais, simulações de cenários de inundação, entre outros
(Lipski, 2007).

Os mapas de inundação advindos da modelagem com o SOBEK 1D/2D são obtidos


directamente da simulação, visto que a própria interface do software fornece os resultados das
áreas de inundação através de mapas. Para obter os mapas de inundação obtidos pela utilização
dos modelos digitais gratuitos foram utilizados os resultados da simulação do SOBEK 1D/2D no
momento do pico (10/01/2012 às 11:00horas) para cada uma das seções contidas na área de
estudo, e realizada a interpolação na região intermediária entre seções para gerar as áreas
inundadas (Lipski, 2007: 03).

Cada modelo de inundação descrito, possui suas características e formas de aplicação,


mas o objectivo final é o mesmo, o de mapeamento das áreas de risco de inundação. Dentre os
modelos aplicados para análise de risco de inundação, o que apresenta uma abordagem simples
para a resolução de problemas complexos é o método AHP. E no presente trabalho foi aplicado
integrado aos SIG.

Análise Multicritério

Para Costa (2002), a Análise Multicritério (ou Auxílio Multicritério à Decisão) busca a
modelagem e solução de problemas desta natureza, destacando-se - principalmente devido as sua
características inovadoras - como um instrumental poderoso e de uso crescente no âmbito da
tomada de decisão por organizacional. Dentre os métodos da Análise Multicritério, destaca-se o
Método de Análise Hierárquica (“Analytic Hierarquic Process, AHP”).

A Análise Multicritério é um sistema de suporte à tomada de decisão baseando-se na


combinação de muitas variáveis ou critérios segundo diferentes métodos. O objectivo é promover
a hierarquização das possibilidades ou alternativas de resolução de um determinado problema,
auxiliando o gestor na tomada de decisão, sua utilização está ligada ao facto de que certos
problemas não podem ser resolvidos apenas pela utilização de um único critério (Ornelas apud
Cumba, 2016: 24). A análise multicritério passa pelas seguintes etapas:
 Avaliação de desempenho das alternativas à luz dos critérios.
 Avaliação da importância dos critérios à luz do foco principal ou do objetivo geral (Costa,
2002: 13).
Método de Análise Hierárquica (AHP)

Segundo Manfro (1998), O Analytic Hierarchy Process - AHP, é uma técnica de decisão
e planeamento de múltiplos critérios desenvolvida por Thomas Saaty, em 1971, quando
trabalhava para o Departamento de Defesa Americano. O AHP Surgiu como resposta para
planeamento militar e empresarial, tomada de decisão, resolução de conflitos e participação
política em acordos negociados.

Para Saaty, citado por Paula & Cerri, o Processo Analítico Hierárquico (AHP) auxilia a
tomada de decisão baseada em critérios qualitativos e quantitativos, tendo como objetivo analisar
o julgamento de especialista no processo de decisão, dividindo problemas complexos em
problemas mais simples, na forma de hierarquia de decisão (Saaty apud Paula & Cerri, 2012:
249).
O Analytic Hierarchy Process (AHP) é uma teoria de medição por meio de comparações
de pares e se baseia nos julgamentos de especialistas para derivar escalas de prioridade. São essas
escalas que medem os intangíveis em termos relativos. As comparações são feitas por meio de
uma escala de julgamentos absolutos que representa, quanto mais, um elemento domina outro em
relação a um determinado atributo. Os julgamentos podem ser inconsistentes, e como mensurar a
inconsistência e melhorar os julgamentos, quando possível obter melhor consistência é uma
preocupação do AHP (Saaty, 2008).

Na metodologia AHP, esses fatores são arranjados de forma hierárquica, partindo do


objetivo geral para os critérios, subcritérios e alternativas nos níveis sucessivos (Saaty apud
Prochmann, 2014), sendo decompostos em elementos menores conforme apresentado na Figura
2.

Figura 2: Estrutura do Processo Analítico Hierárquico.

Fonte: Adaptado de Prochmann, 2014.

Princípios do Método de Análise Hierárquica

De acordo com Costa (2002), o AHP, objetiva a seleção/escolha de alternativas, em um


processo que considere diferentes critérios de avaliação. Este método está baseado em três
princípios do pensamento analítico:

Construção de hierarquias: No AHP o problema é estruturado em níveis hierárquicos, como


forma de buscar uma melhor compreensão e avaliação do mesmo. A construção de hierarquias é
uma etapa fundamental do processo de raciocínio humano. No exercício desta atividade
identificam-se os elementos chave para a tomada de decisão, agrupando-os em conjuntos afins, os
quais são alocados em camadas específicas.

Definição de prioridades: O ajuste das prioridades no AHP fundamenta-se na habilidade do ser


humano de perceber o relacionamento entre objetos e situações observadas, comparando pares à
luz de um determinado foco ou critério (julgamentos paritários).

Consistência lógica: No AHP, é possível avaliar o modelo de priorização construído quanto a


sua consistência.

Etapas do AHP

Ainda na abordagem de Costa (2002), a construção e utilização de um modelo de


estabelecimento de prioridades fundamentado no uso de AHP, são desenvolvidas as seguintes
etapas:

Construção de hierarquia

Identificando: foco principal; critérios; subcritérios (quando houverem); e, alternativas.


Estes elementos formam a estrutura da hierarquia;

Na primeira etapa, o problema é decomposto nos seguintes níveis: 1) Objetivo principal;


2) Critérios; 3) Subcritérios (se necessário) e 4) Alternativas. O objetivo desta etapa é fornecer
uma linguagem clara para o debate de todo o processo decisório, sendo necessária a
compreensão do problema a ser solucionado, analisando-se e caracterizando todo o contexto em
que o problema está inserido. Assim, são criados os critérios e subcritérios que compõe a
estrutura do modelo, devendo os mesmos serem precisos de modo a evitar dificuldades no
processo de decisão (Prochmann, 2002: 38).

