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Análise e Mapeamento de Áreas de Risco de inundação nas ocupações urbanas nos


bairros Ndlavela, Patrice Lumumba, São Dâmaso e Infulene “D” no Município da
Matola
Autores:
Helton C. Camacho1, José S. Mandlhate2, Lúcio D. A.Nhanombe3 e Prof. Dr. António
Bento Gonçalves4
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Mestrando em Gestao de Riscos Ambientais: camachohelton@gmail.com
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Mestrando em Gestao de Riscos Ambientais: josesetemandlhate@gmail.com
3
Mestrando em Gestao de Riscos Ambientais: Lucioderci@gmail.com
4
Phd em  Geografia Física e Estudos Ambientais / Docente no Dep. de Geografia, ICS,
Univ. do Minho: bento@geografia.uminho.pt
Resumo
A presente pesquisa cuja motivação é a contribuição na produção de informações relevantes sobre a
gestão de riscos ambientais, tem como objectivo é analisar e mapear áreas que que apresentam risco de
ocorrência de inundações no Município da Matola, mais precisamente na área de confluência entre os
bairros Ndlavela, Patrice Lumumba, São Dâmaso e Infulene “D” por meio da produção, através da
utilização do método AHP (Analytic Hierarchy Process) integrado ao Geoprocessamento em ambiente
SIG, do mapa de risco de inundação. Utilizando-se quatro variáveis base, sendo elas: Uso e Ocupação,
Tipos de Solos, Hipsometria e Declividade, compilou-se estas informações atribuindo notas e ponderando
esses factores dentro da hierarquia para a inundação, para, por fim, elaborar-se o mapa final através do
software ArcGis 10.1. Desta forma, por meio da Análise Hierárquica e a Análise multicritério, alcançou-
se os resultados obtidos, demonstrando que as áreas de maior risco de inundação coincidem com as áreas
em que a altitude varia entre 29 a 38 Metros e com uma declividade que varia entre 0 a 2% que são as
áreas a jusantes e que possuem menos capacidade de infiltração do solo devido a impermeabilização dos
solo causado pela expansão urbana na área de estudo. Sendo assim, tais áreas merecem uma maior
atenção quando se pensar o planeamento urbano, de modo a orientar aos gestores, a melhor forma de
acção em prol da mitigação dos impactos provenientes dos casos de inundação.
Palavra Chave: Mapeamento. Risco de inundações. Ocupações urbanas.

Abstract
The present research, whose motivation is to contribute to the production of relevant information on
environmental risk management, aims to analyze and map areas at risk of flooding in the Municipality of
Matola, more precisely in the area of confluence between the neighborhoods Ndlavela, Patrice Lumumba,
São Dâmaso and Infulene "D" by producing, through the use of the AHP method (Analytic Hierarchy
Process) integrated with Geoprocessing in a GIS environment, the flood risk map. Using four base
variables, namely: Use and Occupancy, Soil Types, Hypsometry and Slope, this information was
compiled by assigning scores and weighting these factors within the hierarchy for flooding, to finally
elaborate the final map through the ArcGis 10.1 software. Thus, through the Hierarchical Analysis and
Multicriteria Analysis, the results were obtained, showing that the areas of greatest flood risk coincide
with the areas where the altitude varies between 29 and 38 Meters and with a slope that varies between 0
and 2%, which are the downstream areas and that have less capacity for soil infiltration due to soil sealing
caused by urban sprawl in the study area. Thus, such areas deserve greater attention when urban planning
is considered, in order to guide managers on the best course of action to mitigate the impacts of flooding.
Key-word: Mapping. Flood Risk. Urban occupation.
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1. Introdução  

O processo de crescimento dos centros urbanos nos países em via de desenvolvimento ou


subdesenvolvidos, possui uma dinâmica própria, onde a sua estruturação é marcada por grandes
desajustes que uma grande influencia na qualidade da vida da população. O reflexo da falta de
planeamento territorial é apresentando de várias maneiras, onde uma das formas da manifestação
desse défice está relacionado com o facto de ver de áreas próprias para a prática de agricultura,
pecuária, entre outras actividade sendo invadidas pela expansão urbana desordenada ou então em
área com sérios riscos ambientais (ECKHARDT, 2008 apud SILVA & ZAIDAM, 2004).

