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Unidade II
5 REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL
A palavra rede vem do latim retis e significa “entrelaçamento de fios”. Teixeira (2007, p. 15) aponta que o
termo tem sido utilizado na psicologia social “para definir o universo relacional de um indivíduo, ou seja,
o conjunto de relações e estruturas de apoio socioafetivo de cada um”. Além de o termo rede ser abordado
em diversos campos, ele não tem um conceito único. Há vários conceitos sobre rede, que se dividem em
diferentes tipos, dependendo de sua natureza e objetivos: redes sociais, de políticas, de causalidades, redes
semânticas e linguísticas, informacionais, virtuais etc.
Schlithler (apud Castro, 2007) destaca que uma característica importante das redes é que elas
rompem com o isolamento das pessoas e das organizações, evitam a duplicação de ações e viabilizam a
realização de atividades integradas, porque atuam de maneira sistêmica e sinérgica. O processo das redes
pode ser avaliado por meio da análise da concretização de seus princípios norteadores: horizontalidade,
diversidade, autonomia, processo decisório democrático‑participativo, participação ativa de todos os
integrantes, intercomunicação ampla e transparente (Schlitler apud Castro, 2007, p. 34).
Esse processo não é fácil, Faleiros (2001, p. 131) afirma que a rede é “uma articulação de atores em
torno [...] de uma questão disputada, de uma questão ao mesmo tempo política, social, profundamente
complexa e processualmente dialética”.
Teixeira (2007) assinala que as redes de políticas são uma tentativa de criar novas formas de
coordenação, capazes de atender às necessidades e características do contexto atual em que o poder
se apresenta – plural e diversificado –, constituindo um instrumento fundamental para a gerência das
políticas sociais em contextos democráticos, permitindo a construção de novas formas de coletivização,
socialização, organização solidária e coordenação social.
Tal análise dá subsídios para pensar a rede de proteção a crianças e adolescentes, pois ela denota um
novo arranjo do papel do poder público governamental e da sociedade civil, organizada em torno de
um interesse coletivo, que tem seus limites dentro de um sistema desigual e de fragilização das políticas
públicas. O termo rede sugere a ideia de articulação, conexão, vínculos, ações complementares, relações
horizontais entre parceiros, interdependência de serviços para garantir a integralidade da atenção a
segmentos, que se encontra em situação de risco social e pessoal, como crianças e adolescentes vítimas
de violência.
Pode‑se definir rede de proteção social como uma articulação de pessoas, organizações e instituições
com o objetivo de compartilhar causas e projetos, de modo igualitário, democrático e solidário. É a
forma de organização baseada na cooperação, na conectividade e na divisão de responsabilidades e
competências. Não é algo novo, mas fundamentalmente uma concepção de trabalho, é uma forma de
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trabalho coletivo, que indica a necessidade de ações conjuntas, compartilhadas, na forma de uma “teia
social”, uma malha de múltiplos fios e conexões. É, portanto, antes de tudo, uma articulação política,
uma aliança estratégica entre atores sociais (pessoas) e forças (instituições), não hierárquica, que tem
na horizontalidade das decisões e no exercício do poder os princípios norteadores mais importantes.
Observação
A rede, em seu sentido mais amplo, está prevista pelo ECA, constituindo uma estratégia indispensável
na arquitetura do conceito de proteção integral.
É uma organização horizontal, isto é, prevê uma ausência de hierarquia entre colaboradores, livre
trânsito de informações, compartilhamento de poder e as ações são executadas por convicção, não
por obrigação. São definidos mecanismos de tomada de decisão e formação de consensos. Também
são elaboradas regras, de forma participativa, que deverão ser respeitadas por todos. A concepção de
rede permite que novos parceiros se agreguem, ampliando o espectro inicial de instituições e, portanto,
de alternativas de intervenção. Por isso, ampliar parceiros, envolver instituições governamentais e não
governamentais e a comunidade são diretrizes que norteiam a rede de proteção. Como partícipe de uma
rede, cada um tem o seu papel. Isso implica mudanças de postura e prática de não envolvimento e de
passar o problema adiante, tanto nos serviços como na própria comunidade.
Assim, a rede tem uma concepção de trabalho que dá ênfase à integralidade e à intersetorialidade,
envolvendo todas as instituições que desenvolvem atividades com crianças e adolescentes e suas
famílias, destacando‑se escolas, creches, unidades de saúde e hospitais.
Ramidoff (2011) analisa que a ideia de rede de proteção na área disciplinar da infância e da juventude
não deve se limitar apenas ao âmbito jurídico, orienta sobre a comunicação entre os segmentos
sociais. Os poderes públicos são a pedra angular para a articulação das ações governamentais e não
governamentais.
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À guisa da doutrina de proteção integral, que deve envolver todas as políticas setoriais (saúde,
assistência social, educação, esporte, cultura, lazer).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais promovida pelo ECA fixou uma nova concepção,
organização e gestão das políticas de atenção a esse segmento etário da sociedade, dando origem a um
sistema de garantia de direitos.
O sistema deve ser expandido, e não fechado em si; deve contemplar a ação de vários atores para
atender crianças e adolescentes, sendo, portanto, não uma instituição, mas uma forma de ação em
que se conhece e reconhece o papel dos demais, as articulações, as relações e as complementaridades
desses papéis.
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Unidade II
Diante desses aspectos, é preciso tecer redes junto às organizações que compõem o SGDCA,
articulando todos os atores dispostos a atuar pelo bem comum desse segmento.
Para a efetiva garantia dos direitos à criança e ao adolescente, o ECA definiu novas estruturas com
esse objetivo, e os conselhos de direitos ganharam destaque.
Os conselhos de direitos são instrumentos que viabilizam esses direitos na concepção da doutrina
da proteção integral; promovem discussão, formulação e deliberação da política social para crianças e
adolescentes, sendo organizados nas três esferas de governo.
Importante destacar que o SGDCA, o ECA (art. 86) e a CF (art. 227) identificam os atores responsáveis
para assegurar esses direitos dentro do trinômio respeito (não violação), proteção (impedir a violação
por terceiros) e garantia (ações concretas para realizar os direitos).
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O SGDCA é, portanto, um órgão no qual governo e sociedade, de forma paritária, formulam políticas
públicas e decidem sobre a aplicação dos recursos destinados ao cumprimento do ECA na esfera federal.
Lembrete
O SGDCA propõe uma gestão descentralizada e participativa, com o dever da União de estruturar
um órgão específico e autônomo que se responsabilizará pela política de atendimento dos direitos
humanos de crianças e adolescentes dentro dos objetivos de articulação e fortalecimento.
Portanto, o sistema é um conjunto articulado de pessoas e instituições que atuam para efetivar os
direitos do segmento infantojuvenil. Pauta‑se em três eixos estratégicos: promoção dos direitos, defesa
dos direitos e controle social.
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Descentralização administrativa.
O eixo de defesa de direitos tem o objetivo de cessar as violações contra a infância e a juventude.
É a via do acesso à justiça, às instâncias públicas e aos mecanismos jurídicos de proteção legal
dos direitos humanos, gerais e especiais. O eixo tem a atribuição de assegurar a sua impositividade
e exigibilidade, sendo formado por órgãos responsáveis por garantir a defesa, a fiscalização e as
sanções quando ocorre o descumprimento de leis, tais como Ministério Público, o juiz de direito, a
Polícia Militar, a Polícia Civil, o Conselho Tutelar.
O eixo do controle social é exercido pelos conselhos de direitos, ou seja, traz a noção de efetivação
da política de fato: acompanhamento, avaliação e monitoramento das ações antes previstas.
• Serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas sociais, alusivos aos fins
da política de atendimento dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
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Unidade II
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Figura 8
Um ponto essencial é a articulação das políticas públicas e sociais em prol da atenção à criança e ao
adolescente. A PNAS, em consonância com os preceitos constitucionais e as linhas de ação preconizadas
pelo ECA, garante a responsabilidade estatal, a universalização do acesso de todos os brasileiros aos
direitos sociais e às condições de uma vida digna, em especial crianças e adolescentes.
