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A DIMENSÃO

ESPECIALIZADA DA
PROTEÇÃO SOCIAL
ESPECIAL NO SUAS
DA CONCEPÇÃO À
PRÁTICA!
www.gesuas.com.br

Realização:
UNIVERSIDADE GESUAS

Coordenador GESUAS: Igor Guadalupe


Autor: Regis Spíndola
Layout e Editoração: Eugene Francklin
Revisão Final: Marisabel Luchesi
ÍNDICE

4 Apresentação

A organização da proteção social


6 especial no enfretamento as
situações de violação de direito

26
O acompanhamento especializado
de famílias e indivíduos no SUAS

81
Construindo processos de
referência e contrarreferência

92 Considerações Finais

94 Referências Bibliográficas

99 Sobre o Autor
APRESENTAÇÃO

Convidamos você trabalhadora e trabalhador, gestora e


gestor, conselheira e conselheiro, estudantes e demais
interessadas e interessados na política pública de
assistência social para refletirmos juntos sobre “A
Dimensão Especializada da Proteção Social Especial no
SUAS: da concepção à prática”.

Esse e-book, elaborado pelo GESUAS, tem o objetivo de


democratizar o conhecimento e possibilitar a todas e todos
o acesso a um material de qualidade que apresente além
de sugestões teóricas e bibliográficas, que são importantes
para o aperfeiçoamento do nosso fazer profissional, uma
dimensão prática, com a indicações de fluxos e situações
problemas que podem subsidiar o trabalho social das
equipes de referência dos serviços e da gestão, com
destaque, às de proteção social especial do SUAS.

No primeiro capítulo, vamos apresentar a organização dos


serviços de proteção social especial e como esse nível de
proteção pode contribuir no enfretamento às situações de
violação de direito, passando pelos conceitos das principais
violências presentes no dia a dia dos serviços
especializados do SUAS e sua inter-relação com as
vulnerabilidades relacionais e materiais.

04
No segundo capítulo, as discussões centrais serão sobre o
acompanhamento especializado de famílias e indivíduos no
SUAS, com apresentação de fluxos sobre os processos de
trabalho no serviço e a descrição detalhada das etapas do
acompanhamento. Nesta seção, esperamos que você
leitora e leitor possa utilizar das sugestões contidas neste e-
book para aprimorar o seu trabalho e, ou, refletir sobre a
construção de um SUAS mais protetivo e especializado.

Caminhando para o final desta publicação, o terceiro


capítulo, propõe uma discussão e sugestão sobre os fluxos
de referência e contrarreferência, fundamentais para
efetivação de um sistema ancorado na atuação preventiva,
proativa e preventiva. Não pretendemos apresentar
modelos engessados, mas indicativos que possam ser
adaptados de acordo com a realidade de cada município e
território.

Por fim, apresentaremos nossas considerações finais,


reafirmando nossas inquietações e compromissos com a
proteção social especial de famílias e indivíduos no âmbito
da política pública de assistência social. Diante disso, fica
nosso convite para a leitura, e um convite para que a nossa
resistência e luta permaneça contra os agravamentos das
desigualdades sociais que tanto vulnerabilizam e expõem a
violência aos usuários deste SUAS.

Sigamos Juntas, Juntos e Juntes!


Grande abraço, Regis Spíndola

05
A ORGANIZAÇÃO DA PROTEÇÃO SOCIAL
ESPECIAL NO ENFRETAMENTO ÀS
SITUAÇÕES DE VIOLAÇÃO DE DIREITO.

O nosso ponto de partida para refletirmos e


compreendermos sobre a organização da proteção social
especial no âmbito do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), e o impacto social esperado para garantir proteção
às famílias e indivíduos com vivência de violação de direitos
é resgatarmos os objetivos da política pública de
assistência social:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de
prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (BRASIL, 1988 – grifo nosso).

06
Este preceito legal, “a quem dela necessitar”, ainda é
compreendido por alguns gestores, trabalhadores e
conselheiros desta política, como o “sujeito necessitado”, ou
seja, um remonte a assistência social balizada pela caridade
e benesse, marcada pelo primeiro damismo, voluntariado e
ausência de responsabilidade pública na proteção das
famílias e indivíduos que demandam algum tipo de
proteção socioassistencial.

Superar essa visão assistencialista e compreender o texto


constitucional a partir da “necessidade do sujeito” é
imperativo para a construção de uma política pública forte,
centrada no usuário, com a participação da sociedade e a
responsabilidade do Estado.

NECESSITADO

QUEM DELA NECESSITAR

NECESSIDADE DO SUJEITO

Desta forma, a necessidade do sujeito não ocorre apenas


no aspecto material, uma política voltada para pessoas
pobres. Ampliamos o itinerário protetivo também para a
dimensão relacional.A construção de uma concepção de
vínculos no âmbito da política pública de assistência social
se anuncia e se configura como um desafio de extrema
relevância porque contribui com a sedimentação do
entendimento de que lidar com vulnerabilidades do
campo relacional é uma responsabilidade pública e que,

07
uma política que busca combater desigualdades e
promover o desenvolvimento humano tem um papel
central nesse diálogo, pois o trânsito do ambiente
individual para o social é a raiz fundante da política pública
que exige seu distanciamento da mediação da
benemerência ou da caridade (SPOSATI, 2009, p. 27).

Em linhas gerais, as ofertas de assistência social se


organizam em dois níveis de proteção: a Proteção Social
Básica (PSB) e a Proteção Social Especial (PSE), a primeira
de caráter preventivo e de promoção de direitos e a
segunda subdividida em Média Complexidade (onde existe
risco, ameaça e ou existência de violação de direitos, mas
permanece o vínculo familiar) e de Alta Complexidade
(quando o risco, ameaça e/ou violação resulta em
afastamento da família, no acolhimento). A definição dos
níveis de proteção está posta pelo Art. 6º A, da Lei
8.742/1993, incluída pela Lei nº 12.435, de 2011:

Art. 6º - A. A assistência social organiza-se pelos seguintes tipos de


proteção: (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011).
I - proteção social básica: conjunto de serviços, programas,
projetos e benefícios da assistência social que visa a prevenir
situações de vulnerabilidade e risco social por meio do
desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários; (Incluído pela
Lei nº 12.435, de 2011)
II - proteção social especial: conjunto de serviços, programas e
projetos que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de
vínculos familiares e comunitários, a defesa de direito, o
fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção de
famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de
violação de direitos. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) (BRASIL,
1993).

08
Na Proteção Social Básica, a principal Unidade de Proteção
é o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, que
deve estar localizado nas áreas com maiores índices de
vulnerabilidade e risco social, realizando trabalho social
com famílias cujo objetivo é de prevenir o rompimento dos
vínculos familiares e a violência no âmbito de suas
relações, garantindo o direito à convivência familiar e
comunitária (BRASIL, 2012). Já na Proteção Social Especial
de Média Complexidade, temos o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social - CREAS, o qual tem
como objetivo apoiar, orientar e acompanhar famílias e
indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos,
articulando os serviços socioassistenciais com as diversas
políticas públicas e com órgãos do sistema de garantia de
direitos.

Outras unidades de proteção também compõem a PSE de


Média Complexidade, tais como os Centros de Referência
para População em Situação de Rua (Centro POP), os
Centros Dia para Pessoas Idosas, Centros Dia para pessoas
com Deficiência, além da possibilidade de serviços
ofertados no domicílio dos usuários e ou por outras
unidades referenciadas aos CREAS, de acordo com a
previsibilidade da Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais (Resolução CNAS nº 109, de 11 de
novembro de 2009).

09
São serviços da Proteção Social Especial de média
complexidade:

A relação e detalhamento dos destinatários (usuários) a


quem se destinam as atenções socioassistenciais
identificadas em cada um destes serviços, constam em
uma lista de vulnerabilidades e riscos contida na Tipificação
Nacional dos Serviços Socioassistenciais, organizadas a
partir das aquisições dos usuários, ou seja, dos
compromissos a serem cumpridos pelos gestores em todos
os níveis, para que os serviços prestados no âmbito do
SUAS produzam seguranças sociais aos seus usuários,
conforme suas necessidades e a situação de
vulnerabilidade e risco em que se encontram. Podem
resultar em medidas da resolutividade e efetividade dos
serviços, a serem aferidas pelos níveis de participação e
satisfação dos usuários e pelas mudanças efetivas e
duradouras em sua condição de vida, na perspectiva do
fortalecimento de sua autonomia e cidadania. As
aquisições específicas de cada serviço estão organizadas
segundo as seguranças sociais que devem garantir. (Brasil,
2009 – reimpressão 2014, p. 9).

10
Na PSE de alta complexidade, destacam-se os serviços de
acolhimento institucional, nas modalidades de abrigo
institucional, casa lar, casa de passagem e residência
inclusiva. Além do serviço de acolhimento em república;
serviço de acolhimento em família acolhedora e serviço de
proteção em situações de calamidades públicas e de
emergências.

Pautadas pelos princípios da brevidade, excepcionalidade e


especialmente pela emergencialidade, entre outros, as
unidades e ofertas da PSE de alta complexidade devem
propiciar aos usuários em qualquer ciclo de vida (crianças,
adolescentes, pessoas com deficiências, idosas, mulheres
em situação de violência, famílias), que não contam
naquele momento com a proteção e os cuidados da família
de origem ou família extensa, seja porque foram afastadas
do núcleo familiar por meio de medida protetiva/judicial ou
porque o acolhimento tornou-se a medida mais adequada
à sua proteção e melhoria da sua qualidade de vida.

EMERGENCIAL: Flagrante situação de risco pessoal e social, onde a


garantia de proteção extrapola a competência dos demais serviços
socioassistenciais da proteção social básica e proteção social especial
de média complexidade e aponta a impossibilidade, naquele
momento, da garantia do direito à convivência familiar. Neste caso é
constatado que o usuário, na ocasião da intervenção, está sendo
vítima de abuso, violência e, ou, omissão por parte de quem deveria
protegê-lo (incluindo o Estado) e é necessário “resgatá-la” de tal
situação, sob pena de graves consequências para sua vida, proteção,
bem-estar social e, ou, saúde, sendo o acolhimento proporcional a
situação de risco.
Conceito adaptado pelo autor a partir Protocolo nº. 001/2022, da Mesa de Diálogo e Negociação Permanente
do Sistema Único de Assistência Social – SUAS com o Sistema de Garantia de Direitos e Sistema de Justiça,
que dispõe sobre a proposição de fluxos municipais envolvendo o acolhimento institucional emergencial de
crianças e adolescentes no âmbito do município de Belo Horizonte.

11
Assim, é possível apontar que a delimitação do público a
que se destina a Proteção Social Básica, por exemplo, é
caracterizada por dois grupos que estariam em situação de
vulnerabilidade social: aqueles que estão em condições
precárias ou privados de renda e sem acesso aos serviços
públicos (dimensão material da vulnerabilidade) e
aqueles cujas características sociais e culturais (diferenças)
são desvalorizadas ou discriminadas negativamente
(dimensão relacional da vulnerabilidade), BRASIL, 2017,
p.8.

Já no âmbito da proteção social especial, teremos as


dimensões material e relacional de vulnerabilidades,
acrescidas das situações de ameaça ou violações de
direitos, ampliando os agravos sociais a que estas famílias
e indivíduos estão expostas.

12
Historicamente, as respostas às vulnerabilidades materiais
foram compreendidas enquanto de exclusividade da
assistência social, o que com a consolidação da Política
Nacional e do Sistema Único de Assistência Social vêm
ganhando novos contornos, e vislumbrando respostas
conjugadas entre as diversas políticas setoriais. Não se
pode falar em combate à pobreza, em programas de
transferência de renda, em economia social e solidária e ou
em estratégias de geração de emprego e renda aos
públicos mais vulneráveis, entre outras, sem que cada
política setorial assuma sua responsabilidade.

No âmbito dos serviços socioassistenciais devemos sim


operar com integração entre serviços, benefícios e
programas, ou seja, vulnerabilidade material não deve ser
elencada de forma isolada da vulnerabilidade relacional,
pois a resposta de proteção deve ser síncrona. E não
devemos trabalhar na lógica onde as respostas às
vulnerabilidades materiais que competem à assistência
social devem ser operadas exclusivamente na proteção
social básica.

Assim, podemos afirmar que um dos maiores


compromissos e avanços nos serviços de proteção social
no SUAS é a sedimentação do entendimento que enfrentar
vulnerabilidades no campo relacional é uma
responsabilidade pública, não por acaso, PAIF e PAEFI são
serviços eminentemente de oferta estatal previstos em lei.
A proteção ao vínculo é o objetivo primeiro de intervenção
de todos os serviços socioassistenciais.

