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Licenciatura em Oceanografia
Pág.I
Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras
Autor:
Agradecimentos
Primeiramente, agradeço ao Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis, pela
vida que me foi concedida, pelos Pais, irmãos e toda família que Deus mi deu e por tudo que tem
feito ao meu favor. Eis que tudo deve ser feito para Sua Honra e Glória.
Agradeço ao meu Pai, Sr. Cristóvão Rogério Guta, e a minha Mãe Maria da Conceição Mateus,
pelo amor, carinho e todo apoio. Agradeço ao meu Tio Orlando V. Guta por estar presente nas horas
em que eu me considerava sem saídas. Sem esquecer dos progenitores destes, Avó Páscoa Mambara
e Beatriz Lopes por esses Bons Pais e por repetidamente dizerem “Vai meu Neto”, palavras essas
que me enchem de forças.
Agradecer pela supervisão do Dr. Fialho Nehama, de todo trabalho realizado por mim, com o
auxílio indispensável do Dr. Noca Furaca. Um especial agradecimento vai a este último, pois
mesmo tendo muitos afazeres sempre disponibilizou tempo para mim, o meu muito obrigado de
coração.
À minha “mão-de-obra barata”, que mostrou interesse em ajudar, sem nada em troca, e é composta
por: Tárcio Mendonça, Basílio Ernesto, Elias Cumbane, Sergio Eusébio. Muito Obrigado.
Agradeço em especial ao Gaston Emile, Cândido Timba, Ernesto Tembe, Zunchany Trinta Matola,
e Feliz Sodasse, pelos 4 anos de caminhada conjunta, construindo o meu perfil académico,
profissional, social e cultural; pelos apoios e críticas, por partilharem comigo suas experiências e
mostrarem como se faz. As pessoas que alimentaram o meu espírito, em algum momento serviram
de inspiração: drª. Nélia Mozolande (Licenciada em Oceanografia), Nelson Cabazar, Justino Nino, e
outros.
A toda residência, não tem como esquecer de vocês, Cláudia Machaieie, Orlando Macicame,
Orlando Jamisse, Erasnes Howana, Alberto Sibie, Flávio Inácio Jeje, Sergio Caetano, Salvador
Zeca, Amós Nhaca, Ricardo da Florência, Deuclésio Jubilo, Valentim José, Leovistônia Cúmbi,
Luísa Banze, Farida Cadir Suleimane.
Dedicatoria
Dedico este trabalho ao meu Pai, Sr. Cristóvão Rogério Guta, e a minha Mãe Maria da Conceição
Mateus, os quais garantiram os meus estudos.
Declaração de honra
Declaro por minha honra que o conteúdo deste trabalho de licenciatura em oceanografia é da autoria
da autora, fruto de esforço e dedicação, excepto o que foi devidamente referenciado, sobre
assistência do orientador. De salientar que o trabalho nunca foi apresentado na sua essência, para
obtenção de qualquer outro título similar.
A autor:
___________________________________________________________________
Resumo
Devido a dificuldades no reflorestamento de mangal nas áreas de reserva em Icidua, muitos estudos
são realizados na área com vista a aumentar o conhecimento científico relacionado ao fracasso no
reflorestamento. Deste modo, o presente trabalho tem como base de contribuição, o mapeamento
das áreas inundadas a partir do levantamento topográfico e da sua relação com os níveis de maré
observados naquela área, pois parâmetros como a salinidade, que é um dos limitantes no
crescimento das espécies de mangal, dependem da frequência de Inundação da área.