Para tanto, a política pública é direcionada para a efetivação dos direitos infantojuvenis, tendo
como centralidade a família, na perspectiva de fortalecimento ou resgate dos vínculos familiares,
desenvolvendo ações voltadas à orientação, ao apoio e à promoção social dos pais/responsáveis
(e demais integrantes do núcleo familiar) na prevenção da violação dos direitos no âmbito familiar.
O Conselho Tutelar integra o SGDCA, com funções e atribuições previstas legalmente, com forte
potencial para provocar a implementação de políticas públicas – característica ainda pouco explorada
na atuação da rede de proteção social. A análise e o detalhamento dos aspectos que envolvem
o atendimento da criança e do adolescente sob o paradigma da proteção integral permitem a
contextualização dos desafios à execução e ao fortalecimento do SGDCA consoante às diretrizes e às
prerrogativas normativas e legais.
Segundo o ECA (Brasil, 1990, art. 131), o Conselho Tutelar “é órgão permanente e autônomo, não
jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
adolescente, definidos nesta lei”.
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Unidade II
O Conselho Tutelar tem um papel vital no conhecimento das demandas em relação à criança e ao
adolescente. Quando sua atuação é eficiente, é possível direcionar, encaminhar e monitorar melhor
situações de violação de direitos, ampliando as possibilidades de resolutividade.
Saiba mais
Observação
Há ainda o Conselho Municipal da Criança e Adolescente (CMDAC), Conselho Estadual dos Direitos da
Criança e Adolescente (Condeca) e Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda),
além dos demais conselhos de políticas públicas como assistência social, saúde e educação, conselho da
juventude, mulheres e pessoas com deficiências.
Outras ações são importantes, como a participação nas reuniões intersetoriais, em que é definido
um processo de construção compartilhada, integração de ações, saberes e esforços de diferentes
setores, com o objetivo de construir objetos comuns de intervenção entre setores diversos, que implica
o estabelecimento de corresponsabilidade e cogestão pela melhoria da qualidade de vida da população
e enfrentamento mais articulado dos problemas sociais.
Segundo Silva (2022), a intersetorialidade é prevista nas mais variadas legislações, como as leis
que dispõem sobre a criação e implementação do SUS e Suas. Ela ainda é basilar na lei que rege as
ações para a infância e juventude, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069/1990
(Brasil,1990). A partir desse marco legal, inaugura‑se a Doutrina da Proteção Integral, que defende a
absoluta prioridade por parte das políticas sociais no atendimento a todas as crianças e adolescentes,
garantindo que estes sejam protegidos de quaisquer violações de direitos e tenham acesso igual aos
serviços e ações necessárias para o seu pleno desenvolvimento.
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DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
Segundo Cifali (2020), o ECA determina que os entes federativos devem atuar de forma articulada
na elaboração de políticas públicas e promover espaços intersetoriais locais para a articulação de
ações, com a participação de profissionais da saúde, da assistência social, da educação e dos órgãos
de promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente.
A Lei n. 13.431/2017, conhecida como Lei da Escuta Especializada, e o Decreto n. 9.603/2018, que
a regulamenta, também destacam tais elementos, apontando a relevância das ações intersetoriais
integradas e articuladas como forma de organizar o atendimento a crianças e adolescentes com a
finalidade de garantir um atendimento integral de suas necessidades, especialmente no que diz respeito
a vítimas ou testemunhas de violência.
Assim, de acordo com Silva (2022), há um consenso na literatura especializada sobre a importância da
intersetorialidade nas políticas sociais e sua tarefa de integrar os distintos setores públicos amenizando
a histórica fragmentação existente nessas políticas. Assim:
Portanto, Silva (2022) orienta mobilizar órgãos e serviços vinculados a diferentes setores das políticas
públicas, como o Conselho Tutelar, Conselhos de Direitos da Criança e Adolescente, sistema de justiça,
rede socioassistencial, de educação e saúde, o que é fundamental para assegurar a proteção integral de
crianças e adolescentes, bem como a de suas famílias.
Entretanto salienta que essa articulação em rede ainda é frágil em grande parte dos municípios
brasileiros, sendo possível observar a ausência de fluxos definidos, a dificuldade de comunicação entre
os órgãos e serviços, o desconhecimento por parte dos atores sobre os demais órgãos e serviços da rede,
a fragmentação das atividades, entre outras questões que dificultam o atendimento integral de crianças
e adolescentes para além das dificuldades orçamentárias.
Por isso, a conjugação de esforços para articulação do SGD é fundamental a fim de evitar a submissão
de crianças e adolescentes aos procedimentos desnecessários, morosos, repetitivos ou invasivos que
podem levar à violência institucional e à revitimização.
Assim, Silva (2022) apresenta nesse contexto que o papel do Ministério Público é fundamental
para a articulação da rede de proteção local como fiscalizador da ordem jurídica, incumbido de apurar
irregularidades e infrações administrativas, a instituição pode e deve realizar a fiscalização de políticas
públicas, mesmo quando não constatado qualquer ato ilícito.
Tal prerrogativa oferece a possibilidade de atuação preventiva, garantindo que o órgão possa
monitorar e auxiliar na regularização e aperfeiçoamento de tais políticas. Como também romper a
fragmentação do atendimento é um avanço a ser comemorado.
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Unidade II
Assim, conclui que, para a proteção integral ser efetiva no campo das políticas públicas, é preciso,
necessariamente, que os diferentes órgãos e serviços voltados ao público infantojuvenil atuem de forma
conjunta e articulada, potencializando suas ações, em consonância, ainda, com a responsabilidade
compartilhada prevista no art. 227 da CF.
Silva (2022) realiza pesquisa sobre a intersetorialidade nas políticas que se dedicam à infância e
adolescência com o objetivo de discutir sobre como tem se efetivado a intersetorialidade no atendimento
a crianças e adolescentes em situação de violência intrafamiliar no Brasil.
Entretanto considera que apesar das modificações após a CF (Brasil, 1988), que visavam a
universalidade das políticas, o desenvolvimento das ações ainda sofre entraves políticos‑administrativos
e históricos, não garantindo, em muitos casos, a integralidade dos direitos.
Assim, para Silva (2022), considerando as condições objetivas em nossos dias, afirma que a
intersetorialidade é aquela que cumpre a sua função, ou seja, aquela preconizada pelas diretrizes,
princípios e objetivos das políticas sociais, executando o previsto por elas, partindo da questão:
Portanto, salienta que o trabalho em rede se alicerça sobre a realização de atividades que não isolem
crianças, adolescentes e pessoas idosas a um único serviço, apontando todos os núcleos de inserção como
importantes para o enfrentamento às violências, isto é, família, comunidade, sociedade civil e poder público.
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A PNAS/2004, consolidada através do Suas, incorporado à Loas pela Lei n. 12.435, de 2011, tem como
ação estratégica a construção de um sistema de proteção social que verse num direcionamento único.
Conforme a PNAS/2004 (Brasil, 2005b, p. 90), que implementa o art. 6º da Loas, a proteção social
Assim, a proteção social implica direitos, sistema de garantias, rede de atores e compromisso.
O Suas definiu e organizou a assistência social em torno de três objetivos: a proteção social, a
vigilância social e a defesa dos direitos socioassistenciais, instaurando em todo o território brasileiro um
mesmo regime geral de gestão e inscrevendo as atenções de assistência social no campo público e no
campo dos direitos humanos e sociais, estruturados pela matricialidade sociofamiliar, descentralização
político‑administrativa e territorialidade.