Segundo o mesmo autor ECKHARDT (2008 apud SANTOS, 2008) afirma que há uma
relação muito estreita entre a degradação ambiental, a intensidade do impacto dos desastres e o
aumento da vulnerabilidade humana. A dificuldade do acesso à terra e à moradia em áreas
urbanas, associada a baixa actuação do poder público levou a uma intensificação da ocupação
indiscriminada de zonas impróprias, tais como áreas de várzeas, terrenos com elevadas
declividades e áreas com alta susceptibilidade aos processos erosivos, potencializando a
ocorrência de desastres naturais.

De acordo com GUERRA & CUNHA (2004) os desastres naturais e os impactos


ambientais atingem muito mais os espaços físicos de ocupação das classes sociais menos
favorecidas do que os das classes mais elevadas, facto que agrava ainda mais a situação. Além
disso, é da própria natureza da cidade capitalista a produção e ampliação das desigualdades
sociais, afirma CORRÊA (1993). A crescente urbanização das últimas décadas trouxe
modificações no uso e ocupação do solo e no ciclo hidrológico dos locais impactados e dentre os
problemas mais comuns em áreas urbanizadas, as enchentes e alagamentos constam como os
principais a serem enfrentados, principalmente em épocas de chuvas intensas, com destaque para
as áreas mais baixas (GUIMARÃES e PENHA, 2009).

A sobrecarga de um sistema de drenagem, o uso inadequado do solo, a


impermeabilização de um local e a urbanização caótica provocam uma redução da capacidade
natural de armazenagem de deflúvios (escoamento superficial da água), fazendo com que a água
ocupe outros locais, o que tende a provocar alagamentos e inundações (CANHOLI, 2015).
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Os bairros dos municípios da matola não escapam a esse facto uma vez que passam pelos
mesmos transtornos. O processo de urbanização que ocorreu no Município da Matola mais
precisamente na área de confluência entre os bairros Ndlavela, Patrice Lumumba, São Dâmaso e
Infulene “D” reproduz a mesma regra que se verifica em outras áreas do país bem como do
mundo: que caracteriza-se por ser intensa, rápida, concentrada e desigual, factos que criam
graves problemas.

No município da Matola, mais precisamente na área de estudo, as inundações são


fenómenos que ocorrem frequentemente, causando grandes impactos ao meio ambiente e ao
meio antrópico. Pois a maioria dos bairros deste município não teve a evolução da ocupação
humana planificada no ambiente urbano. Alguns bairros do município desenvolveram-se de
forma espontânea e ocuparam áreas que outrora eram passagem das águas pluviais e Fluviais,
bem como ocuparam terras em zonas baixas e susceptíveis a vários tipos de eventos naturais,
deste modo as inundações são os principais problemas ambientais que a cidade enfrenta toda vez
há uma precipitação.

A presente pesquisa foca-se nas inundações, onde ira mapear áreas que que apresentam
risco de ocorrência de inundações, pois segundo a INGC desse tipo de causam grandes perdas
tanto humanos, bem como materiais, deixando a população grave estado de vulnerabilidade
social, também foram Identificados os principais factores que contribuem para indução e/ou
desencadeamento das inundações urbanas na área de estudo; caracterizado as inundações nas
ocupações urbanas na área de confluência entre os bairros Ndlavela, Patrice Lumumba, São
Dâmaso e Infulene “D” no Município da Matola e por fim Identificar e delimitar as áreas com
perigo de inundação na área de confluência entre os bairros Ndlavela, Patrice Lumumba, São
Dâmaso e Infulene “D” no Município da Matola.

1.1. Zoneamento de risco a inundação

A elaboração do zoneamento de uma área corresponde a uma medida não estrutural.


Essas medidas são entendidas e consideradas como tecnologias brandas e que, normalmente, tem
custo muito mais baixo do que as medidas estruturais as quais constituem-se, geralmente, em
obras de engenharia. Contudo, as medidas não estruturais apresentam bons resultados, e estão
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relacionadas às políticas urbanas, planeamento, legislação, pesquisa, educação, entre outras (IPT,
2007). Assim, um mapa de zoneamento de risco pode representar um bom instrumento para a
administração de uma cidade com relação à sua manutenção e preservação de sua estrutura, tanto
com relação às questões físicas quanto humanas.

