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É o assunto que se deseja provar ou desenvolver. Pode surgir de uma dificuldade prática
enfrentada pelo coordenador, da sua curiosidade científica, de desafios encontrados na leitura de
outros trabalhos ou da própria teoria. Pode ter sido sugerido pela entidade responsável pela parte
financeira, portanto, "encomendado", o que não lhe tira o carácter científico, desde que não se
interfira no desenrolar da pesquisa (Marconi & Lakatos, 2003). Tendo em conta esse aspecto, o
tema que pretende-se pesquisar é o seguinte:
Neste contexto a pesquisa será realizada na província de Tete, concretamente no rio Revúboè, um
dos afluentes do Rio Zambeze.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
Moçambique, atravessado por rios que nascem nos países vizinhos e desaguam no seu litoral,
no sudeste do continente africano, tem sido afectado por inundações de grandes dimensões que
causam danos avultados nas comunidades ribeirinhas (Dgedge e Chemana, 2018). As inundações
são um dos desastres naturais com mais impacto, provocando mortes, afectando pessoas e
causando perdas económicas elevadas tendo a sua frequência aumentada nos últimos anos
(Fernandez, 2015).
O mapeamento das áreas de risco de inundações, proposto nesta pesquisa, pretende identificar
os locais sujeitos a situações de riscos futuramente. Este mapeamento é um passo importante para
realização de futuros estudos pontuais e aprofundados nas áreas de risco identificadas, tanto se
referindo a probabilidade de ocorrência de desastres naturais, quanto à intensidade dos processos
que os condicionam nestes locais. Reveste-se de extrema importância no planeamento e
ordenamento territorial, particularmente sob a perspectiva de subsidiar a prevenção de desastres
naturais frente às mudanças climáticas que se registam, assim como auxiliar na gestão de áreas
ocupadas.
1.2. Justificativa
Científica
Este trabalho foi elaborado tendo em conta os últimos eventos catastróficos vividos em
Moçambique, particularmente, a Tempestade Tropical ANA, que assolou a sub-bacia
hidrográfica de Rio Revúboè.
Social
Pessoal
1.3. Problematização
Moçambique é afectado por vários desastres provocados por fenómenos naturais tais como
inundações, seca, ciclones e sismos. Alguns destes fenómenos são de carácter cíclico, enquanto
os outros são ocasionais. Os ciclones, secas e inundações se devem a influência climática do País,
ditada pelos anticiclones subtropicais do Oceano Índico, a zona de Convergência Intertropical,
depressões térmicas da África Austral e a passagem das frentes frias no Sul (INGC, [s.d.]).
Uma subida do número de desastres naturais foi observada em Moçambique nas últimas três
décadas. As províncias centrais são mais propensas a cheias, ciclones tropicais e epidemias,
seguidas pelas províncias do Sul e do Norte (INGC, 2009).
Fortemente afectado pelo Ciclone Idai, temporais e inundações fluviais de forma cíclica, a
região centro comporta vários rios importantes do ponto de vista hidrográfico em Moçambique.
Um dos rios que mais afecta a região do ponto de vista de inundações e coloca em risco a
população e seus bens é o rio Revúboè. No ano de 2019, antes da incidência do Ciclone Idai a
região já tinha sido afectada pelas inundações do rio Revúboè, que deixaram a cidade de Tete
inundada e o trânsito interrompido. Enquanto a população recuperava-se das inundações foi
afectada pelo ciclone Idai.
Recentemente no início do ano 2022, quase três anos depois um dos bairros da cidade de Tete
ficou totalmente inundado e o distrito de Moatize ficou isolado do resto da província de Tete,
devido a subida do caudal do rio Revúboè, ocasionada pela passagem da Tempestade Tropical
ANA, como resultado, pessoas perderam vidas, incluindo o Administrador da Cidade de Tete e
centenas de casas ficaram destruídas. A vista disso, nesta pesquisa pretende-se responder a
seguinte pergunta:
Geral:
Específicos:
Pesquisa alguma parte hoje da estaca zero. Mesmo que exploratória, isto é, de avaliação de
uma situação concreta desconhecida, em um dado local, alguém ou um grupo, em algum lugar, já
deve ter feito pesquisas iguais ou semelhantes, ou mesmo complementares de certos aspectos da
pesquisa pretendida (Marconi e Lakatos, 2003: 225).