Observação
Compreende‑se como proteção social “[...] formas institucionalizadas que as sociedades constituem
para proteger parte ou conjunto de seus membros” (Brasil, 2004, p. 31). Ou seja, formas previamente
institucionalizadas para atender pessoas que estejam vivenciando situações de vulnerabilidade social.
No caso, os membros ou pessoas que necessitam do sistema de proteção social estão elencados pela
PNAS com a terminologia usuários. Observe o excerto a seguir:
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Assim, serão essas pessoas as contempladas com as intervenções da assistência social tanto no
âmbito da proteção social básica como da proteção social especial.
A Tipificação Nacional de serviços socioassistenciais (Brasil, 2009; Brasil, 2014d) surge conforme
art.1o organizada por níveis de complexidade do Suas: proteção social básica e proteção social especial
de média e alta complexidade, de acordo com a disposição seguinte:
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DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
‑ abrigo institucional;
‑ Casa‑Lar;
‑ Casa de Passagem;
‑ Residência Inclusiva.
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Unidade II
Observação
Conforme Capitulo I dos princípios e diretrizes das políticas públicas da juventude, em seu art. 1º,
essa lei institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e as diretrizes
das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude (Sinajuve):
§ 1º Para os efeitos desta Lei, são consideradas jovens as pessoas com idade
entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade. § 2º Aos adolescentes com
idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos aplica‑se a Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990 ‑ Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente,
este Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção integral do
adolescente (Brasil, 2013a).
De acordo com a Tipificação Nacional de Assistência Social (Brasil, 2014d), aprovada no CNAS, o
SCFV abrange a faixa etária de 18 a 59 anos.
O SCFV pode ser ofertado de forma direta pelo Centro de Referência da Assistência Social (Cras)
e Centros de Convivência, que são instituições públicas, e de forma indireta, como em entidades
socioassistenciais parceiras, inscritas no Conselho de Assistência Social dos municípios, e seguir os
devidos trâmites legais para que a parceria seja reconhecida.
A prática profissional de assistentes sociais e psicólogos no SCFV requer atendimento das crianças,
adolescentes, jovens, adultos e pessoas idosas e suas famílias, em parceria com o Cras, PAIF, articulação
com a rede de atendimento da criança e adolescente, conselho tutelar, rede socioassistencial, rede
intersetorial, rede de educação e outros.
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DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
Assim, destaca‑se a importância dos Serviços de Proteção Especial, de acordo com o Decreto n. 5.085
(Brasil, 2004), que define as ações continuadas de assistência social.
São sujeitos passíveis de atendimento junto ao Creas devido à violação de direitos, ao risco social já
instalado e às diferentes formas de violência. Aplica‑se às famílias, indivíduos que tenham seus direitos
violados, cujos vínculos familiares foram rompidos.
Os serviços de proteção especial existentes são de orientação e apoio sociofamiliar, plantão social,
abordagem de rua, cuidado no domicílio, serviço de habilitação na comunidade, das pessoas com
deficiência, medidas socioeducativas, em meio aberto (prestação de serviços à comunidade, liberdade
assistida), violência física, psicológica, negligência, violência sexual: abuso e/ou exploração.
O ECA diz que o direito à educação tem como objetivo promover o pleno desenvolvimento da criança
e do adolescente para o exercício da cidadania. Além disso, o acesso ao ensino tem como fundamento
a qualificação dos jovens para o mercado de trabalho.
De acordo com o ECA (Brasil, 1990), todas as crianças e adolescentes devem ter as mesmas
condições para acesso e permanência na escola, considerando que a educação é a base de tudo, a
base da formação do caráter, da formação técnica do jovem. Assim, estabelece em seu art. 4º que
alguns direitos são inerentes à criança, como o direito à educação, que representa justamente a
inclusão desse público na sociedade.
Segundo Rehem e Faleiros (2013), a educação tem a capacidade de transformar não apenas a
vida individual das pessoas, mas toda uma sociedade. Isso porque ela não se resume à passagem de
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Unidade II
Assim, analisa que, nesse sentido, a educação infantil tem a sua importância potencializada, visto
que corresponde à primeira etapa da Educação Básica, sendo garantida para todas as crianças, sem
exceção e discriminação.
No âmbito internacional, a educação é um direito das crianças e dos adolescentes garantido pela
Convenção sobre os Direitos das Crianças desde 1990, principal tratado internacional de direitos
humanos sobre crianças e adolescentes da ONU.
Por meio de pesquisa realizada Rehem e Faleiros (2013), foram analisados documentos nacionais
que reconhecem a educação infantil como direito, assim conclui‑se que se trata de um embate social e
político, e não apenas jurídico‑legal e, apesar de avanços consideráveis, muito há de ser feito para que
a educação da primeira infância se materialize.
A busca pela universalização do direito à educação infantil, capitaneada por lutas sociais dos
movimentos feministas, políticos, populares, tem colocado em pauta a emergência dessa garantia e,
ao mesmo tempo, obtido consideráveis êxitos. Nesse cenário, duas décadas em especial marcaram os
acontecimentos relacionados aos direitos das crianças: os decênios de 1980 e 1990.
Já na Carta Magna, a criança aparece, também pela primeira vez, como sujeito de direitos, conforme
definido no art. 227:
No entanto acreditamos que a organização do texto legal estabelece uma ordem de responsáveis
pelos direitos da criança iniciando‑se pela família e colocando posteriormente o Estado no sentido
estrito de Poder Público. Tal ordem por si não qualifica as responsabilidades, mas, olhando no contexto
das reformas orientadas pelas concepções neoliberais, insinua a responsabilidade do Estado e de forma
mínima e posterior à ação da família e/ou sociedade.
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DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
com a oposição direta ou contorcida e indireta das forças conservadoras, que priorizam a defesa da
propriedade e da segurança.
Entende‑se, a partir do exposto, a relevância que a infância adquiriu nas políticas públicas no período
em questão; isso como resposta à ação da sociedade organizada e à pressão dos movimentos sociais,
gerando um imperativo por mudanças no entendimento sobre as crianças.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) é a mais importante lei brasileira referente à educação.
Aprovada em dezembro de 1996 com o n. 9.394/1996, foi criada para garantir o direito a toda população
de ter acesso à educação gratuita e de qualidade a fim de valorizar os profissionais da educação e de
estabelecer o dever da União, dos estados e dos municípios com a educação pública.
A LDB em seu art. 1º estabelece que a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem
na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
Estabelece as metas que deverão ser cumpridas no prazo de vigência desse PNE, desde que não
haja prazo inferior definido para metas e estratégias específicas, essas metas, conforme art. 4º, deverão
ter como referência a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o censo demográfico e os
censos nacionais da Educação Básica e Superior mais atualizados, disponíveis na data da publicação
dessa Lei, inclui informação detalhada sobre o perfil das populações de 4 a 17 anos com deficiência.
Sendo esse objeto de monitoramento contínuo e com avaliações periódicas, realizadas pelas
seguintes instâncias: I – Ministério da Educação (MEC); II – Comissão de Educação da Câmara dos
Deputados e Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; III – Conselho Nacional
de Educação (CNE); IV – Fórum Nacional de Educação, em que compete divulgar os resultados do
monitoramento e das avaliações nos respectivos sítios institucionais da internet; analisar e propor
políticas públicas para assegurar a implementação das estratégias e o cumprimento das metas; analisar
e propor a revisão do percentual de investimento público em educação.
Segundo o Ministério de Saúde, nas primeiras décadas do século XX, os programas nacionais eram
direcionados preferencialmente a grupos de risco e mais vulneráveis – gestantes e crianças –, de alcance
limitado e verticalizado.
O PSMI, tipicamente direcionado ao cuidado de grupo populacional vulnerável, coexistia com outros
programas destinados ao controle de patologias sem a consequente e necessária articulação entre as
suas ações estratégicas.