Para KOBIYAMA (2006), o “zoneamento é uma sectorização territorial, de acordo com


as diversas vocações e finalidades de uma determinada área, com o objectivo de potencializar o
seu uso sem comprometer o meio ambiente, promovendo a qualidade de vida e o
desenvolvimento sustentável”. Nesse sentido, pode-se considerar, como uma situação ideal, que
cada município apresente seu zoneamento de acordo com as características físicas, sociais,
económicas e culturais inerentes a sua condição particular.

Veyret observa que o mapa do zoneamento confere ao risco um carácter objectivo, visto
que, expõem os espaços em que há risco elevado e com necessidade de regulamentação ou, até
mesmo, a proibição de moradias, e outros espaços em que o risco é menor ou ausente. A autora,
também ressalta que “a cartografia permite, ao mesmo tempo, a objectivação do risco e sua
designação como problema público” (VEYRET, 2007).

Mais especificamente, TUCCI (2005) considera o zoneamento como sendo “a definição


de um conjunto de regras para a ocupação das áreas de risco de inundação, visando à
minimização futura de perdas materiais e humanas em face das grandes cheias”, ainda,
acrescenta que o zoneamento urbano é um instrumento que permite fazer o uso racional das áreas
ribeirinhas. Para se chegar ao nível de detalhamento do mapa de zoneamento, são previstos
anteriormente o desenvolvimento de mapas de perigo, mapas da vulnerabilidade do local e, por
fim, o mapa de risco. Esses termos – perigo, risco e vulnerabilidade – são abordados na literatura
sob vários enfoques, assim, buscaremos estabelecer algumas definições que são convenientes ao
trabalho de zoneamento.

1.2. Perigo

O termo “perigo” é utilizado por muitos autores como sendo a tradução de “natural
hazard”. Mais recentemente, a Defesa Civil vem apresentando tendência a substituir o termo
“perigo” por “ameaça”. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, sucintamente, considera o
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termo perigo como sinónimo do termo hazard, e entende este como sendo a “condição ou
fenómeno com potencial para causar uma consequência desagradável” (IPT, 2007). De acordo
com Kobiyama, o termo perigo pode ser entendido como uma tradução do termo inglês “hazard”
ou como sinónimo do termo ameaça.

Assim, a autora entende o perigo como:


Um fenómeno natural que ocorre em época e região conhecidas que podem
causar sérios danos nas áreas sob impacto. Assim, perigos naturais (natural hazard) são
processos ou fenómenos naturais que ocorrem na biosfera, podendo constituir um evento
danoso e serem modificados pela actividade humana, tais como a degradação do
ambiente e urbanização (KOBIYAMA, 2006).

Por vez, CASTRO (2000) destaca que o perigo “implica la existencia del hombre que
valora qué es un daño y qué no”, visto que nem sempre os fenómenos naturais causam prejuízos
as comunidades, podendo, então, ser considerado apenas como um evento. Nesse sentido, Castro
apresenta a definição adoptada pelas Nações Unidas, a qual aponta que o perigo natural é "la
probabilidad de que se produzca, dentro de un período determinado y en una zona dada, un
fenómeno natural potencialmente dañino" (NAÇÕES UNIDAS, 1984 apud CASTRO, 2000).

Mais directamente, LAVELL (1999) considera que “la ideia de ameniza se refiere a la
probabilidad de la ocurrencia de un evento físico dañino para la sociedad”. O autor também
ressalta que se não existir uma disposição ou propensão de sofrer algum dano ao deparar-se a um
evento físico qualquer, não há ameaça ou perigo, apenas a ocorrência de um evento físico
natural, sem repercussões para a sociedade.