Saídas de campo foram realizadas afim de fazer o levantamento topográfico em duas áreas distintas
(área A que apresenta resultados negativos ao reflorestamento e B que possui resultados positivos)
que com base na variação da maré mapeou-se as áreas inundadas e fez-se a classificação
Hidrológica de Watson (1928), determinando assim a frequência de inundação com vista a escolher
as melhores espécies e locais que melhor se adaptam as condições Hidrológicas. Os resultados
apontaram para um reflorestamento com avicénia marina nas áreas pertencentes a classe 2 (zonas
frequentemente inundadas), e sugeriu-se a abertura de canais para que a inundação observada na
classe 2 possa se estender para mais locais em toda Área de reflorestamento A. Esta área A, possui
uma elevação média de 6,45m ao contrário da Área B onde a elevação media é de 5,89m, fazendo
com que a inundação influenciada por uma maré de 3metros alcance quase metade da área total.
Conclui-se também que o nível de inundação influencia na salinidade do solo tendo maior
salinidade a Área com baixa frequência de Inundação (A) em comparação com a Área com maior
frequência de inundações (B), associando assim este factor ao fracasso no reflorestamento da Área
A.
Abstract
Due to difficulties in mangrove reforestation in Icidua reserve areas, many studies are conducted in
the area to increase scientific knowledge related to failure in reforestation. Thus, the present work
has as base of contribution, the mapping of the flooded areas from the topographic survey and its
relationship with the tide levels observed in that area, because parameters such as salinity, which is
one of the limiting factors in species growth, depend on the frequency of flooding of the area.
Field trips were carried out in order to make a topographic survey in two distinct areas (area A that
shows negative results for reforestation and B that has positive results). Based on the variation of
the tide, the flooded areas were mapped and the Hydrological Classification Watson (1928) of was
made, thus determining the frequency of flooding in order to choose the best species and sites that
best adapt to hydrological conditions. The results pointed to a reforestation with Avicennia marina
in the areas belonging to class 2 (frequently flooded areas), and it was suggested the opening of
channels so that the observed flood in the class 2 can extend to more places in Area of reforestation
A. This area A has an average elevation of 6.45m as opposed to Area B where the average elevation
is 5.89m, causing flooding influenced by a 3m tide to reach almost half of the total area. It is also
concluded that the flood level influences the salinity of the soil having a higher salinity to the Area
with low frequency of Flood (A) in comparison to the Area with more frequent floods (B), thus
associating this factor with the failure in the reforestation of the Area A.
Lista de Figuras
Fig.5: Pontos para levantamento Topográfico, Área A à esquerda e Área B à direita. Fonte: Google
Earth...…………………………………………………………………………………………..pág.16
Fig.7: Análise de dados com vista a igualar as cotas ao mesmo referencial ZH……………….pág.17
Lista de Tabelas
Tabela 1: Classificação de Watson derivada do sistema de mangais na Malásia (Van Loon et al.,
2016)………………………………………….………………………………………………..pág.11
Tabela 3: Localização geográfica dos pontos de colheita de solo para medição da salinidade...pág.19
Abreviações
CCAP
UP = Universidade Pedagógica
USAID
Índice
Conteúdo Pág.