Aquisição de dados ou coleta de julgamentos de valor emitidos por especialistas;

A segunda etapa consiste no processo do julgamento comparativo entre os critérios e


subcritérios, para determinar o peso que cada um possui sobre a decisão e dentre as opções, de
forma a avaliar o desempenho relativo da alternativa para cada um dos critérios. Tal relação
pode ser realizada através de uma simples pergunta: “Com relação a determinado critério,
quanto A é mais importante que B?” (ibid.)
Para fazer comparações, precisamos de uma escala de números que indique quantas vezes
mais importante ou dominante um elemento é sobre outro elemento em relação ao critério ou
propriedade com relação ao qual são comparados (Saaty, 2008). A Tabela 1 apresenta a escala de
prioridade proposta por Saaty com valores que variam de 1 a 9.

Tabela 1: Escala de prioridade utlizada no AHP

Intensidade de
Definição Explicação
importância
Igual
1 Os dois critérios contribuem para os objectivos.
importância
Importância A experiência e o julgamento favorecem um
3
moderada critério levemente sobre o outro.
Mais A experiência e o julgamento favorecem um
5
importante critério fortemente em relação ao outro.

Muito Um critério é fortemente favorecido relação a


7
Importante outro e pode ser demonstrado na prática.
Importância Um critério é favorecido em relação a outro com
9
extrema o mais alto grau de certeza.

Valores Quando se procura condições de compromisso


2, 4, 6 e 8
intermediários entre duas definições. É necessário acordo.
Fonte: Adaptado de Saaty (2008).

Os resultados obtidos a partir das comparações são colocados em uma matriz quadrada de
ordem n, onde n é o número de critérios comparados. Cada elemento representa a comparação
entre os critérios ou a importância relativa entre eles.

A matriz deve atender as seguintes condições:

Figura 3: Estrutura da matriz de comparação de variáveis

Fonte: Prochmann, 2014.


 Todo elemento da diagonal principal deve ser igual a 1, pois representa a comparação dele
com ele próprio.
 Todos os elementos devem ser positivos, seguindo a escala de comparação por Saaty.

Síntese dos dados obtidos dos julgamentos: calculando-se a prioridade de cada alternativa em
relação ao foco principal;

Na obtenção dos quadros normalizados realizamse as seguintes etapas, para cada um dos nós
de julgamento da hierarquia:

a) Cálculo do somatório dos elementos de cada coluna do quadro de julgamentos.


b) Divisão de todos os elementos de cada coluna do quadro de julgamentos, pelo somatório
referente a coluna (Costa, 2002).

Análise da consistência do julgamento: identificando o quanto o sistema de classificação


utilizado é consiste na classificação das alternativas viáveis.

Quando muitas comparações par-a-par são realizadas, algumas inconsistências podem


aparecer, portanto, faz-se necessário a verificação da consistência dos valores julgados para
realizar decisões baseadas nos resultados (Prochmann, 2014: 41).

Assim, uma forma de se mensurar a intensidade ou grau da inconsistência em uma matriz


de julgamentos paritários é avaliar o quanto o maior auto-valor desta matriz se afasta da ordem da
matriz. Saaty propõe a seguinte equação para o cálculo do Índice de Consistência (IC) (Costa,
2002: 70).

IC = |(𝜆máx – n)|/(n-1)

Onde: n e 𝜆máx representam, respectivamente, a ordem é o maior autovalor da matriz de


julgamentos paritários.

Saaty propôs o uso da Razão de Consistência (RC), que permite avaliar a inconsistência
em função da ordem da matriz de julgamentos. Caso este valor seja maior do que 0,1 ,
recomenda-se a revisão do modelo e/ou dos julgamentos (Costa, 2002: 74). A razão de
consistência é calculada por:

RC = IC / IR
Onde, IR é um índice consistência obtido para uma matriz recíproca, com elementos não-
negativos e gerada de forma randômica.

Tabela 2: Índices de Consistência Randômicos (IR).

Ordem 2 3 4 5 6 7 8 9
IR 0,00 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45

Fonte: Adaptado de Saaty, 2008.

Para Costa (2002), segundo Saaty, a inconsistência é um fato inerente ao ser humano.
Portanto, deve existir uma tolerância para a sua aceitação. Em seu trabalho, Saaty propõe a
aceitação de julgamentos que gerem uma inconsistência com RC < 0,1.

SIG e Método de Análise Hierárquica (AHP) na Análise de Risco de Inundação

De acordo com Pimenta et al. (2019), o método AHP tem sido utilizado em problemas
espaciais de localização, na análise de adequabilidade de terras, através dos pesos que
determinados critérios têm no alcance do objectivo da análise.

Segundo Silva et al. (2016), a aplicação da ferramenta de SIG na identificação e


diagnóstico de áreas de risco tem sido bastante explorada em diversas cidades brasileiras,
assumindo um papel importante na gestão do risco, pois a partir dela é possível elaborar mapas
associando os conhecimentos físicos, ambientais e sociais. Salientam a importância do Sistemas
de Informação Geográfica (SIG) na integração de estimadores sociais e biofísicos para a geração
de mapas de susceptibilidade, vulnerabilidade e risco.

Magalhães et al. (2011) no seu estudo de mapeamento de áreas de risco de inundação em


Guaçuí, ES, usando geotecnologias, procurou fazer uma análise comparativa entre dois métodos.
Para a elaboração do mapeamento, o primeiro método consistiu na coleta dos dados a partir de
informações primárias obtidos em trabalho de campo, onde foi gerado o polígono com o GPS de
navegação, representado e delimitando o local que a inundação alcançou no perímetro urbano; já
o segundo método foi elaborado utilizando o modelo de Análise Hierárquica (AHP), proposto por
Saaty em 1977. O método obtido pela análise de campo apresentou uma área inundável
equivalente a 137,79 ha, e o Modelo AHP apresentou uma área inundável de 188,78 ha,
representando uma diferença de 51 ha ou 6,13% de área inundada (Idem).
Rezende et al. (2017), no seu estudo intitulado Construção de modelo e utilização do
método de processo analítico hierárquico – AHP para mapeamento de risco á inundação em
área urbana, teve como objectivo analisar os riscos de inundação no perímetro urbano de
Paracatu-MG, por meio da elaboração do modelo MRV (Modelo de Reclassificação de
Variáveis) e aplicação da técnica de processo analítico hierárquico (AHP), utilizando software
livre. Tendo escolhido como objecto de estudo desse trabalho os cursos d’água situados na área
urbana do município de Paracatu, em Minas Gerais, para a análise dos riscos de inundação em
cidades. De acordo com os autores, dentre as principais características ambientais da cidade
importantes para o mapeamento de risco à inundação estão a altitude, a declividade e os solos.