13
Para o professor e sociólogo VIGNOLI (2002, p. 96) alguns
pontos chaves de atenção às determinantes de
vulnerabilidade social devem ser observadas:

Ciclo de vida (algumas etapas do ciclo de vida são mais


vulneráveis);
Crise econômica e desastres ambientais;
Incerteza, insegurança e rupturas da complexidade da
vida social da modernidade avançada;
Desproteção em decorrência da erosão do estado e da
família;
Carência pela desatualização ou imobilidade de capital
físico, humano e social, associado à incapacidade de
influenciar decisões que distribuem recursos;
Dinamismo das condições de pobreza (os fatores que
determinam uma receita pequena e persistente).

É IMPORTANTE LEMBRAR: Vulnerabilidade e risco são conceitos


distintos: a ocorrência da vulnerabilidade está associada à
possibilidade de ocorrência de risco, se não enfrentada a tempo e de
forma precisa. Uma situação de vulnerabilidade não conduz,
necessariamente, à vivência de uma situação de risco, pois a presença de
fatores e condições de proteção social pode atenuar tal condição. Por sua
vez, a vivência das situações de risco pode propiciar novas
vulnerabilidade, em um processo que fragiliza ainda mais os indivíduos
e, ou, as famílias. (MDS, Fiocruz, 2018)

14
Neste sentido, os itinerários de proteção a serem
propostos com os usuários exigem um conjunto de ações,
que extrapolam as experiências individuais com as famílias
e indivíduos. As ações particularizadas de cunho individual,
embora importantes e fundamentais, não esgotam o
repertório de potencialidades de trabalho das equipes e as
possibilidades dos serviços. Proteção se constrói no
coletivo, e é no encontro com o outro (que experimentam
vivências e conflitos comuns) que os sujeitos se fortalecem
e as redes de apoio comunitário ganham vida. Nas palavras
do professor Edval Bernardino, “os usuários precisam ter
corpos coletivos, pois não se tornam atores políticos
individualmente”. Não se trata de anular a individualidade
e peculiaridade das situações vivenciadas pelos sujeitos
acompanhados, ao contrário, é reconhecê-las dentro das
tramas sociais existentes e construir saídas plurais de
proteção.

Em outras palavras, segundo a professora SPOSATI,


podemos concluir que sempre que as precariedades do
lugar e da situação vivida afetar pessoas, famílias ou
grupos sociais produzindo sofrimento ético-político, caberá
uma ação da política no sentido de possibilitar que a
situação seja enfrentada num campo de responsabilidade
pública e coletiva, porque estar protegido significa ter
forças próprias ou de terceiros (inclusive do Estado) que
impeçam que alguma agressão/precarização/privação
venha a ocorrer, deteriorando uma dada condição
(SPOSATI, 2007, p. 42 apud BRASIL, 2017, p. 11).

15
Assim, para efetivação do trabalho especializado é
fundamental que as equipes de referência dos serviços da
proteção social especial possibilitem a construção de
vínculos com os indivíduos e famílias, permitindo um
espaço que seja de referência para eles. Mas também
possibilitem espaços de encontro destes indivíduos e
famílias com outros usuários, para que a proteção também
possa operar no coletivo.

Violência e Violações de Direitos no âmbito do SUAS:

Os percursos teóricos-conceituais para definição de


violência e violação de direitos são múltiplos, desde
perspectivas mais ampliadas e mundialmente
consensuadas como “grave problema de saúde pública”,
apresentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
até dimensões com abordagens mais filosóficas e éticas,
como violadora da vida humana em sua completude.

No âmbito do SUAS, ainda que o ponto de partida tenha


diferentes referências bibliográficas e ou abordagens e
teóricas conceituais, é importante compreendermos a
violência e a violação de direitos na tradução de práticas
antagônicas à liberdade, à vontade daquele a quem se
dirige e que lhes causam desproteção.

16
Assim, o exercício da violência “impede o reconhecimento
do outro - pessoa, classe, gênero ou raça - mediante o uso
de força ou da coerção, provocando algum tipo de dano (...)
deixando pouco espaço para o aparecimento do sujeito da
argumentação, da negociação ou da demanda” (ZALUAR,
1999, pp.13-14).

Não serão todas as formas de violência e, ou violação de direitos


situações de intervenção das ações especializadas do SUAS, mas sim,
aquelas que determinam situações de riscos pessoais e, ou, sociais a
indivíduos e famílias e que requeiram, naquele momento, proteção
social no campo da Assistência Social, ou seja, convergem com o
campo material e relacional de vulnerabilidade.

Desta forma, as Unidades de proteção do SUAS, devem


organizar suas ofertas e o desenvolvimento do trabalho
social essencial aos serviços socioassistenciais, com
destaque no nível da proteção social especial, a indivíduos
e famílias que vivenciam violação de direitos, por
ocorrência das seguintes situações[1]:

[1] Conceitos extraídos do documento manual de instruções para o registro das informações especificadas na
Resolução nº04/2011 alterada pela resolução nº20/2013 da Comissão Intergestores Tripartite – CIT (MDS, 2018).
Disponível em https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/atendimento/doc/Manual_RMA_CREAS2018.pdf

17
Violência psicológica: É identificada quando existe um tipo de
assimetria nas relações entre as pessoas, mais especificamente
nas relações de poder, podendo se expressar na imposição de
forças de uma pessoa sobre a outra, de alguém com mais força
sobre outra pessoa que é subjugado num processo de apropriação
e dominação da sua vontade. Pode produzir na pessoa vítima por
esta forma de violência comportamentos destrutivos, isolamentos,
medos/fobias, dentre outros. Inclui-se nesse tipo de violência as
ameaças de morte, a humilhação pública ou privada, a tortura
psicológica, a exposição indevida da imagem da criança ou do
adolescente (FALEIROS,1996; AZEVEDO; GUERRA, 1998).

Violência física: Se refere a toda e qualquer ação, única ou


repetida, não acidental ou intencional, cometida por um agente
agressor, provocando danos físicos que podem variar de lesões
leves até consequências extremas como a morte. São exemplos de
violência física as surras, os espancamentos, as queimaduras, as
agressões com objeto contundente, a supressão da alimentação
com caráter punitivo e as torturas.

Violência sexual (abuso e/ou exploração sexual): A violência


sexual pode ocorrer por meio de contatos físicos como carícias
não desejadas, penetração (oral, anal ou vaginal com pênis ou
objetos), masturbação forçada, dentre outros. Os casos em que
não há contato físico ocorrem por meio de exposição obrigatória
de material pornográfico, exibicionismo, uso de linguagem
erotizada em situação inadequada. É subdividida em exploração
sexual e abuso sexual (CMESC,1996).

18
Abuso sexual é um ato através do qual um adulto obriga ou
persuade uma criança ou adolescente a realizar atividade sexual
que não é adequada para a sua idade e que viola os princípios
sociais atribuídos aos papéis familiares (GOUVEIA, 2006). É todo e
qualquer jogo sexual, em uma relação heterossexual ou
homossexual, entre um ou mais adultos com uma criança ou
adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente a criança
ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa
ou de outra pessoa (AZEVEDO; GUERRA, 1989). O abuso sexual se
configura de diversas formas, sendo elas o exibicionismo
(exposição dos genitais), carícias inapropriadas, violação ou
incesto, telefonemas obscenos, voyerismo (observar atividades
sexuais), fetichismo (uso de objetos inanimados) e frotteurismo
(tocar ou roçar-se numa pessoa que não consente).

Exploração sexual se refere a todo e qualquer uso de uma


criança/adolescente para propósitos sexuais em troca de dinheiro
ou favores entre a criança, o intermediário ou agenciador que se
beneficia do comércio de crianças para este propósito podendo se
manifestar por meio da prostituição de crianças e adolescentes,
pornografia, turismo sexual, tráfico de criança e adolescentes para
fins comerciais e sexuais (CMESC, 1996). O tráfico de crianças e
adolescentes para fins comerciais e sexuais é a transferência de
uma criança/adolescente de uma parte a outra para qualquer
propósito, em troca de compensação financeira ou de outra
natureza. Para tanto, é feito o transporte de crianças ou
adolescentes com propósitos sexuais comerciais que ocorrem
dentro do mesmo país ou fora dele.

19
Negligência: É identificada quando existe uma dependência de
cuidados e de proteção de uma pessoa em relação a outra, nas
quais as necessidades específicas não são atendidas por seus
cuidadores (VOLIC; BAPTISTA, 2005). Representa uma omissão em
termos de prover as necessidades físicas e emocionais da criança,
do adolescente, da pessoa com deficiência e da pessoa idosa e se
configura quando os responsáveis falham na atenção dessas
necessidades, e quando tal fato não é o resultado de condições de
vida além do controle dos cuidadores. É fundamental
problematizar a negligência não como uma nova forma de
criminalização da pobreza, mas numa perspectiva de um não
exercício de proteção quando é possível exercê-lo.

Abandono: Se configura como uma das formas mais graves de


negligência, sendo caracterizado pelo completo afastamento do
grupo familiar, ficando a criança, adolescente, pessoa idosa ou
pessoa com deficiência, desamparada e exposta a várias formas
de perigo, risco social e pessoal. Quanto ao abandono, é
necessário o reconhecimento das novas formas de organização e
funcionalidade das famílias, que por vezes impossibilita um
cuidado tão próximo, mas que não necessariamente incorre em
abandono, o limite a ser observado é identificar quais estratégias
de proteção foram lançadas para um cuidado efetivo.

Vivência de trabalho infantil: Constitui uma violação de direitos


e consiste nas atividades realizadas por crianças ou adolescentes
com idade inferior a 16 anos, com fins econômicos ou de
sobrevivência, remuneradas ou não. Não estão incluídas neste

20
contexto, as atividades de trabalho na condição legal de aprendiz,
de trabalho protegido, que são permitidas por lei a partir dos 14
anos. Conforme Decreto nº. 6.481, de 12 de junho de 2008, dentro
da definição de trabalho infantil há ainda àquelas situações
consideradas como as piores formas de trabalho infantil.

Situação de rua: De acordo com o Decreto Nº 7.053/2009,


“considera-se população em situação de rua o grupo populacional
heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os
vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência
de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros
públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de
sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as
unidades de acolhimento institucional para pernoite temporário
ou como moradia provisória”.

Exploração da imagem, isolamento, confinamento, atitudes


discriminatórias e preconceituosas no seio da família, falta de
cuidados adequados por parte do cuidador, alto grau de estresse
do cuidador, desvalorização da potencialidade/capacidade da
pessoa, dentre outras que agravam a dependência e
comprometem o desenvolvimento da autonomia (TNSS, 2009, p.
37), de pessoas idosas e pessoas com deficiência com algum grau
de dependência

21
Discriminação em decorrência de orientação sexual e/ou
raça/etnia: A discriminação por orientação sexual é aquela
cometida contra homossexuais, bissexuais, transexuais ou
intersexuais, unicamente por conta de sua homossexualidade,
bissexualidade ou identidade de gênero, respectivamente. A
discriminação por raça/etnia acontece contra os usuários em
função da cor de sua pele (diferenças fenotípicas) e, ou, por sua
origem e identidade étnica (diferenças culturais como religião,
língua, história e símbolos, por exemplo). Tais discriminações se
expressam por meio da violência física e simbólica na
agressividade verbal, corporal, moral, dentre outras, podendo até
ocasionar o óbito destas pessoas.

Afastamento do convívio familiar devido à aplicação de


medida socioeducativa ou de proteção: As medidas protetivas
de acolhimento familiar e, ou, institucional e a medida
socioeducativa de internação apresentam desafios à proteção
social especial de média complexidade. Neste sentido, o Serviço de
Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
(PAEFI), por exemplo, deve contribuir com ações protetivas e
proativas na construção e fortalecimento de redes de apoio às
famílias referenciadas, fomentando a visitação durante o período
do afastamento e possibilitando a construção de ancoragens de
proteção social para o retorno ao convívio familiar e comunitário,
seja para a família de origem, extensa ou ampliada.

Fonte: BELO HORIZONTE, 2020, p. 22/24 - Orientações Técnicas para o aprimoramento dos
processos de trabalho e de gestão do Centro de Referência Especializado de Assistência
Social (CREAS) no município de Belo Horizonte.