Desastre Natural
É uma grave perturbação desencadeada por um desastre natural que causa perdas
humanas, materiais, econômicas ou ambientais, que excedem a capacidade de enfrentamento das
pessoas afetadas (UNDP, 2004: 98).
Risco
Para Barrera et al. (2014), risco é definido como provável dano ou perda a um sistema
afectado, resultante da interação entre a sua vulnerabilidade e a presença de um fenómeno natural
ou antropogénico.
De acorco com UNDP (2004) a fórmula usada para modelar o risco combina seus três
componentes. O risco é uma função da probabilidade de ocorrência do perigo, do elemento em
risco (população) e da vulnerabilidade. A equação abaixo foi feita para modelar o risco de
desastres.
Os três fatores usados para construir essa explicação estatística do risco foram
multiplicados entre si. Isso significava que se o perigo fosse nulo, então o risco era nulo. O risco
também era nulo se ninguém morasse em uma área exposta ao perigo (população = 0). A mesma
situação ocorreu se a população fosse invulnerável [vulnerabilidade = 0, induzir um risco = 0]
(UNDP, 2004: 100).
Perigo
O perigo é um fenômeno natural que ocorre em épocas e região conhecidas que podem
causar sérios danos nas áreas sob impacto. Assim, perigos naturais (natural hazards) são
processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera, podendo constituir um evento danoso
e serem modificados pela atividade humana, tais como a degradação do ambiente e urbanização
(Kobiyama et al, 2006).
Por outra, Barrera et. al. (2014), define perigo como um fenómeno de origem natural ou
causados pelo homem que podem causar danos e expor a vida das pessoas, bens e o
funcionamento da comunidade.
Vulnerabilidade
De acordo com Cardona (apud Sanchez, 2018), assim que se destaca uma classificação de
perdas, separando-as em perdas diretas e indiretas onde “ as perdas diretas são relacionados a
danos físicos, expressos em vítimas, em danos de infra-estrutura de serviços públicos, em
edifícios, espaço urbano, indústria, comércio e a deterioração do meio ambiente, ou seja, a
alteração física do habitat. As perdas indirectas geralmente pode ser subdividido em efeitos
sociais, como a interrupção transportes, serviços públicos, meios de comunicação social e
imagem desfavorável que uma região pode assumir em relação a outras; e em efeitos economia
que representam a alteração do comércio e da indústria como consequência da queda na
produção, da falta de motivação para o investimento e da geração de despesas de reabilitação e
reconstrução.
Exposição
Inundações
De acordo com Amaral & Moni (2020), a inundação é o processo que ocorre quando as
águas do rio transbordam em função das chuvas e ocupam a área ao lado do rio, que são
chamadas de planícies fluviais ou várzeas.
Segundo UNISDR (2017), as inundações são o perigo natural com a maior frequência e a
mais ampla distribuição geográfica em todo o mundo. Embora a maioria das inundações sejam
eventos pequenos, as inundações monstruosas não são infrequentes. As inundações ocorrem mais
comumente devido a fortes chuvas quando os cursos d'água naturais não têm capacidade de
transportar o excesso de água. Também pode resultar de outros fenómenos, nomeadamente nas
zonas costeiras, por uma maré de tempestade associada a um ciclone tropical, a um tsunami ou a
uma maré alta.
A inundação, popularmente tratada como enchente, é o aumento do nível dos rios além da
sua vazão normal, ocorrendo o transbordamento de suas águas sobre as áreas próximas a ele
(Figura 1). Estas áreas planas próximas aos rios sobre as quais as águas extravasam são chamadas
de planícies de inundação. Quando não ocorre o transbordamento, apesar do rio ficar
praticamente cheio, tem-se uma enchente e não uma inundação. Por esta razão, no mundo
científico, os termos “inundação” e “enchente” devem ser usados com diferenciação. (Kobiyama
et al., 2006: 45).