1.3. Risco

De acordo com KOBIYAMA (2006), o risco é a “probabilidade de perda esperada para


uma área habitada em um determinado tempo, devido à presença iminente de um perigo”. Já,
Castro ressalta que as Nações Unidas entendem o risco como sendo o “grado de pérdida previsto
debido a un fenómeno natural determinado y en función tanto del peligro natural como de la
vulnerabilidad" (NAÇÕES UNIDAS, 1984 apud CASTRO, 2000).

O risco consiste em um conceito fundamental o qual supõe a existência de dois factores:


a ameaça e a vulnerabilidade. Desta forma, pode-se entender que o risco se faz na inter-relação
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ou intersecção desses dois factores, cujas características e especificidades são heterogéneas.


Assim, entende que o risco resulta na “probabilidad de daños y perdidas” (LAVELL, 1999).

O IPT (2007), coloca que o risco consiste na “relação entre a possibilidade de ocorrência
de um dado processo ou fenómeno, e a magnitude de danos ou consequências económicas e/ou
sociais sobre um dado elemento, grupo ou comunidade. Quanto maior a vulnerabilidade, maior o
risco”. Assim, o IPT destaca que a área de risco constitui-se em uma:
Área passível de ser atingida por fenómenos ou processos naturais e/ou
induzidos que causem efeito adverso. As pessoas que habitam essas áreas estão sujeitas
a danos a integridade física, perdas materiais e patrimoniais. Normalmente, no contexto
das cidades brasileiras, essas áreas correspondem a núcleos habitacionais de baixa
renda (assentamentos precários) (IPT, 2007).

1.3.1. Classificação Geral dos Riscos

Os riscos podem ser classificados de várias formas estando a classificação, geralmente,


relacionando os riscos com o evento desencadeador, isso em função da forte relação entre um
evento adverso, o perigo, e os riscos desenvolvidos. CERRI e AMARAL (1998) como mostra o
quadro abaixo, considera os riscos ambientais como sendo a classe de maior abrangência dos riscos, a
qual subdivide-se em classes mais específicas de acordo com os tipos de eventos relacionados. Esta
classificação destaca-se pelo alto grau de complexidade, por abranger além dos riscos naturais, também,
os riscos tecnológicos e sociais.

Quadro I Classificação dos Riscos Ambientais

Fonte: CERRI E AMARAL, 1998.


1.4. Inundações

As inundações geralmente ocorrem quando a precipitação é intensa e a quantidade de água


que chega simultaneamente ao rio é superior à sua capacidade de drenagem, resultando no
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transbordamento de suas águas as áreas ribeirinhas (TUCCI e BERTONI, 2003; TUCCI, 2004). As
principais condições naturais para a ocorrência de inundação são o relevo, a quantidade e intensidade
das chuvas, a cobertura vegetal, e a capacidade de drenagem do solo. Já as principais condições
artificiais decorrem do uso e manejo do solo, como obras hidráulicas, grau de impermeabilização do
solo - urbanização, desmatamento e reflorestamento.

O processo de inundações pode ser definido de uma forma mais ampla, de acordo com
CASTRO (1998), como o transbordamento de água da calha normal de rios, mares, lagos e
açudes, ou acumulação de água por drenagem deficiente, em áreas não habitualmente submersas.
CASTRO (2003) classifica as inundações em função do padrão evolutivo como: enchentes ou
inundações graduais, enxurradas ou inundações bruscas, alamentos e inundações litorâneas.
Quadro 1: Classificação dos Riscos Ambientais

Inundação Normalmente as inundações graduais são cíclicas e nitidamente


gradual ou sazonais, onde relacionam-se com o período demorado de chuvas
enchente continuas do que com as chuvas intensas e concentradas este fenómenos
caracteriza-se por sua abrangência e grande extensão.
Inundações São provocadas por chuvas intensas e concentradas, em regiões de
bruscas ou relevos acidentados, caracterizando-se por produzir subidas e violentas
enxurradas elevações dos caudais, os quais escoam-se de forma rápida e intensa, as
enxurradas são típicas de regiões acidentadas
Os são águas acumuladas no leito das ruas e nos perímetros urbanos por
alagamentos forte precipitação pluviométrica, em cidade com sistemas de drenagem
deficiente.
As São provocadas pela brusca invasão do mar, normalmente caracterizam-
inundações se como desastre secundários, podendo ser provocadas por vendavais e
litorâneas tempestades marinhas, ciclones tropicais, trombas de águas, Tsunamis
Fonte: CASTRO, 2003