22
Ao conceito de negligência, destacamos a necessidade de
um olhar atento da equipe de referência para não
repetição de padrões violadores com as famílias mais
pobres, onde a ausência de meios para prover a
necessidade dos seus membros é culpabilizada na forma
de negligência. Uma forma aporofobica de lidar com as
vulnerabilidades materiais que podem provocar e agravar
as vulnerabilidades relacionais.

APOROFOBIA, do grego άπορος (á-poros), sem recursos, indigente,


pobre; e φόβος (fobos), medo; refere-se ao medo, rejeição,
hostilidade e aversão às pessoas pobres e à pobreza.

Cortina, Adela (2017). Aporofobia, el rechazo al pobre: Un desafío para la


democracia.

Assim, é oportuno discutirmos a negligência à luz da recusa


imotivada dos responsáveis pelo cuidado em assim exercê-
lo, ou seja, existe uma intencionalidade pela violação do
direito a proteção.

A lista de vulnerabilidades e riscos contidas neste


documento, não devem ser excludentes ao atendimento
no SUAS, mas parâmetros para atuação de seus serviços.
Ademais, novas formas de vulnerabilidades têm se
apresentado a este sistema de proteção, com destaque
aquelas ocasionadas por situações de calamidades
públicas e de emergência, a exemplo de:

23
Crises humanitárias em contextos migratórios,
imigratórios, de refúgio, apátridas, retornados e de
guerra;

Acidentes e crimes ambientais, que resultam no


afetamento de famílias, indivíduos e territórios;

Acidentes e crimes minerários, que resultam no


afetamento de famílias, indivíduos e territórios;

Secas e estiagens, queimadas, enchentes, inundações,


deslizamentos de terras e encostas, entre outros, que
resultam no afetamento de famílias, indivíduos e
territórios;

Crises sanitárias;

Violência contra povos tradicionais;

Outros em contextos de calamidades e emergências


públicas.

Verificadas as situações de desproteções sociais relacionais


e materiais, por vivências de violação de direitos, as
intervenções da proteção social especial, de forma
articulada com a rede de proteção, devem contribuir para a
integralidade da atenção socioassistencial, por meio da

24
integração entre serviços, programas, projetos e benefícios,
garantindo o afiançamento das seguranças
socioassistenciais.

No próximo capítulo, vamos pensar juntas, juntes e juntos


a construção de itinerários protetivos no âmbito da
proteção social especial para o acompanhamento de
famílias e indivíduos acompanhadas e atendidas nos
serviços especializados do SUAS.

PARA SABER MAIS:

CADERNO PROTEÇÃO SOCIAL NO SUAS A INDIVÍDUOS E FAMÍLIAS EM


SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA E OUTRAS VIOLAÇÕES DE DIREITOS:
FORTALECIMENTO DA REDE SOCIOASSISTENCIAL
BRASIL, Fundação Oswaldo Cruz; Ministério do Desenvolvimento Social. Simone
Gonçalves de Assis; Tatiana Maria Araújo da Fonseca; Viviane de Souza Ferro
(organizadoras) – Brasília: 2018.

Disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/03/2.-


Caderno_Curso-de-Prote%C3%A7%C3%A3o-social-no-SUAS-a-indiv%C3%ADduos-e-
fam%C3%ADlias-em-situa%C3%A7%C3%A3o-de-viol%C3%AAncia-e-outras-
viola%C3%A7%C3%B5es-de-direitos.pdf

VIOLÊNCIAS, TERRITÓRIOS E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO NO ÂMBITO


DO SUAS: ALGUMAS REFLEXÕES
CARMONA, D. R. S. SPÍNDOLA, R. A. A. in BELO HORIZONTE, O SUAS e o
enfrentamento da Violência: um caminho para a autonomia e defesa de direitos, na
perspectiva coletiva, dialógica e restaurativa, PBH, Belo Horizonte, 2020.

Disponível em: https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-


governo/smasac/2020/DRGD/o-suas-e-o-enfretamento-da-violencia.pdf

25
O ACOMPANHAMENTO ESPECIALIZADO
DE FAMÍLIAS E INDIVÍDUOS NO SUAS

Pensar acerca do acompanhamento especializado,


enquanto resposta à trinômia vulnerabilidade relacional
+ vulnerabilidade material + violação de direito,
representa um grande desafio frente a sociedade seletiva e
desigual à que vivemos, onde a produção da violência e das
violações de direitos tem estreita relação com a pobreza,
com a falta de oportunidades e de acessos a meios e
políticas públicas de proteção social. Sendo assim, o
trabalho social essencial desenvolvido nas Unidades do
SUAS, com destaque aos CREAS, Centros Pop’s, Centros
Dias e Serviços de Acolhimentos, dentro de suas limitações
e reconstruções, podem se tornar uma possibilidade de
ressignificação de um percurso que foi interditado por
barreiras e privações sociais, ou seja, trazer novos
itinerários protetivos. Embora a vulnerabilidade material
esteja muito presente na vivência dos usuários da proteção
social especial, ela não é um fator condicionante para
inclusão nos serviços socioassistenciais deste nível de
proteção.

Os usuários dos serviços da PSE, requerem durante o


tempo que demandarem o acompanhamento
especializado, a necessidade de cuidados diferenciados e
muitas vezes mais intensivos e cuja atenção deve estar

26
qualificada no sentido de superar ou minimizar as violações
de direito. Trata-se, portanto, de uma intervenção pautada
não mais na prevenção de uma violação, mas na
construção de itinerários de proteção e reparo a um direito
já violado. Isso não significa dizer que a PSE não tenha
responsabilidade efetiva com a prevenção, pelo contrário,
ela deve ser atuante no território de forma integrada com a
proteção social básica, promovendo a prevenção para não
ocorrência das violações de direitos, mas também, atuando
de forma preventiva, proativa e protetiva gerando impacto
social na redução da reincidência de padrões violadores
(prevenção da reincidência).

Desta forma, é uma característica importante a ser


demarcada nos processos de trabalho dos serviços
socioassistenciais de proteção social especial, maior
densidade relacional, que perpassa o próprio direito
violado e ou medida aplicada. Ou seja, é necessário um
maior contato, com periodicidade contínua, entre a equipe
de referência do serviço com o usuário e sua família.

Não é possível desenvolver o trabalho social essencial nos


serviços referenciados ao CREAS se o atendimento com as
famílias acontece por exemplo uma vez por mês ou de
forma ainda mais esporádica. De igual forma, não é
possível pensar no acolhimento de forma provisória e
reparadora, se a Unidade não dispõe de equipe de
referência para o desenvolvimento do trabalho social
esperado aos serviços de alta complexidade do SUAS. No
Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento

27
de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), e de
Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), por exemplo, a
TNSS nos orienta que:

O acompanhamento social ao adolescente deve ser realizado de forma


sistemática, com frequência mínima semanal que garanta o
acompanhamento contínuo e possibilite o desenvolvimento do PIA (TNSS,
2009, p. 34)

As particularidades de cada situação deverão orientar a


decisão conjunta da equipe de referência, das estratégias a
serem utilizadas no trabalho social especializado, tendo em
vista a construção de novas possibilidades de interação,
projetos de vida e superação das situações vivenciadas.
Para uma oferta de fato protetiva, as provisões do serviço
devem estar alinhadas com as orientações e normativas da
política pública de assistência social visando garantir as
aquisições dos usuários conforme previsto na Tipificação
Nacional dos Serviços Socioassistenciais.

28
+ Para relembrar:

Provisões do Serviços Socioassistenciais: São as ofertas do


trabalho institucional, organizadas em quatro dimensões: ambiente
físico, recursos materiais, recursos humanos e trabalho social
essencial ao serviço. Organizados conforme cada serviço as
provisões garantem determinadas aquisições aos cidadãos.

Aquisições dos usuários: Trata dos compromissos a serem


cumpridos pelos gestores em todos os níveis, para que os serviços
prestados no âmbito do SUAS produzam seguranças sociais aos
seus usuários, conforme suas necessidades e a situação de
vulnerabilidade e risco em que se encontram. Podem resultar em
medidas da resolutividade e efetividade dos serviços, a serem
aferidas pelos níveis de participação e satisfação dos usuários e
pelas mudanças efetivas e duradouras em sua condição de vida, na
perspectiva do fortalecimento de sua autonomia e cidadania. As
aquisições específicas de cada serviço estão organizadas segundo as
seguranças sociais que devem garantir. (BRASIL, 2009 – reimpressão
2014 – p. 9)

O itinerário da proteção especializada:

O itinerário de proteção especializada abrange o percurso


de acompanhamento feito pelos usuários (famílias ou
indivíduos) no âmbito do serviço de proteção social
especial, desde seu encaminhamento/inserção, passando

29
pela acolhida, trabalho social essencial ao serviço (com o
desenvolvimento de atividades individuais e coletivas),
avaliação e gestão dos casos e o alcance dos impactos
sociais esperados, desencadeando o processo de
contrarreferência para proteção social básica.

Compreender cada uma das etapas que envolve este


itinerário é muito importante para construção de uma
proteção socioassistencial que atenda a situação especial
vivenciada pelo usuário, ou seja, uma resposta protetiva a
violência e ou violação de direito que foi apresentada ao
serviço.

De forma antecipada, é oportuno destacarmos que nem


sempre os serviços socioassistenciais de PSE conseguiram
desenvolver um trabalho social de forma a superar padrões
de violação de direito, visto que por vezes, tais violações
permeiam o modo de organização da família e são
geracionais. Assim, os serviços somaram esforços para
contribuírem na redução dessas violações de direito e
possibilitarem ao grupo familiar e aos indivíduos
ferramentas e recursos para enfrentarem de forma mais
protetiva, com auxílio do serviço, as situações que possam
acontecer

30
Exemplo: Senhor João Alfredo, 74 anos, residente na
comunidade ribeirinha do Vale das Flores, beneficiário do
Benefício de Prestação Continuada BPC, mora com sua filha
Soraia (42 anos), os netos João Paulo (19 anos), Maria
Eduarda (17 anos) e Carlos Augusto (17 anos), além de
Roberto (39 anos), que é companheiro de Soraia. Soraia é
filha única, diarista e atualmente a única que trabalha
formalmente na casa e tem demonstrado grande
afetividade com o pai. O Sr. João Alfredo desde que sofreu
AVC, tem dificuldades para as atividades da vida diária (fala,
locomoção, alimentação e higiene pessoal) e conta com o
apoio da família. Com frequência os vizinhos relataram aos
agentes de saúde e à equipe do CRAS que escutam Carlos,
quando embriagado, gritar com o Sr. João Alfredo,
chamando-o de velho imprestável, entre outros
xingamentos. Há indícios que João Paulo negligencia a troca
de fraldas e alimentação do avô. O Sr. João Alfredo já deu
entrada duas vezes na Unidade de Pronto Atendimento
(UPA) do município, a primeira em decorrência de uma
queda no banho, e a outra por um corte no supercílio, onde
também foi observado alguns hematomas em seu braço.
Nas duas situações o Sr. João Alfredo estava sozinho com o
neto João Paulo.

Podemos observar uma possível situação de violência física,


psicológica e negligência contra uma pessoa idosa em um
grupo familiar. De forma descuidada, podemos acreditar e
dar encaminhamentos para que o acolhimento desse
usuário em abrigo (instituição de longa permanência para
pessoas idosas) aconteça de forma a superar a violação de
direito vivenciada, o que pode ser um equívoco, e ainda,

31
provocar uma nova violação de direitos – rompimento da
convivência familiar e comunitária.

Salvo em situações excepcionais, onde o eventual violador


é afastado do domicílio do usuário, a convivência entre
“violador e violado” permanece, e compete ao serviço
socioassistencial de referência, desenvolver um plano de
acompanhamento familiar que seja pedagógico quanto ao
cuidado, ao vínculo e a proteção. E em específico,
subsidiando essa família com informações e recursos para
que, mesmo na ocorrência de eventual conflito, este idoso
tenha condições de proteção.

O exemplo anterior é apenas uma tentativa de ilustrar uma


situação que com frequência chega aos Centros de
Referência Especializados de Assistência Social – CREAS, e
que embora não exista um “receituário” pronto a seguir,
identificar as etapas do acompanhamento e conhecer as
principais ferramentas de intervenção podem apoiar as
equipes de referência na tomada de decisão.