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DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
No Brasil, nessas duas décadas que antecederam a CF de 1988, foram adotadas importantes iniciativas
para a melhoria da saúde e redução da mortalidade infantil e na infância, entre as quais se destaca o
PNI, instituído em 1973, com a ampliação da cobertura vacinal média da população, em especial das
crianças. Em 1981, foi criado o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (Pniam), para
induzir um conjunto de ações relacionadas à promoção, à proteção e ao apoio ao aleitamento materno.
Na sequência em 1984 foi criado o Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (Paisc), que
priorizava as crianças pertencentes a grupos de risco, ao mesmo tempo em que buscava qualificar a
assistência, aumentar a cobertura dos serviços de saúde e incentivar as ações de promoção da saúde de
forma integral.
O Ministério da Saúde lançou em 1995 o Projeto de Redução da Mortalidade Infantil (PRMI), que
tinha como objetivo a intensificação dos diversos programas governamentais, promovendo a articulação
intersetorial com instituições internacionais, tais como Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
e Opas, organizações não governamentais, sociedades científicas, conselhos de secretários de saúde e a
sociedade civil.
Por ocasião da Declaração do Milênio das Nações Unidas, a partir do ano 2000, foram intensificadas
algumas ações para a saúde da criança, que tinha por meta a redução de desigualdades nos campos
de educação, igualdade de gênero, meio ambiente, renda e saúde em países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento. O quarto objetivo do milênio, que previa a redução em dois terços da mortalidade de
crianças menores de 5 anos (ano de referência – 1990), foi alcançado pelo Brasil já em 2012 com três
anos de antecedência e com uma das maiores reduções do mundo.
Em 2011, foi criada a Rede de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança, denominada Rede Cegonha
(Portaria n. 1.459, de 24 de junho de 2011), com o objetivo de assegurar às mulheres o direito ao
planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e puerpério e, às crianças, o
direito ao nascimento seguro, ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis.
No âmbito do Programa Bolsa Família, uma ação federal intersetorial, denominada Brasil Carinhoso,
ampliaram‑se os benefícios para a superação da extrema pobreza na primeira infância de famílias, tendo
em sua composição crianças de 0 a 6 anos. Essa iniciativa do governo reuniu um conjunto de ações
articuladas entre os Ministérios da Saúde, Educação e Assistência Social no sentido de fomentar as
ações de Desenvolvimento Integral para a Primeira Infância (Brasil, 2012).
O SUS (Lei n. 8.080 de 1990) trouxe muitos avanços nas políticas públicas sociais do Brasil,
especialmente para a saúde da criança. No entanto, ainda existem demandas de qualificação nessa
linha de cuidado. Nesse sentido, o país tem inovado tanto em aspectos normativos quanto na
implementação de programas e ações específicas.
A atenção integral à saúde da criança se dá por meio do reconhecimento de que ela é prioridade e
se constitui no grupo mais vulnerável da humanidade, dando suporte à importância da atenção integral
à sua saúde pelos impactos potenciais no presente e no futuro.
A opção de atuação em linhas de cuidado contempla uma visão global das dimensões da vida numa
perspectiva de integração de experiências, em que se inclui a articulação do trabalho em rede e das
práticas dos profissionais que compõem uma equipe, também fatores determinantes de saúde.
Ressalta‑se, assim, que o cuidado em saúde demanda um olhar da criança por inteiro, numa postura
acolhedora com escuta atenta e qualificada, com o cuidado singularizado e o estabelecimento de vínculo
de forma implicada. Pressupõe uma visão global das dimensões da vida que possibilitem respostas
também mais globais, fruto de um trabalho em equipe com múltiplos olhares. Da mesma maneira, é
necessário um esforço de integração da rede de cuidado e de proteção, potencializando os recursos
disponíveis para efetivar os direitos da criança e seu grupo familiar.
A Pnaisc incorpora em suas ações a prática de cuidado integral, especialmente na primeira infância
(crianças até completar 6 anos de idade). Isso ocorre pela relevância atribuída por inúmeras áreas do
conhecimento, como a biologia, a psicologia, a psicanálise e as neurociências, entre outras contribuições,
em interação com o saber e as práticas de saúde de que as crianças precisam de um ambiente favorável
ao seu crescimento e amadurecimento, que permita, junto ao seu potencial genético, o desenvolvimento
pleno de suas capacidades e habilidades motoras, cognitivas e socioafetivas.
Os primeiros anos de vida são aqueles em que melhor se pode estimular o desenvolvimento global
do indivíduo, especialmente devido à sua plasticidade cerebral.
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DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
É a partir do cuidado que o sujeito se coloca em condição para a existência, ou seja, o orientador
prévio das ações dos seres humanos na missão de cuidadores uns dos outros, do planeta e da vida,
garantindo sua sustentabilidade (Boff, 2012). O cuidado é, então, princípio fundamental para o
desenvolvimento e para a construção dos vínculos entre todos os envolvidos na produção de saúde e
cidadania (Penello, 2013). Essa é a perspectiva com a qual se compreende no âmbito dessa política a
integralidade da atenção à saúde da criança: só o cuidado essencial estabelece com clareza a relação
entre o desenvolvimento sustentável de um país e o desenvolvimento de cada um dos seus cidadãos.
A Pnaisc reconhece a importância das redes de cuidado e de proteção social e os fatores determinantes
de saúde, vulnerabilidade e riscos que impactam no desenvolvimento e qualidade de vida da criança,
incluindo, portanto, seu cuidador. A escuta atenta e o olhar acolhedor do profissional devem ser dirigidos
a ambos e ao vínculo estabelecido entre eles. Isso significa, também, a observação apurada dos caminhos
de autonomia e busca que a criança vai construindo de diferenciação rumo à independência do meio,
trazendo para si, como um cidadão de direitos, essa nova perspectiva, em que não apenas o adulto que
o acompanha seja ouvido e atendido.
Ela mesma, criança, deve se pronunciar à medida que suas aquisições linguísticas e manifestações
psicomotoras seguirem seu caminho de desenvolvimento pleno, a fim de obter retorno adequado às
suas questões.
A sobrevivência na infância avançou ainda mais no Brasil com a integração intersetorial e a articulação
de políticas públicas universais fundamentais, como a representada pela relação de sinergia entre o
Programa Bolsa Família com a Atenção Básica à Saúde do SUS, que acelerou a redução da mortalidade
139
Unidade II
O investimento nos primeiros anos de vida possibilita a redução das desigualdades em saúde
no espaço de uma geração, com impacto positivo no desenvolvimento físico, socioemocional
e linguístico‑cognitivo, uma vez que favorece a aquisição de competências, a educação e as
oportunidades de trabalho e a melhoria na saúde e qualidade de vida das pessoas (Comissão Nacional
sobre Determinantes Sociais da Saúde apud Brasil, 2018).
Hoje o Brasil está diante de uma oportunidade ímpar ao pactuar, entre as três esferas de gestão
do SUS, uma Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Criança, dentro desse sistema de saúde,
ainda em consolidação, que se propõe universal, integral e com equidade, em parceria com as políticas
intersetoriais de assistência social, educação e direitos humanos, de se instrumentalizar para garantir
mais que a sobrevivência de suas crianças, o seu desenvolvimento pleno e o respeito às suas diferenças
explicitadas na multiplicidade das infâncias brasileiras.
Nos serviços de saúde, a abordagem da criança e sua família em situação de violência demanda a
humanização do cuidado, com acolhimento e cuidado multiprofissional, para que o problema não seja
reduzido aos aspectos físicos e biológicos.
Valorizam‑se nesse processo, a postura ética, a confidencialidade e o sigilo, com diagnóstico ágil e
seguro, mediante o uso de técnicas que melhor atendam ao superior interesse da criança como pessoa
em condição peculiar de desenvolvimento (Magalhães, 2011).