Leal et al. (2020), numa pesquisa intitulada “Mapeamento de áreas vulneráveis à


inundação com uso dos SIG e da análise multicritério: o caso da bacia hidrográfica do rio una
em Pernambuco.” Teve como objectivo analisar os riscos de inundação na bacia hidrográfica do
rio Una, por meio da elaboração do Modelo de Reclassificação de Variáveis (MRV) e aplicação
da técnica Analytic Hierarchy Process (AHP) com o auxílio de um Sistema de Informação
Geográfica (SIG). O mapa de vulnerabilidade à inundação foi desenvolvido com auxílio da
metodologia proposta por Saaty em 1980 aliado à álgebra de mapas realizada num sistema de
informações geográficas.

Campioli e Vieira (2019), na avaliação do risco a inundação na bacia hidrográfica do rio


Cubatão do Norte, Joinville/SC, os níveis de informação que mais influenciam na
susceptibilidade são a hipsometria e a declividade, seguidos da pedologia, uso do solo e por
último, actuando minimamente nos resultados, os aspectos geológicos. Salientam a importância
do Sistemas de Informação Geográfica (SIG) na integração de estimadores sociais e biofísicos
para a geração de mapas de susceptibilidade, vulnerabilidade e risco.

“Os SIG ainda possibilitam a execução do planeamento dos procedimentos de


evacuação, monitoramento de desastres, implementação de sistemas de alerta e, inventário e
avaliação de danos dos eventos extremos” (Correia et al.; Lopes et al., apud Campioli e Vieira,
2019: 125).

E o estudo de mapeamento de risco à inundação usando o método AHP associado a um


software de geotecnologias pode ser visto em Santos et al. (2010). Para aplicação dessas
metodologias optou-se em sua adaptação para o uso em software livre, como é o caso do QGis
(Ibid.: 05). No intuito de identificar e analisar as áreas susceptiveis a inundação em forma de
conclusão os autores dividiram a área urbana de Paracatu em cinco classes quanto a esse risco,
variando de muito baixo a muito alto. Também concluíram que as áreas consideradas como de
risco muito alto estão concentradas principalmente nas regiões mais baixas da cidade e com
declividades menores inferiores a 2%.

Coelho (2016), no seu artigo intitulado “SIG aplicado em inundações urbanas: estudo de
caso no Município de Vitória – ES (Brasil)”, com objectivo principal especializar as manchas de
inundação dos bairros do Município de Vitória - ES (Brasil) a partir da modelagem de dados
geográficos em ambiente SIG integrado com produtos de Sensoriamento Remoto, validando o
mapeamento em registos documentais, fotográficos, campanhas de campo e em um evento de
maior precipitação concentrado dos últimos quarenta e cinco anos, obteve o resultado que
permitiu delimitar e calcular as áreas inundáveis em graus de susceptibilidades e comprovar sua
eficiência nos dados e informações.

Com base nos autores citados, pode se aferir que os Sistemas de Informação Geográfica e
o método multicritério AHP, quando integrados constituem um componente potencial para
análise espacial, especificamente à análise de riscos ambientais de ordem natural e antrópica.

Bacia Hidrográfica

Segundo Barrella, citado por Teodoro et al., a bacia hidrográfica é definida como o
conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo
por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os
riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático. (Barrella
apud Teodoro et al., 2007: 138).

Por bacia hidrográfica de um curso de água entende-se a área de captação natural da água
precipitada, cujo escoamento converge para uma secção única de saída. (Rodrigues et al. apud
Lousada e Camacho, 2018: 29).

A bacia hidrográfica é definida como uma compartimentação geográfica delimitada por


divisores de água. Este compartimento é drenado superficialmente por um curso d´água principal
e pelos respevtivos afluentes (Fernandes apud Attanasio, 2004: 16).
Sub-bacia Hidrográfica

Os termos sub-bacia e microbacia hidrográfica também estão incorporados na literatura técnico-


científica, todavia, não apresentam a mesma convergência conceitual apresentada para bacia
hidrográfica conforme comentado (Teodoro et al., 2007). As bacias podem ser desmembradas em
um número qualquer de sub-bacias, dependendo do ponto de saída considerado ao longo do seu
eixotronco ou canal coletor. (Santana apud Prochmann, 2014: 23).

Segundo Teodoro et al. (2007), as sub-bacias são áreas de drenagem dos tributários do
curso d’água principal. Para definir sua área os autores utilizam-se de diferentes unidades de
medida. As sub-bacias possuem áreas maiores que 100 km² e menores que 700 km² (Faustino
apud Teodoro et al., 2007). Já para Martins, citado por Teodoro et al., as sub-bacias são áreas
entre 20.000 ha e 30.000 ha (200 km2 a 300 km2) (Martins et al. apud Teodoro et al., 2007: 138).
METODOLOGIA

Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em


contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas
afirmações podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da
ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos (Lakatos e Marconi, 2003:
83).

De maneira geral, a metodologia adoptada consistiu no uso de Geoprocessamento para a


identificação das áreas de risco de inundação na sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè. Deste
modo, realizou-se o cruzamento de variáveis temáticas consideradas importantes (declividade,
hipsometria, uso da terra, solos, precipitação, densidade da rede viária, habitações, distância
euclidiana aos hospitais, distância euclidiana às farmácias e densidade populacional) em um
ambiente SIG (Sistema de Informações Geográficas).

Também foram adotadas as técnicas de análise bibliográfica e Detecção Remota. A


primeira consistiu na compilação de trabalhos presentes na literatura especializada sobre áreas de
risco de inundações, desse modo, fez-se uma busca em artigos científicos, monografias,
dissertações, teses e livros. E a segunda técnica neste caso, a Detecção Remota, permitiu a
obtenção de informação dos dados espaciais da área de estudo sem precisar de um contacto
directo. Essa informação inclui, o modelo digital de elevação, a imagem satélite, os dados da
precipitação

O método proposto para a identificação e consequentemente o mapeamento das áreas de


risco de inundação da sub-bacia Hidrográfica do Rio Revúboè tem como referência os propósitos
do Processo Analítico Hierárquico (AHP) desenvolvido por Thomas Saaty na década de 70.