De forma processual, podemos sugerir o seguinte percurso


de acompanhamento no âmbito dos serviços
especializados de proteção social especial:

32
SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL

Formas de Acesso ao Serviço

Trabalho Proativo: Encaminhamentos Sistema


Demandas Espontâneas
Abordagem / Busca Ativa de Justiça e demais integrantes SGD

Acolhida (estabelecimento de vínculos)

Trabalho Social Essencial ao Serviço

Ações Individuais Trabalho Coletivo e Comunitário

Atendimento em grupo
Ações particularizadas individuais
(grupo de famílias, grupo de usuários)
(Atendimentos da equipe
Realização de Grupos/Oficinas
de referência, visitas, relatórios, etc.).
com Famílias (Metodologia coletiva)

Encaminhamentos Ações comunitárias ((Mobilização e


(Articulação com a Rede) enfrentamento)

Avaliação e Reavaliação

Objetivos e Impactos Objetivos e Impactos Objetivos e Impactos


sociais esperados sociais esperados sociais esperados não
alcançados. parcialmente alcançados. alcançados.

REPACTUAÇÃO DAS METAS, COMBINADOS E ORIENTAÇÕES;


EXCEPCIONALIDADE DE ENCAMINHAMENTO PARA ALTA COMPLEXIDADE;

PROCESSOS DE CONTRARREFERÊNCIA PARA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA.

Fonte: MINAS GERAIS, 2018 – adaptado.

33
a) Formas de acesso

Ao refletirmos sobre o processo de acompanhamento e ou


atendimento no âmbito da PSE, a primeira etapa a ser
considerada e planejada de forma cuidadosa, é avaliar as
condições e formas de acesso aos Serviços, ou seja, a
procedência dos usuários e ou de seus encaminhamentos,
que vão ocorrer de acordo com cada serviço.

Esta avaliação visa qualificar a inserção dos usuários no


Serviço. Enquanto as “condições para o acesso” se
correlacionam com as violências apresentadas, as “formas
de acesso” remetem ao percurso do usuário para chegar o
serviço, por exemplo a busca ativa, os encaminhamentos
dos demais serviços socioassistenciais, sistema de justiça e
demais políticas setoriais ou por demanda espontânea.
Vejamos:

34
Serviço | Unidade de Formas de Acesso
Referência (de Oferta)

Por identificação e encaminha-


mento dos serviços de proteção
e vigilância social (busca ativa e
Serviço de Proteção e
trabalho proativo);
Atendimento Especiali-
Por encaminhamento de outros
zado a Famílias e
Indivíduos (PAEFI). serviços socioassistenciais, das
demais políticas públicas
Unidade:CREAS setoriais, dos demais órgãos do
(obrigatoriamente e Sistema de Garantia de Direitos e
exclusivamente) do Sistema de Segurança Pública;
Demanda espontânea;

Serviço Especializado em
Abordagem Social

Unidade: CREAS, Centro Por identificação da equipe do


POP ou Unidade serviço (busca ativa e trabalho
Específica referenciada ao proativo);
CREAS.

35
Serviço de Proteção Demanda espontânea de
Social Especial para membros da família e/ou da
Pessoas com Deficiên-cia, comunidade;
Idosas e suas Famílias. Busca ativa;
Por encaminhamento dos demais
Unidade: Domicílio do serviços socioassistenciais e das
Usuário, Centro Dia, demais políticas públicas
CREAS ou Unidade setoriais;
Referenciada ao CREAS. Por encaminhamento dos
demais órgãos do Sistema de
Garantia de Direitos.

Serviço Especializado Para Encaminhamentos do Serviço


Pessoas em Situação de Especializado em Abordagem
Rua Social, de outros serviços
socioassistenciais, das demais
Unidade: Centro POP políticas públicas setoriais e dos
demais órgãos do Sistema de
Garantia de Direitos;
Demanda espontânea;

36
Serviço de Acolhimento Por determinação do Poder
Institucional para Judiciário;
Crianças e Adolescentes -Por requisição do Conselho
Tutelar. Nesse caso, a autoridade
Unidade: Abrigo competente deverá ser
Institucional e Casa Lar comunicada, conforme previsto
no Artigo 93 do Estatuto da
Criança e do Adolescente.

Serviço de Acolhimento Por encaminhamento de agentes


Institucional para Adultos institucionais de Serviço
e Famílias Especializado em Abordagem
Social;
Unidade: Abrigo -Por encaminhamentos do CREAS
Institucional e Casa de ou demais serviços socio-
Passagem assistenciais, de outras políticas
públicas setoriais e de defesa de
direitos;
Demanda espontânea.

37
Serviço de Acolhimento
Institucional para Pessoas
Idosas Por requisição de serviços de
políticas públicas setoriais, CREAS,
Unidade: Abrigo Institucional demais serviços socioassistenciais,
(Instituição de Longa Ministério Público ou Poder
Permanência para Idosos -
Judiciário.
ILPI) e Casa Lar.

Serviço de Acolhimento Por requisição de serviços de


Institucional para Pessoas políticas públicas setoriais, CREAS,
com Deficiência demais serviços socioassistenciais,
Ministério Público ou Poder
Unidade: Residência Judiciário.
Inclusiva

Serviço de Acolhimento
Institucional para Mulheres Por requisição de serviços de
em Situação de violência políticas públicas setoriais, CREAS,
demais serviços socioassistenciais,
Unidade: Abrigo Ministério Público ou Poder
Institucional Judiciário.

38
Serviço de Acolhimento em Por encaminhamentos do CREAS,
República para Jovens demais serviços socioassistenciais
e/ou de outras políticas públicas;
Unidade: República
Demanda espontânea.

Serviço de Acolhimento em Por encaminhamento de agentes


República para Adultos em institucionais do Serviço
Processo de Saída das Especializado em Abordagem
Ruas Social;
Por encaminhamentos do CREAS,
Unidade: República demais serviços socioassistenciais
e/ou de outras políticas públicas;
Demanda espontânea.

Serviço de Acolhimento em -Por encaminhamentos do CREAS,


República para Pessoas demais serviços socioassistenciais
Idosas e/ou de outras políticas públicas;
Demanda espontânea.
Unidade: República

39
Serviço de Acolhimento Por determinação do Poder
em Família Acolhedora Judiciário;

Unidade: Unidade de
referência da Proteção
Social Especial (Gestão do
Serviço) e residência da
Família Acolhedora
(execução do serviço).

Serviço de Proteção em Por notificação de órgãos da


Situações de Calamidades administração pública municipal,
Públicas e de da Defesa Civil e pela
Emergências. identificação da presença nas
ruas (busca ativa e trabalho
Unidade: Unidades proativo).
referenciadas ao órgão
gestor da Assistência
Social

Fonte: construção do autor a partir de BRASIL, 2009, reimpressão 2014.

40
No âmbito da PSE, o processo de busca ativa pode ser
potencializado por ações comunitárias no território, a
exemplo de campanhas com temáticas relativas às
violações de direito, palestras e rodas de conversas,
oficinas educativas pontuais de apresentação dos serviços
para a comunidade, divulgação dos serviços nas mídias
locais (internet, rádio, tv, jornal impresso, redes sociais,
entre outros). Além das estratégias de busca ativa
programada, onde as equipes de referência do serviço, a
partir de dados da vigilância socioassistencial, se deslocam
até territórios com maior incidência de violação e possíveis
usuários, indo ao encontro dessas pessoas (proteção social
proativa), antecipando-se à procura espontânea ou às
costumeiras comunicações/chamadas/encaminhamento ou
até denúncias.

Os encaminhamentos remetem ao acionamento dos


demais serviços socioassistenciais, de outras políticas
setoriais ou dos demais integrantes do sistema de garantia
de direitos, incluindo o sistema de justiça.

Dos Direitos dos Usuários

Art. 4º Os usuários detêm os seguintes direitos, garantidos pela política


pública de assistência social:
[...] IV – receber os encaminhamentos para outros serviços ou instituições
por escrito, de forma clara e legível, e identificados com o nome do
profissional responsável pelo encaminhamento;
Conselho Nacional de Assistência Social - Resolução nº 11, de 23 de
setembro de 2015

41
Quanto aos encaminhamentos, é importante também que
as Unidades e Serviços tenham perceptibilidade quanto
aquilo que não lhes compete. E, ao receberem
encaminhamentos que extrapolam as suas funções,
contem com o apoio dos órgãos gestores da política de
assistência social e Procuradoria Jurídica (ou setor
congênere) sempre que necessário para darem a resposta
negativa à instituição encaminhadora.

Ainda sobre o recebimento de encaminhamentos,


conforme estabelece a Nota Técnica SNAS 02/2016, cumpre
destacar que, diante das responsabilidades dos
profissionais do SUAS, há instrumentos e procedimentos
que extrapolam suas funções, na medida em que se
caracterizam como processos de responsabilização ou
investigativos, tais como:

Realização de Perícia;
Inquirição de vítimas e acusados;
Oitiva para fins judiciais;
Produção de provas de acusação;
Guarda ou tutela de crianças e adolescentes de forma
impositiva aos profissionais do serviço de acolhimento
ou ao órgão gestor da assistência social, salvo nas
previsões estabelecidas em lei;
Curatela de idosos, de pessoas com deficiência ou com
transtorno mental aos profissionais de serviços de
acolhimento ou ao órgão gestor da assistência social,
salvo nas previsões estabelecidas em lei;

42
Adoção de crianças e adolescentes;
Averiguação de denúncia de maus-tratos contra
crianças e adolescentes, idosos ou pessoas com
deficiência, de violência doméstica contra a mulher.

DICA: As respostas ao Sistema de Justiça com negativa de


atendimento e ou inserção nos serviços em função dos
procedimentos solicitados extrapolarem as funções das equipes de
referência do SUAS devem citar a Nota Técnica SNAS 02/2016 e
serem assinadas pelo órgão gestor da política de assistência social

A demanda espontânea pode ser compreendida com a


“procura voluntária e direta de indivíduos e famílias, em
situação de risco pessoal e, ou, social, por vivência de
violação de direitos” a um determinado serviço da proteção
social especial. Ou seja, é quando o usuário já tem
consciência da situação vivenciada e busca apoio a Unidade
de referência do SUAS em busca de proteção.

Esta forma de acesso não deve ser confundida com práticas de


“denúncias”, visto que nestes casos, temos extrapoladas as competências
de intervenção das Unidades socioassistenciais. E portanto, sempre que a
demanda espontânea deflagrar uma situação crime, compete a Unidade
do SUAS providenciar os encaminhamentos necessários para proteção do
usuário, a exemplo das notificações obrigatórias por lei. O SUAS é o lugar
da proteção e não da denúncia.

43
Chamamos atenção para a diferença entre “demanda
espontânea” e “procura espontânea”. Na procura
espontânea o usuário já é acompanhado por um serviço
socioassistencial e busca a equipe de referência sem um
atendimento programado, não se trata de uma condição de
acesso, pois a família ou indivíduo já está inserido no
serviço. Nas duas situações devem ser construídas
estratégias para garantir o atendimento ao
indivíduo/família, tendo como perspectiva as seguranças
afiançadas pelo SUAS.

Algumas situações são prioritárias de inserção nos serviços,


independentes das formas de acesso, por definição legal, e
devem ser priorizadas na gestão dos casos, em especial nos
municípios onde a demanda é maior que disponibilidade
de proteção instituída.

É certo que os Estatutos da Criança e do Adolescente em


seu Art. 4º, Estatuto do Idoso em seu Art. 3º e Estatuto da
Pessoa com Deficiência em seu Art. 8º, assegurem a todos
os abrangidos pelos respectivos estatutos prioridade no
atendimento e no cuidado, algumas situações algumas
situações se apresentam ainda mais prioritárias de inserção
nos serviços, independentes das formas de acesso, por
definição legal, e devem ser priorizadas na gestão dos
casos, em especial nos municípios onde a demanda é maior
que disponibilidade de proteção instituída. Vejamos:

44
 Estatuto da Criança e do Adolescente:
Art. 13 [...]: § 2 o Os serviços de saúde em suas diferentes
portas de entrada, os serviços de assistência social em seu
componente especializado, o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (Creas) e os demais
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do
Adolescente deverão conferir máxima prioridade ao
atendimento das crianças na faixa etária da primeira
infância com suspeita ou confirmação de violência de
qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular
que inclua intervenção em rede e, se necessário,
acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº 13.257,
de 2016 – grifo nosso);

 Estatuto do Idoso
Art. 3º [...]: § 2º Dentre os idosos, é assegurada prioridade
especial aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas
necessidades sempre preferencialmente em relação aos
demais idosos. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017 – grifo
nosso);

45
b) Acolhida: Momento de estabelecer vínculos

Inicialmente devemos recordar que a “acolhida” é uma


segurança afiançada pelo SUAS, conforme disposto pela
Norma Operacional Básica do SUAS (2012):

Art. 4º São seguranças afiançadas pelo SUAS:


I - acolhida: provida por meio da oferta pública de espaços
e serviços para a realização da proteção social básica e
especial, devendo as instalações físicas e a ação profissional
conter:

a) condições de recepção;
b) escuta profissional qualificada;
c) informação;
d) referência;
e) concessão de benefícios;
f) aquisições materiais e sociais;
g) abordagem em territórios de incidência de
situações de risco
h) oferta de uma rede de serviços e de locais de
permanência de indivíduos e famílias sob curta,
média e longa permanência.
(BRASIL, 2012)

Este resgate é oportuno para nos relembrar que o processo


de acolhida correlaciona a postura acolhedora da equipe
com o espaço físico da Unidade, que deve oferecer

46
condições de sigilo, acessibilidade, ventilação, iluminação,
mas também ser um local agradável e que traduz confiança
ao usuário. Pense na seguinte comparação, se você
enquanto cliente for em uma loja, e o espaço for feio, sujo,
bagunçado, sem iluminação, sem ventilação, com uma
decoração incompatível com aquilo que você procura. Qual
a chance de você voltar nessa loja?