Inundações excepcionais;
Inundações de grande magnitude;
Inundações normais ou regulares;
Inundações de pequena magnitude.
Segundo Castro (2003), as inundações graduais ocorrem quando a água eleva-se de forma
lenta e previsível, mantêm-se em situação de cheia durante algum tempo, e a seguir escoam-se
gradualmente. As inundações graduais são intensificadas por variáveis climatológicas de médio e
longo prazos e pouco influenciáveis por variações diárias do tempo. Relacionam-se muito mais
com períodos demorados de chuvas contínuas do que com chuvas intensas e concentradas.
Por outro lado, popularmente conhecidas como enxurradas, as inundações bruscas são
provocadas por chuvas intensas e concentradas, em regiões de relevo acidentado, caracterizando-
se por produzirem súbitas e violentas elevações dos caudais, os quais escoam-se de forma rápida
e intensa. As enxurradas são típicas de regiões acidentadas e normalmente ocorrem em bacias ou
sub-bacias de médio e de pequeno portes. Normalmente, relacionam-se com chuvas intensas e
concentradas, sendo o fenômeno circunscrito a uma pequena área. (Castro, 2003: 50).
Alagamentos
Alagamentos são águas acumuladas no leito das ruas e nos perímetros urbanos por fortes
precipitações pluviométricas, em cidades com sistemas de drenagem deficientes. Nos
alagamentos o extravasamento das águas depende muito mais de uma drenagem deficiente, que
dificulta a vazão das águas acumuladas, do que das precipitações locais (id. 51).
Medidas estruturais
De acordo com Castro (2003), dentre as obras de redução de riscos de inundações, as mais
efectivas são as barragens reguladoras; obras de desenrocamento, desassoreamento e de
canalização; canais de derivação e de interligação de bacias; diques de protecção; construção de
habitações diferenciadas e obras de perenização e de controlo das enchentes.
Estas medidas são essenciais e necessárias para a solução de grande parte dos problemas
de inundações urbanas. Porém, além de onerosas, não representam por si só soluções eficazes e
sustentáveis dos problemas mais complexos de drenagem urbana. As melhores soluções são
alcançadas através de compreensão mais integrada do ambiente urbano e das relações entre os
sistemas que o compõem (Enomoto, 2004).
Medidas não-estruturais
As medidas não estruturais são medidas de carácter preventivo. Elas buscam criar uma
melhor convivência das populações com os processos de inundação, de uma maneira em que,
geralmente, não envolva nenhuma obra de engenharia (Peruzzo, 2017).
Segundo Santos (2015), o mapeamento das áreas de risco de inundação é uma ferramenta
que auxilia no controle e prevenção de inundações. O método de mapeamento que faz uso de uma
base cartográfica confiável e em conformidade com a localização exata dos elementos da bacia
hidrográfica e de suas características hidráulicas compõe um material importante para avanços do
setor técnico em relação à população.
O estudo direcionado ao mapeamento de áreas de riscos é relevante e de fundamental
importância, principalmente na realização de planeamentos urbanos pois fornecem subsídios na
execução de Planos Diretores, Planos de Ações Preventivos a desastres, bem como na tomada de
decisão para amenizar, reduzir ou até mesmo eliminar as situações de riscos (Cristo, 2002: 36).
De acordo com Cristo, citado por Cristo o estudo de áreas de risco, pode obter três
direcionamentos, primeiro a prevenção de acidentes onde busca-se evitar o desastre; segundo
buscando-se a redução da intensidade do desastre, melhorando a convivência das pessoas com a
situação de risco e a terceira, seria a eliminação definitiva do risco de desastre, removendo-se as
pessoas e seus bens materiais para locais seguros (Cristo apud Cristo, 2002: 37).
