Você está na página 1de 21

Iloide Clarice

Jaime Dique Magaia


Laila Maria Langa
Vanésia Mathe
Rui Vasconcelos

Problema de Habitação na Cidade de Maputo

Licenciatura em Planeamento e Ordenamento Territorial


Laboral

Universidade Pedagógica de Maputo


Maputo
2021
Iloide Clarice
Jaime Dique Magaia
Laila Langa
Vanésia Mathe
Rui Vasconcelos

Problema de Habitação na Cidade de Maputo

Trabalho da disciplina de PCTU a ser


entregue na Faculdade de Ciências da Terra e
Ambiente, com fins avaliativos, sob avaliação
de:

Mestre Inocência Felicidade Bata Muianga

Universidade Pedagógica de Maputo


Maputo
2021
3

ÍNDICE

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 4

1. CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DE MAPUTO .............................................................. 5

1.1. Contexto geral .................................................................................................................. 5

1.2. Enquadramento Regional ................................................................................................. 6

1.3. Enquadramento Metropolitano......................................................................................... 6

1.4. Enquadramento Territorial do Âmbito do Estudo ............................................................ 6

2. HISTÓRICO DA HABITAÇÃO EM MOÇAMBIQUE ......................................................... 8

2.1. Nacionalização de imóveis - 1976 ................................................................................... 8

2.2. Reformas no Sector de Habitação – 1990 ........................................................................ 9

2.3. Habitação (Conceito)...................................................................................................... 10

2.4. Caracterização ................................................................................................................ 11

2.6. As características dos assentamentos periurbanos ......................................................... 12

3. DESAFIOS DA HABITAÇÃO NA CIDADE DE MAPUTO .............................................. 13

3.1. Factores dinamizadores da construção da habitação ...................................................... 13

3.2. Medidas do Governo para responder aos problemas habitacionais ............................... 14

3.2.1. As políticas de habitação ........................................................................................ 14

3.2.2. Política Nacional de Habitação Actual ................................................................... 14

3.2.3. Fundo do Fomento para Habitação ......................................................................... 16

CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÂFICAS.......................................................................................... 21
4

INTRODUÇÃO

O presente trabalho intitulado “Problema de Habitação na Cidade de Maputo” é o que


tencionamos abordar. O trabalho é elaborado no âmbito da disciplina de Problemas
Contemporâneos do Território Urbano.

O acesso à habitação adequada em Moçambique é um desafio considerável porém, o cenário


também apresenta uma oportunidade de se promover moradias junto a meios de subsistência, de
uma maneira resiliente e alinhada a um desenvolvimento urbano sustentável (UN-Habitat, 2018).

Moçambique conta com uma legislação robusta em termos de planeamento urbano, porém a falta
de uma aplicação adequada acaba por resultar em inúmeros problemas de infra-estrutura e de
acessibilidade, aumentando custos e diminuindo a qualidade de vida. A maioria da população
vive em assentamentos informais não planeados, com acesso irregular a serviços e emprego.

Objectivos

Geral

 Compreender os problemas de habitação na Cidade de Maputo.

Específicos

 Fazer a caracterização dos aspectos geográficos da Cidade de Maputo;


 Descrever o processo histórico da habitação em Moçambique;
 Abordar sobre o processo de habitação na Cidade de Maputo;
 Ilustrar os desafios de habitação na Cidade de Maputo.

Metodologia

Para elaboração deste trabalho, procedemos com a técnica de documentação ou análise


bibliográfica, que consistiu na busca de material já elaborado sobre o tema em estudo, tais como
livros e artigos científicos.
5

1. CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DE MAPUTO

Nesta secção pretende-se fazer-se uma caracterização da Cidade de Maputo de forma sucinta,
partindo do contexto geral até enquadramento territorial do âmbito do estudo.

1.1. Contexto geral

Segundo o PEUMM (2008) Chamado de Lourenço Marques, durante o período colonial, o


assentamento urbano teve pouca importância até a segunda metade do século XIX. A partir desse
período, progressivamente veio a firmar-se a sua vocação de importante centro urbano,
principalmente em decorrência do desenvolvimento da antiga República do Transval. O povoado
original foi elevado à categoria de vila em 1876. Desde 1874, já tinha sido ligada por estrada ao
Transvaal, tendo-se iniciado a construção da linha férrea em 1884. Lourenço Marques foi
elevado à categoria de cidade em 1887. Sendo o principal acesso marítimo do Transvaal, o Porto
de Maputo desenvolveu-se extraordinariamente. Em 1895, o primeiro comboio do Transvaal
chega a Lourenço Marques, hoje Maputo.