2. Material e Métodos
2.1. Área de Estudo

A nossa área de estudo encontra-se localizado no município da matola, é uma área de


confluência entre dois postos administrativos Infulene e Machava nomeadamente é nesta área
onde podemos encontrar os bairro de Ndlavela e Infulene ou Unidade D pertencentes ao Posto
administrativo de Infulene e Patrice Lumumba, São Dâmaso que pertencem ao posto
administrativo da Machava, área é limitada a Sul pelos bairros Infulene “A”, Acordo de Lusaka
e Vale de Infulene, a Norte pelos bairros 1º de Maio e congolote, a Este pelos bairro zona Verde
e Bairro T3 e a Oeste pelos bairro Bunhiça, Machava-Sede e Singathela respectivamente, em
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termos geográficos esta área encontra localizado entre os paralelos 25º 51’ e 25º Sul e entre os
meridianos 53’32º 30’ e 32º 32’Este.

Figura 1: Localização da área de estudo.

Fonte: Autores, 2021

2.2. Metodologia  

O presente e estudo tem como local de estudo uma área de confluência entre os bairros
Ndlavela, Patrice Lumumba, São Dâmaso e Unidade ou Infulene “D” no Posto Administrativo
de Infulene e Machava localizado no município da Matola, onde o principal objectivo é de
determinar as áreas com risco de ocorrência de inundações, as áreas com maior probabilidade de
ocorrência e os impactos de modificações em factores relacionados com a drenagem local.

Os principais procedimentos metodológicos adoptados para o presente estudo foram:


Revisão teórica sobre o tema, obtenção da base cartográfica, integração dos dados cartográficos
em ambiente SIG, processamento dos dados espaciais e actividade de campo. A metodologia
desenvolvida nesta pesquisa teve como o objectivo analisar o risco de ocorrência de inundações
nas ocupações urbanas, nesta perspectiva foram elaborados quatro modelos dos quais serão
apresentados sequencialmente ao longo do trabalho.
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Neste sentido para a efectivação dos objectivos propostos para esta pesquisa, recorreu-se
á metodologia AHP (Analytic Hierarchy Proces), reproduzida por SAATY (1977), para
determinar pesos estatísticos para as variáveis seleccionadas e representadas nos mapas
temáticos. São elas: hipsometria, declividade e uso e ocupação do solo.

Segundo HORA e GOMES (2009) referem que os elementos que apresentam maior
importância num estudo de risco de inundações são: Geológico (Pedologia/Solo), Geomorfologia
(Declividade e Hipsometria) e por fim Uso do solo (Classificação das ocupações e cobertura do
solo), mas que neste estudo foi acrescentado o tipo de solo da área de estudo.

A compilação das variáveis definidas para este estudo, deu-se por meio da ponderação
das variáveis ou dados quando a sua susceptibilidade á ocorrência de inundações, para tal foram
definidos valores ou intervalos que varias de 0 (Zero) a 7 (Sete), onde o 0 (Zero) indica áreas
menos susceptíveis á ocorrência de inundações e 7 (Sete) áreas mais susceptíveis ao risco de
inundação.

Para elaboração e a sobreposição dos dados / variáveis foi utilizado o Software ArcGis
10.1, onde na primeira fase foi necessário utilizar imagens do Modelo Digital do Terreno (MDT)
que contém os dados de elevação do terreno desconsiderando edificações e vegetação, que foi
usado para geração do plano de informação hipsometria e declividade

As cotas de altitude foram classificadas e ponderadas em sete classes de nota, conforme


quadro 1 e convertidas para o formato raster com resolução espacial de 5x5 m (pixel). Na
sequência, gerou-se o mapa de declividade em formato raster, onde as classes de declividade
foram reclassificadas em Sete classes e atribuída nota de acordo com o exposto no quadro 1.