Materiais

Modelo de Digital de Elevação

O Modelo Digital Elevação será adquirido na plataforma da NASA: ASF Data Search
relativos a ALOS PALSAR, com uma resolução de 12,5 metros. Destes dados foi delimitada a
sub-bacia hidrográfica da área de estudo através da delimitação automática da bacia hidrográfica.
Também desse MDE derivaram os mapas de altitude e declividade, usados para identificar as
áreas mais baixas e que representam maior risco às inundações na área em estudo devido a baixa
altitude e a consequência da gravidade que drena a água para áreas baixas e de declividade mais
plana.

Distribuição dos Solos

Para verificar a distribuição dos tipos de solos, usou-se a base de dados do IIAM (Instituto
de Investigação Agrária de Moçambique). A base de dados usada constitui um mapa de
distribuição de solos de todo território nacional disponível à uma escala de 1:1.000.000. Os dados
dos solos são imprescindíveis na análise de risco de inundação, pois os solos refletem na
capacidade de infiltração e escoamento superficial.

Uso e cobertura do solo

Para o uso e cobertura do solo obteve-se a base de dados Raster do uso do solo global
disponibilizada pela ESA. O mapa tem uma resolução espacial de 10 metros da superfície
terrestre de 2021. Consiste em um mapa de 10 classes da superfície, incluindo tipo de vegetação,
solo exposto, cultura e áreas urbanas.

Distribuição da precipitação

Os dados da precipitação foram adquiridos na CRU (Climate Research Unit) Data


disponível no site https://www.crudata.uea.ac.uk/cru/data/hgr/. É uma plataforma que trabalha
com conjunto de dados de séries temporais em grade de alta resolução. A versão utilizada (CRU
TS v. 4.06) foi lançada em 26 de Maio de 2022 e abrange o período de 1901 – 2021, tem uma
cobertura espacial de todo mundo (excepto a Antártica) com uma resolução espacial de 0.5º. No
presente trabalho, para elaboração do mapa matricial da precipitação média anual, foram
utilizados dados de precipitação pluviométrica (série de 30 anos) de 1991 - 2021.

Os dados para a realização do presente estudo foram obtidos de plataformas virtuais de


órgãos governamentais nacionais e internacionais, conforme indicado Tabela 3.
Tabela 3: Fonte da base de dados utilizada

Base de dados Fonte


Divisão administrativa CENACARTA
MDE ASF (NASA)
Hidrografia DNGRH
Solos IIAM
Uso e ocupação do solo ESA
Precipitação CRU DATA
População e Habitações INE
Hospitais e Farmácias MISAU

Fonte: adaptado pelo autor, 2022.

Tratamento dos dados

As bases de dados foram dispostas no ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG)


através de um Banco de Dados Geográficos (BDG), e foram tratados através do software ArcGis® 10.4.1
for Desktop da empresa americana ESRI (Environmental Systems Research Institute) e projectados para
um sistema de coordenadas geográficas e datum WGS 1984.

Delimitação automática da sub-bacia hidrográfica

O conhecimento preciso da rede de drenagem é de suma importância na definição da área


da bacia a ser estudadas na pesquisa da susceptibilidade à inundações (Prochmann, 2014: 50).

Para tanto, utilizou-se as ferramentas de análise espacial de hidrologia (ArcToolbox -


Spatial analyts tools - Hydrology) do software ArcGIS 10.4.1 para a delimitação automática da
sub-bacia hidrográfica através do MDE e da base de dados de hidrografia da DNGRH. Essa
extensão permite determinar a direção do fluxo, calcular o acúmulo de fluxo, delinear bacias
hidrográficas e criar redes de drenagem. A base de dados de rede de drenagem DNGRH, permitiu
determinar a direção do fluxo e delinear a sub-bacia hidrográfica do rio revúboè atráves da
extensão (Flow direction e Basin, respectivamente).
Método

Método Processo Analítico Hierárquico (AHP)

O método proposto para a elaboração do mapa de áreas de risco de inundação da sub-


bacia Hidrográfica do Rio Revúboè tem como referência os propósitos do Processo Analítico
Hierárquico (AHP) desenvolvido por Thomas Saaty em 1971.

O método AHP analisa matematicamente comparações pareadas entre factores em


conjunto aos julgamentos e pesos de especialistas para avaliar critérios qualitativos ou
intangíveis. Assim, são identificados factores ou atributos que, quando seleccionados, são or-
ganizados hierarquicamente descendentes de modo geral até o objectivo ou solução para o (os)
problema (as) até o critério, subcritério e alternativas em diversos níveis (Saaty apud Pimenta et
al., 2019: 409).

Mapa de Risco de Inundações pelo Método AHP

Segundo a revisão de literatura feita, para a elaboração do diagnóstico das áreas de risco
de inundações é necessário levar em consideração a análise do perigo, exposição e
vulnerabilidade, ou seja, só existe risco se houver presença desses três elementos. Um
fluxograma metodológico foi concebido (figura 4).

De modo a alcançar o grau de importância e os pesos de cada critério analisado recorreu-


se a metodologia proposta por Saaty (1990), de acordo com a estruturação da hierarquia de
decisão, construção da matriz de comparação pareada, priorização das alternativas e definição das
classes de perigo, exposição e vulnerabilidade, que resultou na definição das classes de risco.

Definição de variáveis condicionantes e justificativas

A selecção das variáveis foi feita mediante a revisão da literatura concernente a


identificação das áreas de risco de inundações. A literatura apresenta uma diversidade de
variáveis imprescindíveis a serem consideradas nesse estudo, de modo que, a probabilidade da
ocorrência de inundação seja resultado da combinação entre os condicionantes naturais e
antrópicos.
Para Santos (2010), os factores determinados como importantes e que influenciam
directamente no nível da água alcançado por uma enchente, independente da precipitação
incidente são: altitude, declividade, uso da terra e tipo de solo.

Altitude

Na perspectiva de Prochmann (2014), a altitude contribui para as inundações de modo


que, quanto maior a altitude, menor a probabilidade de inundação para uma determinada região
devido à acção da lei de gravidade que direcciona o escoamento para as regiões mais baixas.
Assim, as regiões mais baixas da bacia hidrográfica possuem uma tendência maior a sofrer com
inundações.