Agradecimentos ................................................................................................................................... II
Dedicatoria .........................................................................................................................................III
Declaração de honra .......................................................................................................................... IV
Resumo ................................................................................................................................................ V
Abstract ............................................................................................................................................. VI
Lista de Figuras ................................................................................................................................ VII
Lista de Tabelas ............................................................................................................................... VIII
Simbolos: Unidades no Sistema Internacional ................................................................................ VIII
Abreviações ..................................................................................................................................... VIII
Capitulo I ..............................................................................................................................................1
1. Introdução .....................................................................................................................................1
1.1. Problema ................................................................................................................................1
1.2. Justificação ............................................................................................................................2
1.3. Objectivos ..............................................................................................................................3
1.3.1. Geral ...............................................................................................................................3
1.3.2. Específicos .....................................................................................................................3
Capítulo II – Fundamentação Teórica ..................................................................................................4
2. Mangais .........................................................................................................................................4
2.1. Distribuição Mundial e Nacional ..............................................................................................5
2.2. Zoneamento ou Distribuição das espécies de mangal ...............................................................7
Capítulo III ...........................................................................................................................................8
3. Condições Ambientais que influenciam na Distribuição das Espécies ........................................8
3.1. Clima .....................................................................................................................................8
3.2. Solos ......................................................................................................................................9
3.3. Salinidade ..............................................................................................................................9
3.3.1. Tolerância das espécies ................................................................................................10
3.4. Condições Hidrológicas .......................................................................................................10
3.4.1. Marés ............................................................................................................................10
Duração e frequência da maré .....................................................................................................10
3.4.2. Lençol freático..............................................................................................................12
Capítulo IV .........................................................................................................................................14
4. Metodologia ................................................................................................................................14
4.1. Área de Estudo.....................................................................................................................14
4.2. Materiais e Métodos ............................................................................................................15
4.2.1. Materiais .......................................................................................................................15
4.2.2. Métodos ........................................................................................................................15
a) Levantamento Topográfico..................................................................................................15
b) Determinação da frequência de inundação ..........................................................................17
c) Determinação da duração da inundação ..............................................................................17
d) Identificação de áreas inundadas .........................................................................................18
e) Determinação da Salinidade do Solo ...................................................................................19
Capítulo V ..........................................................................................................................................21
5. Resultados ...................................................................................................................................21
5.1. Levantamento do Perfil topográfico ....................................................................................21
5.2. Determinação da duração e frequência da inundação .........................................................22
5.3. Mapeamento de áreas mais propensas as inundações .........................................................23
5.4. Determinação da Salinidade do solo ...................................................................................24
Capítulo VI .........................................................................................................................................25
6. Discussão ....................................................................................................................................25
Capítulo VII........................................................................................................................................26
7. Considerações Finais ..................................................................................................................26
Capítulo VIII ......................................................................................................................................27
8. Recomendações...........................................................................................................................27
Capítulo IX .........................................................................................................................................28
9. Referencias Bibliográficas ..........................................................................................................28
Anexos ................................................................................................................................................30
Capitulo I
1. Introdução
A dominância relativa das espécies e a sua distribuição no mangal são influenciados pela
topografia, Geomorfologia, Hidrologia e sedimentologia. O padrão da distribuição das espécies esta
relacionado as modificações impostas pela microtopografia e frequência de inundação, resultando
em gradientes físico-químicos, tornando o processo de distribuição das espécies respostas a esses
gradientes (Fruehauf, 2005).
Nas florestas de mangais, como em todos os sistemas entre-marés, o hidro período é de grande
importância para a vitalidade das florestas. A inundação das marés afecta os níveis de extracção de
água, pH, potencial redox no solo e na água e na distribuição das espécies. (Rodrigues et al, 2009)
Watson (1928) definiu zonas de Mangal como áreas específicas influenciadas por uma combinação
de frequência e classes de inundação pelas marés destacando o padrão de inundação como factor
primário na distribuição das espécies (Fruehauf, 2005).
1.1.Problema
Em Quelimane na zona municipal ao longo do Rio dos Bons Sinais, existe uma grande faixa de
mangal na comunidade de Icidua e Mirazane. Ao longo do tempo, o mangal foi usado para diversos
fins dentre os quais o bate para construção de habitações, uso das áreas de mangal para a prática do
fecalismo a céu aberto, abate de mangal para construção de salinas nas proximidades do mangal,
estes factores concorrem para a destruição desta importante infra-estrutura verde.
Pois, mudanças nas características do solo pela influência das inundações de marés devem ser
consideradas em actividades como o reflorestamento de mangal, a desconsideração do
comportamento dinâmico dos estuários e suas áreas de inundação para efeitos de restauração
hidrológica da floresta de mangal, influência para baixa eficiência do restauro do mangal em Icidua.