De forma parecida, no primeiro impacto, a construção do


vínculo perpassa também pelo espaço físico da Unidade, é
importante que o usuário se sinta bem, a vontade, tenha
conforto e privacidade necessários para seu atendimento
de acolhida. Fatores estruturais (calor excessivo, barulho
excessivo, interrupção) não devem atrapalhar esse
momento que é definidor no itinerário de proteção.

No início dos atendimentos ou do acompanhamento, nem


sempre será fácil estabelecer um vínculo de confiança com
os usuários, devido às experiências sociais e institucionais
que compõem suas trajetórias de vida, marcadas pela
violência e ou violações de direitos, tenham sido elas
tentadas ou consumadas. Diante disso, exige-se uma
postura acolhedora e ética das equipes de referência dos
serviços, sem julgamentos ou apresentando modelos a
serem seguidos de forma linear.

47
A família também não deve se sentir pressionada a fazer ou
falar sobre algo. É comum que exista receio por parte dos
usuários em expor seus conflitos, ainda mais, quando estes
acontecimentos envolvem pessoas que ainda estabeleçam
vínculos de convivência e de afetividade com os
destinatários dos serviços. Lembre-se que criar uma
ambiência acolhedora é uma função técnica de
responsabilidade da equipe de referência e não do
usuário!

A acolhida deve favorecer a expressão, o diálogo, a


segurança em poder e ter liberdade de falar sobre suas
necessidades e interesses, sem julgamentos, represálias e
olhares moralizantes. Desde este momento, já devem ser
desenvolvidas retaguardas de autonomia, possibilitando
vivências pautadas pelo respeito a si próprio e aos outros,
fundamentadas em princípios éticos de justiça e cidadania
(BRASIL, 2009). Assim, a autonomia deve ser compreendida
na perspectiva dialógica que se estabelece no
reconhecimento do outro, não representando uma prática
fora de um diálogo.

O compartilhamento de histórias de exclusão, por meio de


sujeitos de distintas trajetórias pessoais e sociais, marcada
pela vivência da violência, pode provocar a partir de uma
escuta qualificada, lampejos para uma cidadania a ser
conquistada frente a uma diversidade que busca um elo

48
comum no direito à proteção e na luta pelo pertencimento
social. Esses cuidados de acolhida podem produzir ou
facilitar o estabelecimento de uma relação de confiança
para, posteriormente, estabelecimento de vínculos e
unidades de referências que ofereçam suporte às suas
inquietações e desafios.

Objetivos da Acolhida:

A acolhida marca o encontro inicial dos indivíduos e das


famílias com as equipes de referência dos serviços e com
os demais usuários no caso do acolhimento, apresenta um
conjunto de objetivos os quais destacamos os seguintes:

Avaliação inicial das vulnerabilidades e riscos pessoais e


sociais por violação de direitos;
Análise das primeiras demandas apresentadas pelas
famílias;
Encaminhamentos emergenciais;
Identificação inicial dos recursos e potencialidades que
caracterizam as famílias;
Início do vínculo das famílias com as equipes de
referência dos Serviços;
Avaliação da necessidade de inserção em
acompanhamento nos serviços ofertados e/ou em
demais ações organizadas pela unidade;
Repasse de informações sobre funcionamento do
serviço;

49
Apresentação da Unidade, pessoas de referência,
telefones de contato;
Definição de um próximo encontro.

Importante: A acolhida não é a etapa do acompanhamento mais


adequada para a tomada de decisões, neste momento, os
encaminhamentos devem se limitar aqueles emergenciais e de resolução
das necessidades imediatas do usuário.

Formas de acolhida:

A acolhida, pode ser organizada de diferentes formas, em


grupo, individual, familiar, é importante que este momento
seja celebrado junto ao usuário, ou seja, tenha um
marcador simbólico onde as famílias e os indivíduos
reconheçam essa etapa de proteção.

Acolhida em Grupo: consiste na oferta da acolhida


realizada de forma coletiva, a dois ou mais indivíduos
ou grupos familiares, que apresentem demandas
parecidas e voluntariedade a acolhida de forma
coletiva. É indicada quando já se conhece o histórico
dos usuários e tal situação não colocará as famílias e
indivíduos em situação vexatória, constrangedora e ou
de retração. Pode ser planejada para grupos de pessoas

50
em situação de rua; grupo de famílias em processo de
reintegração familiar; grupos de crianças e ou
adolescentes (e suas famílias) egressos do acolhimento
institucional e ou familiar; crianças e adolescentes em
situação de trabalho infantil e suas famílias; grupos de
famílias de idosos que vivenciam a mesma
vulnerabilidade; entre outros.

Utiliza-se como estratégia a formação de pequenos


grupos de acolhida com repasse de informações gerais
sobre o Serviço, escuta das demandas gerais das
famílias e indivíduos, compreensão dos impactos da
situação de risco e ou violação vivenciada, publicização
e discussão de assuntos de interesse do grupo, outros
que a equipe avaliar.

A acolhida em grupo, não exclui a construção


particularizada do caso.

Acolhida particularizada individual: forma comumente


utilizada pelas equipes de referência dos serviços,
consiste na oferta da acolhida por meio de atendimento
a um único indivíduo. É recomendado sempre quando
não se tem informações precedentes sobre o usuário e
ou quando a violação de direito pode incorrer em formas
de constrangimento ao indivíduo, a exemplo de

51
violências sexuais, violação de direitos decorrentes de
discriminações/submissões a situações que provocam
danos e agravos a sua condição de vida e os impedem
de usufruir autonomia e bem-estar, outras de avaliação
das equipes.

Embora seja a forma mais usual nos serviços, é


oportuno sinalizar aos usuários que a acolhida é um
processo, que pode mesclar momentos particularizados
individuais com momentos em grupos, a partir da
avaliação da equipe e interesse de participação dos
indivíduos.

Acolhida particularizada familiar: consiste na oferta


da acolhida por meio de atendimento particularizado a
mais de um membro de uma mesma família.
Considerando que a matricialidade familiar é uma
diretriz estruturante do SUAS, é a modalidade que deve
guiar a inserção nos serviços. Por vezes, pelo nível de
conflito e violência intrafamiliar, a equipe deve avaliar
quais integrantes participam do atendimento de forma
conjunta.

A partir da avaliação da equipe e voluntariedade da


família, durante o processo de acolhida, a família pode
ser convidada a participar de atividade de acolhida em
grupo.

52
São sugestões para demarcar o momento da acolhida:

Dialogar com o(s) indivíduo(s) e ou família(s) sobre o(s)


atendimento(s) de acolhida;
Possibilitar espaços para que o usuário faça seu registro
no serviço (quando houver ambiência), ex: mural de
sonhos, baú de bilhetinhos, varal de fotos, grafite,
colagem em parede, entre outros.
Sinalizar a sala de atendimento com placas e adornos
de acolhida;
Realizar encontros de acolhidas (dimensão lúdica,
oficinas, cafés, rodas de conversas, outros), quando da
possibilidade da acolhida em grupo;
Fornecer ao usuário a agenda de acompanhamento,
sinalizando a data do(s) atendimento(s) de “acolhida”;

Local da acolhida:

Comumente a acolhida acontecerá na Unidade/


Equipamento recomendado para a realização do serviço
socioassistencial, contudo, em algumas situações pela
natureza do serviço e ou condições dos usuários a equipe é
que irá de encontro a família ou indivíduo para o
estabelecimento de vínculos e acolhida.

53
Neste sentido, o domicílio do usuário será um local onde
com frequência pode acontecer atendimentos que
inauguram o processo de acolhida. No caso do Serviço
Especializado de Abordagem Social, os espaços públicos,
ruas, praças, estações rodoviárias, ferroviárias, entre
outros, serão os lócus de intervenção do serviço e
consequentemente espaços de acolhida.

Nestas situações, sempre que necessário, a equipe de


referência do serviço, poderá convidar o usuário para novo
atendimento programado e agendado na Unidade
Socioassistencial para continuidade da acolhida.

c) Trabalho Social Essencial ao Serviço

Embora a acolhida seja uma das atividades do trabalho


social essencial ao serviço, nesta publicação,
intencionalmente a elencamos antes de entrar nas demais
etapas, de forma a destacá-la e localizá-la como precedente
das demais ações a serem desenvolvidas. É o
estabelecimento de identidades, referências, a efetivação
dos direitos socioassistenciais, e a promoção do acesso aos
serviços públicos (BRASIL, 2016).

54
Corresponde ao conjunto de estratégias metodológicas e
instrumentais técnico-operativos que materializam a
existência do sistema protetivo de apoio, orientação e
cuidado às famílias e indivíduos frente às situações de
vulnerabilidades sociais e violações de direitos vivenciadas.
A Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais
(BRASIL, 2009) apresenta em sua matriz padronizada as
atividades do trabalho social essencial a serem trabalhadas
em cada um dos serviços tipificados.

O desenvolvimento do trabalho social essencial ao serviço


deve contribuir para responder a questão:

55
QUANTO DE PROTEÇÃO A FAMÍLIA OU INDIVÍDUO REQUER?

56
a) Estudo de Caso: O estudo de caso pode ser
compreendido como a sistematização da compreensão
compartilhada da situação familiar e comunitária do
usuário/usuária e suas famílias para o enfrentamento das
vulnerabilidades e riscos sociais a que estão expostos que
produzem desproteções e vitimização.

A professora Akerman (2022), nos ensina que para um bom


estudo de caso, alguns escopos, elementos e perguntas
geradoras (roteiro para acessar o itinerário) podem nos
auxiliar na tarefa:
Fonte: Akerman, D. Aula GESUAS – 2022.

57
Onde se situa o estudo de caso?

Entre a acolhida e a construção dos Planos de


Acompanhamento Familiar e/ou Individual;
Na mediação das reuniões de rede em discussão de
casos sobre as famílias/indivíduos;
Para o acompanhamento dos planos (junto com a
família e indivíduos);
Para subsidiar a elaboração de documentos.

Para tanto, é importante:

Leitura prévia de prontuários, relatórios, cadastros e


demais documentos existentes sobre família e
indivíduo;
Localização da família ou do indivíduo em relação aos
indicadores socioassistenciais existentes do território
(particular x coletivo);
Encontros com as família e indivíduos para escuta das
narrativas e elaboração de registros dos vínculos;
Elaboração de uma primeira síntese das
vulnerabilidades, riscos e potencialidades da família;
Reuniões com a rede socioassistencial e externa ao
SUAS;
Sistematização do estudo de caso; e
Validação discussão do estudo com a família ou
indivíduo.

58
O estudo de caso é processual, inicia-se com a acolhida, e compõe
várias etapas e procedimentos do trabalho social com as famílias e
indivíduos (AKERMAN, 2022).

Um roteiro para acessar o itinerário:

Me conta a sua história em relação a esta situação em


que você se encontra?
Me conte o motivo pelo qual você procurou ou foi
encaminhado para este serviço? O que você acha disto?

Observação da percepção/ sentimento em relação a situação


de vulnerabilidade ou risco.

O que você já buscou, quais foram suas iniciativas para


resolver esta situação?
Quais caminhos você já percorreu por causa desta
situação?

Observação das explicações e concepções sobre a situação de


vulnerabilidade e risco.

Por quais serviços, lugares, instituições você foi por


causa desta situação e como foi sua experiência lá?

59
Observação do itinerário no SUAS e SGD e percepção sobre a
rede.

O que você espera que aconteça a partir deste nosso


encontro?
O que você pretende fazer?
Como podemos enfrentar esta situação?