Foi elaborado então o primeiro plano de urbanização, que veio a resultar na actual morfologia da
cidade, com o seu traçado ortogonal e amplas avenidas. Em 1898 Lourenço Marques é elevada à
categoria de capital da colónia, o que consolidou definitivamente o seu desenvolvimento.
Durante a primeira metade do século XX, Lourenço Marques continua a crescer. Em 1950
residiam quase 100 mil pessoas. Um novo plano de urbanização é elaborado de 1952 à 1955, ano
em que foi aprovado, sugerindo o crescimento ao longo da costa em direcção ao norte. Contudo,
esse plano não chegou a ser executado (Idem).

Em 1961 é instalada a refinaria de petróleo na Matola, que consolida a sua vocação de pólo
industrial. Também nessa época inicia-se uma tendência de rápido crescimento, proliferando
novos bairros “caniço”, onde reside a população carente. Um novo plano director é preparado
nos anos 603, detalhando o zoneamento e a expansão urbana da metrópole. Nesse período, a
metrópole cresce de 180 mil habitantes para 380 mil, em 1970, mais que o dobro do tamanho na
década.
6

Após a independência em 1975, o nome de Lourenço Marques foi substituído por Maputo, nome
do rio que banha a cidade. Matola e Maputo em 1980 são unidas formando o Grande Maputo.
Em 1987, Matola (e os três distritos) é de novo separada reconstituindo-se município e voltando
a ganhar foro de cidade. O período conturbado pós independência, é caracterizado por um
significativo declínio económico, perdendo o porto sua tradicional primazia. É notável a falta de
manutenção e de expansão das infra-estruturas, serviços e equipamentos urbanos.

1.2. Enquadramento Regional

A Cidade de Maputo é o centro da Área Metropolitana de Maputo, e tradicionalmente a maior


concentração urbana de Moçambique, mas com grande importância para a África Austral como
um todo. O Município de Maputo é a capital da República de Moçambique. A República de
Moçambique está localizada na costa oriental da África Austral, é limitado a norte pela Zâmbia,
Malawi e Tanzânia, a leste pelo Canal de Moçambique e pelo Oceano Índico, a sul e oeste pela
África do Sul e a oeste pela Suazilândia e pelo Zimbabwe. No Canal de Moçambique, tem como
vizinhos, as Comores, Madagáscar, a possessão francesa de Mayotte e o departamento também
francês de Reunião, através das suas dependências Juan de Nova, Bassas da Índia e Ilha Europa.
(PEUMM, 2008).

1.3. Enquadramento Metropolitano

O Município de Maputo é o maior de Moçambique. Localiza-se no extremo sul do país, na


margem ocidental da Baía de Maputo, à latitude 25°54’55 Sul e longitude 32°34’35’’ oeste. Tem
limites, a norte com o distrito de Marracuene; a noroeste e oeste com o município da Matola, a
oeste também com o distrito de Boane, e a sul com o distrito de Matutuíne.

1.4. Enquadramento Territorial do Âmbito do Estudo

O Município de Maputo é composto por três distintas áreas, separadas pela Baía com mesmo
nome, que são o Centro do Município com 7 distritos Municipais, a Catembe e a ilha de Inhaca,
que correspondem ao distritos municipais 6 e 7 respectivamente. A pequena ilha Xefina é
administrativamente considerada como fazendo parte do distrito municipal 4, localizado no
anteriormente designado Centro do Município. A sua superfície total corresponde a cerca de 308
7

Km2, sendo a maior área a do Centro do Município com cerca de 167 Km2 (54%), seguida pela
Catembe com 94 Km2 (31%) e Inhaca com 47 Km2 (15%).