1.2.Justificação
1.3.Objectivos
1.3.1. Geral
Determinar a melhor espécie para o reflorestamento do mangal em Icidua de acordo com as
características da inundação e da salinidade;
1.3.2. Específicos
Identificar as áreas propensas as inundações das variações de maré em Icidua;
Fazer o levantamento topográfico da área de reflorestamento em Icidua;
Mapear áreas com maior probabilidade/frequência de inundações;
Determinar a Salinidade do Solo;
Identificar as melhores espécies/área a serem usadas no reflorestamento de acordo com a
classificação Hidrológica dos Solos;
Os mangais são formações vegetais que se desenvolvem em zonas de transição entre ambientes
marinhos e terrestres, ocorrendo junto a desembocadura de rios, estuários e lagunas costeiras, no
espaço designado de entre marés, podendo estender-se até onde o efeito da salinidade se faz
(Cardoso, 2017).
Os mangais estão entre os ambientes mais produtivos do mundo. Esses biomas são o habitat para o
crescimento e refúgio de diversas espécies de animais e no ciclo de nutrientes, e têm grande valor
no controle da erosão costeira (MADI et al, 2015). É um dos agentes reguladores da dispersão de
sementes vegetais e das larvas de muitas espécies, uma vez que está situado em uma área de
transição entre os ambientes terrestre e aquático, sujeito ao regime diário das marés (Costa &
Cestaro, 2010).
A área ocupada por Mangais em todo o mundo situa-se em torno de 162.000km2. Representando
cerca de 75% da vegetação entre-marés das áreas tropicais do globo (Fruehauf, 2005). Os mangais
ocorrem nas regiões tropicais e subtropicais de todo o globo maioritariamente entre os paralelos
30ºN e 30ºS (Fig. 1) (Cardoso 2017).
Eles são encontrados em 118 países e territórios em todo o mundo. Possuem uma cobertura global
de entre 10 e 24 milhões de hectares (Fig.1), que abrange cerca de 1% da superfície terrestre da
terra, com 73 espécies a nível global. A maior região de ocorrência fica na Indonésia, cuja área
estimada de mangais é de 4.200.000ha, extensão que representa cerca de 20% das Florestas de
Mangais do mundo (Fruehauf, 2005).
Entre os factores que limitam a sua distribuição global a temperatura da água parece ser
preponderante, uma vez que os mangais ocorrem apenas onde a temperatura mínima seja superior a
20ºC e a variação sazonal inferior a 10ºC (Cardoso 2017).
Assim como muitos outros ecossistemas, os mangais enfrentam ameaças globais, como
é o caso da degradação dos habitats, a poluição, a sobre--exploração por via de abate de árvores, e a
substituição de florestas/pântanos de mangal por usos intensivos como a aquacultura (Cardoso,
2017. Globalmente, os manguezais ocuparam 75% das costas tropicais, mas devido para o rápido
desenvolvimento costeiro, apenas 25% das costas tropicais do mundo agora apoiam as Florestas de
Mangal (Rodrigues et al,2009).
Os habitats de mangal em Moçambique abrangem 318 851 ha, o que representa cerca de 2,3% do
total de cobertura de mangal global (Fig.2) (Giri et al, 2011), sendo a segunda maior área de mangal
em África depois da Nigéria (Zide & Rajkaran, 2014).
A distribuição dos mangais diminuiu globalmente. Em 2002, estimava-se que cerca de um terço dos
mangais globais se perderam ao longo de um período de 50 anos devido a actividades antrópicas.
Sitoe et al (2014) estimam que em Moçambique, cerca de 12,5% dos mangais se perderam ao longo
de um período de 32 anos entre 1972 e 2004, com uma taxa de desmatamento de cerca de 15,9
km2/ano. (Zide & Rajkaran, 2014).
Zoneamento é o termo usado para exprimir a forma de colonização do espaço em zonas, camadas
ou faixas distintas, compostas por apenas uma espécie ou por um dado conjunto de espécies
arbóreas, sendo estas distribuídas espacialmente em relação à linha de água (Fruehauf, 2005).