Observação sobre a percepção e sobre a acessibilidade da rede


e do SGD.

b) Atendimento Socioassistencial (individual e em


grupo):

O atendimento socioassistencial às famílias, ou a alguns de


seus membros, refere-se a uma ação imediata da provisão,
como acolhida, apoio, orientação, visita domiciliar, oficinas
com famílias, referenciamentos, dentre outros, com vistas a
uma resposta qualificada à uma necessidade social da
família e, ou, do indivíduo. A matricialidade sociofamiliar,
como diretriz para todos os serviços socioassistenciais,
materializa-se no atendimento de um ou mais membros da
família, possibilitando compreender a realidade do grupo
familiar e do território de vivência, buscando a inserção da
família nas ações e atividades do Serviço ou em outras
ações, a fim de proporcionar a proteção integral, evitando a
segmentação do atendimento socioassistencial (BELO
HORIZONTE, 2020, p. 36).

60
Desta forma, no âmbito da Proteção Social Especial do
SUAS, ao considerar as situações de violações de direitos,
os atendimentos desenvolvidos exigirão mais tempo,
estratégias múltiplas e qualificação em suas ações para o
restabelecimento do direito e das condições de convivência.
É imprescindível planejamento e articulações entre as
ações: atendimento especializado + encaminhamento à
rede socioassistencial + articulação com outras políticas
públicas + defesa e garantia de direitos.

Assim, a atenção especializada por meio do


acompanhamento não se resume a um conjunto de
atendimentos particularizados de caráter individual. É
orientado que seja desenvolvida com outras ações
complementares de proteção (atividades comunitárias,
articulação de rede, inserção em serviços da PSB, entre
outros). De igual forma, sugere-se que os atendimentos
não se concentrem exclusivamente de forma individual. É
importante que os usuários tenham contato com outras
famílias e indivíduos que vivenciam situações parecidas às
suas, compartilhando seus anseios, medos, mas também
somando forças de proteção. Proteção social é força
coletiva e se faz no encontro.

O atendimento individual, será especialmente


recomendado nas situações em que as famílias ou
indivíduos apresentarem violações de direitos com conflitos
latentes, ainda não mediados pela equipe de referência.

61
Quando os usuários não demostram voluntariedade para
atendimentos em grupo e, ou, a equipe identificar que o
usuário se sente desconfortável em atividades em grupo,
não sendo aquele espaço favorável a construção de
vínculos e facilitação do diálogo.

O atendimento deve ser planejado de forma conjunto entre


a(s) família(s), indivíduos e a equipe de referência do
acompanhamento familiar, buscando as seguintes
abordagens:

As demandas e necessidades da(s) família(s) e a(s)


violação(es) a serem superadas;
As potencialidades que o(s) grupo(s) familiar(es) e ou
indivíduos possui(em) e que devem ser fortalecidas, a
fim de contribuir nas respostas à(s) violação(es)
apresentadas pela(s) família(s) e ou indivíduo;
Os recursos que o território possui que podem ser
mobilizados na superação das vulnerabilidades
vivenciadas pela(s) família(s);
As estratégias a serem adotadas pela equipe de
referência dos serviços e família(s) no processo de
acompanhamento familiar;
Os compromissos da(s) família(s), dos indivíduos e da
equipe de referência no processo de superação das
violações;
O percurso proposto para o acompanhamento:

62
Os usuários devem ter conhecimento sobre as intervenções (quantas,
com quem, duração, horários) a serem realizadas com as famílias. É
importante que as agendas tenham regularidade (exemplo: toda quarta-
feira 14h, com a técnica fulana, duração média de 1h), isso possibilita maior
organização das famílias e indivíduos.

O atendimento em grupo, ou coletivo, será recomendado


nas situações em que as famílias ou indivíduos
apresentarem violações de direitos semelhantes, e houver
voluntariedade dos usuários no atendimento em grupo. É
indicado ainda para as situações que, embora marcadas
pela violência, demandam naquele momento, menor
densidade de acompanhamento especializado
individualizado

As atividades coletivas e em grupo são estratégias utilizadas


para ampliar a proteção social das famílias e indivíduos. Elas
possibilitam novas vivências, trocas, cidadania, mais
proteção social. Os atendimentos em grupos de famílias e
indivíduos são ações socioassistenciais estratégicas para
responder situações de vulnerabilidades e risco social e
pessoal por violações de direitos vivenciados pelas famílias
e que tem forte interface com o território. A organização de
atendimentos em grupos e atividades coletivas constitui a
proteção especializada e, o acompanhamento e implica a
articulação interdisciplinar e a participação de todos os
serviços da unidade e, se necessário, demais serviços da
rede socioassistencial e intersetorial (BELO HORIZONTE,
2020, p. 38).

63
Os atendimentos em grupo objetivam ainda promover a
organização política dos usuários para defesa e garantia de
direitos, estimulando sociabilidade, promovendo
convivência social e colaborando para o desenvolvimento
de competências para o exercício da cidadania. É uma
oportunidade de trabalhar com os sujeitos que suas
vulnerabilidades são consequências de uma sociedade
desigual e violenta, ou seja, transpor o modelo de
responsabilização individual para coletiva.

c) Atividades comunitárias: São recomendadas para o


trabalho de temáticas da PSE com a comunidade nos
territórios de maior incidência de violação de direito.
Devem ser planejadas a partir dos dados da vigilância
socioassistencial contribuindo para o acesso aos serviços
de proteção.

Há diferentes formas de desenvolver as atividades


comunitárias, a exemplo de eventos, rodas de conversas,
oficinas, palestras, blitz educativas, mobilização com líderes
comunitários, campanhas, dentre outras. Assim, para o
desenvolvimento das atividades comunitárias devem ser
observadas a promoção da comunicação comunitária, a
mobilização social, o protagonismo da comunidade, o
fortalecimento dos vínculos, o sentimento de coletividade e a
organização comunitária, por meio do estímulo à participação
cidadã. (BRASIL, MDS, 2012, p. 37).

64
As atividades comunitárias podem utilizar ainda de datas
comemorativas para explorar determinadas temáticas e
serem conduzidas pelos serviços da PSE, em parceria com a
proteção social básica ou com as demais políticas setoriais.
A seguir apresentamos algumas sugestões:

MÊS AÇÕES DE SOCIOEDUCAÇÃO: TEMA DESTAQUE

Trabalho Infantil - Com as férias escolares é


crescente a ocorrência desta forma de violação;
Janeiro Direito LGBT: 29 de Janeiro – Dia Nacional da
Visibilidade de Travestis e Transexuais;

Trabalho infantil, violência sexual, direito a diversi-


dade: O carnaval abre um leque de possibilidade
para trabalhar a diversidade, mas também um
Fevereiro
momento de forte ocorrência de casos de violências
sexuais (exploração e abuso) e também de trabalho
infantil;

Violência contra mulher: 08 de Março de


Internacional da Mulher;
Março Discriminação Racial: 21 de Março – Dia
Internacional contra a Discriminação Racial;

65
Comunidades Tradicionais: 19 de abril dia do índio,
aproveitar a data para falar da inclusão dos diversos
povos tradicionais no SUAS;
Abril
Trabalho protegido para o adolescente: 24 de abril –
Dia do Jovem Trabalhador;

Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra


Maio Crianças e Adolescentes: 18 de Maio;

Trabalho Infantil: 12 de Junho - Dia Mundial e


Nacional contra o Trabalho Infantil;
Direitos LGBT: 28 de Junho – Dia Mundial do Orgulho
Junho LGBT;
Direito dos Idosos: 15 de junho - Dia Mundial Contra
a Violência em Relação à Pessoa Idosa;

Estatuto da Criança e do Adolescente: 13 de Julho –


Aniversário do ECA;
Criança não é de rua: 23 de Julho – Dia da Campanha
Julho
Nacional de Enfrentamento a situação de moradia
nas ruas de crianças e adolescentes;

Violência contra mulher: 7 de agosto aniversário da


lei Maria da Penha;
Direitos da Pessoa com Deficiência: Semana
Agosto
Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e
Múltipla;

66
Direitos da Pessoa com Deficiência: 21 de Setembro –
Setembro Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência;

Direito dos Idosos: 1o de Outubro – Dia do Idoso;


Erradicação da Pobreza: 17 de outubro – Dia
Outubro Internacional para a Erradicação da Pobreza;

Consciência Negra: 20 de Novembro - Dia Nacional


da Consciência Negra;
-Violência contra mulher: 20 de Novembro - Início da
Novembro Campanha 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência
contra as Mulheres no Brasil / 25 de novembro - Dia
Internacional da Não Violência contra a Mulher;

Direitos da Pessoa com Deficiência: 03 de Dezembro


- Dia Internacional da Pessoa com Deficiência;
Dezembro Direitos Humanos: 10 de dezembro - Dia
Internacional dos Direitos Humanos.

Fonte: Belo Horizonte, 2020, págs.41/42 - adaptado.

As datas citadas não excluem a possibilidade de outras


avaliações importantes feitas pelo município.

67
d) Visita domiciliar: A visita domiciliar é uma atividade
técnico-metodológica que se desenvolve, de forma
planejada, na residência da família ou do indivíduo com a
participação dos técnicos das equipes de referência dos
serviços socioassistenciais, e visa possibilitar a escuta
qualificada, a compreensão da dinâmica e história de vida,
e o registro e análise de dados e informações sobre o
cotidiano da vida familiar. Deve pautar-se pelo respeito à
privacidade da família, tanto no que se refere à
receptividade para uma entrevista, quanto à
disponibilidade para responder a perguntas específicas,
quando for necessário. Não deve ser confundida com
apuração de denúncia ou até mesmo com caráter
fiscalizatório (BRASIL, 2016, p. 5)

e) Encaminhamentos internos ao SUAS: Indicam os


encaminhamentos para acesso aos serviços, programas,
projetos e benefícios de assistência social. Destaca-se aqui
o encaminhamento para inserção ou atualização do
Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal
(CadÚnico).

Quanto aos benefícios e programas de transferência de


renda, embora os municípios em linhas gerais se
organizem sob a gestão da proteção social básica, é
fundamental que as equipes de referência da PSE estejam
habilitadas para as orientações e concessões necessárias,
respeitando os fluxos estabelecidos.

68
Devemos desmistificar que benefícios e programas “são competências
exclusivas da PSB”, essas provisões compõem o SUAS, e perpassam os
dois níveis de proteção.

f) Encaminhamentos para as demais políticas públicas:


Indicam os encaminhamentos para as demais políticas de
proteção, a exemplo da educação, saúde, segurança
pública, habitação, segurança alimentar, cultura, esporte,
lazer, entre outras. A articulação em rede sinaliza a
completude da atenção hierarquizada em serviços de
vigilância social, defesa de direitos e proteção básica e
especial de assistência social e dos serviços de outras
políticas públicas e de organizações privadas. Indica a
conexão de cada serviço com outros serviços, programas,
projetos e organizações dos Poderes Executivo e Judiciário
e organizações não governamentais (Brasil, 2009 –
reimpressão 2014, p. 9).

g) Plano de Acompanhamento Familiar (PAF):


O Plano de Acompanhamento Familiar - PAF é um
instrumento de planejamento que orienta e sistematiza o
trabalho a ser desenvolvido com cada família ou indivíduo
inserido nos serviços de acompanhamento do SUAS, em

69
articulação com os demais serviços, projetos e programas
da rede local, durante o período de acompanhamento no
serviço.

Alguns serviços possuem especificidades próprias que


devem ser analisadas na construção do Plano, a exemplo
do Serviço de Proteção Social a Adolescentes em
Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade
Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade
(PSC) e dos Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescente, que devem observadas as normativas
específicas de elaboração. Desta forma, o conteúdo ora
apresentado tem características gerais no
acompanhamento às famílias.

Nesta publicação vamos utilizar Plano de Acompanhamento Familiar


(PAF) e não Plano Individual de Atendimento (PIA), compreendendo
que o PAF nos parece mais adequado no âmbito do SUAS, e justificamos
a seguir:

Individual: A lógica é de matricialidade familiar, logo a dimensão do


Plano não deve ser individual.

Atendimento: O planejamento das ações remete ao processo de


acompanhamento, não são atendimentos pontuais.
Fonte: Blog SUAS Conversas, Ana Pincolini – adaptado.

Para compreendermos o PAF vamos fazer um breve


exercício dialético quanto ao significado dessas expressões:
.

70
PLANO DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR – PAF

Um plano subsidia a tomada de decisões rápidas e


eficazes. Há ocasiões em que um plano de ação
muito simples é viável, porém em outros casos é
PLANO necessária a criação de um documento mais
detalhado para fins de monitoramento, reflexão e
principalmente comuni-cação eficiente e visual com
outras pessoas envolvidas.