De acordo com Monteiro & Kobiyama, citados Campos et al., há uma diferenciação entre
mapa de inundação, mapa de perigo de inundação e mapa de risco de inundação. O mapa de
inundação consiste na delimitação das áreas inundadas com a altura da lâmina de água. o mapa de
perigo de inundação contém informações sobre a probabilidade e/ou magnitude de um evento,
enquanto o mapa de risco contém informações adicionais sobre as consequências, danos
econômicos, pessoas afetadas (Monteiro e Kobiyama apud Campos et al., 2015: 69).
Modelo LISFLOOD-FP
O programa foi desenvolvido para cálculos hidráulicos unidimensionais para uma rede de
canais naturais ou artificiais. O HEC-RAS é capaz de calcular o escoamento permanente
gradualmente variando em canais naturais ou artificiais e os regimes subcrítico, supercrítico,
misto podem ser analisados. Um método alternativo disponível no HEC-RAS é calcular a
conveyances parciais da planície de inundação entre cada ponto de coordenadas na seção (ibid.).
Modelo SOBEK
Segundo Deltares, citado por Lipski et al., SOBEK é um conjunto de modelagem que faz
previsão de enchentes, optimização de sistemas de drenagem, controle de sistemas de irrigação,
qualidade da água superficial, entre outros (Deltares apud Lipski et al., 2007: 03). O SOBEK é
adequado para modelagem e análise de: sistemas de irrigação e drenagem; sistemas rurais:
hidráulica de canal aberto, sistemas fluviais, simulações de cenários de inundação, entre outros
(Lipski, 2007).
Análise Multicritério
Para Costa (2002), a Análise Multicritério (ou Auxílio Multicritério à Decisão) busca a
modelagem e solução de problemas desta natureza, destacando-se - principalmente devido as sua
características inovadoras - como um instrumental poderoso e de uso crescente no âmbito da
tomada de decisão por organizacional. Dentre os métodos da Análise Multicritério, destaca-se o
Método de Análise Hierárquica (“Analytic Hierarquic Process, AHP”).
Segundo Manfro (1998), O Analytic Hierarchy Process - AHP, é uma técnica de decisão
e planeamento de múltiplos critérios desenvolvida por Thomas Saaty, em 1971, quando
trabalhava para o Departamento de Defesa Americano. O AHP Surgiu como resposta para
planeamento militar e empresarial, tomada de decisão, resolução de conflitos e participação
política em acordos negociados.
Para Saaty, citado por Paula & Cerri, o Processo Analítico Hierárquico (AHP) auxilia a
tomada de decisão baseada em critérios qualitativos e quantitativos, tendo como objetivo analisar
o julgamento de especialista no processo de decisão, dividindo problemas complexos em
problemas mais simples, na forma de hierarquia de decisão (Saaty apud Paula & Cerri, 2012:
249).
O Analytic Hierarchy Process (AHP) é uma teoria de medição por meio de comparações
de pares e se baseia nos julgamentos de especialistas para derivar escalas de prioridade. São essas
escalas que medem os intangíveis em termos relativos. As comparações são feitas por meio de
uma escala de julgamentos absolutos que representa, quanto mais, um elemento domina outro em
relação a um determinado atributo. Os julgamentos podem ser inconsistentes, e como mensurar a
inconsistência e melhorar os julgamentos, quando possível obter melhor consistência é uma
preocupação do AHP (Saaty, 2008).
Etapas do AHP
Construção de hierarquia
Intensidade de
Definição Explicação
importância
Igual
1 Os dois critérios contribuem para os objectivos.
importância
Importância A experiência e o julgamento favorecem um
3
moderada critério levemente sobre o outro.
Mais A experiência e o julgamento favorecem um
5
importante critério fortemente em relação ao outro.
Os resultados obtidos a partir das comparações são colocados em uma matriz quadrada de
ordem n, onde n é o número de critérios comparados. Cada elemento representa a comparação
entre os critérios ou a importância relativa entre eles.