A distribuição das espécies de mangal é estudada por vários autores em diferentes pontos de vista,
considerando variações de muitos parâmetros, como salinidade, pH, matéria orgânica, entrada de
nutrientes, competição interespecífica, inundação por marés, entre outros, como factores que
influenciam na distribuição das espécies (Fruehauf, 2005)
A dominância relativa das espécies e sua distribuição no Mangal são influenciados por muitos
factores como a topografia, geomorfologia, hidrologia e sedimentologia de cada sistema (Rey &
Connelly, 2002).
Assim, pode-se concluir que o padrão de distribuição das espécies está relacionado às modificações
impostas pela microtopografia e frequência de inundação, resultando em gradientes físico-químicos,
sendo os processos de sucessão e distribuição das espécies resultantes de variações destes
gradientes (Fruehauf, 2005).
Capítulo III
3. Condições Ambientais que influenciam na Distribuição das Espécies
3.1.Clima
Todas as espécies do Mangal são sensíveis ao frio, por isso a propagação destas, em ambos os
hemisférios terrestres, é limitada pela temperatura de 16ºC mínimos de isoterma da água. Devido a
temperatura da água, os Mangais encontram-se principalmente na costa oeste dos continentes entre
30º de latitude norte e 30º de latitude sul. A dependência por um abastecimento periódico de água
doce explica a falta desta forma de vegetação nos litorais com clima desértico (Fruehauf, 2005).
3.2.Solos
Além da temperatura e precipitação, há ainda outras condições para o aparecimento dos Mangais
(Fruehauf, 2005):
As espécies vegetais de mangal apresentam alta plasticidade na utilização das diferentes formas
iónicas resultantes dos processos de oxidação, redução e variações de salinidade do solo em
decorrência da hidrodinâmica do manguezal, assim, a acção das marés interfere na variação da
disponibilidade de nutrientes e na distribuição irregular dos mesmos na forma livre e particulada,
com maior aporte onde há maior deposição de sedimentos (Madi et al, 2015).
3.3.Salinidade
A Salinidade é o principal factor abiótico ao qual as espécies de mangal estão sujeitas, a salinidade
no ambiente marinho e no mangal deve-se, principalmente, ao cloreto de sódio (NaCl) dissolvido na
água, correspondente a 86% do total de sais dissolvidos, onde a concentração média de sais na água
é de 35g/kg (Pascoalini et al, 2014). Estas alterações provocadas pelo aumento na concentração de
sais podem desencadear processos de competição e extinção das espécies ali viventes (Esteves &
Suzuki, 2008).
tanto a altura das árvores como a diversidade de espécies diminuem com o aumento da salinidade
(Costa & Cestaro, 2010).
Alem desses efeitos, o excesso de sal pode alterar a concentração de clorofila, oque pode reduzir a
capacidade fotossintética de algumas espécies de mangal, vários autores observaram a redução da
eficiência fotoquímica com o incremento da salinidade em Avicena marina, B.parviflora e
Rhyzophora mucronata (Pascoalini el al, 2014).
3.4.Condições Hidrológicas
3.4.1. Marés
Além da grande importância que o Estuário dos Bons Sinais possui, para a pesca, turismo,
actividade económica, este possui um alto valor ecológico, por ter a si associado grandes densidades
de mangais que proporcionam locais de reprodução de maior parte de peixes, com alto valor
económico (Timba, 2014). Portanto, os mangais que fazem com que o estuário seja importante, tem
sido nos últimos anos alvo de vários estudos em diferentes áreas de acção como, na oceanografia,
Biologia Marinha e Química Marinha, olhando para a sua conservação e uso sustentável.
As marés no Estuário dos Bons Sinais são semidiurnas e a onda é estacionária dentro do estuário, a
sua altura de varia entre menos de 35 centímetros e cerca de 500 centímetros durante marés
extremas. As amplitudes das marés variam ao longo do ano entre 100 centímetros durante as marés
mortas e cerca de 380 centímetros durante as marés vivas.
Tabela 1: Classificação de Watson derivada do sistema de mangais na Malásia. Fonte: Van Loon et
al. (2016).