Na mesma abordagem, Magalhães et. al. (2011) concreciona o fundamento de Cuamba


(2016):

“Quanto maior a altitude, menor a probabilidade de inundação para uma determinada


região devido à ação da lei da gravidade que direciona a água para as regiões mais baixas”
(Magalhães et al., 2011: 65).

Declividade

Por outra, a declividade do terreno influencia diretamente no acúmulo de água no terreno.


Áreas planas apresentam maiores probabilidades de sofrer inundação do que áreas escarpadas
(Magalhães, 2011).

De acordo com Rezende et. al. (2017), a declividade é uma variável importante na
determinação dos riscos de inundação de uma área, pois, influencia diretamente no acúmulo de
água no terreno. Declive tem um efeito dominante sobre a contribuição das chuvas para o fluxo
de água. Ele controla a direcção do fluxo, infiltração e escoamento superficial. Encostas mais
íngremes são mais susceptíveis à erosão, enquanto terrenos planos são susceptíveis a inundação
(Cuamba, 2016: 07).

A declividade além de influenciar na velocidade de escoamento da água, interfere na


capacidade de armazenamento de água sobre este, sendo as áreas mais declivosas geralmente
com menor capacidade de armazenamento superficial do que as mais planas (Prochmann, 2014:
53).
Uso e ocupação do Solo

Para Campioli & Vieira (2019), o uso do solo retrata as condições de cobertura do solo,
variando desde uma cobertura muito impermeável até uma cobertura completamente permeável.

Segundo Cumba (2016), o uso e cobertura da terra de uma área é também uma das
principais preocupações em inundação porque este é um factor que não só reflecte o uso actual da
terra, padrão e tipo do seu uso, mas também a importância de seu uso em relação à estabilidade
do solo e infiltração. Área com cobertura vegetal dos solos, mesmo que seja pastagens
permanentes ou cobertura de outras culturas, tem um importante impacto sobre a capacidade do
solo para funcionar como um armazenamento de água.

Por sua vez Magalhães et. al., (2011), a forma de ocupação da terra influencia na
infiltração e escoamento superficial da água. As áreas com maior impermeabilidade tendem a
acumular mais água em superfície do que em solos com cobertura florestal por serem pouco
compactados.

Tipos de solo

O tipo de solo presente na região reflete também na capacidade de infiltração e


escoamento superficial da água (Magalhães, 2011).

A textura do solo e humidade são os componentes e características dos solos mais


importantes, a texturas têm um grande impacto sobre as inundações porque os solos arenosos
absorvem rapidamente a água, os solos argilosos são menos poroso e retêm a água mais tempo
do que solos arenosos. Isto implica que as áreas caracterizadas por solos argilosos são mais
susceptíveis a inundações (Cumba, 2016: 07).

Precipitação

As inundações ocorrem quando a precipitação é intensa e a quantidade de água que chega


simultaneamente ao rio, é superior à sua capacidade de drenagem resultando em inundações das
áreas ribeirinhas (Tucci apud Santos et al., 2010).

Como elementos para produzir o mapa de exposição e vulnerabilidade foram usadas as


seguintes variáveis: habitações, densidade da rede rodoviária, densidade populacional e
distância euclidiana aos hospitais.
Reclassificação e mapeamento das variáveis

Essa seção apresenta a metodologia utilizada para a reclassificação e o mapeamento das


variáveis que contribuem para a ocorrência das inundações, assim como sua divisão em classes.

Portanto, foram elaborados os mapas temáticos para as variáveis propostas tomando como
base as metodologias descritas abaixo. Ainda, foram atribuídos pesos para cada classe das
variáveis selecionadas em uma escala de 1 a 5, onde 5 é o valor com maior influência quanto às
inundações e 1, o menor valor.

Mapa hipsométrico

O mapa hipsométrico é a representação gráfica do relevo de uma bacia e representa o


estudo da variação da altimetria dos vários terrenos da bacia tendo como referência o nível médio
das águas do mar. O mapa foi obtido através da classificação do MDE e posterior reclassificação,
onde as classes altimétricas foram separadas em um intervalo de 387,4 metros, totalizando 5
classes. Os pesos atribuídos as classes de altitude foram aplicadas conforme a Tabela 5.

Tabela 5: Reclassificação do mapa hipsométrico

Classe (m) Peso atribuido Niveis de risco


109 - 496 5 Muito elevado
496 - 884 3 Médio
884 - 1.271 2 Baixo
1.271 - 1.659 1 Muito baixo
1.659 - 2.046 1 Muito baixo

Fonte: elaborado pelo autor (2022).

Mapa de declividade

A declividade é a inclinação da superfície do terreno em relação à horizontal, ou melhor, a


relação entre a diferença de altura entre dois pontos e a distância horizontal entre esses pontos. Os
valores de declividade podem ser expressos em graus (0º a 90º), e em percentagem. O mapa
consiste na representação das diferentes declividades encontradas na área de estudo e foi obtido
através da extracção das declividades a partir do raster gerado do MDE por meio da função slope
no ArcMap, sendo assim possível discriminar as classes de declividades em percentagem de
acordo com IIAM, detalhadas na Tabela 6.
Tabela 6: Classes de declividade

Classe de declividade Limites percentuais (%)


Plano e Suave ondulado 0-7
Ondulado 7 – 20
Forte ondulado 20 – 39
Montanhoso 39 – 72
Escarpado >75
Fonte: Adaptado de Leal et al. (2020)

Os pesos atribuídos na reclassificação das diferentes classes de declividade estão representados


na Tabela 7.

Tabela 7: Reclassificação do mapa de declividades

Classe de declividade Peso atribuído Niveis de risco


Plano e Suave ondulado 5 Muito elevado
Ondulado 4 Elevado
Forte ondulado 3 Médio
Montanhoso 2 Baixo
Escarpado 1 Muito baixo
Fonte: elaborado pelo autor (2022).