Distritos Distribuição dos bairros pelos Distritos Urbanos


Municipais
1-KaMphumo Central A, B e C; Alto Maé A e B; Malhangalene A e B; Polana
Cimento A e B; Coop e Sommerchield.
2-Nlhamankulu Aeroporto A e B; Xipamanine; Minkadjuine;
Unidade 7; Chamanculo A, B, C e D; Malanga
e Munhuana.
3.KaMaxaquene Mafalala; Maxaquene A, B, C e D; Polana
Caniço A e B, e Urbanização.
4-KaMavota Mavalane A e B; FPLM; Hulene A e B;
Ferroviário; Laulane; 3 de Fevereiro; Mahotas;
Albazine e Costa do Sol.
5-KaMubukwana Bagamoyo; George Dimitrov (ou Benfica);
Inhagoia A e B; Jardim, Luís Cabral;
Magoanine, Malhazine, Nsalane; 25 de Junho
A e B; e Zimpeto
6-Katembe Gwachene; Chale; Inguice; Ncassene e
Xamissava.
7-KaNyaka
Ingwane; Ribjene e Nhaquene
7-Kanyaka Ingwane,Ribjene e Nyakene

Tabela 1. Organização administrativa do Município de Maputo


8

2. HISTÓRICO DA HABITAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

Moçambique tem mais de 20 milhões de habitantes; sendo que 70,2% do total dos habitantes
vivem nas zonas rurais e os restantes 29.8% nas zonas urbanas A Constituição da República
preconiza que o direito à habitação é um direito constitucional de todos os cidadãos. (Artigo 91
da Constituição da República, 2004).

Antes da independência, as cidades e os aglomerados populacionais foram as estruturas mais


marcadas pelo estigma da descriminação étnica, racial, social e da exploração capitalista. A
população vivia dividida segundo a raça e a classe social. Nesse período, a construção da
habitação não era também da responsabilidade do Estado, mas sim dos indivíduos, cabendo ao
Estado o papel de regulador (MOPH/DNH e UNDP/Habitat).

2.1. Nacionalização de imóveis - 1976

Uma das medidas complementares à conquista da independência foi a nacionalização dos


imóveis de rendimento, que eliminou as práticas especulativas no campo da habitação e permitiu
a ocupação das habitações abandonadas pelos portugueses. A ocupação das casas abandonadas
pelos colonos, por famílias moçambicanas, foi considerada como sendo uma medida de justiça
social. Uma grande parte das famílias que passaram a habitar os bairros periféricos das áreas
urbanas tinham chegado das áreas rurais do país, atraídos pelo justo desejo de obter novos
empregos, melhorar as condições de vida, de saúde e de cultura (PEUMM, 2008).

O período colonial as cidades e os aglomerados populacionais foram as estruturas mais marcadas


pelo estigma da discriminação étnica, racial, social e da exploração capitalista.

Após à Independência Nacional, o Estado moçambicano passou a exercer funções de provedor


de habitação aos cidadãos. Assim através do Decreto – Lei n.º 5/76, de 5 de Fevereiro, foi
determinada a reversão para o Estado, de todos os prédios de rendimento, bem com dos que se
encontravam em mil habitações e outros edifícios passaram para o controle e manutenção do
Estado (Resolução n.º 19/2011).

Por um lado, em benefício sobretudo da população urbana, nacionalizaram-se os principais bens


e serviços (Oppenheimer e Raposo apud Jorge e Tique, 2020). Por outro lado, a nacionalização
da terra e dos prédios de rendimento, para além de travar o mercado fundiário e imobiliário e
9

acelerar a fuga de grande parte dos colonos e estrangeiros do país, possibilitou o acesso de
milhares de pessoas ao centro da cidade e a uma habitação plurifamiliar.

Simultaneamente, as margens autoproduzidas, que albergavam e albergam a maioria da


população, também registaram mudanças profundas, nomeadamente na sequência do acesso a
infra-estruturas básicas e da gradual substituição das construções em caniço pelo bloco de
cimento (Carrilho e Lage apud Jorge e Tique, 2020).

2.2. Reformas no Sector de Habitação – 1990

A Lei nº 5/91 de 9 de Janeiro, deu a possibilidade aos inquilinos nacionais de se tornarem


proprietários dos seus imóveis e liberalizou a actividade imobiliária. A Alienação de imóveis
resultou em recursos que tem vindo a ser aplicados em novos programas de urbanização e
habitação pelo Fundo do Fomento para a Habitação. Ao longo dos anos esses recursos têm-se
reduzido a medida que os imóveis vão sendo alienados (Resolução n.º 19/2011).

Segundo Carilho e Lage (2010), Trinta anos após a independência o desafio da habitação não
apenas se agravou, ficando cada vez mais evidente a necessidade de políticas específicas para ele
dirigidas, como ficou mais claramente revelado que a provisão de abrigo é uma das áreas onde se
concentra uma boa parte do esforço de poupança e criatividade das famílias de mais baixos
rendimentos. Com efeito, é difícil encontrarem-se hoje casas de caniço ou de materiais
predominantemente naturais, por exemplo, na cintura suburbana da cidade de Maputo.