Elevação Frequência de
Classe Regime da Maré
[m+marco] inundações [inund/mês]
1 Todas <2.44 56-62
2 Medias 2.44-3.35 45-56
3 Normais 3.35-3.96 20-45
4 Altas 3.96-4.57 2-20
5 Equinócio >4.57 <2
As áreas da classe 1 são inundadas com muita frequência para que as espécies de mangais
sobrevivam, resultando em lamas vazias de vegetação. Na classe 2, apenas espécies pioneiras, como
Avicennia sp. e Sonneratia sp. Podem se estabilizar. Classe 3 é a classe mais diversificada, com
condições hidrológicas adequadas para grupos de espécies, incluindo Rhizophora sp., Ceriops sp. e
Bruguiera sp.. A classe 4 é raramente inundada pelas marés e, portanto, permite que outros grupos
de espécies entrem na composição da vegetação de manguezal, ex.: Lumnitzera sp., Bruguiera sp. e
Acrosticum sp.. A classe mais alta, classe 5, que quase nunca é inundada, é adequada apenas para
espécies de manguezais como Phoenix paludosa Roxb.
Apesar da ampla aplicação da classificação da Watson fora da Malásia, algumas desvantagens desta
classificação foram identificadas para uma aplicação mais geral. A desvantagem mais importante é
que a classificação de Watson é desenvolvida para regiões com um regime regular de maré e um
perfil de elevação regular. Devido a um regime de maré irregular e a microtopografia, as
características de inundação de uma floresta de mangal apresentam variabilidade espacial muito
maior do que o esperado (Van Loon et al., 2016).
Portanto propõe-se algumas alterações à classificação original de Watson para torná-la mais
adequada às marés e à elevação irregulares (Tab.2).
Duração da Duração da
Elevação
Classe Inundação Inundação Espécies
[cm+NMM]
[min/dia] [min/inundação]
1 <0 >800 >600 Nenhuma
2 0-50 400-800 450-600 A.alba Blume, Sonneratia sp.
Avicennia sp., Rhizophora sp.,
2* 50-100 250-400 200-450
Bruguiera sp.
Rhizophora sp.,Ceriops sp.,
3 100-150 150-250 100-200
Bruguiera sp.
Lumnitzera sp., Bruguiera sp.,
4 150-210 10-150 50-100
Acrosticum aureum L.
Ceriops sp., Phoenix paludosa
5 >210 <10 <50
Roxb.
Na Tabela 2 a variável "elevação" ainda está incluída, mas alguns autores não recomendam sua
utilização e mencionam que a elevação só pode ser usada em regiões de mangais com regime
regular de maré e perfil de elevação regular, onde não podem ser feitas medidas de níveis de água e
existirem medidas precisas de elevação.
O Lençol freático é um reservatório de água presente nas partes subterrâneas da terra, variando de
500 a 1000metros de profundidade. A drenagem deste, é necessária em regiões de clima húmido e
subhúmido para manter a concentração de sais na solução do solo em níveis aceitáveis para as
florestas de mangal presentes no ecossistema (Pyaraly, 2017).
O nível do lençol freático na região do Icidua esta a uma profundidade média de 1.6metros, com
variações temporais, máximas de 1,2metros e mínimas de 2,5metross associados as precipitações e
Influencia de marés (Pyaraly, 2017), Este Autor concluiu com base nos níveis d lençol freático que
a área de reflorestamento em Icidua possui condições hidrológicas aceitáveis para o reflorestamento
da Avicennia marina.
Capítulo IV
4. Metodologia
4.1.Área de Estudo
O bairro de Icidua localiza-se no segundo posto administrativo de Quelimane, faz fronteira com o
estuário dos Bons Sinais e possui uma área de reserva de floresta de Mangal que é influenciada pela
hidrodinâmica do estuário (Fig.4). O clima da região de quelimane é marcado por uma estação fria e
seca (Abril a Outubro) e uma estação quente e húmida (Novembro a marco), as temperaturas
diurnas são em geral superiores 30ºC na estação quente, mas as vezes podem baixar ate 20ºC na
estação fria.