A efetivação dos direitos da criança acontece no território em que as oportunidades devem ser
potencializadas, na articulação intrassetorial da saúde e intersetorial, com o trabalho em rede e na
aplicação de protocolos terapêuticos e linhas de cuidado que extrapolam as ações e os serviços de
saúde. Envolve o acolhimento, o atendimento, a notificação dos casos suspeitos e confirmados e o
seguimento na rede para a continuidade do cuidado, tanto no âmbito dos serviços de saúde quanto nos
serviços da rede de educação, da assistência social, conselho tutelar, segurança pública, entre outros
dispositivos e/ou equipamentos públicos e privados (Magalhães, 2011).
Os municípios devem organizar sua rede para a atenção integral à saúde de crianças e suas famílias
em situação de violências, envolvendo os serviços da atenção básica, serviços ambulatoriais, serviços de
referência local e regional, independentemente do nível de atenção.
O trabalho integrado na atenção básica, envolvendo a equipe de Saúde da Família (eSF), o Núcleo de
Apoio à Saúde da Família (Nasf), com serviços de saúde mental e os serviços de referência habilitados
para atendimento a situações de violência sexual, potencializam o cuidado e facilitam abordagem
integral, com mais efetividade e impacto na qualidade de vida das crianças e suas famílias (Brasil, 2010).
140
DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
Assim, o foco dos profissionais deve ser a criança, dentro do contexto da sua família e sociedade.
Cada olhar, de cada profissional da equipe de saúde e de acordo com a sua competência, adiciona
saberes e possibilidades de atuação integral sobre a criança.
Portanto, não se pode perder a oportunidade de atuar e intervir em tempo oportuno, prevenindo,
promovendo e permitindo assistência. Enfim, o cuidado integral e feito com vinculação e responsabilização
sobre a continuidade da atenção.
A PNAB tem na estratégia de saúde da família (ESF) sua âncora prioritária para expansão e consolidação
desse nível de atenção.
A nova concepção em saúde na escola foi incorporada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
em 1997, consagrando o tema da saúde como transversal às disciplinas e às ações no contexto escolar,
nas dimensões da promoção da saúde, de prevenção de doenças e agravos e de atenção e cuidados à
saúde de crianças e adolescentes.
As Políticas de Saúde e de Educação investiram no Programa Saúde na Escola (PSE), instituído pelo
Decreto Presidencial n. 6.286, de 5 de dezembro de 2007 (Brasil, 2007), tendo como principais desafios
o uso de estratégias pedagógicas coerentes com a produção de educação e saúde integral, fundamental
para possibilitar autocuidado, autonomia e participação dos escolares de acordo com a idade em que
se encontram.
A organização das ações do PSE, por meio das equipes das UBS e das escolas, está estruturada de
forma intersetorial, segundo os seguintes componentes: avaliação das condições de saúde, promoção
da saúde e prevenção de doenças e agravos e formação de profissionais de saúde e educação.
141
Unidade II
A proposta é que se construa um projeto comum de cuidado às crianças, integrando a escola, a UBS
e as famílias/responsáveis para a produção de saúde delas, de acordo com a sua fase de crescimento e
desenvolvimento, potencializando os fatores de proteção e minimizando as vulnerabilidades.
A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, promulgada pelo Estado brasileiro por meio
do Decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009, resultou numa mudança paradigmática das condutas
oferecidas às pessoas com deficiência, no processo de formulação de políticas públicas, com vistas à
autonomia das pessoas e à ampliação do acesso à saúde, à educação e ao trabalho, entre outros.
Com o lançamento do Plano Nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver Sem Limite –
Decreto n. 7.612, de 17 de novembro de 2011, o Ministério da Saúde instituiu a Rede de Cuidados à Saúde
da Pessoa com Deficiência, no âmbito do SUS, Portaria n. 793, de 24 de abril de 2012. Esta estabeleceu
diretrizes para o cuidado às pessoas com deficiência, temporária ou permanente, progressiva, regressiva
ou estável, intermitente ou contínua. O eixo de atenção à saúde tem como foco a organização do
cuidado integral em rede, contemplando as áreas de deficiência auditiva, física, visual, intelectual,
ostomia e transtorno do espectro do autismo.
A Lei Brasileira de Inclusão‑LBI (Brasil, 2015), também conhecida como Estatuto da Pessoa com
Deficiência, que direciona o capítulo III inteiro sobre o direito da saúde, assegura em seu art. 18 a
atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio
do SUS, garantindo acesso universal e igualitário.
As Raps (Rede de Atenção Psicossocial) tem por finalidade promover cuidado em saúde às pessoas
com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de
álcool e outras drogas, mediante a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde no
âmbito SUS (Brasil, 2018). A rede destaca como um dos objetivos essenciais a promoção do cuidado
para grupos mais vulneráveis, especialmente crianças, adolescentes, jovens, pessoas em situação de
rua e populações indígenas, com sofrimento ou transtorno mental e crianças que sofreram violências.
Assim, os cuidados com a saúde mental da criança devem ocorrer desde o desenvolvimento intrauterino
ao nascimento saudável, e a estimulação precoce nos primeiros anos de vida exerce uma função importante
no desenvolvimento emocional, cognitivo e social da criança. É parte da atenção integral à saúde da
criança estimular o vínculo com sua família e com os serviços de saúde, propiciando oportunidades de
142
DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
A aprendizagem e os modos de ser e agir – campos de grande complexidade e diversidade – têm sido
alvos preferenciais da medicalização. A articulação entre os profissionais de saúde e da educação e os
membros da família, alinhados com órgãos de defesa de direitos, é essencial para o enfrentamento e
a superação do fenômeno da medicalização da aprendizagem e do comportamento, inclusive com
orientação para prevenir a banalização da prescrição de medicamentos.
A rede de saúde mental conta com conjunto de dispositivos de atenção psicossocial, denominados
Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Nas modalidades Caps I, II, III, IV; Caps‑AD (álcool e drogas) e
Capsi (infantojuvenil). O Caps III e o Caps‑AD III funcionam 24 horas.
São serviços constituídos por equipe multiprofissional (médico, enfermeiro, psicólogo, terapeuta
ocupacional, assistente social etc.), que atuam sob a ótica interdisciplinar e realizam, prioritariamente,
atendimento às pessoas com sofrimento ou transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aquelas
com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas ou outras situações clínicas
que dificultem o estabelecimento de laços sociais e a realização de projetos de vida. Atuam de forma
territorial, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial.
Saiba mais
143
Unidade II
Para Koga (2003, p. 238), a intersetorialidade sobressai enquanto caminho de perspectiva para a
política pública a fim de articular as políticas sociais, urbanas e econômicas para que atuem nos mesmos
territórios prioritários da política da cidade. Isso não significa que suas ações são suficientemente
confrontadas e realizadas em um projeto global, que é, naturalmente, pluridisciplinar e interdisciplinar.
A ausência de uma dinâmica pluridimensional significa que os diferentes operadores públicos e
associados atuem sobre os serviços que lhes são mais diretamente afeitos.
A incorporação da visão interdisciplinar real observa a vida cotidiana, ou seja, é a partir da visão
interdisciplinar que a intersetorialidade que envolve as políticas, principalmente as políticas sociais,
passa a tratar de determinados setores interligando‑os às demais políticas particulares.
A articulação proposta pela intersetorialidade prima pela articulação de saberes e experiências para o
planejamento, a realização de avaliação de políticas, programas e projetos, cujo fim é alcançar resultados
cooperativos em situações complexas. Assim, uma perspectiva de trabalho intersetorial implica que as
ações e projetos sejam formulados e realizados setorialmente.
144
DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
As políticas para pessoas idosas pressupõem a integração de ações integradas entre saúde, assistência
social, seguridade social e educação para que haja mais equilíbrio entre os diferentes tipos de intervenção
de forma a melhorar a qualidade de vida dessa população (Viana, 1998). Ou seja, a integração se faz
necessária, em especial, para tratar do atendimento às pessoas idosas como um modo de melhorar a
qualidade de vida desse grupo.