Em trabalho conjunto feito com o Conselho Municipal desta cidade em 2005, o Centro de
Estudos do Desenvolvimento do Habitat da Faculdade de Arquitectura (CEDH) calculou que
ascendiam a 200 mil o número de habitações “informais”, em cimento, blocos e outros materiais
industriais, substituindo quase por completo a prática anterior de construção em caniço, como
primeira etapa de construção de habitação. Isto é, praticamente toda a cintura suburbana de
Maputo, por diversas razões entre as quais também se encontra a de escassez/tendência para o
esgotamento e afastamento dos locais de colheita do próprio caniço e afins, se petrificou, se
cimentou, num processo frenético de busca de melhoria das condições de abrigo, sem o medo
antigo de a casa ser destruída por não conformidade com o Plano Urbanístico, não obstante esta
regra não ter sido formalmente eliminada.
10

Quantificando este processo, podemos dizer que em 34 anos a periferia de Maputo foi
“cimentando-se”, passando de cerca de 31% de habitações sólidas com paredes de alvenaria em
1980, para cerca de 55% em 1997, e para 81% em 2007 (ibid.).

2.3. Habitação (Conceito)

Segundo (Oliveira e Handa apud Turner, 1999), o termo habitação tem subjacentes três
dimensões: abrigo, acessibilidade e ocupação. A função primordial da habitação é de abrigo.
Com o desenvolvimento das suas capacidades e talentos, o homem passou a utilizar materiais
disponíveis no seu meio tornando o abrigo cada vez mais elaborado.

Segundo Fernandes (2003) o termo vivenda provem do latim vivenda que significa moradia ou
habitação. Define-se também como a acção de habitar, edifício ou parte dele que se destina a
vivenda.

A habitação desempenha três funções principais:

 Social;

 Ambiental;

 Económica.

Como função social tem de abrigar a família e é um dos factores do seu progresso. Assim,
entende-se que a habitação deve atender os princípios básicos de habitabilidade, segurança e
salubridade.

Na função ambiental, a inserção no ambiente é fundamental para que estejam assegurados os


princípios básicos de infra-estrutura, saúde, educação, transportes, trabalho, lazer etc., além de
determinar o impacto destas estruturas sobre os recursos naturais disponíveis.
A função económica da moradia é inquestionável. A sua produção oferece novas oportunidades
de geração de emprego e renda, mobiliza vários sectores da economia local e influencia os
mercados imobiliários e de bens e serviços (Larcher, in Fernandes 2005, p.6).

A reprodução e a dinâmica espacial decorrem influenciadas pelo movimento da sociedade


propulsionado pela interacção entre distintos agentes sociais que orientados por interesses e
11

necessidades variadas criam, transformam as formas espaciais redefinindo o arranjo territorial


inclusive das áreas destinadas para a habitação.
A habitação, um dos elementos do espaço geográfico, desempenha um papel fundamental para a
vida humana. Pois, constitui um abrigo, lugar de intimidade, de segurança e onde o individuo e a
sua família podem “descansar a cabeça e o corpo fatigado” (Braga apud Fernandes, 2003: 12).

Conceito pode assumir significados variando de acordo com as especificidades políticas,


económicas, sociais e culturais de cada lugar. Contudo, constitui um fenómeno universal a
instituição de normas que incidem sobre a produção habitacional que devem ser cumpridas para
que pessoas possam viver ou habitar com um mínimo de segurança e conforto (ibidem).

Para compor o quadro da situação habitacional em Moçambique, sobre a qual é desenhada a


Política e Estratégia de Habitação, foram identificados duas características principais que são:

2.4. Caracterização

Zonas Rurais

a) Problema

 Isolamento e dispersão dos assentamentos humanos;


 Habitações construídas com materiais de construção precários;
 Ausência de infra-estruturas (estradas, água, electricidade e saneamento), e equipamentos
sociais (educação, saúde e comércio) e áreas de lazer;

b) Consequência

 Dificuldades na provisão de infra estruturas e equipamentos sociais;


 Necessidade de reconstrução das habitações anualmente;
 A população jovem vem migrando para as cidades em busca de trabalho, serviços de
saúde e educação.
12

Zonas Urbanas

I. Problemas

Falta de manutenção e conservação, densidade populacional elevada e superlotação das


habitações;

Baixa densidade populacional nalgumas áreas e carência de infra-estruturas (estradas, água,


energia, saneamento);

Ocupação territorial de forma desordenada e falta de regularização da habitação.