Tabela 1 – Classificação da altimetria e do relevo em relação aos percentuais de


declividade e os respectivos valores relacionados às classes

Altimetrias Nota Declividade % Nota

61.1 – 69 0 Mais de 22.15 0

57.1 – 61 1 12.68 – 22.14 1

53.1 - 57 2 9.029 – 12.67 2


10

49.1 – 53 3 6.338 – 9.028 3


44.1 – 49
4 4.428 – 6.337 4

38.1 – 44 5 1.9998 - 4.427 5

29 - 38 6 0 – 1.9999 6
Fonte: Autores, 2021

O mapa de uso e ocupação de solo foi gerado a partir do mapeamento. A classificação


deu-se por meio do método supervisionado, opção "Classification", utilizando-se várias amostras
de pixel da imagem de satélite, da base de dados do software ArcGis 10.3, classificada e
ponderada em cinco classes de uso e ocupação do solo (Quadro 2).

Quadro 2 – Classificação do uso e ocupação do solo e dos tipos de solo e os


respectivos valores relacionados às classes.
Classe Nota Classe Nota
Área residencial Semi-Urbanização 8 Solos arenosos alaranjados 2
Área Húmida 10 Solos arenosos avermelhados 7
Fonte: Autores, 2021

Para a elaboração do mapa de riscos de inundações foi necessário a sobreposição das


variáveis com recursos à ferramenta calculadora de raster, "Raster Calculator". O grau de
susceptibilidade foi obtido a partir da soma dos valores da tabela de atributos dos quatros mapas,
uso e ocupação do solo, tipos de solo, hipsometria e declividade. A área mais susceptível a
inundações, a tipologia de classificação deu-se em função do grau de susceptibilidade a
inundação, no mapa síntese (Quadro 3).

Quadro 3 – Classes do grau de susceptibilidade ao risco a inundação


Risco de Inundação Peso Cor
Sem Risco 1 Verde-Escuro
Baixo 3 Verde-Claro
Médio 5 Laranja
Alto 7 Vermelho
Fonte: Autores, 2021

3. Resultados
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A elaboração do Modelo Digital do Terreno (MDT) a partir dos dados altimétricos, curvas
de níveis e pontos cotados da área de estudo, onde dele obteve-se o mapa de hipsometria e
declividade, figura 2 e 3, respectivamente. A altimetria da área de convergência entre os bairros
Ndlavela, Patrice Lumumba, São Dâmaso e Infulene “D” varia entre 29 a 69 metros de altitude
como ilustra a (Figura 2), de modo geral, as maiores altitudes encontram-se na porção norte da
área de estudo. A altimetria apresenta uma redução no sentido norte-sul, ou seja, dos bairros São
Dâmaso e Ndlavela para os bairros Infulene “D” e Patrice Lumumba respectivamente, sendo este
último o bairro que apresenta a altimetria mais baixas.

Figura 2: Hipsometria. Figura 3: Declividade.

Figura 5: uso de solo Figura 4: Tipo do Solo

Fonte: CENACARTA, adaptado pelos autores, 2021.

A declividade é o grau de inclinação das vertentes a um eixo horizontal, e é um


factor fundamental na identificação das áreas mais susceptíveis a inundação. As maiores
declividades ocorrem ao sul, onde variam entre 9 a 22.4% enquanto os menores de 0 a 4%.
Porém verificam-se declividades planas distribuídas por toda a área de estudo (Figura 3). Na
figura 4 têm-se as classes de uso e a ocupação do solo. Nele pode-se verificar a área onde se
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concentram maior mancha de urbanização, assim como a presença de área dedicada a prática de
agricultura de sequeiro, de salientar que esses dados de uso do solo da área ainda não foram
actualizados. O solo tem uma grande responsabilidade na drenagem e infiltração da água. A
figura 5 mostra os tipos de solo (arenoso avermelhado e arenoso amarelado). O tipo de solo
predominante é do tipo arenoso amarelado.