Entre os aspectos de estudos sobre a velhice, é importante citar que a área da saúde apresenta
um bom exemplo de intersetorialidade justificada pela preocupação em promover o processo de
envelhecimento ativo e saudável.
Pode‑se identificar que há uma preocupação indireta com a questão da intersetorialidade, pois
pressupõe a necessidade de ações coletivas entre as esferas governamentais.
As legislações aliadas às políticas sociais de atenção à pessoa idosa vislumbram a proteção à pessoa
idosa, trazendo para a discussão a efetivação do direito preconizado em lei e a violação desses direitos.
É preciso voltar nosso olhar para as questões de vulnerabilidade social e de violação de direitos. No
art. 43 do Estatuto, observa‑se o seguinte:
145
Unidade II
Art. 44. As medidas de proteção à pessoa idosa previstas nesta lei poderão
ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais
a que se destinam e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério
Público ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar,
dentre outras, as seguintes medidas:
V – abrigo em entidade;
As medidas de proteção devem ser aplicadas para garantir a qualidade de vida de pessoas idosas. Tais
ações envolvem observar a vulnerabilidade, por exemplo, a falta de algum cuidado básico de atenção.
Nesse contexto, torna‑se necessário adotar uma medida mais incisiva, como a retirada da pessoa idosa
do núcleo familiar, quando o motivo for grave.
Pensando na política de assistência social e nas ações intersetorializadas, pode‑se contar com
representações de órgãos públicos como o Cras e o Creas.
Lembrete
Nesse aspecto, as expressões que apontam para uma atuação intersetorial utilizadas na lei que
regulamenta a política de saúde dão outro sentido à intersetorialidade, o que poderia ser explicado pelo
fato de a Lei n. 8.080 (Brasil, 1990) ter sido formulada quando o debate da intersetorialidade não tinha
tanta expressão, ganhando vulto após esse período.
A intersetorialidade, segundo a Lei n. 8.080/1990, em seu art. 2º, § 1º, menciona que é o dever do
Estado garantir a saúde.
Ao fazer valer esses direitos, já se pressupõe uma necessidade de ações coletivas entre os diversos
setores governamentais, ou seja, a criação de uma agenda coletiva que contemple as condições de vida
da pessoa idosa, suas situações específicas de vulnerabilidade etc.
As demais políticas sociais que envolvem o segmento pessoa idosa também se intersetorializam,
como é o caso de desenvolvimento urbano.
O Estatuto estabelece que a pessoa idosa tem direito à moradia digna junto à sua família de origem,
ou só, quando desejar, ou ainda em entidade pública ou privada.
147
Unidade II
No entanto os programas habitacionais voltados para a população idosa são bastante escassos,
apesar de haver um esforço do governo federal para reduzir o déficit habitacional do país.
A partir de 2005, a assistência social no Brasil foi estruturada administrativamente e passou a ser
regida pelo Suas. A gestão proposta para essa política é o pacto federativo e a forma de enfrentar a
questão social foi a descentralização, considerando as desigualdades territoriais e a participação social.
Na área de assistência social, houve mais atenção quanto à proteção social, sobretudo com a
configuração da proteção social básica e da proteção social especial ao segmento de atenção prioritária,
abrangendo a pessoa idosa.
A política social na atenção ao segmento pessoa idosa expressa as inter‑relações com as demais
políticas setoriais e com a rede socioassistencial, integrando as políticas setoriais e buscando garantir a
qualidade de vida da população.
O assistente social tem atitude crítica diante da realidade e dos atores de violência por dois motivos
fundamentais: não permitir que a violência tenha espaço na ação profissional e criar condições para
elaborar e pôr em prática propostas não violentas.
A ação do trabalho com a criança, o adolescente e a pessoa idosa é apontar não somente à família
como também à comunidade os caminhos de cidadania para que possam exercer seu autogoverno
de acordo com seus direitos de cidadãos – citados na Constituição Federal de 1988 –, levando‑os a
148
DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
conhecer a realidade e a alcançar sua autonomia e emancipação, para que ressignifiquem seu viver
diante da sociedade. As ações profissionais devem ser fortalecidas.
Para isso, o profissional de serviço social deve desenvolvê‑las por meio de atendimento interdisciplinar,
desde seu planejamento, articulações em rede e até mesmo na execução de intervenções junto às
crianças, adolescentes e pessoas idosas vítimas de violências, sejam intrafamiliares, sejam estruturais,
bem como aos seus familiares, a partir de discussões e reflexões entre os profissionais para que, por meio
da discussão de casos, resultados significativos sejam alcançados para todos os membros da família,
inclusive para as crianças e os adolescentes.
Segundo Pacheco e Marques (2009), esses recursos são utilizados na tentativa de representação e
partilha da angústia, dos conteúdos destrutivos, assim como da desorganização psíquica, considerando
o respeito ao tempo da própria criança e do adolescente em expressarem suas vivências dolorosas. Nossa
intervenção mostra que, ao acolher e desenvolver esses sentimentos ao longo dos atendimentos, a vítima
vai aos poucos dando sentidos ao que viveu de maneira mais estruturada e organizada, culminando
também em uma maior organização simbólica.
Significa dizer que uma ação interventiva coerente possibilita que crianças e adolescentes que
tiveram seus direitos violados devido a alguma violência, inclusive pela família, consigam reestruturar‑se
e retomar sua vida, resgatando o que lhes é saudável.
Para tanto, os profissionais que atuam na área social com crianças e adolescentes e pessoas idosas
devem ater‑se para os instrumentos necessários que contribuem para um trabalho bem‑desenvolvido:
• entrevistas lúdicas informais, nas quais os profissionais devem sair de trás de suas mesas com o
intuito de minimizar o sofrimento daquele que relata;
149
Unidade II
• a equipe buscar, sistematicamente, capacitações e grupos de estudos que atendam ao tema criança
e adolescente e a temas transversais, para fortalecer suas intervenções, reflexões, ampliando o
conhecimento acerca do trabalho realizado.
Segundo CFESS (2007), no final dos anos 1980, começaram novos movimentos de mudança na
atuação profissional e adotou‑se o lema do compromisso social como norteador da atuação psicológica.
Desde então, várias ações foram realizadas pelos psicólogos e entidades da psicologia brasileira no
sentido da construir práticas comprometidas com a sociedade brasileira.
Essa atuação foi acompanhada pela construção, na psicologia, do compromisso social, com a
participação de psicólogos e psicólogas de todo o país. A partir dessa perspectiva, são valorizadas práticas
comprometidas com a transformação social em direção a uma ética voltada para a emancipação humana.
Diferentes experiências apontaram alternativas para o fortalecimento dos indivíduos e grupos para
enfrentar situações de vulnerabilidade. Como resultado dessas experiências, ampliou‑se a concepção
social e governamental acerca das contribuições da psicologia para as políticas públicas, além de gerar
novas referências para o exercício da profissão de psicólogo no interior da sociedade.
Intervindo por meio da política da assistência social, os profissionais da psicologia precisam estar
atentos aos processos de sofrimento instalados nas comunidades, nos territórios onde as famílias
estabelecem seus laços mais significativos. Se essa política, de fato, for co‑construída por meio dos
movimentos populares, da participação plena de seus usuários e do fortalecimento dos espaços e
instâncias de controle social, estará conectada com as necessidades dos sujeitos e articulada com a
defesa da vida.
Essas ações serão de desnaturalização da violação dos direitos e de luta pela superação das
desigualdades sociais. Diretamente, na medida em que é necessário apresentar ações concretas, objetivas
e ágeis de monitoramento, definição de indicadores de gestão e de resultados que orientem a eficácia e
eficiência das nossas atividades. Indiretamente, pois o sujeito atendido plenamente por um profissional
comprometido com seu processo de cidadania desenvolve, pela própria experiência, a autonomia e o
empoderamento para fazer valer seus direitos.