II. Consequências
 Degradação de imóveis sobretudo os prédios;
 Difícil acessibilidade aos bairros residenciais;
 Habitações construídas sem o licenciamento das autoridades locais/municipais, não
observância das regras e posturas municipais.

2.6. As características dos assentamentos periurbanos

O crescimento, não planificado das áreas periurbanas, foi sendo agravado pela ausência de
instrumentos de planeamento do uso do solo, sua execução e controlo. Como resultado, a maior
parte da população urbana passou a residir em áreas sem acesso adequado a infra-estruturas
básicas e equipamento social 20 e em unidades habitacionais precárias, sem segurança de posse
da terra. Essas áreas representavam 50% do total da área residencial urbana no ano de 1980,
enquanto a população nela residente perfazia 50% do total da população urbana. Dando
seguimento às directivas do III Congresso, realizou-se em 1979 a 1ª Reunião Nacional sobre
Cidades e Bairros Comunais, que tinha como objectivos analisar a situação política, económica,
financeira e social das dez cidades capitais provinciais (PEUMM, 2008: 39)
13

3. DESAFIOS DA HABITAÇÃO NA CIDADE DE MAPUTO

Com o crescimento avassalador das periferias não planificadas das cidades temos hoje o desafio
de pensar na habitação não apenas como facto técnico-financeiro, mas como processo integrado
e transversal expresso em política ou estratégia própria (a política ou estratégia de habitação).

De acordo com Jorge e Tique (2020) o acesso a uma habitação condigna por parte dos grupos de
menores recursos representou desde sempre um problema em Moçambique, nomeadamente ao
nível das grandes cidades e, especificamente, da capital. Durante o período colonial, o problema
foi sendo progressivamente ignorado e protelado pelo regime praticamente até às portas da
independência, em 1975. Anos antes, na sequência do Plano Director de Urbanização de 1969, o
Gabinete de Urbanização e Habitação da então Lourenço Marques (GUHARLM) promoveu um
conjunto de acções nunca antes realizadas nas suas margens urbanas, tanto ao nível dos acessos e
infra-estruturas básicas, como da dotação de equipamentos. Contudo, só com o fim do regime
colonial o tema do acesso a uma habitação condigna ganhou destaque.

A partir de 1985, assistiu-se a uma redução drástica do investimento do Estado, na sequência da


intensificação da guerra, mas também da escassez de materiais de construção, cada vez mais
difíceis de importar (Jenkins apud Jorque & Tique, 2020).

Segundo vários autores, como Raposo e Salvador (2007) e Vivet (2012) ambos citados por Jorge
e Tique (2020), para além da expansão das zonas periféricas, subdividiram-se talhões e
ocuparam-se terrenos não aptos à construção, como a barreira natural de Polana Caniço, espaços
de reserva destinados a equipamentos e infra-estruturas, caminhos e vias de acesso, de forma a
acolher os deslocados de guerra. Este processo conduziu à precarização da habitação e a
situações de sobrelotação, à saturação e deterioração das infra-estruturas e equipamentos, bem
como ao agravamento dos problemas ambientais, principalmente devido à erosão dos solos e à
contaminação dos lençóis freáticos.

3.1. Factores dinamizadores da construção da habitação


 O custo de construção é elevado;
 A qualidade das obras não é satisfatória;
 Grandes desperdícios no processamento de elementos de construção;
 Falta de padrões na construção da habitação;
14

 Baixa produtividade na indústria de construção civil.

3.2. Medidas do Governo para responder aos problemas habitacionais

Como forma de responder face aos problemas habitacionais, o Governo tomou algumas medidas
para controlar a situação, desenhou/elaborou as políticas de habitação e criou o FFH (Fundo do
Fomento para a Habitação).

3.2.1. As políticas de habitação

O programa de promoção de habitação própria (PPHP) – uma das primeiras medidas do Governo
para responder aos problemas habitacionais do País verificou-se em 1987, quando o Conselho de
Ministros aprovou as linhas da 1ª Reunião Nacional sobre Cidades e Bairros Comunais foi
realizada de 26 de Fevereiro a 3 de Março de 1979 e foi, até à altura, uma das maiores ocasiões
para reflexão sobre os problemas urbanos. Embora tenha sido criado o Fundo de
Desenvolvimento de Habitação Própria, logo após o seu estabelecimento este programa não pôde
funcionar plenamente, devido às dificuldades financeiras do Estado.