4.2.Materiais e Métodos
4.2.1. Materiais
Desde a colheita de dados, processamento, ate a construção dos gráficos foram usados os seguintes
materiais e Programas:
Google Earth
(ver.7.1.8.3036);
4.2.2. Métodos
a) Levantamento Topográfico
Fig.5: Pontos para levantamento Topográfico, Área A à esquerda e Área B à direita. Fonte: Google
Earth.
Os dados de elevação, foram lançados no pacote estatístico Microsoft Excel 2010 onde foram
organizados (em perfis) e associados aos dados de localização de cada ponto, extraídos do GPS a
partir do programa Base Camp. Foram feitos ajustes de cotas com vista a organizar as elevações
tendo como referencia o Zero Hidrográfico (Fig.7). Os dados foram transportados ao programa
Ocean Data View, onde foi possível visualiza-los na forma de mapas (contendo linhas de contorno).
Legenda:
h1
t2 B
A t1
h2
Legenda:
ℎ1 𝑡1 Eq.2
= ℎ1 -hora inicial
ℎ2 𝑡2
ℎ2 -hora final
Níveis de maré, da previsão do INAHINA, são expressos em metros e calculados para cada porto
em relação ao zero hidrográfico, que se situa ligeiramente abaixo do nível da baixa-mar da Maré
Viva (INAHINA, 2017).
Alturas de maré foram usadas para a comparação com elevações da topografia tendo em conta o
mesmo nível de referência (zero Hidrográfico), considerando assim área inundada a toda área que
se encontra abaixo em relação a um dado nível de maré, e as áreas mais propensas as inundações as
que possuem duração e frequências de inundação elevadas, segundo a classificação hidrológica.
Observações foram associadas ao método para mapeamento das respectivas áreas.
Para a determinação da Salinidade do solo, escolheu-se três pontos estratégicos de colheita tendo
em conta as características do solo (a olho nu) e a distância do canal de abastecimento de água,
como ilustra a Fig.9 e suas respectivas coordenadas na tabela 3. Nesses pontos foram colhidos solos
a uma profundidade de 0.2m, com vista a descrever melhor as características do solo de toda área de
estudo.
A1
A2
B1
Tabela 3: Localização geográfica dos pontos de colheita de solo para medição da salinidade
A determinação da salinidade do solo foi realizada através do método proposto por EMBRAPA,
segundo o qual a amostra de solo foi submetida a secagem, homogeneização, diluição em água
destilada e posteriormente a determinação da salinidade por um salinómetro. Para este fim, a
secagem foi feita ao ar livre, de modo a eliminar apenas uma parte da humidade da amostra. A
homogeneização consistiu na destruição dos grãos maiores de modo a obter a mesma granulometria.
Os grãos homogeneizados foram posteriormente misturados com água destilada em proporções de
solo (g) : água destilada (mL) (1:5), num Becker de 1L (ilustrado na figura 10). Um salinómetro
(RBRconcerto versão 0.1) foi depois usado.
Capítulo V
5. Resultados
5.1. Levantamento do Perfil topográfico
a) Área A
O levantamento do perfil topográfico realizado na Área A, tem como resultado uma elevação média
de 6.45m, máxima de 7.22m e uma mínima de 5.22m (Fig.11) com pontos mais altos mais
próximos ao estuário e pontos mais baixos mais adentro.
a) Área B
O levantamento do perfil topográfico realizado na Área B tem como resultado uma elevação média
de 5,89m, máxima de 7,32m e uma mínima de 4.33 m (Fig.12) com pontos mais baixos mais
próximos ao estuário e pontos mais altos mais adentro.