Mapa de Uso e ocupação do solo

O mapa de uso e ocupação do solo consiste na representação gráfica dos diferentes formas
de uso e ocupação do solo da área de estudo. Para sua elaboração usou-se a base de dados global
do uso e ocupaçaõ do solo da ESA, as imagens possuem uma resolução espacial de 10 metros.
Extraiu-se a informação do uso do solo da área de estudo e fez-se a classificação no ArcGis com
base na legenda disponibilizada no site da ESA, a Tabela 8 apresenta a sua reclassificação.
Tabela 8: Reclassificação do mapa de uso e ocupação do solo

Uso e ocupação do solo Peso atribuído Níveis de risco


Floresta/cobertura de árvores 1 Muito baixo
Vegetação arbustiva 3 Médio
Pastagem 1 Muito baixo
Terra cultivada 2 Baixo
Área construída 5 Muito elevado
Solo exposto 5 Muito elevado
Corpos d'água permanentes 5 Muito elevado

Fonte: elaborado por (Magaia, 2022).

Mapa pedológico

O mapa pedológico compreende a representação gráfica das diferentes classes de solo que
ocorrem na área de estudo. Para a elaboração deste mapa temático utilizou-se como base o mapa
pedológico de Moçambique, fornecido pelo IIAM na escala de 1:1.000.000, para o qual foi
realizado o clip (corte) da área de estudo. Os pesos de cada classe de solo foram aplicados
conforme Tabela 9.

Tabela 9: Reclassificação do mapa pedológico

Classe de pedologia Peso atribuído Níveis de risco


Solos pouco profundos sobre rocha calcária 3 Médio
Solos litícos 2 Baixo
Solos argilosos vermelhos óxicos 5 Muito elevado
Solos argilosos vermelhos 5 Muito elevado
Solos castanhos de textura arenosa 3 Médio
Solos vermelhos de textura média 3 Médio
Solos basalticos liticos 3 Médio
Solos basalticos pretos 5 Muito elevado
Solos pouco profundos sobre rocha não
calcaria 5 Muito elevado
Solos arenosos castanho-acinzentados 1 Muito baixo
Fonte: elaborado pelo autor (2022).

Mapa da precipitação pluviométrica média anual

O mapa de precipitação pluviométrica consiste na representação gráfica da distribuição


das chuvas num local durante um período determinado. Para elaboração do mapa da precipitação
média anual, foram utilizados dados de precipitação pluviométrica (série de 30 anos) de 1991 –
2021, obtidos na CRU DATA – plataforma de dados climáticos de séries temporais em grade de
alta resolução.

Tabela 10: Reclassificação do mapa da precipitação

Classe de pluviometria (mm) Peso atribuído Niveis de risco


734 - 780 1 Muito baixo
780 - 828 2 Baixo
828 - 872 3 Médio
872 - 908 4 Elevado
908 - 945 5 Muito elevado
Fonte: elaborado pelo autor (2022).

Mapa de densidade da rede viária

Quanto maior for a densidade da rede viária, maior é o grau de exposição às inundações.
Elaborou-se o mapa da densidade de rede viária, usou-se a base de dados da rede viária da ANE,
calculou-se a densidade atraves da função Kernel density localizada no spatial analyst tools. Os
pesos de cada classe da densidade da rede viária foram aplicados conforme Tabela 11.

Tabela 11: Reclassificação do mapa da densidade da rede viária

Classe da densidade da rede viária (m2) Peso atribuído Niveis de risco


0 - 0,000018031 1 Muito baixo
0,000018031 - 0,000036062 2 Baixo
0,000036062 - 0,000054093 3 Médio
0,000054093 - 0,000072124 4 Elevado
0,000072124 - 0,000090155 5 Muito elevado
Fonte: elaborado pelo autor (2022).

Mapa de distância euclidiana aos hospitais

O mapa consiste na representação da distância entre os hospitais existentes na área de estudo.


Para sua elaboração usou-se o shapefile da distribuição geográfica hospitais a nivel nacional,
apenas fez-se o recorte da área de estudo e calculou-se as distâncias euclidianas com a função
Euclidean distance do Spatial analyst tools. A tabela 12 apresenta a reclassificação das 5 classes
do mapa da distância euclideana aos hospitais.
Tabela 12. Reclassificação do mapa da distância euclideana aos hospitais

Peso
Classe da distância euclidiana aos hospitais atribuído Niveis de risco
0 - 12.116 1 Muito baixo
12.116 - 24.232 2 Baixo
24.232 - 36.348 3 Médio
36.348 - 48.464 4 Elevado
48.464 - 60.580 5 Muito elevado

Fonte: elaborado pelo autor (2022).

Aplicação do método de decisão multicriterial

O mapa de risco de inundações será o produto do cruzamento espacial de três elementos


(perigo, exposição e vulnerabilidade) compostos por nove variáveis representadas nos mapas
temáticos elaborados e envolverá duas fases distintas de trabalho, a fase teórica, na qual serão
atribuídos os pesos às variáveis, e a fase operacional, onde será utilizada a álgebra de mapas para
agregação dos mapas temáticos.

Fase teórica - atribuição dos pesos às variáveis

A atribuição dos pesos às variáveis efectuou-se com a aplicação do método AHP. De


modo a definir a importância relativa dos critérios no que tange à risco de inundações, realizou-se
a comparação dois-a-dois dos critérios utilizando a escala proposta já apresentada na Tabela 1,
onde o valor 1 equivale ao mínimo, e 9 o máximo de importância de uma variável sobre outra.
Essa é a parte mais importante, pois, os valores atribuídos a cada variável interferiram
diretamente no resultado obtido.

Tabela 14. Matriz de comparação pareada.

Declividad
Variáveis e Hipsometria Uso do solo Pedologia Precipitação
Declividade 1 3 4 5 7
Hipsometria 1/3 1 3 4 5
Uso do solo 1/4 1/3 1 3 4
Pedologia 1/5 1/4 1/3 1 3
Precipitação 1/7 1/5 1/4 1/3 1
SOMA 1,93 4,78 8,58 13,33 20,00
Fonte: elaborado pelo autor (2022)

Observando a tabela 14, percebe-se de que forma ela foi elaborada, pois cada elemento da
matriz indica quanto a variável da coluna da esquerda é mais importante em relação a cada
variável correspondente na linha superior. Logo, quando uma variável é comparada com ela
mesma, o único resultado possível é 1, pois possui igual importância. a partir do momento que
todas as variáveis se entrecruzam uma vez, a matriz passa a ser simplesmente o oposto do
procedimento inicial.