Com os financiamentos das Nações Unidas, no mesmo ano, em 1987, foi iniciado um projecto
financiado pelo PNUD e implementado pelo UNCHS (Habitat) com o objectivo de assistir o
Governo na definição da Política Nacional de Habitação, tendo esse terminado em Junho de
1991. Nesta política, a Habitação foi definida como um sistema que inclui infra-estruturas
sociais, físicas e económicas. Assim, os empreendimentos habitacionais complementariam o
trabalho de outros sectores – saúde, educação e produção. A continuidade dessa iniciativa foi
assegurada pelo projecto MOZ/91/010, que tinha em vista assistir o governo na formulação do
Programa Nacional de Desenvolvimento Urbano e Habitacional.

3.2.2. Política Nacional de Habitação Actual

As conversas sobre uma política nacional de habitação surgiram com a adopção da Constituição
de 2004, juntamente com o PQG 1999-2004, ambos documentos tendo a habitação como foco
para o desenvolvimento do país. Depois de anos de discussões e experiências de intercâmbio
com outros países, em 2011, a Política e Estratégia de Habitação foi finalmente apresentada pelo
15

Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos (MOPHRH). A ONU-Habitat


apoiou o governo em seu desenvolvimento (UN-Habitat, 2018)

Como uma outra Política de outras áreas, a Política de habitação tem sua visão, missão e
objectivo geral.

Visão

Proporcionar a cada família, habitação adequada, contribuindo desta forma, para o


desenvolvimento sustentável e redução da pobreza.

Missão

Facilitar o acesso à habitação adequada, conferindo dignidade a cada família através da


coordenação dos diferentes segmentos da sociedade.

Objectivo Geral

Facilitar a provisão de habitação adequada e um ambiente de vida são, acessível a todos os


grupos sociais, assim promovendo assentamentos humanos sustentáveis.

Específicos

 Facilitar progressivamente o acesso à habitação adequada para todos os estratos da


população;
 Promover a urbanização, regularização e inserção dos assentamentos informais às cidades
e vilas;
 Tornar a questão habitacional uma prioridade nacional, articulando e mobilizando os
diferentes níveis de governo e fontes de recursos com a finalidade de potenciar a
capacidade de investimentos;
 Aumentar a produtividade e melhorar a qualidade na produção habitacional;
 Incentivar a geração de emprego e de renda dinamizando a criação de pequenas e médias
empresas de construção civil.

A política de habitação baseia-se nos seguintes princípios fundamentais:


16

 Habitação adequada como um direito para todos e uma necessidade para o


desenvolvimento social.

 Participação dos diferentes sectores da sociedade (estatal, privado, civil) para a provisão
sustentável de terras e casas para todos, assegurando um processo de tomada de decisão
transparente e participativo.

 Articulação da Política de Habitação com outras políticas, em particular com as


relacionadas ao desenvolvimento de empregos, planeamento de uso do solo, meio
ambiente e da população.

 Identificação e mobilização de recursos financeiros para potencializar a capacidade de


investimento e para operacionalizar a sustentabilidade da política de habitação.

 Criação prévia de infra-estrutura básica em novos assentamentos urbanos e


periurbanos.

 Incentivo à produção e disseminação de materiais de construção locais com tecnologias


melhoradas.

Objectivo Estratégico

O objectivo da estratégia de habitação é aumentar progressivamente a quantidade e qualidade da


habitação a partir do uso de recursos disponíveis localmente e da capacitação dos vários
intervenientes do sector a partir das suas áreas estratégicas (MOPH)

3.2.3. Fundo do Fomento para Habitação

Segundo Jorge e Tique (2020) paralelamente à reabertura e promoção do mercado imobiliário,


foi criado em 1995 o FFH (Decreto n.º 24/1995, de 6 de Junho), destinado a apoiar o
desenvolvimento de programas de habitação dirigidos sobretudo aos grupos de menores recursos
e jovens técnicos qualificados moçambicanos (artigos 2, 3 e 12). Enquanto instrumento
financeiro de apoio à promoção habitacional, com autonomia administrativa, financeira e
patrimonial, assumia como objectivos gerais:

 Promover a construção de “habitação social”;


17

 Bonificar as taxas de juro do crédito à habitação concedido pela banca;


 Conceder créditos para a construção, reparação ou ampliação de habitações;
 Financiar a promoção de estudos e intervenções de urbanização necessários ao
desenvolvimento das suas actividades;
 Financiar os organismos públicos responsáveis pela implementação de programas
habitacionais do Estado (n.º 2 do artigo 3).