As marés de 1 a 2 metros de altura são as mais frequentes, mas não alcançam a área de
reflorestamento em estudo, os níveis de 4 a 4.8 metros alcançam a área de reflorestamento em
estudo mas a sua frequência é muito baixa (como observado na Tab.4)
Fazendo a correspondência das frequências das inundações ao tipo de espécie adequada a tais
classificações hidrológicas, a espécie que melhor se adapta a área de reflorestamento, que tem como
elevação média da superfície 6m é avicénia marina (Tab.5)
Os níveis com maior frequência de inundação, sendo mais baixos, pouco alcançam as áreas de
reflorestamento, fazendo com que as áreas mais propensas as inundações sejam pequenas, nos
níveis abaixo de 3m.
O nível de maré que melhor alcança as áreas de reflorestamento possui uma altura de 4,6m que é
suficiente para inundar maior parte da área de reflorestamento A e B como verificado na Tabela 6.
Mas as mais propensas as inundações (inundações com maior frequência) são em menor
percentagem pois os níveis de maré que inundam essas áreas são baixos.
A maior altura de maré, causada pelas variações de maré nas Marés vivas mais altas (4.8m), causa
inundação em toda área de reflorestamento vindo assim a juntar as águas da área de reflorestamento
A e B (Anexos).
A salinidade do solo foi maior no ponto A2, que já demostrava solo característico de altos níveis de
salinidade a olho nú (Anexos), a menor salinidade foi registada no ponto B1, conforme a tabela 7.
Capítulo VI
6. Discussão
Do levantamento topográfico em Icidua verifica-se que a área A possui maior elevação comparado
a área B, com uma média de 6.45m e 5.89m respectivamente, como observado em campo a área
com menor elevação (área B) apresenta respostas positivas ao reflorestamento de mangal,
observado a partir de características como altura da planta e desenvolvimento das folhas, Por estar
mais susceptível às variações de maré, com frequência e duração da inundação favorecendo o
crescimento da avicénia marinha segundo Watson (1928) nos mangais da Malásia como observado
na tabela 4.
Segundo Fruehauf (2005) locais onde a maré chega poucas vezes ao dia ou onde há menor
influência da água doce (ou das marés), as salinidades podem ser tão elevadas que as plantas não
crescem, o mapeamento de áreas inundadas na área A mostra que 80% da área é inundada pela maré
acima de 4.6m de altura, as quais são resultado so de marés vivas, que possuem baixa frequência.
Dificultando assim o crescimento das plantas.
A salinidade do solo é baixa no ponto B1, pertencente a Área B, em comparação ao ponto A1,
pertencente a Área A (Tab.7), causado pela maior frequência de inundação na Área B em
comparação com a Área A, justificando assim o bom desenvolvimento das espécies na área B em
comparação a Área A.
Capítulo VII
7. Considerações Finais
Os níveis de maré com maior frequência de Inundação não alcançam a altura da superfície do solo
na Área A e B de reflorestamento, inundando apenas os canais de abastecimento de ambas áreas. O
nível mínimo de maré que inunda as duas áreas de reflorestamento em estudo (A e B) é de 3m, mas
devido a altura da maré nesta classe, apenas 10% da Área A é afectada pela maré e na área B
alcança ate 30% (Anexos) que são os locais com melhor resposta ao reflorestamento do mangal.
Devido a altura da superfície do solo na área de reflorestamento A, esta área não é inundada com
boa duração e frequência, sendo responsáveis pela sua inundação as marés com uma altura acima de
3m, enquanto que a área de reflorestamento com resultados positivos (Área B) já se encontra
inundada ao mesmo nível de maré.
Capítulo VIII
8. Recomendações
Recomenda-se o estudo das características do solo com o objectivo de reflorestar com outras
espécies que resistem melhor a altas taxas de salinidade, pois o uso do reflorestamento do mangal
pela avicénia marina é baseado no historial do local visto que a avicénia marinha é a espécie mais
abundante no local. Assim as actividades de reflorestamento dão prioridade as espécies nativas, em
perigo ou em via de extinção.
Capítulo IX
9. Referencias Bibliográficas
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Anexos