Possuindo os valores de importância relativa das variáveis, foi possível determinar os


pesos estatisticos para cada variável. Obteve-se os valores manualmente, apenas dividindo cada
elemento pela somatória dos elementos da coluna a que ela pertence e fazendo-se uma média
entre as colunas, determinando assim cada peso, como ilustra a Tabela 15.

Tabela 15. Determinação dos pesos estatísticos para cada variável de perigo

Média Pesos (%)


Declividade 0,52 0,63 0,47 0,38 0,35 0,47 47
Hipsometria 0,17 0,21 0,35 0,30 0,25 0,26 26
Uso do solo 0,13 0,07 0,12 0,23 0,20 0,15 15
Pedologia 0,10 0,05 0,04 0,08 0,15 0,08 8
Precipitação 0,07 0,04 0,03 0,03 0,05 0,04 4
SOMA 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 100
Fonte: elaborado pelo autor (2022).

Tabela 16. Pesos estatisticos das variáveis analisadas

Critério Subcritério Variável Pesos (%)


Uso e o cupação do solo 15
Hipsometria 26
Perigo Suscetibilidade Declividade 47
Precipitação 4
Solos 8
Exposição Habitações 60
Densidade da rede rodoviária 40
Vulnerabilidade Criticidade Densidade populacional 60
Distância euclidiana aos
Capacidade de Suporte hospitais 40

Fonte: elaborado pelo autor (2022).


Para avaliar se realmente os pesos calculados são verídicos, foi necessário calcular a razão
de consistências (RC), que segundo Costa (2002) deve apresentar um valor menor que 0,10. A
razão de consistência obtida foi de 0,06, conforme ilustram os cálculos, atestando a coerência na
hierarquização dos dados analisados.

( λmáx−n) ( 5,2865−5 )
IC= = =0,0716
(n−1) ( 5−1)

IC 0.0716
RC = = =0,06
IR 1.12

Fase operacional - utilização da álgebra de mapas para agregação

Dentro de um ambiente SIG uma das formas de se realizar uma análise multicritério é
através da álgebra de mapas. Esse processo consiste em uma operação matemática de média
ponderada, na qual se consideram os valores de influência de cada variável e os pesos atribuídos
a cada uma de suas classes (Moura apud Leal et al., 2020: 31). A elaboração do mapa de risco de
inundação se deu por meio da integração dos mapas de Perigo, Exposição e Vulnerabilidade,
realizada por um SIG, conforme exposto nas Equações abaixo. Para tal, utilizou-se a ferramenta
Raster Calculator do software ArcGIS.

Mapa de perigo de inundação

A primeira etapa consistiu na elaboração do mapa de perigo, através da integração das


seguintes variáveis: declividade, hipsometria, uso e ocupação do solo, solo e precipitação. Para
tanto, os valores foram processados algebricamente pela seguinte equação:

Perigo = (D * 0.47) + (Us * 0.26) + (H * 0.15) + (Pd * 0.08) + (Pr * 0.04)

Onde: P = Perigo; D = Declividade; Us = Uso do solo; H = Hipsometra; Pd = Pedologia;


Pr = Precipitação.

Mapa de exposição

Para a determinação do mapa de exposição da área de estudo foi adoptada a mesma


metodologia da determinação do mapa de perigo, mas pela seguinte equação:

Exposição = (Habitações * 0.60) + (Densidade da rede viária * 0.40)


Mapa de vulnerabilidade

A base proposta para a determinação do mapa de vulnerabilidade da área de estudo foi


avaliar e atribuir pesos de acordo com nível de criticidade e capacidade de suporte em casos de
inundação para as classes. Portanto, foi elaborado pela seguinte equação:

Vulnerabilidade = (Densidade populacional * 0.60) + (Distância euclidiana aos hospitais


* 0.40)

Mapa de Risco a inundação

O mapa de risco de inundação é o resultado da multiplicação do mapa de perigo de


inundação, mapa de exposição e o mapa de vulnerabilidade, computado pela ferramenta raster
calculator do software ArcGIS 10.4.1. Foi determinado pela seguinte equação:

Risco de inundação = Perigo * Exposição * Vulnerabilidade

Após obter o mapa de risco de inundações, foi reclassificado em cinco categorias


hierárquicas, como muito baixo, baixo, médio, elevado e muito elevado o risco de inundações.
LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Localização Geográfica

A área de estudo compreende a bacia hidrográfica do Rio Zambeze, mais especificamente


a sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè. O rio Revúboè e um rio situado em Moçambique entre
os paralelos 14º 24’ e 16º 12’ de latitude Sul e entre os meridianos 33º 30’ e 34º 40’ de longitude
Este, na província de Tete. Desagua no Rio Zambeze imediatamente a jusante a Cidade de Tete.
Os limites a Norte e a Este da sub-bacia do Revúboè delimitam a fronteira entre Moçambique e o
Maláui. A Oeste encontra-se com a sub-bacia do rio Mavudzi, enquanto a Sul o rio Revúboè vai
desaguar ao rio Zambeze (Serafim, 2005).

Figura 6: Mapa de localização geográfica da área de estudo

Fonte: Magaia, 2022


O Rio Revúboè tem cerca de 17669 km de área de sub-bacia hidrográfica ao longo de um
percurso de 303 km. De acordo com os dados fornecidos pela DNGRH, o caudal médio anual do
rio revúboè é de 74,97 m3/s, num período de 62 anos (1954 – 2016). O Gráfico 1 apresenta o
caudal médio mensal de 2014.

Os meses que apresentam maior volume de água são da estação quente-chuvosa,


especificamente, Janeiro – Abril, com uma pequena variação em Dezembro e os meses de
Outubro e Novembro não apresentam nenhum valor, da mesma forma que alguns meses da época
fresca e seca, tais como, Junho – Setembro.

Gráfico 1: Caudal médio mensal do Rio Revúboè na Estação hidrométrica E-302

Caudal médio mensal do Rio Revúboè na estação hidrométrica E-


302
140
120
Volume em (m3/s)

100
80
60
40
20
0
Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar Abr. Mai. Jun Jul Ago. Set.