As suas receitas proviriam, não só das dotações orçamentais atribuídas pelo governo, mas
também da venda de imóveis do Estado (cerca de 50%), dos imóveis em ruínas ou inacabados e
dos erigidos pelo próprio Fundo, bem como do reembolso dos créditos concedidos e respectivos
juros aplicados, de donativos e de juros de depósitos (Tique apud Jorge & Tique, 2020).

Durante os dez primeiros anos de actividade (1995-2005), demarcaram-se em todo o território


nacional cerca 6.000 talhões, com acesso a ruas de terra batida e ligação à rede de abastecimento
de água, garantindo-se gradualmente o acesso à electricidade, ficando ausente a ligação à rede de
esgotos e a drenagem das águas pluviais. Parte destas urbanizações deram lugar a
empreendimentos habitacionais num total de 2000 fogos, geralmente de carácter evolutivo
também financiados pelo FFH, adquiridos com recurso a crédito e essencialmente dirigidos a
jovens técnicos qualificados. No total, concederam-se perto de 1.000 créditos para a construção
de novas habitações e cerca de 950 para a reparação ou ampliação de habitações preexistentes
(Ibid., 215).

A maioria dos projectos apoiados pelo FFH neste período concentrou-se na Área Metropolitana
de Maputo, representando 45% do investimento total realizado a nível nacional, em áreas de uso
até então predominantemente rural, nomeadamente: (1) nas Mahotas (1996-1999), em Maputo,
em colaboração com a DNHU; (2) em Kongolote (1997-1999), na Matola, também em
colaboração com a DNHU; (3) em Cumbeza (2001-2003), em Marracuene, em proximidade com
a DINAPOT; e (4) no Picoco (2003-2005), em Boane, em articulação com a Direcção Provincial
das Obras Públicas e Habitação (Idem).

No total, a maior fatia de investimento na província de Maputo foi dirigida para a construção de
novos conjuntos habitacionais (73%), cujo acesso estava limitado aos cinco salários mínimos,
seguida da atribuição de crédito para reparação ou ampliação de habitações preexistentes (22%),
18

que exigia três salários mínimos, e por fim da urbanização básica (6%), sem qualquer teto
mínimo e, dessa forma, orientado para os estratos mais pobres da população.

Após dez anos de actividade, o FFH viu-se confrontado com problemas graves que colocavam
em risco a sua continuidade. Os principais destinatários, os jovens técnicos qualificados e os
grupos de menores recursos, não revelavam capacidade de endividamento/investimento para
aceder às linhas de crédito criadas ou às condições mínimas exigidas. Simultaneamente, o FFH
não possuía capacidade financeira para cobrir a totalidade dos custos inerentes à elaboração dos
projectos e à sua execução, nem reunia os meios e o apoio técnico e institucional suficientes para
continuar a desenvolver programas de habitação. Por um lado, a ausência de uma Política
Nacional de Habitação dificultava a definição e validação de uma estratégia de médio-longo
prazo e, consequentemente, o estabelecimento de prioridades (Idem)

Face à quase extinção do FFH, o Decreto n.º 65/2010 de 31 de Dezembro, publicado em 2010,
anunciava uma viragem política (Melo apud Jorge & Tique, 2020). O FFH passaria a abranger
diferentes domínios da promoção da habitação e a priorizar uma hipotética classe média
nacional, alterando os seus objectivos e directrizes iniciais, quer ao nível do financiamento dos
programas, reflexo do processo de financeirização em curso (Jorge apud Jorge & Tique, 2020),
quer da gestão dos investimentos, execução e controlo da sua gestão. Eram agora objectivos do
FFH:

 Coordenar os mecanismos que visem atrair financiamento interno e externo destinados a


programas habitacionais do governo central e local;
 Negociar e outorgar acordos e parcerias com vista ao financiamento desses mesmos
programas;
 Contrair empréstimos, em moeda nacional ou estrangeira;
 Constituir fundos de garantia de investimento de forma onerosa;
 Participar em sociedades que visem o financiamento de programas habitacionais;
 Conceder subsídios e proceder ao pagamento de juros bonificados praticados pelas
instituições de crédito para construção e aquisição de “habitação social”;
 Recomendar financiamentos externos para projectos de “habitação social” (artigo 2).
19

Paralelamente, a Política e Estratégia de Habitação (Resolução n.º 19/2011, de 8 de Junho) foi


finalmente publicada em 2011. Apresentava-se como um “instrumento impulsionador da
indústria da construção de habitação, com vista a responder ao défice de habitação adequada em
Moçambique” (Introdução), prevendo entre as suas linhas de actuação:

1) A promoção da rede habitacional, sobretudo nas áreas urbanas; e


2) O estímulo de políticas de construção de habitação a baixo custo, “de modo a atender
grupos vulneráveis” (Jorge & Tique, 2020: 217).