Síntese dos dados obtidos dos julgamentos: calculando-se a prioridade de cada alternativa em
relação ao foco principal;
Na obtenção dos quadros normalizados realizamse as seguintes etapas, para cada um dos nós
de julgamento da hierarquia:
IC = |(𝜆máx – n)|/(n-1)
Saaty propôs o uso da Razão de Consistência (RC), que permite avaliar a inconsistência
em função da ordem da matriz de julgamentos. Caso este valor seja maior do que 0,1 ,
recomenda-se a revisão do modelo e/ou dos julgamentos (Costa, 2002: 74). A razão de
consistência é calculada por:
RC = IC / IR
Onde, IR é um índice consistência obtido para uma matriz recíproca, com elementos não-
negativos e gerada de forma randômica.
Ordem 2 3 4 5 6 7 8 9
IR 0,00 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45
Para Costa (2002), segundo Saaty, a inconsistência é um fato inerente ao ser humano.
Portanto, deve existir uma tolerância para a sua aceitação. Em seu trabalho, Saaty propõe a
aceitação de julgamentos que gerem uma inconsistência com RC < 0,1.
De acordo com Pimenta et al. (2019), o método AHP tem sido utilizado em problemas
espaciais de localização, na análise de adequabilidade de terras, através dos pesos que
determinados critérios têm no alcance do objectivo da análise.
Coelho (2016), no seu artigo intitulado “SIG aplicado em inundações urbanas: estudo de
caso no Município de Vitória – ES (Brasil)”, com objectivo principal especializar as manchas de
inundação dos bairros do Município de Vitória - ES (Brasil) a partir da modelagem de dados
geográficos em ambiente SIG integrado com produtos de Sensoriamento Remoto, validando o
mapeamento em registos documentais, fotográficos, campanhas de campo e em um evento de
maior precipitação concentrado dos últimos quarenta e cinco anos, obteve o resultado que
permitiu delimitar e calcular as áreas inundáveis em graus de susceptibilidades e comprovar sua
eficiência nos dados e informações.
Com base nos autores citados, pode se aferir que os Sistemas de Informação Geográfica e
o método multicritério AHP, quando integrados constituem um componente potencial para
análise espacial, especificamente à análise de riscos ambientais de ordem natural e antrópica.
Bacia Hidrográfica
Segundo Barrella, citado por Teodoro et al., a bacia hidrográfica é definida como o
conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo
por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os
riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático. (Barrella
apud Teodoro et al., 2007: 138).
Por bacia hidrográfica de um curso de água entende-se a área de captação natural da água
precipitada, cujo escoamento converge para uma secção única de saída. (Rodrigues et al. apud
Lousada e Camacho, 2018: 29).
Segundo Teodoro et al. (2007), as sub-bacias são áreas de drenagem dos tributários do
curso d’água principal. Para definir sua área os autores utilizam-se de diferentes unidades de
medida. As sub-bacias possuem áreas maiores que 100 km² e menores que 700 km² (Faustino
apud Teodoro et al., 2007). Já para Martins, citado por Teodoro et al., as sub-bacias são áreas
entre 20.000 ha e 30.000 ha (200 km2 a 300 km2) (Martins et al. apud Teodoro et al., 2007: 138).
METODOLOGIA
Materiais
O Modelo Digital Elevação será adquirido na plataforma da NASA: ASF Data Search
relativos a ALOS PALSAR, com uma resolução de 12,5 metros. Destes dados foi delimitada a
sub-bacia hidrográfica da área de estudo através da delimitação automática da bacia hidrográfica.
Também desse MDE derivaram os mapas de altitude e declividade, usados para identificar as
áreas mais baixas e que representam maior risco às inundações na área em estudo devido a baixa
altitude e a consequência da gravidade que drena a água para áreas baixas e de declividade mais
plana.
Para verificar a distribuição dos tipos de solos, usou-se a base de dados do IIAM (Instituto
de Investigação Agrária de Moçambique). A base de dados usada constitui um mapa de
distribuição de solos de todo território nacional disponível à uma escala de 1:1.000.000. Os dados
dos solos são imprescindíveis na análise de risco de inundação, pois os solos refletem na
capacidade de infiltração e escoamento superficial.