Fonte: Dados (DNGRH, 2014), elaborado por (Magaia, 2022)

Caracterização das condições fisíco-natuaris

Clima e Precipitação

A bacia do rio Revúboè tem clima modificado pela altitude o que significa temperaturas médias
mais baixas e maior pluviosidade inclusive com chuvas na estação seca.

A precipitação na sub-bacia hidrográfica do rio Revúboè é bastante significativa,


apresentando no período avaliado de 30 anos (1991 - 2021), os valores médios anuais variam
entre 734 mm na zona Sul e os 945 mm Norte, conforme se pode ver na Figura 7.
Figura 7: Mapa de precipitação pluviométrica

Fonte: elaborado pelo autor (2022)


Relevo

O Rio Revúboè nasce na área de montanha existente ao Norte de Tete no distrito de


Angónia a que correspondem alturas acima dos 1400 metros. De seguida o rio atravessa o
Planalto Moçambicano tipicamente com altitudes acima de 600 m e mais a jusante passa pelo
segundo planalto com altitudes entre os 200 e os 400 m. Por fim atinge as planícies de inundação
do Rio Zambeze com altitudes abaixo dos 200 m (Serafim, 2016).

O relevo da sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè é bastante acentuado tendo a


montanha mais alta no distrito da Angónia uma altitude máxima de 2071 metros e tendo a sul na
confluência do rio Revúboè com o rio Zambeze altitudes mínimas de 109 metros, conforme
ilustra a Figura …
Figura 8: Mapa hipsométrico da sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè

Fonte: elaborado por (Magaia, 2022)

Geologia e Solos

Em termos geológicos a bacia do Rio Revúboè e muito rica, pois são conhecidos
depósitos de carvão, grafite, ouro e prata (Serafim, 2016). A sub-bacia do rio revúboè é composta
essencialmente por solos Castanhos, Castanho avermelhados ou Solos Vermelhos. Os tipos de
solo com maior proporção são do tipo vermelhos de textura média, solos castanhos de textura
média, solos líticos ou pouco profundos e solos basálticos pretos, que são predominantes na
região sul da sub-bacia do rio revúboè.
Figura 9: Mapa pedológico da sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè

Fonte: Magaia, 2022

Uso e ocupação do solo

Em termos de uso e ocupação da sub-bacia do rio Revúboè é muito rica. A partir da


Figura 10 pode-se observar que a norte a o solo é maioritariamente cultivado, provavelmente
devido as altitudes e pouca profundidade do estrato de subsolo. A floresta/cobertura de árvores
predominante no centro da sub-bacia hidrográfica e é o tipo de uso e ocupação do solo que ocupa
maior área da sub-bacia. No centro da sub-bacia há ainda zonas de vegetação arbustiva. A sul a
vegetação é mais rasteira e seca, sendo composta maioritariamente por pradarias ou áreas de
pastagem e por vegetação arbustiva. Ainda a sul existência de solo exposto e áreas construídas.
Figura 10: Mapa de uso e ocupação do solo sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè

Fonte: Magaia, 2022


RESULTADOS E DISCUSSÃO

O mapa integrado de risco de inundações da sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè


(Figura 9), resultou do cruzamento dos mapas de Perigo, Exposição e Vulnerabilidade. Para a
geração de cada mapa observou-se variáveis condicionantes, para Perigo considerou-se: a
Declividade, Hipsometria, Uso e ocupação do solo, Pedologia, e Precipitação. Para o mapa de
Exposição considerou-se variáveis tais como: Densidade da rede viária e Densidade das
habitações, e para o mapa da Vulnerabilidade observou-se as seguintes variáveis: Densidade
populacional e Distância euclidiana aos hospitais. Havendo sido atribuídos os pesos através da
Análise multicritério AHP, as variáveis foram reclassificadas e atribuídas os níveis de influência
de cada classe.

Reclassificação das variáveis

Declividade e Hipsometria

a declividade do terreno influencia diretamente no acúmulo de água no terreno. Áreas


planas apresentam maiores probabilidades de sofrer inundação do que áreas escarpadas
(Magalhães, 2011). Dessa forma, se analisada a variável declividade separadamente, a sub-bacia
apresentou tendência à inundação no extremo sul e parcialmente à noroeste, conforme mostra o
Apêndice 1.

Para o mapa hipsométrico (Apêndice 1) foram aplicados valores maiores para áreas com
menores altitudes, o que influencia o risco de inundação pelo acúmulo de água resultante. Já os
menores valores referem-se às áreas com maior altitude e, por tais características, menos sujeitas
à inundação. Assim, se analisada a variável hipsometria separadamente, a sub-bacia apresentou
tendência de inundação no seu extremo sul, conforme mostra Apêndice 11.

Pedologia e Uso e ocupação do solo

Para a variável pedológica, foram atribuídos valores menores para os solos bem drenados,
e notas maiores para os solos mal drenados e argilosos por apesentarem baixa permeabilidade,
conforme exposto no Apêndice 2.
Para os valores das classes de uso e ocupação do solo foram adoptadas valores maiores
para as áreas impermeáveis tais como, solo exposto, corpos d’água e áreas construídas, e valores
menores para as áreas permeáveis tais como, florestas e áreas de pastagem, conforme mostra o
Apêndice 2.

Precipitação

Para o mapa de precipitação pluviométrica (Apêndice 3) foram atribuídos maiores valores


para áreas com elevado índice pluviométrico e menores valores para áreas com baixo índice
pluviométrico. Na sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè a precipitação é mais intensa no norte,
que coincide com as áreas de elevadas altitudes, e de acordo com o mapa de declividade e
hipsometria essas áreas não calham com as áreas de risco elevado, e as áreas à jusante da sub-
bacia, com declividade plana e suavemente ondulada, e altitude baixa a precipitação é menos
intensa. Esta discrepância é explicada pelas duas variáveis que mais influenciam no escoamento
das águas, a declividade e a hipsometria, pois, toda água escoada a partir das áreas mais elevadas
vai acumular-se nas áreas planas e baixas altitudes, acarretando inundações.

Densidade da rede viária e Densidade habitacional

Para as áreas com maior densidade da rede viária e habitacional atribui-se maiores
valores, e as áreas com menor densidade foram atribuídos valores menores, conforme
apresentado no Apêndice 4.

Densidade populacional e Distância euclidiana aos hospitais


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