150
DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
Os psicólogos têm muito a contribuir nesse processo. Trazem como acúmulo as aprendizagens e
convicções forjadas na luta pela afirmação da reforma psiquiátrica, pela desinstitucionalização, em todas
as suas formas, explícitas ou maquiadas, pela defesa dos direitos humanos. Esse é o nosso compromisso
ético‑político, cada vez mais envolvido com a produção de saúde, cada vez mais comprometido com
a promoção da vida. Propor, a partir de suas intervenções, atravessar o cotidiano de desigualdades e
violências dessas populações, visando ao enfrentamento e superação das vulnerabilidades, investindo na
apropriação, por todos, do lugar de protagonista na conquista e afirmação de direitos. Uma psicologia
comprometida com a transformação social toma como foco as necessidades, objetivos e experiências
dos oprimidos. Nesse sentido, as práticas psicológicas não devem categorizar, patologizar e objetificar a
classe trabalhadora, mas buscar compreender os processos estudando as particularidades e circunstâncias
em que ocorrem.
A partir desses compromissos éticos, entende‑se que a atuação dos psicólogos no Suas deve estar
fundamentada na compreensão da dimensão subjetiva dos fenômenos sociais e coletivos, sob diferentes
enfoques teóricos e metodológicos, com o objetivo de problematizar e propor ações no âmbito
social. O psicólogo, nesse campo, pode desenvolver diferentes atividades em espaços institucionais e
comunitários. Seu trabalho envolve proposições de políticas e ações relacionadas à comunidade em
geral e aos movimentos sociais de grupos étnico‑raciais, religiosos, de gênero, geracionais, de orientação
sexual, de classes sociais e de outros segmentos socioculturais, com vistas à realização de projetos da
área social e/ou definição de políticas públicas.
Por meio de atuação interdisciplinar, o psicólogo pode atender a crianças, adolescentes e pessoas idosas
de forma individual e/ou em grupo, priorizando o trabalho coletivo, possibilitando encaminhamentos
psicológicos quando necessário, desenvolvendo métodos e instrumentais para atendimento e pesquisa
com um olhar para o grupo familiar. As ações devem ser integradas com outros profissionais dentro
do serviço, bem como com outros serviços visando o trabalho em rede. Nesse sentido, a formação do
psicólogo deve se nortear pelo compromisso de contribuir com a construção e desenvolvimento
do conhecimento científico em psicologia, pela compreensão dos múltiplos referenciais que buscam
apreender a amplitude do fenômeno psicológico em suas interfaces com os fenômenos biológicos e
sociais, pelo reconhecimento da diversidade de perspectivas necessárias para a compreensão do ser
humano e incentivo à interlocução com campos de conhecimento que permitam a apreensão da
complexidade e multideterminação do fenômeno psicológico.
Além disso, deve se nortear pela compreensão crítica dos fenômenos sociais, econômicos, culturais
e políticos do país, fundamentais ao exercício da cidadania e da profissão, pelo respeito à ética nas
151
Unidade II
relações com clientes e usuários, com colegas, com o público e na produção e divulgação de pesquisas,
trabalhos e informações e pelo aprimoramento contínuo (Brasil, 2004).
Assistentes sociais e psicólogos têm uma função estratégica na análise crítica da realidade
no sentido de fomentar o debate sobre o reconhecimento e a defesa do papel da assistência
social e das políticas sociais na garantia dos direitos e melhoria das condições de vida. Isso sem
superestimar suas possibilidades e potencialidades no enfrentamento das desigualdades sociais,
gestadas e cimentadas nas determinações macroeconômicas que impedem a criação de emprego,
redistribuição de renda e ampliação dos direitos.
Portanto, não se pode pensar a assistência social isolada do conjunto das políticas públicas e nem
se pode reforçar a perspectiva de que o enfrentamento das desigualdades estruturais pode se dar pela
via da resolução de problemas individualizados e que desconsiderem as determinações objetivas mais
gerais da sociabilidade
Embora serviço social e psicologia tenham acúmulos teórico‑políticos diferentes, o diálogo entre
essas categorias profissionais aliará reflexão crítica, participação política, compreensão dos aspectos
objetivos e subjetivos inerentes ao convívio e à formação do indivíduo, da coletividade e das circunstâncias
que envolvem as diversas situações que se apresentam ao trabalho profissional. É possível construir, a
partir dessa ação interdisciplinar, um cenário de discussão sobre responsabilidades e possibilidades na
construção de uma proposta ético‑política e profissional que não fragmente o sujeito usuário da política
de assistência social. O trabalho em equipe não pode negligenciar a definição de responsabilidades
individuais e competências, e deve buscar identificar papéis, atribuições, de modo a estabelecer
objetivamente quem, dentro da equipe multidisciplinar, encarrega‑se de determinadas tarefas.
Para efetivar políticas públicas, faz‑se necessário o trabalho de profissionais de vários setores: saúde,
educação, assistência social, sistema de justiça etc. Entre a atuação multiprofissional, a psicologia ocupa
um espaço importante na defesa e garantia de direitos das crianças e adolescentes. O papel do psicólogo
152
DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
é de atenção e proteção integral, devendo considerar a criança e os adolescentes sujeitos de sua história,
de direitos, e protagonista desta construção. Portanto, os serviços, programas e benefícios sociais têm
que atuar em rede interdisciplinarmente, para a garantia integral desta proteção (Conselho Federal de
Psicologia apud Cviatkovski; Lorenzeti; Faler, 2014).
Machado et al. (2005) falam que a partir da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em
1990, a psicologia começou a desempenhar mais funções em relação aos direitos humanos, inclusive
em relação aos direitos das crianças e adolescentes.
A psicologia se tornou presente nos tribunais, sendo utilizados para obter maiores informações sobre
os sujeitos envolvidos em um determinado processo. A psicologia jurídica sempre fez parte dos fóruns,
mas a partir do ECA é que ela deixou de ser um fato isolado e passou a fazer parte das intervenções,
possibilitando maiores provas e informações ao juiz, dando‑lhe um outro olhar sobre os casos. Segundo
Mello (1999), o estatuto age em situação de violação dos direitos de crianças e dos adolescentes, apesar
disso, o Brasil está longe de alcançar sua plenitude (apud Cviatkovski; Lorenzeti; Faler, 2014).
Embora uma pequena parcela da sociedade desfrute de todos os seus direitos, a maior parte da
população usufrui apenas de maneira parcial seus direitos, sem contar os que não possuem sequer os
direitos básicos, como o direito a vida, a alimentação e a moradia. A atuação da psicologia especialmente
na área social tem se mostrado importante através do trabalho em equipes multidisciplinares.
Segundo Alberto et al. (apud Cviatkovski; Lorenzeti; Faler, 2014) o psicólogo deixa de ser o profissional
procurado apenas em emergências e passa a ser um profissional que está presente no desenvolvimento
de leis, planejamento de ações e intervenções, visando a proteção integral dos sujeitos. O profissional
que se integra na rede se torna cada dia mais necessário para que ela possa funcionar plenamente, com
isso, o psicólogo se faz presente nas situações concretas da sociedade, podendo analisá‑las, realizar um
diagnóstico, planejando ações.
Atualmente o psicólogo se faz presente nas famílias, nas escolas, nas instituições, nos fóruns e em
qualquer ambiente que necessite da atuação dessa área do conhecimento. Esses profissionais, de acordo
com suas atribuições, buscam atender a subjetividade dos sujeitos, sem desconsiderar suas construções
históricas, culturais e sociais, principalmente se tratando de crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade social.
Posteriormente se dá a escuta qualificada que permite entender melhor o contexto de violência que
essa família está exposta e tem vivenciado.
153
Unidade II
Será articulada uma série de serviços, desde atendimentos psicológicos para a criança, adolescente,
pessoa idosa e família, também outros no âmbito da saúde, a depender da diversidade apresentada em
cada situação.