Para o uso e cobertura do solo obteve-se a base de dados Raster do uso do solo global
disponibilizada pela ESA. O mapa tem uma resolução espacial de 10 metros da superfície
terrestre de 2021. Consiste em um mapa de 10 classes da superfície, incluindo tipo de vegetação,
solo exposto, cultura e áreas urbanas.
Distribuição da precipitação
Segundo a revisão de literatura feita, para a elaboração do diagnóstico das áreas de risco
de inundações é necessário levar em consideração a análise do perigo, exposição e
vulnerabilidade, ou seja, só existe risco se houver presença desses três elementos. Um
fluxograma metodológico foi concebido (figura 4).
Altitude
Declividade
De acordo com Rezende et. al. (2017), a declividade é uma variável importante na
determinação dos riscos de inundação de uma área, pois, influencia diretamente no acúmulo de
água no terreno. Declive tem um efeito dominante sobre a contribuição das chuvas para o fluxo
de água. Ele controla a direcção do fluxo, infiltração e escoamento superficial. Encostas mais
íngremes são mais susceptíveis à erosão, enquanto terrenos planos são susceptíveis a inundação
(Cuamba, 2016: 07).
Para Campioli & Vieira (2019), o uso do solo retrata as condições de cobertura do solo,
variando desde uma cobertura muito impermeável até uma cobertura completamente permeável.
Segundo Cumba (2016), o uso e cobertura da terra de uma área é também uma das
principais preocupações em inundação porque este é um factor que não só reflecte o uso actual da
terra, padrão e tipo do seu uso, mas também a importância de seu uso em relação à estabilidade
do solo e infiltração. Área com cobertura vegetal dos solos, mesmo que seja pastagens
permanentes ou cobertura de outras culturas, tem um importante impacto sobre a capacidade do
solo para funcionar como um armazenamento de água.
Por sua vez Magalhães et. al., (2011), a forma de ocupação da terra influencia na
infiltração e escoamento superficial da água. As áreas com maior impermeabilidade tendem a
acumular mais água em superfície do que em solos com cobertura florestal por serem pouco
compactados.
Tipos de solo
Precipitação
Portanto, foram elaborados os mapas temáticos para as variáveis propostas tomando como
base as metodologias descritas abaixo. Ainda, foram atribuídos pesos para cada classe das
variáveis selecionadas em uma escala de 1 a 5, onde 5 é o valor com maior influência quanto às
inundações e 1, o menor valor.
Mapa hipsométrico
Mapa de declividade
O mapa de uso e ocupação do solo consiste na representação gráfica dos diferentes formas
de uso e ocupação do solo da área de estudo. Para sua elaboração usou-se a base de dados global
do uso e ocupaçaõ do solo da ESA, as imagens possuem uma resolução espacial de 10 metros.
Extraiu-se a informação do uso do solo da área de estudo e fez-se a classificação no ArcGis com
base na legenda disponibilizada no site da ESA, a Tabela 8 apresenta a sua reclassificação.
Tabela 8: Reclassificação do mapa de uso e ocupação do solo
Mapa pedológico
O mapa pedológico compreende a representação gráfica das diferentes classes de solo que
ocorrem na área de estudo. Para a elaboração deste mapa temático utilizou-se como base o mapa
pedológico de Moçambique, fornecido pelo IIAM na escala de 1:1.000.000, para o qual foi
realizado o clip (corte) da área de estudo. Os pesos de cada classe de solo foram aplicados
conforme Tabela 9.
Quanto maior for a densidade da rede viária, maior é o grau de exposição às inundações.
Elaborou-se o mapa da densidade de rede viária, usou-se a base de dados da rede viária da ANE,
calculou-se a densidade atraves da função Kernel density localizada no spatial analyst tools. Os
pesos de cada classe da densidade da rede viária foram aplicados conforme Tabela 11.