Figura 5 – Mapa de Risco de inundação

Fonte: CENACARTA adaptado pelos Autores, 2021

A elaboração do mapa de risco de inundação permitiu observar factores das causas de


inundações. A partir da análise da Figura 5 ficou mais evidente as áreas de baixo risco, tendo em
vista que tais áreas coincidem com as áreas de maiores altitudes no município, o que para casos
de inundação tendem a ser regiões de menores risco, sobretudo quando se tem cursos hídricos
cortando o relevo e direccionado o escoamento para porções menos elevadas

Quanto os factores escolhidos na presente pesquisa influenciaram para o surgimento de


áreas com alto risco de inundação, sendo o destaque para as concentrações áreas residenciais
semi-urbanizadas localizadas na área que outrora era a passagem de água. A falta ou ausência de
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planeamento da expansão urbana do não somente nos bairros em análise, mas no município pode
ser um dos principais motivos para a ocorrência do problema, porém a impermeabilização quase
total de muitas áreas urbanizadas é um factor a ser considerado preocupante para os dias actuais,
sendo que o problema (inundações), bem como suas causas e factores contribuintes, não é
desconhecido pela humanidade e pela ciência.

3.1. Discussões de dados.

De acordo com o mapa de inundação, percebe-se a predominância de baixas altitudes na área


onde se localiza o perímetro urbano, variando de 29 a 39 m. Isto confirma a preferência das
pessoas pela ocupação das áreas mais planas onde há áreas férteis para a prática de agricultura e
outras actividades. Os cenários de inundação foram obtidos considerando as cotas de 0 a 1 %; 1 a
2%; 2 a 4%; 4 a 6%,6 a 9%, 9 a 12% e por fim 12 a 22%. Após a comparação da área inundável
para cada bairro, observou-se que, predominantemente, os bairros Infulene ‘’D” e Patrice
Lumumba são os mais susceptíveis à inundação devido as menores altitudes destes bairros e da
proximidade destes com o curso d’água (figura 6, 7, 8 e 9).

Figura 6: Área de estudo 4 dias depois da Chuva do mês de Fevereiro de 2021

Figura 7:Areas que outrora era caminho de agua da agora ocupada por habitações.
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Fonte: Autores. 2021

Os bairros Ndlavela e São Dâmaso são menos susceptíveis à inundação, pois estão localizados
em uma altitude mais elevada em comparação aos bairros mais susceptíveis conforme ilustra o
mapa de síntese, sobre risco de inundações.

4. Conclusão

Este artigo procurou analisar e mapear áreas de riscos de inundações na área de


confluência entre os bairros Ndlavela, Patrice Lumumba, São Dâmaso e Infulene “D”, onde a
partir das análises e discussões dos dados deste trabalho, podemos inferir que a identificação das
áreas que apresentam risco de inundações através de representação cartográfica, a detecção e
prevenção de possíveis desastres, bem como o monitoramento dos principais elementos
desencadeadores, são de importante relevância para os centros urbanos, a fim de que sejam
evitadas perdas (económicas, ambientais e de vidas).

A Análise Hierárquica (AHP) utilizada neste trabalho, representa factor crucial na


elaboração do mapeamento final, tendo em vista a importância não só de se considerar as
variáveis ambientais mais relevantes para o caso, quanto para ponderá-las de acordo com a
susceptibilidade ao problema, bem como que as áreas de ocupação humana apresentam maiores
riscos de inundação, justamente devido a intensa impermeabilização dos solos pelas construções
e ocupação indevida de regiões próximas às várzeas dos rios. O estudo realizado nesta pesquisa
se mostra eficaz pois coincide com os principais casos e relatos históricos de inundações no
município.
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Em termos gerais, fazendo uma analise do mapa de risco de ocorrência de inumações na


área em estudo em termos proporcionais o local de estudo apresenta um risco de inundação
médio que tende a progredir para risco alto a medida que saímos dos bairros Ndlavela e São
Dâmaso que são bairro a montantes para os Bairros Patrice Lumumba e Infulene/Unidade D que
estão a jusante, ou seja, o número de sectores de risco alto é significativamente maior nos Bairros
Patrice Lumumba e Infulene/Unidade D em relação à bairros Ndlavela e São Dâmaso, o que
aparentemente pode ser o reflexo da influência de condições geomorfológicas, hidrográficas e
socioeconómicas locais.

O resultado obtido fornece material de interesse para a análise da qualidade da


mobilidade do município, além de ser uma fonte de informações com diversas aplicabilidades.

5. Referências bibliográficas

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