Consiste em um conjunto de intervenções, desen-


volvidas de forma continuada, a partir do estabele-
cimento de compromissos entre famílias e equipe
ACOMPANHAMENTO de referência com objetivos a serem alcançados, a
realização de mediações periódicas, a inserção em
ações dos serviços, buscando a superação grada-
tiva das violações de direitos no âmbito da PSE.

A família, como toda e qualquer instituição social,


deve ser encarada como uma unidade simulta-
neamente forte e fraca. Forte, porque ela é de fato
um lócus privilegiado de solidariedades, no qual os
indivíduos podem encontrar refúgio contra o
FAMILIAR desamparo e a insegurança da existência. Mas ela
também é frágil, pelo fato de não estar livre de
despotismos, violências, confinamentos e
desencontros”. Potyara Pereira

71
A partir das particularidades de cada família e indivíduo, e
verificadas as situações que levaram a inserção no serviço,
o PAF deve conter objetivos, estratégias e ações com a
finalidade de garantir, no mínimo:

As ações e ofertas regulares de apoio, orientação e


acompanhamento das famílias e, ou indivíduos
acompanhados, com destaque ao fortalecimento da
autonomia, a proteção ao desenvolvimento e acesso a
direitos da criança, considerando diversidades,
singularidades e especificidades;
A excepcionalidade e a provisoriedade da medida
protetiva, caso seja o caso;
As estratégias desenvolvidas para a garantia do direito à
convivência familiar (preservação e fortalecimento de
vínculos familiares;
A descrição da rede de apoio: preservação da
convivência comunitária, com manutenção de vínculos
positivos previamente existentes – incluindo pessoas de
referência da comunidade, do território de origem,
além de outras referências afetivas como padrinhos,
amigos entre outros – e a construção de novos vínculos
e a participação na vida comunitária;
As ações do acompanhamento e apoio à família, em
parceria com outros serviços da rede, com vistas à
superação dos motivos (riscos, vulnerabilidade,
violências e, ou, violações de direitos) que levaram a
inserção ao Serviço e o desenvolvimento de sua
capacidade de cuidado e proteção;

72
§A preparação para o referenciamento e
contrarreferenciamento para os demais serviços do SUAS.

Sugestão para elaboração do PAF:

O processo de elaboração do PAF deve começar após a


inserção da família ou indivíduos nos Serviços para
acompanhamento, compreendendo duas macros etapas
importantes:

1ª. ETAPA: PREPARATÓRIA: abrange o processo de acolhida,


a execução de respostas às necessidades imediatas, a
elaboração do Estudo da Situação/Estudo de Caso (que
aponta pela necessidade ou não do acompanhamento) e a
construção do caso (intermediária)

Pode acontecer em três momentos:

I.Com as famílias, onde a equipe de referência colhe as


informações necessárias para pensar o caso (diagnóstico
da situação);
II.Entre a equipe de referência do serviço de proteção,
momento que os técnicos param para pensar e construir
uma condução única, para que não haja uma sobreposição
de ações - Interdisciplinaridade;
III.Com a rede: momento em que os vários serviços que
atendem a família se reúnem para dialogar e construir
intervenções. (Estudos de caso com a rede)

73
§Algumas reflexões e perguntas geradoras para a primeira
etapa:

O que pode ter gerado a situação de risco ou


vulnerabilidade? (Acontecimentos pontuais ou
continuados/geracionais)
Como a família/indivíduo se posiciona em relação a
situação de risco ou vulnerabilidade? Existe uma
compreensão dos fatos? Estranhamento, revolta, outro
sentimento produzido?
Como é a relação entre os sujeitos da família? Se há
conflitos, o que pode estar desencadeando esses
conflitos?
Como a família se posiciona em relação a sua
comunidade e a sociedade de forma geral?
Como é a relação da família com as demais políticas
públicas?
Como a família circula na pela cidade (acesso a outros
serviços) e informações?

2ª. ETAPA: PLANO DE AÇÃO: realizada com base nas


informações obtidas no Estudo da Situação/Estudo de Caso
(1ª Etapa), abrange o desenvolvimento de estratégias que
direcionam o planejamento de objetivos e ações concretas
que orientem e sistematizam o trabalho a ser
desenvolvimento durante o acompanhamento familiar, por
meio do Plano de Ação a ser construído com as famílias.

74
Para construir esta etapa, é importante respondermos
alguns questionamentos correlacionado com matriz
padronizada das fichas de serviços socioassistenciais:

Algumas reflexões e perguntas geradoras para a segunda


etapa:

O QUE SERÁ FEITO?


Palavras e conceitos chave: Trabalho Social Essencial ao
Serviço – Provisões – Aquisição dos usuários.

POR QUE SERÁ FEITO?


Palavras e conceitos chave: Usuários – Descrição dos
Serviços – Situações de Risco e Vulnerabilidade.

QUEM IRÁ FAZER?


Palavras e conceitos chave: Equipes de Referência dos
Serviços – Interdisciplinaridade – Articulação em Rede.

QUANDO SERÁ FEITO?


Palavras e conceitos chave: Temporalidade – Planejamento
– Organização dos Atendimentos.

CONSEGUIMOS?
Palavras e conceitos chave: Objetivos do Serviço – Impacto
Social Esperado

75
Embora não exista um instrumental padrão do Plano de
Atendimento Individual ou Familiar, para todos serviços do
SUAS, é importante que o município elabore um modelo
que dialogue com a realidade do município, com as
normativas e orientações da política pública de assistência
social e com o prontuário SUAS.

Construção Formal: a partir de instrumental elaborado


e discutido entre a equipe, de forma a não engessar as
intervenções pensadas junto com a família;
Construção Lúdica: a partir de outros materiais
(exemplo jogos de trilhas) elaborados para planejar o
trabalho social essencial junto com a famílias;
Construção Híbrida: elementos do formal e do lúdico.

Para saber mais:

Modelo de Plano de Acompanhamento Familiar (PAF) - GESUAS


https://www.gesuas.com.br/blog/modelo-de-plano-de-
acompanhamento-familiar/

76
h) Monitoramento dos encaminhamentos: Os
encaminhamentos realizados internos e externos ao SUAS
devem ser monitorados pela equipe de referência do
serviço. Por vezes, os usuários podem ter dificuldades de
efetivar as orientações recebidas e nestas situações as
equipes devem estar mais próximas, acompanhado sempre
que necessário.

i) Relatórios Técnicos Socioassistenciais (sobre o


acompanhamento familiar) – Brasil, 2016, págs. 7/8:

Relatório para uso interno do SUAS: são documentos


rotineiros dos serviços socioassistenciais sobre o
atendimento e acompanhamento das famílias e indivíduos,
elaborados a partir de uma demanda da rede
socioassistencial ou necessários à dinâmica do serviço. São
compostos de registro de informações, observações,
pesquisas, fatos que identificam as famílias no território e
pareceres dos profissionais. Na elaboração desses
documentos deve-se respeitar o caráter privado e sigiloso
de algumas informações e as condições e prerrogativas
éticas e técnicas dos profissionais que elaboram o relatório
e compõem a equipe de referência das unidades (Código
de Ética Profissional dos Assistentes Sociais - Art. 2º e o
Código de Ética Profissional dos Psicólogos - Art. 6º, por
exemplo).

77
Relatório para uso externo do SUAS: são documentos
elaborados a partir de solicitações e/ ou requisições de
políticas setoriais, órgãos de defesa de direitos e órgãos do
Sistema de Justiça, com o objetivo de prestar informações
sobre a inserção de famílias e indivíduos no
acompanhamento realizado pelos serviços
socioassistenciais. Sempre que solicitados, esses relatórios
devem ser organizados pelos (as) Coordenadores (as) dos
serviços, em conjunto com os técnicos de referência, com
as informações sobre as ações desenvolvidas nos serviços
com a família ou indivíduo em questão e a evolução do
acompanhamento realizado. Devem-se observar as
orientações e aspectos éticos de caráter privado e sigiloso.
Não deve ser enviado original de cadastros, prontuários,
fichas ou qualquer documento de registro de informações
dos atendimentos e acompanhamentos realizados pelas
equipes de referência.

j) Avaliação e reavaliação dos combinados, metas e


objetivos do PAF: É o momento de avaliar junto com as
famílias e indivíduos o percurso de proteção proposto, a
efetividade dos encaminhamentos, a assiduidade nos
atendimentos, o quanto foi possível avançar no encontro
dos impactos sociais esperados ao serviço.

É fundamental neste momento um olhar não


responsabilizador sobre a família, o serviço deve apoiá-la
em sua função protetiva e não a inquirir sobre suas
fragilidades de proteção.

78
Exemplo: Maria das Graças, mulher vítima de violência, atendida pelo
CREAS Novo Olhar semanalmente conforme estabelecido em seu Plano
de Acompanhamento Familiar (PAF), não comparece aos três últimos
agendamentos. Técnica de Referência: Joana Garcia.

A equipe de referência deve (re)avaliar:

As datas e horários dos agendamentos estão


adequados à rotina de Maria das Graças?
Maria das Graças tem acesso a condições de transporte
(vale social ou congênere) para deslocamento até o
CREAS Novo Olhar?
Houve transferência (construção de vínculo de
confiança) entre a técnica de referência Joana o Maria
das Graças? Em caso negativo é possível repensar a
vinculação técnica?
Maria das Graças compreendeu as orientações e
objetivos do serviço?
Foi utilizada linguagem acessível e de fácil
entendimento nos atendimentos?
A violência pode ter agravado e Maria das Graças estar
privada de ir até o CREAS?
Foi perguntado a Maria das Graças o motivo de sua não
ida aos atendimentos?

79
Vários fatores podem impactar no implemento dos
combinados, metas e objetivos do PAF e o plano deve ter a
mobilidade para acolher as novas situações sempre que
necessário.

k) Repactuação dos combinados, metas e objetivos do


PAF: A partir da avaliação e reavaliação é importante traçar
novos combinados, se os anteriores não se fizerem mais
eficazes. Não há nada de errado em trilhar novos caminhos,
reinventar os atendimentos e intervenções a cada novo
encontro com a família.

Lembrando que a postura criativa e inventiva para lidar


com o novo e o inesperado é uma competência esperada
pela equipe de referência.

Todo esse percurso de acompanhamento especializado nos


leva aos processos de referência e contrarreferência,
fundamentais para efetivarmos um itinerário de proteção.
Mas esse será o tema do nosso próximo capítulo!

80
CONSTRUINDO PROCESSOS DE
REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA

A Referência e a Contrarreferência na proteção


socioassistencial são mecanismos da política pública de
assistência social, que podem favorecer a troca de
informações entre os serviços, o trânsito dos usuários no
sistema, e a continuidade da proteção das famílias e
indivíduos. Portanto é considerada uma importante
ferramenta que promove a integralidade de proteção na
assistência social. Devido à fragmentação das ofertas
socioassistenciais, ainda se esbarra em algumas
dificuldades para sua efetivação.

Assim, o processo de referência e contrarreferência


caracteriza-se por uma tentativa de organizar os serviços de
forma a possibilitar o acesso pelas pessoas que procuram
os serviços socioassistenciais. De acordo com tal sistema, o
usuário atendido no CRAS (Unidade de Proteção Social
Básica do SUAS), quando necessário, é "referenciado"
(encaminhado) para uma unidade de maior complexidade,
a exemplo do CREAS (Unidade de Proteção Social Especial
de Média Complexidade do SUAS), a fim de receber o
acompanhamento de que necessita naquele momento.
Quando finalizado o atendimento dessa necessidade
especializada, o usuário será "contrarreferenciado", ou seja,

81
a equipe de referência do serviço especializado promoverá
o encaminhamento do usuário para a unidade de origem
para que a continuidade da proteção aconteça no âmbito
do território do CRAS.

A Função de Referência:

A função de referência se materializa quando a equipe


processa, no âmbito do SUAS, as demandas originárias das
situações de vulnerabilidade e risco social detectadas no
território, de forma a garantir ao usuário o acesso à renda,
serviços, programas e projetos, conforme complexidade da
demanda (DESCRIÇÃO DE UM PROCESSO DE
ACOMPANHAMENTO). O acesso pode se dar pela inserção
do usuário em serviço ofertado no CRAS ou na rede
socioassistencial a ele referenciada, ou por meio do
encaminhamento do usuário ao CREAS. (Orientações
Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social – CRAS,
p. 10)

Nesse sentido, a equipe de referência do CRAS, ao


encaminhar uma família para o CREAS, a referencia a um
CREAS. A partir desse momento, a responsabilidade pelo
acompanhamento da família passa a ser do CREAS até que
a situação de violação de direitos seja superada.
(Orientações Técnicas PAIF Volume 2, p. 47).