Segundo Oliveira e Silva (s.d), o profissional que vai atender as situações de proteção especial deve
se especializar e se qualificar a fim de conseguir prestar um atendimento de qualidade, para, além de
identificar as situações imediatas, conseguir desvelar um contexto de abuso sexual, que pode estar
muito bem “disfarçado e desapercebido” nas relações intrafamiliares dessas crianças e adolescentes.
Assim, o desafio do assistente social e psicólogo é lidar com a complexidade exigida para tratar
de situações tão delicadas quanto é o enfrentamento do abuso e exploração sexual contra crianças
e adolescentes.
Crianças, adolescentes e pessoas idosas são prioridades em muitas leis, agora só precisam ser
cumpridas. Espera‑se da sociedade o rompimento com a conivência da violação de direitos e que se
consiga denunciar situações de violência. Já dos assistentes sociais e psicólogos, um olhar mais atento
para identificar essa demanda e tomar todas as providências cabíveis.
O assistente social realiza a orientação social aos indivíduos e famílias no que tange a direitos
sociais, fazendo os encaminhamentos que sejam pertinentes às demandas apresentadas e elaboração
de relatórios sociais. Além das demandas relacionadas a direitos sociais como a moradia, a alimentação,
a saúde, o trabalho, viabilizando acesso dos usuários aos benefícios previdenciários/socioassistenciais
entre outros.
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DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
O assistente social vai atuar a partir de uma ambiguidade: para a política de assistência social, o
usuário é um beneficiário, portanto, sujeito aos critérios seletivistas previstos para o acesso aos serviços
e benefícios socioassistenciais. Assim o trabalho do assistente social é direcionado à ação direta com o
usuário, reconhecendo sua condição social, identificando as violações de direitos e as possibilidades de
acesso aos serviços de modo a minimizar suas necessidades sociais.
Nesse contexto, o assistente social precisa articular em rede, com outros serviços e instituições, no
qual visa‑se o acesso dos usuários a outras políticas sociais; com profissionais do Cras, Creas, Fórum,
Ministério Público (juiz e promotores), Conselho Tutelar, outras políticas, como as de saúde, educação,
em que os usuários acessam os serviços fora da Instituição.
O início do processo de destituição do poder familiar e encaminhamento para adoção perpassa pelo
trabalho da assistente social na Casa de Acolhida sendo encaminhado posteriormente para o assistente
social do Fórum para realizar o cadastro dos candidatos a adotantes. As aproximações com essas pessoas
acontecem na Casa de Acolhida.
Entretanto, Prado (2009) chama a atenção que, nesse sentido, não se pode compreender as diversas
formas de violência de forma fragmentada, separando relações interpessoais e estruturais, sob pena de
se perder a visão da sociedade como totalidade, assim destaca que:
155
Unidade II
Assim, a partir das leituras e análises dos PIAs elaborados pelo assistente social em conjunto com
os demais profissionais da rede de proteção à criança e ao adolescente, de todos os recursos possíveis
para o fortalecimento dos vínculos familiares dos acolhidos, o juiz decreta a medida de suspensão e,
posteriormente, a destituição do poder familiar, e solicita que a criança ou adolescente seja encaminhado
ao Cadastro Nacional de Adoção (CNA).
Segundo Prisco (2014), falar de alta complexidade na assistência social é um enorme desafio uma
vez que ainda hoje, apesar do avanço incontestável da política de assistência social, é complexo o estudo
dessa política, e quando o assunto é o nível de alta complexidade, o desafio torna‑se ainda maior.
A outra evidência considerada por Prisco (2014) é sobre a terceirização do nível de alta complexidade
na assistência social, uma vez que um número considerável das instituições que executam os serviços é
pertencente ao terceiro setor por meio de convênios, repasse de dinheiro público, mediante o cumprimento
de algumas condicionalidades. Assim, o Estado não tem dado conta de executar os serviços.
O referido autor reforça que é impossível tolerar o silêncio, praticamente inquebrável, em torno da
aparente omissão diante de um assunto de extrema importância para o bem‑estar dos cidadãos que
necessitam usufruir desse nível de atenção.
Assim, Prisco conclui que o ideal seria que a sociedade não carecesse mais de instituições de
acolhimento e que o Estado fosse capaz de assegurar a segurança necessária aos indivíduos e às famílias
por meio de ações protetivas e preventivas, capazes de lhes resguardar dos riscos e vulnerabilidades que
levam à necessidade de acolhimento institucional. Porém essa não é a realidade, em muitos municípios,
se enfileiram os cidadãos de diversas faixas etárias que aguardam vagas para serem acolhidos.
156
DIREITOS DA CRIANÇA, DO ADOLESCEMTE E DA PESSOA IDOSA
Resumo
157
Unidade II
Exercícios
O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) é um serviço público responsável pela oferta de
serviços, programas, benefícios e projetos sociais.
O Cras atende famílias e indivíduos na comunidade e oferta serviços voltados a crianças, adolescentes,
jovens, pessoas idosas e pessoas com deficiência. O principal serviço do Cras é o trabalho social com
famílias para fortalecer seus vínculos, promover o acesso a direitos e à melhoria de sua qualidade de vida.
Com base no exposto e nos seus conhecimentos sobre o tema, avalie as afirmativas.
I – As equipes de profissionais que organizam a oferta dos serviços e dos programas disponibilizados
no Cras são multidisciplinares. Ademais, independentemente do porte do município em que o Cras se
situe, haverá um quadro constituído por profissionais técnicos de nível superior e de nível médio.
II – A população pode acessar alguns benefícios por meio do Cras, a exemplo do BPC (Benefício
de Prestação Continuada). No entanto, os municípios e os estados não têm autonomia para realizar
projetos conforme as demandas identificadas localmente.
III – O Cras tem por finalidade oferecer proteção social especial, isto é, um dos focos de seu
atendimento é voltado às pessoas que se encontram em situação de risco pessoal ou social e que
tiveram seus vínculos familiares e comunitários rompidos.
A) I, apenas.
B) III, apenas.
C) I e II, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: as equipes de profissionais que atuam nos Cras são multidisciplinares e compostas por
técnicos de nível médio e nível superior. O que varia, conforme o porte do município, é a quantidade
desses profissionais.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: os cidadãos podem acessar alguns benefícios por meio do Cras. Além disso, os estados
e os municípios têm autonomia para realizar projetos conforme a identificação de demandas locais.
Justificativa: o Cras não tem por objetivo atender pessoas que se encontram em situação de risco
pessoal ou social, mas pessoas que ainda preservam os vínculos familiares e comunitários, no sentido de
prevenir as situações de risco. A proteção especial mencionada pela afirmativa é objeto de atendimento
do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas).
Questão 2. No que diz respeito ao Sistema Único de Assistência Social (Suas), avalie as asserções a
seguir e a relação proposta entre elas.
I – O Sistema Único de Assistência Social (Suas) foi instituído de forma a operar de maneira
descentralizada e participativa por meio da gestão compartilhada e articulada pelos três entes
federativos.
porque
II – É um sistema que atua por meio da assistência social contributiva, que organiza as ações dessa
assistência em um único tipo de proteção, denominada Proteção Social Básica.
Análise da questão
A primeira asserção é verdadeira, pois o Sistema Único de Assistência Social (Suas) foi criado
para organizar as ações de assistência social que empregam a prática de gestão compartilhada, o
cofinanciamento e a cooperação operacional entre os entes da federação, ou seja, a união, os estados,
o Distrito Federal e os municípios.
A segunda asserção é falsa, uma vez que o Suas opera a proteção social de modo não contributivo,
sendo que a assistência é oferecida em dois tipos distintos: a proteção social básica, que se destina à
prevenção de riscos sociais; e a proteção especial, voltada para pessoas que já se encontram em situação
de risco ou de violação de direitos.
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