Como destaca Melo (apud Jorge e Tique, 2020) o realinhamento do FFH coincidiu, não só com a
publicação da Política e Estratégia de Habitação, mas também com a estruturação do sistema de
planeamento e gestão urbana e a expectativa de um forte crescimento económico, decorrente da
descoberta e exploração de recursos naturais globalmente estratégicos, com forte impacto na
promoção e produção habitacional ao nível da Área Metropolitana de Maputo, alvo de maior
pressão imobiliária.

Ainda de acordo com os mesmos autores, Entre 2011 e 2018, o FFH atribuiu 1.372 fogos e 1.666
talhões infra-estruturados, através do acesso ao crédito, mantendo igualmente abertas as linhas de
crédito destinadas à autoconstrução, ampliação e reabilitação, o que significa que todo e qualquer
beneficiário passou a ter de garantir capacidade de endividamento (através da apresentação do
extracto bancário dos últimos três meses e da declaração da entidade patronal confirmando o
salário líquido auferido e o tipo de vínculo contratual celebrado). A Área Metropolitana de
Maputo continuou a concentrar grande parte das intervenções realizadas, destacando-se uma vez
mais no topo dos investimentos a construção de novos conjuntos habitacionais, nomeadamente:
(1) a paradigmática Vila Olímpica (2011), financiada inicialmente pelo Fundo de Investimento
do Estado Português e duas empresas de construção portuguesas, num total de 848 fogos, e numa
segunda fase pelo grupo de Macau Charlestrong, com mais 240 unidades habitacionais; (2) a
Vila Sol (2015), em parceria com a empresa chinesa China Jiang Su, no bairro do Triunfo, em
Maputo, com 100 fogos concluídos e mais 108 projectados; (3) a Cidade Ideal da Guoji (2012),
em parceria com o grupo chinês Hena Gouji, na Matola, estimando-se um total de 5.000 casas,
500 das quais já construídas; e (4) o empreendimento MISAU (2015-2018), em parceria com o
Ministério da Saúde, também na Matola, com 32 fogos concluídos.
20

CONCLUSÃO

Face à incapacidade técnica e financeira para suprir o défice habitacional, mas também à
orientação política seguida nas últimas décadas, Moçambique enfrenta hoje vários desafios ao
nível do acesso a uma habitação condigna, nomeadamente ao nível da Área Metropolitana de
Maputo, sobre a qual se centrou a análise.

O problema de falta de habitação na Cidade de Maputo de repercussões negativas, como por


exemplo, construções de dependências e residências nos terraços dos prédios no centro da cidade
de Maputo.
21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÂFICAS

CARRILHO, J., LAGE, L. (2009) “Desafios no domínio da habitação”, in L. Brito, C. Castel-


Branco, S. Chichava, A. Francisco (orgs.), Desafios para Moçambique. Maputo, Instituto de
Estudos Sociais e Económicos, 2010. pp. 319-322.

CMCM. Plano de Estrutura Urbana do Município de Maputo. Vol. 2, Maputo, 2008.

JORGE, Sílvia & TIQUE, João. “Fundo para o Fomento à Habitação de quem? Análise do seu
impacto a partir do caso da Área Metropolitana de Maputo, Moçambique”. In: Cidades,
Comunidades e Territórios. 41, Dez., 2020. pp. 209 – 222.

LANGA, Felipe Jorge Laranjeira. Atlas de perfil habitacional de Moçambique (1997 a 2007),
uma abordagem do sig. Lisboa, 2010.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Resolução n.º 19/2011 de 8 de Junho. Política e estratégia


de habitação. Publicada na I série do B.R. nº 23, de 8 de Junho de 2011.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Constituição da República. 2004.

UN-HABITAT. Perfil do Sector de Habitação Moçambique. Maputo, Housing Unit, 2018.

Você também pode gostar