Peso
Classe da distância euclidiana aos hospitais atribuído Niveis de risco
0 - 12.116 1 Muito baixo
12.116 - 24.232 2 Baixo
24.232 - 36.348 3 Médio
36.348 - 48.464 4 Elevado
48.464 - 60.580 5 Muito elevado
Declividad
Variáveis e Hipsometria Uso do solo Pedologia Precipitação
Declividade 1 3 4 5 7
Hipsometria 1/3 1 3 4 5
Uso do solo 1/4 1/3 1 3 4
Pedologia 1/5 1/4 1/3 1 3
Precipitação 1/7 1/5 1/4 1/3 1
SOMA 1,93 4,78 8,58 13,33 20,00
Fonte: elaborado pelo autor (2022)
Observando a tabela 14, percebe-se de que forma ela foi elaborada, pois cada elemento da
matriz indica quanto a variável da coluna da esquerda é mais importante em relação a cada
variável correspondente na linha superior. Logo, quando uma variável é comparada com ela
mesma, o único resultado possível é 1, pois possui igual importância. a partir do momento que
todas as variáveis se entrecruzam uma vez, a matriz passa a ser simplesmente o oposto do
procedimento inicial.
Tabela 15. Determinação dos pesos estatísticos para cada variável de perigo
( λmáx−n) ( 5,2865−5 )
IC= = =0,0716
(n−1) ( 5−1)
IC 0.0716
RC = = =0,06
IR 1.12
Dentro de um ambiente SIG uma das formas de se realizar uma análise multicritério é
através da álgebra de mapas. Esse processo consiste em uma operação matemática de média
ponderada, na qual se consideram os valores de influência de cada variável e os pesos atribuídos
a cada uma de suas classes (Moura apud Leal et al., 2020: 31). A elaboração do mapa de risco de
inundação se deu por meio da integração dos mapas de Perigo, Exposição e Vulnerabilidade,
realizada por um SIG, conforme exposto nas Equações abaixo. Para tal, utilizou-se a ferramenta
Raster Calculator do software ArcGIS.
Mapa de exposição
Localização Geográfica
100
80
60
40
20
0
Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar Abr. Mai. Jun Jul Ago. Set.
Clima e Precipitação
A bacia do rio Revúboè tem clima modificado pela altitude o que significa temperaturas médias
mais baixas e maior pluviosidade inclusive com chuvas na estação seca.
Geologia e Solos
Em termos geológicos a bacia do Rio Revúboè e muito rica, pois são conhecidos
depósitos de carvão, grafite, ouro e prata (Serafim, 2016). A sub-bacia do rio revúboè é composta
essencialmente por solos Castanhos, Castanho avermelhados ou Solos Vermelhos. Os tipos de
solo com maior proporção são do tipo vermelhos de textura média, solos castanhos de textura
média, solos líticos ou pouco profundos e solos basálticos pretos, que são predominantes na
região sul da sub-bacia do rio revúboè.
Figura 9: Mapa pedológico da sub-bacia hidrográfica do Rio Revúboè
Declividade e Hipsometria
Para o mapa hipsométrico (Apêndice 1) foram aplicados valores maiores para áreas com
menores altitudes, o que influencia o risco de inundação pelo acúmulo de água resultante. Já os
menores valores referem-se às áreas com maior altitude e, por tais características, menos sujeitas
à inundação. Assim, se analisada a variável hipsometria separadamente, a sub-bacia apresentou
tendência de inundação no seu extremo sul, conforme mostra Apêndice 11.
Para a variável pedológica, foram atribuídos valores menores para os solos bem drenados,
e notas maiores para os solos mal drenados e argilosos por apesentarem baixa permeabilidade,
conforme exposto no Apêndice 2.
Para os valores das classes de uso e ocupação do solo foram adoptadas valores maiores
para as áreas impermeáveis tais como, solo exposto, corpos d’água e áreas construídas, e valores
menores para as áreas permeáveis tais como, florestas e áreas de pastagem, conforme mostra o
Apêndice 2.
Precipitação
Para as áreas com maior densidade da rede viária e habitacional atribui-se maiores
valores, e as áreas com menor densidade foram atribuídos valores menores, conforme
apresentado no Apêndice 4.
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