Nas situações de atendimento pelo PAIF (quando a família


não está em acompanhamento), durante a acolhida ou em

82
outras atividades, e é identificada uma situação de violação
de direitos que compreende as condições de acesso ao
PAEFI, o CRAS promoverá o encaminhamento ao CREAS.
Neste caso, não se trata de uma ação ampliada de
referenciamento ao CREAS, pois inexistem, naquele
momento, os elementos para transmissão do
acompanhamento familiar que caracterizam este
procedimento conforme sugeridos a seguir, se procederá
um encaminhamento padrão do serviço.

SUGESTÃO DE AÇÕES PARA PROMOÇÃO DO PROCESSO


DE REFERÊNCIA:

83
ETAPA DESCRITIVO

Avaliação do não alcance dos objetivos


propostos pelo PAF no âmbito da proteção
social básica;
Identificação nas famílias e indivíduos de
vivências de violações de direitos a serem
trabalhadas no âmbito das situações de
Tomada de decisão acompanhamento do PAEFI;
Promoção das ações imediatas de orientação e
proteção;
Notificação das situações de violência, nos
termos da legislação vigente, às autoridades
competentes (quem identifica, notifica).

Diálogo com a família sobre os objetivos e


motivos do encaminhamento ao CREAS;
Discussão com a Avaliação com a família do não alcance dos
família sobre a objetivos do PAF;
possibilidade de Orientação sobre eventuais dúvidas que a
encaminhamento família apresente;
ao CREAS Aceite da família ao encaminhamento
(Acompanhamento é direito e não imposição).

Encaminhamento formalizado (pelo meio


utilizado no município: Sistema GESUAS, E-mail,
Ofício);
Comunicação Adoção dos meios mais céleres de
formal ao CREAS comunicação;
Atribuição de gestão (coordenação do
equipamento).

84
Recomendação de estabelecimento de agendas
entre as equipes de referência do CRAS e
CREAS, para a discussão e análise dos
encaminhamentos das famílias realizados entre
os serviços PAIF e PAEFI, e o estudo das
Agenda de
situações de vulnerabilidade e risco social mais
discussão a
recorrentes, que demandam ações conjuntas
análise
dos dois níveis de proteção social do SUAS,
como campanhas socioeducativas e/ou eventos
comunitários. (Orientações Técnicas PAIF
Volume 2, p. 47)

Repasse e discussão do trabalho social já


realizado;
Repasse das percepções do PAIF sobre a análise
de situação da família (demandas e
potencialidades);
Transmissão do Caso
Avaliação entre as equipes das vulnerabilidades
e riscos identificados;
Informações sobre encaminhamentos
realizados e seu status;

Sempre que possível realizar;


Momento de transmissão do vínculo entre
família e equipes;
Atendimento Cuidado e Responsabilidade com a família;
conjunto Momento de apresentar o novo serviço de
CRAS/CREAS acompanhamento da família e as retaguardas
que permanecem no PAIF (atividades
territoriais).

85
Encaminhamento de cópia dos documentos de
identificação e caracterização das famílias, cópia
do plano de acompanhamento anteriormente
Encaminhamento elaborado e demais informações do prontuário
ao CREAS da e relatório de evolução dos atendimentos.
documentação da
família Atenção: o município deve avaliar as condições de
acesso à informação dos Sistemas e quais
documentos são necessários de encaminhamento.

Continuidade de
participação das Continuidade da troca de informações entre as
famílias nas ações equipes sempre que necessário e a cada
territoriais e avaliação do PAF no CREAS.
Monitoramento

A Função de Contrarreferência:

A contrarreferência é exercida sempre que a equipe do


CRAS recebe encaminhamento do nível de maior
complexidade (proteção social especial) e garante a
proteção básica, inserindo o usuário em serviço, benefício,
programa e/ou projeto de proteção básica (BRASIL,
Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência
Social – CRAS, p. 10).

86
SUGESTÃO DE AÇÕES PARA PROMOÇÃO DO PROCESSO
DE CONTRARREFERÊNCIA:

87
ETAPA DESCRITIVO

Avaliação do alcance dos objetivos propostos


pelo PAF no âmbito da proteção social especial;
Superação ou redução das vivências de
violações de direitos a serem trabalhadas no
Tomada de decisão: âmbito das situações de acompanhamento
Alcance do impacto pelos serviços especializados;
social esperado pelo Promoção das ações imediatas de orientação e
Serviço proteção;
Alcance dos impactos sociais esperados ao
serviço;

Diálogo com a família sobre o alcance dos


objetivos e motivos que constituíram o
encaminhamento ao CREAS;
Discussão com a Orientação sobre eventuais dúvidas que a
família sobre a família apresente;
possibilidade de Aceite da família ao encaminhamento ao CRAS
encaminhamento (Acompanhamento é direito e não imposição);
ao CRAS O CRAS é a Unidade competente para avaliar se
o usuário será referenciado, atendido ou
acompanhado em seis serviços.

Encaminhamento formalizado (pelo meio


utilizado no município: Sistema GESUAS, E-mail,
Ofício);
Comunicação Adoção dos meios mais céleres de
formal ao CRAS comunicação;
Atribuição de gestão (coordenação da Unidade).

88
Recomendação de estabelecimento de agendas
entre as equipes de referência do CRAS e
CREAS, para a discussão e análise dos
encaminhamentos das famílias realizados entre
os serviços PAIF e PAEFI, e o estudo das
Agenda de situações de vulnerabilidade e risco social mais
discussão a recorrentes, que demandam ações conjuntas
análise dos dois níveis de proteção social do SUAS,
como campanhas socioeducativas e/ou eventos
comunitários. (Orientações Técnicas PAIF
Volume 2, p. 47)

Repasse e discussão do trabalho social já


realizado;
Repasse das percepções do Serviço da PSE
sobre a análise de situação da família
(demandas e potencialidades);
Transmissão do Caso Avaliação entre as equipes das vulnerabilidades
e riscos identificados, superados e ou
minimizados;
Informações sobre encaminhamentos
realizados e seu status;

Sempre que possível realizar;


Momento de transmissão do vínculo entre
Atendimento família e equipes;
conjunto Cuidado e Responsabilidade com a família;
CRAS/CREAS Momento de potencializar o vínculo do usuário
com o CRAS.

89
Encaminhamento de cópia dos documentos de
identificação e caracterização das famílias, cópia
do plano de acompanhamento anteriormente
Encaminhamento elaborado e demais informações do prontuário
ao CRAS da e relatório de evolução dos atendimentos.
documentação da
família Atenção: o município deve avaliar as condições de
acesso à informação dos Sistemas e quais
documentos são necessários de encaminhamento.

Sempre que o usuário for inserido no serviço da


proteção social especial a partir de uma medida
Comunicação aos
de proteção (aplicada pelo judiciário, ministério
órgãos de Defesa de
público, conselho tutelar) é importante que o
Direito do processo
de contrarreferência processo de contrarreferência seja comunicado
ao órgão encaminhador.

Das notificações obrigatórias:

No atendimento às situações de violação de direito a


públicos mais vulneráveis, existem algumas situações que
por força de lei devem ser comunicadas na forma de
notificação à autoridade competente. Vejamos:

CRIANÇA E ADOLESCENTE – Estatuto da Criança e do


Adolescente (Lei 8.069/1990) Art. 13. Os casos de
suspeita ou confirmação de castigo físico, de
tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos
contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente

90
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
(BRASIL, 1990, grifo nosso)

PESSOAS IDOSAS – Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003)


Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à
autoridade competente qualquer forma de violação a
esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha
conhecimento. Art. 50. Constituem obrigações das
entidades de atendimento: XVI – comunicar ao
Ministério Público, para as providências cabíveis, a
situação de abandono moral ou material por parte dos
familiares; (BRASIL, 2003, grifo nosso)

PESSOA COM DEFICIÊNCIA – Lei Brasileira de Inclusão


da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). Art. 7º É
dever de todos comunicar à autoridade competente
qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos
da pessoa com deficiência. (BRASIL, 2015, grifo nosso)

O serviço que identificar a violação de direito é o


responsável por comunicar à autoridade competente a
situação, seja por ficha de notificação (nos municípios onde
estiver instituída) ou por ofício. Para evitar a exposição do
técnico e a fragilização do vínculo de confiança com a
família, é sugestivo que o ato de notificar seja uma ação de
gestão, ou seja, assinada pelo órgão gestor da política de
assistência social, de forma a não fragilizar as equipes de
referência.

91
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do apresentado neste e-book, podemos concluir que


o aprimoramento da dimensão especializada da proteção
social especial no SUAS é processual, fundamentalmente
estruturado em três importantes dimensões: a organização
da proteção social especial no enfretamento às situações
de violação de direito, as etapas do acompanhamento
especializado às famílias e indivíduos no SUAS e a
construção dos processos de referência e
contrarreferência.

Neste sentido, a individualização da responsabilidade pelas


vulnerabilidades vivenciadas pelas famílias e indivíduos é
mais uma das formas perversas que o Estado utiliza para
ocultar a omissão de suas responsabilidades. Paulo Freire
(1967) destaca o processo da conscientização para romper
com a reprodução da opressão. “No assistencialismo não
há responsabilidade. Não há decisão. Só há gestos que
revelam passividade e “domesticação” do homem” (FREIRE,
1967). Ou seja, é necessário um acompanhamento que
aponte para uma dimensão ética política, de não
responsabilização do usuário por suas fragilidades.

Conforme visto no primeiro capítulo, a organização dos


serviços da PSE deve fomentar a ampliação e integralidade
da proteção social, tirando da invisibilidade famílias e

92
indivíduos que historicamente não acessaram as Unidades
do SUAS, embora apresentem situações de violações de
direito a serem acolhidas no âmbito da política pública de
assistência social.

No capítulo dois, apresentamos as etapas das intervenções,


de forma descritiva, buscando aperfeiçoar os processos de
trabalho e de gestão dos serviços, fundamentais à oferta de
proteção especializada e a construção de estratégias que
reduzam as violações de direitos dos usuários
acompanhados. Descrever o percurso de proteção a ser
realizado com as famílias visa contribuir na construção de
intervenções mais inventivas e criativas, da acolhida no
serviço à contrarreferência.

Já no terceiro capítulo, buscamos apresentar sugestões de


fluxos para o trabalho de referência e contrarreferência,
fundamentais para o fechamento do ciclo de proteção no
SUAS, é o momento em que a família reforça sua certeza
que não estará sozinha para o enfrentamento de suas
vulnerabilidades.

Assim, reafirmamos que o objetivo dessa publicação, que


se dá a partir do contato e das trocas com diferentes
equipes de referências, e reafirma o compromisso do
GESUAS com a produção do conhecimento, a defesa dos
direitos sociais, a proteção e a valorização da vida das
famílias e indivíduos atendidos na proteção social especial
de média e alta complexidade do SUAS.

93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AKERMAN, Deborah. Trabalho interdisciplinar e a


construção do caso no SUAS. Aula. Universidade GESUAS,
2022.

BELO HORIZONTE, Orientações Técnicas para o


aprimoramento dos processos de trabalho e de gestão do
Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS) no município de Belo Horizonte, PBH, Belo
Horizonte, 2020.

BELO HORIZONTE, O SUAS e o enfrentamento da Violência:


um caminho para a autonomia e defesa de direitos, na
perspectiva coletiva, dialógica e restaurativa, PBH, Belo
Horizonte, 2020.

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015/2020.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.


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BRASIL.. Lei 8.742. Dispõe sobre a organização da


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dezembro de 2012

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95
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Fome. Fundamentos ético políticos e rumos teórico
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afetividade. São Paulo: NEPSAS, PUC-SP, 2011. Mimeo.

98
SOBRE O AUTOR

Advogado, Mestre em Educação e Docência


pela Universidade Federal de Minas Gerais,
Especialista em Políticas de Assistência Social e
Gestão do SUAS, Especialista em Práticas
Socioeducativas pela PUC Minas. Atualmente é
Diretor de Proteção Social Especial do SUAS da
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/MG. Foi
Superintendente de Proteção Social Especial da
Secretaria de Estado de Trabalho e
Desenvolvimento Social de Minas Gerais.
Possui experiência na gestão estadual das
medidas socioeducativas pela Subsecretaria de
Atendimento às Medidas Socioeducativas, de
Minas Gerais

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